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Psicologia e Pessoas Com Necessidades Especiais 1 - Histórico Das Pcne e Pcd e o Papel da Sociedade

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18/01/2023 12:01 Histórico das PcD e o papel da sociedade
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/03855/index.html#imprimir 1/50
Histórico das PcD e o papel da sociedade
Prof. Renato Cezar Silvério Júnior
Descrição
As pessoas com deficiência ao longo da história, a legislação que protege os direitos dessas pessoas, uma
visão crítica sobre o capacitismo muito presente na sociedade e o papel da Psicologia para as
transformações subjetivas e sociais necessárias à inclusão.
Propósito
O conhecimento e o pensamento crítico sobre as pessoas com deficiência permitem que o psicólogo se
constitua como agente de inclusão, equidade e humanização para cerca de um quarto da população
brasileira. Por tratar-se de uma mudança social em curso, o assunto traz alta complexidade, exigindo do
profissional conhecimento sólido e constante, bem como abertura para o diálogo.
Objetivos
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Módulo 1
Histórico das PcD
Reconhecer a definição de deficiência e o histórico das pessoas com deficiência.
Módulo 2
A legislação sobre inclusão e políticas públicas
Reconhecer a evolução histórica das políticas públicas para pessoas com deficiência.
Módulo 3
Importância do entorno e implicações dos rótulos e estereótipos
Identificar a legislação brasileira de inclusão.
Módulo 4
O papel da Psicologia e as pessoas com de�ciência
Avaliar o papel da Psicologia como agente de transformação social e saúde mental em interface com as
deficiências.
Todos possuímos ideias do senso comum sobre as características de uma pessoa com deficiência
(PcD) e provavelmente temos contato com muitas delas. É possível que nós mesmos tenhamos uma
Introdução
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1 - Histórico das PcD
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a de�nição de de�ciência e o histórico
das pessoas com de�ciência.
deficiência ou que apresentemos alguma ao longo de nossa vida. Mas será que nossas concepções
são suficientes e verdadeiras acerca do que é uma deficiência? Quais desafios as pessoas e a
sociedade enfrentam quando falamos de deficiências?
A Psicologia das Pessoas com Deficiência é um campo de estudos vasto e em diálogo constante
com a sociedade e com outras áreas do conhecimento, para engajar-se em prol de uma sociedade
que possa ser inclusiva, produzindo equidade e trabalhando para a naturalização da pessoa com
deficiência no cotidiano.
Neste material, vamos entender um pouco da história das pessoas com deficiência e da sua luta por
direitos, assim como o papel da Psicologia no entendimento, no diálogo e na transformação dos
processos subjetivos/sociais para uma sociedade mais inclusiva.
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De�nições básicas e fatores associados
O que é de�ciência?
A deficiência é um aspecto da condição humana complexo e múltiplo. A Convenção dos Direitos da Pessoa
com Deficiência, promovido pela Organização das Nações Unidas em dezembro de 2006, assinala que
deficiência é um termo em evolução, sendo que:
A deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e barreiras
comportamentais e ambientais que impedem sua participação plena e eficaz
na sociedade de forma igualitária.
(WHO, 2012, p. 4)
As deficiências podem surgir de questões hereditárias ou adquiridas, sempre em interação com o meio.
Doenças crônicas, doenças transmissíveis, lesões por acidente ou por violência e abuso de substâncias são
fatores desencadeantes de deficiências humanas.
Importante frisar que o modelo atual de deficiência entende que a limitação expressa não é estritamente do
indivíduo; nesse modelo, a deficiência é ampliada para as relações sociais no mundo tal qual tem sido
estruturado. Vamos pensar mais sobre isso durante o nosso estudo.
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Por exemplo, para mudar de calçada, é importante que haja uma passarela adequada para um cadeirante. A
calçada deve ser adaptada, caso contrário, a relação do indivíduo com aquele ambiente fica limitada. Assim,
a calçada construída dessa forma limitante é a principal produtora da deficiência.
Mudanças sociais são necessárias para que isso não ocorra e todos tenhamos acessibilidade aos espaços
públicos e privados.
Acontece situação semelhante com um indivíduo cego que não dispõe de software para leitura no
computador ou com um sujeito surdo que assiste a um vídeo que não dispõe de legenda ou de
interpretação em língua de sinais: o ambiente cria deficiências e barreiras ao não serem adaptados. A
deficiência não é uma característica exclusiva do indivíduo, ela é produzida na relação deste com o mundo.
Assim, em uma perspectiva biopsicossocial, a deficiência é entendida não só como
uma restrição do corpo, mas causada por impedimentos do meio físico, histórico,
emocional e social em que esse corpo está inserido.
No meio social, a deficiência costuma ser caracterizada por exclusão, preconceito, estereótipos,
discriminação, limitações, sarcasmos e falta de informações. É dever do profissional de saúde e educação
trabalhar para a desconstrução desse cenário com a sociedade.
Tal cenário acaba reduzindo o acesso das pessoas com deficiência a locais, serviços e direitos, gerando
inúmeros prejuízos como menores índices de escolaridade e emprego na população com deficiência.
stereótipos
Ideias generalizadas, preconcebidas e equivocadas sobre algo ou alguém.
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Dessa forma, a pessoa com deficiência pode enfrentar mais obstáculos para desenvolver relações com os
outros e é possível que experencie isolamento e solidão, sendo os mais vulneráveis aqueles pertencentes a
classes sociais mais baixas. A prevalência de ansiedade e depressão também pode ser maior entre pessoas
com deficiência do que em outros grupos (TOUGH; SIEGRIST; FEKETE, 2017).
Existem muitas formas de deficiência e cada uma delas traz suas características que interagem com a
história e a sociedade de cada sujeito. É importante que o profissional de saúde e educação tenha estudo
constante sobre cada tipo de deficiência com a qual trabalhe e, ao mesmo tempo, esteja aberto para ouvir e
criar estratégias com as pessoas com deficiência.
Re�exão
Existem também muitas crenças sociais de que a pessoa com deficiência é alguém inspirador e corajoso. O
senso comum pode criar projeções motivacionais que romantizam a existência da pessoa com deficiência,
apagando a realidade de que essa pessoa é um ser humano com defeitos e qualidades como outro
qualquer. Ter uma deficiência é um processo de adaptação às limitações que vão surgindo, um processo de
invenção e reinvenção subjetiva que pode passar por altos e baixos e que implica infinitos processos. Ser
colocada o tempo todo no lugar de “guerreira”, “inspiradora”, “corajosa” e “motivadora” pode tornar-se um
pesado estereótipo para a pessoa com deficiência.
Pessoas com de�ciência no Brasil e no mundo
O Relatório Mundial sobre a Deficiência (WHO, 2012) aponta que, no mundo, mais de um bilhão de pessoas
convivem atualmente com alguma forma de deficiência. Dentre elas, cerca de 200 milhões apresentam
dificuldades funcionais consideráveis.
O número de pessoas com deficiência tem aumentado. Nos dias atuais, existe maior expectativa de vida da
população que, ao envelhecer, pode naturalmente apresentar alguma deficiência.
Exemplo
Doenças como câncer e diabetes têm também apresentado aumento da incidência, e os pacientes que
expressam essas patologias também são considerados pessoas com deficiência.No diabetes, por exemplo,
com o avanço da doença, a pessoa pode vir a perder a visão ou até mesmo um membro do corpo. Já o
câncer pode deixar a pessoa incapacitada para diversas atividades durante e depois do tratamento, além de
alguns casos necessitarem de amputações.
Outro fator que contribui para esse aumento é o avanço dos recursos tecnológicos e médicos para
gestação, parto e crescimento, que permitem maior índice de sobrevivência de bebês e crianças com
vulnerabilidades que antes seriam fatais.
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Hoje em dia existe maior chance de sobrevivência para pessoas com deficiência. O Censo brasileiro de 2010
estima que atualmente 46 milhões de pessoas — ou 24% dos brasileiros — vivam algum tipo de deficiência,
como dificuldade para enxergar, ouvir, subir escadas etc., e quase metade dessas pessoas seriam idosas.
Embora exista legislação, debate e políticas direcionadas à população com deficiência, bem como
mudanças nos modelos pelos quais a deficiência é entendida, há também muito o que ser feito e discutido.
Pensando historicamente, houve grandes avanços, mas a história das pessoas com deficiência tem seus
reflexos na organização social da atualidade.
