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TERAPIAS-PÓS-MODERNAS

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 PENSAMENTO SISTÊMICO: O NOVO PARADIGMA DE CIÊNCIA .......... 4 
3 TERAPIAS PÓS-MODERNAS .................................................................... 8 
3.1 Psicoterapia como prática pós-moderna ............................................ 15 
3.2 Psicoterapias construtivistas: características e fundamentos 
conceituais 20 
3.3 Modelo cognitivo-construtivista de psicoterapia ................................. 27 
3.4 Construcionismo social ....................................................................... 30 
3.5 Construtivismo radical ........................................................................ 34 
3.6 O construtivismo radical ..................................................................... 39 
4 TERAPIAS NARRATIVAS ........................................................................ 40 
4.1 A mudança nas terapias sistêmicas: transformação narrativa ........... 43 
5 ABORDAGEM COLABORATIVA .............................................................. 47 
6 ABORDAGENS ESTRUTURAL E ESTRATÉGICA PÓS-MODERNAS .... 50 
7 PSICOTERAPIA DE CASAL NA PÓS-MODERNIDADE .......................... 51 
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 PENSAMENTO SISTÊMICO: O NOVO PARADIGMA DE CIÊNCIA 
 
Fonte: nucleode-stress.com.br 
Embora os pressupostos de objetividade, simplicidade e estabilidade 
permaneçam válidos na ciência atual e no pensamento geral, deve-se notar que, 
especialmente a partir da segunda metade do século XX, um grupo de pensadores de 
diferentes áreas do conhecimento passou a questionar paradigmas científicos 
tradicionais, desencadeando o início de uma virada epistemológica e o surgimento de 
novas hipóteses de racionalidade científica, GOMES; (2015). 
 Com relação às hipóteses simples, inicia-se um processo de cognição de que 
o ideal simplista da razão moderna, não corresponde à realidade do fenômeno, é 
complexo (e, na contemporaneidade, cada vez mais complexo). Parece que o 
propósito é simplificar objetos de conhecimento, reduzir ou eliminar paradoxos e 
contradições e distinguir objetos de conhecimento do seu contexto, em última análise, 
obscurece o conhecimento da natureza e dos fenômenos, GOMES; (2015). 
Assim, começa a justificar o pressuposto da complexidade abandonando o 
pressuposto da simplicidade, o que implica a atitude do objeto em relação à sua 
reintegração ao seu contexto, concentram-se nas inter-relações que realmente 
existem entre os fenômenos e entendem que as relações causais em um mundo 
complexo não são lineares e unidirecionais, mas cíclicas e recursivas 
(VASCONCELLOS, 2002, p. 104-118 apud GOMES; 2015). 
 
5 
 
No mesmo sentido, as pessoas não insistem mais em acreditar na estabilidade, 
ordem e controlabilidade do mundo e seus fenômenos, reconhecendo que o mundo 
está em constante mudança dentro do processo de transformação, devido à incerteza, 
imprevisibilidade e vários fenômenos não podem ser controlados. Passamos da 
suposição de estabilidade para a suposição de instabilidade (VASCONCELLOS, 
2002, pp. 118-129 apud GOMES; 2015). Nesse novo paradigma científico, também 
se abandona a crença de que o conhecimento objetivo da realidade é possível e 
aceita-se o fato de que o conhecimento é construído e baseia-se na intersubjetividade. 
Isso significa, em primeiro lugar, assumir “não existe uma realidade 
independente de um observador” e reconhece em um segundo momento que a ciência 
"nunca será um espaço de verdade, mas um espaço de consenso", ou seja, existem 
múltiplas versões da realidade, “em diferentes domínios de interpretação linguística”, 
e o conhecimento científico será sempre uma construção social que valida a 
experiência subjetiva de diferentes sujeitos/observadores em um espaço de 
consenso, (VASCONCELLOS, 2002, p. 129-144 apud GOMES; 2015). 
 Nesse ponto, é preciso reiterar que a afirmação da complexidade, instabilidade 
e intersubjetividade como pré-condições para novos paradigmas científicos é fruto de 
experiências compartilhadas e discussões em diferentes campos científicos, a 
interdisciplinaridade não é apenas uma característica distintiva, mas também a base 
para o desenvolvimento dessas novas disciplinas que estão relacionadas a novas 
propostas teóricas, nominadas de teorias sistêmicas e cujas expressões mais 
conhecidas são a Teoria Geral dos Sistemas da Natureza, a Cibernética da 
Cibernética e a Teoria da Autopoiese, BRITO; (2013). 
 É considerada a origem das teorias sistêmicas com uma "vocação 
interdisciplinar" que estabeleceu duas vertentes simultaneamente no século XX: 
organicistas, com o foco no conhecimento de organismos ou sistemas naturais, 
biológicos ou sociais e está relacionado à teoria geral dos sistemas e mecanicista, que 
se concentra na criação de sistemas artificiais e estão relacionados às teorias 
cibernéticas, BRITO; (2013). 
 Dessa maneira, o construcionismo social nos instiga a pensar e a alterar 
verdades comuns socialmente partilhadas em nossa cultura. Essa perspectiva tem 
implicações importantes para pensar a psicoterapia, que pode ser vista como um 
 
6 
 
espaço de questionamento das rígidas "verdades" que provocam o sofrimento no 
indivíduo, BRITO; (2013). 
De fato, os princípios pelos quais as pessoas constroem significados Visões de 
mundo nas relações sociais são amplamente aceitas em várias abordagens pós-
modernas. Através da conversação com o terapeuta, o cliente deve rever seu 
significado construído do mundo e de si mesmo, podendo (des) construir narrativas 
em coautoria com o terapeuta e reorientar suas ações. A psicoterapia, então, é 
concebida como um conjunto de relações sociais que permitem a produção de sentido 
em conjunto. Através da construção (e desconstrução) da narrativa, BRITO; (2013). 
As perspectivas construcionistas destacam o potencial terapêutico da narrativa, 
assim como muitas práticas discursivas e não discursivas que operam como formas 
de opressão e sofrimento. As visões construcionista nas clínicas psicológicas também 
questionam muitas das suposições essencialistas, a-históricas e universalistas sobre 
a tradição humanista de psicoterapia. É particularmente colocada sob suspeita a 
noção do “eu interiorizado e autocontido” que se consolidou na história da psicologia. 
O eu, na concepção socioconstrucionista, é visto sob o ângulo de um artefato situa do 
sociohistoricamente, BRITO; (2013). 
Como afirmam Gergen e Gergen (2010 apud BRITO; 2013), as convenções 
sociais estabelecidas para a construção de uma história (incluindo a “minha 
história”) podem ser legitimadas, porém não há nenhuma convenção 
definitiva ou mais verdadeiraque outras. A dominância de algumas 
convenções se dá por processos de negociação e relações de poder. 
Segundo o autor, muitas abordagens psicoterápicas modernas defendem 
uma convenção narrativa específica, implícita em cada teoria psicológica, que 
implica certa inflexibilidade. Muitas abordagens psicológicas costumam trazer 
em seus pressupostos os objetivos e resultados esperados, silenciosamente 
guiando os clientes por um caminho predeterminado, como a “individuação” 
da proposta de Jung ou a “atualização” de Rogers. Esta é uma das maiores 
críticas de Gergen às abordagens humanistas. 
De acordo com Rasera e Japur (2004 apud BRITO; 2013), existem algumas 
semelhanças entre as terapias baseadas em pressupostos construcionista sociais. 
Elementos comuns da terapia de influência construcionista incluem: "focar no 
significado" das pessoas na vida; compreender, experimentar, compreender a terapia 
como um processo que o terapeuta e o cliente constroem juntos; concentre-se nas 
relações com o cliente, muitas vezes traz sua rede de relacionamentos para o cenário 
terapêutico; sensibilidade aos valores do terapeuta e cliente; “ênfase 
polivocal”, entendida como a crença de que existem múltiplas maneiras de descrever 
 
7 
 
o problema e compreender o self; atenção às consequências da prática clínica; e 
"focar no potencial", porque o processo de significação é aberto e contínuo. Essas 
características fornecem a base necessária para terapias mais contextualizadas 
socialmente, problemas de desnaturalização e diagnósticos inatacáveis, porque de 
acordo com o construtivismo social, nos faz pensar sobre como a realidade é 
construída através do uso da linguagem. 
As perguntas-chave do construcionismo social seriam: como as pessoas 
agem juntas e usam a linguagem para organizar suas ações? Como as ações 
sociais e os discursos estão atravessados pelo poder? Do ponto de vista 
socioconstrucionista, a psicoterapia é vista como um artefato cultural e 
histórico que envolve pessoas em certas relações de ajuda 
(terapeutas/clientes) e a negociação de certos conhecimentos, valores, 
práticas e repertórios, como por exemplo, aqueles que abrangem a 
reconstrução de um senso de agência, identidade pessoal e pertencimento. 
Cumpriria, assim, a mesma função que outros dispositivos sociais onde a 
identidade pode ser redesenhada, como por exemplo, as instituições 
religiosas, organizações políticas e grupos de esportes (Angus & McLeod, 
2004 apud BRITO; 2013). 
Os processos são estabelecidos em parceria com os clientes. As metáforas 
para construir e explorar metanarrativas alternativas são importantes nessa visão, 
refutando a noção de uma identidade isolada que está doente e precisando de cura. 
Deste ponto de vista, conhecer uma pessoa não tem sentido como um núcleo fechado 
fora do contexto histórico e cultural, BRITO; (2013). 
De acordo com McLeod (2004 apud BRITO; 2013), o conceito de narrativa foi 
introduzido na terapia para se afastar das perspectivas individualistas e psicológicas 
da terapia moderna. Além disso, para o autor, a imagem de pessoa na perspectiva 
construcionista é um ser que está constantemente engajado na construção identitária 
e na produção de significados, conhecendo e se dando a conhecer, interagindo e 
dialogando com os outros, em um ambiente complexo e fragmentado relacionado a 
origem social. 
Monk e Gehart (2003 apud BRITO; 2013) entendem a terapia narrativa e a 
terapia colaborativa como dois métodos contemporâneos de terapia familiar 
fortemente influenciados por ideias construtivistas sociais, particularmente em sua 
ênfase na natureza constitutiva da linguagem, foco no contexto relacional social e 
crítica da verdade objetiva. Ambos os métodos têm a mesma ideia, ou seja, ambas as 
abordagens partilham a ideia de que a realidade não é dada, mas construída nas 
 
