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Economia

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ECONOMIA INTRODUTÓRIA: PRINCÍPIOS DE ECONOMIA E
DE ANÁLISE DE CONJUNTURA
ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO
ANGÉLICA MASSUQUETTI
GISELE SPRICIGO (org.)
MÁRCIO ELOIR SCHWEIG
RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.)
SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR
TIAGO WICKSTROM ALVES
2ª edição
Editora Unisinos, 2016
SUMÁRIO
Apresentação
Capítulo 1 – Princípios básicos de economia
Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia
Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio
internacional
Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da
atual conjuntura econômica
Sobre os autores
Informações técnicas
APRESENTAÇÃO
O presente livro é uma obra de introdução às Ciências Econômicas.
Adicionalmente, o texto trabalhará com a aplicação da economia, com
exemplos da economia brasileira e internacional. O livro aplica-se às
atividades acadêmicas da área temática da Economia, em diversos cursos
de graduação do ensino superior. Assim sendo, o livro primeiramente
trabalhará com conceitos básicos de economia. Logo após, conceitos
fundamentais de microeconomia e de macroeconomia. Ao final, buscar-
se-á a aplicação dos conteúdos estudados, através de uma breve análise
da atual conjuntura econômica. Seguindo essa ordem, o livro tem como
objetivo discutir os pontos a seguir listados, de acordo com os capítulos
que se seguem:
Temática a ser desenvolvida no
Capítulo:
Princípios básicos de economia 1
Noções de microeconomia 2
Noções de macroeconomia e teorias do comércio
internacional
3
Aplicação dos conteúdos estudados – uma breve análise da
atual conjuntura econômica
4
É importante destacar o objetivo do presente texto. Como trata-se de
um livro de introdução às Ciências Econômicas, o mesmo trabalhará com
muito conceitos, tais como demanda, oferta e equilíbrio de mercado. O
importante é entender esses conceitos e não apenas decorá-los. Isso
porque as Ciências Econômicas acabam fazendo parte da vida de todas
as pessoas, tantos as pessoas físicas (indivíduos) como as pessoas
jurídicas (organizações, empresas, instituições etc.). O princípio disso,
pode-se dizer, está no fato de os indivíduos terem necessidades. Em
outras palavras, todas as pessoas precisam se alimentar e precisam de
bens e serviços (dos mais variados) para suprir as suas necessidades.
Esses bens e esses serviços são, na maioria dos casos, ofertados
(oferecidos) pelas pessoas jurídicas. Com essa breve explicação, pode-se
perceber que as pessoas físicas têm demandas e as pessoas jurídicas
ofertam bens e serviços. Essa troca, na economia de mercado da qual
fazemos parte, ocorre através da compra e da venda de bens e serviços.
Isso ocorre a todo o momento, em todos os lugares do mundo e com
todas as pessoas. Dessa forma, o presente texto irá trazer os conceitos
econômicos que deverão ser uma base calcificada de conhecimento para
atividades futuras, tendo as Ciências Econômicas como instrumento
estratégico. Após essa breve introdução, vale destacar algumas
considerações sobre o por quê de se estudar economia:
entender como funcionam os fluxos de recursos entre pessoas
físicas e jurídicas, dentro do sistema capitalista de mercado;
compreender sobre como as pessoas físicas fazem escolhas e
os motivos que levam a termos diferentes tipos de consumidores,
com diferentes comportamentos, na sociedade;
identificar e analisar uma série de indicadores e informações que
sirvam de base para a tomada de decisão, tanto nos
investimentos pessoais como nas organizações, e, ainda,
entender o processo de alocação de recursos nas organizações;
ler e fazer uso das informações sobre economia que aparecem
nos meios de comunicação todos os dias. Na maior parte dos
dias da semana, a manchete dos jornais versa sobre economia;
compreender e disseminar do papel do Estado enquanto
regulador e organizador das atividades econômicas;
entender e visualizar as perspectivas econômicas no Brasil e
internacionalmente, compreendendo as relações econômico-
financeiras entre os países;
compreender o papel da economia na sociedade, apresentando
os seus conceitos básicos e medidas de variáveis econômicas;
compreender as diferentes estruturas de mercado e a sua
influência no âmbito das organizações.
Dessa forma, essas são algumas razões práticas para demonstrar
a importância do estudo da economia, nas mais diversas áreas. A seguir,
uma breve apresentação de cada capítulo.
O primeiro capítulo busca apresentar os principais conceitos de
economia, começando, principalmente, pelo entendimento do que
significam as Ciências Econômicas. Também são apresentados os
conceitos de tipos de bens, de macro e de microeconomia e, por fim,
alguns princípios básicos para se estudar economia e para se entender
como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam
tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la. Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04:
pessoas respondem a incentivos.
O segundo capítulo versa sobre noções de microeconomia. A
microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se
assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades
individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á com conceitos fundamentais de
microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos
econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços, (b) fatores
de produção, (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro;
curvas de possibilidade de produção; rendimentos decrescentes e os
custos sociais crescentes; fundamentos de oferta e demanda e, ainda,
elasticidade. Também serão trabalhadas: a Teoria da Produção, incluindo
custos de produção, e as estruturas de mercado.
A microeconomia e a macroeconomia compõem as duas grandes
áreas do estudo da Economia. A macroeconomia, que será abordada no
terceiro capítulo, se difere da microeconomia principalmente pelo uso da
soma das variáveis econômicas individuais para obter dados agregados
da economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas
como consumo agregado, investimento agregado e produto agregado são
determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as análises
macroeconômicas utilizam instrumentos teóricos e empíricos para
monitorar a economia, realizar previsões econômicas, auxiliar na
elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da
economia em geral.
Por fim, o quarto e último capítulo tem o objetivo de definir, qualificar
e quantificar os principais indicadores econômicos do país.
Reconhecidamente, tais indicadores são fundamentais tanto para
propiciar uma melhor compreensão da situação presente e o
delineamento das tendências de curto prazo da economia quanto para
subsidiar o processo decisório. O capítulo trabalhou com os
agrupamentos mais convencionais dos diferentes indicadores e sempre
que possível, especificou, para cada um deles, aspectos como conceito,
finalidade, metodologia de determinação e instituição produtora.
Vale destacar que ao final de cada capítulo tem-se alguns itens
adicionais, tais como: indicação de sites, sugestões de leitura
complementar, as referências utilizadas ao longo do texto, bem como o(s)
autor(es) de cada capítulo. A seguir, será apresentado o minicurrículo dos
autores, e logo após será dada sequência aos capítulos.
Boa leitura!
Gisele Spricigo
CAPÍTULO 1
PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ECONOMIA
Gisele Spricigo
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Sérgio Leusin Júnior
O capítulo apresenta os principais conceitos de economia, começando,
principalmente, pelo entendimento do que significam as Ciências Econômicas.
Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de
microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se
entender como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam
tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la.
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a
incentivos.1.1 Introdução
Para a compreensão dos fatos econômicos, é necessário ter o
conhecimento dos fundamentos básicos que regem a ciência econômica.
Por mais que o estudo da economia seja multifacetado, existe uma série
de ideias centrais que abrangem todo o escopo desta ciência. Estas
ideias aparecerão de forma recorrente ao se analisar os problemas
econômicos e devem ser internalizadas pelo estudante de economia.
Porém, antes de iniciarmos nos conceitos propriamente, cabe
reconhecer: o que é economia? Abaixo, tem-se um conceito bastante
completo:
A economia é uma ciência social que estuda como os indivíduos e a
sociedade decidem (ou escolhem) empregar os recursos produtivos
escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre
várias pessoas e grupos de sociedades, a fim de satisfazer as
necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998).
Esse conceito pode ser explicado parte a parte, como será feito a
seguir:
a economia é uma ciência social. Dentro das grandes áreas do
conhecimento, as Ciências Econômicas fazem parte das Ciências
Sociais Aplicadas;
os indivíduos e a sociedade, a todo momento, em todos os
lugares, está fazendo escolhas sobre o que comprar, onde investir
etc.;
essas escolhas estão pautadas pelas necessidades humanas;
os recursos são escassos, e não abundantes, como será visto a
seguir, na Lei da Escassez.
A economia pode ser entendida em duas grandes áreas. A
microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se,
assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades
individuais. Já a macroeconomia estuda o funcionamento da economia
como um todo, ou seja, ocupa-se do comportamento global do sistema
econômico.
A partir dessa breve introdução, destacam-se os elementos que são
objetos de estudo das Ciências Econômicas. Esses elementos serão
abordados, analisados e muitas vezes citados ao longo de todo o livro.
São eles:
escolha;
escassez;
necessidades;
recursos;
produção;
distribuição.
Ao longo do texto, também serão mencionados, diversas vezes,
bens e serviços. É importante entender a que bens e serviços são todos
aqueles criados para satisfazer as necessidades. Os bens podem ser
tocados, analisados, esquematizados e contados. Os serviços não podem
ser tocados nem estocados pois são intangíveis, ou seja, eles existem
quando são produzidos. Tem-se os seguintes tipos de bens:
Segundo seu caráter:
Bens livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes.
Não se pode apropriá-los, como o ar, o calor, o sol, a chuva etc.
Bens econômicos: são bens escassos em quantidade, dada sua
procura, e apropriáveis. Os bens econômicos têm valor monetário. Quase
todos os bens são bens econômicos.
Segundo sua natureza:
Bens de capital
São aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não
se desgastam quando utilizados (com exceção da depreciação), como, por
exemplo, uma máquina ou uma impressora.
Bem de consumo
Atende às necessidades humanas. São classificados em bens
duráveis (móveis, por exemplo) e não-duráveis (alimentos, por exemplo).
