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BIOQUÍMICA GERAL BIOQUÍMICA GERAL JOÃO LUIZ COELHO RIBAS Autoria © Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. Presidente da Divisão de Ensino Reitor Direção Acadêmica Gerente de Educação à Distância Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Supervisão Editorial Projeto Gráfico e Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Roberto Di Benedetto Rodrigo Poletto Profa. Roberta Galon Silva Prof. João Luiz Coelho Ribas Felipe Guedes Antunes DP Content BIOQUÍMICA GERAL 2 Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo tem por objetivo a aprendizagem e a comu- nicação bidirecional entre os atores educacionais. Para que os objetivos propostos se- jam alcançados, você conta com um percurso de aprendizagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização prática e das atividades individuais e colaborativas. A proposta pedagógica da Universidade Positivo é baseada em uma metodologia dia- lógica de trabalho que objetiva: valorizar suas experiências; incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; estimular a pesquisa; oportunizar a refl exão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. Compreenda seu livro Metodologia BIOQUÍMICA GERAL 3 Compreenda seu livro Metodologia Com base nessa metodologia, o livro apresenta a seguinte estrutura: PERGUNTA NORTEADORA Ao fi nal do Contextualizando o cená- rio, consta uma pergunta que esti- mulará sua refl exão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvol- vimento da sua capacidade de análi- se crítica. TÓPICOS QUE SERÃO ESTUDADOS Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. BOXES São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de fi lme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. RECAPITULANDO É o fechamento do capítulo. Visa sintetizar o que foi abordado, reto- mando os objetivos do capítulo, a pergunta norteadora e fornecendo um direcionamento sobre os ques- tionamentos feitos no decorrer do conteúdo. PAUSA PARA REFLETIR São perguntas que o instigam a refl etir sobre algum ponto estudado no capítulo. CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. OBJETIVOS DO CAPÍTULO Indicam o que se espera que você aprenda ao fi nal do estudo do ca- pítulo, baseados nas necessidades de aprendizagem do seu curso. PROPOSTA DE ATIVIDADE Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencio- nadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. BIOQUÍMICA GERAL 4 Boxes AFIRMAÇÃO Citações e afi rmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. ASSISTA Indicação de fi lmes, vídeos ou similares que trazem informações complementa- res ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. BIOGRAFIA Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específi co da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. ESCLARECIMENTO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específi ca da área de conhecimento trabalhada. EXEMPLO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. BIOQUÍMICA GERAL 5 BIOQUÍMICA GERAL 6 Sumário Capítulo 1 - Introdução à Bioquímica Objetivos do capítulo ....................................................................................................18 Contextualizando o cenário ..........................................................................................19 1.1 Bases biológicas e químicas da vida ........................................................................ 20 1.1.1 Unidade química dos organismos vivos ...................................................................................................20 1.1.2 Produção e consumo de energia ...............................................................................................................21 1.1.3 Transferência da informação biológica ...................................................................................................22 1.2 Células ................................................................................................................... 22 1.2.1 Dimensões celulares ...................................................................................................................................23 1.2.2 Células procarióticas ..................................................................................................................................24 1.2.3 Células eucarióticas ...................................................................................................................................24 1.2.4 Parasitas das células ..................................................................................................................................26 1.3 Biomoléculas .......................................................................................................... 26 1.3.1 Composição química e ligações ................................................................................................................27 1.3.2 Estrutura tridimensional ............................................................................................................................28 1.3.3 Reações químicas ........................................................................................................................................29 1.3.4 Macromoléculas e suas subunidades .......................................................................................................30 1.4 Água........................................................................................................................31 1.4.1 Sistemas aquosos: propriedades e interações .......................................................................................31 1.4.2 Ionização da água e pH ..............................................................................................................................32 1.4.3 Ácidos e bases .............................................................................................................................................34 1.4.4 pH e tampões ...............................................................................................................................................36 Proposta de Atividade .................................................................................................. 38 Recapitulando .............................................................................................................39 Referências bibliográfi cas ...........................................................................................40BIOQUÍMICA GERAL 7 Sumário Capítulo 2 - Aminoácidos, peptídeos e proteínas Objetivos do capítulo ....................................................................................................41 Contextualizando o cenário ......................................................................................... 42 2.1 Aminoácidos ........................................................................................................... 43 2.1.1 Introdução ....................................................................................................................................................43 2.1.2 Características estruturais........................................................................................................................44 2.1.3 Classifi cação ................................................................................................................................................47 2.1.4 Propriedades ................................................................................................................................................50 2.2 Peptídeos ............................................................................................................... 52 2.2.1 Introdução ....................................................................................................................................................52 2.2.2 Ligações peptídicas ....................................................................................................................................53 2.2.3 Nomenclatura ...............................................................................................................................................54 2.2.4 Propriedades ................................................................................................................................................54 2.3 Proteínas ...............................................................................................................55 2.3.1 Introdução ....................................................................................................................................................55 2.3.2 Características e classifi cação .................................................................................................................56 2.3.3 Estrutura tridimensional ............................................................................................................................57 2.3.4 Propriedades ................................................................................................................................................59 2.4 Funções biológicas, separação e caracterização de proteínas .................................59 2.4.1 Proteínas transportadoras .........................................................................................................................60 2.4.2 Proteínas estruturais e de armazenamento ............................................................................................60 2.4.3 Proteínas contráteis, de defesa e reguladoras .......................................................................................60 2.4.4 Métodos de obtenção, purifi cação e caracterização de proteínas ......................................................61 Proposta de Atividade ...................................................................................................61 Recapitulando ..............................................................................................................61 Referências bibliográfi cas ........................................................................................... 