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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA Caracterização química dos compostos bioativos e obtenção de micropartículas a partir da torta da prensagem da Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) Suellen Gomes Moreira 2015 Caracterização química dos compostos bioativos e obtenção de micropartículas a partir da torta da prensagem da Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) Suellen Gomes Moreira Orientadores: Alexandre Guedes Torres Priscilla Vanessa Finotelli Marcelo Henrique Gualberto Pereira Rio de Janeiro Fevereiro, 2015. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. G633 Gomes, Suellen Moreira. Caracterização química dos compostos bioativos e obtenção de micropartículas a partir da torta da prensagem da Castanha-do- Brasil (Bertholletia excelsa)/ Suellen Gomes Moreira. Rio de Janeiro: UFRJ/IQ, 2015. 151 f.:il. Orientadores: Alexandre Guedes Torres, Priscilla Vanessa Finotelli e Marcelo Henrique Gualberto Pereira. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, 2015. 1. Torta da castanha-do-Brasil. 2. Compostos bioativos. 3. Microencapsulação. 4. LC-HRMS. I. Torres, Alexandre Guedes. (Orient). II. Finotelli, Priscilla Vanessa. (Orient). III. Pereira, Marcelo Henrique Gualberto. (Orient). IV. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos. V. Título CDD: 664.001 Caracterização química dos compostos bioativos e obtenção de micropartículas a partir da torta da prensagem da Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) Suellen Gomes Moreira Orientadores: Alexandre Guedes Torres Priscilla Vanessa Finotelli Marcelo Henrique Gualberto Pereira Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. Aprovada por: _______________________________________ Dr. Alexandre Guedes Torres Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ ______________________________________ Dra. Anna Paola Pierucci Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ ______________________________________ Dra. Mariana Costa Monteiro Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ _______________________________________ Dra. Jane Mara Block Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC ______________________________________ Dra. Renata Valeriano Tonon Embrapa Agroindústria de Alimentos Fevereiro, 2015. Ao meu exemplo de superação minha amada mãe Amalia e ao meu amor Vitor Moreira, por serem meu alicerce e estarem comigo me fortalecendo com seu amor a cada etapa desta longa jornada! AGRADECIMENTOS À Deus primeiramente por ter me dado essa oportunidade de crescimento pessoal e profissional, por me fortalecer nos momentos mais difíceis e me dá sabedoria e discernimento para ter realizado essa longa jornada de quatro anos; À minha mãe Amalia por me apoiar e por mais difícil que tenha sido sempre compreendeu a minha ausência me acolhendo sempre com seu amor incondicional; Ao meu amor Vitor Moreira, pois sem ele acredito que eu não conseguiria passar por tantos momentos difíceis ao longo desses anos, obrigada por seu amor, paciência, conselhos e compreensão que me ajudaram a chegar até aqui. À minha família em especial minha avó que me agraciava com sua benção, à minha pequena Fernanda, minha afilhada que mesmo sofrendo por eu estar distante me apoiou e me encheu do seu carinho sempre. À minha querida amiga Fabiana (Fabi), minha madrinha, pela sua amizade que nasceu no LBNA e que sem dúvida será para sempre! Aos amigos que o doutorado me deu companheiros de gargalhadas, choros, festas, conselhos e troca de experiências na bancada: Fabricio, Nivea, Vanessa Rezende, Karla Leal, Emília, Nathalia (Nath), Isabelle Santana (Isa), Genilton (Gê), Andressa e Ellen obrigada por fazerem os dias no laboratório terem sido tão divertidos e proveitosos. Aos mais novos que chegaram ao LBNA Kim, Lais, Vanessa Di Sarli, Aline, Isabelle, Tamirys, André obrigada pela troca de experiência e pela amizade. A Vanessa Naciuck, Juliana, Mariana e ao Prof. Daniel Perrone pela troca de experiência e sugestões, especialmente durante as apresentações dos seminários do LBNA. À toda família LNBA pelo companherismo e ensinamentos, por fazerem parte dessa etapa tão importante. Aos amigos que o doutorado me deu durante o desafio de aprender sobre proteômica Rosane, Giselle, Noemi e Wilber aprendi muito com vocês! Obrigada por toda a ajuda e carinho em me receberem! Ao meu orientador Alexandre Torres pelos seis anos (mestrado e doutorado) de parceria obrigada por toda a paciência, pelas conversas, ensinamentos e conselhos ao longo dessa jornada de aprendizado. À minha co-orientadora Priscilla Finotelli que me apresentou o mundo mágico da encapsulação, obrigada por todos os ensinamentos e conselhos. Ao meu co-orientado Henrique Pereira, obrigada pela oportunidade de trabalhar com você e toda a equipe, por me abrir as portas do LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem). Ao Vinícius por ter colaborado tanto, compartilhando seu conhecimento e me ajudado arduamente na interpretação dos resultados do HRMS, obrigada por toda a paciência e ajuda. A Julia e ao Rafael, meus secretarios favoritos, obrigada pela amizade pela ajuda sempre que precisei. Aos parceiros que possibilitaram o desenvolvimento deste estudo Prof. Suely Freitas (Lab de Processamento de Matéria Primas Vegetais – EQ/ UFRJ ); Prof. Verônica Calado com o tratamento estatístico dos resultados; Prof Anna Paola e a Carol sua técnica pelo uso do Spray Dryer, Laboratório de Desenvolvimento de Alimentos para Fins Especiais e Educacionais – DAFEE/ INJC-UFRJ); Prof. Marcia Soares pelas análises de proteômica (Lab de Microbiologia Molecular e Proteômica - LaMMP –IQ/UFRJ). As agência financiadoras FAPERJ, CAPES e CNPq. Enfim foram muitas as pessoas que contribuiram para a realização deste trabalho e desta conquista, A todos muito obrigada! “Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito bela para ser insignificante.” (Charles Chaplin) RESUMO Gomes, Suellen. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS COMPOSTOS BIOATIVOS E OBTENÇÃO DE MICROPARTÍCULAS A PARTIR DA TORTA DA PRENSAGEM DA CASTANHA-DO-BRASIL (BERTHOLLETIA EXCELSA). Rio de janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro. O resíduo sólido da obtenção de óleo da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) por prensagem, chamado torta, apresenta alto valor energético e nutricional e compostos bioativos. O presente trabalho teve como objetivo obter um extrato de grau alimentício rico em compostos bioativos, a partir da torta da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) e determinar a sua composição química e, em seguida, microencapsular por spray-drying o melhor extrato e determinar os componentes bioativos,visando futuras aplicações em alimentos. As condições de extração dos compostos bioativos da torta de castanha-do-Brasil foram otimizadas por planejamento experimental. Considerando fatores estatísticos, econômicos e ambientais, as condições mais favoráveis para a extração de compostos fenólicos antioxidantes foram as seguintes: etanol:água, 40:60; homogeneização com Ultra- turrax ® por 2,5 min; seguida por extração com agitação orbital por 1 h, a 60 °C. Nessas condições, o teor de fenólicos totais, flavonóides totais e a capacidade antioxidante no extrato foram (média±DP), respectivamente, 181 ± 12,3 mg EAG/ 100 g; 3,05 ± 0,41 mg de EC/100 g 520 ± 50,0 mmol Fe2+/100 g (ensaio de FRAP) e 0,399 ± 0,03 mmol ET/100 g (ensaio de TEAC). No extrato, foram identificados e quantificados sete compostos fenólicos por CLAE- DAD. O perfil detalhado dos compostos bioativos no extrato e na torta de castanha-do-Brasil foi determinado. A composição de fenólicos foi determinada por Espectrometria de Massa de Alta Resolução (EMAR), tocoferóis por CLAE-Fluo, minerais por ICP-OES e ICP-MS e proteômica por eletroforese 2D e espectrometria de massas (MALDI-ToF/ToF). A identificação dos compostos fenólicos foi confirmada por CLAE-EMAR, em abordagem dirigida (target), e sete ácidos fenólicos foram identificados: 2,4- dihidroxibenzóico, gálico, 2, hidroxibenzóico, p-cumárico, p-hidroxibenzóico, protocatecuico, sinápinico e cinco flavonoides: (+)-catequina, (-) epicatequina, miricetina, quercetina e quercetina-3-β-D- glucósidio. Além desses fenólicos identificados inequivocamente, trinta outros foram tentativamente identificados por abordagem não-dirigida (non-target), com base nos dados de massa exata (erro < 5 ppm) e perfil de fragmentação (MS²) dos fragmentos principais, destes compostos sugeridos 13 pertencem a classe dos ácidos fenólicos e 17 a classe dos flavonoides, incluindo alguns isômeros de posição. Os tocoferóis majoritários foram α e tocoferol. Diversos minerais essenciais foram identificados e quantificados na seguinte ordem de teores: P>K>Mg>Ca>Zn>Fe>Cu>Mn>Na>Se. O consumo de 1 g da torta contribui para 9% da ingestão dietética de referência do selênio. As principais proteínas identificadas por análise proteômica da torta de castanha-do-Brasil foram globulina 11S e a albumina 2S. Quanto à microencapsulação, esta ocorreu por spray-drying a partir do extrato da torta de castanha-do-Brasil e a melhor combinação da mistura dos agentes encapsulantes capsul ® e inulina foi determinada através das propriedades químicas, físico-químicas e de estabilidade. As micropartículas com capsul ® e inulina (1:1) apresentaram propriedades mais favoráveis para a estabilidade dos fenólicos totais e capacidade antioxidante durante 120 dias de armazenamento. Foram identificados nas microcápartículas os mesmos compostos fenólicos presentes no extrato da torta de castanha-do-Brasil por CL-EMAR. Todos os homólogos dos tocoferóis foram identificados, porém o -tocoferol foi majoritário, e além deste componente a micropartícula também apresentou um teor de selênio de 4.95 μg/g de pó. Portanto conclui- se que a torta da castanha-do-Brasil e seu extrato apresentaram uma composição diversificada de bioativos o que favorece a sua aplicação no desenvolvimento de alimentos funcionais, como por exemplo, no preparo de micropartículas. ABSTRACT Gomes, Suellen.: CHEMICAL CARACTERIZATION OF BIOACTIVE COMPOUNDS AND PRODUCTION OF MICROCAPSULES FROM PRESSING BRAZIL NUT CAKE (BERTHOLLETIA EXCELSA). Rio de janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos). Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro. The solid by product of Brazil nut (Bertholletia excelsa) cold-pressed oil, the cake, presents high energy and nutritional value, and bioactive compounds. In the present work we aimed to get a food grade extract rich bioactive compounds from the Brazil nut cake (Bertholletia excelsa) and to determine their chemical composition and then microencapsulate by spray- drying the best extract and determining the bioactive compounds, aiming future applications in food. Extraction of bioactive compounds from Brazil nut cake was optimized by experimental design. Taking into account statistical, ecconomical and environmental factors, the most favourable extraction conditions were as follows: ethanol:water, 40%; homogenization with Ultra-turrax ® for 2.5 min; followed by extraction in an orbital shaker (1 hour, 60 °C). At this extraction conditions, total phenolic compounds, total flavonoids and antioxidant capacity in the extract were (average±DP), respectivelly, 181 ± 12.3 GAE/100 g; 3.05 ± 0.41 mg CE/100 g 520 ± 50,0 mmol mmol Fe2+/100 g (FRAP assay) and 0.399 ± 0.03 mmol TE/100 g (TEAC assay). Seven phenolic compounds were identified and quantified in Brazil nut cake extract by HPLC-PDA. The detailed profile of bioactive compounds was determined in the extract and in Brazil nut cake. Phenolic compounds were determined by high resolution mass spectrometry (HRMS), tocopherols by HPLC-FLUO, minerals by ICP- OES and ICP-MS and proteomics by 2D electrophoresis and mass spectrometry (MALDI- ToF/ToF). Twelve phenolic compounds were inequivocally identified in Brazil nut cake by LC-HRMS using targeted strategy, follows: gallic acid, p-coumaric acid, 2,4- dihydroxybenzoic acid, p-hydroxybenzoic acid, protocatechuic acid, sinapic acid, 2- hydroxybenzoic acid, (+)-catechin, (-)-epicatechin, myricetin, quercetin and quercetin-3-β-D- glucoside. Besides these, thirty other phenolic compounds were tentativelly identified by non- targeted HRMS, based exact mass data (error < 5 ppm) and fragmentation profile (MS²) of major fragments. The phenolic compounds tentativelly identified were 13 suggested as belonging to the phenolic acids and 17 in flavonoids classes, including positional isomers. Major tocopherols were α and tocopherol. Several essential minerals were determined in the following order of contents: P>K>Mg>Ca>Zn>Fe>Cu>Mn>Na>Se. The intake of 1 g of Brazil nut cake would provide 9% of Recommended Dietary Allowances (RDAs) of Se. The major proteins identified in Brazil nut cake by proteomics analysis were 11S globulin and 2S albumin. Concerning micro-encapsulation of Brazil nut cake extract by spray drying, the best combination was capsul ® and inulin in a 1:1 ratio. This wall material combination presented high stability of phenolic compounds during storage. The microparticles presented the same phenolic compounds present in the Brazil nut cake extract by LC-HRMS analyses. All tocopherol homologs were identified in the microcapsules, however -tocopherol was the major. Besides tocopherols, microparticles showed 4.95 μg/ g Se. In conclusion, Brazil nut cake presented a diversified composition in bioactives, which favors its use in developing functinal foods, such as in preparation of microparticles by spray drying as a potential aditive to functional foods. LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1 Figura 1 Árvore da castanheira-do-Brasil (A), ouriço (fruto) (B) e as sementes (C) que contém a amêndoa da castanha-do-Brasil (parte comestível). 28 Figura 2 Estrutura química dos tocoferóis e tocotrienóis. 33 Figura 3 Biossíntese dos compostos fenólicos (Naczk e Shahidi, 2004). 37 Figura 4 Estrutura química básica dos ácidos fenólicos: hidroxibenzóico (a) e hidroxicinâmico (b) (Angelo e Jorge, 2006). 38 Figura 5 Estrutura química básica dos flavonoides (Balasundram et al., 2006). 39 Figura 6 Esquema representativo do analisador Orbitrap Qexactive (Michalski et al., 2011). 45 Figura 7 Modelos das principais formas de encapsulação: microcápsula (A) e micropartícula(B). 46 Figura 8 Estrutura química do Capsul® (amido modificado pela adição do componente octenilsuccinato na molécula). 48 Figura 9 Estrutura química da inulina (Barclay et al., 2010). 49 CAPÍTULO2 Figure 1 Response surface plots of total phenolic compounds in Brazil nut cake, associated with Ultra-turrax® homogenization time (right axis) and with: solvent content in water (A), extraction time (B), or extraction temperature (C). 63 Figure 2 Response surface plots of antioxidant capacity by FRAP assay in Brazil nut cake, associated with extraction temperature (left axis) and with: Ultra-turrax® homogenization time (A), or solvent content in water (B). 66 Figure 3 Representative chromatogram for the analysis of phenolic compounds in Brazil nut cake extract, by HPLC-PDA (λ= 280 nm). Gallic acid (1), protocatechuic acid (2), (+)-catechin (3), p-hydroxybenzoic acid (4), 2,4-dihydroxybenzoic acid (5), p-coumaric acid (6), sinapic acid (7). 68 CAPÍTULO 3 Figure 1 MS2 spectra of the phenolic compounds identified in the Brazil nut cake extract by LC-HRMS/ESI-Orbitrap in full scan negative mode. Gallic acid (1), protocatechuic acid (2), (+)-catechin (3), p- hydroxybenzoic acid (4), (−)-Epicatechin (5), 2,4-dihydroxybenzoic acid (6). 90 Figure 2 MS2 spectra of the phenolic compounds identified in Brazil nut cake extract by LC-HRMS/ESI-Orbitrap in full scan negative mode. p- coumaric acid (7), sinapic acid (8), Quercetin 3-β-D-glucoside (9), 2- hydroxybenzoic acid (10), Myricetin (11) and Quercetin (12). 91 Figure 3 Representative total ion current (TIC) chromatogram, obtained in full scan MS mode of the phenolic compounds from Brazil nut cake extract by LC-HRMS. 93 Figure 4 Representative cromatogram of tocopherols from Brazil nut cake: α, β, e δ-tocoferol by HPLC-Fluorescence (Exc 290 e Emis. 330 nm). 98 Figure 5 2D SDS-PAGE electrophoresis gel (IPG strip of pH 3−11) image revealed with Coomassie blue, representative sample of Brazil nut cake. Gel orientation: horizontal, isoelectric focusing (pI); vertical, PAGE (molecular weight kDa). Identical numbers refer to the same spots identificaded by MALDI ToF-ToF. The Molecular weight standards (kDa) of the protein are shown at the left of the images. 103 CAPÍTULO 4 Figura 1 Compostos fenólicos totais nas micropartículas dos extratos da torta de castanha-do-Brasil, produzidas com diferentes proporções da mistura de material de parede (Capsul ® e Inulina). *Resultados expressos como média ± desvio padrão, n=3. Letras diferentes indicam diferença significativa entre as micropartículas (p< 0.05). 119 Figura 2 Capacidade antioxidante pelos ensaios de FRAP e TEAC nas micropartículas dos extratos da torta de castanha-do-Brasil, produzidas com diferentes proporções da mistura de material de parede (Capsul ® e Inulina). *Resultados expressos como média ± desvio padrão, n=3. Letras diferentes indicam diferença significativa entre as micropartículas (p< 0.05). 121 Figura 3 Morfologia das micropartículas do extrato de torta de castanha-do- Brasil com diferentes proporções de material de parede. (A) Ativo:Capsul®:Inulina (1:1:2); (B) Ativo:Capsul®:Inulina (1:2:1) e (C) Ativo:Capsul®:Inulina (1:1:1). Com aumentos de 2000 e 5000 vezes. 124 Figura 4 Percentual de perdas dos compostos fenólicos (CFT) (A) e capacidade antioxidante total (CAT) pelos ensaios de FRAP (B) e TEAC (C), devido à influência das diferentes proporções dos materiais de parede nas micropartículas do extrato de torta de castanha-do-Brasil durante o armazenamento por 120 dias. 128 Figura 5 Correlação entre o conteúdo de fenólicos totais e a capacidade antioxidante pelos ensaios de FRAP (azul) e TEAC (vermelho) das micropartículas (1:1:1; 1:2:1; 1:1:2, ativo:Capsul:inulina, respectivamente) durante o armazenamento por 120 dias. 129 Figura 6 Cromatograma representativo da análise de tocoferóis nas micropartículas do extrato de torta de castanha-do-Brasil por HPLC- FL (exc. 290, em. 330 nm). 132 Figura 7 Comparação dos tocoferóis nas micropartículas e na torta de castanha-do-Brasil por HPLC-FL (exc. 290, em. 330 nm) em base seca. 133 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1 Tabela 1 Conteúdo de vitamina E de algumas oleaginosas (USDA, 2004). 34 CAPÍTULO 2 Table 1 Full factorial design with center points to optimize extraction of phenolic compounds from Brazilnut cake. 57 Table 2 Calibration curves* of phenolic compounds from Brazil nut cake extract analyzed by HPLC-DAD. 60 60 Table 3 Experimental design for optimized extraction of total phenolic compounds from Brazil nut cake with acetone:water or ethanol:water. 61 Table 4 Experimental design for optimized antioxidant capacity of Brazil nut cake extracts, obtained with ethanol:water. 