Segundo sua função:
Bem intermediário
São aqueles agregados ou transformados na produção de outros
bens e que são consumidos totalmente durante o processo produtivo. Por
exemplo: cola no calçado.
Bem final
São aqueles vendidos para consumo e/ou para utilização final.
Exemplo: calçado.
E ainda: bens privados, que são produzidos e possuídos
privadamente. Bens públicos são aqueles cujo consumo é feito por vários
indivíduos ao mesmo tempo (por exemplo, um parque).
1.2 A lei da escassez
A palavra economia deriva do termo grego oikos que significa lar,
podendo ser interpretado como o estudo do lar, ou ainda, o estudo do
ambiente, que inclui todos os fatores que afetam a vida dos organismos
que de alguma forma interagem nesse ambiente. Deve-se ter em mente a
diferença entre o termo casa, que diz respeito à parte física da moradia, e o
termo lar, que é mais amplo e trata de questões relacionadas à qualidade
do convívio e sobrevivência das pessoas ou organismos que compõem
este lar. Desta forma, pode-se definir a ciência econômica como a ciência
que busca compreender e encontrar soluções para problemas originados
da interação entre estes organismos que constituem o ambiente ou lar.
Este ambiente, de maneira ampla, pode ser compreendido como
um composto social formado por famílias, empresas e governo. É
importante lembrar que os problemas deste composto social são
problemas originados por pessoas e que irão afetar exclusivamente a vida
de pessoas. Assim, ao resolver um problema econômico, se está
resolvendo um problema na vida das pessoas.
Os problemas originados da interação entre estes agentes são em
função de um princípio humano fundamental: os indivíduos têm desejos e
necessidades ilimitadas1 (prazer, felicidade, amor, saúde etc.) e a natureza
tem recursos disponíveis para suprir estas necessidades de maneira
limitada (água, matérias-primas etc.). Neste ponto entra em cena talvez o
principal problema econômico: a escassez. Assim, pode-se dizer que
economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam seus
recursos escassos para produzir bens e de como serão distribuídos estes
bens entre os vários indivíduos.
A interação entre as duas forças que geram os problemas
econômicos (desejos ilimitados versus recursos limitados) é regida por
um ser humano muitas vezes definido por economistas da Escola
Clássica de Economia como o Homo Economicos ou Homem Econômico.
Esta categoria de indivíduo é definida como um homem perfeitamente
racional e capaz de fundamentar suas decisões exclusivamente por razões
econômicas, preocupando-se em obter o máximo de benefício com o
mínimo de sacrifício de modo imediato. Ele agiria racionalmente no
sentido de maximizar sua riqueza e assim introduzir novos métodos
produtivos para enfrentar a concorrência no mercado (SANDRONI, 1999). 
Na figura 1 é mostrado de forma sintetizada o objeto de estudo da
Economia.
Figura 1 – A origem dos problemas.
Fonte: SANDRONI, 1999. Elaboração própria dos autores.
Em síntese, o estudo da economia diz respeito à maneira como
grupos de pessoas interagem entre si enquanto realizam suas atividades
cotidianas. Desta forma, o comportamento da economia reflete o
comportamento das pessoas que a compõem, e este fato torna de
fundamental importância conhecer os princípios que definem as tomadas
de decisão individuais. Estas decisões precisam ser feitas tendo em vista
que os recursos são escassos, o que torna impossível atender a todas as
necessidades humanas. Portanto, a sociedade precisa fazer suas
escolhas, assim como os indivíduos no seu dia-a-dia.
1.3 Princípios da Tomada de Decisão Individual
Uma importante contribuição para a compreensão dos princípios
fundamentais de economia foi realizada por Mankiw (2001) ao sistematizar
a maneira como são solucionados os problemas originados em função da
escassez dos recursos. 
Como as pessoas tomam decisões:
Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs;
Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la;
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem;
Princípio 04: pessoas respondem a incentivos.
Princípio n° 1: pessoas enfrentam tradeoffs
Em Economia, tradeoff significa uma situação de escolha
conflitante que é ocasionada em função da escassez de recursos. Um
exemplo de recurso escasso é o tempo. O estudante desta disciplina,
por exemplo, tem tempo limitado para a realização de todas as tarefas
que gostaria de fazer. Provavelmente seja mais agradável passar os
dias na beira de um rio pescando do que estudando em seu quarto,
contudo a vida exige mais do que isso e algumas horas de estudo
serão necessárias para o seu crescimento profissional. Portanto,
para um aluno tirar boas notas, ele terá de abdicar algumas horas de
suas atividades de recreação para dedicar-se aos estudos. Assim,
um estudante, ao decidir entre estudos ou lazer, está enfrentando um
tradeoff, pois não pode realizar as duas tarefas ao mesmotempo.
Desta forma, mais horas de lazer consequentemente implicam em
menos horas de estudo. 
Princípio n° 02: O custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la
O princípio n° 1 gera um desdobramento, pois existirá um custo
caso o aluno decida passar todas as horas disponíveis do seu dia
pescando à beira de um rio ao invés de estudar para as provas, e este
custo provavelmente será uma nota baixa na avaliação. Ou seja, o
custo de alguma coisa, ou o custo de uma decisão, é o custo do que
se abre mão para poder obtê-la. Esta frase pode ser reescrita da
seguinte maneira: para quase todas as decisões tomadas existe um
bônus, mas também um ônus. Ou ainda: independentemente da
opção escolhida, existirá um custo e um benefício em função desta
decisão. Em Economia, este princípio é muito utilizado e talvez seja
um dos mais importantes. Ele é chamado de custo de oportunidade.
Um exemplo clássico de custo de oportunidade, que é
seguidamente utilizado em planos de negócios, é a ponderação da
realização ou não de um investimento empresarial. O empresário
pode perguntar-se qual será a renda que ele irá acrescentar ao seu
faturamento ao realizar um investimento de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) na sua empresa, por exemplo. Ele terá no mínimo duas opções
para avaliar: uma opção seria depositar este valor em uma conta
poupança, por exemplo, na qual ele terá um determinado rendimento;
a outra opção seria ele investir na empresa comprando ou renovando
as máquinas para a produção de mercadorias. Caso o rendimento
gerado pelo investimento na empresa for menor que o rendimento da
poupança, é provável que ele escolha depositar este valor na
poupança e, desta forma, não realizar o investimento na empresa.
Assim, o rendimento da poupança é o custo de oportunidade de
investir este valor na empresa.
Princípio n° 03: Pessoas racionais pensam na margem
Provavelmente o aluno pescador, citado nos princípios
anteriores, não irá nem decidir passar todas as horas do seu dia
pescando, nem ocupar todo o seu dia estudando. Com certeza ele irá
ponderar o benefício de mais uma hora de estudo ou mais uma hora
de pescaria. Ele não será radical ao ponto de escolher ficar o resto de
sua vida só pescando ou só estudando. É provável que este aluno
busque avaliar qual o benefício de algumas horas adicionais de
estudo para sua vida acadêmica, assim como avaliar qual o ganho de
algumas horas adicionais de pescaria na sua qualidade de vida.
Desta forma, pode-se afirmar que em muitos casos as pessoas
tomam as melhores decisões quando pensam na margem,
determinando o quanto a mais de esforço é preciso despender para
se obter maiores benefícios.
Princípio n° 04: pessoas respondem a incentivos
Imagine que o preço da carne tenha disparado nos
supermercados e que o aluno do exemplo seja um bom pescador.
Mesmo considerando sua pescaria como uma atividade recreativa, de
certa forma este aluno está colaborando com sua família ao levar
peixes para serem consumidos no almoço. Assim, a elevação do
preço da carne acaba por incentivar para que o mesmo continue
pescando, ou até mesmo aumente o número de horas que se dedica
a esta atividade e consequentemente reduza suas horas de estudo. A
principal lição que deve ser internalizada deste princípio é que novos
acontecimentos podem fazer com que as pessoas reavaliem suas
escolhas, começando pelo princípio 1 (pessoas enfrentam tradeoffs),
passando para uma reavaliação do custo de oportunidade (princípio 2
- quanto será perdido ao optar entre duas alternativas conflitantes) e,
finalmente, verificando quanto a mais se obterá da alternativa a ao
abrir mão de certa quantia da opção b (princípio 3 – pessoas
racionais pensam na margem)
É facilmente percebido nas sociedades o equivocado conceito de
que é possível viver sem a ajuda de outros ou sem a interação entre as
pessoas. Todas as pessoas (países) do mundo precisam da ajuda de
outras pessoas (países) para sobreviver, por mais rica que seja esta
pessoa ou país. Quando você acorda pela manhã, provavelmente um
celular com tecnologia importada do Oriente te desperta. Ao sentar-se à
mesa do café, irá consumir frutas que foram colhidas por pessoas; e ao se
deslocar para o seu trabalho ou escola, alguém tornou possível o seu
transporte, seja o governo municipal que lhe forneceu as vias públicas
municipais, seja o frentista que abasteceu seu carro ou o motorista do seu
ônibus. Assim, acreditar na ideia de vida isolada ou independente dos
outros é ilusão. A primeira lição que um indivíduo precisa internalizar para
compreender os fatos econômicos é acreditar que não é possível o
convívio isoladamente. Seja uma pessoa, cidade ou país, todos
necessitam da ajuda de outros.
Com a ajuda destes conceitos básicos, será possível compreender
a maneira particular como os problemas econômicos são tratados e como
se deve pensar para resolvê-los. O economista sempre deve analisar as
alternativas disponíveis, verificar o(s) custo(s) (e não só os benefícios)
originado(s) das decisões tomadas, assim como buscar entender como
os eventos estão relacionados. A Economia é uma ciência como todas as
outras, contudo possui elementos das ciências exatas e humanas, e o seu
laboratório é a vida real. Desta forma, o economista nunca deve descuidar
do seu objeto principal, que é a busca pelo bem-estar das sociedades.
