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ECONOMIA INTRODUTÓRIA: PRINCÍPIOS DE ECONOMIA E
DE ANÁLISE DE CONJUNTURA
ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO
ANGÉLICA MASSUQUETTI
GISELE SPRICIGO (org.)
MÁRCIO ELOIR SCHWEIG
RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.)
SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR
TIAGO WICKSTROM ALVES
2ª edição
Editora Unisinos, 2016
SUMÁRIO
Apresentação
Capítulo 1 – Princípios básicos de economia
Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia
Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio
internacional
Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da
atual conjuntura econômica
Sobre os autores
Informações técnicas
APRESENTAÇÃO
O presente livro é uma obra de introdução às Ciências Econômicas.
Adicionalmente, o texto trabalhará com a aplicação da economia, com
exemplos da economia brasileira e internacional. O livro aplica-se às
atividades acadêmicas da área temática da Economia, em diversos cursos
de graduação do ensino superior. Assim sendo, o livro primeiramente
trabalhará com conceitos básicos de economia. Logo após, conceitos
fundamentais de microeconomia e de macroeconomia. Ao final, buscar-
se-á a aplicação dos conteúdos estudados, através de uma breve análise
da atual conjuntura econômica. Seguindo essa ordem, o livro tem como
objetivo discutir os pontos a seguir listados, de acordo com os capítulos
que se seguem:
Temática a ser desenvolvida no
Capítulo:
Princípios básicos de economia 1
Noções de microeconomia 2
Noções de macroeconomia e teorias do comércio
internacional
3
Aplicação dos conteúdos estudados – uma breve análise da
atual conjuntura econômica
4
É importante destacar o objetivo do presente texto. Como trata-se de
um livro de introdução às Ciências Econômicas, o mesmo trabalhará com
muito conceitos, tais como demanda, oferta e equilíbrio de mercado. O
importante é entender esses conceitos e não apenas decorá-los. Isso
porque as Ciências Econômicas acabam fazendo parte da vida de todas
as pessoas, tantos as pessoas físicas (indivíduos) como as pessoas
jurídicas (organizações, empresas, instituições etc.). O princípio disso,
pode-se dizer, está no fato de os indivíduos terem necessidades. Em
outras palavras, todas as pessoas precisam se alimentar e precisam de
bens e serviços (dos mais variados) para suprir as suas necessidades.
Esses bens e esses serviços são, na maioria dos casos, ofertados
(oferecidos) pelas pessoas jurídicas. Com essa breve explicação, pode-se
perceber que as pessoas físicas têm demandas e as pessoas jurídicas
ofertam bens e serviços. Essa troca, na economia de mercado da qual
fazemos parte, ocorre através da compra e da venda de bens e serviços.
Isso ocorre a todo o momento, em todos os lugares do mundo e com
todas as pessoas. Dessa forma, o presente texto irá trazer os conceitos
econômicos que deverão ser uma base calcificada de conhecimento para
atividades futuras, tendo as Ciências Econômicas como instrumento
estratégico. Após essa breve introdução, vale destacar algumas
considerações sobre o por quê de se estudar economia:
entender como funcionam os fluxos de recursos entre pessoas
físicas e jurídicas, dentro do sistema capitalista de mercado;
compreender sobre como as pessoas físicas fazem escolhas e
os motivos que levam a termos diferentes tipos de consumidores,
com diferentes comportamentos, na sociedade;
identificar e analisar uma série de indicadores e informações que
sirvam de base para a tomada de decisão, tanto nos
investimentos pessoais como nas organizações, e, ainda,
entender o processo de alocação de recursos nas organizações;
ler e fazer uso das informações sobre economia que aparecem
nos meios de comunicação todos os dias. Na maior parte dos
dias da semana, a manchete dos jornais versa sobre economia;
compreender e disseminar do papel do Estado enquanto
regulador e organizador das atividades econômicas;
entender e visualizar as perspectivas econômicas no Brasil e
internacionalmente, compreendendo as relações econômico-
financeiras entre os países;
compreender o papel da economia na sociedade, apresentando
os seus conceitos básicos e medidas de variáveis econômicas;
compreender as diferentes estruturas de mercado e a sua
influência no âmbito das organizações.
Dessa forma, essas são algumas razões práticas para demonstrar
a importância do estudo da economia, nas mais diversas áreas. A seguir,
uma breve apresentação de cada capítulo.
O primeiro capítulo busca apresentar os principais conceitos de
economia, começando, principalmente, pelo entendimento do que
significam as Ciências Econômicas. Também são apresentados os
conceitos de tipos de bens, de macro e de microeconomia e, por fim,
alguns princípios básicos para se estudar economia e para se entender
como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam
tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la. Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04:
pessoas respondem a incentivos.
O segundo capítulo versa sobre noções de microeconomia. A
microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se
assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades
individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á com conceitos fundamentais de
microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema econômico; fluxos
econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços, (b) fatores
de produção, (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro;
curvas de possibilidade de produção; rendimentos decrescentes e os
custos sociais crescentes; fundamentos de oferta e demanda e, ainda,
elasticidade. Também serão trabalhadas: a Teoria da Produção, incluindo
custos de produção, e as estruturas de mercado.
A microeconomia e a macroeconomia compõem as duas grandes
áreas do estudo da Economia. A macroeconomia, que será abordada no
terceiro capítulo, se difere da microeconomia principalmente pelo uso da
soma das variáveis econômicas individuais para obter dados agregados
da economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas
como consumo agregado, investimento agregado e produto agregado são
determinantes no estudo da macroeconomia. Desta forma, as análises
macroeconômicas utilizam instrumentos teóricos e empíricos para
monitorar a economia, realizar previsões econômicas, auxiliar na
elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da
economia em geral.
Por fim, o quarto e último capítulo tem o objetivo de definir, qualificar
e quantificar os principais indicadores econômicos do país.
Reconhecidamente, tais indicadores são fundamentais tanto para
propiciar uma melhor compreensão da situação presente e o
delineamento das tendências de curto prazo da economia quanto para
subsidiar o processo decisório. O capítulo trabalhou com os
agrupamentos mais convencionais dos diferentes indicadores e sempre
que possível, especificou, para cada um deles, aspectos como conceito,
finalidade, metodologia de determinação e instituição produtora.
Vale destacar que ao final de cada capítulo tem-se alguns itens
adicionais, tais como: indicação de sites, sugestões de leitura
complementar, as referências utilizadas ao longo do texto, bem como o(s)
autor(es) de cada capítulo. A seguir, será apresentado o minicurrículo dos
autores, e logo após será dada sequência aos capítulos.
Boa leitura!
Gisele Spricigo
CAPÍTULO 1
PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ECONOMIA
Gisele Spricigo
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Sérgio Leusin Júnior
O capítulo apresenta os principais conceitos de economia, começando,
principalmente, pelo entendimento do que significam as Ciências Econômicas.
Também são apresentados os conceitos de tipos de bens, de macro e de
microeconomia e, por fim, alguns princípios básicos para se estudar economia e para se
entender como as pessoas tomam as decisões: Princípio 01: pessoas enfrentam
tradeoffs. Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para obtê-la.
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem. Princípio 04: pessoas respondem a
incentivos.1.1 Introdução
Para a compreensão dos fatos econômicos, é necessário ter o
conhecimento dos fundamentos básicos que regem a ciência econômica.
Por mais que o estudo da economia seja multifacetado, existe uma série
de ideias centrais que abrangem todo o escopo desta ciência. Estas
ideias aparecerão de forma recorrente ao se analisar os problemas
econômicos e devem ser internalizadas pelo estudante de economia.
Porém, antes de iniciarmos nos conceitos propriamente, cabe
reconhecer: o que é economia? Abaixo, tem-se um conceito bastante
completo:
A economia é uma ciência social que estuda como os indivíduos e a
sociedade decidem (ou escolhem) empregar os recursos produtivos
escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre
várias pessoas e grupos de sociedades, a fim de satisfazer as
necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998).
Esse conceito pode ser explicado parte a parte, como será feito a
seguir:
a economia é uma ciência social. Dentro das grandes áreas do
conhecimento, as Ciências Econômicas fazem parte das Ciências
Sociais Aplicadas;
os indivíduos e a sociedade, a todo momento, em todos os
lugares, está fazendo escolhas sobre o que comprar, onde investir
etc.;
essas escolhas estão pautadas pelas necessidades humanas;
os recursos são escassos, e não abundantes, como será visto a
seguir, na Lei da Escassez.
A economia pode ser entendida em duas grandes áreas. A
microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se,
assim, essas unidades econômicas como se fossem unidades
individuais. Já a macroeconomia estuda o funcionamento da economia
como um todo, ou seja, ocupa-se do comportamento global do sistema
econômico.
A partir dessa breve introdução, destacam-se os elementos que são
objetos de estudo das Ciências Econômicas. Esses elementos serão
abordados, analisados e muitas vezes citados ao longo de todo o livro.
São eles:
escolha;
escassez;
necessidades;
recursos;
produção;
distribuição.
Ao longo do texto, também serão mencionados, diversas vezes,
bens e serviços. É importante entender a que bens e serviços são todos
aqueles criados para satisfazer as necessidades. Os bens podem ser
tocados, analisados, esquematizados e contados. Os serviços não podem
ser tocados nem estocados pois são intangíveis, ou seja, eles existem
quando são produzidos. Tem-se os seguintes tipos de bens:
Segundo seu caráter:
Bens livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes.
Não se pode apropriá-los, como o ar, o calor, o sol, a chuva etc.
Bens econômicos: são bens escassos em quantidade, dada sua
procura, e apropriáveis. Os bens econômicos têm valor monetário. Quase
todos os bens são bens econômicos.
Segundo sua natureza:
Bens de capital
São aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não
se desgastam quando utilizados (com exceção da depreciação), como, por
exemplo, uma máquina ou uma impressora.
Bem de consumo
Atende às necessidades humanas. São classificados em bens
duráveis (móveis, por exemplo) e não-duráveis (alimentos, por exemplo).
Segundo sua função:
Bem intermediário
São aqueles agregados ou transformados na produção de outros
bens e que são consumidos totalmente durante o processo produtivo. Por
exemplo: cola no calçado.
Bem final
São aqueles vendidos para consumo e/ou para utilização final.
Exemplo: calçado.
E ainda: bens privados, que são produzidos e possuídos
privadamente. Bens públicos são aqueles cujo consumo é feito por vários
indivíduos ao mesmo tempo (por exemplo, um parque).
1.2 A lei da escassez
A palavra economia deriva do termo grego oikos que significa lar,
podendo ser interpretado como o estudo do lar, ou ainda, o estudo do
ambiente, que inclui todos os fatores que afetam a vida dos organismos
que de alguma forma interagem nesse ambiente. Deve-se ter em mente a
diferença entre o termo casa, que diz respeito à parte física da moradia, e o
termo lar, que é mais amplo e trata de questões relacionadas à qualidade
do convívio e sobrevivência das pessoas ou organismos que compõem
este lar. Desta forma, pode-se definir a ciência econômica como a ciência
que busca compreender e encontrar soluções para problemas originados
da interação entre estes organismos que constituem o ambiente ou lar.
Este ambiente, de maneira ampla, pode ser compreendido como
um composto social formado por famílias, empresas e governo. É
importante lembrar que os problemas deste composto social são
problemas originados por pessoas e que irão afetar exclusivamente a vida
de pessoas. Assim, ao resolver um problema econômico, se está
resolvendo um problema na vida das pessoas.
Os problemas originados da interação entre estes agentes são em
função de um princípio humano fundamental: os indivíduos têm desejos e
necessidades ilimitadas1 (prazer, felicidade, amor, saúde etc.) e a natureza
tem recursos disponíveis para suprir estas necessidades de maneira
limitada (água, matérias-primas etc.). Neste ponto entra em cena talvez o
principal problema econômico: a escassez. Assim, pode-se dizer que
economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam seus
recursos escassos para produzir bens e de como serão distribuídos estes
bens entre os vários indivíduos.
A interação entre as duas forças que geram os problemas
econômicos (desejos ilimitados versus recursos limitados) é regida por
um ser humano muitas vezes definido por economistas da Escola
Clássica de Economia como o Homo Economicos ou Homem Econômico.
Esta categoria de indivíduo é definida como um homem perfeitamente
racional e capaz de fundamentar suas decisões exclusivamente por razões
econômicas, preocupando-se em obter o máximo de benefício com o
mínimo de sacrifício de modo imediato. Ele agiria racionalmente no
sentido de maximizar sua riqueza e assim introduzir novos métodos
produtivos para enfrentar a concorrência no mercado (SANDRONI, 1999). 
Na figura 1 é mostrado de forma sintetizada o objeto de estudo da
Economia.
Figura 1 – A origem dos problemas.
Fonte: SANDRONI, 1999. Elaboração própria dos autores.
Em síntese, o estudo da economia diz respeito à maneira como
grupos de pessoas interagem entre si enquanto realizam suas atividades
cotidianas. Desta forma, o comportamento da economia reflete o
comportamento das pessoas que a compõem, e este fato torna de
fundamental importância conhecer os princípios que definem as tomadas
de decisão individuais. Estas decisões precisam ser feitas tendo em vista
que os recursos são escassos, o que torna impossível atender a todas as
necessidades humanas. Portanto, a sociedade precisa fazer suas
escolhas, assim como os indivíduos no seu dia-a-dia.
1.3 Princípios da Tomada de Decisão Individual
Uma importante contribuição para a compreensão dos princípios
fundamentais de economia foi realizada por Mankiw (2001) ao sistematizar
a maneira como são solucionados os problemas originados em função da
escassez dos recursos. 
Como as pessoas tomam decisões:
Princípio 01: pessoas enfrentam tradeoffs;
Princípio 02: o custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la;
Princípio 03: pessoas racionais pensam na margem;
Princípio 04: pessoas respondem a incentivos.
Princípio n° 1: pessoas enfrentam tradeoffs
Em Economia, tradeoff significa uma situação de escolha
conflitante que é ocasionada em função da escassez de recursos. Um
exemplo de recurso escasso é o tempo. O estudante desta disciplina,
por exemplo, tem tempo limitado para a realização de todas as tarefas
que gostaria de fazer. Provavelmente seja mais agradável passar os
dias na beira de um rio pescando do que estudando em seu quarto,
contudo a vida exige mais do que isso e algumas horas de estudo
serão necessárias para o seu crescimento profissional. Portanto,
para um aluno tirar boas notas, ele terá de abdicar algumas horas de
suas atividades de recreação para dedicar-se aos estudos. Assim,
um estudante, ao decidir entre estudos ou lazer, está enfrentando um
tradeoff, pois não pode realizar as duas tarefas ao mesmotempo.
Desta forma, mais horas de lazer consequentemente implicam em
menos horas de estudo. 
Princípio n° 02: O custo de alguma coisa é o que você desiste para
obtê-la
O princípio n° 1 gera um desdobramento, pois existirá um custo
caso o aluno decida passar todas as horas disponíveis do seu dia
pescando à beira de um rio ao invés de estudar para as provas, e este
custo provavelmente será uma nota baixa na avaliação. Ou seja, o
custo de alguma coisa, ou o custo de uma decisão, é o custo do que
se abre mão para poder obtê-la. Esta frase pode ser reescrita da
seguinte maneira: para quase todas as decisões tomadas existe um
bônus, mas também um ônus. Ou ainda: independentemente da
opção escolhida, existirá um custo e um benefício em função desta
decisão. Em Economia, este princípio é muito utilizado e talvez seja
um dos mais importantes. Ele é chamado de custo de oportunidade.
Um exemplo clássico de custo de oportunidade, que é
seguidamente utilizado em planos de negócios, é a ponderação da
realização ou não de um investimento empresarial. O empresário
pode perguntar-se qual será a renda que ele irá acrescentar ao seu
faturamento ao realizar um investimento de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) na sua empresa, por exemplo. Ele terá no mínimo duas opções
para avaliar: uma opção seria depositar este valor em uma conta
poupança, por exemplo, na qual ele terá um determinado rendimento;
a outra opção seria ele investir na empresa comprando ou renovando
as máquinas para a produção de mercadorias. Caso o rendimento
gerado pelo investimento na empresa for menor que o rendimento da
poupança, é provável que ele escolha depositar este valor na
poupança e, desta forma, não realizar o investimento na empresa.
Assim, o rendimento da poupança é o custo de oportunidade de
investir este valor na empresa.
Princípio n° 03: Pessoas racionais pensam na margem
Provavelmente o aluno pescador, citado nos princípios
anteriores, não irá nem decidir passar todas as horas do seu dia
pescando, nem ocupar todo o seu dia estudando. Com certeza ele irá
ponderar o benefício de mais uma hora de estudo ou mais uma hora
de pescaria. Ele não será radical ao ponto de escolher ficar o resto de
sua vida só pescando ou só estudando. É provável que este aluno
busque avaliar qual o benefício de algumas horas adicionais de
estudo para sua vida acadêmica, assim como avaliar qual o ganho de
algumas horas adicionais de pescaria na sua qualidade de vida.
Desta forma, pode-se afirmar que em muitos casos as pessoas
tomam as melhores decisões quando pensam na margem,
determinando o quanto a mais de esforço é preciso despender para
se obter maiores benefícios.
Princípio n° 04: pessoas respondem a incentivos
Imagine que o preço da carne tenha disparado nos
supermercados e que o aluno do exemplo seja um bom pescador.
Mesmo considerando sua pescaria como uma atividade recreativa, de
certa forma este aluno está colaborando com sua família ao levar
peixes para serem consumidos no almoço. Assim, a elevação do
preço da carne acaba por incentivar para que o mesmo continue
pescando, ou até mesmo aumente o número de horas que se dedica
a esta atividade e consequentemente reduza suas horas de estudo. A
principal lição que deve ser internalizada deste princípio é que novos
acontecimentos podem fazer com que as pessoas reavaliem suas
escolhas, começando pelo princípio 1 (pessoas enfrentam tradeoffs),
passando para uma reavaliação do custo de oportunidade (princípio 2
- quanto será perdido ao optar entre duas alternativas conflitantes) e,
finalmente, verificando quanto a mais se obterá da alternativa a ao
abrir mão de certa quantia da opção b (princípio 3 – pessoas
racionais pensam na margem)
É facilmente percebido nas sociedades o equivocado conceito de
que é possível viver sem a ajuda de outros ou sem a interação entre as
pessoas. Todas as pessoas (países) do mundo precisam da ajuda de
outras pessoas (países) para sobreviver, por mais rica que seja esta
pessoa ou país. Quando você acorda pela manhã, provavelmente um
celular com tecnologia importada do Oriente te desperta. Ao sentar-se à
mesa do café, irá consumir frutas que foram colhidas por pessoas; e ao se
deslocar para o seu trabalho ou escola, alguém tornou possível o seu
transporte, seja o governo municipal que lhe forneceu as vias públicas
municipais, seja o frentista que abasteceu seu carro ou o motorista do seu
ônibus. Assim, acreditar na ideia de vida isolada ou independente dos
outros é ilusão. A primeira lição que um indivíduo precisa internalizar para
compreender os fatos econômicos é acreditar que não é possível o
convívio isoladamente. Seja uma pessoa, cidade ou país, todos
necessitam da ajuda de outros.
Com a ajuda destes conceitos básicos, será possível compreender
a maneira particular como os problemas econômicos são tratados e como
se deve pensar para resolvê-los. O economista sempre deve analisar as
alternativas disponíveis, verificar o(s) custo(s) (e não só os benefícios)
originado(s) das decisões tomadas, assim como buscar entender como
os eventos estão relacionados. A Economia é uma ciência como todas as
outras, contudo possui elementos das ciências exatas e humanas, e o seu
laboratório é a vida real. Desta forma, o economista nunca deve descuidar
do seu objeto principal, que é a busca pelo bem-estar das sociedades.
1.4 Indicação de Sites
Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
1.5 Conceitos Importantes
Termos Básicos
Escassez Homo Econômicos
tradeoffs Custo de oportunidade
Tipos de bens
REFERÊNCIAS
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best
Seller, 1999.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007.
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de
economia: equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva,
1998.
MANKIW, N. GREGORY. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
MANKIW N. G. Introdução à Economia: princípios de micro e
macroeconomia. 1 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia.
São Paulo: Pioneira, 1999.
http://www.bcb.gov.br
http://www.fazenda.gov.br
VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001.
VASCONCELLOS, M. A.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São
Paulo: Saraiva, 1998.
VASCONCELLOS, M. A.; TROSTER R. L. Economia básica. 4. ed. São
Paulo: Atlas, 1998.
WESSELS, W. J. Economia. São Paulo: Saraiva, 1998.
__________
1 Os desejos humanos ou necessidades humanas, de acordo com a pirâmide de
Maslow, começam com as funções biológicas e fisiológicas básicas como alimentação,
conforto físico, descanso, lazer, etc., que ao serem supridos fazem originar desejos mais
complexos como autonomia, identidade, estabil idade, aceitação entre seus pares entre
outros.
CAPÍTULO 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE MICROECONOMIA
Gisele Spricigo
Márcio Eloir Schweig
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Tiago Wickstrom Alves
A microeconomia ocupa-se da análise do comportamento das unidades
econômicas, como famílias, consumidores e empresas. Considera-se assim essas
unidades econômicas como se fossem unidades individuais. Dessa forma, trabalhar-se-á
com conceitos fundamentais de microeconomia; equilíbrio; as tarefas do sistema
econômico; fluxos econômicos; os mercados de (a) fatores e de bens e serviços; (b)
fatores de produção; (c) bens e serviços de consumo; (d) mercado financeiro; curvas de
possibil idade de produção; rendimentos decrescentes e os custos sociais crescentes;
fundamentos de oferta e demanda e, ainda, elasticidade. A teoria da produção e custos
de produção será abordada, com vistas a ampliar a magnitude de ganhos para as
empresas. Também, ao final, definem-se as estruturas de mercado e visualizam-se as
barreiras à entrada em novos mercados.
