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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA EFEITO ANSIOLÍTICO E ANTIDEPRESSIVO DO DESIDRODIEUGENOL ( BIS-EUGENOL) EM CAMUNDONGOS: ESTUDO NEUROCOMPORTAMENTAL E NEUROQUÍMICO JEFERSON FALCÃO DO AMARAL Fortaleza - CE 2010 JEFERSON FALCÃO DO AMARAL EFEITO ANSIOLÍTICO E ANTIDEPRESSIVO DO DESIDRODIEUGENOL ( BIS-EUGENOL) EM CAMUNDONGOS: ESTUDO NEUROCOMPORTAMENTAL E NEUROQUÍMICO Tese submetida à Coordenação do Curso de Pós- Graduação em Farmacologia, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Farmacologia. Área de concentração: Farmacologia do Sistema Nervoso Central. Orientador (a): Profa. Dra. Francisca Cléa Florenço de Sousa. Fortaleza - CE 2010 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde A514e Amaral, Jeferson Falcão do. Efeito ansiolítico e antidepressivo do desidrodieugenol (Bis-eugenol) em camundongos: estudo neurocomportamental e neuroquímico. / Jeferson Falcão do Amaral. – 2010. 124 f.: il., color.,enc. ; 30 cm. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Programa de Pós-Graduação em Farmacologia, Fortaleza, 2010. Área de Concentração: Farmacologia do Sistema Nervoso Central. Orientação: Profa. Dra. Francisca Cléa Florenço de Sousa. 1. Ansiolíticos. 2. Eugenol. 3. Monoaminas Biogênicas. I. Título. CDD 615.323 JEFERSON FALCÃO DO AMARAL EFEITO ANSIOLÍTICO E ANTIDEPRESSIVO DO DESIDRODIEUGENOL ( BIS-EUGENOL) EM CAMUNDONGOS: ESTUDO NEUROCOMPORTAMENTAL E NEUROQUÍMICO Aprovada em _____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Profa. Dra. Francisca Cléa Florenço de Sousa (Orientadora) Universidade Federal do Ceará – UFC ________________________________________________________ Profa. Dra. Marta Maria França Fonteles Universidade Federal do Ceará – UFC ________________________________________________________________ Prof. Dr. Otoni Cardoso do Vale Universidade Federal do Ceará – UFC _________________________________________________________ Profa. Dra. Adriana Campos Rolim Barros Universidade de Fortaleza - UNIFOR _______________________________________________________ Profa. Dra. Regilane Matos da Silva Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT “O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas, e dela se serve para acalmar as dores e curá-las. O farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, até que a paz divina se estenda sobre a face da terra”. (Eclesiástico 38, 4. 6-8) DedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatória A Deus, Senhor de todas as coisas, por permitir meu crescimento pessoal e profissional e por me capacitar, a cada dia, para escrever esta tese de Doutorado Aos meus pais que me deram o primeiro impulso para a vida e me ensinaram o verdadeiro significado do amor e da integridade À minha esposa Rejane, maior incentivadora do meu crescimento profissional e pessoal, que esteve sempre ao meu lado nos momentos mais alegres e nos momentos mais difíceis durante minha trajetória acadêmica Aos meus filhos, Nicolas e Stephany, por serem a razão e estímulo para prosseguir adiante e representarem sempre o amor, a alegria, a motivação e o entusiasmo pela vida e em minha vida AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Francisca Cléa Florenço de Sousa, pessoa por quem tenho profunda admiração e respeito, pela preciosa orientação, confiança, paciência e apoio na execução deste trabalho. Agradeço, principalmente, porque a Profa. Cléa Florenço não orienta apenas para o desenvolvimento científico, mas orienta também para a vida. À Profa. Dra. Glauce Socorro Barros Viana, pessoa a quem tenho profunda admiração e respeito, por sua cordial acolhida em seu laboratório, para que eu pudesse executar os experimentos e concluir o meu doutorado. Aos professores do curso de pós-graduação, pelos conhecimentos transmitidos e dedicação permanente aos alunos e ao programa de pós-graduação. Aos Professores: Izabel Gomes, Danielle Macêdo, Silvânia Vasconcelos, Flávia Almeida, Vietla Rao, Rachel Pinho, Josenilda Malveira, Michell Kamimura, Eucléa Vale e Regilane Matos pelo apoio e incentivo constantes, a fim de verem o meu desenvolvimento acadêmico e profissional durante os últimos 05 anos. Aos amigos de pós-graduação: Patrícia Gomes, Patrícia Freire, Carla Thiciane, Fernando Araújo, Aline Albuquerque, Maria do Carmo, Flávio Damasceno e Tiago Olinda pela amizade e apoio recebidos sempre. Aos estudantes de iniciação científica: Manuel Rufino, Brinell Arcanjo, Mariana Feitosa pela dedicação e seriedade no auxílio à execução dos experimentos. Às Técnicas de Laboratório, Vilani Bastos e Jaqueline, pela sua cooperação e apoio. A todos que fazem parte do Laboratório de Neurofarmacologia, pelos préstimos e convívio amigável, que tornaram mais agradável minha passagem por este laboratório. Aos funcionários do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e em especial aos funcionários da secretaria do curso de pós- graduação em Farmacologia, pelo apoio e cooperação. RESUMO Desidrodieugenol, conhecido como bis-eugenol, é um orto-dímero do eugenol que, similarmente ao eugenol, exibe atividades antiinflamatória e antioxidante. Eugenol, também, apresentou efeito antidepressivo, no entanto, as ações biológicas do bis-eugenol em modelos experimentais para screening da atividade antidepressiva não tem sido estudada. O presente estudo investigou a possível atividade antidepressiva do bis-eugenol nos testes do nado forçado e suspensão da cauda, em camundongos, e o envolvimento do sistema monoaminérgico neste efeito. A análise neuroquímica das monoaminas no cérebro de camundongos submetidos ao tratamento agudo com bis-eugenol foi também realizado. Além disso, os efeitos centrais do bis-eugenol foram avaliados em modelos animais de ansiedade tais como tempo de sono induzido por pentobarbital, teste da placa perfurada, labirinto em cruz elevado (plus maze), convulsões induzidas por pentilenotetrazol e teste do claro escuro. Bis-eugenol reduziu o tempo de imobilidade no teste do nado forçado, o qual não acompanhou as alterações da ambulação no teste do campo aberto na dose de 10 mg/kg, no entanto, a ambulação foi induzida pelas doses de 25 e 50 mg/kg. O melhor efeito anti- imobilidade do bis-eugenol (50 mg/kg, i.p.) foi revertido pelo pré-tratamento dos camundongos com PCPA 100 mg/kg, i.p. (um inibidor da síntese de serotonina) por quatro dias consecutivos. Prazozin (1 mg/kg, i.p., antagonista α1-adrenoceptor), ioimbina (1 mg/kg, i.p., antagonista α2-adrenoceptor), SCH23390 (15 µg/kg, s.c., antagonista do receptor D1) ou sulpirida (50 mg/kg, i.p., antagonista do receptor receptor D2). Bis-eugenol apresentou atividade ansiolítica no teste da placa perfurada, plus maze e claro/escuro que parece não estar relacionado com o sistema gabaérgico, uma vez que o flumazenil, um antagonista dos benzodiazepínicos no sítio receptor gabaérgico, não reverteu o efeito ansiolítico provocado pelo bis-eugenol no teste do plus maze. A análise dos níveis de monoaminas e seus metabólitos, utilizando High Performace Liquid Chromatograph (HPLC), revelou um significativoaumento nos níveis de monoamínas (NA, DA e 5-HT) e seus metabólitos (DOPAC, HVA e 5-HIAA) no corpo estriado dos camundongos. O presente estudo sugere que o efeito anti-imobilidade observado com o tratamento agudo de bis-eugenol no teste do nado forçado está relacionado ao sistema monoaminérgico, considerando o aumento dos níveis de monoaminas e seus metabólitos no cérebro. Foi observado um efeito ansiolítico do bis-eugenol que não está relacionado com o sistema gabaérgico, uma vez que o flumazenil não reverteu os efeitos do bis-eugenol no teste do plus maze. Palavras-chave: Ansiolíticos. Eugenol. Monoaminas Biogênicas. ABSTRACT Desidrodieugenol, known as bis-eugenol, is an ortho dimer that of similarly to eugenol was able to exhibits anti-inflammatory and antioxidant. Bis-eugenol has also showed antidepressant effect, however, the biological actions of bis-eugenol on experimental models for screening of antidepressant activity are still unknown. The present study investigated the possible antidepressant-like activity of bis-eugenol in the forced swimming test (FST) and the tail suspension test (TST) in mice and the involvement of monoaminergic system in this effect. In addiction, the neurochemical analysis on brain monoamines of mice acutely treated with bis-eugenol was also conducted. Besides, the central effects of bis-eugenol were evaluated, also, animal models of anxiety such as barbiturate-induced sleeping time, hole board, elevated plus maze, pentilenotetrazole induced-convulsions and white/black test. Bis- eugenol drecreased the immobility time in the FST which accompanying changes in ambulation in the open-field test at 10 mg/kg, i.p., nevertheless, it induced ambulation at 25 and 50 mg/kg doses. The higher anti-immobility effect of bis-eugenol (50 mg/kg, i.p.,) was prevented by pre-treatment of mice with PCPA 100 mg/kg, i.p., ( inhibitor of serotonin synthesis, 4 consecutive days), prazozin (1 mg/kg, i.p., α1-adrenoceptor antagonist), yohimbine (1 mg/kg, i.p., α2-adrenoceptor antagonist), SCH23390 (15 µg/kg, s.c., D1 receptor antagonist) or sulpiride (50 mg/kg, i.p., D2 receptor antagonist). Bis-eugenol showed anxiolytic activity in the hole board, elevated plus maze and white/black test and it seems there no performance of bis-eugenol on the gabaergic system, once flumazenil no reverted the anxiolytic effect of bis-eugenol in the plus maze test. Monoamines analysis using High Performace Liquid