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6.Controle concentrado de constitucionalidade no Brasil-v2

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Controle de Constitucionalidade 
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DISCIPLINA 
Elementos de Teoria do Estado e 
de Jurisdição Constitucional 
 
CONTEÚDO 
Controle Concentrado de 
Constitucionalidade 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Controle de Constitucionalidade ---------------------------------------------------------------------- 4 
1.1 Origem do controle concentrado de constitucionalidade ---------------------------------------------------- 4 
2 Controle concentrado de constitucionalidade no Brasil ---------------------------------------- 5 
3 Ações específicas do controle judicial abstrato --------------------------------------------------- 8 
3.1 Ação direta de inconstitucionalidade (ADI) ----------------------------------------------------------------------- 8 
3.1.1 Legitimados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11 
3.1.2 Efeitos da decisão ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 
3.2 Ação de inconstitucionalidade por omissão (ADO) ----------------------------------------------------------- 14 
3.2.1 Legitimados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16 
3.2.2 Efeitos da decisão ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 16 
3.3 Ação declaratória de constitucionalidade (ADC) -------------------------------------------------------------- 17 
3.3.1 Legitimados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 18 
3.3.2 Efeitos da decisão ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 18 
3.4 Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)------------------------------------------ 19 
3.4.1 Pressupostos gerais de cabimento ------------------------------------------------------------------------------------------- 20 
3.4.2 Legitimados ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22 
3.4.3 Efeitos da decisão ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22 
4 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 23 
 
 
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1 Controle de Constitucionalidade 
A doutrina tem como marco histórico do controle de constitucionalidade o 
precedente Marbury v. Madison, que, em 1803, deu origem ao que conhecemos hoje 
como controle difuso de constitucionalidade. Nesse controle, também conhecido 
como modelo americano, “a fiscalização constitucional é realizada por todos os órgãos 
judiciais do ordenamento, sendo mais preciso denominá-lo universal”. Assim, no 
modelo difuso, o controle de constitucionalidade pode ser realizado por todos os 
órgãos do poder judiciário, mas claro, cada um dentro de suas competências 
(DIMOULIS e LUNARDI, 2016). 
 
Posteriormente, já em 1920, o jurista austríaco Hans Kelsen fundou o sistema 
concentrado de constitucionalidade, também conhecido como sistema europeu ou 
austríaco, devido a sua origem. No modelo concentrado de constitucionalidade, tema 
de estudo da nossa aula de hoje, o controle ocorre quando o ato de 
inconstitucionalidade é apreciado por um órgão superior, seja uma Corte 
Constitucional seja a Suprema Corte ou, no caso do Brasil, o Supremo Tribunal Federal, 
e não por vários tribunais como ocorre no controle difuso. 
 
No entanto, no Brasil, como veremos melhor adiante, embora inicialmente tenha-se 
adotado o sistema americano (difuso), com a promulgação da Constituição Federal de 
1988 o sistema europeu (concentrado) também foi inserido no ordenamento jurídico 
pátrio, transformando o Brasil em um dos países que adotam o controle misto ou 
híbrido. Neste modelo, conforme destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunard (2016), 
há a possibilidade do Tribunal Supremo se manifestar de forma concentrada sobre a 
constitucionalidade de determinadas leis, ao mesmo tempo que os tribunais de 
primeira instância (qualquer juiz) podem realizar o controle de forma difusa, dentro 
dos limites de sua competência. 
 
1.1 Origem do controle concentrado de constitucionalidade 
O sistema concentrado de constitucionalidade surge na Europa juntamente com a 
promulgação da Constituição Austríaca em 1920 por meio de seu precursor Hans 
Kelsen. Diferente do modelo americano (difuso), em que o controle de 
constitucionalidade é realizado por todos os órgãos do poder judiciário, o sistema 
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europeu tem como principal característica a concentração do controle em apenas um 
órgão, na Suprema Corte, ou também conhecida como Corte Constitucional. 
 
De acordo com Luís Roberto Barroso (2016), “para Kelsen, o controle de 
constitucionalidade não seria propriamente uma atividade judicial, mas uma função 
constitucional, que melhor se caracterizaria como atividade legislativa negativa. 
Idealizador do controle concentrado em um tribunal constitucional, considerava que 
a lei inconstitucional era válida até que uma decisão da corte viesse a pronunciar sua 
inconstitucionalidade. Antes disso, juízes e tribunaisnão poderiam deixar de aplicá-la. 
Após a decisão da corte constitucional, a lei seria retirada do mundo jurídico”. 
Conforme destaca o autor, era justamente com essa medida que Kelsen pretendia 
evitar um “governo de juízes”. 
 
No entanto, esse pensamento não perdurou por muito tempo. Em 1933 a Corte foi 
dissolvida em virtude do Decreto Presidencial nº 191, após a implementação de uma 
ditadura do Poder Executivo que posteriormente culminaria na junção da Áustria à 
Alemanha, que já estava sob o poder dos nazistas. Porém, conforme destacam Gilmar 
Mendes e Paulo Branco (2021), “terminado o conflito, a revelação dos horrores do 
totalitarismo reacendeu o ímpeto pela busca de soluções de preservação da dignidade 
humana, contra os abusos dos poderes estatais”. 
 
Assim, após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Corte foi novamente 
instituída, agora com uma significativa ampliação no rol de legitimados para requerer 
a realização do controle de constitucionalidade, pois, depois de todas as atrocidades 
vivenciadas na época, percebeu-se que era necessária a existência de um instrumento 
capaz de zelar pelas normas constitucionais. Rapidamente, o modelo de justiça 
constitucional idealizado inicialmente por Kelsen se espalhou pela Europa, juntamente 
com o processo de democratização dos países. 
 
