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Histórico das PcD e o papel da sociedade
Prof. Renato Cezar Silvério Júnior
Descrição
As pessoas com deficiência ao longo da história, a legislação que protege os direitos dessas pessoas, uma visão crítica sobre o capacitismo muito
presente na sociedade e o papel da Psicologia para as transformações subjetivas e sociais necessárias à inclusão.
Propósito
O conhecimento e o pensamento crítico sobre as pessoas com deficiência permitem que o psicólogo se constitua como agente de inclusão,
equidade e humanização para cerca de um quarto da população brasileira. Por tratar-se de uma mudança social em curso, o assunto traz alta
complexidade, exigindo do profissional conhecimento sólido e constante, bem como abertura para o diálogo.
Objetivos
Módulo 1
Histórico das PcD
Reconhecer a definição de deficiência e o histórico das pessoas com deficiência.
Módulo 2
A legislação sobre inclusão e políticas públicas
Reconhecer a evolução histórica das políticas públicas para pessoas com deficiência.
Módulo 3
Importância do entorno e implicações dos rótulos e estereótipos
Identificar a legislação brasileira de inclusão.
Módulo 4
O papel da Psicologia e as pessoas com de�ciência
Avaliar o papel da Psicologia como agente de transformação social e saúde mental em interface com as deficiências.
1 - Histórico das PcD
Todos possuímos ideias do senso comum sobre as características de uma pessoa com deficiência (PcD) e provavelmente temos contato
com muitas delas. É possível que nós mesmos tenhamos uma deficiência ou que apresentemos alguma ao longo de nossa vida. Mas será
que nossas concepções são suficientes e verdadeiras acerca do que é uma deficiência? Quais desafios as pessoas e a sociedade enfrentam
quando falamos de deficiências?
A Psicologia das Pessoas com Deficiência é um campo de estudos vasto e em diálogo constante com a sociedade e com outras áreas do
conhecimento, para engajar-se em prol de uma sociedade que possa ser inclusiva, produzindo equidade e trabalhando para a naturalização
da pessoa com deficiência no cotidiano.
Neste material, vamos entender um pouco da história das pessoas com deficiência e da sua luta por direitos, assim como o papel da
Psicologia no entendimento, no diálogo e na transformação dos processos subjetivos/sociais para uma sociedade mais inclusiva.
Introdução
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a de�nição de de�ciência e o histórico das pessoas com de�ciência.
De�nições básicas e fatores associados
O que é de�ciência?
A deficiência é um aspecto da condição humana complexo e múltiplo. A Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, promovido pela
Organização das Nações Unidas em dezembro de 2006, assinala que deficiência é um termo em evolução, sendo que:
A deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e barreiras comportamentais e ambientais que
impedem sua participação plena e eficaz na sociedade de forma igualitária.
(WHO, 2012, p. 4)
As deficiências podem surgir de questões hereditárias ou adquiridas, sempre em interação com o meio. Doenças crônicas, doenças transmissíveis,
lesões por acidente ou por violência e abuso de substâncias são fatores desencadeantes de deficiências humanas.
Importante frisar que o modelo atual de deficiência entende que a limitação expressa não é estritamente do indivíduo; nesse modelo, a deficiência é
ampliada para as relações sociais no mundo tal qual tem sido estruturado. Vamos pensar mais sobre isso durante o nosso estudo.
Por exemplo, para mudar de calçada, é importante que haja uma passarela adequada para um cadeirante. A calçada deve ser adaptada, caso
contrário, a relação do indivíduo com aquele ambiente fica limitada. Assim, a calçada construída dessa forma limitante é a principal produtora da
deficiência.
Mudanças sociais são necessárias para que isso não ocorra e todos tenhamos acessibilidade aos espaços públicos e privados.
Acontece situação semelhante com um indivíduo cego que não dispõe de software para leitura no computador ou com um sujeito surdo que assiste
a um vídeo que não dispõe de legenda ou de interpretação em língua de sinais: o ambiente cria deficiências e barreiras ao não serem adaptados. A
deficiência não é uma característica exclusiva do indivíduo, ela é produzida na relação deste com o mundo.
Assim, em uma perspectiva biopsicossocial, a deficiência é entendida não só como uma restrição do corpo, mas
causada por impedimentos do meio físico, histórico, emocional e social em que esse corpo está inserido.
No meio social, a deficiência costuma ser caracterizada por exclusão, preconceito, estereótipos, discriminação, limitações, sarcasmos e falta de
informações. É dever do profissional de saúde e educação trabalhar para a desconstrução desse cenário com a sociedade.
Tal cenário acaba reduzindo o acesso das pessoas com deficiência a locais, serviços e direitos, gerando inúmeros prejuízos como menores índices
de escolaridade e emprego na população com deficiência.
stereótipos
Ideias generalizadas, preconcebidas e equivocadas sobre algo ou alguém.
Dessa forma, a pessoa com deficiência pode enfrentar mais obstáculos para desenvolver relações com os outros e é possível que experencie
isolamento e solidão, sendo os mais vulneráveis aqueles pertencentes a classes sociais mais baixas. A prevalência de ansiedade e depressão
também pode ser maior entre pessoas com deficiência do que em outros grupos (TOUGH; SIEGRIST; FEKETE, 2017).
Existem muitas formas de deficiência e cada uma delas traz suas características que interagem com a história e a sociedade de cada sujeito. É
importante que o profissional de saúde e educação tenha estudo constante sobre cada tipo de deficiência com a qual trabalhe e, ao mesmo tempo,
esteja aberto para ouvir e criar estratégias com as pessoas com deficiência.
Re�exão
Existem também muitas crenças sociais de que a pessoa com deficiência é alguém inspirador e corajoso. O senso comum pode criar projeções
motivacionais que romantizam a existência da pessoa com deficiência, apagando a realidade de que essa pessoa é um ser humano com defeitos e
qualidades como outro qualquer. Ter uma deficiência é um processo de adaptação às limitações que vão surgindo, um processo de invenção e
reinvenção subjetiva que pode passar por altos e baixos e que implica infinitos processos. Ser colocada o tempo todo no lugar de “guerreira”,
“inspiradora”, “corajosa” e “motivadora” pode tornar-se um pesado estereótipo para a pessoa com deficiência.
Pessoas com de�ciência no Brasil e no mundo
O Relatório Mundial sobre a Deficiência (WHO, 2012) aponta que, no mundo, mais de um bilhão de pessoas convivem atualmente com alguma forma
de deficiência. Dentre elas, cerca de 200 milhões apresentam dificuldades funcionais consideráveis.
O número de pessoas com deficiência tem aumentado. Nos dias atuais, existe maior expectativa de vida da população que, ao envelhecer, pode
naturalmente apresentar alguma deficiência.
Exemplo
Doenças como câncer e diabetes têm também apresentado aumento da incidência, e os pacientes que expressam essas patologias também são
considerados pessoas com deficiência. No diabetes, por exemplo, com o avanço da doença, a pessoa pode vir a perder a visão ou até mesmo um
membro do corpo. Já o câncer pode deixar a pessoa incapacitada para diversas atividades durante e depois do tratamento, além de alguns casos
necessitarem de amputações.
Outro fator que contribui para esse aumento é o avanço dos recursos tecnológicos e médicos para gestação, parto e crescimento, que permitem
maior índice de sobrevivência de bebês e crianças com vulnerabilidades que antes seriam fatais.
Hoje em dia existe maior chance de sobrevivência para pessoas com deficiência. O Censo brasileiro de 2010 estima que atualmente 46 milhões de
pessoas — ou 24% dos brasileiros — vivam algum tipo de deficiência, como dificuldade para enxergar, ouvir, subir escadas etc., e quase metade
dessas pessoas seriam idosas.
Embora exista legislação, debatee políticas direcionadas à população com deficiência, bem como mudanças nos modelos pelos quais a deficiência
é entendida, há também muito o que ser feito e discutido. Pensando historicamente, houve grandes avanços, mas a história das pessoas com
deficiência tem seus reflexos na organização social da atualidade.