63 BIOQUÍMICA GERAL 8 Capítulo 3 - Enzimas Objetivos do capítulo ................................................................................................... 64 Contextualizando o cenário ......................................................................................... 65 3.1 Visão geral ............................................................................................................. 66 3.1.1 Defi nição de enzimas ..................................................................................................................................67 3.1.2 Propriedades gerais ....................................................................................................................................67 3.1.3 Mecanismos da catálise enzimática .........................................................................................................69 3.1.4 Classifi cação e nomenclatura ...................................................................................................................71 3.2 Cinética enzimática ................................................................................................73 3.2.1 Introdução ....................................................................................................................................................73 3.2.2 Fatores que afetam a velocidade das reações enzimáticas ..................................................................74 3.2.3 Cinética de Michaelis-Menten ................................................................................................................... 77 3.2.4 Inibidores ...................................................................................................................................................... 77 3.3 Regulação da atividade enzimática ........................................................................ 79 3.3.1 Introdução ....................................................................................................................................................79 3.3.2 Regulação alostérica ..................................................................................................................................80 3.3.3 Regulação por modifi cação covalente .....................................................................................................81 3.3.4 Ativação por clivagem proteolítica ..........................................................................................................82 Proposta de Atividade .................................................................................................. 82 Recapitulando ............................................................................................................. 82 Referências bibliográfi cas ........................................................................................... 84 Sumário BIOQUÍMICA GERAL 9 Sumário Capítulo 4 - Carboidratos e glicoconjugados Objetivos do capítulo ................................................................................................... 85 Contextualizando o cenário ......................................................................................... 86 4.1 Monossacarídeos e oligossacarídeos .......................................................................87 4.1.1 Introdução aos carboidratos, funções e classifi cação ..........................................................................87 4.1.2 Monossacarídeos: características químicas e estrutura ......................................................................88 4.1.3 Monossacarídeos: ciclização, propriedades redutoras e derivados ....................................................92 4.1.4 Oligossacarídeos: propriedades, estrutura e aplicação ........................................................................95 4.2 Polissacarídeos ..................................................................................................... 97 4.2.1 Introdução ....................................................................................................................................................97 4.2.2 Características, classifi cação e propriedades ........................................................................................974.2.3 Polissacarídeos de armazenamento .........................................................................................................98 4.2.4 Polissacarídeos estruturais .......................................................................................................................99 4.3 Glicoconjugados ................................................................................................... 101 4.3.1 Introdução ................................................................................................................................................. 101 4.3.2 Proteoglicanos .......................................................................................................................................... 101 4.3.3 Glicoproteínas ........................................................................................................................................... 101 4.3.4 Glicolipídios .............................................................................................................................................. 102 4.4 Carboidratos de interesse e fontes ........................................................................102 4.4.1 Dissacarídeos ............................................................................................................................................ 103 4.4.2 Homopolissacarídeos ............................................................................................................................... 103 4.4.3 Heteropolissacarídeos ............................................................................................................................. 104 4.4.4 Métodos de obtenção, purifi cação e caracterização de carboidratos ............................................. 104 Proposta de Atividade .................................................................................................105 Recapitulando ............................................................................................................105 Referências bibliográfi cas .......................................................................................... 107 BIOQUÍMICA GERAL 10 Capítulo 5 - Nucleotídeos e ácidos nucleicos Objetivos do capítulo ..................................................................................................108 Contextualizando o cenário ........................................................................................109 5.1 Nucleotídeos ......................................................................................................... 110 5.1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 110 5.1.2 Estrutura, composição e nomenclatura ............................................................................................... 111 5.1.3 Propriedades e funções ........................................................................................................................... 112 5.1.4 Desoxirribonucleotídeos e ribonucleotídeos ........................................................................................ 113 5.2 Ácidos nucléicos ....................................................................................................114 5.2.1 Introdução ................................................................................................................................................. 114 5.2.2 Características estruturais..................................................................................................................... 115 5.2.3 Química ...................................................................................................................................................... 116 5.2.4 Propriedades e funções ............................................................................................................................117 5.3 DNA ....................................................................................................................... 117 5.3.1 Introdução ................................................................................................................................................. 118 5.3.2 Composição ............................................................................................................................................... 