Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE NUTRIÇÃO JOSUÉ DE CASTRO MODIFICAÇÕES DOS INDICADORES SOCIAIS, INSEGURANÇA ALIMENTAR E CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS MENORES DE TRINTA MESES RESIDENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 2005 E 2010. MARINA MARIA LEITE ANTUNES RIO DE JANEIRO 2016 ii MODIFICAÇÕES DOS INDICADORES SOCIAIS, INSEGURANÇA ALIMENTAR E CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS MENORES DE TRINTA MESES RESIDENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 2005 E 2010. MARINA MARIA LEITE ANTUNES Rio de Janeiro Fevereiro – 2016 Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Nutrição, do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Nutricionais. Orientadora: Drª. Rosana Salles-Costa. 3 Antunes, Marina Maria Leite Modificações dos indicadores sociais, insegurança alimentar e consumo alimentar de crianças menores de trinta meses residentes na região metropolitana do rio de janeiro nos anos 2005 e 2010. / Marina Maria Leite Antunes. – 2016. 117 f. :il. Tese (Doutorado em Ciências Nutricionais) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Programa de Pós- Graduação, 2016. Orientadora: Profª. Drª. Rosana Salles da Costa. 1. Insegurança Alimentar. 2. Indicadores sociais. 3.Alimentação infantil. 4. Padrões alimentares. – Teses. I. Salles-Costa, Rosana (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição. Programa de Pós-Graduação em Nutrição. III. Título. 4 MODIFICAÇÕES DOS INDICADORES SOCIAIS, INSEGURANÇA ALIMENTAR E CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS MENORES DE TRINTA MESES RESIDENTES EM UMA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRONOS ANOS 2005 E 2010. MARINA MARIA LEITE ANTUNES Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos à obtenção do título de Doutor em Ciências Nutricionais. Aprovada em: ________________________________________ Profª. Drª. Rosana Salles da Costa (Presidente) Instituto de Nutrição Josué de Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro _______________________________________ Profª. Drª. Elisa Maria Aquino Lacerda Instituto de Nutrição Josué de Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro _________________________________________ Profª. Drª. Gloria Valeria da Veiga Instituto de Nutrição Josué de Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro __________________________________________ Profª. Drª. Edna MassaeYokoo Departamento de Epidemiologia e Bioestatística Universidade Federal Fluminense ___________________________________________ Profª. Drª. Odaleia Barbosa de Aguiar Instituto de Nutrição Universidade do Estado do Rio de Janeiro _____________________________________________ Prof. Dr. Eliseu Verly Junior Instituto de Medicina Social Universidade do Estado do Rio de Janeiro 5 Dedico esse trabalho ao meu filho Eduardo, luz da minha vida, que chegou no meio dessa jornada me dando forças e razões para sorrir diariamente. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado força e saúde ao longo dessa jornada. Aos meus pais, Antônio e Sheila, por sempre me incentivarem nos meus estudos e por todo o suporte e carinho fundamentais, comigo e com meu filho. Ao meu irmão, Felipe, sempre disposto a me ajudar em todos os momentos que precisei. Aos meus familiares e amigos que direta ou indiretamente me apoiaram e torceram pela conclusão desta tese. À minha orientadora Rosana, pela oportunidade de aprendizado,pela amizade e companheirismo ao longo desta caminhada, por tudo que me ensinou durante o curso de doutorado e por toda a ajuda, incentivo e apoio fundamentais. Às amigas do grupo SANDUC por todos os momentos compartilhados, pelo companheirismo e suporte nas dificuldades. A todas as crianças e famílias que participaram desse estudo, sem eles nada disso seria possível. 7 APRESENTAÇÃO Esta tese foi elaborada a partir dos dados de dois inquéritos domiciliares, desenvolvidos nos anos de 2005 e 2010 na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, coordenados pela professora Drª Rosana Salles da Costa, do Departamento de Nutrição Social e Aplicada, Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para a execução dos projetos, foram obtidos financiamentos por agências de fomento nacionais e estaduais. Em 2005, o projeto denominado “Avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança alimentar no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro: desenvolvimento de um instrumento simplificado para avaliação de consumo alimentar saudável” obteve apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo MCT/CNPq/M05-2003. Por sua vez, a pesquisa realizada em 2010 intitulada “Variação de Insegurança Alimentar e Nutricional, do consumo dietético e de sobrepeso no período de 2005 a 2009/2010 em Duque de Caxias” obteve apoio financeiro do CNPq, processo 476344/2008-5 e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), processos E26/110.785/2010 e E26/103.296/2011. Ambas as pesquisas foram realizadas em parceria com outros pesquisadores do INJC/UFRJ, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro da Universidade Federal Fluminense. Cabe ressaltar que a autora desta tese atuou nas duas pesquisas. Na primeira, como entrevistadora e na análise de dados relacionados à população infantil. Na segunda pesquisa, como supervisora de campo colaborando em todas as etapas de sua realização - treinamento dos entrevistadores, supervisão da coleta de dados, análise de dados, redação de relatórios de pesquisa e de resumos apresentados em congressos da área. A presente tese teve como objetivo analisar os dados relacionados à população infantil delimitada na faixa etária de 6 a 30 meses, relacionando possíveis modificações entre os perfis sociodemográficos e do consumo alimentar do grupo etário, tendo como desfechos principais – grau de insegurança alimentar das famílias e padrão alimentar das crianças. Para isso, utilizou as informações sociodemográficas das famílias, com ênfase nas modificações dos indicadores sociais e de insegurança alimentar, bem como dados do consumo alimentar do grupo etário, comparando os desfechos nos anos 2005 e 2010. 8 A tese é composta pelas seguintes seções: 1) Introdução, onde se discute a relevância do estudo; 2) Revisão da Literatura sobre a insegurança alimentar e os indicadores sociais das famílias, suas associações e relação com o consumo alimentar infantil; 3) Objetivos do estudo; 4) Materiais e Métodos empregados no desenvolvimento da tese; 5) Resultados apresentados na forma de dois manuscritos (artigos científicos). O primeiro artigo estima as modificações na associação entre os indicadores sociais e a insegurança alimentar de famílias com crianças. O segundo artigo descreve os padrões alimentares das crianças, separados por faixa etária nos dois anos de estudo (2005 e 2010), e analisa suas associações com as variáveis socioeconômicas das famílias. Por fim, a (6) Conclusão que ressaltaos principais resultados encontrados no estudo. Todas as referências utilizadas foram apresentadas segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 9 RESUMO ANTUNES, Marina Maria Leite. Modificações dos indicadores sociais, insegurança alimentar e consumo alimentar de crianças menores de trinta meses residentes em uma região metropolitana do rio de janeiro nos anos 2005 e 2010. Rio de Janeiro, 2016. Tese (Doutorado em Ciências Nutricionais) – Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Este estudo teve como objetivos (1) descrever a variação dos indicadores sociais e sua associação com a insegurança alimentar (IA) entre famílias com crianças em dois inquéritos populacionais realizados no Rio de Janeiro; (2) avaliar as mudanças no padrão de consumo alimentar de crianças menores de trinta meses residentes na região metropolitana do Rio de Janeiro nos anos de 2005 (n=391) e 2010 (n=443) e estimar a associação desse consumo com os indicadores sociais em cada ano de estudo. Foram utilizados dados de dois inquéritos domiciliares realizados no município de Duque de Caxias nos anos de 2005 e 2010. As informações socioeconômicas das famílias foram obtidas por questionário. A IA foi estimada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. O consumo alimentar foi avaliado por meio de recordatórios de 24 horas e os padrões dietéticos foram gerados por análise fatorial de componentes principais. As frequências foram comparadas pelo teste Qui-Quadrado e para investigar as associações de IA com os indicadores sociais foi adotada a regressão logística multinomial (odds ratio – OR) e regressão linear para estimar associação dos padrões dietéticos com as variáveis socioeconômicas. Para significância estatística considerou-se p<0,05. Houve redução nas prevalências de IA, aumento na escolaridade dos chefes de famílias, redução da aglomeração familiar e maior acesso ao filtro para consumo de água. No ano de 2005, a renda familiar esteve inversamente associada a todos os níveis de IA e a escolaridade do chefe da família apresentou um OR de 3,08 (IC 95% 1,09-8,15) para IA leve e 5,24 (IC% 1,2 – 22,89) para IA moderada/grave. No ano de 2010, a presença de filtro para consumo de água (OR=4,01 IC95% 1,91- 8,54), a renda mensal per capita (OR=0,99 IC95% 0,98-0,99) e a classificação socioeconômica da família nas categorias D e E (OR=6,81 IC% 1,15-40,09) permaneceram significativamente associadas com as formas mais graves de IA. Quanto ao consumo alimentar, foram identificados padrões diferentes nos dois inquéritos sendo: (i) em 2005, três padrões alimentares nas crianças menores