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1 MACROECONOMIA E MICROECONOMIA 1 Sumário MACROECONOMIA ........................................................................................ 4 Introdução ........................................................................................................ 4 Inflação ........................................................................................................ 6 E como se proteger da inflação? .............................................................. 7 Desemprego................................................................................................. 8 Taxa de juros ............................................................................................... 8 Consumo ...................................................................................................... 9 O Produto Interno Bruto ................................................................................. 12 Outras Variáveis Macroeconômicas .............................................................. 21 PIB Nominal e PIB Real ................................................................................. 23 O Nível de Preços ...................................................................................... 23 Crescimento Económico de Longo Prazo e Ciclos Económicos ................... 28 Complemento ................................................................................................ 35 Crescimento econômico ............................................................................. 36 Ciclos econômicos ..................................................................................... 36 Quais contribuições podem ser atribuídas à macroeconomia? .................. 36 Estudo macroeconômico e os gastos governamentais .............................. 38 MICROECONOMIA ....................................................................................... 39 Introdução ...................................................................................................... 39 A Microeconomia ........................................................................................... 41 Tipos de recursos escassos .......................................................................... 42 Pressupostos básicos da análise microeconômica........................................ 43 Aplicações da análise microeconômica ......................................................... 43 Divisão do estudo microeconômico ............................................................... 45 Teoria da Utilidade do Consumidor ............................................................... 46 Excedente do Consumidor ............................................................................ 48 A teoria da Escolha ........................................................................................ 50 2 Restrição Orçamentaria ................................................................................. 51 Relação com os preços das mercadorias (Redução no preço de alimentos) 53 Equilíbrio do Consumidor .............................................................................. 54 A teoria da Demanda ..................................................................................... 55 O conceito de excedente do consumidor ................................................... 58 Teoria da Oferta ............................................................................................. 59 Os Fatores que influenciam a curva da oferta............................................ 59 Equilíbrio da oferta e da demanda ................................................................. 60 Estrutura de Mercados .................................................................................. 63 As estruturas clássicas básicas contêm duas estruturas ........................... 63 Teoria da Firma: A produção e a Firma ......................................................... 65 A Produção ................................................................................................ 65 A Firma .......................................................................................................... 66 Variáveis que influenciam a demanda do consumidor ................................... 66 Referências ................................................................................................... 68 3 FACUMINAS A história do Instituto FACUMINAS, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACUMINAS, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A FACUMINAS tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 MACROECONOMIA Introdução As decisões que todos os dias todos nós tomamos têm um propósito, que é o de satisfazer necessidades ou contribuir para o bem-estar próprio ou daqueles que nos estão próximos. A tomada de decisão, por seu lado, exige recolher e processar informação, a qual pode ter origem em múltiplas fontes: algumas das nossas escolhas de consumo podem ser condicionadas pelos hábitos evidenciados pelos moradores da mesma zona residencial; as opções de formação ou educação podem ser resultado de influência familiar ou de amigos; as decisões de poupança podem ser determinadas pelo tipo de comunicação que a instituição bancária mantém com os seus clientes. Independentemente do impacto que a interação com aqueles que nos estão próximos pode exercer sobre as escolhas individuais, é um facto que grande parte destas escolhas é também condicionada ou determinada pelo conhecimento acerca das condições materiais gerais sobre o meio geográfico que nos envolve. Este conhecimento resulta da informação que a contabilização de medidas económicas agregadas permite gerar; a contabilização é, regra geral, efetuada a nível 5 nacional ou supranacional pelas autoridades estatísticas competentes para o efeito e disseminada essencialmente através dos meios de comunicação social. A riqueza que a economia produz ao longo de um ano influencia o nível de receitas que o Estado recolhe via impostos e, consequentemente, as suas políticas de provisão de bens públicos e redistribuição de rendimento; a taxa de desemprego fornece indicações importantes sobre a probabilidade de sucesso de encontrar emprego por parte daqueles que agora entram no mercado de trabalho; variações na taxa de juro vão seguramente alterar os planos das empresas no que toca às suas decisões de investimento. Todos estes exemplos ilustram a importância de conhecer a realidade macroeconómica, ou seja, de conhecer os valores globais ou agregados dos mais relevantes indicadores da atividade económica e também como estes indicadores podem estar ligados entre si ou envolvidos numa qualquer relação causa-efeito. É comum fazer-se a distinção entre microeconomia e macroeconomia. A primeira respeita ao estudo do comportamento dos agentes económicos, como as famílias eas empresas, e às relações de mercado que entre eles se estabelecem. A macroeconomia debruça-se sobre a medição ou contabilização da realidade agregada; esta, na verdade, não é mais do que o resultado da conjugação das decisões individuais que a microeconomia estuda, mas algum cuidado é necessário quando se procura extrapolar as relações microeconómicas para uma escala de maior dimensão. Há fenómenos agregados que só se concretizam precisamente por o serem, isto é, o comportamento coletivo não tem correspondência, tipicamente, com a simples soma ou a simples média dos comportamentos individuais – é esta constatação que serve de ponto de partida para justificar a necessidade de estudar a macroeconomia de modo autónomo, como corpo de conhecimento com especificidades próprias e com ferramentas e técnicas de análise que também lhe são próprias. Portanto, A macroeconomia pode ser definida como um ramo do campo da economia que estuda como os fatores que circundam essa conjuntura agregada se comportam. 6 Neste sentido, a macroeconomia, em seu sentido mais básico, é o ramo da economia que lida com a estrutura, o desempenho, o comportamento e a tomada de decisão do conjunto, ou agregado, economia, em vez de se concentrar em mercados individuais. Na conjuntura econômica, uma variedade de fenômenos em toda a economia é examinada minuciosamente, tais como, inflação, níveis de preços, taxa de crescimento, renda nacional, Produto Interno Bruto (PIB) e variação nas taxas de desemprego. São muitas as varáveis macroeconômicas que afetam a economia de um país. Entre elas, pode-se destacar algumas, tais como: Inflação; Desemprego; Taxa de juros; Consumo; PIB. Todas elas influenciam de forma diferentes no rumo da economia do país. Por isso, abaixo será explicado mais detalhadamente o que é cada variável e de que forma ela afeta a economia. Inflação A inflação é uma das variáveis macroeconômicas que mais é perceptível no dia a dia das pessoas. A inflação diz respeito à taxa do aumento de preços na economia em um determinado período. Geralmente, ela é expressa se referindo a um ano. Como por exemplo, a inflação de 2017 no Brasil foi de 2,95%. Ou ainda, ela pode ser expressa como o acumulado dos últimos 12 meses. Por exemplo, é comum ouvir a expressão de que a inflação acumulada é de x%. No entanto, o que significa a inflação na prática? 7 A inflação na prática representa um aumento no nível dos preços. Por exemplo, se um produto custa R$ 100, com uma inflação de 5% ela passará a custar R$ 105. E por que a inflação é ruim? A inflação alta tende a ser evitada pois ela corrói o poder de compra da população. Isto ocorre quando os salários não seguem o aumento da inflação. Por exemplo, imagine que a inflação na economia foi de 20%. Ou seja, os seus gastos aumentaram em média 20%. Se o seu salário se manteve o mesmo isto significa que o seu poder de compra diminui, pois tudo está mais caro. Obviamente, se o seu salário acompanhar a inflação e tiver um aumento de 20% a sua situação será a mesma do início. A queda do poder de compra da população não é o único malefício da inflação. Uma alta da inflação pode trazer consigo diversas outras consequências, tais como: Desvalorização da moeda. Aumento da taxa de juros. Aumento do custo das importações. Desemprego. Aumento da especulação financeira. E como se proteger da inflação? Uma das formas de se proteger da inflação é investindo em ações. Em um cenário de inflação foi visto que ocorre uma alta no preço dos produtos de bens e serviços. Pois bem, as empresas listadas e bolsas fornecem justamente estes bens e serviços. Assim, é esperado que a receita da empresa acompanhe a inflação. E, portanto, que os seus dividendos também. 8 Desemprego O desemprego apresenta um grande impacto sobre as demais variáveis da macroeconomia. Isto ocorre pois em uma economia com um alto índice de desemprego o consumo tende a ser reduzido, sendo assim as empresas faturam menos e o PIB se torna menor. No Brasil, seguindo da recessão econômica de 2015/2016 o desemprego em 2017 chegou a quase 14% da população, um número altíssimo. Um fato interessante de se notar a respeito desta variável é a sua comum defasagem em relação aos ciclos econômicos. Isto ocorre pois muitas vezes demissões são postergadas, já que são custosas para os empregadores. Uma vez ocorrida as demissões, os empregadores costumam demorar muito para recontratar, mesmo após uma melhora da economia, pois ainda há falta de confiança. Por isso, o desemprego costuma ser uma das últimas variáveis a responder após uma crise econômica. O auge da queda do PIB no Brasil na recessão recente se deu em 2016, enquanto em 2018 o desemprego ainda é relevante. Taxa de juros A taxa de juros é um instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (Bacen) para direcionar a economia para os rumos desejados. É uma variável muito importante, no sentindo que estabelece o custo dos empréstimos. Basicamente, quando o Bacen deseja fornecer um estímulo à economia ele baixa a taxa de juros. Isto diminui o custo dos empréstimos e dos financiamentos. Sendo assim, as empresas podem investir mais facilmente em novas contratações e novos projetos. Um ponto negativo da taxa de juros ser reduzida é que em um certo ponto isto pode causar um aumento na inflação. Enquanto que uma queda na taxa de juros é realizada para estimular a economia a sua alta propõe fazer o oposto. 