Evolução histórica
Pessoas com de�ciência ao longo da história
Pré-História
Não há registros de pessoas com deficiência nesse período da humanidade. No ambiente hostil da Pré-
História, sem muita disponibilidade de alimento, moradia e segurança, não há indícios históricos de que
pessoas com deficiência pudessem sobreviver naquelas condições.
Idade Antiga
Registros indicam que há cerca de 4.500 anos a.C., no Egito Antigo, havia certas adaptações e espaços
sociais para pessoas com deficiência, sendo esse fato uma grande exceção na história da humanidade.
Já na Grécia, berço cultural do Ocidente, Platão e Aristóteles recomendavam em suas obras o abandono ou
a eliminação das pessoas com qualquer deficiência. Bebês que apresentassem “características não
desejáveis” poderiam ser jogados da cadeia de montanhas gregas chamada Taigeto. Platão escreveu que
era melhor para a cidade e para aqueles que fossem “corporalmente defeituosos” que fossem descartados
para morrer.
É do Período Homérico (de 1300 a 1100 a.C.) que se conhece a máxima:
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Homem mau não é aquele que se excede na bebida, mata ou traí; é o covarde,
estúpido ou débil.
(SCHEERENBERGER, 1984)
Isso mostra que a ideia corrente ao senso comum grego era a de que pessoas com deficiência eram
indesejáveis. É importante frisar que débil é uma forma pejorativa, que persiste até os dias atuais, de
designar pessoas com deficiência intelectual.
Já em Roma, até o século IV d.C., existiam leis que permitiam aos pais matarem seus filhos com deficiência
mediante afogamento.
Com o advento do cristianismo, a partir do século IV d.C., a caridade passou a ser uma das máximas da
doutrina que impedia o assassinato das crianças com deficiência, vistas também como pessoas portadoras
de uma alma. Embora a sobrevivência fosse apoiada, as pessoas com deficiência não contavam com
igualdade moral e nem civil, ficando extremamente vulneráveis. Nessa época foram criados hospitais de
caridade que abrigavam as pessoas com deficiência, isoladas de convívio social.
Idade Média
Nesse período, aproximadamente entre os séculos V e XV d. C., as pessoas com deficiência eram vistas
como castigos de Deus e separadas de suas famílias, podendo ficar sob tutela da Igreja ou da Corte. Há
relatos históricos sobre pessoas com nanismo que se tornavam babás das crianças da Corte, por exemplo.
Recaía sobre a família, especialmente sobre a mãe, a culpa por ter gerado um ser não desejável para a
época. Era comum famílias pagarem indenizações ou deixarem heranças para pagar o asilo dado a seus
filhos pela Igreja, que tutelava e separava do convívio social as pessoas com deficiência.
Curiosidade
O corcunda de Notre-Dame, romance escrito por Victor Hugo no século XIX, conta a história de Quasimodo:
homem surdo e com deficiência física que tinha por obrigação tocar os sinos da Catedral de Notre-Dame, na
França medieval. Sua surdez foi adquirida por conta do alto barulho dos sinos.
Vulneráveis e ridicularizadas, as pessoas com deficiência não encontravam nenhum ambiente propício à
sobrevivência digna no período medieval.
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Idade Moderna
Esse período, que vai de 1453 a 1789, é caracterizado por uma retomada da ciência e de novas perspectivas
culturais no Ocidente. Na Idade Moderna, surgiram as primeiras línguas de sinais, a cadeira de rodas
começou a se popularizar, e os hospitais desenvolveram formas de atender pessoas mutiladas pelas
guerras.
Mesmo assim, não houve avanços na representação e nos direitos das PcD. A deficiência, que antes era
vista como castigo de Deus, nessa época, passou a ser encarada como patologia e desvio da normalidade
pelas ciências médicas. As pessoas com deficiência eram vistas pela sociedade moderna como inválidas,
dignas de pena, e não tinham direitos civis (GUGEL, 2007).
Contemporaneidade
Os tempos atuais apresentam grandes avanços médicos, legislativos e sociais. É importante assinalar que
esses avanços ainda estão em curso e há muito para ser feito. A herança cultural dos modelos e
representações inadequados das pessoas com deficiência ao longo da história ainda permeiam as relações
sociais e os saberes médicos, pois desconstruir séculos de equívocos não é uma tarefa fácil.
Diferentes modelos
Modelo biomédico versus modelo social da de�ciência
Uma das heranças da Idade Moderna é o modelo biomédico: um modelo focado na patologização do sujeito
que seria portador de um suposto desvio da norma ideal. Caberia ao especialista diagnosticar e tratar o
sujeito de acordo com os protocolos. Esse modelo não leva em conta as relações e o ambiente, mas se
concentra apenas no organismo, concebendo o corpo como um elemento fechado e não em relação com o
mundo.
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Fotografia de um homem em uma cadeira de rodas enfrentando dificuldades em ambiente não inclusivo.
Já estudamos que as deficiências ocorrem na relação da pessoa com o mundo. Por exemplo, uma pessoa
com nanismo encontra-se nas dependências de sua faculdade, porém a instituição não dispõe de
bebedouros de água ou mesas que tenham altura adequada para a sua condição. Vemos, assim, como a
limitação está na relação com o ambiente não inclusivo, sendo o ambiente o gerador da limitação, não o
sujeito.
As deficiências são complexas demais para serem diagnosticadas, avaliadas e conduzidas por protocolos
rígidos e superficiais do restrito modelo biomédico. Seria importante que o modelo de tratamento e/ou
reabilitação fosse discutido, adaptado e criado juntamente com o paciente e o meio ao qual pertence, pois
cada caso é um caso. O especialista não pode, por si só, definir o que é melhor para aquela pessoa e
colocar sobre ela toda a responsabilidade de inclusão.
Infelizmente o modelo biomédico, apesar de inadequado, tem sido amplamente utilizado pelas áreas da
saúde e da educação. Além de ser uma herança histórica, é também um modelo que pode transmitir ao
profissional uma falsa, porém agradável, margem de segurança. Isso não é nada bom para a sociedade em
geral, que reproduz uma visão alienada não só das pessoas com deficiência, mas de diversos outros temas.
A partir da década de 1970, surge um campo de estudos chamado Estudos sobre
Deficiência, respaldado pelo Movimento Político de Pessoas com Deficiência. Os
estudos realizados nesse campo retiramdo indivíduo o foco da deficiência, como
sendo algo exclusivo da pessoa, e passam a estudar o caráter social da deficiência,
abrindo assim uma perspectiva biopsicossocial.
A perspectiva biopsicossocial não entende deficiências, patologias e transtornos como exclusivos do
sujeito; em vez disso, procura entender todos os fatores físicos, mentais e sociais em interação. Por
exemplo, quando se diz que alguém possui deficiência intelectual, é preciso entender como essas
características interagem com o meio, a classe, a comunidade e a família da pessoa que está sendo
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avaliada; quando e como essa deficiência surge; e quais significados são dados a ela. Nessa perspectiva, a
saúde de todas as pessoas seria construída coletivamente.
O modelo social da deficiência, fruto desses estudos, amplia a visão sobre a pessoa com deficiência:
O modelo social rompeu com as perspectivas que consideravam a deficiência
como um fenômeno restrito ao corpo e passou a entendê-la como decorrente
da interação das lesões e impedimentos corporais com as barreiras que
obstaculizam a participação das pessoas com deficiência na sociedade. Ou
seja, a partir dessa perspectiva teórica, a deficiência não está no sujeito, mas
na sociedade que, por meio das múltiplas barreiras que impedem a
participação social em igualdade de condições, oprimem e marginalizam as
pessoas com deficiência.
(GESSER et al., 2019, p. 11)
A partir dos estudos sobre deficiência, concebidos sobre o modelo social, fica evidente a complexidade das
relações de todas as pessoas ao experenciar a deficiência, bem como a necessidade de promover inclusão
e acessibilidade por meio da desconstrução dos modelos antigos e de gerar políticas públicas que
garantam esses direitos. Trata-se de uma mudança de paradigma que só pode ser feita com o
protagonismo das pessoas com deficiência.
O modelo social da de�ciência
Com a ajuda do vídeo a seguir, você conhecerá a atual concepção de pessoa com deficiência, sua história e
o atual modelo social da deficiência.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A deficiência é um fenômeno que tem apresentado aumento da incidência na população e, atualmente,
há um campo de estudos complexo e interdisciplinar direcionado à pesquisa acerca dessa
característica. Sobre as pessoas com deficiência, analise as assertivas abaixo:
I. São pessoas corajosas e inspiradoras, suas histórias servem de motivação para todos.
II. Restrições e impedimentos não estão apenas no corpo das pessoas com deficiência, mas estão
principalmente no ambiente, na cultura e nas relações sociais.