de 18 meses (“Tradicional”, “Leite e Farinhas Infantis” e “Misto”) e dois padrões alimentares nas crianças de 18 a 30 meses (“Tradicional” e “Misto”) e (ii) no ano de 2010, 3 padrões em ambas as faixas etárias avaliadas “Lanches”, “Misto-monótono”, “Misto” para os menores de 18 10 meses e “Tradicional misto”, “Monótono” e “Misto”entre as crianças de 18 a 30 meses. Em 2005, o padrão “Tradicional” se associou negativamente com a IA e a classificação socioeconômica das famílias. O padrão “Misto” se associou positivamente com a renda mensal per capita e o tratamento da água usada para consumo e negativamente com o número de moradores no domicílio entre os menores de 18 meses. Entre as crianças de 18 a 30 meses o padrão “Tradicional” apresentou associação negativa com o tratamento da água para consumo, enquanto o padrão “Misto” se associou negativamente com a IA e a classificação socioeconômica das famílias. No ano de 2010, em crianças menores de 18 meses o padrão “Misto monótono” apresentou associação positiva com o recebimento do benefício do programa bolsa família e o padrão “Misto” apresentou associação negativa com o tratamento da água de consumo. Entre as crianças maiores de 18 meses, o padrão “Tradicional misto” se associou negativamente com a IA. O padrão “Misto” foi associado negativamente com o número de moradores no domicílio, porém, algumas mudanças no perfil de consumo da população estudada não apresentaram associação com nenhuma variável socioeconômica. Os resultados apontam um avanço importante nos indicadores sociais da população estudada, porém reforçam como os determinantes avaliados podem impactar a IA e o consumo alimentar na faixa de etária em questão. Assim, os resultados desta tese contribuem para a discussão sobre a necessidade de ações que garantam um maior acesso a alimentação adequada, por meio de investimentos sociais e de ações que incentivem as escolhas alimentares mais saudáveis. Palavras-chave: Insegurança Alimentar, indicadores sociais, alimentação infantil, padrões alimentares. 11 ABSTRACT ANTUNES, Marina Maria Leite. Changes in social indicators, food insecurity and food intake in children under thirty months living in a metropolitan area of Rio de Janeiro, in 2005-2010.Rio de Janeiro, 2016. Tese (Doutorado em Ciências Nutricionais) – Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. The aims of this study were (1) to describe the change in social indicators and their association with food insecurity (FI) among families with children in two household surveys in Rio de Janeiro; (2) assess changes in dietary patterns of children under thirty months in the metropolitan area of Rio de Janeiro state, in 2005 (n = 391) and 2010 (n = 443) and to estimate the association of dietary intake with social indicators in each year of study. Two household surveys data conducted in Duque de Caxias city in 2005 and 2010 were used. The socioeconomic information of the families were obtained by questionnaire. The FI was estimated by the Brazilian Food Insecurity Scale. Dietary intake was assessed by 24-hour recalls and dietary patterns were generated by principal components analysis. The frequencies were compared by chi-square test and the FI associations with social indicators was adopted multinomial logistic regression (Odds ratio - OR) and linear regression to estimate the association of dietary patterns with socioeconomic variables. Statistical significance was considered p <0.05. There was a reduction in FI prevalence, increased education of the householder, reduced household crowding and greater access to the filter for drinking water. In 2005, the family income was inversely associated with all FI levels and the education of the householder had an OR of 3,08 (CI 95% 1,09-8,15) for light FI and 5,24 (CI95% 1,2 – 22,89) for moderate and severe FI. In 2010, the presence of filter for water consumption (OR=4,01 CI95% 1,91-8,54), the per capita monthly income (OR=0,99 CI95% 0,98-0,99) and the socioeconomic classification of the family in categories D and E (OR=6,81 IC% 1,15-40,09) remained significantly associated with the most severe forms of FI. As for food intake, different patterns were identified in the two surveys are: (i) in 2005, three dietary patterns in children under 18 months of age ( "Traditional", "Milk and Flour Child" and "Mixed") and two dietary patterns in children 18-30 months ("Traditional" and "Mixed") and (ii) in 2010, three patterns in both age groups assessed "Snacks", "Mixed-drab", "Mixed" for those under 18 months and "mixed traditional", "monotonous" and "mixed" among children 18-30 months. In 2005, the "Traditional" pattern was negatively associated with the FI and the socioeconomic classification of families. The "Mixed" pattern was positively associated with per 12 capita monthly income and the treatment of water used for consumption and negatively correlated with the number of household members between the age of 18 months. Among children 18 to 30 months, the "Traditional" pattern was negatively associated with the treatment of drinkingwater, while the "Mixed" pattern is negatively associated with the FI and the family socioeconomic classification. In 2010, among children under 18 months the "monotonous Mixed" pattern showed a positive association with receiving the the Bolsa Família benefit and the "Mixed" pattern was negatively associated with the treatment of drinking water. Among children older than 18 months, the "mixed Traditional" pattern was negatively associated with FI. The "Mixed" pattern was negatively associated with the number of household members, however, some changes in the population studied consumption patterns were not associated with any socioeconomic variable. The results show an important advance in population social indicators, however reinforce as evaluated determinants impact the FI and food intake in this age group . Thus, the results of this thesis contribute to the discussion about the need for action to ensure greater access to adequate food, through social investment and actions that encourage healthier food choices Keywords: Food insecurity, social indicators, Child nutrition , Dietary Patterns. 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 14 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................. 17 2.1 Insegurança alimentar e nutricional.................................................................. 17 2.2 Indicadores sociais............................................................................................ 21 2.2.1 Indicadores sociais e Insegurança alimentar......................................... 22 2.3 Consumo alimentar infantil e insegurança alimentar....................................... 23 3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 26 4. OBJETIVOS.......................................................................................................... 27 4.1 Objetivo geral .................................................................................................. 27 4.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 27 5. MÉTODOS............................................................................................................. 28 5.1 População e desenho do Estudo....................................................................... 28 5.2 Amostragem...................................................................................................... 28 5.3 Avaliação da situação de Insegurança Alimentar das famílias......................... 30 5.4 Avaliação dos indicadores sociodemográficos................................................. 30 5.5 Avaliação do consumo Alimentar Infantil ....................................................... 32 5.5.1 Identificação dos padrões alimentares das crianças.............................. 32 5.6 Análise dos dados............................................................................................. 36 5.7 Considerações éticas......................................................................................... 37 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 38 6.1 Manuscrito 1..................................................................................................... 57 6.2 Manuscrito 2..................................................................................................... 57 7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................ 84 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 87 9. ANEXOS................................................................................................................. 