2.1 Introdução à MicroeconomiaA teoria microeconômica estuda o comportamento dos agentes
econômicos individuais, isto é, das decisões dos indivíduos como
consumidores, como proprietário dos fatores de produção, e das suas
decisões como proprietário das firmas.
É comum encontrar a expressão comportamento da firma nos livros
de economia. Esta é utilizada para expressar o comportamento dos
empresários quando atuam no mercado. Da mesma forma, tem-se a
expressão comportamento do consumidor, que abarca um amplo leque
temas econômicos relacionados ao comportamento dos agentes
enquanto consumidores, por exemplo: racionalidade econômica, teoria
dos incentivos, informação, entre outros.
Assim, a microeconomia é o ramo das ciências econômicas que
busca explicar o comportamento dos consumidores e das firmas no
mercado. Desta forma, ela analisa também a estrutura de mercado, como
a formação de cartéis, monopólios e o comportamento destes.
2.3 Equilíbrio
O conceito de equilíbrio é um dos mais importantes em análise
econômica. A expressão equilíbrio significa uma posição onde as forças
se anulam e, em caso de qualquer alteração, as forças de mercado
restabelecerão o equilíbrio. Na figura 2, tem-se um pêndulo que ajuda a
compreender a noção de equilíbrio. Em qualquer posição que soltarmos o
pêndulo, como na posição A, por exemplo, ele oscilará e movimentos cada
vez menores e acabará na posição de equilíbrio E. Assim é a ideia de
equilíbrio muitas vezes discutida em microeconomia: sabe-se posição do
mercado, e caso determinada alteração ocorra, pode-se prever o que irá
ocorrer, mas o tempo e os movimentos intermediários não são discutidos.
Assim como expresso no exemplo do pêndulo, não se explicita quantos
movimentos e em que tempo se obterá a posição estática E, mas sabe-se
que lá será o equilíbrio. Essa é a definição de equilíbrio estático analisado
em economia.
Figura 2 – Equilíbrio.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.3 As Tarefas do Sistema Econômico
A economia é, em última análise, a ciência da escassez, pois ela
tenta suprir necessidades ilimitadas dos seres humanos com recursos
produtivos limitados. Logo, ela dedica-se a como maximizar a satisfação
dos consumidores, dada a limitação de renda, e a maximização do lucro
dos produtores, dada a limitação de insumos e preço dos fatores de
produção.
Como as necessidades humanas têm que ser satisfeitas com uma
limitada quantidade de recursos, uma função primordial da economia é
estabelecer a melhor combinação dos recursos disponíveis para atender
essas necessidades, que são divididas em três categorias: primárias,
secundárias e coletivas.
a. Necessidades primárias: são aquelas essenciais à
sobrevivência humana. Isto é, são necessidades comuns a
todas as pessoas, que são alimentação, saúde, habitação e
transporte, entre outras.
b. Necessidades secundárias: são aquelas que aparecem à
medida que ocorre o crescimento econômico. Ao contrário das
primárias, não se instalam repentinamente, pois levam algum
tempo para se incorporarem aos hábitos. Tais necessidades são
também chamadas de supérfluas e tendem a serem
consideradas essenciais na medida em que passam a fazer
parte da cesta de consumo dos indivíduos como, por exemplo,
telefone celular.
c. Necessidades coletivas: são aquelas que surgem da
necessidade concernente à socialização dos indivíduos,
necessitando, assim, de serviços que muitas vezes são
coletivos. Exemplo desses são: manutenção da ordem pública,
os serviços de água, luz e telefone, a construção e manutenção
de estradas etc.
PRIMÁRIAS SECUNDÁRIAS COLETIVAS
Alimentação
Saúde
Habitação
Transporte
Supérfluas Serviços Públicos
Dessa forma, o sistema econômico tem como tarefas atender
essas necessidades. Logo, o problema econômico pode ser resumido em
três questões:
o que produzir?
quanto produzir?
como produzir?
Estas questões abrangem praticamente todo o campo de Análise
Econômica.
Deve-se ressaltar que toda decisão econômica que seja realizada
em uma economia com uma certa quantidade de habitantes, um certo
grau de tecnologia, determinado número de fábricas e ferramentas e
determinada quantidade de terra, potência energética e recursos naturais,
ao decidir o que, quanto e como, estará de fato decidindo para quem
produzir com os recursos existentes.
2.4 Fluxos Econômicos
Um sistema econômico tem seu funcionamento embasado na
utilização de seus recursos disponíveis para produção de um conjunto de
bens e serviços que serão utilizados por outras unidades produtoras ou
colocados à disposição dos consumidores finais para satisfação de suas
necessidades. A geração dessa produção é realizada basicamente através
dos seguintes recursos:
terra (recursos naturais);
trabalho;
capital;
tecnologia.
Assim, a natureza constitui-se no primeiro fator de produção. São as
matérias primas de muitos setores industriais na produção de novos
bens, além de recursos energéticos como hidrográficos, petróleo, gás etc.
Esses recursos são denominados de Terra ou Recursos Naturais em
economia.
O trabalho refere-se ao emprego de mão-de-obra utilizado na
produção de bens e serviços.
O capital compreende o conjunto e fábricas, estradas, máquinas,
equipamentos e instalações, assim como o conhecimento tecnológico da
sociedade. Na atualidade, o fator capital humano passou a ser mais
relevante que o capital físico e tem sido objeto de estudo em muitas áreas
das ciências sociais.
Dado que a produção de bens e serviços é orientada pelas
necessidades humanas e exige a utilização de fatores de produção,
então, pode-se representar o fluxo destes recursos e produtos através do
que se denomina de fluxo circular da economia. Esses fluxos econômicos
correspondem a um fluxo real (de bens e serviços) e um fluxo monetário,
que representa a contrapartida, em valor, dos bens, serviços e fatores
utilizados na economia por um intervalo de tempo. A figura 3 exemplifica
esse fluxo.
Figura 3 – Fluxo Circular em uma Economia a Dois Setores.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Os Mercados de Fatores e de Bens e Serviços
Um mercado é o lugar onde compradores e vendedores encontram-
se para comprar e vender seus recursos, bens e serviços. De outra forma,
o mercado é onde vendedores e compradores, por meio de suas
interações reais ou potenciais, definem preços. No passado, o termo
referia-se a uma localização geográfica, mas atualmente não há limites
para determinados mercados, pois o avanço tecnológico facilitou o contato
entre vendedores e compradores sem que eles sequer se vejam. O preço,
que é uma medida de escassez, é determinado pela interação entre a
oferta e a demanda. Denomina-se de preço de mercado aquele preço que
prevalece em um mercado competitivo. Isso não significa que todos os
produtos foram ou serão vendidos ao preço estabelecido, mas que os
preços de comercialização oscilam em torno dele.
O Mercado de Fatores de Produção
Neste mercado, as famílias ofertam seus recursos: terra, trabalho e
capital. Enquanto isso, as empresas (unidades produtoras) demandam
(procuram) tais recursos para alocarem na produção de bens e serviços.
O Mercado de Bens e Serviços de Consumo
No mercado de bens e serviços, são ofertados produtos aos
consumidores que passaram por um processo de produção ou extração e
serviços aos consumidores. Esses produtos e serviços são denominados
de produtos e serviços finais.
Mercado Financeiro
É o conjunto do mercado monetário e de capitais. Esse mercado é
responsável pela intermediação entre agentes superavitários (famílias) e
deficitários (empresas). A transformação da poupança (que é um
vazamento do consumo) em investimento (que é a aquisição de máquinas
e equipamentos para a produção) é possível pela existência do mercado
financeiro.
A alocação dos fatores na determinação dos bens e serviços finais e
nos bens de capitais determina as possibilidades de produção de uma
economia. Se houver maior alocação dos fatores para a produção de bens
finais, reduzindo os investimentos, a economia irá crescer mais
lentamente do que uma outra economia onde a poupançae o investimento
fossem proporcionalmente maiores. Essa relação pode ser observada na
curva de possibilidade de produção.
2.5 Curvas de Possibilidade de Produção
A Curva de Possibilidade de Produção, também chamada de
Fronteira de Possibilidade de Produção, pode ser melhor compreendida
através de uma representação gráfica, que evidencia o problema de
realização da produção, dados os recursos produtivos.
Por exemplo, supondo que uma economia possa produzir, com a
utilização plena de seus recursos e na máxima eficiência técnica, 50
unidades de bens de capital, ela não teria mais capacidade de produção.
Isso significa que não teria disponibilidade de recursos para a produção
de bens de consumo. No outro extremo, se produzisse 100 unidades de
bens de consumo, então, não teria recursos para a produção de bens de
capital. Logo existe uma necessidade de, ao produzir mais de um, reduzir
a produção de outro, dados os recursos existentes. Essas possibilidades
de produção é que se denomina de Curva de Possibilidade de Produção,
que pode ser observada na figura 4.
Figura 4 – Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Pontos notáveis das Curvas de Possibilidade de Produção
Se uma economia estiver operando no ponto O, ela estará
operando em pleno desemprego, embora isso possa ser apenas
dito na teoria, inexistindo na prática, porque os recursos nesta
situação não seriam utilizados para quaisquer fins, de modo que
a produção seria reduzida a zero.
Se estiver operando nos pontos A, B ou C, significa que a
economia esta operando com pleno emprego dos fatores
disponíveis.
Se estiver operando no ponto D, significa que os recursos não
estão plenamente empregados, e estamos com capacidade
ociosa.
No ponto E, a produção é impossível com os recursos e a
tecnologia existentes na economia. Esse ponto só pode ser
atingido no longo prazo através da expansão dos recursos e/ou
tecnologia. Logo, sempre que houver variação nos fatores de
produção, haverá deslocamento da curva de possibilidade de
produção.
Assim, dada a escolha entre bens finais e de capitais, dada uma
curva de possibilidade de produção, se estará determinando:
o que e em que quantidades produzir;
o processo de maximização da produção dada pelos recursos
disponíveis;
a taxa de crescimento da economia.
Deslocamento das curvas de possibilidade de produção
Essas variações ocorrem somente no longo prazo em função de
variações tecnológicas, e/ou aumento da força de trabalho e/ou de
alterações no capital. Graficamente:
Figura 5 – Deslocamento da Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Deslocamento Positivo
Ocorre em situações normais de uma economia, os recursos
disponíveis com expansão de melhorias.
Deslocamento Negativo
Ocorre em situações anormais, a redução ou desqualificação dos
recursos disponíveis em uma economia.
Qual a causa essencial das diferentes taxas de deslocamento positivo da
curva de possibilidade de produção?
Depende da parcela de produção que é destinada à acumulação
(investimentos).
Acumulação → Processo de expansão e melhoria dos recursos
de produção já existente (humanos e patrimoniais).
2.6 Rendimentos Decrescentes2 e os Custos Sociais Crescentes
Lei dos Rendimentos Decrescente, também chamada de
produtividade marginal decrescente, é todo o movimento de intensificação
da produção para um determinado ramo, levando à redução da
produtividade em função da existência da perda de eficiência dos fatores.
Se todos os recursos da produção se expandirem a curva de
possibilidade de produção poderia apresentar rendimentos constantes ou
crescentes, porém se qualquer um dos fatores permanecer fixo o
resultado da expansão será a uma taxa decrescente.
Figura 6 – Rendimentos Decrescentes sobre a Curva de Possibil idade de Produção.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
Na medida que se amplia a produção de bens de consumo (em
proporções constantes), necessita-se reduzir-se cada vez mais a produção
de bens de capital. Ou seja, cada unidade adicional de bens de consumo
exigirá uma redução cada vez maior na produção de bens de capital, como
pode ser visto na passagem do ponto A para o ponto B e de B para C na
figura 5. Destaca-se que no exemplo dado na figura 4 não existe variação
na disponibilidade dos recursos, mas sim na destinação que é dada a
eles.
Curva de Restrição Orçamentária
Representa o máximo que o indivíduo pode adquirir de duas
mercadorias, dada sua renda monetária e o preço das mercadorias.
Conforme o gráfico abaixo, se toda a renda de um indivíduo fosse utilizada
para a aquisição do produto Y, Y0 seria o máximo que ele poderia adquirir
dada sua renda e o preço de Y; já se toda a renda fosse utilizada para a
aquisição do bem X, X0, representaria o máximo que ele poderia adquirir
de X dada a sua renda e o preço da mercadoria X. Assim unindo os pontos
Y0 e X0, temos a reta de restrição orçamentária.
Figura 7 – Curva de restrição orçamentaria.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração: Raquel Cabral.
A reta de restrição orçamentária é de suma importância na teoria do
consumidor, pois é com base nela que se determina a curva de demanda.
Isso ocorre por que os indivíduos tentarão maximizar suas utilidades
(satisfação obtida no consumo dos bens) dadas a renda e os preços dos
bens. Assim, sempre que houver alteração no preço dos bens, o
consumidor irá deslocar seu consumo em direção ao bem que se tornou
mais barato. Além disso, sempre que um ou mais bens apresentarem
redução real de preços, o consumidor terá um incremento real de renda,
pois ele poderá consumir as mesmas quantidades anteriores e lhe sobra
renda. Logo, uma demanda modificada por alteração de preços dos
produtos sempre apresentará um efeito de substituição (modificação das
quantidades consumidas em busca do bem mais barato) e um efeito de
renda.
2.7 Fundamentos de oferta e demanda
2.7.1 Demanda
Na teoria da microeconomia, a demanda ou procura é a quantidade
de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos e capazes
de adquirir por determinado preço e em determinado momento.
Determinantes da Demanda
Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de demanda
Renda Monetária
Deslocamento da curva de
demanda
Gosto ou preferência do
consumidor
Preço de outras mercadorias
Lei da Demanda
“A quantidade demandada de uma mercadoria é uma função inversa
dos preços desta mercadoria”. Ou seja, à medida que o preço de uma
determinada mercadoria se eleva, a quantidade demandada dessa
mercadoria diminui. Sendo assim, sua representação gráfica apresentará
uma inclinação negativa.
Curva de Demanda
Ela é obtida a partir dos níveis de utilidade que se obtêm ao
consumir determinado bem em diversas quantidades. Como a utilidade
marginal é decrescente, então quantidades maiores terão níveis de
utilidades adicionais cada vez menores. Graficamente:
Figura 8 – Rendimentos Decrescentes e a Curva de demanda.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Observe que quando o consumidor consume a primeira unidade do
produto, ele obtém um elevado nível de satisfação (representado pela
altura da barra no número 1 de quantidades), e na medida em que ele vai
consumindo unidades adicionais, o prazer que ele sente pelo consumo
dessa unidade adicional é inferior ao obtido na unidade anterior. Como
exemplo, pense em você em um dia de calor. Se você tomar um picolé, terá
um nível de satisfação ao consumir o primeiro picolé. Mas ele poderá não
ser suficiente para aplacar seu calor e você decide comprar o segundo. O
nível de satisfação total que você obterá será maior, mas o prazer que o
segundo picolé lhe proporcionará será inferior ao obtido no primeiro.
Uma vez que a utilidade marginal (UMg) é decrescente, então, a
curva de demanda é necessariamente decrescente, ou seja, terá uma
inclinação negativa e passará pelos limites de satisfação obtida em cada
unidade consumida, conforme representado na figura 7 pela linha que uneas barras de utilidade para os diferentes níveis de consumo. Isso permite
formular a denominada Lei da Demanda, que significa que quantidades
maiores só serão consumidas de os preços forem menores.
Exceção a Lei de Demanda - Bens de GIFFEN
Só houve um exemplo na história, em que ocorreu a existência de
um bem de GIFFEN, que foi na Inglaterra - ou mais propriamente na
Irlanda - com as batatinhas inglesas. É que a depressão era tão grande
que uma parte da população recebia tão pouco que só podia comer
batatinha. À medida que o preço dessas diminuíam, diminuía também seu
consumo, pois surgia a possibilidade das pessoas adquirirem outros
produtos em função da economia com o gasto com batatinha e vice-versa.
Demanda agregada
A demanda agregada é a soma das demandas individuas por
aquela mercadoria ou serviço. Sua soma é obtida a partir de cada preço e
somando-se horizontalmente as quantidades demandas àquele preço.
Graficamente:
Figura 9 – Demanda agregada.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Quando qualquer um dos determinantes se altera, que não seja o
preço, coeteris paribus, então, a curva de demanda como um todo se
modifica, e essa alteração denomina-se de variação da demanda. Quando
somente o preço do bem se modifica, haverá alterações nas quantidades
demandadas e não na demanda, isso é, ao longo da curva de demanda já
estabelecida.
Coeteris Paribus
Essa expressão, bastante comum em economia, significa que
exceto as variações que estão sendo explicitamente mencionadas, todas
as demais variáveis permanecem constantes.
2.7.2 Oferta
Podemos definir como: as várias quantidades que os produtores
estão aptos e dispostos a ofertar no mercado, em função dos vários níveis
de preços possíveis, em determinado período de tempo.
A oferta representa o comportamento dos produtores. Logo,
podemos afirmar que os preços sendo maiores, maior será o desejo dos
empresários em oferecer seus produtos e maior será o número de
ofertantes no mercado.
Os elementos que afetam a oferta são:
custo dos insumos: faz com que a oferta tenha alterações nos
preços;
tecnologia: com melhorias na tecnologia, os custos de produção
diminuirão. Isso amplia as condições dos produtores em ofertar
mais com o mesmo preço ou a mesmas quantidades a um preço
menor;
condições climáticas: se tomarmos como exemplo a produção
agrícola, é um fator que pode causar redução ou aumento de
produção;
preço dos bens relacionados: tanto os bens substitutos como
complementares;
preço do bem em questão: quanto mais alto for o preço, mais
incentivos terá a produção.
Resumindo, os determinantes da oferta afetam a função de oferta
da seguinte forma:
Determinantes da Oferta
Preço da mercadoria em questão representa um movimento ao longoda curva de oferta
Custos dos insumos
Deslocamento da curva de oferta
Tecnologia
Condições climáticas
Preço dos bens relacionados
Figura 10 – Curva de Oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Na oferta, não existe como na demanda a Lei da Demanda. Ela é,
em geral, positivamente inclinada, mas poderá apresentar inclinação nula
(zero) e até mesmo negativa. Ainda, a curva de oferta representa o limite
máximo e mínimo, dependendo do sentido analisado.
Máximo: quando uma vez fixados os preços, haverá uma quantidade
máxima de produção para aquele nível de preço.
Mínimo: quando uma vez fixada a quantidade, o preço refletirá o
mínimo que o empresário estará disposto a cobrar por aquela quantidade.
2.7.3 Equilíbrio entre Oferta e Demanda
A interação entre ofertantes e compradores, em um determinado
mercado e para um determinado produto, em concorrência perfeita
(mercados competitivos), leva ao estabelecimento de um preço de
mercado. A esse preço, denominamos de preço de equilíbrio. Essa
interação também define as quantidades comercializadas e diz que o
mercado está em equilíbrio quando as quantidades ofertadas são
consumidas, não havendo, portanto, nem excesso de demanda nem
tampouco de oferta. Qualquer alteração nos fatores determinantes da
oferta ou da demanda levará a alterações no equilíbrio desse mercado.
Vejamos graficamente como ocorre o equilíbrio de mercado.
Figura 11 – Preços e quantidades de equilíbrio entre demanda e oferta.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
Como pode ser observado na figura 10, no equilíbrio tem-se a
igualdade entre demanda e oferta; ou seja, tudo o que foi produzido foi
consumido. Formalmente: Qd=Qo.
Onde:
Qd (Quantidade demandada)
Qo (Quantidade ofertada)
Assim, acima do preço de equilíbrio tem-se excesso de oferta, e
abaixo do preço de equilíbrio tem-se excesso de demanda.
Exemplo
1. Suponhamos que a curva de demanda seja dada pela expressão 
Qd=100 - 10P e a de oferta por: QO=20P - 50, onde P é o preço da
mercadoria. Com essas informações, qual seria o preço e a quantidade de
equilíbrio para esse produto neste mercado?
Solução:
QD=QO
100 - 10P=20P - 50
100 + 50=20P + 10P → 150=30P
150 / 30=P → P=5,00
QD=100 - 10 . 5 → QD=50 ou QO=20 . 5 - 50 → QO=50
Equilíbrio é de 50 quantidades ao preço de $ 5,00.
Deslocamentos da curva de demanda e oferta e o efeito sobre as
condições de equilíbrio de mercado
Conforme destacado anteriormente, a alteração de um dos
determinantes da demanda ou da oferta causará alterações no equilíbrio.
Assim, é preciso compreender como os determinantes afetam a demanda
e a oferta, e como essas alterações afetam o equilíbrio. Inicialmente
destacamos os efeitos sobre as curvas de demanda e de oferta, e depois
agregamos isso nas condições de equilíbrio.
Deslocamentos da demanda
A figura 12 evidencia os deslocamentos da curva de demanda e os
condicionantes para tal movimento.
Figura 12 – Deslocamentos da curva de demanda.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
A figura 13 permite visualizar os deslocamentos da curva de oferta e
os fatores determinantes desses deslocamentos.
Figura 13 – Deslocamentos da curva de oferta.
Fonte: VASCONCELOS, 2001. Elaboração própria dos autores.
