Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR JOÃO CARLOS DOS SANTOS CONSULTA DE ENFERMAGEM À PESSOAS EM SITUAÇÃO DE ESTOMIA INTESTINAL: CONSTRUÇÃO DE UM INSTRUMENTO E VALIDAÇÃO DE SEU CONTEÚDO Fortaleza 2013 JOÃO CARLOS DOS SANTOS CONSULTA DE ENFERMAGEM À PESSOAS EM SITUAÇÃO DE ESTOMIA INTESTINAL: CONSTRUÇÃO DE UM INSTRUMENTO E VALIDAÇÃO DE SEU CONTEÚDO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior da Universidade Federal do Ceará, como exigência final para a obtenção do título de Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior. Área de concentração: Gestão Estratégica em Instituição de Ensino Superior. Orientadora: Prof.ª Dra. Maria de Fatima de Souza. Fortaleza 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde S236c Santos, João Carlos dos Consulta de enfermagem à pessoas em situação de estomia intestinal: construção de um instrumento e validação de seu conteúdo / João Carlos dos Santos. – 2013. 98 f. : enc. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Fortaleza, 2013. Área de concentração: Gestão Estratégica em Instituição de Ensino Superior. Orientação: Profa. Dra. Maria de Fatima de Souza 1. Enfermagem. 2. Colostomia. I. Título. CDD: 617.55 JOÃO CARLOS DOS SANTOS CONSULTA DE ENFERMAGEM À PESSOAS EM SITUAÇÃO DE ESTOMIA INTESTINAL: CONSTRUÇÃO DE UM INSTRUMENTO E VALIDAÇÃO DE SEU CONTEÚDO Dissertação apresentada como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. Dissertação aprovada em ____ /____ /2013. BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof.ª Dra. Maria de Fatima de Souza Presidente – Universidade Federal do Ceará/UFC _______________________________________ Prof.ª Dra. Maria do Socorro de Sousa Rodrigues Universidade Federal do Ceará/UFC _______________________________________ Profa. Dra. Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes Universidade Estadual do Ceará/UECE Aos meus pais Antônio e Dalva Santos (in memoriam), que contemplam do céu mais esta vitória; Ana Paula, minha irmã, primeira da família a entrar na Universidade; Meus antepassados que não tiveram a experiência da vida acadêmica; Deusenir, minha esposa, e meus filhos Dandara Cristina, João Carlos Júnior e João Levi os quais muito amo; As pessoas portadoras de estomia intestinal para que este instrumento possa contribuir com a melhoria de sua qualidade de vida. AGRADECIMENTOS A Santíssima Trindade; Deus pai meu criador; Jesus Cristo meu Salvador pessoal e o Espírito Santo de sabedoria. A Maria, mãe do meu Salvador e minha mãe do céu que intercede por mim e por minha família. A universidade Federal do Ceará - UFC, minha segunda casa, responsável pela minha formação acadêmica em nível de pós graduação, após minha graduação, na minha primeira casa, a Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC – Ilhéus - BA. A professora Dra. Maria de Fátima de Souza, instrumento de Deus na minha vida acadêmica, pelo ensino, orientação e incentivo. Aos membros da banca, Profa. Dra. Maria do Socorro de Sousa Rodrigues e Profa. Dra. Consuelo Helena Aires de Freitas Lopes, pelas valiosas contribuições. A professora Dra. Míria Conceição Lavinas Santos, membro da banca de qualificação pelas suas contribuições. As enfermeiras especialistas, Vânia Rodrigues Santos de Souza, Maria José Aguiar Santos, Yara Lanne Santiago, Maria Ângela Boccara de Paula, Miyoco Saito Sakuraba e Silvana Maria Lima Braga pela grandiosa contribuição e doação de seu tempo na análise do conteúdo do instrumento de atendimento a pessoa em situação de estomia intestinal, sem a qual este trabalho não teria sido realizado. A Enfermeira Vânia Rodrigues Santos de Souza, coordenadora de enfermagem da Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas – COPTRAF, do HUWC da UFC, e minha irmã de comunidade, pela sua contribuição na minha vida profissional. Ao Professor Dr. Paulo César de Almeida pela sua disponibilidade e ajuda na análise estatística. A Bibliotecária Rosane Maria Costa pela sua atenção e disponibilidade, sempre que a procurava prontamente me atendia e ajudava. Aos professores do mestrado POLEDUC, pelos ensinamentos. Aos colegas da turma do POLEDUC, pelo tempo que passamos juntos. Aos colegas do Hospital Universitário Walter Cantídio – HUWC, pelo incentivo. Aos meus familiares e amigos que partilham comigo meu crescimento profissional. Ao meu Formador Pessoal Cláudio Marinho, meus irmãos da Célula Nossa Senhora da Conceição Aparecida e os irmãos da Comunidade Católica Shalom que oraram por mim. “A enfermagem diferencia-se dos outros serviços humanos pela forma como ela focaliza os seres humanos”. Dorothea Orem RESUMO Estomias intestinais são intervenções cirúrgicas realizadas no cólon ou no intestino delgado, consistem na exteriorização de um segmento intestinal, através da parede abdominal, criando assim uma abertura artificial para a saída do conteúdo fecal. A consulta de enfermagem - atividade privativa do enfermeiro é utilizada prioritariamente para a promoção da saúde e da boa qualidade de vida. Um instrumento adequado à realização destas consultas contribui para um trabalho sistematizado que contemple as necessidades específicas de cada condição de saúde. Neste contexto objetivou-se com este estudo construir e validar o conteúdo de um instrumento para consulta de enfermagem, direcionado para pessoas em situação de estomia intestinal baseado na Teoria do Autocuidado de Orem por ser esta a teoria mais adequada. Trata-se de um estudo de desenvolvimento onde o instrumento para consulta de enfermagem foi construído com base na literatura, na Teoria de Orem e na experiência do pesquisador. Para a validação do conteúdo do instrumento, utilizou-se a metodologia de análise do conteúdo de instrumentos proposta por Pasquali. Esta análise é feita por especialistas na área em estudo que são denominados “juízes”, em face de sua tarefa consistir em ajuizar os itens do instrumento. Seis juízes participaram deste estudo, os questionários foram devolvidos em um prazo médio de nove dias. Utilizou-se para avaliação, estatística descritiva com resultados dados em frequência e porcentagem. Um percentual ≥ a 80% de concordância entre os juízes bem como a análise das observações e sugestões apresentadas por estes, resultou na manutenção, reformulação ou exclusão do item. Foram procedidas reformulações de alguns quesitos quando da elaboração do instrumento final, estas reformulações se ancoraram nos percentuais das respostas e nas observações e sugestões apresentadas pelos juízes. Nenhum quesito considerado irrelevante obteve percentual ou observações significativas que conduzissem à sua exclusão. O estudo demonstrou a inexistência de um instrumento padrão para consulta de enfermagem pra pacientes em situação de estomia intestinal; o método de validação de conteúdo de instrumentos por meio de avaliação por juízes se constitui um método adequadopara a consolidação de um instrumento para a aplicação na prática cotidiana profissional; a versão final do instrumento para consulta de enfermagem a pessoas em situação de estomia intestinal está pronto para ser utilizado na prática profissional; este instrumento foi submetido a processo de avaliação para validação do uso junto aos pacientes no ambulatório de proctologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará. Palavras-chave: Autocuidado. Consulta de enfermagem. Colostomia. ABSTRACT Intestinal ostomies are surgical interventions carried out in the colon or small intestine which consist in externalizing an intestinal segment through the stomach wall, therefore creating an artificial opening for the discharge of body waste. A nursing consultation, which is a nurse’s exclusive job, is used primarily to further improve health and good quality of life. An adequate instrument for these consultations will contribute to a systemized work which will meet the specific needs of each health condition. In this context, the objective of this study was to construct and validate the content of an instrument to be used in nursing consultation aimed at people suffering from intestinal stoma, based on Orem’s Self-care Theory, as this one has shown to be the most adequate theory. In this developmental study the instrument for nursing consultation was constructed based on literature, Orem’s theory and on the researcher’s experience. Pasquali’s methodology for analysis of the content of instruments was used to validate the content of the instrument. This analysis is done by specialists in the area studied who are called “judges” due to their task of judging the items of the instrument. Six judges took part in this study and the questionnaires were given back within an average of nine days. Descriptive statistics was used for evaluation and the results were given in frequency and percentage. A percentage ≥ 80% of agreement among the judges, together with the analysis of the observations and suggestions presented by them, resulted in maintaining, reformulating or excluding the item. Some questions were reformulated for the construction of the final instrument. These reformulations were based on the percentages of the answers, and on the observations and suggestions presented by the judges. Questions considered irrelevant received no significant percentage or observations which could lead to their exclusion. The study showed the inexistence of a standard instrument to be used in nursing consultation to patients suffering from intestinal stoma; that the method for validation of the content of instruments through evaluation by judges consists in an adequate method for the consolidation of an instrument to be used in the daily professional practice; the final version of the instrument to be used in nursing consultation to people suffering from intestinal stoma is ready to be used in the professional practice; this instrument has been submitted to a process of evaluation for validation of its use in patients attended to at the proctology ward at the Walter Cantídio University Hospital at the Federal University of Ceará. Keywords: Self-care. Nursing consultation. Colostomy LISTA DE TABELAS Tabela 1 Respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto aos critérios adequação e relevância ....... 