94 14 1. INTRODUÇÃO Insegurança alimentar (IA) é um conceito em constante debate no cenário mundial (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA - FAO, 2014) e expressa a dificuldade de acesso aos alimentos por falta de trabalho ou baixo nível de renda, que repercute na disponibilidade dos alimentos na família (MALUF e REIS, 2013). Tal indicador tem sido tema relevante na literatura nacional e internacional em função de sua importância na garantia de direitos humanos (KEPPLE e SEGALL-CORREA, 2011) e repercussões nos diferentes grupos populacionais (PEDRAZA, QUEIROZ e MENEZES, 2013). A medida de IA é permeada por diversos indicadores sociais que muitas vezes são adotados para sua estimativa (KEPPLE e SEGALL-CORREA, 2011). Esses indicadores se complementam e permitem avaliar não só a qualidade de vida e os níveis de bem-estar dos indivíduos e grupos sociais, como também a efetivação de direitos humanos e sociais e o acesso a diferentes serviços, bens e oportunidades (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2012). A diversidade de indicadores utilizados para mensurar IA se deve ao caráter multidimensional de seu conceito, uma vez que há vários fatores incorporados no seu conceito, como o acesso econômico ao alimento e as escolhas alimentares, que por sua vez se associam aos indicadores sociais como a renda ea escolaridade do chefe da família (BURLANDY, 2009). Dessa forma, na literatura nacional diferentes estudos descrevem a associação de indicadores sociodemográficos com situação de IA das famílias em diferentes regiões do país (AIRES et al., 2012; ANSCHAU,MATSUO e SEGALL- CORRÊA, 2012; SOUZA et al., 2012; VELÁSQUEZ-MELENDEZ et al., 2011;PIMENTEL, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2009). No Brasil de acordo com as edições da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) na última década (2004 e 2009), a prevalência de domicílios em situação de segurança alimentar (SA) aumentou de 65,1% para 69,8%, entre os anos de 2004 e 2009 e consequentemente observou-se redução nas proporções de todos os níveis de IA (IBGE, 2014). Esses avanços foram acompanhados por melhorias nos indicadores sociais associados, como a renda e a escolaridade (IBGE, 2012a). Tais progressos são importantes para a garantia da segurança alimentar e nutricional (SAN). Contudo no cenário nacional persistem extremas desigualdades sociais expressas nas disparidades de renda, de acesso a recursos, reforçadas pelas desigualdades regionais, raciais e étnicas (CONSEA, 2015). 15 Considerando que famílias com crianças representam um grupo vulnerável face aos altos riscos à saúde a que estão expostas durante o seu crescimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2002), é possível entender a maior vulnerabilidade desse grupo diante de situações que agravam as desigualdades sociais, repercutindo na garantia da SAN e dos direitos humanos à alimentação adequada (GUBERT, BENICIO e SANTOS, 2010; POBLACION et al., 2014). A faixa etária infantil é mais suscetível e vulnerável aos agravos nutricionais ocasionados pela fome e desequilíbrio nutricional (MONTEIRO et al. , 2013).Uma alimentação adequada, especialmente nos dois primeiros anos de vida é essencial, pois esse período é caracterizado por rápido crescimento, desenvolvimento e formação dos hábitos alimentares, que podem permanecer ao longo da vida (SOTERO, CABRAL e SILVA, 2015). Ao longo das últimas décadas, o Brasil sofreu marcantes modificações políticas, econômicas e sociais que contribuíram consideravelmente para mudanças no perfil nutricional da população infantil. Foi possível observar o declínio na prevalência da desnutrição em crianças menores de cinco anos, fato evidenciado pela saída do Brasil do Mapa Mundial da Fome, publicado pela FAO em 2015 (FAO, 2014; FAO, 2015). Por outro lado, em função, principalmente, do processo de modernização industrial da difusão de práticas alimentares incorretas que estimulam a superalimentação, o sobrepesoe a obesidade infantil vêm ganhando relevância no cenário nacional (IBGE, 2011). Considerando o aumento progressivo das doenças crônicas não transmissíveis na América Latina e sua relação com a dieta da criança em idade precoce, as atenções para os excessos na alimentação infantil nos primeiros anos de vida, ganharam importante papel na agenda pública para promoção de alimentação saudável (BRASIL, 2002). Como reflexo destas modificações, a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF - 2008-2009) apresentou a evolução dos indicadores antropométricos de crianças brasileiras entre cinco e nove anos desde 1974-1975 houve aumento do sobrepeso de 10,9% 34,8% em meninos e de 8,6% para 32% em meninas (IBGE, 2010a). Esse aumento pode ser compreendido observando-se a evolução do consumo alimentar da população brasileira, caracterizado por substituição de alimentos caseiros e naturais por alimentos industrializados, considerados supérfluos, com elevada densidade energética e baixa qualidade nutricional (IBGE, 2011). Essas mudanças também foram observadas na população de crianças menores de cinco anos, com aumento da oferta de alimentos de alto valor energético, como os refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos, doces e salgadinhos (BORTOLINE, GUBERT e SANTOS, 2012, IBGE, 2015; BRASIL, 2009; LONGO-SILVA et al., 2015). As práticas alimentares são determinantes das condições de saúde na infância e estão fortemente condicionadas ao perfil socioeconômico das famílias. Alguns estudos mostraram que a alimentação infantil pode estar associada à renda familiar, a escolaridade, a inserção da família em programas de 16 transferência de renda, a IA, entre outros, por refletir a aquisição e o acesso aos alimentos (MOLINA et al., 2010; MOREIRA et al., 2010; D´INNOCENZO et al., 2011,VILLA et al., 2015, MUNDO-ROSAS et al., 2014, DE BEM LIGNANI et al., 2011, LEVY-COSTA et al., 2005). Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a variação dos indicadores sociais e sua associação com a IA entre famílias com crianças em dois inquéritos populacionais realizados no Rio de Janeiro com intervalo de cinco anos entre os estudos. Considerando as mudanças no perfil socioeconômico das famílias no período avaliado e sua importância na garantia de uma alimentação adequada nutricionalmente, especialmente durante a introdução de alimentos complementares, também irá avaliar as mudanças no padrão de consumo das crianças e estimar sua associação com os indicadores sociais em cada ano de estudo. 17 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A alimentação constitui um dos direitos humanos básicos, e sua inclusão na Constituição Federal Brasileira somente no ano de 2010 após a Emenda Constitucional 064/2010, consolida a segurança alimentar e nutricional como uma questão de cidadania. De acordo com documento aprovado na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e incorporado na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan) (BRASIL, 2006), SAN é definida como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. SAN envolve diversas dimensões que perpassam o indivíduo, as comunidades, os grupos sociais e os países (MALUF e REIS, 2013). Como destaca Burlandy (2009), trata-se de conceito multidimensional, que envolve toda a cadeia alimentar, sendo determinada por fatores que vão desde a produção agrícola, distribuição e acesso dos alimentos à população, acesso econômico ao alimento, até a própria escolha alimentar, e está diretamente associada a outros indicadores sociais,como renda e escolaridade do chefe da família. Seu inverso, IA, expressa dificuldade de acesso aos alimentos por falta de trabalho ou baixo nível de renda, que repercutem na disponibilidade dos alimentos na família, como destacam Maluf e Reis (2013). De acordo com Panigassi e colaboradores (2008), famílias que se encontram em situação de IA revelam iniquidades sociais que implicam na garantia de alimentação saudável e assim, na qualidade de vida das pessoas que convivem nessas famílias, afetando a saúde principalmente de crianças. A compreensão sobre os efeitos prejudiciais potenciais da IA evoluiu nos últimos anos, revelando efeitos de natureza nutricional e não nutricional, como cognitivas e psicossociais(FAO, 2014). Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, nos últimos 10 anos ocorreu uma redução de 167 milhões de pessoas com fome no mundo, mais expressiva em países em desenvolvimento (FAO, 2015). Entretanto, de acordo com o relatório, a fome ainda é um desafio a ser enfrentado, dado a permanência de cerca de 790 milhões de pessoas subnutridas no mundo, revelando os desafios que vários países ainda enfrentam no combate a fome entre grupos menos favorecidos e expostos aos agravos advindos das desigualdades sociais. 18 No Brasil, de acordo com a última PNAD 22,6% dos domicílios, representando 52 milhões de pessoas, apresentavam algum grau de IA. Dentre essas, 14,8% estão em situação de IA leve, 4,6% em IA moderada e 3,2% em IA grave (IBGE, 2014). Em relação às PNADS de 2004 e 2009 realizadas na última década (2004 e 2009), a prevalência de domicílios em situação de SAN aumentou (de 65,1%, em 2004 para 69,8%, em 2009). Em 2004, o percentual de domicílios particulares em IA leve, moderada e grave eram, respectivamente, 18,0%, 9,9% e 6,9%. Em 2009, eram 18,7%, 6,5% e 5,0%, respectivamente. Desta forma, pode-se observar que no período houve crescimento da IA leve e redução da IA moderada e grave. No entanto, de 2009 para 2013, a prevalência de IA reduziu nos três níveis (IBGE, 2014). Apesar dos avanços, tendo em vista crescente visibilidade e a importância da temática de IA, torna-se fundamental acompanhar sua prevalência na população, especialmente, nos grupos sociais mais vulneráveis, bem como os fatores associados. Esse monitoramento é fundamental a avaliação das condições de vida e, consequentemente, para o planejamento e avaliação de programas e políticas públicas nesse campo. Destacando a necessidade do estudo de indicadores da situação de SA/IA que possibilitem o acompanhamento da sua evolução, a avaliação de propostas de intervenção e que permitam comparabilidade ao longo do tempo e segundo as diversas regiões (PEDRAZA, QUEIROZ e MENEZES, 2013). Segundo Pérez-Escamilla e Segall-Corrêa (2014) o único método para medida direta de IA é representado por uma escala fundamentada na experiência/percepção de IA.A metodologia desenvolvida e utilizada pela Universidade de Cornell, para avaliação da IA no nível familiar (BICKEL et