9 A alta dos juros é utilizada principalmente para contar uma inflação elevada. Pois ao aumentar os juros, o dinheiro será menos abundante na economia, e o consumo será reduzido. Este costuma ser considerado um remédio amargo para curar uma recessão. Pois, enquanto é útil para conter a inflação, uma alta dos juros também pode causar queda do PIB e desemprego. Consumo O consumo é uma das variáveis com maior impacto sobre o PIB. Ele é muito importante pois sem o consumo não há receita para as empresas, sendo assim não há postos de trabalho disponíveis. Por isso muitos investidores observam cuidadosamente os índices de consumo reportados na economia. Ainda, índices importantes como o da confiança do consumidor podem representar um impacto posterior na economia. Quando a confiança do consumidor cresce, é esperado que haja mais consumo nos meses seguintes. Por isso são monitorados constantemente os índices de confiança do consumidor. Agentes Econômicos Se a nossa intenção é abordar a realidade macro, a primeira simplificação que se torna necessário fazer consiste em arrumar os decisões económicos num pequeno conjunto de grupos. Estes grupos tomam a designação de agentes económicos. Cada agente económico corresponde a uma série de indivíduos, entidades e/ou instituições para os quais é possível reconhecer uma certa homogeneidade de comportamentos. O primeiro agente económico a considerar é o agente famílias. As famílias podem ser encaradas como o agente económico mais elementar, no sentido em que será a entidade normalmente de menor dimensão a partilhar um mesmo orçamento; à partida, em qualquer família há um conjunto de receitas e despesas que é gerido em conjunto e cuja gestão tem impacto sobre o bem-estar da família no seu todo. 10 Às famílias são, normalmente, atribuídos um duplo papel no sistema económico: a elas cabe fornecer a força de trabalho que permitirá produzir bens e serviços; além disso, é o agente a quem está associada a noção de consumo. As famílias consomem bens e serviços para satisfazer necessidades. O consumo realizado pelas famílias designa-se consumo final, no sentido em que se opõe ao consumo intermédio; este não tem por fim satisfazer diretamente necessidades, consistindo sim na utilização de determinados bens e serviços para produzirbens e serviços adicionais. Do raciocínio atrás exposto fica também claro que bens e serviços são tudo aquilo que contribui para o bem-estar dos indivíduos via consumo (ou seja, é tudo aquilo que uma vez produzido permite satisfazer necessidades). Os serviços podem igualmente ser designados por bens não materiais (de um ponto de vista económico, a distinção entre bens e serviços não é relevante: ambos são produzidos e ambos são alvo de eventual consumo intermédio ou final). Outro grupo com homogeneidade de comportamentos que podemos identificar na economia é o agente empresas. As empresas são unidades institucionais cuja principal função económica é a produção de bens e serviços comercializáveis, isto é, bens ou serviços que podem ser transacionados nos mercados. É também considerado agente económico o Estado, que tem por missão a provisão de bens e serviços não comercializáveis, ou seja, bens e serviços que não são passíveis de serem objeto de transação nos mercados e que, normalmente, satisfazem necessidades coletivas. Cabe também ao Estado contribuir para a justiça social por via de políticas de redistribuição de rendimento. É ainda de salientar a particularidade de grande parte das receitas do Estado serem fruto não da sua atividade produtiva, mas de contribuições obrigatórias por parte de quem gera rendimento, ou seja, de impostos. Por fim, pelo papel particular que desempenha no sistema económico, faz sentido considerar como agente económico as instituições financeiras (bancos, seguradoras, outras instituições de crédito). Estas funcionam como intermediários entre quem poupa (as famílias) e quem necessita de recursos financeiros para financiar a atividade produtiva (as empresas). 11 É relevante salientar que em termos de linguagem macroeconómica é clara a separação entre os termos poupança e investimento – a poupança é realizada pelas famílias (corresponde à parcela do seu rendimento disponível que não é dirigida a consumo no momento presente) e o investimento é concretizado pelas empresas (será a aplicação de recursos financeiros que lhes permite aumentar o seu capital, ou seja, os seus meios de produção). Há a possibilidade de se considerar um quinto agente económico, que seria o exterior ou o resto do mundo. Como normalmente a contabilização da actividade económica se faz para um espaço geográfico restrito (um país), a análise macroeconómica só fica completa quando consideramos também as relações comerciais e financeiras que os agentes económicos de um país estabelecem com os agentes económicos de outros países. Deste modo, o resto do mundo não será bem um agente económico, mas antes uma forma agregada de considerar todos os agentes económicos residentes em todas as localizações com as quais a economia doméstica estabelece relações. Os agentes económicos encontram-se em permanente interação. É a esta interação que corresponde o funcionamento do sistema económico. Uma forma simplificada de representar as relações entre agentes é aquela que é conseguida através de um pequeno esquema que se designa por circuito económico. Por uma questão de simplificação, considere-se apenas o circuito que se estabelece entre famílias e empresas (Fig. 1). De acordo com as funções descritas para cada um dos agentes económicos, seria possível representar cada par de relações através de um circuito económico do mesmo tipo. No esquema da figura 1 encontramos dois tipos de linhas. As linhas a cheio representam fluxos reais, ou seja, quantidades concretas de bens e/ou serviços que são fornecidas por um agente económico a outro. No caso em apreço, as famílias fornecem o serviço ‘trabalho’ às empresas, e estas por sua vez facultam às famílias os bens e serviços com que elas satisfazem as suas necessidades. 12 As linhas a tracejado correspondem a fluxos monetários, os quais respeitam às contrapartidas face aos fluxos reais. Todo o bem ou serviço que é facultado por um agente económico a outro requer um pagamento da parte de quem recebe o bem ou serviço a quem o disponibiliza; deste modo, num circuito económico como o representado, a um fluxo real vai sempre corresponder um fluxo monetário de sentido contrário. Na prática, a informação fundamental que o circuito económico transmite é que as relações entre agentes económicos não são, na economia complexa em que hoje vivemos, passíveis de serem executadas por troca direta, de modo que encontramos normalmente nas transações uma contrapartida financeira. Eliminar os fluxos monetários do circuito económico significaria estabelecer o extremamente forte pressuposto de que seria sempre possível encontrar uma coincidência de vontades: quando um professor de economia quisesse comer um bife teria de encontrar um talhante disposto a receber uma aula de economia. O Produto Interno Bruto Perceber a envolvente macroeconómica exige, em primeiro lugar, ter na nossa posse um conjunto de medidas agregadas que refletem o desempenho da economia. A medida central para avaliar esta performance corresponde à quantidade de bens e serviços produzidos no espaço geográfico em causa num determinado período de tempo (comumente um ano); esta medida vai ser designada, para já, como produto. 13 O primeiro cuidado a ter ao abordar a contabilização do produto relaciona-se com aquilo que esta medida efetivamente nos diz e aquilo que ela é incapaz de traduzir. Ao somar o valor de todos os bens e serviços produzidos numa economia ao longo de um ano conseguimos ter uma ideia de como a sociedade foi capaz, em maior ou menor grau, de ir de encontro à satisfação das necessidades dos consumidores; à partida, quanto maior a quantidade produzida, simultaneamente mais rendimento é gerado e maiores poderão ser os níveis de despesa. Como veremos mais à frente, os conceitos de produto, rendimento e despesa estão intimamente relacionados e para já convém reter esta ideia: produzir mais significa gerar maiores rendimentos e permitir um maior acesso a bens e serviços que possibilitam satisfazer necessidades. No entanto, como qualquer medida agregada, o produto não traduz tudo o que há a saber sobre o bem-estar material da sociedade. Até que ponto o maior valor de produção traduz uma sociedade mais avançada em termos de valores sociais, políticos, culturais e de cidadania é impossível saber; da mesma forma, até que ponto uma sociedade materialmente mais rica é uma sociedade em que os seus cidadãos vivem uma vida mais feliz e mais saudável é outra incógnita que subsiste. Além dos argumentos anteriores, é evidente que se tratando de uma medida global, o produto pode esconder maiores ou menores desigualdades de rendimento e de acesso a bens e serviços básicos por parte de uma fracção mais ou menos significativa da população. Independentemente das limitações subjacentes, devemos interpretar como relevante o conhecimento acerca daquilo que a economia efetivamente produz e da evolução temporal desse nível global de produção. Este é o indicador fundamental para aferir acerca do nível de vida que efetivamente existe em diferentes países ou diferentes regiões do globo. A medida frequentemente mais utilizada para contabilizar o valor total da produção de um país é a de Produto Interno Bruto (PIB). O Eurostat é o organismo da União Europeia que tem por missão a produção de estatísticas macroeconómicas que servem o propósito de comparar, a diversos níveis, os países e as regiões do espaço europeu. 14 A função do Eurostat é sobretudo de compilação e harmonização de dados que são coligidos, numa primeira instância, pelos institutos nacionais de estatística e pelos bancos centrais de cada estado-membro da União Europeia. Estes dados são recolhidos e tratados de acordo com o sistema europeu de contas atualmente em vigor (SEC95). Ao conjunto de indicadoresmacroeconómicos que os institutos de estatística recolhem de forma sistemática com a finalidade de fornecer informação necessária à decisão por parte dos agentes económicos dá-se o nome de contas nacionais. A informação prestada pela contabilidade nacional é um instrumento de grande importância não apenas para o Estado, enquanto agente responsável pela definição da política económica, como também para famílias e empresas, uma vez que, como referido de início, a estes agentes compete fazer escolhas conscientes, para as quais a detenção de informação sobre o estado global da economia é crucial. A definição de PIB que iremos adoptar será a seguinte: trata-se do valor monetário de toda a atividade produtiva desenvolvida numa determinada área geográfica (geralmente, um país) durante um determinado período de tempo (regra geral, um ano ou um trimestre). O produto em causa é designado por interno, uma vez que apenas é contabilizada a produção realizada por unidades residentes (tenham elas ou não origem nacional, ou seja, sejam ou não empresas cujo capital social é maioritariamente pertencente a cidadãos do país). O termo bruto indica que nesta contabilização se ignora a possibilidade de deduzir as amortizações correspondentes à depreciação do capital fixo (de máquinas, equipamentos e outros instrumentos disponíveis para produzir). A propósito do conceito de PIB, mais algumas ideias exigem, desde já, um esclarecimento cabal. Um aspecto importante relaciona-se com o primeiro elemento da definição, ou seja, que o PIB corresponde a um valor monetário. Efetivamente, quando é calculado o valor total da produção, o primeiro passo consiste em medir o valor em unidades monetárias