55 Tabela 2 Respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 1 do instrumento – “Dados de identificação” quanto aos critérios clareza e objetividade e relevância......................................................... 57 Tabela 3 Respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 2 do instrumento – “Exame Físico” quanto aos critérios clareza e objetividade e relevância........................................................................ 59 Tabela 4 Respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 3 do instrumento – “Requisitos Universais” quanto aos critérios clareza e objetividade e relevância.................................................................... 61 Tabela 5 Respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 3 do instrumento – “Requisitos de Desenvolvimento” quanto aos critérios clareza e objetividade e relevância.......................................... 63 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério adequação..................................................................................... 56 Gráfico 2 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério relevância...................................................................................... 56 Gráfico 3 – Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério Clareza e objetividade..................................................... 58 Gráfico 4 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 1 – “Dados de identificação” quanto ao critério relevância......................................................... 58 Gráfico 5 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério Clareza e objetividade................................................................ 60 Gráfico 6 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 2 – “Exame Físico” quanto ao critério de relevância.................................................................... 60 Gráfico 7 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério Clareza e objetividade.................................................................. 62 Gráfico 8 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 3 – “Requisitos Universais” quanto ao critério de relevância.................................................... 62 Gráfico 9 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos itens que compõem o instrumento avaliado quanto ao critério Clareza e objetividade.................................................................. 64 Gráfico 10 Representação gráfica das respostas dos juízes na avaliação dos quesitos que compõem o item 4 – “Requisitos de Desenvolvimento” quanto ao critério de relevância..................... 64 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Distribuição das sugestões apresentadas pelos juiz.......................... 65 Quadro 2 Distribuição dos itens e quesitos que compõem o instrumento para consulta de enfermagem .................................................................. 69 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRASO Associação Brasileira de Ostomizados AC Autocuidado APECE Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados em Estomaterapia Art. Artigo Bpm Batimentos por minuto BVS Biblioteca Virtual em Saúde º C Grau Celsius CE Ceará COFEN Conselho Federal de Enfermagem COPTRAF Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas Dra. Doutora ECET European Council of Enterostomal Therapy ET Enfermeiro Estomaterapeuta ET Ti SOBEST Enfermeiro Estomaterapeuta Titulado EUA Estados Unidos da América FR Frequência Respiratória GAO Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada GARPO Grupo de Apoio e Reabilitação do Paciente Ostomizado HUWC Hospital Universitário Walter Cantídio IBGE Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística INCA Instituto Nacional do Câncer IOA Associação Internacional de Ostomizados Kg Quilograma LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe Ciências da Saúde Mm Hg Milímetros de Mercúrio Mrpm Movimentos respiratório por minuto MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial de Saúde P Pulso PA Pressão Arterial RHA Ruídos Hidro Aéreo SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem SCIELO Scientific Electronic Library Online SOBEST Associação Brasileira de Estomaterapia: ostomias, feridas e incontinência Sra. Senhora SUS Sistema Único de Saúde T Temperatura UECE Universidade Estadual do Ceará UFC Universidade Federal do Ceará USP Universidade de São Paulo WCET Word Council of Enterostomal Therapists WHOQOL Group World Health Organization Quality of Life Group SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 14 1.1 O Contexto do Estudo.......................................................................................... 14 1.2 Objetivos.............................................................................................................. 16 1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO...................................... 17 2.1 Teorias em Enfermagem....................................................................................... 17 2.2 A Teoria de Dorothea Orem................................................................................. 19 3 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................... 23 3.1 Contexto da Pessoa com Estomia Intestinal........................................................ 23 3.2 Consulta de Enfermagem como Espaço de Promoção da Saúde.................................................................................................................... 33 3.3 Estomaterapia como Ciência................................................................................ 35 3.4 Cuidados de Enfermagem em Estomia e sua Influencia na Qualidade de Vida.. 37 3.5 Consulta de Enfermagem para Pessoas em Situação de Estomia Intestinal ....... 44 4 METODOLOGIA.............................................................................................. 49 4.1 Tipo de Estudo........................................................ ............................................ 49 4.2 Os Caminhos Percorridos..................................................................................... 50 4.3 Validação de Conteúdo de Instrumentos.............................................................. 52 4.4 Métodos de Análise dos Dados .......................................................................... 53 5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 54 6 CONCLUSÃO ................................................................................................... 73 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 75 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 76 APÊNDICES Apêndice A – Instrumento para Consulta de Enfermagem a Pessoas em Situação de Estomia Intestinal (proposta inicial) ........................................... 86 Apêndice B – Carta Convite para os Juízes .................................................... 88 Apêndice C – Questionário para Avaliação dos Juízes .................................. 89 Apêndice D – Instrumento para Consulta de Enfermagem a Pessoas em Situação de Estomia Intestinal (final).............................................................. 