Evolução histórica
Pessoas com de�ciência ao longo da história
Pré-História
Não há registros de pessoas com deficiência nesse período da humanidade. No ambiente hostil da Pré-História, sem muita disponibilidade de
alimento, moradia e segurança, não há indícios históricos de que pessoas com deficiência pudessem sobreviver naquelas condições.
Idade Antiga
Registros indicam que há cerca de 4.500 anos a.C., no Egito Antigo, havia certas adaptações e espaços sociais para pessoas com deficiência, sendo
esse fato uma grande exceção na história da humanidade.
Já na Grécia, berço cultural do Ocidente, Platão e Aristóteles recomendavam em suas obras o abandono ou a eliminação das pessoas com qualquer
deficiência. Bebês que apresentassem “características não desejáveis” poderiam ser jogados da cadeia de montanhas gregas chamada Taigeto.
Platão escreveu que era melhor para a cidade e para aqueles que fossem “corporalmente defeituosos” que fossem descartados para morrer.
É do Período Homérico (de 1300 a 1100 a.C.) que se conhece a máxima:
Homem mau não é aquele que se excede na bebida, mata ou traí; é o covarde, estúpido ou débil.
(SCHEERENBERGER, 1984)
Isso mostra que a ideia corrente ao senso comum grego era a de que pessoas com deficiência eram indesejáveis. É importante frisar que débil é
uma forma pejorativa, que persiste até os dias atuais, de designar pessoas com deficiência intelectual.
Já em Roma, até o século IV d.C., existiam leis que permitiam aos pais matarem seus filhos com deficiência mediante afogamento.
Com o advento do cristianismo, a partir do século IV d.C., a caridade passou a ser uma das máximas da doutrina que impedia o assassinato das
crianças com deficiência, vistas também como pessoas portadoras de uma alma. Embora a sobrevivência fosse apoiada, as pessoas com
deficiência não contavam com igualdade moral e nem civil, ficando extremamente vulneráveis. Nessa época foram criados hospitais de caridade que
abrigavam as pessoas com deficiência, isoladas de convívio social.
Idade Média
Nesse período, aproximadamente entre os séculos V e XV d. C., as pessoas com deficiência eram vistas como castigos de Deus e separadas de
suas famílias, podendo ficar sob tutela da Igreja ou da Corte. Há relatos históricos sobre pessoas com nanismo que se tornavam babás das crianças
da Corte, por exemplo.
Recaía sobre a família, especialmente sobre a mãe, a culpa por ter gerado um ser não desejável para a época. Era comum famílias pagarem
indenizações ou deixarem heranças para pagar o asilo dado a seus filhos pela Igreja, que tutelava e separava do convívio social as pessoas com
deficiência.
Curiosidade
O corcunda de Notre-Dame, romance escrito por Victor Hugo no século XIX, conta a história de Quasimodo: homem surdo e com deficiência física
que tinha por obrigação tocar os sinos da Catedral de Notre-Dame, na França medieval. Sua surdez foi adquirida por conta do alto barulho dos sinos.
Vulneráveis e ridicularizadas, as pessoas com deficiência não encontravam nenhum ambiente propício à sobrevivência digna no período medieval.
Idade Moderna
Esse período, que vai de 1453 a 1789, é caracterizado por uma retomada da ciência e de novas perspectivas culturais no Ocidente. Na Idade
Moderna, surgiram as primeiras línguas de sinais, a cadeira de rodas começou a se popularizar, e os hospitais desenvolveram formas de atender
pessoas mutiladas pelas guerras.
Mesmo assim, não houve avanços na representação e nos direitos das PcD. A deficiência, que antes era vista como castigo de Deus, nessa época,
passou a ser encarada como patologia e desvio da normalidade pelas ciências médicas. As pessoas com deficiência eram vistas pela sociedade
moderna como inválidas, dignas de pena, e não tinham direitos civis (GUGEL, 2007).
Contemporaneidade
Os tempos atuais apresentam grandes avanços médicos, legislativos e sociais. É importante assinalar que esses avanços ainda estão em curso e há
muito para ser feito. A herança cultural dos modelos e representações inadequados das pessoas com deficiência ao longo da história ainda
permeiam as relações sociais e os saberes médicos, pois desconstruir séculos de equívocos não é uma tarefa fácil.
Diferentes modelos
Modelo biomédico versus modelo social da de�ciência
Uma das heranças da Idade Moderna é o modelo biomédico: um modelo focado na patologização do sujeito que seria portador de um suposto
desvio da norma ideal. Caberia ao especialista diagnosticar e tratar o sujeito de acordo com os protocolos. Esse modelo não leva em conta as
relações e o ambiente, mas se concentra apenas no organismo, concebendo o corpo como um elemento fechado e não em relação com o mundo.
Fotografia de um homem em uma cadeira de rodas enfrentando dificuldades em ambiente não inclusivo.
Já estudamos que as deficiências ocorrem na relação da pessoa com o mundo. Por exemplo, uma pessoa com nanismo encontra-se nas
dependências de sua faculdade, porém a instituição não dispõe de bebedouros de água ou mesas que tenham altura adequada para a sua condição.
Vemos, assim, como a limitação está na relação com o ambiente não inclusivo, sendo o ambiente o gerador da limitação, não o sujeito.
As deficiências são complexas demais para serem diagnosticadas, avaliadas e conduzidas por protocolos rígidos e superficiais do restrito modelo
biomédico. Seria importante que o modelo de tratamento e/ou reabilitação fosse discutido, adaptado e criado juntamente com o paciente e o meio
ao qual pertence, pois cada caso é um caso. O especialista não pode, por si só, definir o que é melhor para aquela pessoa e colocar sobre ela toda a
responsabilidade de inclusão.
Infelizmente o modelo biomédico, apesar de inadequado, tem sido amplamente utilizado pelas áreas da saúde e da educação. Além de ser uma
herança histórica, é também um modelo que pode transmitir ao profissional uma falsa, porém agradável, margem de segurança. Isso não é nada
bom para a sociedade em geral, que reproduz uma visão alienada não só das pessoas com deficiência, mas de diversos outros temas.
A partir da década de 1970, surge um campo de estudos chamado Estudos sobre Deficiência, respaldado pelo
Movimento Político de Pessoas com Deficiência. Os estudos realizados nesse campo retiram do indivíduo o foco da
deficiência, como sendo algo exclusivo da pessoa, e passam a estudar o caráter social da deficiência, abrindo
assim uma perspectiva biopsicossocial.
A perspectiva biopsicossocial não entende deficiências, patologias e transtornos como exclusivos do sujeito; em vez disso, procura entender todos
os fatores físicos, mentais e sociais em interação. Por exemplo, quando se diz que alguém possui deficiência intelectual, é preciso entender como
essas características interagem com o meio, a classe, a comunidade e a família da pessoa que está sendo avaliada; quando e como essa deficiência
surge; e quais significados são dados a ela. Nessa perspectiva, a saúde de todas as pessoas seria construída coletivamente.
O modelo social da deficiência, fruto desses estudos, amplia a visão sobre a pessoa com deficiência:
O modelo social rompeu com as perspectivas que consideravam a deficiência como um fenômeno restrito ao
corpo e passou a entendê-la como decorrente da interação das lesões e impedimentos corporais com as
barreiras que obstaculizam a participação das pessoas com deficiência na sociedade. Ou seja, a partir dessa
perspectiva teórica, a deficiência não está no sujeito, mas na sociedade que, por meio das múltiplas barreiras
que impedem a participação social em igualdade de condições, oprimem e marginalizam as pessoas com
deficiência.
(GESSER et al., 2019, p. 11)
A partir dos estudos sobre deficiência, concebidossobre o modelo social, fica evidente a complexidade das relações de todas as pessoas ao
experenciar a deficiência, bem como a necessidade de promover inclusão e acessibilidade por meio da desconstrução dos modelos antigos e de
gerar políticas públicas que garantam esses direitos. Trata-se de uma mudança de paradigma que só pode ser feita com o protagonismo das
pessoas com deficiência.