al., 2000), vem sendo aplicada em vários países para dimensionar sua magnitude (RADIMER et al., 2002). Embasados nesse instrumento, pesquisadores de várias instituições brasileiras validaram um método para a avaliação da SA na população brasileira, denominada Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) (SEGALL-CORREA et al., 2014). Seu uso em estudos populacionais tem sido recomendado, sendo considerada por especialistas da área, como indicador da situação de IA (SALLES-COSTA, 2012). A EBIA é constituída por perguntas que avaliam desde a preocupação com a futura falta do alimento até a sua ausência propriamente dita, compreendendo quatro dimensões: componente psicológico, diminuição da quantidade, qualidade e fome. O somatório do número de respostas afirmativas resulta em um escore que permite a classificação das famílias em quatro categorias: 1) Segurança alimentar – quando não há restrição alimentar de qualquer natureza, nem mesmo a preocupaçãocom a falta de alimentos no futuro; 2) IA leve – quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos, portanto, há o comprometimento da qualidade da dieta e o risco para a sustentabilidade da família; 3) IA moderada – quando aparecem restrições quantitativas 19 especialmente relevantes em termos do acesso ao alimento entre pessoas adultas; 4) IA grave – quando há redução importante da quantidade de alimentos disponíveis, tanto para adultos como para crianças que residem no domicílio(SEGALL-CORREA et al., 2014). Nessa situação, há evidente quebra nos padrões usuais de alimentação das famílias, com alta possibilidade da ocorrência da fome (SALLES-COSTA, 2012). Inicialmente, a EBIA era constituída por 16 perguntas. Após sua utilização em dois inquéritos nacionais – PNAD no ano de 2004 (IBGE, 2004) e Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) em 2006 (BRASIL, 2008) – e em vários trabalhos de caráter acadêmico, os autores propuseram o seu aprimoramento à luz de resultados de análises realizadas pela literatura científica especializada (BRASIL, 2010). Deste modo, a EBIA passou a conter 14 perguntas e seus pontos de corte foram alterados, sendo considerado adequado e atualizado à realidade nutricional atual do país, sem alterar a consistência interna da escala. A EBIA com 14 itens e seus respectivos algoritmos foi utilizada na PNAD de 2009 (BRASIL, 2010a), permitindo, a comparação com os resultados anteriormente divulgados pela PNAD de 2004 (SEGALL-CORREA et al., 2014). O referido instrumento viabilizou estudos que traçaram um panorama e estimativas da evolução nacional de IA (IBGE, 2004, IBGE, 2010B, IBGE, 2014 e BRASIL, 2008) já citados anteriormente, bem como estudos que buscaram explorar, a sua associação com outros indicadores de saúde e desigualdades sociais, além da vulnerabilidade de alguns grupos populacionais (SALLES- COSTA, 2012). Existem diferentes estudos nacionais que descrevem a associação de indicadores sociodemográficos com a IA das famílias em diversas regiões do país, assim como com diferentes desfechos negativos (AIRES et al., 2012; ANSCHAU, MATSUO e SEGALL-CORRÊA, 2012; SOUZA et al., 2012; VELÁSQUEZ-MELENDEZ et al., 2011;PIMENTEL, SICHIERI e SALLES- COSTA, 2009). Isso mostra a importância da IA como um indicador relacionado com a saúde e o desenvolvimento infantil considerando que famílias com crianças representam um grupo vulnerável a desfechos desfavoráveis associados à pobreza (MONTEIRO et al. 2013, IPEA 2010a) Repercussões de IA na saúde infantil têm sido publicadas em diversos países, como estudos que revelam sua relação com déficits antropométricos (HACKETT, MELGAR-QUIÑONEZ e ÁLVAREZ, 2009; METALLINOS-KATSARAS, MUST e GORMAN, 2012), e com consumo alimentar (KAISER et al., 2002; MATHESON et al., 2002, KAISER et al., 2003,DAVE et al., 2009, NACKER e APPELHANS, 2013). No Brasil, vários pesquisadores destacam as repercussões das formas mais severas de IA na saúde de crianças (FAVÁRO et al., 2007, BARROSO, SICHIERI e 20 SALLES-COSTA, 2008, PANIGASSI et al., 2008,PIMENTEL, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2009;ANTUNES, SICHIERI e SALLES-COSTA,2010). Gundersen e Kreider, em 2009, adoram testes não paramétricos para reavaliar associação entre IA com desfechos desfavoráveis na saúde infantil utilizando bases de dados de pesquisas norte- americanas realizadas no período de 2001 a 2006, demonstraram existir impactos negativos da IA na saúde infantil em magnitude mais grave do que anteriormente descrito. Alguns autores mostram que em locais com alta prevalência de IA, são maiores as chances das crianças apresentarem agravos no estado nutricional, desenvolvendo algum tipo de déficit (HACKETT, MELGAR-QUIÑONEZ e ÁLVAREZ, 2009; REIS, 2011). Por outro lado, a IA também pode aumentar o risco de obesidade da população infantil (HERNÁDEZ et al., 2007; BRONTE- TINKEWN et al., 2007). Isso é ainda mais importante quando se considera que a IA pode não se expressar, como muitas vezes ocorre, em carências nutricionais e suas consequências físico-biológicas. Possíveis teorias propostas para explicar essa associação incluem: (1) aumento no consumo de alimentos de baixo custo com alta densidade energética; (2) transtornos alimentares decorrentes da ansiedade e incerteza associadas à restrição alimentar involuntária; (3) adaptações metabólicas a períodos de jejum constantes, até mesmo no período intrauterino, em situação de desnutrição de gestantes (KEPPLE & SEGALL-CORRÊA, 2011). Em uma amostra de crianças de 2 a 5 anos de idade, de famílias de baixa renda inseridas em um programa governamental em Massachusetts, observou-se que a permanência das famílias em situação de IA esteve associada com a obesidade infantil (METALLINOS-KATSARAS, MUST e GORMAN, 2012). No Brasil, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) realizada em 2006, encontrou a associação entre a IA grave e obesidade entre mulheres adultas (RP: 1,49; IC95%: 1,17-1,90) e IA moderada com excesso de peso entre adolescentes do sexo feminino (RP:1,96; IC95%: 1,18-3,27) (SCHLÜSSEL et al., 2013). Entretanto, não foi encontrada associação entre IA e obesidade em crianças de ambos os sexos e a justificativa seria que o processo de transição nutricional no Brasil modele o efeito deletério da IA no acúmulo de gordura corporal ao longo do curso da vida, sendo a associação evidente entre adolescentes e adultas, mas não entre crianças. No estudo de Santos e colaboradores (2010), os autores observaram, em famílias residentes em Pelotas, que crianças de famílias em IA coexistiam tanto com o excesso de peso e obesidade entre as crianças, como com a prevalência substancial de déficit de crescimento entre as crianças (21%). Os autores concluíram que 21 a IA poderia estar relacionada não somente à diminuição da quantidade de alimentos como à perda da qualidade nutritiva A partir do exposto justifica-se a importância de compreender como a IA se comporta ao longo do tempo na população e como os demais indicadores que captam o perfil sociodemográfico de grupos populacionais influenciam essa variável, na intenção de compreender melhor seus determinantes e possíveis desfechos desfavoráveis para a saúde e desenvolvimento infantil. 2.2. INDICADORES SOCIAIS “O conhecimento da população exige a construção e a sistematização de indicadores sociais que permitam avaliar não só a qualidade de vida e os níveis de bem-estar das pessoas, famílias e grupos sociais, como também a efetivação de direitos humanos e sociais e o acesso a diferentes serviços, bens e oportunidades” (IBGE, 2012a). Apesar de ser predominantemente avaliada pela renda familiar, a pobreza envolve outras concepções que fortalecem a necessidade de inclusão de dimensões não econômicas na análise das condições de vida, sendo baseadas nas teorias das necessidades básicas e das capacitações, como destacado por Santos e Santos (2007). De acordo com Azevedo e Burlandy (2010), a abordagem das necessidades básicas determina que uma pessoa seja pobre se ela não consegue ter acesso a uma gama de “bens primários” que atenda às necessidades humanas elementares. O estudo sobre o perfil populacional, incluindo tanto variáveis relacionadas à família, educação, trabalho, mortalidade, quanto o tamanho da população, suas alterações no tempo e a composição segundo diferentes características, é uma dimensão fundamental na análise dos indicadores sociais e das condições de vida de qualquer sociedade (IBGE, 2012a) Além disso, o impacto da pobreza no perfil de saúde tem origem nas situações persistentes de desvantagem vivenciadas por determinados grupos sociais e são afetados de modo distinto. Por outro lado, a ocorrência de doenças e consequente prejuízo no crescimento e desenvolvimento em grupos sociais como as crianças, contribuem para reforçar as vulnerabilidades sociais e econômicas, colaborandopara a persistência do ciclo perverso da pobreza (MAGALHÃES, 2007). As repercussões na saúde são observadas, principalmente, nos grupos mais vulneráveis, como a faixa etária do presente estudo, menores de cinco anos de idade. A mortalidade infantil, o prejuízo do desenvolvimento físico e mental, o baixo peso ao nascer, a mortalidade materna, o aumento da evasão escolar e a diminuição do desempenho acadêmico são eventos relacionados à carência de alimentação saudável e de qualidade, como consequência do acesso precário à renda e a bens e 22 serviços (VICTORA et al., 2011). Pesquisas demonstram que a pobreza afeta adversamente o crescimento, o desenvolvimento cognitivo e a saúde física e emocional (MONTEIRO et al. , 2013). Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicado em 2010, revelou que crianças que vivem em famílias de baixa renda, em comparação com aquelas de alta renda, apresentam maior morbidade e mortalidade, probabilidade de baixo peso ao nascer, como também de apresentar déficits nutricionais no crescimento (IPEA, 2010a). Logo, o monitoramento de indicadores sociais que possam estar relacionados a tais desfechos em grupos populacionais mais vulneráveis, como a faixa etária de estudo, representa uma estratégia fundamental possibilitando, entre outros aspectos, elaboração e acompanhamento de políticas públicas. 2.2.1. Indicadores sociais e Insegurança alimentar A medida de IA é permeada por diversos indicadores sociais que muitas vezes são adotados para sua estimativa (KEPPLE & SEGALL-CORRÊA, 2011). Ressalta-se que cada um desses indicadores sociais mensura uma parte da problemática da SAN, sendo complementares uns aos outros (GUBERT, BENICIO e SANTOS, 2010). Apesar da redução observada nos índices de IA na população brasileira nos últimos anos (IBGE, 2014) bem como melhorias em diversos indicadores sociais associados, como renda e escolaridade (IBGE, 2012a) persistem, no cenário nacional, extremas desigualdades sociais expressas nas disparidades de renda, de acesso a recursos e também nas desigualdades regionais, raciais e étnicas (CONSEA, 2015). Como dito na sessão anterior, a IA possui diversas dimensões, sendo determinada por fatores como o acesso econômico ao alimento, até a própria escolha alimentar, e está diretamente associado a outros indicadores sociais tais como, renda e escolaridade do chefe da família (BURLANDY, 2009). Nesse sentido, estudos nacionais têm descrito a associação de indicadores sociodemográficos com situação de IA das famílias em diferentes regiões do país (AIRES et al., 2012; ANSCHAU, MATSUO e SEGALL-CORRÊA, 2012; SOUZA et al., 2012; VELÁSQUEZ-MELENDEZ et al., 2011;PIMENTEL, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2009). No estudo de Aires e colaboradores em 2012 avaliando famílias de pré-escolares de uma zona rural do Ceará, os autores demonstraram associação inversa entre IA e escolaridade do responsável pela família e renda familiar, e associação direta dos níveis de IA com a maior aglomeração familiar. Em Toledo, estado do Paraná, o estudo de Anschau, Matsuo e Segall-Corrêa (2012) com famílias 23 beneficiárias de programas de transferência de renda, a IA também se associou com o maior número de moradores por domicílio, a menor escolaridade do chefe da família, a menor renda familiar per capita e com a classificação socioeconômica do domicílio nas classes D ou E de acordo com critério ABEP. No estudo de Souza e colaboradores (2012), foi encontrada associação significativa da IA com número maior de moradores na composição familiar, coma classificação socioeconômica E segundo ABEP, e com maior prevalência de água tratada por filtração.Utilizando dados da PNDS, 2006, avaliando mulheres em idade reprodutiva, observou-se associação entre IA e menor escolaridade e menores quartis de renda (VELÁSQUEZ-MELENDEZ et al., 2011). Os programas, as ações e estratégias brasileiras têm possibilitado, nos últimos anos, medidas eficazes para a redução do número de pessoas em IA (FAO, 2014). Do mesmo modo os indicadores sociais apresentam importantes avanços na última década em nosso país, por exemplo, com redução da concentração de renda, melhorias nos índices de escolaridade e nas condições de saneamento nos domicílios, incremento da renda familiar com a adoção dos programas de transferência condicionada de renda (IBGE, 2012a). Porém, não foram encontrados trabalhos que avaliam de que forma essa associação dos indicadores se comporta ao longo do tempo com os referidos avanços. 2.3. CONSUMO ALIMENTAR INFANTIL E INSEGURANÇA ALIMENTAR Os estudos mais recentes publicados em diversos países sugerem uma série de consequências negativas na saúde das crianças ocasionadas ou agravadas pela situação de IA. Considerando o seu conceito ampliado, destaca-se que a redução na disponibilidade de alimentos tende a comprometer a qualidade e a quantidade dos itens que compõem a cesta básica dessas famílias. Esse quadro acarreta um comprometimento da oferta de energia e nutrientes, intensificando a deficiência do aporte de nutrientes refletindo diretamente na saúde desses indivíduos. O consumo de alimentos e a IA representam um importante pilar na investigação da situação nutricional das crianças, conforme vem sendo observados em diferentes estudos, inicialmente em âmbito internacional durante a década de 1990 e de forma mais intensa no início dos anos 2000, provavelmente impulsionado pela validação da escala norte-americana de IA (BICKEL et al., 2000) Matheson e colaboradores (2002), em estudo realizado na população norte-americana, avaliou o nível de IA de famílias hispânicas e estado nutricional de crianças matriculadas na quinta série do ensino fundamental. Os autores observaram associação inversa entre o nível de IA e o consumo de 24 carnes por crianças. No estudo de Kaiser e colaboradores (2002), a IA de crianças em idade pré- escolar foi associada à inadequação do consumo de grupos de alimentos, tendo como referência a pirâmide alimentar adequada à faixa etária. No ano de 2003 investigando IA na população norte- americana, encontraram associações positivas com declínio nos suprimentos alimentares das famílias, no consumo de frutas e vegetais e padrões inadequados de consumo. No mesmo estudo, observaram que as famílias latinas com crianças em situação de IA apresentaram estoques reduzidos de leguminosas, leites e derivados, frutas e vegetais no domicílio (Kaiser et al.,2003). Dave e colaboradores (2009) observaram entre crianças hispânicas, consumo de frutas e vegetais aquém das recomendações e significativamente menor entre aquelas que viviam em situação de IA. Em outro estudo, comparando crianças com até cinco anos de idade mexicanas e americanas descendentes de mexicanos de uma comunidade de imigrantes, foi possível observar que aquelas residentes nos Estados Unidos em situação de IA consumiram mais gordura, gordura saturada, doces e salgadinhos fritos do que as crianças em segurança alimentar. Em contraste, as crianças que viviam em IA no México apresentaram menor ingestão de carboidrato, derivados de leite e vitamina B6 (ROSAS et al., 2009).Em um estudo realizado com crianças entre 2 e 13 anos de idade residentes em área de pobreza nos Estados Unidos, Nacker e Appelhans (2013) observaram que comparadas às famílias em SA, aquelas em IA reportaram quantidade significativamente maior de alimentos menos saudáveis considerados obesogênicos. Mundo-Rosas e colaboradores (2014) avaliando crianças mexicanas entre 24 e 59 meses,observaram que crianças expostas à IA grave tinham maior proporção de baixa diversidade na dieta em comparação com aquelas que vivam em SA. Os autores destacaram que aquelas que vivenciavam IA moderada e grave não atingiam a ingestão energética recomendada. No Brasil, ainda são escassos os estudos que avaliem especificamente a relação daIA com o consumo alimentar infantil. No estudo de Gomes e Gubert, realizado em 2012 com crianças da PNDS, as autoras observaram prevalência significativamente maior (41,3%) de aleitamento materno entre as crianças de 12 a 24 meses em situação de IA domiciliar, quando comparadas com o grupo de crianças de famílias em SAN (29,2%). Porém, no mesmo estudo, as autoras destacaram que IA não se associou com a prática de aleitamento materno no primeiro ano de vida nem com a introdução precoce de alimentação.Em um estudo descrevendo a associação entre IA e consumo alimentar infantil na área Metropolitana do Rio de Janeiro, observou-se que a proporção de crianças em situação de SA e que não atingiam as recomendações de consumo de proteínas e ferro foi significativamente menor quando comparadas às crianças com as formas mais severas de IA(moderada e grave). Nesse mesmo grupo, o consumo médio de porções de cereais, hortaliças, frutas, carnes e ovos e gorduras foi significativamente menor quando comparado com o de crianças de famílias em situação de SA ou IA leve (ANTUNES, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2010). 25 Em relação a grupos populacionais específicos, estudo realizado com população indígena residente em Mato-Grosso do Sul, Fávaro e colaboradores (2007) mostraram que, dentre as crianças pertencentes às famílias com SA/IA leve, 67%apresentaram consumo energético inadequado, sendo o mesmo observado em 94,4% das crianças de famílias com IA moderada/grave. Nesse mesmo estudo, observou-se menor proporção de crianças com consumo proteico inadequado em famílias classificadas em SA/IA leve comparadas às famílias com IA nas formas mais graves (p-valor=0,01). Esse é o único estudo nacional, identificado até o momento, relacionando o consumo alimentar infantil e a situação de IA da família. Embora não tenha representatividade nacional e tenha sido realizado em população específica, os resultados sugerem vulnerabilidade da população estudada e prejuízos para seu crescimento e desenvolvimento. Uma hipótese sobre a relação entre IA e consumo alimentar infantil é de que as escolhas alimentares nesse grupo etário são norteadas pelas prioridades dadas pelas famílias de baixa renda. Por exemplo, o estudo baseado na coorte Early Childhood Longitudinal Study-Birth Cohort demonstrou, nas regiões onde os preços das frutas e vegetais foram mais caros, que as crianças estudadas apresentaram maiores valores de IMC, sugerindo uma relação impulsionada pelos preços dos alimentos frescos versus congelados ou enlatados. No mesmo artigo, os autores sugerem também que localidades onde os refrigerantes eram mais caros associaram-se a uma menor probabilidade de apresentar excesso de peso entre as crianças e, surpreendentemente, os preços de fast-food apresentaram-se inversamente proporcionais ao excesso de peso na população de estudo (MORRISSEY, JACKNOWITZ e VINOPAL, 2014). Por fim, destaca-se a importância de compreender a relação entre IA, consumo alimentar infantil e aumento da prevalência de obesidade já na faixa etária menor de três anos de idade. Tal relação pode ser justificada principalmente pelos grupos alimentares priorizados por essas famílias. 