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6 Universidade Estadual de Campinas – 17 a 23 de maio de 2004 Muitos observadores viram na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada há um mês em Cingapura [em dezembro de 1996], um significado especial para o balizamento das relações in- ternacionais. O senhor partilha dessa opinião? Michel Debrun – Sem dúvida. O que se celebrou em Cingapura foi a globalização crescente do comércio exterior. Ou seja, não apenas o co- mércio exterior em si, o qual, por en- volver uma pluralidade de nações, tem por definição uma característica globalizante. Mas sobretudo o fato de que o comércio exterior ocupa um lugar cada vez maior nas atividades econômicas e no Produto Interno Bruto de um número crescente de nações. Isto é bem evidente no caso dos Estados Unidos, que até há bem pouco tempo estavam basicamen- te voltados para si mesmos, sua par- te das transações internacionais sen- do proporcionalmente reduzida. De modo geral, era o caso das grandes nações, com exceção do Japão – desde os anos 60 essencialmente voltado para fora – e em grau menor da Ale- manha. Só nações mirins do tipo Cingapura faziam do desenvolvi- mento do comércio exterior sua ra- zão de ser. Agora trata-se de esten- der ao resto do mundo a primazia desse tipo de comércio, com a idéia (da qual compartilho) de que isto de- verá proporcionar um rápido au- mento da riqueza mundial e a espe- rança (desta vez especificamente neoliberal, e da qual não comparti- lho) de que a médio prazo deverá também acarretar uma melhor dis- tribuição da renda. Há quem ache que neoliberalismo, globalização, capitalismo avançado e imperialismo são termos equivalen- tes ou, para usar uma expressão po- pular, farinha do mesmo saco. O se- nhor concorda? De fato muita gente pensa assim, particularmente uma certa esquer- da ainda presa a velhos chavões. Não se dão ao trabalho de analisar, de esmiuçar as noções. Se o fizessem veriam que globalização, neolibera- lismo etc correspondem a fenôme- nos factuais ou ideológicos muito re- ais, mas que não mantêm entre si, necessariamente, relações orgâni- cas no seio de uma totalidade de pen- samento, como teria dito Althusser. Pode ser que, em vez disso, tais fatos e ideologias se encontrem ou se de- sencontrem em determinado mo- mento e lugar. Ou seja, juntam-se e colaboram entre si conforme o caso, conjugando seus efeitos, positivos ou deletérios. Ou então se disjuntam, e aqui podem surgir coisas curiosas para quem está acostumado a rea- lizar um amálgama confuso (embo- ra de forte impacto emocional) entre noções conceitualmente diferentes. Voltando à conferência de Cinga- pura, vou dar um exemplo. Não é cu- rioso que a delegação norte-ameri- cana não tenha exigido uma conde- nação formal da superexploração do trabalho humano (o infantil em particular) em certos países, especi- almente os tigres asiáticos? Tal con- denação, acompanhada de suges- tões de sanções, teria ido diretamen- ichel Debrun pertenceu à linhagem de intelectuais franceses que, como Lévi-Strauss, Roger Bastide e Blaise Cendrars, dedicaram parte considerável de sua vida ao esforço de tentar compreender e explicar o Brasil. Essa busca, no caso de Debrun, começou em 1957, quando ele aportou no Rio de Janeiro para incorporar-se ao grupo de ideólogos do antigo Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), e prosseguiu até sua morte quarenta anos depois. Desde aquela época ele veio se dedicando à questão da identidade nacional e, na década de 90, ao estudo do Na última entrevista, Debrun diss te ao encontro dos princípios neo- liberais formulados por instituições como o FMI e o Bird. Afinal essas ins- tituições pregam a livre concorrên- cia dos capitais, das mercadorias e dos homens, desde que essa liberda- de “total” não seja selvagem nem anti-ética. Fatores como a explora- ção do trabalho em condições subumanas, a livre aplicação, a la- vagem internacional e a transferên- cia de um país para outro do dinheiro oriundo do tráfico de drogas ficam fora das regras do jogo. Como se sabe, o FMI tem propalado sua pre- ocupação crescente com este último aspecto da questão. Ora, os america- nos (tão neoliberais e ao mesmo tem- po éticos em relação ao resto da pau- ta da conferência) não deram apa- rentemente muita atenção a essa es- pécie de contradição. Possivelmente porque a delegação americana tinha, em outros assuntos, algum interesse em contemplar os tigres asiáticos e, ao mesmo tempo, negar apoio às de- legações européias, em particular a seus sindicalistas obcecados com os baixos preços das mercadorias asi- áticas. Assim o