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IESDE BRASIL S/A
2018
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
 SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ	
S713a	Souza, Amilcar Marcel de
Avaliação de impacto e licenciamento ambiental / Amilcar Marcel de Souza. - [2. ed]. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 164 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6393-2
1. Meio ambiente. 2. Ecologia. I. Título. 17-46753	CDD: 577
CDU: 502.1
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Juliann/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Apresentação
Este livro tem o objetivo de instrumentalizar o aluno para o tema Avaliação de Impacto e Licenciamento Ambiental, muito importante para sua formação acadêmica.
O modelo de desenvolvimento adotado em todas as partes do mun- do vem gerando impactos ambientais significativos, comprometendo a sustentabilidade e qualidade de vida de muitas populações. Tendo como efeitos diretos dessa forma de desenvolvimento as mudanças climáticas, a crise hídrica, a desertificação e outras consequências, os países vêm desenvolvendo estratégias de monitoramento e controle da degradação ambiental. Entre essas estratégias estão os ordenamentos jurídicos mais restritivos associados aos procedimentos técnicos, como é o caso dos pro- cessos de licenciamento ambiental no Brasil.
O tema desta obra é muito importante neste contexto, pois os estu- dos de avaliação de impactos ambientais, bem como o processo de licen- ciamento ambiental no Brasil, já estão bem estabelecidos e consolidados quanto à sua importância para os empreendedores, os órgãos ambientais competentes e as instituições financeiras nacionais e internacionais, em razão da necessidade de emissão de licenças ambientais, e por subsidiar tomadas de decisões.
Este livro busca trazer definições e conceitos relevantes para o tema, apresentando e descrevendo o histórico dos estudos de avaliação de im- pacto ambiental no Brasil, as tipologias de impactos e licenças ambientais, os métodos e procedimentos de avaliação de impactos e as características dos meios biótico, físico e socioeconômico que são os pontos focais dos es- tudos. Por fim, o livro traz dois estudos de casos reais e contemporâneos, que possibilitarão ao aluno se aprofundar e se qualificar profissionalmente.
Sobre o autor
Amilcar Marcel de Souza
Mestre em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), e gradua- do em Engenharia Florestal pela mesma instituição. Atua em projetos de extensão rural por diversos estados brasileiros, visando à conservação ambiental e ao resgate cultural de vivências de ruralidade. É presidente e fundador do Instituto Pró-Terra.
6
Sumário
	O conceito HYPERLINK "#_bookmark1" HYPERLINK "#_bookmark1"de HYPERLINK "#_bookmark1" HYPERLINK "#_bookmark1"ambiente	10
	O conceito de HYPERLINK "#_bookmark2" HYPERLINK "#_bookmark2"impacto HYPERLINK "#_bookmark2" HYPERLINK "#_bookmark2"ambiental	13
	Os objetivos da avaliação de HYPERLINK "#_bookmark3" HYPERLINK "#_bookmark3"impacto HYPERLINK "#_bookmark3" HYPERLINK "#_bookmark3"ambiental	17
	Impactos diretos HYPERLINK "#_bookmark5" HYPERLINK "#_bookmark5"e HYPERLINK "#_bookmark5" HYPERLINK "#_bookmark5"indiretos	28
	Impactos de curta e HYPERLINK "#_bookmark6" HYPERLINK "#_bookmark6"longa HYPERLINK "#_bookmark6" HYPERLINK "#_bookmark6"duração	31
	Impactos HYPERLINK "#_bookmark7" HYPERLINK "#_bookmark7"acumulativos	33
	Antecedentes HYPERLINK "#_bookmark9" HYPERLINK "#_bookmark9"históricos	42
	Conceitos, princípios HYPERLINK "#_bookmark10" HYPERLINK "#_bookmark10"e HYPERLINK "#_bookmark10" HYPERLINK "#_bookmark10"diretrizes	45
	Sisnama, Conama HYPERLINK "#_bookmark11" HYPERLINK "#_bookmark11"e HYPERLINK "#_bookmark11" HYPERLINK "#_bookmark11"penalidades	48
	Histórico	58
	Órgão HYPERLINK "#_bookmark14" HYPERLINK "#_bookmark14"legislador	61
	Órgãos HYPERLINK "#_bookmark15" HYPERLINK "#_bookmark15"executivos	63
	Tipologia HYPERLINK "#_bookmark17" HYPERLINK "#_bookmark17"e HYPERLINK "#_bookmark17" HYPERLINK "#_bookmark17"aplicabilidade	74
	Documentos técnicos para o HYPERLINK "#_bookmark18" HYPERLINK "#_bookmark18"licenciamento HYPERLINK "#_bookmark18" HYPERLINK "#_bookmark18"ambiental	77
	Procedimentos previstos na HYPERLINK "#_bookmark19" HYPERLINK "#_bookmark19"legislação HYPERLINK "#_bookmark19" HYPERLINK "#_bookmark19"brasileira	80
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Sumário
	Metodologias espontâneas HYPERLINK "#_bookmark21" HYPERLINK "#_bookmark21"(ad HYPERLINK "#_bookmark21" HYPERLINK "#_bookmark21"hoc)	88
	Metodologias de HYPERLINK "#_bookmark22" HYPERLINK "#_bookmark22"listagem HYPERLINK "#_bookmark22"(check-list)	89
	Matrizes HYPERLINK "#_bookmark23" HYPERLINK "#_bookmark23"de HYPERLINK "#_bookmark23" HYPERLINK "#_bookmark23"interações	93
	Meio HYPERLINK "#_bookmark25" HYPERLINK "#_bookmark25"físico	104
	Meio HYPERLINK "#_bookmark26" HYPERLINK "#_bookmark26"biótico	107
	Meio HYPERLINK "#_bookmark27" HYPERLINK "#_bookmark27"socioeconômico	110
	Formas de apresentação ao HYPERLINK "#_bookmark29" HYPERLINK "#_bookmark29"meio HYPERLINK "#_bookmark29" HYPERLINK "#_bookmark29"físico	120
	Formas de apresentação do HYPERLINK "#_bookmark30" HYPERLINK "#_bookmark30"meio HYPERLINK "#_bookmark30" HYPERLINK "#_bookmark30"biótico	124
	Formas de apresentação do HYPERLINK "#_bookmark31" HYPERLINK "#_bookmark31"meio HYPERLINK "#_bookmark31" HYPERLINK "#_bookmark31"socioeconômico	130
	Tipos HYPERLINK "#_bookmark33" HYPERLINK "#_bookmark33"de HYPERLINK "#_bookmark33" HYPERLINK "#_bookmark33"licenças	138
	Estudo de caso I: aproveitamento hidrelétrico de HYPERLINK "#_bookmark34" HYPERLINK "#_bookmark34"Belo HYPERLINK "#_bookmark34" HYPERLINK "#_bookmark34"Monte	145
	Estudo de caso II: Barragem de Fundão em HYPERLINK "#_bookmark35" HYPERLINK "#_bookmark35"Mariana HYPERLINK "#_bookmark35" HYPERLINK "#_bookmark35"(MG)	148
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O termo meio ambiente vem sendo utilizado com diversas finalidades, nos mais diferentes segmentos da sociedade. As razões dessa preocupação com o ambiente variam da consciência da sociedade perante os problemas ambientais que vêm atin- gindo a humanidade. Neste capítulo serão apresentados, de forma técnica e emba- sada, os conceitos de ambiente, impacto ambiental e avaliação de impacto ambiental. Também serão apresentadas as principais discussões conceituais da literatura especia- lizada, que são amplamente debatidas no meio acadêmico, bem como as definições e os instrumentos jurídicos brasileiros acerca dos temas.
	O conceito de ambiente
As questões ambientais têm sido a grande preocupação de todas as comunidades do nosso planeta nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela ação do ser hu- mano no ambiente natural, seja pela resposta que a natureza dá a essas ações – como, por exemplo, mudanças climáticas, crise hídrica, desertificação, poluição dos oceanos etc. Esse tema é pauta das principais conferências internacionais, como as conferências do clima e do meio ambiente e os fóruns econômicos e sociais.
Nesse sentido, o conceito de ambiente admite múltiplas interpretações e tem sido am- plamente discutido nos meios técnicos, científicos, jurídicos e políticos. Freitas (2003) traz uma observação importante, em que a expressão meio ambiente, adotada no Brasil é criticada pelos estudiosos, pois meio e ambiente, no sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo, tal emprego importaria em redundância. Um exemplo dessa discussão é que, na Itália e em Portugal, usa-se apenas a palavra ambiente.
Conforme Sánchez (2013), o conceito de ambiente na área de gestão ambiental é amplo, multifacetado e maleável. O ambiente pode ser amplo,pois pode incluir tanto os recursos naturais como a sociedade. Por outro lado, pode ser multifacetado, porque pode ser apreen- dido sob diferentes formas. Por fim, maleável, porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com as necessidades envolvidas na análise.
As contribuições especializadas aos estudos ambientais são, muitas vezes, divididas em três grandes grupos referidos como meios: físico, biótico e antrópico, cada um deles agru- pando o conhecimento de diversas disciplinas afins. De acordo com esses grupos, conforme Sánchez (2013, p. 21), por um lado, “ambiente é o meio de onde a sociedade extrai os recur- sos essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento socioeconômico”. Esses recursos são geralmente denominados naturais. Por outro lado, o mesmo autor comenta que
[...] o ambiente é também o meio de vida, de cuja integridade depende a manu- tenção de funções ecológicas essenciais à vida. Desse modo, emergiu o conceito de recurso ambiental, que se refere não mais somente à capacidade da natureza de fornecer recursos físicos, mas também de prover serviços e desempenhar fun- ções de suporte à vida. (SÁNCHEZ, 2013, p. 21)
Dessa forma, o conceito de ambiente permeia dois campos: o campo de matéria-prima e fornecedor de recursos naturais às necessidades do ser humano e o campo de meio de vida, tendo como ponto comum uma mesma realidade. Ambiente não se define somente como um meio natural intacto e com necessidades exclusivas de conservação e preservação, mas também como fonte potencial de recursos naturais que permite oferecer matéria para os desenvolvimentos tecnológico e social.
A primeira vez que a expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada, como men- ciona Silva (2009), citando Vladimir Passos de Freitas (2003, p. 17), foi em 1835, pelo natu- ralista francês Geoffrey de Saint-Hilaire, em sua obra Études progressives d´un naturaliste, em que milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo e ambience indica tudo
que está à sua volta. Silva (2009), citando Edgar Morin (1988), comenta que, de forma geral, ambiente é o conjunto de agentes presentes na Terra que agem de forma constante sobre os seres vivos, devendo estes se adaptar, relacionar-se e interagir para sobreviver.
No meio jurídico é difícil definir meio ambiente, pois como bem lembra Edis Milaré (2001,