2 Controle concentrado de constitucionalidade no Brasil 
Durante a vigência das primeiras Constituições, quando o Brasil ainda caminhava sob 
o regime imperial, não existia qualquer forma de controle de constitucionalidade, ele 
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foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro apenas em 1891 juntamente com 
o surgimento da República. Inicialmente, devido à forte influência americana no 
processo legislativo, o modelo de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil 
foi aquele desenvolvido pela Suprema Corte Norte-americana, realizado de forma 
incidental e difusa. O modelo americano permaneceu soberano até a promulgação da 
Constituição de 1988, quando o legislador insere no ordenamento jurídico a 
possibilidade do controle de constitucionalidade por via principal e concentrada, 
modelo baseado no europeu ou Austríaco. 
 
Assim, apesar de muitos doutrinadores considerarem o sistema de controle de 
constitucionalidade brasileiro como essencialmente difuso, já que foi o primeiro a 
surgir nas Constituições do país, o Brasil é um exemplo de sistema misto, já que 
combina tanto elementos do sistema concentrado (Austríaco) quanto do sistema 
difuso (Norte-americano). Esse terceiro modelo, que compila regras dos outros dois 
sistemas, é amplamente utilizado em países da América Latina. 
 
Segundo Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2017), o controle de 
constitucionalidade adotado pelo Brasil possui características singulares que se 
diferenciam da maioria dos outros Países, “Nele se conjugam os modelos difuso, 
oriundo do direito americano, possibilitando a todos os órgãos do Poder Judiciário a 
realização do controle incidental da constitucionalidade de leis e atos normativos, e 
concentrado, proveniente dos países europeus continentais, em que o órgão de 
cúpula do Poder Judiciário realiza o controle abstrato da constitucionalidade de 
normas jurídicas”. 
 
Neste sentido, destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunard (2016) que “por mais que 
se procure, na Europa não será encontrado Tribunal com as competências e os ritos 
processuais do STF ou do Tribunal Constitucional da Bolívia, que são resultados 
peculiares de uma experiência histórica diversa da europeia”. Isto é, ao mesmo tempo 
que os Tribunais Superiores, no caso do Brasil o STF, decidem de forma concentrada 
sobre a constitucionalidade das normas, os tribunais de instâncias inferiores atuam no 
controle de constitucionalidade de forma difusa. 
 
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De acordo com Lenio Streck (2018), “o controle concentrado de constitucionalidade é 
relativamente novo em nosso País. [...] até novembro de 1965 vigorava no Brasil o 
controle difuso de constitucionalidade, sendo que somente pela EC 16 é que foi 
introduzida essa novidade [...]. Até então, mantínhamo-nos fiéis à matriz norte-
americana, de controle eminentemente jurisdicional e difuso (judicial review)”. Com 
isso, o Brasil passa a fiscalizar a constitucionalidade não só das leis em sentido estrito, 
mas também todos os atos administrativos, as resoluções dos tribunais, decretos e 
portarias existentes no poder executivo e os demais atos, ainda que não sejam 
reconhecidos como essencialmente legislativos, dependendo do seu conteúdo, serão 
objeto do controle difuso ou concentrado de constitucionalidade. 
 
Geralmente, o controle concentrado de constitucionalidade é aquele realizado de 
forma abstrata, ou seja, que não se vincula juridicamente a interesses particulares e 
nem a um caso em concreto. Neste caso, a inconstitucionalidade da norma é verificada 
de forma abstrata e o julgador analisará apenas a sua compatibilidade com o texto 
constitucional, por meio de ações propostas diretamente no STF (ADI, ADC, ADO e 
ADPF), com o único intuito de eliminar a norma tida como inconstitucional do 
ordenamento jurídico, não admitindo-se que a parte (legitimado) desista da ação, pois 
se trata de um interesse indisponível e independe de um processo concreto. 
 
Além disso, considerando que esse modelo se vale de ações específicas propostas 
diretamente no Supremo, a via de ação é a principal. Isto é, a demanda se inicia com 
a indagação sobre a constitucionalidade da norma ou do ato e se encerra com uma 
sentença reconhecendo a procedência ou não do pedido realizado na inicial. No 
entanto, ainda é possível, em caráter excepcional, que o controle seja realizado de 
forma incidental, quando no decorrer do processo comum, a parte ou o julgador, de 
ofício, questionam a constitucionalidade da lei ou do ato antes da sentença. 
 
Portanto, é possível dizer que no Brasil adotamos um sistema combinado, pois, 
conforme destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi (2016), as “ações cujo único 
objeto é a declaração de inconstitucionalidade, como a ADIn, estão previstas em 
paralelo ao controle de constitucionalidade realizado por qualquer tribunal no 
decorrer de um processo comum. Mesmo no âmbito de uma ADIn, o STF pode 
examinar incidentalmente e de ofício uma norma que não foi impugnada, mas que 
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deveria ser aplicada para responder a demanda principal. Assim, podemos ter uma 
declaração incidental de inconstitucionalidade no controle principal e abstrato”. 
 
3 Ações específicas do controle judicial abstrato 
O controle judicial abstrato no Brasil pode ser exercido por meio da ação direta de 
inconstitucionalidade (ADI), da ação direta de inconstitucionalidade por omissão 
(ADO), da ação declaratória de constitucionalidade (ADC) e da arguição de 
descumprimento de preceito fundamental (ADPF), as quais veremos melhor na 
sequência. 
 