1.4 Indicação de Sites
Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
1.5 Conceitos Importantes
Termos Básicos
Escassez Homo Econômicos
tradeoffs Custo de oportunidade
Tipos de bens
REFERÊNCIAS
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best
Seller, 1999.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007.
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de
economia: equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva,
1998.
MANKIW, N. GREGORY. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
MANKIW N. G. Introdução à Economia: princípios de micro e
macroeconomia. 1 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia.
São Paulo: Pioneira, 1999.
http://www.bcb.gov.br
http://www.fazenda.gov.br
VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001.
VASCONCELLOS, M. A.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São
Paulo: Saraiva, 1998.
VASCONCELLOS, M. A.; TROSTER R. L. Economia básica. 4. ed. São
Paulo: Atlas, 1998.
WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 1998.
__________
1 Os desejos humanos ou necessidades humanas, de acordo com a pirâmide de
Maslow, começam com as funções biológicas e fisiológicas básicas como alimentação,
conforto físico, descanso, lazer, etc., que ao serem supridos fazem originar desejos mais
complexos como autonomia, identidade, estabil idade, aceitação entre seus pares entre
outros.
CAPÍTULO 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE MICROECONOMIA
Gisele Spricigo
Márcio Eloir Schweig
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Tiago Wickstrom Alves
A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se assim essas
unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á
com conceitos fundamentais de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema
econômico; fluxos econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços; (b)
fatores de produção; (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro; curvas de
possibil idade de produção; rendimentos decrescentes e os custos sociais crescentes;
fundamentos de oferta e demanda e, ainda, elasticidade. A teoria da produção e custos
de produção será abordada, com vistas a ampliar a magnitude de ganhos para as
empresas. Também, ao final, definem-se as estruturas de mercado e visualizam-se as
barreiras à entrada em novos mercados.
2.1 Introdução à MicroeconomiaA teoria microeconômica estuda o comportamento dos agentes
econômicos individuais, isto é, das decisões dos indivíduos como
consumidores, como proprietário dos fatores de produção, e das suas
decisões como proprietário das firmas.
É comum encontrar a expressão comportamento da firma nos livros
de economia. Esta é utilizada para expressar o comportamento dos
empresários quando atuam no mercado. Da mesma forma, tem-se a
expressão comportamento do consumidor, que abarca um amplo leque
temas econômicos relacionados ao comportamento dos agentes
enquanto consumidores, por exemplo: racionalidade econômica, teoria
dos incentivos, informação, entre outros.
Assim, a microeconomia é o ramo das ciências econômicas que
busca explicar o comportamento dos consumidores e das firmas no
mercado. Desta forma, ela analisa também a estrutura de mercado, como
a formação de cartéis, monopólios e o comportamento destes.
2.3 Equilíbrio
O conceito de equilíbrio é um dos mais importantes em análise
econômica. A expressão equilíbrio significa uma posição onde as forças
se anulam e, em caso de qualquer alteração, as forças de mercado
restabelecerão o equilíbrio. Na figura 2, tem-se um pêndulo que ajuda a
compreender a noção de equilíbrio. Em qualquer posição que soltarmos o
pêndulo, como na posição A, por exemplo, ele oscilará e movimentos cada
vez menores e acabará na posição de equilíbrio E. Assim é a ideia de
equilíbrio muitas vezes discutida em microeconomia: sabe-se posição do
mercado, e caso determinada alteração ocorra, pode-se prever o que irá
ocorrer, mas o tempo e os movimentos intermediários não são discutidos.
Assim como expresso no exemplo do pêndulo, não se explicita quantos
movimentos e em que tempo se obterá a posição estática E, mas sabe-se
que lá será o equilíbrio. Essa é a definição de equilíbrio estático analisado
em economia.
Figura 2 – Equilíbrio.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.3 As Tarefas do Sistema Econômico
A economia é, em última análise, a ciência da escassez, pois ela
tenta suprir necessidades ilimitadas dos seres humanos com recursos
produtivos limitados. Logo, ela dedica-se a como maximizar a satisfação
dos consumidores, dada a limitação de renda, e a maximização do lucro
dos produtores, dada a limitação de insumos e preço dos fatores de
produção.
Como as necessidades humanas têm que ser satisfeitas com uma
limitada quantidade de recursos, uma função primordial da economia é
estabelecer a melhor combinação dos recursos disponíveis para atender
essas necessidades, que são divididas em três categorias: primárias,
secundárias e coletivas.
a. Necessidades primárias: são aquelas essenciais à
sobrevivência humana. Isto é, são necessidades comuns a
todas as pessoas, que são alimentação, saúde, habitação e
transporte, entre outras.
b. Necessidades secundárias: são aquelas que aparecem à
medida que ocorre o crescimento econômico. Ao contrário das
primárias, não se instalam repentinamente, pois levam algum
tempo para se incorporarem aos hábitos. Tais necessidades são
também chamadas de supérfluas e tendem a serem
consideradas essenciais na medida em que passam a fazer
parte da cesta de consumo dos indivíduos como, por exemplo,
telefone celular.
c. Necessidades coletivas: são aquelas que surgem da
necessidade concernente à socialização dos indivíduos,
necessitando, assim, de serviços que muitas vezes são
coletivos. Exemplo desses são: manutenção da ordem pública,
os serviços de água, luz e telefone, a construção e manutenção
de estradas etc.
PRIMÁRIAS SECUNDÁRIAS COLETIVAS
Alimentação
Saúde
Habitação
Transporte
Supérfluas Serviços Públicos
Dessa forma, o sistema econômico tem como tarefas atender
essas necessidades. Logo, o problema econômico pode ser resumido em
três questões:
o que produzir?
quanto produzir?
como produzir?
Estas questões abrangem praticamente todo o campo de Análise
Econômica.
Deve-se ressaltar que toda decisão econômica que seja realizada
em uma economia com uma certa quantidade de habitantes, um certo
grau de tecnologia, determinado número de fábricas e ferramentas e
determinada quantidade de terra, potência energética e recursos naturais,
ao decidir o que, quanto e como, estará de fato decidindo para quem
produzir com os recursos existentes.
2.4 Fluxos Econômicos
Um sistema econômico tem seu funcionamento embasado na
utilização de seus recursos disponíveis para produção de um conjunto de
bens e serviços que serão utilizados por outras unidades produtoras ou
colocados à disposição dos consumidores finais para satisfação de suas
necessidades. A geração dessa produção é realizada basicamente através
dos seguintes recursos:
terra (recursos naturais);
trabalho;
capital;
tecnologia.
Assim, a natureza constitui-se no primeiro fator de produção. São as
matérias primas de muitos setores industriais na produção de novos
bens, além de recursos energéticos como hidrográficos, petróleo, gás etc.
Esses recursos são denominados de Terra ou Recursos Naturais em
economia.
O trabalho refere-se ao emprego de mão-de-obra utilizado na
produção de bens e serviços.
O capital compreende o conjunto e fábricas, estradas, máquinas,
equipamentos e instalações, assim como o conhecimento tecnológico da
sociedade. Na atualidade, o fator capital humano passou a ser mais
relevante que o capital físico e tem sido objeto de estudo em muitas áreas
das ciências sociais.
Dado que a produção de bens e serviços é orientada pelas
necessidades humanas e exige a utilização de fatores de produção,
então, pode-se representar o fluxo destes recursos e produtos através do
que se denomina de fluxo circular da economia. Esses fluxos econômicos
correspondem a um fluxo real (de bens e serviços) e um fluxo monetário,
que representa a contrapartida, em valor, dos bens, serviços e fatores
utilizados na economia por um intervalo de tempo. A figura 3 exemplifica
esse fluxo.
Figura 3 – Fluxo Circular em uma Economia a Dois Setores.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Os Mercados de Fatores e de Bens e Serviços
Um mercado é o lugar onde compradores e vendedores encontram-
se para comprar e vender seus recursos, bens e serviços. De outra forma,
o mercado é onde vendedores e compradores, por meio de suas
interações reais ou potenciais, definem preços. No passado, o termo
referia-se a uma localização geográfica, mas atualmente não há limites
para determinados mercados, pois o avanço tecnológico facilitou o contato
entre vendedores e compradores sem que eles sequer se vejam. O preço,
que é uma medida de escassez, é determinado pela interação entre a
oferta e a demanda. Denomina-se de preço de mercado aquele preço que
prevalece em um mercado competitivo. Isso não significa que todos os
produtos foram ou serão vendidos ao preço estabelecido, mas que os
preços de comercialização oscilam em torno dele.
O Mercado de Fatores de Produção
Neste mercado, as famílias ofertam seus recursos: terra, trabalho e
capital. Enquanto isso, as empresas (unidades produtoras) demandam
(procuram) tais recursos para alocarem na produção de bens e serviços.
O Mercado de Bens e Serviços de Consumo
No mercado de bens e serviços, são ofertados produtos aos
consumidores que passaram por um processo de produção ou extração e
serviços aos consumidores. Esses produtos e serviços são denominados
de produtos e serviços finais.
Mercado Financeiro
É o conjunto do mercado monetário e de capitais. Esse mercado é
responsável pela intermediação entre agentes superavitários (famílias) e
deficitários (empresas). A transformação da poupança (que é um
vazamento do consumo) em investimento (que é a aquisição de máquinas
e equipamentos para a produção) é possível pela existência do mercado
financeiro.