	165), “o meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído que definível, em virtude da riqueza e complexidade do que encerra”. Em 1981, o conceito legal sobre meio ambiente no Brasil surgiu, pela primeira vez, no que dispõe o art. 3°, inciso I, da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, dizendo que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Esta definição tem trazido inúmeras discussões, pois seu foco está em um conceito res- trito ao meio ambiente natural, sendo incompleto e inadequado para a realidade brasileira, pois não abrange de maneira mais profunda todos os bens jurídicos protegidos – como, por exemplo, o patrimônio cultural e histórico. Conforme comenta José Afonso da Silva, o conceito de meio ambiente deve ser abrangente e globalizante, “[...] abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico. “ (SILVA, 2004, p. 20).
Buscando ocupar essas lacunas, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 225, traz que o conceito de meio ambiente, enquanto bem jurídico tutelado, compreende três aspectos principais e dois complementares. Entre os principais estão o natural, o artificial e o cultural; entre os secundários, o meio ambiente do trabalho e patrimônio genético:
	Meio ambiente natural – é constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. São todas as interações dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recípro- ca entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam.
	Meio ambiente artificial – é constituído pelo espaço urbano (incluindo edificações), rural e construído/manejado, e também por todas suas inter-relações humanas.
	Meio ambiente cultural – considera-se o patrimônio cultural nacional, incluindo as relações culturais, turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais.
	Meio ambiente do trabalho – previsto no artigo 200, inciso VIII, da CF/88, é o local onde homens e mulheres desenvolvem suas atividades laborais. Desse modo, para que esse local seja considerado adequado para o trabalho, deverá apresentar, além de condições salubres, ausência de agentes que coloquem em risco o corpo físico e a saúde mental dos trabalhadores.
	Patrimônio genético – é toda informação de origem genética, contida em amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo desses seres vivos e de extratos obtidos desses organismos vivos ou mortos.
Dentro do tema avaliação de impacto ambiental, é importante abordarmos algumas de- finições de ambiente, pois são inúmeras as interpretações existentes sobre esse conceito. Somando aos conceitos jurídicos apresentados, do ponto de vista das ciências naturais
podemos destacar algumas definições que são amplamente utilizadas em estudos sobre avaliação de impactos ambientais.
Para Odum e Barrett (2007), ambiente são os organismos vivos e seu ambiente inerte (abiótico) que estão inseparavelmente ligados e interagem entre si. Trata-se de qualquer unidade que inclua a totalidade dos organismos, ou seja, as comunidades de uma área de- terminada (abrangência geográfica definida) interagindo com o ambiente físico de forma que a corrente de energia produza cadeia trófica, diversidade biológica e ciclos de materiais (troca de matérias entre as parte vivas e não vivas).
O conceito de ambiente segundo Santos (1996) está relacionado com a base física e ma- terial da vida, ou seja, abrange a camada de vida que envolve a Terra, denominada biosfera, e a atmosfera. Constitui, portanto, condições externas e influências, afetando a vida, a to- talidade do organismo das sociedades ou a infraestrutura dos ecossistemas e biótica, que é responsável pela sustentação e sobrevivência das relações das populações de todas as for- mas de vida.
Somando-se aos os autores citados anteriormente, Gliessman (2000) aponta que o am- biente de um ser vivo pode ser caracterizado como a totalidade das influências das forças e fatores externos, tanto biológicos quanto abióticos, que afetam seu desenvolvimento, seu crescimento, sua estrutura e sua reprodução. O ambiente no qual um determinado ser vivo ocorre geograficamente necessita ser compreendido como um local dinâmico, em constante mudança, influenciado por todos os fatores ambientais em interação – como, por exemplo, as relações de presa-predador, os dispersores de sementes, os efeitos das condições climá- ticas etc.
Por outro lado, outros autores consideram que o ambiente não se resume ao físico e suas relações com o meio biológico, pois é, antes de tudo, um resultado da visão que o ser humano tem dele no tempo e no espaço (LENOBLE, 1969). O meio ambiente não possui um sentido estático, pois os seres vivos têm uma relação dinâmica com os seres não vivos.
A ideia de relações dinâmicas também foi abordada por James Lovelock em estudos realizados para a Nasa em 1970, com o objetivo de encontrar vida em outros planetas, tendo como um dos métodos a comparação da atmosfera de outros planetas, especialmente de Marte e Júpiter, com a da Terra. Nessa experiência, chegou-se à conclusão de que a vida não existia onde a atmosfera estava muito perto de um total equilíbrio, diferente da Terra, que é instável e reflete as trocas gasosas entre a atmosfera e os organismosvivos.
Ambiente ainda pode ser definido, segundo Tostes (1994), como toda e qualquer in- ter-relação abrangendo as relações em suas multiplicidades. O autor ainda comenta que ambiente é especialmente a relação entre os seres humanos e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna), bem como suas próprias relações sociais, culturais, históricas e políticas. A relação de forma múltipla e complexa potencializa e fomenta a biodiversidade que está presente nos mais variados ambientes, sejam eles naturais, artificiais e/ou culturais, em todas as partes da Terra. Os seres vivos e os não vivos, quando estiverem isolados, não formarão meio ambiente, pois não estâo estabelecendo relações.
Ainda, a definição de Meyer-Abich (1993) comenta que ambiente pode ser denominado como mundo conatural, ou seja, cada espécie distribuída em uma região geográfica depende de determinado número de elementos específicos de recursos naturais (e que no seu conjun- to são indissociáveis e indispensáveis à sobrevivência de cada uma), portanto, necessitam da inter-relação entre seres biológicos e abióticos.
Ao analisar essas diversas definições de ambiente, é possível verificar que elas possuem pontos em comum e assemelham-se. Entretanto, elas se contrapõem ao que é adotado e bem característico nas políticas ambientais contemporâneas, que têm foco altamente antropocên- trico e somente preocupam-se com os elementos do ambiente necessários à sobrevivência da espécie humana, não valorando bens e serviços ambientais que aparentemente não ofereçam, diretamente, algum benefício. As referidas políticas públicas têm sido marcadas por interesses de grandes grupos econômicos, por não contemplarem planejamentos a médio e longo prazo de uso sustentável dos recursos naturais e pelo não reconhecimento de que a preservação do ambiente está ligada às inter-relações de cada espécie, e estas aos elementos abióticos.
Os valores antropocêntricos sobre o ambiente vêm se tornando uma das principais cau- sas da degradação ambiental; nota-se pelo uso dos recursos naturais a todo custo, fato que tem sido identificado por estarmos vivendo sob as regras de uma ética antropocêntrica.
A visão antropocêntrica ofusca a visão de um ambiente dinâmico, e pode-se perceber, conforme Ehrenfeld (1993), que o ambiente está ligado direta e profundamente com o co- nhecimento e a cultura – especialmente as tradicionais e locais. Podemos ter como exemplo a percepção de uma pessoa, parte de uma pequena comunidade que vive em uma floresta tropical na Amazônia, tendo ao seu redor a maior biodiversidade da Terra e convivendo com todas essas espécies de forma sábia e tranquila. Por muitas gerações, essa pessoa as utiliza de maneira tradicional como sustento para sua família. Por outro lado, uma pessoa que esteja habituada com a vida urbana, quando estiver nesse ambiente de floresta tropical, não perceberá todas as formas de vida ao seu redor e, por muitas vezes, não irá se adaptar devido ao medo e desconforto.
	O conceito de impacto ambiental
A superfície de áreas degradadas está aumentando a cada dia no mundo, a uma velocida- de muito acelerada. Riquezas da fauna e flora e culturais são perdidas, restando somente em relatos ou lembranças dos antigos. O surgimento de problemas socioambientais (como amea- ça à sobrevivência da vida na Terra) é um fenômeno relativamente novo para a humanidade. À medida que o ser humano se distanciou dos processos naturais, passou a encarar o ambiente não mais como um todo em equilíbrio, mas como uma gama de recursos disponíveis.
Essa forma de relação está provocando profundas alterações nos ambientes naturais, que também estão sujeitos à alterações naturais. Uma importante diferença entre as duas formas de alterações é que as humanas acontecem de maneira muito rápida, enquanto as naturais se processam em escalas temporais muito lentas.
Essas alterações provocadas pelos seres humanos, advindas de suas atividades, têm como consequência os impactos ambientais, que podem ser de grandezas diferenciadas – como, por exemplo, a construção de uma hidroelétrica, que gera um grande impacto am- biental e de forma significativa, e a construção de uma pequena ponte ligando dois bairros em uma cidade, que gera um pequeno impacto.
No Brasil, nesse contexto, a análise de potenciais impactos ambientais provenientes de atividades humanas surgiu pela primeira vez a partir do Decreto-Lei 1.413/75, do governo federal. O referido diploma legal introduziu em nosso ordenamento jurídico o zoneamento das áreas críticas de poluição.
No início da década de 1980, somente se exigia o estudo de impacto ambiental para a instalação de polos petroquímicos, cloroquímicos e carboquímicos, instalações nucleares e outras, definidas em lei, para zoneamento estritamente industrial em áreas críticas de po- luição. O instrumento legal era a Lei 6.803/80, que estabeleceu de forma clara e precisa a necessidade da avaliação do impacto ambiental dos empreendimentos industriais.
Um ano mais tarde, por meio da Lei 6.938/81, fomentada em razão dos altos índices de poluição verificados em centros industriais como Cubatão, no estado de São Paulo, e Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, marcou-se uma mudança significativa e qualitativa no sistema legal de proteção ambiental, pois buscou-se criar um sistema estruturado e organi- camente coerente de medidas a serem adotadas para alcance dos objetivos fixados naquele texto normativo. A avaliação de impacto ambiental (AIA), por força da Lei 6.938/81, foi ele- vada à condição de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9, III).