8 
 
relações através da linguagem. Essas abordagens também reconhecem que a 
linguagem constrói o significado, e o significado é histórica e culturalmente localizado. 
A psicoterapia pós-moderna influenciada pelo construtivismo social se opõe ao 
modelo hegemônico estabelecido pela psicoterapia "tradicional". Eles começaram a 
entender as narrativas não mais como obras pessoais, mas como artefatos históricos. 
Compreender os fundamentos epistemológicos da terapia pós-moderna é necessário 
para compreender as consequências dessas práticas. As influências 
socioconstrutivistas nessas abordagens produziram novas perspectivas e diretrizes 
humanas no processo terapêutico que se diferenciam de outras abordagens 
modernas, BRITO; (2013). 
 De acordo com as abordagens pós-modernas, temos as abordagens narrativa 
e abordagem colaborativa. A terapia narrativa se concentra na desconstrução da 
história dominante, que tende a conquistar o "eu", oferece uma oportunidade de 
recriação autobiográfica. Já segundo a perspectiva da abordagem colaborativa, 
concentra –se no diálogo e vê a terapia como um diálogo no qual o terapeuta (como 
um inconsciente - atitude de não saber) e o cliente (como um especialista) trabalham 
juntos para gerar novos significados, narrativas e realidades. 
3 TERAPIAS PÓS-MODERNAS 
 
Fonte: telmalenzi.com.br 
 
9 
 
 A narrativa é muitas vezes sinônimo de história e refere-se a descrições 
simbólicas de ações humanas que têm uma dimensão temporal, incluindo começo, 
meio e fim. As histórias são mantidas juntas como uma unidade graças a um padrão 
de eventos chamado "enredo" (SARBIN, 1986 apud BRITO; 2014). Para Riessman 
(2008 apud BRITO; 2014), a narrativa é a forma como um falante conecta eventos em 
sequência como resultado de ações futuras. 
Sarbin dá um exemplo (1986 apud BRITO; 2014), apresente duas ou três 
figuras, ou frases descritivas, para uma pessoa e ela irá conectá-las para 
formar uma história, um relato que relacione as figuras ou os sentidos das 
frases na mesma forma padronizada. Em reflexão, descobrimos que as 
figuras ou sentidos são mantidos juntos pelo implícito ou explícito uso do 
enredo (p. 8). 
Cada narrativa é direcionada para um público específico, um momento histórico 
específico e contém valores específicos da cultura (RIESSMAN, 2008 apud BRITO; 
2014). Assim, as narrativas não são obras individuais independentes, são 
performativas, estratégicas e têm um final. Quando alguém conta uma história, não 
está apenas representando uma história, provavelmente está se defendendo, 
enaltecendo –se, buscando causar pena, tentando persuadir, ou seja: realizando uma 
ação. Desta forma, fazemos coisas e construímos a realidade através da linguagem. 
Mas se por um lado nossas narrativas constroem o mundo, por outro lado essas 
mesmas narrativas que usamos também são construções sociais. (CABRUJA; 
ÍÑIGUEZ; VÁZQUEZ, 2000 apud BRITO; 2014). 
O mundo é atravessado por narrativas e histórias, mas é precisamente esse 
"atravessamento", o que constitui o mundo. Na verdade, para fazer a 
realidade inteligível, os seres humanos precisam recorrer a uma narrativa da 
mesma, mas são por sua vez, as próprias histórias e narrativas que se 
entrelaçam e dialogam entre elas, que outorgam realidade para o mundo em 
que vivemos. Nascemos em um mundo já construído. Isto significa que a 
linguagem incorpora-nos e nós vamos incorporar a linguagem, tomando 
conceitos compartilhados e categorias que nos permitem explicar o mundo. 
São estes conceitos e categorias preexistentes que nos permitem ir 
"assimilando" e dando conta da realidade, (CABRUJA; ÍÑIGUEZ; VÁZQUEZ, 
2000, p. 65 apud BRITO; 2014). 
Somos coautores de nossas narrativas com narrativas que já existem na cultura 
a que pertencemos, e nós inevitavelmente falamos na ordem social que já foi 
estabelecido. Assim, “a função primária do discurso não é representar o mundo, mas 
moldar e coordenar nosso comportamento social”. (CABRUJA; ÍÑIGUEZ; VÁZQUEZ, 
2000, p. 69 apud BRITO; 2014). 
 
10 
 
 A narrativa não é um espelho da realidade, mas uma construtorada realidade, 
vista como um ato no mundo. Dessa forma, como já vimos, a narrativa pode 
desempenhar funções como: enganar, brigar, divertir, recordar o passado, justificar, 
engajar e persuadir, ademais mais histórias podem ser usadas por grupos para 
mobilizar outros e criar um sentimento de pertencimento. (RIESSMAN, 2008 apud 
BRITO; 2014). Neste estudo, estamos interessados em uma função específica da 
narrativa: a construção de sentido ou a meaning-making: 
Contar histórias sobre momentos difíceis em nossas vidas cria ordem e 
controla emoções, permitindo uma procura por significado e possibilitando 
conexão com outros. Minha própria pesquisa, que examinou vidas 
interrompidas por doenças crônicas, divórcio e infertilidade, é baseada na 
construção de significado da narrativa. Quando desorganizações biográficas 
acontecem, rompendo expectativas de continuidade, indivíduos dão sentido 
aos eventos mediante a narração de histórias, (RIESSMAN, 2008, p. 10 apud 
BRITO; 2014). 
De acordo com (BRITO; 2014) a função de construção de sentido da narrativa 
é o primeiro ponto que a aproxima do trabalho da psicoterapia. A definição de narrativa 
ajudará a explicar o processo de cura de acordo com o processo terapêutico: “a forma 
como um falante conecta eventos em uma sequência que serve de consequência para 
futuras ações”. 
As narrativas caracterizam-se pela unificação de eventos desconexos em 
tramas construídas em uma linha do tempo, de forma significativa, e é a pessoa que 
busca terapia após um evento traumático que se esforça para integrar fragmentos de 
sua vida em um todo coerente. Além disso, a linguagem começa a ser vista como 
tendo um papel fundamental na construção da realidade em termos de virada 
linguística e a crítica do representacionalismo. Dessa forma, uma dessas estruturas 
seria a linguagem voltada para a construção de “nós mesmos”. 
Como a narrativa desempenha um papel fundamental na construção do self, e 
a terapia é o processo de construção do self por meio do diálogo, nos deparamos com 
um segundo ponto relacionado da narrativa no campo da psicoterapia. O ambiente 
terapêutico (setting), permite que os clientes repensem, atualizem, revisem, 
reconstruam e reparem sua narrativa de vida com o apoio de um terapeuta. Na 
contação de histórias, as pessoas estruturam, organizam e organizam suas 
experiências para que possam dar sentido às suas vidas. A terapia seria uma forma 
 
11 
 
de espaço para que o cliente se organize, articule e redefina as experiências próprias 
e do mundo através da exploração narrativa, BRITO; (2014). 
Ao construirmos nossas histórias, expressamos a maneira como 
compreendemos nossa experiência, não só estamos nos apresentando aos 
outros, mas também a nós mesmos, além de estarmos ampliando ou 
restringindo nossas possibilidades existenciais. As histórias representam, 
assim, o resultado de empenhos para dar um sentido à vida, organizando a 
experiência em sequências temporais, configuradas em relatos coerentes 
sobre nós mesmos e o mundo. (GRANDESSO, 2000, p.20710 apud BRITO; 
2014). 
Assim, a linguagem é à nossa maneira de tentar explicar o mundo e a nós 
mesmos. Como nossa compreensão da realidade é sempre mediada pela linguagem, 
Bruner (2004) utiliza o trabalho de Slobin (2000 apud BRITO; 2014) para defender que 
toda experiência se expressa em termos de uma perspectiva: 
“...O mundo não apresenta "eventos" para serem codificados na linguagem. 
Em vez disso, no processo de falar ou escrever, as experiências são filtradas 
através da linguagem em eventos verbalizados. ” A individualidade pode 
certamente ser considerada como um dos "eventos verbalizados", uma 
espécie de meta-evento que dá coerência e continuidade ao embaralhamento 
da experiência. No entanto, não é apenas a língua em si, mas a narrativa que 
molda seu uso - especialmente seu uso na construção do self. (BRUNER, 
2004, p. 7 apud BRITO; 2014). 
Estruturas linguísticas, como a personalidade/individualidade, são importantes 
para dar coerência ao "embaralhar de experiências", ou seja, para dar sentido à 
multiplicidade de eventos caóticos que permaneceriam com uma diversidade não 
relacionada. Em relação a relação entre narrativa e autoconstrução, podemos citar as 
obras de alguns autores, por exemplo, Murray (2008 apud BRITO; 2014), que afirma 
que "através da narrativa, podemos nos definir em uma continuidade temporal” ” (p. 
111). McAdams (1993 apud BRITO; 2014) afirma, além disso, a narrativa é a 
organizadora de nossa autodefinição, e nossas identidades vêm na forma de histórias: 
há cenas, personagens, enredos e temas. 
 Bruner (2004 apud BRITO; 2014) argumenta que narrativa e self estão 
intimamente ligados porque a autoconsciência surge do ato de transformar nossas 
experiências em histórias para compartilhar com os outros e para nós entendermos. 
Sem capacidade narrativa, a construção da identidade não pode ocorrer. Para Bruner 
(2004 apud BRITO; 2014), não existe um self essencial que pode ser expresso em 
palavras. Nós nos construímos e nos reconstruímos de acordo com a situação. 
 