A alocação dos fatores na determinação dos bens e serviços finais e
nos bens de capitais determina as possibilidades de produção de uma
economia. Se houver maior alocação dos fatores para a produção de bens
finais, reduzindo os investimentos, a economia irá crescer mais
lentamente do que uma outra economia onde a poupançae o investimento
fossem proporcionalmente maiores. Essa relação pode ser observada na
curva de possibilidade de produção.
2.5 Curvas de Possibilidade de Produção
A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada de
Fronteira de Possibilidade de Produção, pode ser melhor compreendida
através de uma representação gráfica, que evidencia o problema de
realização da produção, dados os recursos produtivos.
Por exemplo, supondo que uma economia possa produzir, com a
utilização plena de seus recursos e na máxima eficiência técnica, 50
unidades de bens de capital, ela não teria mais capacidade de produção.
Isso significa que não teria disponibilidade de recursos para a produção
de bens de consumo. No outro extremo, se produzisse 100 unidades de
bens de consumo, então, não teria recursos para a produção de bens de
capital. Logo existe uma necessidade de, ao produzir mais de um, reduzir
a produção de outro, dados os recursos existentes. Essas possibilidades
de produção é que se denomina de Curva de Possibilidade de Produção,
que pode ser observada na figura 4.
Figura 4 – Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Pontos notáveis das Curvas de Possibilidade de Produção
Se uma economia estiver operando no ponto O, ela estará
operando em pleno desemprego, embora isso possa ser apenas
dito na teoria, inexistindo na prática, porque os recursos nesta
situação não seriam utilizados para quaisquer fins, de modo que
a produção seria reduzida a zero.
Se estiver operando nos pontos A, B ou C, significa que a
economia esta operando com pleno emprego dos fatores
disponíveis.
Se estiver operando no ponto D, significa que os recursos não
estão plenamente empregados, e estamos com capacidade
ociosa.
No ponto E, a produção é impossível com os recursos e a
tecnologia existentes na economia. Esse ponto só pode ser
atingido no longo prazo através da expansão dos recursos e/ou
tecnologia. Logo, sempre que houver variação nos fatores de
produção, haverá deslocamento da curva de possibilidade de
produção.
Assim, dada a escolha entre bens finais e de capitais, dada uma
curva de possibilidade de produção, se estará determinando:
o que e em que quantidades produzir;
o processo de maximização da produção dada pelos recursos
disponíveis;
a taxa de crescimento da economia.
Deslocamento das curvas de possibilidade de produção
Essas variações ocorrem somente no longo prazo em função de
variações tecnológicas, e/ou aumento da força de trabalho e/ou de
alterações no capital. Graficamente:
Figura 5 – Deslocamento da Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Deslocamento Positivo
Ocorre em situações normais de uma economia, os recursos
disponíveis com expansão de melhorias.
Deslocamento Negativo
Ocorre em situações anormais, a redução ou desqualificação dos
recursos disponíveis em uma economia.
Qual a causa essencial das diferentes taxas de deslocamento positivo da
curva de possibilidade de produção?
Depende da parcela de produção que é destinada à acumulação
(investimentos).
Acumulação → Processo de expansão e melhoria dos recursos
de produção já existente (humanos e patrimoniais).
2.6 Rendimentos Decrescentes2 e os Custos Sociais Crescentes
Lei dos Rendimentos Decrescente, também chamada de
produtividade marginal decrescente, é todo o movimento de intensificação
da produção para um determinado ramo, levando à redução da
produtividade em função da existência da perda de eficiência dos fatores.
Se todos os recursos da produção se expandirem a curva de
possibilidade de produção poderia apresentar rendimentos constantes ou
crescentes, porém se qualquer um dos fatores permanecer fixo o
resultado da expansão será a uma taxa decrescente.
Figura 6 – Rendimentos Decrescentes sobre a Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
Na medida que se amplia a produção de bens de consumo (em
proporções constantes), necessita-se reduzir-se cada vez mais a produção
de bens de capital. Ou seja, cada unidade adicional de bens de consumo
exigirá uma redução cada vez maior na produção de bens de capital, como
pode ser visto na passagem do ponto A para o ponto B e de B para C na
figura 5. Destaca-se que no exemplo dado na figura 4 não existe variação
na disponibilidade dos recursos, mas sim na destinação que é dada a
eles.
Curva de Restrição Orçamentária
Representa o máximo que o indivíduo pode adquirir de duas
mercadorias, dada sua renda monetária e o preço das mercadorias.
Conforme o gráfico abaixo, se toda a renda de um indivíduo fosse utilizada
para a aquisição do produto Y, Y0 seria o máximo que ele poderia adquirir
dada sua renda e o preço de Y; já se toda a renda fosse utilizada para a
aquisição do bem X, X0, representaria o máximo que ele poderia adquirir
de X dada a sua renda e o preço da mercadoria X. Assim unindo os pontos
Y0 e X0, temos a reta de restrição orçamentária.
Figura 7 – Curva de restrição orçamentaria.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração: Raquel Cabral.
A reta de restrição orçamentária é de suma importância na teoria do
consumidor, pois é com base nela que se determina a curva de demanda.
Isso ocorre por que os indivíduos tentarão maximizar suas utilidades
(satisfação obtida no consumo dos bens) dadas a renda e os preços dos
bens. Assim, sempre que houver alteração no preço dos bens, o
consumidor irá deslocar seu consumo em direção ao bem que se tornou
mais barato. Além disso, sempre que um ou mais bens apresentarem
redução real de preços, o consumidor terá um incremento real de renda,
pois ele poderá consumir as mesmas quantidades anteriores e lhe sobra
renda. Logo, uma demanda modificada por alteração de preços dos
produtos sempre apresentará um efeito de substituição (modificação das
quantidades consumidas em busca do bem mais barato) e um efeito de
renda.
2.7 Fundamentos de oferta e demanda
2.7.1 Demanda
Na teoria da microeconomia, a demanda ou procura é a quantidade
de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e capazes
de adquirir por determinado preço e em determinado momento.
Determinantes da Demanda
Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de demanda
Renda Monetária
Deslocamento da curva de
demanda
Gosto ou preferência do
consumidor
Preço de outras mercadorias
Lei da Demanda
“A quantidade demandada de uma mercadoria é uma função inversa
dos preços desta mercadoria”. Ou seja, à medida que o preço de uma
determinada mercadoria se eleva, a quantidade demandada dessa
mercadoria diminui. Sendo assim, sua representação gráfica apresentará
uma inclinação negativa.
Curva de Demanda
Ela é obtida a partir dos níveis de utilidade que se obtêm ao
consumir determinado bem em diversas quantidades. Como a utilidade
marginal é decrescente, então quantidades maiores terão níveis de
utilidades adicionais cada vez menores. Graficamente:
Figura 8 – Rendimentos Decrescentes e a Curva de demanda.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Observe que quando o consumidor consume a primeira unidade do
produto, ele obtém um elevado nível de satisfação (representado pela
altura da barra no número 1 de quantidades), e na medida em que ele vai
consumindo unidades adicionais, o prazer que ele sente pelo consumo
dessa unidade adicional é inferior ao obtido na unidade anterior. Como
exemplo, pense em você em um dia de calor. Se você tomar um picolé, terá
um nível de satisfação ao consumir o primeiro picolé. Mas ele poderá não
ser suficiente para aplacar seu calor e você decide comprar o segundo. O
nível de satisfação total que você obterá será maior, mas o prazer que o
segundo picolé lhe proporcionará será inferior ao obtido no primeiro.
Uma vez que a utilidade marginal (UMg) é decrescente, então, a
curva de demanda é necessariamente decrescente, ou seja, terá uma
inclinação negativa e passará pelos limites de satisfação obtida em cada
unidade consumida, conforme representado na figura 7 pela linha que uneas barras de utilidade para os diferentes níveis de consumo. Isso permite
formular a denominada Lei da Demanda, que significa que quantidades
maiores só serão consumidas de os preços forem menores.
Exceção a Lei de Demanda - Bens de GIFFEN
Só houve um exemplo na história, em que ocorreu a existência de
um bem de GIFFEN, que foi na Inglaterra - ou mais propriamente na
Irlanda - com as batatinhas inglesas. É que a depressão era tão grande
que uma parte da população recebia tão pouco que só podia comer
batatinha. À medida que o preço dessas diminuíam, diminuía também seu
consumo, pois surgia a possibilidade das pessoas adquirirem outros
produtos em função da economia com o gasto com batatinha e vice-versa.
Demanda agregada
A demanda agregada é a soma das demandas individuas por
aquela mercadoria ou serviço. Sua soma é obtida a partir de cada preço e
somando-se horizontalmente as quantidades demandas àquele preço.
Graficamente:
Figura 9 – Demanda agregada.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Quando qualquer um dos determinantes se altera, que não seja o
preço, coeteris paribus, então, a curva de demanda como um todo se
modifica, e essa alteração denomina-se de variação da demanda. Quando
somente o preço do bem se modifica, haverá alterações nas quantidades
demandadas e não na demanda, isso é, ao longo da curva de demanda já
estabelecida.
Coeteris Paribus
Essa expressão, bastante comum em economia, significa que
exceto as variações que estão sendo explicitamente mencionadas, todas
as demais variáveis permanecem constantes.
2.7.2 Oferta
Podemos definir como: as várias quantidades que os produtores
estão aptos e dispostos a ofertar no mercado, em função dos vários níveis
de preços possíveis, em determinado período de tempo.
A oferta representa o comportamento dos produtores. Logo,
podemos afirmar que os preços sendo maiores, maior será o desejo dos
empresários em oferecer seus produtos e maior será o número de
ofertantes no mercado.