O modelo social da de�ciência
Com a ajuda do vídeo a seguir, você conhecerá a atual concepção de pessoa com deficiência, sua história e o atual modelo social da deficiência.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A deficiência é um fenômeno que tem apresentado aumento da incidência na população e, atualmente, há um campo de estudos complexo e
interdisciplinar direcionado à pesquisa acerca dessa característica. Sobre as pessoas com deficiência, analise as assertivas abaixo:
I. São pessoas corajosas e inspiradoras, suas histórias servem de motivação para todos.
II. Restrições e impedimentos não estão apenas no corpo das pessoas com deficiência, mas estão principalmente no ambiente, na cultura e nas
relações sociais.
III. São os modelos sociais que devem se adequar às pessoas com deficiência.
IV. As deficiências sempre surgem de questões hereditárias.
Está correto o que se afirma em:
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%2
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Questão 2
A partir de 1970, surgem os Estudos sobre Deficiência, campo de estudos protagonizado por pessoas com deficiência e que utilizam o modelo
social para descrever o que é deficiência. Sobre o modelo social da deficiência, analise as assertivas:
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
D I e IV.
E I, II e III.
I. A deficiência é exclusiva do sujeito e seu corpo, sendo necessária ajuda especializada para se adaptar ao meio em que vive.
II. Os saberes médicos são os únicos que devem produzir protocolos e métodos específicos à pessoa com deficiência.
III. A deficiência não está no sujeito, mas nos impedimentos da sociedade.
IV. A saúde deve ser construída coletivamente.
Está correto o que se afirma em:
Parabéns! A alternativa D está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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2 - A legislação sobre inclusão e políticas públicas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a evolução histórica das políticas públicas para pessoas com de�ciência.
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
D III e IV.
E I, II e III.
História dos direitos das pessoas com de�ciência
O reconhecimento dos direitos das pessoas com de�ciência
Já vimos que, na Antiguidade, as pessoas com deficiência poderiam ser assassinadas e abandonadas no nascimento. Com o advento do
cristianismo, é decretado que poderiam sobreviver, mas sem direitos, sob tutela e expostas a todo tipo de vulnerabilidade. Na Idade Moderna,
surgem algumas tentativas de inclusão, mas a pessoa com deficiência ainda é vista como inválida por um marcante olhar biomédico.
Ao final do século XIX, sob a influência dos ideais humanistas, começa-se a desenvolver a ideia de que as pessoas com deficiência precisariam de
abrigos e atenção especializada.
Em 1884, o alemão Otto von Bismarck contribuiu com uma lei de reabilitação e adaptação ao trabalho para aqueles que tivessem alguma deficiência
física decorrente de combates, assim como Napoleão anteriormente já determinava que os soldados fossem readaptados no exército após
ferimentos e mutilações.
No Brasil, influenciado pelo exemplo europeu, Dom Pedro II emite o Decreto nº 1.428, de 12 de setembro de 1854, criando o Imperial Instituto dos
meninos cegos, entidade que atua nos dias de hoje com o nome de Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Em 1857, o imperador cria o
Imperial Instituto de Surdos Mudos, atualmente chamado Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, também no Rio de Janeiro.
Apesar de simbolizar um avanço, tais institutos e leis ainda eram pouco para abarcar a complexidade do fenômeno
das deficiências e estavam muito longe de garantir a equidade e a inclusão das PcD.
A Constituição de 1934 garantia “amparo aos desvalidos”, entendendo como “desvalidos” pessoas em situação de miséria (vulnerabilidade) e
pessoas com deficiência. O texto da Constituição era vago e ainda entendia a pessoa com deficiência como alguém que deveria ficar sob tutela
(modelo biomédico); não se falava de autonomia, acessibilidade e inclusão.
Na Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas sofreram mutilações durante os combates, então, após o fim dos conflitos, em 1945, a questão da
reabilitação ganha grande expressividade (GUGEL, 2007).
Depois do término da Segunda Guerra Mundial também é criada a Organização das Nações Unidas (ONU) e, em 1948, a entidade publica a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tal documento foi muito importante para respaldar o novo projeto de sociedade que se idealizava, além
de se tornar a base para muitas leis ao redor do mundo, conforme podemos observar pelas contribuições elencadas a seguir:
Pela primeira vez, a pessoa com deficiência estava contemplada com todos os status de equidade e inclusão. Trata-se de um grande marco e foi
expresso através do artigo 1º.
Embora utilize equivocadamente o termo “invalidez”, outro item que fala expressamente sobre a pessoa com deficiência é o artigo 25º.
rtigo 1º
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade ” (ONU, 1948, n. p.).
rtigo 25º
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros
casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da
mesma proteção social” (ONU, 1948, n. p., grifo nosso).
Comentário
É a primeira vez que um documento de tamanha magnitude e importância social busca assegurar acessibilidade e inclusão.
A partir de então, importantes mudanças são colocadas em curso e acompanhamos esse processo até os dias atuais, ou seja, ele ainda não está
pronto. Vamos acompanhar mais alguns avanços:
A partir disso se intensificam os debates: se esses direitos estão assegurados, como a sociedade pode criar inclusão e equidade? Quais políticas
públicas devem ser postas em curso para garantir os direitos das pessoas com deficiência?
Em 2006, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova o texto da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD),
um documento muito bem fundamentado. O Brasil adere ao texto da Convenção por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, e mais
tarde, como vamos estudar, pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI).
Lei Brasileira de Inclusão
Estatuto da Pessoa com De�ciência
Até aqui, entendemos que se faz necessária uma mudança de paradigmas para que possa haver inclusão e equidade. A Psicologia trabalha
justamente com os processos subjetivos que permeiam essas mudanças, visando expandir as interações sociais de forma mais inclusiva. Por isso,
1970
Já vimos que, a partir de 1970, surge um novo modelo para entender a deficiência: o modelo social, o qual entende que a deficiência é
produzida pelos limites impostos pelo ambientee pela cultura da sociedade.
1979
Pensando por essa vertente, surge no Brasil, em 1979, a Coalizão Pró-Federação Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes,
lutando pela inclusão e equidade no território brasileiro.
1988
Com a redemocratização do país e muita pressão social, a Constituição de 1988 finalmente vai reconhecer os direitos da pessoa com
deficiência: direito à vida, à saúde, à educação, à justiça, ao trabalho, à seguridade social, ao transporte, bem como direitos civis e
políticos.
é importante que o psicólogo conheça bem a legislação vigente sobre a pessoa com deficiência.
A grande transformação com a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, é justamente a mudança de um modelo biomédico, quando a deficiência era
entendida como sendo unicamente restrita ao corpo da pessoa, para um modelo social da deficiência, quando a forma como a sociedade se
organiza espacialmente e culturalmente é que gera deficiências nas pessoas. Observe o artigo 1º do Estatuto da Pessoa com Deficiência:
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
(BRASIL, 2015, n. p.)
Finalmente os direitos das pessoas com deficiência estão assegurados em uma perspectiva que engloba toda a sociedade e visa à remoção de suas
barreiras, não sendo concebida apenas como uma questão individual.
O artigo 2º deixa explícita essa mudança — destacada a seguir —, ao definir quem é a pessoa com deficiência juridicamente:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
(BRASIL, 2015, n. p., grifo nosso)
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência determina direitos como acessibilidade, autonomia, concepção de produtos, ambientes,
adaptações, programas e serviços adequados à pessoa com deficiência.
Ainda, estabelece o uso de tecnologias assistivas e a remoção de qualquer tipo de barreiras urbanísticas, arquitetônicas, tecnológicas,
comunicacionais, atitudinais e de transporte.
Por barreiras atitudinais entende-se “atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência
em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas” (BRASIL, 2015, n. p.). Justamente a Psicologia tem como um de seus objetos
de estudo as atitudes e os comportamentos, logo, temos aqui uma demanda intrinsicamente destinada à prática dos psicólogos!
Vaga de estacionamento designada para pessoas com deficiência com pintura azul e branca no piso.
É também direito da pessoa com deficiência ter atendimento prioritário, atendente pessoal, profissional de apoio e acompanhante.
Já o artigo 4º versa sobre a igualdade e a não discriminação, aspectos de extrema importância, pois já vimos como nossa herança cultural sobre a
pessoa com deficiência vem de uma triste e longa história. De acordo com o artigo: “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
oportunidades como as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação” (BRASIL, 2015, n. p.).
