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1 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Profa. Esp. Ana Flávia Prévide Raymundo RESUMO As cardiopatias congênitas nos cães e gatos compreendem afecções decorrentes de falhas no desenvolvimento embrionário, podendo ser hereditárias ou não. Autores relatam que as causas podem estar relacionadas com fatores genéticos, fármacos teratogênicos ou agentes infecciosos. Entre as anormalidades destacam-se a persistência do ducto arterioso (PDA), tetralogia de Fallot (TF), estenose aórtica (EA), estenose pulmonar (EP) e defeitos no septo interventricular. A PDA é a cardiopatia congênita mais comum em cães, mais relatada em fêmeas e em raças puras como Maltês, Poodle Miniatura e Toy, Spitz Alemão e Yorkshire Terrier. Outros autores também relatam a ocorrência em Chihuahua, Pastor de Shetland, Springer Spaniel Inglês, Keeshound e Bichon Frisé. Nos gatos o acometimento é muito baixo, sendo rara ou infrequente. O ducto arterioso é derivado do sexto arco aórtico, que liga a artéria pulmonar à artéria aorta descendente, desviando o sangue oxigenado dos pulmões colapsados na vida fetal para a aorta. Sua parede é composta por músculo liso (98%) e fibras elásticas. Quando há uma maior distribuição de fibras elásticas e estas intercalam com a musculatura, a oclusão do ducto não acontece, tendo a PDA. O quadro clássico é caracterizado por desvio da esquerda para a direita (da aorta para o tronco pulmonar), causando dilatação e hipertrofia do ventrículo esquerdo por sobrecarga de volume, e, consequentemente, resultando em insuficiência cardíaca congestiva esquerda (ICCE) e edema pulmonar. Os sinais mais comuns são tosse e/ou dispneia pelo edema, intolerância ao exercício e retardo no crescimento. Se a pressão na artéria pulmonar for maior ou próxima da pressão na aorta devido à pressão arterial pulmonar ser maior que a pressão arterial sistêmica, o fluxo é desviado da direita para a esquerda (do tronco pulmonar para aorta), levando ao quadro de PDA reverso (PDAr), considerado mais grave, porém mais raro. Essa forma geralmente é encontrada em animais com mais de 6 meses e apresentando hipoxemia grave, intolerância ao exercício, Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 2 cianose das mucosas caudais (peniana ou vaginal), convulsão e síncope. Entre os exames complementares que podem ser solicitados está o ecocardiograma com auxílio do doppler para diagnóstico definitivo. Nele é possível determinar o comprometimento hemodinâmico da afecção pela visualização do fluxo sanguíneo turbulento na saída da aorta e entrada da artéria pulmonar. Na radiografia é possível determinar graus de cardiomegalia (principalmente em átrio e ventrículo esquerdo) e congestão de veias pulmonares em casos de ICC. Através do traçado do eletrocardiograma é possível ver arritmias supraventriculares, complexos atriais prematuros e fibrilação atrial em casos graves. O exame de angiocardiografia mostra o desvio de fluxo no ducto. O tratamento da PDA é cirúrgico nos casos de desvio da esquerda para direita. Quando o desvio é da direita para esquerda a cirurgia é contraindicada devido à insuficiência direita aguda que ocorre, levando o paciente à morte. A estabilização do paciente em ICC é fundamental antes da realização da cirurgia. Nesse quadro opta-se pelo uso de diurético (furosemida) e inibidores de enzima conversora de angiotensina (iECA) que causam vasodilatação. Essa prescrição deve ser cuidadosa para não causar hipotensão. Em caso de fibrilação atrial é indicado uso de inotrópicos positivos, como a digoxina. O uso de inibidores de prostaglandinas não apresenta eficácia em cães e gatos. A cirurgia de ligadura do ducto tem se mostrado efetiva em pacientes de 8 a 16 semanas de vida e pode ser feita pela técnica padrão ou pela técnica de Jackson, e também a ligadura por Toracoscopia. O prognóstico é favorável para pacientes jovens e que passam pela cirurgia corretiva, adultos assintomáticos ou os que não apresentam ICC. Para animais com fibrilação atrial ou ICC o prognóstico passa a ser desfavorável mesmo se for feita a cirurgia corretiva. A TF é uma cardiopatia congênita que combina 4 defeitos: defeito de septo interventricular levando à comunicação interventricular; dextroposição da artéria aorta; obstrução da via de saída do ventrículo direito (estenose da valva pulmonar); e hipertrofia do ventrículo direito. Existe uma predisposição racial para a TF, como Bulldog Inglês, Poodle, Schnauzer, Fox Terrier, Collie, Pastor de Shetland e o Keeshond, sendo neste último relatado efeito poligênico autossômico recessivo. Em gatos a patologia é citada como incomum, porém é a mais encontrada na espécie se tratando de malformações congênitas que levam ao quadro de cianose. As manifestações clínicas se apresentam antes de Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 3 1 ano de vida na maioria dos animais, sendo eles dispneia, fraqueza, intolerância ao exercício, retardo no crescimento, hipoxemia, que leva o paciente ao quadro de cianose generalizada mesmo em repouso por desvio de fluxo sanguíneo em virtude do defeito do septo interventricular e pela estenose da valva pulmonar, e síncope. O diagnóstico é iniciado pelo histórico do paciente, juntamente com os sinais clínicos e a raça. No hemograma tem-se aumento no hematócrito gerando um quadro de policitemia secundária, ocasionando crises convulsivas. Nota-se sopro sistólico na valva pulmonar durante auscultação cardíaca, porém, em alguns casos este pode não ser auscultado devido à hiperviscosidade sanguínea causada pela policitemia. Na radiografia é evidenciado aumento do ventrículo direito, dilatação da artéria pulmonar e hipoperfusão pulmonar. O eletrocardiograma mostra sobrecarga do ventrículo direito e alteração em onda S. Arritmias são incomuns. Na ecocardiografia é possível evidenciar efeitos estruturais no coração como a hipertrofia do ventrículo direito e um fluxo sistólico turbulento saindo do ventrículo direito e entrando na artéria aorta se realizado com o Doppler. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico (ambos paliativos) ou fazer a correção cirúrgica definitiva. O tratamento clínico paliativo consiste no uso de betabloqueadores adrenérgicos (propranolol; atenolol) para aumentar o fluxo de sangue pela artéria pulmonar, prevenindo a hipoxemia. Não é indicado uso de iECA ou qualquer vasodilatador. A cirurgia paliativa de Blalock-Taussig é o procedimento mais realizado. A finalidade é melhorar a oxigenação da circulação pulmonar (reduzindo a hipoxemia). Na cirurgia corretiva o septo interventricular e defeitos da valva e da artéria pulmonar são reparados, porém o procedimento é raro de ser feito. Quando há uma obstrução na saída de sangue do ventrículo esquerdo para a artéria aorta, tem-se um quadro de EA. Quando essa obstrução está na saída de sangue do ventrículo direito para a artéria pulmonar, o quadro é de EP. Entre as raças descritas estão Terra-nova e Boxer (incidência de EA ou EP), Rottweiler, Golden Retriever e Pastor Alemão (incidência de EA), Bulldog Inglês, Chihuahua, Samoieda, Schnauzer miniatura, Basset Hound, Chow Chow, Cocker Spaniel e Jack Russell Terrier (incidência de EP). Em Beagles a EP foi descrita com padrão poligênico, enquanto nos gatos a etiologia é desconhecida. Muitos animais com EA e EP podem permanecer assintomáticos por um longo tempo, principalmente jovens. Quando desenvolvem sintomatologia, estas Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 4 dependem do grau de estenose. Em ambas a sintomatologia é está relacionadacom baixo débito cardíaco, como intolerância ao exercício e síncope. Na EA também é descrito fraqueza, e dispneia quando o animal apresenta edema pulmonar. A morte súbita pode ocorrer em pacientes com obstruções graves e quando são assintomáticos. Ascite e efusão pleural podem ocorrer por insuficiência cardíaca congestiva direita, porém não é um quadro comum. Os exames solicitados para diagnóstico destas patologias podem ser a radiografia, o eletrocardiograma e o ecocardiograma com auxílio do Doppler. Estudos relacionam a correção cirúrgica de EA com o mesmo tempo de sobrevida da terapia medicamentosa, optando-se pelo uso da medicação para reduzir o trabalho do coração e melhorar o relaxamento do miocárdio, além de controlar arritmias ventriculares. Essa terapia é feita com uso de betabloqueadores, como o atenolol, para os animais com hipertrofia concêntrica moderada, intolerância ao exercício, arritmia e síncope. Pode-se associar o diltiazem (bloqueador do canal de cálcio) também, mas a resposta ainda não está muito bem elucidada. Nos casos de EP a resposta a cirurgia é bem mais favorável quanto à melhora do paciente e tempo de sobrevida. Também pode-se fazer terapia medicamentosa com betabloqueadores com o mesmo objetivo usado na EA. O septo ventricular é responsável por separar os ventrículos direito e esquerdo, evitando que a circulação sistêmica misture com a pulmonar. A má formação na vida embrionária ocasiona a comunicação entre os ventrículos, patologia chamada de comunicação interventricular. É mais comum nos gatos, não tendo nenhuma predisposição racial estabelecida. Quando o defeito é pequeno, o animal pode ser assintomático devido ao pouco volume de sangue que é misturado, ou podem apresentar sopro e serem predispostos à endocardite. Porém, se o defeito for maior o sopro é de alta intensidade e a sobrecarga de volume sanguíneo desviado pode resultar em dilatação ventricular esquerda. Os sinais geralmente são tosse, intolerância ao exercício e dispneia por edema pulmonar. Quadros de insuficiência cardíaca congestiva esquerda também é relatado como manifestação comum. O diagnóstico é feito com base no histórico do paciente, juntamente com os sinais e exame clínico (sopro), exames complementares como radiografia, eletrocardiograma e ecocardiografia. A modalidade de tratamento vai depender da gravidade da patologia. Não é instituída terapia medicamentosa para Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar Meu PC Destacar 5 pacientes que não apresentam dilatação das câmaras, e se a lesão for pequena, pode ocorrer fechamento espontâneo até 2 anos de vida. Como prescrição medicamentosa são instituídos inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA). Para ICCE inclui-se diurético, e ainda pode ser necessário suporte inotrópico (como a digoxina). A cirurgia de correção definitiva é indicada em defeitos extensos, porém envolve circulação extracorpórea, sendo os riscos mais elevados. A implantação de próteses intracardíacas oferece menos riscos ao paciente, porém seu custo é elevado.
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