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ECONOMIA INTRODUTÓRIA: PRINCÍPIOS DE ECONOMIA E DE ANÁLISE DE CONJUNTURA ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO ANGÉLICA MASSUQUETTI GISELE SPRICIGO (org.) MÁRCIO ELOIR SCHWEIG RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.) SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR TIAGO WICKSTROM ALVES 2ª edição Editora Unisinos, 2016 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Princípios básicos de economia Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da atual conjuntura econômica Sobre os autores Informações técnicas APRESENTAÇÃO O presente livro é uma obra de introdução às Ciências Econômicas. Adicionalmente, o texto trabalhará com a aplicação da economia, com exemplos da economia brasileira e internacional. O livro aplica-se às atividades acadêmicas da área temática da Economia, em diversos cursos de graduação do ensino superior. Assim sendo, o livro primeiramente trabalhará com conceitos básicos de economia. Logo após, conceitos fundamentais de microeconomia e de macroeconomia. Ao final, buscar- se-á a aplicação dos conteúdos estudados, através de uma breve análise da atual conjuntura econômica. Seguindo essa ordem, o livro tem como objetivo discutir os pontos a seguir listados, de acordo com os capítulos que se seguem: Temática a ser desenvolvida no Capítulo: Princípios básicos de economia 1 Noções de microeconomia 2 Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional 3 Aplicação dos conteúdos estudados – uma breve análise da atual conjuntura econômica 4 É importante destacar o objetivo do presente texto. Como trata-se de um livro de introdução às Ciências Econômicas, o mesmo trabalhará com muito conceitos, tais como demanda, oferta e equilíbrio de mercado. O importante é entender esses conceitos e não apenas decorá-los. Isso porque as Ciências Econômicas acabam fazendo parte da vida de todas as pessoas, tantos as pessoas físicas (indivíduos) como as pessoas jurídicas (organizações, empresas, instituições etc.). O princípio disso, pode-se dizer, está no fato de os indivíduos terem necessidades. Em outras palavras, todas as pessoas precisam se alimentar e precisam de bens e serviços (dos mais variados) para suprir as suas necessidades. Esses bens e esses serviços são, na maioria dos casos, ofertados (oferecidos) pelas pessoas jurídicas. Com essa breve explicação, pode-se perceber que as pessoas físicas têm demandas e as pessoas jurídicas ofertam bens e serviços. Essa troca, na economia de mercado da qual fazemos parte, ocorre através da compra e da venda de bens e serviços. Isso ocorre a todo o momento, em todos os lugares do mundo e com todas as pessoas. Dessa forma, o presente texto irá trazer os conceitos econômicos que deverão ser uma base calcificada de conhecimento para atividades futuras, tendo as Ciências Econômicas como instrumento estratégico. Após essa breve introdução, vale destacar algumas considerações sobre o por quê de se estudar economia: entender como funcionam os fluxos de recursos entre pessoas físicas e jurídicas, dentro do sistema capitalista de mercado; compreender sobre como as pessoas físicas fazem escolhas e os motivos que levam a termos diferentes tipos de consumidores, com diferentes comportamentos, na sociedade; identificar e analisar uma série de indicadores e informações que sirvam de base para a tomada de decisão, tanto nos investimentos pessoais como nas organizações, e, ainda, entender o processo de alocação de recursos nas organizações; ler e fazer uso das informações sobre economia que aparecem nos meios de comunicação todos os dias. Na maior parte dos dias da semana, a manchete dos jornais versa sobre economia; compreender e disseminar do papel do Estado enquanto regulador e organizador das atividades econômicas; entender e visualizar as perspectivas econômicas no Brasil e internacionalmente, compreendendo as relações econômico- financeiras entre os países; compreender o papel da economia na sociedade, apresentando os seus conceitos básicos e medidas de variáveis econômicas; compreender as diferentes estruturas de mercado e a sua influência no âmbito das organizações. Dessa forma, essas são algumas razões práticas para demonstrar a importância do estudo da economia, nas mais diversas áreas. A seguir, uma breve apresentação de cada capítulo. O primeiro capítulo busca apresentar os principais conceitos de economia, começando, principalmente, pelo entendimento do que significam as Ciências Econômicas. Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se entender como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la. Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a incentivos. O segundo capítulo versa sobre noções de microeconomia. A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á com conceitos fundamentais de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços, (b) fatores de produção, (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro; curvas de possibilidade de produção; rendimentos decrescentes e os custos sociais crescentes; fundamentos de oferta e demanda e, ainda, elasticidade. Também serão trabalhadas: a Teoria da Produção, incluindo custos de produção, e as estruturas de mercado. A microeconomia e a macroeconomia compõem as duas grandes áreas do estudo da Economia. A macroeconomia, que será abordada no terceiro capítulo, se difere da microeconomia principalmente pelo uso da soma das variáveis econômicas individuais para obter dados agregados da economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas como consumo agregado, investimento agregado e produto agregado são determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as análises macroeconômicas utilizam instrumentos teóricos e empíricos para monitorar a economia, realizar previsões econômicas, auxiliar na elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da economia em geral. Por fim, o quarto e último capítulo tem o objetivo de definir, qualificar e quantificar os principais indicadores econômicos do país. Reconhecidamente, tais indicadores são fundamentais tanto para propiciar uma melhor compreensão da situação presente e o delineamento das tendências de curto prazo da economia quanto para subsidiar o processo decisório. O capítulo trabalhou com os agrupamentos mais convencionais dos diferentes indicadores e sempre que possível, especificou, para cada um deles, aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e instituição produtora. Vale destacar que ao final de cada capítulo tem-se alguns itens adicionais, tais como: indicação de sites, sugestões de leitura complementar, as referências utilizadas ao longo do texto, bem como o(s) autor(es) de cada capítulo. A seguir, será apresentado o minicurrículo dos autores, e logo após será dada sequência aos capítulos. Boa leitura! Gisele Spricigo CAPÍTULO 1 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ECONOMIA Gisele Spricigo Raquel Negrisoli Fernandez Cabral Sérgio Leusin Júnior O capítulo apresenta os principais conceitos de economia, começando, principalmente, pelo entendimento do que significam as Ciências Econômicas. Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se entender como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la. Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a incentivos.1.1 Introdução Para a compreensão dos fatos econômicos, é necessário ter o conhecimento dos fundamentos básicos que regem a ciência econômica. Por mais que o estudo da economia seja multifacetado, existe uma série de ideias centrais que abrangem todo o escopo desta ciência. Estas ideias aparecerão de forma recorrente ao se analisar os problemas econômicos e devem ser internalizadas pelo estudante de economia. Porém, antes de iniciarmos nos conceitos propriamente, cabe reconhecer: o que é economia? Abaixo, tem-se um conceito bastante completo: A economia é uma ciência social que estuda como os indivíduos e a sociedade decidem (ou escolhem) empregar os recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre várias pessoas e grupos de sociedades, a fim de satisfazer as necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998). Esse conceito pode ser explicado parte a parte, como será feito a seguir: a economia é uma ciência social. Dentro das grandes áreas do conhecimento, as Ciências Econômicas fazem parte das Ciências Sociais Aplicadas; os indivíduos e a sociedade, a todo momento, em todos os lugares, está fazendo escolhas sobre o que comprar, onde investir etc.; essas escolhas estão pautadas pelas necessidades humanas; os recursos são escassos, e não abundantes, como será visto a seguir, na Lei da Escassez. A economia pode ser entendida em duas grandes áreas. A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se, assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Já a macroeconomia estuda o funcionamento da economia como um todo, ou seja, ocupa-se do comportamento global do sistema econômico. A partir dessa breve introdução, destacam-se os elementos que são objetos de estudo das Ciências Econômicas. Esses elementos serão abordados, analisados e muitas vezes citados ao longo de todo o livro. São eles: escolha; escassez; necessidades; recursos; produção; distribuição. Ao longo do texto, também serão mencionados, diversas vezes, bens e serviços. É importante entender a que bens e serviços são todos aqueles criados para satisfazer as necessidades. Os bens podem ser tocados, analisados, esquematizados e contados. Os serviços não podem ser tocados nem estocados pois são intangíveis, ou seja, eles existem quando são produzidos. Tem-se os seguintes tipos de bens: Segundo seu caráter: Bens livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes. Não se pode apropriá-los, como o ar, o calor, o sol, a chuva etc. Bens econômicos: são bens escassos em quantidade, dada sua procura, e apropriáveis. Os bens econômicos têm valor monetário. Quase todos os bens são bens econômicos. Segundo sua natureza: Bens de capital São aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não se desgastam quando utilizados (com exceção da depreciação), como, por exemplo, uma máquina ou uma impressora. Bem de consumo Atende às necessidades humanas. São classificados em bens duráveis (móveis, por exemplo) e não-duráveis (alimentos, por exemplo). Segundo sua função: Bem intermediário São aqueles agregados ou transformados na produção de outros bens e que são consumidos totalmente durante o processo produtivo. Por exemplo: cola no calçado. Bem final São aqueles vendidos para consumo e/ou para utilização final. Exemplo: calçado. E ainda: bens privados, que são produzidos e possuídos privadamente. Bens públicos são aqueles cujo consumo é feito por vários indivíduos ao mesmo tempo (por exemplo, um parque). 1.2 A lei da escassez A palavra economia deriva do termo grego oikos que significa lar, podendo ser interpretado como o estudo do lar, ou ainda, o estudo do ambiente, que inclui todos os fatores que afetam a vida dos organismos que de alguma forma interagem nesse ambiente. Deve-se ter em mente a diferença entre o termo casa, que diz respeito à parte física da moradia, e o termo lar, que é mais amplo e trata de questões relacionadas à qualidade do convívio e sobrevivência das pessoas ou organismos que compõem este lar. Desta forma, pode-se definir a ciência econômica como a ciência que busca compreender e encontrar soluções para problemas originados da interação entre estes organismos que constituem o ambiente ou lar. Este ambiente, de maneira ampla, pode ser compreendido como um composto social formado por famílias, empresas e governo. É importante lembrar que os problemas deste composto social são problemas originados por pessoas e que irão afetar exclusivamente a vida de pessoas. Assim, ao resolver um problema econômico, se está resolvendo um problema na vida das pessoas. Os problemas originados da interação entre estes agentes são em função de um princípio humano fundamental: os indivíduos têm desejos e necessidades ilimitadas1 (prazer, felicidade, amor, saúde etc.) e a natureza tem recursos disponíveis para suprir estas necessidades de maneira limitada (água, matérias-primas etc.). Neste ponto entra em cena talvez o principal problema econômico: a escassez. Assim, pode-se dizer que economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam seus recursos escassos para produzir bens e de como serão distribuídos estes bens entre os vários indivíduos. A interação entre as duas forças que geram os problemas econômicos (desejos ilimitados versus recursos limitados) é regida por um ser humano muitas vezes definido por economistas da Escola Clássica de Economia como o Homo Economicos ou Homem Econômico. Esta categoria de indivíduo é definida como um homem perfeitamente racional e capaz de fundamentar suas decisões exclusivamente por razões econômicas, preocupando-se em obter o máximo de benefício com o mínimo de sacrifício de modo imediato. Ele agiria racionalmente no sentido de maximizar sua riqueza e assim introduzir novos métodos produtivos para enfrentar a concorrência no mercado (SANDRONI, 1999). Na figura 1 é mostrado de forma sintetizada o objeto de estudo da Economia. Figura 1 – A origem dos problemas. Fonte: SANDRONI, 1999. Elaboração própria dos autores. Em síntese, o estudo da economia diz respeito à maneira como grupos de pessoas interagem entre si enquanto realizam suas atividades cotidianas. Desta forma, o comportamento da economia reflete o comportamento das pessoas que a compõem, e este fato torna de fundamental importância conhecer os princípios que definem as tomadas de decisão individuais. Estas decisões precisam ser feitas tendo em vista que os recursos são escassos, o que torna impossível atender a todas as necessidades humanas. Portanto, a sociedade precisa fazer suas escolhas, assim como os indivíduos no seu dia-a-dia. 1.3 Princípios da Tomada de Decisão Individual Uma importante contribuição para a compreensão dos princípios fundamentais de economia foi realizada por Mankiw (2001) ao sistematizar a maneira como são solucionados os problemas originados em função da escassez dos recursos. Como as pessoas tomam decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs; Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la; Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem; Princípio 04: pessoas respondem a incentivos. Princípio n° 1: pessoas enfrentam tradeoffs Em Economia, tradeoff significa uma situação de escolha conflitante que é ocasionada em função da escassez de recursos. Um exemplo de recurso escasso é o tempo. O estudante desta disciplina, por exemplo, tem tempo limitado para a realização de todas as tarefas que gostaria de fazer. Provavelmente seja mais agradável passar os dias na beira de um rio pescando do que estudando em seu quarto, contudo a vida exige mais do que isso e algumas horas de estudo serão necessárias para o seu crescimento profissional. Portanto, para um aluno tirar boas notas, ele terá de abdicar algumas horas de suas atividades de recreação para dedicar-se aos estudos. Assim, um estudante, ao decidir entre estudos ou lazer, está enfrentando um tradeoff, pois não pode realizar as duas tarefas ao mesmotempo. Desta forma, mais horas de lazer consequentemente implicam em menos horas de estudo. Princípio n° 02: O custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la O princípio n° 1 gera um desdobramento, pois existirá um custo caso o aluno decida passar todas as horas disponíveis do seu dia pescando à beira de um rio ao invés de estudar para as provas, e este custo provavelmente será uma nota baixa na avaliação. Ou seja, o custo de alguma coisa, ou o custo de uma decisão, é o custo do que se abre mão para poder obtê-la. Esta frase pode ser reescrita da seguinte maneira: para quase todas as decisões tomadas existe um bônus, mas também um ônus. Ou ainda: independentemente da opção escolhida, existirá um custo e um benefício em função desta decisão. Em Economia, este princípio é muito utilizado e talvez seja um dos mais importantes. Ele é chamado de custo de oportunidade. Um exemplo clássico de custo de oportunidade, que é seguidamente utilizado em planos de negócios, é a ponderação da realização ou não de um investimento empresarial. O empresário pode perguntar-se qual será a renda que ele irá acrescentar ao seu faturamento ao realizar um investimento de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) na sua empresa, por exemplo. Ele terá no mínimo duas opções para avaliar: uma opção seria depositar este valor em uma conta poupança, por exemplo, na qual ele terá um determinado rendimento; a outra opção seria ele investir na empresa comprando ou renovando as máquinas para a produção de mercadorias. Caso o rendimento gerado pelo investimento na empresa for menor que o rendimento da poupança, é provável que ele escolha depositar este valor na poupança e, desta forma, não realizar o investimento na empresa. Assim, o rendimento da poupança é o custo de oportunidade de investir este valor na empresa. Princípio n° 03: Pessoas racionais pensam na margem Provavelmente o aluno pescador, citado nos princípios anteriores, não irá nem decidir passar todas as horas do seu dia pescando, nem ocupar todo o seu dia estudando. Com certeza ele irá ponderar o benefício de mais uma hora de estudo ou mais uma hora de pescaria. Ele não será radical ao ponto de escolher ficar o resto de sua vida só pescando ou só estudando. É provável que este aluno busque avaliar qual o benefício de algumas horas adicionais de estudo para sua vida acadêmica, assim como avaliar qual o ganho de algumas horas adicionais de pescaria na sua qualidade de vida. Desta forma, pode-se afirmar que em muitos casos as pessoas tomam as melhores decisões quando pensam na margem, determinando o quanto a mais de esforço é preciso despender para se obter maiores benefícios. Princípio n° 04: pessoas respondem a incentivos Imagine que o preço da carne tenha disparado nos supermercados e que o aluno do exemplo seja um bom pescador. Mesmo considerando sua pescaria como uma atividade recreativa, de certa forma este aluno está colaborando com sua família ao levar peixes para serem consumidos no almoço. Assim, a elevação do preço da carne acaba por incentivar para que o mesmo continue pescando, ou até mesmo aumente o número de horas que se dedica a esta atividade e consequentemente reduza suas horas de estudo. A principal lição que deve ser internalizada deste princípio é que novos acontecimentos podem fazer com que as pessoas reavaliem suas escolhas, começando pelo princípio 1 (pessoas enfrentam tradeoffs), passando para uma reavaliação do custo de oportunidade (princípio 2 - quanto será perdido ao optar entre duas alternativas conflitantes) e, finalmente, verificando quanto a mais se obterá da alternativa a ao abrir mão de certa quantia da opção b (princípio 3 – pessoas racionais pensam na margem) É facilmente percebido nas sociedades o equivocado conceito de que é possível viver sem a ajuda de outros ou sem a interação entre as pessoas. Todas as pessoas (países) do mundo precisam da ajuda de outras pessoas (países) para sobreviver, por mais rica que seja esta pessoa ou país. Quando você acorda pela manhã, provavelmente um celular com tecnologia importada do Oriente te desperta. Ao sentar-se à mesa do café, irá consumir frutas que foram colhidas por pessoas; e ao se deslocar para o seu trabalho ou escola, alguém tornou possível o seu transporte, seja o governo municipal que lhe forneceu as vias públicas municipais, seja o frentista que abasteceu seu carro ou o motorista do seu ônibus. Assim, acreditar na ideia de vida isolada ou independente dos outros é ilusão. A primeira lição que um indivíduo precisa internalizar para compreender os fatos econômicos é acreditar que não é possível o convívio isoladamente. Seja uma pessoa, cidade ou país, todos necessitam da ajuda de outros. Com a ajuda destes conceitos básicos, será possível compreender a maneira particular como os problemas econômicos são tratados e como se deve pensar para resolvê-los. O economista sempre deve analisar as alternativas disponíveis, verificar o(s) custo(s) (e não só os benefícios) originado(s) das decisões tomadas, assim como buscar entender como os eventos estão relacionados. A Economia é uma ciência como todas as outras, contudo possui elementos das ciências exatas e humanas, e o seu laboratório é a vida real. Desta forma, o economista nunca deve descuidar do seu objeto principal, que é a busca pelo bem-estar das sociedades. 1.4 Indicação de Sites Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br 1.5 Conceitos Importantes Termos Básicos Escassez Homo Econômicos tradeoffs Custo de oportunidade Tipos de bens REFERÊNCIAS SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de economia: equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 1998. MANKIW, N. GREGORY. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. MANKIW N. G. Introdução à Economia: princípios de micro e macroeconomia. 1 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. São Paulo: Pioneira, 1999. http://www.bcb.gov.br http://www.fazenda.gov.br VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001. VASCONCELLOS, M. A.