neoliberalismo saiu vencido num ponto específico mas importante num encontro em gran- de parte consagrado a fazer aumen- tar a penetração e a aceitação de se- us princípios, bem como a fazer dele próprio, neoliberalismo, uma mani- festação palatável da globalização. Nesse caso, não havendo esse entrosamento orgânico entre globali- zação e neoliberalismo, o bicho-pa- pão pode não ser tão feio quanto pa- rece. Logo o futuro, visto por muitos como catastrófico, pode ser que se a- presente em cores mais amenas? Não se trata absolutamente de negar eventuais perigos trazidos por esses diversos fenômenos, ou por associações entre eles, mas de identificá-los e de qualificar o peso de cada um. É possível, inclusive, que a curto e a médio prazo o conjunto das desvantagens trazidas pelo conjunto desses fenômenos ou pela globalização tomada isoladamente seja maior do que a soma das vanta- gens. O que eu recuso, apenas, são certas afirmações “globalizantes” sobre a globalização e quejandos. Do seguinte tipo: globalização mais neoliberalismo mais imperialismo formam um bloco e esse bloco é res- ponsável por todos os males do mundo atual, desde o agravamento do fosso entre ricos e pobres (inclu- sive nos Estados Unidos) até o des- mantelamento do estado de bem- estar social, o Welfare State que se ti- nha espraiado no mundo desenvol- vido a partir da Segunda Guerra Mundial. Outra afirmação “globa- lizante”, desta vez do lado da ex- trema-direita francesa, é a seguin- te: globalização mais esquerdismo mais invasão da França pelos imi- grantes árabes foram um bloco e es- se bloco é responsável por todos os males da França, desde o cresci- mento do desemprego até a deca- dência do estado nacional. São a- málgamas desse gênero, concretiza- dos na imagem do bicho-papão, que devemos procurar superar. Colocada em termos distintos do neoliberalismo e do antigo imperialis- mo, como o senhor definiria, a rigor, a globalização? Eu diria que a palavra globaliza- ção é hoje utilizada em três sentidos diferentes, cada sentido correspon- dendo a uma categoria de fenôme- nos reais. Mas no discurso corrente, oral ou escrito, nenhum desses sen- tidos é explicitado. É só olhando pa- ra o contexto que chegamos a recons- tituir o sentido ou os sentidos que alguém dá à palavra, que sem dúvi- da é um dos vocábulos mais grafa- dos e pronunciados do momento. Não seria este o seu momento de fama antes de envelhecer e passar para o museu léxico? Pode ser, mas presentemente ela é mais que uma palavra e corresponde a uma realidade bem pal- pável. Num primeiro sen- tido a globalização é o que dissemos aqui a respeito da extensão do comércio in- ternacional. Ou seja, há globalização quando um fe- nômeno (econômico, social, cultural etc) é reproduzido num número crescente de exemplares no mundo in- teiro. Vamos pensar, por exemplo, na disseminação do uso do computador. Ca- da vez mais, um número crescente de pessoas, empresas e ins- tituições já não pode dispensar os ser- viços informatizados, a tal ponto que, muitas vezes, esse uso se torna um fim em si mesmo. Direi, então, que esse fe- nômeno de natureza tecno-social é u- ma manifestação da globalização por homogeneização. Ou, se você preferir, que ele resulta numa homogenei- zação crescente entre os homens; ou, ainda, que estamos diante de um pro- grama de produção que se aproxima da “clonagem” generalizada. Muitos creditam o fenômeno da mundialização ao desenvolvimento vertiginoso dos processosde comuni- cação e informação. O que há de ver- dade nisso? Este é o segundo sentido que fre- qüentemente se atribui ao termo globalização. Na verdade, ela tem a ver mais propriamente com a trans- missão da informação que, emitida de uma fonte A, tem um efeito dire- to sobre um receptor B. Não se tra- ta, aqui, da simples reprodução ou do uso da informação que se dá nu- ma infinidade de exemplos diários, mas da própria informação enquan- to manifestação de uma globaliza- ção específica. A informação é intrin- secamente globalizante no sentido de que, independentemente da fre- qüência de seu uso, ela conecta por definição todos os pontos do mun- do – potencial ou efetivamente. E o faz instantaneamente. É essa glo- balização comunicacional que, sen- do o suporte por excelência da glo- balização financeira, permitiu que ocorresse a catástrofe mexicana de fins de 1994. Algumas informações concernentes a certos aspectos, re- ais ou supostamente negativos, da situação econômico-financeira des- se país foram retransmitidas num primeiro instante a todas as praças financeiras do mundo. E, num se- gundo instante, havendo livre cir- culação de capitais flutuantes