de cada bem ou serviço produzido – não podemos somar laranjas e maçãs, computadores portáteis e serviços de consultoria, uma refeição e uma viagem 15 de autocarro, mas a economia de mercado em que vivemos permite efetivamente que somemos o valor de todos estes bens e serviços; para tal basta utilizar uma mesma unidade monetária, que pode perfeitamente ser aquela que utilizamos como meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor na nossa atividade diária: o euro. A partir do momento em que medimos o valor de todos os bens produzidos em euros, o PIB será também ele medido em euros; por exemplo, o PIB português em 2009 atingiu o valor de 167.632,5 milhões de euros, ou seja, ao somar o valor de tudo o que foi produzido ao longo do referido ano, foi obtido o citado montante. O valor de cada bem e serviço é medido a preços de mercado, ou seja, tendo em conta os preços a que efetivamente os bens produzidos foram transacionados no mercado. Um outro aspecto que requer alguma reflexão respeita à expressão ‘toda a atividade produtiva’, que também surge na definição de PIB que apresentámos. Será que o PIB consegue mesmo medir tudo o que é produzido? Já ficou claro que mesmo que assim fosse, o PIB não é, nem pretende ser, uma medida perfeita do bem-estar da população de um país. Este agregado é um indicador da quantidade (devidamente ponderada pelo respectivo valor relativo) de bens e serviços que a economia produz e que potencialmente podem contribuir para o bem-estar. Aqui, o termo potencialmente é relevante, porque como sabemos nem sempre aquilo que tem maior valor económico é aquilo que mais nos ajuda a satisfazer necessidades ou a garantir um maior nível de utilidade. Uma dificuldade que é frequentemente mencionada na forma como o PIB mede a produção relaciona-se com o facto de esta medida apenas poder contabilizar o valor gerado pelas entidades que existem precisamente com o objetivo de criar valor: as empresas. Desta forma, fica excluído do PIB a produção doméstica, ou seja, tudo aquilo que produzimos para nosso próprio usufruto ou para usufruto daqueles com quem coabitamos. Se dada família tem de decidir entre tomar uma refeição em casa ou no restaurante, esta decisão tem impacto sobre a atividade produtiva que é efetivamente 16 contabilizada: a concepção da refeição em casa não se traduz numa transação de mercado e, portanto, apesar de gerar valor não gera valor passível de contabilização. Para além do caso acima mencionado, outra produção não contabilizável inclui a produção legal que por alguma razão foge ao controlo estatístico (por acaso, por razões administrativas, por ação deliberada dos produtores no sentido de tentar escapar às obrigações fiscais) e também a produção de bens e serviços cuja venda, distribuição ou posse é proibida pela lei, e que por essa razão também não é produção realizada em instituições legalmente constituídas para o efeito; é o caso da produção e comercialização de drogas, do contrabando, da escravatura, ou da cópia de obras originais onde está infringe os direitos de autor. Na impossibilidade de efetivamente medir tudo o que é produzido, o melhor que as autoridades estatísticas nacionais podem fazer é estimar o peso que a economia ‘sombra’ poderá ter na economia doméstica e ajustar o valor do produto de acordo com esta estimativa. Existem três ópticas a partir das quais é possível determinar o valor do PIB: a óptica da produção, a óptica da despesa e a óptica do rendimento. Pela óptica da produção, o valor do PIB é encontrado através da soma do valor acrescentado bruto (VAB) de cada atividade económica. O VAB mede o valor da produção diminuído dos consumos intermédios; os consumos intermédios, por seu lado, corresponderão ao valor dos bens e serviços que são utilizados ou consumidos no processo produtivo (por exemplo, a farinha será um consumo intermédio da produção de pão). Os consumos intermédios correspondem àquilo que se extingue com o processo de produção (são alvo de consumo) e, portanto, não devem ser confundidos com os bens de capital que correspondem aos utensílios necessários para produzir e que perduram para além da geração de uma unidade do bem. Ao somarmos os VABs dos diversos sectores ou ramos de atividade, obtemos um valor que não corresponde exatamente ao valor a que os bens são transacionados no mercado. Já referimos que o PIB é contabilizado a preços de mercado; o valor da produção surge-nos, no entanto, a custo de fatores. A diferença reside nos impostos indiretos (como o IVA) líquidos de subsídios à produção: o valor acrescentado não 17 contempla estes impostos enquanto o valor da produção transacionada no mercado o faz. Assim, pela óptica da produção podemos dizer que o PIB corresponde ao total do valor acrescentado bruto de cada atividade económica mais impostos indiretos líquidos de subsídios à produção. Considerando a óptica da despesa, o PIB respeita à soma de um conjunto de componentes, cada uma delas correspondendo a uma variável macroeconómica de grande relevância. Por esta óptica, definimos o PIB através da seguinte expressão: PIB C G I X Z A primeira componente da despesa é o consumo privado (C). Por consumo privado entende-se a despesa do agente económico famílias em bens e serviços usados para a satisfação direta de necessidades. Este consumo é consumo final, em oposição ao consumo intermédio, já mencionado. A variável G designa o consumo público, consumo coletivo ou gastos do Estado. Neste caso, estamos a fazer referência a toda a despesa do Estado na aquisição de bens e serviços (por exemplo, quando o Estado paga o salário a um professor está a incorrer numa despesa com a educação, que deverá ser incluída nesta variável macroeconómica). A variável I respeita ao investimento. O investimento é uma variável de fluxo (tal como o consumo), a qual é normalmente acumulável através de vários períodos de tempo (ao contrário do consumo). Ao investimento acumulado atribui-se a designação de capital, o qual será, portanto uma variável de stockou uma variável acumulada. Dada a característica referida, ao investimento podemos igualmente chamar formação bruta de capital (novamente, o termo bruto refere-se ao facto de não se ter em conta a depreciação do capital acumulado, ou seja, ao facto de esta depreciação não ser alvo de amortização). Nas contas nacionais, o investimento ou formação de capital surge como a soma de três componentes: - Formação bruta de capital fixo (FBCF); 18 - Variação de existências ou de inventários; - Aquisição (menos alienação) de valores. A FBCF corresponde à aquisição (líquida de eventuais alienações) de ativos fixos duráveis, sejam eles de natureza tangível ou intangível. A variação de existências define-se como a entrada menos a saída de bens e serviços em inventário, isto é, daqueles bens e serviços que tendo já sido produzidos ou encontrando-se em fase de produção, ainda não foram objeto de transação no mercado. Quanto à aquisição de valores, esta respeita a ativos que não são em primeira instância para consumo ou produção, mas que servem essencialmente como reserva de valor; são, portanto, bens que não se deterioram no tempo e para os quais é expectável um movimento de apreciação (metais preciosos, antiguidades, objetos de arte, …). As duas últimas componentes da equação da despesa respeitam às relações da economia com o exterior (X representa as exportações e Z reflete o valor das importações). As exportações correspondem à transação de bens e serviços com origem em residentes e com destino a não residentes; as importações serão a transação de bens e serviços que têm como origem agentes não residentes e como destino agentes residentes na economia que se está a considerar. Utilizou-se o termo transação e não venda para definir exportações e importações porque estas não têm de ter necessariamente como contrapartida dinheiro; a troca direta de bens ou serviços com o exterior, por exemplo, corresponde simultaneamente a uma exportação e a uma importação. A diferença entre exportações e importações é comumente designada por exportações líquidas, balança comercial ou balança corrente (a designação balança comercial é geralmente usada num sentido mais restrito – transação de bens ou mercadorias – enquanto que o termo balança corrente engloba também a transação de serviços, as transações sem contrapartida ou unilaterais e os fluxos de rendimentos entre os países). 19 A variável importações é a única componente que surge na equação da despesa com sinal negativo. É conveniente perceber por que razão tal acontece: quando determinamos os valores de consumo, público ou privado, e investimento, estamos a contabilizar tudo o que é consumido ou investido na economia, independentemente do respectivo local de origem da produção. No entanto, não podemos esquecer o objetivo do nosso cálculo, que é medir o valor da produção interna; desta forma, temos de subtrair ao valor total do consumo e do investimento aquela despesa final que não corresponde a produção doméstica; isto é feito através da subtração das importações, de modo que esta variável corresponde à importação de todo o tipo de bens: bens de consumo e bens de investimento. À soma das componentes da despesa que exclui as relações com o exterior dá-se o nome de procura interna. A procura interna é uma soma cujas parcelas são o consumo privado, o consumo público e o investimento; desta forma, considera-se toda a despesa efetuada em território nacional independentemente da proveniência dos bens e serviços que possibilitam essa despesa. A óptica da despesa para cálculo do PIB será aquela que contabiliza o valor dos bens a posteriori, quando eles são objeto de transação no mercado. Assim sendo, o respectivo valor do PIB que é encontrado é já um valor a preços de mercado. A preços de mercado estarão também avaliadas cada uma das componentes da despesa que considerámos, ou seja, tal como o PIB, consumo privado, consumo público, investimento, exportações e importações são valores monetários que representam medidas agregadas ou macroeconómicas. Por fim, resta-nos analisar o cálculo do PIB pela óptica do rendimento. O rendimento que uma economia gera pode ser desagregado em duas componentes principais: salários ou rendimentos do fator trabalho e excedente bruto de exploração ou rendimento de outros fatores produtivos que não o trabalho (em rigor, o excedente bruto de exploração define-se como o rendimento gerado pela atividade produtiva após pagas as compensações salariais mas antes de pagos outros rendimentos, como juros ou rendas; em conjunto com este agregado faz sentido também considerar o ‘rendimento misto’, o qual corresponde à remuneração do trabalho desenvolvido pelos donos das empresas, quando não é possível distinguir esta remuneração do lucro conseguido com as atividades produtivas desenvolvidas). 20 Além da soma dos rendimentos, a medição do PIB pela óptica do rendimento exige também, tal como no caso do cálculo pela óptica da produção, que se adicione os impostos indiretos líquidos de subsídios à produção e importação (a soma dos rendimentos gerados na economia não é à partida um valor disponível a preços de mercado, donde esta última operação possibilita a necessária adaptação). Ligado ao conceito de PIB pela óptica do rendimento, encontramos a noção de rendimento nacional bruto (RNB). Este corresponde ao PIB após adicionados os rendimentos primários líquidos (recebidos menos pagos) em relação ao resto do mundo. Designa-se por rendimento primário o rendimento que resulta da participação direta no processo produtivo e o rendimento obtido pela disponibilização de ativos de capital para uso por terceiros. O RNB distingue-se do PIB pela diferença entre o rendimento que é nacional e o rendimento que é interno: o primeiro obtém-se a partir do segundo adicionando o rendimento recebido por unidades residentes a partir do exterior e subtraindo o rendimento pago por unidades residentes a unidades não residentes. Este valor é também um valor bruto e não um valor líquido, uma vez que novamente se ignora a possibilidade de contabilização da depreciação do capital fixo. Os fluxos de rendimento entre países resultam de o facto de unidades residentes poderem estar ligadas ao processo produtivo de uma outra economia ou de unidades não residentes gerarem rendimento no território nacional. Independentemente da óptica pela qual é calculado, o PIB é só um, o que nos leva a concluir que, numa economia como um todo, e aceitando que obviamente podem sempre existir discrepâncias estatísticas, falar de produto, rendimento ou despesa é a mesma coisa: tudo o que é produzido gera um rendimento de mesmo valor e concretiza-se numa despesa de igual montante. Os termos produto e rendimento podem ser utilizados indistintamente para referir aquilo que uma economia produz no período temporal em causa. Em relação ao conceito de despesa algum cuidado adicional será necessário; referir que produto é igual a despesa exige tomar à partida uma noção de equilíbrio. 