III. São os modelos sociais que devem se adequar às pessoas com deficiência.
IV. As deficiências sempre surgem de questões hereditárias.
Está correto o que se afirma em:
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
D I e IV.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A expectativa de que as pessoas com deficiência sejam sempre corajosas, guerreiras e motivadas
compõe um estereótipo que romantiza e sobrecarrega a vivência dos indivíduos. As deficiências podem
surgir de questões hereditárias, mas essa é apenas uma possibilidade, não é sempre que isso
acontece. Sendo assim, apenas as assertivas II e III são corretas.
Questão 2
A partir de 1970, surgem os Estudos sobre Deficiência, campo de estudos protagonizado por pessoas
com deficiência e que utilizam o modelo social para descrever o que é deficiência. Sobre o modelo
social da deficiência, analise as assertivas:
I. A deficiência é exclusiva do sujeito e seu corpo, sendo necessária ajuda especializada para se adaptar
ao meio em que vive.
II. Os saberes médicos são os únicos que devem produzir protocolos e métodos específicos à pessoa
com deficiência.
III. A deficiência não está no sujeito, mas nos impedimentos da sociedade.
IV. A saúde deve ser construída coletivamente.
Está correto o que se afirma em:
E I, II e III.
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
O modelo social da deficiência não concebe a deficiência como exclusiva do corpo e reconhece que,
para se criar estratégias de adaptação ao mundo, é preciso conhecer o meio em que vive o sujeito, dar-
lhe voz e envolver toda a sociedade. Nessa perspectiva, não é possível que apenas protocolos médicos
sejam suficientes para dar conta de todo o fenômeno da deficiência. Assim, somente as assertivas III e
IV estão corretas.
2 - A legislação sobre inclusão e políticas públicas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a evolução histórica das políticas
públicas para pessoas com de�ciência.
D III e IV.
E I, II e III.
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História dos direitos das pessoas com de�ciência
O reconhecimento dos direitos das pessoas com
de�ciência
Já vimos que, na Antiguidade, as pessoas com deficiência poderiam ser assassinadas e abandonadas no
nascimento. Com o advento do cristianismo, é decretado que poderiam sobreviver, mas sem direitos, sob
tutela e expostas a todo tipo de vulnerabilidade. Na Idade Moderna, surgem algumas tentativas de inclusão,
mas a pessoa com deficiência ainda é vista como inválida por um marcante olhar biomédico.
Ao final do século XIX, sob a influência dos ideais humanistas, começa-se a desenvolver a ideia de que as
pessoas com deficiência precisariam de abrigos e atenção especializada.
Em 1884, o alemão Otto von Bismarck contribuiu com uma lei de reabilitação e adaptação ao trabalho para
aqueles que tivessem alguma deficiência física decorrente de combates, assim como Napoleão
anteriormente já determinava que os soldados fossem readaptados no exército após ferimentos e
mutilações.
No Brasil, influenciado pelo exemplo europeu, Dom Pedro II emite o Decreto nº 1.428, de 12 de setembro de
1854, criando o Imperial Instituto dos meninos cegos, entidade que atua nos dias de hoje com o nome de
Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Em 1857, o imperador cria o Imperial Instituto de Surdos
Mudos, atualmente chamado Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, também no Rio de Janeiro.
Apesar de simbolizar um avanço, tais institutos e leis ainda eram pouco para
abarcar a complexidade do fenômeno das deficiências e estavam muito longe de
garantir a equidade e a inclusão das PcD.
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A Constituição de 1934 garantia “amparo aos desvalidos”, entendendo como “desvalidos” pessoas em
situação de miséria (vulnerabilidade) e pessoas com deficiência. O texto da Constituição era vago e ainda
entendia a pessoa com deficiência como alguém que deveria ficar sob tutela (modelo biomédico); não se
falava de autonomia, acessibilidade e inclusão.
Na Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas sofreram mutilações durante os combates, então, após o fim
dos conflitos, em 1945, a questão da reabilitação ganha grande expressividade (GUGEL, 2007).
Depois do término da Segunda Guerra Mundial também é criada a Organização das Nações Unidas (ONU) e,
em 1948, a entidade publica a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tal documento foi muito
importante para respaldar o novo projeto de sociedade que se idealizava, além de se tornar a base para
muitas leis ao redor do mundo, conforme podemos observar pelas contribuiçõeselencadas a seguir:
Pela primeira vez, a pessoa com deficiência estava contemplada com todos os status de equidade e
inclusão. Trata-se de um grande marco e foi expresso através do artigo 1º.
Embora utilize equivocadamente o termo “invalidez”, outro item que fala expressamente sobre a pessoa
com deficiência é o artigo 25º.
rtigo 1º
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem
agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade ” (ONU, 1948, n. p.).
rtigo 25º
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar,
inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro
ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social” (ONU, 1948, n. p., grifo nosso).
Comentário
É a primeira vez que um documento de tamanha magnitude e importância social busca assegurar
acessibilidade e inclusão.
A partir de então, importantes mudanças são colocadas em curso e acompanhamos esse processo até os
dias atuais, ou seja, ele ainda não está pronto. Vamos acompanhar mais alguns avanços:
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A partir disso se intensificam os debates: se esses direitos estão assegurados, como a sociedade pode criar
inclusão e equidade? Quais políticas públicas devem ser postas em curso para garantir os direitos das
pessoas com deficiência?
Em 2006, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova o texto da Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), um documento muito bem fundamentado. O Brasil adere ao
texto da Convenção por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, e mais tarde, como vamos
estudar, pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI).
Lei Brasileira de Inclusão
1970
Já vimos que, a partir de 1970, surge um novo modelo para entender a deficiência: o modelo
social, o qual entende que a deficiência é produzida pelos limites impostos pelo ambiente e
pela cultura da sociedade.
1979
Pensando por essa vertente, surge no Brasil, em 1979, a Coalizão Pró-Federação Nacional de
Entidades de Pessoas Deficientes, lutando pela inclusão e equidade no território brasileiro.
1988
Com a redemocratização do país e muita pressão social, a Constituição de 1988 finalmente
vai reconhecer os direitos da pessoa com deficiência: direito à vida, à saúde, à educação, à
justiça, ao trabalho, à seguridade social, ao transporte, bem como direitos civis e políticos.
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Estatuto da Pessoa com De�ciência
Até aqui, entendemos que se faz necessária uma mudança de paradigmas para que possa haver inclusão e
equidade. A Psicologia trabalha justamente com os processos subjetivos que permeiam essas mudanças,
visando expandir as interações sociais de forma mais inclusiva. Por isso, é importante que o psicólogo
conheça bem a legislação vigente sobre a pessoa com deficiência.
A grande transformação com a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, é justamente a mudança de um modelo
biomédico, quando a deficiência era entendida como sendo unicamente restrita ao corpo da pessoa, para
um modelo social da deficiência, quando a forma como a sociedade se organiza espacialmente e
culturalmente é que gera deficiências nas pessoas. Observe o artigo 1º do Estatuto da Pessoa com
Deficiência:
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
(BRASIL, 2015, n. p.)
Finalmente os direitos das pessoas com deficiência estão assegurados em uma perspectiva que engloba
toda a sociedade e visa à remoção de suas barreiras, não sendo concebida apenas como uma questão
individual.
O artigo 2º deixa explícita essa mudança — destacada a seguir —, ao definir quem é a pessoa com
deficiência juridicamente:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
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(BRASIL, 2015, n. p., grifo nosso)
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência determina direitos como acessibilidade, autonomia,
concepção de produtos, ambientes, adaptações, programas e serviços adequados à pessoa com
deficiência.
Ainda, estabelece o uso de tecnologias assistivas e a remoção de qualquer tipo de barreiras urbanísticas,
arquitetônicas, tecnológicas, comunicacionais, atitudinais e de transporte.
Por barreiras atitudinais entende-se “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a
participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas” (BRASIL, 2015, n. p.). Justamente a Psicologia tem como um de seus objetos de estudo as
atitudes e os comportamentos, logo, temos aqui uma demanda intrinsicamente destinada à prática dos
psicólogos!