no mundo inteiro, urdiu-se a retirada maciça desses capitais, forçando a degringolada do peso mexicano. Pu- nia-se assim um país que até aque- le momento era visto como o aluno modelar do FMI e de Washington. Di- gamos, então, que a globalização fi- nanceira é um derivado, uma conse- qüência da globalização da informa- ção ou da comunicação. O senhor falou num terceiro senti- do do termo globalização... Num terceiro sentido temos o que eu chamaria de globalização por di- ferenciação no seio de um todo já mais ou menos homogêneo ou unificado. Essa unificação prévia pode resultar do trabalho de uma ou de outra das duas primeiras globalizações. Mas pode também consistir num equilí- brio que se estabeleceu com o tempo entre pólos (econômicos, políticos, culturais, mili- tares etc) que eram inici- almente indiferentes en- tre si ou mesmo inimi- gos. Tal seria, por exem- plo, o equilíbrio quase institucional alcançado nos tempos da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética. Então a idéia é a seguinte: redu- zindo os pólos a dois, pa- ra simplificar, eu diria que qualquer novidade ou diferença importante que surja no pólo A cria imediatamente uma nova situação favorável ou desfavorável ao pólo B – mesmo que não haja pres- são de A sobre B ou qualquer outra forma de interação. E isso pode ser visto como uma forma de globali- zação, já que os dois pólos vão ficar agora soldados um ao outro, embo- ra à distância (já que no primeiro mo- mento não interagem), pelos própri- os problemas e situações que um traz para o outro. Naturalmente, quanto maior for a distância entre eles em termos de espaço físico, eco- nômico, político, cultural etc, tanto maior será a globalização. E ainda: quanto maior a situação de depen- dência ou de inferioridade que pode vitimar um dos pólos, tanto maior será o grau de globalização. Poderia exemplificar? Sim. O afundamento da URSS no final dos anos 80 trouxe, como se sabe, uma imediata superioridade dos Estados Unidos e a possibilida- de de expansão de sua hegemonia sobre o resto do mundo. Observe que os Estados Unidos não precisa- ram agir militarmente para isso, apenas forçaram a URSS a uma cor- rida armamentista que ela não po- dia sustentar. Outro exemplo é a que- da do muro de Berlim e a unificação inesperada das duas Alemanhas. Esses fatos desequilibraram a união da Europa Ocidental e levaram a França a adotar políticas cautelares contra uma possível reativação do expansionismo alemão. Quanto à dissimetria que se cria (e se cria sem parar, devido à rapidez do progresso tecnológico), ela constitui o exemplo predileto dos críticos da globali- zação. Não apenas como fonte prin- cipal da onda de desemprego que varre a maioria dos países, mas também como uma ameaça perma- nente sobre qualquer tipo de empre- go e ainda por exigir uma capacidade de reciclagem constante. Tudo isto, por definição, é incompatível com a cultura do emprego garantido (que reinava no leste europeu) ou quase garantido, que prevalecia no oeste, particularmente na Alemanha. O senhor distinguiu três formas de globalização. Elas caminham autono- mamente ou há pontes entre elas? É evidente que a primeira, a glo- balização uniformizante, e a segun- da, a globalização comunicacional, têm uma tendência natural a cres- cer juntas e a se reforçar mutuamen- te. Quanto à terceira, a globalização por diferenciação, sugeri que ela pressupõe uma homogeneização ou unificação prévia, que ela destrói. É fácil entender isso voltando aos pó- los A e B: se os dois não pertencessem, antes de qualquer cotejo, a um mes- mo espaço econômico, social, cultu- ral etc, não haveria como dizer que uma relação assimétrica se criou entre eles. Ficariam apenas distan- tes e indiferentes. Por exemplo, an- tes da exploração (no duplo sentido) do Extremo Oriente pelos ocidentais e do conhecimento que chineses e eu- ropeus adquiriram uns dos outros, não fazia sentido afirmar que os pro- gressos tecnológicos dos europeus implicaram automaticamente um rebaixamento político, econômico ou mesmo tecnológico dos chineses. Voltando ao neoliberalismo. Em que ponto ele engrena, se é que engre- na, na temática da globalização? Boa parte das análises neoliberais se dedica à globalização do comér- cio exterior, visto como motor prin- cipal do desenvolvimento das eco- nomias modernas, de acordo com a fórmula “as importações de hoje fa- zem as exportações de amanhã”. A teoria neoliberal procura mostrar que, uma vez impulsionado e gene- ralizado o comércio exterior por de- cisões governamentais ou intergo- vernamentais, sua globalização crescente tende a se processar por automovimento, uma