Os elementos que afetam a oferta são:
custo dos insumos: faz com que a oferta tenha alterações nos
preços;
tecnologia: com melhorias na tecnologia, os custos de produção
diminuirão. Isso amplia as condições dos produtores em ofertar
mais com o mesmo preço ou a mesmas quantidades a um preço
menor;
condições climáticas: se tomarmos como exemplo a produção
agrícola, é um fator que pode causar redução ou aumento de
produção;
preço dos bens relacionados: tanto os bens substitutos como
complementares;
preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço, mais
incentivos terá a produção.
Resumindo, os determinantes da oferta afetam a função de oferta
da seguinte forma:
Determinantes da Oferta
Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de oferta
Custos dos insumos
Deslocamento da curva de oferta
Tecnologia
Condições climáticas
Preço dos bens relacionados
Figura 10 – Curva de Oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Na oferta, não existe como na demanda a Lei da Demanda. Ela é,
em geral, positivamente inclinada, mas poderá apresentar inclinação nula
(zero) e até mesmo negativa. Ainda, a curva de oferta representa o limite
máximo e mínimo, dependendo do sentido analisado.
Máximo: quando uma vez fixados os preços, haverá uma quantidade
máxima de produção para aquele nível de preço.
Mínimo: quando uma vez fixada a quantidade, o preço refletirá o
mínimo que o empresário estará disposto a cobrar por aquela quantidade.
2.7.3 Equilíbrio entre Oferta e Demanda
A interação entre ofertantes e compradores, em um determinado
mercado e para um determinado produto, em concorrência perfeita
(mercados competitivos), leva ao estabelecimento de um preço de
mercado. A esse preço, denominamos de preço de equilíbrio. Essa
interação também define as quantidades comercializadas e diz que o
mercado está em equilíbrio quando as quantidades ofertadas são
consumidas, não havendo, portanto, nem excesso de demanda nem
tampouco de oferta. Qualquer alteração nos fatores determinantes da
oferta ou da demanda levará a alterações no equilíbrio desse mercado.
Vejamos graficamente como ocorre o equilíbrio de mercado.
Figura 11 – Preços e quantidades de equilíbrio entre demanda e oferta.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Como pode ser observado na figura 10, no equilíbrio tem-se a
igualdade entre demanda e oferta; ou seja, tudo o que foi produzido foi
consumido. Formalmente: Qd=Qo.
Onde:
Qd (Quantidade demandada)
Qo (Quantidade ofertada)
Assim, acima do preço de equilíbrio tem-se excesso de oferta, e
abaixo do preço de equilíbrio tem-se excesso de demanda.
Exemplo
1. Suponhamos que a curva de demanda seja dada pela expressão 
Qd=100 - 10P e a de oferta por: QO=20P - 50, onde P é o preço da
mercadoria. Com essas informações, qual seria o preço e a quantidade de
equilíbrio para esse produto neste mercado?
Solução:
QD=QO
100 - 10P=20P - 50
100 + 50=20P + 10P → 150=30P
150 / 30=P → P=5,00
QD=100 - 10 . 5 → QD=50 ou QO=20 . 5 - 50 → QO=50
Equilíbrio é de 50 quantidades ao preço de $ 5,00.
Deslocamentos da curva de demanda e oferta e o efeito sobre as
condições de equilíbrio de mercado
Conforme destacado anteriormente, a alteração de um dos
determinantes da demanda ou da oferta causará alterações no equilíbrio.
Assim, é preciso compreender como os determinantes afetam a demanda
e a oferta, e como essas alterações afetam o equilíbrio. Inicialmente
destacamos os efeitos sobre as curvas de demanda e de oferta, e depois
agregamos isso nas condições de equilíbrio.
Deslocamentos da demanda
A figura 12 evidencia os deslocamentos da curva de demanda e os
condicionantes para tal movimento.
Figura 12 – Deslocamentos da curva de demanda.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
A figura 13 permite visualizar os deslocamentos da curva de oferta e
os fatores determinantes desses deslocamentos.
Figura 13 – Deslocamentos da curva de oferta.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
Deslocamentos da demanda e oferta e o movimento dos preços
Deslocamento Positivo da Demanda
Um deslocamento positivo na demanda, coeteris paribus, levará a
um aumento nos preços de equilíbrio e nas quantidades, conforme pode
ser observado na figura 14.
Figura 14 – Efeitos do aumento da demanda.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Um deslocamento negativo terá efeito contrário, ou seja, levará a
uma queda nos preços e nas quantidades de equilíbrio.
É preciso destacar que aumentos de renda não necessariamente
aumentam a demanda por um bem. O efeito da renda dependerá se o
bem for inferior, normal ou superior.
Quando houver um aumento de poder aquisitivo, ou aumento real de
renda, as pessoas irão aumentar seu consumo no caso de um bem
normal ou superior, e haverá um deslocamento negativo no caso de um
bem inferior. É em relação a esse comportamento em relação à renda que
os bens são classificados como inferior, normal ou superior.
Ressalta-se que um bem não é por si só inferior, superior ou
normal, mas depende do nível de renda do indivíduo. Isto é, um bem pode
ser inferior para determinado indivíduo, normal para outro e superior para
um terceiro. Por exemplo, a carne moída, denominada de segunda. Ela
pode ser um bem de luxo para alguém muito pobre, normal para outra
classe e inferior para a classe superior de renda.
Deslocamento Positivo da Oferta
O aumento da curva de oferta, coeteris paribus, resultará em uma
queda nos preços de equilíbrio e um aumento nas quantidades de
equilíbrio, como pode ser observado na figura 15.
Figura 15 – Efeitos do Aumento da Oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Deslocamento negativo, ou seja, uma redução da curva de oferta
gera um efeito oposto, ou seja, aumenta os preços e reduz as quantidades
de equilíbrio.
2.8 Elasticidade
É a sensibilidade de variação na quantidade demandada de um
produto em relação a uma variável que afeta a demanda por este bem,
como preço, renda, preço dos bens substitutos e complementares. É uma
medida que relaciona variaçõesproporcionais entre variáveis.
As alterações resultantes das variáveis envolvidas geram uma
elasticidade com denominação específica, que são:
o preço do produto - elasticidade-preço;
a renda - elasticidade-renda;
preço dos outros produtos - elasticidade-cruzada.
2.8.1 Elasticidade - Preço: Preço da Demanda (EP):
É a razão entre a variação porcentual da quantidade demandada de
um bem, dada uma variação porcentual no preço. Ela pode ser medida em
um determinado ponto da curva, como para variações que reflitam um
intervalo de preços.
Elasticidade no Ponto (Ep)
Elasticidade no Intervalo - Utilizado ponto médio (EP)
Atenção
A elasticidade da demanda sempre será negativa, pois existe
uma relação inversa entre preço e quantidade.
Quanto à elasticidade-preço, pode-se dizer que a demanda é:
a. Elástica: quando EP > | 1 |, ou seja, a variação relativa na
quantidade é “mais que proporcional” à variação relativa no
preço.
b. Inelástica: quando EP < | 1 |, ou seja, dada uma variação
porcentual no preço, ocorrerá uma variação porcentual menor na
quantidade
c. Elasticidade Unitária: quando EP=| 1 |, ou seja, a variação relativa
na quantidade é proporcional à variação no preço.
Além das elasticidades mencionadas, uma curva de demanda
poderá ser perfeitamente elástica ou perfeitamente inelástica, conforme
pode-se observar nas figuras que seguem.
Perfeitamente Elástica: quando E P=- ∞ (infinito)
Uma curva de demanda horizontal será extremamente sensível a
preços. Ou seja, um pequeno aumento de preços fará com que os
consumidores deixem de comprar o bem, e uma pequena redução leva a
um elevado aumento das quantidades demandadas. Esse extrema
sensibilidade faz com que a elasticidade tenda ao infinito. A figura 16
evidencia uma curva de demanda perfeitamente elástica.
Figura 16 – Curva de demanda perfeitamente elástica.
Fonte: MANKIW, 2001. Fonte: Elaboração própria dos autores.
Já quando o volume de quantidades demandadas não se altera
com mudanças de preços, então, tem-se uma curva de demanda
perfeitamente inelástica. Um exemplo de bens com demanda muito
inelástica é a de sal. A insulina para diabéticos também é perfeitamente
inelástica. A figura 17 contém uma curva de demanda perfeitamente
inelástica.
Figura 17 – Perfeitamente Inelástica: quando EP=0 (zero).
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
A elasticidade da demanda pode ser calculada quando essa for
uma reta, da seguinte forma:
Figura 18 – Elasticidade calculada.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Ep=B/A
Essa fórmula de cálculo permite visualizar facilmente que quando:
Ep > | 1 |=> Elástica: o segmento A será pequeno e o B grande, logo
a elasticidade será elevada.
Ep=| 1 |=> Unitária: os segmentos possuem o mesmo tamanho.
Ep < | 1 |=> Inelástica: o segmento A será grande e B pequeno,
logo haverá pouca sensibilidade a preços nesse segmento.
Ep=- ∞ - A será zero e B terá um valor elevado. Assim, qualquer valor
dividido por zero tende ao infinito.
Ep=0 - A terá um valor elevado e B será zero. Assim, zero dividido por
qualquer valor será zero.
Logo, como conclusão, pode-se verificar que uma demanda linear
terá diferentes elasticidades ao longo da reta. A figura 19 permite observar
essas elasticidades. Acrescentou-se nessa figura valores para deixar claro
que o ponto intermediário da curva de demanda, que apresenta
elasticidade unitária, está sobre o ponto intermediário do eixo das
quantidades e também dos preços.