97 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 O Contexto do Estudo No exercício diário da minha vida profissional como enfermeiro e membro da Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas (COPTRAF) do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará (UFC), trabalhando na unidade de clínica cirúrgica, diretamente na assistência pós-operatória a pessoa portadora de estomia intestinal, pude constatar a necessidade de um atendimento sistematizado para esse tipo de paciente. Este atendimento sistematizado poderia repercutir diretamente nas condições com as quais a pessoa retornaria às atividades da vida cotidiana, tendo em vista que a estomia intestinal pode se constituir em uma nova maneira de viver, o que exigirá dela reaprender a conviver consigo mesma, adquirir conhecimentos novos e específicos, bem como o apoio psicológico para o enfrentamento da nova situação, com vistas a assegurar uma qualidade de vida a mais próxima possível do habitual. Verifiquei que esta necessidade de atendimento poderia ser sistematizada pelo enfermeiro, em face desta deficiência, tornar a pessoa dependente dos profissionais da enfermagem e, muitas vezes, da estrutura hospitalar gerando custos adicionais tanto para a instituição como para o paciente. Também pude evidenciar a fragilidade no cuidado a estes pacientes por falta de um instrumento adequadamente preparado, para ser utilizado durante as consultas de enfermagem, que contemple todas as demandas da pessoa em situação de estomia intestinal, com vistas a atender às necessidades de conhecimento deste, colaborando para a devolução à sociedade de um sujeito apto para desenvolver o seu autocuidado, suas atividades cotidianas e manter uma boa qualidade de vida. O enfermeiro é um profissional que pode ajudar a pessoa ostomizada a adquirir autonomia no agir, aumentando a capacidade de enfrentar situações adversas e decidir sobre a sua vida e a sua saúde. A realização de ações educativas no decorrer de todas as etapas que envolvem o acompanhamento de pessoas em situação de estomia intestinal deve ocorrer no sentido de assegurar melhor aceitação e atitudes positivas diante da nova condição: “a de ser uma pessoa ostomizada”. No Brasil a consulta de enfermagem foi legalizada com a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem e regulamentada pela Lei nº 7.498 de 25 de junho de 1986 que, 15 de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 1986), constitui-se em uma atividade privativa do enfermeiro que utiliza componentes do método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e programar medidas de enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, da família e da comunidade (COFEN, 1993). É um instrumento da prática de enfermagem na perspectiva da concretização de um modelo assistencial adequado às condições das necessidades de saúde da população. A consulta de enfermagem possibilita a melhoria da compreensão e da aceitação da pessoa ostomizada e de seus familiares sobre a nova condição de vida, minimizando assim os fatores negativos que esta nova condição possa trazer a ele próprio e a seus familiares. Estas consultas são respaldadas por teorias que sustentam a prática profissional do enfermeiro. A escolha da Teoria do Autocuidado, de Dorothea Orem, vem de encontro com a problemática apresentada, pois a pessoa ostomizada não é considerada um doente e sim uma pessoa portadora de deficiência, que deve ser preparada para o retorno ao convívio social o mais próximo do habitual e retomar sua vida cotidiana. Uma busca na literatura impressa e por acesso via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados das Ciências da Saúde, que compreende como fonte de informações: a Literatura Latino-americana e do Caribe Ciências da Saúde (LILACS), o Scientific Electronic Library Online (SCIELO), mostrouque a consulta de enfermagem ainda é realizada de forma incipiente e muito centrada no modelo de consulta médica, baseada, portanto, no caráter curativo tradicional. As atividades desenvolvidas pelos enfermeiros, quando existentes, restringem-se à anamnese, exame físico sumário das queixas e patologias e orientações voltadas para as queixas, medicações, procedimentos, etc., sempre com um caráter curativo, predominantemente individual, sem considerar, família e abordagens grupais que são conduzidas de acordo com o grau de conhecimento do enfermeiro que a realiza, visto não haver um protocolo específico para a assistência a estes pacientes. A importância deste estudo está relacionada ao reconhecimento científico que se associa a um instrumento validado e utilizado nas consultas de enfermagem no HUWC da UFC, que constitui um hospital de ensino e recebe estudantes de cursos de graduação, pós- graduação de diversas instituições de nível superior, além da residência multiprofissional da UFC. Logo, esta ação poderá ser disseminada entre os futuros profissionais e contribuir para o exercício de uma prática que poderá tornar-se referência para o atendimento de pessoas em situação de estomia intestinal, nas diversas instituições de saúde em que sejam atendidas 16 pessoas nestas mesmas condições, visando uma boa qualidade de vida do portador de estomia intestinal e a geração de indicadores da qualidade do serviço de enfermagem prestado no HUWC / UFC. Intensificando minhas atividades na COPTRAF, deparei-me com o seguinte questionamento: Quais benefícios traria à pessoa em situação de estomia intestinal uma consulta de enfermagem sistematizada? Esta consulta atenderia a demanda de conhecimento necessário ao desenvolvimento do autocuidado da pessoa ostomizada? Um instrumento especificamente elaborado favoreceria a pessoa tornar-se apta para desenvolver o seu autocuidado e manter uma boa qualidade de vida? Para responder a esses questionamentos, este trabalho tem o propósito de construir um instrumento para consulta de enfermagem a ser utilizado no ambulatório de coloproctologia do Hospital Universitário Walter Cantídio –HUWC - da Universidade Federal do Ceará – UFC, com pessoas em situação de estomia intestinal. Esse instrumento terá o seu conteúdo validado por especialistas na área de estomaterapia. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral: Construir um instrumento para consulta de enfermagem a pessoas em situação de estomia intestinal. 1. 2.2 Objetivos Específicos: Estruturar um instrumento de assistência de enfermagem para a consulta de enfermagem a pessoas em situação de estomia intestinal. Validar o conteúdo deste instrumento por meio de apreciação por enfermeiros especialistas denominados “juízes”. 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO 2.1 Teorias em Enfermagem Uma teoria é uma abstração da realidade entendida como uma organização de palavras ou outros símbolos que representam experiências perceptuais de objetos, propriedades ou eventos. Tal como um mosaico, uma teoria possui organização e padrões e, como abstração sistemática de realidade, ela também é orientada por propósitos. (CHINN; KRAMER, 1995). A enfermagem, no curso de sua história, esteve sempre dependente de outras ciências, portanto, sem um corpo de conhecimento próprio, o que fomentou nos enfermeiros, o desejo de conhecer a sua natureza e construir a sua identidade (ALMEIDA et. al. 2005). Para Raimondo et al. (2012), o fazer da enfermagem durante muitos anos foi apenas para resolução de problemas imediatos, sem aplicabilidade de teorias que fundamentassem seu fazer profissional, logo, sendo de modo intuitivo. Todavia, a influência de diversos fatores como os científicos, sociais, culturais, políticos e econômicos remeteram a enfermagem a um novo patamar reflexivo e a apropriação de uma fazer com bases científicas a partir da utilização das teorias no seu fazer profissional. A teoria de enfermagem é um instrumento de trabalho que ressalta o conhecimento científico, demonstrando as tendências das visões sobre o processo saúde - doença que embasam a prática do cuidado (PESSOA et al., 2006). As teorias de enfermagem explicitam a complexidade e multiplicidade dos fenômenos presentes no campo da saúde, também servem como referencial teórico/metodológico/prático aos enfermeiros na construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de investigações e à assistência no âmbito da profissão (THOFEHM; LEOPARDI, 2002). No âmbito da educação em enfermagem, as teorias são, às vezes, apresentadas como um corpo de conhecimentos teóricos aprendidos além da arena da prática, isolando-a do trabalho cotidiano da enfermagem. Muito embora o desenvolvimento do ensino teórico na prática da enfermagem tenha sido focalizado nesta última década, a conexão prática/teoria ainda necessita ser explorada e articulada (DOAN; VARCOE, 2005). Para Schaurich e Crossetti (2010), as teorias podem ser consideradas aportes epistemológicos fundamentais à construção do saber e à prática profissional, auxiliam na 18 orientação dos modelos clínicos da enfermagem, possibilitam que os profissionais descrevam e expliquem aspectos da realidade assistencial, além de auxiliar no desenvolvimento da tríade teoria, pesquisa e prática na área, logo, objetiva consolidar a enfermagem como ciência e arte na área da saúde. O uso de teorias na enfermagem reflete um movimento da profissão em busca da autonomia e da delimitação de suas ações. Para Feijão (2011), as teorias servem de fundamentos para a prática, e o desenvolvimento destas teorias na enfermagem contribuem para a definição dos papéis da enfermagem como profissão, suas especificidades e seus saberes, como também para o desenvolvimento científico e autônomo de uma profissão que até recentemente era considerada uma ramificação do saber médico, no entanto, a incorporação das teorias na prática profissional do enfermeiro permanece incipiente. Há diversas Teorias de Enfermagem utilizadas no ensino e na prática dos enfermeiros, como a Teoria de Wanda de Aguiar Horta, Teoria das Necessidades Humanas Básicas, preconizado por Maslow; Teoria de Leininger, Teoria Cultural do Cuidado; Teoria de Martha Rogers, Teoria do Modelo Conceitual do Homem; Teoria de Sister Calista Roy, Teoria da Adaptação; Teoria de Imogenes King, Teoria Alcance dos Objetivos; Teoria Jean Watson, Teoria do Cuidado Transpessoal; Teoria de Hildegard E. Peplau, Teoria das Relações Interpessoais, dentre outras como de Orlando, Angel, Henderson, Roy e a Teoria de Dorothea Orem, Teoria do Autocuidado (MATOS et al. 2011; FAVERO et al 2009), que foi escolhida para este trabalho. Espera-se que através da aplicação dos pressupostos dessa teoria a pessoa ostomizada seja envolvida no processo do autocuidado, adquirindo autonomia e independência dos cuidados do enfermeiro tornando-se apta para o desenvolvimento do autocuidado, uma vez que ela deverá aprender a conviver com sua nova condição de ostomizada e através do autocuidado, buscar meios que lhe proporcione melhor qualidade de vida no âmbito familiar e social no qual está inserida, pois mesmo sendo considerada uma pessoa portadora de deficiência, com as orientações do profissional enfermeiro poderá adquirir habilidades psicomotoras e destreza manual para o desenvolvimento do autocuidado preconizado por Dorothea Orem em sua Teoria. A Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem afirma que a enfermagem tem como principal alvo a necessidade de ações de autocuidado do indivíduo e o fortalecimento e controle destas ações, numa base contínua para sustentar a vida e a saúde, recuperar-se de doenças ou ferimentos e se compatibilizar com seus efeitos (OREM, 2001 apud 19 RODRIGUES, 2006, p. 21). Por essa razão, neste estudo, trabalhamos com esta teoria, vistoser a pessoa em situação de estomia intestinal demandante de ações que a ajudem a promover o seu autocuidado. 