tendência endógena que dispensa, ou mesmo repele, a intervenção de fatores ex- ternos como a dos estados nacionais. As condições do automovimento seriam, em particular, a liberdade total das decisões econômicas dos participantes (refiro-me a institui- ções e empresas, não a países) e uma transparência do processo para esses participantes, o que seria asse- gurado por uma intensificação dos fluxos informacionais. Em síntese: uma globalização do tipo homoge- neizante ou unificador, segundo a minha nomenclatura, seria propul- sada por uma globalização do tipo M EUSTÁQUIO GOMES — eusta@unicamp.br Estamos diante de um programa de produção que se aproxima da “clonagem” generalizada 7Universidade Estadual de Campinas – 17 a 23 de maio de 2004 processo de globalização das economias e à conseqüente inserção do país na corrente dessas transformações. Concedida a Eustáquio Gomes e publicada originalmente no Correio Popular de Campinas, em 11 de janeiro de 1997 – menos de três meses antes do acidente vascular cerebral que o levaria em 9 de março do mesmo ano – esta foi a última entrevista concedida por Debrun. Nela, ele expressa a crença de que o Brasil, na linha “antropofágica” que sempre o caracterizou, seria capaz de assimilar as transformações em curso e “emergir” nas primeiras décadas do século 21. run disseca a globalização comunicacional. Além disso o processo, precisa- mente por ser “auto” e não comandado de cima para baixo, comportaria possibilidades de auto- correção, garantindo, a médio prazo, o pleno em- prego (ou quase) dos fa- tores econômicos envol- vidos. Pode ser que seja assim em vários casos e, para esses casos, o neoli- beralismo pode ser con- siderado como a teoria verdadeira da globalização. O que ele não vê, porém, é que ao lado des- sa globalização “suave” existe e se es- praia uma globalização “selva- gem”, enquadrada no terceiro tipo da nomenclatura que mencionei. É possível fazer frente a essa face selvagem da globalização sem entrar em conflito direto com as forças que hoje determinam as relações interna- cionais? Vou dar dois exemplos de nature- za oposta. Nos Países Baixos o pri- meiro ministro Wim Kok, antigo lí- der sindicalista social-democrata, adotou o lema “jobs,jobs, jobs”. Isto queria dizer prioridade absoluta para o emprego, para a multipli- cação dos empregos, cada indiví- duo adquirindo, senão a garantia vi- talícia desse emprego, pelo menos a quase garantia de um emprego. Tra- tava-se de neutralizar, de antemão, o impacto trabalhista da globali- zação tecnológica, seja qual for sua evolução. Para tanto se inventou uma parafernália, aliás bem-suce- dida, que inclui desde macetes neo- liberais como a redução ou a elimi- nação das taxas sobre empresas ou a diminuição consensual de certos salários, passando pela adoção da semana de 36 horas em vários ramos e pela destinação dos ganhos de pro- dutividade das empresas à forma- ção polivalente de jovens trabalha- dores ou à reciclagem dos mais ve- lhos. Trata-se, para além do estado de bem-estar perdido, de instaurar algo mais enxuto, uma economia so- cial de mercado. A melhoria da pro- dutividade faz o restante, isto é, per- mite enfrentar vitoriosamente a concorrência internacional. Em sín- tese, o caso holandês representa um caso de resistência suave, mas in- transigente, às condições dos novos tempos. Bem diferente do volunta- rismo tenso do governo francês – este é exemplo oposto – que, face à re- sistência do conjunto da população a qualquer mudança substancial do estado de bem-estar, tenta desespe- radamente manter as coisas como estão, disposto até a lançar mão de uma eventual desvalorização do franco frente ao dólar e ao marco. Nesse contexto, como fica o Brasil? O Brasil é um terceiro caso, inter- mediário entre a França e os Países Baixos. Aparentemente mais perto destes, já que procura, como eles, meios de absorver ou contornar suavemente os fluxos neoliberais. Mas com maior vontade de auto-a- firmação nacional do que os Países Baixos, que admitem sem maiores restrições sua integração na Comu- nidade Européia e são defensores incondicionais da moeda única. Es- tão também prontos para uma eventual ordem interna- cional sem fronteiras. Nesse ponto, o Brasil me parece mais próximo da posição francesa, como fi- cou claro em Cingapura, onde as posições da dele- gação brasileira nem sempre coincidiram com as exigências neoliberais e com as posições norte- americanas. Mas o impacto dessas transformações pode ser maior do que qualquer capacidade de resistência que o Brasil possa vir a de- monstrar. Não lhe parece? Para contextualizar o Brasil e to- mar