Vaga de estacionamento designada para pessoas com deficiência com pintura azul e branca no piso.
É também direito da pessoa com deficiência ter atendimento prioritário, atendente pessoal, profissional de
apoio e acompanhante.
Já o artigo 4º versa sobre a igualdade e a não discriminação, aspectos de extrema importância, pois já
vimos como nossa herança cultural sobre a pessoa com deficiência vem de uma triste e longa história. De
acordo com o artigo: “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades como as
demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação” (BRASIL, 2015, n. p.).
Cabe ao psicólogo se perguntar durante sua atuação: quais processos sociais/subjetivos têm gerado
discriminação às pessoas com deficiência? O preconceito é uma das maiores barreiras sociais que
precisam ser removidas!
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São também direitos da pessoa com deficiência: educação, trabalho, assistência social, cultura, esporte,
lazer, turismo, previdência social, mobilidade, transporte, acessibilidade, informação, comunicação,
participação na vida pública, acesso à justiça e igualdade perante a lei.
Em se tratando do Direito Penal, a Lei Brasileira de Inclusão prevê multa e pena de reclusão de 2 a 5 anos
para quem descumprir seus artigos e/ou promover discriminação de qualquer forma.
Com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi revogada parte do Código Civil Brasileiro que considerava
totalmente incapaz uma pessoa com deficiência intelectual. As pessoas com deficiência intelectual são
relativamente incapazes, isso quer dizer que, embora não possam executar parte da vida civil, elas têm
direito à sexualidade, à união estável e à reprodução. Inclusive, tais relacionamentos sempre ocorreram e se
apresentam como potente produtor de saúde mental.
A partir da publicação da Lei Brasileira de Inclusão, as pessoas com deficiência não ficam mais
passivamente dependentes de seus tutores legais e podem contar com a tomada de decisão apoiada. É
possível eleger até duas pessoas que auxiliarão nas tomadas de decisão sobre a vida civil, como fazer um
empréstimo,estabelecer união estável, ter filhos, adquirir bens etc. (BRASIL, 2015).
Saiba mais
Dessa forma, a Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência é importante marco no
avanço dos direitos das pessoas com deficiência. Apesar de coerente e bem fundamentada, essa lei ainda
conta com vários entraves sociais para ser posta em prática na maioria das situações. Por exemplo, em
2015, apenas 0,84% dos contratos empregatícios eram de pessoas com deficiência. Segundo o IBGE, em
2019, quase 70% das pessoas com deficiência não concluíram ensino fundamental e somente 5% das PcD
terminaram o ensino superior. Esses números mostram como são necessárias políticas públicas e
mudanças de paradigmas sociais.
A Lei Brasileira de Inclusão e as políticas públicas

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Assista ao vídeo a seguir para conhecer a lei brasileira de inclusão e ver um panorama das políticas públicas
atuais decorrentes dessa lei.
Políticas públicas e ações de inclusão e equidade
A garantia de direitos das pessoas com de�ciência
Com a legislação já definida, é preciso colocar em ação as mudanças necessárias para garantir os direitos
das pessoas com deficiência. E como isso é feito? Por meio de políticas públicas!
Você sabe o que significa políticas públicas?
Resposta
Em linhas gerais, são as decisões de um governo sobre como resolver demandas e problemas de grande
relevância social e a definição dos mecanismos para execução dessas decisões. Essas políticas
demandam ação, mudanças, (BUCCI, 2017) e sempre precisam de marcos (leis) que respaldem a sua
realização.
O principal objetivo das políticas públicas para pessoas com deficiência é romper com as barreiras sociais
que impedem a efetiva participação delas, gerando assim inclusão.
Veremos, a seguir, algumas ações de inclusão e equidade realizadas no Brasil:
Avaliação biopsicossocial da de�ciência
Uma das principais políticas públicas é a avaliação biopsicossocial da deficiência. Se antes,
pelo modelo biomédico, a deficiência era um aspecto restrito ao corpo da pessoa, existe
atualmente uma expansão do conceito, e a deficiência é vista além dos impedimentos
clínicos. Analisam-se as barreiras que estão no cotidiano das PcD: ambiente, arquitetura,
t b lh t t d ã i d t d tit d d d i i t i
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trabalho, transporte, educação e, acima de tudo, as atitudes das demais pessoas ao interagir,
produzindo uma deficiência.
Lei Brasileira de Inclusão
Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, está estabelecido que a avaliação biopsicossocial,
interdisciplinar e multiprofissional será implementada nas avaliações realizadas na
administração pública federal, estadual e municipal (Lei nº 10.415, de 6 de julho de 2020).
Plano Nacional de Tecnologia Assistiva
Há também o Plano Nacional de Tecnologia Assistiva que garante o direito e faz uso das
tecnologias inclusivas, como softwares de voz para pessoas cegas, dispositivos de sinais
para pessoas surdas, tecnologias para locomoção e programas para pessoas com deficiência
intelectual. Essas tecnologias ajudam grandemente na promoção da inclusão.
Prevenção de discriminação
Uma das políticas para a prevenção de discriminação é a Ouvidoria Nacional de Direitos
Humanos. Por meio do disque 100, são registradas denúncias que violem os direitos
humanos e, por extensão, também os direitos das pessoas com deficiência. Existe ainda o
disque 180, da Central de Atendimento à Mulher, específico para mulheres, nas quais se
incluem as mulheres com deficiência que estejam passando por situações de violência.
Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) também deve fornecer gratuitamente próteses, implantes,
cadeiras de roda e qualquer outra medicação, material ou tecnologia que a pessoa com
d fi iê i h i N l i l ã d fi iê i é id d
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xpansão do conceito
Nessa perspectiva, a deficiência deixa de ser estática e passa a ser algo produzido nas relações, como vimos
no primeiro módulo: no caso de um cadeirante que não pode acessar as salas de sua faculdade por conta da
ausência de rampas, é o ambiente que produz a deficiência, não está restrita ao corpo da pessoa.
Vejamos, a seguir, algumas importantes datas nacionais e internacionais, símbolos da luta por diretos das
deficiência venha a precisar. Nossa legislação para pessoas com deficiência é considerada
uma das mais avançadas do mundo!
Cadastro de Inclusão
Existe também o Cadastro de Inclusão, que permite coletar e sistematizar as informações
sobre pessoas com deficiência, como idade, profissão, condição socioeconômica etc. Esses
dados possibilitam traçar novos planos de ação e identificar quais regiões do país precisam
de assistência, modificações e intervenções.
Cotas
As cotas também constituem importantes políticas públicas, já que uma das maiores
barreiras para a pessoa com deficiência é a inserção no mercado de trabalho. As cotas são
uma estratégia para diminuir as diferenças e gerar inclusão.
Dias de visibilidade
Também são instituídos nacionalmente dias de visibilidade da luta das pessoas com
deficiência. Essas datas permitem olhar para o passado e perceber o avanço conquistado,
lembrar o longo caminho que ainda é preciso percorrer, bem como chamar toda a sociedade
para suas responsabilidades.
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pessoas com deficiência:
Janeiro
4/1 – Dia Mundial do Braille
Fevereiro
29/2 – Dia Mundial das Doenças Raras
Março
21/3 – Dia Internacional da Síndrome de Down
Abril
2/4 – Dia do Transtorno do Espectro Autista
8/4 – Dia Nacional do Sistema Braille
Maio
18/5 – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
26/5 – Dia Nacional de Combate ao Glaucoma
Junho
21/6 – Dia Nacional de Luta Contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Julho
26/7 – Dia do Intérprete de Libras
27/7 – Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho
Agosto
21 a 28/8 – Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla
Setembro
21/9 – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência
22/9 – Dia Nacional do Atleta Paralímpico
26/9 – Dia Nacional dos Surdos
Outubro
6/10 – Dia Mundial da Paralisia Cerebral
10/10 – Dia Mundial da Saúde Mental
11/10 – Dia da Pessoa com Deficiência Física
25/10 – Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo
Novembro
10/11 – Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez
14/11 – Dia Mundial e Nacional da Diabetes
16/11 – Dia Nacional dos Ostomizados
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Dezembro
3/12 – Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
13/12 – Dia Nacional do Cego
13/12 – Dia do Audiodescritor
O calendário também nos dá um panorama da enorme diversidade que existe em se tratando de pessoas
com deficiência.
