Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III Projeto de Arquitetura e Urbanism o III Eliane Roberto Ferreira Laísa Aiala Lima Tibúrcio Eliane Roberto Ferreira Laísa Aiala Lima Tibúrcio GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Essa disciplina se caracteriza por tratar da composição arquitetônica e de seu plane- jamento, abordando terrenos reais e temas atuais por meio do desenvolvimento de elementos que valorizam as criações formais e inventivas de média complexidade. Ressaltamos que, ao longo do desenvolvimento de nossa disciplina, trabalharemos com as condicionantes de projeto, elementos preponderantes no processo criativo e crítico, su� cientemente adequado para que se culmine em um bom projeto arquitetônico. Ademais, além da composição formal e funcional, é imprescindível a análise das relações entre arquitetura e o espaço urbano, uma vez que devem ser complementares entre si; isto é, um bom projeto de arquitetura deverá respeitar o contexto da cidade em suas diversas escalas, sejam elas morfológicas, culturais, normativas ou ainda as escalas de bairro e rua. Apenas dessa forma é possível, através da arquitetura e do urbanismo, criar espaços mais democráticos onde ocorra efetiva apropriação por parte do usuário. Para tal, trabalharemos em função da análise de tipologias de equipamentos urbanos, versando sobre as fases do pré-projeto que abarcam os estudos de caso, programa de necessidades, � uxogramas etc, lembrando que todos estes servem como aparato para o desenvolvimento do partido arquitetônico e que essa conjuntura visa resultar em um jogo interessante de cheios e vazios. SER_ARQURB_PAUllI_CAPA.indd 1,3 11/03/2021 14:25:18 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Eliane Roberto Ferreira Laísa Aiala Lima Tibúrcio DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 2 11/03/2021 16:40:57 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 3 11/03/2021 16:40:57 Unidade 1 - Soluções projetuais diante dos aspectos morfológicos e culturais das cidades Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 Análise do contexto urbano contemporâneo .................................................................. 14 A função do arquiteto urbanista e da arquitetura no contexto urbano ................. 18 Estudo de áreas urbanas: a quadra e o seu entorno ................................................ 19 Análise de soluções projetuais diversas ........................................................................ 24 Partido arquitetônico ...................................................................................................... 24 Equipamentos urbanos ................................................................................................... 25 Aspectos morfológicos e culturais que interferem na elaboração de um projeto ..... 29 Morfologia urbana e seu processo de modificação da forma da urbe .................. 30 Arquitetura e cultura ....................................................................................................... 34 A influência do entorno na concepção projetual: análise do entorno ................... 35 Sintetizando ........................................................................................................................... 38 Referências bibliográficas ................................................................................................. 39 Sumário SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 4 11/03/2021 16:40:57 Sumário Unidade 2 - Aspectos plásticos: influências, funcionalidade, tecnologia e contexto Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Aspectos plásticos: a influência do partido arquitetônico .......................................... 43 O partido arquitetônico e a concepção de projeto .................................................... 45 O partido arquitetônico como condicionante plástica e funcional do projeto ........49 Aspectos plásticos: a influência da tecnologia dos materiais na concepção arquitetônica ......................................................................................................................... 53 A interferência dos materiais na concepção dos projetos de arquitetura ....................59 Aspectos plásticos: a influência do contexto nos projetos de arquitetura .................. 67 Estratégias diagramáticas de concepção do projeto arquitetônico ...............................69 Sintetizando ........................................................................................................................... 71 Referências bibliográficas ................................................................................................. 72 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 5 11/03/2021 16:40:57 Sumário Unidade 3 - Arquitetura e Espaço Urbano Objetivos da unidade ........................................................................................................... 76 O espaço urbano e a Arquitetura ...................................................................................... 77 O urbanismo e a mobilidade urbana ............................................................................ 78 A organização da malha urbana ................................................................................... 82 O usuário, a construção e a cidade .................................................................................. 87 O ponto de vista do usuário ........................................................................................... 87 A maquete como ferramenta de projeto ..................................................................... 90 A acessibilidade .............................................................................................................. 92 Metodologia projetual ......................................................................................................... 94 As etapas do método projetual ..................................................................................... 95 As etapas pré-projetuais ................................................................................................ 98As ferramentas gráficas ............................................................................................... 100 Sintetizando ......................................................................................................................... 106 Referências bibliográficas ............................................................................................... 108 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 6 11/03/2021 16:40:57 Sumário Unidade 4 - Condicionantes do projeto arquitetônico Objetivos da unidade ......................................................................................................... 109 O anteprojeto arquitetônico ............................................................................................. 110 O entorno ........................................................................................................................ 113 Condicionantes naturais .............................................................................................. 115 Ferramentas da política urbana no Brasil ..................................................................... 127 Legislação: o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor ................................................ 127 Código de Obras ............................................................................................................ 131 Lei de Uso e Ocupação do Solo .................................................................................. 133 Normas Técnicas Brasileiras (NBR) .......................................................................... 137 Sintetizando ......................................................................................................................... 139 Referências bibliográficas ............................................................................................... 141 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 7 11/03/2021 16:40:57 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 8 11/03/2021 16:40:57 Sejam bem-vindos! Essa disciplina se caracteriza por tratar da composição arquitetônica e de seu planejamento, abordando terrenos reais e temas atuais por meio do de- senvolvimento de elementos que valorizam as criações formais e inventivas de média complexidade. Ressaltamos que, ao longo do desenvolvimento de nossa disciplina, traba- lharemos com as condicionantes de projeto, elementos preponderantes no processo criativo e crítico, sufi cientemente adequado para que se culmine em um bom projeto arquitetônico. Ademais, além da composição formal e funcional, é imprescindível a análi- se das relações entre arquitetura e o espaço urbano, uma vez que devem ser complementares entre si; isto é, um bom projeto de arquitetura deverá respei- tar o contexto da cidade em suas diversas escalas, sejam elas morfológicas, culturais, normativas ou ainda as escalas de bairro e rua. Apenas dessa forma é possível, através da arquitetura e do urbanismo, criar espaços mais democrá- ticos onde ocorra efetiva apropriação por parte do usuário. Para tal, trabalharemos em função da análise de tipologias de equipamen- tos urbanos, versando sobre as fases do pré-projeto que abarcam os estudos de caso, programa de necessidades, fl uxogramas etc., lembrando que todos estes servem como aparato para o desenvolvimento do partido arquitetônico e que essa conjuntura visa resultar em um jogo interessante de cheios e vazios. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 9 Apresentação SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 9 11/03/2021 16:40:57 Aos arquitetos, cuja função não é apenas a de planejar e desenhar, mas fundamentalmente, social. Um arquiteto idealiza espaços capazes de marcar histórias e reavivar memórias. A professora Eliane Roberto Ferreira é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Cam- pinas (UNICAMP, 2014). Possui gra- duação em Arquitetura e Urbanismo também pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 2010) e gra- duação em Tecnologia da Construção Civil, na modalidade edifícios, pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP, 2001). Atualmente, é docen- te em cursos de graduação e pós-gra- duação em Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9766152559094886 PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 10 A autora SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 10 11/03/2021 16:41:01 Espero que este conteúdo, feito com muita dedicação e carinho, instigue sua capacidade de descoberta neste imenso território do conhecimento e o(a) infl uencie a sempre oferecer o melhor dos presentes que nós, arquitetos, podemos deixar para a humanidade: uma boa arquitetura. A professora Laísa Aiala Lima Tibúrcio é graduada em Arquitetura e Urbanis- mo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA, 2018) e técnica em Edifi cações pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (SENAI/DR-BA, 2011). Foi pesquisadora e bolsista PIBIC na pesquisa intitulada “Inventário do patri- mônio arquitetônico da UFBA”, sob orien- tação do professor Dr. Nivaldo Vieira de Andrade Junior. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4723336998322315 A autora PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 11 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 11 11/03/2021 16:41:01 SOLUÇÕES PROJETUAIS DIANTE DOS ASPECTOS MORFOLÓGICOS E CULTURAIS DAS CIDADES 1 UNIDADE SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 12 11/03/2021 16:41:29 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Analisar o contexto urbano contemporâneo através de áreas da cidade; Analisar soluções projetuais relacionadas a equipamentos urbanos; Avaliar a relação entre a concepção projetual e os aspectos morfológicos e culturais no contexto urbano. Análise do contexto urbano contemporâneo A função do arquiteto urbanis- ta e da arquitetura no contexto urbano Estudo de áreas urbanas: a quadra e o seu entorno Análise de soluções projetuais diversas Partido arquitetônico Equipamentos urbanos Aspectos morfológicos e cul- turais que interferem na elabo- ração de um projeto Morfologia urbana e seu pro- cesso de modificação da forma da urbe Arquitetura e cultura A influência do entorno na concepção projetual: análise do entorno PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 13 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 13 11/03/2021 16:41:29 Análise do contexto urbano contemporâneo Analisando o contexto urbano contemporâneo, podemos apontar que a demanda da mão de obra por trabalho e o avanço da mecanização rural cul- minaram na imigração da população campestre aos grandes centros urbanos. É imperativo destacar que as cidades estão carentes a cada dia de infraes- trutura efetiva e habilidosa na condução desse crescimento, especialmente em virtude da carência na implementação de políticas públicas capazes de as- sistir a maioria. Ademais, o mercado imobiliário paulatinamente se demons- tra inacessível à população de baixa renda. Desse cenário de exclusão perma- nente resultam degradação social e ambiental, confi gurando uma paisagem truncada diante de centros urbanos em constante crescimento. É um sistema marcado pela dualidade e coexistência. Sob esse ponto de vista, a análise do contexto urbano é imperativa na con- cepção de um projeto. O entendimento do recorte urbano onde será implanta- do o projeto se revela como um grande condicionador nas decisões projetuais. A conjuntura atual do cenário urbano é notavelmente sistematizada por exclusão, marginalidade, violência, individualismo e segregação, princípios fundamentais para nova ordem social mundial contemporânea. E, dessa forma, como salientado por Fassin (1996), esses temas formam uma unida- de, a única possível dentro de um sistema opressor, repleto de assimetrias que, de um lado, confi guram espaços de poder, e, de outro, espaços de uma população deserdada. Contudo, diante desse contexto, coloca-se em pauta uma nova modalida- de no enfrentamento dos problemas da vida citadina, isto é, o pragmatismo na crença de que a grande questão davida urbana é meramente geográfi ca e econômica, ou seja, ocupação e luta de classe são substituídas por uma teo- ria que ultrapassa esse âmbito e envolve como resultado o “individualismo e empreendimentismo disseminados em que a marca da distinção social é conferida pelas posses e pela aparência” (HARVEY, 1989, p. 174). Em suma, fundamentado, nesse conceito, a mundialização fi nanceira se torna determinante na forma organizacional da sociedade, o que, por sua vez, infl uencia de maneira direta no modelo de consumo e produção do espaço urbano. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 14 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 14 11/03/2021 16:41:29 Figura 1. Rio de Janeiro e favelas na parte baixa da cidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. A Figura 1 retrata o que temos discutido até então: o contexto social urbano atual, desigualdade versus potência nas cidades. O fato de que mais da metade da população mundial ocupa os centros urbanos, cuja extensão não ultrapassa 2% da superfície do planeta e, ainda assim, movimenta mais de 80% da econo- mia mundial, demonstra nitidamente que grande parcela dessa população vive em condições marcadas pela precariedade. Diante disso, façamos um questionamento: qual é, então, o espaço destina- do ao homem na cidade contemporânea? As cidades contemporâneas exibem contrapontos oriundos das práticas que engendram estratégias pautadas pelo city marketing, encerrando-se em segregação socioespacial. Tal contradição ocorre em virtude de um movimento duplo nas cidades: enquanto que por um lado as funções avançadas do capital estão concentradas em grandes áreas urbanas (e reacomodam-se seguindo uma lógica de rede onde os núcleos são os centros globais), por outro os novos e intensos fluxos de população e re- distribuição de renda visam à apropriação e conformação dos espaços como componentes de ação. EXPLICANDO Trata-se de um conceito estratégico de modelo de produção do espaço urbano através da busca de valorização local, promovendo e incenti- vando atividades como turismo, relocação de comércio e processos de migração interna. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 15 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 15 11/03/2021 16:41:32 Assim, a cidade contemporânea exibe esse duplo movimento através da configuração de seus bairros, valorizados ou não, dotados de investimentos conforme rege o capital, em contraposição às áreas vitimadas pela degradação e que permanecem à margem dos acontecimentos. (A) inevitabilidade das crises que abalam periodicamente a so- ciedade até os seus próprios alicerces, crises de destruição cria- dora caracterizada pelo “absurdo” do excesso de produção em meio a inúmeras necessidades sociais urgentes, mas não atendi- das, de fome em meio à abundância, de desigualdades em rápi- do crescimento e da periódica destruição das forças produtivas antes criadas com que a burguesia buscou criar um mundo à sua própria imagem e semelhança (HARVEY, 2004, p. 39). Esse crescimento vertiginoso das cidades rompeu com uma situação de equilíbrio e gerou um novo discurso acerca da vida urbana, com a utilização de termos já conhecidos, de acordo com David Harvey, tais como gentrifica- tion, yuppie e underclass (os dois últimos resultantes do primeiro). As práticas de gentrificação foram ensaiadas nas décadas de 1930 e 1940, nos Estados Unidos, como uma tentativa de “emburguesamento” da sociedade por meio da reabilitação residencial de certas áreas voltadas a atender uma nova classe de empresários e comerciantes. Tal intento é muito similar com as Operações Urbanas que ocorrem na cidade de São Paulo, por exemplo. Todavia, é na década de 1960 que, de fato, torna-se mais que um programa urbanístico, e sim uma estratégia política. De acordo com Zukin (2000), a partir dessa década se começa a alterar a configuração espacial da cidade moderna, em função, principalmente, do medo crescente da vida urbana. EXPLICANDO Gentrification: termo em inglês para gentrificação, que corresponde ao processo de remodelação dos espaços urbanos, isto é, áreas periféricas, cuja população possui baixa renda, transformadas em locais elitizados, favorecendo interesses econômicos privados e a especulação imobiliária; Yuppie: do inglês Young Urban Professional ou “jovem profissional urba- no”, que faz referência a grupos de jovens de classe média de nível supe- rior, que atuam em suas áreas de formação e seguem as últimas tendên- cias; Underclass: grupo de pessoas de baixa renda e posição econômica mais desfavorecida em relação às elites urbanas da contemporaneidade. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 16 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 16 11/03/2021 16:41:32 Nesse mesmo período, inicia-se a relação entre centralidade e poder, onde as instituições econômicas e políticas passam a se deslocar para áreas centrais, enquanto polos residenciais migram para áreas periféricas. É quando, então, identificam-se duas características primordiais no processo de gentrificação: a centralização de atividades anteriormente dispersas geograficamente e a for- mação de espaços de poder (LEITE, 2007). Gentrificação Cidade Centro da cidade Desenvolvimento Construção Urbano Condomínio Estilo de vida Habitação Arquitetura Moderno Edifício Figura 2. Processo de gentrificação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Dessa forma, como se pode observar na Figura 2, aquilo que inicialmente constituía-se em um programa urbanístico de reabilitação e redesenvolvimento de certas áreas da cidade, passa a ser uma estratégia política que culmina em assi- metrias e pode ser considerada como uma experiência sucessora pós-moderna da reforma haussmanniana, em Paris, durante a gestão bonapartista (LEITE, 2007). Segundo Harvey (1989), essas ocorrências resultaram da ação de empresá- rios que, na década de 1960, começaram a pensar em métodos de reforma ur- bana para pulverizar manifestações e higienizar as cidades, como subterfúgio às oposições e manifestações públicas. Contudo, a afirmação simbólica da atual paisagem urbana se dá através da arquitetura e do urbanismo, uma vez que representam visualmente os valores de novas camadas sociais e da busca pela apropriação de determinados espa- ços das cidades. A produção dessas imagens e signos caracteriza, então, um in- PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 17 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 17 11/03/2021 16:41:40 dividualismo disseminador de marcas de distinção social e uma multiplicidade de propósitos sem relação entre si, fazendo com que as pessoas se percam no espaço, com dissolução da vida social (HARVEY, 1989). A função do arquiteto urbanista e da arquitetura no contexto urbano Nesse jogo de contrapontos, o dinamismo da economia, ainda que na peri- feria do capitalismo, contribuiu para que a cidade se tornasse um polo de ne- gócios e fosse inserida no “circuito global de promoção imobiliária” (FIX, 2007, n.p.). No entanto, esse mesmo dinamismo econômico alarga as lacunas entre centro e periferia, entre ricos e pobres, levando à uma redefi nição de espaço urbano, isto é, a cidade terceiro-mundista, de forma natural, apresenta-se se- gregada conforme o seu processo de crescimento e expansão. Assim, é prejudicada pelas suas desigualdades, oferecendo sucesso eco- nômico apenas para uma pequena parcela de cidadãos. Aos demais, confi - gura-se como “lugar daqueles que não têm lugar” (BRISSAC, 1996, n.p.). Tal ocorrência só salienta as frestas entre integração física e social no espaço urbano, como manutenção da produção de desigualdade social recorrente e cada dia mais crescente. Nesse contexto, em meio ao caos urbano com o concentrado prevalecimen- to da segregação espacial, aumento de atitudes individualistas e concentração de guetos resultantes do “capital globalizado”, o arquiteto urbanista tem como responsabilidade a integração do espaço urbano e a manutenção ou melhora- mento de um sistema dual. Ademais,a arquitetura é muito importante já que tem o po- tencial de remediar necessidades sociais urgentes, pois quanto maior e mais heterogênea for uma cidade, maio- res serão os atrativos que ela poderá oferecer, enquanto que, em contrapartida, quanto mais inefi caz for a estratégia de pluralidade, me- nor será a satisfação de se estar nesse am- biente uma vez que ele não se confi gurará como espaço estimulante. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 18 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 18 11/03/2021 16:41:40 Contudo, para Bauman (2009), embora os arquitetos e planejadores urba- nos possam fazer muito para favorecer e estimular o prazer em se estar nas cidades explorando suas diversidades, tem havido um efeito oposto, uma vez que existe uma produção crescente de espaços uniformes, com isolamento espacial dos moradores em guetos homogêneos, atingindo um grau de into- lerância às diferenças e resultando em medo de se viver no ambiente urbano. Como solução para tal ocorrência, a contraproposta seria a criação ou ma- nutenção de espaços públicos, já que esses, por sua vez, têm a capacidade de reunir diferenças e estimular a atração e rejeição no mesmo local. Esse inten- to, além de encorajar a coabitação, promoveria a interação entre opostos e mitigaria as questões de intolerância e insegurança geradas pelo desconhe- cido, e que se constituem como impeditivos da livre circulação nos grandes centros (BAUMAN, 2009). É imperativo ressaltar, ainda, que os espaços livres e públicos devem ser pensados e projetados, em vez de se apresentarem apenas como bolsões re- sultantes de aberturas entre edifícios, o que nos permite conceber que pro- gressivamente os espaços públicos vêm se apresentando como a primeira vítima colateral de uma cidade que assiste aos avanços desenfreados da globa- lização. Um investidor, por exemplo, não está interessado em espaços verdes e vagos, mas sim na quantidade de edifícios ou salas de escritórios que poderão ser implantados em um determinado lugar. Dessa forma, é de suma importância que os arquitetos urbanistas através da arquitetura e do urbanismo, consigam projetar espaços mais democráticos e capazes de integrar as multiplicidades vivenciadas em espaços citadinos. Lembremos, ainda, de Morte e vida das grandes cidades norte-americanas, de Jane Jacobs, publicado em 1961, onde a autora enfatiza que a diversidade de ocupação é garantida por meio de usos combinados, concentração, necessida- de de quadras mais curtas e da presença de edifícios antigos e novos. Paul Goldberger cita o estudioso Leslie White (2011, p. 118): “o símbolo é a unidade básica do comportamento humano. A civilização só existe em razão do comportamento simbólico, característico do homem”. Mediante tal afirmativa, pode-se enfatizar o quanto a arquitetura se constitui enquanto símbolo, já que são os usuários que lhe atribuirão significado. Além disso, a arquitetura carac- teriza-se, também, como objeto, já que produz efeitos no usuário. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 19 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 19 11/03/2021 16:41:40 Contudo, a arquitetura ainda fomenta um papel social preponderante sob a ótica social, cultural, de meios de produção e, especialmente, econômica. Os efeitos das distintas tipologias arquitetônicas não se encerram em sua geome- tria ou na intensidade de uso social e de trocas, mas, ainda, podem ser com- preendidos de maneira subjetiva, permitindo que o usuário os caracterize em função de suas percepções. Salientamos, dessa forma, a questão da arquite- tura e da memória, ou seja, do espaço projetado que tem a competência de incitar no transeunte lembranças de acontecimentos marcantes em sua vida. Reunindo esses quatro pontos – símbolo, objeto, espaço e memória – podemos traduzir uma lógica de apropriação do espaço, que, por sua vez, está além do alcan- ce do arquiteto. Destacando que a respeito da intenção do projetista, a classifi cação do espaço será determinada, ainda que hipoteticamente, pelo usuário, não apenas pelo que o elemento físico delimita, mas principalmente pelos sentimentos gerados. Estudo de áreas urbanas: a quadra e o seu entorno Para sustentar o que foi apresentado até aqui, é relevante nos atentarmos para as áreas urbanas, tais como a quadra e seu entorno. Para tanto, é essen- cial compreender quais são as escalas do projeto: a) Escala da cidade: o Plano Municipal de Habitação (PMH) da cidade de São Paulo do ano de 2016, por exemplo, aponta que a cidade é um ambien- te cuja amplitude abriga inúmeros e distintos acontecimentos. Dessa forma, é vital para o bom funcionamento do espaço urbano o planejamento. Esse, por sua vez, refl etirá diretamente na produtividade dos centros urbanos. Assim, é fundamental que o planejamento considere, além dos elementos arraigados, o estímulo de diversidade tipológica de construção. Essa postura viabilizará o sistema de mobilidade urbana, possibilitará o incentivo às atividades econômi- cas e culturais e promoverá políticas inclusivas; b) Escala do bairro: inicialmente deverá ser esquematizado o plano de mobilidade urbana. A partir dele e, em sua sequência, respeitando a premissa de que um bairro não deve ser monofuncional, serão propostas centralidades menores através da implantação de equipamentos, qualifi cação de espaços in- tersticiais, habitações com tipologias variadas e comércio. Tais elementos, por sua vez, serão os grandes atrativos para evolução qualitativa do bairro; PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 20 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 20 11/03/2021 16:41:40 c) Espaço verde e aberto: prezando a densidade urbana, o estabeleci- mento de espaços verdes e abertos constitui-se em elemento fundamental na concepção de vazios urbanos públicos promotores de continuidade e conexão entre os lugares, além de conferirem maior segurança ao local; d) Escala da rua: apesar de apresentada como o principal espaço público da cidade, o plano municipal de habitação planeja a manutenção e coexistência entre pedestre, ciclista, trânsito de carros e transporte público, ou seja, a rua deve ser concebida como espaço público contínuo de fruição (PMSP, 2016). e) Escala do conjunto; f) Escala do edifício. Os Projetos de Intervenção Urbana (PIU) apresentam na dimensão da qua- dra a possibilidade de promover urbanidade através da arquitetura. Isto é, en- tendemos que uma quadra é o espaço urbano delimitado por ruas ou avenidas e, a partir da forma como a edificação é implantada nesse espaço, há a possi- blidade de reinvenção da rua. As quadras são realçadas por aberturas visuais e por sua posição em rela- ção à orientação norte-sul, uma vez que a luz do sol e os ventos predominantes têm a capacidade de qualificar o espaço. Entretanto, não se pode esquecer que o espaço urbano não é estático e, portanto, está em constante transformação. O aumento da densidade construída é fruto do processo de inchaço urbano, o que deflagra uma natural alteração das relações entre os va- zios e as áreas edificadas. Assim, as quadras surgem como componente integrante da forma urbana de maneira mais estável, pois os edifícios po- dem sofrer alterações em suas dimensões, isto é, são objetos autônomos (NOTO, 2019, p. 344). A noção de quarteirão delimitado por ocupações perimetrais serviu de base para o desenho do espaço público genérico das cidades pré-industriais e industriais e naturalizou-se como forma urbana tanto em cidades de ocupação espontâ- nea quanto naquelas de matriz planejada. A constituição de quadras enquanto resultado oposto dos vazios viários, como negativo privado do espaço público, manteve-se como conse- quência obrigatória da consolidação dos núcleos urbanos ao longo dos séculos (NOTO, 2017, p. 96). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 21 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 21 11/03/2021 16:41:41 Para esclarecer melhor essa questão da quadra como elemento mais con- sistente, analisemosa Figura 3. Figura 3. Mapa isométrico 3D de uma paisagem urbana. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Observamos na Figura 3, por meio do mapa 3D, que uma mesma quadra, cuja geometria é encerrada pelas vias, abriga inúmeras possibilidades arquitetônicas e, consequentemente urbanas, de forma que a paisagem pode ser transforma- da em função da ocupação, caso seja densa, com a implantação de maiores vo- lumes ou quantidades de construções ou um estabelecimento menos maciço, quando abrange grandes espaços permeáveis. Todavia, o desenho urbano que a imagem compreende só foi permitido a par- tir da distinção entre os espaços cheios e vazios, quando os espaços verdes pu- deram se multiplicar horizontalmente quase à mesma proporção que os cheios se repetiram verticalmente. Ademais, com o passar dos anos, as ruas deixaram de ser espaços peatonais (para pedestres) para servirem como lugar do veículo. Tal ocorrência impactou profundamente os sistemas de fluxo e a urbanidade. Contudo, independente da dimensão da interferência, o que qualificará a estratégia e as tipologias a serem implementadas será o molde de cidade que se procura, ou seja, a arquitetura, nesse caso, tem como finalidade sintetizar um ideário urbano almejado. Temos, portanto, a seguinte retórica: enquanto PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 22 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 22 11/03/2021 16:41:48 que de um lado implantam-se blocos no interior de uma quadra e faz-se o con- traponto entre os cheios e vazios ou, por outro lado, trabalha-se com aquilo que Le Corbusier chamou de “máquina de morar” concebendo-se edifícios que abrigam todas as atividades, sejam de habitar (residência), consumir (comércio) ou transitar (rua) (NOTO, 2019). Quando estudamos os quarteirões urbanos, um fator crucial é a análise do entorno, que é executado através da realização de croquis do local e seus arrabaldes. Tal tarefa permite a melhor compreensão do local, pois, além das condicionantes projetuais, a determinada prática viabiliza a identifica- ção da escolha do terreno por parte do cliente e permite a análise de ele- mentos que salvaguardam ou interfiram no projeto, tais como percepções estéticas, qualidade de vida geral do bairro e edificações vizinhas. Assim, os moldes e características do entorno poderão ter influência direta na forma de ocupação da quadra. Noto (2019) elencou formas de ocupação das quadras, ocupações essas que deverão estar associadas não apenas às necessidades do usuário, como tam- bém ao seu arredor imediato: a) Edifício quarteirão com pátio central: similar às Manzanas de Cerdà, o edifício tem ocupação perimetral da quadra e deixa um vazio central; b) Associação entre edifícios com a definição (parcial) da rua corredor: nesse caso, temos uma ocupação quase perimetral, mas um dos lados da qua- dra fica livre para rua; c) Insinuação da quadra: quase uma associação parcial entre edifícios, isto é, duas lâminas perpendiculares “soltas” pelo terreno desde que paralelas às ruas que as encerram; d) Quarteirão sem ruas: nesse caso, há a simulação de implantação de mais de um edifício, como se as ruas não existissem entre eles; e) Edifícios à redent: caso em que o edifício em lâmina ocupa a quadra em for- mato “U” e pode ultrapassar o limite do viário, criando o efeito de “rua corredor”; f) Placa e torre: área do térreo da edificação ocupada por atividade comer- cial e a lâmina vertical abrigando a função residencial; g) Ocupação total da quadra com o térreo para uso coletivo: ocupação quase que de 100% do térreo para atividades coletivas, e torres acima disso para uso residencial; PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 23 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 23 11/03/2021 16:41:48 h) Associações de lotes e a lógica do quarteirão: a forma mais comum que temos atualmente em nossas cidades, ou seja, uma quadra toda ocupada por inúmeros lotes que poderão ou não serem associados; i) Blocos alinhados de baixa altura: uma série de lâminas paralelas ocu- pando um único quarteirão; j) Torres no parque: dissolução da ideia de quadra. Os edi- fícios podem apresentar geometria variada e estarem posi- cionados de maneira “não organizada” dentro da quadra; k) Edifício como unidade urbana: Edifício multifuncio- nal dentro de um quarteirão. Análise de soluções projetuais diversas Desde a década de 1960, o projeto de arquitetura sofreu grande infl uência a partir de aplicações científi cas. Esse ensejo possibilitou, através dos princípios fi losófi cos e pesquisas operacionais, o desenvolvimento de metodologias de análise e avaliação do processo de concepção do projeto. Tal metodologia pos- sibilita a gerência de problemas de grande complexidade através do programa de necessidades e de demais condicionantes projetuais. Analisados esses ele- mentos, é possível organizar as informações e sintetizar sua forma e conjunto, estabelecendo o partido arquitetônico. Partido arquitetônico Inicialmente, é de suma importância que compreendamos a diferença entre partido arquitetônico e conceito de projeto. Os termos se complementam ao longo do desenvolvimento das ideias e na materialização do projeto. O conceito de projeto é uma “ferramenta” que norteia as deci- sões projetuais e, portanto, é algo abstrato que admite distintas soluções estéticas, formais, de função e cons- trução. Dessa forma, o conceito do projeto consiste no processo de ideias, pensamentos, desejos e ca- racterização que deverão ser testadas para poste- rior defi nição do partido. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 24 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 24 11/03/2021 16:41:48 Quando todos os conceitos que poderão ser abrangidos estão claros, será o momento que deverá ser defi nido o partido, pois o conceito está embasado nas condicionantes projetuais, tais como a legislação urbana, topografi a, entor- no, programa de necessidades e aspectos climáticos e ambientais. Em contrapartida, o partido arquitetônico (Figura 4) é concreto e denota como a arquitetura ocorrerá, ou seja, enquanto o conceito direciona, o partido defi ne a expressão do elemento arquitetônico. Figura 4. Símbolo da vida urbana, casa densamente povoada. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. ASSISTA Para entender a diferença entre conceito e partido, assista ao vídeo Conceito x Partido. Equipamentos urbanos Antes de abordar exemplos, é importante que se compreenda o conceito de equipamento urbano. Projeto de Arquitetura e Urbanismo III PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 25 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 25 11/03/2021 16:41:51 De acordo com o Plano Diretor Ambiental como estratégia de desenvolvi- mento urbano, o equipamento urbano pode ser público ou privado. A questão- -chave nesse sentido é entender como essa edificação ou espaço dotado de atividades caracterizará, através de suas interfaces, a mudança de uso da qua- dra ou como seus atributos poderão ser distintos em relação ao entorno. Isso posto, os equipamentos urbanos apresentam grande potencial de organização urbana, ou seja, o equipamento é passível de se tornar um marco referencial aos pedestres, destacar-se da morfologia dos arredores em detrimento de sua forma de ocupação do quarteirão, e/ou, ainda, promover integração e bom atendimento à população, conferindo qualidade social, espacial e ambiental para determinado recorte da cidade. Figura 5. Playground em parque urbano. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. A Figura 5 destaca uma área urbana cuja função é o atendimento público através do mobiliário e manutenção do piso. A área deixa de ser um “vazio” ou “espaço intersticial” para dar lugar à ocorrência de eventos e à aproximação dos cidadãos. Em relação às funções urbanas, é necessário que a implantação e adequação de equipamentos urbanos promova uma gestão de qualidade. Não é razoável a inserção dessas estruturas desconsiderando o entorno ou as tecnologias cons- trutivas. Cada um dosequipamentos tem função e características particulares e, dessa maneira, para que se consolidem como referências aos usuários, é funda- mental que viabilizem organização e qualificação do espaço urbano. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 26 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 26 11/03/2021 16:41:57 a) Equipamento urbano de saúde: têm a função de promoção e proteção da saúde, atuam no diagnóstico, tratamento e prevenção da saúde pessoal e coletiva; são os hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS). As UBS são clas- sificadas em quatro categorias, de acordo com o seu porte: • UBS I abrange uma equipe de Saúde da Família; • UBS II abrange duas equipes de Saúde da Família; • UBS III abrange três equipes de Saúde da Família; • UBS IV abrange quatro equipes de Saúde da Família. b) Equipamento urbano assistencial: são aqueles cujo intuito é prestar assistência ao cidadão, como Poupatempo, Centros Comunitários etc.; c) Equipamento urbano para administração pública: são os equipamentos que abrigam as questões de segurança pública, cemitérios e infraestrutura urbana; d) Equipamento urbano de circulação e transporte: estão associados à mobilidade e transporte urbano, que são partes integrantes do direito à cida- de. Englobam terminais de ônibus, estações de metrô, trem etc. e estabelecem o sistema de circulação viária e de transporte coletivo; e) Equipamento urbano para realização de eventos religiosos: estrutu- ras importantes considerando que a religião é um fenômeno humano e está diretamente ligada à cultura e à reunião de comunidades. Na Figura 6 podemos observar a Igreja de São Francisco em Minas Gerais. Figura 6. Igreja Barroca do século XVIII em Ouro Preto, Minas Gerais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 27 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 27 11/03/2021 16:42:01 f) Equipamento urbano para cultura e lazer: compreendem atividades relacionadas à cultura e ao lazer, como museus, casas de shows etc. Podemos observar, na Figura 7, um museu às margens do Rio Tejo. Figura 7. Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia em Lisboa, Portugal. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Figura 8. Escola de negócios na Universidade do Porto, Portugal. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. g) Equipamento urbano educacional: os equipamentos educacionais po- dem ser creches, edifícios para educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e universidades (Figura 8). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 28 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 28 11/03/2021 16:42:13 É importante ressaltar que, para correta implantação de equipamentos urbanos, é imprescindível ter conhecimento do território acerca da área de abrangência em função das dimensões da futura edifi cação, como também do número de habitantes do entorno e do acesso ao transporte coletivo. Aspectos morfológicos e culturais que interferem na elaboração de um projeto Entende-se por morfologia urbana a análise de um conjunto constituído por formas, agentes e processos que têm responsabilidade nas transforma- ções da paisagem urbana. Entretanto, é importante apontar que morfologia é diferente de forma; este termo, por sua vez, associa-se unicamente aos elementos físicos, tais como ruas, qua- dras e edifícios (AMARAL, 2017). Dessa forma, o planejamento ur- bano deve ser interdisciplinar e estar apoiado em sociologia, economia, geografi a e sistemas de tráfego. É im- portante que se tenha em mente que a paisagem urbana está em constante mudança, envolta pelas transformações sociais e culturais que o tempo atribui. Assim, fi ca evidente que essa pluridisciplinaridade não é determinista, ou seja, além de estar apoiada nesses contextos, deve ponderar teorias, estética, uso e ocupação do solo. Além disso, todos esses elementos devem ser abran- gidos em concordância com a dimensão do projeto, seja ele uma intervenção urbana ou um projeto de arquitetura para um equipamento. Importante des- tacar que as obras não devem ser concebidas de forma isolada, pois devem se relacionar com suas imediações, com outras estruturas e, especialmente, com a paisagem onde será inserida. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 29 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 29 11/03/2021 16:42:27 Figura 9. Edifício The Gherkin, em Londres. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Exemplo disso é o edifício The Gherkin, localizado em Londres (Figura 9), projetado pelo arquiteto Norman Foster no ano de 2004, cuja arquitetura ar- rojada e diferenciada se destaca consideravelmente de seu entorno imediato, gerando muitas análises controversas. Morfologia urbana e seu processo de modificação da forma da urbe Pode-se dizer que a morfologia urbana tem relação direta com as tipologias arquitetônica de determinadas áreas. Como destacado por Amaral (2017), a morfologia urbana está diretamente rela- cionada aos processos de evolução do local, bem como de suas formas e pessoas. Além disso, a tipologia arquitetônica está conectada ao tipo e pode ser abordada na escala micro (escala do edifício ou de elementos arquitetônicos que o compõem) ou escala macro (no âmbito do bairro). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 30 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 30 11/03/2021 16:42:32 Dessa forma, quando estudamos tipologia atrelada à morfologia, é possível entender o contexto urbano de maneira mais completa e complexa. Tal expe- riência viabiliza uma melhor metodologia para realização de projeto, pois os programas são distintos, a sociedade diversa, e, ao passar do tempo, muito da paisagem urbana sofre alterações e as pessoas passam a ter novas necessida- des. Diante disso, a produção arquitetônica passa a ser composta por forma e função, ou seja, apresentar formato combinando com a área onde se insere, bem como ser funcional, atendendo à finalidade a qual se destina. Na história da arquitetura e do urbanismo podemos citar muitos exem- plos onde o projeto de remodelação da urbe implica diretamente nos para- digmas das construções. Um desses casos foi a reforma de Paris, quando o Barão de Haussmann projetou os edifícios, seus gabaritos, afastamentos e funções em detrimento do desenho urbano. A decisão do redesenho urbano e consequente alteração nas tipologias arquitetônicas foi resultado de ques- tões políticas, pois o desenho da cidade favorecia os movimentos higienistas, que tinham a intenção de controlar o surto de cólera decorrente da insalubri- dade que acometia a cidade, especialmente os cidadãos mais pobres. Figura 10. Organização espacial às margens do Rio Sena, em Paris. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. É possível, a partir da Figura 10, identificar o quanto a cidade era ocupada de forma desordenada, com as construções todas amontoadas. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 31 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 31 11/03/2021 16:42:34 Figura 11. Boulevard de Haussamann, em Paris. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Figura 12. Construções típicas da intervenção haussmanniana às margens do Sena, em Paris. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Na Figura 11, verificamos o Boulevard de Haussmann e, à sua direita, a Ave- nida Champs-Élysées, uma das mais famosas de Paris. Na Figura 12, observa- mos a paisagem urbana atual às margens do Rio Sena e as tipologias caracte- rísticas da intervenção urbana da época. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 32 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 32 11/03/2021 16:42:50 A Figura 12 é um outro exemplo de alteração da paisagem urbana, seu refle- xo nas tipologias arquitetônicas e na forma de ocupação do espaço. Além disso, também no século XIX, Barcelona, na Espanha, passou por um processo de redesenho urbano planejado por Ildefons Cerdà. Esse plano foi de- flagrado por questões sanitárias e retroalimentado por especulação imobiliária, uma vez que a população cresceu exponencialmente, sendo necessário romper com a cidade cheia de muros.Em contrapartida, o crescimento para o exterior dos muros só ocorreu monopolizado por infraestrutura urbana e, com isso, foi iniciado um processo de valorização da terra, já que nesse momento já se falava em ruas, espaços verdes, saneamento básico e equipamentos públicos. Na Figura 13, expõe-se o mapa do novo urbanismo ou ensanche, como ficou conhecido. A expansão se dá a partir das muralhas por meio da criação de vias e das manzanas, como são conhecidos os quarteirões de Barcelona. Figura 13. Mapa da cidade de Barcelona, na Espanha. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Na Figura 14, é possível observar uma das principais avenidas da cidade de Barcelona, atualmente, e a ocupação majoritariamente perimetral das quadras. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 33 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 33 11/03/2021 16:43:09 Figura 14. Ocupação perimetral das quadras de uma das principais avenidas da cidade de Barcelona, na Espanha. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Arquitetura e cultura Segundo Canedo (2009), cultura é algo imaterial, entretanto, tangível. Assim como a arquitetura, está embasada na interdisciplinaridade, ou seja, é pautada pela sociologia, antropologia, economia, artes etc. Dessa maneira é um: fenômeno social de características simbólico-cognitivas, criado e produzido pelo homem dentro de sua sociedade, como resul- tado do acúmulo de suas ações, signifi cados e conhecimentos, refl etindo a época em que está inserido, e o contexto intelectual específi co de cada um (CANEDO, 2009, p. 6). Contudo, a arquitetura não se afasta dessa defi nição. Além de objeto, sím- bolo, forma, memória ou função, a arquitetura é igualmente fi rme às questões econômicas, culturais, espaciais e sociais. CITANDO “Do mesmo modo como produzimos coletivamente as nossas cidades, também produzimos coletivamente a nós mesmos. Projetos que prefi- gurem a cidade que queremos são, portanto, projetos sobre (nossas) possibilidades humanas, sobre quem queremos vir a ser – ou, talvez de modo mais pertinente, em quem não queremos nos transformar” (HARVEY, 2004, p. 176). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 34 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 34 11/03/2021 16:43:29 A influência do entorno na concepção projetual: análise do entorno A análise do entorno ou diagnóstico de área apresenta grande infl uência no projeto arquitetônico. Considerando que os aspectos morfológicos da urbe impli- cam diretamente na concepção projetual, a análise do entorno é composta por: • Aspectos físicos: são aqueles que indicam as características físicas do local; • Aspectos funcionais ou plásticos: estão relacionados ao contexto urba- no, terreno e vizinhança. Ademais, abordam também as questões de confi gu- rações espaciais e visuais; • Aspectos ambientais: são aqueles que abarcam o contexto em que o ter- reno está localizado, naquilo que está relacionado ao meio ambiente. No ato de realização de diagnóstico da área, é indispensável que se esteja “munido” de mapa do local (imagens de satélite ou mapas), máquina fotográfi - ca, trena e bloco de anotações para realização de croquis e anotações. O Quadro 1 conta com uma listagem com a indicação de elementos a serem verifi cados durante a execução de um diagnóstico de área. Análise do Entorno 1. Aspectos físicos Aspecto Sim Não Talvez Observação: a. Área do terreno (m²) b. Limites existentes (muros, ruas, torres etc.) c. Uso/ocupação do solo da região d. Edifícios existentes no terreno e. Acesso ao terreno (veículos, pedestres, defi - cientes) e limitações de acesso (postes, pontos de ônibus etc.) f. Características naturais e topografi a g. Paisagem, vegetação e árvores (altura, distribui- ção e tipo) h. Acabamento dos limites, massa, escala, alturas/ gabaritos i. Padrões de Movimento/linhas de interesse e visuais QUADRO 1. FATORES A SEREM OBSERVADOS NA ANÁLISE DE ENTORNO PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 35 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 35 11/03/2021 16:43:29 2. Aspectos ambientais Aspecto Sim Não Talvez Observação: a. Latitude e longitude b. Localização geográfica c. Localização administrativa d. Distância das centralidades urbanas e. Orientação e percurso do sol f. Clima g. Direção dos ventos dominantes h. Sombreamento i. Sons j. Poluição 3. Aspectos plásticos e contexto Aspecto Sim Não Talvez Observação: a. Caracterização da área b. Contexto: relações com as áreas vizinhas e comu- nidade (perfil da população, perfil de idade, perfil de ocupações, relações pessoais) c. Espaços públicos e privados d. Projeto de edifícios do entorno (estilo, materiais, cores, detalhes) e. Uso e ocupação do solo na vizinhança e densida- de demográfica f. Vistas do/para o terreno (sequência de vistas) - fotos g. Compreensão da relevância histórica do local (origem/desenvolvimento/evolução) e situação estratégica para o futuro (potenciais e limitações do terreno) h. Legislação e normas para construção na área i. Áreas de exposição ao sol e necessidades de pro- teção j. Perigo de violência urbana e estratégias de pro- teção k. Morfologia urbana Fonte: NOBRE, 2003, p. 1-5. (Adaptado). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 36 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 36 11/03/2021 16:43:29 A realização de croquis do local, demarcação de pontos de in- teresse nas imediações, hierarquia das vias, presença de obs- táculos, equipamentos urbanos, uso e ocupação do solo e vi- suais, são fundamentais para um bom levantamento do lugar e, especialmente, sustentarão as condicionantes do projeto. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 37 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 37 11/03/2021 16:43:29 Sintetizando Nesta unidade, estudamos o contexto urbano contemporâneo e o quanto as cidades se transformam à medida que são amplamente ocupadas, tornan- do-se palco de diferenças de classe e territórios de exclusão. Diante disso, o arquiteto urbanista tem a função de produzir espaços mais inclusivos e democráticos, uma vez que a arquitetura e o urbanismo têm a com- petência de reparar necessidades sociais através da promoção de ambientes e sítios equitativos. Além disso, tal ocorrência só é possível quando os projetos dão suporte às funções urbanas, ou seja, as adequações do espaço urbano e a implantação das edificações são promotoras de uma gestão de excelência. Contudo, para que sejam produzidos espaços igualitários, é indispensável que sejam envolvidos os aspectos morfológicos e culturais urbanos, que, por sua vez, estão apoiados em características sociais, econômicas, antropológi- cas e geográficas, aspectos próprios da produção arquitetônica cujo conceito e partido só poderão ser idealizados e concretizados a partir desses ensaios e entendimento. Ademais, o início de qualquer projeto deverá ser compreendido através das condicionantes de projeto, como características físicas, ambientais e con- textuais do lugar onde ele será implantado. Assim, é de grande importância o diagnóstico do entorno, pois a partir dessa compreensão e das necessidades do usuário é que o arquiteto poderá estabelecer o conceito de projeto (ideali- zação) e o partido arquitetônico (forma e função). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 38 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 38 11/03/2021 16:43:29 Referências bibliográficas AMARAL, R. Morfologia urbana: conceitos e aplicações. Brasília, maio 2017. Dis- ponível em: <http://www.seduh.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2017/11/mor- fologia_urbana_conceitos_aplicacoes.pdf>. Acesso em: 14. set. 2020. BAUMAN, Z. Confiança e medo na cidade. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009. BRISSAC, N. P. Paisagens urbanas. São Paulo: Editora Senac, 1996. CANEDO, D. “Cultura é o quê?” Reflexões sobre o conceito de cultura e a atuação dos poderes públicos. V ENECULT – Encontro de Estudos Multidiscipli- nares – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2009. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19353.pdf>.Acesso em: 15 set. 2020. CONCEITO x Partido. Postado por Márcia Senna Arquitetura e Paisagismo. (02min. 42s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/wat- ch?v=xLIkvZuRaV8>. Acesso em: 14 set. 2020. FASSIN, D. Exclusion, underclass, marginalidad: figures contemporaines de la pauvreté urbaine em France, aux États-Units et en Amérique Latine. Revue Française de Sociologie, v. 37, n. 1, p. 37-75, 1996. Disponível em: <https://www. persee.fr/doc/rfsoc_0035-2969_1996_num_37_1_7079>. Acesso em: 14 set. 2020. FIX, M. São Paulo cidade global: fundamentos financeiros de uma miragem. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. GOLDBERGER, P. A relevância da arquitetura. São Paulo: Bei Comunicação, 2011. HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudan- ça cultural. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Pau- lo: Edições Loyola, 1989. HARVEY, D. Espaços de esperança. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 2004. LEITE, R. P. Contra-usos da cidade: lugar e espaço público na experiência urbana contemporânea. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. NOBRE, E. A. C. Os tipos na arquitetura e no urbanismo. 2003. Disponível em: <https://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/artigos.html>. Acesso em: 14 set. 2020. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 39 SER_ARQURB_PAUllI_UNID1.indd 39 11/03/2021 16:43:29 ASPECTOS PLÁSTICOS: INFLUÊNCIAS, FUNCIONALIDADE, TECNOLOGIA E CONTEXTO 2 UNIDADE SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 41 11/03/2021 13:30:36 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Analisar os aspectos plásticos dos edifícios sob a influência do partido arquitetônico; Analisar os aspectos plásticos dos edifícios a partir da tecnologia dos materiais utilizados; Analisar os aspectos plásticos das construções sob a ótica do contexto em que se inserem. Aspectos plásticos: a influência do partido arquitetônico O partido arquitetônico e a concepção de projeto O partido arquitetônico como condicionante plástica e funcional do projeto Aspectos plásticos: a influência da tecnologia dos materiais na concepção arquitetônica A interferência dos materiais na concepção dos projetos de arquitetura Aspectos plásticos: a influência do contexto nos projetos de arquitetura Estratégias diagramáticas de concepção do projeto arquitetônico PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 42 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 42 11/03/2021 13:30:36 Aspectos plásticos: a influência do partido arquitetônico Condicionantes do projeto arquitetônico Tendo em vista que o projeto arquitetônico tem sofrido, desde a década de 1960, infl uência das aplicações científi cas, os princípios fi losófi cos e pesquisas operacionais forjaram o desenvolvimento das metodologias de análise e avalia- ção dos possíveis problemas na concepção de projeto. Dessa forma, é possível gerenciar todas as questões intrínsecas ao projeto por meio do programa de necessidades e das condicionantes do projeto (MOREIRA e colaboradores, 2011). Podemos defi nir condicionante de projeto como um conjunto de requisitos cuja compreensão é imprescindível para a concepção de um projeto arquitetô- nico. Isto é, inicialmente, faz-se o armazenamento de dados, posteriormente, é feita a síntese destes e, fi nalmente, começa-se a elaboração do projeto. É possível organizar melhor essa sequência compreensiva fazendo-se três perguntas: 1. Qual é o problema específi co? Essa questão recai no tema do projeto; 2. Qual é o perfi l do usuário? A partir desse questionamento, será direcio- nado o programa de necessidades; 3. Qual é o local? Essa pergunta nos auxiliará na condução da análise do entorno. Em função desses três questionamentos, poderemos elencar mais obje- tivamente as condicionantes do nosso projeto, ou seja, aquilo que orientará as decisões