12 
 
A construção do eu é uma “arte narrativa” que acontece não apenas “de dentro”, 
através da memória, do sentimento, da subjetividade, da crença, mas também “de 
fora”, através de expectativas culturais que aprendemos a seguir, em uma idade muito 
jovem, mesmo sem perceber. A autoconstrução é uma forma de nos provar único no 
mundo. "Nesse sentido, o eu é melhor definido como uma autobiografia em evolução 
que emerge na expressão de nossas narrativas em mudança" (GRANDESSO, 2000, 
p.220 apud BRITO; 2014). 
Bruner (2004), ao tentar responder por que a narrativa está tão entrelaçada 
com essa autoconstrução que nossas identidades parecem ser produto das histórias 
que criamos, chegamos a algumas conclusões baseado no trabalho do psicólogo Ulric 
Neisser, especialista em estudos de memória. Bruner se pergunta por que nos 
retratamos naturalmente por meio de histórias. Dentre esses achados, Bruner (2004 
apud BRITO; 2014) afirma que o ego está repleto de agência, desejo, intenção e busca 
de objetivos. Como tal, ele é sensível a obstáculos, receptivo ao sucesso e ao fracasso 
e capaz de lidar com resultados incertos. 
 É guiado por padrões culturais que permanecem contínuos ao longo do tempo, 
apesar das mudanças. Em seguida, Bruner comenta que essas mesmas 
características podem ser usadas para definir o que é uma boa história: uma trama 
com um propósito em que existem obstáculos, faz com que o personagem cresça, 
mas sua identidade ainda é reconhecível, BRITO; (2014). 
Por fim, Bruner (2004 apud BRITO; 2014) aponta que se não tivermos a 
capacidade de construir histórias sobre nós mesmos, não produziremos resultados, e 
também não teríamos por consequência, um senso de pessoalidade ou selfhood. 
Trata-se de uma disfunção neurológica chamada dysnarrativia, que impede as 
pessoas de entender e contar histórias. Como resultado, os pacientes com esse 
diagnóstico perdem o senso de si e a percepção dos outros. 
Ao perder a autoconsciência, ou seja, seu senso de self esses pacientes não 
têm mais capacidade de ter opiniões e fazer escolhas. Nesse sentido, Angus e 
McLeod (2004 apud BRITO; 2014) afirmam que a narrativa expressa a agência 
humana, além de reconhecer, assim como Bruner (2004 apud BRITO; 2014) e 
McAdams (1993 apud BRITO; 2014), a função narrativa como prática de construção 
pessoal (self-making practice). "A estrutura da narrativa reflete dimensões 
fundamentais da existência humana, como agência pessoal, intenção, viver no através 
 
13 
 
do tempo e a experiência de pertencer a uma cultura e tradição". (ANGUS E MCLEOD, 
2004, p. ix apud BRITO; 2014). 
As visões de Angus e McLeod (2004 apud BRITO; 2014) nos levam à 
proposição de Sarbin (1986), que propõe a narrativa como metáfora fundamental para 
a psicologia, reconhecendo que narrativa e existência humana compartilham muitascaracterísticas semelhantes. O papel que a narrativa desempenha na construção do 
significado, na autoconstrução, na agência e na reestruturação temporal é explicado 
nos parágrafos acima. Sendo a terapia um espaço que explora todos esses aspectos 
da existência, vemos novamente uma aproximação entre a narrativa e o campo clínico 
da psicoterapia. 
Sob a influência da rotação da narrativa, essas teorias narrativas foram 
incorporadas à prática psicoterapêutica de duas maneiras diferentes: por um lado, a 
assimilação dos conceitos e problemas da teoria narrativa na prática terapêutica 
existente, chamadas de abordagens narrativamente informadas (narrative-informed), 
por outro lado, pelo pioneirismo de uma nova abordagem, diferente da abordagem 
tradicional de ver a narrativa como uma estrutura cognitiva. Na contramão dessa ideia, 
essa nova abordagem, que McLeod (2007 apud BRITO; 2014) chama de pós-
psicológica, trata a narrativa como uma forma de performance e discurso. 
 No campo dos métodos informados por narrativas, alguns dos primeiros 
autores a incorporar ideias narrativas a seus trabalhos foram os psicanalistas Roy 
Schafer e Donald Spence, segundo Sarbin (1986 apud BRITO; 2014). Sarbin citou 
esses autores como importantes contribuições para diferentes formas de pensar em 
psicanálise. 
De acordo com Goolishian e Anderson (1994 apud BRITO; 2014 apud BRITO; 
2014) de acordo com Schafer, o self é uma manifestação da ação humana, 
da ação de falar acerca de si mesmo; mas diferente de Spence, que se 
preocupava principalmente com o conteúdo da narração construída, Schafer 
se interessou também pelo modo da construção, pelo discurso narrativo. 
Defendia que estamos nos contando permanentemente, a nós mesmos e aos 
demais, quem somos, incorporando estas histórias umas dentro das outras. 
(p. 298) 
Esses autores são fundamentais para compreender e iniciar pesquisas sobre 
como compreender o processo terapêutico a partir de uma perspectiva narrativa 
(MCLEOD, 2007 apud BRITO; 2014). Por outro lado, para fortalecer a crítica à 
modernidade, Terapia Narrativa Pós-psicológica, “focando na relação entre o 
 
14 
 
indivíduo e os recursos narrativos disponíveis em sua cultura” (MCLEOD, 2007, p. 242 
apud BRITO; 2014). 
São propostas novas, construídas a partir de uma visão não mais centrada no 
interior, mas baseadas na ideia de que as questões que as pessoas trazem para a 
terapia estão intimamente relacionadas aos contextos históricos e culturais que as 
moldaram. Essas perspectivas são influenciadas pelo afastamento da linguagem para 
novas formas de conceber a linguagem, tendo a narrativa como conceito subjacente, 
pois entendem que ao narrar, o indivíduo em terapia alcança a coerência de sua 
história, suas experiências e autoconhecimento, BRITO; (2014). 
Além disso, eles viam a terapia como um evento social ao invés de um evento 
psicológico (MCLEOD, 2004 apud BRITO; 2014). McLeod (2004 apud BRITO; 2014) 
cita a terapia narrativa de Michael White como uma das principais pós-psicoterapias, 
lembrando que o termo pós-psicológico é equiparado ao pós-moderno por evocar uma 
virada na noção de síntese no campo da terapia. 
Nesse sentido, Grandesso (2001 apud BRITO; 2014) identifica a terapia 
colaborativa como uma abordagem pós-moderna como a terapia narrativa de Michael 
White. Segundo Grandesso (2001 apud BRITO; 2014), o que a terapia pós-moderna 
tem em comum são: a ideia do terapeuta como co-construtor e o cliente como 
autoridade máxima em sua vida; rejeição de autoconceitos essencialistas; 
compreensão de que o significado é construído socialmente e dialogicamente de 
acordo com a linguagem, acredita que o diálogo é uma prática social transformadora; 
usa o questionamento para gerar transformação e mudança; a escolha por uma 
postura hermenêutica. 
McLeod (2009 apud BRITO; 2014) aproxima a terapia colaborativa da terapia 
narrativa, pois ambas se baseiam na promoção de um ambiente que possibilite às 
pessoas contar suas histórias e criar outras para apoiar novas formas de ação. 
Também é prática comum convidar uma parte da vida do cliente a participar de alguma 
forma de seu processo. Assim, vemos que ambas as abordagens (terapia narrativa e 
terapia colaborativa) trazem importantes contribuições para pensar a relação entre 
narrativa e a transformação na terapia. 
 
15 
 
3.1 Psicoterapia como prática pós-moderna 
O foco no significado e na construção narrativa decorrente da natureza 
conversacional e variável do pensamento pós-moderno, moldou a prática da 
psicoterapia. A mudança para uma perspectiva pós-moderna, envolve uma mudança 
significativa no âmbito psicoterapêutico, especificamente o abandono de estruturas e 
verdades universais a serem consideradas experiência particular e pessoal do 
indivíduo. Desse modo, iremos abordar alguns dos efeitos das perspectivas pós-
modernas na psicoterapia, SOUSA; (2006). 
 A psicoterapia pós-moderna pode ter diferentes abordagens, mas não 
necessariamente com contornos diferentes. Não pretendemos discutir essa 
diversidade, mas iluminar compreensões da psicoterapia pós-moderna construtivista, 
que também são diversas e não há contorno definido. A psicoterapia tradicional, 
localizada na ciência moderna, baseia-se nos princípios do empirismo lógico. Essa 
postura racionalista vê o ajuste psicológico como algo que requer debate ativo e 
verificação da realidade. Crenças irracionais disfuncionais, ou seja, a eficácia do 
sistema de crenças de um indivíduo depende de quão bem ele corresponde à 
realidade externa, SOUSA; (2006). 
O pluralismo de crenças no mundo pós-moderno questiona a credibilidade de 
qualquer sistema psicológico que equipare ajuste à realidade. De fato, considerando 
múltiplas realidades possíveis e múltiplas possibilidades de conhecimento, é difícil 
defender uma posição de que o ajuste satisfatório à realidade externa e objetiva 
equivale à saúde mental, enquanto o ajuste insatisfatório constitui uma forma de 
interferência. Essa visão mecanicista peculiar ao pensamento moderno é questionada 
pela perspectiva pós-moderna, que confere ao indivíduo um papel ativo na construção 
da realidade. (R. Neimeyer, 1993 apud SOUSA; 2006). 
Diferentes psicoterapias pós-modernas, especialmente a psicoterapia 
construtivista, concordam em rejeitar as teorias de verdade correspondentes. Por 
outro lado, ambos argumentam que a viabilidade de qualquer construto depende de 
sua utilidade para o indivíduo ou grupo que o criou e seu alinhamento com os sistemas 
de crenças pessoais e sociais que o incorporam, SOUSA; (2006). 
 Se os modelos psicoterapêuticos tradicionais são considerados achados 
objetivos, isolados dos contextos culturais e sociopolíticos, com o advento do 
pensamento pós-moderno, não apenas o reconhecimento de características o 
 