É importante frisar que cada tipo de deficiência vai demandar uma acessibilidade e uma adequação de
ambientes específicas, assim como uma população informada e que pode alterar suas atitudes para uma
real inclusão e integração comunitária. As políticas públicas, portanto, devem ser específicas às áreas da
saúde, educação, trabalho, convivência comunitária etc.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), observe as afirmativas abaixo:
I. Considera a deficiência específica e exclusiva ao corpo da pessoa.
II. Não reconhece união estável entre pessoas com deficiência intelectual, já que essas pessoas não
podemdecidir por si mesmas.
III. É um dos mais importantes marcos na luta das pessoas com deficiência no Brasil.
IV. Reconhece o protagonismo da pessoa com deficiência.
Estão corretas as assertivas:
A I e II.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
A Lei Brasileira de Inclusão parte do modelo social da deficiência, assim, a deficiência não está
localizada apenas no corpo da pessoa, mas nas inúmeras barreiras produzidas socialmente. Com esse
estatuto, deficientes intelectuais podem contar com a tomada de decisão apoiada e escolher casar-se,
ter filhos etc. É um dos mais importantes marcos na luta das pessoas com deficiência no Brasil e
reconhece o protagonismo da pessoa com deficiência.
Questão 2
Em linhas gerais, políticas públicas são as decisões de um governo sobre como resolver demandas e
problemas de grande relevância social, bem como a definição dos mecanismos para execução dessas
decisões. Observe quatro itens que estão relacionados a políticas públicas para a pessoa com
deficiência e ações inclusivas e de equidade:
I. Avaliação biopsicossocial
II. Barreira atitudinal
III. Uso de tecnologia inclusiva
IV. Combate à discriminação
São políticas públicas ou ações inclusivas e de equidade as abordadas em:
B II e IV.
C II e III.
D III e IV.
E I, II e III.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
A avaliação biopsicossocial está vinculada à Lei Brasileira de Inclusão e leva em conta uma avaliação
para além do modelo biomédico. O uso de tecnologia inclusiva e o combate à discriminação são
importantes políticas públicas na inclusão de pessoas com deficiência. O item errado é o II, sobre
barreira atitudinal, porque ela significa uma atitude ou comportamento que impede e pode prejudicar a
participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades.
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
D I, II, III e IV.
E I, III e IV.
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3 - Importância do entorno e implicações dos rótulos e
estereótipos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a legislação brasileira de inclusão.
Terminologia
Inclusão: pessoas com necessidades especiais ou
pessoas com de�ciência?
Quando falamos de entorno, estamos tratando de espaço e cultura subjacentes a uma população.
Convidamos você a conhecer as situações cotidianas de algumas pessoas, para que façamos uma reflexão
logo em seguida. Para isso, conheça:
Marcelo
Um cego que precisa ser conduzido a um restaurante por uma desconhecida.
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Clara
Uma surda que precisa que um atendente escreva em um papel de forma improvisada as opções que ela
tem.
Marta
Uma jovem com nanismo que precisa sentar-se em uma cadeira de trabalho com almofadas em vez de ter
sua cadeira adaptada.
Francisco
Um senhor cadeirante que precisa ser carregado por desconhecidos para acessar o ônibus.
Essas pessoas com deficiência, nas seguintes situações, estão vivenciando efetiva autonomia? Será que
nesses entornos estamos tendo o cumprimento das leis e a garantia de direitos?
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Só será possível falar em inclusão real, com independência e autonomia, quando
não houver mais a necessidade da ajuda de outras pessoas de forma tão
improvisada. Justamente por isso, trata-se de uma mudança de paradigma que
ainda está em curso.
As barreiras atitudinais são as mais difíceis de serem transpostas, pois implicam uma mudança cultural.
Grande parte das raízes culturais de nossa sociedade sempre valorizaram um tipo de padrão “belo e
perfeito”, como os deuses greco-romanos ou O homem vitruviano: modelo de Leonardo da Vinci, do século
XV, que representa a simetria, a perfeição, a proporção e a harmonia do corpo humano idealizado, conforme
pode-se observar na imagem a seguir.
O homem vitruviano, Leonardo da Vinci, cerca de 1940. Representação de harmonia e simetria que expressariam o belo do corpo humano na
cultura ocidental eurocêntrica.
Já que começamos a falar de inclusão na prática, uma das dúvidas mais comuns é: como devemos nos
referir às pessoas com deficiência? Escutamos as mais diversas designações:
Pessoa com necessidades especiais.
Portador de deficiência.
Pessoa especial, deficiente ou excepcional.
Até algumas expressões pejorativas e ultrapassadas, como inválido ou aleijado.
O correto é: pessoa com deficiência.
Veja porque algumas designações não são nomenclaturas adequadas e respeitosas para nos referir às
pessoas com deficiência:
Deficiente 
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Termos como “deficiente” tendem a reduzir as pessoas a uma única característica, desconsiderando
sua individualidade e suas interações, restringindo ao corpo e não atribuindo ao social a produção de
barreiras.
Com a expressão “portador de deficiência”, encontramos a problemática do verbo portar: significa
trazer algo consigo que pode ser separado, deixado ou até esquecido em algum lugar, o que não é
verdade para as pessoas com deficiência.
A famosa nomenclatura “pessoas com necessidades especiais” ficou bem difundida, mas chegou-se
à conclusão de que o termo poderia gerar uma romantização, uma idealização sobre as deficiências,
e ainda como funcionar como um eufemismo (ou seja, termo agradável que visa suavizar ou
camuflar uma realidade), em vez de trazer a visibilidade e a naturalização da pessoa com deficiência.
A deficiência deve ser tratada como algo comum, e não especial.
Já o termo “pessoa com deficiência” reconhece a existência da deficiência, mas sem fazer disso a
característica mais relevante da pessoa ou idealizar e amenizar a situação. A pessoa vem antes de tudo,
sendo essa a nomenclatura atual e correta.
É importante também perguntar à pessoa como ela prefere ser designada, por exemplo, existem aqueles
que se apresentam como surdos, outros já preferem deficiente auditivo.
Sociedade capacitista e barreiras atitudinais
O capacitismo
Portador de deficiência 
Pessoas com necessidades especiais 
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Você sabe o que é capacitismo? É um tipo de prejulgamento, dentro de determinada cultura, que leva em
conta a capacidade de alguém fazer algo. Caso haja alguma limitação, a pessoa é percebida como inferior,
engraçada, dispensável ou até mesmo anormal. Uma sociedade capacitista não promove a inclusão das
pessoas com deficiência, em vez disso, percebe-as como incapazes ou dependentes. Importante frisar que
as pessoas com deficiência precisam de tratamento adaptado e não de tratamento diferenciado que venha
a gerar exclusão.
Por exemplo, no cotidiano, a melhor forma de saber como é possível auxiliar é perguntando diretamente à
pessoa com deficiência. O protagonismo deve ser sempre da pessoa com deficiência! Se você tenta ajudar
sem perguntar, corre grande risco de estar partindo de um estereótipo. Não é errado perguntar se a pessoa
precisa de ajuda, o errado é se antecipar, ser invasivo e deduzir o que alguém é capaz ou não de fazer.
Exemplo
Agora um exemplo mais prático: entra em uma livraria uma pessoa cadeirante junto de um amigo sem
deficiência. O vendedor pergunta para o amigo sem deficiência o que desejam e ele corretamente diz: “Eu
não quero nada, meu amigo é quem quer”.O vendedor então continua a conversar com a pessoa sem
deficiência: “O que seu amigo deseja?”. Note, nessa situação, que o vendedor está errado, ele deveria
perguntar diretamente à pessoa com deficiência o que ela deseja. O próprio fato de sempre se direcionar
automaticamente para a pessoa sem deficiência já é um indício de falta de informação, de prejulgamento
sobre a capacidade do próprio cadeirante de explicar o que ele deseja. Em resumo, uma barreira atitudinal.
Outro exemplo comum é conversar com pessoas com deficiência intelectual de forma culturalmente infantil.
Tal atitude, que para alguns pode até ser uma tentativa de ser solícito e afetuoso, acaba por colocar em
dúvida a própria capacidade da pessoa de se comunicar. Esse tipo de fala e atitude infantilizada também é
muito utilizado com idosos e é questionável se até com crianças seria assertivo. Portanto, não utilize sua
fala ou comunicação de forma infantilizada.
É importante também deixar de utilizar expressões correntes da língua portuguesa que remetem às
pessoas com deficiência, alguns exemplos:
“Você não está vendo o controle remoto em cima do sofá? Tá cega?!”