64 Table 5 Factors’ effects on antioxidant capacity (TEAC and FRAP assays) in Brazil nut cake extract. 66 Table 6 Phenolic compounds in Brazil nut cake extract by HPLC-PDA analysis (λ=280 nm). 69 CAPÍTULO 3 Table 1 Standard phenolic compounds analyzed by LC-HRMS 78 Table 2 Proximate composition of whole Brazil nut and Brazil nut cake (g/100 g). 84 Table 3 Antioxidant components from Brazil nut cake extract by spectrophotometric methods. 86 Table 4 Phenolic compounds identified in Brazil nut cake extract by targeted LC-HRMS analysis, based on retention time and exact mass error (< 5ppm). 89 Table 5 Phenolic compounds tentatively identified in the Brazil nut cake extract by LC-HRMS / ESI-Orbitrap analysis. 94 Table 6 Tocopherols contents (mg/100 g) from Brazil nut cake by HPLC- Fluo. 98 Table 7 Minerals composition in Brazil nut cake by ICP-MS and ICP-OES analyzed. 100 Table 8 Analysis protein from the Brazil nut cake by MALDI – ToF-ToF 104 CAPÍTULO 4 Tabela 1 Combinação de diferentes proporções do material encapsulante (Capsul® e inulina) para obtenção das micropartículas, com base no teor de sólidos totais do extrato. 112 Tabela 2 Recuperação do processo de atomização e retenção dos fenólicos totais das diferentes micropartículas do extrato de torta de castanha- do-Brasil. 120 Tabela 3 Propriedades físicas e físico-químicas das micropartículas do extrato da torta de castanha-do-Brasil usando diferentes proporções de material de parede. 122 Tabela 4 Influência da proporção de material de parede na estabilidade das micropartículas de extrato da torta de castanha-do-Brasil: compostos fenólicos totais e capacidade antioxidante pelos ensaios de FRAP e TEAC 126 Tabela 5 Identificação dos compostos fenólicos na micropartícula de extrato da torta de castanha-do-Brasil por CL-EMAR. 131 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO GERAL 22 2. OBJETIVOS 25 2.1 Objetivos Geral 25 2.2 Objetivos Específicos 25 CAPITULO 1 REVISÃO DE LITERATURA 27 1. A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) e seus co-produtos 28 1.1 Composição nutricional e funcional da castanha-do-Brasil e seus co-produtos 30 2. Compostos bioativos em nozes e castanhas 33 2.1 Tocoferóis 33 2.2 Selênio 35 2.3 Compostos Fenólicos 36 3. Capacidade antioxidante 41 4. Espectrometria de Massas de Alta Resolução (CL-EMAR) na determinação de compostos fenólicos 43 5. Encapsulamento 45 5.1 Agente encapsulante 47 5.2 Spray Drying 50 CAPITULO 2 Optimized extraction of polyphenolic antioxidant compounds from Brazil nut (Bertholletia excelsa) cake, and identification of polyphenols 52 1. INTRODUCTION 54 2. EXPERIMENTAL 55 2.1 Chemicals 55 2.2 Samples: Brazil nuts and preparation of Brazil nut cake 56 2.3 Experimental design 56 2.4 Extraction of phenolic compounds from Brazil nut cake 57 2.5 Determination of Total Phenolic Compounds (TPC) 58 2.6 Determination of antioxidant activity 64 2.7 Phenolic compounds profile by HPLC 59 2.8 Statistical analysis 60 3. RESULTS AND DISCUSSION 60 3.1 Total phenolic compounds60 3.2 Antioxidant capacity 64 3.3 Phenolic compounds profile in Brazil nut cake extract by HPLC- PDA 67 4. CONCLUSIONS 70 CAPITULO 3 Brazil nut cake is a rich source of phenolic compounds, tocopherols, selenium and proteins determined by high resolution analytical methods 71 1. INTRODUCTION 73 2. MATERIALS AND METHODS 74 2.1 Chemical 74 2.2 2.2 Samples: Brazil nuts and preparation of Brazil nut cake 75 2.3 Extraction of phenolics compounds from Brazil nut cake 75 2.3.1 Total Phenolic Compounds 75 2.3.2 Total flavonoids 76 2.3.3 Identification of phenolic compounds in Brazil nut cake extract by LC-HRMS 76 2.3.4 Antioxidant Capacity 78 2.4 Brazil nut cake composition 79 2.4.1 Proximate composition 79 2.4.2 Tocopherols in Brazil nut cake by HPLC 79 2.4.3 Proteomics 80 2.4.3.1 Extraction and determination of total proteins in Brazil nut cake 80 2.4.3.2 Protein profile by 2D electrophoresis 80 2.4.3.3 In-gel digestion and peptides extraction 81 2.4.3.4. Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization and Sequential Time-of-Flight (MALDI-ToF/ToF) mass spectrometric analysis 81 2.4.4 Determination of metals in Brazil nut cake by ICP-MS and ICP- OES 82 2.7 Statistical Analysis 83 3 RESULTS AND DISCUSSION 84 3.1 Proximate composition of Brazil nut cake 84 3.2 Total phenolic compounds, total flavonoids and antioxidant capacity from Brazil nut cake extract by spectrophotometric methods 85 3.3 Detailed characterization of the phenolic compounds in Brazil nut cake extract by LC-HRMS 88 3.3.1 Identification of phenolic compounds in Brazil nut cake extract by targeted LC-HRMS 88 3.3.2 Tentative identification of phenolic compounds in Brazil nut cake extract by non-targeted LC-HRMS 92 3.4 Tocopherol from Brazil nut cake by HPLC 97 3.5 Minerals composition of the Brazil nut cake by ICP-OES and ICP-MS 100 3.6 Analysis of Proteins from Brazil nut cake by MALDI/ ToF-ToF 102 4. CONCLUSION 106 CAPÍTULO 4 Microencapsulação do extrato da torta da Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) por spray drying 107 1. INTRODUÇÃO 109 2. MATERIAL E MÉTODOS 111 2.1 Amostra 111 2.2 Obtenção da torta e do extrato da castanha-do-Brasil 111 2.3 Encapsulação do extrato da torta de castanha-do-Brasil 112 2.4 Influências das diferentes proporções de encapsulantes na composição das micropartículas do extrato da torta de castanha- do-Brasil 113 2.4.1 Rendimento da microencapsulação e retenção de compostos fenólicos 113 2.4.1.1 Análise dos compostos fenólicos 113 2.4.1.2 Capacidade antioxidante 114 2.4.2 Caracterização física e físico-química das micropartículas 114 2.4.2.1 Análise de umidade e atividade de água 114 2.4.2.2 Morfologia e tamanho das partículas 114 2.4.3 Estabilidade das micropartículas 115 2.5 Caracterização dos componentes fenólicos, tocoferóis e selênio 115 2.5.1 Determinação dos compostos fenólicos por CLAE-DAD e CL-EMAR 115 2.5.2 Tocoferóis por CLAE-Fluorescência nas micropartículas 116 2.5.3 Determinação de Selênio por ICP-MS 117 2.6 Análise estatística 118 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 118 3.1 Influências do encapsulante nas características químicas, físico- química e estabilidade das micropartículas do extrato da torta de castanha-do-Brasil 118 3.1.1 Compostos fenólicos total e capacidade antioxidante das micropartículas 119 3.1.2 Caracterização física e físico-química das micropartículas 121 3.1.3 Influência da proporção de material de parede na estabilidade das micropartículas de extrato da torta de castanha-do-Brasil 125 3.2 Caracterização dos componentes bioativos nas micropartículas do extrato de torta de castanha-do-Brasil (1:1:1,ativo; Capsul®:inulina): compostos fenólicos, tocoferóis e selênio 130 4. CONCLUSÕES 134 CONSIDERAÇÕES FINAIS 135 REFERENCIAS 137 21 Introdução 22 1. INTRODUÇÃO GERAL O consumo de nozes e castanhas aumentou na última década, especialmente por sua associação na prevenção de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer (Fernández-Montero et al, 2014; Vadivel et al, 2012; Kornsteiner et al, 2006; Nishi et al, 2014). A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) destaca-se entre as oleaginosas por sua composição de nutrientes e compostos bioativos, tais como o selênio, tocoferóis, ácidos graxos insaturados, proteínas, aminoácidos, fibras e compostos fenólicos (Yang, 2009). A castanheira-do-Brasil é nativa da região amazônica e sua forma de manejo é extrativista. O fruto, conhecido como castanha-do-Brasil, possui um papel socioeconômico fundamental, pois é um dos principais produtos de exportação da região amazônica (40.357 toneladas por ano) (IBGE, 2010; Wadt et al, 2008). Além da comercialização da amêndoa integral, a extração do óleo também possui aplicações na indústria alimentícia e cosmética. O processo de prensagem a frio é o mais utilizado para a obtenção do óleo, e esta extração resulta em um co-produto sólido chamado de torta, com elevado valor energético e nutricional. As aplicações mais convencionais da torta de castanha-do-Brasil são como constituinte da ração animal, além do enriquecimento de grande variedade de alimentos como produtos de panificação, farinhas, snacks, cereais, biscoitos, embutidos, sorvetes, chocolates, bebidas, laticínios, entre outros alimentos (Menezes e Souza, 2004; Santos et al., 2013). No entanto, estas aplicações não investem diretamente no potencial dos componentes bioativos hidrofílicos, tais como os compostos fenólicos da torta de castanha-do-Brasil. O consumo de alimentos ricos em compostos fenólicos antioxidantes (Fukuda et al, 2003; Wijeratne et al, 2006) tem sido associado com potenciais benefícios à saúde, especialmente quanto à atividade anti-inflamatória, antimutagênica e anticarcinogênica (Chen e Blumberg, 2008; Colpo et al, 2014). É possível que esses componentes sejam extraídos da torta, levando à formação de extratos com teores de compostos bioativos, tais como fenólicos, tocoferóis, proteínas solúveis e selênio (Yang, 2009). No entanto, estudos mais detalhados dos componentes bioativos da torta de castanha-do-Brasil são relevantes, como a caracterização dos compostos fenólicos por abordagens metabolômicas, e a determinação da composição de proteínas por abordagens proteômicas para permitir um conhecimento mais detalhado deste co-produdo. O conhecimento da composição bioativa da torta da castanha-do-Brasil 23 possibilitará a obtenção e aplicação dos extratos como potencial aditivo com bioatividade na indústria de alimentos. Dentre estas aplicações