16 
 
comportamento ativo dos indivíduos na construção do conhecimento também afeta a 
influência do contexto social na teoria e na prática da psicoterapia. Em uma 
perspectiva pós-moderna, a psicoterapia leva em consideração o fato de que o 
indivíduo constrói significados para suas experiências de forma socialmente 
compartilhada. É a narrativa que permite e organiza o sentido construtivo dessa 
experiência, SOUSA; (2006). 
Como a narrativa tem uma função organizadora da experiência e dos 
significados, a psicoterapia emerge como criação narrativa (O. Gonçalves, 
2001 apud SOUSA; 2006), com o objetivo de expandir os processos de 
construção narrativa do cliente. Assim, o processo psicoterapêutico constitui-
se enquanto contexto experiencial e conversacional para a co-construção de 
múltiplas narrativas, processualmente mais complexas e mais coerentes (O. 
Gonçalves, 2000 apud SOUSA; 2006). 
Esse objetivo psicoterapêutico reforça a importância da narrativa e de um 
processo proativo de construção de sentido. Por isso, uma característica central das 
abordagens pós-modernas é a compreensão do papelda narrativa na prática clínica. 
No contexto do pensamento pós-moderno, especialmente no contexto do foco 
narrativo, tem-se argumentado que é o processo de desenvolver uma história com os 
outros que permite ao indivíduo compreender a si mesmo e ao mundo e criar sua 
“realidade”. Em suas relações com os outros. Isso significa que o potencial ou 
restrições sociais, culturais, políticas, econômicas podem afetar a narrativa. As 
narrativas e a autoconsciência não vêm apenas dos discursos com os outros, mas 
dos próprios discursos com os outros, SOUSA; (2006). 
Como os clientes buscam desvendar as histórias de suas vidas, com um leitor 
específico - um psicoterapeuta - isso sempre acontece com os coautores de tais 
histórias. O texto que segue não é a história do cliente nem do terapeuta, mas uma 
co-construção com ambos como autores. Esta vista a narrativa não implica que o 
cliente não tenha um histórico médico independente do terapeuta. No entanto, a 
história da terapia é construída com o observador, que pode ser o terapeuta ou o 
próprio cliente. (Lax, 1992 apud SOUSA; 2006). Essa construção e negociação da 
narrativa em um contexto interpessoal torna possível o conceito de psicoterapia de 
acordo com o processo conversacional de reconstrução narrativa. (Botella, Pacheco 
& Herrero, 1999 apud SOUSA; 2006). 
A história do cliente pode mudar ao longo do tempo à medida que a 
reinterpreta e negoceia significados no contexto da sua relação com os 
 
17 
 
outros. A história é, portanto, continuamente recriada ou reconstruída, em vez 
de recordada. À medida que o cliente desenvolve uma nova perspectiva 
sobre uma experiência ou sobre a sua interação com tal acontecimento, muda 
a sua narrativa. Nesta linha de pensamento, emergem novas compreensões, 
que fazem sentido para o indivíduo num dado momento no espaço e no 
tempo. Assim, não é a descoberta de uma “verdade” acerca da existência, 
mas o desenvolvimento de uma nova história e a emergência de novos 
significados (Lax, 1992 apud SOUSA; 2006). 
As pessoas que procuram ajuda psicoterapêutica sentem-se incapazes de 
intervir no que percebem como constante em suas vidas em um determinado 
momento, e são prejudicadas na busca de possibilidades e significados alternativos 
(White & Epston, 1990 apud SOUSA; 2006). 
Quando os clientes identificam seu problema como uma narrativa que priva, 
restringe, nega ou constrange sua existência, a psicoterapia se torna necessária como 
contexto para a reconstrução narrativa. Dessa forma, os problemas psicológicos de 
acordo com essa linha de pensamento, podem ser entendidos como barreiras ao 
discurso, narrativa e processos relacionais na construção do significado empírico, e 
procurando uma solução para este bloqueio, SOUSA; (2006). 
Com essa concepção de problemas psicológicos em mente, a psicoterapia visa 
desenvolver a capacidade de (a) entender o discurso, a narrativa e a natureza 
relacional da experiência humana e (b) co-construir mudanças narrativas para buscar 
significados alternativos. (Botella, Pacheco & Herrero, 1999; Botella, 2001a, b apud 
SOUSA; 2006). 
 A psicoterapia torna-se um local para narrar, ensaiar e construir histórias, 
sendo os clientes simultaneamente os seus próprios objetos, sujeitos e projetos (O. 
Gonçalves, 1995 apud SOUSA; 2006). Em outras palavras, a psicoterapia capacita o 
cliente a recontar suas histórias cotidianas e abordar um novo jogo de linguagem que 
facilite a co-construção de narrativas alternativas lhe dá alguma esperança. A 
psicoterapia é um processo contínuo de engajamento em diálogo reflexivo destinado 
a facilitar, co-construir ou co-criar uma nova narrativa com o cliente. 
 O ponto de partida é sempre a história do cliente sobre sua compreensão do 
mundo e de sua vida, em cujo contexto ele se vê como participante-observador. Por 
outro lado, um psicoterapeuta é incluído como participante do sistema de tratamento, 
deixando o cliente saber o que está pensando. Desse ponto de vista, ele não é mais 
visto como um especialista com visões históricas ou privilegiadas, mas um facilitador 
 
18 
 
de conversas terapêuticas que decorrem do discurso sobre a experiência do cliente, 
SOUSA; (2006). 
O discurso constitui, assim, um diálogo e, ao mesmo tempo, um processo 
social. O papel do psicoterapeuta no processo terapêutico, entendido nesse sentido 
como um processo transformacional construtivo, é colaborar com o cliente durante o 
processo terapêutico para um desenvolvimento de uma nova história sobre sua vida 
e fornecer um ponto de vista diferente, embora não muito diferente, para suas 
conversas posteriores, SOUSA; (2006). 
O processo de mudança humana pode ser facilitado, mas não dirigido, porque 
os psicoterapeutas não podem reivindicar autoridade ou validade empírica diante das 
construções do cliente. A psicoterapia é um esforço colaborativo e facilita a revisão 
das narrativas dos clientes e a construção de histórias pessoais mais abrangentes e 
coerentes, SOUSA; (2006). 
Assim, o contexto terapêutico é um espaço de compreensão compartilhada em 
que se constrói o significado dos pensamentos, sentimentos e ações do cliente. Nessa 
perspectiva, são várias as ideias (de clientes, terapeutas e quaisquer outros 
participantes da terapia) são compartilhados, externalizados e comentados, o que 
pode levar as pessoas a discutir situações, experiências ou problema. Nesse sentido, 
todos os participantes são entendidos como colaboradores no processo de seleção e 
tomada de decisão. (Lax, 1992 apud SOUSA; 2006). 
A qualidade do trabalho terapêutico dependerá dos múltiplos discursos 
produzidos, que nunca devem ser fixados, mas sim desconstruídos e reconstruídos 
por cliente e psicoterapeuta. Ao longo do processo de psicoterapia, os objetivos 
terapêuticos emergem e são negociados por meio do diálogo entre o cliente e o 
psicoterapeuta. As sessões de terapia não são pré-determinadas com base no 
planejamento manual, então cliente e psicoterapeuta exploram um ao outro, em vez 
de sessões que visam objetivos teóricos ou determinam resultados. Portanto, as 
metas são instrutivas, não decisivas, SOUSA; (2006). 
Nesta lógica, a psicoterapia constitui um contexto criativo e flexível baseado na 
compreensão do processo pelo qual os indivíduos criam, desenvolvem e transformam 
narrativas significativas (O. Gonçalves, 1996a apud SOUSA; 2006). Do mesmo jeito 
Dependendo da linguagem que configura o diálogo terapêutico, as possibilidades de 
construção da realidade são múltiplas, e a compreensão da psicoterapia é múltipla 
 
19 
 
e provisórias, portanto, a configuração da prática da psicoterapia, relacionadas as 
condições, baseiam-se na variedade e flexibilidade, em vez de procurar regularidade. 
A psicoterapia é o processo de transformar o discurso problemático atual do 
cliente em um discurso mais fluido que permite a consideração de várias interações 
possíveis. Nesse sentido, a psicoterapia vislumbra a mudança e a transformação, uma 
construção múltipla e criativa, baseada na ideia de que o conhecimento da prática 
psicoterapêutica constitui uma realidade episódica, local e singular, contextualizada 
na relação entre cliente e terapeuta. (Fernandes, 2001 apud SOUSA; 2006). 
Resumidamente, em uma perspectiva moderna, a psicoterapia se concentra no 
problema, visando corrigir cognições disfuncionais. 
Como resultado, assume a forma diretiva e psicoeducativa, onde o 
psicoterapeuta assume o papel de especialista. Em contraste, a psicoterapia pós-
moderna, com um enfoque construtivista particular, enfatiza o desenvolvimento da 
auto-organização do indivíduo, suas características proativas na construção do 
conhecimento humano e as implicações que dele derivam para a mudança humana 
(R. Neimeyer, 1993 apud SOUSA; 2006). Vislumbrando mudanças nas construções 
ou narrativas do cliente, seu objetivo é criativo e seu processo exploratório e 
abrangente. 
Os seres humanossão, segundo essa abordagem, atores ativos que, individual 
ou coletivamente, constroem significados para seu mundo experiencial. No contexto 
social. Sob a influência de uma abordagem hermenêutica, o psicoterapeuta busca 
compreender e promover a elaboração de narrativas pelos clientes, sem a 
necessidade de usando critérios que determinam a aceitabilidade de suas histórias. 
Ao contrário, suas intervenções são tendencialmente exploratórias, abrangentes e 
reflexivas, considerando as idiossincrasias das experiências e construções dos 
clientes, SOUSA; (2006). 
 