119 5.3.3 Estrutura tridimensional ......................................................................................................................... 119 5.3.4 Propriedades e funções ........................................................................................................................... 122 5.4 RNA ......................................................................................................................123 5.4.1 Introdução ................................................................................................................................................. 124 5.4.2 Classifi cação ............................................................................................................................................. 125 5.4.3 Estrutura tridimensional ......................................................................................................................... 126 5.4.4 Propriedades e funções ............................................................................................................................127 Proposta de Atividade ................................................................................................. 127 Recapitulando ............................................................................................................128 Referências bibliográfi cas ..........................................................................................130 Sumário BIOQUÍMICA GERAL 11 Capítulo 6 - Lipídios Objetivos do capítulo ...................................................................................................131 Contextualizando o cenário ........................................................................................132 6.1 Lipídes, gorduras ou lipídios ................................................................................. 133 6.1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 134 6.1.2 Fontes de lipídios .................................................................................................................................... 134 6.1.3 Propriedades e funções ........................................................................................................................... 134 6.1.4 Estrutura química e classifi cação ......................................................................................................... 135 6.2 Lipídios saponifi cáveis ..........................................................................................136 6.2.1 Introdução ................................................................................................................................................. 136 6.2.2 Triacilgliceróis .......................................................................................................................................... 140 6.2.3 Ceras .......................................................................................................................................................... 142 6.2.4 Lipídios de membrana ............................................................................................................................. 143 6.3 Lipídios não saponifi cáveis ...................................................................................144 6.3.1 Introdução .................................................................................................................................................144 6.3.2 Propriedades e importância ................................................................................................................... 145 6.3.3 Esteróis e esteroides ................................................................................................................................ 145 6.3.4 Terpenos e terpenóides ............................................................................................................................147 6.4 Lipídios biologicamente ativos ..............................................................................148 6.4.1 Introdução ................................................................................................................................................. 148 6.4.2 Mensageiros e sinais ............................................................................................................................... 149 6.4.3 Cofatores enzimáticos ............................................................................................................................. 151 6.4.4 Pigmentos ................................................................................................................................................. 151 Proposta de Atividade ..................................................................................................151 Recapitulando .............................................................................................................151 Referências bibliográfi cas ..........................................................................................154 Sumário BIOQUÍMICA GERAL 12 Capítulo 7 - Membranas Biológicas e Transporte Objetivos do capítulo ..................................................................................................155 Contextualizando o cenário ........................................................................................156 7.1 As membranas biológicas .......................................................................................158 7.1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 158 7.1.2 Composição ............................................................................................................................................... 158 7.1.3 Arquitetura química ................................................................................................................................. 159 7.1.4 Funções ...................................................................................................................................................... 163 7.2 Bicamada lipídica ..................................................................................................164 7.2.1 Modelo do mosaico fl uido ........................................................................................................................ 165 7.2.2 Distribuição dos fosfolipídios entre as monocamadas ....................................................................... 166 7.2.3 Movimentação lipídica ..............................................................................................................................167 7.2.4 Proteínas de membrana .......................................................................................................................... 168 7.3 Transporte através de membranas .........................................................................169 7.3.1 Introdução ................................................................................................................................................. 169 7.3.2 Transportadores .........................................................................................................................................170 7.3.3 Transporte passivo ....................................................................................................................................171 7.3.4 Transporte ativo .........................................................................................................................................171 7.4 Exemplos de Transportadores ................................................................................ 173 7.4.1 Aquaporinas ................................................................................................................................................173 7.4.2 Transportadores de glicose ......................................................................................................................173 7.4.3 ATPases .......................................................................................................................................................175 7.4.4 Canais iônicos seletivos ...........................................................................................................................178 Proposta de Atividade ................................................................................................. 179 Recapitulando ............................................................................................................ 179 Referências bibliográfi cas ...........................................................................................181 Sumário BIOQUÍMICA GERAL 13 Capítulo 8 - Biossinalização Objetivos do capítulo ..................................................................................................183 Contextualizando o cenário ........................................................................................184 8.1 Mecanismos moleculares de transdução de sinais................................................. 186 8.1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 186 8.1.2 Amplifi cação do sinal sensorial ..............................................................................................................187 8.1.3 Dessensibilização e adaptação............................................................................................................... 