destaca-se o uso da tecnologia de encapsulamento, que visa promover a estabilidade, proporcionar a liberação controlada dos componentes ativos e conservar as propriedades fitoquímicas de compostos bioativos (Saenz et al., 2009; Çam et al., 2014). A aplicação desta tecnologia nos extratos alimentícios concentrados extraídos da torta da castanha-do-Brasil é uma alternativa para o reaproveitamento deste resíduo, uma vez que pode preservar propriedades químicas dos extratos de castanha-do-Brasil, podendo potencializar a bioatividade de seus componentes. Além disso, a encapsulação permite o desenvolvimento de um novo produto, o qual poderá ser aplicado como aditivo, contendo os compostos bioativos do extrato de castanha-do-Brasil, em uma maior variedade de produtos alimentícios. A investigação desses processos, com base no conhecimento químico detalhado dos componentes da torta da castanha, pode contribuir para a elaboração de alimentos funcionais e com isto agregar valor à castanha-do-Brasil. ESTRUTURA DA TESE O desenvolvimento da tese foi dividido em um capitulo de revisão da literatura e três capítulos no formato de artigos científicos dos quais dois estão em língua inglesa,de acordo com as temáticas investigadas. No primeiro capítulo apresentamos uma breve revisão da literatura sobre a castanha-do-Brasil e seus co-produtos. Abordamos os compostos bioativos que foram investigados ao longo do estudo e algumas das principais técnicas aplicadas, além do processo de microencapsulação e fatores que influenciam na obtenção das micropartículas. No segundo capítulo, abordamos a otimização das condições de extração para obtenção dos extratos hidroetanólicos contendo os compostos fenólicos da torta de castanha-do-Brasil. Trabalhou-se com o planejamento de experimento fatorial completo com pontos centrais para avaliar as variáveis independentes (tipo de solvente, tempo de extração, tempo de homogeneização, temperatura de extração e proporção do solvente) tendo como variáveis de resposta a composição de fenólicos totais e capacidade antioxidante. Este artigo foi submetido ao Journal of Science of Food and Agriculture. A seguir, o terceiro capítulo foi dedicado à caracterização química detalhada dos compostos bioativos no extrato e na torta de castanha-do-Brasil. Devido há escassez de dados 24 publicados quanto à caracterização e quantificação desses componentes na torta da castanha- do-Brasil. A maior parte das investigações científicas publicadas a respeito da composição química da torta da castanha-do-Brasil bem como da forma in natura estão relacionadas com os benefícios gerados pelo consumo do selênio e pouco se tem investigado a respeito de outros componentes bioativos presentes na torta. Em nosso estudo foram utilizadas técnicas hifenadas como cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas de alta resolução (LC-HRMS) para investigar os compostos fenólicos, essa analise foi realizada de dois modos: analise qualitativa dirigida (targeted), com o uso de padrões comerciais de compostos fenólicos para realizar a identificação e analise qualitativa não-dirigida (non-targeted) onde os compostos fenólicos dos quais não obtinhamos padrões comerciais foram tentativamente identificados com o uso de uma estratégia de identificação. Foi realizada ainda através do uso de técnicas cromatográficas a determinação de tocoferóis (CLAE-FL), selênio (por ICP-MS e ICP-OES) e proteínas por proteômica (MALDI-ToF-ToF) na torta da castanha do Brasil. Em seguida no quarto capítulo o extrato da torta de castanha-do-Brasil foi microencapsulado por spray drying, e a influência de diferentes proporções dos materiais de parede (Capsul ® e inulina) no conteúdo de fenólicos totais, capacidade antioxidante e características física, físico-química e estabilidade das micropartículas foram avaliadas, além de caracterizar através de técnicas cromatográficas os compostos bioativos da formulação que tenha apresentado maiores teores de compostos fenólicos, capacidade antioxidante e estabilidade. 25 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Obter um extrato de grau alimentício rico em compostos bioativos, a partir da torta da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) e determinar a sua composição química e, em seguida, microencapsular o melhor extrato e determinar os componentes bioativos, visando futuras aplicações em alimentos. 2.2 Objetivos Específicos Capítulo 2: a) Determinar as melhores condições de extração de compostos fenólicos da torta de castanha-do-Brasil, pela aplicação do planejamento experimental investigando os fatores: solvente, proporção do solvente: água, tempo de extração, temperatura de extração e tempo de homogeneização; para a obtenção de extratos com teores relevantes de compostos fenólicos e capacidade antioxidante. Capítulo 3: b) Caracterizar os compostos bioativos presentes no extrato da torta da castanha- do-Brasil, por meio da determinação dos teores de fenólicos e flavonoides totais por analises espectofotometricas; perfil de compostos fenólicos por cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas de alta resolução (LC-HRMS) e capacidade antioxidante in vitro. c) Determinar os teores e perfil de tocoferóis por HPLC, minerais por ICP-OES e ICP-MS e proteínas por abordargens proteômicas na torta da castanha-do-Brasil. 26 Capítulo 4: d) Encapsular por spray-drying o extrato da torta de castanha-do-Brasil utilizando como material de parede Capsul ® e inulina, com vistas à aplicação em alimentos. e) Investigar a influência da proporção da mistura de material de parede (Capsul® e inulina) sobre características químicas e físico-químicas, assim como aestabilidade dos compostos bioativos microencapsulados durante o armazenamento por 120 dias. f) Caracterizar as micropartículas obtidas a partir da melhor formulação (melhores características químicas, físico-químicas e estabilidade), quanto aos compostos bioativos: fenólicos, tocoferóis e selênio. 27 Capítulo 1 Revisão de Literatura 28 1. A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) e seus co-produtos A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa H.B.K.) pertence à família lecythidaceae, é uma oleaginosa nativa da região Amazônica. A castanheira é uma árvore que chega a atingir até 60 m de altura com uma base de até 2 m de diâmetro médio. Seu fruto é conhecido como ouriço, possui forma esférica ou capsular, com cerca de 20 cm de diâmetro, com casca lenhosa bastante rígida e rugosa (Muller et al., 1995). No seu interior apresenta cerca de 10 a 24 sementes que são altamente nutritivas. As sementes da castanha também são envolvidas por uma casca dura e rugosa em formato triangular-anguloso de cor marrom escuro que envolve a amêndoa, que é a parte comestível da castanha-do-Brasil (Figura 1) (Muller et a., 1995). A amêndoa da castanha-do-Brasil também é conhecida como castanha-do-pará ou castanha-da-amazônia, castanha, castanheira, castanha-verdadeira, castanheiro, amendoeira- da-américa, castanha-mansa e castanha-do-Brasil (Muller et a., 1995). Figura 1: Árvore da castanheira-do-Brasil (A), ouriço (fruto) (B) e as sementes (C) que contém a amêndoa da castanha-do-Brasil (parte comestível). É distribuída em toda a Floresta Amazônica incluindo os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Roraima, Tocantins e Mato Grosso, bem como na Venezuela, Colômbia, Fonte: © Zig Koch/WWF-Brasil Fonte: comida.ig.com.br Fonte: Coleção Viva Saúde – Hipertensão A B C 29 Peru, Bolívia e Guianas (Souza et al., 2006). A castanha-do-Brasil é o produto vegetal extrativo mais importante da Amazônia em valor ecológico, social, econômico e alimentar. Por ser um produto extrativista, a produção da castanha-do-Brasil é considerada orgânica e sua extração ambientalmente correta. Suas amêndoas são de grande valor comercial no mercado internacional, e representam uma alternativa de renda para os seringueiros da Amazônia (Souza et al., 2006). A produção brasileira de castanha concentra-se principalmente nos estados do Amazonas, Pará e Acre, responsáveis por 80% do volume produzido. A maior parte da castanha brasileira é exportada in natura principalmente para a Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos e os países concorrentes são a Bolívia e o Peru (Enriquez, 2009; Silvertown, 2004). O Brasil era considerado até 1990 o líder no mercado mundial com uma produção de cerca de 50 mil toneladas de castanha com 80% do comércio, porém este quadro econômico mudou e atualmente a Bolívia passou à liderança com uma produção anual de cerca de 50 mil toneladas (CONAB, 2009; IBGE, 2010). No entanto, a produção mundial vem sofrendo queda desde a década de 1980 devido ao desmatamento sofrido pela floresta amazônica, ocasionando a redução dos castanhais nativos. Este problema colocou as castanheiras-do-Brasil na “ListaOficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção” definida pela Instrução Normativa MMA n°6, de 23 de setembro de 2008 (Peres et al., 2003, IBAMA, 2008). Fatores como preço baixo na comercialização da castanha-do-Brasil, mercado pouco atrativo, falta de incentivo para agregar valor ao produto e falta de uma política de incentivo à produção também tem contribuído para a redução da produção (Souza et al., 2006). Outro fator que tem impacto na comercialização das castanhas-do-Brasil são as condições inadequadas de manipulação durante a colheita, que favorece a contaminação por fungos produtores de aflatoxinas, e representa uma forte limitação na comercialização do produto especialmente no mercado