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 1998. VASCONCELLOS, M. A.; TROSTER R. L. Economia básica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998. WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 1998. __________ 1 Os desejos humanos ou necessidades humanas, de acordo com a pirâmide de Maslow, começam com as funções biológicas e fisiológicas básicas como alimentação, conforto físico, descanso, lazer, etc., que ao serem supridos fazem originar desejos mais complexos como autonomia, identidade, estabil idade, aceitação entre seus pares entre outros. CAPÍTULO 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE MICROECONOMIA Gisele Spricigo Márcio Eloir Schweig Raquel Negrisoli Fernandez Cabral Tiago Wickstrom Alves A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se assim essas unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á com conceitos fundamentais de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços; (b) fatores de produção; (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro; curvas de possibil idade de produção; rendimentos decrescentes e os custos sociais crescentes; fundamentos de oferta e demanda e, ainda, elasticidade. A teoria da produção e custos de produção será abordada, com vistas a ampliar a magnitude de ganhos para as empresas. Também, ao final, definem-se as estruturas de mercado e visualizam-se as barreiras à entrada em novos mercados. 2.1 Introdução à MicroeconomiaA teoria microeconômica estuda o comportamento dos agentes econômicos individuais, isto é, das decisões dos indivíduos como consumidores, como proprietário dos fatores de produção, e das suas decisões como proprietário das firmas. É comum encontrar a expressão comportamento da firma nos livros de economia. Esta é utilizada para expressar o comportamento dos empresários quando atuam no mercado. Da mesma forma, tem-se a expressão comportamento do consumidor, que abarca um amplo leque temas econômicos relacionados ao comportamento dos agentes enquanto consumidores, por exemplo: racionalidade econômica, teoria dos incentivos, informação, entre outros. Assim, a microeconomia é o ramo das ciências econômicas que busca explicar o comportamento dos consumidores e das firmas no mercado. Desta forma, ela analisa também a estrutura de mercado, como a formação de cartéis, monopólios e o comportamento destes. 2.3 Equilíbrio O conceito de equilíbrio é um dos mais importantes em análise econômica. A expressão equilíbrio significa uma posição onde as forças se anulam e, em caso de qualquer alteração, as forças de mercado restabelecerão o equilíbrio. Na figura 2, tem-se um pêndulo que ajuda a compreender a noção de equilíbrio. Em qualquer posição que soltarmos o pêndulo, como na posição A, por exemplo, ele oscilará e movimentos cada vez menores e acabará na posição de equilíbrio E. Assim é a ideia de equilíbrio muitas vezes discutida em microeconomia: sabe-se posição do mercado, e caso determinada alteração ocorra, pode-se prever o que irá ocorrer, mas o tempo e os movimentos intermediários não são discutidos. Assim como expresso no exemplo do pêndulo, não se explicita quantos movimentos e em que tempo se obterá a posição estática E, mas sabe-se que lá será o equilíbrio. Essa é a definição de equilíbrio estático analisado em economia. Figura 2 – Equilíbrio. Fonte: Elaboração própria dos autores. 2.3 As Tarefas do Sistema Econômico A economia é, em última análise, a ciência da escassez, pois ela tenta suprir necessidades ilimitadas dos seres humanos com recursos produtivos limitados. Logo, ela dedica-se a como maximizar a satisfação dos consumidores, dada a limitação de renda, e a maximização do lucro dos produtores, dada a limitação de insumos e preço dos fatores de produção. Como as necessidades humanas têm que ser satisfeitas com uma limitada quantidade de recursos, uma função primordial da economia é estabelecer a melhor combinação dos recursos disponíveis para atender essas necessidades, que são divididas em três categorias: primárias, secundárias e coletivas. a. Necessidades primárias: são aquelas essenciais à sobrevivência humana. Isto é, são necessidades comuns a todas as pessoas, que são alimentação, saúde, habitação e transporte, entre outras. b. Necessidades secundárias: são aquelas que aparecem à medida que ocorre o crescimento econômico. Ao contrário das primárias, não se instalam repentinamente, pois levam algum tempo para se incorporarem aos hábitos. Tais necessidades são também chamadas de supérfluas e tendem a serem consideradas essenciais na medida em que passam a fazer parte da cesta de consumo dos indivíduos como, por exemplo, telefone celular. c. Necessidades coletivas: são aquelas que surgem da necessidade concernente à socialização dos indivíduos, necessitando, assim, de serviços que muitas vezes são coletivos. Exemplo desses são: manutenção da ordem pública, os serviços de água, luz e telefone, a construção e manutenção de estradas etc. PRIMÁRIAS SECUNDÁRIAS COLETIVAS Alimentação Saúde Habitação Transporte Supérfluas Serviços Públicos Dessa forma, o sistema econômico tem como tarefas atender essas necessidades. Logo, o problema econômico pode ser resumido em três questões: o que produzir? quanto produzir? como produzir? Estas questões abrangem praticamente todo o campo de Análise Econômica. Deve-se ressaltar que toda decisão econômica que seja realizada em uma economia com uma certa quantidade de habitantes, um certo grau de tecnologia, determinado número de fábricas e ferramentas e determinada quantidade de terra, potência energética e recursos naturais, ao decidir o que, quanto e como, estará de fato decidindo para quem produzir com os recursos existentes. 2.4 Fluxos Econômicos Um sistema econômico tem seu funcionamento embasado na utilização de seus recursos disponíveis para produção de um conjunto de bens e serviços que serão utilizados por outras unidades produtoras ou colocados à disposição dos consumidores finais para satisfação de suas necessidades. A geração dessa produção é realizada basicamente através dos seguintes recursos: terra (recursos naturais); trabalho; capital; tecnologia. Assim, a natureza constitui-se no primeiro fator de produção. São as matérias primas de muitos setores industriais na produção de novos bens, além de recursos energéticos como hidrográficos, petróleo, gás etc. Esses recursos são denominados de Terra ou Recursos Naturais em economia. O trabalho refere-se ao emprego de mão-de-obra utilizado na produção de bens e serviços. O capital compreende o conjunto e fábricas, estradas, máquinas, equipamentos e instalações, assim como o conhecimento tecnológico da sociedade. Na atualidade, o fator capital humano passou a ser mais relevante que o capital físico e tem sido objeto de estudo em muitas áreas das ciências sociais. Dado que a produção de bens e serviços é orientada pelas necessidades humanas e exige a utilização de fatores de produção, então, pode-se representar o fluxo destes recursos e produtos através do que se denomina de fluxo circular da economia. Esses fluxos econômicos correspondem a um fluxo real (de bens e serviços) e um fluxo monetário, que representa a contrapartida, em valor, dos bens, serviços e fatores utilizados na economia por um intervalo de tempo. A figura 3 exemplifica esse fluxo. Figura 3 – Fluxo Circular em uma Economia a Dois Setores. Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. Os Mercados de Fatores e de Bens e Serviços Um mercado é o lugar onde compradores e vendedores encontram- se para comprar e vender seus recursos, bens e serviços. De outra forma, o mercado é onde vendedores e compradores, por meio de suas interações reais ou potenciais, definem preços. No passado, o termo referia-se a uma localização geográfica, mas atualmente não há limites para determinados mercados, pois o avanço tecnológico facilitou o contato entre vendedores e compradores sem que eles sequer se vejam. O preço, que é uma medida de escassez, é determinado pela interação entre a oferta e a demanda. Denomina-se de preço de mercado aquele preço que prevalece em um mercado competitivo. Isso não significa que todos os produtos foram ou serão vendidos ao preço estabelecido, mas que os preços de comercialização oscilam em torno dele. O Mercado de Fatores de Produção Neste mercado, as famílias ofertam seus recursos: terra, trabalho e capital. Enquanto isso, as empresas (unidades produtoras) demandam (procuram) tais recursos para alocarem na produção de bens e serviços. O Mercado de Bens e Serviços de Consumo No mercado de bens e serviços, são ofertados produtos aos consumidores que passaram por um processo de produção ou extração e serviços aos consumidores. Esses produtos e serviços são denominados de produtos e serviços finais. Mercado Financeiro É o conjunto do mercado monetário e de capitais. Esse mercado é responsável pela intermediação entre agentes superavitários (famílias) e deficitários (empresas). A transformação da poupança (que é um vazamento do consumo) em investimento (que é a aquisição de máquinas e equipamentos para a produção) é possível pela existência do mercado financeiro. A alocação dos fatores na determinação dos bens e serviços finais e nos bens de capitais determina as possibilidades de produção de uma economia. Se houver maior alocação dos fatores para a produção de bens finais, reduzindo os investimentos, a economia irá crescer mais lentamente do que uma outra economia onde a poupançae o investimento fossem proporcionalmente maiores. Essa relação pode ser observada na curva de possibilidade de produção. 2.5 Curvas de Possibilidade de Produção A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada de Fronteira de Possibilidade de Produção, pode ser melhor compreendida através de uma representação gráfica, que evidencia o problema de realização da produção, dados os recursos produtivos. Por exemplo, supondo que uma economia possa produzir, com a utilização plena de seus recursos e na máxima eficiência técnica, 50 unidades de bens de capital, ela não teria mais capacidade de produção. Isso significa que não teria disponibilidade de recursos para a produção de bens de consumo. No outro extremo, se produzisse 100 unidades de bens de consumo, então, não teria recursos para a produção de bens de capital. Logo existe uma necessidade de, ao produzir mais de um, reduzir a produção de outro, dados os recursos existentes. Essas possibilidades de produção é que se denomina de Curva de Possibilidade de Produção, que pode ser observada na figura 4. Figura 4 – Curva de Possibil idade de Produção. Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores. Pontos notáveis das Curvas de Possibilidade de Produção Se uma economia estiver operando no ponto O, ela estará operando em pleno desemprego, embora isso possa ser apenas dito na teoria, inexistindo na prática, porque os recursos nesta situação não seriam utilizados para quaisquer fins, de modo que a produção seria reduzida a zero. Se estiver operando nos pontos A, B ou C, significa que a economia esta operando com pleno emprego dos fatores disponíveis. Se estiver operando no ponto D, significa que os recursos não estão plenamente empregados, e estamos com capacidade ociosa. No ponto E, a produção é impossível com os recursos e a tecnologia existentes na economia. Esse ponto só pode ser atingido no longo prazo através da expansão dos recursos e/ou tecnologia. Logo, sempre que houver variação nos fatores de produção, haverá deslocamento da curva de possibilidade de produção. Assim, dada a escolha entre bens finais e de capitais, dada uma curva de possibilidade de produção, se estará determinando: o que e em que quantidades produzir; o processo de maximização da produção dada pelos recursos disponíveis; a taxa de crescimento da economia. Deslocamento das curvas de possibilidade de produção Essas variações ocorrem somente no longo prazo em função de variações tecnológicas, e/ou aumento da força de trabalho e/ou de alterações no capital. Graficamente: Figura 5 – Deslocamento da Curva de Possibil idade de Produção. Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores. Deslocamento Positivo Ocorre em situações normais de uma economia, os recursos disponíveis com expansão de melhorias. Deslocamento Negativo Ocorre em situações anormais, a redução ou desqualificação dos recursos disponíveis em uma economia. Qual a causa essencial das diferentes taxas de deslocamento positivo da curva de possibilidade de produção? Depende da parcela de produção que é destinada à acumulação (investimentos). Acumulação → Processo de expansão e melhoria dos recursos de produção já existente (humanos e patrimoniais). 2.6 Rendimentos Decrescentes2 e os Custos Sociais Crescentes Lei dos Rendimentos Decrescente, também chamada de produtividade marginal decrescente, é todo o movimento de intensificação da produção para um determinado ramo, levando à redução da produtividade em função da existência da perda de eficiência dos fatores. Se todos os recursos da produção se expandirem a curva de possibilidade de produção poderia apresentar rendimentos constantes ou crescentes, porém se qualquer um dos fatores permanecer fixo o resultado da expansão será a uma taxa decrescente. Figura 6 – Rendimentos Decrescentes sobre a Curva de Possibil idade de Produção. Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores. Na medida que se amplia a produção de bens de consumo (em proporções constantes), necessita-se reduzir-se cada vez mais a produção de bens de capital. Ou seja, cada unidade adicional de bens de consumo exigirá uma redução cada vez maior na produção de bens de capital, como pode ser visto na passagem do ponto A para o ponto B e de B para C na figura 5. Destaca-se que no exemplo dado na figura 4 não existe variação na disponibilidade dos recursos, mas sim na destinação que é dada a eles. Curva de Restrição Orçamentária Representa o máximo que o indivíduo pode adquirir de duas mercadorias, dada sua renda monetária e o preço das mercadorias. Conforme o gráfico abaixo, se toda a renda de um indivíduo fosse utilizada para a aquisição do produto Y, Y0 seria o máximo que ele poderia adquirir dada sua renda e o preço de Y; já se toda a renda fosse utilizada para a aquisição do bem X, X0, representaria o máximo que ele poderia adquirir de X dada a sua renda e o preço da mercadoria X. Assim unindo os pontos Y0 e X0, temos a reta de restrição orçamentária. Figura 7 – Curva de restrição orçamentaria. Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração: Raquel Cabral. A reta de restrição orçamentária é de suma importância na teoria do consumidor, pois é com base nela que se determina a curva de demanda. Isso ocorre por que os indivíduos tentarão maximizar suas utilidades (satisfação obtida no consumo dos bens) dadas a renda e os preços dos bens. Assim, sempre que houver alteração no preço dos bens, o consumidor irá deslocar seu consumo em direção ao bem que se tornou mais barato. Além disso, sempre que um ou mais bens apresentarem redução real de preços, o consumidor terá um incremento real de renda, pois ele poderá consumir as mesmas quantidades anteriores e lhe sobra renda. Logo, uma demanda modificada por alteração de preços dos produtos sempre apresentará um efeito de substituição (modificação das quantidades consumidas em busca do bem mais barato) e um efeito de renda. 2.7 Fundamentos de oferta e demanda 2.7.1 Demanda Na teoria da microeconomia, a demanda ou procura é a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e capazes de adquirir por determinado preço e em determinado momento. Determinantes da Demanda Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de demanda Renda Monetária Deslocamento da curva de demanda Gosto ou preferência do consumidor Preço de outras mercadorias Lei da Demanda “A quantidade demandada de uma mercadoria é uma função inversa dos preços desta mercadoria”. Ou seja, à medida que o preço de uma determinada mercadoria se eleva, a quantidade demandada dessa mercadoria diminui. Sendo assim, sua representação gráfica apresentará uma inclinação negativa. Curva de Demanda Ela é obtida a partir dos níveis de utilidade que se obtêm ao consumir determinado bem em diversas quantidades. Como a utilidade marginal é decrescente, então quantidades maiores terão níveis de utilidades adicionais cada vez menores. Graficamente: Figura 8 – Rendimentos Decrescentes e a Curva de demanda. Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. Observe que quando o consumidor consume a primeira unidade do produto, ele obtém um elevado nível de satisfação (representado pela altura da barra no número 1 de quantidades), e na medida em que ele vai consumindo unidades adicionais, o prazer que ele sente pelo consumo dessa unidade adicional é inferior ao obtido na unidade anterior. Como exemplo, pense em você em um dia de calor. Se você tomar um picolé, terá um nível de satisfação ao consumir o primeiro picolé. Mas ele poderá não ser suficiente para aplacar seu calor e você decide comprar o segundo. O nível de satisfação total que você obterá será maior, mas o prazer que o segundo picolé lhe proporcionará será inferior ao obtido no primeiro. Uma vez que a utilidade marginal (UMg) é decrescente, então, a curva de demanda é necessariamente decrescente, ou seja, terá uma inclinação negativa e passará pelos limites de satisfação obtida em cada unidade consumida, conforme representado na figura 7 pela linha que uneas barras de utilidade para os diferentes níveis de consumo. Isso permite formular a denominada Lei da Demanda, que significa que quantidades maiores só serão consumidas de os preços forem menores. Exceção a Lei de Demanda - Bens de GIFFEN Só houve um exemplo na história, em que ocorreu a existência de um bem de GIFFEN, que foi na Inglaterra - ou mais propriamente na Irlanda - com as batatinhas inglesas. É que a depressão era tão grande que uma parte da população recebia tão pouco que só podia comer batatinha. À medida que o preço dessas diminuíam, diminuía também seu consumo, pois surgia a possibilidade das pessoas adquirirem outros produtos em função da economia com o gasto com batatinha e vice-versa. Demanda agregada A demanda agregada é a soma das demandas individuas por aquela mercadoria ou serviço. Sua soma é obtida a partir de cada preço e somando-se horizontalmente as quantidades demandas àquele preço. Graficamente: Figura 9 – Demanda agregada. Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. Quando qualquer um dos determinantes se altera, que não seja o preço, coeteris paribus, então, a curva de demanda como um todo se modifica, e essa alteração denomina-se de variação da demanda. Quando somente o preço do bem se modifica, haverá alterações nas quantidades demandadas e não na demanda, isso é, ao longo da curva de demanda já estabelecida. Coeteris Paribus Essa expressão, bastante comum em economia, significa que exceto as variações que estão sendo explicitamente mencionadas, todas as demais variáveis permanecem constantes. 2.7.2 Oferta Podemos definir como: as várias quantidades que os produtores estão aptos e dispostos a ofertar no mercado, em função dos vários níveis de preços possíveis, em determinado período de tempo. A oferta representa o comportamento dos produtores. Logo, podemos afirmar que os preços sendo maiores, maior será o desejo dos empresários em oferecer seus produtos e maior será o número de ofertantes no mercado. Os elementos que afetam a oferta são: custo dos insumos: faz com que a oferta tenha alterações nos preços; tecnologia: com melhorias na tecnologia, os custos de produção diminuirão. Isso amplia as condições dos produtores em ofertar mais com o mesmo preço ou a mesmas quantidades a um preço menor; condições climáticas: se tomarmos como exemplo a produção agrícola, é um fator que pode causar redução ou aumento de produção; preço dos bens relacionados: tanto os bens substitutos como complementares; preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço, mais incentivos terá a produção. Resumindo, os determinantes da oferta afetam a função de oferta da seguinte forma: Determinantes da Oferta Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de oferta Custos dos insumos Deslocamento da curva de oferta Tecnologia Condições climáticas Preço dos bens relacionados Figura 10 – Curva de Oferta. Fonte: Elaboração própria dos autores. Na oferta, não existe como na demanda a Lei da Demanda. Ela é, em geral, positivamente inclinada, mas poderá apresentar inclinação nula (zero) e até mesmo negativa. Ainda, a curva de oferta representa o limite máximo e mínimo, dependendo do sentido analisado. Máximo: quando uma vez fixados os preços, haverá uma quantidade máxima de produção para aquele nível de preço. Mínimo: quando uma vez fixada a quantidade, o preço refletirá o mínimo que o empresário estará disposto a cobrar por aquela quantidade. 2.7.3 Equilíbrio entre Oferta e Demanda A interação entre ofertantes e compradores, em um determinado mercado e para um determinado produto, em concorrência perfeita (mercados competitivos), leva ao estabelecimento de um preço de mercado. A esse preço, denominamos de preço de equilíbrio. Essa interação também define as quantidades comercializadas e diz que o mercado está em equilíbrio quando as quantidades ofertadas são consumidas, não havendo, portanto, nem excesso de demanda nem tampouco de oferta. Qualquer alteração nos fatores determinantes da oferta ou da demanda levará a alterações no equilíbrio desse mercado. Vejamos graficamente como ocorre o equilíbrio de mercado. Figura 11 – Preços e quantidades de equilíbrio entre demanda e oferta. Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores. Como pode ser observado na figura 10, no equilíbrio tem-se a igualdade entre demanda e oferta; ou seja, tudo o que foi produzido foi consumido. Formalmente: Qd=Qo. Onde: Qd (Quantidade demandada) Qo (Quantidade ofertada) Assim, acima do preço de equilíbrio tem-se excesso de oferta, e abaixo do preço de equilíbrio tem-se excesso de demanda. Exemplo 1. Suponhamos que a curva de demanda seja dada pela expressão Qd=100 - 10P e a de oferta por: QO=20P - 50, onde P é o preço da mercadoria. Com essas informações, qual seria o preço e a quantidade de equilíbrio para esse produto neste mercado? Solução: QD=QO 100 - 10P=20P - 50 100 + 50=20P + 10P → 150=30P 150 / 30=P → P=5,00 QD=100 - 10 . 