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) fez avançar, de forma signifi- cativa, a gestão ambiental no Brasil, principalmente no que se refere ao licenciamento am- biental, tendo como grande resultado a previsão da avaliação de impactos ambientais, ainda que de forma genérica, em relação à lei do zoneamento industrial, pois esta se limitava a contemplar o EIA tão somente para atividades industriais.
A regulamentação da referida lei foi feita por Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama (Resolução 001/86), que foi e ainda é muito criticada por juristas e técnicos da área, que consideram como adequada para se ter segurança jurídica a regula- mentação por decretos ou leis.
De acordo com a Resolução 001/86 do Conama, impacto ambiental pode ser definido como: Art. 1° Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer al- teração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causa-
da por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas;
	– a biota;
	– as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
	– a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986)
Conforme o inciso II do artigo 6° dessa resolução, o impacto ambiental pode ser posi- tivo ou negativo, podendo proporcionar ônus ou benefícios sociais. Após a publicação da referida resolução, as avaliações de impactos ambientais começaram a ser concretizadas, especialmente em grandes obras.
Os principais impactos ambientais previstos na Resolução 01/86 do Conama são:
	recursos hídricos – afetam quantidade, qualidade, acesso e sazonalidade;
	fauna – afetam a população, bem como seu fluxo gênico e seus habitats;
	flora – afetam a composição e densidade da vegetação natural, produtividade, es- pécies-chaves e conectividade entre ambientes;
	saúde – afetam a proliferação de vetores e patogenias;
	solos – afetam e provocam erosões, perdas de produtividade agrícola, aumento da salinidade e perda de nutrientes;
	ecossistemas especiais – afetam ecossistemas vulneráveis e com baixa resiliência (baixa capacidade de autorrecuperação).
Os impactos ambientais possuem dois atributos principais: a magnitude e a importância. A magnitude é a grandeza de um impacto em termos, podendo ser medida a alteração no valor de um fatorde interesse – como, por exemplo, a velocidade da correnteza de um rio antes e depois do impacto ambiental. Por meio de diversos métodos, o impacto ambiental deverá ser medido com indicadores quantitativos ou qualitativos dos meios físico, biótico e socioeconômico.
A importância é a medida do nível de significação de um impacto em relação ao fator ambiental afetado e a outros impactos como, por exemplo, a mineração de determinada área que gera a extinção de uma espécie endêmica, resultado da ação do impacto ambiental. Assim, mesmo com uma magnitude pequena, ou seja, que tenha ocorrido em uma pequena área, os impactos podem ter elevada importância.
Os impactos ambientais podem ser múltiplos e gerados por ações dos seres humanos, sendo importante conhecer suas diversas características.
	Características de valor:
	Impacto positivo ou benéfico – quando uma ação resulta na melhoria da qua- lidade ambiental, podendo ser de um ou mais indicadores, como, por exem- plo, o aumento da vegetação natural em uma determinada região proveniente de projetos de restauração florestal.
	Impacto negativo ou adverso – quando a ação resulta em um dano à qualida- de ambiental, podendo ser de um ou mais indicadores, como, por exemplo, a mortandade de peixes em um determinado rio localizado nas proximidades da ação em questão.
	Características de ordem:
	Impacto direto – são as modificações ambientais que exibem uma relação ini- cial, de primeira ordem, com um fator importante. Por exemplo, uma mortan- dade de peixes devido a um derrame de produto tóxico num rio.
	Impacto indireto – quando uma ação induzida desencadeia uma sequência de modificações de segunda ordem. Por exemplo, as chuvas ácidas, que têm sua origem na poluição atmosférica por óxidos de enxofre, nitrogênio e outros elementos químicos.
	Características espaciais:
	Impacto local – quando a ação afeta apenas o próprio local e as proximidades.
	Impacto regional – quando um efeito se propaga por uma área além das ime- diações do local onde se dá a ação.
	Impacto estratégico – quando é afetado um componente ambiental de impor- tância coletiva ou nacional.
	Características temporais ou dinâmicas:
	Impacto imediato – quando o efeito surge no instante em que se executa a ação. Como já citado, a mortandade de peixes advindos de produtos tóxicos da ação é um exemplo.
	Impacto em médio ou longo prazo – quando o efeito se manifesta depois de decorrido certo tempo após a ação. Por exemplo, a eutrofização de cursos d´á- gua decorrentes da deposição de fertilizantes de áreas agrícolas e carreados para os rios por enxurradas de chuva.
	Impacto temporal – quando o efeito permanece por um tempo determinado após a execução da ação como, por exemplo, o período de adaptação de ecos- sistemas represados.
	Impacto permanente – quando, uma vez executada a ação, os efeitos não ces- sam de se manifestar num horizonte temporal conhecido. Por exemplo, a mo- dificação do leito de um rio.
Considerando essas características, pode-se notar que elas são interligadas e, conforme o grau do impacto em sua magnitude, importância e ações de mitigação e compensação a serem desenvolvidas após a execução da ação, os impactos ambientais podem ser revertidos conforme a possibilidade de o fator ambiental afetado retornar às suas condições originais.
Entre os impactos totalmente irreversíveis e os reversíveis existem infinitas gradações. A reversão de um fator ambiental às suas condições anteriores pode ocorrer naturalmente ou como resultado de uma intervenção do ser humano.
Vale ressaltar que uma característica importante dos impactos ambientais é que ocorre uma desigualdade nos resultados da ação conforme a distribuição social, uma vez que, de forma geral, a classe mais pobre sempre tem sido a mais afetada, como, por exemplo, por meio da redução de acesso a água potável, da reacomodação habitacional em áreas urbanas periféricas e da perda de identidade com seu local de origem.
A CF/88 significou uma profunda mudança na natureza jurídica do estudo de impacto ambiental. Atualmente, o EIA é instituto constitucional cuja importância vem aumentan- do, especialmente após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992 (Rio 92). A Carta Magna, dedicando capítulo próprio ao meio ambiente, elevou-o à categoria
de bem de uso comum do povo, considerando-o essencial à qualidade de vida e incumbindo ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo e defendê-lo para as presentes e futuras gerações.
Para assegurar o direito fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equili- brado (CF/88, art. 5°, LXXIII), a Lei Maior encarregou ao Poder Público (em suas três esferas: federal, estadual e municipal) o papel de exigir o EIA para a instalação de obra ou atividade com potencial de causar degradação ambiental significativa, devendo, inclusive, assegurar a sua publicidade (art. 225, §1°, IV).
Dessa forma, os parâmetros previstos na Constituição não determinam penalidades ou san- ções, mas oferecem diretrizes para o legislador infraconstitucional, que efetivamente tem pode- res para criar normas com poder coercitivo suficiente para tornar possível a proteção ambiental.
Com a prerrogativa de o direito de todos não ser exclusivamente a proteção do meio ambiente em si ou de determinado ambiente, mas sim o equilíbrio ecológico e a qualidade do ambiente, consideram-se essas qualidades como o bem da vida a ser tutelado, definido pela Constituição da República como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua- lidade de vida” (BRASIL, 1988).
Entretanto, foi somente a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Eco 92, que estados e municípios maiores começaram a criar instrumentos legais acerca do tema, dando mais especificidade e argumentação técnica para os estudos de impacto ambien- tal, que por muitas vezes eram subjetivos, especialmente em pequenas obras.
	Os objetivos da avaliação de impacto ambiental
No Brasil, o progresso do arcabouço jurídico institucional tem sido relevante. Alguns marcos jurídicos importantes reforçaram, na década de 90, a base legal da gestão ambien- tal, além dos princípios e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, que havia sido estabelecida em 1981. A CF/88 já os havia confirmado, consagrando a exigência de estudos prévios de avaliação de impacto ambiental para a implantação de atividades e obras que afetem o meio ambiente.
A avaliação de impacto ambiental é um instrumento cujo objetivo limita-se a subsidiar as decisões de aprovação de projetos de empreendimentos individuais, e não os processos de planejamento e as decisões políticas e estratégicas que os originam. Antunes (2011) com- plementa que a avaliação de impacto ambiental é um procedimento que tem por objetivo examinar os resultados de empreendimentos e atividades sobre o meio ambiente antes de se tomar qualquer decisão de outorgar a licença de instalação e execução que possa trazer riscos significativos de degradação da qualidade do meio ambiente.
Nesse sentido, Sánchez (2008) comenta que, para a realização da avaliação de impacto ambiental, é necessário seguir metodologias que se apliquem ao empreendimento estuda- do, como, por exemplo, se ocorrerá desmatamento. Em caso positivo, é necessário fazer um
estudo detalhado da flora da região afetada, a fim de subsidiar informações para a elabora- ção de projetos de recuperação dessas florestas como medida de mitigação e compensação ambiental. Desta maneira, para cada fator ambiental a ser afetado deve ser realizada uma série de atividades sequenciais e procedimentos organizados de maneira lógica, a fim de subsidiar com informações as tomadas de decisões a respeito do empreendimento analisa- do. Os impactos ambientais começaram a ser sentidos de maneira global no pós Segunda Guerra Mundial, quando a expansão e o desenvolvimento econômico começaram a percor- rer diversas partes do mundo, fomentando conflitos sociais e aumentando a pressão sobre os recursos naturais.