seu pulso nesse processo, talvez fosse bom recordar à linha “antro- pofágica” que, partindo de Oswald de Andrade, passa por Gilberto Freyre e chega a Darcy Ribeiro. O que essa linha diz, sob uma linguagem por vezes irônica, por vezes ufanis- ta, é o seguinte: o Brasil tem uma ca- pacidade fantástica de deglutir, rearranjar ou mesmo neutralizar tudo o que vem de fora, mesmo que de início possa parecer um recipien- te passivo, como no caso das tábu- as da lei do FMI. Na verdade o Bra- sil faz como fazia o general Kutusov, que em 1812 permitiu que Napoleão avançasse pelas estepes russas para em seguida apanhá-lo na armadilha do inverno e da fome. Vejo o Brasil como um dos três países-continen- tes que provavelmente vão emergir nas primeiras décadas do próximo século [século XXI]. É o caso da Chi- na e talvez da Rússia, se esta for ca- paz de escapar ao caos econômico, social, político, militar e ético em que se acha mergulhada. Se levarmos em conta a existência dos Estados Unidos, do Japão (ou da esfera asiá- tica) e da Comunidade Européia, pa- rece-me que a dinâmica mundial não vai se dar no sentido projetado ou mesmo anunciado como certo pelo neoliberalismo. Não acredito que as nações, pelo menos as macro ou supra-nações, tendam a desapa- recer, mesmo que homogeneizações setoriais possam se multiplicar. Em sua opinião, o governo brasileiro [de Fernando Henrique Cardoso] está reagindo adequadamente a esse pro- cesso? Apesar de me considerar um na- cionalista brasileiro, permaneço cidadão francês e como tal não me sinto no direito de opinar sobre a conjuntura política brasileira. Direi apenas que o Real, sejam quais forem os prós e contras que se possam ali- nhavar para avaliar sua performance, está se constituindo, enquanto mito coletivo, num formi- dável filme inaugural da nacionali- dade. Mais exatamente da nação sócio-política, já que, a meu ver, a nacionalidade sócio-cultural (o fu- tebol, o carnaval, a música popular e sobremaneira essa agregação di- ária em torno da novela) existe já faz tempo. Contanto que o Real perdu- re e seu mito seja alicerçado, o Bra- sil me parece capaz de enfrentar os perigos da globalização e até apro- veitar suas eventuais benesses atra- vés de políticas que não sejam, em parte ou na totalidade, forçosamen- te neoliberais. Fotos: Antoninho Perri/ AAN Michel Debrun em 1991 (acima) e em janeiro de 1997, três meses antes de sua morte Não acredito que as nações, pelo menos as macro ou supra-nações, tendam a desaparecer << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles true /AutoRotatePages /All /Binding /Left /CalGrayProfile (Dot Gain 20%) /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Warning /CompatibilityLevel 1.4 /CompressObjects /Tags /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends true /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 1048576 /LockDistillerParams false /MaxSubsetPct 100 /Optimize true /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveEPSInfo true /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments false /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts true /TransferFunctionInfo /Apply /UCRandBGInfo /Preserve /UsePrologue false /ColorSettingsFile () /AlwaysEmbed [ true ] /NeverEmbed [ true ] /AntiAliasColorImages false /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 300 /ColorImageDepth -1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages true /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.000000.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName (http://www.color.org) /PDFXTrapped /Unknown /Description << /FRA <FEFF004f007000740069006f006e00730020007000650072006d0065007400740061006e007400200064006500200063007200e900650072002000640065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000500044004600200064006f007400e900730020006400270075006e00650020007200e90073006f006c007500740069006f006e002000e9006c0065007600e9006500200070006f0075007200200075006e00650020007100750061006c0069007400e90020006400270069006d007000720065007300730069006f006e00200061006d00e9006c0069006f007200e90065002e00200049006c002000650073007400200070006f0073007300690062006c0065002000640027006f00750076007200690072002000630065007300200064006f00630075006d0065006e007400730020005000440046002000640061006e00730020004100630072006f0062006100740020006500740020005200650061006400650072002c002000760065007200730069006f006e002000200035002e00300020006f007500200075006c007400e9007200690065007500720065002e> /ENU (Use these settings to create PDF documents with higher image resolution for improved printing quality. 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