De acordo com SOUSA; (2006) em resumo, a psicoterapia como prática pós-
moderna, com foco particular nas abordagens construtivistas: 
 Concebe os problemas como descontinuidades nas narrativas dos 
clientes que causam desconforto, 
 Seu objetivo de intervenção é compreender as histórias dos clientes e 
colaborar na construção de novas narrativas (alternativas e não 
 
20 
 
substitutivas), ou seja, vislumbram a criação de processos que 
facilitem o desenvolvimento narrativo, 
 Utiliza metodologias de exploração abrangente das construções dos 
clientes e; 
 Entende a mudança como a viabilidade das construções individual, 
que deriva da consistência interna, do consenso e da viabilidade 
pessoal, e não de critérios objetivos e absolutos. 
Fonte: researchGate.com 
3.2 Psicoterapias construtivistas: características e fundamentos conceituais 
A terapia construtivista pode encontrar seus predecessores tão distantes 
quanto o próprio budismo. Por exemplo, Mahoney (2005 apud AMORIM; 2014) diz 
que a relação entre os ensinamentos budistas e aspectos da terapia construtivista é 
cada vez mais evidente. De uma perspectiva budista, o sofrimento é o resultado de 
uma resistência à mudança e um sentimento de separação dos outros e do mundo. 
Dicas práticas para reduzir o sofrimento no budismo incluem atenção plena, 
relacionamentos compassivos (comigo e com os outros), flexibilidade, fluxo e 
equilíbrio. 
A contribuição do filósofo pré-socrático Heráclito (540-475 aC apud AMORIM; 
2014) também mostra um viés construtivo em sua ênfase no processo de 
mudança e desenvolvimento. Heráclito foi um filósofo do processo, e essa 
ênfase foi um aspecto central do construtivismo; ele também foi um pioneiro 
do pensamento dialético e enfatizou o papel da interação entre as tensões 
existenciais. Ele acredita que há tensão entre opostos em todas as coisas. 
Hoje, é bem conhecido que os organismos exibem uma tensão fundamental 
entre padrões de atividade estáveis e mutáveis. 
O construtivismo, como capacidade filosófica e metateoria, ressalta a auto-
organização e o recurso ativo do conhecimento humano e sua influência no processo 
de mudança. Na verdade, a visão construtivista dos seres humanos desafia a 
terminologia mecanicista tradicional e apresenta desafios no campo da psicoterapia, 
especialmente no campo de orientação cognitiva. (Neimeyer, 1993 apud AMORIM; 
2014). Sobre essas técnicas, Mahoney (2005, p. 160), em suas palavras, devemos 
ter: "Cuidado com a regra do martelo. Não tocamos em coisas que precisam ser 
tocadas. Essas técnicas são rituais de performance. Elas são usadas para organizar 
e iniciar atividades. E essas atividades são fundamentais." 
 
21 
 
Ele cita algumas de suas técnicas favoritas: Biblioterapia: descrições pessoais 
de experiências semelhantes; relaxamento - concentração, rituais e rotinas, locais 
sagrados; Resolução de problemas - auto-observação, tomada de decisões, escrita 
terapêutica - técnicas de história de vida, técnicas de memória musical, peregrinação 
às origens; Técnicas Centradas no Corpo; Reconstrução Narrativa; Exercícios de 
Equilíbrio, Exercícios de Resistência e Ritmo e Trabalho relacionado ao 
processo, tempo do Espelho, Papel Fixo, Fluxo de Consciência. Estes são apenas 
alguns exemplos de técnicas, no entanto, no cerne do trabalho estão os múltiplos 
níveis do processo de auto-organização de cada cliente, o que inevitavelmente leva 
ao domínio interpessoal das relações interpessoais que representa aspectos 
fundamentais do desenvolvimento pessoal, AMORIM; (2014). 
As formas de visões construtivistas retratam o indivíduo/sujeito como um 
complexo ativo de sistemas dentro de sistemas que buscam manter e expressar sua 
viabilidade e coerência diante dos desafios da vida. Dessa forma, a psicoterapia 
construtivista não é, portanto, uma tarefa simples que não pode ser reduzida de um 
manual passo a passo aplicável a diferentes pessoas a técnicas concretas; por que a 
criatividade e a diversidade são centrais para a conceituação e prática da psicoterapia 
construtivista AMORIM; (2014). 
 Isso significa entender cada tópico em termos da singularidade de um 
processo auto organizado contínuo, o que significa olhar para as questões 
com respeito e empatia, e como pessoas que são especialistas em relação 
às suas próprias experiências isso por si só não implica uma compreensão 
completa do paciente, mas fornece acesso a informações e experiências 
importantes para o programa de tratamento para o projeto de terapia. As 
alianças terapêuticas são essenciais para a mudança psicológica como uma 
relação positiva de confiança, respeito mútuo e carinho. (Mahoney, 1998 
apud AMORIM; 2014). 
Assim, a partir de uma perspectiva construtivista, a psicoterapia pode ser 
compreendida como a criação consciente de um sentido narrativo, e que pode levar a 
uma alteração no sentido de construção de experiências por meio do diálogo 
colaborativo. Isso pode ajudar a relação devido a gama de influências que surgirão, 
ao longo deste processo, AMORIM; (2014). 
 Conforme essa abordagem a mesma é caracterizada pela construção de 
novos significados a partir das narrativas, linguagem, metáforas, estruturas pessoais 
e criadas no diálogo entre terapeuta e cliente, sugerindo uma rejeição do profissional. 
Como posições tecnocráticas e construtivistas, todos são especialistas engajados em 
 
22 
 
um empreendimento comum onde os clientes são apoiados em seus esforços de 
autorreflexão para prever e se envolver com o mundo social que suas previsões 
ajudam a construir, AMORIM; (2014). 
Por fim, o tratamento deve ser significativo para o cliente, para que ele seja 
estimulado a participar ativamente do processo de tratamento (Feixas & Botella, 2004 
apud AMORIM; 2014). Neimeyer (1997b, 2002 apud AMORIM; 2014) sugeriu que, 
para compreender o construtivismo, é útil questionar a psicoterapia a partir de uma 
perspectiva construtivista. Pode ser definida como uma comunicação sutil 
(interpessoal) e negociação de significado pessoal que surge através da expressão, 
elaboração e modificação das estruturas que os clientes usam para organizar suas 
experiências. 
Essa definição enfatiza a sensibilidade do terapeuta para o mundo da 
experiência, bem como a base discursiva e conversacional da interação e indagação 
entre terapeuta e cliente. Apesar de suas peculiaridades, essas ênfases na 
psicoterapia refletem a exploração humana de relacionamento, conexão e 
mutualidade sustentada pela linguagem, AMORIM; (2014). 
Ainda que o trabalho psicoterapêutico previsto nesses padrões possa ter 
diferentes objetivos específicos, isso envolve trabalhar com clientes para criar mapas 
detalhados de estruturas não articuladas, identificar possíveis cursos de ação e 
expandir tais estruturas para aumentar o número de mundos possíveis. Mahoney 
(1998, 2005 apud AMORIM; 2014) enfatizou a definição do transtorno e, portanto, a 
definição do problema pessoal como foco da psicoterapia cognitiva construtivista, pois 
nessa perspectiva, o transtorno não é necessariamente a origem do problema do 
cliente, ou seja, episódios agudos ou formas crônicas de desintegração pessoal não 
são necessariamente prejudiciais à saúde e bem-estar geral e mental. 
Desta maneira, torna-se uma grande relevância, devido ao fato de que papel 
central das doenças conforme as psicopatologias,tanto dentro das teorias de 
intervenções profissionais na tradição da psicoterapia ocidental, quanto nos sistemas 
de classificação diagnóstica, tratam a doença como causa e/ou manifestação de 
disfunção coletiva e individual, AMORIM; (2014). 
A suposição subjacente é que algo está errado com o paciente, onde se tem o 
pensamento de que a doença é de alto risco, ou seja, perigosa e que o tratamento 
necessita e deve eliminar sua fonte o mais rápido e completamente possível. Nesse 
 
23 
 
contexto, o construtivismo disponibiliza uma perspectiva sobre a desordem que 
respeita o papel da torrente da desordem no desenvolvimento da dinâmica ao longo 
da vida. Então, essa amplificação é determinada por uma constante reorganização 
das atividades impulsionadas pelo próprio sistema, pois de acordo com os princípios 
do construtivismo, todos estão engajados em um equilíbrio dinâmico de atividades, 
AMORIM; (2014). 
Consequentemente, é sabido que o equilíbrio é mais complicado do que andar 
na corda bamba, dessa maneira, o equilíbrio estático nunca poderá ser alcançado. 
Mais precisamente, portanto, o caos não é um aspecto que possa ser alienado, pois 
nessa perspectiva, as pessoas com deficiência são aquelas cujas atividades de 
integração são dificultadas pelos desafios atuais. Por fim, do ponto de vista 
construtivista, as intervenções estratégicas destinadas a eliminar as manifestações de 
desorganização do sistema comportam certos riscos, uma vez que tal desorganização 
é essencial para a continuidade da reorganização. (Mahoney, 1998 apud AMORIM; 
2014). 
A emoção tem um papel muito importante sobre a estruturação do 
conhecimento e nos sistemas mentais, de qualquer maneira, em todo caso, ao 
considerar a estrutura cognitiva do significado, é importante considerar a função da 
emoção, pois a mesma deverá ser inquestionavelmente levada em conta. As emoções 
são biologicamente mais antigas que a cognição e projetadas para sustentar a vida, 
de modo que as emoções não são racionais nem irracionais no modelo teórico 
construtivista, mas sim adaptativas. (Abreu & Roso, 2003 apud AMORIM; 2014). 
Os esquemas de emoção são processadores automáticos que produzem 
respostas de excitação emocional, de acordo com isso, experimentar essas respostas 
através das experiências, criam uma sensação geral de quem é o sujeito. Esse 
processamento emocional específico da situação fornece percepção sensorial e 
informação cognitiva, direciona o fluxo de consciência e integra cognição e emoção, 
mesmo que nem sempre impliquem processamento conceitual reflexivo, podemos 
dizer que são representados pela experiência e desenvolvimento contínuos da 
aprendizagem da história emocional pessoal, AMORIM; (2014). 
Esse contexto da produção de emoções, potencializa as informações cognitivas 
e proposicionais sobre o self para construir um módulo cognitivo-afetivo integrado. Os 
esquemas de emoção são, portanto, ricas combinações de biologia, experiência e 
 