Figura 19 – Diferentes elasticidades para diferentes pontos de uma demanda linear.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Consequências das variações de preço, conforme a elasticidade da
demanda:
Região Elástica: pequena variação no preço acarreta uma variação
proporcionalmente maior nas quantidades. Como consequências:
para o consumidor, aumentos de preços levam à redução dos
gastos;
para o empresário, aumentos de preços levam a uma diminuição
da receita total.
Região Inelástica: uma variação no preço acarretaria uma variação
proporcionalmente menor na quantidade. Como consequências:
Para o consumidor, aumentos de preços levam a aumento dos
gastos;
para o empresário, aumentos de preços levam a um aumento da
receita total.
Com essas informações, podemos vincular Receita Total (RT) com
elasticidade. Como RT=P*Q, então se os preços aumentarem e a região
da demanda for inelástica, a receita total irá aumentar. Na região de
elasticidade unitária, a RT será máxima. Se o aumento de preços estiver
na região elástica, levará à redução de RT. Veja essa relação na figura 20.
Figura 20 – Relação entre elasticidade e Receita Total.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
2.8.2 Elasticidade da Oferta
Tal como a demanda, a elasticidade da oferta mede a relação entre
a variação percentual na quantidade ofertada e a variação percentual no
preço. Em termos matemáticos, a fórmula de cálculo é a mesma, porém
ao invés de considerar as quantidades demandadas, são consideradas
as quantidades ofertadas. A equação a seguir é a mesma apresentada
anteriormente, com exceção de que os valores para Q são agora os
representados na curva de oferta.
Quanto à elasticidade, a oferta pode ser:
a. Elasticidade Unitária: quando a variação percentual no preço
corresponder uma variação percentual na quantidade na mesma
proporção.
b. Elástica: quando a variação percentual for maior que a ocorrida
no preço.
c. Inelástica: quando a variação percentual for menor que a ocorrida
no preço.
d. Perfeitamente Elástica: a quantidade oferecida varia
independentemente do preço.
e. Perfeitamente Inelástica: quando a variação no preço não afeta a
quantidade oferecida.
A curva de oferta, diferentemente da demanda, que possuía
diferentes elasticidades ao longo da curva (indo de inelástica para elástica
na medida em que os preços iam aumentando), a curva de oferta depende
do intercepto. Essa definirá se a curva será elástica, inelástica ou com
elasticidade unitária. Assim, pela simples análise da função oferta ou,
mais especificamente, pelo intercepto vertical da função oferta ou pelo
gráfico pode-se concluir sobre sua elasticidade, como apresentado na
figura 21.
Figura 21 – Elasticidade para diferentes curvas de oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.8.3 Elasticidade-Renda da Demanda (ER):
Mede a sensibilidade de variação na quantidade de um produto em
relação à variação na renda do indivíduo ou grupo.
Onde, DQ, DR, Q e R indicam variações nas quantidades
procuradas, variações na renda, quantidades e renda respectivamente.
Como base nos valores da elasticidade-renda da demanda, pode-
se classificar os bens em:
a. Bens Superiores: quando a elasticidade-renda tiver valor
positivo, ER > 1. Significa dizer que, ocorrendo um aumento na
renda dos consumidores, estes passarão a gastar mais da sua
renda na aquisição deste bem.
b. Bens Inferiores: quando a elasticidade-renda tiver valor negativo,
ER < 0. Neste caso, ocorrendo um aumento na renda dos
consumidores, haverá um decréscimo no consumo do produto.
c. Bem Normal: quando a elasticidade-renda for maior que zero e
menor ou igual a um . 0 < ER < 1.
Quando a ER=1, significa dizer que, ocorrendo um aumento na
renda do consumidor, o percentual de renda gasto no bem permanece
constante.
2.8.4 Elasticidade-Cruzada da Demanda (EXY)
É dada pela variação porcentual na demanda de um bem (Y,
digamos) em função da variação percentual do preço de outro bem (X).
a. Bens Substitutos: quando a elasticidade-cruzada tem valor
positivo, EXY > 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa-
se a demandar maior quantidade do bem X.
b. Bens Complementares: quando a elasticidade-cruzada tem valor
negativo, EXY < 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y,
passa-se a consumir menor quantidade do bem X.
c. Bens Independentes: quando a elasticidade-cruzada tem valor
nulo, EXY=0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, não afeta o
consumo do bem X.
2.9 Produção e Custos
2.9.1 Introdução
Num modelo simplificado de uma economia, pode-se colocarde
um lado os consumidores e de outro as empresas. Esses dois agentes
representam o consumo e a produção, respectivamente, e se relacionam
no mercado através da demanda e da oferta.
Essas questões são estudadas na economia em duas partes. A
primeira, chamada de teoria do consumidor, analisa os elementos e
variáveis que determinam o comportamento dos consumidores ao
buscarem a satisfação de suas necessidades. A segunda parte, chamada
de teoria da empresa ou teoria da produção, trata das variáveis que
buscam explicar o comportamento da empresa quando da realização da
atividade produtiva.
O propósito desta seção é apresentar a teoria da empresa,
abordando as questões e problemas relacionados à produção, aos custos
de produção e aos rendimentos da empresa.
2.9.2 Empresa, produção e lucro
Alguns conceitos fundamentais são necessários para que se possa
iniciar o estudo da teoria da empresa. O primeiro deles é o conceito de
empresa. A empresa é um dos agentes do sistema econômico (os outros
são as famílias e o governo) responsável pela produção dos diversos
bens e serviços destinados a satisfazer as necessidades humanas. Para
que as empresas possam produzir é necessário o emprego dos fatores
de produção, ou seja, trabalho, capital e terra ou recursos naturais.
Outro conceito importante é o de produção. A produção é o processo
no qual a empresa transforma os fatores produtivos em produtos e que se
destinam ao mercado consumidor, para satisfazer as necessidades finais
dos indivíduos ou, simplesmente, como matéria-prima ou insumo que
servirá como fator de produção para uma outra empresa. Cabe destacar
que o conceito de produção envolve não somente os bens físicos e
materiais, mas também o conjunto de serviços, como comunicações, 
energia, atividades financeiras, comércio, entre outros.
O lucro é a remuneração de um capital investido por uma empresa
na produção e é obtido pela diferença entre a receita total e a despesa total
da empresa num período determinado. Assim, o lucro é o objetivo básico
de qualquer empresa que está produzindo um bem ou serviço no
mercado. O lucro bruto é obtido subtraindo da receita total os diversos
custos de produção, como os gastos com matéria-prima, os salários, os
impostos, entre outros. No cálculo do lucro líquido deve-se descontar do
lucro bruto os gastos com depreciações do capital fixo e as despesas
financeiras, como juros de empréstimos.
2.9.3 O curto e o longo prazo na ótica da produção
No processo de produção, são empregados diversos tipos de
fatores. Se se quisesse expandir rapidamente o nível de produção, deveria
se aumentar a utilização dos fatores de produção. Acontece que apenas
alguns desses fatores de produção podem ser incrementados no curto
prazo, como por exemplo, o trabalho. Outros fatores, como alguns tipos de
máquinas, equipamentos, construções só poderiam ser mudados num
período de tempo maior, o longo prazo.
Assim o curto prazo representa o período de tempo em que se pode
apenas alterar a produção a partir do ajuste dos custos variáveis. Já o
longo prazo envolve o período em que se pode alterar não só os custos
variáveis, mas também os custos fixos da empresa. Portanto, no longo
prazo, todos os custos de produção da empresa passam a ser variáveis,
na medida em que ela pode alterar e combinar da melhor forma possível o
conjunto dos fatores de produção.
2.9.4 A lei dos rendimentos marginais
Para se produzir, é necessária a aquisição dos fatores de produção.
As diversas possibilidades de combinação dos fatores de produção
permitem a obtenção de um produto total, que varia conforme forem
combinados esses fatores. Inicialmente cabe definir os conceitos de
produto total, médio e marginal de cada um dos fatores produtivos. O
produto total de um insumo expressa a produção que se pode obter
empregando uma determinada quantidade desse insumo e mantendo a
quantidade dos demais constantes.
O produto médio de um fator é o nível de produto que a empresa
obtém por uma unidade do fator de produção empregado. É resultado da
divisão do produto total pela quantidade do fator de produção. Já o produto
marginal de um insumo é o acréscimo do produto total que se pode obter
com o aumento de uma unidade do insumo, mantendo-se constante a
utilização dos demais fatores. A tabela abaixo exemplifica a questão.
Tabela 1 – Produto total, médio e marginal
Capital
(fator
fixo)
Trabalho
(fator
variável)
Produto total
do fator
variável
Produto médio
do fator variável
Produto marginal
do fator variável
100 20 60 3,0
100 30 140 4,7 80
100 40 240 6,0 100
100 50 320 6,4 80
100 60 380 6,3 60
100 70 420 6,0 40
100 80 440 5,5 20
100 90 440 4,9 00
100 100 420 4,2 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.
A partir da tabela 1, pode-se compreender o significado da lei dos
rendimentos marginais. Essa lei mostra o comportamento da produção
total de uma empresa quando se altera a quantidade utilizada de um dos
fatores de produção, mantendo-se os demais constantes.
A tabela mostra que na medida em que a empresa for ampliando a
utilização do fator variável, a produção total estará aumentando numa taxa
crescente. Na faixa de produção, que vai até a unidade 50 do fator variável,
a empresa estará obtendo rendimentos marginais crescentes. A partir
desse ponto, a empresa passa a incorrer em rendimentos marginais
decrescentes, ou seja, a produção estará crescendo a uma taxa
decrescente. Isso significa que, na medida em que a empresa amplia o
fator variável, a produção cresce, porém, numa proporção menor do que a
do fator produtivo. No ponto onde a empresa utiliza 90 unidades do fator
variável, a produtividade marginal é nula. A partir daí para cada unidade
adicional do fator variável, mantendo constante o fator fixo, a empresa
passa a ter rendimento marginal negativo.
