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Sócrates e a Dialética Erótica

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SÓCRATES E A SEDUÇÃO DE BELOS JOVENS
 Alcides Hector Rodriguez Benoit 
(hbenoit@uol.com.br)
Nayara Dias Scrimim 
(gaiadinaya@hotmail.com)
O presente estudo se propõe a examinar a trajetória de Sócrates nos momentos em que o 
filósofo faz uso da dialética sedutora de Eros. O que ocorre quando, ao buscar a Idéia de Belo 
em si, Sócrates parte do sensível, estabelecendo uma relação sedutora com a beleza dos 
corpos, para alcançar o inteligível. Para o desenvolvimento deste estudo abordamos apenas 
os diálogos em que Sócrates pratica a arte da sedução, a saber, os Diálogos: Lísis, Alcibiades I 
e Cármides. Neles, Sócrates se dedica à arte da sedução de belos corpos para erotizar o seu 
não-saber. Usamos também o Diálogo Banquete no qual Sócrates expôs os motivos que o 
levaram a tal arte. Assim, analisamos o motivo que levou Sócrates a buscar o inteligível a 
partir do sensível, bem como de que maneira isso é narrado nos diálogos de Platão. Além 
disso, analisamos quais os resultados da dialética socrática, ou seja, se Sócrates consegue 
ultrapassar esse primeiro estágio rumo à Idéia de Belo em si e se consegue transmitir esse 
conhecimento para seus discípulos e interlocutores.No Diálogo Banquete Sócrates, dizendo-
se sábio nas questões do amor, narra aos seus interlocutores um fato ocorrido em sua 
juventude que mudou completamente sua trajetória. Conta que aproximadamente em 440 
a.C., a sacerdotisa Diotima lhe revelou a dialética demoníaca de Eros. A sacerdotisa apresenta 
o percurso que deve ser seguido para alcançar, por meio do sensível, o inteligível. Mostra ao 
jovem Sócrates que a arte erótica vai além das volições carnais e da mera reprodução, visando 
a imortalidade, o desejo de ser para sempre, característico de todo ser mortal. Afirma que as 
coisas do Amor abrigam também um saber 
esotérico: um mapa de ascensão em direção às 
Idéias em si, pois, o desejo mais intenso de Eros é 
atingir uma beleza além dos corpos e olhos 
sensíveis.O primeiro momento do percurso traçado 
por Diotima, é o de amar os belos corpos sensíveis e 
engendrar neles a superação da mortalidade. Estes 
corpos belos causam uma inquietude naquele que 
sabe que não sabe e o lançam, assim, no movimento 
inicial à procura do belo. Desse modo, para atingir 
seu objetivo de alcançar a Idéia de belo em si, 
Sócrates irá à conquista de belos corpos e, para isso, 
fará uso do saber que nada sabe contra eles. Como 
conseqüência, os jovens, que antes pensavam 
possuir algum saber, são agora, tidos como 
incoerentes, pois ao final do dialogo, afirmam o 
contrario do que haviam dito no início. Destarte, os 
belos jovens são envergonhados publicamente e, 
rebaixados, reconhecem o seu não saber ficando 
admirados com Sócrates e sendo assim seduzidos 
por ele.