projetuais. Lembrando que, por causa dessas condicionantes, será instituído o conceito, ou seja, a ideia daquilo que poderá vir a ser o projeto e, em virtude desse ideário, por sua vez, chegaremos à etapa de formulação do partido arquitetônico, já que tal tarefa exige conexão en- tre condicionantes e embasamento técnico-teórico do arquiteto urbanista. Uma vez todos esses elementos bem estruturados e conectados, teremos uma solução projetual ade- quada e capaz de atender de maneira satisfatória as três indagações supracitadas. Mas, afi nal, quais são – de fato – as condicio- nantes de um projeto de arquitetura? Podemos organizar as condicionantes de projeto em: PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 43 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 43 11/03/2021 13:30:36 • Condicionantes locais: permitem a compreensão do local a partir de construções e elementos existentes no espaço, tais como: a infraestrutura do bairro, em outras palavras, se ele é atendido por serviços de abastecimento, telefonia, iluminação pública, transporte, acessos e vias. Além disso, quais as tipologias dos equipamentos existentes, como hospitais, escolas, igrejas, comércios etc; • Condicionantes legais: a compreensão da legislação urbana consiste em aspecto fundamental para a elaboração de um projeto, uma vez que o Có- digo de Obras e Edificações (COE) e as legislações de uso e ocupação do solo e de proteção e combate ao incêndio interferem, de modo direto, nas funções e aspecto formal do edifício em si. Ademais, os projetos devem ser elaborados respeitando todas as exigências legais de construção, isto é, considerando re- cuos, gabaritos de altura e áreas permeáveis mínimas para que seja aprovada a licença de construção. As consultas acerca dessas informações, geralmente, são realizadas por meio da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo – Zo- neamento –, dos Planos Regionais (municípios) e do Código de Obras e Edifica- ções, que elencam as regras gerais e específicas que deverão ser obedecidas no projeto, licenciamento, execução e manutenção das edificações; • Condicionantes físicas: esse entendimento é realizado por meio, principal- mente, da análise do entorno; quando entendemos o clima, insolação, ventos pre- dominantes na região, além de aspectos do solo como sua vegetação e topografia. CITANDO “As edificações sustentáveis ganham cada vez mais espaço em nosso País [...] Consequentemente, esta arquitetura produzida deve priorizar o respeito ao lugar de intervenção: sua topografia, a cultura local, sua pai- sagem, as condições climáticas de cada lugar e as reais necessidades de seus usuários, para que se obtenha o desempenho energético satisfatório nos ambientes construídos e para um melhor desempenho energético e econômico da edificação, fazendo-se necessário a integração de estraté- gias adequadas aos condicionantes expostos” (CONSELHO DE ARQUITE- TURA E URBANISMO DO PARÁ, 2017). Não obstante, não podemos nos esquecer do perfil do cliente/usuário e de suas necessidades. No Quadro 1, foram organizadas as condicionantes do projeto, para facilitar seu levantamento e compreensão. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 44 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 44 11/03/2021 13:30:37 Condicionantes do projeto Aspecto Função Perfi l do cliente Defi nição do programa de necessidades Aspecto Função Análise Condicionante local Compreensão do local Infraestrutura e saneamento Abastecimento Drenagem Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Aspecto Função Análise Condicionante legal Compreensão da legislação urbana Uso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Recuo frontal Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Aspecto Função Análise Condicionante física Compreensão do local Clima Posição do norte magnético Insolação Salubridade Ventos dominantes Conforto térmico Solo Topografi a Vegetação Sombras Condições do sítio QUADRO 1. CONDICIONANTES DO PROJETO Condicionante localCondicionante localCondicionantelocalCondicionante localCondicionante localCondicionante local Compreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do local Infraestrutura e saneamentoInfraestrutura e saneamentoInfraestrutura e saneamentoInfraestrutura e saneamento Abastecimento Infraestrutura e saneamento Abastecimento Infraestrutura e saneamento Abastecimento Drenagem Iluminação pública Equipamentos/tipologia Infraestrutura e saneamento Abastecimento Drenagem Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Infraestrutura e saneamento Abastecimento Drenagem Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Infraestrutura e saneamento Drenagem Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Iluminação pública Equipamentos/tipologia Características das vias Equipamentos/tipologia Características das vias Equipamentos/tipologia Características das viasCaracterísticas das vias Condicionante legalCondicionante legalCondicionante legalCondicionante legalCondicionante legalCondicionante legalCondicionante legal Compreensão da Compreensão da legislação urbana Compreensão da legislação urbana Compreensão da legislação urbana Compreensão da legislação urbana Compreensão da legislação urbana Uso e Ocupação – Zoneamento legislação urbana Uso e Ocupação – ZoneamentoUso e Ocupação – ZoneamentoUso e Ocupação – ZoneamentoUso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Uso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Recuo frontal Uso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Recuo frontal Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Uso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Recuo frontal Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Uso e Ocupação – Zoneamento Recuos laterais Recuo frontal Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Uso e Ocupação – Zoneamento Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Recuo de fundo Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Gabarito de altura Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Taxa de permeabilidade Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Coefi ciente de aproveitamento Taxa de ocupação Coefi ciente de aproveitamento Condicionante físicaCondicionante físicaCondicionante físicaCondicionante físicaCondicionante físicaCondicionante físicaCondicionante física Compreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do localCompreensão do local Posição do norte magnético Compreensão do local Posição do norte magnético Clima Posição do norte magnético Clima Posição do norte magnéticoPosição do norte magnético Insolação Salubridade Ventos dominantes Posição do norte magnético Insolação Salubridade Ventos dominantes Posição do norte magnético Insolação Salubridade Ventos dominantes Conforto térmico Posição do norte magnético Salubridade Ventos dominantes Conforto térmico Posição do norte magnético Ventos dominantes Conforto térmico Ventos dominantes Conforto térmico Solo Topografi a Ventos dominantes Conforto térmico Topografi a Vegetação Topografi a Vegetação Sombras Condições do sítio Vegetação Sombras Condições do sítio Sombras Condições do sítioCondições do sítioCondições do sítioCondições do sítio O partido arquitetônico e a concepção de projeto Entende-se por “partido” a ideia, ou opinião, comum a um grupo de pessoas. Dessa forma, pode-se chamar de “partido” a representação de uma decisão em favor dessas pessoas. No entanto, em Arquitetura, tais ideias não fi cam defi ni- das tão claramente a ponto de listar todos os ideais desse grupo. É possível dizer, PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 45 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 45 11/03/2021 13:30:37 nesse sentido, que partido é a forma que o arquiteto encontrou para tornar com- preensível e justificável seus projetos, de modo que possa expressar suas opções e prioridades, tanto em âmbito estético, funcional ou até mesmo tecnológico, para que consiga retratar seu processo projetual. A Figura 1, por exemplo, mostra o esboço de um projeto em que podemos enxergar intenções projetuais, tais como: trabalhar com uma arquitetura mais robusta e moderna, mas ao mesmo tempo explorar visuais e a vegetação para tornar o ambiente mais agradável. Tudo isso como consequência formal oriunda das condicionantes previamente analisadas. Figura 1. Processo de esboço de ideias. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/12/2020. Contudo, há um equívoco em considerar que esse processo é uma simples se- quência linear, uma questão lógica, em que se segue um passo a passo com níveis de prioridades e de alternativas que moldam o resultado final conforme planejado pelo arquiteto. O processo é, pois, algo complexo que exige nível criativo e certa dis- ciplina para desenvolver o trabalho, e não pensando que isso ocorre de forma linear e sistemática como uma “receita de bolo”, mas com uma relação pessoal do pro- fissional em que suas experiências e sensibilidade sejam parte de sua ferramenta criativa e produtiva; isso porque o processo arquitetônico é algo único e impessoal. Segundo Biselli (2011): Quando se usa a expressão “adoção do partido”, deve-se obser- var o fato de que esta afirmação pode pressupor uma biblioteca de partidos adotáveis, como se estivessem todas as possibilida- des já dadas e catalogadas. Convenhamos, analogamente, que adotar um filho é muito diferente de conceber um filho. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 46 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 46 11/03/2021 13:30:38 Alguns elementos são tidos como uma parte fundamental na questão prá- tica; ainda que o processo projetual seja algo livre, é preciso sempre analisar e levar em consideração os projetos tópicos que influenciam – e muito – o produ- to final, como conhecer aspectos relacionados ao local em que se está traba- lhando, por exemplo: saber sobre as questões climáticas, as características do terreno, seu perfil natural, assim como o entorno desse local e suas caracterís- ticas que possam agregar ou prejudicar seu projeto, o que reforça a importân- cia substancial das condicionantes do projeto. Ademais, outro elemento que se torna funcional ao processo de concepção de projeto é o programa de necessidades, que denota tudo que é imprescindí- vel aos indivíduos que farão uso desse produto final. Não obstante, ainda te- mos que ponderar os elementos técnicos, pois também são importantes, como as questões de sistema estrutural, de acabamento, de vedação e de abertura que promovem a circulação de ar. Todos esses elementos pensados em conjunto agregam ao projeto, tornan- do-o ainda mais viável e realista. Como podemos visualizar no esquema da Figura 2, o processo é cíclico e resultado formal de um processo de condicio- nantes, necessidades, ideias e criatividade. Condicionantes Ideias Ideias Criatividade Criatividade Necessidades do usuário Definição do partido Projeto Aspectos técnicos Figura 2. Processo de desenvolvimento de projeto: partido arquitetônico. Fonte: Shutterstock. (Adaptado). Acesso em: 06/12/2020. Concluímos, nesse sentido, que partido arquitetônico é o conceito inicial de um projeto, é o que se toma como base teórica para as deliberações seguintes relacionadas à função, à forma e à tecnologia, de modo que o projeto seja com- preendido pelos que de fora analisam. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 47 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 47 11/03/2021 13:30:41 Aqui, façamos umaindagação: de que lugar pode surgir, então, o partido arquitetônico? Elencamos alguns parâmetros que podem fundamentá-lo: a. Da análise do entorno e terre- no: localização, topografia e acessos; b. Identidade local: aspectos con- ceituais, como a história do lugar; c. Do programa de necessidades: arranjos horizontais e verticais resul- tantes da setorização de um programa preestabelecido em função das premências dos usuários; d. Aspectos econômicos: estudo de via- bilidade econômica, técnicas construtivas, meio ambiente e sustentabilidade; e. Implantação, aspectos naturais e físi- cos: análise da insolação, aproveitamento da luz natural, clima, ventilação e exploração do meio ambiente próxi- mo, por meio de visuais; f. Aspectos construtivos: estrutura e adequabilidade dos mate- riais relacionados ao estilo arquitetônico adotado; g. Forma: movimento, ritmo, volumetria pretendida, cores e geometria; h. Circulações: organização interna dos ambientes e ênfase na circulação horizontal e vertical; i. Tendências: ancorados na criatividade do arquiteto, em teorias e refle- xões sobre um determinado tema; j. Flexibilidade: quando o projeto apresenta condições de alterações e re- manejamento da construção, se necessário; k. Legislação urbana: embasamento em aspectos legais, como código de obras e leis de uso e ocupação do solo; l. Função: ancorado na finalidade da construção, que pode ser residencial, comercial, institucional etc. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 48 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 48 11/03/2021 13:30:42 O partido arquitetônico como condicionante plástica e funcional do projeto Como sabemos, o partido arquitetônico consiste-se na junção de um contexto objetivo do programa, isto é, a correta interpretação de necessidades dos usuá- rios, e condicionantes com a intenção plástica do arquiteto. Assim, é possível identifi car que partido, ainda que esteja ancorado em aspec- tos legais e físicos, relaciona-se diretamente com a circunstância na qual a forma funcional se torna um dado, uma informação condicionante ou determinante, algo muito comum em projetos de uso específi co, como teatros, centros esportivos, aeroportos ou até mesmo estádios, buscando associar aspectos funcionais e plás- ticos em um único objeto. Na Figura 3, conseguimos perceber no projeto do Palácio da Alvorada, em Bra- sília, do arquiteto Oscar Niemeyer, que buscou-se na simplicidade explorar seu partido, mediante uma solução compacta pelo sistema estrutural e suas propor- ções, gerando ritmo contínuo e leveza ao projeto e coligando plástica e função. Figura 3. Palácio da Alvorada, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/12/2020. Contudo, podemos observar – também – situações em que tais confi gurações se tornam menos fl exíveis por algum aspecto de tradição ou até mesmo por deci- são do cliente que determina as questões de necessidades e certos limites, e nesse ponto o profi ssional terá que encontrar espaço para que suas ideias possam ser aplicadas e desenvolvidas respeitando as condições impostas. Na Figura 4, verifi - camos na arquitetura oriental o respeito à tradição, especialmente, na forma dos telhados, que não têm apenas a função de proteção, mas também de estética. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 49 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 49 11/03/2021 13:30:43 Figura 4. Vila coreana em Jeonju Hanok e sua tradicional arquitetura. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/12/2020. Figura 5. Museu do Amanhã, de autoria de Santiago Calatrava, no Rio de Janeiro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/12/2020. Em meio a esse contexto, o partido arquitetônico acontece no momento em que a mensagem que é entendida como uma ideia e pensamento, expressada no modo de linguagem verbal, passa – então – a ser um ícone, deixando de ser verbal e tornando-se uma linguagem não verbal, um símbolo. Na sequência (Figura 5), podemos vislumbrar o edifício do Museu do Ama- nhã, do arquiteto Santiago Calatrava, que, em suas palavras, apresenta: A ideia é que o edifício se sinta etéreo, quase flutuando sobre o mar, como um navio, um pássaro ou uma planta. Devido à na- tureza em mudança das exposições, nós introduzimos uma es- trutura arquetípica dentro do edifício. Esta simplicidade permite a versatilidade funcional do Museu, capaz de acomodar confe- rências ou agir como um espaço de pesquisa (CALATRAVA, s.d., citado por ARCHDAILY BRASIL, 2016). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 50 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 50 11/03/2021 13:30:45 O edifício aborda conceitos de sustentabili- dade e tem orientação norte-sul com o intuito de explorar as características paisagísticas do local e estimular o passeio pelo cais, buscando integração entre uma área tida como mais afastada e, agora, com o centro da cidade. Ademais, o partido arquitetônico explora, substancialmente, a questão plástica mediante sua esculturalidade e monumentalidade, ainda que abrigue um programa específico como o de um museu. Ressalte-se o que se consiste em perspectiva interessante do ato de projetar: os aparatos teórico, metodológico e técnico que, histori- camente, marcam o exercício do arquiteto. Contudo, jamais se sustentarão como premissas universais, já que podemos observar que, embora partes do processo possam estar relacionadas a um procedimento, o processo comple- to não é linear. Mais uma vez saliente-se que, apesar de ser defendida a ideia da aplicação lógica baseada em dados visitados e fornecidos, cada arquiteto tratará de projetar de maneira distinta. Assim, o partido, ainda que uma conceituação inicial do projeto se con- figura como criação autoral e inventiva, requer uma solução dentre inúmeras possibilidades e seu desenvolvimento, associando condicionantes, necessida- des, funcionalidades e aspectos plás- ticos, culminando no esboço daquilo que, posteriormente, será – de fato – o projeto arquitetônico. O Diagrama 1 compila o processo de projeto, perpassando pelas condi- cionantes, perfil do usuário, determi- nação do programa de necessidades, estabelecimento do conceito e do par- tido arquitetônico. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 51 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 51 11/03/2021 13:30:46 Cliente Identificação do problem a específico O indivíduo, ergonom ia, necessidades, disponibilidades financeiras e aspirações Análise do usuário Analisa e define o program a Setorização, organogram as, fluxogram as Pré-program a Program a Estudo prelim inar Aferição de alternativas (partido) Avaliação de alternativas Seleção do esquem a adotado De quê? Para quem ? Onde? Análise do sítio/lugar Clim a, insolação, vento, m ares, tem peratura, um idade e precipitações Topografia, form as do terreno, declividades e drenagem Dim ensão e a form a irregular/ regular Solo, qualidades físicas, quím icas Vegetação existente natural disponível Estruturas existentes. Verificação de acesso (vias, pavim entação) Entorno, paisagem , vizinhos, visuais, fontes, ruído Infraestrutura, serviços urbanos, água/luz, telefone, lixo, transporte, gás, águas pluviais Legislação local, recuos, coeficientes, taxas de ocup., coef. de vent., áreas m ínim as, cones lim itadores Terreno Necessidade (problem a) O profissional DIAGRAM A 1. PROCESSO DE CONCEPÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO Análise de projetos existentes PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO III 52 SER_ARQURB_PAUllI_UNID2.indd 52 11/03/2021 13:30:46 Aspectos plásticos: a influência da tecnologia dos materiais na concepção arquitetônica A Norma de Desempenho e sua infl uência nos projetos arquitetônicos A Norma de Desempenho que conhecemos atualmente começou a ser dis- cutida desde 2000, por interesse e iniciativa da Caixa Econômica Federal (CEF) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – sobre inovação e pesquisa –, viabilizando muitas discussões
Compartilhar