“Não precisa gritar, eu não sou surda!”
“Fala mais alto que eu sou meio surda!”
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“Você foi muito retardada em aceitar o convite!”
“Fulano é uma anta paralítica!”
“Ela é baixinha, parece uma anã.”
Muito cuidado com piadas ofensivas que partam de uma concepção redutiva do que é ser normal e
adequado ou que façam deboche da condição das pessoas. Infelizmente muitas pessoas ainda não se
questionam sobre isso e é preciso mudar a cultura. O humor só pode ser engraçado se realmente for
inclusivo.
Questione sempre se, em seu grupo de amigos, família, trabalho, faculdade etc. existem pessoas com
deficiência. Elas são muitas, onde estariam? Quantas pessoas com deficiência fizeram parte das séries e
filmes que você assistiu? E das campanhas publicitárias, de representações culturais? Estamos falando aqui
de visibilidade e representatividade.
Recomendação
Tente ser o mais inclusivo possível em seu cotidiano: por exemplo, poste stories com legenda e fotos com
descrição visual, afinal, não são todas as pessoas que veem ou escutam. Sempre procure formas de incluir
as pessoas em todas as atividades, lembre-se de que essa é uma mudança lenta e que está em curso ainda.
Em 2021, o governo federal fez algumas propostas para a criação de escolas especialmente para pessoas
com deficiência a partir da Política Nacional de Educação Especial (PNEE).
Tal ideia foi recusada pelas pessoas com deficiência e estudiosos em educação por estar promovendo
justamente uma separação quando se precisa de inclusão. A instituição escola, junto com a sociedade, é
que precisa começar a promover mudanças, inclusão e equidade.
O então ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a dizer: “A criança com deficiência era colocada
dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia. Ela atrapalhava o aprendizado dos outros”.
Nota-se que esse modelo de deficiência responsabiliza e coloca a deficiência apenas no corpo da própria
criança, além de não considerar que estar na escola vai muito além do aprendizado acadêmico tradicional. É
essa convivência que tornará possível reconhecer a deficiência como algo comum, ajudando todas as
crianças a entenderem a deficiência desde sempre. É preciso capacitar professores e equipes acadêmicas
bem como investir em políticas públicas para a educação, e não retirar as pessoas da escola comum.
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Romper com o capacitismo e seus efeitos na vida social é um dos grandes desafios de psicólogos e
profissionais da saúde e educação. Passos fundamentais devem ser dados para mudar o quadro de
marginalização dessas pessoas, tais como: alterar a visão social; investir na inclusão escolar; seguir, como
sociedade, as normas da legislação vigente; aumentar investimentos em programas sociais; e ampliar o uso
da mídia, da cibercultura e das novas tecnologias.
Essa mudança, como vimos, está em curso e acompanha uma grande mobilização
pela questão da inclusão de pessoas com deficiência em todos os recursos da
sociedade.
O capacitismo
O vídeo a seguir apresentará o conceito de capacitismo e fará uma reflexão acerca dos prejuízos sociais
provocados por esse preconceito.
A utopia da autonomia
Narrativas sobre a pessoa com de�ciência
Ao abordarmos a autonomia e a independência, é fundamental pensarmos que existe um ideal moderno de
independência que não é realidade para nenhuma pessoa, seja ela com ou sem deficiência. Essa cultura
idealiza um tipo de autossuficiência que não é possível à condição humana, pois somos sempre
interdependente de nossos pares. Em outras palavras: todo ser humano precisa de outros seres humanos
para existir, essa é nossa interdependência.

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Atenção!
Esse tipo de concepção, da busca pela normalidade e pela independência, acaba justificando o maior
número de investimentos em políticas públicas para a reabilitação do que para a eliminação de barreiras
sociais, por exemplo. É muito importante que as pessoas possam se reabilitar, mas nem sempre é possível
voltar ou produzir a forma tradicional de se usar o corpo e a mente. É preciso também modificar os espaços
e criar outras realidades. O normal tradicional não pode ser sempre o objetivo de uma política pública e nem
de uma intervenção em saúde ou educação.
A Lei Brasileira de Inclusão também prevê que se considerem as especificidades de cada pessoa, uma vez
que fatores como classe social, gênero, etnia, orientação sexual, idade etc. podem produzir diferentes
formas de vivência das deficiências. É preciso ter em mente que não somos todos iguais, somos diferentes
e devemos levar essas diferenças em consideração para poder produzir equidade.
O capacitismo de nossa cultura tende a estabelecer rótulos e escalas de valores para as pessoas. Esse tipo
de pensamento permanece enraizado nas relações sociais como um grande impeditivo e parte da ideia de
que, se alguém não é capaz de fazer tudo por si mesmo e necessita de auxílios e cuidados, será alguém que
só trará despesas e “trabalho”. Mais uma vez se faz necessário desconstruir a concepção de normalidade
tradicional e de autossuficiência do ser humano, que, como vimos, é especificamente interdependente.
Autonomia total é uma utopia para qualquer pessoa em qualquer situação!
Um estigma é uma característica que leva à exclusão do indivíduo que vai contra a normalidade tradicional.
O estigma de não andar, não ouvir, não enxergar, não entender etc. é justamente o que leva à não aceitação
do outro. A pessoa com deficiência pode representar a fragilidade de quem olha e teme aquela condição,
simbolizando a própria fragilidade humana. Isso assusta as pessoas que já sabem que essa condição
implica discriminação. O preconceito com a pessoa com deficiência está muito relacionado com o medo
das pessoas de suas próprias fragilidades. Temos aqui um grande aspecto psicossocial que precisa ser
investigado e modificado.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Mais de 20% da população brasileira relata possuir algum tipo de dificuldade ou limitação. Qual é a
nomenclatura correta para essas pessoas?
Parabéns! A alternativa C está correta.
O único termo correto é “pessoas com deficiência”, pois os outros termos podem ser redutivos,
preconceituosos ou eufemistas.
Questão 2
A Deficientes
B Pessoas com necessidadesespeciais
C Pessoas com deficiência
D Pessoas com limitação física
E Pessoas portadoras de deficiência
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O capacitismo é uma forma de prejulgamento baseada naquilo que se deduz que alguém pode ou não
fazer. Observe as afirmativas abaixo:
I. Maria diz para sua amiga parar de gritar porque ela não é surda.
II. Roberto, humorista digital, posta um vídeo “brincando” que se separou de sua “namorada anã”
porque, na relação amorosa, ambos devem crescer juntos.
III. Luciana é vendedora de perfumes e, ao adentrar duas mulheres em sua loja, uma com deficiência
visual e outra sem deficiência, ela se dirige educadamente à pessoa sem deficiência para saber o que a
amiga com deficiência visual deseja.
IV. Paula vai ter que explicar para a prima pela terceira vez como ligar a máquina de lavar roupas e,
nervosa, ela diz: “Você parece que é retardada”.
Apresentam capacitismo as situações:
Parabéns! A alternativa E está correta.
O capacitismo é um tipo de preconceito com pessoas com deficiência que aparece nas mais diversas
formas de interação. Todas essas situações apresentadas são problemáticas e devem ser extintas do
convívio social.
A I e II.
B II e III.
C III e IV.
D I, II e IV.
E I, II, III e IV.
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4 - O papel da Psicologia e as pessoas com de�ciência
Ao �nal deste módulo, você será capaz de avaliar o papel da Psicologia como agente de
transformação social e saúde mental em interface com as de�ciências.
O papel da Psicologia na inclusão
Psicologia e os processos de subjetivação
Já conhecemos um pouco da história das pessoas com deficiência, da caracterização das exclusões e da
luta por direitos e cidadania. Mas e a Psicologia, onde se encaixa?
Em linhas gerais, a Psicologia pode contribuir técnica e eticamente para gerar inclusão e, em consequência,
saúde mental nos mais diversos cenários: clínica, trabalho, escola, comunidade, esportes, sociedade, entre
outros.
Os psicólogos são estudiosos de processos como aprendizagem, relacionamento interpessoal, modelos
sociais, motivação, processos laborais (de trabalho) etc. De posse desses conhecimentos e, principalmente,
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dando voz às pessoas com deficiência, são criadas estratégias e mudanças necessárias.
O Conselho Federal de Psicologia, juntamente com os conselhos regionais, tem
feito inúmeras rodas de conversa, grupos de estudo, conferências, artigos e
cartilhas sobre a inclusão de pessoas com deficiência e o papel do psicólogo.