externo. As aflatoxinas são produzidas geralmente pelo fungo Aspergillus flavus, quando expostas a condições favoráveis como umidade e temperatura elevadas, e produzem as toxinas com efeitos carcinogênicos nocivos à saúde humana (Pacheco e Scussel, 2007). Contudo, estratégias para diminuir este impacto negativo na produção de castanha vêm sendo adotadas. Uma parceria ente a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e os produtores extrativistas de castanha tem gerado medidas para minimizar os problemas de 30 contaminação, através da aplicação de Boas Práticas no manejo da castanha aplicando procedimentos que começam no momento da coleta, dentro da floresta, e se estende até a fase de beneficiamento do produto. As Boas Práticas agregam valor ao produto e ajudam a estabelecer preços mais justos no mercado. Além disto, devido às características nutricionais desta oleaginosa e a sua importância econômico-social para a região Amazônica, tem aumentado o interesse na busca por alternativas que beneficie não só a comercialização da castanha in natura, mas seus co- produtos. A diversidade de componentes nutricionais e funcionais da castanha do-Brasil tem aumentado o interesse em pesquisas na sua composição com o intuito de agregar valor a esta oleaginosa pelo aproveitamento de seus componentes bioativos e seus co-produtos possibilitando maiores aplicações na indústria alimentícia e cosmética (Yang et al., 2009, Kornsteiner et al., 2006). Os principais co-produtos da castanha-do-Brasil são o óleo e a torta, que é o resíduo sólido obtido após a extração da fração lipídica. O óleo da castanha-do-Brasil é rico em vitamina E, e ácidos graxos insaturados como o oléico e o linoléico (Santos et al., 2013). Tem crescido a demanda pelo seu uso particularmente devido ao aumento do uso de produtos naturais como insumos para a indústria cosmética tanto no mercado nacional quanto internacional, além da sua aplicação na indústria alimentícia por ser um óleo considerado gourmet. Com este maior consumo de óleo de castanha-do-Brasil tem aumentado a produção da torta, porém poucas aplicações tem sido dadas a este co-produto. 1.1 Composição nutricional e funcional da castanha-do-Brasil e seus co-produtos A amêndoa da castanha-do-Brasil apresenta elevado valor nutritivo com uma rica composição em macronutrientes e compostos bioativos. Cerca de 60% de sua composição são de lipídios e 17% de proteínas, além de fibras, vitaminas e minerais (Yang et al 2009). A castanha-do-Brasil é uma boa fonte de ácidos graxos composta principalmente dos ácidos linoleico (37%), oleico (33%), palmítico (14%) e esteárico (11%) (Santos et al., 2013). A castanha-do-Brasil tem uma composição vasta em micronutrientes, como os minerais. Comumente eles são encontrados na seguinte ordem crescente de abundância Mg> Ca> Fe> Cu> Cr> As> Se; esses elementos agem como cofatores para muitas funções fisiológicas e metabólicas no organismo humano (Pacheco e Scussel, 2007; Comineti et al., 2012). O 31 selênio é um importante antioxidante da dieta e a castanha-do-Brasil é considerada uma das principais fontes alimentares deste mineral. No entanto a quantidade de Se varia consideravelmente entre as amêndoas, principalmente devido à concentração encontrada no solo (Pacheco e Scussel, 2007). O elevado conteúdo de proteínas nas amêndoas de castanha- do-Brasil colabora para o alto conteúdo de aminoácidos sulfurados (em especial metionina e cisteína) que favorecem a absorção do selênio e outros minerais no organismo (Sun et al., 1987; Strunz et al., 2008). O consumo de castanha-do-Brasil tem sido associado com inúmeros benefícios para a saúde, especialmente com a redução do risco de doenças cardiovasculares relacionadas com a redução das frações de Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL) e de Muito Baixa Densidade (VLDL), responsáveis pelo aumento do colesterol sérico (Jenkins et al., 2002). Estes efeitos benéficos são provenientes da sua composição em componentes bioativos como os compostos fenólicos na sua forma livre e ligada, os tocoferóis, fitoesteróis e o selênio. Estes compostos possivelmente apresentam efeitos benéficos à saúde devido as suas propriedades antioxidantes, antiproliferativos, anticarcinogenico e antimutagenicas (Wu et al, 2004; Kornsteiner et al., 2006). No entanto, os dados quantitativos de alguns destes compostos na castanha-do-Brasil e nos co-produtos, como os fenólicos, ainda são limitados (Yang, 2009; John e Shahidi, 2010). A castanha-do-Brasil foi aprovada como um alimento que apresenta declaração de saúde qualificada pela FDA (Food and Drug Administration) com a seguinte declaração para as nozes e castanhas, incluindo a castanha-do-Brasil: “Evidências científicas sugerem, mas não provam, que a ingestão de 1,5 gramas de castanhas por dia, para a maioria das nozes como parte de uma dieta baixa em gordura saturada e colesterol, pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares” (FDA, 2008). Estudos têm reportado os efeitos benéficos à saúde pelo consumo de nozes e castanhas, incluindo a castanha-do-Brasil. Yang et al (2009) investigou a atividade antiproliferativa de diferentes nuts na inibição da proliferação de células humanas de câncer HepG2 e Caco-2. As células apresentaram significativa inibição em um padrão dose-dependente, após a exposição aos extratos das nuts. A atividade antiproliferativa pode estar relacionada ao conteúdo de compostos fenólicos presentes nos extratos um fenólico específico ou uma classe de compostos fenólicos presentes nas nuts. Os compostos fenólicos podem agir sinérgica e/ou 32 antagonicamente com outros compostos bioativos, como tocoferóis e selênio presentes na castanha-do-Brasil que também exercem atividade antioxidante. No entanto, além dos beneficios a saúde conhecidos da castanha-do-Brasil em sua forma in natura, especialmente pela sua composição em selênio, as castanhas podem dar origem a co-produtos que possuem características nutricionais e funcionais específicas. O processamento das amêndoas desta oleaoginosa, especialmente daquelas que sofreram algum tipo de injúria mecânica durante o descascamento ou que não apresentam as características adequadas para comercialização pelo mercado externo, são alternativamente utilizadas para extração de óleo, devido à seu alto teor lipídico. O óleo obtido por prensagem das amêndoas da castanha-do-Brasil é um dos principais co-produtos desta oleaginosa, o óleo obtido retém as propriedades originais da castanha-do- Brasil e, por isso, apresenta elevador valor agregado. Ele apresenta cerca de 80% de ácidos graxos insaturados e teores de β-tocoferol e β-sitosterol (Costa et al 2010; Chunhieng et al., 2008). O β-tocoferol apresenta elevada ação antioxidante e pode contribuir para a estabilidade química do óleo, prevenindo a rancidez. Por outro lado, os fitoesteróis, além de apresentarem atividade antioxidante, conferem à castanha interessantes propriedades de inibição da absorção do colesterol, que ajuda na prevenção de hiper-colesterololemia e doenças cardiovasculares (Chunhieng et al., 2008). O óleo da amêndoa da castanha-do-Brasil é límpido, apresentacoloração amarelada e odor agradável, com potencial para uso em preparações gourmet e nas formulações de cosméticos. A extração do óleo da amêndoa da castanha-do-Brasil por prensagem fornece como co- produto, um resíduo sólido chamado de torta, que apresenta elevado valor energético e nutricional. As aplicações mais convencionais desse co-produto são variadas, tais como enriquecimento de grande variedade de alimentos como produtos de panificação, farinhas, snacks, cereais, biscoitos, embutidos, sorvetes, chocolates, bebidas, laticínios, entre outros alimentos (Menezes e Souza, 2004). A torta de castanha do Brasil apresenta cerca de 50% de proteínas, tendo um conteúdo proteico maior do que a carne de gado (26 a 31% de proteínas). A proteína da castanha é rica em aminoácidos essenciais com elevado teor dos sulfurados (metionina e cisteína). Além de apresentar conteúdos de selênio e fibra maiores do que os encontrados na castanha in natura (Strunz et al., 2008; Yang et al,. 2009). 