Deslocamentos da demanda e oferta e o movimento dos preços
Deslocamento Positivo da Demanda
Um deslocamento positivo na demanda, coeteris paribus, levará a
um aumento nos preços de equilíbrio e nas quantidades, conforme pode
ser observado na figura 14.
Figura 14 – Efeitos do aumento da demanda.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Um deslocamento negativo terá efeito contrário, ou seja, levará a
uma queda nos preços e nas quantidades de equilíbrio.
É preciso destacar que aumentos de renda não necessariamente
aumentam a demanda por um bem. O efeito da renda dependerá se o
bem for inferior, normal ou superior.
Quando houver um aumento de poder aquisitivo, ou aumento real de
renda, as pessoas irão aumentar seu consumo no caso de um bem
normal ou superior, e haverá um deslocamento negativo no caso de um
bem inferior. É em relação a esse comportamento em relação à renda que
os bens são classificados como inferior, normal ou superior.
Ressalta-se que um bem não é por si só inferior, superior ou
normal, mas depende do nível de renda do indivíduo. Isto é, um bem pode
ser inferior para determinado indivíduo, normal para outro e superior para
um terceiro. Por exemplo, a carne moída, denominada de segunda. Ela
pode ser um bem de luxo para alguém muito pobre, normal para outra
classe e inferior para a classe superior de renda.
Deslocamento Positivo da Oferta
O aumento da curva de oferta, coeteris paribus, resultará em uma
queda nos preços de equilíbrio e um aumento nas quantidades de
equilíbrio, como pode ser observado na figura 15.
Figura 15 – Efeitos do Aumento da Oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Deslocamento negativo, ou seja, uma redução da curva de oferta
gera um efeito oposto, ou seja, aumenta os preços e reduz as quantidades
de equilíbrio.
2.8 Elasticidade
É a sensibilidade de variação na quantidade demandada de um
produto em relação a uma variável que afeta a demanda por este bem,
como preço, renda, preço dos bens substitutos e complementares. É uma
medida que relaciona variaçõesproporcionais entre variáveis.
As alterações resultantes das variáveis envolvidas geram uma
elasticidade com denominação específica, que são:
o preço do produto - elasticidade-preço;
a renda - elasticidade-renda;
preço dos outros produtos - elasticidade-cruzada.
2.8.1 Elasticidade - Preço: Preço da Demanda (EP):
É a razão entre a variação porcentual da quantidade demandada de
um bem, dada uma variação porcentual no preço. Ela pode ser medida em
um determinado ponto da curva, como para variações que reflitam um
intervalo de preços.
Elasticidade no Ponto (Ep)
Elasticidade no Intervalo - Utilizado ponto médio (EP)
Atenção
A elasticidade da demanda sempre será negativa, pois existe
uma relação inversa entre preço e quantidade.
Quanto à elasticidade-preço, pode-se dizer que a demanda é:
a. Elástica: quando EP > | 1 |, ou seja, a variação relativa na
quantidade é “mais que proporcional” à variação relativa no
preço.
b. Inelástica: quando EP < | 1 |, ou seja, dada uma variação
porcentual no preço, ocorrerá uma variação porcentual menor na
quantidade
c. Elasticidade Unitária: quando EP=| 1 |, ou seja, a variação relativa
na quantidade é proporcional à variação no preço.
Além das elasticidades mencionadas, uma curva de demanda
poderá ser perfeitamente elástica ou perfeitamente inelástica, conforme
pode-se observar nas figuras que seguem.
Perfeitamente Elástica: quando E P=- ∞ (infinito)
Uma curva de demanda horizontal será extremamente sensível a
preços. Ou seja, um pequeno aumento de preços fará com que os
consumidores deixem de comprar o bem, e uma pequena redução leva a
um elevado aumento das quantidades demandadas. Esse extrema
sensibilidade faz com que a elasticidade tenda ao infinito. A figura 16
evidencia uma curva de demanda perfeitamente elástica.
Figura 16 – Curva de demanda perfeitamente elástica.
Fonte: MANKIW, 2001. Fonte: Elaboração própria dos autores.
Já quando o volume de quantidades demandadas não se altera
com mudanças de preços, então, tem-se uma curva de demanda
perfeitamente inelástica. Um exemplo de bens com demanda muito
inelástica é a de sal. A insulina para diabéticos também é perfeitamente
inelástica. A figura 17 contém uma curva de demanda perfeitamente
inelástica.
Figura 17 – Perfeitamente Inelástica: quando EP=0 (zero).
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
A elasticidade da demanda pode ser calculada quando essa for
uma reta, da seguinte forma:
Figura 18 – Elasticidade calculada.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Ep=B/A
Essa fórmula de cálculo permite visualizar facilmente que quando:
Ep > | 1 |=> Elástica: o segmento A será pequeno e o B grande, logo
a elasticidade será elevada.
Ep=| 1 |=> Unitária: os segmentos possuem o mesmo tamanho.
Ep < | 1 |=> Inelástica: o segmento A será grande e B pequeno,
logo haverá pouca sensibilidade a preços nesse segmento.
Ep=- ∞ - A será zero e B terá um valor elevado. Assim, qualquer valor
dividido por zero tende ao infinito.
Ep=0 - A terá um valor elevado e B será zero. Assim, zero dividido por
qualquer valor será zero.
Logo, como conclusão, pode-se verificar que uma demanda linear
terá diferentes elasticidades ao longo da reta. A figura 19 permite observar
essas elasticidades. Acrescentou-se nessa figura valores para deixar claro
que o ponto intermediário da curva de demanda, que apresenta
elasticidade unitária, está sobre o ponto intermediário do eixo das
quantidades e também dos preços.
Figura 19 – Diferentes elasticidades para diferentes pontos de uma demanda linear.
Fonte: MANKIW, 2001. Elaboração própria dos autores.
Consequências das variações de preço, conforme a elasticidade da
demanda:
Região Elástica: pequena variação no preço acarreta uma variação
proporcionalmente maior nas quantidades. Como consequências:
para o consumidor, aumentos de preços levam à redução dos
gastos;
para o empresário, aumentos de preços levam a uma diminuição
da receita total.
Região Inelástica: uma variação no preço acarretaria uma variação
proporcionalmente menor na quantidade. Como consequências:
Para o consumidor, aumentos de preços levam a aumento dos
gastos;
para o empresário, aumentos de preços levam a um aumento da
receita total.
Com essas informações, podemos vincular Receita Total (RT) com
elasticidade. Como RT=P*Q, então se os preços aumentarem e a região
da demanda for inelástica, a receita total irá aumentar. Na região de
elasticidade unitária, a RT será máxima. Se o aumento de preços estiver
na região elástica, levará à redução de RT. Veja essa relação na figura 20.
Figura 20 – Relação entre elasticidade e Receita Total.
Fonte: PASSOS, 2005. Elaboração própria dos autores.
2.8.2 Elasticidade da Oferta
Tal como a demanda, a elasticidade da oferta mede a relação entre
a variação percentual na quantidade ofertada e a variação percentual no
preço. Em termos matemáticos, a fórmula de cálculo é a mesma, porém
ao invés de considerar as quantidades demandadas, são consideradas
as quantidades ofertadas. A equação a seguir é a mesma apresentada
anteriormente, com exceção de que os valores para Q são agora os
representados na curva de oferta.
Quanto à elasticidade, a oferta pode ser:
a. Elasticidade Unitária: quando a variação percentual no preço
corresponder uma variação percentual na quantidade na mesma
proporção.
b. Elástica: quando a variação percentual for maior que a ocorrida
no preço.
c. Inelástica: quando a variação percentual for menor que a ocorrida
no preço.
d. Perfeitamente Elástica: a quantidade oferecida varia
independentemente do preço.
e. Perfeitamente Inelástica: quando a variação no preço não afeta a
quantidade oferecida.
A curva de oferta, diferentemente da demanda, que possuía
diferentes elasticidades ao longo da curva (indo de inelástica para elástica
na medida em que os preços iam aumentando), a curva de oferta depende
do intercepto. Essa definirá se a curva será elástica, inelástica ou com
elasticidade unitária. Assim, pela simples análise da função oferta ou,
mais especificamente, pelo intercepto vertical da função oferta ou pelo
gráfico pode-se concluir sobre sua elasticidade, como apresentado na
figura 21.
Figura 21 – Elasticidade para diferentes curvas de oferta.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.8.3 Elasticidade-Renda da Demanda (ER):
Mede a sensibilidade de variação na quantidade de um produto em
relação à variação na renda do indivíduo ou grupo.
Onde, DQ, DR, Q e R indicam variações nas quantidades
procuradas, variações na renda, quantidades e renda respectivamente.
Como base nos valores da elasticidade-renda da demanda, pode-
se classificar os bens em:
a. Bens Superiores: quando a elasticidade-renda tiver valor
positivo, ER > 1. Significa dizer que, ocorrendo um aumento na
renda dos consumidores, estes passarão a gastar mais da sua
renda na aquisição deste bem.
b. Bens Inferiores: quando a elasticidade-renda tiver valor negativo,
ER < 0. Neste caso, ocorrendo um aumento na renda dos
consumidores, haverá um decréscimo no consumo do produto.
c. Bem Normal: quando a elasticidade-renda for maior que zero e
menor ou igual a um . 0 < ER < 1.
Quando a ER=1, significa dizer que, ocorrendo um aumento na
renda do consumidor, o percentual de renda gasto no bem permanece
constante.
2.8.4 Elasticidade-Cruzada da Demanda (EXY)
É dada pela variação porcentual na demanda de um bem (Y,
digamos) em função da variação percentual do preço de outro bem (X).
a. Bens Substitutos: quando a elasticidade-cruzada tem valor
positivo, EXY > 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, passa-
se a demandar maior quantidade do bem X.
b. Bens Complementares: quando a elasticidade-cruzada tem valor
negativo, EXY < 0, ou seja, aumentando o preço do bem Y,
passa-se a consumir menor quantidade do bem X.
c. Bens Independentes: quando a elasticidade-cruzada tem valor
nulo, EXY=0, ou seja, aumentando o preço do bem Y, não afeta o
consumo do bem X.
2.9 Produção e Custos
2.9.1 Introdução
Num modelo simplificado de uma economia, pode-se colocarde
um lado os consumidores e de outro as empresas. Esses dois agentes
representam o consumo e a produção, respectivamente, e se relacionam
no mercado através da demanda e da oferta.
Essas questões são estudadas na economia em duas partes. A
primeira, chamada de teoria do consumidor, analisa os elementos e
variáveis que determinam o comportamento dos consumidores ao
buscarem a satisfação de suas necessidades. A segunda parte, chamada
de teoria da empresa ou teoria da produção, trata das variáveis que
buscam explicar o comportamento da empresa quando da realização da
atividade produtiva.
O propósito desta seção é apresentar a teoria da empresa,
abordando as questões e problemas relacionados à produção, aos custos
de produção e aos rendimentos da empresa.
2.9.2 Empresa, produção e lucro
Alguns conceitos fundamentais são necessários para que se possa
iniciar o estudo da teoria da empresa. O primeiro deles é o conceito de
empresa. A empresa é um dos agentes do sistema econômico (os outros
são as famílias e o governo) responsável pela produção dos diversos
bens e serviços destinados a satisfazer as necessidades humanas. Para
que as empresas possam produzir é necessário o emprego dos fatores
de produção, ou seja, trabalho, capital e terra ou recursos naturais.
Outro conceito importante é o de produção. A produção é o processo
no qual a empresa transforma os fatores produtivos em produtos e que se
destinam ao mercado consumidor, para satisfazer as necessidades finais
dos indivíduos ou, simplesmente, como matéria-prima ou insumo que
servirá como fator de produção para uma outra empresa. Cabe destacar
que o conceito de produção envolve não somente os bens físicos e
materiais, mas também o conjunto de serviços, como comunicações, 
energia, atividades financeiras, comércio, entre outros.
O lucro é a remuneração de um capital investido por uma empresa
na produção e é obtido pela diferença entre a receita total e a despesa total
da empresa num período determinado. Assim, o lucro é o objetivo básico
de qualquer empresa que está produzindo um bem ou serviço no
mercado. O lucro bruto é obtido subtraindo da receita total os diversos
custos de produção, como os gastos com matéria-prima, os salários, os
impostos, entre outros. No cálculo do lucro líquido deve-se descontar do
lucro bruto os gastos com depreciações do capital fixo e as despesas
financeiras, como juros de empréstimos.
2.9.3 O curto e o longo prazo na ótica da produção
No processo de produção, são empregados diversos tipos de
fatores. Se se quisesse expandir rapidamente o nível de produção, deveria
se aumentar a utilização dos fatores de produção. Acontece que apenas
alguns desses fatores de produção podem ser incrementados no curto
prazo, como por exemplo, o trabalho. Outros fatores, como alguns tipos de
máquinas, equipamentos, construções só poderiam ser mudados num
período de tempo maior, o longo prazo.
Assim o curto prazo representa o período de tempo em que se pode
apenas alterar a produção a partir do ajuste dos custos variáveis. Já o
longo prazo envolve o período em que se pode alterar não só os custos
variáveis, mas também os custos fixos da empresa. Portanto, no longo
prazo, todos os custos de produção da empresa passam a ser variáveis,
na medida em que ela pode alterar e combinar da melhor forma possível o
conjunto dos fatores de produção.
2.9.4 A lei dos rendimentos marginais
Para se produzir, é necessária a aquisição dos fatores de produção.
As diversas possibilidades de combinação dos fatores de produção
permitem a obtenção de um produto total, que varia conforme forem
combinados esses fatores. Inicialmente cabe definir os conceitos de
produto total, médio e marginal de cada um dos fatores produtivos. O
produto total de um insumo expressa a produção que se pode obter
empregando uma determinada quantidade desse insumo e mantendo a
quantidade dos demais constantes.
O produto médio de um fator é o nível de produto que a empresa
obtém por uma unidade do fator de produção empregado. É resultado da
divisão do produto total pela quantidade do fator de produção. Já o produto
marginal de um insumo é o acréscimo do produto total que se pode obter
com o aumento de uma unidade do insumo, mantendo-se constante a
utilização dos demais fatores. A tabela abaixo exemplifica a questão.
Tabela 1 – Produto total, médio e marginal
Capital
(fator
fixo)
Trabalho
(fator
variável)
Produto total
do fator
variável
Produto médio
do fator variável
Produto marginal
do fator variável
100 20 60 3,0
100 30 140 4,7 80
100 40 240 6,0 100
100 50 320 6,4 80
100 60 380 6,3 60
100 70 420 6,0 40
100 80 440 5,5 20
100 90 440 4,9 00
100 100 420 4,2 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.
A partir da tabela 1, pode-se compreender o significado da lei dos
rendimentos marginais. Essa lei mostra o comportamento da produção
total de uma empresa quando se altera a quantidade utilizada de um dos
fatores de produção, mantendo-se os demais constantes.
A tabela mostra que na medida em que a empresa for ampliando a
utilização do fator variável, a produção total estará aumentando numa taxa
crescente. Na faixa de produção, que vai até a unidade 50 do fator variável,
a empresa estará obtendo rendimentos marginais crescentes. A partir
desse ponto, a empresa passa a incorrer em rendimentos marginais
decrescentes, ou seja, a produção estará crescendo a uma taxa
decrescente. Isso significa que, na medida em que a empresa amplia o
fator variável, a produção cresce, porém, numa proporção menor do que a
do fator produtivo. No ponto onde a empresa utiliza 90 unidades do fator
variável, a produtividade marginal é nula. A partir daí para cada unidade
adicional do fator variável, mantendo constante o fator fixo, a empresa
passa a ter rendimento marginal negativo.
Pode-se ilustrar essas questões com o seguinte exemplo. Imagine
que uma empresa agrícola produtora de feijão utiliza dois fatores de
produção: capital (terra, máquinas) e trabalho. Suponha que o capital seja
o fator fixo (área de terra e número de máquinas) e o trabalho o fator
variável, de maneira que é possível se produzir com várias combinações
diferentes de capital e de trabalho. Sendo assim, para se ampliar a
produção deve-se aumentar o número de trabalhadores, de maneira que
no início, com o aumento do fator variável, a produção total estará
crescendo proporcionalmente mais do que a da quantidade de
trabalhadores, garantindo, assim, um aumento da produtividade da
empresa. A partir de um certo ponto, com a incorporação de novos
trabalhadores, a produtividade para cada unidade do fator variável começa
a diminuir, já que a produção total cresce proporcionalmente menos do
que a do número de trabalhadores.
Como foi visto, no curto prazo as empresas só podem ampliar a
produção aumentando a utilização dos fatores variáveis. Mas se a
expansão do mercado for consistente, então a empresa pode expandir sua
produção através da aquisição de mais máquinas, equipamentos, novas
construções etc. Ou seja, a empresa estará alterando a sua estrutura
produtiva através dos fatores que eram fixos no curto prazo, mas que
passam a ser variáveis no longo prazo. Então, a diferença entre curto e
longo prazo na produção se dá pela existência ou não de fatores fixos.
No longo prazo os rendimentos marginais, ou economias de
escala, não se diferenciam do conceito utilizado para o curto prazo. A
diferença é que no curto prazo um fator era fixo e o outro variável. Agora, no
longo prazo, todos os fatores passam a ser variáveis. Assim, os
rendimentos marginais crescentes ocorrem quando a empresa ampliar a
quantidade utilizada do conjunto dos fatores de produção em uma dada
proporção e a variação do produto total variar numa proporção maior. A
tabela 2 mostra que a empresa terá rendimentos marginais crescentes
quando ela, ao dobrar a quantidade utilizada de capital e de trabalho,
consegue mais do que dobrar a produção total. Quando o aumento da
produção total é menos do que proporcional ao aumento dos fatores,
então a empresa terá rendimentosdecrescentes de escala. Por fim,
quando os fatores variam na mesma proporção então a empresa terá
rendimentos constantes de escala, conforme pode ser constatado na
tabela 2.
Tabela 2 – Rendimentos marginais no longo prazo
Fator capital Fator trabalho Produção total Rendimentos
3
6
10
20
1.000
2.000
Constantes
3
6
10
20
1.000
2.200
Crescentes
3
6
10
20
1.000
1.800
Decrescentes
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.9.5 Os custos de produção
O objetivo básico de uma empresa é conseguir o melhor resultado
possível quando ela realiza a sua atividade produtiva. Para que possa
realizar a sua atividade, a empresa necessita adquirir os fatores de
produção no mercado, pagando por esses fatores. A quantidade adquirida
de cada um dos fatores vezes o seu preço constitui o custo total de
produção da empresa.
Uma empresa estará maximizando o seu resultado quando
conseguir atender uma das seguintes situações: a) para um dado custo
total vai buscar a máxima produção total ou; b) para um certo nível de
produção vai buscar o menor custo total. Em qualquer uma das situações
a empresa estará em equilíbrio.
Os custos totais de uma empresa são classificados em custos fixos
(CF) e custos variáveis (CV). Os custos fixos representam os gastos
decorrentes da aquisição dos fatores fixos de produção e não dependem
do nível de produção. Já os custos variáveis correspondem aos gastos
com a aquisição dos fatores variáveis de produção e variam de acordo
com o nível de produção, ou seja, quanto maior a produção, maior será o
custo variável e quanto menor a produção, menor o custo variável.
2.9.6 O curto e o longo prazo na ótica dos custos
O curto e o longo prazo na ótica dos custos obedecem os mesmos
critérios que definem o curto do longo prazo sob a ótica da produção,
conforme visto anteriormente. Assim, para a empresa aumentar sua
produção, no curto prazo, terá que contratar mais fatores variáveis, já que
os fatores fixos não podem ser alterados no curto prazo. Sendo assim, o
curto prazo, sob a ótica dos custos, é o período de tempo em que a
empresa tem custos fixos e custos variáveis, adquirindo os fatores fixos e
variáveis, respectivamente. Na medida em que a empresa consegue
alterar a seus fatores fixos de produção e, portanto, seus custos fixos,
então, este passa a ser o período de longo prazo da empresa, quando
então todos os custos da empresa passam a ser variáveis.
2.9.7 O cálculo dos custos de produção no curto prazo
Conforme foi visto acima, no curto prazo a empresa possui custos
fixos e custos variáveis. Então o custo total será a soma dos custos fixos e
variáveis. Assim:
CT=CF + CV
Esses custos podem ser visualizados na figura 22, onde se observa
que o CF é constante, na medida em que a produção (Q) aumenta, e por
isso seu traçado é paralelo ao eixo das quantidades produzidas. Isto
implica que a distância entre a curva do CF e o eixo das quantidades será
sempre a igual, independente do nível de produção.
Já o CV é crescente à medida que a produção aumenta, pois, no
curto prazo, a empresa só pode expandir sua produção através dos fatores
variáveis. Assim, como mostra a figura 20, a curva do CV apresenta uma
trajetória ascendente conforme aumenta a quantidade produzida. A
sinuosidade apresentada pela curva do CV se deve ao fato de no início da
produção a empresa se encontrar na zona de rendimentos marginais
crescentes, ou seja, para expandir sua produção a empresa tem custos
(CV) proporcionalmente menores. Depois de um certo ponto, o CV começa
a crescer proporcionalmente mais do que a produção, ou seja, a empresa
entra na zona de rendimentos marginais decrescentes.
A figura ainda mostra a curva do CT, que está acima do CV. Como o
CT é a soma do CF e do CV, então, a distância entre o CT e o CV é
exatamente igual ao valor do CF. Cabe destacar que essa distância deve
ser observada verticalmente, pois é este o eixo que mostra as escalas dos
custos.