2.2 A Teoria de Dorothea Orem A Teoria do Autocuidado foi desenvolvida pela enfermeira Dorothea Elizabeth Orem que, em 1959, começou a trabalhar com o autocuidado para as pessoas com possibilidades de desempenhá-las independentemente da idade. (DUPAS et al, 1994, p. 20). Autocuidado é a prática de atividades que indivíduos iniciam e desempenham em favor de si na manutenção da vida, saúde, e bem-estar. Esse termo é composto pelo prefixo auto e o verbo cuidar, que se refere a (sozinho, sem ajuda, por iniciativa própria) e a favor de si mesmo, com o auto como o sujeito do verbo cuidar. Também tem a dupla conotação de cuidado (por si só) e (feito por alguém). Logo o portador de estomia é o agente do autocuidado, pois é o indivíduo que toma a ação. (OREM, 2001 apud RODRIGUES, 2006, p. 21). A proposta de Orem se constitui em um modelo teórico composto por três teorias inter-relacionadas. Este modelo teórico tem como eixo central a teoria do autocuidado, sendo o autocuidado definido como uma função regulatória dos seres humanos. Há três teorias que se inter-relacionam na Teoria de Orem: a Teoria do Autocuidado - apresenta o conceito de autocuidado e como este se relaciona com o indivíduo, descreve conceitos de autocuidado, ação de autocuidado, demanda terapêutica de autocuidado e fatores condicionantes básicos que podem afetar na ação de autocuidado; a Teoria do Déficit de Autocuidado - a essência da teoria geral de Orem, pois demonstra quando os cuidados de enfermagem são imprescindíveis, isso ocorre quando há maior demanda do que capacidade e; a Teoria dos Sistemas de Enfermagem - descreve como a assistência será prestada. Essa teoria é classificada em três sistemas: 1. sistema totalmente compensatório, 2. sistema parcialmente compensatório e 3. sistema de apoio educação (BUB et al, 2006, p. 155; FOSTER; BENNETT, 2000, p. 84-87). Teoria do Autocuidado – Essa teoria apresenta três categorias/requisitos para o autocuidado que podem ser definidos como ações voltadas para a provisão do autocuidado - os requisitos universais; os requisitos de desenvolvimento do autocuidado e; os requisitos de autocuidado no desvio da saúde. 20 Os Requisitos Universais são definidos como ações voltadas para a provisão de autocuidado e estão voltados à processos de vida e à manutenção da integridade da estrutura e funcionamento humanos, comuns a todos seres humano. (FOSTER; BENNETT, 1993). Estão presentes em todos os indivíduos associados aos processos de vida e à manutenção da integridade da estrutura e funcionamento humano, categorizadas em oxigenação, alimentação e hidratação, atividade e repouso, eliminação, isolamento e interação social, risco à saúde e ao bem estar, promoção e desenvolvimento humano (TORRES et al., 1999). Para Duppas et al. (1994) a Teoria de Orem abrange todos os níveis de prevenção, sendo prevenção primária aquela que se propõe a ajudar o indivíduo a encontrar as necessidades de autocuidado universal e de desenvolvimento. O níveis de prevenção secundária e terciária exigem intervenções associadas as alterações de saúde. Os Requisitos de Desenvolvimento do Autocuidado apresentam ações de autocuidado voltadas para os eventos sitiados nas diversas fases de desenvolvimento dos indivíduos (RAMOS et al., 2007). Este requisito refere-se a situações novas que ocorrem na vida do ser humano ou novos eventos com os quais ele deverá aprender a lidar como no caso da atividade laboral e atividade física. Teoria do Déficit do Autocuidado - Os Requisitos de autocuidado no desvio da saúde visam 1. Busca da garantia de assistência médica adequada; 2. Conscientização e atenção aos efeitos e resultados de condições e estados patológicos; 3. Execução efetiva de medidas prescritas pelo médico; 4. Conscientização e atenção, ou regulagem de efeitos desagradáveis ou maléficos de medidas prescritas de cuidados médicos; 5. Modificação do autoconceito (e da autoimagem) na aceitação de si como estando num estado especial de saúde e necessitando de formas específicas de cuidados de saúde; 6. Aprendizado da vida, associado aos efeitos de condições e estados patológicos, bem como de efeitos de medidas de diagnóstico e tratamento médicos, num estilo de vida que promova o desenvolvimento contínuo do indivíduo (FOSTER; BENNETT, 1993, p. 92). Ainda para Foster e Bennett (1993), na teoria do déficit de autocuidado, Orem delineia quando há necessidade da atuação da enfermagem diante da incapacidade ou limitação do indivíduo realizar seu autocuidado e quando as pessoas necessitam incorporar medidas complexas para o autocuidado, onde seja necessário conhecimento e habilidades especializadas que necessitem de treinamento e das habilidade técnica do profissional enfermeiro. 21 Orem identifica cinco métodos de ajuda, no déficit de autocuidado 1. agir ou fazer para o outro; 2. guiar o outro; 3. apoiar o outro (física ou psicologicamente); 4. proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, quanto a se tornar capaz de satisfazer demandas futuras ou atuais de ação e 5. ensinar o outro. Para Farias e Nóbrega (2000), os requisitos de autocuidado no desvio da saúde estão relacionados aos problemas de ordem funcional, genética relacionada ao diagnóstico clínico e ao tratamento. Teoria de Sistemas de Enfermagem – Essa teoria classifica-se em três sistemas: Sistema totalmente compensatório; Sistema parcialmente compensatório e Sistema de apoio educação. O primeiro está representado por uma situação em que o indivíduo é incapaz de empenhar-se naquelas ações de autocuidado. O segundo está representado por uma situação em que tanto o enfermeiro quanto o paciente executam medidas ou outras ações de cuidado que envolvem tarefas de manipulação ou de locomoção. E no terceiro sistema de enfermagem, a pessoa consegue executar ou pode e deve aprender a executar medidas de autocuidado terapêutico (FOSTER; BENNETT, 1993). A Teoria de Sistemas de Enfermagem subsidiará a prática profissional do enfermeiro que identificará a maneira de atender a pessoa portadora de estomia intestinal, considerando o grau de dependência e a necessidade de autocuidado, bem como a capacidade desse de corresponder com a realização de práticas para seu autocuidado. Dorothea Orem define a concepção de pessoa, ambiente e enfermagem. Pessoa é um organismo biológico, racional e pensante, capaz de realizar ações de autocuidado. Para Orem, seres humanos diferem de outros seres vivos por sua capacidade de refletir acerca de si mesmos e de seu ambiente, capazes de desenvolver esforços para fazer coisas que trazem benefícios para si mesmos e para outros. O conceito de ambiente está centrado na sociedade formada por pessoas de um grupo social que devem ser ajudadas a restabelecer suas responsabilidades, cabendo à enfermagem o objetivo de ajudá-las a manter, por si mesmo, ações que vise o autocuidado, revertendo em benefícios próprio, e a enfermagem é o agente que proporciona ao indivíduo e/ou grupos assistência direta em seu autocuidado segundo sua necessidade. Para Orem, a enfermagem diferencia-se dos outros serviços humanos pela forma como ela focaliza os seres humano (SARAT, 2007). Sampaio et al. (2008) propõe a promoção do cuidado de enfermagem de forma holística através da aplicação da teoria do autocuidado com uma assistência direcionada para 22 as necessidades do paciente. Essa teoria ressalta a importância do engajamento do paciente no autocuidado. É da responsabilidade do enfermeiro promover o autocuidado, e levar o cliente a participar do seu autocuidado na medida de sua capacidade e de seu estado de saúde transformando-o em um agente de autocuidado (DIÓGENES E PAGLIUCA 2003).23 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Contexto da Pessoa com Estomia Intestinal A pessoa em situação de estomia intestinal é aquela vítima da violência por arma branca, de fogo ou perfuração abdominal por objetos perfurantes e outras doenças como neoplasia maligna que comprometem o aparelho intestinal, na qual poderá ser realizado o procedimento cirúrgico de estomia que pode ser temporária ou definitiva. Pessoa ostomizada é “aquela que, em decorrência de um procedimento cirúrgico, consiste na exteriorização do sistema (digestório, respiratório e urinário), possui um estoma que significa uma abertura artificial entre os órgãos internos com o meio externo” (BRASIL, 2009). Com o crescimento da população, o Brasil atingiu 190.732.694 pessoas no último censo demográfico de 