Cabe ao psicólogo se perguntar durante sua atuação: quais processos sociais/subjetivos têm gerado discriminação às pessoas com deficiência? O
preconceito é uma das maiores barreiras sociais que precisam ser removidas!
São também direitos da pessoa com deficiência: educação, trabalho, assistência social, cultura, esporte, lazer, turismo, previdência social,
mobilidade, transporte, acessibilidade, informação, comunicação, participação na vida pública, acesso à justiça e igualdade perante a lei.
Em se tratando do Direito Penal, a Lei Brasileira de Inclusão prevê multa e pena de reclusão de 2 a 5 anos para quem descumprir seus artigos e/ou
promover discriminação de qualquer forma.
Com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi revogada parte do Código Civil Brasileiro que considerava totalmente incapaz uma pessoa com
deficiência intelectual. As pessoas com deficiência intelectual são relativamente incapazes, isso quer dizer que, embora não possam executar parte
da vida civil, elas têm direito à sexualidade, à união estável e à reprodução. Inclusive, tais relacionamentos sempre ocorreram e se apresentam como
potente produtor de saúde mental.
A partir da publicação da Lei Brasileira de Inclusão, as pessoas com deficiência não ficam mais passivamente dependentes de seus tutores legais e
podem contar com a tomada de decisão apoiada. É possível eleger até duas pessoas que auxiliarão nas tomadas de decisão sobre a vida civil, como
fazer um empréstimo, estabelecer união estável, ter filhos, adquirir bens etc. (BRASIL, 2015).
Saiba mais
Dessa forma, a Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência é importante marco no avanço dos direitos das pessoas com
deficiência. Apesar de coerente e bem fundamentada, essa lei ainda conta com vários entraves sociais para ser posta em prática na maioria das
situações. Por exemplo, em 2015, apenas 0,84% dos contratos empregatícios eram de pessoas com deficiência. Segundo o IBGE, em 2019, quase
70% das pessoas com deficiência não concluíram ensino fundamental e somente 5% das PcD terminaram o ensino superior. Esses números
mostram como são necessárias políticas públicas e mudanças de paradigmas sociais.
A Lei Brasileira de Inclusão e as políticas públicas
Assista ao vídeo a seguir para conhecer a lei brasileira de inclusão e ver um panorama das políticas públicas atuais decorrentes dessa lei.
Políticas públicas e ações de inclusão e equidade
A garantia de direitos das pessoas com de�ciência
Com a legislação já definida, é preciso colocar em ação as mudanças necessárias para garantir os direitos das pessoas com deficiência. E como
isso é feito? Por meio de políticas públicas!
Você sabe o que significa políticas públicas?

Resposta
Em linhas gerais, são as decisões de um governo sobre como resolver demandas e problemas de grande relevância social e a definição dos
mecanismos para execução dessas decisões. Essas políticas demandam ação, mudanças, (BUCCI, 2017) e sempre precisam de marcos (leis) que
respaldem a sua realização.
O principal objetivo das políticas públicas para pessoas com deficiência é romper com as barreiras sociais que impedem a efetiva participação
delas, gerando assim inclusão.
Veremos, a seguir, algumas ações de inclusão e equidade realizadas no Brasil:
Avaliação biopsicossocial da de�ciência
Uma das principais políticas públicas é a avaliação biopsicossocial da deficiência. Se antes, pelo modelo biomédico, a deficiência era
um aspecto restrito ao corpo da pessoa, existe atualmente uma expansão do conceito, e a deficiência é vista além dos impedimentos
clínicos. Analisam-se as barreiras que estão no cotidiano das PcD: ambiente, arquitetura, trabalho, transporte, educação e, acima de
tudo, as atitudes das demais pessoas ao interagir, produzindo uma deficiência.
Lei Brasileira de Inclusão
Segundo a Lei Brasileira de Inclusão, está estabelecido que a avaliação biopsicossocial, interdisciplinar e multiprofissional será
implementada nas avaliações realizadas na administração pública federal, estadual e municipal (Lei nº 10.415, de 6 de julho de 2020).
Plano Nacional de Tecnologia Assistiva
Há também o Plano Nacional de Tecnologia Assistiva que garante o direito e faz uso das tecnologias inclusivas, como softwares de
voz para pessoas cegas, dispositivos de sinais para pessoas surdas, tecnologias para locomoção e programas para pessoas com
deficiência intelectual. Essas tecnologias ajudam grandemente na promoção da inclusão.
Prevenção de discriminação
Uma das políticas para a prevenção de discriminação é a Ouvidoria Nacionalde Direitos Humanos. Por meio do disque 100, são
registradas denúncias que violem os direitos humanos e, por extensão, também os direitos das pessoas com deficiência. Existe ainda
o disque 180, da Central de Atendimento à Mulher, específico para mulheres, nas quais se incluem as mulheres com deficiência que
estejam passando por situações de violência.
Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) também deve fornecer gratuitamente próteses, implantes, cadeiras de roda e qualquer outra
medicação, material ou tecnologia que a pessoa com deficiência venha a precisar. Nossa legislação para pessoas com deficiência é
considerada uma das mais avançadas do mundo!
xpansão do conceito
Nessa perspectiva, a deficiência deixa de ser estática e passa a ser algo produzido nas relações, como vimos no primeiro módulo: no caso de um
cadeirante que não pode acessar as salas de sua faculdade por conta da ausência de rampas, é o ambiente que produz a deficiência, não está restrita
ao corpo da pessoa.
Vejamos, a seguir, algumas importantes datas nacionais e internacionais, símbolos da luta por diretos das pessoas com deficiência:
Janeiro
4/1 – Dia Mundial do Braille
Fevereiro
29/2 – Dia Mundial das Doenças Raras
Março
21/3 – Dia Internacional da Síndrome de Down
Abril
2/4 – Dia do Transtorno do Espectro Autista
8/4 – Dia Nacional do Sistema Braille
Maio
18/5 – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
26/5 – Dia Nacional de Combate ao Glaucoma
Junho
21/6 – Dia Nacional de Luta Contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Julho
26/7 – Dia do Intérprete de Libras
27/7 – Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho
Cadastro de Inclusão
Existe também o Cadastro de Inclusão, que permite coletar e sistematizar as informações sobre pessoas com deficiência, como
idade, profissão, condição socioeconômica etc. Esses dados possibilitam traçar novos planos de ação e identificar quais regiões do
país precisam de assistência, modificações e intervenções.
Cotas
As cotas também constituem importantes políticas públicas, já que uma das maiores barreiras para a pessoa com deficiência é a
inserção no mercado de trabalho. As cotas são uma estratégia para diminuir as diferenças e gerar inclusão.
Dias de visibilidade
Também são instituídos nacionalmente dias de visibilidade da luta das pessoas com deficiência. Essas datas permitem olhar para o
passado e perceber o avanço conquistado, lembrar o longo caminho que ainda é preciso percorrer, bem como chamar toda a
sociedade para suas responsabilidades.
Agosto
21 a 28/8 – Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla
Setembro
21/9 – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência
22/9 – Dia Nacional do Atleta Paralímpico
26/9 – Dia Nacional dos Surdos
Outubro
6/10 – Dia Mundial da Paralisia Cerebral
10/10 – Dia Mundial da Saúde Mental
11/10 – Dia da Pessoa com Deficiência Física
25/10 – Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo
Novembro
10/11 – Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez
14/11 – Dia Mundial e Nacional da Diabetes
16/11 – Dia Nacional dos Ostomizados
Dezembro
3/12 – Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
13/12 – Dia Nacional do Cego
13/12 – Dia do Audiodescritor
O calendário também nos dá um panorama da enorme diversidade que existe em se tratando de pessoas com deficiência.
É importante frisar que cada tipo de deficiência vai demandar uma acessibilidade e uma adequação de ambientes específicas, assim como uma
população informada e que pode alterar suas atitudes para uma real inclusão e integração comunitária. As políticas públicas, portanto, devem ser
específicas às áreas da saúde, educação, trabalho, convivência comunitária etc.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), observe as afirmativas abaixo:
I. Considera a deficiência específica e exclusiva ao corpo da pessoa.
II. Não reconhece união estável entre pessoas com deficiência intelectual, já que essas pessoas não podem decidir por si mesmas.