21 Aquilo que é produzido só se concretiza em consumo ou investimento (públicos ou privados, por residentes ou por não residentes) após uma transação de mercado ter tido lugar. Outras Variáveis Macroeconômicas Para além do produto, das componentes da despesa ou dos diferentes tipos de rendimentos, existem muitas outras variáveis macroeconómicas relevantes. Recorda-se que todas estas variáveis são valores monetários, ou seja, são a soma do valor em euros de um conjunto de entidades ou operações que têm uma natureza comum e que, portanto, podem ser agregadas numa única variável macroeconómica. No que respeita ao comportamento das famílias é de salientar o conceito de rendimento disponível. Este será o rendimento que as famílias irão possuir após pagarem impostos(diretos, ou seja sobre o seu rendimento) e após receberem diversos tipos de prestações por parte do Estado; a estas prestações atribui-se a designação de transferências e estas incluem pensões de reforma, pensões de invalidez, subsídios de desemprego, rendimento social de inserção, abono de família entre outras eventuais prestações que não exigem qualquer contrapartida por parte de quem as recebe. Podemos ainda considerar no cálculo do rendimento disponível as transferências externas líquidas, isto é, a diferença entre montantes sem contrapartida recebidos e pagos ao exterior (como remessas de emigrantes, prémios de lotaria ou doações); as transferências externas poderão assumir um valor positivo ou negativo; as transferências do Estado para as famílias ou transferências internas são unidirecionais e por isso serão sempre um valor positivo. Em termos de contabilidade nacional, o rendimento disponível define-se então como rendimento nacional bruto menos impostos mais transferências internas e transferências externas líquidas. 22 O rendimento disponível das famílias só pode ter duas utilizações por parte destas: consumo (a variável consumo privado que já caracterizamos) ou poupança (vamos designar a poupança por S e ter presente que ela pode ser obtida como o remanescente ou a diferença entre o rendimento disponível e o montante gasto em consumo pelas famílias numa economia; estamos a falar pois da poupança privada). Este valor de poupança é também um valor bruto, a partir do momento em que o rendimento utilizado para cálculo do rendimento disponível o é. O outro conjunto de variáveis que convém desde já definir é aquele que se relaciona com a participação do Estado na atividade económica. Na prática, as que são importantes de um ponto de vista macroeconómico já foram definidas: o Estado recolhe receitas primordialmente via impostos e utiliza estas receitas essencialmente de três formas – investimento público, consumo público e transferências. A distinção entre consumo público e transferências deve ser destacada: as transferências não exigem qualquer contrapartida a quem as recebe; o consumo público ou os gastos do Estado têm subjacente a ideia de que é atribuído um pagamento ou uma remuneração por um bem que é vendido ou por um serviço que é prestado à sociedade por intermédio do Estado. O orçamento de Estado não é mais do que a ponderação das respectivas receitas e despesas; podemos assim definir um variável saldo orçamental que corresponde à diferença entre impostos, por um lado, e gastos e transferências, por outro. Este saldo é, regra geral, um valor negativo, indicando a existência de um défice orçamental. Excedentes orçamentais são raros e, na prática, não fazem muito sentido, uma vez que significariam que o Estado estaria a recolher impostos, e, portanto, a retirar recursos à economia privada, que não seriam alvo de qualquer utilização no período temporal em causa; nesse caso teríamos um nível de poupança pública positiva. Na realidade, na presença de um défice orçamental, a poupança pública é negativa e, por conseguinte, a poupança total da economia (privada mais pública) é tipicamente um valor inferior à da poupança realizada pelas famílias. 23 Tendo introduzido a noção de défice orçamental, é ainda possível referir que o saldo orçamental, como considerado, é o saldo primário, ou seja, aquele que ignora o pagamento de juros da dívida pública. Ao incorrer em défice, o Estado tem de procurar outras fontes de receita para além dos impostos; estas receitas correspondem à contração de empréstimos e à emissão de títulos de dívida. Assim, na presença de um défice, a dívida pública irá aumentar, e poderemos definir esta como o valor correspondente aos défices acumulados. Ao incorrer em dívida, o Estado terá de pagar juros, e por essa via, devemos considerar uma terceira componente fundamental da despesa pública: os juros da dívida pública. PIB Nominal e PIB Real O Nível de Preços Contabilizar o PIB, seja por que óptica for, tem necessariamente uma finalidade. Como referido de início, há essencialmente uma necessidade de conhecer a realidade que nos envolve através da quantificação de um conjunto de indicadores. Saber quanto a economia produz dá-nos uma noção sobre o nível de rendimento que podemos obter dado o nosso nível de qualificações, sobre o valor da pensão que receberemos quando nos reformarmos, qual o montante de subsídio de desemprego a que teremos acesso caso fiquemos desempregados, que bens e serviços a economia está em condições de disponibilizar para o mercado, entre outras indicações importantes. Mas o número em si diz-nos pouco; referimos atrás que o PIB português em 2009 foi de 167.632,5 milhões de euros. Este valor dificilmente nos serve de referência quando vamos às compras e encontramos um quilo de laranjas à venda por 2 euros ou um computador portátil à venda por 1.000 euros. 24 Na realidade, o PIB enquanto medida macroeconómica só tem relevância quando pensado numa lógica de comparabilidade entre valores. Esta comparabilidade tem duas dimensões: a espacial e a temporal. Se pretendermos comparar o PIB português com o PIB de outro país, no sentido de avaliar o nível de vida médio entre países, é possível reduzir esta medida agregada a um mesmo termo de comparação; para isso, basta ter em conta que os países têm diferentes dimensões populacionais e, portanto, dividindo o PIB pela população do país a comparação torna-se possível. Definimos assim o PIB per capita como o quociente entre o PIB e a população. Por exemplo, a China é hoje a segunda maior economia do mundo, isto é, a China é hoje a economia com segundo maior PIB; para obtermos o seu PIB per capita será necessário dividir esse valor pelos seus 1300 milhões de habitantes. O respectivo PIB per capita é, na realidade, um valor muito inferior ao da generalidade dos países do mundo ocidental. No que respeita à perspectiva temporal é também importante reconhecer que a comparabilidade entre períodos de tempo não é direta e imediata. Aquilo que é observável e diretamente mensurável é o PIB a preços correntes ou PIB nominal; este corresponde à medida da produção de bens e serviços com o valor destes bens e serviços contabilizado a preços do respectivo ano. Quando comparamos o valor do PIB a preços correntes em anos consecutivos vamos obter a variação nominal, ou seja, a variação conjunta de quantidades e preços. Como os preços no seu conjunto têm tendência a crescer de ano para ano, a evolução do PIB nominal é pouco informativa – não é possível discernir qual a parcela da variação no valor do PIB que é atribuível a um aumento nas quantidades produzidas e qual a componente da variação que é resultado da alteração no nível de preços. Para compreender com rigor a dinâmica do crescimento da economia dever- se-á ter em consideração uma medida alternativa: o PIB a preços constantes ou PIB real. Neste caso, os bens e serviços produzidos nos diferentes anos são valorizados a preços de um mesmo ano de referência, o qual se designa por ano base. 25 A análise da evolução do PIB real permite conhecer a evolução das quantidades produzidas independentemente da variação dos preços; esta é a medida que nos interessa quando queremos avaliar o crescimento económico. Quando falamos em crescimento económico referimo-nos a quanto se produziu a mais (ou a menos) relativamente ao ano transato, e esta avaliação só pode ser feita uma vez expurgado o efeito de crescimento dos preços. O PIB a preços constantes é também conhecido por PIB em volume, enquanto o PIB a preços correntes será o PIB em valor. Tendo em conta que, para qualquer bem ou serviço, valor = volume preço, percebe-se a necessidade de eliminar o efeito de variação dos preços. O ano base pode ser umqualquer ano: podemos comparar a evolução do PIB entre 2001 e 2010 a preços de 2001, de 2010 ou de qualquer outro ano (inclusive um ano fora desta série). De qualquer modo, a consideração de um ano base recente ajuda a evitar distorções (relativas por exemplo a bens cujos preços variam significativamente, como aqueles ligados à tecnologia de ponta). Na realidade, estas distorções são hoje evitadas na contabilidade nacional através da consideração de uma forma específica de preços constantes: o ano base para os preços avança um período todos os anos o que permite obter um PIB em volume ligado em cadeia. Uma vez calculado o PIB real, o crescimento da economia entre dois períodos de tempo consecutivos é simplesmente dado pela respectiva taxa de crescimento: Posteriormente discutir-se-á os fatores que possibilitam às economias um processo de crescimento que é normalmente sustentado no tempo (isto é, em média 26 as taxas de crescimento, no mundo desenvolvido e numa parte significativa do mundo em desenvolvimento, tendem a ser positivas). Na prática, a contabilidade nacional é capaz de medir o PIB quer em valor quer em volume (neste último caso, que significa que cada bem ou serviço produzido é avaliado ao preço do ano base considerado). Do quociente entre PIB nominal e PIB real obtém-se o deflator do PIB, o qual não é mais do que um índice de preços, ou seja, uma medida agregada dos preços da economia; a taxa de crescimento do deflator ao longo de períodos de tempo sucessivos fornece-nos o valor da taxa de inflação. Até ao momento, a referência às variáveis macroeconómicas centrou-se em variáveis que podem ser medidas em valor: o PIB, o consumo, o investimento e todas as outras variáveis referidas são dadas em unidades monetárias e, para permitir comparações intertemporais, devem ser também todas elas consideradas em termos reais. Um conjunto de outras variáveis importantes respeita às taxas que definem preços ou crescimento de preços. Fez-se referência à taxa de inflação como a taxa de crescimento do nível de preços. A taxa de inflação pode ser entendida como uma medida do custo de vida, no sentido em que nos indica a perda de poder de compra que determinada quantidade de moeda sofre à medida que o nível geral de preços vai aumentando. O cálculo da taxa de inflação está essencialmente condicionado pela noção de nível de preços que se está a considerar. Uma possível noção é a já referida de deflator do PIB; este é também conhecido por deflator implícito, uma vez que é calculado indiretamente