24 
 
cultura pessoal que transmitem significado ou sentimentos sobre si mesmo e as coisas 
dão e produzem experiências que parecem valiosas ou indignas, por exemplo. As 
respostas emocionais intrínsecas e complexas geradas por esses esquemas 
normalmente não são processadas simbolicamente na consciência, mas uma vez 
concluídas na psicoterapia, são o resultado de percepções subjetivas da realidade e 
de uma avaliação automática da própria importância, com base no feedback dado ao 
evento. (Greenberg & Pascual-Leone, 1997; Robert & Greenberg, 2007 apud 
AMORIM; 2014). 
Abreu e Shinohara (1998 apud AMORIM; 2014) concordam com isso, pois 
entendem os esquemas afetivos como estruturas que sintetizam internamente de 
maneira pré-consciente uma grande quantidade de informações cognitivas, afetivas e 
sensoriais que fornecem o sentido de sentido do indivíduo. Esta estrutura baseia-se 
na emoção, numa função integrada, dando um sentido de si no mundo. 
A psicoterapia é, portanto, um processo destinado a ativar e facilitar a 
reorganização desses esquemas emocionais em favor da empatia do terapeuta pela 
experiência emocional do cliente, momento a momento, e a reorganização dessas 
emoções destinada a reorganizá-las de modos particulares de processamentos 
vivenciais que visam à reorganização de tais esquemas, AMORIM; (2014). 
Greenberg (1998 apud AMORIM; 2014) concorda com a importância das 
emoções na psicoterapia, argumentando que as emoções são um sistema de 
informação que avalia automaticamente a si mesmo e ao mundo, informando 
necessidades, valores e objetivos importantes em uma determinada situação. Durante 
a psicoterapia, o ato de facilitar o acesso de um cliente a um caminho emocional 
primeiro fornece ao terapeuta e ao paciente o significado do evento, bem como os 
desejos e crenças do cliente. 
Em segundo lugar, a captura emocional orienta as decisões, ações a serem 
tomadas e prioridades que requerem atenção imediata. Terceiro, notifica os clientes 
quando surgem problemas, de modo que essa consciência dos problemas empíricos 
os motiva a resolvê-los. Portanto, a terapia precisa tornar as emoções e suas funções 
acessíveis, AMORIM; (2014). 
Guidano (1987 apud AMORIM; 2014), as emoções e os sentimentos são 
predominantes ao revelar a importância das analogias e processos implícitos na 
construção do entendimento de uma pessoa sobre a regularidade do ambiente. As 
 
25 
 
emoções são, assim, consideradas experiências organizadas cuja dinâmica é 
entendida como adentrando um nível mais completo de coerência sistêmica. Os 
esquemas emocionais são, portanto, configurações estruturais nas representações da 
memória que, como padrão, podem gerar um fluxo importante e contínuo de 
sensações. 
Existem três questões fundamentais na psicoterapia: Os seres humanos 
podem mudar? As pessoas podem ajudar umas às outras a mudar? Algumas 
formas de ajuda são melhores que outras? Como sugere Mahoney (2005 
apud AMORIM; 2014), essas questões parecem simples, mas suas respostas 
são mais complexas. É verdade que a mudança pode ser feita, mas 
raramente é fácil, simples ou agradável; a mudança humana é mais complexa 
e difícil do que muitos especialistas imaginam, porque não se pode 
simplesmente escolher uma nova personalidade ou uma nova 
autoconsciência. 
Isso não significa que tais mudanças não possam ser feitas, mas que os 
indivíduos possam compreender o contínuo da autopreservação no processo de 
mudança. Em relação à segunda questão, os autores ressaltam que as mudanças 
ocorrem no contexto das relações interpessoais, pois essas mudanças são essenciais 
para a adaptação e sobrevivência, e oportunizam o desenvolvimento por meio de 
intrincadas redes de influência mútua, AMORIM; (2014). 
No final, como afirmam os autores, as formas de ajuda mais eficazes são 
aquelas caracterizadas pela sensibilidade às necessidades individuais, 
desenvolvimentos históricos, estilos de aprendizagem, ciclos de vida, natureza 
mutável dos ambientes de vida e relações pessoais e circunstâncias culturais. A forma 
mais eficaz de assistência é ser mais criativa, afirmativa e respeitosa das capacidades 
de desenvolvimento. Tudo isso reflete o ponto de vista psicoterapêutico proposto pelo 
construtivismo, AMORIM; (2014). 
Guidano (2001 apud AMORIM; 2014) define seu modelo construtivista de 
psicoterapia como “pós-racionalismo cognitivo” e declara publicamente que seu texto 
visa “ilustrar adequadamente” o termo “pós-racionalismo” para evitar confusões: 
O termo pós-racionalismo não é antitético ao pensamento racional, não 
significa anti-racionalista, nem deixa de considerar o raciocínio lógico como 
um aspecto importante para dar consistência à experiência humana. O 
conhecimento é muito mais amplo que a cognição e apenas parte dele é 
lógico, abstrato e racional. (Guidano, 2001, p.19 apud AMORIM; 2014). 
 
 
26 
 
A afetividade é a maior parte do conhecimento, porém, também é perceptivo,sensorial, comportamental e motor, são as formas mais importantes de conhecimento 
porque são o conhecimento sem pensar, tendo em vista que esses aspectos que 
forma citados não são formas secundárias de conhecimento. Guidano (2001 apud 
AMORIM; 2014) fica claro que o raciocínio lógico não é primário e nem o único 
processo que conduz a atividade humana, mas é um dos instrumentos da consciência. 
Cipriano (2003 apud AMORIM; 2014) concorda com ele, observando que, no pós-
racionalismo, o conhecimento é um fenômeno de múltiplas dimensões. 
Desse jeito, Guidano (2001 apud AMORIM; 2014) está menos disposto a 
fazer uma marcda de que o pós-racionalismo é um movimento psicológico 
que privilegia o irracional ou o impulsivo para escolher entre o irracional e o 
lógico, enquanto a mente humana é uma sequência de conjuntos de 
processos mais complexos. Além do mais, ele reitera que quando uma 
pessoa conta sua história, ela desenvolve a sua própria memória e dessa 
forma, começa a observar regularidades e diferenças de sua memória, mas 
então não é a memória, nem a emoção, que é capaz de integrar tudo em um 
todo coerente, mas o raciocínio habilidade. Permite selecionar e observar as 
semelhanças entre os estágios da vida e perceber que cada estágio possui 
uma identidade substancial. 
Por fim, colocar o termo pós-racionalista em "visão total" também reflete a 
combinação consistente de aspectos analógicos (sensação, emoção, imaginação) 
com aspectos analíticos (raciocínio, pensamento lógico e abstração). Para 
compreender os campos da psicoterapia cognitiva pós-racionalista e da 
psicopatologia, torna-se importante descrever dois níveis cíclicos da experiência 
humana: o nível da experiência imediata (experiência) e o nível da interpretação, 
AMORIM; (2014). 
A hierarquia interpretativa é a ordem na qual a experiência sensorial imediata 
é organizada. No entanto, existe a experiência das sensações diretas: em que a 
experiência direta é uma quantidade mútua contínua de estar no mundo, dessa forma, 
o mais importante, é a comunicação contínua entre o imediatismo da experiência e a 
forma como o indivíduo reordena e interpreta esse sentimento imediato. A plena 
implicação disso conforme a psicoterapia, compreende o fato de que a psicopatologia 
surge da discrepância entre a mútua experiência imediata e a imagem consciente que 
a pessoa tem de si mesma, AMORIM; (2014). 
É essa relação que estabiliza a própria imagem consciente em qualquer 
processo de autoconhecimento, ou seja, de autoconsciência, visto que é um processo 
autorreferencial em que o indivíduo busca sua própria imagem e aceita a mesma em 
 
27 
 
conjunto com a sua coerência interna. Em geral, então, os sintomas surgem quando 
um sujeito sente algo, mas não o reconhece como seu, sugerindo uma qualidade de 
flexibilidade limitada na abstração, expressão e regulação emocional, ou seja, a 
existência de uma correlação. O nível de regulação emocional que corresponde ao 
nível do fluxo da experiência imediata, o nível estrutural onde o fluxo do imediatismo 
é sequenciado com a linguagem e o pensamento. (Guidano, 1995, 2001 apud 
AMORIM; 2014). 
Guidano (1995 apud AMORIM; 2014) Ainda uma interdependência 
experiência/interpretação, dizendo que está subjacente à compreensão da identidade pessoal como uma 
combinação de experiência pessoal (as ações e experiências do "meu") e o senso aparente de si mesmo. A 
menção abstrata da autorreferencia em relação experiência em curso (o "eu" de 
observar, avaliar e interpretar). O eu como sujeito ("eu") e o eu como objeto emergem 
como dimensões irredutíveis da dinâmica da identidade pessoal, cuja direção 
depende da prática da vida. 
Coerente com Guidano, Pérez (2005 apud AMORIM; 2014) afirma em sua obra 
que toda compreensão é resultado de um processo de regulação mútua entre 
experiência e interpretação, onde a experiência imediata é o conhecimento analógico, 
sensorial, afetivo, experiência existencial e autoconsciência. O mundo; a interpretação 
emerge da linguagem como conhecimento analítico, como reorganização da 
experiência imediata que nos caracteriza como seres humanos. 
3.3 Modelo cognitivo-construtivista de psicoterapia 
Como a revolução cognitiva da década de 1960, mudando as bases da 
psicoterapia comportamental, A chegada do paradigma construtivista deu origem a 
outra grande revolução na história do método cognição clássica (Abreu & Shinohara, 
1998; Mahoney, 1998 apud ABREU; 2005). 
A função cognitiva deste novo conceito ao contrário do modelo proposto por 
Baker assumindo o significado, não vem de padrões de pensamento já tão elucidados 
através da máxima de Epicteto declarada sobre o mundo, onde o mesmo não é 
movido por coisas, mas por essa visão possuí-los. Os modelos tradicionais de terapia 
cognitiva, o pensamento é dotado de caráter decisivo e, sua disfunção, várias 
psicopatologias. Deste modo, a racionalidade e a sua precisão dão-nos a chave para 
 