188 8.1.4 Integração da mensagem sensorial e envio ao cérebro ..................................................................... 189 8.2 Transdutores de sinais ..........................................................................................190 8.2.1 Canais iônicos ........................................................................................................................................... 191 8.2.2 Receptores enzimáticos .......................................................................................................................... 193 8.2.3 Proteínas receptoras da membrana plasmática ................................................................................. 194 8.2.4 Mensageiros secundários .........................................................................................................................197 8.3 Mecanismos regulatórios ......................................................................................199 8.3.1 Fosforilação ............................................................................................................................................... 199 8.3.2 Regulação da transcrição por hormônios esteróides ......................................................................... 199 8.3.3 Regulação do ciclo celular por proteínas quinases ............................................................................ 200 8.3.4 Oncogenes, genes supressores e apoptose .......................................................................................... 201 Proposta de Atividade ................................................................................................ 202 Recapitulando ...........................................................................................................202Referências bibliográfi cas .........................................................................................205 Sumário BIOQUÍMICA GERAL 14 BIOQUÍMICA GERAL 15 APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO A bioquímica é uma área sensacional! Conhecendo os seus principais conceitos e apli- cações, conseguimos entender desde a origem da vida, passando por sua manutenção, em que englobamos o crescimento e desenvolvimento, até o que potencialmente pode ocorrer com nosso corpo após a morte. Com a bioquímica, podemos passear pelas nossas estruturas subatômicas e mole- culares, considerando seus isômeros e as alterações na função que isso pode acarretar. É com ela que entendemos a importância da água e do equilíbrio em nosso organismo, que elucidamos as estruturas dos aminoácidos e, a partir das ligações peptídicas e a formação das proteínas, que verifi camos a necessidade de carboidratos e lipídeos para o correto funcionamento de nossas estruturas e, por fi m, que moléculas simples como o ATP podem trazer toda a complexidade que a vida exige. Então, faço um convite, que tal descobrirmos juntos as maravilhas dos mecanismos de formação, regulação e manutenção do nosso organismo e dar a bioquímica o seu lugar de destaque nas ciências da saúde, demonstrando bioquimicamente a sua integração com as demais ciências da vida? BIOQUÍMICA GERAL 16 “Às quatro mulheres da minha vida, Lucia, Melissa, Letícia e Beatriz.” O professor João Luiz Coelho Ribas é Dou- tor em Farmacologia (2014) e mestre em Ciências Farmacêuticas (2007) pela Uni- versidade Federal do Paraná. É especialis- ta em Magistério Superior pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão – IBPEX (2006). E graduado em Farmácia com Habilitação em Análises Clínicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2004). Atuou como Analista Clínico, Coor- denador e Gestor da qualidade em labo- ratório de Análises Clínicas. Atua como Professor de Farmacologia, bioquímica e imunologia clínica na Universidade Posi- tivo, além de ser orientador no Mestrado em Biotecnologia Industrial – na área de concentração Biotecnologia em Saúde. É Coordenador de cursos de pós-graduação EAD e Presencial. Atua como Editor da Re- vista Saúde e Desenvolvimento. O autor BIOQUÍMICA GERAL 17 Objetivos do capítulo Compreender a lógica molecular da vida; Identifi car como ocorre o armazenamento e a transmissão de informações para os próximos organismos; Conhecer a complexidade da estrutura e das funções das células vivas; Assimilar as formas de obtenção e transformação de energia pelas células; Entender como elementos simples são transformados em diferentes biomoléculas, com características químicas, biológicas e estruturais diferenciadas; Saber as bases químicas necessárias para compreensão de estruturas, reações e transformações bioquímicas. BASES BIOLÓGICAS E QUÍMICAS DA VIDA • Unidade química dos organismos vivos • Produção e consumo de energia • Transferência da informação biológica BIOMOLÉCULAS • Composição química e ligações • Estrutura tridimensional • Reações químicas • Macromoléculas e suas subunidades CÉLULAS • Dimensões celulares • Células procarióticas • Células eucarióticas • Parasitas das células CÉLULAS • Dimensões celulares • Células procarióticas • Células eucarióticas • Parasitas das células CÉLULAS • Dimensões celulares • Células procarióticas • Células eucarióticas • Parasitas das células ÁGUA • Sistemas aquosos: propriedades e interações • Ionização da água • Ácidos e bases • pH e tampões TÓPICOS DE ESTUDO BIOQUÍMICA GERAL 18 Somos formados por cerca de 10 trilhões de células. Cada uma dessas células, em seu ambiente interno, onde, a partir de inúmeras moléculas, captadas ou produzidas por ela própria, interagem de forma a manter a existência e o equilíbrio individual. Essas células são infl uenciadas de forma decisiva pelo meio externo a elas, mas ainda inte- grado ao organismo. Nesse organismo, milhares de reações químicas estão ocorrendo a cada minuto; essas reações são infl uenciadas até mesmo por moléculas simples, como a água, e reguladas a partir do pH e dos nossos tampões endógenos. Assim sendo, cabe- -nos pensar, como a bioquímica interfere em nosso cotidiano e na manutenção de nosso organismo? Contextualizando o cenário BIOQUÍMICA GERAL 19 Introdução à Bioquímica1. Os fi lósofos por sua vez, concluíram certa vez que os organismos vivos são dotados de uma força vital divina e misteriosa, conhecida na épo- ca como vitalismo. Com o evoluir do conheci- mento, foi-se percebendo, cientifi camente, que essa força vital eram coleções de moléculas ina- nimadas, que interagem entre si para manter e perpetuar a vida animada, exclusivamente pelas leis químicas que regem o universo. Embora a vida seja fundamentalmente uni- tária, é importante reconhecer que pouquíssimas generalizações a respeito dos organismos vi- vos se aplicam a todos eles. A variação de aparência, função e habitat, por exemplo, é acompa- nhada por uma variação ampla de adaptações bioquímicas específi cas. Vamos acompanhar esse delicioso conhecimento e reconhecer a maravilha que a vida é, reve- lada através dos olhos da bioquímica. Bases biológicas e químicas da vida1.1 Os organismos vivos são compostos por moléculas destituídas de vida. Quando essas mo- léculas são isoladas e examinadas, individualmente, elas obedecem a todas as leis químicas e físicas que descrevem o comportamento da matéria inanimada. No entanto, quando em con- junto, e dentro de um organismo vivo, possuem atributos extraordinários e que fazem com que tenhamos a manutenção do que conhecemos como vida. Isso se deve ao grau de complexidade que possuímos, à nossa capacidade de “extrair” ener- gia do meio ambiente, à capacidade ímpar que possuímos para a autorreplicação e a automon- tagem e à capacidade de interação, característica essencial dos organismos vivos. Unidade química dos organismos vivos1.1.1 Primeiramente, para iniciarmos nossos estudos, precisamos compreender o que é a Bioquí- mica, ou, em outras palavras, a química da vida. Precisamos ter em mente que a Bioquímica es- tuda e descreve estruturas, mecanismos e processos químicos que ocorrem nos organismos, de modo a compreender a lógica molecular da vida e seus princípios de organização. BIOQUÍMICA GERAL 20 Para a existência da vida, existem características fundamentais, tais quais: • A complexidade química e organização: os organismos vivos têm estruturas celulares internas e variadas moléculas complexas. • Sistemas de transdução de energia: os organismos vivos são capazes de retirar, transfor- mar e usar a energia que há no meio ambiente. • Autorreplicação e automontagem: os organismos vivos apresentam capacidade de ori- ginar novas células idênticas quando há disponibilidade dos meios necessários. • Interação: com os arredores e entre os componentes nos diversos níveis (moléculas, or- ganelas, células, órgãos). São essas características que diferenciam um organismo vivo de um ser não vivo. Produção e consumo de energia1.1.2 As células e os organismos necessitam de energia para se manterem em funcionamento e se reproduzirem. Para isso, as células apresentam mecanismos para obter a energia solar ou retirá-la de alimentos, com objetivo de utilizá-las em diferentes processos. A bioenergética estuda as trans- formações e trocas de energia que permitem a sobrevivência dos organismos vivos. A energia vem direta ou indiretamente da luz solar e, as células que realizam fotossíntese, como as das plantas, absorvem a energia radiante solar. Após a fotossíntese, essas células produzem produtos ricos em energia, como, por exemplo, o amido e a