Em poucas décadas foi possível observarque eram muitos os sintomas que indicavam que este modelo desenvolvimentista econômico não era sustentável, como bem lembra Santos (2010), sobre o nível de exploração ter ultrapassado a capacidade de recuperação da natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento econômico e social.
Nesse período ocorreram alguns eventos importantes que atraíram a atenção da socieda- de global para a necessidade de uma regulamentação mais eficaz de proteção ao meio ambien- te, como, por exemplo, a publicação do livro de Rachel Carson, em 1962, intitulado Silent Spring (primavera silenciosa), que apresentou a grande mortandade de aves e peixes em rios nos Estados Unidos, provenientes do alto uso de agroquímicos nas lavouras agrícolas (BELTRÃO, 2008).
Nesse contexto, em 1968 o Relatório Meadows, conhecido como Relatório do Clube de Roma, sinalizou a necessidade de a humanidade rever seus conceitos de desenvol- vimento, pois os impactos nos recursos naturais estavam tomando grande magnitude e importância global.
Assim, conforme comenta Milaré (2011), a avaliação de impacto ambiental surgiu pela primeira vez como instrumento jurídico de gestão ambiental nos Estados Unidos da América, a partir da promulgação do National Environmental Policy Act – Nepa (lei da políti- ca nacional americana do meio ambiente), em 1969.
Entretanto, somente 20 anos depois da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de 1972, em Estocolmo (Suécia), a avaliação de impacto ambiental ganhou repercussão internacional, na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, no Rio de Janeiro, a Eco 92.
A avaliação de impacto ambiental se tornou um princípio ambiental concretizado em tratados internacionais (Princípio 17 da Declaração do Rio 92), estabelecendo, conforme a referida declaração, que a AIA é um instrumento nacional para efetuar atividades planeja- das de cunho social, econômico e ambiental que possam vir a ter impacto adverso sobre o meio ambiente.
Disposições legais para avaliação de impactos ambientais vieram a nível estatual pela primeira vez no Brasil em 1977, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, que se adiantaram em relação à legislação federal. O caso do Rio de Janeiro teve maior interesse, pois a origem da AIA no estado estava ligada à implementação de um sistema estatual de licenciamento de fontes poluidoras. A partir dessa experiência pioneira, mais tarde foi regulamentado o estudo de impacto ambiental no país (MOREIRA, 1988; SANCHÉZ, 2008). Santos (2013)
relembra que a avaliação de impacto ambiental passa a fazer parte definitivamente do or- denamento jurídico nacional em 1981, a partir da aprovação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
O Brasil tem uma posição de vanguarda nas discussões de políticas públicas a respeito do meio ambiente, mesmo que ainda exista o pensamento de que muito ainda deve ser feito. Conforme menciona Santos (2013), a CF de 88 foi a primeira no mundo a inscrever a obriga- toriedade da AIA em nível constitucional, incorporando e fortalecendo essa modalidade no seu artigo 225 (CARVALHO; LIMA, 2010).
Nas determinações legais, o processo de AIA deve desenvolver e executar estudos de impacto ambiental sobre o empreendimento pretendido (STAMM, 2003). Os resultados de- vem contemplar estudos dos meios físicos, bióticos e socioeconômicos. São estudos com- plexos e que constituem a principal base para a análise da viabilidade ambiental da ação proposta e tomada de decisão (DIAS, 2001), devendo ser abordados: a vida selvagem; as espécies ameaçadas de extinção; a vegetação nativa e exótica; as características do solo; a drenagem natural; as águas subterrâneas; os ruídos; a pavimentação; a recreação; a qua- lidade do ar; o comprometimento estético da paisagem; a saúde e a segurança; os valores econômicos; a saúde pública; os serviços públicos; a compatibilidade com planos regionais e demais indicadores de interesse específico.
Na área técnica, a avaliação de impacto ambiental pode ser definida, segundo Bolea (1984), citado por Pimentel e Pires (1992, p. 56), como “estudos realizados para identificar, prever, interpretar e prevenir os efeitos ambientais que determinadas ações, planos, pro- gramas ou projetos podem causar à saúde, ao bem-estar humano e ao ambiente”, incluindo alternativas ao projeto ou ação e pressupondo a participação da sociedade.
Entre os objetivos, a avaliação tem como principal objetivo a obtenção de informações sobre os impactos ambientais por meio de exame sistemático, para submetê-las às autori- dades e à opinião pública em consultas públicas, com a finalidade essencial de prevenir os impactos ambientais negativos decorrentes da ação proposta e suas alternativas, bem como maximizar os eventuais benefícios.
A avaliação de impactos ambientais não é um instrumento de decisão, mas sim de for- necimento de subsídios para o processo de tomada de decisão dos órgãos ambientais licen- ciadores do Poder Federal, Estadual e Municipal, conforme o tamanho do empreendimento. De acordo com Costa, Chaves e Oliveira (2005), o propósito principal é levantar e organizar informações por meio da análise sistemática das atividades do projeto, permitindo potencia- lizar os benefícios socioambientais.
Utilizando modelos matemáticos analíticos, estudo de padrões de dispersão de poluen- tes, modelos físicos em escala reduzida, análises estatísticas apuradas e técnicas de avalia- ção da paisagem, a avaliação de impacto ambiental constitui-se num instrumento altamente relevante na avaliação preliminar. Com o conhecimento acerca da realidade local e regio- nal, é possível promover a discussão e a análise imparcial dos impactos positivos e negati- vos de uma proposta. Essas informações, apresentadas publicamente de forma detalhada e com embasamento técnico e científico, contribuem de maneira significativa para reduzir
os conflitos de interesses de diferentes grupos e atores sociais envolvidos, tornando-se um instrumento de subsídio para tomada de decisões.
Para atender a esses objetivos e a essas funções, a execução dos estudos para uma AIA se desenvolve, de modo geral, segundo as seguintes fases:
	Identificação – são caracterizados a ação proposta e o ambiente a ser afetado. Nesta fase devem ser feitas a identificação das ações e dos impactos a serem investiga- dos, a análise das relações entre os fatores ambientais, a definição de indicadores ambientais e a medição dos impactos.
	Predição – é feita a predição das interações entre fatores e da magnitude e impor- tância dos impactos.
	Avaliação – é feita a interpretação, a análise e a avaliação. Nesta fase, são atri- buídos aos impactos ou efeitos os parâmetros de importância ou de significância, sendo comparadas e analisadas algumas alternativas.
Esse processo deve ser retroalimentado com informações até que se esgotem as possi- bilidades para o que se pretende alcançar, ou seja, os estudos devem passar por sucessivas análises com equipes multidisciplinares, sendo reintroduzidas informações que sejam per- tinentes, sempre com a finalidade de obter a melhor informação com fins de subsídio para a tomada de decisões.
Nesse sentido, para a avaliação de impactos ambientais existem diversos métodos de avaliação e ferramentas de identificação dos impactos causados ao ambiente pelo desenvol- vimento de um projeto. São instrumentos usados para coletar, comparar e organizar infor- mações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais.
Como cada método tem uma aplicação definida, eles devem ser escolhidos de acordo com o caso a ser estudado. Entretanto, o primeiro documento a ser produzido para a defini- ção da metodologia é o plano de trabalho, que deverá ser apresentado pelo empreendedor interessado aos órgãos ambientais competentes para emissão do licenciamento ambiental.
Qualquer que seja o método utilizado, é necessário que sua aplicação seja complemen- tada com uma descrição detalhada dos impactos sobre os meios físico, biológico e antrópi- co. É importante ressaltar quenão existe um único método que possa ser adotado para a avaliação de impacto de qualquer tipo de proposta (ou que sirva para todas as fases de um estudo), mas a escolha do método deve atender aos requisitos e normas legais estabelecidos, o tempo e os recursos técnicos e financeiros disponíveis para a execução do estudo.
É importante registrar a necessidade de se incorporar a questão do risco tecnológico nas avaliações de impactos ambientais, principalmente quando se referem a projetos ener- géticos. A incorporação do risco a essas avaliações acrescenta mais uma dificuldade ao pro- cesso, em decorrência exatamente da redução que tradicionalmente se faz do risco a um mero índice de probabilidade de ocorrência ou de compatibilização estatística de riscos já verificados. No tratamento dessa questão, além dos aspectos quantitativos, é preciso anali- sar a percepção que os atores sociais têm do risco e o controle futuro, de modo que ele seja mantido dentro de certos limites – o que certamente engloba aspectos políticos no processo de sua avaliação.
Princípio da preocupação no Brasil após a Rio 92: impacto ambiental e saúde humana
(CASTILHOS JR. et al, 2013)
Introdução
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), documentado no Relatório de Impacto Ambiental (Rima), é necessário para a obtenção do licenciamento para uma determinada atividade em todo o Brasil.
Os roteiros básicos para elaboração do EIA/Rima são compostos por infor- mações gerais, caracterização do empreendimento, área de influência, diagnóstico ambiental da área de influência (meio físico, biológico e antró- pico), análise dos impactos ambientais, proposição de medidas mitigadoras e programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos (BRAGA et al., 2005). No meio antrópico, propõe-se a abordagem da organização social na área de influência, nela incluindo o tema saúde. Viegas et al. (2011), analisando o componente saúde em seis EIA, concluíram que na maioria dos estudos os riscos à saúde são mencionados, mas não detalhados, as informações epidemiológicas e toxicológicas são raramente abordadas, e os dados de saúde utilizados não são precisos.