Chromatograph (HPLC) reveled a significant increase in 5-HT, NE, DA levels in brain striatum, as well as the metabolites DOPAC, HVA and 5-HIAA were also increased. The present study suggests that the anti-immobility or antidepressant-like effect of bis-eugenol in the FST is related to the monoaminergic system, likely due to increase of brain monoamines. An anxiolytic effects was observed which no related of the gabaergic system, once flumazenil no reversed the anxiety effects of the bis-eugenol in the plus maze test. Keywords: Anti-Anxiety Agents . Eugenol . Biogenic Monoamines SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 17 1.1 Generalidades 17 1.2 Eugenol e seus derivados 19 1.3 Desidrodieugenol ou bis-eugenol (DDE) 24 1.4 Ansiedade e depressão 25 1.5 Sistema dopaminérgico 28 1.5.1 Receptores dopaminérgicos 29 1.5.2 Expressão dos receptores dopaminérgicos 30 1.5.3 Vias de transdução de sinal 31 1.5.4 Funções da dopamina 33 1.5.5 Síntese, metabolização e localização dos receptores dopaminérgicos (DA) 34 1.6 Sistema serotonérgico 37 1.6.1 Localização dos receptores serotonérgicos 39 1.7 Sistema noradrenérgico 40 1.8 Áreas cerebrais (corpo estriado) 43 1.9 Relevância e justificativa 44 2 OBJETIVOS 46 2.1 Objetivos gerais 46 2.2 Objetivos específicos 46 3 MATERIAIS 47 3.1 Equipamentos e materiais 47 3.2 Reagentes e drogas 47 3.3 Animais experimentais 48 4 MÉTODOS 48 4.1 Preparo da droga 48 4.2 Tratamento dos grupos experimentais 49 4.3 Modelos experimentais (neurocomportamentais) 50 4.3.1 Teste do nado forçado 50 4.3.2 Teste da suspensão da cauda 51 4.3.3 Teste do campo aberto 51 4.3.4 Teste do tempo de sono induzido por pentobarbital 52 4.3.5 Teste do Rota Rod 52 4.3.6 Teste das convulsões induzidas por pentilenotetrazol 53 4.3.7 Teste do labirinto em cruz elevado (Plus maze) 53 4.3.8 Teste do Claro/Escuro 54 4.3.9 Teste da placa perfurada (Hole Board) 54 4.4 Dissecação da área cerebral (corpo estriado) 54 4.5 Estudo neuroquímico 55 4.5.1 Determinação de monoaminas e metabólitos com HPLC 55 5 ANÁLISE ESTATÍSTICA 56 6 RESULTADOS 57 6.1 Avaliação da atividade antidepressiva 57 6.1.1 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento no sistema dopaminérgico) 57 6.1.2 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento no sistema serotonérgico) 60 6.1.3 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento no sistema noradrenérgico) 60 6.1.4 Efeito do DDE no teste da suspensão da cauda 65 6.2 Avaliação do envolvimento do sistema dopaminérgico nos efeitos centrais do DDE 67 6.2.1 Efeito do DDE no teste do campo aberto 67 6.3 Avaliação da atividade ansiolítica e sedativa/hipnótica 74 6.3.1 Efeito do DDE no teste do tempo de sono induzido por pentobarbital 74 6.3.2 Efeito do DDE no teste do Rota Rod 77 6.3.3 Efeito do DDE no teste das convulsões induzidas por pentilenotetrazol 79 6.3.4 Efeito do DDE no teste do labirinto em cruz elevado (Plus maze) 81 6.3.5 Efeito do DDE no teste do Claro/Escuro 87 6.3.6 Efeito do DDE no teste da placa perfurada (Hole Board) 89 6.4 Estudo neuroquímico 91 7 DISCUSSÃO 97 8 CONCLUSÕES 106 REFERÊNCIAS 107 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema dopaminérgico) 58 TABELA 2 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema serotonérgico) 61 TABELA 3 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema noradrenérgico) 63 TABELA 4 Efeito do DDE no teste da suspensão da cauda. 65 TABELA 5 Efeito do DDE no teste do campo aberto. 70 TABELA 6 Efeito do DDE no teste do tempo de sono induzido por pentobarbital. 74 TABELA 7 Efeito do DDE no teste do Rota rod. 77 TABELA 8 Efeito do DDE no teste das convulsões induzidas por pentilenotetrazol 79 TABELA 9 Efeito do DDE no teste do labirinto em cruz elevado (Plus maze) 82 TABELA 10 Efeito do DDE no teste do Claro/Escuro 87 TABELA 11 Efeito do DDE no teste da placa perfurada (Hole board) 89 TABELA 12 Efeito do DDE sobre os Níveis de Neurotransmissores 91 TABELA 13 Efeito do DDE sobre os Níveis de Metabólitos 94 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Estrutura química do Eugenol e seus derivados químicos 20 FIGURA 2 Estrutura química do Desidrodieugenol ou bis-eugenol 24 FIGURA 3 Vias dopaminérgicas no cérebro. 29 FIGURA 4 Vias da 5-hidroxitriptamina (serotonérgicas) no cérebro. 38 FIGURA 5 Síntese do desidrodieugenol ou bis-eugenol (DDE) a partir do Eugenol 49 FIGURA 6 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema dopaminérgico) 59 FIGURA 7 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema serotonérgico) 62 FIGURA 8 Efeito do DDE no teste do nado forçado (Investigação do possível envolvimento do sistema noradrenérgico) 64 FIGURA 9 Efeito do DDE no teste da suspensão da cauda 66 FIGURA 10A Efeito do DDE no teste do campo aberto (Nº de travessias) 71 FIGURA 10B Efeito do DDE no teste do campo aberto (Nº de rearing) 72 FIGURA 10C Efeito do DDE no teste do campo aberto (Nº de grooming)73 FIGURA 11A Efeito do DDE no teste do tempo de sono induzido por pentobarbital (latência de sono) 75 FIGURA 11B Efeito do DDE no teste do tempo de sono induzido por pentobarbital (tempo de sono total) 76 FIGURA 12 Efeito do DDE no teste do Rota Rod 78 FIGURA 13 Efeito do DDE no teste das convulsões induzidas por pentilenotetrazol 80 FIGURA 14A Efeito do DDE no teste do Plus maze (Investigação do possível envolvimento do sistema gabaérgico) – NEBA 83 FIGURA 14B Efeito do DDE no teste do Plus maze (Investigação do possível envolvimento do sistema gabaérgico) – TPBA 84 FIGURA 14C Efeito do DDE no teste do Plus maze (Investigação do possível envolvimento do sistema gabaérgico) – PEBA 85 FIGURA 14D Efeito do DDE no teste do Plus maze (Investigação do possível envolvimento do sistema gabaérgico) – PTBA 86 FIGURA 15 Efeito do DDE no teste do Claro/Escuro 88 FIGURA 16 Efeito do DDE no teste da placa perfurada (Hole board) 90 FIGURA 17A Efeito do DDE 10mg/kg sobre os Níveis de Neurotransmissores 92 FIGURA 17B Efeito do DDE 50mg/kg sobre os Níveis de Neurotransmissores 93 FIGURA 18A Efeito do DDE 10mg/kg sobre os Níveis de Metabólitos 95 FIGURA 18B Efeito do DDE 50mg/kg sobre os Níveis de Metabólitos 96 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 Receptores da dopamina 30 QUADRO 02 Localização, no SNC, dos receptores dopaminérgicos e segundos mensageiros 36 QUADRO 03 Localização dos receptores noradrenérgicos e segundos mensageiros 42 LISTA DE ABREVIATURAS AC - Adenilil ciclase ACETIL CoA - Acetilcoenzima A ACh – Acetilcolina AChE - Acetilcolinesterase AMPc – 3’;5’-adenosina monofosfato cíclico ANOVA - Análise de variância ASP - Aspartato Bmax - Número máximo de receptores BSA – Albumina sérica bovina CAT - Catalase COMT- Catecol orto metiltransferase D1 e D2 - Receptores dopaminérgicos do tipo 1 e 2 DA - Dopamina DOPAC -Ácido 3, 4 dihidroxifenilacético EEG - Eletroencefalograma EP – estado epiléptico EROs – espécies reativas derivadas do oxigênio EUA - Estados Unidos da América GABA - Ácido gama aminobutírico GLI – Glicina GLU- Glutamano GSH - Glutationa reduzida GPx – Glutationa peroxidase HVA -Ácido homovanílico h – Hora 3H-NMS - 3H-N-Metilescopolamina 5- HT- 5-Hidroxitriptamina (serotonina) 5- HT1 e 5- HT2 – Receptor serotonérgico dos tipos 1 e 2 5-HIAA – Ácido 5-hidroxiindolacético i.p. - Intraperitoneal Kd - Constante de dissociação Kg – Kilograma LC – Latência da primeira convulsão LEP – Latência do estado epiléptico MAOA – Monoamina oxidase A MAOB – Monoamina oxidase B MDA – Malonil dialdeído ou malondialdeído M1 e M2 - Receptores muscarínicos do tipo 1 e 2 ME - Movimentos estereotipados mg – Miligrama min – Minutos mL – Mililitros mM - Milimolar MK-801 - Antagonista para receptores de NMDA NA – Noradrenalina Need – N-1-naftiletilenodiamina NEBA – número de entradas nos braços abertos nM – Nanômetro nmol - Nanomoles NMDA – N-metil-D-aspartato NO – Óxido nítrico PEBA – porcentagem de entrada nos braços abertos PG - Proteína transdutora do sinal ligada ao GTP PI - Fosfoinositídios PIP2 - Fosfatidilinositol 4, 5-bifosfato PIP - Fosfatidilinositol 4-fosfato PKC - Proteína quinase C PLC - Fosfolipase C PTZ - Pentilenotetrazol. RCM - Receptores colinérgicos muscarínicos RD1 - Receptores dopaminérgicos D1 RD2 - Receptores dopaminérgicos D2 RL – Radicais livres RNAm - Ácido ribonucleico mensageiro rpm – Rotações por minuto s - Segundos SCH 23390 - 7-Cloro-2,3,4,5-tetrahidro-metil-5-fenil-1H-3-benzazepina SCP - Sinais colinérgicos periféricos s.c. - Subcutâneo SNC - Sistema Nervoso Central SNP - Sistema Nervoso Periférico SOD – Superóxido dismutase TIR - Tirosina TSH - Hormônio tireotrófico TBA – Ácido tiobarbitúrico TBARS – Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico TPBA – tempo de permanência nos braços abertos v.o. - Via oral XO - Xantina oxidase µL - Microlitros µM – Micromolar 17 1 INTRODUÇÃO 1.1 Generalidades O uso de produtos naturais iniciou-se há milhares de anos por populações de vários países com o intuito de tratar diversas patologias onde eram utilizados como forma alternativa ou complementar aos medicamentos sintéticos (SOUSA et al., 2008). Estudos atuais confirmam a importância das plantas medicinais na saúde mundial, com grandes avanços observados na medicina moderna. A medicina tradicional é usada em todas as partes do mundo e tem uma grande importância econômica, principalmente pelo uso de plantas medicinais que têm uma posição respeitável hoje; especialmente em países em desenvolvimento onde o serviço de saúde moderno é limitado e representa um tratamento pouco acessível (AGRA, 2008). A utilização da