III. É um dos mais importantes marcos na luta das pessoas com deficiência no Brasil.
IV. Reconhece o protagonismo da pessoa com deficiência.
Estão corretas as assertivas:
A I e II.
Parabéns! A alternativa D está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20Lei%20Brasileira%20de%20Inclus%C3%A3o%20parte%20do%20modelo%20social%20da%20defici%C3%AAncia%2C%20assim%2C
se%2C%20ter%20filhos%20etc.%20%C3%89%20um%20dos%20mais%20importantes%20marcos%20na%20luta%20das%20pessoas%20com%20defici
Questão 2
Em linhas gerais, políticas públicas são as decisões de um governo sobre como resolver demandas e problemas de grande relevância social,
bem como a definição dos mecanismos para execução dessas decisões. Observe quatro itens que estão relacionados a políticas públicas para
a pessoa com deficiência e ações inclusivas e de equidade:
I. Avaliação biopsicossocial
II. Barreira atitudinal
III. Uso de tecnologia inclusiva
IV. Combate à discriminação
São políticas públicas ou ações inclusivas e de equidade as abordadas em:
Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20avalia%C3%A7%C3%A3o%20biopsicossocial%20est%C3%A1%20vinculada%20%C3%A0%20Lei%20Brasileira%20de%20Inclus%C3%
B II e IV.
C II e III.
D III e IV.
E I, II e III.
A I e II.
B II e IV.
C II e III.
D I, II, III e IV.
E I, III e IV.
3 - Importância do entorno e implicações dos rótulos e estereótipos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a legislação brasileira de inclusão.
Terminologia
Inclusão: pessoas com necessidades especiais ou pessoas com de�ciência?
Quando falamos de entorno, estamos tratando de espaço e cultura subjacentes a uma população. Convidamos você a conhecer as situações
cotidianas de algumas pessoas, para que façamos uma reflexão logo em seguida. Para isso, conheça:
Marcelo
Um cego que precisa ser conduzido a um restaurante por uma desconhecida.
Clara
Uma surda que precisa que um atendente escreva em um papel de forma improvisada as opções que ela tem.
Marta
Uma jovem com nanismo que precisa sentar-se em uma cadeira de trabalho com almofadas em vez de ter sua cadeira adaptada.
Francisco
Um senhor cadeirante que precisa ser carregado por desconhecidos para acessar o ônibus.
Essas pessoas com deficiência, nas seguintes situações, estão vivenciando efetiva autonomia? Será que nesses entornos estamos tendo o
cumprimento das leis e a garantia de direitos?
Só será possível falar em inclusão real, com independência e autonomia, quando não houver mais a necessidade da
ajuda de outras pessoas de forma tão improvisada. Justamente por isso, trata-se de uma mudança de paradigma
que ainda está em curso.
As barreiras atitudinais são as mais difíceis de serem transpostas, pois implicam uma mudança cultural. Grande parte das raízes culturais de nossa
sociedade sempre valorizaram um tipo de padrão “belo e perfeito”, como os deuses greco-romanos ou O homem vitruviano: modelo de Leonardo da
Vinci, do século XV, que representa a simetria, a perfeição, a proporção e a harmonia do corpo humano idealizado, conforme pode-se observar na
imagem a seguir.
O homem vitruviano, Leonardo da Vinci, cerca de 1940. Representação de harmonia e simetria que expressariam o belo do corpo humano na cultura ocidental eurocêntrica.
Já que começamos a falar de inclusão na prática, uma das dúvidas mais comuns é: como devemos nos referir às pessoas com deficiência?
Escutamos as mais diversas designações:
Pessoa com necessidades especiais.
Portador de deficiência.
Pessoa especial, deficiente ou excepcional.
Até algumas expressões pejorativas e ultrapassadas, como inválido ou aleijado.
O correto é: pessoa com deficiência.
Veja porque algumas designações não são nomenclaturas adequadas e respeitosas para nos referir às pessoas com deficiência:Termos como “deficiente” tendem a reduzir as pessoas a uma única característica, desconsiderando sua individualidade e suas interações,
restringindo ao corpo e não atribuindo ao social a produção de barreiras.
Com a expressão “portador de deficiência”, encontramos a problemática do verbo portar: significa trazer algo consigo que pode ser separado,
deixado ou até esquecido em algum lugar, o que não é verdade para as pessoas com deficiência.
A famosa nomenclatura “pessoas com necessidades especiais” ficou bem difundida, mas chegou-se à conclusão de que o termo poderia
gerar uma romantização, uma idealização sobre as deficiências, e ainda como funcionar como um eufemismo (ou seja, termo agradável que
visa suavizar ou camuflar uma realidade), em vez de trazer a visibilidade e a naturalização da pessoa com deficiência. A deficiência deve ser
tratada como algo comum, e não especial.
Já o termo “pessoa com deficiência” reconhece a existência da deficiência, mas sem fazer disso a característica mais relevante da pessoa ou
idealizar e amenizar a situação. A pessoa vem antes de tudo, sendo essa a nomenclatura atual e correta.
É importante também perguntar à pessoa como ela prefere ser designada, por exemplo, existem aqueles que se apresentam como surdos, outros já
preferem deficiente auditivo.
Sociedade capacitista e barreiras atitudinais
O capacitismo
Você sabe o que é capacitismo? É um tipo de prejulgamento, dentro de determinada cultura, que leva em conta a capacidade de alguém fazer algo.
Caso haja alguma limitação, a pessoa é percebida como inferior, engraçada, dispensável ou até mesmo anormal. Uma sociedade capacitista não
promove a inclusão das pessoas com deficiência, em vez disso, percebe-as como incapazes ou dependentes. Importante frisar que as pessoas com
deficiência precisam de tratamento adaptado e não de tratamento diferenciado que venha a gerar exclusão.
Deficiente 
Portador de deficiência 
Pessoas com necessidades especiais 
Por exemplo, no cotidiano, a melhor forma de saber como é possível auxiliar é perguntando diretamente à pessoa com deficiência. O protagonismo
deve ser sempre da pessoa com deficiência! Se você tenta ajudar sem perguntar, corre grande risco de estar partindo de um estereótipo. Não é
errado perguntar se a pessoa precisa de ajuda, o errado é se antecipar, ser invasivo e deduzir o que alguém é capaz ou não de fazer.
Exemplo
Agora um exemplo mais prático: entra em uma livraria uma pessoa cadeirante junto de um amigo sem deficiência. O vendedor pergunta para o
amigo sem deficiência o que desejam e ele corretamente diz: “Eu não quero nada, meu amigo é quem quer”. O vendedor então continua a conversar
com a pessoa sem deficiência: “O que seu amigo deseja?”. Note, nessa situação, que o vendedor está errado, ele deveria perguntar diretamente à
pessoa com deficiência o que ela deseja. O próprio fato de sempre se direcionar automaticamente para a pessoa sem deficiência já é um indício de
falta de informação, de prejulgamento sobre a capacidade do próprio cadeirante de explicar o que ele deseja. Em resumo, uma barreira atitudinal.
Outro exemplo comum é conversar com pessoas com deficiência intelectual de forma culturalmente infantil. Tal atitude, que para alguns pode até
ser uma tentativa de ser solícito e afetuoso, acaba por colocar em dúvida a própria capacidade da pessoa de se comunicar. Esse tipo de fala e
atitude infantilizada também é muito utilizado com idosos e é questionável se até com crianças seria assertivo. Portanto, não utilize sua fala ou
comunicação de forma infantilizada.
É importante também deixar de utilizar expressões correntes da língua portuguesa que remetem às pessoas com deficiência, alguns exemplos:
“Você não está vendo o controle remoto em cima do sofá? Tá cega?!”
“Não precisa gritar, eu não sou surda!”
“Fala mais alto que eu sou meio surda!”
“Você foi muito retardada em aceitar o convite!”
“Fulano é uma anta paralítica!”
“Ela é baixinha, parece uma anã.”