3.1 Ação direta de inconstitucionalidade (ADI) 
A ação direta de inconstitucionalidade, comumente conhecida como ADI, é uma das 
ações típicas do controle judicial abstrato, prevista no art. 102, inciso I, alínea “a” da 
Constituição Federal, tem o intuito somente de aferir a constitucionalidade de lei ou 
ato normativo objeto da ação. Nas palavras de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
(2017), na ADI “a inconstitucionalidade da lei é declarada em tese, vale dizer, sem que 
esteja sob apreciação qualquer caso concreto, já que o objeto da ação é justamente o 
exame da validade da lei em si. A declaração da inconstitucionalidade não é incidental,não ocorre no âmbito de controvérsia acerca de caso concreto que envolva aplicação 
de uma lei cuja validade se questiona; a própria ação tem por fim único o 
reconhecimento da invalidade da lei ou ato normativo impugnado”. 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal. 
 
A ação tem por objetivo manter a supremacia e a ordem constitucional, retirando do 
ordenamento jurídico todas as normas que violem as diretrizes e os preceitos 
constitucionalmente estabelecidos. Como descrito por Dimitri Dimoulis e Soraya 
Lunardi (2016), “além de preservar a supremacia constitucional, a ADIn, tal como as 
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demais ações do controle de constitucionalidade abstrato, objetiva preservar a 
segurança jurídica, impedindo que surjam decisões discrepantes sobre a 
constitucionalidade”. 
 
Contudo, esse controle abstrato do qual decorre a ação direta de 
inconstitucionalidade não é realizado somente no âmbito federal, através do Supremo 
Tribunal Federal, sendo também conferido aos Estados-membros, de modo que os 
Tribunais de Justiça possuem competência para julgar as ADIns propostas para 
verificar a (in)constitucionalidade de leis estaduais e municipais em face das 
Constituições dos Estados (art. 125, §2º, CF). Contudo, em que pese exista essa 
delegação de competência do âmbito federal ao estadual e municipal, os efeitos da 
ação permanecem os mesmos, toda ADI terá, em regra, efeito erga omnes e ex tunc. 
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta 
Constituição. 
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos 
normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da 
legitimação para agir a um único órgão. 
 
Desta forma, se houver uma violação de lei federal em relação à Constituição Federal, 
a competência para processar e julgar a ação direta de inconstitucionalidade será do 
Supremo Tribunal Federal, afinal cabe a ele zelar pelos princípios constitucionalmente 
estabelecidos, nos termos do art. 102, inciso I, alínea “a” da CF. Da mesma forma que 
será de competência do STF se uma lei estadual violar a norma maior. No entanto, a 
competência será alterada e passa ao Tribunal de Justiça caso a violação da norma 
seja com relação à Constituição do Estado ou do Município, uma vez que cada Estado 
tem a obrigação de zelar pelos princípios constitucionalmente estabelecidos em seus 
respectivos territórios. 
 
Além disso, é possível que uma norma contrarie, ao mesmo tempo, preceitos 
estabelecidos na Constituição Estadual e na Constituição Federal, já que a primeira 
reproduz muitos aspectos apresentados na segunda. Assim, em face de uma violação 
estadual e federal, destaca Flávio Martins (2019), a competência será de ambos, de 
modo que será cabível tanto uma ADI no Tribunal de Justiça do estado que teve sua 
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constituição violada, quanto no Supremo Tribunal Federal por violação à Constituição 
Federal, porém se ajuizadas concomitantemente, segundo a jurisprudência 
predominante no STF, a ADI federal suspende a ADI estadual. 
Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de liminar. Lei nº 9.332, de 27 de dezembro de 
1995, do Estado de São Paulo. - Rejeição das preliminares de litispendência e de continência, 
porquanto, quando tramitam paralelamente duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma 
no Tribunal de Justiça local e outra no Supremo Tribunal Federal, contra a mesma lei estadual 
impugnada em face de princípios constitucionais estaduais que são reprodução de princípios 
da Constituição Federal, suspende-se o curso da ação direta proposta perante o Tribunal 
estadual até o julgamento final da ação direta proposta perante o Supremo Tribunal Federal, 
conforme sustentou o relator da presente ação direta de inconstitucionalidade em voto que 
proferiu, em pedido de vista, na Reclamação 425. - Ocorrência, no caso, de relevância da 
fundamentação jurídica do autor, bem como de conveniência da concessão da cautelar. 
Suspenso o curso da ação direta de inconstitucionalidade nº 31.819 proposta perante o 
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, defere-se o pedido de liminar para suspender, ex 
nunc e até decisão final, a eficácia da Lei n 9.332, de 27 de dezembro de 1995, do Estado de 
São Paulo. 
(ADI 1423 MC, Relator(a): MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/1996, DJ 22-11-
1996 PP-45684 EMENT VOL-01851-01 PP-00120) 
 
Outro ponto interessante é com relação à norma municipal que viole os preceitos 
estabelecidos na Constituição Federal, pois neste caso não cabe ADI estadual ou 
federal, afinal não cabe ao Tribunal de Justiça analisar violações à Constituição Federal, 
exceto quando a norma violar de forma simultânea as Constituições Estadual e 
Federal, e o Supremo Tribunal Federal, que seria o responsável, é vedado por expressa 
previsão do art. 102, I, “a”, o qual prevê a competência para decidir somente sobre lei 
federal ou estadual. Assim, além do controle difuso, no qual a inconstitucionalidade 
da norma poderá ser suscitada perante qualquer juiz ou tribunal, resta ao legitimado, 
no controle concentrado, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 
(art. 102, I, “a”, segunda parte). 
 