5 → QD=50 ou QO=20 . 5 - 50 → QO=50 Equilíbrio é de 50 quantidades ao preço de $ 5,00. Deslocamentos da curva de demanda e oferta e o efeito sobre as condições de equilíbrio de mercado Conforme destacado anteriormente, a alteração de um dos determinantes da demanda ou da oferta causará alterações no equilíbrio. Assim, é preciso compreender como os determinantes afetam a demanda e a oferta, e como essas alterações afetam o equilíbrio. Inicialmente destacamos os efeitos sobre as curvas de demanda e de oferta, e depois agregamos isso nas condições de equilíbrio. Deslocamentos da demanda A figura 12 evidencia os deslocamentos da curva de demanda e os condicionantes para tal movimento. Figura 12 – Deslocamentos da curva de demanda. Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores. A figura 13 permite visualizar os deslocamentos da curva de oferta e os fatores determinantes desses deslocamentos. Figura 13 – Deslocamentos da curva de oferta. Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores. Deslocamentos da demanda e oferta e o movimento dos preços Deslocamento Positivo da Demanda Um deslocamento positivo na demanda, coeteris paribus, levará a um aumento nos preços de equilíbrio e nas quantidades, conforme pode ser observado na figura 14. Figura 14 – Efeitos do aumento da demanda. Fonte: Elaboração própria dos autores. Um deslocamento negativo terá efeito contrário, ou seja, levará a uma queda nos preços e nas quantidades de equilíbrio. É preciso destacar que aumentos de renda não necessariamente aumentam a demanda por um bem. O efeito da renda dependerá se o bem for inferior, normal ou superior. Quando houver um aumento de poder aquisitivo, ou aumento real de renda, as pessoas irão aumentar seu consumo no caso de um bem normal ou superior, e haverá um deslocamento negativo no caso de um bem inferior. É em relação a esse comportamento em relação à renda que os bens são classificados como inferior, normal ou superior. Ressalta-se que um bem não é por si só inferior, superior ou normal, mas depende do nível de renda do indivíduo. Isto é, um bem pode ser inferior para determinado indivíduo, normal para outro e superior para um terceiro. Por exemplo, a carne moída, denominada de segunda. Ela pode ser um bem de luxo para alguém muito pobre, normal para outra classe e inferior para a classe superior de renda. Deslocamento Positivo da Oferta O aumento da curva de oferta, coeteris paribus, resultará em uma queda nos preços de equilíbrio e um aumento nas quantidades de equilíbrio, como pode ser observado na figura 15. Figura 15 – Efeitos do Aumento da Oferta. Fonte: Elaboração própria dos autores. Deslocamento negativo, ou seja, uma redução da curva de oferta gera um efeito oposto, ou seja, aumenta os preços e reduz as quantidades de equilíbrio. 2.8 Elasticidade É a sensibilidade de variação na quantidade demandada de um produto em relação a uma variável que afeta a demanda por este bem, como preço, renda, preço dos bens substitutos e complementares. É uma medida que relaciona variaçõesproporcionais entre variáveis. As alterações resultantes das variáveis envolvidas geram uma elasticidade com denominação específica, que são: o preço do produto - elasticidade-preço; a renda - elasticidade-renda; preço dos outros produtos - elasticidade-cruzada. 2.8.1 Elasticidade - Preço: Preço da Demanda (EP): É a razão entre a variação porcentual da quantidade demandada de um bem, dada uma variação porcentual no preço. Ela pode ser medida em um determinado ponto da curva, como para variações que reflitam um intervalo de preços. Elasticidade no Ponto (Ep) Elasticidade no Intervalo - Utilizado ponto médio (EP) Atenção A elasticidade da demanda sempre será negativa, pois existe uma relação inversa entre preço e quantidade. Quanto à elasticidade-preço, pode-se dizer que a demanda é: a. Elástica: quando EP > | 1 |, ou seja, a variação relativa na quantidade é “mais que proporcional” à variação relativa no preço. b. Inelástica: quando EP < | 1 |, ou seja, dada uma variação porcentual no preço, ocorrerá uma variação porcentual menor na quantidade c. Elasticidade Unitária: quando EP=| 1 |, ou seja, a variação relativa na quantidade é proporcional à variação no preço. Além das elasticidades mencionadas, uma curva de demanda poderá ser perfeitamente elástica ou perfeitamente inelástica, conforme pode-se observar nas figuras que seguem. Perfeitamente Elástica: quando E P=- ∞ (infinito) Uma curva de demanda horizontal será extremamente sensível a preços. Ou seja, um pequeno aumento de preços fará com que os consumidores deixem de comprar o bem, e uma pequena redução leva a um elevado aumento das quantidades demandadas. Esse extrema sensibilidade faz com que a elasticidade tenda ao infinito. A figura 16 evidencia uma curva de demanda perfeitamente elástica. Figura 16 – Curva de demanda perfeitamente elástica. Fonte: MANKIW, 2001. Fonte: Elaboração própria dos autores. Já quando o volume de quantidades demandadas não se altera com mudanças de preços, então, tem-se uma curva de demanda perfeitamente inelástica. Um exemplo de bens com demanda muito inelástica é a de sal. A insulina para diabéticos também é perfeitamente inelástica. A figura 17 contém uma curva de demanda perfeitamente inelástica. Figura 17 – Perfeitamente Inelástica: quando EP=0 (zero). Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. A elasticidade da demanda pode ser calculada quando essa for uma reta, da seguinte forma: Figura 18 – Elasticidade calculada. Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. Ep=B/A Essa fórmula de cálculo permite visualizar facilmente que quando: Ep > | 1 |=> Elástica: o segmento A será pequeno e o B grande, logo a elasticidade será elevada. Ep=| 1 |=> Unitária: os segmentos possuem o mesmo tamanho. Ep < | 1 |=> Inelástica: o segmento A será grande e B pequeno, logo haverá pouca sensibilidade a preços nesse segmento. Ep=- ∞ - A será zero e B terá um valor elevado. Assim, qualquer valor dividido por zero tende ao infinito. Ep=0 - A terá um valor elevado e B será zero. Assim, zero dividido por qualquer valor será zero. Logo, como conclusão, pode-se verificar que uma demanda linear terá diferentes elasticidades ao longo da reta. A figura 19 permite observar essas elasticidades. Acrescentou-se nessa figura valores para deixar claro que o ponto intermediário da curva de demanda, que apresenta elasticidade unitária, está sobre o ponto intermediário do eixo das quantidades e também dos preços. Figura 19 – Diferentes elasticidades para diferentes pontos de uma demanda linear. Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores. Consequências das variações de preço, conforme a elasticidade da demanda: Região Elástica: pequena variação no preço acarreta uma variação proporcionalmente maior nas quantidades. Como consequências: para o consumidor, aumentos de preços levam à redução dos gastos; para o empresário, aumentos de preços levam a uma diminuição da receita total. Região Inelástica: uma variação no preço acarretaria uma variação proporcionalmente menor na quantidade. Como consequências: Para o consumidor, aumentos de preços levam a aumento dos gastos; para o empresário, aumentos de preços levam a um aumento da receita total. Com essas informações, podemos vincular Receita Total (RT) com elasticidade. Como RT=P*Q, então se os preços aumentarem e a região da demanda for inelástica, a receita total irá aumentar. Na região de elasticidade unitária, a RT será máxima. Se o aumento de preços estiver na região elástica, levará à redução de RT. Veja essa relação na figura 20. Figura 20 – Relação entre elasticidade e Receita Total. Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores. 2.8.2 Elasticidade da Oferta Tal como a demanda, a elasticidade da oferta mede a relação entre a variação percentual na quantidade ofertada e a variação percentual no preço. Em termos matemáticos, a fórmula de cálculo é a mesma, porém ao invés de considerar as quantidades demandadas, são consideradas as quantidades ofertadas. A equação a seguir é a mesma apresentada anteriormente, com exceção de que os valores para Q são agora os representados na curva de oferta. Quanto à elasticidade, a oferta pode ser: a. Elasticidade Unitária: quando a variação percentual no preço corresponder uma variação percentual na quantidade na mesma proporção. b. Elástica: quando a variação percentual for maior que a ocorrida no preço. c. Inelástica: quando a variação percentual for menor que a ocorrida no preço. d. Perfeitamente Elástica: a quantidade oferecida varia independentemente do preço. e. Perfeitamente Inelástica: quando a variação no preço não afeta a quantidade oferecida. A curva de oferta, diferentemente da demanda, que possuía diferentes elasticidades ao longo da curva (indo de inelástica para elástica na medida em que os preços iam aumentando), a curva de oferta depende do intercepto. Essa definirá se a curva será elástica, inelástica ou com elasticidade unitária. Assim, pela simples análise da função oferta ou, mais especificamente, pelo intercepto vertical da função oferta ou pelo gráfico pode-se concluir sobre sua elasticidade, como apresentado na figura 21. Figura 21 – Elasticidade para diferentes curvas de oferta. Fonte: Elaboração própria dos autores. 2.8.3 Elasticidade-Renda da Demanda (ER): Mede a sensibilidade de variação na quantidade de um produto em relação à variação na renda do indivíduo ou grupo. Onde, DQ, DR, Q e R indicam variações nas quantidades procuradas, variações na renda, quantidades e renda respectivamente. Como base nos valores da elasticidade-renda da demanda, pode- se classificar os bens em: a. Bens Superiores: quando a elasticidade-renda tiver valor positivo, ER > 1. Significa dizer que, ocorrendo um aumento na renda dos consumidores, estes passarão a gastar mais da sua renda na aquisição deste bem. b. Bens Inferiores: quando a elasticidade-renda tiver valor negativo, ER < 0. Neste caso, ocorrendo um aumento na renda dos consumidores, haverá um decréscimo no consumo do produto. c. Bem Normal: quando a elasticidade-renda for maior que zero e menor ou igual a um . 0 < ER < 1. Quando a ER=1, significa dizer que, ocorrendo um aumento na renda do consumidor, o percentual de renda gasto no bem permanece constante. 2.8.4 Elasticidade-Cruzada da Demanda (EXY) É dada pela variação porcentual na demanda de um bem (Y, digamos) em função da variação percentual do preço de outro bem (X). a. Bens Substitutos: quando a elasticidade-cruzada tem valor positivo, EXY > 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa- se a demandar maior quantidade do bem X. b. Bens Complementares: quando a elasticidade-cruzada tem valor negativo, EXY < 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa-se a consumir menor quantidade do bem X. c. Bens Independentes: quando a elasticidade-cruzada tem valor nulo, EXY=0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, não afeta o consumo do bem X. 2.9 Produção e Custos 2.9.1 Introdução Num modelo simplificado de uma economia, pode-se colocarde um lado os consumidores e de outro as empresas. Esses dois agentes representam o consumo e a produção, respectivamente, e se relacionam no mercado através da demanda e da oferta. Essas questões são estudadas na economia em duas partes. A primeira, chamada de teoria do consumidor, analisa os elementos e variáveis que determinam o comportamento dos consumidores ao buscarem a satisfação de suas necessidades. A segunda parte, chamada de teoria da empresa ou teoria da produção, trata das variáveis que buscam explicar o comportamento da empresa quando da realização da atividade produtiva. O propósito desta seção é apresentar a teoria da empresa, abordando as questões e problemas relacionados à produção, aos custos de produção e aos rendimentos da empresa. 2.9.2 Empresa, produção e lucro Alguns conceitos fundamentais são necessários para que se possa iniciar o estudo da teoria da empresa. O primeiro deles é o conceito de empresa. A empresa é um dos agentes do sistema econômico (os outros são as famílias e o governo) responsável pela produção dos diversos bens e serviços destinados a satisfazer as necessidades humanas. Para que as empresas possam produzir é necessário o emprego dos fatores de produção, ou seja, trabalho, capital e terra ou recursos naturais. Outro conceito importante é o de produção. A produção é o processo no qual a empresa transforma os fatores produtivos em produtos e que se destinam ao mercado consumidor, para satisfazer as necessidades finais dos indivíduos ou, simplesmente, como matéria-prima ou insumo que servirá como fator de produção para uma outra empresa. Cabe destacar que o conceito de produção envolve não somente os bens físicos e materiais, mas também o conjunto de serviços, como comunicações, energia, atividades financeiras, comércio, entre outros. O lucro é a remuneração de um capital investido por uma empresa na produção e é obtido pela diferença entre a receita total e a despesa total da empresa num período determinado. Assim, o lucro é o objetivo básico de qualquer empresa que está produzindo um bem ou serviço no mercado. O lucro bruto é obtido subtraindo da receita total os diversos custos de produção, como os gastos com matéria-prima, os salários, os impostos, entre outros. No cálculo do lucro líquido deve-se descontar do lucro bruto os gastos com depreciações do capital fixo e as despesas financeiras, como juros de empréstimos. 2.9.3 O curto e o longo prazo na ótica da produção No processo de produção, são empregados diversos tipos de fatores. Se se quisesse expandir rapidamente o nível de produção, deveria se aumentar a utilização dos fatores de produção. Acontece que apenas alguns desses fatores de produção podem ser incrementados no curto prazo, como por exemplo, o trabalho. Outros fatores, como alguns tipos de máquinas, equipamentos, construções só poderiam ser mudados num período de tempo maior, o longo prazo. Assim o curto prazo representa o período de tempo em que se pode apenas alterar a produção a partir do ajuste dos custos variáveis. Já o longo prazo envolve o período em que se pode alterar não só os custos variáveis, mas também os custos fixos da empresa. Portanto, no longo prazo, todos os custos de produção da empresa passam a ser variáveis, na medida em que ela pode alterar e combinar da melhor forma possível o conjunto dos fatores de produção. 2.9.4 A lei dos rendimentos marginais Para se produzir, é necessária a aquisição dos fatores de produção. As diversas possibilidades de combinação dos fatores de produção permitem a obtenção de um produto total, que varia conforme forem combinados esses fatores. Inicialmente cabe definir os conceitos de produto total, médio e marginal de cada um dos fatores produtivos. O produto total de um insumo expressa a produção que se pode obter empregando uma determinada quantidade desse insumo e mantendo a quantidade dos demais constantes. O produto médio de um fator é o nível de produto que a empresa obtém por uma unidade do fator de produção empregado. É resultado da divisão do produto total pela quantidade do fator de produção. Já o produto marginal de um insumo é o acréscimo do produto total que se pode obter com o aumento de uma unidade do insumo, mantendo-se constante a utilização dos demais fatores. A tabela abaixo exemplifica a questão. Tabela 1 – Produto total, médio e marginal Capital (fator fixo) Trabalho (fator variável) Produto total do fator variável Produto médio do fator variável Produto marginal do fator variável 100 20 60 3,0 100 30 140 4,7 80 100 40 240 6,0 100 100 50 320 6,4 80 100 60 380 6,3 60 100 70 420 6,0 40 100 80 440 5,5 20 100 90 440 4,9 00 100 100 420 4,2 -20 Fonte: Elaboração própria dos autores. A partir da tabela 1, pode-se compreender o significado da lei dos rendimentos marginais. Essa lei mostra o comportamento da produção total de uma empresa quando se altera a quantidade utilizada de um dos fatores de produção, mantendo-se os demais constantes. A tabela mostra que na medida em que a empresa for ampliando a utilização do fator variável, a produção total estará aumentando numa taxa crescente. Na faixa de produção, que vai até a unidade 50 do fator variável, a empresa estará obtendo rendimentos marginais crescentes. A partir desse ponto, a empresa passa a incorrer em rendimentos marginais decrescentes, ou seja, a produção estará crescendo a uma taxa decrescente. Isso significa que, na medida em que a empresa amplia o fator variável, a produção cresce, porém, numa proporção menor do que a do fator produtivo. No ponto onde a empresa utiliza 90 unidades do fator variável, a produtividade marginal é nula. A partir daí para cada unidade adicional do fator variável, mantendo constante o fator fixo, a empresa passa a ter rendimento marginal negativo. Pode-se ilustrar essas questões com o seguinte exemplo. Imagine que uma empresa agrícola produtora de feijão utiliza dois fatores de produção: capital (terra, máquinas) e trabalho. Suponha que o capital seja o fator fixo (área de terra e número de máquinas) e o trabalho o fator variável, de maneira que é possível se produzir com várias combinações diferentes de capital e de trabalho. Sendo assim, para se ampliar a produção deve-se aumentar o número de trabalhadores, de maneira que no início, com o aumento do fator variável, a produção total estará crescendo proporcionalmente mais do que a da quantidade de trabalhadores, garantindo, assim, um aumento da produtividade da empresa. A partir de um certo ponto, com a incorporação de novos trabalhadores, a produtividade para cada unidade do fator variável começa a diminuir, já que a produção total cresce proporcionalmente menos do que a do número de trabalhadores. Como foi visto, no curto prazo as empresas só podem ampliar a produção aumentando a utilização dos fatores variáveis. Mas se a expansão do mercado for consistente, então a empresa pode expandir sua produção através da aquisição de mais máquinas, equipamentos, novas construções etc. Ou seja, a empresa estará alterando a sua estrutura produtiva através dos fatores que eram fixos no curto prazo, mas que passam a ser variáveis no longo prazo. Então, a diferença entre curto e longo prazo na produção se dá pela existência ou não de fatores fixos. No longo prazo os rendimentos marginais, ou economias de escala, não se diferenciam do conceito utilizado para o curto prazo. A diferença é que no curto prazo um fator era fixo e o outro variável. Agora, no longo prazo, todos os fatores passam a ser variáveis. Assim, os rendimentos marginais crescentes ocorrem quando a empresa ampliar a quantidade utilizada do conjunto dos fatores de produção em uma dada proporção e a variação do produto total variar numa proporção maior. A tabela 2 mostra que a empresa terá rendimentos marginais crescentes quando ela, ao dobrar a quantidade utilizada de capital e de trabalho, consegue mais do que dobrar a produção total. Quando o aumento da produção total é menos do que proporcional ao aumento dos fatores, então a empresa terá rendimentosdecrescentes de escala. Por fim, quando os fatores variam na mesma proporção então a empresa terá rendimentos constantes de escala, conforme pode ser constatado na tabela 2. Tabela 2 – Rendimentos marginais no longo prazo Fator capital Fator trabalho Produção total Rendimentos 3 6 10 20 1.000 2.000 Constantes 3 6 10 20 1.000 2.200 Crescentes 3 6 10 20 1.000 1.800 Decrescentes Fonte: Elaboração própria dos autores. 2.9.5 Os custos de produção O objetivo básico de uma empresa é conseguir o melhor resultado possível quando ela realiza a sua atividade produtiva. Para que possa realizar a sua atividade, a empresa necessita adquirir os fatores de produção no mercado, pagando por esses fatores. A quantidade adquirida de cada um dos fatores vezes o seu preço constitui o custo total de produção da empresa. Uma empresa estará maximizando o seu resultado quando conseguir atender uma das seguintes situações: a) para um dado custo total vai buscar a máxima produção total ou; b) para um certo nível de produção vai buscar o menor custo total. Em qualquer uma das situações a empresa estará em equilíbrio. Os custos totais de uma empresa são classificados em custos fixos (CF) e custos variáveis (CV). Os custos fixos representam os gastos decorrentes da aquisição dos fatores fixos de produção e não dependem do nível de produção. Já os custos variáveis correspondem aos gastos com a aquisição dos fatores variáveis de produção e variam de acordo com o nível de produção, ou seja, quanto maior a produção, maior será o custo variável e quanto menor a produção, menor o custo variável. 2.9.6 O curto e o longo prazo na ótica dos custos O curto e o longo prazo na ótica dos custos obedecem os mesmos critérios que definem o curto do longo prazo sob a ótica da produção, conforme visto anteriormente. Assim, para a empresa aumentar sua produção, no curto prazo, terá que contratar mais fatores variáveis, já que os fatores fixos não podem ser alterados no curto prazo. Sendo assim, o curto prazo, sob a ótica dos custos, é o período de tempo em que a empresa tem custos fixos e custos variáveis, adquirindo os fatores fixos e variáveis, respectivamente. Na medida em que a empresa consegue alterar a seus fatores fixos de produção e, portanto, seus custos fixos, então, este passa a ser o período de longo prazo da empresa, quando então todos os custos da empresa passam a ser variáveis. 