Do CF pode-se obter o custo fixo médio (CFMe), através da divisão
do CF pelas quantidades produzidas, então:
CFMe=CF / Q
O CFMe representa o custo fixo que a empresa tem para produzir
cada uma das unidades. Assim, quanto maior o nível de produção, menor
o CFMe já que o CF será dividido por uma quantidade produzida maior. Isto
pode ser melhor visualizado na figura 20.
Já o custo variável médio (CVMe) é obtido pela divisão do CV pelas
quantidades produzidas, assim:
CVMe=CV / Q
O CVMe representa a parte dos custos variáveis que a empresa
possui para produzir cada uma das unidades. A figura 20 mostra que
inicialmente quando a produção cresce, o CVMe estará decrescendo até
atingir um ponto de mínimo, já que nesta fase os custos variáveis crescem
proporcionalmente menos do que a produção. Depois de atingir o ponto de
mínimo, o CVMe começa a aumentar em função do crescimento mais do
que proporcional dos custos variáveis em relação à quantidade produzida.
O somatório do CFMe e do CVMe resulta no custo médio (CMe), que
também pode ser obtido pela divisão do CT pelas quantidades produzidas,
assim:
CTMe=CT / Q
A trajetória da curva do CMe, como pode ser visto na figura, que
inicialmente decresce, atinge um ponto de mínimo, quando, então, passa
a crescer, é explicada pelo comportamento das curvas do CFMe e do
CVMe, já que deriva desses dois custos.
O CMe mostra o custo total que a empresa tem para produzir cada
uma das unidades. Assim, o ponto de mínimo do custo médio, ou seja, o
menor valor, representa o ponto em que a empresa terá o menor custo
para cada uma das unidades que ela estiver produzindo.
Existe ainda o custo marginal (CMg), que pode ser definido como o
custo que tem a empresa para produzir uma unidade adicional. O CMg é
obtido pela divisão da variação do CT pela variação da quantidade
produzida. Pode ser expresso da seguinte maneira:
CMg=DCT / DQ
como o CT=CF + CV, então:
CMg=D (CF + CV) / DQ
mas como o CF não varia no curto prazo, então:
CMg=DCV / DQ
Isto significa que o CMg representa a variação do CV em relação a
variação da quantidade produzida.
O comportamento da curva do CMg, como mostra a figura 22, é,
inicialmente, decrescente em função da relação entre a variação do CV e
da produção ser decrescente. Quando o CMg atinge o ponto de mínimo,
essa relação se inverte e passa a ser crescente, fazendo assim com que o
CMg passe a crescer também. Como se vê, além das curvas do CMe e do
CVMe, também a curva do CMg apresenta um formato de U, estando
abaixo da curva do CVMe quando esta estiver decrescendo, e acima,
quando a curva estiver crescendo. Dessa maneira, pode-se concluir que a
curva do CMg intercepta a curva do CVMe no ponto mínimo desta última. A
mesma situação ocorre entre as curvas de CMg e CMe, ou seja, quando
esta última curva atinge seu ponto de mínimo, ela é interceptada pela curva
do CMg.
Dessa maneira, o ponto em que se interceptam as curvas do CMe e
do CMg, de modo que os valores desses custos sejam iguais, representa
o ponto em que a empresa tem o menor custo de produção por unidade.
Assim, enquanto a empresa tiver CMg menor do que o CMe, ela deve
aumentar seu nível de produção, já que o custo para produzir uma unidade
adicional é menor do que o custo médio de cada uma das unidades que
ela está produzindo. Já quando o CMg for maior do que o CMe, então a
empresa deve diminuir seu nível de produção, de maneira a buscar a
minimização dos seus custos de produção, que se dá, como foi visto,
quando os dois custos forem iguais. No exemplo apresentado na tabela 3
pode-se ver mais claramente estas relações, bem como na figura 22.
Tabela 3 – Cálculo dos custos
Quantidade Custo
Fixo
Custo
Variável
Custo
Total
Custo
Fixo
Médio
Custo
Variável
Médio
Custo
Médio
Custo
Marginal
1 100,00 10,00 110,00 100,00 10,00 110,00
2 100,00 16,00 116,00 50,00 8,00 58,00 6,00
3 100,00 21,00 121,00 33,33 7,00 40,33 5,00
4 100,00 26,00 126,00 25,00 6,50 31,50 5,00
5 100,00 30,00 130,00 20,00 6,00 26,00 4,00
6 100,00 36,00 136,00 16,67 6,00 22,67 6,00
7 100,00 45,50 145,50 14,29 6,50 20,79 9,50
8 100,00 56,00 156,00 12,507,00 19,50 10,50
9 100,00 72,00 172,00 11,11 8,00 19,11 16,00
10 100,00 90,00 190,00 10,00 9,00 19,00 18,00
11 100,00 109,00 209,00 9,09 9,91 19,00 19,00
12 100,00 130,40 230,40 8,33 10,87 19,20 21,40
13 100,00 160,00 260,00 7,69 12,31 20,00 29,60
14 100,00 198,20 298,20 7,14 14,16 21,30 38,20
15 100,00 249,50 349,50 6,67 16,63 23,30 51,30
16 100,00 324,00 424,00 6,25 20,25 26,50 74,50
17 100,00 418,50 518,50 5,88 24,62 30,50 94,50
18 100,00 539,00 639,00 5,56 29,94 35,50 120,50
19 100,00 698,00 798,00 5,26 36,74 42,00 159,00
20 100,00 900,00 1.000,00 5,00 45,00 50,00 202,00
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Figura 22 – Curvas de Custos.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
2.9.8 Os rendimentos da empresa
Quando da realização da produção, a empresa tem um custo,
conforme foi visto. Por esse esforço, a empresa espera uma
compensação, um rendimento. O ganho que a empresa recebe pelo seu
produto no mercado representa a receita total, que é obtida pela
multiplicação das quantidades vendidas pelo preço do produto, assim
representado:
RT=P x Q
Além disso, é importante para a análise da empresa outros dois
tipos de receita. A primeira é a receita média (RMe) obtida pela divisão da
RT pela quantidade. A RMe representa a receita que a empresa obtém
para cada uma das unidades que ela produz e vende no mercado. Pode
ser expressa da seguinte forma:
RMe=RT / Q
como RT=P x Q, então:
RMe=(P x Q) / Q. Assim:
RMe=P
A segunda é a receita marginal (RMg), que é resultado da divisão
entre as variações da RT e as variações da quantidade vendida do produto
no mercado, assim:
RMg=DRT / DQ
A RMg mostra a receita que a empresa obtém para cada unidade
adicional que ela vende no mercado.
Conforme mostra a tabela 4, a RT da empresa estará crescendo
enquanto o preço aumenta proporcionalmente mais do que a queda da
quantidade vendida. Quando essa relação se inverte, a RT começa a
diminuir. Ou seja, para se vender unidades adicionais, o preço deve cair
proporcionalmente mais do que o que se consegue de aumento nas
vendas. Isto é explicado pela elasticidade-preço da demanda, vista
anteriormente.
Tabela 4 – Cálculo da RT, RMe e RMg
Quantidade Preço RT RMe RMg
0 22 0 22 --
1 20 20 20 20
2 18 36 18 16
3 16 48 16 12
4 14 56 14 8
5 12 60 12 4
6 10 60 10 0
7 8 56 8 -4
8 6 48 6 -8
9 4 36 4 -12
10 2 20 2 -16
11 0 0 0 -20
Fonte: Elaboração própria dos autores.
A RMe, como se viu, é igual ao preço e sempre decrescente. Já a
RMg será decrescente mas positiva enquanto a RT estiver crescendo, e
negativa quando a RT passa a diminuir. Portanto, quando a RMg for igual a
zero, a RT será máxima.
2.9.9 O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro
Como foi visto, no curto prazo a empresa não consegue alterar sua
estrutura produtiva. Então, cabe à empresa identificar um nível de produção
que permita a ela obter o lucro máximo, dada a estrutura produtiva
existente.
A tabela 5 mostra um exemplo hipotético que permite visualizar o
nível de produção que faz com que a empresa obtenha o lucro máximo
possível. Se a empresa, por exemplo, estivesse produzindo uma
quantidade de 901 unidades, o lucro total seria de 5.140. Interessa saber
se esta é a quantidade que permite à empresa obter o lucro máximo.
Como saber?
Tabela 5 – A maximização do lucro
Quantidade Custo Marginal Receita Marginal Lucro Total
900 120 265 5.000
901 90 230 5.140
902 70 195 5.265
903 60 160 5.365
904 70 125 5.420
905 90 90 5.420
906 120 55 5.355
907 180 20 5.195
908 270 -15 4.910
909 400 -50 4.460
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Para responder a esta pergunta, deve-se analisar o custo e a receita
para produzir uma unidade adicional, ou seja, o CMg e a RMg,
respectivamente. Se o custo para produzir uma unidade a mais for menor
do que a receita que a empresa obtém, então ela deve produzir, pois
conseguirá um lucro com esta unidade. O lucro obtido com a venda desta
unidade vai se somar ao lucro que a empresa já tinha garantido antes. Isto
fará com que o lucro total da empresa seja maior ao aumentar a produção.
Significa dizer então que, enquanto o CMg for menor do que a RMg, a
empresa deve aumentar o nível de produção. Se de outro lado o CMg for
maior do que a RMg, então a empresa deve reduzir a sua produção até o
ponto em que o CMg seja igual à RMg. Esta é a condição que faz com que
a empresa obtenha o lucro máximo possível, ou seja, CMg=RMg.
No exemplo da tabela 5, o lucro total máximo é de 5.420, alcançado
quando CMg=RMg=90, na quantidade de 905 unidades produzidas.
Figura 23 – Equilíbrio da firma.
Fonte: Elaboração própria dos autores.
O equilíbrio da empresa e a maximização do lucro também pode ser
visto na figura 23, a partir dos dados utilizados no exemplo da tabela 5.
Assim, a empresa conseguirá o lucro máximo produzindo a quantidade
determinada pela intersecção da curva do CMg com a RMg, ou seja, 905
unidades.
2.10 Estruturas de Mercado
O equilíbrio de mercado se dá através da interação entre oferta e
demanda de um produto qualquer. No entanto, essa interação entre oferta
e demanda provoca resultados diferentes no mercado, já que existem
vários tipos de mercados e cada um deles apresenta características
próprias. Uma empresa que atua num determinado tipo de mercado
poderá ter mais ou menos poder de determinação de preço, por exemplo,
do que outra empresa que atua num outro tipo de mercado.
Os vários tipos de mercado dependem basicamente de três fatores.
O primeiro deles está relacionado ao número de empresas que atuam
nesse mercado. O segundo diz respeito ao tipo de produto produzido e
vendido no mercado, isto é, a existência de um bem substituto. O último
fator está associado à existência ou não de barreiras ao ingresso de novas
firmas no mercado.
Assim, esse tópico trata das estruturas de mercado mais
comumente encontradas. Nessas estruturas, busca-se identificar várias
características comuns entre um grupo de empresas que atuam no
mercado. Desta maneira, pode-se compreender o funcionamento do
mercado de automóveis, o mercado de frutas no Rio Grande do Sul ou o
mercado financeiro brasileiro, entre outros.
Existem quatro tipos de mercados que mais facilmente pode-se
encontrar. Dois deles são casos extremos: a concorrência perfeita e o
monopólio. Além destes, existem a concorrência monopolística e o
oligopólio.
2.10.1 Concorrência Perfeita
A concorrência perfeita é um tipo extremo de mercado porque uma
das características desse tipo de mercado é a grande concorrência entre
as empresas. Em condições normais, dificilmente ocorre uma intensa
competição, já que existe uma série de imperfeições no mercado que
podem distorcer ou limitar a livre competição entre as empresas.
Essa é uma estrutura de difícil aplicação prática, já que poucos
setores poderiam ser enquadrados dentro desse mercado, funcionando
mais como um modelo ideal de mercado. Apesar disso, o seu estudo é
importante, pois dele derivam uma série de implicações, tanto para os 
consumidores como para as empresas.
As hipóteses básicas do modelo de concorrência perfeita são:
a. a existência de um grande número de compradores e
vendedores;
b. as empresas produzem um produto homogêneo, isto é, são
substitutos perfeitos entre si;
c. existe transparência do mercado, ou seja, todas as informações
são conhecidas por todos;
d. a entrada e a saída de firmas do mercado é livre.
A primeira hipótese diz que é necessário um grande número de
empresas no mercado. Isso significa que cada uma destas empresas não
tem poder de mercado, ou seja, ela sozinha não consegue influenciar no
mercado, como, por exemplo, em relação ao preço do produto oferecido.
Isto, associado ao fato das empresas oferecerem um produto que
seja substituo perfeito entre si, implica que cada uma das empresas seja
tomadora de preço. Nestas condições, o preço do produto é determinado
pelo mercado, através da oferta e da demanda, e a empresa aceita esse
preço como uma variável dada. Cabe a ela, apenas, determinar as
quantidades a serem produzidas ao preço de mercado.
Já foi visto anteriormente que umafirma estará maximizando lucro
quando o CMg for igual à RMg. Assim, enquanto o CMg for menor do que a
RMg, a firma deve aumentar a produção, já que estará aumentando seu
lucro total. Isto ocorre porque para produzir uma unidade adicional, o custo
será menor do que a receita que a firma terá ao vender esta unidade no
mercado, e a diferença se somará ao lucro total da empresa. A tabela 6
ilustra esta situação.
Tabela 6 – Custo Marginal, Receita Marginal e Lucro
Produção Preço CMg RMg Lucro unitário Lucro total
10 10,00 7,50 10,00 2,50 100,00
11 10,00 8,00 10,00 2,00 102,00
12 10,00 9,00 10,00 1,00 103,00
13 10,00 10,00 10,00 0,00 103,00
14 10,00 11,00 10,00 -1,00 102,00
15 10,00 12,00 10,00 -2,00 100,00
16 10,00 13,50 10,00 -2,50 97,50
Fonte: Elaboração própria dos autores.
Conforme mostra a tabela, a empresa estará maximizando seu
lucro se produzir 13 unidades, já que neste ponto o CMg é igual à RMg. Se,
por exemplo, a empresa estivesse produzindo 15 unidades, o CMg seria
maior que a RMg, o que implica num prejuízo para essa unidade adicional.
Neste caso, a firma deveria reduzir seu nível de produção até o ponto em
que CMg igualasse a RMg, de maneira a obter o lucro máximo.
2.10.2 Monopólio
O monopólio é um tipo de mercado oposto ao da concorrência
perfeita, já que neste caso não ocorre a concorrência, pois o setor é
composto por uma única firma. Neste caso, o empresário controla
inteiramente a oferta do produto no mercado e os consumidores terão de
se submeter às condições impostas pelo ofertante ou deixar de consumir
o produto.
As hipóteses do monopólio podem ser resumidas assim:
a. o setor é constituído por uma única firma;
b. o monopolista produz um produto para o qual não existe
substituto próximo;
c. a firma tem pleno poder de determinação do preço do produto.
Nesse tipo de mercado, a curva de demanda da empresa é a
própria curva de demanda do mercado, numa relação inversamente
proporcional entre preço e quantidade. O fato da firma ter pleno poder de
determinação de preço, não significa que ela elevará continuamente seu
preço, pois caso isso acontecesse, os consumidores gradativamente
diminuiriam as quantidades demandadas, dependendo da elasticidade-
preço da demanda do produto.
Assim como para os outros tipos de mercado, também para o
monopolista a maximização do lucro ocorre quando a RMg e o CMg forem
iguais.
Conforme foi visto, uma das características de um mercado
monopolista é a existência de uma única firma, e para isso deve haver
barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado. Entre os
principais fatores que explicam a existência de um monopólio, pode-se
destacar:
a. controle sobre um fator produtivo;
b. a existência de patentes que impedem a produção de um bem
por outras firmas;
c. controle estatal de determinados serviços;
d. elevado custo para a instalação de novas firmas no mercado.
Em relação aos demais tipos de mercados, o monopólio pode obter
lucros mais elevados em função do controle que a firma pode exercer
sobre o mercado. A manutenção de um monopólio no longo prazo vai
depender de uma série de fatores. As patentes terminam, as matérias-
primas são substituídas, novos produtos surgem. A continuidade de um
monopólio é mais factível quando há a proteção de leis governamentais ou
o controle estatal de determinados setores que podem ser considerados
estratégicos e de segurança nacional, como petróleo, comunicações e
energia.
2.10.3 Concorrência monopolística
A concorrência monopolística é uma estrutura de mercado
intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio. As principais
características desse tipo de mercado são:
a. a existência de um grande número de empresas no mercado,
que produzem produtos diferenciados, embora substitutos
próximos entre si;
b. cada firma tem um certo poder de determinação de preço do seu
produto.
O poder da firma para estabelecer o preço do produto vai depender,
basicamente, do tipo de produto que a firma está produzindo. Quanto mais
diferenciado o produto em relação às outras empresas do mercado, maior
o poder da empresa. Do contrário, quanto menos diferenciado, menor é o
poder da firma e, portanto, o preço tende a ser mais próximo ao das
demais firmas do mercado. Na concorrência monopolística, como nos
demais mercados, a firma estará maximizando seus lucros quando a RMg
for igual ao CMg.
A diferenciação do produto pode se dar em termos de embalagem,
desenho, características físicas, tamanho ou promoção de vendas
(brindes, propaganda, manutenção, entre outros).
2.10.4 Oligopólio
Deve-se, ainda, resgatar o conceito de oligopólio. O oligopólio
caracteriza-se pela existência de um reduzido número de produtores e
vendedores, produzindo produtos que são substitutos próximos entre si.
Por exemplo: indústria do transporte aéreo, rodoviário, siderurgia. Em
outras palavras, significa que são apenas poucos vendedores, cada um
vendendo produtos idênticos ou similares entre si. Entre as empresas
oligopolistas, tem-se certa interdependência econômica. Todos os
produtos são importantes, as decisões sobre o preço e a produção de
equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi
no comportamento econômico dos outros vendedores.
Os padrões de concorrência em mercados oligopolísticos são:
qualidade dos produtos: durabilidade, resistência etc.;
publicidade e propaganda dos produtos: brindes, ações
promocionais etc.;
desenho: design do produto;
outros.
Quanto às barreiras à entrada, ao considerar-se um novo entrante
no mercado, pode-se citar:
financeiras: os altos custos iniciais de estruturação e implantação
de uma empresa podem ser uma barreira para entrar outra
empresa no mercado;
técnica: a produção de bens e serviços que requerem muito
conhecimento tecnológico pode ser uma barreira para entrar outra
empresa no mercado;
legais: imposições e fiscalização governamental podem ser uma
barreira para entrar outra empresa no mercado.
Por fim, algumas outras estruturas de mercado:
1. Monopsônio e oligopsônio:
Monopsônio: existência de muitos vendedores e um único
comprador. Por exemplo, uma empresa que se instala em uma
determinada cidade do interior e por ser a única, torna-se
demandante exclusiva da mão de obra local. Nesse caso, ou os
trabalhadores trabalham nessa empresa, ou mudam-se para
outra localidade.
Oligopsônio: poucos compradores, que dominam o mercado,
para muitos vendedores.
2. Monopólio bilateral:
Caracteriza-se pela estrutura de mercado em que tem-se um
monopolista e monopsonista. Normalmente, essas duas
empresas entram em negociações para a definição de preços: o
monopsonista tenta pagar o preço mais baixo, por ser o único
comprador, e o monopolista quer vender por um preço mais
elevado, tentando usar a força de ser o único vendedor.
2.10.5 Resumo das Estruturas de Mercado
Estrutura Nr. de
Empresas
Diferenciação
do Produto
Condições
de Entrada
e Saída
Influência
sobre o
Preço
Exemplos
Monopólio Uma Produto Único
Sem
Substituto
Próximo
Difícil Forte Alguns
serviços
públicos,
como
transporte,
água e
energia
elétrica
Concorrência
Perfeita
Muitas Produto
homogêneo
Fácil Nenhuma
(são
tomadores
de preços)
Alguns
Produtos
Agrícolas
Concorrência
Monopolista
ou
Concorrência
Imperfeita
Muitas Produto
Diferenciado
Fácil Leve Comércio
Varejista,
Restaurantes
etc.
Oligopólio Poucas Homogêneo
ou
diferenciado
Difícil Considerável Homogêneo:
alumínio;
Diferenciado:
Automóveis.
Fonte: Adaptado de PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005, p. 353.
2.10.6 Conceitos Importantes
Sistema e Fluxos Econômicos, Demanda, Oferta, Equilíbrio de
Mercado, Mercados, Elasticidades, Tipos de Bens, Lei dos Rendimentos
Decrescentes, Custos de Produção, Cálculo de Custos, Equilíbrio da
Firma, Estruturas de Mercado, Barreiras à Entrada.
REFERÊNCIAS
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
MOCHÓN, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson
PrenticeHall, 2007.
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio (org.). Manual de
economia: equipe dos professores da USP, 3. Ed. São Paulo: Saraiva,
1998.
PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia.
São Paulo: Pioneira, 1999.
VASCONCELOS, M. A. S. Economia micro e macro. São Paulo: Atlas, 2001.
PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5 ed. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005, p. 353.