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010). Frente ao aumento da população e da expectativa de vida, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) afirma que houve um aumento de doenças crônico degenerativas, dentre elas o câncer, particularmente o câncer no intestino grosso ou delgado que é o maior causador das estomias, com uma estimativa de 30.140 casos, sendo 14.180 homens e 15.960 mulheres no ano de 2012 para este tipo de câncer (INCA 2012). Adicionalmente, causas externas como o aumento da violência urbana, acidentes de trânsito e violência por arma branca e arma de fogo, tendem a aumentar o número de pessoas que serão submetidas à estomia intestinal. Em estudos realizados por Silva et al. (2010) no estado do Ceará, o trauma abdominal destaca-se como uma das causas mais comuns de indicação das estomia intestinal. Estaticamente, as pessoa portadoras de estomia intestinal e/ ou urinárias, apesar de não constituir uma clientela expressiva em termos de saúde pública, merecem atenção especial dos profissionais da saúde, políticas públicas e programas de saúde com intervenções voltadas para a reabilitação que atendam tanto o fornecimento de dispositivos específicos para ser utilizado, como no atendimento psicossocial, pois esta nova condição, de ostomizado, influencia na qualidade de vida individual e familiar (SANTOS, 2000). Neste trabalho será utilizado o termo “pessoa em situação de estomia intestinal”, para definir a pessoa no pré ou pós-operatório de estomia intestinal. Pessoa ostomizada ou ostomizado como aquela que possui um estoma. E será utilizado o termo estoma ou estomia, que são termos adequados para a língua portuguesa no Brasil, segundo a Academia Brasileira de Letras, em consulta feita pela Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e 24 incontinência (SOBEST, 2013). Estomias Intestinais, colostomia e ileostomia, são intervenções cirúrgicas realizadas, tanto no cólon (intestino grosso) como no intestino delgado, respectivamente e consiste na exteriorização de um segmento intestinal, através da parede abdominal, criando assim uma abertura artificial para a saída do conteúdo fecal (BRASIL, 2009). A palavra estoma vem do grego “stocum” e significa abertura ou boca. Considera-se estomia a abertura cirúrgica de um órgão ou segmento com vistas à derivação e/ou infusão. É indicada nas situações de malformações congênitas e traumática. É adjuvante no tratamento de feridas complexas em região perineal e nas reconstruções cirúrgicas plásticas em períneo, incontinências anal ou urinária severa e irreversível, e doenças neoplásicas (INCA 2008). É um procedimento cirúrgico realizado há quase trezentos anos em tratamento ocasionado no colo e reto, sendo sua utilização difundida no tratamento de outras patologias cirúrgicas, como a obstrução intestinal por neoplasia, as complicações de doença diverticular e a Síndrome de Fournier. Esse procedimento, além de ser realizado pelo médico cirurgião especialista, também é realizado pelo cirurgião geral em situação de urgência (MARQUES; SILVA, 2006). Dependendo da etiologia da doença, pode ser indicada a realização de um estoma temporário (trauma abdominal com perfuração intestinal) ou definitivo (quando não existe a possibilidade de restabelecer o trânsito intestinal, geralmente na situação de câncer) (GAMELLI, 2002). A realização de uma estomia intestinal tem como objetivo a exclusão total do trânsito fecal, a fim de evitar a contaminação dos tecidos adjacentes pelo extravasamento de fezes e permitir condições locais para a cicatrização completa da lesão. Tratando-se de estoma temporária, posteriormente, o trânsito intestinal será restabelecido através da reconstrução intestinal (CARREIRO et al., 2000). Para Simões et al. (2000), a maioria dos pacientes que são submetidos a colostomia intestinal é posteriormente submetido a uma nova intervenção cirúrgica para a reconstrução do trânsito intestinal, denominada de decolostomia. Embora os estomas intestinais sejam mais frequentes em adultos, também podem ocorrer em crianças, geralmente é atribuído a malformações congênitas, onde a cirurgia é realizada no período neonatal, o que demanda necessidade importante de informações da parte dos profissionais de saúde para a obtenção de um adequado 25 conhecimento e cooperação por parte dos pais (CARVALHO, 2003). Silva e Shimizu (2006) relatam que as pessoas ostomizadas, devido à alteração da imagem corporal e da autoimagem, apresentam o sentimento de medo, solidão e impotência, e por isso costumam evitar locais públicos e o convívio social. As autoras consideram que esse sentimento é devido à falta de informação para o autocuidado e o estigma, por julgar-se diferente, o que leva a esse tipo de comportamento social. Em decorrência disso, alguns pacientes preferem aposentar-se, passam por desorganização emocional intensa, perdem o prazer de viver e vivenciam sentimentos de medo, angústia, solidão. Para Espadinha e Silva (2011), os efeitos psicológicos surgem quando o ostomizado perde o controle sobre ato de evacuar após uma cirurgia, que é voluntário e controlável, ocorrendo um efeito profundo quer no corpo, quer na compreensão e integração do fenômeno, fazendo surgir múltiplas dúvidas, insegurança e reações diversas, ocasionando problemas de ordem física, emocional e relacional. Tudo isso leva a pessoa ostomizada a depara-se com múltiplos problemas relacionados com a perda da continência fecal e a necessidade de utilizar um dispositivo coletor de fezes. O paciente que é submetido a um procedimento considerado agressivo como a colostomia ou a ileostomia, tem alteração na fisiologia gastrointestinal, autoestima, imagem corporal, além de outras modificações em sua vida, o que representa um desafio para o cuidado pelo enfermeiro (SONOBE et al., 2002). Na visão de Maruyama (2009), acontecem repercussões na vida da pessoa com estoma, como a necessidade de uso de bolsas de colostomias, dependência aos cuidados profissionais de modo contínuo e modificação no modo viver nos âmbitos pessoal, familiar, profissional, social e cultural. Para Batista et al. (2011) o ostomizado necessita utilizar uma bolsa de coleta de fezes aderida ao abdome devido a comunicação do intestino para a parte de fora do corpo. Estes autores observaram que a percepção da pessoa portadora de colostomia sobre a bolsa coletora está intimamente ligada a sentimentos negativos como medo, insegurança, mutilação, sofrimento, afetando a sua rede social de trabalho e de lazer e a sua sexualidade. Esses efeitos tornam-se mais aparentes quando o paciente é submetido ao procedimento de urgência sem ter tido um preparo prévio do que seria realizado, deparando- se no pós-operatório com uma parte do seu intestino posicionado na parede abdominal por onde ele, durante certo período e/ou definitivamente irá eliminar fezes, diferentemente da vivência anterior, considerada normal e aceita pela sociedade, apresentando vários 26 sentimentos, reações e comportamentos,desde a negação até a aceitação. Bellato et al. (2007) realizou estudos das repercussões da estomia na vivência familiar e as consequências que ela tem para a vida das próprias pessoas e suas famílias, e conclui que os profissionais de saúde e enfermagem devem compreender como é viver a condição de ostomizado na dimensões familiar, para poder pensar em um cuidado de enfermagem que atenda, de modo efetivo, às necessidades das pessoas ostomizadas. Para Santos (1999), as pessoas submetidas a uma ostomia intestinal vivenciam uma situação de estresse, devido ao enorme impacto emocional, tanto pela doença como pelo tratamento, o que acarreta profundas mudanças em seu estilo de vida. Esse stress é vivenciado desde o momento do diagnóstico, perpassa pelo internamento e vai até a alta hospitalar, quando ele se deparará com a falta do aparato existente no ambiente hospitalar. Autores relatam que as dificuldades relacionadas à sexualidade são devido às alterações na imagem corporal, pois o procedimento cirúrgico pode causar algumas disfunções fisiológicas no homem, como a redução ou perda da libido, diminuição ou ausência da capacidade de ereção, alteração da ejaculação e, na mulher, a redução ou perda da libido, dores durante o ato sexual, entre outras. Mostram ainda que boa parte das dificuldades sexuais também têm origem psicológica, devido à vergonha frente ao parceiro, sensação de estar sujo e repugnante (SOUZA et al., 1997; SILVA; TEIXEIRA, 1997). Estudos de Andrade et al. (1997) constataram queda na qualidade de vida do ostomizado em consequência da mudança na sua sexualidade, devido principalmente a diminuição ou ausência das relações sexuais e ressalta a atuação do profissional no desenvolvimento de um trabalho que promova uma gradativa aceitação do ostomizado pelo seu parceiro. Logo, a importância da intervenção profissional para a pessoa em situação de estomia intestina desde a fase diagnóstica e a fase pré- operatória precoce, a fim de promover uma boa evolução no decorrer das etapas de reabilitação, tanto do paciente como do seu parceiro. Com relação às mulheres, Martins et al. (2011) afirmam que a presença de um estoma em um corpo feminino, acarreta grandes repercussões sobre a vida da mulher pois escapa dos padrões de beleza preconcebidos e pode ser visto como assexuado e improdutivo, podendo trazer sérias limitações em sua vida, especialmente quando esta se encontra em fase reprodutiva. O