fitoterapia, que significa o tratamento com “remédios” elaborados a partir de plantas, vem desde épocas remotas. A referência mais antiga que se tem conhecimento do uso de plantas data de mais de sessenta mil anos. As primeiras descobertas foram feitas por estudos arqueológicos em ruínas do Irã. Também na China em 3.000 a.C. já existiam farmacopéias que copilavam as ervas e suas indicações terapêuticas (REZENDE; COCCO, 2002). Segundo Maciel e colaboradores (2002), o conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. O uso de plantas no tratamento e na cura de enfermidades é tão antigo quanto à espécie humana. Ainda hoje nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais de residências. As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais contribuem de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais prescritos, com frequência, pelos efeitos medicinais que produzem, apesar de não terem seus constituintes químicos conhecidos (VEIGA JUNIOR; PINTO MACIEL, 2005). Dessa maneira, usuários de plantas medicinais do mundo inteiro mantêm viva a prática do consumo de fitoterápicos, tornando válidas informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a importância da fitoterapia, sugerindo ser uma alternativa viável e importante também às populações dos países em desenvolvimento, já que seu custo é diminuído. As plantas medicinais têm um importante 18 papel na saúde mundial. Apesar dos grandes avanços observados na medicina moderna, nas últimas décadas, elas continuam sendo utilizadas e estima-se que 25 a 30% de todos os fármacos avaliados como agentes terapêuticos são provenientes de produtos naturais (CALIXTO, 2005). Segundo Brandão e colaboradores (2006) os países latino-americanos são ricos em espécies medicinais devido à diversidade vegetal vasta e rica tradição da utilização de vegetais praticada por seus povos durante séculos. No Brasil, no entanto, a mistura intensa de culturas conduziu a uma introdução de espécies nativas de outros continentes. O uso de plantas medicinais, então, foi disseminado principalmente pela cultura indígena. É um país rico na sua biodiversidade cujo território possui cinco principais biomas: floresta amazônica, cerrado, mata atlântica, pantanal e caatinga; figurando como uma rica fonte de produtos terapêuticos (SOUSA et al., 2008). O Brasil, com a grandeza de seu litoral, de sua flora e sendo o detentor da maior floresta equatorial e tropical úmida do planeta, não pode abdicar de sua vocação para os produtos naturais (PINTO et al., 2002). Especificamente no Nordeste do Brasil, a diversidade de espécies, aliada à precária assistência à saúde de grande parte da população,torna o uso de plantas medicinais uma prática cada vez mais comum para o tratamento de várias enfermidades. As substâncias biologicamente ativas, presentes nos extratos ou óleos essenciais de diferentes partes dessas plantas, são retiradas através de chás ou infusões e utilizadas na medicina popular contra os mais diversos males (MAIA, 2007). Agra e colaboradores (2008), realizaram um levantamento das plantas medicinais usadas na região Nordeste do Brasil, onde obteve um total de 650 espécies e 407 gêneros pertencentes a 111 famílias. Destes, cerca de 126 espécies, referidas por seus usos medicinais, são exóticas e cultivadas na região. No entanto o mesmo estudo concluiu que a maioria das espécies relatadas não tem sido estudada em relação aos seus constituintes químicos e/ou atividades biológicas. Ressalta, ainda, a importância de se investigar essas espécies que não tem sido objeto de estudos farmacológicos e químicos, embora sua utilização popular tenha sido relatada. As potencialidades do uso de plantas medicinais encontram-se longe de estarem esgotadas. Novos conhecimentos e novas necessidades certamente encontraram no reino vegetal soluções através da descoberta e desenvolvimento de novas moléculas com atividade terapêutica (SIMÕES et al., 2004). De maneira direta, a cultura popular do uso de plantas medicinais, desperta o interesse de pesquisadores em estudos envolvendo áreas multidisciplinares, como a botânica, a 19 farmacognosia, a química orgânica, a farmacologia e a toxicologia; que juntas enriquecem os conhecimentos sobre a inesgotável fonte medicinal natural que é a flora mundial. O potencial das plantas como fonte de novas drogas ainda oferece grande campo para investigação científica, pois das cerca de 250 000 a 500 000 espécies conhecidas, uma pequena porcentagem foi investigada fitoquimicamente e apenas uma fração desta já foi avaliada quanto ao seu potencial farmacológico (RATES, 2001). De acordo com Cordell e Colvard (2005) mesmo entre as plantas com uso medicinal tradicional ainda há um grande percentual que não foi objeto de estudo visando à comprovação da eficácia e da segurança de seu uso. Individualmente, a descoberta de novos fármacos, ou fármacos acessíveis, pode determinar a melhoria da qualidade de vida em doenças crônicas ou a própria sobrevivência do paciente afetado. Socialmente, a descoberta de fontes naturais e locais de compostos químicos usualmente importados e/ou o desenvolvimento de fitoterápicos de fabrificação nacional, podem ter conseqüências econômicas significativas, além de possibilitar autonomia de cada país no gerenciamento de suas políticas de saúde (RATES, 2001). No entanto, mesmo a descoberta de novos fármacos, através de síntese química a partir de compostos oriundos de fontes naturais, devem observar rigorosamente a legislação vigente. No Brasil, os quatro conceitos bioéticos básicos (autonomia, não maleficência, beneficiência e justiça) foram incorporados à Resolução 1/1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ministério da Saúde (MS), posteriormente substituída pela Resolução 196/1996, que normatiza as pesquisas nessa área visando o aprimoramento do conhecimento científico e à produção de novos fármacos para serem incorporados ao arsenal terapêutico no contexto do atendimento médico-hospitalar. Esta legislação brasileira (Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde – MS) regulamenta as etapas das pesquisas pré-clínicas e clínicas para avaliação de novos fármacos e registro de novos medicamentos (LAPA et al., 2003). 1.2 Eugenol e seus derivados Eugenol (4-alil-1-hidroxi-2-metoxibenzeno), um constituinte natural fenólico semelhante a um óleo aromático, está presente em muitas plantas medicinais como Cinnamomum zeylanicum Blume, Caryophilus aromaticus (IRIE et al., 2004), Eugenia caryophyllata (ZHENG; KENNEY; LAM, 1992), Rosa ssp (UMEZU et al., 2002), Cinnamomum verum (CHENG et al., 2004), Caryophillus aromaticus (COSTA et al., 1994). 20 Eugenol apresenta várias atividades: anticonvulsivante (SAYYAH; VALIZADEH; KAMALINEJAD, 2002), hipotérmica (WON et al., 1998), antioxidante (FUJISAWA et al., 2002), antidepressiva (IRIE et al., 2004), é extensamente utilizado também como analgésico em odontologia (OHKUBO et al., 1997) e induz apoptose em células HL-60 de leucemia promielocítica humana (YOO et al., 2005). Muitos derivados de combinações de eugenol têm atividade depressora no Sistema Nervoso Central (SNC) como metileugenol, isoeugenol e metilisoeugenol (MELLO et al., 1973). Benzileugenol, fenileugenol, feniletil-eugenol são anticonvulsivantes (BARBOSA et al., 1988). Desidrodiisoeugenol tem atividade antiinflamatória (MURAKAMI et al., 2003) e o dimetildesidrodieugenol deprime o SNC (COSTA et al., 1994). Eugenol é um agente aromático utilizado em cosméticos e produtos alimentícios. Este composto também é amplamente usado em odontologia como um material do cimento com óxido de zinco ou como um agente sedativo. Por outro lado, isoeugenol, um isômero do Eugenol, é encontrado em óleos essenciais e sabões, vinho, café e atua como um agente aromatizante e conservante (FUJISAWA et al., 1999; FUJISAWA et al., 2007). Para diminuir a potente atividade oxidativa de Eugenol, foram sintetizados vários compostos relacionados ao Eugenol como o bis-eugenol ou dehidrodiisoeugenol (DDE - 3,30- dimetoxi-5, 50-di-2-propenil-1, 10-bifenil-2, 20-diol), um dímero do Eugenol menos citotóxico e com atividade antioxidante mais significativa quando comparado ao Eugenol, sugerindo que o bis-eugenol poderia agir como um potente inibidor da resposta inflamatória e alérgica (MURAKAMI et al., 2003). Figura 1. Estrutura química do Eugenol e do Desidrodieugenol Fonte: http://www.bmrb.wisc.edu/metabolomics/mol_summary/?molName=Eugenol Eugenol (4-alil-1-hidroxi-2-metoxibenzeno) Bis-eugenol (3,30-dimetoxi-5 ,50-di-2-propenil-1 ,1 0-bifenil-2 ,20-diol) 21 Foi relatada a participação do Eugenol em reações fotoquímicas, além de possui atividade antioxidante, inseticida e fotocitotoxicidade. Entretanto, em baixas concentrações, o Eugenol pode atuar como agente antioxidante e antiinflamatório, enquanto que em altas concentrações pode agir como pró-oxidante (YOO et al., 2005). Yoo e colaboradores (2005) investigaram os efeitos do eugenol, isolado da Eugenia caryophyllata (Myrtaceae), sobre a citotoxicidade, indução de apoptose e as supostas vias de suas ações em células HL-60 e observaram que a geração de ROS desempenha um papel crítico na apoptose induzida por eugenol em células HL-60, observando um efeito anticancerígeno. Outros estudos demonstraram que o Eugenol é o princípio ativo majoritário encontrado no rizoma de Acori graminei, uma planta medicinal usada para epilepsia e perda de memória na Ásia Oriental durante séculos, na redução da citotoxicidade induzida por Aβ1– 40 em células PC-12 in vitro. Estes