Pode-se ilustrar essas questões com o seguinte exemplo. Imagine
que uma empresa agrícola produtora de feijão utiliza dois fatores de
produção: capital (terra, máquinas) e trabalho. Suponha que o capital seja
o fator fixo (área de terra e número de máquinas) e o trabalho o fator
variável, de maneira que é possível se produzir com várias combinações
diferentes de capital e de trabalho. Sendo assim, para se ampliar a
produção deve-se aumentar o número de trabalhadores, de maneira que
no início, com o aumento do fator variável, a produção total estará
crescendo proporcionalmente mais do que a da quantidade de
trabalhadores, garantindo, assim, um aumento da produtividade da
empresa. A partir de um certo ponto, com a incorporação de novos
trabalhadores, a produtividade para cada unidade do fator variável começa
a diminuir, já que a produção total cresce proporcionalmente menos do
que a do número de trabalhadores.
Como foi visto, no curto prazo as empresas só podem ampliar a
produção aumentando a utilização dos fatores variáveis. Mas se a
expansão do mercado for consistente, então a empresa pode expandir sua
produção através da aquisição de mais máquinas, equipamentos, novas
construções etc. Ou seja, a empresa estará alterando a sua estrutura
produtiva através dos fatores que eram fixos no curto prazo, mas que
passam a ser variáveis no longo prazo. Então, a diferença entre curto e
longo prazo na produção se dá pela existência ou não de fatores fixos.
No longo prazo os rendimentos marginais, ou economias de
escala, não se diferenciam do conceito utilizado para o curto prazo. A
diferença é que no curto prazo um fator era fixo e o outro variável. Agora, no
longo prazo, todos os fatores passam a ser variáveis. Assim, os
rendimentos marginais crescentes ocorrem quando a empresa ampliar a
quantidade utilizada do conjunto dos fatores de produção em uma dada
proporção e a variação do produto total variar numa proporção maior. A
tabela 2 mostra que a empresa terá rendimentos marginais crescentes
quando ela, ao dobrar a quantidade utilizada de capital e de trabalho,
consegue mais do que dobrar a produção total. Quando o aumento da
produção total é menos do que proporcional ao aumento dos fatores,
então a empresa terá rendimentosdecrescentes de escala. Por fim,
quando os fatores variam na mesma proporção então a empresa terá
rendimentos constantes de escala, conforme pode ser constatado na
tabela 2.
Tabela 2 – Rendimentos marginais no longo prazo
Fator capital Fator trabalho Produção total Rendimentos
3
6
10
20
1.000
2.000
Constantes
3
6
10
20
1.000
2.200
Crescentes
3
6
10
20
1.000
1.800
Decrescentes
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.9.5 Os custos de produção
O objetivo básico de uma empresa é conseguir o melhor resultado
possível quando ela realiza a sua atividade produtiva. Para que possa
realizar a sua atividade, a empresa necessita adquirir os fatores de
produção no mercado, pagando por esses fatores. A quantidade adquirida
de cada um dos fatores vezes o seu preço constitui o custo total de
produção da empresa.
Uma empresa estará maximizando o seu resultado quando
conseguir atender uma das seguintes situações: a) para um dado custo
total vai buscar a máxima produção total ou; b) para um certo nível de
produção vai buscar o menor custo total. Em qualquer uma das situações
a empresa estará em equilíbrio.
Os custos totais de uma empresa são classificados em custos fixos
(CF) e custos variáveis (CV). Os custos fixos representam os gastos
decorrentes da aquisição dos fatores fixos de produção e não dependem
do nível de produção. Já os custos variáveis correspondem aos gastos
com a aquisição dos fatores variáveis de produção e variam de acordo
com o nível de produção, ou seja, quanto maior a produção, maior será o
custo variável e quanto menor a produção, menor o custo variável.
2.9.6 O curto e o longo prazo na ótica dos custos
O curto e o longo prazo na ótica dos custos obedecem os mesmos
critérios que definem o curto do longo prazo sob a ótica da produção,
conforme visto anteriormente. Assim, para a empresa aumentar sua
produção, no curto prazo, terá que contratar mais fatores variáveis, já que
os fatores fixos não podem ser alterados no curto prazo. Sendo assim, o
curto prazo, sob a ótica dos custos, é o período de tempo em que a
empresa tem custos fixos e custos variáveis, adquirindo os fatores fixos e
variáveis, respectivamente. Na medida em que a empresa consegue
alterar a seus fatores fixos de produção e, portanto, seus custos fixos,
então, este passa a ser o período de longo prazo da empresa, quando
então todos os custos da empresa passam a ser variáveis.
2.9.7 O cálculo dos custos de produção no curto prazo
Conforme foi visto acima, no curto prazo a empresa possui custos
fixos e custos variáveis. Então o custo total será a soma dos custos fixos e
variáveis. Assim:
CT=CF + CV
Esses custos podem ser visualizados na figura 22, onde se observa
que o CF é constante, na medida em que a produção (Q) aumenta, e por
isso seu traçado é paralelo ao eixo das quantidades produzidas. Isto
implica que a distância entre a curva do CF e o eixo das quantidades será
sempre a igual, independente do nível de produção.
Já o CV é crescente à medida que a produção aumenta, pois, no
curto prazo, a empresa só pode expandir sua produção através dos fatores
variáveis. Assim, como mostra a figura 20, a curva do CV apresenta uma
trajetória ascendente conforme aumenta a quantidade produzida. A
sinuosidade apresentada pela curva do CV se deve ao fato de no início da
produção a empresa se encontrar na zona de rendimentos marginais
crescentes, ou seja, para expandir sua produção a empresa tem custos
(CV) proporcionalmente menores. Depois de um certo ponto, o CV começa
a crescer proporcionalmente mais do que a produção, ou seja, a empresa
entra na zona de rendimentos marginais decrescentes.
A figura ainda mostra a curva do CT, que está acima do CV. Como o
CT é a soma do CF e do CV, então, a distância entre o CT e o CV é
exatamente igual ao valor do CF. Cabe destacar que essa distância deve
ser observada verticalmente, pois é este o eixo que mostra as escalas dos
custos.
Do CF pode-se obter o custo fixo médio (CFMe), através da divisão
do CF pelas quantidades produzidas, então:
CFMe=CF / Q
O CFMe representa o custo fixo que a empresa tem para produzir
cada uma das unidades. Assim, quanto maior o nível de produção, menor
o CFMe já que o CF será dividido por uma quantidade produzida maior. Isto
pode ser melhor visualizado na figura 20.
Já o custo variável médio (CVMe) é obtido pela divisão do CV pelas
quantidades produzidas, assim:
CVMe=CV / Q
O CVMe representa a parte dos custos variáveis que a empresa
possui para produzir cada uma das unidades. A figura 20 mostra que
inicialmente quando a produção cresce, o CVMe estará decrescendo até
atingir um ponto de mínimo, já que nesta fase os custos variáveis crescem
proporcionalmente menos do que a produção. Depois de atingir o ponto de
mínimo, o CVMe começa a aumentar em função do crescimento mais do
que proporcional dos custos variáveis em relação à quantidade produzida.
O somatório do CFMe e do CVMe resulta no custo médio (CMe), que
também pode ser obtido pela divisão do CT pelas quantidades produzidas,
assim:
CTMe=CT / Q
A trajetória da curva do CMe, como pode ser visto na figura, que
inicialmente decresce, atinge um ponto de mínimo, quando, então, passa
a crescer, é explicada pelo comportamento das curvas do CFMe e do
CVMe, já que deriva desses dois custos.
O CMe mostra o custo total que a empresa tem para produzir cada
uma das unidades. Assim, o ponto de mínimo do custo médio, ou seja, o
menor valor, representa o ponto em que a empresa terá o menor custo
para cada uma das unidades que ela estiver produzindo.
Existe ainda o custo marginal (CMg), que pode ser definido como o
custo que tem a empresa para produzir uma unidade adicional. O CMg é
obtido pela divisão da variação do CT pela variação da quantidade
produzida. Pode ser expresso da seguinte maneira:
CMg=DCT / DQ
como o CT=CF + CV, então:
CMg=D (CF + CV) / DQ
mas como o CF não varia no curto prazo, então:
CMg=DCV / DQ
Isto significa que o CMg representa a variação do CV em relação a
variação da quantidade produzida.
O comportamento da curva do CMg, como mostra a figura 22, é,
inicialmente, decrescente em função da relação entre a variação do CV e
da produção ser decrescente. Quando o CMg atinge o ponto de mínimo,
essa relação se inverte e passa a ser crescente, fazendo assim com que o
CMg passe a crescer também. Como se vê, além das curvas do CMe e do
CVMe, também a curva do CMg apresenta um formato de U, estando
abaixo da curva do CVMe quando esta estiver decrescendo, e acima,
quando a curva estiver crescendo. Dessa maneira, pode-se concluir que a
curva do CMg intercepta a curva do CVMe no ponto mínimo desta última. A
mesma situação ocorre entre as curvas de CMg e CMe, ou seja, quando
esta última curva atinge seu ponto de mínimo, ela é interceptada pela curva
do CMg.
Dessa maneira, o ponto em que se interceptam as curvas do CMe e
do CMg, de modo que os valores desses custos sejam iguais, representa
o ponto em que a empresa tem o menor custo de produção por unidade.