Muito cuidado com piadas ofensivas que partam de uma concepção redutiva do que é ser normal e adequado ou que façam deboche da condição
das pessoas. Infelizmente muitas pessoas ainda não se questionam sobre isso e é preciso mudar a cultura. O humor só pode ser engraçado se
realmente for inclusivo.
Questione sempre se, em seu grupo de amigos, família, trabalho, faculdade etc. existem pessoas com deficiência. Elas são muitas, onde estariam?
Quantas pessoas com deficiência fizeram parte das séries e filmes que você assistiu? E das campanhas publicitárias, de representações culturais?
Estamos falando aqui de visibilidade e representatividade.
Recomendação
Tente ser o mais inclusivo possível em seu cotidiano: por exemplo, poste stories com legenda e fotos com descrição visual, afinal, não são todas as
pessoas que veem ou escutam. Sempre procure formas de incluir as pessoas em todas as atividades, lembre-se de que essa é uma mudança lenta e
que está em curso ainda.
Em 2021, o governo federal fez algumas propostas para a criação de escolas especialmente para pessoas com deficiência a partir da Política
Nacional de Educação Especial (PNEE).
Tal ideia foi recusada pelas pessoas com deficiência e estudiosos em educação por estar promovendo justamente uma separação quando se
precisa de inclusão. A instituição escola, junto com a sociedade, é que precisa começar a promover mudanças, inclusão e equidade.
O então ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a dizer: “A criança com deficiência era colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência.
Ela não aprendia. Ela atrapalhava o aprendizado dos outros”. Nota-se que esse modelo de deficiência responsabiliza e coloca a deficiência apenas
no corpo da própria criança, além de não considerar que estar na escola vai muito além do aprendizado acadêmico tradicional. É essa convivência
que tornará possível reconhecer a deficiência como algo comum, ajudando todas as crianças a entenderem a deficiência desde sempre. É preciso
capacitar professores e equipes acadêmicas bem como investir em políticas públicas para a educação, e não retirar as pessoas da escola comum.
Romper com o capacitismo e seus efeitos na vida social é um dos grandes desafios de psicólogos e profissionais da saúde e educação. Passos
fundamentais devem ser dados para mudar o quadro de marginalização dessas pessoas, tais como: alterar a visão social; investir na inclusão
escolar; seguir, como sociedade, as normas da legislação vigente; aumentar investimentos em programas sociais; e ampliar o uso da mídia, da
cibercultura e das novas tecnologias.
Essa mudança, como vimos, está em curso e acompanha uma grande mobilização pela questão da inclusão de
pessoas com deficiência em todos os recursos da sociedade.
O capacitismo
O vídeo a seguir apresentará o conceito de capacitismo e fará uma reflexão acerca dos prejuízos sociais provocados por esse preconceito.
A utopia da autonomia
Narrativas sobre a pessoa com de�ciência
Ao abordarmos a autonomia e a independência, é fundamental pensarmos que existe um ideal moderno de independência que não é realidade para
nenhuma pessoa, seja ela com ou sem deficiência. Essa cultura idealiza um tipo de autossuficiência que não é possível à condição humana, pois
somos sempre interdependente de nossos pares. Em outras palavras: todo ser humano precisa de outros seres humanos para existir, essa é nossa
interdependência.
Atenção!
Esse tipo de concepção, da busca pela normalidade e pela independência, acaba justificando o maior número de investimentos em políticas públicas
para a reabilitação do que para a eliminação de barreiras sociais, por exemplo. É muito importante que as pessoas possam se reabilitar, mas nem
sempre é possível voltar ou produzir a forma tradicional de se usar o corpo e a mente. É preciso também modificar os espaços e criar outras
realidades. O normal tradicional não pode ser sempre o objetivo de uma política pública e nem de uma intervenção em saúde ou educação.
A Lei Brasileirade Inclusão também prevê que se considerem as especificidades de cada pessoa, uma vez que fatores como classe social, gênero,
etnia, orientação sexual, idade etc. podem produzir diferentes formas de vivência das deficiências. É preciso ter em mente que não somos todos
iguais, somos diferentes e devemos levar essas diferenças em consideração para poder produzir equidade.

O capacitismo de nossa cultura tende a estabelecer rótulos e escalas de valores para as pessoas. Esse tipo de pensamento permanece enraizado
nas relações sociais como um grande impeditivo e parte da ideia de que, se alguém não é capaz de fazer tudo por si mesmo e necessita de auxílios
e cuidados, será alguém que só trará despesas e “trabalho”. Mais uma vez se faz necessário desconstruir a concepção de normalidade tradicional e
de autossuficiência do ser humano, que, como vimos, é especificamente interdependente. Autonomia total é uma utopia para qualquer pessoa em
qualquer situação!
Um estigma é uma característica que leva à exclusão do indivíduo que vai contra a normalidade tradicional. O estigma de não andar, não ouvir, não
enxergar, não entender etc. é justamente o que leva à não aceitação do outro. A pessoa com deficiência pode representar a fragilidade de quem olha
e teme aquela condição, simbolizando a própria fragilidade humana. Isso assusta as pessoas que já sabem que essa condição implica
discriminação. O preconceito com a pessoa com deficiência está muito relacionado com o medo das pessoas de suas próprias fragilidades. Temos
aqui um grande aspecto psicossocial que precisa ser investigado e modificado.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Mais de 20% da população brasileira relata possuir algum tipo de dificuldade ou limitação. Qual é a nomenclatura correta para essas pessoas?
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20%C3%BAnico%20termo%20correto%20%C3%A9%20%E2%80%9Cpessoas%20com%20defici%C3%AAncia%E2%80%9D%2C%20pois
A Deficientes
B Pessoas com necessidades especiais
C Pessoas com deficiência
D Pessoas com limitação física
E Pessoas portadoras de deficiência
Questão 2
O capacitismo é uma forma de prejulgamento baseada naquilo que se deduz que alguém pode ou não fazer. Observe as afirmativas abaixo:
I. Maria diz para sua amiga parar de gritar porque ela não é surda.
II. Roberto, humorista digital, posta um vídeo “brincando” que se separou de sua “namorada anã” porque, na relação amorosa, ambos devem
crescer juntos.
III. Luciana é vendedora de perfumes e, ao adentrar duas mulheres em sua loja, uma com deficiência visual e outra sem deficiência, ela se dirige
educadamente à pessoa sem deficiência para saber o que a amiga com deficiência visual deseja.
IV. Paula vai ter que explicar para a prima pela terceira vez como ligar a máquina de lavar roupas e, nervosa, ela diz: “Você parece que é
retardada”.
Apresentam capacitismo as situações:
Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20capacitismo%20%C3%A9%20um%20tipo%20de%20preconceito%20com%20pessoas%20com%20defici%C3%AAncia%20que%20a
A I e II.
B II e III.
C III e IV.
D I, II e IV.
E I, II, III e IV.
4 - O papel da Psicologia e as pessoas com de�ciência
Ao �nal deste módulo, você será capaz de avaliar o papel da Psicologia como agente de transformação social e saúde mental em
interface com as de�ciências.
O papel da Psicologia na inclusão
Psicologia e os processos de subjetivação
Já conhecemos um pouco da história das pessoas com deficiência, da caracterização das exclusões e da luta por direitos e cidadania. Mas e a
Psicologia, onde se encaixa?
Em linhas gerais, a Psicologia pode contribuir técnica e eticamente para gerar inclusão e, em consequência, saúde mental nos mais diversos
cenários: clínica, trabalho, escola, comunidade, esportes, sociedade, entre outros.
Os psicólogos são estudiosos de processos como aprendizagem, relacionamento interpessoal, modelos sociais, motivação, processos laborais (de
trabalho) etc. De posse desses conhecimentos e, principalmente, dando voz às pessoas com deficiência, são criadas estratégias e mudanças
necessárias.
O Conselho Federal de Psicologia, juntamente com os conselhos regionais, tem feito inúmeras rodas de conversa,
grupos de estudo, conferências, artigos e cartilhas sobre a inclusão de pessoas com deficiência e o papel do
psicólogo.
Um dos primeiros passos é promover a acolhida e a escuta da pessoa com deficiência nos mais diversos contextos.