achados propõem, no futuro, um potencial terapêutico e profilático do eugenol na administração para desordens neurológicas ou psiquiátricas. Além disso, foi demonstrado que eugenol e imipramina induzem o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) no hipocampo com e sem indução de metalonéina-III (MT-III) e que possivelmente ocorra o envolvimento da expressão MT-III na exibição da atividade antidepressiva do eugenol, mas não da imipramina (IRIE et al., 2004). Eugenol e Isoeugenol são bem conhecidos por possuírem atividade antioxidante. Estresse oxidativo é produzido quando o equilíbrio entre estímulo oxidativo e vários sistemas antioxidantes é alterado. Embora eugenol e isoeugenol sejam utilizados em baixos níveis, estes compostos foram previamente apresentados com a habilidade de sensibilizar a pele causando reações alérgicas, possivelmente devido ao estresse oxidativo. A partir do momento em que estes compostos fazem contatodireto com a mucosa oral ou com a pele, o estresse oxidativo e o oxigênio molecular passam e ter um papel crucial na sua citotoxicidade. Estudos demonstraram que Eugenol produz radicais livres intracelulares derivados do oxigênio a partir da foto-oxigenação por irradiação de luz visível e/ou alcalinização, resultando em aumento da citotoxicidade. No entanto, os mecanismos determinantes das atividades antioxidantes/pró-oxidantes do eugenol e isoeugenol são pouco conhecidos. Em conclusão, está claro que a citotoxicidade do isoeugenol ocorre na produção intracelular de radicais livres de oxigênio de maneira dependente, associada com redução nos níveis intracelulares de glutationa (GSH), é provavelmente mediado pela formação do radical benzil. Em contraste, à citotoxicidade do eugenol na presença de estresse oxidativo ocorre de maneira independente da produção intracelular de radicais livres de oxigênio, o qual pode atuar como 22 um antioxidante em baixas concentrações e como uma característica de pró-oxidante, e é provavelmente mediado através do mecanismo dos radicais fenoxil (FUJISAWA et al., 1999; FUJISAWA et al., 2007). A modulação do fator nuclear intracelular kappaB (NF-kappaB) via de sinalização envolvidos na expressão desregular de proliferação celular e moléculas reguladoras do ciclo celular é uma abordagem pragmática para a quimioprofilaxia. Trabalhos recentes demonstraram o efeito modulador do Eugenol sobre NF-kappaB reduzindo significativamente a incidência de tumores gástricos por suprimir sua ativação como também pela modulação da expressão de genes alvo NF-kappaB que regulam a proliferação e a sobrevivência das células, podendo essa via de sinalização do eugenol ter um impacto significativo sobre abordagens terapêuticas quimiopreventivas para o câncer (MANIKANDAN et al., 2009). Kar Mahapatra e colaboradores (2009) observaram o efeito protetor in vitro do eugenol na toxicidade induzida por nicotina sobre macrófagos peritoneais murinos, com diminuição do nível de geração de radicais, NADPH oxidase e atividade de mieloperoxidase, lipídios, proteínas, danos ao DNA e glutationa oxidada, sugerindo um potencial de uso/benefício do eugenol como um modulador da nicotina induzida pela lesão celular, podendo ser usado como uma droga imunomoduladora contra a toxicidade da nicotina. Compostos orto-metoxifenóis como Eugenol e Isoeugenol apresentam atividades antioxidantes e anti-inflamatórias, mas com maior concentração de atuar como agentes oxidantes e alérgenos potentes. Em geral, acredita-se que baixas concentrações de Eugenol atuam como antioxidantes, com benéfico efeito antiinflamatório; enquanto altas concentrações atuam como pró-oxidantes, levando a lesão tecidual como resultado da formação dos nocivos radicais fenoxil. Recentemente foi demonstrado que o bis-eugenol, é um eficaz inibidor da expressão de citocinas inflamatórias em macrófagos induzidos por LPS, como também a expressão da COX-2 e do NF-kappaB, sugerindo que o desidrodieugenol age como um potente antiinflamatório (MURAKAMI et al., 2005; FUJISAWA et al., 2007). Eugenol, princípio ativo do rizoma de Acori graminei, uma erva medicinal usada na Ásia para o tratamento da Doença de Alzheimer, demonstrou proteger células neuronais do efeito citotóxico de peptídeos amilóide (Abs) em culturas de células e apresentou atividade antidepressiva em camundongos. O Eugenol inibe as monoamino oxidases (MAO A e MAO B), por inibição competitiva com o substrato monoamina provavelmente devido à relação estrutura-atividade que possui características estruturais importantes para essa inibição. Estudos para avaliar a atividade antidepressiva utilizando o teste de nado forçado em 23 camundongos, sugerem uma ligação entre a atividade antidepressiva de eugenol e sua atividade inibitória da MAO em relação aos seus substratos 5-HT e DA (TAO et al., 2005). Eugenol, por ter relevância clínica na epilepsia e cefaléia, foi investigado quanto a suas propriedades neurofisiológicas. Eugenol reduziu significativamente a potenciação de longa duração por aproximadamente 30% em comparação com os controles, suprimindo potenciais epileptiformes e depressão alastrante, provavelmente através da inibição da plasticidade sináptica, indicando seu potencial uso no tratamento da epilepsia e da dor cefálica (MÜLLER et al., 2006). Estudos realizados por Ardjmand e colaboradoes (2006) utilizando hipocampo de ratos, observaram os efeitos do Eugenol sobre a transmissão sináptica e potenciação de longa duração (LTP). Eugenol diminuiu a amplitude do PS de forma dependente com efeito rápido e completamente reversível, indicando que enquanto eugenol deprime transmissão sináptica, não afeta a capacidade sináptica CA1 para induzido pelo tétano. Metil-eugenol, composto majoritário e isolado do Croton zehntneri, mostrou possuir atividade depressiva no sistema nervoso central (SNC). Em estudo utilizando modelos comportamentais de depressão e ansiedade como campo aberto, natação forçada, plus-maze e hole board, metil-eugenol induziu alterações antidepressivas no SNC, expressas pela menor imobilidade no modelo de natação, e não de um nível capaz de alterar a atividade motora e exploratória, podendo essa ausência de efeitos observados no campo aberto ser um resultado da contingência experimental, tendo altos níveis de ansiedade (NORTE; COSENTINO; LAZARINI, 2005). Eugenol, extraído de Caryophyllus aromaticus (Myrtaceae), foi estudado quanto ao edema de língua produzido pela aplicação tópica do sumo de Dieffenbachia picta Schott (Araceae), uma planta ornamental conhecida como "comigo-ninguém-pode", com propriedades tóxicas que quando mastigada, provoca um edema doloroso da membrana da mucosa oral e inflamação aguda que pode torna-se grave produzindo obstrução da glote, comprometimento respiratório e até morte. Quando comparado com a combinação de medicamento. Eugenol, mesmo na menor dose de 5 mg/kg, apresentou melhores resultados na redução e inibição do edema de língua induzido pelo suco de D. picta em até 70% do edema em geral provavelmente pela inibição da ácido araquidônico, podendo ser utilizado no tratamento da intoxicação com D. picta em substituição aos tratamentos clássicos, reduzindo o risco de efeitos colaterais dessas substâncias (DIP et al., 2004). 24 1.3 Desidrodieugenol ou bis-eugenol (dde) O desidrodieugenol (DDE), também conhecido como bis-eugenol, é um dímero de eugenol e apresenta-se em baixas concentrações em algumas plantas como Syzygium aromaticum (MIYAZAWA; HISAMA, 2003). O DDE pode ser preparado sinteticamente por uma reação de oxidação que produz um dímero orto (YOKOE et al., 1997). Possui baixa atividade citotóxica e uma atividade antioxidante maior do que o eugenol (ATSUMI et al., 2000; SATOH et al., 1998). O DDE possui, ainda, atividade antimutagênica (MIYAZAWA et al., 2003) e anti-inflamatória (MURAKAMI et al., 2003). Foi demonstrado que o bis-eugenol sintetizado pela oxidação do Eugenol é menos citotóxico e mais antioxidante do que o Eugenol, porém seu mecanismo anti-inflamatório permanecia incerto. Murakami e colaboradores (2003) propuseram um possível mecanismo de ação antiinflamatório do bis- eugenol. Observou-se que bis-eugenol, mas não Eugenol, inibiu a degradação inibitória de kB-α em macrófagos murino estimulados com LPS e, conseqüentemente, a atividade transcricional do NF-kB nas células, além de o bis-eugenol inibir a expressão de citocinas inflamatórias estimuladas por LPS agindo assim como um potente inibidor do NF-kB podendo ser útil para a quimioprofilaxia de doenças bucais. A depressão é uma síndrome psiquiátrica altamente prevalente na população em geral, (TENG; HUMES; DEMETRIO, 2005). Após o desenvolvimento da Imipramina como uma droga antidepressiva, foram pesquisados muitos tipos de substâncias para serem utilizadas clinicamente no tratamentode doenças afetivas (IRIE et al., 2004). Considerando que o Eugenol possui atividade antidepressiva, anticonvulsivante e antioxidante, decidiu-se avaliar as alterações neurocomportamentais e neuroquímicas do desidrodieugenol (DDE), um derivado sintético do Eugenol, em modelos animais de depressão, convulsão e ansiedade, avaliando, ainda, as alterações nos níveis de neurotransmissores em áreas cerebrais específicas, como o corpo estriado, em camundongos. 