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Júlia Camargos FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA CLÍNICA CIRÚRGICA - AULA 4 ANTIBIÓTICOS E INFECÇÕES EM CIRURGIA Taxa de aderência dos profissionais de saúde em lavar as mãos. → Cadeia epidemiológica das infecções hospitalares → Infecção da ferida cirúrgica é uma balança: contaminação bacteriana X virulência / resistência do paciente (local e sistêmica) INFECÇÃO: Sinais clássicos de inflamação: ● Rubor: Vasodilatação local ● Calor: Aquecimento pelo metabolismo aumentado ● Tumor: Presença do edema ● Dor: Estimulação dos receptores nociceptivos pelos produtos da cascata inflamatória → A presença de todos esses sinais não indica necessariamente uma infecção. Pode ser um processo inflamatório que vai acabar culminando Febre (é o mais precoce dos sintomas): ● Per e pós-operatório imediato: reação à drogas (hipertermia maligna) ● Até 2° dia: atelectasia (processo inflamatório) ● 2 ° ao 5 ° dia: flebite, ITU, infecção sítio cirúrgico, pneumonia ● 6 ° ao 15 ° dia: abscessos intracavitários, embolia pulmonar, corpo estranho ● Após 15 ° dia: hepatite, vírus, SIDA - Ex.: 2º dia, paciente hipóxico, temperatura muito elevada, calafrio → não vai ser só atelectasia. FATORES DETERMINANTES PARA A INFECÇÃO: ● Inoculação de bactérias ● Virulência das bactérias ● Ambiente da lesão 1 Júlia Camargos ● Defesa do hospedeiro Inoculação das bactérias: Já somos compostos de flora em quase todos os tecidos: ● Pele: staphylococcus coagulase negativo, staphylococcus aureus, difteroides, estreptococos, pseudomonas aeruginosa, anaeróbios, candida sp ● Intestino delgado : 104 bac/ml – Lactobaillus, estreptococos, enterobactérias, bacterioides spp ● Conjuntiva ocular: staphylococcus coagulase negativo, staphylococcus aureus, difteroides, estreptococos, anaeróbios ● Trato genital feminino: 107 bac/ml – bacterioides spp., staphylococcus coagulase negativo, enterococos, difteróides, candida albicans, anaeróbios, enterobactérias, clostridium spp., gardenerella vaginalis, streptococcus agalactiae ● Trato urinário: staphylococcus coagulase negativo, difteróides, estreptococos, enterocococ, fungos - Partes do corpo em que não temos contaminação bacteriana: líquor, sangue, humor vítreo Virulência das bactérias: Mecanismos de resistência bacteriana: ● Produção de enzima que inativa a droga: Ex.: ß-lactamases inativam penicilinas ● Alteração dos locais de ligação da droga: Ex.: eritromicina ● Redução de captura da droga pela bactéria: Ex.: tetraciclinas ● Alteração de vias enzimáticas: Ex.: Trimetoprim Ambiente da lesão: Microambiente da lesão: ● Hemoglobina: quando degradada libera ferro e estimula proliferação bacteriana ● Próprio tecido necrótico que impede a chegadas das células fagocitárias ● Corpos estranhos (próteses, fios de sutura) que abrigam bactérias ● Espaços mortos também propiciam as infecções Integridade de defesa hospedeiro: - Pele: ● Barreira mecânica (camada córnea, baixa permeabilidade à água) ● Meio seletivo de cultura (desidratação, evaporação de suor, ph ácido) ● Remoção mecânica ● Substâncias antimicrobianas (lisozimas, ácidos graxos, bactericidas) ● Própria microbiota normal (precisa estar em equilíbrio, senão favorece a infecção) - Trato digestivo: ● Saliva, Mastigação, Ph ácido, Integridade epitelial e sua descamação, Secreções digestivas (lisozimas, imunoglobulinas), Peristaltismo, Evacuação, Microbiota. Integridade de defesa do organismo: - Inatas: ● Alterações de imunidade do hospedeiro - Adquiridas: 2 Júlia Camargos ● Uso de corticóides, Transfusões, Doenças crônicas (hipoalbuminemia, desnutrição), Choque, Hipoxemia, Hipotermia e hiperglicemia, Obesidade, Fumo, Infecções, Idade (criança e idoso são mais imunocomprometidos), Pré-operatório prolongado. COMO A CIRURGIA PROPICIA A INFECÇÃO: ● Rompe barreira epitelial (penetra e desequilibra a flora) ● Lesão vascular → hipóxia → acidose → metabólica (diminui