por divisão entre o PIB nominal e o PIB real. Contudo, o deflator implícito do PIB não é obtido por observação direta dos movimentos de preços, e por esta via corresponde simplesmente a uma medida agregada que cobre todos os bens e serviços produzidos na economia ou importados pela economia, sem ser possível discriminar por exemplo entre bens de consumo e bens de investimento. Na contabilidade nacional existem outras formas de medir o nível geral de preços que podem ir um pouco mais ao pormenor. O índice de preços do consumidor 27 harmonizado (IPCH), por exemplo, mede diretamente os preços dos bens e serviços de consumo adquiridos pelas famílias, devidamente ponderados pelo respectivo peso no cabaz de consumo da família representativa. Outro índice de preços, obtido de forma direta é o índice de preços no produtor (mede os preços tendo em conta os respectivos custos de produção dos bens e serviços). A taxa de inflação que é, regra geral, calculada pelos institutos nacionais de estatística e divulgada pelos meios de comunicação social é aquela que é mais relevante para as decisões de consumo das famílias, isto é, trata-se da taxa de crescimento do IPCH. A título ilustrativo referem-se mais dois preços agregados relevantes em termos macroeconómicos: a taxa de juro e a taxa de câmbio. A taxa de juro pode ser entendida, grosso modo, como o preço do dinheiro ou, de outra forma, como o preço a pagar pela utilização de recursos monetários que são pertença de outrem. A taxa de juro é uma variável central na estruturação do raciocínio macroeconómico; ela é o preço que se forma no mercado monetário por interação entre procura de moeda e oferta de moeda, mas é também uma variável fundamental para as decisões dos agentes económicos, nomeadamente as empresas que vão basear as suas decisões de investimento no custo associado à aquisição de capital (ou seja, no valor da taxa de juro). A taxa de câmbio corresponde ao preço da moeda estrangeira; a realização de operações comerciais e financeiras entre economias conduz à maior ou menor procura e oferta de diferentes moedas a nível internacional e daqui resulta a formação de um preço ou de uma relação de valor entre as diferentes moedas. Esta relação de valor é a taxa de câmbio. A depreciação de uma moeda é resultado da sua menor procura e/ou da sua maior oferta a nível internacional; a apreciação será consequência do contrário. 28 Crescimento Económico de Longo Prazo e Ciclos Económicos A macroeconomia pode ser pensada em função do horizonte temporal a que respeita a realidade que se está a analisar. No longo prazo, está em causa a tendência de crescimento da economia, enquanto no curto prazo interessa analisar os ciclos económicos, ou seja, as flutuações em torno dessa tendência. A figura 2 dá conta dessa evolução cíclica que segue determinada trajetória de crescimento. A análise de curto prazo pressupõe, como já indicado, que a economia se encontra mais ou menos afastada do seu nível de pleno emprego e, portanto, o objetivo fundamental da macroeconomia de curto prazo é aproximar o PIB ou o rendimento efetivo do PIB ou rendimento de longo prazo. Associado a este objetivo está o de manter uma taxa de desemprego baixa, ou seja, o de aproximar o mais possível a taxa de desemprego daquela que corresponde ao nível de produto potencial. A esta taxa de desemprego de referência dá-se a designação de taxa de desemprego natural. No longo prazo, aquilo que é decisivo é o bem-estar das gerações futuras e tal relaciona-se com a capacidade de acumular riqueza no tempo. 29 Considere-se o seguinte exemplo: numa economia, o crescimento do PIB real é, em média, de 5% ao ano; sob este cenário, o nível de vida deste país irá duplicar em pouco mais de 14 anos. O exemplo serve para perceber a importância do crescimento - dois países com idêntico nível de vida hoje podem rapidamente, no espaço de menos de uma geração, tomar caminhos completamente divergentes no que respeita ao bem-estar material quando estão sujeitos a taxas de crescimento anual que diferem apenas em alguns poucos pontos percentuais. Uma das questões económicas de maior importância é precisamente a da acumulação de riqueza material ao longo de períodos relativamente longos. Quando olhamos para o nosso mundo, encontramos capacidades de crescimento extraordinariamente díspares, o que nos leva a perguntar porque razão uns países conseguem fazer crescer a sua riqueza muito mais que outros. A resposta mais direita à questão colocada é a de que existem diferenças em termos das ferramentas básicas disponíveis para produzir. Os inputs do processo produtivo tomam a designação de fatores de produção e estes podem ser agregados basicamente em três variáveis: a força de trabalho disponível para produzir (N), o capital físico (K) e a tecnologia (A). O fator trabalho consiste no número de horas que a mão-de-obra disponível afeta à produção, devidamente ponderadas pela qualidade dos trabalhadores; esta qualidade relaciona-se com as suas capacidades e competências que são adquiridas através de um processo de investimento em formação e educação. A noção de investimento que aqui está associada faz com que o fator trabalho possa também ser designado por capitalhumano. O capital físico corresponde ao stock de máquinas, equipamentos, infraestruturas físicas disponíveis para produzir. A tecnologia respeitará ao conjunto de fatores imateriais que fazem com que seja possível produzir mais com a mesma quantidade de fatores materiais; aos incrementos na tecnologia dá-se a designação de progresso técnico ou inovação. 30 A relação entre o que se produz e os fatores de produção surge através da função de produção. Seja Y o nível de rendimento. A função de produção toma a seguinte forma: Para perceber os aspectos fundamentais do crescimento económico, com base na função de produção, consideremos que a quantidade de trabalho ou capital humano e a tecnologia são valores autónomos, sendo a única variável endógena o capital físico. Uma das leis que a ciência económica adoptou como válida é que normalmente os fatores de produção estão sujeitos a rendimentos marginais decrescentes ou a produtividade marginal decrescente. Isto significa que ao considerarmos acréscimos sucessivos de igual amplitude num fator produtivo, mantendo os outros fatores fixos, os acréscimos de rendimento vão-se tornando progressivamente menores. Por exemplo, ao acrescentarmos sucessivamente mais máquinas a uma determinada linha de produção sem o consequente aumento no número de trabalhadores e sem qualquer processo de inovação tecnológica que acompanhe esse acréscimo de maquinaria, inevitavelmente os rendimentos adicionais ou marginais tornar-se-ão progressivamente menores. Deste modo, a função de produção terá a forma apresentada na figura 3. 31 A implicação fundamental da existência de rendimentos marginais decrescentes é que o processo de crescimento terá um fim: a economia tenderá para um estado de equilíbrio em que deixará de crescer. Este processo de crescimento é explicado pelo modelo de Solow, o qual pode ser resumido numa pequena equação de acumulação de capital.3 Considere o pressuposto de que a taxa de poupança é constante (s); assumindo que toda a poupança das famílias é utilizada para investimento das empresas: O nível de investimento na equação é o nível de investimento bruto, isto é, quanto se acrescenta ao capital físico já existente em cada período. No entanto, algum do capital também se perde, em cada período, por via de depreciação. Seja (0,1) a taxa de depreciação do capital físico; o fluxo de investimento líquido pode então ser representado do seguinte modo, 32 A equação diz-nos que o capital é acumulado em função de duas forças que se opõem: por um lado, o investimento gera novo capital; por outro lado, perde-se capital via depreciação. Enquanto a depreciação é linear, o investimento bruto ou a poupança, que dependem da função de produção, correspondem a uma função côncava do capital, dados os rendimentos marginais decrescentes. Isto pode ser observado na figura 4. Como a figura 4 permite perceber, só é compensador acumular capital até um determinado ponto. Até ao ponto em que os rendimentos marginais decrescentes se tornam de tal forma intensos que investir mais não vai compensar a depreciação do capital que se verifica. A economia crescerá então desde um ponto inicial correspondente a um nível de capital acumulado K0, em direção ao ponto de equilíbrio (K*,Y*), ponto em que deixa de ser compensador continuar a investir porque para níveis adicionais de capital a depreciação é superior à rentabilidade do investimento. 33 O processo de crescimento, como descrito, traduz-se num estado estacionário sem crescimento. Todas as economias irão convergir para o estado de equilíbrio de não crescimento e, portanto, o modelo prevê convergência (dado que todos atingem o estado de equilíbrio, os mais pobres crescerão mais depressa que os mais ricos). Estes dois factos – a ausência de crescimento em países com stocks de capital elevados e a noção de convergência encontram algumas dificuldades em termos de verificação empírica. Na verdade, alguns dos países mais ricos continuam a ser dos que mais crescem e, muito embora alguns processos de convergência sejam evidentes, existem também casos de clara divergência na economia internacional. Para explicar a razão pela qual as economias desenvolvidas continuam a crescer temos agora de recorrer aos fatores de produção que, entretanto, consideramos fixos. Considere que existe inovação tecnológica; o efeito desta será o de deslocar a função de produção que relaciona capital e rendimento para cima, como apresentado na figura 5. A função de produção desloca-se para cima porque, de acordo com a definição de progresso técnico, este vai permitir produzir mais com a mesma quantidade de capital. A figura 5 sugere-nos que o estado de equilíbrio pode deslocar-se. A economia poderá continuar a acumular capital e a gerar mais rendimento se o estado da tecnologia for sofrendo aperfeiçoamentos. 34 Podemos, por esta via, fazer uma distinção qualitativa entre o processo de crescimento de economias mais e menos desenvolvidas. As economias num estado atrasado do seu processo de desenvolvimento vão crescer por via da acumulação de capital (têm de convergir para o estado de equilíbrio). As economias mais desenvolvidas crescem em função da inovação, que lhes permite ampliar o nível de rendimento correspondente ao estado de equilíbrio. Quanto à questão da convergência, esta ocorre de facto se admitirmos que os países têm idênticos estados de equilíbrio, o que significa terem condições estruturais mais ou menos iguais, que permitem mais tarde ou mais cedo alcançar esse nível de rendimento de longo prazo. No entanto, muitos países pobres sê-lo-ão porque o seu nível de capital de equilíbrio será necessariamente um valor mais baixo que o de outros países. Isto acontece porque as respectivas condições estruturais serão mais precárias – um estado de equilíbrio correspondente a um patamar de desenvolvimento mais baixo é resultado de piores condições estruturais, nomeadamente no que respeita às capacidades do capital humano (níveis de educação e saúde), à qualidade das infraestruturas públicas e ao desenvolvimento da infraestrutura social (salvaguarda dos direitos de propriedade, condições sociais e políticas, participação e cidadania). A questão dos direitos de propriedade, por exemplo, é fundamental. Se estes não estiverem protegidos pela lei e pelas entidades a quem a compete cumprir, o incentivo para a produção de riqueza desaparece – só se pode trocar aquilo em relação ao qual se conhece o proprietário, e as trocas são a base de funcionamento do sistema económico. 