__________
2 Nas seções seguintes, também será abordado em “A lei dos rendimentos marginais”.
CAPÍTULO 3
NOÇÕES DE MACROECONOMIA E TEORIAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
André Filipe Zago de Azevedo
Angélica Massuquetti
Sérgio Leusin Júnior
Raquel Negrisoli Fernandez Cabral
Tiago Wickstrom Alves
A macroeconomia e a microeconomia compõem as duas grandes áreas do
estudo da Economia. A macroeconomia se difere da microeconomia principalmente
pelo uso da soma das variáveis econômicas individuais para obter dados agregados da
economia. Assim, o uso do agregado e o foco nas variáveis agregadas como consumo
agregado, investimento agregado e produto agregado são determinantes no estudo da
macroeconomia. Desta forma, as análises macroeconômicas util izam instrumentos
teóricos e empíricos para monitorar a economia, realizar previsões econômicas, auxil iar
na elaboração de políticas públicas, além de buscar entender a estrutura da economia
em geral.
3.1 Noções de Macroeconomia
3.1.1 Agregados Macroeconômicos, Identidades e Demanda Agregada
A macroeconomia analisa a relação entre os agregados
econômicos, por isso é necessário definir, primeiro, como se compõem e
se formam esses agregados de acordo com a Contabilidade Nacional,
para, após, estabelecer a relação entre eles. Destaca-se que estes
agregados podem ser tanto fluxos como estoques. Os estoques são
aqueles que podem ser explicitados sem uma definição de tempo, por
exemplo: total de desempregados em uma economia; volume de capital
acumulado por uma empresa. Já os fluxos necessitam de que se defina
um período de tempo para que faça sentido, embora na macroeconomia
os fluxos tenham se consagrado por serem medidos no intervalo de um
ano, e por isso o período não é explicitado. Como alguns exemplos de
fluxos, tem-se: salário mensal, investimento, poupança e consumo anuais.
3.1.2 Conceitos Macroeconômicos Básicos
Produto Nacional Bruto (PNB) é a soma de todas as despesas
feitas com os produtos e serviços finais nacionais (independente de onde
é produzido). Inclui-se neste o valor da depreciação e os rendimentos
líquidos da conta de capital. Muitas vezes, aparece como Produto Nacional
Bruto a preços de mercado (PNBpm), para destacar que é calculado com
base nos preços de mercado.
Produto Interno Bruto (PIB) corresponde ao valor da produção
realizada internamente em um determinado país. É obtida via somatório do
produto final produzido dentro das fronteiras do país.
Produto Nacional Líquido (PNL) é em todo igual ao PNB, excluindo-
se apenas o valor da depreciação. É denominado muitas vezes de Produto
Nacional Líquido a Preços de Mercado (PNLpm) por representar o
somatório em unidades monetárias dos produtos finais nacionais, que
são vendidos no mercado.
Renda Nacional (RN) representa o valor pago para a elaboração do
produto físico ou a renda auferida na elaboração desses produtos. Por
isso às vezes é denominado de Produto Nacional Líquido a Custo de
Fatores (PNLcf).
Renda Pessoal Disponível (RND) representa o valor líquido do qual
as pessoas físicas dispõem para gastarem com o produto e para
pouparem.
Depreciação (D) é a redução do valor dos ativos em consequência
de desgastes pelo uso, obsolescência tecnológica ou perda de valor de
mercado.
Poupança (S) é a parcela de renda não consumida.
Investimento (I) é a parcela do produto não consumida, ou seja, as
aquisições de bens de capitais e as variações nos estoques. Por isso a
identidade entre poupança e investimento. Ou seja:
S ≡ I
3.1.3 Identidades Macroeconômicas Fundamentais
Pela ótica dos dispêndios:
PIB ≡ C + I + G + (X – M)
Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; I:
Investimento Bruto; G: Gastos do Governo; X: Exportações; e M:
Importações.
Pela ótica dos rendimentos:
PIB ≡ C + S + T
Onde: PIB: Produto Interno Bruto; C: Consumo Privado; S: Poupança
dos particulares e das empresas; T: Tributos líquidos (total arrecadado
menos as transferências, representa a poupança do governo).
3.1.4 Relação Funcional entre os Agregados Macroeconômicos
A diferença entre os agregados internos e nacionais decorre do fato
de que se está medindo a produção dentro das fronteiras de um país ou
de seus residentes. Os valores internos contabilizam o produto final
produzido dentro das fronteiras do país; e os nacionais, os valores dos
produtos finais produzidos pelos residentes, não importando o país onde
foi fabricado e consumido. Partindo do PIB, chega-se ao conceito do mais
importante dos agregados macroeconômicos, que é o PNB. Para isso,
basta retirar do PNB os rendimentos líquidos enviados ou acrescentar os
rendimentos líquidos recebidos.
O PIB difere do PNB por incluir as parcelas de renda geradas
internamente e transferidas para o exterior. Inclui a remuneração de todos
os fatores empregados internamente, sejam eles de propriedade de
residentes ou não-residentes no país. Sendo assim, quando o PIB é maior
que o PNB, o país remete mais renda para o exterior do que dele recebe.
Ao contrário, quando o PIB é menor que o PNB. o fluxo de rendimentos do
país ao exterior é inferior aos direitos recebidos de outros países.
O produto e a renda de um país envolvem na sua mensuração,
como se viu, diferentes magnitudes macroeconômicas. Essas magnitudes
e suas relações são abordadas na seção que segue.
3.1.5 Formas de Mensuração do Produto e da Renda Nacional
O Quadro 1 permite compreender as relações existentes entre os
agregados macroeconômicos e como se pode, a partir de um determinado
agregado, obter outros.
Quadro 1 – Distribuição dos Agregados Macroeconômicos
PRODUTO INTERNO BRUTO
(-) Rendimentos líquidos enviado ou ( + ) renda líquida recebida 
ou 
(+, -) saldo do hiato de recursos de fatores.
(=) PRODUTO NACIONAL BRUTO
( - ) Depreciação
(=) PRODUTO NACIONAL LÍQUIDO ( PNLPM )
( - ) ICMS, IPI, Doações
( + , - ) Discrepâncias estatísticas
( + ) Subsídios líquidos à empresas públicas
(=) RENDA NACIONAL ( PNLCF )
( - ) Tudo o que vaza não se transformando em renda pessoal (como:
lucros não distribuídos, impostos s/ lucros das empresas, Previdência
Social, etc.);
( + ) Tudo o que contribui para a renda pessoal (transferências do
governo para as pessoas, juros pago pelo governo, juros pago pelos
consumidores, doações recebidas, etc.)
(=)RENDA PESSOAL
( - ) Imposto de Renda Pessoa Física
(=) RENDA PESSOAL DISPONÍVEL ( YD )
( - ) Poupança Pessoal
(=) GASTOS PESSOAIS
( - ) Juros pago pelos consumidores
( - ) Pagamento de transferências para o exterior
(=) DESPESAS DE CONSUMO PESSOAL
Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores.
Seguindo o esquema anterior, pode-se encontrar qualquer elemento
que compõe o produto e a renda. No entanto, deve-se ter atenção para o
fato de que quando você estiver partindo do PIB para as despesas de
consumo pessoal, a sequência de sinais indicados é a que deve ser
seguida. Porém, se o caminho for o inverso, ou seja, das despesas de
consumo pessoal para o PIB, deve-se trocar os sinais.
Seguindo o raciocínio apresentado no Quadro 1, apresenta-se a
Figura 24, onde pode-se verificar as transformações dos agregados de
acordo com os elementos principais que a compõem.
Figura 24 – Transformações nos Agregados Macroeconômicos.
Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração própria dos autores.
Exercício de Fixação
1) Dado:
PIB=2.250,00;
Rendimentos Líquidos Recebidos=50,00;
Depreciação=200,00;
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)=100,00;
Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)=150,00;
Impostos Indiretos (ICMS e IPI)=300,00;
Com estes valores encontra-se o RN.
Solução do exercício:
PIB 2.250,00
(-) Depreciação=200,00
PIL2.050,00
+ Rend. Líq. Rec.=50,00
PNL 2.100,00
(-) ICMS e IPI=300,00
RENDA NACIONAL 1.800,00
3.1.6 Macroeconomia Keynesiana
A chamada Macroeconomia Keynesiana foi desenvolvida por John
Maynard Keynes, em 1935, com sua publicação A Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda. Uma das proposições básicas de sua
teoria é que o nível de renda depende da demanda agregada. Se a
demanda agregada for menor que o nível necessário para o pleno
emprego, o nível de renda será menor que o potencial e haverá
desemprego. Se a demanda agregada for de tal ordem que seja igual à
renda de pleno emprego, a economia estará operando no seu ponto ótimo.
Se a demanda agregada for maior que o nível de renda de pleno emprego,
haverá inflação.
As hipóteses básicas contidas no modelo keynesiano são:
existência de equilíbrio com desemprego;
desequilíbrios parciais podem exigir correções de demanda;
rigidez e preços;
a moeda afeta a economia real;
diferença entre os fatores determinantes da poupança em relação
aos do investimento.
Teoria da Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda e do Produto
Agregado
Inicia-se, para efeitos didáticos, de um modelo teórico mais simples
possível, onde haja apenas dois setores (famílias e empresas), não
considerando governo nem resto do mundo, que se chama de modelo de
dois setores.
Inicialmente, formulam-se as seguintes hipóteses:
investimento fixo ou constante;
variações do produto e do emprego proporcionais à variações de
renda (tal relação nada mais é que considerar preços
constantes).
A teoria keynesiana está fortemente baseada no que Keynes
denominou de Lei Psicológica Fundamental, assim definida:
Os indivíduos estão, como regra geral e em média, dispostos a
aumentar seu consumo à medida que suas rendas aumentam, porém
em proporções menores do que a do aumento de suas rendas.
Função Consumo
Baseado na Lei Psicológica Fundamental, pode-se tirar as
seguintes conclusões:
o consumo aumenta com o nível de renda;
proporção menor da renda será consumida para cada aumento
no nível de renda;
se menor proporção de renda será consumida para níveis mais
elevados de renda, então, a cada aumento de renda, haverá um
aumento absoluto de poupança.
A reta de consumo baseia-se na Lei Psicológica Fundamental.
Analisando-a em termos de comparação com o comportamento comum
de um consumidor, é lógico se esperar que alguém que ganhe vinte
salários mínimos possuirá uma poupança maior que aquele que ganha
um salário mínimo. Se essa poupança for comparada em termos
percentuais de renda, o primeiro também apresentará um percentual de
poupança maior, visto que aquele que ganha um salário mínimo terá
pouca disponibilidade de dinheiro para poupar em relação ao de maior
renda.
Assim sendo, uma reta que representasse a curva de consumo teria
que ser positivamente inclinada, pois para cada aumento de renda, maior
seria o seu consumo. Porém, como as pessoas aumentam seu consumo
menos que proporcional ao crescimento de suas rendas, essa inclinação
terá que representar um percentual de crescimento de renda. Esse
percentual de crescimento chama-se propensão marginal a consumir
(PMgC) que, em termos geométricos, representa a inclinação da curva de
consumo. Um outro aspecto que deve ser ressaltado em relação ao
consumo, é que as pessoas, mesmo sem ganharem renda (salários ou
lucros), precisam consumir para sobreviverem. Esse consumo sem renda
pode ser feito no caso de compra a prazo ou utilizando-se de poupança
anteriormente armazenada. Geometricamente, pode ser descrito como um
consumo positivo, no par de renda-consumo para uma renda zero. Esse
ponto denomina-se consumo autônomo (Ca).
Ao comparar esses dados com a equação da reta, pode-se formular
uma equação de consumo. A equação resumida da reta é: Y=a + bX, onde
a é o intercepto vertical, ou seja, onde a reta corta o eixo das ordenadas; b
é o coeficiente angular, ou seja, a inclinação da reta, que é dada pela sua
tangente (Tg=cateto oposto/cateto adjacente); e Y e X são as variáveis.
Assim, ao colocar o consumo no eixo vertical e a renda no eixo horizontal e
representando a por Ca e b por PMgC, tem-se a reta de consumo:
C=Ca + PMgCY
Onde: YC=Consumo Total; Ca=Consumo Autônomo;
PMgC=Propensão Marginal a Consumir e Y=Renda.
Por exemplo, supondo Ca=20 e PMgC=0,5, tem-se sua
representação conforme a Figura 25.
Figura 25 – Relações Básicas da Função Consumo.
Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores.
Propensão Marginal a Consumir (PMgC)
É dada pela inclinação da reta de consumo. Permite saber para
qualquer variação na Y, qual será a variação do consumo e da poupança.
É constante para qualquer nível de renda.
Propensão Média a Consumir (PMeC)
É definida pela relação entre C e Y, para diferentes níveis de renda,
e possibilita conhecer como a renda será dividida entre consumo e
poupança.
Função Poupança
Figura 26 – Função Poupança.
Fonte: BLANCHARD, 2007. Elaboração própria dos autores.
Genericamente, tem-se:
S=Sa - PMgSY
Propensão Marginal a Poupar (PMgS)
É dada pela inclinação da função poupança, ou seja:
Propensão Média a Poupar (PMeS)
É a relação entre S e Y para diferentes níveis de renda. É dada pela
relação:
Determinação do Nível de Equilíbrio da Renda
A renda de equilíbrio ocorre quando a demanda agradada for igual
ao produto agregado, ou seja:
PIB=C + I G + (X – M)
Para simplificação, inicia-se com uma economia fechada e com
dois setores, famílias e empresas, logo o PIB será igual à renda (Y).
Dessa forma a renda de equilíbrio será dada por:
Y=C + I
Substituindo C pela função consumo e supondo apenas
investimento autônomo (constante), tem-se:
Y=Ca + PMgCY + I
Para compreender como determinar o equilíbrio, suponha que o
dispêndio em consumo seja dado pela equação: C=100 + 0,60Y e que o
I=70, então a renda de equilíbrio seria dada por:
Y=100 + 0,60Y + 70
Y – 0.6Y=170
0,4Y=170
Y=425=> renda de equilibrio
Multiplicador da Demanda Agregada
Ao ocorrer uma variação, por exemplo, no consumo autônomo, a
renda variará em um múltiplo dessa variação. Isso decorre do fato de
existir um multiplicador para variações autônomas da demanda agregada.
Multiplicador simples, para uma economia a dois setores é obtido
da seguinte forma:
Y=Ca + PMgCY + I
Logo, uma variação na renda poderá ter sido causada por uma
variação nos investimentos ou no consumo autônomo:
ΔY=DCa + PMgCDY + DI
Isolando ΔY, tem-se:
Onde 1/(1-PMgC) é o multiplicador keynesiano simples.
Veja que o multiplicador para uma economia de dois setores é
recíproca de 1 - PMgC, logo, quanto maior a PMgC, maior será o
multiplicador e, consequentemente, maior será o efeito das variações
autônomas sobre o nível de renda.
Função Investimento
Investimento é uma palavra com muitas conotações no emprego
popular, mas tem apenas um significado na análise macroeconômica: “É o
valor do produto da economia que toma a forma de novos imóveis para
fábricas, novos bens de capital duráveis e variações nos estoques”. Esse
investimento é denominado de Investimento Bruto, que pode ser
representado por:
IB=IL +D + VE
Onde IB=Investimento Bruto; IL=Investimento Líquido;
D=Depreciação e VE variação nos estoques. Destaca-se que sempre que
houver variação nos estoques (VE ≠ 0) não haverá equilíbrio na economia,
pois significa que há um descompasso entre demanda agregada e
produto agregado.
Investimento Líquido é o investimento bruto menos a depreciação,
ou seja, IL=IB – D. Logo, é igual à variação no estoque de capital da
economia. Se o investimento realizado em um determinado país for menor
que o valor da depreciação, então, haverá uma redução dos estoques de
capital, logo, um investimento líquido negativo. Assim, para que haja
crescimento econômico, os investimentos deverão ser maior que o valor
da depreciação dos estoques de capital economia.
Assim, se:
IB=Depreciação (p/ o exercício) → não há investimento líquido
nem desinvestimento e, por conseguinte, não há qualquer
variação nos estoques de capital.
IB > Depreciação → haverá investimento líquido e acréscimo noestoque de capital.
IB < Depreciação → haverá desinvestimento e uma redução no
estoque de capital.
Decisão de Investir e Função Investimento
Baseia-se na relação entre três elementos:
fluxo de renda esperado do bem de capital em questão -SRT;
preço de compra desse bem;
taxa de juro de mercado.
De uma forma simplificada:
VA=SRT / (1+i)n
Onde: VA → Valor Atual ou valor de compra de um bem de capital;
SRT → Somatório dos rendimentos líquidos proporcionado pelo bem de
capital bem como o custo do investimento; i → Taxa de desconto
apropriada ao risco do negócio; n → número de períodos.
Pode-se concluir que um VA positivo significa que o há retorno do
investimento acima da taxa de risco associada ao negócio e, portanto,
deverá ocorrer o investimento. Se o valor for negativo, o investimento não
cobrirá a taxa de retorno exigida para o negócio, portanto, não deveria se
realizar o investimento. Dessa forma, uma redução na taxa de juros deverá
elevar o nível de investimentos de um país, pois aumenta o VA. Da mesma
forma, as expectativas, se forem melhoradas, se refletirão no fluxo de caixa
do investimento.
Logo, o investimento é uma função da taxa de juros real e das
expectativas. Assim, tem-se a seguinte função investimento:
I=Ia + PMgIY - gi
Onde: Ia → Investimento Autônomo e está associado as
expectativas; PMgI → Propensão Marginal a Investir, Y=renda; g=mede a
sensibilidade do investimento em relação a variação de um ponto
percentual na taxa de juros; i=taxa real de juros.
Logo, em uma economia com dois setores e investimento induzido,
a renda de equilíbrio seria determinada por:
Y=Ca + PMgCY + Ia + PMgIY - gi
Por exemplo, qual o nível de equilíbrio da “Y” quando:
Ca=20, PMgC=0,60, Ia=100 e PMgI=0,20; g=10 e i=5.
Y=20 + 0,6Y + 100 + 0,20Y – 10*5
Y – 0,8Y=70
Y=70/0,2
Y=350=> renda de equilibrio
Economia Aberta e com Governo - Renda de Equilíbrio
Em uma economia a quatro setores, onde se tem o governo e o
setor externo, há novas variáveis que influem de forma significativa no nível
de renda. Com a existência do governo, o conceito de renda passa a ser a
renda disponível (Yd), pois é a renda bruta dos indivíduos descontado dos
impostos diretos que esses dispõem para gastarem em bens de
consumo, ou seja: Yd=Y – T.
Outro elemento importante são os tributos do governo que podem
ser autônomos e induzidos: autônomos (Ta) são aqueles que independem
do nível de renda dos indivíduos, como o IPTU, por exemplo, e os
induzidos (PMgT*Y) são aqueles que variam com o nível de renda, como é
o caso do Imposto de Renda.
Ainda há que considerar as transferências (R) dos governos para as
pessoas, como auxílios maternidade, seguro desemprego e Bolsa
Família, entre outros. Até o advento do Bolsa Família, a relevância dessas
transferências na economia não eram significativas.
As exportações (X) são consideradas constantes nesse modelo,
embora dependam da taxa de câmbio e da renda do resto do mundo, e as
importações (M) que, da mesma forma que o consumo e o investimento,
tem uma componente autônoma (Ma) e uma induzida (PMgM*Y) – que é a
propensão marginal a importar vezes a renda.
Algebricamente, a equação de equilíbrio é dada por:
Y=C + I + G + (X – M)
Substituindo as funções consumo, investimento e importações
obtém-se:
Y=Ca + PMgCYd + Ia + PMgIY – gi + G + [X – (Ma - PMgMY)]
A título de exemplificação, suponha os seguintes elementos:
Ca=800; Ia=1.000; Ta=100; G=500; X=500; Ma=1.000; PMgC=0,80;
PMgT=0,25; PMgI=0,1; PMgM=0,15.
Qual seria a renda de equilibrio?
Y=800 + 0,8(Y- 100 – 0,25Y) + 1.000 + 0,1Y + 500 + [500 – (1.000 +
0,15Y)]
Y=1800 + 0,8Y – 80 – 0,2Y + 0,1Y - 0,15Y
Y=1.720 + 0,55Y
0,45Y=1.720
Y=3.822=> renda de equilibrio.
3.1.7 Instrumentos de Política Macroeconômica - Política Monetária e
Política Fiscal
Na seção anterior, foi possível observar os agregados
macroeconômicos e a maneira como são determinados e mensurados.
As políticas fiscais e monetárias são importantes instrumentos para a
gestão macroeconômica das nações. Assim, a seguinte seção busca
abordar a influência das políticas fiscais e monetárias nas flutuações da
produção total de bens e serviços e no nível geral de preços.
3.1.7.1 Política Fiscal
A política fiscal é um instrumento macroeconômico utilizado pelos
governos principalmente para atingir dois objetivos. Um dos objetivos diz
respeito à utilização da política fiscal como financiadora dos gastos
governamentais utilizados para o cumprimento das funções básicas do
Estado. O segundo objetivo desta política é tentar corrigir ou controlar
flutuações da produção total de bens e serviços (PIB), assim como do nível
geral de preços (inflação). Desta forma, a política fiscal compreende todas
as diretrizes do governo que definem a administração de seus gastos e o
nível de arrecadação dos recursos (impostos).
Do ponto de vista funcional, o governo, através da política fiscal,
pode exercer funções da seguinte natureza:
i. alocativa: quando o Estado provê serviços de segurança e
saúde, ou ao investir na exploração de petróleo;
ii. distributiva: quando transfere fundos de recursos para os
estados ou municípios, assim como ao disponibilizar recursos
para programas sociais, a exemplo do Bolsa Família;
iii. estabilizadora: quando direciona recursos ou abre mão de
receitas tributárias (isenções ou reduções de impostos) para
manter, reduzir ou elevar um determinado nível geral de emprego
e renda.