33 2. Compostos bioativos em nozes e castanhas 2.1 Tocoferóis A vitamina E é representada por um grupo de oito compostos com semelhanças estruturais, os tocoferóis e tocotrienóis e seus homólogos α, β, γ e δ-tocoferol, são componentes característicos dos óleos da maioria das oleoaginosas. Os tocoferóis são derivados do 6-cromanol, assim como os tocotrienóis. Apresentam uma estrutura química formada por um anel fenólico (cromanol) e um heterocíclico, além de uma cadeia lateral isoprenóide de 16 carbonos saturada ligada ao carbono 2 e se diferem pelo número e posição dos grupos metil no anel cromanol formando os homólogos α, β, γ e δ- tocoferol (Figura 2) (Wong et al., 2014). Figura 2: Estrutura química dos tocoferóis e tocotrienóis. Os tocoferóis são encontrados em vegetais, principalmente em sementes oleaginosas (Tabela 1) como em óleos de grãos, nozes, gérmen de trigo, folhas e partes verdes das plantas. São encontrados em menor quantidade em alimentos de origem animal, principalmente gema de ovo e fígado. Os homólogos γ e o α-tocoferol são os mais abundantes Tocoferol/ tocotrienol R1 R2 α CH3 CH3 β CH3 H H CH3 δ H H 34 na maioria dos alimentos. O α-tocoferol concentra-se, principalmente, nos cloroplastos de células vegetais, enquanto β, γ, δ-tocoferol são normalmente encontrados fora dessas organelas (Costa et al., 2010). Tabela 1: Conteúdo de vitamina E de algumas oleaginosas (USDA, 2004). Diferentes nuts Teor de Vitamina E (mg/ 100 g) Sementes de girassol 56,5 Amêndoas 26,2 Avelã 15,2 Amendoim 7,8 Castanha-do-Brasil 7,6 Noz-pecã 4,0 A atividade antioxidante dos tocoferóis esta relacionada ao grupo hidroxila do anel cromanol, principalmente em sua habilidade de atuar como doador de elétrons ou aceptor de radicais livres (Nogala et al., 2004). Nos óleos, os tocóis reagem rapidamente com os radicais livres e inibem por competição a oxidação dos ácidos graxos insaturados, retardando especialmente a etapa de propagação. Portanto, apresenta importante papel na proteção de óleos vegetais contra oxidação (Nogala et al., 2004). A atividade antioxidante dos homólogos de tocoferóis apresenta a seguinte ordem de eficácia: δ > γ = β > α. Todavia, esta ordem pode sofrer interferência de diversos fatores, tais como temperatura, disponibilidade de oxigênio, exposição à luz, interações entre os compostos antioxidantes e com outros componentes do meio, como ácidos graxos quimicamente ligados a fosfolipídios ou triacilgliceróis (Chun et al., 2006). Alguns estudos indicam que o α-tocoferol é considerado o mais potente em sua ação antioxidante, as diferentes atividades biológicas das diversas formas do α-tocoferol não são devido somente a sua habilidade em sequestrar o radical livre, mas também na específica afinidade do α-tocoferol com a proteína transferase (α-TTP). A α-TTP é uma proteína que especificamente incorpora o α-tocoferol na partícula lipoprotéica das células do fígado para o plasma (Birringer et al.,2001; Azzi et al., 2002). 35 O α-tocoferol está presente em maior concentração no plasma humano, o que leva a sua maior bioatividade como vitamina E. O alto consumo de α-tocoferol tem sido associado com a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo II, hipertensão e Alzheimer (Schwartz et al., 2008). No entanto, relata-se que apesar das baixas concentrações plasmáticas, outras formas de tocoferóis também são capazes de exercer atividades antioxidantes e biológicas em humanos. O γ-tocoferol, por exemplo, tem apresentado importantes efeitos benéficos no organismo humano como agente quimio preventivo e um potente agente na prevenção de doenças cardiovasculares (Campbell et al., 2003; Mishima et al., 2003). Os tocoferóis (vitamina E), a vitamina C, o β-caroteno, o selênio e os compostos fenólicos fazem parte de um grupo denominado nos últimos anos de antioxidantes alimentares. A ingestão destes componentes tem sido frequentemente associada à prevenção de doenças neurodegenerativas, aterosclerose, inflamação crônica, câncer e envelhecimento precoce. Alimentos como as nozes, amêndoas e castanhas são ricos nesses compostos bioativos e a sua ingestão tem sido associada com alguns efeitos benéficos à saúde (Halvorsen et al, 2006; Kaliora et al, 2006). Os efeitos de combater os radicais livres dos tocoferóis foram relacionados à prevenção das condições associadas com processos degenerativos mediados por radicais livres, tais como o envelhecimento, o desencadeamento de algumas formas de carcinogênese, artrite e agregação plaquetária (Freedman & Keaney, 2001). 2.2 Selênio O selênio (Se) é um mineral essencial para o organismo e apresenta potencial ação antioxidante. Acredita-se que sua ação redutora ocorra por meio da ligação covalente a proteínas, formando as selenoproteínas, como a glutationa peroxidase e a tioredoxina redutase, que possuem propriedades antioxidantes similares (Santos et al., 2013). A glutationa peroxidase é uma selenoproteína que atua como uma enzima antioxidante no plasma, e esta relacionada com a diminuição do processo de envelhecimento, estimulação do sistema imunitário e a proteção contra a doença cardíaca e determinadas formas de câncer (Yang 2009). O selênio esta presente nos alimentos na forma de Se inorgânico ou ligado a aminoácidos livres. A maior parte do Se liga-se covalentemente com aminoácidos sulfurados 36 formando o complexo selenometionina e selenocisteína (Kannamkumarath et al., 2002; Chunhieng et al., 2004). A dose de ingestão diária recomendada é 55 μg/dia de selênio para homens e mulheres adultos, é baseado na quantidade necessária para maximizar a síntese da selenoproteína glutationa peroxidase no organismo. Entretanto, o consumo de doses elevadas desse mineral pode promover efeitos nocivos à saúde como o risco de selenose (toxicidade crônica). Frente a isto, foi imposto um limite de ingestão máxima tolerável (UL) de 400 μg/dia de selênio para adultos (IOM, 2000). O teor de selênio encontrado nos alimentos é influenciado pela quantidade desse mineral no solo onde o alimento esta sendo cultivado. Diferentes concentrações de selênio (8,0-69,7 μg.g -1 ) foram encontradas na castanha-do-Brasil de acordo com diferentes regiões da Amazonia de onde foram originadas (Pacheco e Scussel 2007). Outro fator que afeta o teor de selênio nos alimentos é o teor de lipídio, pois com a redução dos lipídios ocorre o aumento das proteínas e consequentemente o aumento na composição de selênio, já que o seu conteúdo é associado com a fração de proteína na forma de selenometionina e selenocisteína (Santos et al, 2010). As funções biológicas do Se incluem defesa contra estresse oxidativo, regulação da ação dos hormônios da tireoíde e regulação do potencial redox da vitamina C e de outrasmoléculas. Os efeitos benéficos à saúde pelo consumo regular de castanha-do-Brasil têm sido relacionados com a composição em macronutrientes, micronutrientes e compostos funcionais, especialmente o selênio (Yang, 2009; Santos et al., 2013). Devido à alta quantidade de proteínas ricas em aminoácidos presentes em sua composição o selênio tem maior facilidade para formar um complexo orgânico, aumentando a sua biodisponibilidade. Com isto devido a composição da castanha-do-Brasil ela é considerada uma das principais fontes de selênio, especialmente por apresentar elevados teores deste mineral (Moodley et al., 2007;. Santos et al., 2013; Yang, 2009). 2.3 Compostos Fenólicos Os compostos fenólicos são originados do metabolismo secundário das plantas produzidos como resposta a situações de estresse que são submetidas, como raios UV e patógenos, entre outros (Ignat et al., 2011). Estes compostos apresentam considerável 37 importância fisiológica e morfológica em plantas, pois atua no crescimento, reprodução, proteção contra agentes patogénicos e predadores (Bravo, 1998). Além disso, apresentam importantes funções nas características sensoriais, como nas cores, de frutas e vegetais (Alasalvar et al., 2001). Do mesmo modo, apresentam funções biológicas no organismo humano, onde seu consumo tem sido relacionado com inúmeros efeitos benéficos à saúde. Existem mais de cinco mil compostos fenólicos os quais englobam desde moléculas simples até moléculas com alto grau de polimerização. Químicamente são compostos fitoquímicos derivados da fenilalanina e tirosina que possuem anel aromático com um ou mais substituintes hidroxílicos, incluindo seus grupos funcionais (Nack e Shahidi, 2004; Balasundram et al., 2006). A fenilalanina amônia-liase (PAL) é a enzima chave na regulação da via metabólica de fenilpropanóides convertendo a L-fenilalanina em ácido trans-cinâmico e iniciando a biossíntese de fenólicos (Figura 3). Fatores genéticos irão determinar quais classes e subclasses desses compostos serão sintetizadas (Nack e Shahidi, 2004). Figura 3: Biossíntese dos compostos fenólicos (Naczk e Shahidi, 2004). 38 Os compostos fenólicos são classificados devido às diferenças em sua estrutura química, de acordo com o número de anéis fenólicos e grupamentos que os ligam. As principais classes de compostos fenólicos são os ácidos fenólicos, flavonóides, taninos (hidrolisáveis e condensados), ligninas e estilbenos (Ignat et al, 2011). Os ácidos fenólicos constituem cerca de um terço dos compostos fenólicos em alimentos, os quais podem estar presentes nas plantas, nas formas livres ou ligadas, por ligações éster, éter ou acetal (Robbins, 2003; Zadernowski et al., 2009). Consistem em dois subgrupos, os ácido hidroxibenzóico e os ácido hidroxicinâmico (Figura 4). Os ácidos hidroxicinâmicos têm a característica de ser compostos antioxidantes mais ativos do que os ácidos benzóicos, devido à dupla ligação presente na molécula dos derivados do ácido cinâmico participar da estabilidade do radical por ressonância de deslocamento do elétron desemparelhado, enquanto que os derivados do ácido benzóico não apresentam essa característica (Balasundram et al., 2006). Figura 4: Estrutura química básica dos ácidos fenólicos: hidroxibenzóico (a) e hidroxicinâmico (b) (Angelo e Jorge, 2006). A estrutura química dos flavonóides consiste em dois anéis aromáticos denominados anel A, derivado do ciclo acetato/malonato e B derivado da fenilalanina por meio da via do chiquimato, unidos por três carbonos que formam um anel heterocíclico, denominado anel C (Figura 5). Variações em substituição do anel C na estrutura dos flavonóides resultam em importantes subclasses como flavonóis, flavonas, flavanonas, flavanóis (ou catequinas), isoflavonas e antocianidinas. E as substituições dos anéis A e B originam diferentes compostos dentro de cada subclasse de flavonóides. Estas substituições podem acontecer por 39 reações de oxigenação, alquilação, glicosilação, acilação e sulfação (Balasundram et al., 2006). Figura 5: Estrutura química básica dos flavonoides (Balasundram et al., 2006). Os compostos fenólicos, incluindo antocianinas, flavonóides e ácidos fenólicos, são conhecidos por serem responsáveis pela capacidade antioxidante dos alimentos