35 Complemento A macroeconomia surgiu a partir da Grande Depressão de 1929, quando se percebeu os limites do livre mercado para se alcançar a máxima eficiência e o equilíbrio, tal como estipulado pela microeconomia. Assim, ela ganhou importância com os trabalhos de John Maynard Keynes, principalmente após a publicação de “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de 1936. Ele foi um dos primeiros economistas a destacar a necessidade de se olhar a economia como um todo e não apenas pela perspectiva dos indivíduos que fazem parte dela. Como exemplo dessa abordagem, Keynes faz referência ao “paradoxo da parcimônia”: enquanto a decisão individual de aumentar a poupança pode tornar uma pessoa mais rica, se todos resolvem fazer a mesma coisa ao mesmo tempo, o resultado é uma redução da atividade econômica, o que não gera maior riqueza para a sociedade. Olhando a economia de forma mais ampla, pode-se verificar como os seus diferentes setores se relacionam uns com os outros. Isso auxilia na construção de políticas econômicas por governos, modelos de negócios por grupos empresariais, além de estratégias de alocação de ativos por gestores de fundos, dados alguns fatores quepassaram a ser recorrentes, tais como: Inflação; Desemprego conjuntural (momentâneo) versus desemprego estrutural (permanente); Internacionalização e os impactos da integração econômica entre os países. A macroeconomia se desenvolveu com o foco em dois aspectos: 36 Crescimento econômico Ele é o que gera o aumento da renda nacional e do padrão de vida. Demografia, taxas de investimento e recursos tecnológicos fazem parte do que se chama de “Teoria Geral do Equilíbrio e do Crescimento” para o estudo e a implementação de políticas econômicas. Ciclos econômicos Eles impactam diretamente os níveis de emprego e de produção, levando-se em conta períodos de maior e menor crescimento da economia. Entender a sua dinâmica e como podem ser suavizados garantem uma trajetória mais uniforme de crescimento econômico no longo prazo. É nesse aspecto que são calculados os principais indicadores de desempenho da economia. PIB, inflação e índice de desemprego, por exemplo, são analisados por meio da “Teoria dos Agregados. Quais contribuições podem ser atribuídas à macroeconomia? Elementos como a renda nacional, a relação entre consumo e poupança, os gastos do governo e o fluxo entre importações e exportações mostram de que forma uma economia está estruturada. Quando transportamos as variáveis de Oferta Agregada (OA) do Keynesianismo: OA = C + I + G + (E – I) Onde: C = Consumo; I = Investimento; G = Gastos do governo; 37 (E – I) = diferença entre exportações (E) e importações (I). Temos os principais componentes macroeconômicos: Mercado de Bens e Serviços: equivalente à oferta agregada (OA), mede a produção e os seus respectivos níveis de preços; Mercado de Trabalho: faz referência ao consumo (C), indicando salários e taxas de emprego; Mercado de Títulos: é o mercado de crédito (I), definido em função de quanto os agentes poupam e investem; Mercado Monetário: está relacionado à oferta de moeda, o que remete à forma como o governo gasta (G); Mercado de Divisas: determinado em função das transações internacionais (E – I). Ao se analisar a interdependência entre esses mercados, é possível orientar a economia para se alcançar os seus principais objetivos: Crescimento de longo prazo; Por meio do pleno emprego (não só de trabalhadores, mas de todos os recursos); Mantendo a estabilidade de preços (controle da inflação); De forma coordenada (pelo governo); Em uma economia que sofre influências de seus pares internacionais. Dito de outra forma, a macroeconomia busca o bem-estar coletivo ao invés de dar enfoque apenas às peculiaridades individuais. Ao colocar o papel contra cíclico do Estado, onde ele gasta mais quando a atividade econômica está mais fraca, ela contempla os custos e os benefícios das políticas econômicas. O curioso é que, até Keynes se debruçar mais atentamente sobre os agregados econômicos, os estudiosos acreditavam que a própria microeconomia servia para explicar como uma nação podia chegar ao equilíbrio econômico. 38 Isso ocorria em função da existência da moeda como meio de troca, o que lhe dava um papel determinante tanto para os níveis de preços como para as taxas de juros. Estudo macroeconômico e os gastos governamentais Por último, mas igualmente importante para a macroeconomia, o gasto do governo. Por mais que pareça distante, essa variável gera significativas mudanças nos modelos econômicos, mesmo nos recortes mais específicos. Diante do objetivo de manter a máquina governamental, o governo é um grande consumidor da economia de um país. Vale lembrar que existem gastos com a manutenção de instituições públicas, pagamento de funcionários, etc. Com gastos elevados, ou seja, a demanda aquecida com a produção abaixo do esperado, a inflação dispara, já que o aumento de demanda sem o avanço da produção cria a elevação dos preços. No âmbito da macroeconomia, essa elevada inflação pode trazer problemas como: Desvalorização da moeda; Aumento dos juros; Aumentos das taxas de importação; Aumento do desemprego. Cabe destacar que a inflação é medida pelo Índice de Preço do Consumidor Amplo, o IPCA. Em suma, os estudos macroeconômicos estão presentes nos modelos de observação e prevenção econômica das entidades governamentais. Contribui para a elaboração e avaliação das políticas econômicas de um país. 39 MICROECONOMIA Introdução Economia consiste na distribuição e produção do consumo de bens e serviços. O termo economia vem do grego oikos (casa) e nomos (costume ou lei). Economia é a ciência social que se ocupa da administração dos recursos (escassos) para atender as necessidades humanas (ilimitadas). A partir destas definições surgem dois princípios básicos da Teoria Econômica: Princípio da escassez: Os recursos são sempre escassos. Princípio das necessidades ilimitadas: As necessidades sociais e humanas são ilimitadas. Tradicionalmente, a economia se divide em microeconomia e macroeconomia. A microeconômica se preocupa com o estudo das unidades econômicas (agentes econômicos) tomadas isoladamente (um consumidor, uma firma, etc.), bem como o 40 resultado das ações individuais para configuração dos mercados (oferta individual e de mercado, demanda individual e de mercado, tipos e estruturas de mercado, falhas de mercado, etc). As áreas da microeconomia que lidam com a teoria da demanda e a teoria do custo e da produção obviamente são úteis para a tomada de decisão que envolve tais assuntos. A teoria macroeconômica também participa da tomada de decisão quando um gerente tenta prever a demanda futura baseando-se em forças que influenciam toda a economia. Atividade Econômica é o conjunto de atos pelos quais as pessoas satisfazem às suas necessidades, através da produção e troca de bens e de serviços. A atividade econômica é uma atividade que gera rotatividade econômica, não se valendo, necessariamente, de lucros. São atividades que são geradas dentro de uma economia de um determinado país. O Sistema Econômico corresponde ao conjunto de instituições e mercados onde se desenvolve a economia e onde os governos (setor público), os agentes econômicos (firmas e consumidores) e o setor externo interagem entre si. 41 A Microeconomia A Microeconomia, ou teoria dos preços analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço em mercados específicos. Assim, enquanto a Macroeconomia enfoca o comportamento da Economia como um todo, considerando variáveis globais como consumo agregado, renda nacional e os investimentos globais, a análise microeconômica preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (por exemplo, soja, automóveis) e de fatores de produção (salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos. A teoria microeconômica não deve ser confundida com economia de empresas, pois tem enfoque distinto. A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o preço obtido pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou serviço. Do ponto de vista da economia de empresas, que estuda uma empresa específica, prevalece a visão contábil-financeira na formação do preço de renda de seu produto, baseada principalmente nos custos de produção, enquanto na Microeconomia predomina a visão do mercado. Os agentes da demanda-os consumidores - são aqueles que se dirigem ao mercado com o intuito de adquirir um conjunto de bens ou serviços que lhes maximize sua função utilidade. No Direito utilizou-se a conceituação econômica para se definir consumidor: pessoa natural ou jurídica que no mercado adquire bens ou contrataserviços como destinatário final, visando atender a uma necessidade própria. A microeconomia se preocupa em explicar como é fixado o preço e seus fatores de produção. Divide-se em: Teoria do Consumidor: Estuda a preferência do consumidor analisando seu comportamento, suas escolhas, as restrições quanto a valores e a demanda de mercado. 42 Teoria de Empresa: Estuda a reunião do capital e do trabalho de uma empresa a fim de produzir produtos conforme a demanda do mercado e a oferta dos consumidores dispostos a consumi-los. Teoria da Produção: Estuda o processo de transformação da matéria-prima adquirida pela empresa em produtos específicos para a venda no mercado. A teoria da produção se refere os serviços como transportes, atividades financeiras, comércio e outros. Tipos de recursos escassos A economia no geral trata da afetação das coisas com valor e disponíveis em quantidade limitada, que são denominadas por recursos escassos. Em termos tipológicos, podemos considerar quatro grandes classes de recursos escassos: Recursos naturais: São formados pelo solo agrícola, água, variedades de sementes, raças de animais, diversidade genética das sementes e dos animais, paisagens, ar puro, recursos pesqueiros, animais selvagens, exposição solar, etc. Recursos humanos: Consiste na capacidade dos indivíduos em fornecer trabalho e depende, entre outros fatores, da idade e da robustez física. Pode ser indiferenciado, especializado, escolarizado, criativo, etc. Recursos de capital: São as máquinas, edifícios, estradas, barragens, solo, portos, etc. Também podemos falar de capital humano como o stock de conhecimento dos trabalhadores que faz aumentar a sua produtividade, que apesar de ser um recurso humano obriga a aplicar outros recursos para o aumentar. Recursos de empreendedorismo: São ideias de novos negócios, de novos produtos, de novas formas de criar mais riqueza, de novos processos produtivos mais eficientes. Apesar de ser realizada por homens, separa-se dos recursos humanos pela sua grande importância no desenvolvimento e crescimento económico e por depender mais de capacidades particulares dos indivíduos que do tempo de trabalho devotado a este tipo de atividades. 43 Pressupostos básicos da análise microeconômica Para analisar um mercado específico, a Microeconomia se vale da hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris paribus). O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta. Adotando-se essa hipótese, torna-se possível o estudo de determinado mercado, selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes econômicos - consumidores e produtores - nesse particular mercado, independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los. Sabemos, por exemplo, que a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por seu preço e pela renda dos consumidores. Para analisar o efeito do preço sobre a procura, supomos que a renda permanece constante (coeteris paribus); da mesma forma, para avaliar a relação entre a procura e a renda dos consumidores, supomos que o preço da mercadoria não varia. Temos, assim, o efeito "puro" ou "líquido" de cada uma dessas variáveis sobre a procura. Aplicações da análise microeconômica A análise microeconômica, ou teoria dos preços, como parte da ciência econômica, preocupa-se em explicar como se determina o preço dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção. O instrumental microeconômico procura responder também, a questões aparentemente triviais; como por que, quando o preço de um bem se eleva, a quantidade demandada desse bem deve cair, coeteris paribus? Entretanto, deve-se salientar que, se a teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de decisões do dia-a-dia, mesmo assim ela 44 representa uma ferramenta útil para estabelecer políticas e estratégias, dentro de um planejamento, tanto para empresas como para políticas econômicas. Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões: Política de preços da empresa; Previsões de demanda e faturamento; Previsões de custos de produção; Decisões ótimas de produção (escolha da melhor alternativa de produção, isto é, da melhor combinação de fatores de produção); Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo - benefício da compra de equipamentos, ampliação da empresa); Política de propaganda e publicidade (como as preferências dos consumidores podem afetar a procura do produto); Localização da empresa (se a empresa deve situar-se próxima aos centros consumidores ou aos centros fornecedores de insumos); Diferenciação de mercados (possibilidades de preços diferenciados, em diferentes mercados consumidores do mesmo produto). Em relação à política econômica, a teoria microeconômica pode contribuir na análise e tomada de decisões das seguintes questões: Avaliação de projetos de investimentos públicos; Feitos de impostos sobre mercados específicos; Política de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na compra de insumos como máquinas, fertilizantes); Fixação de preços mínimos na agricultura; Controle de preços; Política salarial; Política de tarifas públicas (água, luz e outras); Política de preços públicos (como petróleo, aço); 45 Leis antitruste (controle de lucros de monopólios e oligopólios). Como se observa, são decisões necessárias ao planejamento estratégico das empresas e à política e à programação econômica do setor público. E, evidentemente, a contribuição da Microeconomia está associada à utilização de outras disciplinas, como a Estatística, a Matemática Financeira, a Contabilidade e mesmo a Engenharia, de forma a dar conteúdo empírico a suas formulações e conceitos teóricos. Divisão do estudo microeconômico A teoria microeconômica consiste nos seguintes tópicos: Análise da demanda - A teoria da demanda ou procura de uma mercadoria ou serviço divide-se em teoria do consumidor (demanda individual) e teoria da demanda de mercado. Análise da oferta - A teoria da oferta de um bem ou serviço também se subdivide em oferta da firma individual e oferta de mercado. Dentro da análise da oferta da firma são abordadas a teoria da produção, que analisa as relações entre quantidades físicas do produto e os fatores de produção, e a teoria dos custos de produção, que incorpora, além das quantidades físicas, os preços dos insumos. Análise das estruturas de mercado - A partir da demanda e da oferta de mercado são determinados o preço e a quantidade de equilíbrio de um dado bem ou serviço. O preço e a quantidade, entretanto, dependerão da particular forma ou estrutura desse mercado, ou seja, se ele é competitivo, com muitas empresas produzindo um dado produto, ou concentrado em poucas ou em uma única empresa. Teoria do equilíbrio geral - A análise do equilíbrio geral leva em conta as inter-relações entre todos os mercados, diferentemente da análise de equilíbrio parcial, que analisa um mercado isoladamente, sem considerar suas inter-relações com os demais. Ou seja, procura-se analisar se o comportamento independente de cada agente econômico 46 conduz todos a uma posição de equilíbrio global, embora todos sejam, na realidade, interdependentes. A teoria do bem-estar, ou welfare economics, estuda como alcançar soluções socialmente eficientes para o problema da alocação e distribuição dos recursos, ou seja, achar a "alocação ótima dos recursos". Ressalte-se que no estudo microeconômico um dos tópicos é a análise das imperfeições de mercado, em quese analisam situações nas quais os preços não são determinados isoladamente em cada mercado. Na realidade, tanto a teoria do equilíbrio geral e do bem-estar como a teoria do consumidor são fundamentalmente abstratas, utilizando-se, com frequência, modelos matemáticos de razoável grau de dificuldade. Como o objetivo desta disciplina é procurar fornecer aos estudantes de Direito conceitos básicos de Economia, que deem subsídios para sua atuação no dia-a-dia e um melhor entendimento das principais questões econômicas de nosso tempo, essas teorias não serão discutidas aqui, pois não costumam ser abordadas nos cursos introdutórios de Economia, sendo normalmente ministradas ao final da disciplina de teoria microeconômica. Teoria da Utilidade do Consumidor A utilidade refere-se à forma como os consumidores fazem a hierarquia dos diferentes bens e serviços (em função da satisfação que proporcionam). A utilidade é uma construção econômica que permite compreender como os consumidores racionais repartem os seus recursos limitados entre os bens que lhes proporcionam satisfação. A teoria da procura considera que os consumidores maximizam a sua utilidade, o que significa que escolhem o conjunto de bens que mais lhes agrada. Utilidade – Unidade de Medida do prazer ou satisfação percebida por um consumidor pelo consumo de uma mercadoria. Utilidade Total – Deriva do consumo da mercadoria consumida, ou seja, somatório do consumo da mercadoria. 47 Utilidade marginal - corresponde à utilidade adicional que se consegue com o consumo de uma quantidade adicional de um bem. Ou seja, é a utilidade que a última unidade consumida acrescenta à utilidade total, ou até mesmo o acréscimo à utilidade total decorrente do consumo de uma unidade adicional dessa mercadoria. Lei da utilidade decrescente - Segundo a lei da utilidade decrescente, à medida que a quantidade consumida de um bem aumenta a utilidade marginal desse bem tende a diminuir. diego Caixa de Texto Utilidade Administrativa 48 Excedente do Consumidor O excedente do consumidor é a diferença entre o que o consumidor está disposto a pagar e o que o consumidor efetivamente paga por uma mercadoria. Quanto maior a utilidade de uma mercadoria, maior será a disposição a pagar um preço maior por essa mercadoria. A satisfação do consumidor é superior à quantia paga. 49 Preço Marginal de Reserva – preço máximo que o consumidor está disposto a pagar por uma unidade adicional de uma mercadoria. 50 A teoria da Escolha Tenta explicar decisões de consumo envolvendo a compra de diversas mercadorias. Cestas de Mercadorias - conjunto de uma ou mais mercadorias associado as quantidades consumidas de cada uma dessas mercadorias. Curva de Indiferença – lugar geométrico dos pontos que representam cestas de consumo indiferentes entre si. Mostram combinações de bens, na quantidade que torna o consumidor indiferente. Assim, ele não tem preferência entre uma combinação contra a outra, já que cada uma provê um mesmo nível de satisfação (a utilidade não muda). As curvas de indiferença são muito utilizadas para representar as preferências do consumidor. As curvas de indiferença mais distantes da origem representam cestas mais desejadas e curvas de indiferença mais próxima da origem 51 representam cestas menos desejadas. As curvas de indiferença não se cruzam jamais. Restrição Orçamentaria A Restrição Orçamentaria é o limite de consumo de um consumidor, ou seja, as restrições que a renda ( R ) impõe ao seu consumo. Para tanto temos: qa = quantidade de alimento. qv = quantidade de vestuário . pa = preço do alimento. pv = preço do vestuário. O gasto total em consumo será: Partindo do pressuposto que um consumidor não pode gastar mais que ganha então: pa.qa + pv.qv pa.qa + pv.qv < R 52 O Deslocamento da linha de restrição orçamentaria depende de dois fatores: Os preços das mercadorias. A renda do consumidor. 53 Relação com os preços das mercadorias (Redução no preço de alimentos) 54 Equilíbrio do Consumidor Agora, para resolvermos o nosso problema, de ter a maior utilidade possível, dentro de nossa restrição orçamentaria, é só juntarmos os dois gráficos anteriores. Então procuraremos a curva de indiferença com maior nível de utilidade a tocar na restrição, ou seja, com a nossa renda limitada, em qual nível de consumo estaremos mais felizes, e consumindo os dois produtos. Esse ponto de encontro da restrição com a curva de maior utilidade, é o “Ponto Ótimo de Consumo”, ou seja, o tanto que mais nos agrada consumindo os dois produtos ao mesmo tempo, dentro de nossa renda. 55 O equilíbrio do consumidor é obtido na cesta de mercadorias correspondentes ao ponto de tangencia entre a linha de restrição e a curva de indiferença mais elevada que toca essa linha. A teoria da Demanda A teoria da oferta e da demanda demonstra como as preferências dos consumidores determinam a demanda dos bens, enquanto que os custos das empresas são a base da oferta. Do equilíbrio entre a oferta e a procura resulta o preço e a quantidade transacionada de cada bem. A Demanda é o desejo de adquirir, um plano e não sua realização. Ou seja, demanda é o desejo de comprar. A relação existente entre o preço de um bem e a quantidade comprada desse bem é designada função da demanda ou curva da demanda. Lei da inclinação negativa da demanda - Quando o preço de um bem aumenta, mantendo-se tudo o resto constante, os compradores tendem 56 a consumir menos desse bem. De forma similar, quando o preço de um bem diminui, mantendo-se tudo o resto constante, a quantidade demandada desse bem aumenta. Efeito de substituição - Quando o preço de um bem aumenta, este é substituído por outros produtos similares. Por exemplo, quando aumenta o preço da carne de vaca os consumidores tendem a comprar mais carne de frango. Este efeito é denominado de efeito de substituição. Efeito rendimento - Quando o preço de um bem sobe, os consumidores ficam com menos rendimento disponível pelo que consomem menos quantidade desse bem e dos outros bens. Por exemplo, se o preço da gasolina duplica os consumidores ficam com menos rendimento e diminuem o consumo de gasolina e de outros bens. Este efeito é denominado de efeito rendimento. Quando existem alterações de fatores, que não o preço do próprio bem, que afetam a quantidade procurada, designam-se por deslocações da curva da procura. A procura aumenta (ou diminui) quando a quantidade procurada para cada preço de mercado aumenta (ou diminui). 57 Os Tipos de Bens: Quanto à destinação: bens de consumo e bens de produção (estes se dividindo em bens intermediários e bens de capital); Quanto à durabilidade: bens de consumo imediato, bens semiduráveis e duráveis; Quanto à elasticidade: renda da demanda: Bens normais, superiores ou inferiores; Quanto à necessidade: Bens necessários e bens de luxo ou supérfluos. Bens: Bens Normais: São aqueles cuja demanda (procura) aumenta se a renda aumentar. Ex: filé, quando as pessoas passam a ganhar mais é comum que desejem comer mais filé. Os bens normais podem ser do tipo bem de primeira necessidade ou bens supérfluos. A definição formal destes tipos de bens requer o conceito de elasticidade, mas podemos adiantar que: Bens supérfluos ou de luxo: São, em geral, bens com elasticidade renda da demanda bastante alta. Isto quer dizer que quando a renda do indivíduo aumenta, a demanda por estes bens aumenta de forma ainda maior. 