IFCH – DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA. PIBIC/CNPq
 Palavras-chave: Sócrates - Dialética Erótica - Eidos 
Os resultados e conclusões aqui divulgados são parciais, devido ao fato de que a pesquisa 
científica ainda não foi finalizada. Sócrates através de sua dialética, humilha e envergonha os 
belos jovens que entram em contradição e admitem o seu nada saber, dessa maneira ele 
procede com Lísis e Alcibiades. Entretanto, com este ultimo, ele julga ter ultrapassado o 
primeiro degrau rumo as Idéias em si, pois vai além do processo de humilhação e sedução, 
prometendo ao jovem não abandoná-lo, mesmo quando a beleza não estiver mais presente em 
seu corpo e se declara apaixonado pelo jovem (Alcibíades 131d – e). Sócrates supera não só 
aquele saber negativo (saber que não sabe), mas também a dialética da mera sedução, pois ao 
contemplar na alma de Alcibíades a sua própria, o filósofo alcança o saber de si, seu primeiro 
saber positivo. O filósofo também ficou confiante de ter inserido um saber na alma de seu 
jovem interlocutor, já que Alcibíades prometera agora seguir sempre os passos de Sócrates em 
todos os lugares e caminhos. Alcibíades, então, torna-se um verdadeiro discípulo, estando 
disposto a tentar com Sócrates a difícil escalada até a idéia suprema do Belo em si e por si. A 
ascensão de Sócrates pode ser observada no elogio feito por Alcibíades ao filósofo no 
Banquete. Este discípulo narra como Sócrates já não parecia afetado pelas coisas sensíveis, 
uma vez que, Sócrates não cedera às provocações carnais de Alcibíades, até mesmo quando os 
dois estavam dividindo um mesmo leito (Banquete, 219 c – e). E também, na batalha de 
Potidéia, que ocorrera em 432ª.C, o filósofo era capaz de enfrentar a fome, o cansaço, o frio, o 
sono e até mesmo os efeitos do álcool todos esses elementos pareciam não lhe afetar. Foi 
também nesta batalha que Sócrates lutara vigorosamente e invencivelmente, salvando seus 
companheiros feridos (Banquete 219 e – 221c). No entanto, é no Diálogo com Cármides que o 
percurso de Sócrates parece correr riscos, já que a beleza do jovem é tão admirável, que faz 
com que Sócrates recue em seu caminho rumo às Idéias, pois ele mais uma vez se utiliza do 
não saber e da humilhação para seduzir o jovem Cármides, ao que parece, faz isto 
desnecessariamente. Essa atitude, aparentemente, demonstra que Sócrates seduz o jovem 
Cármides apenas pela mera sedução e não mais com o objetivo anteriormente proposto, pois, 
com essa agindo dessa maneira, o filósofo recua em sua trajetória rumo as Idéias, a qual já 
estava no estágio das belas ações. No diálogo Banquete, podemos observar o resultado da 
sedução socrática na conduta e no discurso de Alcibíades, e concluímos que nada fora 
engendrado na alma desse discípulo de Sócrates. Esta pesquisa terá continuidade, procurando 
em outras fontes, como Aristófanes e Xenofonte, bem como nos comentários de Nietzsche 
para confirmar ou não, se este personagem tão caro tão caro à historia da filosofia fora um 
corruptor de jovens, como fora acusado em 399a.C.
INTRODUÇÃO
Nossa metodologia é baseada na leitura segundo a ordem da lexis (ação de dizer inserida 
nos próprios diálogos), tal como é utilizada por nosso orientador. Esse método nos permite 
apresentar uma nova maneira de interpretação dos diálogos platônicos, distanciando-nos da 
tradição neoplatônica que, em certo sentido, ainda é a predominante na maioria dos 
comentadores.A partir da ação de dizer, podemos encadear os diálogos e oferecer uma nova 
disposição para os mesmos (diatáxis). Ao ignorar esta temporalidade da léxis, eliminando a 
sua materialidade, pensamos que se alteraria a própria temporalidade conceitual da obra de 
Platão e de qualquer obra filosófica ou teórica. 
Benoit aponta inúmeros elementos nos próprios diálogos para justificar a léxis e, 
conseqüentemente, a diatáxis (disposição dos diálogos de acordo com a ação dramática). 
Muitas vezes são as idades dos personagens, são dados históricos referidos no próprio texto, e 
a menção de cenas dramáticas de diálogos anteriores. Com essa metodologia, buscamos ler os 
diálogos enquanto diálogos, atentando para toda cena dramática de cada texto, e organizando 
os diálogos com um elo intrínseco e imanente a eles mesmos, pode-se chegar a uma 
interpretação original e atípica da filosofia de Platão. Desse modo, interpretaremos o texto de 
Platão a partir dessa proposta.
METODOLOGIA 
RESULTADOS E CONCLUSÕES
CRONOLOGIA DOS FATOS (SEGUNDO A ORDEM DA LÉXIS): 
Busto de Diotima (1937), 
Victor Hawley Wager 
–University of Western 
Australia
Socrates Defending Alcibiades at Potidea 
(1797), Antonio Canova - Gipsoteca 
Canoviana , Italy
Plato's Symposium (1869), Anselm Feuerbach 
– Nationalgalerie, Berlim. 
Alcibiades Being Taught by Socrates (1777), 
François-André Vincent - Musée Fabre, 
Montpellier.
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