25 Fonte: http://www.bmrb.wisc.edu/metabolomics/mol_summary/?molName=Eugenol 1.4 Ansiedade e depressão Depressão representa um distúrbio afetivo muito doloroso resultante de queda importante da auto-estima, manifestando-se por episódios ou estados de humor deprimido que podem durar semanas, meses ou anos consecutivos. Trata-se de doença bastante freqüente, acometendo 3 a 6% da população geral e seu diagnóstico e tratamento adequado tem grande impacto sobre a saúde e qualidade de vida do paciente. A maioria dos casos é de depressão reativa, ou seja, secundária a um problema real. São freqüentes outros casos na família. O prognóstico é variável e depende da ocorrência de recorrência, recaída ou cronificação da depressão e com o risco de suicídio (BROWN et al., 1996; LIBERMAN; WANG CHENG., 2005). A depressão maior é um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns. Em qualquer momento particular, cerca de 5-6% da população sofrem de depressão (prevalência pontual), e estima-se que 10% das pessoas possam apresentar depressão durante a sua vida (prevalência em toda a vida). Os sintomas de depressão são freqüentemente sutis e passam despercebidos tanto para o paciente quanto para o médico. Deve-se suspeitar da presença de depressão em pacientes com queixas vagas que não têm qualquer explicação, como manifestações de distúrbios somáticos e naqueles que, de maneira simplista, poderiam ser considerados “neuróticos” (KATZUNG, 2005). A depressão é um distúrbio heterogêneo que foi caracterizado e classificado de diversas maneiras. A depressão maior e a distimia (menor) são síndromes depressivas puras, enquanto o distúrbio bipolar e o distúrbio ciclotímico indicam depressão em associação com mania. Uma classificação simplificada, baseada na suposta origem do distúrbio é a seguinte: Figura 2. Estrutura química do Desidrodieugenol ou bis-eugenol (DDE) 26 (1) depressão “reativa” ou “secundária” (a mais comum), que ocorre em resposta a estímulos reais, como pesar, doença, etc; (2) depressão “endógena”, um distúrbio bioquímico geneticamente determinado, que se manifesta por uma incapacidade de sentir prazer ou lidar com acontecimentos habituais da vida; e (3) depressão associada ao distúrbio afetivo bipolar (maníaco- depressivo) (KATZUNG, 2005). Atualmente as síndromes depressivas são classificadas como transtornos do humor do mesmo modo que as síndromes maníacas. Entende-se por humor a emoção constante e predominante que é a base para as percepções de um indivíduo em relação ao meio externo. Geralmente o humor é descrito como irritável, deprimido, desesperançado, ansioso, eufórico, etc. (ATKINSON et al., 2002). Ansiedade é uma reação medrosa, sem causa lógica identificável, levando o indivíduo a sofrer por antecipação. Ansiedade e depressão constituem as mais freqüentes causas de busca de atenção primária à saúde. Apesar de dolorosa, a ansiedade normal não é necessariamente nociva, pois funciona como uma reação de alerta. O paciente ansioso apresenta um estado psíquico doloroso e desagradável de enorme temor, exagerada expectativa, grande tensão e super-vigilância, acompanhada de pronunciadas manifestações somáticas neurovegetativas, neuroendócrinas e neuroimunitárias, induzidas pelo medo irracional sem causa aparente. A ansiedade pode gerar mal-estar e sofrimento intenso, podendo interferir de modo debilitante, diminuindo o rendimento intelectual, prejudicando as relações interpessoais e com o meio ambiente, afetando o conforto emocional desejável e limitando as funções biopsicossocioculturais (BRUNELLO, 2000; LIBERMAN et al., 2005). A ansiedade dita patológica é um dos distúrbios psiquiátricos que mais afetam as pessoas em todas as partes do mundo e, dessa forma, é fácil deduzir que aqueles medicamentos capazes de atenuar os seus sintomas, chamados de “ansiolíticos”, têm sido procurados e consumidos pelo homem desde a antiguidade. Entre os atuais ansiolíticos, destacam-se drogas que estão inseridas no grupo dos benzodiazepínicos, antidepressivos e anti-histamínicos, principalmente. Contudo, há necessidade de se buscarem novos agentes farmacológicos para esse fim, considerando a falta de especificidade e efeitos indesejáveis apresentados pelas drogas usadas clinicamente (SILVA, 1997; GRAEFF; GUIMARÃES, 1999). Não se pode negar que estamos vivendo hoje a era da incerteza, da insegurança e, conseqüentemente, da ansiedade. Mesmo que seja incorporado ao discurso comum de qualquer indivíduo, o termo ansiedade se refere a uma experiência humana muito difícil de se definir ou de se caracterizar. No entanto, pode-se dizer que a ansiedade caracteriza-se por um 27 estado de tensão, apreensão e desconforto, que se originam de perigo interno ou externo iminente, podendo ser resposta a estresse ou a estímulo ambiental. É considerada uma emoção semelhante ao medo. Porém, enquanto este é o fruto de ameaça definida, na ansiedade a fonte do perigo é incerta ou desconhecida. Os sintomas ligados à ansiedade podem ser predominantemente psíquicos, como preocupação, nervosismo, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, ou somáticos, a exemplo de sudorese, taquicardia, tremores, opressão no tórax ou epigastro, tensão muscular, cefaléia entre outros (SILVA, 1997; GRAEFF; GUIMARÃES, 1999). É um fenômeno humano subjetivo e, exceto para algumas das alterações somáticas e autônomas associadas, não possui um equivalente óbvio nos animais experimentais. Em termos biológicos, pode ser considerada uma forma particular de inibição comportamental, ocorrendo em resposta a eventos ambientais que são novos, que não contêm qualquer recompensa ou que são punitivos. Na verdade, essa inibição comportamental que ocorre nos animais pode assumir a forma de imobilidade ou supressão de uma resposta comportamental (RANG; DALE, 2004). Alterações na transmissão neuronal dos sistemas gabaérgico, serotonérgico, noradrenérgico e dopaminérgico são considerados importantes na fisiopatologia da ansiedade e depressão. Os BDZs (Benzodiazepínicos) possuem efeito farmacológico de redução da ansiedade, sedação, indução do sono, diminuição do tônus muscular e da coordenação, além de serem anticonvulsivantes. Podem dificultar o processo de aprendizagem e memória, além de prejudicar as funções psicomotoras. Produzem efeitos tóxicos, se misturados ao álcool, levando, eventualmente, o paciente ao estado de coma. Se forem utilizados por alguns meses, podem causar dependência química (CARVALHO; DIMENSTEIN, 2004). Agem nos receptores GABA que equilibra a transmissão sináptica inibitória no sistema nervoso central como um todo. Esse medicamento potencializa a resposta ao GABA fazendo com que ocorra a abertura dos canais de cloreto ativados pelo GABA, intensificando a afinidade do GABA pelo receptor (RANG, 2004). Classificam-se de acordo com a sua meia-vida plasmática, como sendo uma ação muito curta, curta, intermediária e longa. Apesar dessa divisão, sabe-se hoje que o grau de afinidade da substância pelo receptor benzodiazepínico também interfere na duração da ação (LARANJEIRAS, 2002). Os Fármacos Antidepressivos podem ser classificados nas seguintes categorias: • Inibidores da captura de monoaminas: antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina e a imipramina, que não são seletivos, ou seja, inibem a recaptação de serotonina e noradrenalina.Inibidores seletivos da captura de 28 serotonina como a fluoxetina, paroxetina, fluvoxamina, sertralina; outros inibidores que não tem as mesmas características químicas aos antidepressivos tricíclicos, mas que são semelhantes farmacologicamente como: maprotilina, reboxetina. Antidepressivos atípicos, como a bupropiona, inibe seletivamente a recaptação de dopamina. • Inibidores da monoaminooxidase p. ex., fenelzina, tranicilpromina, esses fármacos não são seletivos aos subtipos A e B da MAO; A moclobemida é seletiva para a MAO-A (RANG, 2004). 1.5 Sistema dopaminérgico A dopamina (DA) pertence ao grupo de neurotransmissores chamado de catecolaminas. As características estruturais dessas monoaminas são a presença de um único grupamento amina, um núcleo de catecol (um anel benzeno com dois gupos de hidroxilas adjacentes) e uma cadeia lateral de etilamina ou um de seus derivados. O precursor para a síntese da dopamina é o aminoácido tirosina. Duas reações transformam a tirosina em dopamina: a primeira é catalisada pela enzima tirosina-hidroxilase (TH) a qual converte tirosina em L-3,4-dihidroxifenilalanina (L-DOPA). A tirosina-hidroxilase é considerada a enzima limitante desta via. O segundo passo é a descarboxilação da DOPA, catalisada pela enzima L-aminoácido descarboxilase (AADC), a qual produz dopamina (FELDMAN; MEYER; QUENZER., 1997). A dopamina constitui em torno de 80% do conteúdo de catecolaminas no cérebro. Projeções originadas de áreas cerebrais que sintetizam este neurotransmissor se estendem para regiões do mesencéfalo formando quatro vias dopaminérgicas: (1) nigroestriatal; (2) mesolímbica; (3) mesocortical e (4) tuberoinfundibular (Figura 3). O sistema nigroestriatal compreende os neurônios dopaminérgicos que se originam da substância negra da “pars compacta” do mesencéfalo e terminam na região chamada de corpo estriado dorsal. Esta região inclui o núcleo caudado e putamen. A via nigroestriatal está envolvida no controle dos movimentos e a sua degeneração causa a doença de Parkinson, caracterizada por tremor de repouso, rigidez e bradicinesia (GERFEN, 1992; LANG; LOZANO, 1998b). A via mesocortical tem origem na área tegumentar ventral (ATV) e inerva diferentes regiões do córtex frontal. Esta via parece estar envolvida em alguns aspectos do aprendizado e memória (LE MOAL; SIMON, 1991; FELDMAN; MEYER; 29 QUENZER., 1997). A via mesolímbica é originada do mesencéfalo na área tegumentar ventral e inerva o estriado ventral (nucleus accumbens), o