enfermeiro deve direcionar a assistência de enfermagem além do aspecto técnico para os aspectos mais subjetivos que entrelaçam a vida humana não considerando que a sexualidade não faça parte da saúde humana. A construção de tecnologias de cuidado de 27 enfermagem que auxiliem na promoção da qualidade de vida dessas mulheres pode ser desenvolvida pelo enfermeiro. Paula et al. (2009) ao identificar os fatores que influenciam na sexualidade do ostomizado, valorizados e trabalhados, por profissionais especializados, ajudará a pessoa e o parceiro na adaptação às novas condições, na busca de novas estratégias de enfrentamento inclusive para uma vida sexual ativa e prazerosa, auxiliando nos processos de adaptação e reabilitação. Deve haver capacitação permanente dos profissionais que compõem a equipe de saúde e o conhecimento dos significados atribuídos à sexualidade pelo ostomizado e a inclusão da sexualidade no leque de orientações na rotina de atendimento da equipe que o assiste, contribuindo para melhorar qualidade de vida da pessoa ostomizada. É importante um elo de confiança muito grande entre o profissional enfermeiro, o paciente e seu parceiro ou parceira no sentido de diálogo de como acontece a vivência da sexualidade no casal, compreender como era a vivência da sexualidade antes da estomia e como passará a viver diante da nova condição. Em relação ao paciente com estomia definitiva, Silva e Shimizu (2006) falam sobre a dificuldade da reinserção do ostomizado no mercado de trabalho devido à insegurança para continuar cuidando da estomia e ainda trabalhar, o que os leva a pedir aposentadoria precocemente por invalidez. A ausência de atividade laborativa pode levá-los à ociosidade e ao isolamento social, o que contribuirá para prejudicar ainda mais sua qualidade de vida. Souza (2011), relatando sobre a pessoa com colostomia temporária, cita que esta pessoa com vivência de colostomia temporária apresenta mudanças no cotidiano da sua vida. As alterações são nos hábitos de vida, destacando-se a alimentação, o sono e o controle das eliminações intestinais, devido a incapacidade de controle fecal associada à necessidade da utilização dos dispositivos coletores de fezes que requerem uma nova forma de viver. A condição do ostomizado temporário difere do ostomizado definitivo, pois no primeiro há a perspectiva futura do fechamento da mesma, diferentemente do ostomizado que terá que aprender a conviver pelo resto da vida com o estoma. No relacionamento dos profissionais, com o ostomizado temporário, deve-se ter prudência ao lidar com seu diagnóstico, pois pode acontecer frustação deste quanto ao fechamento do estoma, quando há um laudo médico contrário que indique a necessidade de tornar-se um ostomizado definitivo, e neste sentido a pessoa ostomizada já deve ser trabalhado desde o momento do diagnóstico médico para não haver surpresas desagradáveis 28 no decorrer do tratamento. A realidade das pessoas portadoras de estoma intestinal exige das autoridades a adoção de políticas públicas para o seu atendimento. Nesse sentido o Ministério da Saúde, cria a Portaria nº 400, de 16 de novembro de 2009, que estabelece Diretrizes Nacional e cria Serviços para Atenção à Saúde das Pessoas Ostomizadas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a serem observadas em todas as unidades federadas. Esse Serviço é classificado em Atenção às Pessoas Ostomizadas I e Atenção às Pessoas Ostomizadas II, sendo que o primeiro deverá realizar ações de orientação para o autocuidado, prevenção de complicações nas estomias e fornecimento de equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança e o segundo II deverá realizar ações de orientação para o autocuidado, prevenção e tratamento de complicações nas estomias, fornecimento de equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança e capacitação de profissionais (BRASIL, 2009). Anualmente cerca de 1,4 milhão de pessoas utilizam os serviços no SUS conforme a Portaria nº 400, de 16 de novembro de 2009 e outras diretrizes do MS, sendo atendidos por equipes formadas por médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo, e nutricionista, para intervenções especializadas, orientações para o autocuidado, prevenção de complicações nas estomias, além da prescrição e fornecimento das bolsas coletoras e adjuvantes de proteção e segurança (BRASIL 2013). Para Fernandes et al. (2010), o Programa de Atenção à Pessoa Ostomizada não pode ser apenas um centro de concessão de equipamentos e adjuvantes e é importante que os pacientes conheçam o papel da equipe multidisciplinar na recuperação e reabilitação precoces. Outra política pública que favoreceu a pessoa ostomizada foi o Decreto nº 5.296 /2004, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e define deficiência física como sendo uma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (BRASIL,2004). Este Decreto contempla a pessoa portadora de estomia no contexto de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, assegurando a essas os mesmos direitos observados 29 aos portadores de deficiências, entretanto, diferentemente dos demais, os portadores de estomias intestinais ainda não possuem um elemento identificador de sua deficiência capaz de torná-la usuária efetiva dos direitos que lhe são assegurados como o uso prioritário de assentos de transporte público; estacionamentos; prioridade em filas instituições como banco, supermercado, estabelecimentos públicos e/ou privados ou outros locais reservados para pessoas com deficiência. O Projeto de Lei nº 5384/2005 cria o Símbolo Nacional da Pessoa Ostomizada, este Projeto de Lei tramita no Congresso Nacional desde 07/06/2005 aguardando o parecer na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara de Deputados (ABRASO, 2012). É necessário que os organismos associativos dos estomizados pressionem os parlamentares para a imediata aprovação do referido Projeto de Lei, para que o mecanismo de utilização do símbolo, a exemplo do símbolo dos idosos e gestantes, possa ser oficialmente disseminado e as pessoas possam usufruir do seu direito por meio da utilização de adesivos e também de sinalizadores como carteirinhas que os possam identificar sem causar nenhum constrangimento. Ainda no que se refere à acessibilidade e inclusão, é importante a construção de banheiros adequados para a pessoa portadora de ostomia intestinal, a começar pelos estabelecimentos públicos, escolas, universidades e principalmente nos hospitais que prestam atendimento a pessoa ostomizada. Campanhas de divulgação nos meios de comunicação devem ser conduzidas no sentido de tornar conhecido o símbolo nacional da pessoa ostomizada e o mesmo deve ser afixado em lugar de boa visualização e em todos os espaços de utilização dos mesmos. Figura 1-Símbolo Nacional de Pessoa Ostomizada Entretanto, mesmo com a existência destas políticas, não é assegurado a essas pessoas o pleno gozo dos direitos que lhes são concedidos pela legislação, tendo em vista as 30 inúmeras questões já atadas aqui. Com o objetivo de contribuir com campanhas de divulgação e luta dos direitos e conquistas da pessoa ostomizada e de minimizar os sentimentos negativos que assolam os portadores de estomas intestinais, Zampieri e Jatobá (1997) ressaltam a importância da criação de núcleos e associações de pessoas portadoras de estoma. Esses mesmos autores ressaltam ainda a criação da primeira associação de pessoas portadoras de estomas na cidade de Fortaleza - Ceará em 1975, com o objetivo de oferecer aos portadores de estomas intestinais assistência interdisciplinar, no contexto psicossocial procede o fornecimento de equipamentos e acessórios necessários para a manutenção dos cuidados corporais, com vista à readaptação precoce e ao autocuidado tornando-se, assim, sujeitos independentes e capazes de uma total reintegração social. Esta associação é denominada “Clube dos Ostomizados do Brasil”. As associações de ostomizados estão presentes em vários estados do país, estão ligadas nacionalmente a Associação Brasileira de Ostomizados (ABRASO) e internacionalmente a Associação Internacional de Ostomizados (IOA) - entidade que reúne sessenta e quatro países, fundada em 1975, para fazer cumprir seus direitos dos estomizados como os que estão descritos no documento “Declaração dos Direitos dos Ostomizados” onde apresenta as necessidades especiais dos ostomizados e os cuidados que eles requerem. Essas pessoas precisam receber informações e cuidados que os capacitem a viver uma vida autônoma e independente e participar de todos os processos decisórios. É objetivo declarado da Associação Internacional de Ostomizados que essa Declaração de Direitos seja reconhecida em todos os países do mundo (ABRASO, 2012). Nessas associações também se formam grupos de auto ajuda que contribuem para valorizar a autoimagem do ostomizado, superar os estigmas, preconceitos e elevar autoestima, além de contribuir para o autocuidado. Crema e Silva (1997) ressaltam a importância dos núcleos e associações de ostomizados, pois são representantes junto às instituições públicas do governo, dos portadores de estomia, além de auxiliá-los na readaptação precoce e ao autocuidado, tornando-os independentes e propiciando sua reintegração social. Silva e Shimizu (2006) consideram a associação dos ostomizados um espaço onde eles podem colocar suas angústias e sentimentos e serem compreendidos por seus pares. Local