2.9.7 O cálculo dos custos de produção no curto prazo Conforme foi visto acima, no curto prazo a empresa possui custos fixos e custos variáveis. Então o custo total será a soma dos custos fixos e variáveis. Assim: CT=CF + CV Esses custos podem ser visualizados na figura 22, onde se observa que o CF é constante, na medida em que a produção (Q) aumenta, e por isso seu traçado é paralelo ao eixo das quantidades produzidas. Isto implica que a distância entre a curva do CF e o eixo das quantidades será sempre a igual, independente do nível de produção. Já o CV é crescente à medida que a produção aumenta, pois, no curto prazo, a empresa só pode expandir sua produção através dos fatores variáveis. Assim, como mostra a figura 20, a curva do CV apresenta uma trajetória ascendente conforme aumenta a quantidade produzida. A sinuosidade apresentada pela curva do CV se deve ao fato de no início da produção a empresa se encontrar na zona de rendimentos marginais crescentes, ou seja, para expandir sua produção a empresa tem custos (CV) proporcionalmente menores. Depois de um certo ponto, o CV começa a crescer proporcionalmente mais do que a produção, ou seja, a empresa entra na zona de rendimentos marginais decrescentes. A figura ainda mostra a curva do CT, que está acima do CV. Como o CT é a soma do CF e do CV, então, a distância entre o CT e o CV é exatamente igual ao valor do CF. Cabe destacar que essa distância deve ser observada verticalmente, pois é este o eixo que mostra as escalas dos custos. Do CF pode-se obter o custo fixo médio (CFMe), através da divisão do CF pelas quantidades produzidas, então: CFMe=CF / Q O CFMe representa o custo fixo que a empresa tem para produzir cada uma das unidades. Assim, quanto maior o nível de produção, menor o CFMe já que o CF será dividido por uma quantidade produzida maior. Isto pode ser melhor visualizado na figura 20. Já o custo variável médio (CVMe) é obtido pela divisão do CV pelas quantidades produzidas, assim: CVMe=CV / Q O CVMe representa a parte dos custos variáveis que a empresa possui para produzir cada uma das unidades. A figura 20 mostra que inicialmente quando a produção cresce, o CVMe estará decrescendo até atingir um ponto de mínimo, já que nesta fase os custos variáveis crescem proporcionalmente menos do que a produção. Depois de atingir o ponto de mínimo, o CVMe começa a aumentar em função do crescimento mais do que proporcional dos custos variáveis em relação à quantidade produzida. O somatório do CFMe e do CVMe resulta no custo médio (CMe), que também pode ser obtido pela divisão do CT pelas quantidades produzidas, assim: CTMe=CT / Q A trajetória da curva do CMe, como pode ser visto na figura, que inicialmente decresce, atinge um ponto de mínimo, quando, então, passa a crescer, é explicada pelo comportamento das curvas do CFMe e do CVMe, já que deriva desses dois custos. O CMe mostra o custo total que a empresa tem para produzir cada uma das unidades. Assim, o ponto de mínimo do custo médio, ou seja, o menor valor, representa o ponto em que a empresa terá o menor custo para cada uma das unidades que ela estiver produzindo. Existe ainda o custo marginal (CMg), que pode ser definido como o custo que tem a empresa para produzir uma unidade adicional. O CMg é obtido pela divisão da variação do CT pela variação da quantidade produzida. Pode ser expresso da seguinte maneira: CMg=DCT / DQ como o CT=CF + CV, então: CMg=D (CF + CV) / DQ mas como o CF não varia no curto prazo, então: CMg=DCV / DQ Isto significa que o CMg representa a variação do CV em relação a variação da quantidade produzida. O comportamento da curva do CMg, como mostra a figura 22, é, inicialmente, decrescente em função da relação entre a variação do CV e da produção ser decrescente. Quando o CMg atinge o ponto de mínimo, essa relação se inverte e passa a ser crescente, fazendo assim com que o CMg passe a crescer também. Como se vê, além das curvas do CMe e do CVMe, também a curva do CMg apresenta um formato de U, estando abaixo da curva do CVMe quando esta estiver decrescendo, e acima, quando a curva estiver crescendo. Dessa maneira, pode-se concluir que a curva do CMg intercepta a curva do CVMe no ponto mínimo desta última. A mesma situação ocorre entre as curvas de CMg e CMe, ou seja, quando esta última curva atinge seu ponto de mínimo, ela é interceptada pela curva do CMg. Dessa maneira, o ponto em que se interceptam as curvas do CMe e do CMg, de modo que os valores desses custos sejam iguais, representa o ponto em que a empresa tem o menor custo de produção por unidade. Assim, enquanto a empresa tiver CMg menor do que o CMe, ela deve aumentar seu nível de produção, já que o custo para produzir uma unidade adicional é menor do que o custo médio de cada uma das unidades que ela está produzindo. Já quando o CMg for maior do que o CMe, então a empresa deve diminuir seu nível de produção, de maneira a buscar a minimização dos seus custos de produção, que se dá, como foi visto, quando os dois custos forem iguais. No exemplo apresentado na tabela 3 pode-se ver mais claramente estas relações, bem como na figura 22. Tabela 3 – Cálculo dos custos Quantidade Custo Fixo Custo Variável Custo Total Custo Fixo Médio Custo Variável Médio Custo Médio Custo Marginal 1 100,00 10,00 110,00 100,00 10,00 110,00 2 100,00 16,00 116,00 50,00 8,00 58,00 6,00 3 100,00 21,00 121,00 33,33 7,00 40,33 5,00 4 100,00 26,00 126,00 25,00 6,50 31,50 5,00 5 100,00 30,00 130,00 20,00 6,00 26,00 4,00 6 100,00 36,00 136,00 16,67 6,00 22,67 6,00 7 100,00 45,50 145,50 14,29 6,50 20,79 9,50 8 100,00 56,00 156,00 12,507,00 19,50 10,50 9 100,00 72,00 172,00 11,11 8,00 19,11 16,00 10 100,00 90,00 190,00 10,00 9,00 19,00 18,00 11 100,00 109,00 209,00 9,09 9,91 19,00 19,00 12 100,00 130,40 230,40 8,33 10,87 19,20 21,40 13 100,00 160,00 260,00 7,69 12,31 20,00 29,60 14 100,00 198,20 298,20 7,14 14,16 21,30 38,20 15 100,00 249,50 349,50 6,67 16,63 23,30 51,30 16 100,00 324,00 424,00 6,25 20,25 26,50 74,50 17 100,00 418,50 518,50 5,88 24,62 30,50 94,50 18 100,00 539,00 639,00 5,56 29,94 35,50 120,50 19 100,00 698,00 798,00 5,26 36,74 42,00 159,00 20 100,00 900,00 1.000,00 5,00 45,00 50,00 202,00 Fonte: Elaboração própria dos autores. Figura 22 – Curvas de Custos. Fonte: Elaboração própria dos autores. 2.9.8 Os rendimentos da empresa Quando da realização da produção, a empresa tem um custo, conforme foi visto. Por esse esforço, a empresa espera uma compensação, um rendimento. O ganho que a empresa recebe pelo seu produto no mercado representa a receita total, que é obtida pela multiplicação das quantidades vendidas pelo preço do produto, assim representado: RT=P x Q Além disso, é importante para a análise da empresa outros dois tipos de receita. A primeira é a receita média (RMe) obtida pela divisão da RT pela quantidade. A RMe representa a receita que a empresa obtém para cada uma das unidades que ela produz e vende no mercado. Pode ser expressa da seguinte forma: RMe=RT / Q como RT=P x Q, então: RMe=(P x Q) / Q. Assim: RMe=P A segunda é a receita marginal (RMg), que é resultado da divisão entre as variações da RT e as variações da quantidade vendida do produto no mercado, assim: RMg=DRT / DQ A RMg mostra a receita que a empresa obtém para cada unidade adicional que ela vende no mercado. Conforme mostra a tabela 4, a RT da empresa estará crescendo enquanto o preço aumenta proporcionalmente mais do que a queda da quantidade vendida. Quando essa relação se inverte, a RT começa a diminuir. Ou seja, para se vender unidades adicionais, o preço deve cair proporcionalmente mais do que o que se consegue de aumento nas vendas. Isto é explicado pela elasticidade-preço da demanda, vista anteriormente. Tabela 4 – Cálculo da RT, RMe e RMg Quantidade Preço RT RMe RMg 0 22 0 22 -- 1 20 20 20 20 2 18 36 18 16 3 16 48 16 12 4 14 56 14 8 5 12 60 12 4 6 10 60 10 0 7 8 56 8 -4 8 6 48 6 -8 9 4 36 4 -12 10 2 20 2 -16 11 0 0 0 -20 Fonte: Elaboração própria dos autores. A RMe, como se viu, é igual ao preço e sempre decrescente. Já a RMg será decrescente mas positiva enquanto a RT estiver crescendo, e negativa quando a RT passa a diminuir. Portanto, quando a RMg for igual a zero, a RT será máxima. 2.9.9 O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro Como foi visto, no curto prazo a empresa não consegue alterar sua estrutura produtiva. Então, cabe à empresa identificar um nível de produção que permita a ela obter o lucro máximo, dada a estrutura produtiva existente. A tabela 5 mostra um exemplo hipotético que permite visualizar o nível de produção que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo possível. Se a empresa, por exemplo, estivesse produzindo uma quantidade de 901 unidades, o lucro total seria de 5.140. Interessa saber se esta é a quantidade que permite à empresa obter o lucro máximo. Como saber? Tabela 5 – A maximização do lucro Quantidade Custo Marginal Receita Marginal Lucro Total 900 120 265 5.000 901 90 230 5.140 902 70 195 5.265 903 60 160 5.365 904 70 125 5.420 905 90 90 5.420 906 120 55 5.355 907 180 20 5.195 908 270 -15 4.910 909 400 -50 4.460 Fonte: Elaboração própria dos autores. Para responder a esta pergunta, deve-se analisar o custo e a receita para produzir uma unidade adicional, ou seja, o CMg e a RMg, respectivamente. Se o custo para produzir uma unidade a mais for menor do que a receita que a empresa obtém, então ela deve produzir, pois conseguirá um lucro com esta unidade. O lucro obtido com a venda desta unidade vai se somar ao lucro que a empresa já tinha garantido antes. Isto fará com que o lucro total da empresa seja maior ao aumentar a produção. Significa dizer então que, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a empresa deve aumentar o nível de produção. Se de outro lado o CMg for maior do que a RMg, então a empresa deve reduzir a sua produção até o ponto em que o CMg seja igual à RMg. Esta é a condição que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo possível, ou seja, CMg=RMg. No exemplo da tabela 5, o lucro total máximo é de 5.420, alcançado quando CMg=RMg=90, na quantidade de 905 unidades produzidas. Figura 23 – Equilíbrio da firma. Fonte: Elaboração própria dos autores. O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro também pode ser visto na figura 23, a partir dos dados utilizados no exemplo da tabela 5. Assim, a empresa conseguirá o lucro máximo produzindo a quantidade determinada pela intersecção da curva do CMg com a RMg, ou seja, 905 unidades. 2.10 Estruturas de Mercado O equilíbrio de mercado se dá através da interação entre oferta e demanda de um produto qualquer. No entanto, essa interação entre oferta e demanda provoca resultados diferentes no mercado, já que existem vários tipos de mercados e cada um deles apresenta características próprias. Uma empresa que atua num determinado tipo de mercado poderá ter mais ou menos poder de determinação de preço, por exemplo, do que outra empresa que atua num outro tipo de mercado. Os vários tipos de mercado dependem basicamente de três fatores. O primeiro deles está relacionado ao número de empresas que atuam nesse mercado. O segundo diz respeito ao tipo de produto produzido e vendido no mercado, isto é, a existência de um bem substituto. O último fator está associado à existência ou não de barreiras ao ingresso de novas firmas no mercado. Assim, esse tópico trata das estruturas de mercado mais comumente encontradas. Nessas estruturas, busca-se identificar várias características comuns entre um grupo de empresas que atuam no mercado. Desta maneira, pode-se compreender o funcionamento do mercado de automóveis, o mercado de frutas no Rio Grande do Sul ou o mercado financeiro brasileiro, entre outros. Existem quatro tipos de mercados que mais facilmente pode-se encontrar. Dois deles são casos extremos: a concorrência perfeita e o monopólio. Além destes, existem a concorrência monopolística e o oligopólio. 2.10.1 Concorrência Perfeita A concorrência perfeita é um tipo extremo de mercado porque uma das características desse tipo de mercado é a grande concorrência entre as empresas. Em condições normais, dificilmente ocorre uma intensa competição, já que existe uma série de imperfeições no mercado que podem distorcer ou limitar a livre competição entre as empresas. Essa é uma estrutura de difícil aplicação prática, já que poucos setores poderiam ser enquadrados dentro desse mercado, funcionando mais como um modelo ideal de mercado. Apesar disso, o seu estudo é importante, pois dele derivam uma série de implicações, tanto para os consumidores como para as empresas. As hipóteses básicas do modelo de concorrência perfeita são: a. a existência de um grande número de compradores e vendedores; b. as empresas produzem um produto homogêneo, isto é, são substitutos perfeitos entre si; c. existe transparência do mercado, ou seja, todas as informações são conhecidas por todos; d. a entrada e a saída de firmas do mercado é livre. A primeira hipótese diz que é necessário um grande número de empresas no mercado. Isso significa que cada uma destas empresas não tem poder de mercado, ou seja, ela sozinha não consegue influenciar no mercado, como, por exemplo, em relação ao preço do produto oferecido. Isto, associado ao fato das empresas oferecerem um produto que seja substituo perfeito entre si, implica que cada uma das empresas seja tomadora de preço. Nestas condições, o preço do produto é determinado pelo mercado, através da oferta e da demanda, e a empresa aceita esse preço como uma variável dada. Cabe a ela, apenas, determinar as quantidades a serem produzidas ao preço de mercado. Já foi visto anteriormente que umafirma estará maximizando lucro quando o CMg for igual à RMg. Assim, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a firma deve aumentar a produção, já que estará aumentando seu lucro total. Isto ocorre porque para produzir uma unidade adicional, o custo será menor do que a receita que a firma terá ao vender esta unidade no mercado, e a diferença se somará ao lucro total da empresa. A tabela 6 ilustra esta situação. Tabela 6 – Custo Marginal, Receita Marginal e Lucro Produção Preço CMg RMg Lucro unitário Lucro total 10 10,00 7,50 10,00 2,50 100,00 11 10,00 8,00 10,00 2,00 102,00 12 10,00 9,00 10,00 1,00 103,00 13 10,00 10,00 10,00 0,00 103,00 14 10,00 11,00 10,00 -1,00 102,00 15 10,00 12,00 10,00 -2,00 100,00 16 10,00 13,50 10,00 -2,50 97,50 Fonte: Elaboração própria dos autores. Conforme mostra a tabela, a empresa estará maximizando seu lucro se produzir 13 unidades, já que neste ponto o CMg é igual à RMg. Se, por exemplo, a empresa estivesse produzindo 15 unidades, o CMg seria maior que a RMg, o que implica num prejuízo para essa unidade adicional. Neste caso, a firma deveria reduzir seu nível de produção até o ponto em que CMg igualasse a RMg, de maneira a obter o lucro máximo. 2.10.2 Monopólio O monopólio é um tipo de mercado oposto ao da concorrência perfeita, já que neste caso não ocorre a concorrência, pois o setor é composto por uma única firma. Neste caso, o empresário controla inteiramente a oferta do produto no mercado e os consumidores terão de se submeter às condições impostas pelo ofertante ou deixar de consumir o produto. As hipóteses do monopólio podem ser resumidas assim: a. o setor é constituído por uma única firma; b. o monopolista produz um produto para o qual não existe substituto próximo; c. a firma tem pleno poder de determinação do preço do produto. Nesse tipo de mercado, a curva de demanda da empresa é a própria curva de demanda do mercado, numa relação inversamente proporcional entre preço e quantidade. O fato da firma ter pleno poder de determinação de preço, não significa que ela elevará continuamente seu preço, pois caso isso acontecesse, os consumidores gradativamente diminuiriam as quantidades demandadas, dependendo da elasticidade- preço da demanda do produto. Assim como para os outros tipos de mercado, também para o monopolista a maximização do lucro ocorre quando a RMg e o CMg forem iguais. Conforme foi visto, uma das características de um mercado monopolista é a existência de uma única firma, e para isso deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado. Entre os principais fatores que explicam a existência de um monopólio, pode-se destacar: a. controle sobre um fator produtivo; b. a existência de patentes que impedem a produção de um bem por outras firmas; c. controle estatal de determinados serviços; d. elevado custo para a instalação de novas firmas no mercado. Em relação aos demais tipos de mercados, o monopólio pode obter lucros mais elevados em função do controle que a firma pode exercer sobre o mercado. A manutenção de um monopólio no longo prazo vai depender de uma série de fatores. As patentes terminam, as matérias- primas são substituídas, novos produtos surgem. A continuidade de um monopólio é mais factível quando há a proteção de leis governamentais ou o controle estatal de determinados setores que podem ser considerados estratégicos e de segurança nacional, como petróleo, comunicações e energia. 2.10.3 Concorrência monopolística A concorrência monopolística é uma estrutura de mercado intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio. As principais características desse tipo de mercado são: a. a existência de um grande número de empresas no mercado, que produzem produtos diferenciados, embora substitutos próximos entre si; b. cada firma tem um certo poder de determinação de preço do seu produto. O poder da firma para estabelecer o preço do produto vai depender, basicamente, do tipo de produto que a firma está produzindo. Quanto mais diferenciado o produto em relação às outras empresas do mercado, maior o poder da empresa. Do contrário, quanto menos diferenciado, menor é o poder da firma e, portanto, o preço tende a ser mais próximo ao das demais firmas do mercado. Na concorrência monopolística, como nos demais mercados, a firma estará maximizando seus lucros quando a RMg for igual ao CMg. A diferenciação do produto pode se dar em termos de embalagem, desenho, características físicas, tamanho ou promoção de vendas (brindes, propaganda, manutenção, entre outros). 2.10.4 Oligopólio Deve-se, ainda, resgatar o conceito de oligopólio. O oligopólio caracteriza-se pela existência de um reduzido número de produtores e vendedores, produzindo produtos que são substitutos próximos entre si. Por exemplo: indústria do transporte aéreo, rodoviário, siderurgia. Em outras palavras, significa que são apenas poucos vendedores, cada um vendendo produtos idênticos ou similares entre si. Entre as empresas oligopolistas, tem-se certa interdependência econômica. Todos os produtos são importantes, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores. Os padrões de concorrência em mercados oligopolísticos são: qualidade dos produtos: durabilidade, resistência etc.; publicidade e propaganda dos produtos: brindes, ações promocionais etc.; desenho: design do produto; outros. Quanto às barreiras à entrada, ao considerar-se um novo entrante no mercado, pode-se citar: financeiras: os altos custos iniciais de estruturação e implantação de uma empresa podem ser uma barreira para entrar outra empresa no mercado; técnica: a produção de bens e serviços que requerem muito conhecimento tecnológico pode ser uma barreira para entrar outra empresa no mercado; legais: imposições e fiscalização governamental podem ser uma barreira para entrar outra empresa no mercado. Por fim, algumas outras estruturas de mercado: 1. Monopsônio e oligopsônio: Monopsônio: existência de muitos vendedores e um único comprador. Por exemplo, uma empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e por ser a única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra local. Nesse caso, ou os trabalhadores trabalham nessa empresa, ou mudam-se para outra localidade. Oligopsônio: poucos compradores, que dominam o mercado, para muitos vendedores. 2. Monopólio bilateral: Caracteriza-se pela estrutura de mercado em que tem-se um monopolista e monopsonista. Normalmente, essas duas empresas entram em negociações para a definição de preços: o monopsonista tenta pagar o preço mais baixo, por ser o único comprador, e o monopolista quer vender por um preço mais elevado, tentando usar a força de ser o único vendedor. 2.10.5 Resumo das Estruturas de Mercado Estrutura Nr. de Empresas Diferenciação do Produto Condições de Entrada e Saída Influência sobre o Preço Exemplos Monopólio Uma Produto Único Sem Substituto Próximo Difícil Forte Alguns serviços públicos, como transporte, água e energia elétrica Concorrência Perfeita Muitas Produto homogêneo Fácil Nenhuma (são tomadores de preços) Alguns Produtos Agrícolas Concorrência Monopolista ou Concorrência Imperfeita Muitas Produto Diferenciado Fácil Leve Comércio Varejista, Restaurantes etc. Oligopólio Poucas Homogêneo ou diferenciado Difícil Considerável Homogêneo: alumínio; Diferenciado: Automóveis. Fonte: Adaptado de PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, p. 353. 