sacarose, por meio da retirada de elétrons da água e da sua incorporação à molécula de CO2, com concomitante libe- ração de oxigênio para a atmosfera. Os organismos vivos que não realizam esse processo conseguem obterenergia por meio de rea- ções de oxidação dos produtos altamente energéticos, formados com a fotossíntese, transferindo elétrons para o O2 atmosférico e com síntese de água, CO2 e outros metabólitos. Dessa forma, percebe-se que todos os organismos vivos trocam energia e matéria através do meio ambiente. Muitas reações dos seres vivos necessitam de energia, que pode ser obtida por meio do aco- plamento com reações que produzem energia por meio do compartilhamento de intermediários químicos, denominadas endergônicas; já as reações que fornecem energia são denominadas exergônicas, e o acoplamento entre ambas permite as trocas de energia nos sistemas vivos. Nas células, a ocorrência de reações químicas se deve à presença de enzimas, compostos protéicos altamente específi cos e susceptíveis à regulação, que aceleram a velocidade reacio- nal, permanecendo intactas ao fi nal da reação, ou seja, sem serem consumidas. Normalmente, as reações biológicas estão organizadas em vias com várias reações sequenciais, nas quais um produto formado serve para a próxima reação. BIOQUÍMICA GERAL 21 Quando a sequência de reações leva à degradação de nutrientes e compostos simples para extrair energia, tem-se o catabolismo. Caso contrário, se houver uso de energia para produzir moléculas complexas a partir de precursores simples, tem-se o anabo- lismo. Ambos constituem o metabolismo, sendo o ATP o intermediário compartilhado entre eles. PAUSA PARA REFLETIR Como o autoajuste e a autorregulação entre o catabolismo e o anabolismo permitem que as célu- las mantenham equilíbrio para manutenção das células de uma forma econômica, sem degrada- ção ou síntese de produtos de forma desnecessária? Transferência da informação biológica1.1.3 Entre todas as propriedades das células e dos organismos vivos, a capacidade de reprodu- zir-se de forma fi el por inúmeras gerações é a mais considerável, sendo importante para defi - nir, individualmente, cada espécie e mantê-la por sucessivas gerações. A informação genética está contida na molécula do DNA e do RNA, na forma de sequências de nucleotídeos. Assim, com a expressão dessa informação, é possível a transferência contí- nua das características de cada espécie para as próximas gerações. Células1.2 As células são as unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos e apresentam tamanho microscópico, na casa dos micrômetros. Esse tamanho varia de acordo com cada organismo, sendo as células animais e vegetais maiores que as bacterianas. Os organismos podem ser unicelulares ou multicelulares. Os multicelulares apresentam muitos tipos de cé- lulas distintas em tamanho, formato e função, entretanto, as células das diferentes espécies apresentam certas características em comum, tais quais: • Membrana plasmática: limite externo da célula, fl exível, formada por uma bicamada lipí- dica semipermeável a íons e moléculas, bem como proteínas envolvidas no transporte, recep- ção de sinais extracelulares e enzimas. • Citoplasma: é o conteúdo celular aquoso da célula (citosol), no qual estão organelas, pro- teínas, RNA, enzimas, intermediários metabólicos e partículas em suspensão (cofatores e íons inorgânicos). BIOQUÍMICA GERAL 22 • Núcleo ou nucleóide: contém o material genético (DNA) e as proteínas associadas. Se houver envelope nuclear (membrana dupla), temos organismos eucariotos, mas, se não hou- ver, temos os procariotos (bactérias). Dimensões celulares1.2.1 A maioria das células, devido ao seu tamanho, somente são visíveis com o auxílio de instru- mentos como o microscópico. As células dos animais e das plantas geralmente têm um diâmetro de 5 a 100 µm, e muitas bactérias têm comprimento de 1 a 2 µm. Mas o que de fato pode agir para limitar as dimensões de uma célula? O limite inferior pro- vavelmente é determinado pelo número mínimo de cada tipo de biomolécula requerido pela célula. As menores células têm diâmetro de 300 nm e volume de cerca de 10–14 mL. O limite superior provavelmente é determinado pela taxa de difusão das moléculas de soluto nos sistemas aquosos. Por exemplo, uma célula bacteriana que depende de reações de consumo de oxigênio para extração de energia deve obter oxigênio molecular, por difusão, a partir do am- biente através de sua membrana plasmática. A célula é tão pequena, e a relação entre sua área de superfície e seu volume é tão grande, que cada parte do seu citoplasma é facilmente alcan- çada pelo O2 que se difunde para dentro dela. Com o aumento do tamanho celular, no entanto, a relação área-volume diminui, até que o metabolismo consuma O2 mais rapidamente do que o que pode ser suprido por difusão. Assim, o metabolismo que requer O2 torna-se impossível quando o tamanho da célula aumenta além de certo ponto, estabelecendo um limite superior teórico para o tamanho das células. O oxigênio é somente uma entre muitas espécies moleculares de baixo peso que pre- cisam difundir de fora para várias regiões do seu interior, e o mesmo argumento da razão área-volume se aplica a cada uma delas. Há exceções interessantes nessa generali- zação de que a célula é pequena. Por exemplo, a alga verde Nitella possui células gigantes de vários centímetros de comprimento. Para ga- rantir a chegada de nutrientes, de metabólitos e da informação genética para suas partes, cada célula é vigorosamente “agitada” por cor- rentes citoplasmáticas ativas. BIOQUÍMICA GERAL 23 Células procarióticas1.2.2 As células procarióticas foram as primeiras células vivas e são representadas pelas bacté- rias. Geralmente, apresentam de 1 a 10 μm. Seu citoplasma não apresenta organelas envoltas por membrana, mas contém ribossomos e nutrientes. Os ribossomos são complexos supra- moleculares nos quais a síntese protéica acontece. Nas células procarióticas, as enzimas oxidativas estão ligadas à membrana plasmática. Já o genoma está no nucleóide, não envolto por membrana, sendo composto de DNA com proteínas não-histonas. A divisão celular se dá por meio de fi ssão ou brotamento, e a nutrição ocorre por meio da absor- ção de nutrientes, sendo alguns procariontes, como as cianobactérias, capazes de realizar fotossín- tese devido à presença de clorofi la associada a extensões da membrana plasmática. Além da membrana plasmática, certas bac- térias apresentam um envelope celular exter- no, que fornece rigidez ou proteção à célula. Os fl agelos também podem estar presentes, auxiliando na propulsão celular. Células eucarióticas1.2.3 As células eucarióticas estão presentes em protozoários, vegetais, fungos, algas e animais e são maiores que as células procarióticas (5-100 μm de diâmetro). A principal diferença com os procariontes é a presença de um núcleo, com estrutura interna complexa, envolto por uma membrana dupla, além de várias organelas adicionais limitadas por membrana. Nas células eucarióticas, estão presentes mitocôndrias, cloroplastos (certas algas e plantas), retículo en- doplasmático liso e rugoso, complexo de Golgi, vesículas de transporte, endossomos e lisosso- mos (animais), entre outros. O genoma é composto de DNA complexado com proteínas histonas e não-histonas em cro- mossomos. A divisão celular ocorre por mitose, e a nutrição ocorre por meio da absorção e ingestão de nutrientes e, também, pela fotossíntese, em algumas espécies. O padrão metabó- lico não é tão variado, como nas células procarióticas, e as enzimas oxidativas estão presentes nas mitocôndrias. Além disso, apresentam citoesqueleto complexo (microtúbulos, fi lamentos intermediários e de actina, etc) e são capazes de endocitose e fagocitose. Podemos visualizar as diferenças entre as células procarióticas e eucarióticas na Fig. 1. BIOQUÍMICA GERAL 24 Membrana externa Cápsula Membrana plasmática Flagelo Centrossoma Membrana plasmática Complexo de Golgi Peroxissoma Núcleo Nucléolo Cromatina Membrana nuclear Complexo de Golgi Tonoplasto Cloroplasto MitocôndriaVacúolo central Membrana plasmática RE Liso Peroxissoma Ribossomas Centrossoma RE Rugoso Citosqueleto Microtúbulos Microfi lamentos Filamentos intermédios Microvilosidade Ribossomo Citosqueleto Microtúbulos Microfi lamentos Filamentos intermédios Núcleo Membrana nuclear Cromatina Nucléolo Retículo endoplasmático (RE) RE Rugoso RE Liso Lisossoma Mitocôndria Región nucleoide Ribosomas Pilosidad Flagelos A) CÉLULA PROCARIÓTICA B) CÉLULA EUCARIÓTICA ANIMAL C) CÉLULA EUCARIÓTICA VEGETAL Plasmodesmos Figura 1. A) Célula procariótica. B) Célula eucariótica animal. C) Célula eucariótica vegetal. Parede celular Parede da célula adjacente BIOQUÍMICA GERAL 25 Parasitas das células1.2.4 Os vírus são parasitas das células vivas e diferem em tamanho, forma e complexidade estrutural, e infectam células de bactérias (denominados bacteriófagos ou fagos), células vegetais e células animais para se replicar. Os parasitas contêm DNA ou RNA como mate- rial genético, envolvido por um capsídeo protéico ou, em alguns casos, por um envelope membranoso. Quando esses parasitas estão fora de uma célula hospedeira, são partículas sem vida, denominadas vírions, mas, quando o vírus ou o seu material genético penetra em uma célula, ele se torna um parasita intracelular, que desvia a maquinaria celular para formação de inúmeras partículas virais fi lhas. As partículas virais fi lhas podem escapar através