Silva et al. (2010), no estudo sobre a Refinaria do Nordeste, analisam a interrelação entre saúde, trabalho e ambiente, constatando que no res- pectivo EIA/Rima houve uma postergação de análise dos riscos para os trabalhadores, comunidade e saúde pública.
Na sua dissertação de mestrado, Cancio (2008) aplica uma matriz em nove estudos de impacto ambiental de usinas hidrelétricas (UHE), concluindo que os estudos de impacto ambiental apresentam “deficiências devido à incipiente abordagem e consistência das questões de saúde contempladas”.
Fruto da Conferência Rio-92, A Declaração do Rio, em seu Princípio 15, con- sidera a importância da aplicação do Princípio da Precaução para a pre- servação da qualidade ambiental. Fundamentado na Declaração do Rio, os estudos de impacto ambiental utilizam o Princípio da Precaução para pre- servar o meio ambiente, quando se depara com o imprevisível dentro do atual conhecimento científico.
Os interessados nos empreendimentos em construção costumam recor- rer judicialmente contra a aplicação desse princípio. Entretanto, uma jurisprudência em direito ambiental foi criada em todos os níveis, até o Supremo Tribunal Federal, a favor do uso do Princípio da Precaução.
O fato de uma alteração ambiental poder provocar doença nas pessoas é um argumento muito forte para impedir a implantação de empreendimen- tos. Neste sentido, os estudos de impacto à saúde geralmente são incipien- tes, excluindo neles a aplicação do Princípio da Precaução. A justificativa é a de que os riscos à saúde provocados pelos empreendimentos se devem a emissões potencialmente prejudiciais à saúde, e que devem ser medidas. Como medi-las previamente à implantação do empreendimento?
O documento final da Rio+20 é focado em uma proposta política que rea- firma os princípios da Rio-92 sobre desenvolvimento sustentável, sem, no entanto apresentar considerações sobre suas aplicações ao longo dos anos ou estratégias para implementá-los. A trajetória da aplicação do Princípio da Precaução durante os 20 anos após a Conferência, está ligada ao sucesso da sua interpretação dada pelo direito ambiental e nos tribunais.
[...]
A inter-relação entre o homem e o meio ambiente O meio ambiente
O modelo praticado de exploração ambiental, na busca do desenvolvi- mento socioeconômico, tornou-se insustentável; esse modelo não comporta as novas necessidades da relação homem-natureza, posterior à revolução científicoindustrial, devido aos efeitos provocados no meio ambiente.
A exploração ambiental irracional, iniciada com a industrialização no século XIX e intensificada através dos anos até nossos dias, está intima- mente ligada ao consumo. A sociedade da economia globalizada promove o consumo sem regras, privilegiando o interesse individual em detri- mento do interesse ambiental da coletividade (LEITE, 2010). A descone- xão entre economia e natureza ocasionou a desvinculação da economia da sociedade, considerando essa desvinculação num sentido mais amplo, do social, do ético e do poder.
Assim, a economia passa a influenciar e a condicionar as relações institucio- nais, as organizações, a relação dos países e dos cidadãos (MARTINS, 2004).
A partir de 1950, foi registrada uma série de desastres ambientais em todo o mundo, provocando gravíssima degradação ambiental e ocasionando doenças e até a morte de milhares de pessoas que viviam nessas áreas degradadas, como o derramamento de petróleo na costa norte da França; a morte de peixes em lagos suecos; o acidente químico em Bophal, na Índia; o desastre nuclear de Chernobyl, na União Soviética. Esses even- tos começam a evidenciar que a vivência desse paradigma exploratório ambiental agride não só o ambiente, mas também o homem que ali vive.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em junho de 1972 em Estocolmo, tornou a preocupação sobre o ambiente uma questão de relevância internacional, de responsabilidade de todos os países.
Em 1983, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), também conhecida como Comissão Brundtland, que promo- veu audiências ao redor do mundo e produziu o relatório final intitulado “Nosso Futuro Comum”.
Com a aprovação do Relatório Brundtland (1987), buscou-se romper o paradigma de desenvolvimento aliado à exploração ilimitada dos recur- sos naturais e à exploração do homem nas regiões mais pobres do planeta, como meio de alcançar o sucesso econômico.
AConferênciadas Nações Unidasparao MeioAmbientee Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Cúpula da Terra ou Rio-92, reali- zada no Rio de Janeiro em 1992, coloca o ser humano no centro das preo- cupações relacionadas ao desenvolvimento sustentável, considerando o homem participante da diversidade biológica existente no ambiente. A Rio-92 impulsiona a luta por uma nova ordem sustentável, de equilíbrio com a natureza, através da Agenda 21 e a Declaração do Rio.
Na Rio+20, os países renovaram seus compromissos com o desenvolvi- mento sustentável: o incentivo à economia verde; a necessária abordagem global da sustentabilidade; o suceder dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); ações de desenvolvimento humano e combate à pobreza; estra- tégias para financiamento do desenvolvimento sustentável; produção e consumo sustentáveis; fortalecimento das tecnologias ambientalmente saudáveis; uso de novos indicadores para medir o crescimento.
[...]
	Percepção e aplicação do conceito de ambiente: esta atividade pode ser desenvolvida em um parque ou praça pública, em uma área natural ou até mesmo na rua de sua resi- dência. Faça uma listagem de todos os elementos físicos, biológicos, químicos e sociais, sejam eles observáveis ou não. Organize-os na forma de uma matriz e sinalize todas as interpelações, inclusive anotandoque tipo de inter-relação pode estar ocorrendo.
	Percepção e aplicação do conceito de impacto ambiental: pode ser desenvolvida em ambiente urbano e rural. Identifique possíveis impactos ambientais gerados pela ação humana e organize-os em uma tabela, fazendo as seguinte análises:
	Características de valor:
	impacto positivo ou benéfico;
	impacto negativo ou adverso.
	Características de ordem:
	impacto direto;
	impacto indireto.
	Características espaciais:
	impacto local;
	impacto regional;
	impacto estratégico.
	Características temporais ou dinâmicas:
	impacto imediato;
	impacto a médio ou longo prazo;
	impacto temporário;
	impacto permanente.
	Com os resultados obtidos na atividade anterior, identifique os impactos ambientais causados pelo empreendimento ou pela ação observada sobre os meios físico, bióti- co e socioeconômico. Este é apenas um exercício de uma observação de uma ação já executada. Se essa ação observada não tivesse sido implantada, com os resultados obtidos e analisados, seria possível sua implementação?
	Com a matriz completa de informações, devem-se cruzar os conceitos de ambiente apresentados com os resultados alcançados e verificar o grau de relação, bem como sua importância, analisando se as relações são essenciais ou não. Ao fim, pode-se optar a fazer um diagrama para melhor visualização do conceito de ambiente.
	Com a tabela completa de informações, devem-se cruzar os conceitos de impacto am- biental apresentados com os resultados alcançados e verificar o grau de impacto e sua importância para a perenidade da qualidade de vida.
	Deve-se analisar de forma técnica, que permita uma decisão lógica e racional sobre sua implementação ou não.
No processo de estudos de impactos ambientais para a obtenção de licenças de instalação e operação, é importante que sejam definidos os tipos de impactos ambien- tais que serão gerados por um determinado empreendimento, para que sirvam como subsídio aos planos de mitigação, compensação e recuperação ambiental.
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Neste capítulo serão apresentados, de forma técnica e embasada, os tipos de impactos ambientais com foco nos impactos ambientais diretos e indiretos, na tempo- ralidade e nos impactos cumulativos.
	Impactos diretos e indiretos
Os impactos ambientais possuem entre suas características a natureza de ordem, ou seja, podem ser diretos, como, por exemplo, uma área diretamente afetada construção de uma hidroelétrica, ocorre o barramento de um rio e, de forma rápida, a paisagem é modifi- cada, formando um grande lago, inundando ecossistemas ribeirinhos, cultivos agrícolas ou até mesmo aglomerados humanos.
Também podem ser indiretos, como no caso da construção de uma hidroelétrica que, por formar uma barragem no curso do rio, provoca uma modificação das dinâmicas de corredeiras, afetando os tipos de peixes que ocorrem naquele local. Essa influência vai desde a redução da população de determinadas espécies até o aumento expressivo de outras.
Os impactos ambientais diretos são alterações ou perturbações de primeira ordem em determinados fatores ambientais, como o solo, os recursos hídricos, a biodiversidade, o cli- ma e as relações humanas. Têm como característica o fato de ser em uma perturbação não cíclica, ou seja, uma vez gerado o impacto pelo empreendimento pretendido, este imediata- mente atua gerando desequilíbrios ambientais, em uma escala de tempo curta.
Odum e Barrett (1983), estudando ecossistemas naturais durante as décadas de 1960 e 1970, observaram que as perturbações em um ambiente silvestre também ocorrem por um padrão natural de tempos em tempos, como, por exemplo, nevascas, incêndios florestais e até mesmo enchentes. Esses acontecimentos são cíclicos, e os ambientes se recuperam rapi- damente, pois possuem capacidade de resiliência.
Uma vez que o modelo de desenvolvimento na atualidade é o acúmulo de capital para minorias, gerando desigualdades sociais extremas, deve-se procurar um meio-termo entre a quantidade de exploração dos recursos naturais e a qualidade do espaço para viver.
Esse avanço econômico tem gerado impactos diretos em fatores ambientais que são base para a sobrevivência dos seres humanos, como, por exemplo, as águas para o abastecimento público. Segundo a Agência Nacional das Águas (BRASIL, 2015), 17 regiões metropolitanas no Brasil estão passando por grave crise hídrica, sendo as regiões de São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Florianópolis as mais críticas.
Figura 1 – Exemplos de possíveis impactos ambientais diretos.
	