2.10.6 Conceitos Importantes Sistema e Fluxos Econômicos, Demanda, Oferta, Equilíbrio de Mercado, Mercados, Elasticidades, Tipos de Bens, Lei dos Rendimentos Decrescentes, Custos de Produção, Cálculo de Custos, Equilíbrio da Firma, Estruturas de Mercado, Barreiras à Entrada. REFERÊNCIAS MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson PrenticeHall, 2007. PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de economia: equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 1998. PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. São Paulo: Pioneira, 1999. VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001. PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, p. 353. __________ 2 Nas seções seguintes, também será abordado em “A lei dos rendimentos marginais”. CAPÍTULO 3 NOÇÕES DE MACROECONOMIA E TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL André Filipe Zago de Azevedo Angélica Massuquetti Sérgio Leusin Júnior Raquel Negrisoli Fernandez Cabral Tiago Wickstrom Alves A macroeconomia e a microeconomia compõem as duas grandes áreas do estudo da Economia. A macroeconomia se difere da microeconomia principalmente pelo uso da soma das variáveis econômicas individuais para obter dados agregados da economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas como consumo agregado, investimento agregado e produto agregado são determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as análises macroeconômicas util izam instrumentos teóricos e empíricos para monitorar a economia, realizar previsões econômicas, auxil iar na elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da economia em geral. 3.1 Noções de Macroeconomia 3.1.1 Agregados Macroeconômicos, Identidades e Demanda Agregada A macroeconomia analisa a relação entre os agregados econômicos, por isso é necessário definir, primeiro, como se compõem e se formam esses agregados de acordo com a Contabilidade Nacional, para, após, estabelecer a relação entre eles. Destaca-se que estes agregados podem ser tanto fluxos como estoques. Os estoques são aqueles que podem ser explicitados sem uma definição de tempo, por exemplo: total de desempregados em uma economia; volume de capital acumulado por uma empresa. Já os fluxos necessitam de que se defina um período de tempo para que faça sentido, embora na macroeconomia os fluxos tenham se consagrado por serem medidos no intervalo de um ano, e por isso o período não é explicitado. Como alguns exemplos de fluxos, tem-se: salário mensal, investimento, poupança e consumo anuais. 3.1.2 Conceitos Macroeconômicos Básicos Produto Nacional Bruto (PNB) é a soma de todas as despesas feitas com os produtos e serviços finais nacionais (independente de onde é produzido). Inclui-se neste o valor da depreciação e os rendimentos líquidos da conta de capital. Muitas vezes, aparece como Produto Nacional Bruto a preços de mercado (PNBpm), para destacar que é calculado com base nos preços de mercado. Produto Interno Bruto (PIB) corresponde ao valor da produção realizada internamente em um determinado país. É obtida via somatório do produto final produzido dentro das fronteiras do país. Produto Nacional Líquido (PNL) é em todo igual ao PNB, excluindo- se apenas o valor da depreciação. É denominado muitas vezes de Produto Nacional Líquido a Preços de Mercado (PNLpm) por representar o somatório em unidades monetárias dos produtos finais nacionais, que são vendidos no mercado. Renda Nacional (RN) representa o valor pago para a elaboração do produto físico ou a renda auferida na elaboração desses produtos. Por isso às vezes é denominado de Produto Nacional Líquido a Custo de Fatores (PNLcf). Renda Pessoal Disponível (RND) representa o valor líquido do qual as pessoas físicas dispõem para gastarem com o produto e para pouparem. Depreciação (D) é a redução do valor dos ativos em consequência de desgastes pelo uso, obsolescência tecnológica ou perda de valor de mercado. Poupança (S) é a parcela de renda não consumida. Investimento (I) é a parcela do produto não consumida, ou seja, as aquisições de bens de capitais e as variações nos estoques. Por isso a identidade entre poupança e investimento. Ou seja: S ≡ I 3.1.3 Identidades Macroeconômicas Fundamentais Pela ótica dos dispêndios: PIB ≡ C + I + G + (X – M) Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; I: Investimento Bruto; G: Gastos do Governo; X: Exportações; e M: Importações. Pela ótica dos rendimentos: PIB ≡ C + S + T Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; S: Poupança dos particulares e das empresas; T: Tributos líquidos (total arrecadado menos as transferências, representa a poupança do governo). 3.1.4 Relação Funcional entre os Agregados Macroeconômicos A diferença entre os agregados internos e nacionais decorre do fato de que se está medindo a produção dentro das fronteiras de um país ou de seus residentes. Os valores internos contabilizam o produto final produzido dentro das fronteiras do país; e os nacionais, os valores dos produtos finais produzidos pelos residentes, não importando o país onde foi fabricado e consumido. Partindo do PIB, chega-se ao conceito do mais importante dos agregados macroeconômicos, que é o PNB. Para isso, basta retirar do PNB os rendimentos líquidos enviados ou acrescentar os rendimentos líquidos recebidos. O PIB difere do PNB por incluir as parcelas de renda geradas internamente e transferidas para o exterior. Inclui a remuneração de todos os fatores empregados internamente, sejam eles de propriedade de residentes ou não-residentes no país. Sendo assim, quando o PIB é maior que o PNB, o país remete mais renda para o exterior do que dele recebe. Ao contrário, quando o PIB é menor que o PNB. o fluxo de rendimentos do país ao exterior é inferior aos direitos recebidos de outros países. O produto e a renda de um país envolvem na sua mensuração, como se viu, diferentes magnitudes macroeconômicas. Essas magnitudes e suas relações são abordadas na seção que segue. 3.1.5 Formas de Mensuração do Produto e da Renda Nacional O Quadro 1 permite compreender as relações existentes entre os agregados macroeconômicos e como se pode, a partir de um determinado agregado, obter outros. Quadro 1 – Distribuição dos Agregados Macroeconômicos PRODUTO INTERNO BRUTO (-) Rendimentos líquidos enviado ou ( + ) renda líquida recebida ou (+, -) saldo do hiato de recursos de fatores. (=) PRODUTO NACIONAL BRUTO ( - ) Depreciação (=) PRODUTO NACIONAL LÍQUIDO ( PNLPM ) ( - ) ICMS, IPI, Doações ( + , - ) Discrepâncias estatísticas ( + ) Subsídios líquidos à empresas públicas (=) RENDA NACIONAL ( PNLCF ) ( - ) Tudo o que vaza não se transformando em renda pessoal (como: lucros não distribuídos, impostos s/ lucros das empresas, Previdência Social, etc.); ( + ) Tudo o que contribui para a renda pessoal (transferências do governo para as pessoas, juros pago pelo governo, juros pago pelos consumidores, doações recebidas, etc.) (=)RENDA PESSOAL ( - ) Imposto de Renda Pessoa Física (=) RENDA PESSOAL DISPONÍVEL ( YD ) ( - ) Poupança Pessoal (=) GASTOS PESSOAIS ( - ) Juros pago pelos consumidores ( - ) Pagamento de transferências para o exterior (=) DESPESAS DE CONSUMO PESSOAL Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores. Seguindo o esquema anterior, pode-se encontrar qualquer elemento que compõe o produto e a renda. No entanto, deve-se ter atenção para o fato de que quando você estiver partindo do PIB para as despesas de consumo pessoal, a sequência de sinais indicados é a que deve ser seguida. Porém, se o caminho for o inverso, ou seja, das despesas de consumo pessoal para o PIB, deve-se trocar os sinais. Seguindo o raciocínio apresentado no Quadro 1, apresenta-se a Figura 24, onde pode-se verificar as transformações dos agregados de acordo com os elementos principais que a compõem. Figura 24 – Transformações nos Agregados Macroeconômicos. Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores. Exercício de Fixação 1) Dado: PIB=2.250,00; Rendimentos Líquidos Recebidos=50,00; Depreciação=200,00; Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)=100,00; Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)=150,00; Impostos Indiretos (ICMS e IPI)=300,00; Com estes valores encontra-se o RN. Solução do exercício: PIB 2.250,00 (-) Depreciação=200,00 PIL2.050,00 + Rend. Líq. Rec.=50,00 PNL 2.100,00 (-) ICMS e IPI=300,00 RENDA NACIONAL 1.800,00 3.1.6 Macroeconomia Keynesiana A chamada Macroeconomia Keynesiana foi desenvolvida por John Maynard Keynes, em 1935, com sua publicação A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Uma das proposições básicas de sua teoria é que o nível de renda depende da demanda agregada. Se a demanda agregada for menor que o nível necessário para o pleno emprego, o nível de renda será menor que o potencial e haverá desemprego. Se a demanda agregada for de tal ordem que seja igual à renda de pleno emprego, a economia estará operando no seu ponto ótimo. Se a demanda agregada for maior que o nível de renda de pleno emprego, haverá inflação. As hipóteses básicas contidas no modelo keynesiano são: existência de equilíbrio com desemprego; desequilíbrios parciais podem exigir correções de demanda; rigidez e preços; a moeda afeta a economia real; diferença entre os fatores determinantes da poupança em relação aos do investimento. Teoria da Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda e do Produto Agregado Inicia-se, para efeitos didáticos, de um modelo teórico mais simples possível, onde haja apenas dois setores (famílias e empresas), não considerando governo nem resto do mundo, que se chama de modelo de dois setores. Inicialmente, formulam-se as seguintes hipóteses: investimento fixo ou constante; variações do produto e do emprego proporcionais à variações de renda (tal relação nada mais é que considerar preços constantes). A teoria keynesiana está fortemente baseada no que Keynes denominou de Lei Psicológica Fundamental, assim definida: Os indivíduos estão, como regra geral e em média, dispostos a aumentar seu consumo à medida que suas rendas aumentam, porém em proporções menores do que a do aumento de suas rendas. Função Consumo Baseado na Lei Psicológica Fundamental, pode-se tirar as seguintes conclusões: o consumo aumenta com o nível de renda; proporção menor da renda será consumida para cada aumento no nível de renda; se menor proporção de renda será consumida para níveis mais elevados de renda, então, a cada aumento de renda, haverá um aumento absoluto de poupança. A reta de consumo baseia-se na Lei Psicológica Fundamental. Analisando-a em termos de comparação com o comportamento comum de um consumidor, é lógico se esperar que alguém que ganhe vinte salários mínimos possuirá uma poupança maior que aquele que ganha um salário mínimo. Se essa poupança for comparada em termos percentuais de renda, o primeiro também apresentará um percentual de poupança maior, visto que aquele que ganha um salário mínimo terá pouca disponibilidade de dinheiro para poupar em relação ao de maior renda. Assim sendo, uma reta que representasse a curva de consumo teria que ser positivamente inclinada, pois para cada aumento de renda, maior seria o seu consumo. Porém, como as pessoas aumentam seu consumo menos que proporcional ao crescimento de suas rendas, essa inclinação terá que representar um percentual de crescimento de renda. Esse percentual de crescimento chama-se propensão marginal a consumir (PMgC) que, em termos geométricos, representa a inclinação da curva de consumo. Um outro aspecto que deve ser ressaltado em relação ao consumo, é que as pessoas, mesmo sem ganharem renda (salários ou lucros), precisam consumir para sobreviverem. Esse consumo sem renda pode ser feito no caso de compra a prazo ou utilizando-se de poupança anteriormente armazenada. Geometricamente, pode ser descrito como um consumo positivo, no par de renda-consumo para uma renda zero. Esse ponto denomina-se consumo autônomo (Ca). Ao comparar esses dados com a equação da reta, pode-se formular uma equação de consumo. A equação resumida da reta é: Y=a + bX, onde a é o intercepto vertical, ou seja, onde a reta corta o eixo das ordenadas; b é o coeficiente angular, ou seja, a inclinação da reta, que é dada pela sua tangente (Tg=cateto oposto/cateto adjacente); e Y e X são as variáveis. Assim, ao colocar o consumo no eixo vertical e a renda no eixo horizontal e representando a por Ca e b por PMgC, tem-se a reta de consumo: C=Ca + PMgCY Onde: YC=Consumo Total; Ca=Consumo Autônomo; PMgC=Propensão Marginal a Consumir e Y=Renda. Por exemplo, supondo Ca=20 e PMgC=0,5, tem-se sua representação conforme a Figura 25. Figura 25 – Relações Básicas da Função Consumo. Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores. Propensão Marginal a Consumir (PMgC) É dada pela inclinação da reta de consumo. Permite saber para qualquer variação na Y, qual será a variação do consumo e da poupança. É constante para qualquer nível de renda. Propensão Média a Consumir (PMeC) É definida pela relação entre C e Y, para diferentes níveis de renda, e possibilita conhecer como a renda será dividida entre consumo e poupança. Função Poupança Figura 26 – Função Poupança. Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores. Genericamente, tem-se: S=Sa - PMgSY Propensão Marginal a Poupar (PMgS) É dada pela inclinação da função poupança, ou seja: Propensão Média a Poupar (PMeS) É a relação entre S e Y para diferentes níveis de renda. É dada pela relação: Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda A renda de equilíbrio ocorre quando a demanda agradada for igual ao produto agregado, ou seja: PIB=C + I G + (X – M) Para simplificação, inicia-se com uma economia fechada e com dois setores, famílias e empresas, logo o PIB será igual à renda (Y). Dessa forma a renda de equilíbrio será dada por: Y=C + I Substituindo C pela função consumo e supondo apenas investimento autônomo (constante), tem-se: Y=Ca + PMgCY + I Para compreender como determinar o equilíbrio, suponha que o dispêndio em consumo seja dado pela equação: C=100 + 0,60Y e que o I=70, então a renda de equilíbrio seria dada por: Y=100 + 0,60Y + 70 Y – 0.6Y=170 0,4Y=170 Y=425=> renda de equilibrio Multiplicador da Demanda Agregada Ao ocorrer uma variação, por exemplo, no consumo autônomo, a renda variará em um múltiplo dessa variação. Isso decorre do fato de existir um multiplicador para variações autônomas da demanda agregada. Multiplicador simples, para uma economia a dois setores é obtido da seguinte forma: Y=Ca + PMgCY + I Logo, uma variação na renda poderá ter sido causada por uma variação nos investimentos ou no consumo autônomo: ΔY=DCa + PMgCDY + DI Isolando ΔY, tem-se: Onde 1/(1-PMgC) é o multiplicador keynesiano simples. Veja que o multiplicador para uma economia de dois setores é recíproca de 1 - PMgC, logo, quanto maior a PMgC, maior será o multiplicador e, consequentemente, maior será o efeito das variações autônomas sobre o nível de renda. Função Investimento Investimento é uma palavra com muitas conotações no emprego popular, mas tem apenas um significado na análise macroeconômica: “É o valor do produto da economia que toma a forma de novos imóveis para fábricas, novos bens de capital duráveis e variações nos estoques”. Esse investimento é denominado de Investimento Bruto, que pode ser representado por: IB=IL +D + VE Onde IB=Investimento Bruto; IL=Investimento Líquido; D=Depreciação e VE variação nos estoques. Destaca-se que sempre que houver variação nos estoques (VE ≠ 0) não haverá equilíbrio na economia, pois significa que há um descompasso entre demanda agregada e produto agregado. Investimento Líquido é o investimento bruto menos a depreciação, ou seja, IL=IB – D. Logo, é igual à variação no estoque de capital da economia. Se o investimento realizado em um determinado país for menor que o valor da depreciação, então, haverá uma redução dos estoques de capital, logo, um investimento líquido negativo. Assim, para que haja crescimento econômico, os investimentos deverão ser maior que o valor da depreciação dos estoques de capital economia. Assim, se: IB=Depreciação (p/ o exercício) → não há investimento líquido nem desinvestimento e, por conseguinte, não há qualquer variação nos estoques de capital. IB > Depreciação → haverá investimento líquido e acréscimo noestoque de capital. IB < Depreciação → haverá desinvestimento e uma redução no estoque de capital. Decisão de Investir e Função Investimento Baseia-se na relação entre três elementos: fluxo de renda esperado do bem de capital em questão -SRT; preço de compra desse bem; taxa de juro de mercado. De uma forma simplificada: VA=SRT / (1+i)n Onde: VA → Valor Atual ou valor de compra de um bem de capital; SRT → Somatório dos rendimentos líquidos proporcionado pelo bem de capital bem como o custo do investimento; i → Taxa de desconto apropriada ao risco do negócio; n → número de períodos. Pode-se concluir que um VA positivo significa que o há retorno do investimento acima da taxa de risco associada ao negócio e, portanto, deverá ocorrer o investimento. Se o valor for negativo, o investimento não cobrirá a taxa de retorno exigida para o negócio, portanto, não deveria se realizar o investimento. Dessa forma, uma redução na taxa de juros deverá elevar o nível de investimentos de um país, pois aumenta o VA. Da mesma forma, as expectativas, se forem melhoradas, se refletirão no fluxo de caixa do investimento. Logo, o investimento é uma função da taxa de juros real e das expectativas. Assim, tem-se a seguinte função investimento: I=Ia + PMgIY - gi Onde: Ia → Investimento Autônomo e está associado as expectativas; PMgI → Propensão Marginal a Investir, Y=renda; g=mede a sensibilidade do investimento em relação a variação de um ponto percentual na taxa de juros; i=taxa real de juros. Logo, em uma economia com dois setores e investimento induzido, a renda de equilíbrio seria determinada por: Y=Ca + PMgCY + Ia + PMgIY - gi Por exemplo, qual o nível de equilíbrio da “Y” quando: Ca=20, PMgC=0,60, Ia=100 e PMgI=0,20; g=10 e i=5. Y=20 + 0,6Y + 100 + 0,20Y – 10*5 Y – 0,8Y=70 Y=70/0,2 Y=350=> renda de equilibrio Economia Aberta e com Governo - Renda de Equilíbrio Em uma economia a quatro setores, onde se tem o governo e o setor externo, há novas variáveis que influem de forma significativa no nível de renda. Com a existência do governo, o conceito de renda passa a ser a renda disponível (Yd), pois é a renda bruta dos indivíduos descontado dos impostos diretos que esses dispõem para gastarem em bens de consumo, ou seja: Yd=Y – T. Outro elemento importante são os tributos do governo que podem ser autônomos e induzidos: autônomos (Ta) são aqueles que independem do nível de renda dos indivíduos, como o IPTU, por exemplo, e os induzidos (PMgT*Y) são aqueles que variam com o nível de renda, como é o caso do Imposto de Renda. Ainda há que considerar as transferências (R) dos governos para as pessoas, como auxílios maternidade, seguro desemprego e Bolsa Família, entre outros. Até o advento do Bolsa Família, a relevância dessas transferências na economia não eram significativas. As exportações (X) são consideradas constantes nesse modelo, embora dependam da taxa de câmbio e da renda do resto do mundo, e as importações (M) que, da mesma forma que o consumo e o investimento, tem uma componente autônoma (Ma) e uma induzida (PMgM*Y) – que é a propensão marginal a importar vezes a renda. Algebricamente, a equação de equilíbrio é dada por: Y=C + I + G + (X – M) Substituindo as funções consumo, investimento e importações obtém-se: Y=Ca + PMgCYd + Ia + PMgIY – gi + G + [X – (Ma - PMgMY)] A título de exemplificação, suponha os seguintes elementos: Ca=800; Ia=1.000; Ta=100; G=500; X=500; Ma=1.000; PMgC=0,80; PMgT=0,25; PMgI=0,1; PMgM=0,15. Qual seria a renda de equilibrio? Y=800 + 0,8(Y- 100 – 0,25Y) + 1.000 + 0,1Y + 500 + [500 – (1.000 + 0,15Y)] Y=1800 + 0,8Y – 80 – 0,2Y + 0,1Y - 0,15Y Y=1.720 + 0,55Y 0,45Y=1.720 Y=3.822=> renda de equilibrio. 3.1.7 Instrumentos de Política Macroeconômica - Política Monetária e Política Fiscal Na seção anterior, foi possível observar os agregados macroeconômicos e a maneira como são determinados e mensurados. As políticas fiscais e monetárias são importantes instrumentos para a gestão macroeconômica das nações. Assim, a seguinte seção busca abordar a influência das políticas fiscais e monetárias nas flutuações da produção total de bens e serviços e no nível geral de preços. 3.1.7.1 Política Fiscal A política fiscal é um instrumento macroeconômico utilizado pelos governos principalmente para atingir dois objetivos. Um dos objetivos diz respeito à utilização da política fiscal como financiadora dos gastos governamentais utilizados para o cumprimento das funções básicas do Estado. O segundo objetivo desta política é tentar corrigir ou controlar flutuações da produção total de bens e serviços (PIB), assim como do nível geral de preços (inflação). Desta forma, a política fiscal compreende todas as diretrizes do governo que definem a administração de seus gastos e o nível de arrecadação dos recursos (impostos). Do ponto de vista funcional, o governo, através da política fiscal, pode exercer funções da seguinte natureza: i. alocativa: quando o Estado provê serviços de segurança e saúde, ou ao investir na exploração de petróleo; ii. distributiva: quando transfere fundos de recursos para os estados ou municípios, assim como ao disponibilizar recursos para programas sociais, a exemplo do Bolsa Família; iii. estabilizadora: quando direciona recursos ou abre mão de receitas tributárias (isenções ou reduções de impostos) para manter, reduzir ou elevar um determinado nível geral de emprego e renda. Na Economia, a função mais estudada talvez seja a estabilizadora, principalmente pelo fato de ser um importante e poderoso instrumento de controle e incentivo da produção total de bens e serviços de uma economia. Ou seja, esta ferramenta pode ser empregada com o propósito de influenciar tanto o consumo quanto o investimento privado. Se houver a necessidade de atuação sobre os desequilíbrios no consumo, as medidas podem atingir os impostos sobre a renda ou sobre o consumo. Uma redução das alíquotas estimulará o consumo, enquanto a sua elevação produzirá um efeito contrário. Os investimentos privados também podem ser influenciados através de modificações nas alíquotas dos impostos pagos pelas empresas. Assim, a política fiscal pode assumir um perfil expansionista, quando deseja incentivar a atividade econômica, ou contracionista, quando o objetivo é controlar o nível de produção e preços (inflação). As políticas fiscais expansionistas normalmente são efetivadas através do aumento das compras governamentais de bens e serviços, através do corte de impostos ou ainda pelo aumento das transferências para os entes federados ou diretamente para os cidadãos, como é o caso do seguro-desemprego. As políticas fiscais contracionistas buscam atingir objetivos opostos da expansionista e são implementadas via redução das compras governamentais de bens e serviços, aumentando os impostos ou reduzindo transferências do governo. Segundo Krugman (2007), deve-se ter cuidado com políticas fiscais estabilizadoras extremamente ativas, pois quando um governo se esforça demais para estabilizar a economia pode acabar tornando a economia ainda menos estável. 