impedindo a oxidação lipídica e combatendo o estresse oxidativo (Slusarczyk et al., 2009). Além disto, os compostos fenólicos apresentam muitas aplicações industriais, devido às suas propriedades como conservantes e corantes de alimentos. Os compostos fenólicos têm potenciais efeitos no sistema biológico, estudos têm demonstrado que quando consumidos regularmente por seres humanos, os compostos fenólicos têm sido associados com uma redução na incidência de doenças, tais como ateroclerose, obesidade, diabete tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares (Luthria et al., 2006; Liu et al., 2008; Ross et al., 2009). O aumento dos efeitos benéficos a saúde com o aumento do consumo de compostos fenólicos tem favorecido mais pesquisas que caracterizem estes compostos em diferentes matrizes alimentares e investiguem a sua ação no organismo humano. As principais fontes de compostos fenólicos são as frutas, legumes e folhas, mas ultimamente diferentes resíduos agrícolas e industriais têm sido investigados como potenciais fontes destes compostos bioativos (Ignat et al, 2011; Roos et al., 2009). Os resíduos e subprodutos, remanescentes após o processamento de frutas e vegetais na indústria de processamento de alimentos, ainda contêm uma grande quantidade de compostos fenólicos que na maioria das vezes acabam não sendo reaproveitados. Dentre estes resíduos destacam- se os da casca e bagaço obtidos na indústria de suco e vinhos, considerados ricas fontes de compostos bioativos (Lapornik et al., 2005 ), além dos coprodutos (torta) produzidos na indústria de extração de óleos vegetais, como de azeite e óleo de soja, que também são uma fonte potencial de compostos fenólicos. 40 O teor dos compostos fenólicos em muitos alimentos ainda é determinado através de análises espectrofotométricas, onde são investigados os teores de compostos fenólicos totais presentes na matriz alimentar. O método de Follin-Ciocalteu é o mais utilizado. Baseiam-se na redução do ácido fosfomolíbdico e fosfotúngstico pelas hidroxilas fenólicas da amostra, o número de grupos hidroxilas ou de grupos potencialmente oxidáveis, que forma o óxido de tungstênio e molibdênio em meio alcalino, responsáveis pela coloração azulada formada nas moléculas reduzidas (Tsao e Yang, 2003 e Lapornik et al., 2005). A intensidade da cor do complexo produzido é medida pela absorvância da solução em 760 nm. O teor de fenólicos totais é calculado geralmente utilizando uma curva de calibração de equivalente de ácido gálico. Porém este método espectrofotométrico não é um método específico, pois detecta todos os grupos fenólicos presentes na amostra, incluindo aquelas proteínas extraíveis. Outra desvantagem é a interferência de reduzir substâncias como ácido ascórbico. Estes interferentes podem levar à superestimação do conteúdo de fenólicos de extratos de origem vegetal, devido à sobreposição de respostas espectrais (Naczk e Shahidi, 2004; Ignat et al., 2011). No entanto, técnicas mais específicas como a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) têm sido amplamente utilizadas para a separação e quantificação de compostos fenólicos em alimentos. Esta técnica permite identificar e quantificar especificamente os componentes que estão presentes na matriz alimentar. São amplamente utilizadas na elucidação da estrutura quando usadas em combinação com a espectrometria de massas, bem como outras técnicas relevantes (Naczk e Shahidi, 2004). Além disto, a extração dos compostos fenólicosem alimentos vegetais é um passo muito importante no isolamento, identificação e aplicação. Esta etapa é influenciada pela natureza química dos fenólicos, o método de extração, tamanho de partícula da amostra, o tempo, temperatura e as condições de armazenamento, assim como a presença de substâncias interferentes (Bucić-Kojić et al., 2007). Embora nas duas últimas décadas tenha ocorrido um aumento nas pesquisas sobre a composição de fenólicos em alimentos, ainda não existe um procedimento padrão para preparação da amostra, extração e análise cromatográfica dos compostos fenólicos (Ignat et al., 2011). Portanto, existe a necessidade de desenvolver procedimentos analíticos mais robustos, seletivos e sensíveis para a determinação simultânea das importantes classes e subclasses de compostos fenólicos nos alimentos (Tsao e Yang, 2003; Liu et al., 2008). 41 3. Capacidade antioxidante A castanha-do-Brasil devido a sua elevada composição em minerais, especialmente o selênio e os tocoferóis tem sido considerada um alimento com potencial efeito antioxidante (Chunhieng et al., 2008; Costa et al., 2010; Santos et al., 2013). Os antioxidantes são compostos naturais ou sintéticos que quando presentes mesmo em baixa concentração, comparada à concentração do substrato oxidante, previne significativamente ou atrasa as reações de oxidação e seus efeitos danosos aos alimentos ou organismo. Os antioxidantes apresentam elevada estabilidade oxidativa e possuem a propriedade de prevenir a oxidação de outras substâncias, como proteínas, ácidos nucléicos e lipídios (Perez-Jimenez et al., 2008). Os alimentos como frutas, hortaliças e vegetais são as principais fontes naturais de compostos antioxidantes devido a sua rica composição de compostos bioativos como os compostos fenólicos, vitamina E, minerais como selênio e zinco, carotenoides entre outros (Zuleta et al., 2009). A presença destes compostos nos alimentos tem sido relacionada com a prevenção do estresse oxidativo, uma das principais causa de inúmeras doenças crônicas como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. O estresse oxidativo é resultado do desequilíbrio entre as espécies reativas de oxigênio (ERO) e o sistema de defesa antioxidante presente no organismo ameaçando a função normal da célula ou do organismo. Inúmeros fatores colaboram para o aumento na produção das EROs como uma resposta do organismo durante processo inflamatório, consequência de doenças, por fatores externos e estilo de vida, como exposição a herbicidas, toxinas, tabagismo, alcoolismo, poluentes ambientais e radiação (Valkon et al., 2007). O aumento na produção das EROs no organismo ocorre quando o mecanismo de defesa esta comprometido devido a redução dos principais agentes de defesa antioxidante enzimáticos, que são as enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) (Gálvez, 2010). E pela ingestão reduzida de compostos antioxidantes provenientes da dietaerro (Blomhoff, 2005). Causando danos moleculares e aos tecidos do organismo como no DNA, proteínas, lipídios e genes. E consequentemente o organismo ficar mais suscetível ao aumento do risco de doenças como diabetes, doenças neurodegenerativas, câncer e doenças cardiovascular (Gutteridge e Halliwell, 2000; Blomhoff, 2005). As principais ERO produzidas são hidroxila (OH•), íon superóxido (O2 -• ), alcoxila (RO•), peroxila (ROO•), 42 peróxido de hidrogênio (H2O2) e peridroxila (HOO•). Além de oxigênio singlete, complexos de metais de transição, radicais de nitrogênio entre outros. O sistema de defesa antioxidante para combater as EROs e manter o equilíbrio oxidativo é formado pelos antioxidantes enzimáticos como as superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase, juntamente com os antioxidantes não enzimáticos, como as vitaminas C e E, carotenoides e compostos fenólicos (Blomhoff, 2005). A capacidade antioxidante dos compostos fenólicos esta relacionada com a sua estrutura química. O número e a configuração de grupamentos hidroxil doadores de hidrogênio, assim como as duplas ligações conjugadas, parecem ser os principais fatores estruturais a influenciar a atividade antioxidante (Wada et al., 2007). A capacidade antioxidante total (CAT) de diversos compostos nos alimentos pode ser mensurada através de metodologias in vitro. Os métodos químicos para determinação da atividade antioxidante estão divididos quanto à natureza da reação envolvida, em dois grupos principais, os que envolvem transferência de elétrons e os que envolvem transferência de átomos de hidrogênio. Eles se diferenciam quanto ao radical iniciador, à cinética da reação e às reações laterais. (Huang e Prior, 2005). Cada ensaio usado nos métodos se difere pelo grau de complexidade, sensibilidade, mecanismos e espécies reativas envolvidas. Dentre os métodos baseados na transferência de átomos de hidrogênio, estão o ORAC (oxygen radical absorbance capacity), o TRAP (total radical trapping antioxidant parameter) e o LDL (lipoproteína de baixa densidade). A maioria destas metodologias baseia-se na reação competitiva entre o antioxidante e o substrato para formação do radical por decomposição de compostos azo, permitindo o acompanhamento da reação por ultravioleta ou por fluorescência (ORAC) (Huang e Prior, 2005). Já entre os métodos que o mecanismo de ação envolve a transferência de elétrons, destacam-se o ABTS expresso em TEAC (Trolox® equivalence antioxidant capacity), o FRAP (ferric ion reducing antioxidante parameter) e o DPPH (diphenil-1-picryhydrazyl). As metodologias que envolvem a transferência de elétrons baseiam-se na redução do substrato por ação dos componentes antioxidantes presentes na amostra, que apresentam comportamento espectral distinto no estado oxidado e reduzido (Re et al. 1999; Huang and Prior, 2005). Porém é importante destacar que a atividade antioxidante medida in vitro sugere a bioatividade do composto ou mistura que esta sendo analisada, não a determina. A avaliação de atividade antioxidante baseada em metodologias in vitro deve ser feita com cautela uma 43 vez que as mesmas não consideram fatores como biodisponibilidade, estabilidade do composto in vivo e retenção dos antioxidantes (Huang e Prior, 2005). Além disso, o efeito do composto antioxidante numa matriz alimentar pode ser significativamente diferente da sua atividade no extrato purificado, como geralmente é feita a medição da atividade antioxidante dos alimentos (Brewer, 2011). 