Ainda, no caso do Distrito Federal, considerando que ele possui atribuições Estaduais 
e Municipais, existem algumas particularidades quanto ao controle de 
constitucionalidade realizado em suas normas. A Lei Orgânica do DF, por força do art. 
32 da CF, equipara-se à Constituição Estadual, portanto se houver uma violação de lei 
distrital, caberá contra ela ADI, direcionada ao Tribunal de Justiça do DF. Agora, se a 
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lei distrital violar o texto da Constituição Federal, a competência para julgar dependerá 
da natureza da norma, pois o DF possui tanto a competência municipal quanto a 
competência estadual. Assim, diante de uma violação constitucional de norma distrital 
cuja competência seja municipal, caberá ADPF, uma vez que o tratamento será o 
mesmo dado às leis municipais. Já se a violação decorrer de uma norma distrital cuja 
competência seja estadual, caberá ADI direcionada ao STF, nos termos do art. 102, I, 
“a” da CF. 
 
3.1.1 Legitimados 
Os legitimados para propor ação direta de inconstitucionalidade estão elencados em 
um rol taxativo previsto no art. 103 da Constituição Federal e no art. 2º da Lei 9.868/99. 
Os entes trazidos pelo artigo são classificados pela doutrina como legitimados 
universais (neutros) e especiais (interessados), da seguinte forma: 
→ LEGITIMADOS UNIVERSAIS 
 Presidente da República; 
 Mesa do Senado e da Câmara dos Deputados; 
 Procurador Geral da República; 
 Conselho Federal da OAB; 
 Partido Político com representação no Congresso Nacional. 
 
→ LEGITIMADOS ESPECIAIS 
 Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; 
 Governadores dos Estados ou do DF; 
 Confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional. 
 
Essa diferenciação entre legitimados universais e especiais é importante para a 
satisfação do requisito da pertinência temática definido pelo Supremo Tribunal 
Federal e tido como essencial para os legitimados especiais, já que eles devem 
demonstrar a existência de um vínculo entre o objeto da ADI e a atividadeque 
desempenham. Conforme destaca Flávio Martins (2019), “a pertinência temática deve 
ser vista como uma condição da ação, na modalidade interesse de agir. Trata-se de 
um interesse especial no objeto da ação, que deve ser provado pelo autor da ADI”. O 
critério da pertinência temática não é exigido dos legitimados considerados universais, 
ou seja, eles podem ajuizar ADI sobre qualquer assunto, independentemente da 
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existência do vínculo de sua atividade com o objeto da ação. 
 
3.1.1.1 Capacidade postulatória 
Segundo a jurisprudência do STF, somente alguns dos legitimados do art. 103 da 
Constituição possuem capacidade postulatória e podem propor Ação Direta de 
Inconstitucionalidade por si só, independentemente da figura do advogado, mesmo 
que não sejam habilitados pela Ordem dos Advogados do Brasil, podendo, inclusive, 
praticar diretamente todos os atos ordinariamente privativos de advogados. Os 
legitimados que possuem capacidade postulatória são: a) Presidente da República; b) 
Mesa do Senado Federal e da Câmara dos Deputados; c) Mesa de Assembleia 
Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; d) Governador de Estado ou do DF; e) 
Procurador-Geral da República; f) Conselho Federal da OAB. 
 
Portanto, os partidos políticos com representação no Congresso Nacional, as 
confederações sindicais e as entidades de classe de âmbito nacional não possuem 
capacidade postulatória e, por isso, só podem propor ações do controle abstrato por 
meio de um advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB. 
 
3.1.2 Efeitos da decisão 
A decisão que reconhece a inconstitucionalidade de determinada norma pode ter dois 
efeitos, os que possuem reflexos pessoais e os que possuem reflexos temporais. O 
alcance pessoal dos efeitos da decisão proferida em sede de ADI é vinculante e contra 
todos, ou seja, a decisão possui o que chamamos de efeito erga omnes. Flávio Martins 
(2019) afirma que isso ocorre “porque a Ação Direta de Inconstitucionalidade consiste 
num controle abstrato de constitucionalidade, num processo objetivo, sem que haja 
réus, por exemplo. Assim, depois de uma análise abstrata da constitucionalidade da 
lei, a decisão do Supremo Tribunal Federal produzirá efeitos contra todos (erga 
omnes)”. 
 
No mesmo sentido, Dimitri Dimoulis e Soraya Lunard (2016) afirmam que o efeito erga 
omnes é característico do controle concentrado, “elaborado para que a declaração de 
inconstitucionalidade apresente efeitos gerais. A norma é anulada ou declarada ab 
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initio nula por violar dispositivos constitucionais, atingindo todos os interessados, 
independentemente de sua participação ao processo. A eliminação da norma gera o 
denominado efeito vinculante”. Esse também é o entendimento manifestado no 
parágrafo único do art. 28 da Lei 9.868/99. 
Art. 28. [...] 
Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a 
interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem 
redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder 
Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal. 
 
Por outro lado, com relação ao alcance temporal dos efeitos da decisão, em regra 
podemos classificar como ex tunc, pois quando determinada norma é declarada 
inconstitucional a decisão afeta sua validade, tornando-a nula desde o seu 
nascimento. Conforme destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunard (2016), “no Brasil, 
tradicionalmente a decisão sobre a inconstitucionalidade é considerada declaratória, 
consistindo na verificação e proclamação de um vício que existia desde o início. Em 
decorrência disso, proclama-se que o fato ou ato jurídico objeto do controle ‘nunca 
existiu’ de iure, tendo a declaração efeito retroativo (ex tunc)”. 
 