	Empreendimento pretendido
	
	
	
	Extinção local de espécies da flora
	
	
	Extinçãolocaldeespéciesdafauna
	
	
	
	
	Realocação de aglomerados humanos
	
	
	Alteração na paisagem
	
	
	
	
	
	Alteração do regime hídrico dos cursos d’água
	Aumento de processos erosivos
	
	
	
	
	Outros impactos específicos de
cada região afetada
	
	
	
	Perda de patrimônio arqueológico
	
	
	
	
Ambiente
Fonte: Elaborada pelo autor.
Após implantado o projeto de um empreendimento, e caso ele já tenha gerado impactos de primeira ordem, vêm na sequência os impactos de segunda ordem, os quais podemos chamar de indiretos, que envolvem inúmeros e variados componentes inter-relacionados, como fatores físicos, biológicos e antropológicos (DIODATO, 2004).
Para exemplificar essa definição, podemos citar a construção da hidroelétrica de Belo Monte, no estado do Pará. Essa obra causou um debate técnico e político com grande magni- tude e relevância em relação aos impactos ambientais gerados. Esse empreendimento faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e entre seus impactos ambientais indiretos está a imigração de dezenas de milhares de pessoas de diversas partes do Brasil para a região, buscando oportunidades diretamente na obra ou em serviços gerais. Como consequência desse impacto, como bem lembra Salm (2011), está o aumento significativo de desmatamento da Floresta Amazônica, proveniente desse fluxo de pessoas que buscam, nessa região, áreas novas para se estabelecerem.
É interessante também notar que os impactos ambientais indiretos são diretamente proporcionais aos impactos diretos, no que tange à sua magnitude e importância. Nessa correlação, todo estudo de impacto ambiental deve, portanto, analisar e prever os reais impactos ambientais, diretos e indiretos, e traçar possíveis soluções. Isso se faz necessário para o planejamento das ações de mitigação e compensação ambiental às quais o empreen- dimento estará condicionado pelo processo de licenciamento ambiental.
Figura 2 – Exemplos de possíveis impactos ambientais indiretos.
Ambiente
Fonte: Elaborada pelo autor.
Quadro 1 – Exemplos de relações de impactos ambientais diretos e indiretos.
	Atividade
	Impacto direto
	Impacto indireto
	
Motivação de terra
	Transporte de poluentes para os cursos d’água
	Eutrofização de rios e lagos
	Erosão
	Perda de fertilidade dos solos
	Assoreamento de cursosd’água
	Inundações
	
Emissão de poluentes na atmosfera
	
Redução da qua- lidade do ar
	Aumento de doenças espiratórias
	Produção de chuvas ácidas
	
Desmatamento
	
Perda de habitats naturais
	Redução de serviços ambientais, como disponibilização de água e purificação do ar
	Redução da oferta de produtos florestais provindos de planos de manejo
	