da membrana plasmática da célula hospedeira ou promover a lise celular para se- rem liberadas, causando a morte da célula hospedeira. Biomoléculas1.3 As biomoléculas são moléculas sintetiza- das por seres vivos e que participam da es- trutura e dos processos bioquímicos dos or- ganismos. Vitaminas, carboidratos lipídeos e proteínas são constituídos por biomoléculas. As características dessas moléculas são determinadas pelos grupos funcionais que se ligam ao esqueleto carbônico, portanto, a forma como se organizam os carbonos e os grupos funcionais defi nem a estrutura tridi- mensional da molécula, conferindo-lhe carac- terísticas e funções específi cas. ESCLARECIMENTO: Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam- bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo- mavírus humano). imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam- bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo- Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da Muitos vírus são altamente patogênicos para humanos, tais como HIV (vírus da imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam- imunodefi ciência adquirida), vírus ebola e hantavírus. Doenças como herpes e herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam-herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam-herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam- bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo- herpes zóster, hepatite, infl uenza, poliomielite e mononucleose infecciosa tam- bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo-bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo-bém são causadas por vírus, além de certos tipos de câncer, como o HPV (papilo- BIOQUÍMICA GERAL 26 Além disso, as biomoléculas interagem de forma organizada e se um dos componentes sofre alguma alteração, isso afetará os outros componentes relacionados, criando uma com- pensação ou uma reação coordenada. Por exemplo, se uma enzima for alterada, toda uma cadeia de reações será afetada, deixando de produzir proteínas necessárias ou produzindo proteínas com defeito, o que condiciona o não exercício de sua função. PAUSA PARA REFLETIR Tratando-se de biomoléculas, podemos considerar a água como uma das mais importantes. Por que a água é uma das mais importantes biomoléculas contidas em nosso organismo? Composição química e ligações1.3.1 As biomoléculas são formadas principal- mente por carbono, que pode formar 4 li- gações com outros átomos. Essas ligações podem ser simples, com hidrogênio, e du- plas ou simples com oxigênio e nitrogênio. Os átomos de carbono podem, também, se ligar a outros átomos de carbono, seja por ligações simples, com até 4 carbonos, ou por ligações duplas ou triplas, sendo as ligações triplas raras nas biomoléculas. As ligações são do tipo covalente, fortes, levando à formação de cadeias lineares ou ramifi cadas, e estruturas cíclicas formadas de átomos de carbono (esqueleto carbôni- co). Essas estruturas com esqueleto carbôni- co são denominadas compostos orgânicos e englobam a maioria das biomoléculas. Gru- pos com outros átomos podem estar presen- tes para dar propriedades específi cas à mo- lécula e são chamados de grupos funcionais. Os grupos funcionais comuns em biomoléculas são mostrados na Fig. 2. Muitas biomolé- culas contêm mais de um grupo funcional, sendo polifuncionais. BIOQUÍMICA GERAL 27 Figura 2. Grupos funcionais em biomoléculas. Estrutura tridimensional1.3.2 Os átomos que formam uma molécula assumem uma posição em três dimensões no espa- ço, e esse arranjo espacial é chamado de estrutura tridimensional. Essa estrutura é extre- mamente importante para a função biológica, em conjunto com a estrutura química e grupos funcionais presentes, ou seja, a combinação entre confi guração e conformação da molécula é a estrutura tridimensional. A confi guração molecular é o arranjo espacial de uma molécula devido à presença de liga- ções duplas (ao redor das quais não há liberdade de rotação) ou de centros quirais, ao redor dos quais os grupos substituintes estão arranjados em uma sequência específi ca. Essa confi - guração só pode ser mudada se houver rompimento de ligação. Já a conformação molecular diz respeito ao arranjo espacial dos grupos substituintes, que podem adotar posições distintas no espaço, sem romper qualquer ligação, devido à rotação ao redor das ligações. Hidroxila (álcool) R O H Metila R C H H H Etila R C C H H H H H Carbonila (aldeido) R O C H Carboxila R O C OH Carbonila (cetona) R1 O C R2 Fenila R C C H H H HH C C CC Imidazol R C H HN CH N C Guanidina H H H R N N N C H Amino R N H H Amido O CR N H H Sulfi drila R S H Dissulfeto R1 S S R2 Fosforila R O P OH OH O Fosfoanidrido Êster R1 O O C R2 Anidrido (dois ácidos carboxilicos) R1 O O O C C R2 Anidrido muisto (ácido carboxilico e ácido fosfórico ou fosfato de acila) R O O OH O C P OH R1 P O O OHOH OO O P R2 Éter R1 O R2 Tioéster R1 S O C R2 BIOQUÍMICA GERAL 28 Quando moléculas apresentam a mesma fórmula molecular, temos os isômeros, que podem ser geométricos ou ópticos. A isomeria geométrica consiste em isômeros cis e trans, que se dife- renciam quanto ao arranjo dos grupos substituintes em relação a uma dupla ligação, que é rígida e não gira; portanto, eles não podem ser interconvertidos sem rompimento de ligações covalentes. Já a isomeria óptica está relacionada à presençade centros quirais, como no caso de um átomo de carbono com quatro substituintes diferentes (carbono assimétrico ou quiral). Muitas vezes, as moléculas de carbono apresentam a ordem das ligações iguais (mesma estrutura química), mas com arranjo espacial diferente entre os átomos, e são chamadas de estereoisô- meros. Se houver apenas um carbono assimétrico, são possíveis dois estereoisômeros, mas, se houver 2 ou mais (n) carbonos assimétricos, poderá haver 2n estereoisômeros. Aqueles estereoisômeros que são imagens especulares (no espelho) um do outro, cujo as imagens não se sobrepõem, são chamados enantiômeros e apresentam as mesmas proprie- dades químicas, diferindo apenas quanto à interação com a luz plano-polarizada. Os estereoisômeros que não apresentam imagens especulares são os diastereoisômeros, isômeros da mesma série que apresentam diferentes propriedades físicas e químicas e dife- rentes atividades ópticas. Portanto, a estrutura tridimensional está relacionada à conformação e à confi guração mo- lecular, e, como vimos, podem existir várias moléculas que são semelhantes estruturalmente, mas não quanto ao arranjo espacial, e isso é importante nas interações com os sistemas bio- lógicos, que exigem complementaridade total (estereoespecifi cidade). Se houver mudança na posição espacial de um dos grupamentos funcionais, a interação já não será mais possível. Exemplos biológicos clássicos incluem enzimas com seus substratos, hormônios com seus re- ceptores, ou, ainda, anticorpos com antígenos. As interações nos sistemas biológicos podem ser do tipo Van der Waals (dois dipolos se atraem fracamente, aproximando dois átomos não-carregados); dipolo-dipolo (polaridade no sentido mais eletronegativo); pontes de hidrogênio (atração eletrostática entre o oxigênio e hidrogênio); iônicas (atração e repulsão de acordo com carga negativa e positiva) e hidrofóbi- cas (entre grupos não polares, insolúveis em água). Reações químicas1.3.3 As ligações químicas nas moléculas apresentam uma força de ligação, denominada energia de ligação (calorias ou joules - 1 cal = 4,184J). Para que as reações químicas ocorram, certas ligações são quebradas e outras formadas. Dessa forma, há sempre energia envolvida, seja liberada ou consumida, levando a variações na energia livre da reação. BIOQUÍMICA GERAL 29 Nas células vivas, cinco tipos de reações são as mais comuns. São elas: • Oxidação-redução: envolvem transferência de elétrons. Na oxidação, ocorre perda de elétrons e, na redução, ocorre ganho de elétrons. Toda oxidação é acompanhada de redução e as reações de oxidação geralmente liberam energia. • Quebra e formação de ligações carbono-carbono: as quebras dessas ligações podem ser homolíticas, nas quais cada carbono mantém um dos elétrons da ligação; ou heterolíticas, nas quais apenas um dos carbonos mantém os dois elétrons da ligação (carbânion). Quando um determinado grupo rico em elétrons substitui o carbânion, ocorre uma reação de substi- tuição nucleofílica. • Rearranjo intramolecular: ocorre redistribuição de elétrons internamente na molé- cula, originando isomerização, transposição de duplas ligações e rearranjos de ligações duplas cis-trans. • Transferência de grupos funcionais: são reações que ativam, por exemplo, intermediá- rios metabólicos, por meio da ligação com um bom grupo de saída (normalmente contendo fósforo), para permitir a ocorrência da próxima reação da via. • Condensação: subunidades são conectadas para formar grandes moléculas (macromolé- culas), como no caso das proteínas, ácidos nucléicos e polissacarídeos. Macromoléculas e suas subunidades1.3.4 As macromoléculas estão presentes nos seres vivos e são moléculas de alto peso molecu- lar, de dezenas de milhares, até milhões, formadas por cadeias de subunidades ligadas entre si, como se fossem os elos de uma corrente (DNA, proteínas, polissacarídeos etc). As cadeias são os polímeros (a corrente), formados por unidades chamadas monômeros, com estrutura sim- ples (os elos), conectadas entre si. As unidades monoméricas formam um polímero e a maio- ria dos constituintes moleculares