4. Espectrometria de Massas de Alta Resolução (EMAR) na determinação de compostos fenólicos A espectrometria de massa (EM) tem evoluído desde 1940 com a melhoria das tecnologias de vácuo e fontes de íons e o desenvolvimento do analisador de massa quadrupolo em 1953. Hoje, após um constante aprimoramento desta tecnologia um espectrômetro de massa passou a ser um equipamento quase que padrão em um laboratório analítico moderno, indispensável para a investigação científica em um nível elevado. Devido às diferentes características instrumentais em ionização, resolução, velocidade de digitalização e fragmentação MS é uma técnica versátil, com aplicações descritas a partir de estudos de astronomia, geofísica, biologia e medicina. Dentre as aplicações da espectrometria de massas destacamos a análise de metabólitos secundários em plantas, pois esta é uma tarefa desafiadora devido à sua diversidade química, geralmente baixa concentração e variabilidade, mesmo dentro da mesma espécie. A espectrometria de massa possibilita a identificação com elevada precisão e especificidade das moléculas além de possibilitar a elucidação das estruturas químicas de moléculas, tais como peptídeos, polifenóis e os outros compostos químicos. O princípio da EM consiste na ionização dos compostos químicos para gerar moléculas carregadas ou fragmentos de moléculas e medir sua razão massa-carga(m/z) (Sparkman, 2000). As principais fontes utilizadas para analisar compostos fenólicos são: bombardeamento atómico rápido (FAB), ionização por eletrospray (ESI), ionização a pressão atmosférica (API), incluindo a ionização química a pressão atmosférica (APCI), pressão atmosférica foto- ionização (APPI) e Ionização e dessorção a laser assistida por matriz (MALDI) (Fulcrand et al., 2008 ). As técnicas de cromatografia de espectrometria de massa atualmente são consideradas uma das melhores abordagens analíticas para estudar os polifenóis em amostras de vegetais, e 44 são a ferramenta mais eficaz no estudo da estrutura de flavonoides. A abordagem EM/EM é uma ferramenta muito poderosa que permite a caracterização de molécula complexas como as procianidinas, proantocianidinas, prodelphinidinas e taninos (Flamini, 2003). A aplicação da técnica de High-Resolution Mass Spectrometry (HRMS) ou no português Espectometria de Massas de Alta Resolução (EMAR) tem crescido nos últimos anos. Inicialmente suas principais aplicações eram no estudo de metabolismo de drogas com o intuito de controle toxicológico de medicamentos e desenvolvimento de novas substâncias, além do controle de doping. O EMAR é uma importante ferramenta analítica em metabolômica esta técnica fornece a medição de massa exata, o que é útil na discriminação de íons com a mesma massa nominal e fornece dados sobre a composição elementar de compostos para posterior identificação. Apresenta alta sensibilidade em modo de aquisição de varredura completa e de alta precisão em massa (Maurer et al., 2013). Com o mesmo instrumento pode-se realizar uma variedade de funções: target (análise qualitativa dirigida) e non-target (analise qualitativa não dirigida). A futura tendência no uso da EMAR é a realização de um procedimento sistemático onde são analisados os analitos no modo target, ou seja, com o uso de padrões de referência e no modo non-target onde é realizada uma triagem investigando compostos que supostamente podem estar presentes na amostra sem o uso de padrões de referência (Krauss et al., 2010). A análise non-target é bastante trabalhosa, difícil e demorada especialmente quando não existem bancos de dados para os compostos investigados. O procedimento de análise non-target é iniciado pela detecção automatizada pela massa exata na corrida cromatográfica, seguido pela obtenção da fórmula elementar para a massa exata de interesse, e posteriormente uma busca das possíveis estruturas para essa massa exata em bancos de dados químicos disponíveis para determinar sua fórmula elementar (Krauss et al., 2010). A utilização de grandes bibliotecas de espectros de massa (teórico e/ou empírica) podem facilitar a identificação e detecção dos possíveis compostos. O analisador de massa utilizado com a EMAR tem sido o Orbitrap. Este analisador opera por armadilha de íons em torno de um eletrodo central e mede os valores de m/z a partir da freqüência das oscilações harmónicas de iões (Figura 6). Este dispositivo tem alta resolução de massa (> 100.000 FWHM) e alta precisão de massa (<5 ppm). Sua principal desvantagem é a sua velocidade de varredura, que é inversamente proporcional à resolução de massa. Apenas uma varredura por segundo pode ser adquirida ao selecionar a resolução de 100.000, o que afeta a reprodução do formato de pico cromatográfica. Assim é necessário 45 estabelecer um faixa ideal de trabalho entre a resolução e a faixa de varredura de m/z estipulada (Makarov e Scigelova, 2010; Kellman et al., 2009). Figura 6: Esquema representativo do analisador Orbitrap Qexactive (Michalski et al., 2011). Devido ao alto poder de resolução da EMAR estudos recentes tem aplicado esta técnica para investigar a identidade de compostos fenólicos em amostras de alimentos. Hiffault et al. (2014) utilizando a EMAR sugeriu a identificação de 60 compostos fenólicos presentes em diferentes partes de Rosa hybrida cv. Outros estudos reportam a aplicação desta técnica na identificação non-target de antocianinas, taninos e outros flavonóides em amostras complexas de alimentos (Lin et al., 2011; Sun et al., 2012). 5. Encapsulamento A encapsulação é a tecnologia utilizada para empacotar sólidos, gotículas de líquidos ou material gasoso com finas coberturas poliméricas, formando pequenas partículas definidas de acordo com o tamanho em macrocápsulas (>5000 μm), microcápsulas (0,2-5000 μm) e nanocápsulas (<0,2 μm) (Reineccius, 2004; Dessai and Park, 2005). As cápsulas são formadas pelo núcleo, também denominado material encapsulado, que pode ser uma mistura de substâncias ou um material puro, que é o material ativo que se deseja encapsular. Já o material que forma a cápsula conhecido como encapsulante, material de parede ou matriz, pode ser um ESI Quadrupolo HCD Collision Cell Lentes C-Trap 46 carboidrato, gomas, proteínas, polissacárideos naturais ou modificados, lipídios e polímeros sintéticos (Gibbs et al., 1999; Mozafari, 2006; Wandrey et al., 2009). Dependendo da técnica aplicada na obtenção das cápsulas e, do material de parede utilizado, as partículas produzidas recebem diversas classificações de acordo com a morfologia obtida. Dentre as morfologias mais comuns destacam-se as micropartículas, quando apresentam um núcleo disperso na matriz encapsulante, e as microcápsulas, quando apresenta um núcleo bem definido (Fang e Bhandari, 2010) (Figura 7). Figura 7: Modelos das principais formas de encapsulação: microcápsula (A) e micropartícula(B). A encapsulação é aplicada na indústria alimentícia para melhoria nas características sensoriais dos alimentos, desenvolvimento de novos produtos com propriedades funcionais e melhoria na conservação de componentes, como vitaminas e aromas (Dessai and Park, 2005). As cápsulas apresentam propriedades de reduzir a reatividade do núcleo com o ambiente, diminuir a velocidade de evaporação ou transferência do material do núcleo para o meio, facilitar a manipulação do encapsulado, promover a liberação controlada, mascarar odor e sabor desagradáveis, além de promover a diluição homogênea do material encapsulado em um produto alimentício (Shahidi and Han, 1993). O crescente uso da tecnologia de encapsulação na indústria alimentícia tem ocorrido devido às novas necessidades em desenvolver produtos com propriedades cada vez mais complexas nas formulações e a busca por adição de substâncias que promovam a saúde, como a adição de vitaminas, minerais e componentes bioativos que são aplicados mais facilmente pelo uso desta tecnologia (Gouin, 2004). A encapsulação permite melhorar a aplicação de moléculas bioativas em alimentos (por exemplo, antioxidantes, minerais, vitaminas, fitoesteróis, luteína, ácidos graxos, carotenoides) e células vivas (por exemplo, probióticos) (Wandrey et al., 2009). Estes compostos bioativos normalmente são instáveis e se degradam com uma maior facilidade devido às condições do meio como, temperatura, luz, umidade e oxigênio ou as condições gastrointestinais após a ingestão. O encapsulamento dessas substâncias promove uma proteção efetiva preservando Material de parede Núcleo Material de parede Núcleo (A) (B) 47 suas características sensoriais e funcionais, além de através da liberação controlada proporciona maior biodisponibilidade destes compostos no organismo e com isto, potencializa seus efeitos benéficos à saúde (Dessai and Park, 2005). 5.1 Agente encapsulante A escolha do agente encapsulante é um dos principais critérios para definir as características e aplicações das partículas desenvolvidas, relacionando-se à funcionalidade e a estabilidade das partículas que se deseja obter. Algumas características que podemos destacar para escolha do material de parede são: promover uma boa formação de filme, ter baixa higroscopicidade,
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