3.1.7.1 Política Monetária Na década de 1960, os debates entre keynesianos e monetaristas dominaram o campo acadêmico da Economia. Esses debates concentravam-se no papel da política econômica e na eficácia da política fiscal versus a política monetária. Milton Friedman, principal intelectual dos monetaristas e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1976, contestava a percepção de que a política fiscal afetaria o produto de maneira mais rápida e confiável do que a política monetária. Assim, em 1963, ele e Anna Schwartz publicaram o livro A Monetary History of the United States, 1867-1960, onde analisaram os ciclos de produção dos Estados Unidos e concluíram que a política monetária era mais eficiente e que o movimento do estoque monetário explicaria grande parte das flutuações do produto. No Brasil, a política econômica adotada amenizou os impactos da crise econômica internacional de 2008 e permitiu a retomada do crescimento econômico do país. Dentreseus instrumentos, houve a redução da reserva compulsória dos bancos; a queda na taxa básica de juros; a ampliação das reservas para financiar as exportações; e o aumento do repasse de recursos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de crédito aos bancos públicos. Estes são exemplos de política monetária (expansionista). A política monetária tem o objetivo de criar e de manter um ambiente macroeconômico estável, garantindo as condições necessárias para a elevação dos níveis de produto e de emprego na economia. A estabilidade de preços também é fundamental para permitir o crescimento econômico. Assim, a compreensão da relação entre oferta monetária, taxa de juros, produto e nível de preços é importante na compreensão do funcionamento da política monetária. A quantidade demandada de moeda, desejada pelos agentes econômicos para permitir as transações econômicas, está relacionada inversamente com a taxa nominal de juros. Ou seja, o custo de oportunidade de manutenção da moeda aumenta com a elevação dessa taxa. Nesse caso, a moeda poderia ser empregada na compra de títulos, por exemplo, rendendo juro ao seu proprietário. A curva de demanda por moeda (tudo o mais constante) se expande (deslocamento para a direita) quando há o aumento do PIB nominal (crescimento do produto real ou elevação de preços), havendo o efeito contrário numa redução do PIB nominal. A oferta de moeda, por sua vez, é determinada pelo Banco Central do Brasil (BACEN)3 – a autoridade monetária – através de operações de mercado aberto, da política de redesconto e da exigência de reserva compulsória. Como a taxa de juros não tem efeito sobre a quantidade de moeda ofertada pelo BACEN, a curva de oferta monetária é vertical. O equilíbrio entre oferta e demanda por moeda pode ser observado na Figura 27. Figura 27 – Equilíbrio entre oferta e demanda por moeda. Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração: Raquel Cabral. O BACEN pode afetar a economia através de uma política monetária expansionista ou de uma política monetária restritiva. Na primeira situação, o objetivo é estimular a demanda agregada (expansão do PIB real e do nível de emprego no curto prazo – política não antecipada pelos agentes econômicos), sendo efetuada através da aquisição de títulos públicos pelo BACEN e da ampliação das reservas livres dos bancos e da taxa de crescimento da oferta monetária. Por outro lado, na segunda situação, o foco é a redução da demanda agregada (queda do produto real e do emprego no curto prazo – política não antecipada pelos agentes econômicos) e da taxa de inflação, sendo alcançadas por meio da venda de títulos públicos pelo BACEN e da redução das reservas bancárias e da taxa de crescimento da oferta monetária. No longo prazo, a política monetária afetará, principalmente, os preços e não o produto real da economia. Os países que adotam elevadas taxas de crescimento da oferta monetária tendem a enfrentar altas taxas de inflação. A política macroeconômica, portanto, tem o objetivo de atenuar as flutuações que produzem os ciclos econômicos, gerando um crescimento econômico estável no longo prazo e o controle de preços. Neste sentido, o governo federal irá adotar as políticas monetária e fiscal – medidas estabilizadoras. 3.2 Teorias do Comércio Internacional Economistas internacionais há longo tempo estabeleceram que um regime comercial liberal é a melhor opção de política comercial, especialmente para países pequenos, que não podem influenciar os preços internacionais. Um regime liberal aumentaria a produtividade, a renda e o bem-estar, através de uma melhor alocação de recursos, decorrente de uma distribuição mais eficiente dos fatores de produção. Desta forma, haveria uma especialização da produção nos setores em que o país possui vantagens comparativas, tanto em termos de dotação de fatores como tecnológicos. Além disso, haveria uma redução dos incentivos a atividades improdutivas associadas à proteção, como lobb ies, evasão fiscal e contrabando. No entanto, a literatura também aponta uma série de argumentos contrários à liberalização, com destaque para aqueles que se referem aos efeitos sobre os termos de troca e a indústria nascente. Essa seção analisa as principais teorias do comércio internacional, bem como alguns argumentos contrários à liberalização. 3.2.1 Vantagens Absolutas e Comparativas Adam Smith, no final do século XVIII, refutou a idéia de que o comércio era um jogo de soma zero, ou seja, que o ganho de um país ocorria em detrimento de outro, confrontando claramente a doutrina mercantilista que dominou os séculos XVI a XVIII. Para ele, o comércio seria um jogo de soma positiva, isto é, ambos os países envolvidos ganhariam, tanto aqueles que exportavam como os importadores. O livre comércio seria um mecanismo capaz de promover o aumento da produção via especialização e, com as trocas, aumentar o consumo e o bem-estar das populações dos países envolvidos no comércio internacional. Além de apresentar os benefícios associados ao livre comércio, Smith precisava mostrar qual o padrão de comércio mais apropriado entre os países. Para tanto, ele criou o conceito de vantagem absoluta, que ocorreria quando um país fosse mais eficiente, em termos absolutos, na produção de um bem. A eficiência seria medida através da produtividade absoluta do trabalho, ou seja, quanto menos tempo de trabalho fosse necessário para um país produzir um determinado produto, mais eficiente ele seria. Portanto, os países deveriam exportar aqueles bens em que tivessem vantagem absoluta na produção e importar aqueles em que apresentasse desvantagem absoluta. O trecho abaixo é bastante ilustrativo da visão de Smith sobre as vantagens absolutas. “Se um país estrangeiro está em condições de fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que o da mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma parcela da produção de nossa própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem” (SMITH, 1996, p. 380). David Ricardo, no início do século XIX, levou o argumento de Smith ao limite, mostrando que mesmo um país que não apresente vantagem absoluta em produto algum pode se beneficiar do comércio internacional, criando o que para muitos é o maior insight em economia de todos os tempos: o conceito de vantagem comparativa. Vamos considerar um exemplo. Suponha que haja dois países (local e estrangeiro) e dois bens sendo produzidos (queijo e vinho), sendo o trabalho o único fator de produção. Imagine que o país estrangeiro consiga produzir 1 quilo de queijo em 1 hora e 1 litro de vinho em 2 horas, enquanto o país local leva 6 e 3 horas para produzir 1 quilo de queijo e 1 litro de vinho, respectivamente. De acordo com as vantagens absolutas de Smith, não haveria possibilidade de ganho com o comércio, pois o país estrangeiro teria vantagens absolutas em ambos os bens (leva menos tempo para produzir queijo e vinho do que o país local). No entanto, é possível notar que o país estrangeiro, mesmo sendo absolutamente mais eficiente em ambos, é relativamente mais eficiente na produção de queijo, pois leva apenas 1/6 do tempo do país local para produzi-lo, enquanto leva 2/3 do tempo do local para produzir vinho. O país local, por sua vez, é relativamente mais eficiente na produção de vinho, pois leva apenas 50% a mais de tempo para produzi-lo, ao passo que leva 6 vezes mais tempo para produzir queijo. Nesse caso, de acordo com Ricardo, se cada país se especializasse na produção do bem em que fosse relativamente mais produtivo (o estrangeiro em queijo e o local em vinho), ou seja, que tenha vantagem comparativa, haveria a criação de excedentes que seriam trocados pelo outro bem em que o país apresenta desvantagem comparativa. Desde que o preço de troca entre os países se situasse entre os preços que vigoram em autarquia, haveria ganhos para todos, na medida em que as possibilidades de consumo seriam ampliadas. Em outras palavras, sairia mais barato importar o bem que o país tem desvantagem comparativado que produzi-lo no próprio país. Portanto, um país irá exportar o produto no qual tenha vantagem comparativa e importar aquele em que tenha desvantagem comparativa. Os economistas Eli Heckscher e Bertil Ohlin, no início do século XX, criaram uma alternativa ao modelo ricardiano, incluindo outros fatores de produção além do trabalho na explicação do comércio internacional. A teoria, que ficou conhecida como Heckscher-Ohlin, enfatiza que as diferenças de recursos dos países seriam a única fonte de comércio. Nesse sentido, a vantagem comparativa seria influenciada pela abundância relativa de fatores que os países apresentam e pela intensidade relativa do uso de fatores para a produção dos bens. Países que, por exemplo, possuam relativamente mais terra do que capital seriam exportadores de produtos que utilizam intensivamente seu fator abundante, ou seja, a terra (ex: produtos primários), enquanto países que têm abundância relativa de capital em relação a terra, exportariam bens que usem intensivamente capital (ex: automóveis). Nesse caso, o padrão do comércio internacional depende das diferenças na dotação de fatores dos países. Um país exportará bens que utilizarem intensivamente seu fator abundante e importará bens que utilizarem intensivamente seu fator escasso. A literatura, no entanto, também aponta argumentos clássicos contrários à liberalização, com destaque para aqueles que se referem aos efeitos sobre os termos de troca e a indústria nascente. Tais argumentos, especialmente o relativo à indústria nascente, serviram de apoio para a estratégia de substituição de importações, ocorridos em boa parte do mundo em desenvolvimento logo após a 2a Guerra Mundial. O argumento da indústria nascente, inicialmente proposto por Alexander Hamilton e desenvolvido por List, defende a adoção de um estímulo temporário a uma determinada indústria até que ela esteja apta a competir internacionalmente. Quanto ao termos de troca, Torrens, em 1844, foi o pioneiro a identificar que no caso de um país grande (isto é, capaz de afetar os preços mundiais por meio da troca), a adoção de uma tarifa de importação pode melhorar os termos de troca do país.4 Isso ocorreria porque esta medida protecionista tende a reduzir o preço das importações do país que a adotou, na medida em que reduz a demanda global pelo produto e, dessa forma, melhora os termos de troca do país. 3.2.2 Nova Teoria do Comércio Internacional Mais recentemente, no início dos anos 1980, a partir da chamada nova teoria do comércio internacional, baseada em competição imperfeita, economias de escala e diferenciação de produtos, foram identificados benefícios adicionais da integração comercial, identificados como efeitos competição, escala e diversidade (KRUGMAN, 1979; HELPMAN; KRUGMAN, 1985). A abertura comercial propiciaria um aumento da competição entre as empresas, que resulta em ganhos de eficiência técnica, bem como de elevação da escala de produção. De um lado, em economias mais fechadas, as empresas têm poucos incentivos para reduzir custos, criar novos produtos e processos de produção e novas técnicas administrativas e, portanto, para elevar a produtividade. De outro, economias mais protegidas tendem a limitar o mercado das empresas nacionais, pelo seu viés anti-exportação, o que reduz a produção para escalas sub-ótimas. A maior integração econômica permitiria, portanto, uma maior competição entre as empresas e ganhos de escala. Além disso, regimes de comércio mais liberais permitem um acesso a uma maior diversidade de produtos, insumos e bens de capital, elevando o bem-estar dos consumidores e a eficiência dos produtores. Estes novos argumentos, associados à crise da dívida externa de 1982 e do sucesso econômico obtido por alguns países do sudoeste asiático, que adotaram políticas comerciais liberais já a partir da década de 1960, serviram de estímulo para estes países buscarem uma maior integração com o resto do mundo. Entretanto, a nova teoria do comércio internacional também identificou uma nova razão para práticas protecionistas na presença de interações estratégicas entre as empresas (BRANDER; SPENCER, 1985). Tais interações estratégicas entre empresas ocorreriam quando a mudança do comportamento de uma empresa causasse uma alteração do comportamento de outra (resposta estratégica). Ao alterar o comportamento das empresas,políticas comerciais estratégicas poderiam influenciar tanto no mercado doméstico quanto no internacional a relação estratégica entre as empresas. Ao escolher uma tarifa ótima ou subsídio, o governo poderia afetar o jogo estratégico entre as empresas para favorecer a empresa doméstica. Entretanto, a possibilidade de retaliação por parte do governo de outro país, a grande quantidade de informações necessárias para implementar adequadamente este tipo de políticas e a influência de grupos de pressão para obter tais benefícios para seus setores, para citar os mais comuns, tornaram este tipo de intervenção pouco recomendada pelos economistas. A partir do final da década de 1980, as novas teorias do crescimento econômico, baseadas na endogeneização do progresso técnico [(ROMER, 1986; LUCAS, 1988), forneceram novos argumentos em favor da abertura econômica. Primeiro, o comércio de bens expandiria o fluxo de idéias e tecnologias, reduzindo o custo da inovação. Ao mesmo tempo, pressionaria as empresas sem acesso a fontes tecnológicas externas a investir em inovação. Assim, haveria uma expansão da base tecnológica dos países, o que estimularia a produtividade e, por consequência, o crescimento. Segundo, o comércio poderia elevar o tamanho do mercado induzindo os investimentos em indústrias com retornos crescentes que não seriam viáveis em mercados menores, além de permitir o acesso de agentes domésticos a bens de capital a um custo mais acessível, removendo assim barreiras ao investimento e às exportações. Terceiro, a abertura comercial criaria incentivos ou obrigaria (através de instituições multilaterais) a adoção de políticas macroeconômicas e/ou regulatórias virtuosas, o que também contribuiria para taxas de crescimento mais elevadas. Portanto, ao estimular a produtividade, o investimento e políticas virtuosas, o comércio estimularia o crescimento econômico.5 3.3 Sugestão de Sites Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br Site Oficial da Organização Mundial de Comércio: www.wto.org 3.4 Conceitos Importantes Termos Básicos Produto Nacional Bruto Consumo Autônomo Produto Interno Bruto Propensão Marginal a Poupar Produto Nacional Líquido Política Fiscal Poupança Política Monetária Depreciação Vantagens Absolutas http://www.bcb.gov.br http://www.fazenda.gov.br http://www.wto.org Lei Psicológica Fundamental Vantagens Comparativas Propensão Marginal a Consumir REFERÊNCIAS ANDERSON, K.; H. NORHEIM “History, geography and regional integration”. In: K. ANDERSON; BLACKHURST, R. (eds.), Regional Integration and the Global Trading System . London: Harvester-Wheatsheaf, 1993, pp. 19-51. BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2007. BRANDER, J.; SPENCER, B. Export subsidies and market share rivalry. Journal of International Economics, 18, 1985, pp. 83-100. FROYEN, Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999. HELPMAN E.; KRUGMAN, P. Market Structure and Foreign Trade. Cambridge, MA: MIT Press, 1985. KRUGMAN, P. Increasing returns, monopolistic competition and international trade. Journal of International Economics, 9, 1979, pp. 469- 479. KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 5a Ed. São Paulo: Makron Books. 2001. KRUGMAN, Paul R. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. LOPES João C.; ROSSETTI, José P. Economia Monetária, 8. ed. São Paulo: Atlas S/A: 2002. LUCAS, Robert. On the mechanics of economic development. Journal of Monetary Economics, 22, 1988, pp. 3-42. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus,2000. MOCHON, Francisco; TROSTER, Roberto Luis. Introdução à Economia. 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Quanto maior for essa relação, ou seja, quanto maior forem os preços de exportação em relação aos de importação, maior é o benefício do país. 5 A maior parte dos benefícios e dos custos envolvidos em um processo de integração não-discriminatória descritos acima, também é observada quando da formação de blocos econômicos. No entanto, a abertura preferencial se diferencia daquela, pois cria a possibil idade do que se convencionou chamar criação ou desvio de comércio, termos originalmente cunhados por Viner (1950). Desde então há um consenso de que os benefícios só superariam os custos caso a criação de comércio superasse o desvio de comércio decorrente da liberalização comercial discriminatória. CAPÍTULO 4 APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS ESTUDADOS – UMA BREVE ANÁLISE DA ATUAL CONJUNTURA ECONÔMICA Sérgio Leusin Júnior O presente capítulo teve a pretensão de definir, qualificar e quantificar os principais indicadores econômicos do país. Reconhecidamente, tais indicadores são fundamentais tanto para propiciar uma melhor compreensão da situação presente e o delineamento das tendências de curto prazo da economia, quanto para subsidiar o processo decisório. O texto trabalhou com os agrupamentos mais convencionais dos diferentes indicadores e, sempre que possível, especificou, para cada um deles, aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e instituição produtora. 4.1 Agregados Econômicos e a Análise de Conjuntura A análise da evolução dos agregados econômicos constitui uma poderosa ferramenta para a tomada de decisão de empresários, investidores e governos, assim como é frequentemente empregada na elaboração de planejamentos estratégicos de empresas para a análise do ambiente externo. Através da evolução de dados econômicos e estatísticos, é possível verificar, por exemplo, em que grau e em que setores uma crise econômica, ou uma política econômica, está impactando de maneira mais significativa. Este exercício é importante, visto que períodos de recessão ou expansão geram resultados muitas vezes contraditórios quando comparados com diferentes setores da economia. Assim, a análise de conjuntura geralmente busca acompanhar a evolução dos dados disponíveis para que seja possível construir um diagnóstico, ou ainda, um prognóstico para o período em estudo. O pano de fundo deste capítulo se inicia com a crise econômica internacional que, no Brasil, começou no último trimestre de 2008, quando a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers gerou a interrupção do fluxo financeiro que irrigava o crédito comercial internacional. De certa forma, a ocorrência desta crise, também chamada de crise do Subprime, fornece importantes evidências empíricas da teoria econômica. Assim, ao longo deste capítulo se buscará visualizar o impacto desta crise em indicadores selecionados da economia brasileira e, sempre que possível, aplicar conceitos que seguidamente são utilizados como pressupostos na ciência econômica. 