onde os profissionais de saúde devem estimular pessoas ostomizadas a frequentarem a fim de trabalhar a melhoria da sua qualidade de vida. 31 Pereira e Pelá (2006) identificaram em um grupo de ostomizados definitivos a importância das atividades grupais na busca da aceitação, pois para eles, nos grupos, eles interagem com outras pessoas nas mesmas situações, eles veem no grupo um espaço para conversar, fortalecer laços e fazer novas amizades. Também no grupo, aprendem a superar a solidão, compartilham alegrias, afetos, amor e tristezas, o que se torna um incentivando a aprender a conviver com a nova condição. Para as autoras, o trabalho em grupo é um excelente espaço para a atuação do enfermeiro, está em franca expansão e promete consolidar-se na prática de enfermagem. Martins et al. (2005) desenvolveram um trabalho no Grupo de Apoio à Pessoa Ostomizada (GAO), em Santa Catarina, onde se realizaram ações de saúde fundamentadas na parceria, que se expressaram por meio da troca de vivências e saberes entre profissionais, usuários, familiares e profissionais compartilhando técnicas, conhecimentos, vivências que é condição sine qua non para a melhoria da qualidade de vida. Logo, é necessária a defesa e manutenção dos direitos humanos das pessoas ostomizadas e a capacitação dos profissionais e usuários, para que assimilem a nova realidade da pessoa submetida à cirurgia de estomia. Estudos realizados por Para Freitas e Pelá (2000) com Portadores de Colostomia Definitiva e seus acompanhantes (parceiros sexuais e familiares), no - Grupo de Apoio e Reabilitação do Paciente Ostomizado - GARPO, durante as reuniões na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, demonstraram que tanto o sujeito portador de colostomia como seu parceiro sexual necessitam de informações a respeito de sua sexualidade e que os profissionais da saúde necessitam de preparo específico, no sentido de atender aos questionamentos concernentes à sexualidade, sobretudo com referência aos sujeitos portadores de colostomia, logo perceberam que os enfermeiros, necessitam de preparo para intervir junto à integridade geral e sexual do casal ostomizado. Dessa forma os ostomizados se organizam para fazer valer os direitos conquistados não somente no serviço público, como também na iniciativa privada, a exemplo da conquista de equipamentos coletores que através da Lei nº 12.738, de 30 de novembro de 2012 que torna obrigatório o fornecimento de bolsas de colostomia, ileostomia e urostomia, de coletor de urina e de sonda vesical pelos planos privados de assistência à saúde. Tais conquistas são comemoradas no Dia Nacional dos Ostomizados, dia 16 de novembro, data da fundação da ABRASO, através da Lei 11.506 em 19 de julho de 2007 e, internacionalmente, 03 de outubro no dia mundial do ostomizado data comemorada a partir do ano de 1993. (BRASIL, 2007, 2012; ABRASO, 2012). 32 No Estado do Ceará, por meio da Secretaria Estadual da Saúde e em Fortaleza por meio da Prefeitura Municipal, através do Programa de Atenção ao Paciente Ostomizado, 1.200 e 900 ostomizados estão cadastrados respectivamente. A entrega de bolsas coletoras é feita na capital e em municípios do interior do Estado. As pessoas ostomizados utilizam entre 10e 15 bolsas coletoras por mês o que totaliza entre 21.000 e 31.500 bolsas distribuídas em um mês no estado do Ceará (CEARÁ, 2013) (FORTALEZA, 2013). São direitos dos ostomizados: 1. Receber aconselhamento pré-operatório para assegurar que ele tenha pleno conhecimento dos benefícios da cirurgia e dos fatos essenciais sobre viver com um ostoma; 2. Ter um ostoma bem feito e bem localizado, com consideração integral e adequada ao conforto do paciente; 3. Receber apoio médico e profissional experiente e cuidados de enfermagem especializada em ostomas nos períodos pré e pós-operatório, tanto no hospital como na sua comunidade; 4. Receber apoio e informação para o benefício da família, cuidadores e amigos, a fim de aumentar o entendimento sobre as condições e adaptações que são necessárias para se alcançar um padrão de vida satisfatório com um ostoma; 5. Receber informações completas e imparciais sobre todos os fornecimentos e produtos relevantes disponíveis em seu país; 6. Ter acesso irrestrito à variedade de produtos acessíveis para ostomia; 7. Receber informações sobre sua Associação Nacional de Ostomizados e os serviços e apoio que podem ser oferecidos; 8. Estar protegido de toda e qualquer forma de discriminação; 9. Estar seguro de que toda informação pessoal relacionada à sua cirurgia de ostomia será tratada com discrição e confidencialidade para manter sua privacidade e que nenhuma informação sobre sua condição clínica será divulgada por qualquer pessoa que a possua, para entidades envolvidas com a fabricação, comércio ou distribuição de materiais relacionados à ostomia; nem poderá ser divulgada para qualquer pessoa que se beneficiará, direta ou indiretamente, por causa de sua relação com o mercado de produtos de ostomia, sem o consentimento expresso do ostomizado. 33 3.2 Consulta de Enfermagem como Espaço de Promoção da Saúde A denominação Consulta de Enfermagem foi criada em 1968 por enfermeiros que participaram de um Curso de Planejamento de Saúde da Fundação de Ensino especializado de Saúde Pública no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1972, a consulta de enfermagem é implantada no ambulatório do Hospital de Clínicas de Porto Alegre sob a coordenação da Professora Léa Muxfeldt, chefe do serviço. Tal implantação sofreu muita resistência de profissionais de outras áreas, porém conseguiu se consolidar e até hoje é oferecida no serviço com a mesma estrutura de consulta das demais áreas de atuação do ambulatório (GALPERIN; PORTELLA, 1990). A consulta de enfermagem compõe-se de histórico de enfermagem (compreendendo a entrevista), exame físico, diagnóstico de enfermagem, prescrição e implementação da assistência e evolução de enfermagem, em todos os níveis de assistência à saúde. A obrigatoriedade da Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE em unidades de saúde pública e privada segue o artigo 2° da Resolução COFEN nº 272/ 2002. (COFEN, 1993 e 2002). A SAE é um recurso através do qual o enfermeiro pode demonstrar seus conhecimentos científicos, técnicos e humanos para com o paciente e planejar seus cuidados através da prescrição de enfermagem. Através de um roteiro sistematizado de levantamento de dados sobre a situação de saúde do ser humano, torna possível a identificação dos seus problemas o que compõe uma das etapas do processo de enfermagem (LIMA et al. 2009; PIVOTTO et al 2004) Para Luz et al. (2009) e Santos (2000) a consulta de enfermagem tem como propósito, assistir ao cliente e sua família de forma holística, e contribuir para maior independência dos serviços de saúde e deve ser uma atividade integrada às ações de outros profissionais da área da saúde. De acordo com a Lei nº 7.498/86 e o Decreto nº 94.406/87, Art. 8 – o enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem cabendo-lhe: I- Privativamente: e) Consulta de enfermagem; f) Prescrição da assistência de enfermagem (COFEN, 1987). Para Galperin e Portella (1990), "É uma atividade utilizada por profissionais capacitados para fornecer parecer, instrução ou examinar determinada situação a fim de decidir sobre um plano de ação sobre sua área de conhecimento em relação às necessidades apresentadas pelo cliente", sendo utilizada prioritariamente para promoção da saúde e da boa qualidade de vida do indivíduo. No campo gerencial, atua especificamente com a supervisão 34 de saúde, é em forma de ações combinadas qualitativas e quantitativas, sistemáticas e completas, de modo a se efetuarem em uma sucessão ordenada, lógica e de acordo com critérios pré-estabelecidos pelo sistema. Portanto possui metodologia própria, onde as ações realizadas constituem o Processo de Enfermagem (GALPERIN; PORTELLA 1990). Para realizar uma consulta, o enfermeiro precisa estar preparado para atender às demandas do cliente, aceitando seus valores, lembrando que o mesmo faz parte de um núcleo familiar e social, que é um ser holístico constituído de corpo, mente, e espírito, deve lembrar ainda que a saúde é resultado de necessidades humanas atendidas (ADAMI et al., 1989). Para Lopes et al. (1999), durante o processo de interação, algumas vezes, será necessário negociar (valores culturais) e/ou fazer contratos para uma efetiva adesão ao que é prescrito (cuidados e/ou terapêutica). Ou seja, é preciso procurar, ao longo da consulta, desenvolver uma aliança terapêutica, ir complementando (relembrando) as questões tratadas anteriormente para seguir adiante ou retomar a discussão. De acordo com Vanzin e Nery (1996), durante a consulta de enfermagem, é necessário considerar, em relação à determinação das necessidades prioritárias, os problemas relacionados à sobrevivência e a segurança básica (problemas ameaçadores); os problemas reais (quando o cliente ou família solicita ajuda); os problemas e as necessidades não reconhecidos pelo cliente ou família (conforme o grau de gravidade, estes problemas podem ter precedência sobre os anteriores) e os problemas ou necessidades potenciais (para planejamento de atendimento futuro). No fechamento da consulta é essencial combinar a periodicidade necessária para os retornos. Assim como, fazer referência a outras instituições de saúde, agendamento de exames e encaminhamento a outros profissionais, lembrando que a assistência de enfermagem não deve ser centrada na doença nem no indivíduo hospitalizado, mas nas pessoas que demonstrem ou manifestem dificuldade e necessidade do autocuidado (FORNAZIER E SIQUEIRA 2006). Oliveira et al. (2012), destacam a importância da consulta de enfermagem como estratégia tecnológica de cuidado importante e resolutiva. Têm vantagens na assistência prestada como facilidade na promoção da saúde, o diagnóstico e o tratamento precoces, além da prevenção de situações evitáveis e promoção da saúde. Consideram a consulta de enfermagem como uma tecnologia leve-dura que pode utilizar o trabalho morto, mas que predomina o trabalho vivo relacional e permite que o paciente desenvolva habilidades de autocuidado próprias para a melhoria da sua qualidade de vida. Através dela, o enfermeiro 35 possui completa autonomia para desenvolver estratégias de cuidados voltadas para a promoção da saúde do paciente e da família visando o autocuidado. 