Criação de postos de trabalho temporários
	
Aumento da população local
	Aumento dos custos com saúde pública
	Aumento dos custos com educa- ção pública
	Aumento de desemprego e vulne- rabilidade social após término da obra
Fonte: Elaborado pelo autor.
	Impactos de curta e longa duração
As alterações do equilíbrio ecológico e o impacto da atividade humana sobre a ecosfera terrestre começaram a se transformar em assunto de preocupação de alguns cientistas e pesquisadores durante a década de 1960. Ganharam dimensão política a partir da década de 70, e são atualmente um dos assuntos mais polêmicos do mundo. Não é mais possível implantar qualquer projeto ou discutir qualquer planejamentosem considerar o impacto sobre o meio ambiente.
A identificação dos tipos de impactos ambientais de um empreendimento é feita princi- palmente por estudos de caso, listagem de controles, opiniões de especialistas, revisões biblio- gráficas e matrizes de interação. Após essa análise, é possível relacioná-la com o conhecimento do horizonte temporal e prever a duração de determinado impacto. Um determinado impacto pode desestruturar a estabilidade do ambiente, podendo ser, em uma escala de temporalida- de, imediato, de curta duração, de média duração e longa duração – podendo em um mesmo empreendimento ocorrer essas quatro condições temporais de impactos ambientais.
O grau de estabilidade alcançado por determinado ambiente ou ecossistema depende de sua história evolutiva. Por exemplo, um ambiente que teve maior deposição de matéria orgânica tende a ser mais complexo que outro nas mesmas condições climáticas. Em geral, conforme explica Odum (2007), os ecossistemas tendem a se tornar mais complexos ao longo do tempo, com perturbações aleatórias como, por exemplo, uma tempestade, um ciclone etc.
Um impacto ambiental, dependendo da magnitude e do tempo de perturbação, pode desestabilizar essa dinâmica, afetando a capacidade de resistência ou de regeneração de processos ecossistêmicos, como trocas de energias entre os meios físico e biológico. Assim, um fator ambiental pode ser impactado em uma escala temporal e, dependendo do grau, pode ser mitigado ou não. Esse conceito é importante nos estudos de avaliação de impacto ambiental, pois os cenários resultantes poderão auxiliar as tomadas de decisões nos proces- sos de licenciamento ambiental.
	Impacto ambiental imediato
O impacto ambiental imediato é determinado quando os efeitos sobre o fator am- biental em questão têm curta duração, podendo, conforme o caso, ser de até cinco anos (PORTUGAL, 2012). Nessa escala de temporalidade, os efeitos dos impactos são sentidos em diversos níveis, como, por exemplo, a poeira de um canteiro de obras, que pode ficar em suspensão na atmosfera por muitos dias, ou mesmo um ruído de máquinas, que pode ser local ou se estender por vários quilômetros, como no caso de explosões de rochas.
Os efeitos deste tipo de impacto em uma dada região ou paisagem podem significar sérios riscos para o equilíbrio da dinâmica dos ecossistemas naturais, pois estes podem pos- suir resiliência ou não, deixando-os bem vulneráveis em sua capacidade de autorrecupera- ção (ODUM, 2007).
	Impacto ambiental de curta duração
O impacto ambiental de curta duração é determinado quando os efeitos sobre o fator ambiental em questão têm duração de cinco a quinze anos (PORTUGAL, 2012). Nessa escala de temporalidade, os efeitos dos impactos são sentidos em diversos níveis, como, por exem- plo, o descarte de efluentes sanitários nos cursos d´água das proximidades do empreendi- mento durante a construção de uma grande obra – como é o caso de ferrovias, estradas de rodagem, hidroelétricas etc. –, que pode durar anos.
O caso da construção de uma estrada de rodagem deve ser muito bem planejado em seus cronogramas físicos e financeiros, a fim do cumprimento de execução, pois os proces- sos erosivos gerados na movimentação de terras ocasionam sérios impactos ambientais para os recursos hídricos – por exemplo, o assoreamento de pequenos cursos d´água e soterra- mentos que afetam fragmentos florestais e toda sua biodiversidade.
	Impacto ambiental de média duração
O impacto ambiental de média duração é determinado quando os efeitos sobre o fator ambiental em questão têm duração de quinze a trinta anos (PORTUGAL, 2012). Nessa es- cala de temporalidade, os efeitos dos impactos ambientais são sentidos em diversos níveis, como, por exemplo, as atividades minerárias, que desenvolvem por anos até que se esgotem suas reservas e teores. Os recursos minerais são bens esgotáveis, não renováveis; por esse fato, tendem a escassez à medida que se desenvolve sua exploração.
O principal impacto ambiental de média duração é o comprometimento da autorrecu- peração dos ambientes naturais, como no caso de uma área que tem seu solo com intensa ati- vidade e todo o banco de sementes, raízes e demais formas de propagação comprometidos, tornando aquela área estéril do ponto de vista da biodiversidade e sua regeneração natural.
	Impacto ambiental de longa duração
O impacto ambiental de longa duração é determinado quando os efeitos sobre o fator ambiental em questão têm duração superior a trinta anos (PORTUGAL, 2012).
Nessa escala de temporalidade, os efeitos dos impactos ambientais podem ser sentidos, por exemplo, na perda de qualidade e quantidade de água de um manancial de abasteci- mento público advindo de empreendimento agrícola. Entre os principais impactos de longa duração gerados por essa atividade estão:
	as inundações e o aumento na média da vazão de pico, devido à compactação dos solos;
	sedimentação e aumento no transporte de sedimentos para as calhas dos cursos d´água;
	degradação do leito do rio e de seus habitats pela ocupação desordenada;
	erosão das margens e do leito do rio;
	perda das populações de peixes e de espécies aquáticas sensíveis a agroquímicos;
	degradação da paisagem rural;
	aumento da temperatura da água dos cursos d´água devido à ausência de matas ciliares.
Figura 3 – Impactos ambientais de escala temporal.
Ambiente impactado
Fonte: Elaborada pelo autor.
	Impactos acumulativos
A avaliação de impacto ambiental foi introduzida no Brasil por meio de instrumentos jurídicos nos anos 1980, e sua prática mais comum ainda é a análise no nível de projeto, não se atentando para os chamados efeitos cumulativos, mesmo estando previstos na legislação. O grande desafio nos processos de licenciamento ambiental no Brasil é definir, de forma padronizada e metodológica, os critérios de impactos acumulativos a serem analisados nos estudos de impacto ambiental.
A atividades de um empreendimento podem gerar inúmeros impactos ambientais que, de forma geral, são pontuais, como, por exemplo, desmatamentos, extinção da fauna local, mudança de regime hídrico de um rio, entre tantos danos ambientais. O que não se tem obser- vado e estudado de maneira mais específica e profunda são os efeitos cumulativos ao longo do tempo, como, por exemplo, o que determinada ação que está gerando um impacto ambiental vem provocando, somando e acumulando para o aquecimento global, a perda da biodiversi- dade, a redução da qualidade e quantidade de água de mananciais de abastecimento, a redu- ção da camada de ozônio e a desertificação de ambientes produtivos.
No dia a dia das comunidades humanas, estamos acostumados com políticas públicas de desenvolvimento econômico nas áreas urbana e rural, fomentando sem controle efetivo, por exemplo, aumentos de pátios industriais, lavouras agrícolas, expansão urbana e abertu- ra de vias. Ao longo dos anos, essas práticas vêm causando uma série de transtornos locais, regionais e até mesmo nacionais, como falta de água para o abastecimento humano e perda de produtividade agrícola, ocasionando imigrações populacionais.
Nesse contexto, os impactos cumulativos começaram a ser mais estudados nos anos de 1980, como comenta Oliveira (2008), discutindo de que forma eles poderiam ser pesquisa- dos, avaliados e mitigados.
Em encontros internacionais, diversos pesquisadores debatiam de formas variadas uma definição para impactos cumulativos e, a partir dos anos 90, uma definição consensual foi anun- ciada, conforme cita Oliveira (2008, p. 76), em que impactos cumulativos são, de forma geral, “o resultado líquido de impactos ambientais de diversos projetos e atividades”.
Para Oliveira (2008), impactos cumulativos devem ter uma metodologia baseada nos sistemas ambientais, de modo a compreender de forma causal as respostas dos fatores am- bientais às perturbações geradas, direta ou indiretamente, pelas atividades humanas, con- siderando sua resiliência, sua complexidade organizacional, uma escala temporal (passado, presente e futuro), entre outros.A definição mais detalhada e, de maneira geral, adotada por diversos países, deu-se pela Política Nacional Americana de Meio Ambiente (Nepa), por meio da norma CEQ 40 CFR 1500, na seção 1508. Definiu-se impacto cumulativo como:
[...] o impacto sobre o meio ambiente que resulta do impacto incremental da ação quando adicionado a outro passado, o presente e as futuras ações razoa- velmente previsíveis, independentemente da agência (federal ou não) ou pessoa que exerça essas outras ações. Os impactos cumulativos podem resultar de ações individualmente menores mas coletivamente significativas que ocorrem durante um período de tempo. (NEPA, 1969, tradução nossa)
Somada a essa definição, Oliveira (2008) também traz uma discussão mais abrangente, em que também ocorrem efeitos cumulativos e consequências para fatores culturais e so- cioeconômicos, resultantes dos impactos físicos e biológicos, e que devem ser incorporados nos estudos e nas medidas de mitigação do dano ambiental.
No contexto jurídico brasileiro, os impactos cumulativos estão descritos e têm traçadas suas diretrizes para estudos e avaliação na Resolução 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em seu artigo 6°, inciso II, que diz:
Art. 6° - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:
[...]
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prová- veis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (bené- ficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporá- rios e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais. (CONAMA, 1986)
Com base nessas definições, o processo de identificação de impactos ambientais deve ser desenvolvido a partir da análise dos aspectos da atividade e dos fatores ambientais impactá- veis diagnosticados para a área de estudo a longo prazo, incluindo seus efeitos cumulativos.
A função do componente ou do elemento ambiental do ponto de vista da sua função específica no funcionamento do sistema ambiental deve ser analisada, junto com o compo- nente ambiental, do ponto de vista da cumulatividade e da sinergia, considerando: seu es- tado atual, as transformações ocorridas no passado e as tendências que se configuram para o futuro, e além de sua capacidade para assimilação de novas transformações ou resiliência.
Por ser uma análise integrada dos impactos ambientais incidentes em uma determi- nada área, de suas causas reais e de seus efeitos, pode gerar instrumentos de gestão mais efetivos do ponto de vista da definição de responsabilidades e do controle de impactos.
A avaliação de impactos cumulativos reconhece a importância da análise dos impactos avaliados em um estudo de impacto ambiental tradicional, porém, os classifica como pouco significativos, mas que, somados aos impactos pouco significativos de outros empreendimen- tos e atividades que ocorrem ou que venham a ocorrer na área estudada, podem causar im- pactos significativos sobre o elemento em análise. A avaliação de impactos cumulativos deve ser feita considerando-se de forma integrada os três meios: físico, biótico e socioeconômico.
Para regulamentação e desenvolvimento desses diagnósticos e estudos, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, publicou a Nota Técnica 10/2012 – CGPEG/DILIC/Ibama – Identificação e Avaliação de Impactos Ambientais (BRASIL, 2012) que busca trazer os conceitos sobre os potenciais de cumulatividade.