Um dos primeiros passos é promover a acolhida e a escuta da pessoa com deficiência nos mais diversos
contextos.
Por exemplo: o que sabe o psicólogo organizacional e sua equipe sobre as pessoas com deficiência? Quais
modelos, estereótipos e preconceitos estão funcionando como barreiras na integração de uma equipe? A
Psicologia estaria atenta aos processos de subjetivação para que seja possível gerar equidade, inclusão,
saúde e mudança social.
Mas o que é subjetividade e processos de subjetivação? Subjetividade é, segundo Foucault:
A maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de
verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo.
(FOUCAULT, 2004, p. 236)
Uma pessoa se relaciona com as verdades de sua sociedade e de sua época; dessa relação, surge um
processo de subjetivação. A título de exemplo, voltaremos ao caso da vendedora que se dirige para o
acompanhante da pessoa com deficiência. Mesmo sabendo que não será essa a pessoa que vai realizar a
compra, que “verdades” ela sabe sobre pessoas com deficiência? Como essas verdades são construídas na
sociedade? Essa vendedora tem amigos com deficiência? Ficaria confortável em ser atendida por alguém
com deficiência? Poderia se apaixonar, admirar ou contratar uma pessoa com deficiência? As respostas,
para além do politicamente correto, dependerão dos processos de subjetivação nos quais estão inseridas as
pessoas.
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Estas perguntas também são válidas para a pessoa com deficiência:
O que ela sabe sobre sua condição?
Que informações e afetos lhe foram passados?
Ela recebe expectativas sociais de superação, de exclusão, de invisibilidade?
Sua família a superprotege, fragiliza, tem vergonha ou nega sua deficiência?
As características de sua deficiência passam a ser a principal justificativa para seus conflitos existenciais
humanos?
Todas essas questões podem limitar os processos subjetivos de uma pessoa com deficiência, e mudar
esses processos não é algo possível apenas com uma conversa, leitura ou palestra. São necessárias muitas
vivências, trocas, estudos, acolhimentos e falas para se colocar a mudança em curso no campo
subjetivo/social.
Perceba que todos esses processos acontecem nas relações sociais, construindo afetividades e atitudes.
Seria aí que o psicólogo começaria a atuar, por meio de escutas, oficinas, capacitações, psicoterapia, rodas
de conversa, vivências, bem como mediante promoção de visibilidade, acessibilidade, inclusão e direitos,
lembrando sempre de manter o protagonismo da pessoa com deficiência na tomada das decisões. O
psicólogo é um especialista, não em dizer o que é melhor ou o que se deve fazer, mas em acompanhar, gerar
e auxiliar processos subjetivos.
Ao promover uma intervenção, o psicólogo pode ter algumas metas, objetivos e pontos de partida teóricos.
Entretanto, o processo que se desenvolverá com aquele sujeito, grupo ou comunidade é único, e a
metodologia, os objetivos e os resultados vão sendo produzidos nas relações, não podem ser dadas de
antemão.
Esse posicionamento de facilitador e de “não saber” onde será possível chegar e o que exatamente deve ser
feito pode ser fonte de grande angústia para o profissional que, em uma formação no modelo biomédico,
acredita ser o detentor dos saberes e das verdades a serem trabalhadas. Trata-se aqui de uma nova postura
profissional, que vai se tornando, com prática, estudos e diálogos, muito mais instigante e produtiva do que
assustadora.
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Perspectiva interseccional
Inclusão de pessoas com de�ciência
A inclusão não significa apenas possibilitar o acesso físico das pessoas com deficiência a um ambiente,
inclusão significa possibilitar a produção de sentidos às próprias vivências, é participar e não apenas estar
dentro de um lugar.
Infelizmente existe um déficit de formação de profissionais que trabalhem com a inclusão, pois apenas nos
últimos anos a tarefa de incluir se tornou uma obrigação real da sociedade. A falta de informação é o maior
empecilho para que a equidade possa surgir, por isso, promover a fala e o conhecimento sobre as pessoas
com deficiência é um dos trabalhos do psicólogo: possibilitar que o convívio com as pessoas com
deficiência seja algo comum e natural.
A concretização dos princípios inclusivistas está vinculada à participação de
diversos setores sociais, como no âmbito político, econômico, educacional,
familiar, cultural, saúde, entre outros. Nesse sentido, são necessárias atuações
de profissionais diversos, de áreas distintas, solicitados a refletirem, debaterem
e apresentarem novas ações que promovam a inclusão de todos aqueles que
necessitem do processo inclusivo.
(LEITE; MONT’ALVERNE, 2020 p. 6)
Portanto, o psicólogo não trabalha sozinho ao promover a inclusão, o acolhimento, a escuta e a fala de
pessoas com deficiência; essas ações devem ser executadas por muitos profissionais, principalmenteos da
saúde e da educação.
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O atendimento psicológico prestado a pessoas com deficiência não é diferente do prestado a alguém sem
deficiência, mas as técnicas e os objetivos devem ser adaptados para que a inclusão ocorra.
Por exemplo, uma pessoa com deficiência visual total não pode realizar testes psicológicos que demandem
análise de figuras.
Nesse sentido, o psicólogo deve adequar os instrumentos de avaliação às condições do avaliado.
Outro exemplo é o fato de descrever-se no início de uma fala, para que as pessoas com deficiência visual
possam criar uma imagem de quem é você: “Meu nome é Maria, estou usando blusa azul, calça branca e
uma tiara azul. Meus olhos são castanhos e meu cabelo é preto ondulado. Atrás de mim existe um painel
vermelho com meu nome e o título do meu trabalho que será apresentado”. Tal atitude deveria ser vista
como natural e cotidiana em qualquer fala, assim como legendas e intérpretes para pessoas com
deficiência auditiva.
E a sexualidade? Já vimos que ela figura como um direto assegurado às pessoas com deficiência, mas
ainda existem inúmeras barreiras sociais para a vivência saudável da sexualidade. Perceber os corpos com
deficiência como feios, assexuados, desprovidos de atração, hipersexuados, incapazes de desejar ou gerar
desejo, ou ainda “puros” demais para ter interesse sexual. São todas nuances culturais e sociais que criam
grandes barreiras para a vivência da sexualidade de forma sadia.
ssexuados
Sem desejo sexual.
ipersexuados
Nível incontrolável de desejo sexual.
Para gerar inclusão, é preciso sempre pensar em uma perspectiva interseccional,
ou seja: quais outros campos/características as deficiências atravessam e em
quais são atravessadas?
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São muito diferentes as demandas de um adolescente com deficiência, branco, que mora em um bairro de
classe média, possui respaldo afetivo familiar em comparação a uma idosa negra, de classe social baixa e
que não conhece o paradeiro de sua família.
Atenção!
Pensar a interseccionalidade permite analisar melhor as vulnerabilidades e traçar planos de mudança mais
específicos a cada realidade. Lembre-se sempre de considerar marcadores como idade, gênero, classe
social, orientação sexual, etnia etc. em interseccionalidade com a produção das deficiências (GESSER et al.,
2019).
A interseccionalidade leva em conta os diversos marcadores sobre o corpo e sua história. Dessa forma, o
trabalho do psicólogo pode ser mais humanizado e universalizado. Ainda, o modelo social da deficiência
abre novas perspectivas de trabalho e mudança social. É importante frisar que cada trabalho, cada
intervenção, possui sentido no local onde é produzido.
Exemplificando, a prática de atividades esportivas é apontada como grande produtora de saúde mental
entre a população de pessoas com deficiência, podendo gerar inúmeras experiências subjetivas de trabalho
em equipe, desenvolvimento, construção de metas, resiliência, manejo da frustração, bem-estar, entre
outros. Isso não significa, porém, que basta implementar o esporte com um grupo de pessoas com
deficiência que as coisas vão naturalmente se encaixar. Cada pessoa trará sua história para a interação e
produzirá efeitos em si e nos outros.
Outro exemplo: não necessariamente uma intervenção realizada em uma escola para a inclusão de
cadeirantes terá as mesmas questões, resultados e processos que ocorreram na instituição de origem.
Intervenções passadas que tiveram êxito servem como inspiração, norteamento e experiência, mas cada
lugar poderá criar suas ferramentas para o processo de inclusão. Não existe fórmula fixa e roteirizada!