Na Economia, a função mais estudada talvez seja a estabilizadora,
principalmente pelo fato de ser um importante e poderoso instrumento de
controle e incentivo da produção total de bens e serviços de uma
economia. Ou seja, esta ferramenta pode ser empregada com o propósito
de influenciar tanto o consumo quanto o investimento privado. Se houver a
necessidade de atuação sobre os desequilíbrios no consumo, as
medidas podem atingir os impostos sobre a renda ou sobre o consumo.
Uma redução das alíquotas estimulará o consumo, enquanto a sua
elevação produzirá um efeito contrário. Os investimentos privados também
podem ser influenciados através de modificações nas alíquotas dos
impostos pagos pelas empresas. Assim, a política fiscal pode assumir um
perfil expansionista, quando deseja incentivar a atividade econômica, ou
contracionista, quando o objetivo é controlar o nível de produção e preços
(inflação).
As políticas fiscais expansionistas normalmente são efetivadas
através do aumento das compras governamentais de bens e serviços,
através do corte de impostos ou ainda pelo aumento das transferências
para os entes federados ou diretamente para os cidadãos, como é o caso
do seguro-desemprego. As políticas fiscais contracionistas buscam atingir
objetivos opostos da expansionista e são implementadas via redução das
compras governamentais de bens e serviços, aumentando os impostos ou
reduzindo transferências do governo. Segundo Krugman (2007), deve-se
ter cuidado com políticas fiscais estabilizadoras extremamente ativas, pois
quando um governo se esforça demais para estabilizar a economia pode
acabar tornando a economia ainda menos estável.
3.1.7.1 Política Monetária
Na década de 1960, os debates entre keynesianos e monetaristas
dominaram o campo acadêmico da Economia. Esses debates
concentravam-se no papel da política econômica e na eficácia da política
fiscal versus a política monetária. Milton Friedman, principal intelectual dos
monetaristas e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1976,
contestava a percepção de que a política fiscal afetaria o produto de
maneira mais rápida e confiável do que a política monetária. Assim, em
1963, ele e Anna Schwartz publicaram o livro A Monetary History of the
United States, 1867-1960, onde analisaram os ciclos de produção dos
Estados Unidos e concluíram que a política monetária era mais eficiente e
que o movimento do estoque monetário explicaria grande parte das
flutuações do produto.
No Brasil, a política econômica adotada amenizou os impactos da
crise econômica internacional de 2008 e permitiu a retomada do
crescimento econômico do país. Dentreseus instrumentos, houve a
redução da reserva compulsória dos bancos; a queda na taxa básica de
juros; a ampliação das reservas para financiar as exportações; e o
aumento do repasse de recursos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de crédito aos bancos
públicos. Estes são exemplos de política monetária (expansionista). A
política monetária tem o objetivo de criar e de manter um ambiente
macroeconômico estável, garantindo as condições necessárias para a
elevação dos níveis de produto e de emprego na economia. A estabilidade
de preços também é fundamental para permitir o crescimento econômico.
Assim, a compreensão da relação entre oferta monetária, taxa de juros,
produto e nível de preços é importante na compreensão do funcionamento
da política monetária.
A quantidade demandada de moeda, desejada pelos agentes
econômicos para permitir as transações econômicas, está relacionada
inversamente com a taxa nominal de juros. Ou seja, o custo de
oportunidade de manutenção da moeda aumenta com a elevação dessa
taxa. Nesse caso, a moeda poderia ser empregada na compra de títulos,
por exemplo, rendendo juro ao seu proprietário. A curva de demanda por
moeda (tudo o mais constante) se expande (deslocamento para a direita)
quando há o aumento do PIB nominal (crescimento do produto real ou
elevação de preços), havendo o efeito contrário numa redução do PIB
nominal. A oferta de moeda, por sua vez, é determinada pelo Banco Central
do Brasil (BACEN)3 – a autoridade monetária – através de operações de
mercado aberto, da política de redesconto e da exigência de reserva
compulsória. Como a taxa de juros não tem efeito sobre a quantidade de
moeda ofertada pelo BACEN, a curva de oferta monetária é vertical. O
equilíbrio entre oferta e demanda por moeda pode ser observado na Figura
27.
Figura 27 – Equilíbrio entre oferta e demanda por moeda.
Fonte: KRUGMAN, 2007. Elaboração: Raquel Cabral.
O BACEN pode afetar a economia através de uma política monetária
expansionista ou de uma política monetária restritiva. Na primeira situação,
o objetivo é estimular a demanda agregada (expansão do PIB real e do
nível de emprego no curto prazo – política não antecipada pelos agentes
econômicos), sendo efetuada através da aquisição de títulos públicos pelo
BACEN e da ampliação das reservas livres dos bancos e da taxa de
crescimento da oferta monetária. Por outro lado, na segunda situação, o
foco é a redução da demanda agregada (queda do produto real e do
emprego no curto prazo – política não antecipada pelos agentes
econômicos) e da taxa de inflação, sendo alcançadas por meio da venda
de títulos públicos pelo BACEN e da redução das reservas bancárias e da
taxa de crescimento da oferta monetária. No longo prazo, a política
monetária afetará, principalmente, os preços e não o produto real da
economia. Os países que adotam elevadas taxas de crescimento da oferta
monetária tendem a enfrentar altas taxas de inflação.
A política macroeconômica, portanto, tem o objetivo de atenuar as
flutuações que produzem os ciclos econômicos, gerando um crescimento
econômico estável no longo prazo e o controle de preços. Neste sentido, o
governo federal irá adotar as políticas monetária e fiscal – medidas
estabilizadoras.
3.2 Teorias do Comércio Internacional
Economistas internacionais há longo tempo estabeleceram que um
regime comercial liberal é a melhor opção de política comercial,
especialmente para países pequenos, que não podem influenciar os
preços internacionais. Um regime liberal aumentaria a produtividade, a
renda e o bem-estar, através de uma melhor alocação de recursos,
decorrente de uma distribuição mais eficiente dos fatores de produção.
Desta forma, haveria uma especialização da produção nos setores em que
o país possui vantagens comparativas, tanto em termos de dotação de
fatores como tecnológicos. Além disso, haveria uma redução dos
incentivos a atividades improdutivas associadas à proteção, como lobb ies,
evasão fiscal e contrabando. No entanto, a literatura também aponta uma
série de argumentos contrários à liberalização, com destaque para
aqueles que se referem aos efeitos sobre os termos de troca e a indústria
nascente. Essa seção analisa as principais teorias do comércio
internacional, bem como alguns argumentos contrários à liberalização.
3.2.1 Vantagens Absolutas e Comparativas
Adam Smith, no final do século XVIII, refutou a idéia de que o
comércio era um jogo de soma zero, ou seja, que o ganho de um país
ocorria em detrimento de outro, confrontando claramente a doutrina
mercantilista que dominou os séculos XVI a XVIII. Para ele, o comércio
seria um jogo de soma positiva, isto é, ambos os países envolvidos
ganhariam, tanto aqueles que exportavam como os importadores. O livre
comércio seria um mecanismo capaz de promover o aumento da produção
via especialização e, com as trocas, aumentar o consumo e o bem-estar
das populações dos países envolvidos no comércio internacional.
Além de apresentar os benefícios associados ao livre comércio,
Smith precisava mostrar qual o padrão de comércio mais apropriado entre
os países. Para tanto, ele criou o conceito de vantagem absoluta, que
ocorreria quando um país fosse mais eficiente, em termos absolutos, na
produção de um bem. A eficiência seria medida através da produtividade
absoluta do trabalho, ou seja, quanto menos tempo de trabalho fosse
necessário para um país produzir um determinado produto, mais eficiente
ele seria. Portanto, os países deveriam exportar aqueles bens em que
tivessem vantagem absoluta na produção e importar aqueles em que
apresentasse desvantagem absoluta. O trecho abaixo é bastante ilustrativo
da visão de Smith sobre as vantagens absolutas.
“Se um país estrangeiro está em condições de fornecer uma
mercadoria a preço mais baixo do que o da mercadoria fabricada
por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma parcela da produção
de nossa própria atividade, empregada de forma que possamos
auferir alguma vantagem” (SMITH, 1996, p. 380).
David Ricardo, no início do século XIX, levou o argumento de Smith
ao limite, mostrando que mesmo um país que não apresente vantagem
absoluta em produto algum pode se beneficiar do comércio internacional,
criando o que para muitos é o maior insight em economia de todos os
tempos: o conceito de vantagem comparativa. Vamos considerar um
exemplo. Suponha que haja dois países (local e estrangeiro) e dois bens
sendo produzidos (queijo e vinho), sendo o trabalho o único fator de
produção. Imagine que o país estrangeiro consiga produzir 1 quilo de
queijo em 1 hora e 1 litro de vinho em 2 horas, enquanto o país local leva 6
e 3 horas para produzir 1 quilo de queijo e 1 litro de vinho, respectivamente.
De acordo com as vantagens absolutas de Smith, não haveria
possibilidade de ganho com o comércio, pois o país estrangeiro teria
vantagens absolutas em ambos os bens (leva menos tempo para produzir
queijo e vinho do que o país local). No entanto, é possível notar que o país
estrangeiro, mesmo sendo absolutamente mais eficiente em ambos, é
relativamente mais eficiente na produção de queijo, pois leva apenas 1/6
do tempo do país local para produzi-lo, enquanto leva 2/3 do tempo do
local para produzir vinho. O país local, por sua vez, é relativamente mais
eficiente na produção de vinho, pois leva apenas 50% a mais de tempo
para produzi-lo, ao passo que leva 6 vezes mais tempo para produzir
queijo.
Nesse caso, de acordo com Ricardo, se cada país se
especializasse na produção do bem em que fosse relativamente mais
produtivo (o estrangeiro em queijo e o local em vinho), ou seja, que tenha
vantagem comparativa, haveria a criação de excedentes que seriam
trocados pelo outro bem em que o país apresenta desvantagem
comparativa. Desde que o preço de troca entre os países se situasse entre
os preços que vigoram em autarquia, haveria ganhos para todos, na
medida em que as possibilidades de consumo seriam ampliadas. Em
outras palavras, sairia mais barato importar o bem que o país tem
desvantagem comparativado que produzi-lo no próprio país. Portanto, um
país irá exportar o produto no qual tenha vantagem comparativa e importar
aquele em que tenha desvantagem comparativa.
Os economistas Eli Heckscher e Bertil Ohlin, no início do século XX,
criaram uma alternativa ao modelo ricardiano, incluindo outros fatores de
produção além do trabalho na explicação do comércio internacional. A
teoria, que ficou conhecida como Heckscher-Ohlin, enfatiza que as
diferenças de recursos dos países seriam a única fonte de comércio.
Nesse sentido, a vantagem comparativa seria influenciada pela
abundância relativa de fatores que os países apresentam e pela
intensidade relativa do uso de fatores para a produção dos bens. Países
que, por exemplo, possuam relativamente mais terra do que capital seriam
exportadores de produtos que utilizam intensivamente seu fator abundante,
ou seja, a terra (ex: produtos primários), enquanto países que têm
abundância relativa de capital em relação a terra, exportariam bens que
usem intensivamente capital (ex: automóveis). Nesse caso, o padrão do
comércio internacional depende das diferenças na dotação de fatores dos
países. Um país exportará bens que utilizarem intensivamente seu fator
abundante e importará bens que utilizarem intensivamente seu fator
escasso.
A literatura, no entanto, também aponta argumentos clássicos
contrários à liberalização, com destaque para aqueles que se referem aos
efeitos sobre os termos de troca e a indústria nascente. Tais argumentos,
especialmente o relativo à indústria nascente, serviram de apoio para a
estratégia de substituição de importações, ocorridos em boa parte do
mundo em desenvolvimento logo após a 2a Guerra Mundial. O argumento
da indústria nascente, inicialmente proposto por Alexander Hamilton e
desenvolvido por List, defende a adoção de um estímulo temporário a uma
determinada indústria até que ela esteja apta a competir
internacionalmente. Quanto ao termos de troca, Torrens, em 1844, foi o
pioneiro a identificar que no caso de um país grande (isto é, capaz de
afetar os preços mundiais por meio da troca), a adoção de uma tarifa de
importação pode melhorar os termos de troca do país.4 Isso ocorreria
porque esta medida protecionista tende a reduzir o preço das importações
do país que a adotou, na medida em que reduz a demanda global pelo
produto e, dessa forma, melhora os termos de troca do país.
3.2.2 Nova Teoria do Comércio Internacional
Mais recentemente, no início dos anos 1980, a partir da chamada
nova teoria do comércio internacional, baseada em competição imperfeita,
economias de escala e diferenciação de produtos, foram identificados
benefícios adicionais da integração comercial, identificados como efeitos
competição, escala e diversidade (KRUGMAN, 1979; HELPMAN;
KRUGMAN, 1985). A abertura comercial propiciaria um aumento da
competição entre as empresas, que resulta em ganhos de eficiência
técnica, bem como de elevação da escala de produção. De um lado, em
economias mais fechadas, as empresas têm poucos incentivos para
reduzir custos, criar novos produtos e processos de produção e novas
técnicas administrativas e, portanto, para elevar a produtividade. De outro,
economias mais protegidas tendem a limitar o mercado das empresas
nacionais, pelo seu viés anti-exportação, o que reduz a produção para
escalas sub-ótimas. A maior integração econômica permitiria, portanto,
uma maior competição entre as empresas e ganhos de escala. Além
disso, regimes de comércio mais liberais permitem um acesso a uma
maior diversidade de produtos, insumos e bens de capital, elevando o
bem-estar dos consumidores e a eficiência dos produtores. Estes novos
argumentos, associados à crise da dívida externa de 1982 e do sucesso
econômico obtido por alguns países do sudoeste asiático, que adotaram
políticas comerciais liberais já a partir da década de 1960, serviram de
estímulo para estes países buscarem uma maior integração com o resto
do mundo.
Entretanto, a nova teoria do comércio internacional também
identificou uma nova razão para práticas protecionistas na presença de
interações estratégicas entre as empresas (BRANDER; SPENCER, 1985).
Tais interações estratégicas entre empresas ocorreriam quando a
mudança do comportamento de uma empresa causasse uma alteração
do comportamento de outra (resposta estratégica). Ao alterar o
comportamento das empresas,políticas comerciais estratégicas poderiam
influenciar tanto no mercado doméstico quanto no internacional a relação
estratégica entre as empresas. Ao escolher uma tarifa ótima ou subsídio, o
governo poderia afetar o jogo estratégico entre as empresas para favorecer
a empresa doméstica. Entretanto, a possibilidade de retaliação por parte
do governo de outro país, a grande quantidade de informações
necessárias para implementar adequadamente este tipo de políticas e a
influência de grupos de pressão para obter tais benefícios para seus
setores, para citar os mais comuns, tornaram este tipo de intervenção
pouco recomendada pelos economistas.
A partir do final da década de 1980, as novas teorias do crescimento
econômico, baseadas na endogeneização do progresso técnico [(ROMER,
1986; LUCAS, 1988), forneceram novos argumentos em favor da abertura
econômica. Primeiro, o comércio de bens expandiria o fluxo de idéias e
tecnologias, reduzindo o custo da inovação. Ao mesmo tempo,
pressionaria as empresas sem acesso a fontes tecnológicas externas a
investir em inovação. Assim, haveria uma expansão da base tecnológica
dos países, o que estimularia a produtividade e, por consequência, o
crescimento. Segundo, o comércio poderia elevar o tamanho do mercado
induzindo os investimentos em indústrias com retornos crescentes que
não seriam viáveis em mercados menores, além de permitir o acesso de
agentes domésticos a bens de capital a um custo mais acessível,
removendo assim barreiras ao investimento e às exportações. Terceiro, a
abertura comercial criaria incentivos ou obrigaria (através de instituições
multilaterais) a adoção de políticas macroeconômicas e/ou regulatórias
virtuosas, o que também contribuiria para taxas de crescimento mais
elevadas. Portanto, ao estimular a produtividade, o investimento e políticas
virtuosas, o comércio estimularia o crescimento econômico.5
3.3 Sugestão de Sites
Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
Site Oficial da Organização Mundial de Comércio: www.wto.org
3.4 Conceitos Importantes
Termos Básicos
Produto Nacional Bruto Consumo Autônomo
Produto Interno Bruto Propensão Marginal a Poupar
Produto Nacional Líquido Política Fiscal
Poupança Política Monetária
Depreciação Vantagens Absolutas
http://www.bcb.gov.br
http://www.fazenda.gov.br
http://www.wto.org
Lei Psicológica Fundamental Vantagens Comparativas
Propensão Marginal a Consumir
REFERÊNCIAS
ANDERSON, K.; H. NORHEIM “History, geography and regional integration”.
In: K. ANDERSON; BLACKHURST, R. (eds.), Regional Integration and the
Global Trading System . London: Harvester-Wheatsheaf, 1993, pp. 19-51.
BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2007.
BRANDER, J.; SPENCER, B. Export subsidies and market share rivalry.
Journal of International Economics, 18, 1985, pp. 83-100.
FROYEN, Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.
HELPMAN E.; KRUGMAN, P. Market Structure and Foreign Trade.
Cambridge, MA: MIT Press, 1985.
KRUGMAN, P. Increasing returns, monopolistic competition and
international trade. Journal of International Economics, 9, 1979, pp. 469-
479.
KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 5a
Ed. São Paulo: Makron Books. 2001.
KRUGMAN, Paul R. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
LOPES João C.; ROSSETTI, José P. Economia Monetária, 8. ed. São Paulo:
Atlas S/A: 2002.
LUCAS, Robert. On the mechanics of economic development. Journal of
Monetary Economics, 22, 1988, pp. 3-42.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus,2000.
MOCHON, Francisco; TROSTER, Roberto Luis. Introdução à Economia.
São Paulo: Makron Books, 2001.
ROMER, Paul. Increasing returns and long run growth. Journal of Political
Economy, 94, 1986, pp. 1002-37.
SACHS, Jeffrey D.; LARRAIN, Felipe. Macroeconomia. São Paulo: Makron
Books, 1995.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e
suas causas. Vol. 1 e 2, São Paulo: Nova Cultural, 1996.
TAYLOR, John B. Principios de Macroeconomia; São Paulo: Ática, 2007.
VINER, Jacob. The Custom Union Issue. London: Carnegie Endowment for
International Peace, 1950.
__________
3 O BACEN foi criado através da Lei nº 4595, de 31 de dezembro de 1964, e é
responsável pela fiscalização e pela supervisão do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
4 Os termos de troca se referem à relação entre os preços de exportação e de
importação de um país. Quanto maior for essa relação, ou seja, quanto maior forem os
preços de exportação em relação aos de importação, maior é o benefício do país.
5 A maior parte dos benefícios e dos custos envolvidos em um processo de integração
não-discriminatória descritos acima, também é observada quando da formação de
blocos econômicos. No entanto, a abertura preferencial se diferencia daquela, pois cria
a possibil idade do que se convencionou chamar criação ou desvio de comércio, termos
originalmente cunhados por Viner (1950). Desde então há um consenso de que os
benefícios só superariam os custos caso a criação de comércio superasse o desvio de
comércio decorrente da liberalização comercial discriminatória.
CAPÍTULO 4
APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS ESTUDADOS – UMA BREVE
ANÁLISE DA ATUAL CONJUNTURA ECONÔMICA
Sérgio Leusin Júnior
O presente capítulo teve a pretensão de definir, qualificar e quantificar os
principais indicadores econômicos do país. Reconhecidamente, tais indicadores são
fundamentais tanto para propiciar uma melhor compreensão da situação presente e o
delineamento das tendências de curto prazo da economia, quanto para subsidiar o
processo decisório. O texto trabalhou com os agrupamentos mais convencionais dos
diferentes indicadores e, sempre que possível, especificou, para cada um deles,
aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e instituição
produtora.
4.1 Agregados Econômicos e a Análise de Conjuntura
A análise da evolução dos agregados econômicos constitui uma
poderosa ferramenta para a tomada de decisão de empresários,
investidores e governos, assim como é frequentemente empregada na
elaboração de planejamentos estratégicos de empresas para a análise do
ambiente externo. Através da evolução de dados econômicos e
estatísticos, é possível verificar, por exemplo, em que grau e em que
setores uma crise econômica, ou uma política econômica, está
impactando de maneira mais significativa. Este exercício é importante,
visto que períodos de recessão ou expansão geram resultados muitas
vezes contraditórios quando comparados com diferentes setores da
economia. Assim, a análise de conjuntura geralmente busca acompanhar
a evolução dos dados disponíveis para que seja possível construir um
diagnóstico, ou ainda, um prognóstico para o período em estudo.
O pano de fundo deste capítulo se inicia com a crise econômica
internacional que, no Brasil, começou no último trimestre de 2008, quando
a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers gerou a interrupção
do fluxo financeiro que irrigava o crédito comercial internacional. De certa
forma, a ocorrência desta crise, também chamada de crise do Subprime,
fornece importantes evidências empíricas da teoria econômica. Assim, ao
longo deste capítulo se buscará visualizar o impacto desta crise em
indicadores selecionados da economia brasileira e, sempre que possível,
aplicar conceitos que seguidamente são utilizados como pressupostos na
ciência econômica.
4.2 A Seleção das Variáveis
As primeiras dificuldades da análise econômica talvez sejam a
seleção e o tratamento dos inúmeros dados disponíveis. Sabe-se que os
dados ou evidências empíricas são essenciais para a compreensão de
uma determinada conjuntura. Porém, a quantidade de informações de
nada servirá caso não se souber transformá-las qualitativamente em
conhecimento útil para a tomada de decisão.