é constituída de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, unidos por meio de ligações fortes entre si. Para a síntese das macromoléculas, há um gasto energético considerável. Vejamos a parede celular das plantas, que apresenta a celulose, um carboidrato for- mado de várias moléculas de glicose ligadas, como principal constituinte. A celulose é o polímero, e as glicoses são as unidades monoméricas. Já a membrana plasmática, presente em nossas células, é formada principalmente por lipídios e proteínas, e essas proteínas são polímeros de aminoácidos conectados entre si. No núcleo de nossas células, se encontram os cromossomos, carreando nosso material genético (DNA), e polímero formado por vários nucleotídeos conectados. BIOQUÍMICA GERAL 30 Para formar nossas estruturas, é necessário primeiro que as unidades monoméricas estejam ligadas para formar os polímeros, e essas ligações são do tipo covalente. Já interações entre as macromoléculas (intermoleculares) são as responsáveis pela estrutura tridimensional e pela for- mação de complexos supramoleculares, para formar unidades funcionais, como os ribossomos. A lógica molecular da vida mostra que todos os organismos vivos produzem moléculas par- tindo dos mesmos monômeros. A função biológica de uma macromolécula está relacionada à sua estrutura, e a defi nição de gêneros e espécies depende da similaridade das macromolécu- las que os constituem. Água1.4 A água é o componente mais abundante nos organismos vivos (>70%). É uma molécula angular, não linear, polar, que interage com outras moléculas de água por meio de pontes de hidrogênio, permitindo seu estado líquido em temperatura ambiente. Sistemas aquosos: propriedades e interações1.4.1 A água é capaz de dissolver a maioria das biomoléculas, que, geralmente, são polares, per- mitindo interações água-soluto, ou carregadas eletricamente. Os compostos são chamados hidrofílicos, entretanto, se determinado composto não possuir afi nidade ou interação com a água, passa a ser hidrofóbico (não polar), com tendência a agregação em solução aquosa. Compostos com grupos funcionais, tais como ácidos carboxílicos ionizados (-COO-), aminas protonadas (-NH3 +), ésteres ou anidridos fosfóricos, são facilmente dissolvidos em água, pois as pontes de hidrogênio soluto-soluto são substituídas por pontes de hidrogênio soluto-água. Gases como CO2 e O2 são pouco solúveis em água e, por isso, são carreados por proteínas so- lúveis em sistemas aquosos, como em nosso sangue. Além dos compostos hidrofílicos e hidrofóbicos, existem compostos anfi páticos, que pos- suem regiões polares (ou carregadas) e regiões não polares, ou seja, uma porção é solúvel em água e outra não. Em solução aquosa, as porções polares interagem com a água, e as porções não polares se agregam, formando micelas, que são estabilizadas por interações hidrofóbicas. Quando um sistema aquoso apresenta solutos dissolvidos, as propriedades coligativas (pres- são de vapor, ponto de ebulição, ponto de fusão e pressão osmótica) da água são afetadas, reduzindo a concentração efetiva desta no meio. Outro ponto importante para se destacar refere-se ao movimento da água, de uma região onde está presente em maior concentração efetiva para uma região de menor concentração, BIOQUÍMICA GERAL 31 produzindo uma pressão osmótica, quando separadas por uma membrana semipermeável. Esse movimento da água, impelido por diferenças na pressão osmótica, é denominado os- mose e é essencial na manutenção da vida celular (água e membranas plasmáticas). Soluções com mesma osmolaridade são denominadas isotônicas, e não há movimento de água entre elas se estiverem separadas por membrana, ou seja, não entra nem sai água de uma célula. Caso uma célula esteja em uma solução com maior osmolaridade(hipertôni- ca), ela murcha por perda de água para a solução hipertônica; se estiver em uma solução de menor osmolaridade (hipotônica), a célula incha por receber água e pode até se romper (lise osmótica), se não estiver protegida por uma parede rígida ou outros mecanismos de manu- tenção de osmolaridade. Convém aqui ressaltar que o efeito dos solutos na osmolaridade depende do número de partículas dissolvidas e não de suas massas. Portanto, uma macromolécula terá menor efeito na osmolaridade do que uma massa igual de seus monômeros. Em termos práticos, é por isso que armazenamos macromoléculas, como o glicogênio, em vez de suas subunidades monoméricas, no caso a glicose. Ionização da água e pH1.4.2 A água pura, além das propriedades já listadas como solvente, ainda sofre pequena ionização em íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-) no meio, conforme a reação a seguir: H2O H + + OH Essa é uma reação reversível, descrita por uma constante de equilíbrio (Keq), que é defi nida em termos da concentração de reagente e produtos presentes no equilíbrio: Keq = [H +] . [OH-] [H2O] A Keq apresenta valor fi xo e característico em uma temperatura específi ca. A água pura a 25 ºC apresenta [H2O] = 55,5M. Ao se substituir esse valor na expressão anterior, temos: Keq = [H +] . [OH-] 55,5 . Keq = [H +] . [OH-] Kw 55,5 Sendo que Kw refere-se a (55,5 . Keq), correspondendo ao produto iônico da água a 25°C. O valor conhecido de Keq da água a 25°C é de 1,8.10-16M, e podemos substituí-lo na equação an- terior, obtendo-se o Kw. BIOQUÍMICA GERAL 32 55,5 . Keq = Kw Kw = 55,5 . 1,8 . 10 -16 = 1,0 . 10-14 M2 Como também Kw = [H +] . [OH-], a 25°C: [H+] . [OH-] = 1,0 . 10-14 M2 ou [H+] . [OH-] = [1.10-7M] . [1.10-7M] Como na água pura, as concentrações de [H+] e [OH -] são exatamente iguais, tem-se pH neutro: [H+] = [OH-] pH neutro = 7,0 [H+] = [OH-] = 1.10-7M Caso [H+] > [OH-], tem-se um pH ácido. E se [H+] < [OH-], tem-se um pH básico (alcalino). O Kw, ou produto iônico da água, entre as concentrações de 1 M de H + e 1 M de OH-, serve como base para definir a [H+] (concentração de H+) relacionada ao pH do meio. E também de OH- livre na solução aquosa. pH é o termo utilizado para definir potencial de hidrogênio, ou seja, a concentração de H+ livre na solução, tanto que ele é definido como: pH = log 1 = - log [H+] [H+] pH= - log 1.10-7 = log 1 + log 107 = 0 + 7 = 7 (pH neutro) Concomitantemente, pOH é utilizado para determinar a alcalinidade da solução, de maneira semelhante: pOH = log 1 = - log [OH-] = 7 (pH neutro) [OH-] A soma de pH e pOH sempre resultará em 14. Seguindo cálculos semelhantes, pode-se cal- cular a concentração de H+ e OH- nas mais variadas soluções e atribuir um valor que varia de 0 até 14, como mostra a Tabela 1. Observe que os valores de pH apresentam relação direta com as concentrações de H+ de uma solução aquosa e, portanto, não são aleatórios. É importante observar que a escala de pH é expressa em logaritmo, e que a variação de uma unidade equivale a uma diferença na concentração de H+ de aproximadamente dez vezes. BIOQUÍMICA GERAL 33 [H+] pH [OH-] pOH 100 0 10-14 14 10-1 1 10-13 13 10-2 2 10-12 12 10-3 3 10-11 11 10-4 4 10-10 10 10-5 5 10-9 9 10-6 6 10-8 8 10-7 7 10-7 7 10-8 8 10-6 6 10-9 9 10-5 5 10-10 10 10-4 4 10-11 11 10-3 3 10-12 12 10-2 2 10-13 13 10-1 1 10-14 14 100 0 Tabela 1. Escala de pH e pOH CURIOSIDADE: A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e dissolução de ele- mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- sal, além de ser o fator primário de defi nição das complexas estruturas espaciais das macromoléculas. mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e dissolução de ele- mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer-mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- sal, além de ser o fator primário de defi nição das complexas estruturas espaciais A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e dissolução de ele- mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e dissolução de ele- mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- sal, além de ser o fator primário de defi nição das complexas estruturas espaciais A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e dissolução de ele- mentos intra e extracelulares, por isso, ela é conhecida como um solvente univer- Ácidos e bases1.4.3 A maioria das soluções aquosas, incluindo os fl uidos dos seres vivos, apresenta pH diferente de 7, ou seja, não são soluções neutras, com a mesma concentração de H+ e OH-. E a medida do pH é bastante comum pela sua importância em Bioquímica, pois o pH afeta a estrutura tri- dimensional das macromoléculas e sua atividade nos sistemas biológicos. As variações de pH no sangue ou urina podem estar relacionadas a patologias. Para medirmos o pH de determinada solução, usamos certos corantes que mudam de cor de acordo com a concentração de H+ do meio. Alguns exemplos clássicos são a fenolftaleína, o alaranjado de metila e o vermelho de fenol. Outra forma de se medir o pH é por meio de um equipamento denominado pHmetro. Quando uma solução apresenta pH maior que 7, com predomínio de OH-, ela é alcalina (básica), como no caso de alvejantes e solução de bicarbonato de sódio. Caso contrário, se o BIOQUÍMICA GERAL 34 pH for menor que 7, com predomínio de H+, é uma solução ácida, como no caso do vinagre, suco de limão ou suco gástrico. Observe alguns exemplos do pH de diferentes compostos na Fig. 3: 10-14 14 Soda cáustica 10-9 9 Pasta de dente 10-4 4 Suco de tomate, Pão branco 10-13 13 Limpa forno 10-8 8 Bicarbonato, Água do mar, Sangue, Maçã, Amêndoas, Cenoura, Tomate, Repolho 10-3 3 Suco de uva, Suco de