28 
 
uma boa saúde mental, uma boa vida e o resultado de um bom pensamento (correto). 
(Mahoney, 1998 apud ABREU; 2005). 
Dessa maneira, o conceito cognitivista sugeriu as mais diversas e criou 
ferramentas de ajuste cognitivo, tais como: registro de pensamentos disfuncionais (J. 
Beck, 1997 apud ABREU; 2005), técnicas de reconstrução cognitiva (Beck & 
Freeman, 1993 apud ABREU; 2005), o processo de identificação de crenças 
irracionais (Ellis, 1988 apud ABREU; 2005), e várias técnicas que apoiaram (e ainda 
apoiam) a prática de corrigir ou substituir padrões de pensamento disfuncionais por 
padrões mais funcionais e adaptativos ( Abreu & Guilhardi, 2004 apud ABREU; 2005). 
Assim, para as referências cognitivistas (ou objetivistas) tradicionais, as distorções 
cognitivas de significado não se tornam desadaptativas ao produzir emoções 
incontroláveis e perturbadoras (Abreu, 2004 apud ABREU; 2005). 
No entanto, novas propostas foram observadas de acordo com os Métodos 
construtivistas cognitivos, pois, o pensamento perde sua natureza determinante de 
significado, porque de acordo com as emoções (descobriu recentemente a 
Neurociência de Damásio, 2004 apud ABREU; 2005) e o mesmo mudou o conceito 
tradicional de intervenção terapêutica. 
No conceito de construtivismo cognitivo, existem dois tipos de criação de 
significado são eles: globais e complexos, que retratam a maneira pela qual nosso 
organismo se organiza em suas trocas com o mundo. O primeiro modo já está 
descrito pela terapia cognitiva tradicional, aqui designada como processamento 
conceitual - essa descrição de processamento sustenta as bases onde as ideias e 
pensamentos dão significados pessoais (através da crença, viés de confirmação e 
toda função do esquema) ao criar os padrões de interpretação, ABREU; (2005). 
É por esta razão que atribuímos a denominação de processamento conceitual 
a toda atividade que reflete à maneira pela qual o conhecimento proveniente 
dos estímulos é processado em nossa consciência ao obedecer às regras 
formais do raciocínio analítico. É desta maneira que nosso pensamento 
proporciona, portanto, um tipo de conhecimento a respeito da natureza das 
situações que, via de regra, é reflexivo, abstrato e intelectual por natureza 
(Abreu, 2001 apud ABREU; 2005) é neste segmento que as abordagens 
cognitivas tradicionais centram o seu trabalho, ou seja, buscam corrigir as 
distorções cognitivas que são reflexos das crenças irracionais. 
No entanto, no modelo construtivista cognitivo, considera-se a existência do 
segundo modo chamado de processamento experiencial, ou melhor vivencial. Aqui, o 
significado que surge em nossa consciência não vem das bases lógicas do raciocínio, 
 
29 
 
mas das atividades em retratar todos os acordos tácitos ou experiência incorporada 
dos nossos "sentimentos", dessa forma a situação é resultado de como nosso corpo 
reage a mudanças instantâneas no mundo ao seu redor, ou seja, como se fôssemos 
guiados por um barômetroemocional (corporal) imediato e suscetível a mudanças de 
humor evento. Um exemplo disso é a multiplicidade das queixas quando os pacientes 
dizem sentir asfixia, aperto no peito ou desconforto, ou até mesmo sentir como se 
estivessem com o mundo nas costas, ABREU; (2005). 
 Tendo em vista que, um monte de nossas traduções de eventos, vem 
inicialmente de sinais corporais (também chamados de sentidos) produzidos pela 
experiência para que possamos posteriormente integrá-los e interpretá-los através do 
pensamento analítico. Esse nível de experiência garante nossa sobrevivência ao 
responder cada vez mais rápido às informações que se desviam dos princípios da 
lógica. Considere então dois níveis de processamento descritivo – experiencial 
(vivencial- emocional e instantâneo) e conceitual (que é lógico, reflexivo e mais lento) 
- Podemos entender o significado pessoal final na terapia cognitiva de Baker, deriva 
apenas de Raciocínio lógico (assim, tentando controlar o pensamento automático 
irracional), no modelo cognitivo-construtivista sempre surge de Impressões físicas 
(sensoriais) associadas a opiniões desenvolvido a partir do nosso raciocínio, Então, 
primeiro sentimos algo, e então podemos pensar algo. (Greenberg & Safran, 1987 
apud ABREU; 2005). 
É isso que nossa consciência sempre será a arena ou O resultado do encontro 
desses dois níveis: cabeça + coração. Vale ressaltar que tais locais são colocados 
horizontalmente em grande destaque, pois, as emoções são muito proeminentes 
porque cada emoção vai passar a ser considerada sobre a adaptação básica nesta 
referência, portanto, não precisa ser extinto por causa da existência de algum erro. Se 
houver algo ambíguo ou confuso sobre neste processo, não serão as emoções, mas 
os pensamentos que desenvolvemos a seu respeito, ABREU; (2005). 
Portanto, as disfunções e os distúrbios emocionais surgem quando não nos 
consideramos autorizados a sentir determinadas emoções, isto é, quando 
nosso pensamento não se torna flexível o suficiente para explicar aquilo que 
estamos vivenciando (Greenberg & Pascual-Leone, 1997 apud ABREU; 
2005). É quando a síntese dialética (a arena) destas duas fontes de 
informações (coração e cabeça) apresenta-se de forma contraditória ou 
descompassada que estará aberta a possibilidade de os quadros de 
psicopatologia iniciarem-se, pois neste momento nos tornaremos 
desorientados. Se nossas construções de significado não contarem com a 
experiência corporal imediata sendo vivida, muito provavelmente nos 
 
30 
 
tornaremos confusos e desnorteados, não sabendo a qual fonte de estímulos 
seguir. Por isso, embora muitas vezes tenhamos “consciência” de que nossas 
crenças estão erradas, há pouco ou nenhum efeito sobre nossas emoções, 
ou seja, de nada adianta mudar os padrões de pensamento se este trabalho 
não atingir ou provocar uma ampliação da estrutura emocional do indivíduo. 
É desta forma que acreditamos ser inócua a criação de novas bases 
conceituais (isto é, o desenvolvimento de novas crenças), pois a emoção, ao 
anteceder o pensamento, controla-o, deixando-o refém da neurobiologia 
emocional (Damásio, 2004 apud ABREU; 2005). 
No conceito de construtivismo cognitivo, Exploração e mudanças psicológicas 
ocorrem em Em primeiro lugar, através da expansão do processo dialético criando 
novos complexos contraditórios conceito (mente) e experiência (coração), então um 
novo significado global é assim construído. Isto é, desta forma, criamos um senso 
expandido de si mesmo ao simbolizar o que encontramos em nós mesmos 
(Greenberg, Rice & Elliott, 1996 apud ABREU; 2005). 
3.4 Construcionismo social 
Construcionismo social (e não construtivismo social) é o nome usado para se 
referir a um movimento crítico da psicologia social "modernista", cuja principal 
referência teórica é Kenneth Gergen. Em dois artigos agora Referências básicas aos 
movimentos, "Psicologia Social como História" em 1973 e "O movimento 
construcionista social na psicologia moderna”, em 1985, Gergen (1973, 1985 apud 
CASTAÑON; 2009) retrospectivamente traçou a base e a visão geral desta 
abordagem sociopsicológica, que se baseia em três pressupostos principais: O 
primeiro é que a realidade é dinâmica, sem leis essenciais ou imutáveis. 
Em segundo lugar, o conhecimento é apenas uma construção social baseada 
na comunidade linguística. Terceiro, o conhecimento tem consequências sociais, que 
devem determinar sua validade. O construcionismo social ataca todos os 
pressupostos filosóficos da ciência moderna, como o otimismo epistemológico, o 
realismo ontológico, os métodos empíricos de examinar a realidade, a regularidade 
dos objetos e o progresso científico. (CASTAÑON, 2001 apud CASTAÑON; 2009). 
Para aqueles autores que pertenciam à "virada pós-moderna" da psicologia 
social, os princípios básicos dessas visões aceitas não foram apenas negados, mas 
substituídos por seus opostos. Kendall & Michael (1997 apud CASTAÑON; 2009) 
avaliaram que este "pós- "Moderno" tem quatro características teóricas básicas em 
 