No entanto, é possível que o STF module os efeitos temporais da decisão, o art. 27 da 
Lei 9.868/99 autoriza “o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus 
membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia 
a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”. Isto 
é, em regra, a decisão manifestada em sede de ADI será declaratória de 
inconstitucionalidade e, portanto, terá efeitos vinculativos erga omnes e ex tunc 
(retroativos), mas nada obsta que se cumpridos os requisitos estabelecidos no art. 27, 
o Supremo Tribunal Federal fixe a data a partir da qual sua decisão produzirá efeitos. 
 
De acordo com Flávio Martins (2016), “várias são as hipóteses: a) em regra, os efeitos 
da decisão são retroativos (retroagindo até o nascimento da lei – efeito ex tunc); b) o 
STF pode determinar que sua decisão retroaja apenas por um período posterior a 
edição da lei – alguns meses, alguns anos etc.; c) o STF pode determinar que sua 
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decisão não retroagirá, produzindo efeitos a partir do trânsito em julgado (efeito ex 
nunc); d) o STF pode determinar que sua decisão produzirá efeitos somente no futuro 
– depois de alguns meses, anos etc. (é o chamado efeito pro futuro ou prospectivo). 
Neste caso, a decisão do STF, em vez de ser declaratória, será constitutiva, pois 
manterá os efeitos já produzidos pela lei inconstitucional, determinando, criando um 
momento a partir do qual os efeitos de sua decisão serão gerados”. 
 
3.2 Ação de inconstitucionalidade por omissão (ADO) 
A ação de inconstitucionalidade por omissão (ADO) é uma das novidades trazidas pela 
Constituição Federal de 1988. Prevista no § 2º do art. 103, a ADO tem o condão de 
atacar as normas e atos que se mantêm omissos em face das normas constitucionais. 
No entanto, é importante destacar, logo de início, que a ação não pode ser oposta a 
qualquer tipo de omissão legislativa, já que este fenômeno pode ocorrer de formas 
distintas, de modo que um deles é atacável por ADO, e o outro, por mandado de 
injunção, o qual será suscitado sempre que a falta de norma regulamentadora tornar 
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas 
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, CF). 
 
Conforme destaca Luís Roberto Barroso (2016), “a omissão inconstitucional pode se 
dar no âmbito dos três Poderes, pela inércia ilegítima em adotar-se uma providência 
(i) normativa, (ii) político-administrativa ou (iii) judicial. Relativamente às omissões de 
natureza político-administrativa, existem remédios jurídicos variados, com destaque 
para o mandado de segurança e a ação civil pública. As omissões judiciais, por sua 
vez, deverão encontrar reparação no sistema de recursos instituídos pelo direito 
processual, sendo sanadas no âmbito interno do Judiciário. Por essa razão, o 
tratamento constitucional da inconstitucionalidade por omissão refere-se às omissões 
de cunho normativo, imputáveis tanto ao Legislativo, na edição de normas primárias, 
quanto ao Executivo, quando lhe toque expedir atos secundários de caráter geral, 
como regulamentos, instruções ou resoluções”. 
 
Assim, a omissão que será objeto do controle de constitucionalidade é aquela por 
ausência de complemento normativo, conforme definido no § 2º do art. 103 – 
“omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional” – e no inciso I do art. 
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12-B da Lei 9.868/99 – “quanto ao cumprimento de dever constitucional de legislar ou 
quanto à adoção de providência de índole administrativa”.Esse tipo de omissão 
advém das chamadas “normas constitucionais de eficácia limitada de princípio 
institutivo”, uma vez que que elas geram ao Poder Público a obrigação de legislar, 
pois sem o devido complemento não são capazes, por si só, de produzir todos os seus 
efeitos. 
 
Nas palavras de Flávio Martins (2019), “existem duas espécies de inconstitucionalidade 
por omissão por ausência de complemento normativo: a) omissão total ou absoluta; 
b) omissão parcial. Na primeira, a norma infraconstitucional que regulamentaria a 
norma constitucional de eficácia limitada não existe por completo. [...] Por sua vez, a 
omissão pode ser parcial, quando, embora existindo o complemento, ele não regula 
a norma constitucional por completo”. Contudo, ainda que seja possível essa 
diferenciação em omissão total e parcial, no final das contas, o que define a aplicação 
da medida não é o grau de cumprimento dos deveres legislativos, mas a omissão da 
norma em si, se houve ou não a violação do dever de legislar. 
 
Desta forma, segundo Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2017) “a ADO tem como 
objeto a chamada omissão inconstitucional, que ocorre quando uma norma 
constitucional deixa de ser efetivamente aplicada pela falta de atuação normativa dos 
órgãos dos poderes constituídos”. No entanto, de acordo com os autores, dentre os 
diversos tipos de omissões, “na ADO só poderão ser impugnadas omissões normativas 
federais e estaduais, bem como as omissões do Distrito Federal concernentes a suas 
competências estaduais. As omissões de órgãos municipais (e do Distrito Federal, 
relativas as suas atribuições municipais) não se sujeitam a impugnação em ADO 
perante o Supremo Tribunal Federal”. 
 
Assim, possui competência para processar e julgar as ações de inconstitucionalidade 
por omissão, tal como na ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal 
Federal, por força do art. 102, I, “a” da Constituição Federal. A matéria também foi 
disciplinada pela Lei 12.063/09 que acrescentou na Lei 9.868/99 o capítulo II-A 
tratando especificamente sobre o processo e julgamento da ação de 
inconstitucionalidade por omissão. 
 