Na próxima seção, será apresentada uma série de variáveis
disponíveis nos principais bancos de dados estatísticos e econômicos do
Brasil. A ordem de apresentação dos dados segue uma lógica usualmente
utilizada em análises de conjuntura econômica. Assim, as informações
serão divididas em dois grupos que abrangem a oferta e a demanda. A
análise dos dados será realizada de maneira breve e direta, buscando
salientar os fatos econômicos mais significativos sem tratamentos
estatísticos ou econométricos, e dentro de uma perspectiva histórica. Cabe
destacar que o objetivo deste capítulo não é desenvolver um estudo
definitivo da conjunção econômica contemporânea, mas sim apresentar
uma maneira de realizar análises de ambientes econômicos, assim como
buscar uma aplicação prática de conceitos econômicos.
No grupo de dados que compõe a oferta, encontra-se a análise do
desempenho da economia brasileira no que tange à produção. Uma
abordagem completa, como a realizada pelo Banco Central do Brasil
(Relatórios de Inflação)6, engloba os setores industrial, agrícola e o
comércio, além da apresentação da evolução do mercado de trabalho,
principalmente salários e rendimentos. Entretanto, nesta breve observação
de dados se buscará analisar o desempenho do setor industrial brasileiro.
Para tanto, a produção industrial será analisada através dos dados da
Pesquisa Industrial Mensal (Produção Física) do Instituto de Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE e do indicador de capacidade instalada
disponibilizado pela Fundação Getúlio Vargas - FGV.
Com relação à demanda, normalmente são analisados o consumo,
os investimentos, a execução orçamentária do governo e o hiato de
recursos externos. Nesta abordagem, será analisado o volume de vendas
do comércio varejista brasileiro fornecido pela Pesquisa Mensal do
Comércio (PMC-IBGE) e indicadores de crédito. Também serão
analisados a evolução do mercado de trabalho e os indicadores de
inflação.
Outros dados indispensáveis em uma análise de conjuntura
econômica são os que dizem respeito à economia internacional, ao
balanço de pagamentos e também à inflação. Com as informações do
grupo da oferta e demanda, é possível verificar as condições do mercado
interno. O balanço de pagamentos fornece esclarecimentos sobre o
ambiente externo e sua influência na economia doméstica. Finalmente,
com a evolução da inflação, é possível identificar se a economia está
sofrendo choques internos ou externos capazes de gerar ou alterar o
comportamento dos preços no período analisado.
4.3 Os dados da oferta
A produção de automóveis no Brasil
A partir do gráfico abaixo, é possível observar que em 2009 ocorreu
uma queda (-1,7%) na produção de veículos, visto que em 2008 a
produção de automóveis foi de 3,21 milhões, valor que supera em 37 mil
unidades a produção de 2009. Mesmo com o cenário adverso observado
em 2008, a produção de veículos foi a maior da história, superando o
antigo recorde observado em 2007. É interessante observar a nítida
desaceleração da produção de automóveis a partir de agosto de 2008, que
se intensifica em dezembro com uma queda na produção de 47,14% em
relação ao mês anterior, e um desempenho 53,77% inferior ao observado
em dezembro 2007.
Com relação às vendas de automóveis, pode-se observar que a
retração do crédito ocorrida em função da falência do Lehman Brothers em
setembro de 2008 gerou um impacto significativo, pois as vendas de
automóveis sofreram forte queda em outubro (-10,94%) e novembro
(-25,66%), voltando a apresentar crescimento positivo em dezembro
(9,16%), principalmente devido às medidas do governo de garantir liquidez
no mercado e reduzir as alíquotas do IOF e IPI.
Figura 28 – Produção total de Autoveículos e Vendas de Autoveículos nas
concessionárias (unidades) – Jan/08-Dez/09.
Fonte: ANFAVEA.Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Em 2009, o mercado de automóveis foi, em grande parte,
sustentado pelos incentivos fiscais do governo federal. Os dados sugerem
que a política fiscal expansionista do governo gerou resultados
interessantes, visto que a queda na produção (-1,7%) e venda (-0,01%) de
autoveículos em 2009 foi apenas marginal, podendo ser considerada
como um cenário de estabilidade na produção e venda.
A partir das figuras 28 e 29, pode-se observar a interação das leis de
oferta e demanda. Quando a produção está acima das vendas, ocorre a
formação de estoques e, quando as vendas estão acima da produção, os
estoques se reduzem. Entre julho e novembro de 2008 (figura 26), por
exemplo, as vendas parecem se situar em patamares inferiores aos da
produção, fato que fica evidenciado pela elevação dos estoques no
mesmo período, em destaque na figura 27.
A análise da oferta e demanda é particularmente importante para o
setor agrícola. A oferta agrícola não tem capacidade de responder
rapidamente aos incentivos da demanda, pois o ciclo de produção não
pode ser acelerado, ou até mesmo alterado, depois de iniciado. Já no
setor industrial, existe a possibilidade de, por exemplo, se ampliar o
horário de produção, ou até mesmo utilizar maquinários mais eficientes
que irão resultar em uma produção maior. Na agricultura, além de não ser
possível alterar o ciclo de produção, existe uma importante variável que
não é controlável: o clima.
Desta forma, os estoques representam uma margem de segurança
e, sempre que estão abaixo de um nível considerado ótimo pelo mercado,
pode ocorrer uma inflação nos preços futuros, visto que os agentes podem
criar expectativas de que não haverá produção e estoques suficientes para
atender à demanda futura. Isso se explica devido ao fato de que quando a
demanda está superior à produção, segundo a lei da oferta e demanda, os
preços devem subir.
Figura 29 – Estoque de Autoveículos (unidades).
Fonte: ANFAVEA. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Os níveis da produção industrial
A Pesquisa Industrial Mensal (Produção Física) do IBGE produz
indicadores de curto prazo relativos ao comportamento do produto real das
indústrias extrativa e de transformação, tendo como unidade de coleta as
empresas que possuem unidades locais registradas no Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, e reconhecidas como industriais pelo
Cadastro Central de Empresas do IBGE.
As variações na produção física industrial por categorias de uso no
ano de 2008 (tabela 6) é uma nítida fotografia do impacto da crise
internacional do Subprime no setor industrial brasileiro. Observa-se que
nos dados deste ano em particular, para todas as categorias de uso, a
queda na produção física foi significativa.
Os bens de consumo duráveis são artigos de consumo de vida útil
longa, como automóveis, televisões, mobiliário e os principais
eletrodomésticos. Já os bens de consumo não duráveis são
representados pelos artigos de vida útil mais curta, como alimentação,
vestuário e combustíveis (gasolina e álcool hidratado). Os bens de capital
e os bens intermediários são utilizados para a produção de outros bens. A
diferença entre eles é que os bens de capital não são inteiramente
consumidos no processo produtivo, como é o caso dos bens
intermediários. Um lingote de aço (bem intermediário) que será
manufaturado em um torno mecânico (bem de capital) para tornar-se um
parafuso, por exemplo, será totalmente consumido ao final do processo.
Já o torno mecânico poderá ser utilizado em inúmeros processos até a
sua depreciação total. Grosso modo, pode-se dizer que os bens
intermediários são as matérias-primas, e os bens de capital são as
máquinas utilizadas na produção de bens intermediários e bens finais. A
expansão da produção de bens de capital e intermediários é condicionada
ao crescimento do consumo. Assim, qualquer queda ou simples
nivelamento na procura por bens de consumo (duráveis, semi-duráveis e
não duráveis) implica em significativa queda na produção de bens de
capital e bens intermediários.
Historicamente se observa que as indústrias que produzem bens
duráveis são mais afetadas pelas crises econômicas em comparação
com as que se dedicam aos bens semi-duráveis e não duráveis. Este fato
é comprovado na crise de 2008, quando a maior queda acumulada no ano
foi para os bens duráveis (-46,9%)7, enquanto que a menor redução
(-5.5%) foi para os bens semi-duráveis e não duráveis.
Tabela 7 – Produção Física Industrial - Brasil 2008
Categorias de
uso
Mês
jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08
Bens de
capital
173,83 179,44 183.64 187,33 175,42 190.78 192.15
Bens
intermediários
223,74 123,52 122,72 121,62 121,86 124,7 126,02
Bens de
consumo
123,91 121,75 123,78 123,1 122.8 125,21 124,78
Bens de 17445 176.92 179,59 176,72 172,47 185,72 273,74
consumo
duráveis
Semi-duráveis
e não duráveis
113,63 120,21 122,38 111,04 111,94 114,47 113,97
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física.
Nota: Índice de base fixa mensal com ajuste sazonal (Base: média de 2002=100).
O ajuste realizado pela indústria de bens de capital e bens
intermediários, devido à crise, foi feito em grande parte nos meses de
novembro e dezembro. A forte restrição de liquidez (crédito) gerou uma
queda abrupta do consumo de bens duráveis, principalmente automóveis,
fato que reverteu as expectativas dos empresários quanto à trajetória da
demanda futura, e fez com que a maioria dos planos de aumento de
capacidade produtiva (compra de novas máquinas) fosse cancelada ou,
pelo menos, adiada. Ou seja, como grande parte dos automóveis é
vendida por meio de financiamentos, e o principal canal de contágio da
crise no Brasil foi via crédito, a quedas nas vendas de bens duráveis, entre
eles os automóveis, impactaram fortemente as expectativas empresariais
quanto aos níveis do consumo futuro, fazendo com que os mesmos
desistissem de apostar no crescimento da demanda que vinha ocorrendo
até o fim do segundo trimestre de 2008. O box a seguir retrata a realidade
vivida pela indústria brasileira, principalmente a automotiva, ao final do
quarto trimestre de 2008.
Velocidade reduzida
A crise financeira atinge todos os elos da cadeia produtiva do setor
de automóveis, um dos mais pujantes da economia brasileira
Nos últimos cinco anos, o setor automotivo foi um dos símbolos
do crescimento da economia brasileira. Entre 2003 e 2008, venderam-
se mais carros no Brasil do que em toda a década de 90. Mas esse
setor pujante, que representa 6,5% do PIB e emprega 1,5 milhão de
pessoas, agora treme sob o impacto da crise financeira global. Em
dois meses, as montadoras no Brasil viram o faturamento cair 15%,
tiveram de dar férias a 45 000 funcionários e acumulam 80 000
veículos em seus pátios e concessionárias. Elas cancelaram a
produção de 400 000 carros, até recentemente encomendados para o
Natal. As montadoras, contudo, são apenas um dos elos numa ampla
cadeia produtiva. Para cada emprego criado em uma delas, treze
vagas são abertas em outras empresas. São ao todo quarenta tipos de
negócio, agrupados em seis grandes núcleos. As histórias que
aparecem nestas páginas são contadas por pessoas ligadas a cada
uma das principais etapas da produção – da fundição de aço e zinco
para confeccionar peças para o motor às montadoras, concessionárias
e financeiras. Todos sentem o impacto da crise, em maior ou menor
grau. "De uma hora para outra, o segmento que ajudou a alavancar o
PIB brasileiro por tanto tempo viu-se pedindo ajuda", resume o
especialista Marcelo Cioffi.
A crise do setor automotivo brasileiro acontece em paralelo à
derrocada das três maiores montadoras dos Estados Unidos. A Ford, a
General Motors e a Chrysler registraram nos últimos meses queda de
30% nas vendas, demitiram 5 000 funcionários e suplicam ao governo
um empréstimo de 34 b ilhões de dólares para evitar a falência, pedido
que tramita no Congresso americano. Também no Brasil, o governo
federal e o do estado de São Paulo liberaram 8 b ilhões de reais para
manter aquecido o mercado de automóveis.Mas é preciso diferenciar
o que acontece nos dois países. No mercado americano, a crise não é
de hoje. O carro é um bem de consumo universalizado nos Estados
Unidos: há um automóvel nas ruas para cada dois americanos. A
demanda que surgiu nos últimos tempos foi por modelos mais
econômicos, mas as empresas locais não souberam explorar essa
oportunidade. Perderam espaço para as concorrentes coreanas e
japonesas, que, além de ser mais ágeis, produzem carros com custos
até 40% menores. Em 2007, a Toyota apresentou um lucro de 12%
nos Estados Unidos, enquanto a GM teve prejuízo de 2%. O Brasil vive
um momento diverso. Aqui, apenas uma em cada oito pessoas tem
carro. Mesmo com a crise que se avolumou no último trimestre, o setor
automotivo deve registrar um crescimento de 8% neste ano. Isso
ainda é crescimento de encher os olhos, ainda que fique distante da
média de 20% dos anos recentes. No Brasil, a Ford e a GM são
empresas rentáveis, que enviam lucros à matriz. O setor
automobilístico nacional não vive uma crise de identidade, como
acontece nos Estados Unidos, mas sofre com a contração do crédito,
que foi efeito imediato do desarranjo nas finanças mundiais. Os 8
bilhões de reais saídos dos cofres públicos têm como finalidade irrigar
o sistema de financiamento para a compra de veículos.
No Brasil, cerca de 70% dos carros são vendidos por meio de
financiamento. Desde que a crise começou, bancos e financeiras
ligados às concessionárias ficaram mais cautelosos na concessão de
crédito. Se antes não pediam comprovação de renda para abrir um
financiamento, hoje exigem que a prestação não comprometa mais do
que um quarto do salário mensal. "Estamos fugindo das lojas situadas
em bairros e cidades mais pobres", diz Sérgio Cipovicci, diretor do
setor responsável pelo financiamento de carros no banco HSBC. O
resultado da escolha dos clientes a dedo é que as vendas
despencaram, principalmente as de veículos populares. As linhas 1.0
caíram 20% e, pela primeira vez em treze anos, representaram
menos da metade de carros vendidos em outubro. "A dificuldade de
obter financiamento espanta primeiro a classe que mais depende dele
para comprar – e também a que mais produz vendas", afirma Letícia
Costa, vice-presidente da Booz & Company.
O freio brusco na concessão de crédito teve um efeito direto
sobre as montadoras e as concessionárias, que lidam com o
consumidor final. Mas outras empresas ligadas ao mercado
automotivo não escaparam ilesas. Algumas tiveram seus pedidos
cancelados de uma hora para outra. "Trabalhávamos no ritmo máximo
de produção e agora estamos a passo de tartaruga", explica Devanir
Brichesi, dono de uma empresa de fundição de metais. Em outros
casos, foi preciso alterar o foco dos negócios. Hoje, metade da
produção da Bridgestone Firestone, uma das maiores fornecedoras de
pneus do país, se destina diretamente aos clientes que vão trocar o
pneu do carro usado. "Antes, eles quase não faziam diferença no
nosso faturamento", diz um dos diretores da empresa. Especialistas
acreditam que as vendas poderão acelerar novamente caso as linhas
de crédito sejam desobstruídas. Por isso, empresas bem preparadas
para enfrentar um período de instab ilidade não abandonaram a
aposta no mercado brasileiro. A Magneti Marelli, uma das maiores
fabricantes de autopeças do mundo, acredita que o Brasil é o país
com o maior potencial, dos dezesseis onde atua. "Não vamos
interromper nossos planos de expandir os negócios por aqui", afirma o
italiano Virgilio Cerutti, presidente da empresa no país.
Fonte: Revista Veja, Edição 2090
10 de dezembro de 2008 Marcos Todeschini
Utilização da capacidade instalada
A forte queda ocorrida na produção, em virtude da crise, provocou
um alto grau de ociosidade na indústria brasileira. Um dos importantes
indicadores do grau de ociosidade das indústrias brasileiras é o Nível de
Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) produzido pela FGV. Os
indicadores de capacidade instalada são seguidamente utilizados como
proxy para o cálculo do PIB potencial8, e para revelar a possibilidade e
capacidade de resposta das firmas às condições de mercado. Ele é
mensurado em percentuais e busca representar o nível de utilização
média da capacidade instalada das indústrias brasileiras.
A título de exercício didático, é apresentado abaixo o gráfico com as
curvas da capacidade instalada da indústria geral brasileira e também da
indústria de produtos farmacêuticos e veterinários. Novamente é possível
observar a diferença no comportamento da evolução dos dados para duas
variáveis de um mesmo setor da economia.
Figura 30 – Util ização da Capacidade Instalada - Ind. Geral e Ind. de Produtos
Farmacêuticos e Veterinários (%).
Fonte: FGV. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Observa-se que a indústria de produtos farmacêuticos e veterinários
pouco foi influenciada pela crise internacional se comparada ao restante
das indústrias. Isso se dá devido ao fato de que os bens produzidos pela
indústria farmacêutica e veterinária provavelmente são pouco sensíveis
(inelásticos) a variações na renda, preços e expectativas. Não é difícil
acreditar nesta hipótese, visto que é improvável que um indivíduo reduza
ou deixe de consumir os remédios de que necessite em função de uma
crise. Provavelmente, o consumidor irá restringir ou adiar o consumo de
bens duráveis que normalmente são mais sensíveis a variações na renda,
preços e expectativas.
4.4 Os dados da demanda
Crédito disponível na economia brasileira
Em dezembro de 2009, o volume total de operações de crédito do
Sistema Financeiro Nacional alcançou a marca história de 45% do PIB,
superando, desta forma, o patamar de concessão de crédito anterior ao
aprofundamento da crise financeira internacional em setembro de 2008.
Analisando a política monetária dos últimos anos, pode-se supor que a
condução da política creditícia do Banco Central tem sido orientada em
sentido expansionista, visto que a distensão de mecanismos visando à
redução dos custos de intermediação financeira e a ampliação da oferta
de crédito favorecem para esse objetivo, assim como o decréscimo nos
recolhimentos compulsórios, além da diminuição da alíquota do IOF para
pessoas físicas.
O crédito é um importante canal de transmissão da política
monetária e foi determinante para a retomada do crescimento econômico
brasileiro no período recente. Na figura abaixo, verifica-se a existência de
três ondas que retratam a significativa volatilidade que o crédito
apresentou no Brasil desde 1990. A primeira onda, compreendida entre
1990 e 1994, caracteriza-se por possuir movimentos de contração e
expansão do crédito. Esta dinâmica é decorrente dos planos de
estabilização frustrados que foram baseados em congelamentos de
preços que, somente por curtos períodos, controlavam a inflação. Este
ambiente de incerteza criado pela instabilidade dos preços repercute,
invariavelmente, na redução da oferta e demanda por crédito. Na segunda
onda (1995 a 2002), nos anos que se seguiram à estabilização da inflação
(Plano Real), o crescimento do crédito foi interrompido devido aos efeitos
de recorrentes choques externos, como a crise do México (1995), da Ásia
(1997), da Rússia (1998), além da repetição dos episódios ocorridos
nestes países emergentes, desta vez no Brasil em 1999. A partir de 2003,
teve início a terceira onda da evolução do crédito no Brasil, que é
caracterizada pelo mais longo ciclo expansionista da história recente do
país. O longo período de estabilidade e liquidez internacional observado no
período pós 2002 e as reformas no Sistema Financeiro Nacional foram
determinantes para o presente ciclo de expansão.
Figura 31 – Operações de crédito do sistema financeiro em relação ao PIB (Em %).
Fonte: BCB-DEPEC. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Segue abaixo um box na qual o Banco Central apresenta a evolução
recente do nível de crédito disponível na economia brasileira. A análise
deste indicador é de fundamental importância, pois o consumo de
diversos bens duráveis, como automóveis, geladeiras e televisores é
altamente correlacionadocom o nível de crédito disponível na economia.
II - Operações de crédito do sistema financeiro
As operações de crédito do sistema financeiro totalizaram
R$1.410 b ilhões em dezembro, registrando crescimentos de 1,6% no
mês e de 14,9% em doze meses. Com esse resultado, o estoque total
de empréstimos passou a representar 45% do PIB, ante 45,1% em
novembro e 39,7% em dezembro de 2008. O desempenho no ano
configura significativa recuperação do mercado de crédito, após a
contração verificada no final de 2008 e início de 2009. A retomada das
contratações ocorreu primeiramente no crédito a pessoas físicas, que
ao final do ano se apresenta em condições semelhantes às
observadas em 2007 e 2008, tanto com respeito aos volumes
negociados, quanto em relação às taxas de juros e de inadimplência.
As operações destinadas às empresas seguem em recuperação
gradual, registrando trajetórias favoráveis de redução de juros e de
inadimplência, requisitos fundamentais para o restabelecimento do
seu ritmo de expansão.
A evolução dos empréstimos, em dezembro, foi sustentada
pelo desempenho das carteiras com recursos direcionados,
impulsionadas pelo crescimento dos financiamentos do BNDES e pela
manutenção da trajetória expansionista do crédito habitacional. O
crédito a pessoas físicas apresentou desaceleração, associada à
disponib ilidade adicional de recursos provenientes do décimo terceiro
salário, favorável à quitação de dívidas de curto prazo. No segmento
de pessoas jurídicas, a recuperação manteve-se em passo moderado,
com continuidade da retração nas operações referenciadas em
moeda estrangeira.
O saldo de empréstimos e financiamentos com recursos livres,
correspondente a 67,6% do total de crédito do sistema financeiro,
atingiu R$953,1 b ilhões em dezembro, resultado de elevações de
0,8% no mês e de 9,4% no ano. O desempenho mensal foi
condicionado pelo aumento de 1,2% nos empréstimos destinados a
pessoas físicas, cujo saldo totalizou R$470,7 b ilhões. As carteiras de
crédito das pessoas jurídicas cresceram 0,5% no mês, ao somar
R$482,4 b ilhões, evolução condizente com o comportamento
observado nos financiamentos referenciados em recursos domésticos,
que registraram alta de 1,1% no
período. 