A Psicologia e a inclusão de pessoas com de�ciência
Quer conhecer algumas reflexões sobre a contribuição da Psicologia para a inclusão de pessoas com
deficiência, incluindo processos importantes, tal como pensar em uma perspectiva interseccional? Assista
ao vídeo a seguir.

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Atendimento à família
A família e a pessoa com de�ciência
Para finalizar, precisamos falar sobre um importante aspecto: a família das pessoas com deficiência.
Sabemos que é no grupo familiar que cada ser humano terá suas primeiras e originais experiências afetivas.
Ali, ele deveria encontrar uma rede de apoio constante.
Já vimos que nossa cultura ocidental favorece um tipo de padrão de beleza corporal que não se aproxima
de nenhuma deficiência, então pense em uma família que espera um novo membro: a família imagina e
idealiza como será essa criança, do que vai gostar, como vai se comportar, entre outras questões.
Contudo, nenhuma família idealiza que terá um novo membro com deficiência. O mais comum é que a
deficiência seja percebida como algo indesejável, um erro ou mau agouro, dependendo da crença dessa
família.
O trabalho do psicólogo com famílias passa pela ajuda nessa elaboração: um novo familiar que chega já
com deficiência ou algum membro antigo que passe a ter essa característica não deve ser visto apenas pelo
prisma da limitação. São necessários informação e diálogo para acolher o grupo familiar que se encontra
com os mais variados sentimentos.
Infelizmente, a maioria dos profissionais de saúde e educação não consegue ser assertiva, sobretudo por
causa da falta de informação e da criação de estereótipos. O próprio profissional tem uma concepção
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biomédica da deficiência e acaba não encontrando recursos e potencialidades, o que desestabiliza ainda
mais o grupo familiar.
Quando uma família recebe a notícia de que terá uma criança com deficiência, muitas fantasias e medos
podem ser desencadeados. São comuns sentimentos de raiva, tristeza, revolta, negação, culpa, rejeição e
até idealizações, sobrecarregando a criança com altas expectativas compensatórias. É imprescindível que a
família seja auxiliada e possa produzir novos significados com a chegada dessa criança.
Uma criança superprotegida pode ter suas potencialidades restringidas, assim como uma criança que é
tratada de forma compadecida (com pena), que tem sua condição negada e/ou que é constantemente
agredida, de forma física ou simbólica.
São todas configurações que a família acaba construindo se não houver auxílio e informação. Perceba que é
justamente a produção de subjetividade que atravessa a família a responsável por gerar muitas deficiências
na interação com o corpo das pessoas, e não o corpo em si.
Saiba mais
Situação similar pode ocorrer com uma família que possui um membro que, por acidente ou consequência
de algum processo de doença, passe a ter a condição de pessoa com deficiência. A dinâmica da família se
altera, os papéis precisam ser reconfigurados para gerar inclusão, e nem sempre isso é possível. Antigos
sentimentos podem ser colocados novamente em curso e a deficiência pode ser um desencadeador de
eventos mal resolvidos no passado. Isso também pode ocorrer conforme algum membro da família se torna
idoso, portanto, é importante ficar atento aos processos do envelhecimento dentro do grupo familiar.
Precisamos pensar a interseccionalidade quando falamos de famílias. Em se tratando de gênero, por
exemplo, as mães ou mulheres cuidadoras tendem a se sentir mais culpadas pela condição da pessoa com
deficiência, percebendo essa característica de seus filhos como negativa e se responsabilizando por isso. O
nível social de uma família também influencia grandemente na adaptação e construção de novos
significados, assim como a etnia e a comunidade às quais pertence essa família.
O trabalhodo psicólogo deve sempre se pautar em auxiliar a família a trabalhar seus sentimentos e ajudá-la
a envolver-se no processo de inclusão e produção de significados, inclusive facilitando a comunicação com
a escola, com os profissionais da saúde e com a comunidade. O momento inicial pode ser bem conturbado,
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porém, conforme o tempo passa e as vivências vão sendo ressignificadas, novas potencialidades vão
surgindo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Atualmente um dos maiores objetivos de nossa sociedade é promover a inclusão de pessoas com
deficiência. Sobre a inclusão, observe as afirmativas:
I. O psicólogo especializado em inclusão deve dizer como o processo vai ocorrer nos mais variados
cenários: escola, organização, comunidade, clínica etc.
II. A inclusão não é apenas possuir acessibilidade em um ambiente, ela pressupõe a participação nas
relações produzidas nesse mesmo ambiente.
III. Existe um déficit de formação de profissionais que saibam trabalhar com inclusão.
IV. É preciso criar ambientes exclusivos para pessoas com necessidades especiais, separando-as de
onde possam atrapalhar.
Está correto o que se afirma em:
A I e II.
B II e III.
C III e IV.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
O psicólogo especializado constrói a inclusão junto com as pessoas com deficiência, os profissionais e
a comunidade; ele não detém sozinho as fórmulas do melhor caminho. Para que uma efetiva inclusão
ocorra, é preciso que haja participação naquele ambiente, que não pode ser separado do convívio
comum. Infelizmente, ainda existe um déficit de formação de profissionais capacitados para a inclusão.
Questão 2
O trabalho com os familiares de uma pessoa com deficiência é imprescindível para gerar inclusão.
Sobre o trabalho com essas famílias, observe as afirmativas:
I. As famílias podem ter dificuldade em receber um membro com deficiência, pois essa é uma
característica que não é desejável ou naturalizada em nossa cultura.
II. Todo grupo familiar passa pelo estágio da negação da deficiência, visando minimizar ou apagar os
efeitos dessa característica.
III. A interseccionalidade deve ser considerada para que o trabalho com a família seja mais efetivo e
humanizado.
IV. É possível que ocorram idealizações da família acerca da pessoa com deficiência, quando esperam
grandes retornos como forma de compensação à deficiência.
Está correto o que se afirma em:
D I, II e IV.
E I, II, III e IV.
A I e II.
B II e III.
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Parabéns! A alternativa D está correta.
De fato, pode haver dificuldades, por parte das família, no recebimento de um membro com deficiência,
visto que essa característica não é naturalizada culturalmente. A negação pode ser comum no grupo
familiar, mas não são todas as famílias que passam por esse estágio. Do mesmo modo, as
idealizações podem ocorrer, mas não necessariamente em todas as famílias. Sempre devemos pensar
a interseccionalidade quando estamos em atuação.
Considerações �nais
A história das pessoas com deficiência é marcada pelo preconceito e pela exclusão, e tais aspectos ainda
encontram grande ressonância nos dias de hoje. Como combate, a Lei Brasileira de Inclusão é um marco na
luta por direitos da pessoa com deficiência e deve ser conhecida e aplicada por todos os cidadãos.
Os psicólogos necessitam estudar constantemente e promover o diálogo e a escuta das pessoas com
deficiência, pois complexos fatores como o capacitismo funcionam como geradores de barreiras
atitudinais. Cabe ao psicólogo colaborar para a mudança de paradigma, que já está em curso, quanto à
perspectiva sobre a deficiência.
Ainda, é importante promover o esclarecimento e o acolhimento de famílias e comunidades, sem perder de
vista as características interseccionais quando se fala em pessoas com deficiência. Dessa forma, a
Psicologia pode contribuir para uma sociedade mais inclusiva e com equidade.
C III e IV.
D I, III e IV.
E I, II, III e IV.
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Podcast
Para concluir este estudo, o especialista fará uma breve descrição da história da pessoa com deficiência, da
implementação da Lei Brasileira de Inclusão e do papel da Psicologia na transformação social para a
equidade.

Referências
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(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Não paginado. Consultado na internet em: 3 jan. 2022.
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GESSER, M. et al. (orgs.). Psicologia e pessoas com deficiência. Florianópolis: Conselho Regional de
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GUGEL, M. A. Pessoas com deficiência e o direito ao trabalho. Florianópolis: Obra Jurídica, 2007.
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ano 5, ed. 9, v. 9, p. 5-22, set. 2020. Consultado na internet em: 7 jan. 2022.
MAIOR, I. Movimento político das pessoas com deficiência: reflexões sobre a conquista de direitos.
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TOUGH, H.; SIEGRIST, J.; FEKETE, C. Social relationships, mental health and wellbeing in physical disability:
a systematic review. BMC Public Health, v. 17, n. 414, 2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO.; The World Bank. Relatório mundial sobre a deficiência. Tradução
Lexicus Serviços Lingüísticos. São Paulo: SEDPcD, 2012.
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