3.3 Estomaterapia como Ciência A história da estomaterapia moderna começa em 1958, nos Estados Unidos da América (EUA), na Cleveland Clinic Foundation, com o coloproctologista Rupert Turnbull e sua jovem paciente Norma Gill, ileostomizada em decorrência de retocolite ulcerativa. Neste mesmo ano de 1958, Rupert Turnbull contratou Norma Gil como “técnica em ostomia” sendo esta sua paciente e pessoa ileostomizada, para exercer funções na Cleveland Clinic Foundation. Apesar dessa não ter formação na área da saúde, inicia-se oficialmente a Estomaterapia - Enterostomal Therapy em que entero = intestino e stomal= estoma. Norma Gil é considerada a primeira Enfermeira Estomaterapêuta, e Rupert Turnbull o pai da Estomaterapia (PERRISÉ, 2007 apud APECE, 2013). O primeiro centro de treinamento em estomaterapia foi criado na Cleveland Clinic Foundation, em 1961. A partir dessa data a estomaterapia ganhou vulto e diversos cursos foram criados em várias localidades. (APECE, 2013). Em 1970, Norma Gil viu o significado de Enterostomal Therapy como uma especialidade de enfermagem reconhecida internacionalmente e adotada na Austrália, Canadá, Grã-Bretanha, Nova Zelândia e África do Sul. Norma Gill defendia que os profissionais de saúde interessados em cuidar da pessoa com estoma deveriam unir-se em uma associação mundial. Com o crescimento da especialidade, em 1975, iniciou um movimento para organizar um grupo formal e entra em contato com outros pioneiros internacionais nos EUA, Inglaterra, Canadá e França com interesse em cuidar de pessoas com estoma e em 18 de Maio de 1978, quando 30 estomaterapeutas, representando 15 países e 20 representantes da indústria realizaram o primeiro congresso de dois dias em Milão na Itália onde é fundado o World Council of Enterostomal Therapists (WCET). Esta reunião foi realizada em conjunto com a Associação Internacional de Ostomizados (IOA). Norma Gill foi a primeira presidente do WCET. O seu objetivo principal, entre outros, é a promoção da identidade e normatização da especialidade no mundo e o intercâmbio entre os seus membros (WCET apud APECE, 2013). No Brasil, o curso de especialização em estomaterapia, recebeu este nome pela Associação Brasileira de Estomaterapia, é um curso de pós-graduação Lato Senso 36 reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), referendado pela Sociedade Brasileira de Estomaterapia (SOBEST) - associação multidisciplinar que tem contribuído para o crescimento científico e político da especialidade, e credenciada pelo WCET. O primeiro curso foi instituído em 1990, na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, o Brasil possui vários cursos espalhados em estados do sul (Paraná), sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), nordeste (Ceará e Pernambuco) e norte (Amazonas) (SANTOS 2006). A estomaterapia é uma especialidade da prática do enfermeiro que recebe o título de Enfermeiro Estomaterapeuta (ET), assim estabelecido para a enfermagem pelo WCET. No Brasil este título é conferido, exclusivamente pela SOBEST, somente aos enfermeiros pós- graduados em cursos de especialização que sejam reconhecidos tanto pela SOBEST quanto pelo WCET e aos enfermeiros que tiverem aprovação em prova de título realizada pela SOBEST (ET Ti SOBEST). (YAMADA et al., 2008). O curso de estomaterapia em Fortaleza é ministrado na Universidade Estadual do Ceará UECE- que é referendado pela SOBEST e credenciado junto ao WCET e a SOBEST, Seção CE - que foi fundada em 10 de março de 2003 – é oficializada em 26 de abril de 2004, sendo aprovada em 18 de maio de 2004 (SOBEST, 2013). Para Cesaretti e Guidi (1994), o crescente avanço científico e tecnológico ocorrido ao longo do tempo tem influenciado o exercício da enfermagem e determinado nova postura na atuação profissional do enfermeiro, como a ampliação de conhecimentos técnicos e científicos, com cursos de atualização e especialização, como o curso de estomaterapia. Gamelli e Zago (2002) ressaltam que diante da complexidade do tratamento e da reabilitação do ostomizado, o estomaterapeuta é o profissional habilitado para o planejamento, implementação e avaliação do cuidado do paciente. Esses autores identificaram em seus estudos, que o cuidado e o ensino do paciente/família para a alta hospitalar são processos fundamentais para o sucesso da reabilitação do ostomizado, porém, está muito aquém do almejado, pois é realizado por enfermeiros generalistas ou de outras especialidades, que não a estomaterapia, logo, faz se necessário à qualificação do enfermeiro que atua com o paciente ostomizado para a prestação deste cuidado. Em 2003 foi fundado o European Council of Enterostomal Therapy (ECET), uma organização aberta à participação de todos os profissionais europeus de saúde envolvidos no cuidado à pessoa com ostomia (SANTOS 2006). Em Portugal, as primeiras enfermeiras Estomaterapeutas formaram – se em 37 universidades espanholas, francesas e inglesas, cujos cursos de estomaterapia eram e continuam a ser acreditados pelo WCET, com o “Titulo Próprio de Experto Universitario En Estomaterapia”. As primeiras consultas de Estomaterapia em Portugal surgiram em 1991. A Estomaterapia é uma área diferenciada de cuidados de saúde, que integram o saber científico - técnico, princípios de relação de ajuda e através da informação, ensino e aconselhamento, permite à pessoa que irá ou foi submetida a uma ostomia prosseguir a nível pessoal, familiar, profissional e social, com as necessárias modificações, o mais rápido possível, concretizando objetivos e metas pré-estabelecidos (APECE, 2013). 3.4 Cuidados de Enfermagem em Estomia e sua Influencia na Qualidade de Vida Em estudo de Gemelli e Zago (2002), foi observado que a pessoa ostomizada e seus familiares apresentavam dificuldades para a continuidade do cuidado após a alta hospitalar em todos os níveis quer seja nos aspectos físicos, emocionais e sociais. Para Michelone e Santos (2004), a perda do controle da eliminação de fezes e gases, condição mandatória para a vida em sociedade, pode acarretar o isolamento psicológico e social, afetando as relações interpessoais nas quais está inserida a pessoa portadora de ostomia intestinal, logo, comprometendo a qualidade de vida desta pessoa. Santos (2000) cita que alguns pacientes, após a cirurgia, passam por um momento de luto, onde pode dificultar o início do autocuidado. É importante o enfermeiro identificar esse momento, para depois entrar com o ensino do autocuidado com o estoma instalado. Mendonça et al. (2007), relatam que o déficit de conhecimento dos pacientes é expresso quando eles observam em seu abdome uma parte do intestino exteriorizada, mostrando dificuldade em aceitar sua nova condição. Martins e Alvim (2012), em sua pesquisa, observaram sucesso no processo educativo de ostomizados e maior habilidade, segurança e autonomia dos cuidados relacionados à manutenção de sua estomia, avaliando, modificando hábitos, transformando a sua realidade. A autonomia e a qualidade de vida poderão ser alcançadas pelo paciente portador de estomia intestinal com a oferta por parte dos profissionais de saúde, particularmente o enfermeiro, de conhecimentos específicos da sua nova condição de vida como ostomizado. No que se refere à criança ostomizada, Carvalho (2003) ressalta a importância 38 dessa em assumir o autocuidado, porém a higiene deve ser rigorosa, assim como a perfeita adaptação da bolsa ao estoma, para evitar o extravasamento de fezes e o odor desagradável. O autocuidado conduzirá o ostomizado a autonomia e liberdade do sentimento de baixa autoestima e dos estigmas devido a sua nova condição, uma vez que ele aprenda a cuidar de si, tornando-se independente da assistência dos profissionais da saúde e/ou de cuidadores bem como, desempenhando ações em prol de si próprias se sentirá útil na sociedade, o que lhe oferecerá qualidade de vida. A qualidade de vida da pessoa portadora de ostomia é profundamente alterada quando se acrescenta ao estoma a doença de base associada ao câncer que, segundo Michelone e Santos (2004), devido à doença há alteração de todos os aspectos da vida do indivíduo como alterações da integridade físico-emocional por desconforto, dor, desfiguração, dependência e perda da autoestima e pode acarretar profundas alterações no modo de viver habitual. Essa afirmativa é confirmada por Oliveira et al. (2010) que evidenciaram que a maioria dos pacientes
Compartilhar