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Porém, a nova Lei se manteve omissa com relação à competência da legislação 
estadual e municipal. Mas, “conquanto não haja previsão expressa de mecanismo 
análogo à ação direta de inconstitucionalidade por omissão no plano estadual, a 
doutrina em geral admite essa possibilidade. Sua instituição harmoniza-se com a 
autonomia reconhecida ao Estado em matéria de auto-organização e autogoverno, 
desde que observado o modelo federal” (BARROSO, 2016). Inclusive, nada obsta que 
a Constituição estadual determine a competência do Tribunal de Justiça do Estado 
para processar e julgar lei ou ato normativo estadual ou municipal. 
 
3.2.1 Legitimados 
Assim como na ADI, são legitimados para propor ação de inconstitucionalidade por 
omissão todas as autoridades previstas no art. 103 da Constituição Federal e no art. 
12-A da Lei 9.868/99. 
→ Presidente da República; 
→ Mesa do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados; 
→ Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; 
→ Governador de Estado ou do DF; 
→ Procurador-Geral da República; 
→ Conselho Federal da OAB; 
→ Partido político com representação no Congresso Nacional; 
→ Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
 
Além disso, tal como na ADI, a doutrina entende necessária para os legitimados 
especiais a satisfação do requisito da pertinência temática, ou seja, para que eles 
possam ingressar com a demanda em juízo é necessário demonstrar a existência de 
nexo entre o objeto da ADO, as finalidades e o âmbito de atuação da entidade. 
 
3.2.2 Efeitos da decisão 
Reconhecida a inconstitucionalidade da lei ou do ato por omissão, a decisão será 
remetida ao Poder competente para que este adote as providências necessárias. 
Assim, de acordo com Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2017), “se a omissão for 
de um dos Poderes do Estado, não há que se falar em fixação de prazo para a edição 
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da norma faltante. Porém, se a omissão for de um órgão administrativo (subordinado, 
sem função política, meramente executor de leis ou políticas públicas), será fixado um 
prazo de trinta dias, ou outro prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo 
Tribunal, para sua atuação visando a suprir a omissão inconstitucional”. 
 
3.3 Ação declaratória de constitucionalidade (ADC) 
A ação declaratória de constitucionalidade (ADC), diferente das outras que estudamos 
até aqui, pretende declarar a constitucionalidade de determinada lei ou ato normativo. 
Criada pela EC 3/93, que incluiu a parte final no art. 102, I, “a” da CF. 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - Processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal; 
 
A ADC tem por objetivo “abreviar o tempo – que em muitos casos pode ser longo – 
para obtenção de uma pronúncia do STF sobre a constitucionalidade de certo ato, que 
esteja originando dissenso nos juízos inferiores, consubstanciando um verdadeiro 
atalho para encerrar a controvérsia sobre a sua legitimidade” (PAULO e 
ALEXANDRINO, 2017). A decisão do STF manifestada em sede de ADC tem o condão 
de tornar a presunção relativa de constitucionalidade – presente em toda norma ou 
ato legal – em presunção absoluta de constitucionalidade. 
 
Inicialmente a proposta de uma nova ação que só confirmasse a constitucionalidade 
dos dispositivos legais pareceu um tanto quanto óbvia e sem tanta relevância. No 
entanto, conforme destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi (2016), “sistemas que 
combinam o controle de constitucionalidade abstrato e concreto, como o brasileiro, 
podem ter resultados indesejáveis para a administração da justiça, como ocorre com 
a interposição em série de ações idênticas na substância para impugnar a 
constitucionalidade de certo dispositivo. A concessão de cautelares, em caso de ações 
individuais que questionam a constitucionalidade de normas, pode agravar ainda mais 
a situação, gerando discrepâncias e incerteza jurídica”. Assim, tanto a ADI quanto a 
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ADC, ao solucionarem a dúvida quanto a (in)constitucionalidade das normas e dos 
atos administrativos, cessam também com eventuais discussões sobre o tema no 
âmbito judiciário. 
 
A ação declaratória de constitucionalidade terá como objeto, por expressa 
determinação do art. 102, I, “a” da CF, somente as leis ou atos normativos federais. 
“Sem prejuízo, todavia, como já assinalado, de o Estado-membro, no exercício de sua 
autonomia política e observado o modelo federal, instituir uma ação análoga, com 
tramitação perante o Tribunal de Justiça, tendo por objeto lei estadual ou municipal e 
como paradigma a Constituição do Estado” (BARROSO, 2016). 
 
3.3.1 Legitimados 
A princípio, com o advento da EC 3/93, eram apenas quatro os legitimados para 
propor ação declaratória de constitucionalidade, o Presidente da República, a Mesa 
do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados e o Procurador-Geral da 
República, ao passo que a ADI possui nove legitimados; além de todos os quatro já 
mencionados, a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF, o 
Governador de Estado ou do DF, o Conselho Federal da OAB e o partido político com 
representação no Congresso Nacional. 
 
No entanto, comoa ADI e a ADC, como diz Flávio Martins (2019), “são dois lados de 
uma mesma moeda”, e por conta do caráter dúplice que representam, não faria o 
menor sentido uma delas ter o rol de legitimados restrito com relação a outra. Assim, 
com a reforma do judiciário, promovida por meio da EC 45/2004, alterou-se a redação 
do art. 103 da Constituição Federal, equiparando o rol de legitimados para as duas 
ações e revogando o § 4º onde era feito a distinção. Portanto, a partir de 2004, todos 
os legitimados para propor uma ADI podem ingressar com uma ADC, inclusive no que 
diz respeito ao critério da pertinência temática para os legitimados especiais. 
 