26 3. JUSTIFICATIVA Com base na revisão bibliográfica apresentada, entende-se a complexidade da relação entre IA, indicadores sociais e sua influência no consumo alimentar infantil. Apesar dos estudos investigarem as associações existentes entre esses três eixos, são escassas as investigações sobre o comportamento dessas relações ao longo do tempo. Considerando-se o crescimento econômico e maior cobertura de famílias pelos programas sociais do país nos últimos anos, acredita-se que a situação de IA tenha melhorado, com a redução das formas mais graves, bem como outros indicadores sociais. Entretanto, boa parte da população pode ainda vivenciar situações de IA nos níveis menos severos sendo importante compreender qual a relação dessas mudanças com aspectos determinantes do crescimento e desenvolvimento infantil, como o acesso à alimentação de qualidade considerando- se a vulnerabilidade do grupo em questão. A hipótese do presente trabalho é de que num período de cinco anos, com os avanços nas políticas sociais, tenham ocorrido melhorias nos indicadores sociais da população estudada, com redução das prevalências de IA e associação positiva com mudanças no consumo alimentar infantil, aumentando a ingestão de alimentos saudáveis como frutas, vegetais, leite e derivados, que se apresentavam aquém da recomendação no primeiro ano de estudo, sendo ainda mais reduzido entre as crianças em situação social mais desfavorável. 27 4. OJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Avaliar as mudanças no consumo alimentar e sua associação com a situação de IA familiar e com indicadores sociais entre crianças menores de 30 meses nos anos de 2005 e 2010. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever as prevalências de IA e dos demais indicadores sociais nas famílias com crianças nos anos descritos; Avaliar a variação da associação entre os indicadores sociais e a IA entre famílias com crianças nos anos descritos; Identificar os padrões de consumo alimentar das crianças nos anos descritos; Avaliar a variação nos padrões de consumo alimentar de crianças e estimar suas associações com os indicadores sociais. 28 5. MÉTODOS 5.1POPULAÇÃO E DESENHO DO ESTUDO Trata-se de estudo de painel realizado a partir de dois estudos transversais de base populacional, conduzidos nos anos de 2005 e 2010 em Campos Elíseos, 2º distrito do município de Duque de Caxias, na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da pequena distância em relação à cidade do Rio de Janeiro, Duque de Caxias é um município marcado por altos índices de pobreza extrema (6,1% da população) e analfabetismo (5% da população urbana chegando a 14% na área rural), apesar do elevado potencial econômico. O município possui o 2º maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado e o 8º maior do Brasil, contribuindo com mais de 25 milhões de reais em arrecadação (IBGE, 2012b). Em 2005, um estudo foi realizado em uma amostra de 1.085 domicílios de Campos Elíseos, 2º distrito do município de Duque de Caxias, para estimar a prevalência de IA entre as famílias que residiam no local (SALLES-COSTA et al.., 2008). Os resultados revelaram que 53,8% dos domicílios sofriam com IA em diferentes graus (31,4% de IA leve, 16,1% de IA moderada e 6,3% de IA grave). O analfabetismo foi observado em 6,2% dos chefes das famílias e 52,3% não concluíram o ensino fundamental; somente 26,8% das famílias referiram renda per capita acima de um salário mínimo (trezentos reais na época do estudo) e 83,4% foram classificadas nas classes econômicas C e D. Em relação à população infantil, dentre eles: (i) prevalência de 8,6% déficit nutricional pelo índice estatura/idade (E/I), sendo o baixo peso ao nascer fortemente associado a este déficit, independente da renda (BARROSO, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2008); (ii) a IA foi associada com o déficit nutricional (PIMENTEL, SICHIERI e SALLES-COSTA, 2009); (iii) aIA foi associada com menor consumo de frutas e vegetais e fontes proteicas (ANTUNES et al., 2010). 5.2. AMOSTRAGEM Nos dois estudos (2005 e 2010), as amostras consideraram a seleção de 1.125 domicílios particulares permanentes (DPP), com base em uma estimativa de 14,5% para a prevalência de pobreza extrema, fixando-se um erro relativo máximo de 5%. Para a seleção dos DPP, do total de 322 setores censitários definidos pela Base Operacional Geográfica de 2000 do IBGE (IBGE, 2000) do distrito de Campos Elíseos, 75 foram selecionados considerando o perfil da renda média do responsável pelo domicílio, de forma assegurar a representação de todos os níveis de renda na amostra, correspondendo ao primeiro estágio de seleção.No segundo estágio de seleção, foram 29 selecionados 15 DPP em cada setor censitário. No terceiro estágio de seleção, foram selecionados os indivíduos nas famílias de acordo com cada faixa de idade (crianças de 6 a 30 meses, adolescentes e adultos). Para o presente trabalho, considerou-se a amostra de famílias com crianças de 6 a 30 meses de idade. No estudo de 2005, foi feita varredura dos 75 setores censitários (outubro de 2004 a janeiro de 2005), para localizar os endereços e identificar os DPP com crianças e adolescentes. Com esse levantamento foi possível estratificar os DPP de cada setor em quatro estratos: (1) DPP só com adultos; (2) DPP com adultos e adolescentes; (3) DPP com adultos e crianças; e (4) DPP com adultos, adolescentes e crianças. Em cada estrato, os DPP foram selecionados com equiprobabilidade considerando o tamanho da amostra de DPP, previamente fixado em 15 DPP por setor, contabilizando uma amostra de 435 domicílios com crianças. No estudo de 2010, os mesmos 75 setores censitários foram amostrados, sendo realizada nova etapa de varredura para atualização dos DPP por estratos etários (janeiro a fevereiro de 2010). No segundo inquérito, optou-se pelo desenho de amostragem inversa por conglomerados, mantendo os mesmos níveis de estratos (setor censitário, domicílios e indivíduos). Com esta informação, o supervisor de campo sorteava os DPP do estrato de crianças (máximo de oito domicílios por setor) seguidos pelo sorteio de DPP com adultos e/ou adolescentes até completar o total de 15 DPP por setor (segundo estágio de seleção). Esta etapa utilizou planilha de dados elaborada pelo estatístico da equipe, que sistematizou o número de domicílios considerando a proporção de DPP com crianças e demais faixas etárias, gerando a relação de endereços fixos baseados nas informações da varredura dos setores. A relação indicava a sequência de visitas de cada entrevistador, com suas respectivas substituições, seguindo critério de entrevistar primeiro todos os DPP com crianças e, em seguida, os demais DPP com adolescentes e/ou adultos. Para a seleção dos adultos, os entrevistadores identificavam a mulher de referência de cada domicílio, ou seja, aquela responsável pelo gerenciamento das compras e preparo das refeições, independente dela ser ou não considerada a chefe do domicílio. Em seguida, o entrevistador selecionava o homem a ser entrevistado, sendo ele o cônjuge da mulher de referência, exceto quando esta não morava com seu companheiro ou quando este não estavapresente (nesta situação outro adulto do sexo masculino era selecionado para participar da entrevista, garantindo a proporção entre homens e mulheres). O critério de substituição de DPP nos dois inquéritos considerou a tentativa de até três visitas pelos entrevistadores, bem como possíveis perdas de entrevistas por estrato etário ou de sexo dentro do domicílio selecionado (recusa de entrevista pelo adulto e/ou adolescente). 30 A coleta de dados foi realizada em 2005 e 2010 no mesmo período anual (abril a dezembro), por equipe de entrevistadores, entre eles nutricionistas e agentes de saúde devidamente treinados para a função. Os dados foram duplamente digitados no programa Census and Survey Processing System - CSPro® versão 3.3 por equipe treinada. 5.3. AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS Para a avaliação da situação de IA foi utilizada a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), respondida pelo responsável pela alimentação da família e cada resposta afirmativa correspondeu a “um ponto”, sendo o somatório do número de respostas afirmativas utilizado para a classificação quanto ao grau de IA. Em 2005, utilizou-se a escala inicialmente proposta, originada a partir da medida norte- americana, a qual foi adaptada e validada para a população brasileira por Perez-Escamilla e colaboradores (2004). Em 2010, a mesma escala foi aplicada, porém para a classificação da situação de IA em seus diferentes graus, foram adotadas as modificações propostas por Segall-Corrêa e colaboradores (2014). Cabe ressaltar que as mudanças propostas na EBIA consistem em aprimoramento que a atualizam quanto à realidade nutricional do Brasil, não alterando sua consistência interna (SEGALL-CORRÊA et al., 2014). 