Cumulativo: refere-se à capacidade de um determinado impacto de sobrepor-se, no tempo e/ou no espaço, a outro impacto (não necessariamente associado ao mesmo empreendimento ou atividade) que esteja incidindo ou irá incidir sobre o mesmo fator ambiental. Conforme observado por Sánchez (2006), uma série de impactos irrelevantes pode resultar em relevante degradação ambiental se concentrados espacialmente ou caso se sucedam no tempo. (p. 4) [...]
Não cumulativo: nos casos em que o impacto não acumula no tempo ou no espaço; não induz ou potencializa nenhum outro impacto; não é induzido ou potencializa- do por nenhum outro impacto; não apresenta interação de qualquer natureza com outro(s) impacto(s); e não representa incremento em ações passadas, presentes e razoavelmente previsíveis no futuro. (p. 12) [...]
Nos casos em que o impacto incide sobre um fator ambiental que seja afetado por outro(s) impacto(s) de forma que haja relevante cumulatividade espacial e/ ou temporal nos efeitos sobre o fator ambiental em questão.
indutor: nos casos que a ocorrência do impacto induz a ocorrência de outro(s) impacto(s).
induzido: nos casos em que a ocorrência do impacto seja induzida por outro impacto.
sinérgico: nos casos em há potencialização nos efeitos de um ou mais impactos em decorrência da interação espacial e/ou temporal entre estes. (p. 12)
Destaca-se que não necessariamente essa potencialização dos efeitos está ligada somen- te ao empreendimento estudado, mas ao fato de que pode influenciar outros na mesma microrregião ou até mesmo em macrorregiões.
Figura 4 – Exemplo de impacto cumulativo gerado por um impacto ambiental.
EP 02: LR
EP 04: LR
EP 06: LR
Captação de água para abastecimento
Legenda:
EP = Empreendimento
LR = Lançamento de resíduos
LC = Empreendimento licenciado IAC = Impacto ambiental cumulativo
Fonte: OLIVEIRA, 2008. Adaptada.
Identificação dos aspectos ambientais significativos
(SOARES, 2015)
[...]
Distinção entre atividade e aspecto ambiental
A definição de “aspecto ambiental” constante na norma ISO 14001, “um elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que possa interagir com o ambiente”, nem sempre é bem entendida pelas
organizações. Um dos erros cometidos está relacionado com a confusão que é muitas vezes feita entre o aspecto ambiental e a atividade que lhe está associada (ver tabela seguinte).
Durante a análise de uma atividade, produto ou serviço de uma organização devem ser identificadas as suas interações com o ambiente, constituindo estes os aspectos ambientais de uma organização e não as atividades, produtos e serviços em si próprios.
Por exemplo, são aspectos ambientais: o consumo de matérias-primas e recursos naturais, o consumo de energia, as emissões atmosféricas, as des- cargas de águas residuais, a produção de resíduos sólidos, as radiações, o ruído e as alterações da paisagem, entre outros.
	Exemplos corretos e incorretos entre atividade e aspecto ambiental
	Atividade/Produto/Serviço
	Aspecto
	Produção de papel
	Corte de árvores
	Incorreto
	Embalagem
	Reutilização de papel usado
	Incorreto
	Distribuição com veículo automóvel
	Viagens
	Incorreto
	Embalamento
	Consumo de papel
	Correto
	Embalagem de cartão
	Formação de resíduos
	Correto
	Distribuição com veículo automóvel
	Emissões de gases de escape
	Correto
Distinção de aspecto ambiental direto e indireto
A atividade da organização dentro das suas instalações, ou seja “entre portões”, tem associados necessariamente aspectos ambientais, mas as atividades, produtos e serviços que ocorrem a montante e a jusante da organização e que permitem a sua laboração originam também aspectos ambientais. Os primeiros são considerados os aspectos ambientais diretos e os segundos indiretos.
Distinção entre aspecto ambiental e impacto ambiental
Alguma confusão surge também, em muitos casos, na distinção entre aspecto ambiental e impacte ambiental, definido por “qualquer altera- ção do Ambiente, adversa ou benéfica, total ou parcialmente resultante das atividades, produtos ou serviços de uma organização” (ISO 14001). Os aspectos ambientais são as causas e os impactes ambientais os seus efei- tos sobre o ambiente (normalmente danos).
O impacto ambiental pode ter efeitos no tempo e no espaço para além do local e do momento em que ocorre a ação, não se limitandoao efeito local
e imediato, normalmente descrito com a palavra “impacto”. Por exemplo, os impactes ambientais podem ocorrer a jusante de uma fonte emissora, podendo ser efeitos prolongados e/ou acumuláveis no tempo, reversíveis ou irreversíveis.
Categorias de impacto ambiental
Muitos dos aspectos ambientais provocam efeitos em cadeia. Por exemplo, as emissões de CO2 e de outros gases, vulgarmente designados como “gases com efeito de estufa”. O primeiro efeito é a alteração das propriedades de radiação da atmosfera. O segundo efeito é a contribuição para as alterações climáticas através da alteração da temperatura na Terra. E como consequên- cia final, é previsível a degradação das condições globais da vida na Terra. Uma das dificuldades é encontrar forma de descrever todos estes efeitos. Uma alternativa simplificada é definir categorias de impactos ambientais e a sua simples nomeação significa que se incluem todos os efeitos associados, por exemplo a categoria “alterações climáticas”.
Distinção entre aspecto ambiental e perigo ambiental
Perigo ambiental é um aspecto ambiental que pode ocorrer em determina- das circunstâncias e caso ocorra gera danos ambientais.
Perigo ambiental é definido por analogia com a definição de perigo em segurança, como consta nas normas BS OHSAS 18001:2007 e NP 4397:2008, onde o perigo é entendido como “fonte ou situação com um potencial para o dano...”.
Distinção entre impacto ambiental e risco ambiental
O impacto é um dano ambiental resultante de um aspecto que ocorre com uma frequência que se pode concretizar. O risco ambiental é também um dano, mas provocado por um aspecto ambiental com potencial de ocorrer (um perigo ambiental). Ou seja, um risco ambiental é um dano com determinada gravi- dade e com uma certa probabilidade de ocorrer. No impacto estima-se a fre- quência com que ocorre, no risco estima-se a probabilidade de ocorrer.
Risco ambiental é definido, por analogia com a norma NP 4397 de 2001, como uma “combinação da probabilidade e da severidade do dano causado em consequência da ocorrência de um determinado acontecimento perigoso”.
[...]
	Percepção e aplicação do conceito de impacto ambiental direto e indireto: esta ativi- dade pode ser desenvolvida em um parque ou em uma praça pública, área natural ou até mesmo em rua de sua residência. Faça uma listagem de todos os elementos físicos, biológicos, químicos e sociais, sejam eles observáveis ou não. Organize-os na forma de uma matriz e sinalize todas as interpelações, inclusive anotando que tipo de inter-relação pode estar ocorrendo.
	Percepção e aplicação do conceito de impacto ambiental: pode ser desenvolvida em ambiente urbano e/ou rural. Identifique possíveis impactos ambientais gerados pela ação humana e organize-os em uma tabela, fazendo as seguinte análises com relação à temporalidade da ação.
	impacto ambiental imediato;
	impacto ambiental de curta duração;
	impacto ambiental de média duração;
	impacto ambiental de longa duração.
	Com os resultados obtidos na atividade 2, identifique os impactos ambientais cumu- lativos e não cumulativos causados pelo empreendimento ou pela ação observada sobre os meios físico, biótico e socioeconômico.
	Com a matriz completa de informações, deve-se cruzar os conceitos de impacto am- biental direto e indireto apresentados com os resultados alcançados e verificar o grau de relação, bem como sua importância, analisando, a partir do impacto ambiental dire- to, todas as consequências e ações geradoras de impactos ambientais indiretos. Ao fim, pode-se optar a fazer um diagrama para melhor visualização do conceito de ambiente.
	Com a tabela completa de informações, deve-se cruzar os conceitos de temporalida- de de impactos ambientais apresentados com os resultados alcançados e verificar o grau de temporalidade de cada impacto analisado.
	Com a tabela completa de informações, deve-se verificar e relacionar se ocorre cumu- latividade espacial e/ou temporal e, em caso positivo, em qual nível.
A preocupação com a preservação e conservação dos recursos naturais é tema comum para estudiosos, filósofos, pensadores, cientistas, religiosos e leigos. No Brasil, uma conquista democrática para a efetiva gestão ambiental foi possível por meio da Política Nacional do Meio Ambiente, que trouxe sistematização em processos, padrões e conceitos.
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Neste capítulo serão apresentados aspectos da Política Nacional do Meio Ambiente, dando enfoque para os seus antecedentes históricos, conceitos e diretrizes, além de seus instrumentos, que são o Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e, ainda, as penalidades previstas.
	Antecedentes históricos
O Brasil é um pais que está situado em uma região geográfica da Terra com excelentes condições climáticas, favorecendo a proliferação da vida e tendo como resultado uma mega- biodiversidade, distribuída nos quatro cantos do país. Somada à biodiversidade, à riqueza de recursos hídricos, de minérios e de fertilidade faz com que o Brasil seja uma potência ambiental.
Nesse contexto, os povos nativos, distribuídos atualmente em aproximadamente 240 povos indígenas (ISA, 2016), sempre souberam aproveitar essa abundância de recursos na- turais para sua sobrevivência e, ao longo de milênios, construíram uma cultura de relação com a natureza, incluindo verdadeira sustentabilidade, em que os processos naturais foram observados por gerações e compreendidos em sua forma de gestão. Isto é, em sua técnicas de manejo de caça ou de extração de produtos madeireiros e não madeireiros sempre re- tiravam somente a quantidade cuja falta a natureza consegue superar, mantendo para as futuras gerações os recursos naturais necessários à sobrevivência.
Quando os colonizadores chegaram à América do Sul, no século XV, e viram a floresta tropical presente na costa, a denominada Mata Atlântica, logo perceberam a abundância dos recursos naturais e deslumbraram as formas de ocupação e exploração.
Assim continuou nos séculos seguintes, especialmente com espécies arbóreas como o pau-brasil (Caesalpinea equinata), não apenas para o uso como madeira para móveis e cons- trução civil, mas também com o uso de sua tintura para roupas da burguesia europeia. Esse negócio foi tão lucrativo que Portugal, ora dominador das terras brasileiras, determinou que esse local que tanto lhes fornecia riqueza se chamaria Brasil. Além da nobre madeira, as riquezas naturais eram muito abundantes e logo os portugueses começaram a explorar minérios como ouro e prata, que fomentaram riqueza e poder a Portugal.
Nesse cenário de exploração, um primeiro alerta foi dado com relação à finitude dos recursos naturais, percebidos pela coroa portuguesa instalada no Brasil no início do século XIX, que viu diversas espécies arbóreas de uso para construção civil e naval praticamente desaparecerem em razão da intensa exploração, prejudicando assim alguns de seus projetos de construção civil, movelaria e uso naval. Guarantâ (Esenbeckia leiocarpa) e o pau-brasil eram espécies com excelentes propriedades para o uso na construção de móveis como camas, me- sas, cadeiras e guarda-roupas, que eram muito utilizados pelos nobres da coroa portuguesa.
Preocupado com o desaparecimento dessas espécies, o Brasil esteve diante de sua pri- meira lei ambiental, elaborada pelo império por meio do parágrafo 12 do art. 5°, da Carta de Lei de 15 de outubro de 1827, que determinava a fiscalização das matas e interdição de cortes de madeiras de construção em geral. Nesse contexto, surgiu então a expressão madeira de lei (NETO , apud PEREIRA, 1950). Décadas após, muitas outras espécies arbóreas amea- çadas de extinção foram classificadas como imunes ao corte.
Nessa mesma época, nos arredores da sede imperial, constatou-se o primeiro relato de crise hídrica no Brasil, em que os inúmeros rios localizados na região da Tijuca, no Rio de Janeiro, e que abasteciam a cidade, começaram a diminuir de forma significativa sua quantidade de

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