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Estudo cintilográfico da motilidade colônica em crianças com constipação

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Carmo RLML¹, Ribeiro AEA², Mazon MA, Oliveira RPM², Lima MCL¹, Etchebehere ECSC², Santos AO², 
Amorim BJ², Bustorff-Silva JM³, Ramos CD², Da-Costa-Pinto EAL¹. 
 
Gastroenterologia Pediátrica Departamento do Pediatria¹, Serviço de Medicina Nuclear do Departamento de 
Radiologia ² e Cirurgia Pediátrica do Departamento de Cirurgia ³, Faculdade de Ciências Médicas, 
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), São Paulo, Brasil. 
 
Estudo cintilográfico funcional da motilidade 
colônica em crianças com constipação refratária 
UNICAMP 
INTRODUÇÃO: A constipação é um problema freqüente na faixa etária pediátrica 
(20-30% das crianças e adolescentes), sendo responsável por 3% das consultas 
pediátricas e por 25% das consultas em ambulatórios de gastroenterologia pediátrica 
[1,3]. Na grande maioria dos casos, a constipação é funcional, normalmente 
desencadeada por comportamento de retenção fecal no período de treino esfincteriano, 
não tendo, porém, etiopatogenia definida e sendo, portanto, uma área desafiadora para 
a investigação científica. Uma parte significativa dos pacientes é refratária ao 
protocolo terapêutico preconizado, o que torna necessária uma melhor definição 
etiológica da situação, a fim de estabelecer uma terapêutica mais eficaz [6]. Em 
adultos, a cintilografia de trânsito intestinal é um exame que se tem mostrado capaz de 
diferenciar 2 tipos principais de constipação funcional, quanto à motilidade colônica: 
Slow transit constipation (STC) e obstrução da via de saída anorretal [5,7]. Definido o 
padrão de acometimento colônico, é possível esclarecer a melhor abordagem 
terapêutica. Nos casos de STC, o tratamento pode ser cirúrgico [3,4,5]. No nosso meio 
essa investigação não é realizada na rotina e não é conhecido o padrão mais comum 
nas crianças brasileiras. 
OBJETIVO: Avaliar, por meio de técnica cintilográfica, os tempos de trânsito colônico 
em crianças com constipação refratária 
PACIENTES E MÉTODOS: Apresentaremos os resultados preliminares referentes a 
23 pacientes de 3 a 14 anos de idade, sendo 16 do sexo masculino, portadores de CF e 
refratários à terapia tradicional. Os pacientes realizaram preparo intestinal com 
clisteres de solução glicerinada, nos 2 dias anteriores ao estudo cintilográfico, para 
remoção de impactações fecais. No dia do exame, o paciente apresentava-se em jejum 
mínimo de 12 horas e recebia por via oral 370MBq de fitato-99mTc diluídos em 
aproximadamente 20ml de leite. Imagens estáticas na projeção anterior do abdome 
foram adquiridas imediatamente após a ingestão do material e, a seguir, após 2, 6, 24, 
30 e 48 horas. As imagens foram analisadas qualitativamente quanto à progressão do 
radiofármaco pelo cólon. Foi estabelecido o diagnóstico de STC quando a maior parte 
do traçador ainda permanecia no cólon proximal e transverso nas imagens de 48 horas 
(figura 1). 
 
Tabela: 
Figura 1: Imagens cintilográficas, tiradas 
após 6, 24, 30 e 48 horas, mostram 
diferentes padrões de trânsito : a. Normal; 
b. Retenção anorretal, em que com 24h 
quase todo o contraste atingiu o reto, onde 
permanece com 48h; c. Atraso 
pancolônico, em que o radiofármaco se 
move lentamente pelo cólon, porém não é 
excretado; d. Retenção colônica isolada no 
cólon transverso; e. Atraso no cólon e 
intestino delgado, havendo radiofármaco 
no intestino delgado após 6h, indicando um 
atraso no trânsito do intestino delgado. 
Radioatividade persiste por todo o cólon 
com 48h da ingestão. Um padrão de 
divisão regional do cólon (2 cólon 
ascendente, 3 cólon transverso, 4 cólon 
descendente e 5 reto/sigmóide) é mostrado 
em cada imagem. O intestino delgado não 
está definido, sendo a diferenciação do 
mesmo feita por especialista em Medicina 
Nuclear [3]. 
RESULTADOS: Em 12 pacientes (52,2%) houve retenção do radiofármaco 
apenas no reto/sigmóide nas imagens de 48 horas (Figuras 2 e 3). Nos outros 
11 pacientes (47,8%) houve retenção colônica do radiofármaco nas imagens 
de 48 horas (Figura 4). 
 