5.4. AVALIAÇÃO DOS INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS As informações sociodemográficas foram obtidas por meio de questionário estruturado com perguntas fechadas, referentes às informações do domicílio (Questionário Módulo Domicílio – Anexos A e B). Para o presente estudo, foram analisadas as seguintes variáveis: Escolaridade do chefe da família Coletada por meio de pergunta fechada com 5 opções de respostas: 1. Analfabeto/Primário incompleto/até a 3ª. Série fundamental 2. Primário completo/ginasial incompleto/até 4º série do ensino fundamental 3. Ginasial completo/colegial incompleto/ fundamental completo 4. Colegial completo/superior incompleto/ médio completo 5. Superior completo 31 Foi analisada como dicotômica <8anos anos de estudo (equivalente ao ensino fundamental ou menos) e ≥ 8 anos de estudo (equivalente ao Ensino fundamental completo ou mais)(primeiro manuscrito) e nas 5 categorias descritas acima (segundo manuscrito). Classificação socioeconômica Foram coletadas informações sobre a presença e quantidade de bens no domicílio como geladeira simples e duplex, freezer, máquina de lavar roupa, vídeo cassete ou DVD, rádios, banheiro, televisão, empregadas mensalistas e automóveis. Para classificar os indivíduos de acordo com a situação socioeconômica em 2005, foi utilizado o critério vigente na época segundo a Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 2006) e no ano de 2010, o sistema de pontos do Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2012). O novo critério trata-se de uma revisão do anterior com objetivo de identificar o real potencial de consumo das famílias brasileiras adaptado à realidade daquele ano, ambos considerando a presença de bens no domicílio e o grau de instrução do chefe da família. O somatório dos pontos permite classificar os indivíduos em classes socioeconômicas. Obteve-se, assim, a classificação de cada família, a qual foi analisada nas categorias A+B, C e D+E (primeiro manuscrito) e A, B, C, D e E (segundo manuscrito). Renda familiar mensal per capita Aferida como variável contínua, representada pela soma de todos os recebimentos dos indivíduos da família, incluindo salários, benefícios, aposentadorias, pensões e outros rendimentos como aluguéis. A soma das rendas de todos os moradores do domicílio foi dividida pelo número de moradores e, em seguida, pelo valor do salário mínimo (SM) vigente à época do estudo (R$300,00 em 2005 e R$510,00 em 2010). Obteve-se, assim, a renda familiar mensal per capita em múltiplos do salário mínimo, analisada como variável contínua nas estimativas de associação nos manuscritos 1 e 2. Número de pessoas no domicílio Coletada como variável contínua e analisada em 2 categorias - até 4 pessoas e mais de 4 pessoas (primeiro manuscrito) e na forma contínua (segundo manuscrito). Abastecimento de água Coletada através de pergunta fechada e analisada em 2 categorias: Sim – abastecimento via rede pública e Não – outras formas de abastecimento de água no domicílio. Presença de filtro para o tratamento da água de consumo 32 Coletada através de pergunta fechada e analisada em 2 categorias: Sim – presença de filtro no domicílio e Não - outras formas de tratamento ou uso de água não tratada para o consumo Benefício do Programa Bolsa Família Coletada por meio de pergunta fechada com 2 opções de resposta (sim ou não), analisada como dicotômica. 5.5. AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR INFANTIL O consumo alimentar das crianças foi avaliado por meio de recordatórios de 24 horas(R24h) (Anexo E), sendo obtido com o adulto que ficava mais tempo com a criança e que ficava responsável pela sua alimentação. A aplicação dos R24hs foi feita da seguinte forma: (i) em 2005 foram avaliados doisR24hde cada criança, realizados em dias alternados com intervalo máximo de duas semanas, (ii) em 2010 foi coletado um R24h para todas as crianças avaliadas sendo uma sub-amostra de 100 crianças avaliadas pela aplicação de dois R24h. Essa modificação da metodologia foi feita com base no estudo de Salles-Costa et al. (2010) que, avaliando o consumo alimentar das crianças do primeiro estudo (2005), demonstrou uma razão dos coeficientes de variação inferior a 1 para energia e macronutrientes, justificando o requerimento de um número menor de repetições de R24hs para estimativa usual desse consumo. Para conversão dos valores de massa e/ou medida caseira dos alimentos consumidos em energia (kcal), macronutrientes (gramas) e micronutrientes (mg) foi adotado o programa Nutwin (Programa de Apoio a Nutrição, 2005), de acordo com as recomendações e procedimentos de Salles-Costa et al., 2010 e Antunes et al., 2010 e para correção da distribuição do consumo, foi utilizado o software MSM (The Multiple Source Method) com o objetivo de se aproximar da estimativa do consumo usual dos indivíduos em análise. 5.5.1. IDENTIFICAÇÃO DOS PADRÕES ALIMENTARES DAS CRIANÇAS Para identificação dos padrões alimentares, os itens listados nos R24h horas foram organizados em grupos de alimentos com base nas suas características nutricionais e correlações obtidas por meio de análise fatorial preliminar. Alguns alimentos foram mantidos isolados, devido seu consumo 33 frequente na dieta regional (arroz, feijão, pão), e com isso se constituíram os grupos alimentares descritos no quadro 1 para o ano de 2005 e quadro 2 para o ano de 2010. A análise de componentes principais foi empregada para gerar os padrões alimentares das crianças segundo as faixas etárias de 6 a 17 meses e 18 a 30 meses em ambos os anos de estudo – 2005 e 2010. O padrão de consumo das crianças foi estratificado nas referidas faixas etárias em virtude de achados de estudo anterior na mesma população que identificou diferenças importantes no padrão de consumo das crianças a partir dos 18 meses de idade (BARROSO, SICHIERI E SALLES- COSTA, 2014). Para verificar a aplicabilidade e adequação do método estimou-se o teste Kaiser- Meyer-Olkin (KMO), obtendo-se os valores de 0,63 (2005) e 0,60 (2010) para a faixa etária de 6 a 17 meses e 0,60 (2005) e 0,56 (2010) para a faixa etária de 18 a 30 meses. A rotação ortogonal Varimax foi adotada com o objetivo de permitir que os fatores resultantes não fossem correlacionados e melhorar a interpretação dos dados. O número de fatores a extrair foi definido conforme o gráfico da variância pelo número de componentes (screeplot), onde os valores situados antes do ponto de inflexão da reta indicam o número de fatores a serem retidos. Uma nova análise fatorial foi realizada fixando o número de fatores a serem retidos, de acordo com a análise gráfica. Alimentos ou grupos de alimentos maiores que 0,25 foram considerados significantes na contribuição para caracterização de cada padrão, onde as cargas negativas indicaram uma associação inversa e as positivas uma associação direta. Verificou-se a consistência interna de cada um dos fatores extraídos por meio de alpha de Cronbach. Os padrões foram nomeados conforme a interpretação dos dados. 34 Quadro 1- Definição dos grupos alimentares das crianças derivados do recordatório de 24 horas e utilizados na análise fatorial. Campos Elíseos/Duque de Caxias, Rio de Janeiro, 2005. Alimentos ou grupos de alimentos Alimentos Arroz Arroz Feijão Feijão Pães Pão de forma ou pão francês Biscoitos e bolos Bolos e biscoitos sem recheios ou coberturas Farináceos e Tubérculos Farinhas, polenta ou angu, batata, milho, aipim e inhame. Macarrão Macarrão Verduras e Legumes Alface, couve, couve-flor, chicória, repolho, chuchu, abóbora, abobrinha, vagem, quiabo, cenoura, beterraba, pepino e tomate Frutas Banana, abacaxi, abacate, limão, maçã, mamão, melão, manga, maracujá, pera, uva, goiaba, suco de fruta Derivados do leite Iogurte, queijo e requeijão. Leite Leite Farinhas infantis Farinhas infantis Embutidos e salgados Linguiça, mortadela, presunto, salsicha, batata frita ou chips, salgadinhos e pizza. Doces Achocolatado em pó, sorvetes, balas, biscoitos recheados, geleia, gelatina, chocolate em barra, tortas e pudim Óleos e gorduras Óleo, margarina e manteiga. Carnes e ovos Bife, frango, carne de porco, vísceras, carne moída ou hambúrguer, peixe, camarão, sardinha ou atum em lata e ovos. Bebidas açucaradas Refrigerantes e sucos artificiais Açúcar Açúcar Café Café 35 Quadro 2 – Definição dos grupos alimentares das crianças derivados do recordatório de 24 horas e utilizados na análise fatorial. Campos Elíseos/Duque de Caxias, Rio de Janeiro, 2010. Alimentos ou grupo de alimentos Alimentos Arroz Arroz, arroz integral e arroz com brócolis. Feijão Feijão Pães Pão de forma, pão francês. Biscoitos e bolos Bolos e biscoitos sem recheios ou coberturas Cereais e tubérculos Farinhas, polenta ou angu, batata, milho, aipim e inhame e macarrão. Legumes e Verduras Abóbora, abobrinha, alface, bertalha, berinjela, beterraba, cebola, cenoura, chuchu, couve, couve-flor, espinafre, repolho, tomate, vagem, quibebe, sopa de legumes, sopa de ervilha. Frutas Banana, caju, caqui, goiaba, kiwi, laranja, limão, maçã, mamão, manga, melancia, morango, pera, salada de fruta, tangerina, uva branca, suco de fruta. Leite Leite Derivados do leite Iogurte, queijo e requeijão. Farinhas infantis Farinhas infantis Embutidos Linguiça, mortadela, presunto, salsicha. Óleos e gorduras Óleo, margarina, maionese e manteiga. Carnes e ovos Bife, frango, carne de porco, vísceras, carne moída ou hambúrguer, carne de sol carne seca, peixe, camarão, sardinha ou atum em lata e ovos. Bebidas açucaradas Refrigerantes, guaraná