4.2 A Seleção das Variáveis As primeiras dificuldades da análise econômica talvez sejam a seleção e o tratamento dos inúmeros dados disponíveis. Sabe-se que os dados ou evidências empíricas são essenciais para a compreensão de uma determinada conjuntura. Porém, a quantidade de informações de nada servirá caso não se souber transformá-las qualitativamente em conhecimento útil para a tomada de decisão. Na próxima seção, será apresentada uma série de variáveis disponíveis nos principais bancos de dados estatísticos e econômicos do Brasil. A ordem de apresentação dos dados segue uma lógica usualmente utilizada em análises de conjuntura econômica. Assim, as informações serão divididas em dois grupos que abrangem a oferta e a demanda. A análise dos dados será realizada de maneira breve e direta, buscando salientar os fatos econômicos mais significativos sem tratamentos estatísticos ou econométricos, e dentro de uma perspectiva histórica. Cabe destacar que o objetivo deste capítulo não é desenvolver um estudo definitivo da conjunção econômica contemporânea, mas sim apresentar uma maneira de realizar análises de ambientes econômicos, assim como buscar uma aplicação prática de conceitos econômicos. No grupo de dados que compõe a oferta, encontra-se a análise do desempenho da economia brasileira no que tange à produção. Uma abordagem completa, como a realizada pelo Banco Central do Brasil (Relatórios de Inflação)6, engloba os setores industrial, agrícola e o comércio, além da apresentação da evolução do mercado de trabalho, principalmente salários e rendimentos. Entretanto, nesta breve observação de dados se buscará analisar o desempenho do setor industrial brasileiro. Para tanto, a produção industrial será analisada através dos dados da Pesquisa Industrial Mensal (Produção Física) do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e do indicador de capacidade instalada disponibilizado pela Fundação Getúlio Vargas - FGV. Com relação à demanda, normalmente são analisados o consumo, os investimentos, a execução orçamentária do governo e o hiato de recursos externos. Nesta abordagem, será analisado o volume de vendas do comércio varejista brasileiro fornecido pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC-IBGE) e indicadores de crédito. Também serão analisados a evolução do mercado de trabalho e os indicadores de inflação. Outros dados indispensáveis em uma análise de conjuntura econômica são os que dizem respeito à economia internacional, ao balanço de pagamentos e também à inflação. Com as informações do grupo da oferta e demanda, é possível verificar as condições do mercado interno. O balanço de pagamentos fornece esclarecimentos sobre o ambiente externo e sua influência na economia doméstica. Finalmente, com a evolução da inflação, é possível identificar se a economia está sofrendo choques internos ou externos capazes de gerar ou alterar o comportamento dos preços no período analisado. 4.3 Os dados da oferta A produção de automóveis no Brasil A partir do gráfico abaixo, é possível observar que em 2009 ocorreu uma queda (-1,7%) na produção de veículos, visto que em 2008 a produção de automóveis foi de 3,21 milhões, valor que supera em 37 mil unidades a produção de 2009. Mesmo com o cenário adverso observado em 2008, a produção de veículos foi a maior da história, superando o antigo recorde observado em 2007. É interessante observar a nítida desaceleração da produção de automóveis a partir de agosto de 2008, que se intensifica em dezembro com uma queda na produção de 47,14% em relação ao mês anterior, e um desempenho 53,77% inferior ao observado em dezembro 2007. Com relação às vendas de automóveis, pode-se observar que a retração do crédito ocorrida em função da falência do Lehman Brothers em setembro de 2008 gerou um impacto significativo, pois as vendas de automóveis sofreram forte queda em outubro (-10,94%) e novembro (-25,66%), voltando a apresentar crescimento positivo em dezembro (9,16%), principalmente devido às medidas do governo de garantir liquidez no mercado e reduzir as alíquotas do IOF e IPI. Figura 28 – Produção total de Autoveículos e Vendas de Autoveículos nas concessionárias (unidades) – Jan/08-Dez/09. Fonte: ANFAVEA.Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Em 2009, o mercado de automóveis foi, em grande parte, sustentado pelos incentivos fiscais do governo federal. Os dados sugerem que a política fiscal expansionista do governo gerou resultados interessantes, visto que a queda na produção (-1,7%) e venda (-0,01%) de autoveículos em 2009 foi apenas marginal, podendo ser considerada como um cenário de estabilidade na produção e venda. A partir das figuras 28 e 29, pode-se observar a interação das leis de oferta e demanda. Quando a produção está acima das vendas, ocorre a formação de estoques e, quando as vendas estão acima da produção, os estoques se reduzem. Entre julho e novembro de 2008 (figura 26), por exemplo, as vendas parecem se situar em patamares inferiores aos da produção, fato que fica evidenciado pela elevação dos estoques no mesmo período, em destaque na figura 27. A análise da oferta e demanda é particularmente importante para o setor agrícola. A oferta agrícola não tem capacidade de responder rapidamente aos incentivos da demanda, pois o ciclo de produção não pode ser acelerado, ou até mesmo alterado, depois de iniciado. Já no setor industrial, existe a possibilidade de, por exemplo, se ampliar o horário de produção, ou até mesmo utilizar maquinários mais eficientes que irão resultar em uma produção maior. Na agricultura, além de não ser possível alterar o ciclo de produção, existe uma importante variável que não é controlável: o clima. Desta forma, os estoques representam uma margem de segurança e, sempre que estão abaixo de um nível considerado ótimo pelo mercado, pode ocorrer uma inflação nos preços futuros, visto que os agentes podem criar expectativas de que não haverá produção e estoques suficientes para atender à demanda futura. Isso se explica devido ao fato de que quando a demanda está superior à produção, segundo a lei da oferta e demanda, os preços devem subir. Figura 29 – Estoque de Autoveículos (unidades). Fonte: ANFAVEA. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Os níveis da produção industrial A Pesquisa Industrial Mensal (Produção Física) do IBGE produz indicadores de curto prazo relativos ao comportamento do produto real das indústrias extrativa e de transformação, tendo como unidade de coleta as empresas que possuem unidades locais registradas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, e reconhecidas como industriais pelo Cadastro Central de Empresas do IBGE. As variações na produção física industrial por categorias de uso no ano de 2008 (tabela 6) é uma nítida fotografia do impacto da crise internacional do Subprime no setor industrial brasileiro. Observa-se que nos dados deste ano em particular, para todas as categorias de uso, a queda na produção física foi significativa. Os bens de consumo duráveis são artigos de consumo de vida útil longa, como automóveis, televisões, mobiliário e os principais eletrodomésticos. Já os bens de consumo não duráveis são representados pelos artigos de vida útil mais curta, como alimentação, vestuário e combustíveis (gasolina e álcool hidratado). Os bens de capital e os bens intermediários são utilizados para a produção de outros bens. A diferença entre eles é que os bens de capital não são inteiramente consumidos no processo produtivo, como é o caso dos bens intermediários. Um lingote de aço (bem intermediário) que será manufaturado em um torno mecânico (bem de capital) para tornar-se um parafuso, por exemplo, será totalmente consumido ao final do processo. Já o torno mecânico poderá ser utilizado em inúmeros processos até a sua depreciação total. Grosso modo, pode-se dizer que os bens intermediários são as matérias-primas, e os bens de capital são as máquinas utilizadas na produção de bens intermediários e bens finais. A expansão da produção de bens de capital e intermediários é condicionada ao crescimento do consumo. Assim, qualquer queda ou simples nivelamento na procura por bens de consumo (duráveis, semi-duráveis e não duráveis) implica em significativa queda na produção de bens de capital e bens intermediários. Historicamente se observa que as indústrias que produzem bens duráveis são mais afetadas pelas crises econômicas em comparação com as que se dedicam aos bens semi-duráveis e não duráveis. Este fato é comprovado na crise de 2008, quando a maior queda acumulada no ano foi para os bens duráveis (-46,9%)7, enquanto que a menor redução (-5.5%) foi para os bens semi-duráveis e não duráveis. Tabela 7 – Produção Física Industrial - Brasil 2008 Categorias de uso Mês jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 Bens de capital 173,83 179,44 183.64 187,33 175,42 190.78 192.15 Bens intermediários 223,74 123,52 122,72 121,62 121,86 124,7 126,02 Bens de consumo 123,91 121,75 123,78 123,1 122.8 125,21 124,78 Bens de 17445 176.92 179,59 176,72 172,47 185,72 273,74 consumo duráveis Semi-duráveis e não duráveis 113,63 120,21 122,38 111,04 111,94 114,47 113,97 Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física. Nota: Índice de base fixa mensal com ajuste sazonal (Base: média de 2002=100). O ajuste realizado pela indústria de bens de capital e bens intermediários, devido à crise, foi feito em grande parte nos meses de novembro e dezembro. A forte restrição de liquidez (crédito) gerou uma queda abrupta do consumo de bens duráveis, principalmente automóveis, fato que reverteu as expectativas dos empresários quanto à trajetória da demanda futura, e fez com que a maioria dos planos de aumento de capacidade produtiva (compra de novas máquinas) fosse cancelada ou, pelo menos, adiada. Ou seja, como grande parte dos automóveis é vendida por meio de financiamentos, e o principal canal de contágio da crise no Brasil foi via crédito, a quedas nas vendas de bens duráveis, entre eles os automóveis, impactaram fortemente as expectativas empresariais quanto aos níveis do consumo futuro, fazendo com que os mesmos desistissem de apostar no crescimento da demanda que vinha ocorrendo até o fim do segundo trimestre de 2008. O box a seguir retrata a realidade vivida pela indústria brasileira, principalmente a automotiva, ao final do quarto trimestre de 2008. Velocidade reduzida A crise financeira atinge todos os elos da cadeia produtiva do setor de automóveis, um dos mais pujantes da economia brasileira Nos últimos cinco anos, o setor automotivo foi um dos símbolos do crescimento da economia brasileira. Entre 2003 e 2008, venderam- se mais carros no Brasil do que em toda a década de 90. Mas esse setor pujante, que representa 6,5% do PIB e emprega 1,5 milhão de pessoas, agora treme sob o impacto da crise financeira global. Em dois meses, as montadoras no Brasil viram o faturamento cair 15%, tiveram de dar férias a 45 000 funcionários e acumulam 80 000 veículos em seus pátios e concessionárias. Elas cancelaram a produção de 400 000 carros, até recentemente encomendados para o Natal. As montadoras, contudo, são apenas um dos elos numa ampla cadeia produtiva. Para cada emprego criado em uma delas, treze vagas são abertas em outras empresas. São ao todo quarenta tipos de negócio, agrupados em seis grandes núcleos. As histórias que aparecem nestas páginas são contadas por pessoas ligadas a cada uma das principais etapas da produção – da fundição de aço e zinco para confeccionar peças para o motor às montadoras, concessionárias e financeiras. Todos sentem o impacto da crise, em maior ou menor grau. "De uma hora para outra, o segmento que ajudou a alavancar o PIB brasileiro por tanto tempo viu-se pedindo ajuda", resume o especialista Marcelo Cioffi. A crise do setor automotivo brasileiro acontece em paralelo à derrocada das três maiores montadoras dos Estados Unidos. A Ford, a General Motors e a Chrysler registraram nos últimos meses queda de 30% nas vendas, demitiram 5 000 funcionários e suplicam ao governo um empréstimo de 34 b ilhões de dólares para evitar a falência, pedido que tramita no Congresso americano. Também no Brasil, o governo federal e o do estado de São Paulo liberaram 8 b ilhões de reais para manter aquecido o mercado de automóveis.Mas é preciso diferenciar o que acontece nos dois países. No mercado americano, a crise não é de hoje. O carro é um bem de consumo universalizado nos Estados Unidos: há um automóvel nas ruas para cada dois americanos. A demanda que surgiu nos últimos tempos foi por modelos mais econômicos, mas as empresas locais não souberam explorar essa oportunidade. Perderam espaço para as concorrentes coreanas e japonesas, que, além de ser mais ágeis, produzem carros com custos até 40% menores. Em 2007, a Toyota apresentou um lucro de 12% nos Estados Unidos, enquanto a GM teve prejuízo de 2%. O Brasil vive um momento diverso. Aqui, apenas uma em cada oito pessoas tem carro. Mesmo com a crise que se avolumou no último trimestre, o setor automotivo deve registrar um crescimento de 8% neste ano. Isso ainda é crescimento de encher os olhos, ainda que fique distante da média de 20% dos anos recentes. No Brasil, a Ford e a GM são empresas rentáveis, que enviam lucros à matriz. O setor automobilístico nacional não vive uma crise de identidade, como acontece nos Estados Unidos, mas sofre com a contração do crédito, que foi efeito imediato do desarranjo nas finanças mundiais. Os 8 bilhões de reais saídos dos cofres públicos têm como finalidade irrigar o sistema de financiamento para a compra de veículos. No Brasil, cerca de 70% dos carros são vendidos por meio de financiamento. Desde que a crise começou, bancos e financeiras ligados às concessionárias ficaram mais cautelosos na concessão de crédito. Se antes não pediam comprovação de renda para abrir um financiamento, hoje exigem que a prestação não comprometa mais do que um quarto do salário mensal. "Estamos fugindo das lojas situadas em bairros e cidades mais pobres", diz Sérgio Cipovicci, diretor do setor responsável pelo financiamento de carros no banco HSBC. O resultado da escolha dos clientes a dedo é que as vendas despencaram, principalmente as de veículos populares. As linhas 1.0 caíram 20% e, pela primeira vez em treze anos, representaram menos da metade de carros vendidos em outubro. "A dificuldade de obter financiamento espanta primeiro a classe que mais depende dele para comprar – e também a que mais produz vendas", afirma Letícia Costa, vice-presidente da Booz & Company. O freio brusco na concessão de crédito teve um efeito direto sobre as montadoras e as concessionárias, que lidam com o consumidor final. Mas outras empresas ligadas ao mercado automotivo não escaparam ilesas. Algumas tiveram seus pedidos cancelados de uma hora para outra. "Trabalhávamos no ritmo máximo de produção e agora estamos a passo de tartaruga", explica Devanir Brichesi, dono de uma empresa de fundição de metais. Em outros casos, foi preciso alterar o foco dos negócios. Hoje, metade da produção da Bridgestone Firestone, uma das maiores fornecedoras de pneus do país, se destina diretamente aos clientes que vão trocar o pneu do carro usado. "Antes, eles quase não faziam diferença no nosso faturamento", diz um dos diretores da empresa. Especialistas acreditam que as vendas poderão acelerar novamente caso as linhas de crédito sejam desobstruídas. Por isso, empresas bem preparadas para enfrentar um período de instab ilidade não abandonaram a aposta no mercado brasileiro. A Magneti Marelli, uma das maiores fabricantes de autopeças do mundo, acredita que o Brasil é o país com o maior potencial, dos dezesseis onde atua. "Não vamos interromper nossos planos de expandir os negócios por aqui", afirma o italiano Virgilio Cerutti, presidente da empresa no país. Fonte: Revista Veja, Edição 2090 10 de dezembro de 2008 Marcos Todeschini Utilização da capacidade instalada A forte queda ocorrida na produção, em virtude da crise, provocou um alto grau de ociosidade na indústria brasileira. Um dos importantes indicadores do grau de ociosidade das indústrias brasileiras é o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) produzido pela FGV. Os indicadores de capacidade instalada são seguidamente utilizados como proxy para o cálculo do PIB potencial8, e para revelar a possibilidade e capacidade de resposta das firmas às condições de mercado. Ele é mensurado em percentuais e busca representar o nível de utilização média da capacidade instalada das indústrias brasileiras. A título de exercício didático, é apresentado abaixo o gráfico com as curvas da capacidade instalada da indústria geral brasileira e também da indústria de produtos farmacêuticos e veterinários. Novamente é possível observar a diferença no comportamento da evolução dos dados para duas variáveis de um mesmo setor da economia. Figura 30 – Util ização da Capacidade Instalada - Ind. Geral e Ind. de Produtos Farmacêuticos e Veterinários (%). Fonte: FGV. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Observa-se que a indústria de produtos farmacêuticos e veterinários pouco foi influenciada pela crise internacional se comparada ao restante das indústrias. Isso se dá devido ao fato de que os bens produzidos pela indústria farmacêutica e veterinária provavelmente são pouco sensíveis (inelásticos) a variações na renda, preços e expectativas. Não é difícil acreditar nesta hipótese, visto que é improvável que um indivíduo reduza ou deixe de consumir os remédios de que necessite em função de uma crise. Provavelmente, o consumidor irá restringir ou adiar o consumo de bens duráveis que normalmente são mais sensíveis a variações na renda, preços e expectativas. 4.4 Os dados da demanda Crédito disponível na economia brasileira Em dezembro de 2009, o volume total de operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional alcançou a marca história de 45% do PIB, superando, desta forma, o patamar de concessão de crédito anterior ao aprofundamento da crise financeira internacional em setembro de 2008. Analisando a política monetária dos últimos anos, pode-se supor que a condução da política creditícia do Banco Central tem sido orientada em sentido expansionista, visto que a distensão de mecanismos visando à redução dos custos de intermediação financeira e a ampliação da oferta de crédito favorecem para esse objetivo, assim como o decréscimo nos recolhimentos compulsórios, além da diminuição da alíquota do IOF para pessoas físicas. O crédito é um importante canal de transmissão da política monetária e foi determinante para a retomada do crescimento econômico brasileiro no período recente. Na figura abaixo, verifica-se a existência de três ondas que retratam a significativa volatilidade que o crédito apresentou no Brasil desde 1990. A primeira onda, compreendida entre 1990 e 1994, caracteriza-se por possuir movimentos de contração e expansão do crédito. Esta dinâmica é decorrente dos planos de estabilização frustrados que foram baseados em congelamentos de preços que, somente por curtos períodos, controlavam a inflação. Este ambiente de incerteza criado pela instabilidade dos preços repercute, invariavelmente, na redução da oferta e demanda por crédito. Na segunda onda (1995 a 2002), nos anos que se seguiram à estabilização da inflação (Plano Real), o crescimento do crédito foi interrompido devido aos efeitos de recorrentes choques externos, como a crise do México (1995), da Ásia (1997), da Rússia (1998), além da repetição dos episódios ocorridos nestes países emergentes, desta vez no Brasil em 1999. A partir de 2003, teve início a terceira onda da evolução do crédito no Brasil, que é caracterizada pelo mais longo ciclo expansionista da história recente do país. O longo período de estabilidade e liquidez internacional observado no período pós 2002 e as reformas no Sistema Financeiro Nacional foram determinantes para o presente ciclo de expansão. Figura 31 – Operações de crédito do sistema financeiro em relação ao PIB (Em %). Fonte: BCB-DEPEC. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Segue abaixo um box na qual o Banco Central apresenta a evolução recente do nível de crédito disponível na economia brasileira. A análise deste indicador é de fundamental importância, pois o consumo de diversos bens duráveis, como automóveis, geladeiras e televisores é altamente correlacionadocom o nível de crédito disponível na economia. II - Operações de crédito do sistema financeiro As operações de crédito do sistema financeiro totalizaram R$1.410 b ilhões em dezembro, registrando crescimentos de 1,6% no mês e de 14,9% em doze meses. Com esse resultado, o estoque total de empréstimos passou a representar 45% do PIB, ante 45,1% em novembro e 39,7% em dezembro de 2008. O desempenho no ano configura significativa recuperação do mercado de crédito, após a contração verificada no final de 2008 e início de 2009. A retomada das contratações ocorreu primeiramente no crédito a pessoas físicas, que ao final do ano se apresenta em condições semelhantes às observadas em 2007 e 2008, tanto com respeito aos volumes negociados, quanto em relação às taxas de juros e de inadimplência. As operações destinadas às empresas seguem em recuperação gradual, registrando trajetórias favoráveis de redução de juros e de inadimplência, requisitos fundamentais para o restabelecimento do seu ritmo de expansão. A evolução dos empréstimos, em dezembro, foi sustentada pelo desempenho das carteiras com recursos direcionados, impulsionadas pelo crescimento dos financiamentos do BNDES e pela manutenção da trajetória expansionista do crédito habitacional. O crédito a pessoas físicas apresentou desaceleração, associada à disponib ilidade adicional de recursos provenientes do décimo terceiro salário, favorável à quitação de dívidas de curto prazo. No segmento de pessoas jurídicas, a recuperação manteve-se em passo moderado, com continuidade da retração nas operações referenciadas em moeda estrangeira. O saldo de empréstimos e financiamentos com recursos livres, correspondente a 67,6% do total de crédito do sistema financeiro, atingiu R$953,1 b ilhões em dezembro, resultado de elevações de 0,8% no mês e de 9,4% no ano. O desempenho mensal foi condicionado pelo aumento de 1,2% nos empréstimos destinados a pessoas físicas, cujo saldo totalizou R$470,7 b ilhões. As carteiras de crédito das pessoas jurídicas cresceram 0,5% no mês, ao somar R$482,4 b ilhões, evolução condizente com o comportamento observado nos financiamentos referenciados em recursos domésticos, que registraram alta de 1,1% no período. Fonte: BCB – (Nota para a imprensa 21/01/2010 - Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro) Devido ao incremento do volume de crédito disponível na economia brasileira ao longo dos anos, é de se esperar que o número de consultas aos cadastros de proteção ao crédito tenha seguido a mesma tendência. Ou seja, na medida em que o acesso ao crédito é ampliado e facilitado, os comerciantes acabam utilizando um número maior de vezes os instrumentos necessários para a concessão de crédito, como as consultas aos cadastros especializados9 do SPC e Usecheque. Sempre que possível, a obtenção das observações deve ser planejada previamente. Para muitos casos, o número de observações e o intervalo de amostragem são determinados segundo os objetivos do investigador. Caso o objetivo do pesquisador seja comprovar a hipótese do parágrafo acima, o qual diz que o incremento do volume de crédito na economia é um dos fatores que gerou a elevação do número de consultas aos cadastros de proteção ao crédito, basta observar nas figuras 29 e 30 que esta hipótese será aceita. Contudo, caso o objetivo seja identificar se realmente ocorreu a noticiada hipótese de que o mercado brasileiro estava receoso quanto à possibilidade de ocorrer uma onda de calote após a eclosão da crise do Subprime, é possível que este fato não seja facilmente verificado através dos dados de consultas aos cadastros especializados. Figura 32 – Número de consultas ao SPC e Usecheque (dez/91-dez/09). Fonte: BCB. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Analisando a figura acima, observa-se que as variáveis (consultas ao SPC e Usecheque) parecem oscilar com um elevado grau de correlação em todo o período (dez/91-dez/09). Também é possível supor que os dados oscilam entre um mínimo, que ocorre geralmente em janeiro ou fevereiro, e um máximo, que ocorre em dezembro. Assim, pode-se afirmar que ocorre uma variação sazonal, cujo período aproximado é de doze meses, fato que torna complexo observar movimentos fora de um padrão nesta série de dados. Através do devido tratamento estatístico ou econométrico destes indicadores, é provável que se possa demonstrar a existência de um movimento preventivo por parte dos comerciantes, temerosos de uma possível onda de inadimplência no período posterior à eclosão da crise do Subprime. Pesquisa Mensal do comércio (PMC) O indicador de demanda representado pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE permite acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no Brasil. A PMC investiga a receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista. No gráfico abaixo, é apresentada a evolução da variação acumulada em 12 meses10 no período compreendido entre novembro de 2002 e novembro de 2009 para o Brasil e Rio Grande do Sul. Observa-se que em 2005 o comércio varejista gaúcho apresenta um descolamento da trajetória do restante do país. Este fato se deve à maior estiagem dos últimos 40 anos ocorrida no Rio Grande do Sul em 2005, que fez com que a produção de soja, uma das principais culturas temporárias do estado, caísse de 5.541.714 toneladas em 2004 para 2.444.540 toneladas em 2005. Neste ano, o PIB gaúcho caiu 2,8%, revelando seu alto grau de dependência do setor agropecuário na estrutura produtiva da economia sulina. Figura 33 – Volume de vendas no comércio varejista – nov/02-nov/09 (Var. % acumulada em 12 meses). Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Os dados do gráfico acima sugerem que o varejo brasileiro foi impactado pelo cenário internacional turbulento já em outubro de 2008. O volume de vendas acumulado ano de 2008 (9,13% BR e 6,44% RS) apresentou um resultado semelhante ao observado em 2007 (9,68% BR e 7,0% RS), ano considerado ótimo para o varejo brasileiro. Já o resultado para o ano de 2009, acumulado em 12 meses até novembro11 (5,29% BR e 1,63%), retrata bem a perda de fôlego da capacidade de consumo da população brasileira e gaúcha durante os meses subsequentes à crise desencadeada em setembro de 2008. A série de gráficos apresentados abaixo busca explicitar novamente a diferença de comportamentos entre variáveis de um mesmo setor da economia, assim como ocorreu nos dados da produção industrial, no qual se observou uma significativa diferença no comportamento dos dados da indústria de bens de consumo duráveis dos bens de consumo não duráveis e semiduráveis. Figura 34 – Volume de vendas no comércio varejista por tipo de atividade – Jan/08- Nov/09 (Var. % acumulada em 12 meses). Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr. Na sequência de gráficos acima, algumas informações devem ser destacadas, pois não é em qualquer variável econômica que a influência de crises é facilmente perceptível. Analisando somente a evolução do volume de vendas do segmento varejista de livros, jornais, revistas e papelaria, assim como do segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos, é possível sugerir que não houve crise para o setor varejista brasileiro. Outra informação possível de se observar na sequência de gráficos é a evidente correlação existente entre o consumo de dois bens complementares (veículos e combustíveis), visto que a persistente queda do consumo de veículos e motocicletas gerou, com certa defasagem, uma desaceleração nas vendas de combustíveis e lubrificantes. Ao realizar análises sobre o consumo, é importante se ter noção de conceitos econômicos básicos para a real compreensão da realidade econômica. A elasticidade é um bom exemplo, pois certos produtos ou setores são inelásticos, ou seja, mesmo ocorrendo variações na renda do consumidor, ou ainda, nos preços de bens complementares ou substitutos,seu consumo (no caso do produto) ou produção (no caso do setor) permanecem estáveis. Abaixo segue um box que usa o conceito de elasticidade para auxiliar a análise econômica e criação de cenários futuros: -RETROSPECTIVA: APÓS INÍCIO NEBULOSO, 2009 FECHA PROMISSOR AO ALGODÃO SAFRAS (23) - O mercado brasileiro de algodão iniciou 2009 com uma perspectiva pessimista, que se estendeu até meados de setembro. Apesar das temporadas anteriores não terem sido de preços firmes, a tendência parece ter sido alterada. A reversão do quadro negativo internacional, bem como a desvalorização do dólar frente a outras moedas internacionais, trouxe de volta uma perspectiva positiva à fibra para a safra 2009/10. Diferente de produtos que variam pouco com a situação econômica da população - como o feijão e o arroz -, a fibra reage fortemente a mudanças das condições (variáveis) fundamentais do mercado. Vestuário e tecidos são bens que, em momentos de crise, tendem a ficar em segundo plano na cesta do consumidor. A queda da demanda por parte da indústria em tempos de turbulência é natural, devido ao comportamento racional do consumidor em relação a estes bens. Com o retorno do cenário financeiro estável e a volta do crescimento das economias mundiais, a procura volta a andar nos eixos, sendo previstos retrações dos estoques mundiais. Tal perspectiva já foi sentida na China que, em função da demanda interna aquecida, manteve condições especiais para a importação, a fim de garantir o suprimento interno da fibra. Com a crise financeira internacional deflagrada em meados de 2008, as linhas de crédito encolheram e a demanda da indústria se retraiu, determinando a queda de área do algodão em boa parte dos principais produtores mundiais. No Brasil não foi diferente. Em 2008/09, a queda da área atingiu 20%. Para esta temporada, a tendência menos pessimista aponta para uma estab ilidade da área. O Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) espera mais uma temporada de recuo, estimado em 7%. A fraqueza da pluma da temporada passada até mesmo sentenciou o desaparecimento do plantio em algumas áreas, como no Paraná. Contudo, passada a tempestade trazida pela crise, os tempos são de bonança e as receitas com a fibra começam a se aproximar dos custos. A produtividade esperada para a temporada 2009/10 tende a ser superior a 2008/09, pois projeta-se um clima mais favorável. Na temporada passada, muitos dos principais estados produtores sofreram com o excesso de umidade, que comprometeu boa parte dos baixeiros das plantas. O setor, que apostou pouco em adensado em 2008/09, aponta para um 2009/10 com alargamento deste tipo de algodão, a fim de reduzir custos com insumos. Embora não seja a panacéia, este tipo de cultivo pode ser encarado como um nicho de mercado, com um pouco mais de sujeira, porém com bom HVI. A combinação de forte revés da demanda, a quarta redução consecutiva da produção mundial e a desvalorização do dólar já estão fornecendo fundamentos altistas para o primeiro semestre de 2010. Este resultado está refletido no bom desempenho dos contratos futuros de Nova York. Essa maior procura também foi verificada no mercado brasileiro, impactando fortemente nos preços. Embora acredita-se que a oferta interna seja suficiente, muitos compradores voltaram com mais força ao mercado entre outubro e dezembro, para garantir estoques e continuar a produção no período de entressafra. O consumo de algodão, bastante afetado no curto prazo com a crise, agora será beneficiado pela característica de ser uma das commodities que tem a recuperação mais rápida quando a economia mostra sinais de estab ilização e reaquecimento. Assim, após temporadas duras ao produtor, 2009/10 promete preços médios mais convidativos. Além disso, mais um ano de recuo das exportações norte-americanas pode propiciar que o algodão brasileiro se aproveite desta brecha no market share mundial. Fonte: Retrospectiva do Algodão - Agência Safras Rafael Pentiado Poerschke (Analista de Mercado) Rodrigo Ramos (Jornalista) 4.5 Indicadores do mercado de trabalho Abaixo é apresentada a evolução da taxa de desemprego do Brasil, representada pelas seis maiores regiões metropolitanas do país. Esta taxa é a relação entre o número de pessoas desocupadas (procurando trabalho) e o número de pessoas economicamente ativas. A População Economicamente Ativa (PEA) compreende o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a soma da população ocupada e da população desocupada. Ou seja, quando se fala que a taxa de desemprego está em 10%, por exemplo, significa dizer que um décimo da PEA está desocupada. A PEA de dezembro de 2009 para as regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre estava constituída por um universo de 23,4 milhões de brasileiros e indicava para este mês uma taxa de desemprego de 6,8%, significando que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas destas regiões metropolitanas estavam em condições de trabalhar, estavam procurando emprego, mas não tiveram sucesso. Figura 35 – Taxa de desemprego - Brasil – Nov/02-Nov/09 (Em %). Fonte: IBGE. Elaboração: Sergio Leusin Jr. A crise financeira internacional parece não ter afetado o mercado de trabalho no Brasil em 2009 e 2008. A taxa de desemprego caiu de 7,45% em 2007 para 6,79% em 2008. Já em 2009, a taxa permaneceu praticamente igual (6,8%) à de 2008, apesar de uma elevação da PEA, ou seja, o número de ocupados cresceu acima do número de pessoas que passaram a fazer parte do mercado de trabalho. É importante salientar que a taxa apresentada em 2008 e 2009 foi a menor desde 2002, quando o instituto começou a utilizar novos parâmetros de medição. 4.6 Indicadores de inflação A inflação é o processo de alta generalizada e contínua no nível geral de preços dos bens e serviços negociados em um país e que se traduz na gradativa redução do poder de compra da moeda nacional. Normalmente, a inflação ocorre em função de desequilíbrios no mercado de certos bens, refletindo um excesso de demanda em relação à oferta, dados os preços correntes estabelecidos, ou ainda, devido a choques externos. O cálculo da inflação é efetuado com base em índices de preços que quantificam o preço médio de um conjunto de bens e serviços comprados pelos consumidores. No Brasil os principais indicadores de inflação são o IGP- M e IGP-DI, calculados pela FGV e o INPC, e o IPCA, calculado pelo IBGE. A diferença entre os índices está nos produtos que são incluídos na pesquisa, no público que é afetado pela variação dos seus preços, e no período de medição dos valores. O IGP-M registra a inflação de preços variados, desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais. Ele é muito usado para reajustar preços de aluguéis e de tarifas públicas como a energia elétrica. A diferença entre o IGP-M e o IGP- DI está no período de coleta, enquanto o primeiro é medido do dia 21 de um mês ao dia 20 do mês seguinte, o segundo é mensurado entre os dias 1° e 30 do mês de referência. A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 6 salários mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas das 11 regiões metropolitanas pesquisadas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia). O IPCA serve de referência às famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários mínimos, para qualquer fonte de rendimento, e residentes nas áreas urbanas das regiões metropolitanas utilizadas pelo INPC. O IPCA é utilizado pelo Banco Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação. A meta de inflação está fixada em 4,5%. Abaixo, é apresentada a evolução de indicadores de inflação desde o primeiro ano após o Plano Real até 2009. Antes do Plano Real, o salário do trabalhador chegava ao final do mês com seu poder de compra significativamentecomprometido, pois os preços dos bens e serviços haviam crescido absurdamente. Até então, um dos remédios muito utilizados para combater a inflação era a indexação. Contudo, a utilização deste instrumento acabou por tornar-se um elemento realimentador da inflação, pois a inclusão de mecanismos de reposição automática na formação de preços e salários tornava todo o processo um inútil caminhar em círculos devido à antecipação desta dinâmica pelos agentes econômicos. Tabela 8 – Indicadores de Inflação – (Variação percentual acumulada em 12 meses) Período 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 INPC 21,98 9,12 4,34 2,49 8,43 5,27 9,44 14,74 10,38 6,13 IPCA 22,41 9,56 5,22 1,65 5,94 5,97 7,67 12,53 9,30 7,60 IGP-DI 14,77 9,34 7,48 1,70 18,98 9,81 10,40 26,41 7,67 12,14 IGP-M 15,24 9,20 7,74 178 20,10 9,95 10,38 25,31 8,21 12,41 Fonte: IBGE e FGV. Em 1995, ainda se observa a inflação em patamares elevados, mas com uma tendência de queda que se observou até 1998. O ano de 1999 foi um período de transição para a economia brasileira. Em janeiro, chegava ao ápice a grave crise cambial iniciada após a eclosão da crise russa, ocasionando no Brasil a desvalorização do real e o abandono do regime de câmbio administrado. Devido a este acontecimento, em junho de 1999, o Banco Central instituiu o regime de política monetária de metas para a inflação. Este sistema trouxe mais racionalidade e transparência à condução da política monetária, estimulando o debate sobre temas relacionados às causas da inflação, assim como evidenciando os benefícios gerados pela adoção de uma postura preventiva por parte da autoridade monetária. Pelo sistema de metas de inflação, que tem como referência o IPCA, o Banco Central tem por objetivo fazer com que a inflação fique a mais próxima possível do centro da meta. Em 2008 e 2009, a meta central de inflação foi de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode oscilar entre 2,50% e 6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida. Em 2008, o IPCA acumulado foi de 5,9%, percentual que, embora esteja dentro do intervalo, ainda está acima da meta central de 4,5%. Nos últimos 7 anos, o IPCA apresentou dois movimentos diferentes. Entre 2002 e 2006, se observa uma redução sistemática do índice, passando de 12,53% no acumulado do ano em 2002 para 3,14% em 2006. Ocorre a reversão desta tendência de queda do índice com a elevação observada em 2007 (4,46%) e em 2008 (5,90%). No ano de 2007 e até meados de 2008, se observava um forte impacto dos preços dos alimentos e do petróleo sobre a inflação brasileira. A partir da eclosão da crise, as perspectivas de crescimento mundial se reduziram, fazendo com que o descompasso entre oferta e demanda mundiais de alimentos e petróleo, principalmente no mercado futuro, se reduzisse. Este movimento de reversão de expectativas, ao lado da forte desaceleração econômica global, reduziram a pressão destes itens sobre a inflação, fato que pode ser evidenciado pela desaceleração sistemática de todos os índices em 2009. 4.7 Indicação de Sites Site Oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: www.ibge.gov.br Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br 4.8 Conceitos Importantes Termos Básicos Bens de consumo duráveis Recolhimentos compulsórios Bens de consumo não duráveis Política Monetária Bens de capital Política Fiscal Bens intermediários Sazonalidade Bens Complementares http://www.ibge.gov.br http://www.bcb.gov.br http://www.fazenda.gov.br REFERÊNCIAS FGV. Fundação Getúlio Vargas. Instituto Brasileiro de Economia. Disponível em: <http://www.fgv.br/>. Acesso em: 29 dez. 2009. Retrospectiva: após inicio nebuloso, 2009 fecha promissor ao algodão. Disponível em: <http://www.safras.com.br>. Acesso em: 29 dez. 2009. Operações de credito do Sistema Financeiro. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 29 jan. 2010. Velocidade Reduzida. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/101208/p_158.shtml>. Acesso em: 29 dez. 2009. __________ 6 O Relatório de Inflação é uma publicação trimestral do Banco Central do Brasil, que tem como objetivo avaliar o desempenho do regime de metas para a inflação e delinear um cenário prospectivo sobre o comportamento dos preços, explicitando as condições das economias nacional e internacional que orientaram as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) com relação à condução da política monetária. 7 Para se obter as variações percentuais acumuladas com índices de base fixa deve- se:=(t/t-1)-1)*100. 8 PIB Potencial é a quantidade máxima de bens e serviços finais que uma economia é capaz de produzir considerando que todos os seus fatores produtivos estão sendo util izados à plena capacidade. Ele não indica o limite de crescimento de uma economia, mas a sua capacidade de crescer sem gerar pressão inflacionária no longo prazo. 9 Muitas vezes chamados de Cadastros Negativos, eles mostram o perfi l do consumidor e a presença de dívidas não pagas em seu nome. São util izados para proteger os comerciantes dos maus pagadores. 10 A uti l ização do volume acumulado em 12 meses é particularmente interessante, pois permite analisar uma importante proxy da demanda agregada entre períodos diferentes sem preocupar-se com deflacionamentos necessários em função da evolução dos preços. 11 Última informação disponível (01/02/2009). http://www.fgv.br/ http://www.safras.com.br http://www.bcb.gov.br/ http://veja.abril.com.br/101208/p_158.shtml SOBRE OS AUTORES ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO Doutor em Economia pela University of Sussex (Reino Unido). Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS. Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). ANGÉLICA MASSUQUETTI Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS. Professora do Programa de Pós- Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). GISELE SPRICIGO (org.) Doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). MÁRCIO ELOIR SCHWEIG Mestre em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor e Coordenador do Curso de Comércio Exterior da UNISINOS. RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.) Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora tutora da Escola de Negócios da educação à distância da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR Mestre em Economia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UNISINOS. TIAGO WICKSTROM ALVES Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Economia Rural pela UFRGS. Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor: Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor: Pe. José Ivo Follmann, SJ Diretor da Editora Unisinos: Pe. Pedro Gilberto Gomes Editora Unisinos Avenida Unisinos, 950, 93022-000, São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil editora@unisinos.br www.edunisinos.com.br © dos autores, 2016 2016 Direitos de publicação da versão eletrônica (em e-book) deste livro exclusivosda Editora Unisinos. P957 Economia introdutória: Princípios de economia e de análise de conjuntura [recurso eletrônico] / Gisele Spricigo, Raquel Negrisoli Fernandez Cabral (orgs.). – 2. ed. – São Leopoldo : Ed. UNISINOS, 2016. 1 recurso online – (EaD) ISBN 978-85-7431-747-2 1. Economia. 2. Microeconomia. 3. Macroeconomia. I. Spricigo, Gisele. II. Cabral, Raquel Negrisoli Fernandez. III. Série. mailto:editora@unisinos.br http://www.edunisinos.com.br/ CDD 330 CDU 330 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Bibliotecária: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252) Coleção EAD Editor: Carlos Alberto Gianotti Acompanhamento editorial: Jaqueline Fagundes Freitas Revisão: Wilson Chagas Junior Editoração: Guilherme Hockmüller A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação danosa à cultura. Foi feito depósito legal. Economia introdutória: princípios de economia e de análise de conjuntura Folha de rosto Sumário Apresentação Capítulo 1 – Princípios básicos de economia Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da atual conjuntura econômica Sobre os autores Informações técnicas Contracapa