tubérculo olfatório (TO) e parte do sistema límbico (FELDMAN; MEYER; QUENZER., 1997). Esta via está implicada com o comportamento motivacional (KOOB; BLOOM, 1988; KOOB, 1992). A via tuberoinfundibular origina-se das células do núcleo periventricular e arqueado do hipotálamo (FELDMAN; MEYER; QUENZER., 1997). Projeção desta via atinge a eminência mediana do hipotálamo onde libera dopamina no espaço perivascular do plexo capilar do sistema porta hipotalâmico-hipofisário. Daí a dopamina é transportada para a pituitária anterior onde atua sobre o lactótrofo para inibir a liberação da prolactina. Este hormônio estimula a produção do leite na glândula mamária (FELDMAN; MEYER; QUENZER., 1997; DOPPLER, 1994) e estimula a proliferação de lactótrofo por um mecanismo autócrino na glândula pituitária (SAIARDI et al., 1997). Figura 3 – Vias dopaminérgicas no cérebro. Fonte: Rang et al., 2004 1.5.1 Receptores dopaminérgicos A dopamina exerce sua ação pela ligação a receptores de membrana específicos (GINGRICH; CARON, 1993), os quais pertencem a família de receptores ligados à proteína 30 G (guanina nucleotídeo) com 7 domínios transmembrana. Cinco distintos receptores dopaminérgicos foram isolados, caracterizados e subdivididos em duas sub-famílias, D1- e D2- símile, com base em suas propriedades bioquímicas e farmacológicas (Quadro 1). A sub-família D1-símile compreende os receptores D1- e D5-, enquanto o D2- símile inclui os receptores D2-, D3- e D4-. O C-terminal de ambas sub-famílias contém locais de fosforilação e esterificação, os quais parecem estar envolvidos na dessenssibilização do receptor (BATES et al., 1991; NG et al., 1994). Ligantes dopaminérgicos facilmente distinguem os receptores das sub-famílias D1- e D2-símile. Entretanto, a maioria deles não diferencia claramente entre os membros da mesma sub-família. Por exemplo, o antagonista do receptor D1, SCH-23390, ou o agonista SKF-38393 tem afinidade semelhante para ambos receptores D1- e D5. A seletividade farmacológica destes compostos tem ainda de ser determinada em animais vivos. Para esta finalidade o uso de animais knock-out de um receptor em particular será de grande ajuda na definição da seletividade de um composto particular para um receptor específico. Quadro 1 – Receptores da dopamina Distribuição Papel Funcional Tipo D1 Tipo D2 D1 D5 D2 D3 D4 Córtex Reatividade, Humor +++ − ++ − + Sistema límbico Emoção, Comportamento Estereotipado +++ + ++ + Estriado Controle motor +++ + ++ + + Hipotálamo ventral e adeno- hipófise Secreção de prolactina − − ++ + − Transdução de sinais ↑AMPc ↑AMPc ↓AMPc e/ou ↑IP3 ↓AMPc e/ou ↑IP3 ↓AMPc e/ou ↑IP3 AMPC – adenina monofosfato cíclico IP3 – trifosfato de inositol Fonte: Rang et al., 2004 31 1.5.2 Expressão dos receptores dopaminérgicos Os genes dos receptores dopaminérgicos D1- e D2 possuem uma maior distribuição e apresentam maiores níveis de expressão. O receptor D1 é principalmente expresso no caudado-putamen, núcleo accumbens, tubérculo olfatório, córtex cerebral. Os receptores D1 também foram detectados no núcleo sub-talâmico. Na substância negra pars reticulata não foi detectado nenhum RNAm para o receptor D1, embora tenha sido mostrado a ligação de ligantes específicos para este receptor nesta região. Isto sugere que o receptor D1 é expresso no neurônio estriatal que envia suas projeções para a substância negra através da via nigroestriatal. O gene do receptor D5 tem um padrão de expressão mais restrito quando comparado com o receptor D1. A expressão deste receptor foi detectada no hipocampo, núcleo mamilar lateral e no núcleo parafascicular do tálamo (JACKSON; WESTLIND- DANIELSSON, 1994). O receptor D2 é expresso predominantemente nos tecidos cerebrais, tais como o caudado putamen, tubérculo olfatório e nucleus accumbens. Este receptor é também expresso na substância negra pars compacta e na área tegumentar ventral. Estas são as regiões anatômicas que originam as fibras dopaminérgicas, indicando que os receptores D2 têm uma localização pré-sináptica. Em contraste, os receptores D1-símile são receptores exclusivamente pós-sinápticos (CIVELLI et al., 1991). Além do cérebro os receptores D2 estão também localizados na retina, fígado, sistema vascular e glândula pituitária (NG et al., 1994, JACKSON;WESTLIND-DANIELSSON, 1994; PICETTI et al., 1997). A distribuição neuroanatômica do RNAm do receptor D3 no cérebro de ratos é restrita a poucas regiões cerebrais tais como a ilha de Calleja, um pouco do núcleo septal, hipotálamo e regiões distintas do tálamo e cerebelo (JACKSON; WESTLIND- DANIELSSON, 1994). Além disso, o receptor D3 está também localizado na substância negra pars compacta indicando localização pré-sináptica. O receptor D4 parece estar altamente expresso no córtex frontal, amígdala, bulbo olfatório, hipocampo, hipotálamo e mesencefálo (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). 32 1.5.3 Vias de transdução de sinal As vias de transdução de sinal ativadas pelos receptores dopaminérgicos são numerosas. Entretanto, os efeitos mais descritos mediadospela dopamina são a ativação ou inibição da via do AMPc e a modulação da atividade de canais. A estimulação de efetores celulares originados de receptores dopaminérgicos é mediada via interação com membros de proteínas regulatórias heterotriméricas ligadas ao GTP (proteína G) (HEPLER; GILMAN, 1992). A região da terceira alça intracelular dos diferentes receptores dopaminérgicos tem um papel central na interação com a proteína G (STRADER; SIGAL; DIXON, 1989). Receptores do sub-tipo D1-símile são reguladores dos níveis de AMPc (MONSMA-JR et al., 1990; SUNAHARA et al., 1991; JACKSON; WESTLIND- DANIELSSON, 1994). A estimulação destes receptores resulta na ativação da proteína kinase A (PKA). A PKA fosforila proteínas citoplasmáticas e nucleares e regula o metabolismo celular, incluindo a função de canais iônicos e também dessenssibiliza a proteína G ligada aos receptores, levando a uma resposta celular para liberar o neurotransmissor (CHOI et al., 1993; HOFMANN et al., 1994). A inibição da atividade da adenilato ciclase, entretanto, parece ser uma propriedade geral dos receptores D2-símile. O receptor D2 foi primeiro caracterizado como um inibidor dos níveis de AMPc intracelular na glândula pituitária, e nas células estriatais. O receptor D2 desencadeia a inibição da adenilato ciclase por acoplamento de vias sinalizadas bloqueadas pela toxina pertussis (GINGRICH; CARON, 1993; JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). Similarmente ao receptor D2, o receptor D3 é descrito como um inibidor dos níveis de AMPc endógeno em vários tipos celulares (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994; MISSALE et al., 1998). Entretanto, o receptor D3 parece inibir a adenilato ciclase com menos eficiência que o receptor D2 (MISSALE et al., 1998). A literatura também relata que o receptor D4 pode inibir o acúmulo de AMPc na retina e em uma variedade de tipos celulares (MISSALE et al., 1998). A estimulação do receptor D1 aumenta a corrente dos canais de Ca 2+ do tipo L e leva a redução da corrente nos canais de Ca2+ do tipo N e P em neurônios neoestriatais de ratos, via uma ação direta ou indireta da PKA (MISSALE et al., 1998). De modo oposto, em células glomerulares da adrenal em ratos, o receptor D1 inibe a corrente dos canais de Ca 2+ do tipo T (DROLET et al., 1997). Os receptores D1 podem também mobilizar os estoques de 33 Ca2+ intracelulares pela ativação da via do AMPc sem ativar a hidrólise do fosfoinositídeo (MISSALE et al., 1998). Os receptores D2 podem diretamente modular vários efetores diferentes pela ligação da subunidade α da proteína Gi (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). Além disso, via proteína Gi, o receptor D2 reduz a corrente de canais de Ca 2+ do tipo N em interneurônios colinérgicos neoestriatais em ratos (YAN; SONG; SURMEIER, 1997) e medeia a inibição da atividade de Ca2+ nos melanótrofos (TARASKEVICH; DOUGLAS, 1990). A modulação do receptor D2 na concentração do Ca 2+ intracelular pode ter um papel importante na biossíntese da dopamina, visto que os receptores D2 têm localização tanto pré como pós-sináptica. De fato a tirosina-hidroxilase, a enzima que limita a taxa de produção da dopamina, é ativada pela Ca2+/calmodulina dependente de proteína-quinase (BRAUN; SCHULMAN, 1995) e a Ca2+/calmodulina dependente de proteína-quinase é subsenquentemente ativada por Ca2+ ligado a calmodulina (CHOI et al., 1993). Existem trabalhos conflitantes reportando que os receptores D1-símile são capazes de aumentar ou diminuir o efluxo de potássio. De fato foi demonstrado que os agonistas D1- símile aumentam a corrente de potássio em células de retina de galinha via um mecanismo independente de AMPc, mas inibem este efluxo em neurônios estriatais de ratos (MISSALE et al., 1998). Correntes de potássio em vários tecidos neurais, tais como o estriado, neurônios dopaminérgicos mesencefálicos, lactótrofos e melanótrofos são regulados pela ativação dos receptores D2 (SUNAHARA et al., 1991; JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). 