Assim, enquanto a empresa tiver CMg menor do que o CMe, ela deve
aumentar seu nível de produção, já que o custo para produzir uma unidade
adicional é menor do que o custo médio de cada uma das unidades que
ela está produzindo. Já quando o CMg for maior do que o CMe, então a
empresa deve diminuir seu nível de produção, de maneira a buscar a
minimização dos seus custos de produção, que se dá, como foi visto,
quando os dois custos forem iguais. No exemplo apresentado na tabela 3
pode-se ver mais claramente estas relações, bem como na figura 22.
Tabela 3 – Cálculo dos custos
Quantidade Custo
Fixo
Custo
Variável
Custo
Total
Custo
Fixo
Médio
Custo
Variável
Médio
Custo
Médio
Custo
Marginal
1 100,00 10,00 110,00 100,00 10,00 110,00
2 100,00 16,00 116,00 50,00 8,00 58,00 6,00
3 100,00 21,00 121,00 33,33 7,00 40,33 5,00
4 100,00 26,00 126,00 25,00 6,50 31,50 5,00
5 100,00 30,00 130,00 20,00 6,00 26,00 4,00
6 100,00 36,00 136,00 16,67 6,00 22,67 6,00
7 100,00 45,50 145,50 14,29 6,50 20,79 9,50
8 100,00 56,00 156,00 12,507,00 19,50 10,50
9 100,00 72,00 172,00 11,11 8,00 19,11 16,00
10 100,00 90,00 190,00 10,00 9,00 19,00 18,00
11 100,00 109,00 209,00 9,09 9,91 19,00 19,00
12 100,00 130,40 230,40 8,33 10,87 19,20 21,40
13 100,00 160,00 260,00 7,69 12,31 20,00 29,60
14 100,00 198,20 298,20 7,14 14,16 21,30 38,20
15 100,00 249,50 349,50 6,67 16,63 23,30 51,30
16 100,00 324,00 424,00 6,25 20,25 26,50 74,50
17 100,00 418,50 518,50 5,88 24,62 30,50 94,50
18 100,00 539,00 639,00 5,56 29,94 35,50 120,50
19 100,00 698,00 798,00 5,26 36,74 42,00 159,00
20 100,00 900,00 1.000,00 5,00 45,00 50,00 202,00
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Figura 22 – Curvas de Custos.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.9.8 Os rendimentos da empresa
Quando da realização da produção, a empresa tem um custo,
conforme foi visto. Por esse esforço, a empresa espera uma
compensação, um rendimento. O ganho que a empresa recebe pelo seu
produto no mercado representa a receita total, que é obtida pela
multiplicação das quantidades vendidas pelo preço do produto, assim
representado:
RT=P x Q
Além disso, é importante para a análise da empresa outros dois
tipos de receita. A primeira é a receita média (RMe) obtida pela divisão da
RT pela quantidade. A RMe representa a receita que a empresa obtém
para cada uma das unidades que ela produz e vende no mercado. Pode
ser expressa da seguinte forma:
RMe=RT / Q
como RT=P x Q, então:
RMe=(P x Q) / Q. Assim:
RMe=P
A segunda é a receita marginal (RMg), que é resultado da divisão
entre as variações da RT e as variações da quantidade vendida do produto
no mercado, assim:
RMg=DRT / DQ
A RMg mostra a receita que a empresa obtém para cada unidade
adicional que ela vende no mercado.
Conforme mostra a tabela 4, a RT da empresa estará crescendo
enquanto o preço aumenta proporcionalmente mais do que a queda da
quantidade vendida. Quando essa relação se inverte, a RT começa a
diminuir. Ou seja, para se vender unidades adicionais, o preço deve cair
proporcionalmente mais do que o que se consegue de aumento nas
vendas. Isto é explicado pela elasticidade-preço da demanda, vista
anteriormente.
Tabela 4 – Cálculo da RT, RMe e RMg
Quantidade Preço RT RMe RMg
0 22 0 22 --
1 20 20 20 20
2 18 36 18 16
3 16 48 16 12
4 14 56 14 8
5 12 60 12 4
6 10 60 10 0
7 8 56 8 -4
8 6 48 6 -8
9 4 36 4 -12
10 2 20 2 -16
11 0 0 0 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.
A RMe, como se viu, é igual ao preço e sempre decrescente. Já a
RMg será decrescente mas positiva enquanto a RT estiver crescendo, e
negativa quando a RT passa a diminuir. Portanto, quando a RMg for igual a
zero, a RT será máxima.
2.9.9 O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro
Como foi visto, no curto prazo a empresa não consegue alterar sua
estrutura produtiva. Então, cabe à empresa identificar um nível de produção
que permita a ela obter o lucro máximo, dada a estrutura produtiva
existente.
A tabela 5 mostra um exemplo hipotético que permite visualizar o
nível de produção que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo
possível. Se a empresa, por exemplo, estivesse produzindo uma
quantidade de 901 unidades, o lucro total seria de 5.140. Interessa saber
se esta é a quantidade que permite à empresa obter o lucro máximo.
Como saber?
Tabela 5 – A maximização do lucro
Quantidade Custo Marginal Receita Marginal Lucro Total
900 120 265 5.000
901 90 230 5.140
902 70 195 5.265
903 60 160 5.365
904 70 125 5.420
905 90 90 5.420
906 120 55 5.355
907 180 20 5.195
908 270 -15 4.910
909 400 -50 4.460
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Para responder a esta pergunta, deve-se analisar o custo e a receita
para produzir uma unidade adicional, ou seja, o CMg e a RMg,
respectivamente. Se o custo para produzir uma unidade a mais for menor
do que a receita que a empresa obtém, então ela deve produzir, pois
conseguirá um lucro com esta unidade. O lucro obtido com a venda desta
unidade vai se somar ao lucro que a empresa já tinha garantido antes. Isto
fará com que o lucro total da empresa seja maior ao aumentar a produção.
Significa dizer então que, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a
empresa deve aumentar o nível de produção. Se de outro lado o CMg for
maior do que a RMg, então a empresa deve reduzir a sua produção até o
ponto em que o CMg seja igual à RMg. Esta é a condição que faz com que
a empresa obtenha o lucro máximo possível, ou seja, CMg=RMg.
No exemplo da tabela 5, o lucro total máximo é de 5.420, alcançado
quando CMg=RMg=90, na quantidade de 905 unidades produzidas.
Figura 23 – Equilíbrio da firma.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro também pode ser
visto na figura 23, a partir dos dados utilizados no exemplo da tabela 5.
Assim, a empresa conseguirá o lucro máximo produzindo a quantidade
determinada pela intersecção da curva do CMg com a RMg, ou seja, 905
unidades.
2.10 Estruturas de Mercado
O equilíbrio de mercado se dá através da interação entre oferta e
demanda de um produto qualquer. No entanto, essa interação entre oferta
e demanda provoca resultados diferentes no mercado, já que existem
vários tipos de mercados e cada um deles apresenta características
próprias. Uma empresa que atua num determinado tipo de mercado
poderá ter mais ou menos poder de determinação de preço, por exemplo,
do que outra empresa que atua num outro tipo de mercado.
Os vários tipos de mercado dependem basicamente de três fatores.
O primeiro deles está relacionado ao número de empresas que atuam
nesse mercado. O segundo diz respeito ao tipo de produto produzido e
vendido no mercado, isto é, a existência de um bem substituto. O último
fator está associado à existência ou não de barreiras ao ingresso de novas
firmas no mercado.
Assim, esse tópico trata das estruturas de mercado mais
comumente encontradas. Nessas estruturas, busca-se identificar várias
características comuns entre um grupo de empresas que atuam no
mercado. Desta maneira, pode-se compreender o funcionamento do
mercado de automóveis, o mercado de frutas no Rio Grande do Sul ou o
mercado financeiro brasileiro, entre outros.
Existem quatro tipos de mercados que mais facilmente pode-se
encontrar. Dois deles são casos extremos: a concorrência perfeita e o
monopólio. Além destes, existem a concorrência monopolística e o
oligopólio.
2.10.1 Concorrência Perfeita
A concorrência perfeita é um tipo extremo de mercado porque uma
das características desse tipo de mercado é a grande concorrência entre
as empresas. Em condições normais, dificilmente ocorre uma intensa
competição, já que existe uma série de imperfeições no mercado que
podem distorcer ou limitar a livre competição entre as empresas.
Essa é uma estrutura de difícil aplicação prática, já que poucos
setores poderiam ser enquadrados dentro desse mercado, funcionando
mais como um modelo ideal de mercado. Apesar disso, o seu estudo é
importante, pois dele derivam uma série de implicações, tanto para os 
consumidores como para as empresas.
As hipóteses básicas do modelo de concorrência perfeita são:
a. a existência de um grande número de compradores e
vendedores;
b. as empresas produzem um produto homogêneo, isto é, são
substitutos perfeitos entre si;
c. existe transparência do mercado, ou seja, todas as informações
são conhecidas por todos;
d. a entrada e a saída de firmas do mercado é livre.
A primeira hipótese diz que é necessário um grande número de
empresas no mercado. Isso significa que cada uma destas empresas não
tem poder de mercado, ou seja, ela sozinha não consegue influenciar no
mercado, como, por exemplo, em relação ao preço do produto oferecido.
Isto, associado ao fato das empresas oferecerem um produto que
seja substituo perfeito entre si, implica que cada uma das empresas seja
tomadora de preço. Nestas condições, o preço do produto é determinado
pelo mercado, através da oferta e da demanda, e a empresa aceita esse
preço como uma variável dada. Cabe a ela, apenas, determinar as
quantidades a serem produzidas ao preço de mercado.
Já foi visto anteriormente que uma

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