natural, sucos artificiais. Açúcares e doces Açúcar refinado, açúcar mascavo, mel, pão de mel, bolinho de chuva, brigadeiro, bala, calda de morango, churros, chocolate, doce de abóbora, doce de leite, geleia de mocotó, goiabada, gelatina, leite condensado, mousse, pudim de leite, picolé de fruta, pipoca caramelada, sorvete de chocolate, biscoitos recheados, açaí com banana e granola, angu doce, canjica, achocolatados em pó. Café Café e chá de infusão Lanches Pipoca, batata frita, cachorro-quente, coxinha de galinha, pastel, pizza. Biscoitos salgadinhos Salgadinhos de pacote e batatas chips 36 5.6. ANÁLISE DOS DADOS As análises foram desenvolvidas em duas etapas. Para o primeiro manuscrito, foram estimadas as prevalências expandidas e respectivos intervalos de confiança de 95% de IA e do perfil dos indicadores sociodemográficos nos dois inquéritos, testando a significância estatística das mudanças nas proporções observadas no período (teste Qui-Quadrado). Em seguida, foram estimadas associações entre os indicadores sociodemográficos e IA com base nas estimativas do odds ratio (OR) obtido por meio de regressão logística multinomial. Os modelos de análise foram testados para cada ano de estudo (2005 e 2010), inicialmente com análises bivariadas que consideram as variáveis sociodemográficas descritas separadamente. Em seguida, os modelos foram mutuamente ajustados pelas variáveis que se associaram significativamente com IA. Nas duas etapas, o desfecho IA foi avaliado em quatro níveis (SA, IA leve, IA moderada e IA grave) de acordo com a classificação da EBIA (SEGALL-CORREA et al., 2014), considerando SA como categoria de referência. No segundo manuscrito, para avaliar a associação das variáveis explicativas com os padrõesalimentares das crianças, considerou-se como variável dependente o valor da carga fatorial (escore) padronizado (média zero e variância um) gerado para as crianças que reportaram a frequência de consumo em cada padrão alimentar identificado. As variáveis explicativas foram analisadas como variáveis contínuas (renda familiar e número de moradores no domicílio) ou categorizadas (abastecimento de água, presença de filtro de água, classificação socioeconômica, escolaridade do chefe da família e a presença de benefícios provenientes do programa Bolsa Família)conforme descrito acima. Inicialmente realizou-se a regressão linear univariada e em seguida aquelas que apresentaram significância estatística foram incluídas no modelo multivariado. Todas as análises foram conduzidas no pacote estatístico STATA 13.0(STATA Corp., 2013), considerando o valor de p < 0,05 para significância estatística, utilizando o módulo Survey para amostras complexas que incorpora o efeito do desenho de estudo. 37 5.7. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS A pesquisa de 2005 – “Avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança alimentar no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro: desenvolvimento de um instrumento simplificado para avaliação de consumo alimentar saudável” – foi aprovada em 24/08/2004 pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, registro nº 02/2004 (Anexo F).A pesquisa de 2010 – “Variação de Insegurança Alimentar e Nutricional, do consumo dietético e de sobrepeso no período de 2005 a 2009/2010 em Duque de Caxias” – foi aprovada em 18/05/2009 pelo CEP do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, processo nº 01/2009 (Anexo G). Em ambos os inquéritos, foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), no momento da entrevista domiciliar, para ser assinado pelos participantes, após esclarecimentos a respeito dos procedimentos a serem realizados e garantia de anonimato (Anexos H e I). Somente participaram das pesquisas os indivíduos que desejaram e assinaram o TCLE, havendo a possibilidade de recusa. 38 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 MANUSCRITO 1 MODIFICAÇÕES NA ASSOCIAÇÃO ENTRE INDICADORES SOCIAIS E INSEGURANÇA ALIMENTAR ENTRE FAMÍLIAS COM CRIANÇAS NUM PERÍODO DE 5 ANOS EM UM MUNICÍPIO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO. Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar a variação dos indicadores sociais e sua associação com a insegurança alimentar (IA) entre famílias com crianças em dois inquéritos populacionais realizados no Rio de Janeiro. A amostra foi composta por crianças menores de trinta meses residentes na região metropolitana do Rio de Janeiro avaliadas em amostras representativas de dois inquéritos realizados nos anos de 2005 (n=391) e 2010 (n=443). As informações socioeconômicas das famílias foram obtidas por questionário, sendo IA estimada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. As frequências foram comparadas pelo teste Qui-Quadrado e para investigar as associações de IA com os indicadores sociais foi adotada a regressão logística multinomial estimando o odds ratio (OR)e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%), adotando como significância p<0,05. Houve redução nas prevalências de IA, aumento na escolaridade dos chefes de famílias, redução da aglomeração familiar e maior acesso ao filtro para consumo de água. No ano de 2005, a renda familiar esteve inversamente associada a todos os níveis de IA e a escolaridade do chefe da família apresentou um OR de 3,08 (IC 95% 1,09-8,15) para IA leve e 5,24 (IC% 1,2 – 22,89) para IA moderada/grave. No ano de 2010, a presença de filtro para consumo de água (OR=4,01 IC95% 1,91-8,54), a renda mensal per capita (OR=0,99 IC95% 0,98-0,99) e a classificação socioeconômica da família nas categorias D e E (OR=6,81 IC% 1,15-40,09) permaneceram significativamente associadas com as formas mais graves de IA. Os resultados apontam um avanço importante nos indicadores sociais da população estudada, porém reforçam como os determinantes avaliados podem impactar IA de maneira diferente de acordo a sua gravidade. Tais achados podem contribuir para melhor direcionamento de políticas públicas focadas além do incremento de renda, no sentido de minimizar as desigualdades no enfrentamento da problemática da IA bem como superação dos diversos problemas contemplados nesse conceito. Palavras-chave: Insegurança Alimentar, indicadores sociais, pobreza; saneamento básico. 39 Abstract: The aim of this study was to evaluate the change in social indicators and their association with food insecurity (FI) among families with children in two household surveys in Rio de Janeiro. The sample consisted of children under thirty months in the metropolitan area of Rio de Janeiro evaluated in representative samples from two surveys conducted in 2005 (n = 391) and 2010 (n = 443). Socioeconomic information of the families were obtained by questionnaire, and FI estimated by the Brazilian Food Insecurity Scale. The frequencies were compared by chi-square test and to investigate the FI associations with social indicators was adopted multinomial logistic regression estimating the odds ratio (OR) and confidence intervals (CI)95%, adopting the significance p <0.05. There was a reduction in FI prevalence, increased education of the householder, reduced household crowding and greater access to the filter for drinking water. In 2005, the family income was inversely associated with all FI levels and the education of the householder had an OR of 3,08 (CI 95% 1,09- 8,15) for light FI and 5,24 (CI95% 1,2 – 22,89) for moderate and severe FI. In 2010, the presence of filter for water consumption (OR=4,01 CI95% 1,91-8,54), the per capita monthly income (OR=0,99 CI95% 0,98-0,99) and the socioeconomic classification of the family in categories D and E (OR=6,81 IC% 1,15-40,09) remained significantly associated with the most severe forms of FI. The results show an important advance in social indicators of the population studied, but strengthening as the evaluated factors can impact FI differently according to their severity. These findings can contribute to better targeting of public policies focused beyond the income increase, to minimize inequalities in FI problem and overcoming the various problems addressed in this concept. Keywords: Food Insecurity, social indicators, poverty; basic sanitation. 40 Introdução Insegurança alimentar (IA) é um conceito em constante debate no cenário mundial (FAO, 2014) e expressa a dificuldade de acesso aos alimentos por falta de trabalho ou baixo nível de renda, que repercutem na disponibilidade dos alimentos na família (MALUF e REIS, 2013). Tal indicador tem sido tema relevante na literatura nacional e internacional em função de sua importância na garantia de direitos humanos (KEPPLE e SEGALL-CORREA, 2011) e repercussões nos diferentes grupos populacionais (PEDRAZA, QUEIROZ e MENEZES, 2013). No Brasil, a regulamentação da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN (BRASIL, 2006), a instituição da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN em 2010 (BRASIL, 2010b), associadas à incorporação da alimentação aos direitos sociais previstos na Constituição Federal, tornou fundamental ao poder público informar, monitorar e avaliar a efetivação da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Nesse sentido, os estudos que avaliam a situação da SAN nas regiões do Brasil ganharam importância e relevância no cenário nacional (SALLES-COSTA, 2012). A medida de IA é permeada por diversos indicadores sociais que muitas vezes são adotados para sua estimativa (FAO, 2014). Esses indicadores permitem avaliar não só a qualidade de vida e os níveis de bem-estar dos indivíduos e grupos sociais, como também a efetivação
Compartilhar