Figura 2: Imagens 
cintilográficas de 48h de 4 
pacientes com retenção 
anorretal. Observa-se que a 
maior parte do contraste está 
no sigmóide e no reto. 
CONCLUSÃO: A prevalência de STC foi menor neste estudo em comparação 
com outros da área, que indicam que a STC normalmente é o padrão mais comum 
nestes pacientes. A retenção do radiofármaco apenas no reto/sigmóide nas 
imagens de 48 horas em 12 pacientes corresponde, provavelmente, à condição 
fisiopatológica de obstrução de via de saída, indicando para esses pacientes a 
realização de cirurgia de Malone (apendicecostomia) para realização de clisteres 
anterógrados e, assim, procurar recuperar a função motora retal . Os pacientes 
que apresentaram retenção colônica do radiofármaco nas imagens de 48 horas 
foram caracterizados como prováveis portadores de STC, sendo considerada a 
realização de colectomia no seu tratamento. Tal diferenciação foi pioneira na 
identgificação de STC em crianças brasileiras, tendo sido incorporada aos serviços 
assistenciasi do HC-UNICAMP, e permitirão o aprofundamento da pesquisa da 
etiologia da constpação funcional refratária. 
 
Figura 3: Exame 
completo de paciente 
com retenção anorretal. 
Observa-se que, com 
6h, a maior parte do 
radiofármaco já está no 
cólon ascendente. Além 
disso, percebe-se que, 
com 24h, a maior parte 
do radiofármaco já 
atingiu o reto e 
sigmóide, 
permanecendo no reto 
até as 48h. 
Figura 4: Exame 
completo de paciente com 
STC. Observa-se que, com 
6h, a maior parte do 
radiofármaco já atingiu o 
cólon ascendente. Porém, 
com 24h, o mesmo se 
concentra ainda na flexura 
esplênica e cólon 
descendente; e, com 48h, a 
concentração ainda se 
divide entre cólon 
descendente e 
retossigmóide. 
REFERÊNCIAS 
1. Morais MB, Maffei HVL. Contipação Intestinal. Jornal de Pediatria, 2000. 76(2):S147-S156. 
2. Hutson JM, Chase JW, Clarke MCC, King SK, Sutcliffe J, Gibb S, Catto-Smith AG, Robertson VJ, Southwell BR. Slow-
transit constipation in children: our experience. Pediatr surg Int; 2009, 25: 403 - 406. 
3. Sutcliffe JR, King SK, Hutson JM, Cook DJ, Southwell BR. Gastrointestinal transit in children with chronic idiopathic 
constipation. Pediatr Surg Int, 2009. 25:465-472. 
4. Christison-Lagay ER, Rodriguez L, Kurtz M, Pierre KS, Doody DP, GoldsteinAM. Antegrade colonic enemas and 
intestinal diversion are highly effective in the management of children with intractable constipation. J Ped Surg, 2010. 45: 
213-9. 
 
 
 
 
5. Cook BJ, Lim E, Cook D, Hughes J, Chow CW, Stanton MP, Bidarkar SS, Southwell BR, Hutson JM. Radionuclear transit 
to assess sites of delay in large bowel transit in children with chronic idiopathic constipation. J Ped Surg, 2005. 40: 478-83. 
6. Clarke MCC, Chase JW, Gibb S, Catto-Smith AG, Hutson JM, Southwell B. Standard medical therapies do not alter 
colonic transit time in children with treatment-resistant slow-transit constipation. Pediatr Surg Int, 2009. 25: 473-8. 
7. Southwell B, Clarke MCC, Sutcliffe J, Hutson JM. Colonic transit studies: normal values for adults and children with 
comparison of radiological and scintigraphic methods. Pediatr Surg Int, 2009. 25: 559-572.

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