Fonte: BCB – (Nota para a imprensa 21/01/2010 - Política
Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro)
Devido ao incremento do volume de crédito disponível na economia
brasileira ao longo dos anos, é de se esperar que o número de consultas
aos cadastros de proteção ao crédito tenha seguido a mesma tendência.
Ou seja, na medida em que o acesso ao crédito é ampliado e facilitado, os
comerciantes acabam utilizando um número maior de vezes os
instrumentos necessários para a concessão de crédito, como as
consultas aos cadastros especializados9 do SPC e Usecheque.
Sempre que possível, a obtenção das observações deve ser
planejada previamente. Para muitos casos, o número de observações e o
intervalo de amostragem são determinados segundo os objetivos do
investigador. Caso o objetivo do pesquisador seja comprovar a hipótese do
parágrafo acima, o qual diz que o incremento do volume de crédito na
economia é um dos fatores que gerou a elevação do número de consultas
aos cadastros de proteção ao crédito, basta observar nas figuras 29 e 30
que esta hipótese será aceita. Contudo, caso o objetivo seja identificar se
realmente ocorreu a noticiada hipótese de que o mercado brasileiro estava
receoso quanto à possibilidade de ocorrer uma onda de calote após a
eclosão da crise do Subprime, é possível que este fato não seja facilmente
verificado através dos dados de consultas aos cadastros especializados.
Figura 32 – Número de consultas ao SPC e Usecheque (dez/91-dez/09).
Fonte: BCB. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Analisando a figura acima, observa-se que as variáveis (consultas
ao SPC e Usecheque) parecem oscilar com um elevado grau de
correlação em todo o período (dez/91-dez/09). Também é possível supor
que os dados oscilam entre um mínimo, que ocorre geralmente em janeiro
ou fevereiro, e um máximo, que ocorre em dezembro. Assim, pode-se
afirmar que ocorre uma variação sazonal, cujo período aproximado é de
doze meses, fato que torna complexo observar movimentos fora de um
padrão nesta série de dados. Através do devido tratamento estatístico ou
econométrico destes indicadores, é provável que se possa demonstrar a
existência de um movimento preventivo por parte dos comerciantes,
temerosos de uma possível onda de inadimplência no período posterior à
eclosão da crise do Subprime.
Pesquisa Mensal do comércio (PMC)
O indicador de demanda representado pela Pesquisa Mensal de
Comércio (PMC) do IBGE permite acompanhar o comportamento
conjuntural do comércio varejista no Brasil. A PMC investiga a receita bruta
de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais
pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista.
No gráfico abaixo, é apresentada a evolução da variação acumulada
em 12 meses10 no período compreendido entre novembro de 2002 e
novembro de 2009 para o Brasil e Rio Grande do Sul. Observa-se que em
2005 o comércio varejista gaúcho apresenta um descolamento da
trajetória do restante do país. Este fato se deve à maior estiagem dos
últimos 40 anos ocorrida no Rio Grande do Sul em 2005, que fez com que
a produção de soja, uma das principais culturas temporárias do estado,
caísse de 5.541.714 toneladas em 2004 para 2.444.540 toneladas em
2005. Neste ano, o PIB gaúcho caiu 2,8%, revelando seu alto grau de
dependência do setor agropecuário na estrutura produtiva da economia
sulina.
Figura 33 – Volume de vendas no comércio varejista – nov/02-nov/09 (Var. %
acumulada em 12 meses).
Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Os dados do gráfico acima sugerem que o varejo brasileiro foi
impactado pelo cenário internacional turbulento já em outubro de 2008. O
volume de vendas acumulado ano de 2008 (9,13% BR e 6,44% RS)
apresentou um resultado semelhante ao observado em 2007 (9,68% BR e
7,0% RS), ano considerado ótimo para o varejo brasileiro. Já o resultado
para o ano de 2009, acumulado em 12 meses até novembro11 (5,29% BR
e 1,63%), retrata bem a perda de fôlego da capacidade de consumo da
população brasileira e gaúcha durante os meses subsequentes à crise
desencadeada em setembro de 2008.
A série de gráficos apresentados abaixo busca explicitar novamente
a diferença de comportamentos entre variáveis de um mesmo setor da
economia, assim como ocorreu nos dados da produção industrial, no qual
se observou uma significativa diferença no comportamento dos dados da
indústria de bens de consumo duráveis dos bens de consumo não
duráveis e semiduráveis.
Figura 34 – Volume de vendas no comércio varejista por tipo de atividade – Jan/08-
Nov/09 (Var. % acumulada em 12 meses).
Fonte: IBGE. Elaboração: Sérgio Leusin Jr.
Na sequência de gráficos acima, algumas informações devem ser
destacadas, pois não é em qualquer variável econômica que a influência
de crises é facilmente perceptível. Analisando somente a evolução do
volume de vendas do segmento varejista de livros, jornais, revistas e
papelaria, assim como do segmento de artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, perfumaria e cosméticos, é possível sugerir que não houve
crise para o setor varejista brasileiro. Outra informação possível de se
observar na sequência de gráficos é a evidente correlação existente entre o
consumo de dois bens complementares (veículos e combustíveis), visto
que a persistente queda do consumo de veículos e motocicletas gerou,
com certa defasagem, uma desaceleração nas vendas de combustíveis e
lubrificantes.
Ao realizar análises sobre o consumo, é importante se ter noção de
conceitos econômicos básicos para a real compreensão da realidade
econômica. A elasticidade é um bom exemplo, pois certos produtos ou
setores são inelásticos, ou seja, mesmo ocorrendo variações na renda do
consumidor, ou ainda, nos preços de bens complementares ou
substitutos,seu consumo (no caso do produto) ou produção (no caso do
setor) permanecem estáveis. Abaixo segue um box que usa o conceito de
elasticidade para auxiliar a análise econômica e criação de cenários
futuros:
-RETROSPECTIVA: APÓS INÍCIO NEBULOSO, 2009 FECHA
PROMISSOR AO ALGODÃO
SAFRAS (23) - O mercado brasileiro de algodão iniciou 2009
com uma perspectiva pessimista, que se estendeu até meados de
setembro. Apesar das temporadas anteriores não terem sido de
preços firmes, a tendência parece ter sido alterada. A reversão do
quadro negativo internacional, bem como a desvalorização do dólar
frente a outras moedas internacionais, trouxe de volta uma perspectiva
positiva à fibra para a safra 2009/10.
Diferente de produtos que variam pouco com a situação
econômica da população - como o feijão e o arroz -, a fibra reage
fortemente a mudanças das condições (variáveis) fundamentais do
mercado. Vestuário e tecidos são bens que, em momentos de crise,
tendem a ficar em segundo plano na cesta do consumidor.
A queda da demanda por parte da indústria em tempos de
turbulência é natural, devido ao comportamento racional do
consumidor em relação a estes bens. Com o retorno do cenário
financeiro estável e a volta do crescimento das economias mundiais, a
procura volta a andar nos eixos, sendo previstos retrações dos
estoques mundiais. Tal perspectiva já foi sentida na China que, em
função da demanda interna aquecida, manteve condições especiais
para a importação, a fim de garantir o suprimento interno da fibra.
Com a crise financeira internacional deflagrada em meados de
2008, as linhas de crédito encolheram e a demanda da indústria se
retraiu, determinando a queda de área do algodão em boa parte dos
principais produtores mundiais. No Brasil não foi diferente. Em
2008/09, a queda da área atingiu 20%. Para esta temporada, a
tendência menos pessimista aponta para uma estab ilidade da área.
O Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) espera
mais uma temporada de recuo, estimado em 7%. A fraqueza da
pluma da temporada passada até mesmo sentenciou o
desaparecimento do plantio em algumas áreas, como no Paraná.
Contudo, passada a tempestade trazida pela crise, os tempos são de
bonança e as receitas com a fibra começam a se aproximar dos
custos.
A produtividade esperada para a temporada 2009/10 tende a
ser superior a 2008/09, pois projeta-se um clima mais favorável. Na
temporada passada, muitos dos principais estados produtores
sofreram com o excesso de umidade, que comprometeu boa parte
dos baixeiros das plantas. O setor, que apostou pouco em adensado
em 2008/09, aponta para um 2009/10 com alargamento deste tipo de
algodão, a fim de reduzir custos com insumos. Embora não seja a
panacéia, este tipo de cultivo pode ser encarado como um nicho de
mercado, com um pouco mais de sujeira, porém com bom HVI.
A combinação de forte revés da demanda, a quarta redução
consecutiva da produção mundial e a desvalorização do dólar já estão
fornecendo fundamentos altistas para o primeiro semestre de 2010.
Este resultado está refletido no bom desempenho dos contratos
futuros de Nova York.
Essa maior procura também foi verificada no mercado
brasileiro, impactando fortemente nos preços. Embora acredita-se que
a oferta interna seja suficiente, muitos compradores voltaram com
mais força ao mercado entre outubro e dezembro, para garantir
estoques e continuar a produção no período de entressafra.
O consumo de algodão, bastante afetado no curto prazo com a
crise, agora será beneficiado pela característica de ser uma das
commodities que tem a recuperação mais rápida quando a economia
mostra sinais de estab ilização e reaquecimento.
Assim, após temporadas duras ao produtor, 2009/10 promete
preços médios mais convidativos. Além disso, mais um ano de recuo
das exportações norte-americanas pode propiciar que o algodão
brasileiro se aproveite desta brecha no market share mundial.
Fonte: Retrospectiva do Algodão - Agência Safras
Rafael Pentiado Poerschke (Analista de Mercado)
Rodrigo Ramos (Jornalista)
4.5 Indicadores do mercado de trabalho
Abaixo é apresentada a evolução da taxa de desemprego do Brasil,
representada pelas seis maiores regiões metropolitanas do país. Esta
taxa é a relação entre o número de pessoas desocupadas (procurando
trabalho) e o número de pessoas economicamente ativas. A População
Economicamente Ativa (PEA) compreende o potencial de mão-de-obra
com que pode contar o setor produtivo, isto é, a soma da população
ocupada e da população desocupada. Ou seja, quando se fala que a taxa
de desemprego está em 10%, por exemplo, significa dizer que um décimo
da PEA está desocupada.
A PEA de dezembro de 2009 para as regiões metropolitanas de
Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre
estava constituída por um universo de 23,4 milhões de brasileiros e
indicava para este mês uma taxa de desemprego de 6,8%, significando
que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas destas regiões
metropolitanas estavam em condições de trabalhar, estavam procurando
emprego, mas não tiveram sucesso.
Figura 35 – Taxa de desemprego - Brasil – Nov/02-Nov/09 (Em %).
Fonte: IBGE. Elaboração: Sergio Leusin Jr.
A crise financeira internacional parece não ter afetado o mercado de
trabalho no Brasil em 2009 e 2008. A taxa de desemprego caiu de 7,45%
em 2007 para 6,79% em 2008. Já em 2009, a taxa permaneceu
praticamente igual (6,8%) à de 2008, apesar de uma elevação da PEA, ou
seja, o número de ocupados cresceu acima do número de pessoas que
passaram a fazer parte do mercado de trabalho. É importante salientar que
a taxa apresentada em 2008 e 2009 foi a menor desde 2002, quando o
instituto começou a utilizar novos parâmetros de medição.
4.6 Indicadores de inflação
A inflação é o processo de alta generalizada e contínua no nível geral
de preços dos bens e serviços negociados em um país e que se traduz na
gradativa redução do poder de compra da moeda nacional. Normalmente,
a inflação ocorre em função de desequilíbrios no mercado de certos bens,
refletindo um excesso de demanda em relação à oferta, dados os preços
correntes estabelecidos, ou ainda, devido a choques externos. O cálculo
da inflação é efetuado com base em índices de preços que quantificam o
preço médio de um conjunto de bens e serviços comprados pelos
consumidores. No Brasil os principais indicadores de inflação são o IGP-
M e IGP-DI, calculados pela FGV e o INPC, e o IPCA, calculado pelo IBGE.
A diferença entre os índices está nos produtos que são incluídos na
pesquisa, no público que é afetado pela variação dos seus preços, e no
período de medição dos valores. O IGP-M registra a inflação de preços
variados, desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e
serviços finais. Ele é muito usado para reajustar preços de aluguéis e de
tarifas públicas como a energia elétrica. A diferença entre o IGP-M e o IGP-
DI está no período de coleta, enquanto o primeiro é medido do dia 21 de
um mês ao dia 20 do mês seguinte, o segundo é mensurado entre os dias
1° e 30 do mês de referência.
A população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos
mensais compreendidos entre 1 e 6 salários mínimos, cujo chefe é
assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas
das 11 regiões metropolitanas pesquisadas (Belém, Fortaleza, Recife,
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre,
Brasília e Goiânia). O IPCA serve de referência às famílias com
rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários mínimos,
para qualquer fonte de rendimento, e residentes nas áreas urbanas das
regiões metropolitanas utilizadas pelo INPC. O IPCA é utilizado pelo Banco
Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no
sistema de metas de inflação. A meta de inflação está fixada em 4,5%.
Abaixo, é apresentada a evolução de indicadores de inflação desde
o primeiro ano após o Plano Real até 2009. Antes do Plano Real, o salário
do trabalhador chegava ao final do mês com seu poder de compra
significativamentecomprometido, pois os preços dos bens e serviços
haviam crescido absurdamente. Até então, um dos remédios muito
utilizados para combater a inflação era a indexação. Contudo, a utilização
deste instrumento acabou por tornar-se um elemento realimentador da
inflação, pois a inclusão de mecanismos de reposição automática na
formação de preços e salários tornava todo o processo um inútil caminhar
em círculos devido à antecipação desta dinâmica pelos agentes
econômicos.
Tabela 8 – Indicadores de Inflação – (Variação percentual acumulada em 12 meses)
Período 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
INPC 21,98 9,12 4,34 2,49 8,43 5,27 9,44 14,74 10,38 6,13
IPCA 22,41 9,56 5,22 1,65 5,94 5,97 7,67 12,53 9,30 7,60
IGP-DI 14,77 9,34 7,48 1,70 18,98 9,81 10,40 26,41 7,67 12,14
IGP-M 15,24 9,20 7,74 178 20,10 9,95 10,38 25,31 8,21 12,41
Fonte: IBGE e FGV.
Em 1995, ainda se observa a inflação em patamares elevados, mas
com uma tendência de queda que se observou até 1998. O ano de 1999 foi
um período de transição para a economia brasileira. Em janeiro, chegava
ao ápice a grave crise cambial iniciada após a eclosão da crise russa,
ocasionando no Brasil a desvalorização do real e o abandono do regime
de câmbio administrado. Devido a este acontecimento, em junho de 1999,
o Banco Central instituiu o regime de política monetária de metas para a
inflação. Este sistema trouxe mais racionalidade e transparência à
condução da política monetária, estimulando o debate sobre temas
relacionados às causas da inflação, assim como evidenciando os
benefícios gerados pela adoção de uma postura preventiva por parte da
autoridade monetária.
Pelo sistema de metas de inflação, que tem como referência o IPCA,
o Banco Central tem por objetivo fazer com que a inflação fique a mais
próxima possível do centro da meta. Em 2008 e 2009, a meta central de
inflação foi de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais
para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode oscilar entre 2,50% e
6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida. Em 2008, o IPCA
acumulado foi de 5,9%, percentual que, embora esteja dentro do intervalo,
ainda está acima da meta central de 4,5%. Nos últimos 7 anos, o IPCA
apresentou dois movimentos diferentes. Entre 2002 e 2006, se observa
uma redução sistemática do índice, passando de 12,53% no acumulado
do ano em 2002 para 3,14% em 2006. Ocorre a reversão desta tendência
de queda do índice com a elevação observada em 2007 (4,46%) e em
2008 (5,90%). No ano de 2007 e até meados de 2008, se observava um
forte impacto dos preços dos alimentos e do petróleo sobre a inflação
brasileira. A partir da eclosão da crise, as perspectivas de crescimento
mundial se reduziram, fazendo com que o descompasso entre oferta e
demanda mundiais de alimentos e petróleo, principalmente no mercado
futuro, se reduzisse. Este movimento de reversão de expectativas, ao lado
da forte desaceleração econômica global, reduziram a pressão destes
itens sobre a inflação, fato que pode ser evidenciado pela desaceleração
sistemática de todos os índices em 2009.
4.7 Indicação de Sites
Site Oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
www.ibge.gov.br
Site Oficial do Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
Site Oficial do Ministério da Fazenda (Brasil): www.fazenda.gov.br
4.8 Conceitos Importantes
Termos Básicos
Bens de consumo duráveis Recolhimentos compulsórios
Bens de consumo não duráveis Política Monetária
Bens de capital Política Fiscal
Bens intermediários Sazonalidade
Bens Complementares
http://www.ibge.gov.br
http://www.bcb.gov.br
http://www.fazenda.gov.br
REFERÊNCIAS
FGV. Fundação Getúlio Vargas. Instituto Brasileiro de Economia. Disponível
em: <http://www.fgv.br/>. Acesso em: 29 dez. 2009.
Retrospectiva: após inicio nebuloso, 2009 fecha promissor ao algodão.
Disponível em: <http://www.safras.com.br>. Acesso em: 29 dez. 2009.
Operações de credito do Sistema Financeiro. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 29 jan. 2010.
Velocidade Reduzida. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/101208/p_158.shtml>. Acesso em: 29 dez. 2009.
__________
6 O Relatório de Inflação é uma publicação trimestral do Banco Central do Brasil, que
tem como objetivo avaliar o desempenho do regime de metas para a inflação e
delinear um cenário prospectivo sobre o comportamento dos preços, explicitando as
condições das economias nacional e internacional que orientaram as decisões do
Comitê de Política Monetária (Copom) com relação à condução da política monetária.
7 Para se obter as variações percentuais acumuladas com índices de base fixa deve-
se:=(t/t-1)-1)*100.
8 PIB Potencial é a quantidade máxima de bens e serviços finais que uma economia é
capaz de produzir considerando que todos os seus fatores produtivos estão sendo
util izados à plena capacidade. Ele não indica o limite de crescimento de uma
economia, mas a sua capacidade de crescer sem gerar pressão inflacionária no longo
prazo.
9 Muitas vezes chamados de Cadastros Negativos, eles mostram o perfi l do consumidor
e a presença de dívidas não pagas em seu nome. São util izados para proteger os
comerciantes dos maus pagadores.
10 A uti l ização do volume acumulado em 12 meses é particularmente interessante, pois
permite analisar uma importante proxy da demanda agregada entre períodos diferentes
sem preocupar-se com deflacionamentos necessários em função da evolução dos
preços.
11 Última informação disponível (01/02/2009).
http://www.fgv.br/
http://www.safras.com.br
http://www.bcb.gov.br/
http://veja.abril.com.br/101208/p_158.shtml
SOBRE OS AUTORES
ANDRÉ FILIPE ZAGO DE AZEVEDO
Doutor em Economia pela University of Sussex (Reino Unido). Mestre em
Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS. Professor do Programa
de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS).
ANGÉLICA MASSUQUETTI
Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Economia Rural pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em
Ciências Econômicas pela UFRGS. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS).
GISELE SPRICIGO (org.)
Doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Mestre em
Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS).
MÁRCIO ELOIR SCHWEIG
Mestre em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). Professor e Coordenador do Curso de Comércio Exterior da
UNISINOS.
RAQUEL NEGRISOLI FERNANDEZ CABRAL (org.)
Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP).
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Professora tutora da Escola de Negócios da educação à
distância da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
SÉRGIO LEUSIN JÚNIOR
Mestre em Economia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Professor e Coordenador do Curso de
Ciências Econômicas da UNISINOS.
TIAGO WICKSTROM ALVES
Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Mestre em Economia Rural pela UFRGS. Bacharel em Ciências
Econômicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor
do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS).
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
Reitor: Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ
Vice-reitor: Pe. José Ivo Follmann, SJ
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© dos autores, 2016
2016 Direitos de publicação da versão eletrônica (em e-book) deste livro
exclusivosda Editora Unisinos.
P957 Economia introdutória: Princípios de economia e de análise de
conjuntura [recurso eletrônico] / Gisele Spricigo, Raquel
Negrisoli Fernandez Cabral (orgs.). – 2. ed. – São Leopoldo
: Ed. UNISINOS, 2016.
1 recurso online – (EaD)
ISBN 978-85-7431-747-2
1. Economia. 2. Microeconomia. 3. Macroeconomia. I.
Spricigo, Gisele. II. Cabral, Raquel Negrisoli Fernandez. III.
Série.
mailto:editora@unisinos.br
http://www.edunisinos.com.br/
CDD 330
CDU 330
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Bibliotecária: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252)
Coleção EAD
Editor: Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial: Jaqueline Fagundes Freitas
Revisão: Wilson Chagas Junior
Editoração: Guilherme Hockmüller
A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que
compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos,
sem autorização escrita do editor, é ilícita e constitui uma contrafação
danosa à cultura. Foi feito depósito legal.
	Economia introdutória: princípios de economia e de análise de conjuntura
	Folha de rosto
	Sumário
	Apresentação
	Capítulo 1 – Princípios básicos de economia
	Capítulo 2 – Conceitos fundamentais de microeconomia
	Capítulo 3 – Noções de macroeconomia e teorias do comércio internacional
	Capítulo 4 – Aplicação dos conteúdos estudados – Uma breve análise da atual conjuntura econômica
	Sobre os autores
	Informações técnicas
	Contracapa

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