3.3.2 Efeitos da decisão 
De acordo com o art. 102, § 2º da Constituição Federal, “as decisões definitivas de 
mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de 
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inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão 
eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder 
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal”. Além disso, dispõe o parágrafo único do art. 28 da Lei 9.868/99 que a 
declaração de constitucionalidade “tem eficácia contra todos e efeito vinculante em 
relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e 
municipal”. 
 
Portanto, assim como ocorre na ADI, a decisão manifestada em sede de ADC possui 
efeito vinculante e atingirá a todos (efeito erga omnes). “Isso porque a Ação 
Declaratória de Constitucionalidade consiste num controle abstrato de 
constitucionalidade, num processo objetivo, sem que haja réus, por exemplo. Assim, 
depois de uma análise abstrata da constitucionalidade da lei, a decisão do Supremo 
Tribunal Federal produzirá efeitos contra todos (erga omnes)”. 
 
Além disso, com relação aos efeitos temporais da decisão, este será ex tunc, ou seja, 
com eficácia retroativa, uma vez que as leis já nascem com uma presunção relativa de 
constitucionalidade e a decisão definitiva manifestada em sede de ação declaratória 
de constitucionalidade só vem para confirmar esse pensamento, tornando a 
presunção relativa absoluta. 
 
3.4 Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 
Embora esteja prevista na Constituição Federal desde 1993 pela Emenda 
Constitucional nº 3, a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) 
só foi regulamentada 11 anos depois, pela Lei 9.882/99. Conforme destacam Dimitri 
Dimoulis e Soraya Lunardi (2016), o “objetivo geral da Arguição de Descumprimento 
de Preceito Fundamental (ADPF) é impedir que condutas ou normas contrárias a 
preceitos fundamentais decorrentes da Constituição comprometam a regularidade do 
sistema normativo, afetando a supremacia constitucional. Além de preservar a 
supremacia constitucional, a ADPF, tal como as demais ações de controle abstrato, 
preserva a segurança jurídica, impedindo que haja decisões discrepantes sobre a 
constitucionalidade de uma norma”. 
 
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A doutrina majoritária reconhece que a arguição de descumprimento de preceito 
fundamental (ADPF) pode ser realizada de duas formas distintas. A primeira é a ADPF 
principal, também conhecida como arguição autônoma, prevista no caput do art. 1º 
da Lei 9.882/99. Essa modalidade “será proposta perante o Supremo Tribunal Federal 
e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do 
Poder Público”. 
 
Assim, Luís Roberto Barroso (2016) define que, “além do pressuposto geral da 
inexistência de qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade (o que lhe dá um 
caráter de subsidiariedade), exige-se (i) a ameaça ou violação a preceito fundamental 
e (ii) um ato estatal ou equiparável capaz de provocá-la. Trata-se, inequivocamente, 
de uma ação, análoga às ações diretas já instituídas na Constituição, por via da qual 
se suscita a jurisdição constitucional abstrata e concentrada do Supremo Tribunal 
Federal”. 
 
Por outro lado, a ADPF incidental, definida no art. 1º, parágrafo único e inciso I da Lei, 
tem como objeto “lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluindo os 
anteriores à CF 1988”, ou seja, todos objetos das outras ações de controle abstrato de 
constitucionalidade estudadas anteriormente. Por isso muito se questiona na doutrina 
a constitucionalidade da ADPF incidental, especialmente sobre dois aspectos, primeiro 
porque a lei ampliaria de forma indevida as hipóteses de cabimento da ADPF e, 
segundo porque, em tese, a Lei 9.882 contraria as dispões Constitucionais a respeito 
do descumprimento de norma municipal ou promulgada antes da entrada em vigor 
da CF/88. Contudo, esse tema ainda é muito sensível e não existe nada concreto, pois 
aguardamos. 
 
3.4.1 Pressupostos gerais de cabimento 
A arguição de descumprimento de preceito fundamental é suscitada para barrar 
condutas ou normas contrárias a preceitos fundamentais decorrentes da Constituição 
que comprometam a regularidade do sistema normativo, mas a sua arguição depende 
de uma série de requisitos, que se não forem observados podem comprometer a 
legitimidade da medida. 
 
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O primeiro requisito, obviamente, mas não menos importante, é o descumprimento 
de preceito fundamental. Como seu próprio nome já diz, a ADPF só poderá ser 
proposta em face das normas e condutas contrárias a preceitos fundamentais 
constitucionalmente estabelecidos. No entanto, conforme mencionamos 
anteriormente, nem a doutrina e tampouco a lei se ocuparam em definir o conceito 
de “preceito fundamental”, fato que o torna muito volátil no direito. Nas palavras de 
Luíz Roberto Barroso (2016), “a expressão preceito fundamental importa o 
reconhecimento de que a violação de determinadas normas — mais comumente 
princípios, mas eventualmente regras — traz consequências mais graves para o 
sistema jurídico como um todo”. Além disso, para ensejar a aplicação da medida não 
basta a simples alegação de não observância de um preceito fundamental ou a mera 
ameaça de lesão, a violação ao preceito deve ser real e concreta. 
 
O outro critério exigido para a propositura da demanda é a inexistência de outro meio 
idôneo, ou seja, a ADPF possui um caráter subsidiário, esse é o entendimento 
manifestado no art. 4º, § 1º da Lei 9.882/99 – “não será admitida arguição de 
descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz 
de sanar a lesividade”. Nesse sentido, destacam Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi 
(2016), “a ADPF deve preencher lacunas e não substituir as garantias e as ações 
existentes nem concorrer com elas, tornando ainda mais complexo o sistema de 
controle de constitucionalidade”. 
 