58 Bens de primeira necessidade: tem elasticidade –renda da demandamuito baixa, mas não negativa. Isto quer dizer que quando a renda do indivíduo aumenta, a demanda por estes bens aumenta, mas de forma mais atenuada. Bens Inferiores: São aqueles cuja demanda diminui quando a renda aumenta. Ex: carne de pescoço. Bens Substitutos: Dois bens são ditos substitutos, quando o consumo de um pode ser substituído, até certo ponto, pelo consumo do outro. Bens Complementares: São consumidos em proporções mais ou menos fixas. Por exemplo café e açúcar. Computador e impressora. Neste caso se o preço de um subir é provável quer a demanda pelo outro caia. Bens de Guiffen: Constituem a única exceção a lei da demanda (que afirma que quando o preço de uma mercadoria sobe a demanda por ela cai). Trata-se de um bem hipotético. Bens Econômicos e Bens Livres: Objetos materiais e serviços têm a propriedade de satisfazer desejos humanos (utilidade) são chamados de bens. (ou bens e serviços). Se houver em abundância tal que seu preço seja zero, estes bens são chamados de bens livres. “Se houver escassez, são chamados de bens econômicos”. Alguns bens possuem desutilidade para o homem e são chamados de males (Ex: lixo, poluição). O conceito de excedente do consumidor O excedente do consumidor é o benefício líquido que o consumidor ganha por ser capaz de comprar um bem ou serviço. É a diferença entre a disposição máxima a pagar por parte do consumidor e o que ele efetivamente paga. Outro conceito de excedente do consumidor: é o excesso de preço que uma pessoa estaria disposta a pagar para não ficar sem a mercadoria, acima do preço que ela realmente paga. 59 Teoria da Oferta A oferta é a quantidade de um bem que ou serviço que os produtores desejam vender. A relação existente entre o preço de um bem e a quantidade que os produtores estão dispostos a produzir a vender é designada função da oferta ou curva da oferta. Os Fatores que influenciam a curva da oferta Tecnologia: O progresso tecnológico consiste nas alterações que diminuem a quantidade dos fatores necessários para a mesma quantidade de produto. Preço dos fatores de produção: Quando o preço dos fatores de produção diminui a o custo de produção é menor e a oferta aumenta. Preços de bens relacionados: A oferta de um dado bem tende a aumentar (diminuir) quando diminui (aumenta) o preço de bens substitutos. 60 Política do governo: Os impostos e as políticas salariais podem fazer aumentar o custo dos fatores de produção levando à contração da oferta. Influências específicas: A oferta de determinados bens é influenciada por fatores específicos como seja o clima na agricultura. Quando existem alterações de fatores, que não o preço do próprio bem, que afetam a quantidade oferecida, designam-se por deslocações da curva da oferta. A oferta aumenta (ou diminui) quando a quantidade oferecida para cada preço de mercado aumenta (ou diminui). Equilíbrio da oferta e da demanda O equilíbrio de mercado ocorre no preço a que a quantidade demandada é igual à quantidade oferecida. Num mercado concorrencial, este equilíbrio resulta da intersecção das curvas da oferta e de demanda e nele não há tendência para o preço 61 descer ou subir. O preço de equilíbrio é também designado por preço de fecho do mercado. Isto significa que todas as ordens de compra foram satisfeitas e a produção toda vendida, ou seja, fecharam-se as posições de compra e de venda. Oferta e quantidade ofertada: a oferta refere-se à escala ou toda a curva, enquanto a quantidade ofertada diz respeito a um ponto específico da curva da oferta. Sabemos que o preço não é o único fator que afeta as decisões de oferta, mesmo em mercados altamente competitivos. Os outros fatores que provavelmente causarão impacto sobre as decisões de oferta são chamados de condições de oferta. Da mesma forma que a demanda, a oferta de um determinado bem ou serviço depende de vários fatores, dentre eles, vale destacar alguns: Mudança nos custos da produção: estas incluem mudanças no custo da mão de obra, matéria-prima, taxas de juros sobre o capital e tarifas diversas, como 62 eletricidade, por exemplo, e o impacto de novas tecnologias sobre os custos, todos os quais podem causar um impacto no equilíbrio entre mão de obra e a produção intensiva de capital, e em última análise, na lucratividade. Preços de outros produtos: Quando os preços de outros produtos são alterados, a empresa pode decidir trocar de produção. A oferta de um produto poderá ser afetada pela variação nos preços dos bens que sejam substitutos ou complementares na produção. Os Bens Substitutos na produção: são aqueles bens que são produzidos com aproximadamente os mesmos recursos, por exemplo, o milho e a soja. Já os Bens Complementares na produção, por sua vez, são aqueles que apresentam alteração na produção, em virtude da variação de preço de um outro bem. Mudanças nas expectativas de lucro: Entre momentos de boom e retração, as expectativas de lucro podem mudar drasticamente, levando a uma reavaliação da estratégia empresarial. Clima: O clima é obviamente importante nas decisões de oferta em indústrias como as do setor agrícola, construção, seguros, transportes e turismo. Além dessas variáveis, temos outras que podem influenciar na oferta: • Número de empresas potencialmente aptas. • Condições da oferta dos recursos de produção. • Alterações na estrutura tecnológica. • Expectativa sobre a evolução da procura. • Expectativa sobre o comportamento dos preços. Quando alguma condição de oferta muda, as empresas tendem a fornecer mais ou menos de seus produtos a determinado preço. 63 Estrutura de Mercados A oferta e a demanda interagem de modo a apresentar resultados muito distintos em cada mercado, pois cada um tem características específicas de produto, condições tecnológicas, acesso, tributação, entre outros, que o torna único. As estruturas de mercados são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e da demanda, bem como algumas características: Tamanho das empresas; Diferenciação dos produtos; Transparência do mercado; Acesso de novas empresas, entre outros. As estruturas básicas são três: Estruturas Clássicas Básicas; Outras Estruturas Clássicas; e Modelos Marginalistas de Oligopólio. As estruturas clássicas básicas contêm duas estruturas Competição Perfeita: Ocorre quando existem inúmeras firmas e consumidores ofertando e demandando o produto. Nenhum deles tem poder de alterar preços ou quantidades e não existem barreiras à entrada. As firmas são “prince takers”, isto é, conhecem o preço de mercado e decidem o quanto irão produzir. Os consumidores, por sua vez, conhecem os preços de mercado e decidem o quanto irão adquirir. Não há barreiras à entrada porque a tecnologia é relativamente simples, disponível e barata. A lucratividade no mercado de concorrência perfeita é relativamente baixa quando comparada a outros tipos de mercado. 64 Monopólio: Quanto há uma única firma (ou indivíduo) ofertando o produto e inúmeros demandantes. Neste caso, as firmas são “prince makers”, isto é, podem decidir o preço que será cobrado, visando a maximização de seus lucros. Lembre-se que se a firma aumenta o preço, diminui a quantidade vendida e vice-versa, se diminui o preço, aumenta a quantidade vendida. OBS1: Quando há um único demandante e vários ofertantes o mercado é chamado de monopsônio. OBS2: Monopolista discriminador de preços ocorre quando é possível diferenciar os diversos compradores, conhecendo-lhes os preços de reserva (o quanto estariam dispostos a pagar). Em empresas aéreas é frequente diferenciar os preços das passagenspara idosos, turistas, viajantes de negócio, crianças, jovens etc. As Outras Estruturas Clássicas mais comuns: Oligopólio: Quando há umas poucas empresas ofertando o produto. No caso de apenas duas chama-se duopólio. As firmas, neste caso, podem ter um poder de mercado relativamente alto, modificando os preços e quantidades de equilíbrio e fazendo acordos com outras firmas ou formando cartéis. É uma estrutura de mercado comum em nossos dias. Concorrência Monopolista: É um mercado onde a concorrência se dá por meio de marcas ou griffes. O produto é semelhante, porém diferenciado por meio de uma marca (por exemplo: Gillete, refrigerantes - Cola, roupas de grife). É como se cada empresa detivesse o monopólio de sua própria marca e a partir daí, competissem entre si. Atualmente é um tipo de mercado muito encontrado na rotina de compras dos indivíduos da classe média. 65 Teoria da Firma: A produção e a Firma A Produção Seus princípios gerais proporcionam as bases para análise dos custos e da oferta dos bens e serviços produzidos. Firma ou Empresa: do ponto de vista da teoria dos preços, é uma unidade técnicas que produz bens. A ideia essencial é de que a firma seja uma unidade de produção, que atue racionalmente, procurando maximizar seus resultados em termos de produção e lucro. Fatores de Produção: São necessários para que se possa produzir alguma coisa. Os fatores de produção clássicos são T, K, L: Terra, Capital e Trabalho. De forma mais abrangente podem haver outros fatores de produção: recursos naturais, minérios, meio ambiente, mão-de-obra especializada e não-especializada, capital físico e humano, tecnologia, técnica administrativa, ambiente institucional, estabilidade civil e monetária etc. Produção: é a transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. Função de produção: é a relação que mostra qual a quantidade obtida do produto, a partir da quantidade utilizada dos fatores de produção. Processo de Produção: técnica por meio da qual um ou mais produtos vão ser obtidos a partir da utilização de determinadas quantidades de fatores de produção. A função de produção indica o máximo de produto que se pode obter com as quantidades dos fatores, uma vez escolhido determinado processo de produção mais conveniente. Em quanto o processo de produção, na realidade, indica quanto de cada fator se faz necessário para obter certa quantidade de produto. Consideram-se dois tipos de relações entre a quantidade produzida do produto e a quantidade utilizada dos fatores. Ocorre quando, na função de produção, alguns fatores são fixos e outros variáveis. (Curto Prazo). 66 Ocorre quando todos fatores são variáveis. (Longo Prazo) Fatores variáveis são aqueles cujas as quantidades utilizadas variam com a realização do processo produtivo e os fatores fixos não variam. A Firma O objetivo básico da firma é a otimização dos resultados quando da realização da sua atividade produtiva. Os custos de produção é o somatório das despesas realizadas pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por meio do qual é obtida uma determinada quantidade do produto. O rendimento da Firma ocorre ao realizar o processo de produção de bens, as firmas almejam uma compensação para a sua atividade criado de riqueza. O custo de produção tem uma contrapartida que se constitui na sua própria compensação: o rendimento ou receita recebida pela venda da produção no mercado. Variáveis que influenciam a demanda do consumidor Dentre os diversos fatores que influenciam a demanda, destacamos alguns: • O preço próprio do bem propriamente dito. • O preço dos bens substitutos. • O preço dos bens complementares. • O nível de despesas com propaganda para o produto em questão, além de produtos complementares e substitutos. • O nível e a distribuição de renda líquida dos consumidores, isto é, a renda depois de serem pagos os impostos e benefícios estatais diretos. •Os efeitos do bem-estar causados, por exemplo, booms da bolsa de valores, preços crescentes da moradia, ganhos inesperados, etc. 67 • Mudanças nos gostos e preferências dos consumidores. • O custo e a disponibilidade de crédito. • As expectativas dos consumidores com relação a futuros aumentos de preço e disponibilidade do produto. •Mudanças na população, se tivermos analisando a demanda do mercado total. Em relação a determinados produtos, alguns desses podem ser mais importantes como determinantes da demanda de outros. Os fatores diferentes de “preço próprio” que afetam a demanda podem, de maneira geral, ser descritos como condições de demanda (isto é, o ambiente no qual os consumidores decidem quanto comprar por determinado preço). 68 Referências ABEL, Andrew B.; BERNANKE, Ben S.; CROUSHORE, Dean. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2008. BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. BOYES, Willian; MELVIN, Michael. Introdução à Economia. São Paulo: Ática, 2006. CARVALHO, José L. et al. Fundamentos de Economia: Macroeconomia. Nv. 1, São Paulo: Cengage Learning, 2008. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE - COFECON. Grandes economistas XIV: Robert Lucas e as expectativas racionais. 13 ago. 2007. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2020. DORNBUSCH, Richard; FISCHER, Stanley. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 1991. EXAME. 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