1.5.4 Funções da dopamina A importância da dopamina no controle dos movimentos é demonstrada em condições patológicas tais como a doença de Parkinson. De fato esta doença é caracterizada pela redução da dopamina circulante devido à degeneração de neurônios dopaminérgicos (LANG; LOZANO, 1998a, 1998b). A disponibilidade de agonistas e antagonistas permitiu estudos, os quais indicam o papel dos receptores dopaminérgicos nas funções motoras tais como locomoção, rearing, catalepsia, sniffing e grooming em camundongos e ratos. Geralmente, agonistas aumentam a função dopaminérgica, aumentando a atividade motora, enquanto os antagonistas possuem efeito oposto. A administração sistêmica do agonista do receptor D1, SKF-38393, em ratos aumenta o grooming e o sniffing, mas não aumenta 34 significantemente a locomoção ou outros comportamentos estereotiopados (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). Entretanto, a infusão direta deste agonista dentro do núcleo accumbens também afeta a locomoção, rearing e a estereotipia de maneira dose- dependente (MEYER et al., 1993a). De forma oposta, a injeção de antagonistas dos receptores D1, tais como SCH-23390 ou SKF-83566 reduzem os mesmos comportamentos, de maneira dose e tempo-dependente (MEYER et al., 1993b). As administrações de baixas doses de agonistas dos receptores D2 causam uma redução das funções motoras, provavelmente pela estimulação dos receptores pré-sinápticos. Isto leva a uma redução do disparo das células dopaminérgicas e liberação de dopamina (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994). A injeção de antagonistas dos receptores D2, tanto quanto antagonistas dos receptores D1, diminuem a atividade motora. Quando altas doses destes compostos são administradas, o animal torna-se cataléptico, mantendo uma posição anormal por um período de tempo (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994; FELDMAN et al., 1997). Um achado interessante consiste no efeito sinérgico entre os receptores D1 e D2, desde que estereotipia induzida pela administração de agonistas dos receptores D1 e D2 juntos são mais intensas que aquelas produzidas por um dos agonistas sozinho (JACKSON; WESTLIND-DANIELSSON, 1994; FELDMAN et al., 1997). A geração de camundongos modificados geneticamente para os diferentes componentes das vias dopaminérgicas constitui uma poderosa ferramenta para estudar o papel dessas proteínas in vivo. Análise comportamental de animais mutantes para quatro receptores dopaminérgicos (D1-D4) mostrou que cada um apresenta um fenótipo locomotor. Inesperadamente, em contraposição aos prognósticos feitos a partir de análises farmacológicas, a locomoção em animais knock-out de receptores D1 não é afetada (DRAGO et al., 1994), nem tão pouco a sua linha de base aumenta, quando comparado aos animais normais (XU et al., 1994). Estes resultados confirmam dados anteriores sugerindo uma interação mais complexa entre os diferentes tipos de receptores dopaminérgicos na regulação dos movimentos voluntários, especialmente com respeito à interação dos receptores D1 e D2. O estudo do comportamento locomotor de camundongo Knock-out para o receptor D2 claramente revelou um impedimento motor no camundongo mutante (BAIK et al., 1995). O impedimento é caracterizado pelos movimentos reduzidos e não-coordenados e também na supressão de rearings. Mutantes de receptores D3 e D4 também mostraram fenótipo locomotor anormal. Mutantes do receptor D3 apresentaram um fenótipo hiperlocomotor o qual está de acordo com os resultados obtidos pelos estudos farmacológicos usando agonistas (FELDMAN et al., 35 1997) e antagonistas (ACCILI et al., 1996) de receptores D3. Surpreendentemente, a locomoção em mutantes dos receptores D4 foi também afetada, e em particular é reduzida, apesar do que tem sido predito da expressão anatômica deste receptor (SVENSSON et al., 1994; RUBINSTEIN et al., 1997). 1.5.5 Síntese, metabolização e localizaçãodos receptores dopaminérgicos (DA) A DA exerce seus efeitos biológicos por interagir com os receptores específicos. Esses receptores foram classificados originalmente segundo Kebabian & Calne (l979), como receptores dopaminérgicos D1 (D1-símile) e D2 (D2-símile). Esses receptores realizam suas ações por se acoplarem e ativarem diferentes complexos de proteína G. O receptor D1 interage com o complexo de proteína Gs, resultando em ativação da adenililato ciclase e um aumento nos níveis de AMPc intracelular. Os receptores D2 interagem com um complexo de proteina GI para inibir a produção de AMPc (COOPER; BLOOM; ROTH, l99l; CIVELLI; BUNZOW; GRANDY, l993). Estudos indicam que os receptores dopaminérgicos podem influenciar a função celular através de outros mecanismos, além de estimular ou inibir a adenililato ciclase (AC). O receptor D1 parece fazer também um efeito estimulatório no “turnover” do fosfoinositídio. Enquanto o receptor D2, além de inibir a AC, aumenta a condutância para o K + e modula o metabolismo do fosfoinositídio (COOPER; BLOOM; ROTH, l99l; CIVELLI; BUNZOW; GRANDY, l993). O avanço da biologia molecular e o aperfeiçoamento de técnicas de radioligantes possibilitou a identificação de quatro subtipos de receptores D2 (D2c, D2L, D3 e D4) e um subtipo de receptor D1 (D5). O receptor D2 foi dividido em dois subtipos: D2c (curto) e o D2L (longo), onde o D2L se diferencia do D2c por possuir 29 aminoácidos a mais na sua estrutura. Esses dois subtipos parecem ter uma farmacologia idêntica. Um terceiro subtipo de receptor D2 determinado foi D3, encontrado em altos níveis em certas regiões do sistema límbico cerebral, enquanto, baixos níveis são observados no corpo estriado. O perfil farmacológico do subtipo D3 é similar, mas não idêntico ao D2. O mecanismo efetor do subtipo D3 ainda não é conhecido (COOPER; BLOOM; ROTH, l99l). O quarto subtipo de receptor D2 recentemente clonado foi D4. O gene desse receptor possui alta homologia para os genes dos receptores D2 e D3. As características farmacológicas desse subtipo lembram as do D2 e D3 e o mecanismo efetor do D4 também é desconhecido (CIVELLI; BUNZOW; GRANDY, l993). 36 O subtipo de receptor D1 encontrado, chamado de D5, é farmacologicamente similar ao receptor D1, porém sua afinidade por agonistas endógenos (DA) é cerca de dez vezes maior. Similar ao D1, o subtipo D5 estimula a ativação da AC, sendo esse o seu mecanismo efetor. Sua localização está principalmente nas áreas límbicas (SOKOLOFF; SCHWARTZ; GIROS, 1995; SOKOLOFF et al., 1995). A ação da DA foi descoberta desde décadas passadas e interpretada através das suas interações com somente dois receptores. A descoberta de D2c, D2L, D3, D4 e D5 imediatamente revelou a possibilidade de que a atividade desses novos receptores tenha sido disfarçada pelos receptores clássicos D1 e D2 (CIVELLI; BUNZOW; GRANDY, l993). Tendo em vista essa dúvida, quanto à nova classificação de receptores dopaminérgicos em D1, D2, D3, D4 e D5, alguns pesquisadores preferem agrupar esses subtipos em D1-símile e D2-símile, já que as propriedades farmacológicas e estruturais desses subtipos clonados (D2c, D2L, D3, D4 e D5) não são suficientemente divergentes daquelas já existentes (D1 e D2). A DA está presente na maioria das regiões do SNC, sendo originada de longos axônios que partem da substância nigra e área tegmentar ventral e inervam os núcleos da base, partes do sistema límbico e o córtex frontal (KEBABIAN; CALNE, 1979). O sistema dopaminérgico compreende três vias neuronais principais: nigroestriatal, mesocorticolímbica e tuberoinfundibular. A via nigroestriatal está envolvida com disfunções extrapiramidais. Esta via é responsável por 75% da DA cerebral, sendo constituída por neurônios que se projetam da substância nigra para o corpo estriado. A via nigroestriatal têm importante papel na locomoção (CIVELLI; BUNZOW; GRANDY, l993). Um resumo do sistema dopaminérgico, no que se refere à localização dos receptores e o sistema de segundo mensageiros envolvidos é apresentado no Quadro 2. 37 Quadro 2: Localização, no SNC, dos receptores dopaminérgicos e segundos mensageiros SUBTIPOS DE RECEPTORES LOCALIZAÇÃO NO SNC SEGUNDOS MENSAGEIROS D1 corpo estriado núcleo accumbens ↑↑↑↑ AMPc D2 corpo estriado núcleo accumbens substância nigra área tegmentar ventral hipocampo ↓↓↓↓ AMPc D3 substância nigra área tegumentar ventral núcleo accumbens hipocampo ? D4 córtex frontal hipocampo e cerebelo ? D5 Hipocampo núcleo parafascicular do tálamo ↑↑↑↑ AMPc Fonte: CIVELLI et al.,1991; CHEN; WEISS, 1991; SOKOLOFF et al., 1995. Abreviaturas: (↑) aumenta ou (↓) diminui o nível do segundo mensageiro. 1.6 Sistema serotonérgico Desde a sua descoberta há mais de 50 anos, a serotonina tem provado ser um dos maiores neuromediadores centrais, tanto do ponto de vista filogenético como ontogenético. Seu papel como neurotransmissor foi demonstrado em uma grande variedade de invertebrados e vertebrados, enquanto as funções morfogenéticas da serotonina surgem muito cedo durante o desenvolvimento cerebral. Além disso, a serotonina não é restrita ao sistema nervoso central (LAUDER; KREBS, 1978). 