Além disso, o ajuizamento da ação presume que exista uma considerável relevância 
de controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo. Nas palavras de Luís 
Roberto Barroso (2016), esse critério torna-se relevante por dois motivos em especial, 
em primeiro lugar, porque a relevância da controvérsia “presta-se a justificar o 
afastamento da competência dos demais órgãos jurisdicionais e a transferência da 
discussão para o STF”, e, em segundo lugar, porque, ao apreciar a relevância da 
controvérsia constitucional, “sugere que o STF deve restringir sua atuação aos casos 
em que estejam em jogo questões relacionadas, por exemplo, ao núcleo dos direitos 
fundamentais, à estrutura essencial do Estado, e com grande repercussão social. Essa 
é a vocação de uma ação destinada a tutelar os preceitos fundamentais da 
Constituição”.Portanto, o grande objetivo por trás dos pressupostos gerais de 
cabimento da ADPF é direcionar a atuação dos órgãos de cúpula do Poder Judiciário 
nos casos de maior relevância, tanto para que eles tenham uma análise específica do 
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Tribunal quanto para que as decisões manifestadas em sede das ações do controle 
abstrato de constitucionalidade tenham maior repercussão social. 
 
3.4.2 Legitimados 
Dispõe o inciso I do art. 2º da Lei 9.882/99 que são legitimados para propor arguição 
de descumprimento de preceito fundamental os mesmos da ação direta de 
inconstitucionalidade. Portanto, assim como as demais ações abstratas de 
constitucionalidade, são legitimados para propor ADPF aqueles dispostos no rol do 
art. 103 da Constituição Federal. 
→ Presidente da República; 
→ Mesa do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados; 
→ Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; 
→ Governador de Estado ou do DF; 
→ Procurador-Geral da República; 
→ Conselho Federal da OAB; 
→ Partido político com representação no Congresso Nacional; 
→ Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
 
Além disso, tal como na ADI, a doutrina entende necessária para os legitimados 
especiais a satisfação do requisito da pertinência temática, ou seja, para que eles 
possam ingressar com a demanda em juízo é necessário demonstrar a existência de 
nexo entre o objeto da ADO, as finalidades e o âmbito de atuação da entidade. 
 
3.4.3 Efeitos da decisão 
A decisão manifestada em sede de ADPF será proferida por maioria dos membros do 
STF – 6 Ministros –, embora tenham que estar presentes na seção de julgamento, ao 
menos, 8 Ministros. Além disso, com relação aos efeitos pessoais da decisão, esta 
possui efeito contra todos (erga omnes) e vinculará os demais órgãos do Poder 
Judiciário, nos termos do art. 10, § 3º, da Lei 9.882/99. 
 
Por fim, no que diz respeito aos efeitos temporais da decisão, em regra, serão 
retroativos, especialmente quando o Supremo Tribunal Federal declarar a 
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Referências Bibliográficas 
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inconstitucionalidade de determinada norma, pelo voto de dois terços de seus 
membros. Contudo, pelo mesmo número de votos, é possível que o Tribunal module 
os efeitos da decisão, “determinando que: a) a retroatividade seja limitada, em alguns 
meses, semanas, anos etc., mas em data posterior à entrada em vigor da norma; b) a 
decisão produzirá efeitos ex nunc, apenas (a partir de sua publicação); c) a decisão só 
produza efeitos no futuro (efeito pro futuro ou prospectivo)” (NUNES JR. 2019). 
Portanto, os efeitos aplicados à decisão de ADPF serão idênticos àqueles aplicados as 
demais ações do controle abstrato de constitucionalidade. 
 
4 Referências Bibliográficas 
BAHIA, Flavia. Direito Constitucional. 3 ed. Recife: Armador, 2017. 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 9 ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: 
exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 7 ed. rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2016. 
DIMOULIS, Dimitri; Soraya Lunardi. Curso de processo constitucional: controle de 
constitucionalidade e remédios constitucionais. 4 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: 
Atlas, 2016. 
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 12 ed. rev., atual, 
e ampl. Salvador: JusPodivm, 2020. 
MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. 8 ed. rev. ampl. e atual. 
Salvador: JusPODIVM, 2020. 
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito 
constitucional. 16 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33 ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 
2017. 
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3 ed. São 
Paulo: Saraiva Educação, 2019. 
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional descomplicado. 16 
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Referências Bibliográficas 
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ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. 
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de 
direito constitucional. 8 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. 
 
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Referências Bibliográficas 
www.cenes.com.br | 25 
 
 
 
	Sumário
	1 Controle de Constitucionalidade
	1.1 Origem do controle concentrado de constitucionalidade
	2 Controle concentrado de constitucionalidade no Brasil
	3 Ações específicas do controle judicial abstrato
	3.1 Ação direta de inconstitucionalidade (ADI)
	3.1.1 Legitimados
	3.1.1.1 Capacidade postulatória
	3.1.2 Efeitos da decisão
	3.2 Ação de inconstitucionalidade por omissão (ADO)
	3.2.1 Legitimados
	3.2.2 Efeitos da decisão
	3.3 Ação declaratória de constitucionalidade (ADC)
	3.3.1 Legitimados
	3.3.2 Efeitos da decisão
	3.4 Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)
	3.4.1 Pressupostos gerais de cabimento
	3.4.2 Legitimados
	3.4.3 Efeitos da decisão
	4 Referências Bibliográficas

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