31 
 
psicologia social: uma é tentar desmantelar os objetos psicológicos tradicionais 
e substituindo a realidade do pensamento e do comportamento através das 
convenções linguísticas e dos recursos do mundo "socialmente construído". 
A segunda é abandonar a busca de atributos universais e adotar a reflexão 
histórica e cultural na pesquisa psicológica, ou seja, reflexão histórica e contextual na 
psicologia. A terceira é a marginalização do método e sua classificação como técnica 
retórica. A quarta é abandonar a grande narrativa da ciência em direção à verdade 
objetiva e adotar o conhecimento que é fragmentado, com contingência histórica e 
social, CASTAÑON; (2009). 
Como argumenta Zuriff (1998 apud CASTAÑON; 2009), a essência da posição 
ontológica do construcionismo social é a proposição de que nenhuma realidade 
objetiva pode ser descoberta; os humanos constroem o conhecimento. Held (1998) 
acrescentou a isso o termo "social". Onde ele diz que para o construcionismo social 
construímos teorias sobre como o mundo funciona por meio da interação social. 
Esta posição foi reiteradamente defendida por Kenneth Gergen (1985, 1992, 
1994 apud CASTAÑON; 2009) em seus argumentos anti‐representacionistas. 
Por representacionismo Gergen (1994) entende a doutrina que defende 
existir ou poder existir uma relação estável entre as palavras e o mundo que 
elas representariam. Adotando os argumentos de Wittgenstein (1975 apud 
CASTAÑON; 2009) e Richard Rorty (1989 apud CASTAÑON; 2009), Gergen 
(1985, 1994 apud CASTAÑON; 2009) defende que a linguagem nao passa 
de um conjunto de convenções. O significado não deriva da referência que 
fazem aos objetos; não se baseia no processo mental ou em entes ideais. O 
significado é produzido através do contato social com outros habitantes da 
cultura na qual se está inserido. Fora da linguagem não há ponto de apoio 
objetivo nem independente do pensamento; portanto, a linguagem não 
representa nada fora dela mesma, é auto‐referente; estritamente falando, não 
há linguagem independente de múltiplos jogos de linguagem atrelados a 
diferentes formas de vida. Assim, para o construtivismo social (SHOTTER, 
1992 apud CASTAÑON; 2009) nossas teorias socialmente construídas não 
nos aproximam de uma descrição mais acurada do “mundo como ele é”. Isso 
acarreta em algum grau envolvimento com alguma forma de anti‐realismo, 
seja no sentido ontológico, seja no sentido epistemológico (ou seja, 
ceticismo), uma vez que não há ou não se pode atingir a realidade objetiva, 
independente do sujeito do conhecimento. 
Held (1998, p.198 apud CASTAÑON; 2009) classificou duas posições 
ontológicas no construcionismo social, uma "mais radical" e outra "menos radical". A 
versão "mais radical" da ontologia do movimento entende que o sujeito constrói o 
conhecimento por meio da linguagem e não por outros meios. Portanto, a linguagem 
se constitui para o sujeitona própria realidade. 
 
32 
 
 Em suas interações sociais, não há outra realidade além da linguagem 
construída pelo sujeito. As manifestações desse anti-realismo ontológico encontram-
se basicamente no autor. Esse movimento foi mais influenciado pelo 
desconstrucionismo de Jacques Derrida; dos quais dois representativos são Paul 
Richer (1992 apud CASTAÑON; 2009) e John Shotter (1992 apud CASTAÑON; 2009). 
Ao contrário da posição acima, veremos os argumentos ontológicos "menos 
radicais" de alguns outros autores, como Gergen (1985, 1992 apud CASTAÑON; 
2009) e Donald Polkinghorne (1992 apud CASTAÑON; 2009), que argumentam que 
a teoria se baseia em objetos de conhecimento por meio de objetos de conhecimento. 
A linguagem, media a relação do sujeito com o mundo de forma tão impermeável que 
pode até existir uma realidade objetiva independente do sujeito, mas é inacessível. 
Aqui, embora não aderindo ao anti-realismo estritamente ontológico, vemos que 
o vemos o construcionismo social que endossa o ceticismo ontológico e 
epistemológico. 
Rom Harré (1989 apud CASTAÑON; 2009) foi um construcionistas sociais mais 
representativos e aquele que mais se preocupa com questões ontológicas. Ele afirma 
ter pretendido desenvolver uma ontologia que escapasse ao já mencionado dilema do 
anti-realismo. Harley (1989, p.440 apud CASTAÑON; 2009) suponha que existam 
duas realidades humanas distintas, ambas passíveis de investigação científica. Um é 
fisiológico, biológico humanos e seu "sistema de interação molecular". Outra é nossa 
"natureza social" como elementos de uma rede de "interações simbólicas 
intermediárias". Para ele, a psicologia precisa ver os processos fisiológicos e as 
interações sociais como ocorrendo em realidades separadas, reconhecendo que seu 
lugar inclui em um novo dualismo. 
Assim, no que diz respeito à biologia humana, argumenta harré (op. Cit.), é 
suficiente tratar o ser humano como um indivíduo. Mas socialmente, esse tratamento 
é insuficiente, pois as pessoas nada mais são do que "nós em uma rede, um nó de 
uma estrutura, um elemento de um coletivo" (1989, p. 440 apud CASTAÑON; 2009). 
Ele acredita que, do ponto de vista biológico, os indivíduos podem ter propriedades 
únicas, como átomos isolados, mas vistos como um todo, os atributos de uma pessoa 
existem apenas em virtude de seu relacionamento com os outros. 
 
 
33 
 
Harré (1989 apud CASTAÑON; 2009) sabe que esta é uma ontologia radical. 
Ao adotá-la, pretendia se opor ao que chamou de "ontologia cartesiana", que seria a 
ontologia da ciência do conhecimento. Enquanto a ontologia social construcionista 
social de Harré define o objeto da psicologia como interação social, uma "ontologia 
cartesiana" proporia que existe uma substância mental na qual os processos mentais 
ocorrem. 
Diante dos argumentos apresentados, uma possível conclusão é que a 
ontologia proposta por Harré negue a existência da mente humana como uma 
entidade real. Isso pode ser deduzido de sua estranha afirmação em outro trabalho 
(1984 apud CASTAÑON; 2009), "Devemos primeiro supor que o principal local dos 
processos mentais (em sentido de tempo e lógica) é coletivo e não individual” (1984, 
pp. 4 e 5 apud CASTAÑON; 2009). 
Gergen (1989 apud CASTAÑON; 2009) também argumenta que o 
construcionismo social é outra revolução em curso na psicologia que se oporá ao 
cognitivismo e sua ontologia e epistemologia, que trabalhará nos princípios da 
metafísica dual. Em um sistema de coordenadas cartesianas, a mente deve agir como 
um espelho para o mundo. 
 Gergen (1989 apud CASTAÑON; 2009) propôs sua versão da "revolução 
epistemológica" da psicologia, que chamou de "epistemologia social", partindo da 
ideia de que o centro do conhecimento não era mais visto como um pensamento 
individual, mas como um modo de narrativa social. 
Ele tentou explicar a afirmação por argumentos dizendo que se abandonarmos 
nossa preocupação com a mente e o mundo e voltarmos nossa atenção para a 
questão da relação das palavras com o mundo, também desviaremos nossa atenção 
das "proposições na mente" (p. 471) para as proposições que vêm à mente voltada 
para nossa linguagem escrita e falada. Assumindo que a linguagem não é privada, 
mas deve, por definição, ser social, permitindo a comunicação, Gergen acredita poder 
concluir que as proposições de conhecimento não são conquistas de mentes 
individuais, mas produtos sociais, CASTAÑON; (2009). 
Podemos dizer com John Maze (2001 apud CASTAÑON; 2009), que o 
construcionismo social é na verdade um desconstrucionismo, incapaz de 
afirmar qualquer coisa a respeito de qualquer coisa em virtude de seu anti‐
representacionismo e seu argumento de que o “objetivismo” (que ele 
confunde com o realismo) são inerentemente autoritários. Uma das muitas 
contradições internas desta abordagem se dá quando, embora aceite que 
toda teoria epistemológica coerente deva valer para si mesma, o 
 
34 
 
construcionismo social nega que qualquer assertiva possa ser verdadeiro, 
assim como nega existir realidades independentes a serem referidas por 
essas assertivas. No entanto, trata dos discursos como tendo existência 
objetiva e assume que sua própria assertiva sobre o discurso é verdadeira. 
Para uma extensa avaliação das contradições desta abordagem, remeto a 
meu estudo anterior “Psicologia Pós‐moderna? ” (CASTAÑON, 2007b apud 
CASTAÑON; 2009). 
Para CASTAÑON; (2009) se tomarmos a postura ontológica e epistemológica 
do construtivismo de acordo com Kant e Piaget, podemos dizer que o construtivismo 
social está longe de fazer parte dessa tradição filosófica. O realismo foi rejeitado por 
ele em dois aspectos em termos epistemológicos e ontológicos. Mesmo a definição 
da abordagem como idealismo é influenciada por uma postura estranha sobre o 
assunto, mais comprometedora em relação ao construtivismo tradicional, 
CASTAÑON; (2009). 
Em relação ao construcionismo social, o sujeito está completamente dissolvido 
na rede de relações linguísticas, ele está inserido nele e o constrói, não por ele. Se 
considerarmos essa corrente esta corrente construtivista, nos deparamos com um 
estranho caso de construtivismo, onde nenhum mundo ou sujeito, rede de linguagem 
ou jogo de linguagem é construído (Rychlak, 1999 apud CASTAÑON; 2009) e assim 
se torna uma entidade. 
Órgãos autônomos com significado dúbio e aspectos quase místicos. Se tudo 
o que deve ser conhecido é a linguagem, e a linguagem constitui o sujeito, podemos 
até classificar essa abordagem como objetivismo. Se não há mundo ou nenhum 
mundo a conhecer, cética. As características construtivistas do construcionismo social 
precisam ser bem articuladas para não causar confusão na reconstrução, 
CASTAÑON; (2009). 
3.5 Construtivismo radical 
O construtivismo social é uma abordagem sociológica que se resume 
essencialmente a um conjunto de pressupostos filosóficos e diretrizes políticas 
aplicáveis à disciplina de sociologia do conhecimento. Surgiu em meados da década 
de 1970, um grupo de sociólogos da Universidade de Edimburgo, liderado por Barry 
Barnes e David Blore, onde lançou um poderoso programa de sociologia da ciência. 
Os marcos fundadores do programa foram Conhecimento Científico e Teoria 
Sociológica em 1974, e conhecimento e imagens sociais em 1976 (BLOOR, 1991 
 
35 
 
apud CASTAÑON; 2015). Sua tese central é que todo conhecimento é apenas uma 
construção social. 
Uma das principais diferenças entre essa abordagem e o trabalho realizado 
antes do surgimento da sociologia do conhecimento é a tese circular, ou seja, as 
questões epistemológicas relacionadas à validade e classificação das atividades, 
como as atividades científicas que se enquadram no escopo da própria 
sociologia, incluindo ela própria. Além disso, a pesquisa focou no conhecimento 
científico em detrimento de todas as outras alegações de conhecimento, CASTAÑON; 
(2015). 
Isto constitui uma grande inversão:

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