Por exemplo: o que sabe o psicólogo organizacional e sua equipe sobre as pessoas com deficiência? Quais modelos, estereótipos e preconceitos
estão funcionando como barreiras na integração de uma equipe? A Psicologia estaria atenta aos processos de subjetivação para que seja possível
gerar equidade, inclusão, saúde e mudança social.
Mas o que é subjetividade e processos de subjetivação? Subjetividade é, segundo Foucault:
A maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona
consigo mesmo.
(FOUCAULT, 2004, p. 236)
Uma pessoa se relaciona com as verdades de sua sociedade e de sua época; dessa relação, surge um processo de subjetivação. A título de
exemplo, voltaremos ao caso da vendedora que se dirige para o acompanhante da pessoa com deficiência. Mesmo sabendo que não será essa a
pessoa que vai realizar a compra, que “verdades” ela sabe sobre pessoas com deficiência? Como essas verdades são construídas na sociedade?
Essa vendedora tem amigos com deficiência? Ficaria confortável em ser atendida por alguém com deficiência? Poderia se apaixonar, admirar ou
contratar uma pessoa com deficiência? As respostas, para além do politicamente correto, dependerão dos processos de subjetivação nos quais
estão inseridas as pessoas.
Estas perguntas também são válidas para a pessoa com deficiência:
O que ela sabe sobre sua condição?
Que informações e afetos lhe foram passados?
Ela recebe expectativas sociais de superação, de exclusão, de invisibilidade?
Sua família a superprotege, fragiliza, tem vergonha ou nega sua deficiência?
As características de sua deficiência passam a ser a principal justificativa para seus conflitos existenciais humanos?
Todas essas questões podem limitar os processos subjetivos de uma pessoa com deficiência, e mudar esses processos não é algo possível apenas
com uma conversa, leitura ou palestra. São necessárias muitas vivências, trocas, estudos, acolhimentos e falas para se colocar a mudança em curso
no campo subjetivo/social.
Perceba que todos esses processos acontecem nas relações sociais, construindo afetividades e atitudes. Seria aí que o psicólogo começaria a
atuar, por meio de escutas, oficinas, capacitações, psicoterapia, rodas de conversa, vivências, bem como mediante promoção de visibilidade,
acessibilidade, inclusão e direitos, lembrando sempre de manter o protagonismo da pessoa com deficiência na tomada das decisões. O psicólogo é
um especialista, não em dizer o que é melhor ou o que se deve fazer, mas em acompanhar, gerar e auxiliar processos subjetivos.
Ao promover uma intervenção, o psicólogo pode ter algumas metas, objetivos e pontos de partida teóricos. Entretanto, o processo que se
desenvolverá com aquele sujeito, grupo ou comunidade é único, e a metodologia, os objetivos e os resultados vão sendo produzidos nas relações,
não podem ser dadas de antemão.
Esse posicionamento de facilitador e de “não saber” onde será possível chegar e o que exatamente deve ser feito pode ser fonte de grande angústia
para o profissional que, em uma formação no modelo biomédico, acredita ser o detentor dos saberes e das verdades a serem trabalhadas. Trata-se
aqui de uma nova postura profissional, que vai se tornando, com prática, estudos e diálogos, muito mais instigante e produtiva do que assustadora.
Perspectiva interseccionalInclusão de pessoas com de�ciência
A inclusão não significa apenas possibilitar o acesso físico das pessoas com deficiência a um ambiente, inclusão significa possibilitar a produção
de sentidos às próprias vivências, é participar e não apenas estar dentro de um lugar.
Infelizmente existe um déficit de formação de profissionais que trabalhem com a inclusão, pois apenas nos últimos anos a tarefa de incluir se tornou
uma obrigação real da sociedade. A falta de informação é o maior empecilho para que a equidade possa surgir, por isso, promover a fala e o
conhecimento sobre as pessoas com deficiência é um dos trabalhos do psicólogo: possibilitar que o convívio com as pessoas com deficiência seja
algo comum e natural.
A concretização dos princípios inclusivistas está vinculada à participação de diversos setores sociais, como no
âmbito político, econômico, educacional, familiar, cultural, saúde, entre outros. Nesse sentido, são necessárias
atuações de profissionais diversos, de áreas distintas, solicitados a refletirem, debaterem e apresentarem
novas ações que promovam a inclusão de todos aqueles que necessitem do processo inclusivo.
(LEITE; MONT’ALVERNE, 2020 p. 6)
Portanto, o psicólogo não trabalha sozinho ao promover a inclusão, o acolhimento, a escuta e a fala de pessoas com deficiência; essas ações devem
ser executadas por muitos profissionais, principalmente os da saúde e da educação.
O atendimento psicológico prestado a pessoas com deficiência não é diferente do prestado a alguém sem deficiência, mas as técnicas e os
objetivos devem ser adaptados para que a inclusão ocorra.
Por exemplo, uma pessoa com deficiência visual total não pode realizar testes psicológicos que demandem análise de figuras.
Nesse sentido, o psicólogo deve adequar os instrumentos de avaliação às condições do avaliado.
Outro exemplo é o fato de descrever-se no início de uma fala, para que as pessoas com deficiência visual possam criar uma imagem de quem é
você: “Meu nome é Maria, estou usando blusa azul, calça branca e uma tiara azul. Meus olhos são castanhos e meu cabelo é preto ondulado. Atrás
de mim existe um painel vermelho com meu nome e o título do meu trabalho que será apresentado”. Tal atitude deveria ser vista como natural e
cotidiana em qualquer fala, assim como legendas e intérpretes para pessoas com deficiência auditiva.
E a sexualidade? Já vimos que ela figura como um direto assegurado às pessoas com deficiência, mas ainda existem inúmeras barreiras sociais
para a vivência saudável da sexualidade. Perceber os corpos com deficiência como feios, assexuados, desprovidos de atração, hipersexuados,
incapazes de desejar ou gerar desejo, ou ainda “puros” demais para ter interesse sexual. São todas nuances culturais e sociais que criam grandes
barreiras para a vivência da sexualidade de forma sadia.
ssexuados
Sem desejo sexual.
ipersexuados
Nível incontrolável de desejo sexual.
Para gerar inclusão, é preciso sempre pensar em uma perspectiva interseccional, ou seja: quais outros
campos/características as deficiências atravessam e em quais são atravessadas?
São muito diferentes as demandas de um adolescente com deficiência, branco, que mora em um bairro de classe média, possui respaldo afetivo
familiar em comparação a uma idosa negra, de classe social baixa e que não conhece o paradeiro de sua família.
Atenção!
Pensar a interseccionalidade permite analisar melhor as vulnerabilidades e traçar planos de mudança mais específicos a cada realidade. Lembre-se
sempre de considerar marcadores como idade, gênero, classe social, orientação sexual, etnia etc. em interseccionalidade com a produção das
deficiências (GESSER et al., 2019).
A interseccionalidade leva em conta os diversos marcadores sobre o corpo e sua história. Dessa forma, o trabalho do psicólogo pode ser mais
humanizado e universalizado. Ainda, o modelo social da deficiência abre novas perspectivas de trabalho e mudança social. É importante frisar que
cada trabalho, cada intervenção, possui sentido no local onde é produzido.
Exemplificando, a prática de atividades esportivas é apontada como grande produtora de saúde mental entre a população de pessoas com
deficiência, podendo gerar inúmeras experiências subjetivas de trabalho em equipe, desenvolvimento, construção de metas, resiliência, manejo da
frustração, bem-estar, entre outros. Isso não significa, porém, que basta implementar o esporte com um grupo de pessoas com deficiência que as
coisas vão naturalmente se encaixar. Cada pessoa trará sua história para a interação e produzirá efeitos em si e nos outros.
Outro exemplo: não necessariamente uma intervenção realizada em uma escola para a inclusão de cadeirantes terá as mesmas questões,
resultados e processos que ocorreram na instituição de origem. Intervenções passadas que tiveram êxito servem como inspiração, norteamento e
experiência, mas cada lugar poderá criar suas ferramentas para o processo de inclusão. Não existe fórmula fixa e roteirizada!