38 Os neurônios serotonérgicos têm um papel importante na inervação entérica, e a serotonina pode ser estocada e liberada dos assim chamados paraneurônios e plaquetas sangüíneas. A profusa distribuição dos terminais contendo serotonina contrasta com a limitada e discreta localização de suas células corporais correspondentes, localizadas principalmente nos núcleos da rafe. Esta ampla distribuição da inervação serotonérgica explica a variedade de funções nas quais a serotonina está envolvida, incluindo o ciclo sono- vigília, controle do humor, controle sexual e alimentar, termoregulação, controle da dor etc. Além do mais, disfunções serotonérgicas foram reportadas em numerosos processos neuropatológicos tais como desordens do sono, ansiedade e depressão, agressividade, bulimia e anorexia, tanto quanto nas condições neurodegenerativas incluindo as doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington (VERGÉ; CALAS, 2000). Os neurônios contendo serotonina originam-se no mesencefálo no núcleo da rafe e inervam a substância negra e a área tegmentar ventral. Estudos neuroanatômicos mostram uma alta densidade de fibras serotonérgicas imunoreativas na substância negra “pars compacta”, “pars reticulata” e área tegmentar ventral (HERVÉ et al., 1987; MOUKHLES et al., 1997). Interessantemente, o tegmento ventral mesencefálico incluindo a substância negra contém altas concentrações de serotonina, e ambas, substância negra “pars compacta” e “reticulata”, recebem uma densa contribuição serotonérgica, a qual é maior na substância negra reticulata (9x106 varicosidade/mm3) que na pars compacta (6x106 varicosidade/mm3) (MOUKHLES et al., 1997). Áreas terminais de substância negra pars compacta e área tegmentar ventral, tais como o estriado ou o núcleo accumbens, recebem uma contribuição de neurônios serotonérgicos originados no núcleo da rafe (AZMITIA; SEGAL, 1978) (Figura 4). Vários subtipos de receptores serotonérgicos estão presentes nos gânglios basais. Uma alta densidade de receptores 5-HT1B foram encontrados na substância negra, área tegmentar ventral, “globus pallidus” e núcleo entopenducular (PAZOS; PALACIOS, 1985a; BARNES; SHARP, 1999). Em contraste, locais de ligação dos receptore 5-HT1A e RNAm codificando o receptor 5-HT1A são detectados nos gânglios basais (BARNES; SHARP, 1999). Por outro lado, de alto a moderado níveis de receptores 5-HT2A e 5-HT2C e o RNAm correspondente estão presentes em várias áreas do prosencéfalo incluindo o gânglio basal e o sistema límbico. O entendimento da função da neurotransmissão dentro de áreas do sistemanervoso onde ela tem sido localizada também requer a identificação do seu alvo e os mecanismos de transduções associados aos receptores. A história dos receptores serotonérgicos começou com o trabalho de Gaddum e Picarelli (1957) que definiu dois 39 subtipos de receptores 5-HT, chamados D e M baseado no bloqueio destes receptores pela dibenzilina ou morfina, respectivamente. O desenvolvimento de ensaios de binding usando radioligante e a progressiva disponibilidade de ligantes seletivos, tornou possível a caracterização de vários subtipos de receptores, enquanto a sua distribuição cerebral é estudada usando autoradiografia quantitativa. Mais recentemente, um grande número de gens codificando subtipos de receptores 5-HT foram identificados (HOYER; MARTIN, 1997). A disponibilidade do número crescente de anticorpos específicos (VERGÉ; HARMON, 1997) possibilitou o estudo da localização dos receptores 5-HT em níveis celular e subcelular. Figura 4: Vias da 5-hidroxitriptamina (serotonérgicas) no cérebro. Fonte: Rang et al., 2004 1.6.1 Localização dos receptores serotonérgicos Estudos de autoradiografia usando radioligantes seletivos demonstraram que os locais de ligação de cada subtipo de receptor mostram uma particular distribuição regional no cérebro e os estudos imunocitoquímicos geralmente confirmam estes dados. Desta forma os receptores 5-HT1A estão principalmente localizados nas estruturas límbicas: o hipocampo, córtex, septum, amígdala e núcleus da rafe e a projeção dorsal da coluna espinhal 40 (MARCINKIEWICZ et al., 1984; PAZOS; PALACIOS, 1985b; KIA et al., 1996). Os receptores 5-HT1B estão localizados predominantemente nas áreas extrapiramidais tais como a substância negra, globus pallidus e com menor densidade no estriado (PAZOS; PALACIOS, 1985a; PAZOS et al., 1985b; VERGÉ et al., 1986; SARI et al., 1997). Os receptores 5-HT1D, os quais estão intimamente relacionados com os receptores 5-HT1B, são menos abundantes e localizam-se nas mesmas áreas. De qualquer modo, o RNAm do receptor 5-HT1D foi encontrado em alta densidade com respeito aos receptores 5-HT1B no nucleos trigêmeo de cobaio e humano (REBECK et al., 1994; BOUCHELET et al.,1996), sugerindo o envolvimento preferencial deste subtipo de receptor no efeito inibitório do sumatriptano na inflamação neurogênica. Os receptores 5-HT1E e 5-HT1F são menos abundantes e os mais pobremente caracterizados. O primeiro subtipo foi encontrado nas áreas corticais, estriado e amígdala de cérebros de roedores e primatas (BRUINVELS et al., 1994). No cérebro de cobaio, o RNAm e locais de ligação para os receptores 5-HT1F foram detectados no córtex, núcleo mamilar, núcleo talâmico e núcleo oculomotor (MENGOD et al., 1996). Locais de ligação para os receptores 5-HT2A, formalmente denominados de 5-HT2, são particularmente abundantes no claustrum, tubérculo olfatório e córtex frontal (PAZOS et al., 1985a). Estudos imunocitoquímicos recentes (HAMADA et al., 1998; WU et al., 1998; CORNEA-HÉBERT et al., 1999) confirmaram esta localização. Os receptores 5-HT2C (formalmente chamados de 5-HT1C) são altamente expressos no plexo coróide (PAZOS; PALACIOS, 1985b), e estão também presentes em muitas estruturas cerebrais, tais com o núcleo olfatório anterior, córtex piriforme, nucleus accumbens, estriado ventral, núcleo talâmico e amigdalóide, substância negra (MENGOD et al., 1996). Os locais de ligação do receptor 5-HT3 estão principalmente localizados em um número limitado de estruturas medulares: o núcleo do trato solitário, o núcleo dorsal do nervo vago e o núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo, e a projeção dorsal da coluna espinhal (KILPATRICK et al., 1988; LAPORTE et al., 1992). Locais de baixa densidade foram encontrados no hipocampo, amígdala e cortex entorinal (LAPORTE et al., 1992). Investigações iniciais imunocitoquímicas indicaram uma enorme distribuição do receptor 5- HT3, notavelmente no córtex e núcleo olfatório anterior (MORALES et al., 1996, 1998). Os locais de ligação e o RNAm do receptor 5-HT4 foram encontrados em várias áreas cerebrais: o sistema olfatório, estriado, córtex, septum, hipocampo, amígdala, hipotálamo dorsal, substância negra e núcleo interpeduncular (WAEBER et al., 1994; VILARÓ et al., 1996). Os receptores 5-HT5 são pobremente caracterizados. Tem sido sugerido que este subtipo de receptor está localizado principalmente nos astrócitos (CARSON et al., 1996). Estudos com 41 camundongos knock-out para os receptores 5-HT5A, usando autoradiografia e 125I-LSD na presença de clozapina e espiperona indicaram uma restrita localização de locais de ligação dos receptores 5-HT5A no bulbo olfatório e neocortex, embora os locais de ligação do receptor 5- HT5B fossem encontrados no dorsomedial do tálamo (WAEBER et al., 1998). Os receptores 5-HT6, os quais não puderam ser estudados usando ligantes seletivos, foram localizados no tubérculo olfatório, córtex, estriado, núcleo accumbens e hipocampo, usando hibridização localizada (RUAT et al., 1993) e imunocitoquímica (GÉRARD et al., 1997). Na ausência de um radioligante seletivo, os locais de ligação dos receptores 5-HT7 foram estudados usando diferentes radioligantes com coquetéis de drogas apropriadas. Estruturas fortemente marcadas incluíram o cortex, hipocampo e o núcleo talâmico, hipotalâmico e amigdalóide (WAEBER; MOSKOWITZ, 1995; GUSTAFSON et al., 1996). 1.7 Sistema noradrenérgico Os corpos celulares de neurônios noradrenérgicos são encontrados exclusivamente na ponte e bulbo, formando uma variedade de grupos distintos (COOPER et al., 1991). Esses grupos de neurônios são bastante pequenos e enviam axônios extensamente ramificados para muitas outras partes do cérebro, incluindo córtex cerebral, sistema límbico, hipotálamo, cerebelo e medula espinhal. O grupo mais proeminente de neurônios noradrenérgicos localiza-se no locus coeruleus (EL-ETRI et al., 1993). Quando a NA é aplicada diretamente em células individuais no cérebro, o efeito mais freqüentemente observado é inibitório, sendo, na maioria das vezes, produzido pela ativação dos β-adrenoreceptores. A ativação da adenilato-ciclase, com o acúmulo resultante de AMPc parece explicar o mecanismo de ação de vários tipos de neurônios do sistema nervoso central. Por outro lado, a NA tem um efeito excitatório, mediado tanto por α quanto por β- adrenoreceptores. Existe, no entanto, um grande abismo entre os mecanismos neuronais e as respostas comportamentais e fisiológicas mediadas pelos neurônios noradrenérgicos e estudos estão sendo realizados com o propósito de esclarecê-lo (COOPER et al., 1991). Várias pesquisas realizadas com diferentes modelos de convulsão indicam a participação do sistema noradrenérgico na epilepsia do lobo temporal em humanos (CAVALHEIRO et al., 1994; EL-ETRI et al., 1983; SHIPLEY et al., 1999). O sistema noradrenérgico tem como neurotransmissor a NA, um importante neurotransmissor excitatório e inibitório (COOPER et al., 1991). As mais importantes funções comportamentais 42 mediadas pelo sistema noradrenérgico são: sistema de recompensa e humor, estado de vigília, pressão sanguínea e regulação neuroendócrina (ATTWELL et al., 1993). Forray et al. (1995), levantaram a hipótese de que muitos dos distúrbios afetivos são ocasionados por um funcionamento inadequado do sistema noradrenérgico, por exemplo, a depressão seria resultante de uma deficiência funcional de noradrenalina em determinadas partes do cérebro, enquanto a mania seria produzida pelo excesso deste neurotransmissor. Os receptores noradrenérgicos são amplamente distribuídos em todo corpo e exercem inúmeras funções vitais no cérebro e no sistema nervoso autônomo (FORRAY et al., 1995). Através de técnicas de biologia molecular, foram identificados 5 subtipos de receptores noradrenérgicos (α1, α2, β1, β2, e β3) (COOPER et al.,
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