laranja, Marisco, Macarrão, Queijo, Pastel, Refrigerante 10-12 12 Água e sabão 10-7 7 Água pura 10-2 2 Suco de Limão, Vinagre 10-11 11 Amoníaco doméstico, Água lonizada, Água sanitária 10-6 6 Urina, Leite, Suco de frutas, A maioria dos grãos, Chá, Ovos, Peixe 10-1 1 Suco gástrico 10-10 10 Leite de magnésia, Aipo, Alface, Chá verde, Azeite de Oliva, Brócolis, Espinafre 10-5 5 Chuva ácida, Café, Feijão cozido, Açúcar, Galinha, Cerveja 1 0 Ácido de bateria Figura 3. pH de diferentes compostos. Sabendo-se as definições iniciais, podemos diferenciar bases e ácidos. As bases possuem pH>7 e os ácidos pH<7. Ambos podem ser fortes e fracos. Tanto bases como ácidos fortes estão completamente ionizados em soluções aquosas diluídas, alterando significativamente o pH do meio. Bases fortes incluem NaOH e KOH, e são aquelas que liberam OH- em sua totalidade no meio, aumentando bastante o pH da solução. Já os ácidos fortes liberam totalmente o H+ que está em sua estrutura, reduzindo muito o pH do meio, como no caso de HCl, HNO3 e H2SO4. As bases fracas e os ácidos fracos não estão completamente ionizados quando dissolvidos, liberam parcialmente OH- ou H+, respectivamente, ou seja, dissociam-se pouco e, por isso, o efeito se manifesta fracamente sobre o pH da solução aquosa. Os ácidos e bases fracos são importantes nos sistemas biológicos, no metabolismo e sua regulação. Ácidos são doadores de prótons e bases são aceptoras de prótons. Um doador de prótons e seu aceptor formam um par ácido-base conjugado, representado pela equação: HA H+ + A- BIOQUÍMICA GERAL 35 Onde HA é um ácido qualquer, A- é sua base conjugada H+ é o próton liberado. Nesse caso, a constante de equilíbrio é denominada constante de dissociação (Ka). Quanto mais forte o ácido, maior sua Ka, maior sua tendência em dissociar seu próton, emenor é seu pKa (-log Ka). O pKa é defi nido como o pH onde as concentrações do doador e do aceptor de prótons são iguais, sendo um parâmetro fundamental quando se fala em tampões. pH e tampões1.4.4 Agora que já compreendemos o que é o pH de uma solução e como ele se relaciona com ácidos ou bases, podemos partir para sua infl uência nas reações químicas, na estrutura ce- lular e no organismo. A concentração de H+ pode interferir diretamente na ionização das moléculas, incluindo as proteínas. Essa diferença na ionização pode afetar a função das moléculas na célula, no san- gue, e em diversas outras partes do corpo. Por isso, o controle da concentração de H+, ou seja, do pH, é fundamental para assegurar a estabilidade das moléculas, possibilitar que as reações químicas aconteçam e manter a atividade enzimática, além de algumas atividades biológicas, como a atividade cardíaca, a atividade pulmonar, a do sistema nervoso e a de todos os tecidos. Portanto, é necessária a existência de tampões, ou seja, sistemas de ácidos e bases que pos- sam liberar e segurar prótons, evitando variações bruscas de pH (NELSON; COX, 2014). O valor de pKa corresponde ao valor de pH quando a concentração de ácido e de base conjugada está exatamente igual. Isso é importante para determinar a região de varia- ção do pH de uma solução, a chamada região de tamponamento. Ela vai de 1,0 ponto acima até 1,0 ponto abaixo do valor de pKa do ácido. Em termos práticos, uma solução ácido-base dentro dessa região de tamponamento protege a solução contra variações drásticas de pH. Para manter o pH dos compartimentos do organismo, é necessário que o meio aquoso possua um ou mais tampões. Os tampões são soluções que possuem um ácido fraco e base conjugada em proporções defi nidas e, por isso, conseguem manter o pH com poucas va- riações. Além disso, quando está em sistema aquoso, essa solução tende a resistir a peque- nas adições de ácido ou base, mantendo o pH mais estável. BIOQUÍMICA GERAL 36 A análise da curva de titulação de uma solução tampão mostra que, se o pH da solução estiver dentro dessa faixa, pequenas adições de H+ ou OH- têm pouco efeito sobre o pH em relação ao que acontece com a adição da mesma quantidade fora dessa zona. O Gráfi co 1 apresenta a curva de titulação de uma solução tampão. Perceba que ela tem um local relativamente plano. Essa é a região de tamponamento, que resulta do equilíbrio entre duas reações reversíveis e ocorre em uma solução com proporções que variam de 1:10 até 10:1 do doador e do aceptor de prótons. EXEMPLO: Um exemplo é o sistema tampão fosfato, que para a ionização do ácido H2PO4, na base conjugada HPO4 2, apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão controla o pH desde 7,86 até 5,86, ou seja, de 1,0 ponto acima até 1,0 ponto abaixo do pKa, conforme indicado anteriormente. Um exemplo é o sistema tampão fosfato, que para a ionização do ácido H2PO , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão controla o pH desde 7,86 até 5,86, ou seja, de 1,0 ponto acima até 1,0 ponto abaixo Um exemplo é o sistema tampão fosfato, que para a ionização do ácido H , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão controla o pH desde 7,86 até 5,86, ou seja, de 1,0 ponto acima até 1,0 ponto abaixo 4, na , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão , na , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão , apresenta um pKa de 6,86, o que signifi ca que esse tampão controla o pH desde 7,86 até 5,86, ou seja, de 1,0 ponto acima até 1,0 ponto abaixo Gráfi co 1. Curva de titulação da solução tampão acetato O Gráfi co 1 explica como uma solução tampão funciona: quando o pH tende a baixar, devido à produção excessiva de ácido, a base segura prótons, ocasionando uma alteração mínima no pH; da mesma forma, quando o pH tende a subir, devido à eliminação excessiva de H+, o ácido libera prótons para baixar o pH, também ocasionando uma alteração mínima. É importante verifi car que, para cada ácido (HA) e sua base conjugada (A–), existe um pKa diferente e, por consequência, uma região na qual esse tampão é efetivo. Além disso, se um ácido possui mais do que um hidrogênio ionizável, cada forma química apresenta um pKa dife- Percentagem titulada OH- Adicionado (Equivalentes) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 0 1 2 5 6 7 8 9 Região de tamponamento pH 5,76 pH 3,76 pH [CH3COOH] = [CH3COO-] CH3COO- CH3COOH 500 100% pH = pKa = 4,76 Fonte: NELSON; COX, 2014. (Adaptado). BIOQUÍMICA GERAL 37 rente. A conservação do pH nos líquidos corporais é fundamental para a preservação da vida. Para manter o pH fisiológico, que na maioria dos seres vivos está em torno de 7,0, existem vários tipos de substâncias. Grandes mamíferos não toleram variações no pH dos líquidos corporais, em especial do sangue. No ser humano, por exemplo, o pH sanguíneo pode variar apenas entre 7,35 e 7,45. Outro exemplo é o pH do sangue arterial dos cães, que sofre variação entre 7,451 e 7,463. Para ter uma ideia melhor sobre os pHs em compartimentos corporais dos seres humanos, analise a Tabela 2 e observe que, quanto maior a concentração de H+ livre, menor o pH. Um excelente exemplo é o suco gástrico, que contém ácido clorídrico (HCl), um ácido forte e que libera grande concentração de próton, deixando a solução com pH ácido. Concentração de H+ (mmol/L) pH Suco gástrico 160 0,8 Urina 3,0 × 10-2 a 1,0 × 10–5 4,5 a 8,0 Líquido intersticial 4,5 × 10–5 7,35 Sangue pobre em O2 4,5 × 10–5 7,35 Sangue rico em O2 4,0 × 10–5 7,4 Tabela 2. pH e concentração de H+ em compartimentos corporais A manutenção do pH correto para cada compartimento corporal, como o citosol da célula ou o lúmen do estômago, é muito importante para a manutenção da homeostase do organis- mo. Por esse motivo, cada compartimento possui um ou mais sistemas tampões. Proposta de Atividade Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um mapa conceitual, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu mapa conceitual, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Fonte: HALL, 2011. (Adaptado). BIOQUÍMICA GERAL 38 Recapitulando Iniciamos nossos estudos mostrando que, para a existência de um ser vivo, é necessário que compostos químicos simples, de diferentes naturezas e características, sejam ligados e transformados em macromoléculas complexas, organizadas em níveis supramoleculares que permitam a integração nos diversos níveis, interação com os arredores e manutenção da vida. A vida só é possível se um ser conseguir obter energia, transformá-la por meio de reações químicas e usá-la em seus processos celulares. Além disso, a continuidade da sua existência é permitida por meio da transferência da sua informação genética. Observamos que a água é fundamental para a vida e está diretamente envolvida em to- dos os processos bioquímicos que governam sua manutenção. Além de servir como solven- te, a água ainda sofre processo de ionização no meio em que se encontra, sendo importante para a definição do pH (concentração de H+). Esse conceito é bastante relevante, pois temos compostos e fluidos biológicos com di- ferentes pHs, sejam ácidos ou bases, e a interação entre esses compostos e os sistemas biológicos deve permitir a manutenção da estrutura das diferentes macromoléculas para seu funcionamento adequado. Isso é possível em virtude dos sistemas tampões, que evitam alterações bruscas no pH dos meios biológicos. E dessa forma, mantém-se a vida. E se referindo especificamente à água, ela é considerada umas das mais importantes bio- moléculas, pois é responsável por 70% do peso total de uma célula. Além de ser
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