A Psicologia e a inclusão de pessoas com de�ciência
Quer conhecer algumas reflexões sobre a contribuição da Psicologia para a inclusão de pessoas com deficiência, incluindo processos importantes,
tal como pensar em uma perspectiva interseccional? Assista ao vídeo a seguir.
Atendimento à família
A família e a pessoa com de�ciência
Para finalizar, precisamos falar sobre um importante aspecto: a família das pessoas com deficiência. Sabemos que é no grupo familiar que cada ser
humano terá suas primeiras e originais experiências afetivas. Ali, ele deveria encontrar uma rede de apoio constante.
Já vimos que nossa cultura ocidental favorece um tipo de padrão de beleza corporal que não se aproxima de nenhuma deficiência, então pense em
uma família que espera um novo membro: a família imagina e idealiza como será essa criança, do que vai gostar, como vai se comportar, entre
outras questões.
Contudo, nenhuma família idealiza que terá um novo membro com deficiência. O mais comum é que a deficiência seja percebida como algo
indesejável, um erro ou mau agouro, dependendo da crença dessa família.
O trabalho do psicólogo com famílias passa pela ajuda nessa elaboração: um novo familiar que chega já com deficiência ou algum membro antigo
que passe a ter essa característica não deve ser visto apenas pelo prisma da limitação. São necessários informação e diálogo para acolher o grupo
familiar que se encontra com os mais variados sentimentos.
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Infelizmente, a maioria dos profissionais de saúde e educação não consegue ser assertiva, sobretudo por causa da falta de informação e da criação
de estereótipos. O próprio profissional tem uma concepção biomédica da deficiência e acaba não encontrando recursos e potencialidades, o que
desestabiliza ainda mais o grupo familiar.
Quando uma família recebe a notícia de que terá uma criança com deficiência, muitas fantasias e medos podem ser desencadeados. São comuns
sentimentos de raiva, tristeza, revolta, negação, culpa, rejeição e até idealizações, sobrecarregando a criança com altas expectativas
compensatórias. É imprescindível que a família seja auxiliada e possa produzir novos significados com a chegada dessa criança.
Uma criança superprotegida pode ter suas potencialidades restringidas, assim como uma criança que é tratada de forma compadecida (com pena),
que tem sua condição negada e/ou que é constantemente agredida, de forma física ou simbólica.
São todas configurações que a família acaba construindo se não houver auxílio e informação. Perceba que é justamente a produção de
subjetividade que atravessa a família a responsável por gerar muitas deficiências na interação com o corpo das pessoas, e não o corpo em si.
Saiba mais
Situação similar pode ocorrer com uma família que possui um membro que, por acidente ou consequência de algum processo de doença, passe a
ter a condição de pessoa com deficiência. A dinâmica da família se altera, os papéis precisam ser reconfigurados para gerar inclusão, e nem sempre
isso é possível. Antigossentimentos podem ser colocados novamente em curso e a deficiência pode ser um desencadeador de eventos mal
resolvidos no passado. Isso também pode ocorrer conforme algum membro da família se torna idoso, portanto, é importante ficar atento aos
processos do envelhecimento dentro do grupo familiar.
Precisamos pensar a interseccionalidade quando falamos de famílias. Em se tratando de gênero, por exemplo, as mães ou mulheres cuidadoras
tendem a se sentir mais culpadas pela condição da pessoa com deficiência, percebendo essa característica de seus filhos como negativa e se
responsabilizando por isso. O nível social de uma família também influencia grandemente na adaptação e construção de novos significados, assim
como a etnia e a comunidade às quais pertence essa família.
O trabalho do psicólogo deve sempre se pautar em auxiliar a família a trabalhar seus sentimentos e ajudá-la a envolver-se no processo de inclusão e
produção de significados, inclusive facilitando a comunicação com a escola, com os profissionais da saúde e com a comunidade. O momento inicial
pode ser bem conturbado, porém, conforme o tempo passa e as vivências vão sendo ressignificadas, novas potencialidades vão surgindo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Atualmente um dos maiores objetivos de nossa sociedade é promover a inclusão de pessoas com deficiência. Sobre a inclusão, observe as
afirmativas:
I. O psicólogo especializado em inclusão deve dizer como o processo vai ocorrer nos mais variados cenários: escola, organização, comunidade,
clínica etc.
II. A inclusão não é apenas possuir acessibilidade em um ambiente, ela pressupõe a participação nas relações produzidas nesse mesmo
ambiente.
III. Existe um déficit de formação de profissionais que saibam trabalhar com inclusão.
IV. É preciso criar ambientes exclusivos para pessoas com necessidades especiais, separando-as de onde possam atrapalhar.
Está correto o que se afirma em:
Parabéns! A alternativa B está correta.
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Questão 2
O trabalho com os familiares de uma pessoa com deficiência é imprescindível para gerar inclusão. Sobre o trabalho com essas famílias, observe
as afirmativas:
I. As famílias podem ter dificuldade em receber um membro com deficiência, pois essa é uma característica que não é desejável ou naturalizada
em nossa cultura.
II. Todo grupo familiar passa pelo estágio da negação da deficiência, visando minimizar ou apagar os efeitos dessa característica.
III. A interseccionalidade deve ser considerada para que o trabalho com a família seja mais efetivo e humanizado.
IV. É possível que ocorram idealizações da família acerca da pessoa com deficiência, quando esperam grandes retornos como forma de
compensação à deficiência.
Está correto o que se afirma em:
A I e II.
B II e III.
C III e IV.
D I, II e IV.
E I, II, III e IV.
A I e II.
B II e III.
C
Parabéns! A alternativa D está correta.
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Considerações �nais
A história das pessoas com deficiência é marcada pelo preconceito e pela exclusão, e tais aspectos ainda encontram grande ressonância nos dias
de hoje. Como combate, a Lei Brasileira de Inclusão é um marco na luta por direitos da pessoa com deficiência e deve ser conhecida e aplicada por
todos os cidadãos.
Os psicólogos necessitam estudar constantemente e promover o diálogo e a escuta das pessoas com deficiência, pois complexos fatores como o
capacitismo funcionam como geradores de barreiras atitudinais. Cabe ao psicólogo colaborar para a mudança de paradigma, que já está em curso,
quanto à perspectiva sobre a deficiência.
Ainda, é importante promover o esclarecimento e o acolhimento de famílias e comunidades, sem perder de vista as características interseccionais
quando se fala em pessoas com deficiência. Dessa forma, a Psicologia pode contribuir para uma sociedade mais inclusiva e com equidade.
Podcast
Para concluir este estudo, o especialista fará uma breve descrição da história da pessoa com deficiência, da implementação da Lei Brasileira de
Inclusão e do papel da Psicologia na transformação social para a equidade.
III e IV.
D I, III e IV.
E I, II, III e IV.

Referências
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Não paginado. Consultado na internet em: 3 jan. 2022.
BUCCI, M. P. D. Fundamentos para uma teoria jurídicas das políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2017.
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2004, p. 240-251.
GESSER, M. et al. (orgs.). Psicologia e pessoas com deficiência. Florianópolis: Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina – CRP-12: Tribo
da Ilha, 2019.
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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, ano 5, ed. 9, v. 9, p. 5-22, set. 2020. Consultado na internet em: 7 jan. 2022.
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Não paginado. Consultado na internet em: 3 jan.
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO.; The World Bank. Relatório mundial sobre a deficiência. Tradução Lexicus Serviços Lingüísticos. São Paulo:
SEDPcD, 2012.
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• O Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina preparou um livro atual, crítico e gratuito chamado Psicologia e pessoas com deficiência.
Você pode encontrá-lo no site do Conselho. Confira!
• Esse mesmo Conselho também produziu uma didática cartilha que te auxiliará nos estudos e, posteriormente, na sua prática profissional. Veja a
Cartilha sobre deficiência e acessibilidade diretamente no portal do Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina.
• A médica Izabel Maior faz profundas reflexões acerca da sociedade e da pessoa com deficiência no programa Café Filosófico da TV Cultura.
Procure por Deficiência e Diferenças | Izabel Maior no YouTube e aprofunde seus conhecimentos!

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