migração e atividade de fagócitos) → diminui a resposta celular ● Deposição de fibrina ● Liberação de cininas e Prostaglandinas (processo inflamatório) ● Corpo estranho e Espaço morto (funcionam como um lugar onde a bactéria vai se encistar e fica inacessível aos antibióticos e células de defesa) ● Imunossupressão (paciente fica imunodeprimido no pós operatório → diminui resposta imunológica ● Modifica o ambiente da lesão Mecanismos: ● Favorece o depósito de Hemoglobina: que libera ferro e estimula proliferação bacteriana ● Aumenta o tecido necrótico que impede a chegadas das células fagocitárias ● Fornece a presença de corpos estranhos (próteses, fios de sutura) que abrigam bactérias ● Pode gerar espaços mortos também propiciam as infecções → Lavagem das mãos: para procedimentos cirúrgicos e contato íntimo com o paciente MEDIDAS GERAIS : ● Preparo pré-operatório ● Cuidados intraoperatórios: Antissepsia e técnica cirúrgica ● Cuidados pós-operatórios ANTIBIÓTICO TERAPIA: ● Dependerá do caso Medidas gerais - pré-operatório: ● Avaliação clínica: Nutrição, Comorbidades e infecções, Fatores de diminuição de defesa do paciente (idade, imunossupressão), Parar de fumar ● Preparo do paciente: Cirurgias de tratos (ex. Cólon), Preparo da equipe (antissepsia, paramentação) ● Uso de antibióticos profiláticos Medidas gerais - intraoperatório: ● Tricotomia e tonsura (só se houver necessidade), Menor equipe possível, Ambiente adequado (temperatura aumentada propicia a infecção - lembrar hipertermia), “Repicar” antibiótico (a cada 2 ou 4 horas de procedimento). ● Técnica cirúrgica: A que leve ao menor trauma possível, Sem espaços mortos, evitando corpos estranhos Medidas gerais - pós-operatório: ● Nutrição (enteral sempre que possível, ajuda a manter a flora intestinal equilibrada) 3 Júlia Camargos ● Curativos (fechado por 24 a 48 horas, após é desnecessário - forma fibrina, de forma correta). Se não temos segurança, se o paciente não vai manter uma higiene adequada → mantém o curativo ● Internação menor possível (menos risco de germes hospitalares) CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS: Quanto ao grau de contaminação e potencial de infecção Cirurgia Limpa: ● Índice de infeção < 2% ● Tecidos estéreis, sem drenos, sem erros de técnica ● Não entra em víscera ou lúmen colonizado ● Exemplo: hernioplastia eletiva, cirurgia vascular no pescoço Cirurgia Potencialmente contaminada: ● 4 a 10% de infecção ● Tecidos com flora própria ● Tecidos estéreis com drenos, pequeno erro de técnica ● Penetra numa víscera ou lúmen colonizado, mas em condições eletivas e controladas ● Exemplo: gastrostomia, histerectomia abdominal Cirurgia Contaminada: ● > 10% de infecção ● Contaminação grosseira ● Situações de: Inflamação aguda (ex. ressutura); Acidentes intraoperatórios; Trauma limpo; Bolsa rota < 6 horas; Infecção distante; Preparo inadequado ● Exemplo: Laparotomia por lesão penetrante Cirurgia Infectadas: ● Locais já infectados ● Pus,sujidade, necrose ● Exemplo:Peritonite, abscesso intra-abdominal INDICAÇÃO DE ANTIBIOTICOPROFILAXIA: ● Cirurgia Contaminada ● Outras indicações - exceções: ○ Cirurgia Limpa e potencialmente contaminada: 4 Júlia Camargos ■ Cirurgia: Quando demorada; Uso de próteses; Grandes áreas de deslocamento (espaço morto) ■ Pacientes: Idosos > 70 anos; Desnutridos; Imunossuprimidos; Diabéticos descompensados; Obesos mórbidos (síndrome inflamatória) ○ Cirurgia Infectadas: Antibioticoterapia (não é antibioticoprofilaxia) Qual antibiótico usar: Comissão de infecção hospitalar vai decidir de acordo com a cirurgia, ambiente, local e etc - Cardiovascular e Neurocirurgia: ● Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativo ● Cefazolina 1g EV dose única ou 8/8 h até 2 dias Cefuroxima 1,5g dose única ou 12/12h até 2 dias Vancomicina 1g dose única - Gastroduodenal, biliar e hepática: ● Enterobactérias, Enterococcus, Staphylococcus aureus, Streptococcus, Clostridium e Bacterioides ● Cefazolina 1 a 2g dose única ou 8/8 h até 2 dias Cefoxitina ou cefuroxima 1,5g dose única ou até 3 dias Ampicilina sulbactam 6g a cada 4 a 6 horas - Colo retal (apendicectomia):● Enterobactérias, Anaeróbios ● Cefoxitima 1 a 2 g Gentamicina 1,7mg/Kg + metronidazol 1g ou clindamicina 600 a 900 mg - Genito-urinária: ● Enterobactérias, Anaeróbios, Enterococcus, Streptococos ● Cefazolina 1 a 2g dose única ou + duas doses Cefoxitina 2g dose única ou + duas doses - Cabeça e pescoço ● Staphylococcus aureus, Estreptococos, Anaeróbios ● Clindamicina 600 a 900 mg associado ou não a gentamicina 1,7mg pré e 8/8 h até dois dias Cefazolina 1 a 2g pré e 8/8 h até dois - Ortopédica: ● Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativo ● Cefazolina 1 a 2g dose única Vancomicina 1 g dose única → Infecção cirúrgica a distância (podem ser as causadoras das infecções no procedimento): Infecção urinária (sondagem ou não), Pneumonia ● O foco da infecção é distante do local cirúrgico mas foi provocado pela cirurgia O QUE NÃO FAZER: ● “Esquecer” de fazer a dose antes de iniciar a incisão (meia hora antes) ● Usar antibióticos de “última geração” ● Usar tempo superior ao recomendado (uma dose meia hora antes. Se a cirurgia durar mais que 4 horas devemos fazer outra dose) 5 Júlia Camargos ● Achar que o antibiótico substitui a boa técnica (não deixar tecido morto, necrose, hematoma) O QUE FAZER: ● Resista à tentação de manter o antibiótico profilático. Se necessário, fazer antibioticoterapia ● Problemas de técnica são resolvidos com treinamento ● “Ansiedade” se trata com benzodiazepínicos PRÁTICA AMBULATORIAL: ● Pele e tecido celular subcutâneo: ○ Erisipela, Celulite, Abscesso, Fleimão, Panarício, Linfadenite aguda ● Anexos da pele: ○ Furúnculo, Carbúnculo, Hidradenite supurativa Erisipela: ● Piratas: deficiência de vitamina C → fissuras e infecções na perna → infecção → perna de pau ● Celulite superficial com comprometimento linfático ● Porta de entrada ● Predisponentes: estase venosa, diabete, abuso de álcool, obesidade ● Estreptococo beta-hemolítico grupo A ● Tratamento: penicilina, cefalosporina, eritromicina Celulite: ● Tecido celular subcutâneo ● Infecção dispersa sem volume de secreção, ampla ● Geralmente perde solução de continuidade da pele ● Estreptococo Grupo A e estafilococo ● Tratamento: ATB penicilinas, clindamicina Abcesso: ● Tecido celular subcutâneo + pus ● Forma uma coleção: germe + organismo produzindo pus ● Geralmente complicação da erisipela e celulite ● Estafilococo aureus, estreptococo + anaeróbios ● Tratamento: ATB penicilina + drenagem Fleimão: ● Inflamação difusa e necrosante de tecido conjuntivo ● Não localizado como abscesso ● Estreptococo e estafilococo ● Tratamento: ATB penicilinas + drenagem + debridamentos 6 Júlia Camargos Panarício: ● Infecção da polpa digital ● Geralmente estafilococo ● Tratamento: ATB + drenagem Linfadenite aguda: ● Infecção de linfonodos ● Geralmente secundária ● Específica: tuberculose, sífilis, leishmaniose ● Inespecífica: estreptococo, estafilococo ● Tratamento: para origem, ATB + drenagem Furúnculo: ● Infecção necrosante de folículo pilosebáceo ● Foliculite ● Estafilococo ● Carnegão (porção necrosada) → tem que ser retirada ● Tratamento: ATB + calor úmido local + curativo ● Profilaxia (quando apresenta foliculite de repetição → pode fazer laser) Carbúnculo: ● Evolução do furúnculo – com vários folículos envolvidos ● Geralmente fatores para diminuição de defesa, tipo diabete, desnutrição ● Também conhecido como antraz ● Tratamento: ATB + drenagem + debridamento Hidradenite supurativa: ● Inflamação crônica, recorrente de pele intertriginosa axila, inguinal, inframamária, genital, perianal ● Inflamação infecção, dor, mau cheiro ● Estafilo aureus, aeróbios G – e anaeróbios ● Tratamento: Sistêmico: ATB ● Local: antissepsia, calor úmido + drenagem ● Definitivo: excisão completa 7
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