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EFEITOS DO AMBIENTE EM ALGUMAS CARACTERÍSTICAS FOTOSSINTÉTICAS DE FOLHAS DE CAESALPINEA ECHINATA LAM., CAESALPINIACEAE Stella A.1; Valle, V.2; Mielke, M. S.3 RESUMO Foi realizado um experimento com o objetivo de comparar os valores da taxa fotossintética máxima (Amax), da condutância estomática (gs) e estimar o tempo mínimo para a obtenção de Amax em folhas de sombra e sol de Caesalpinea echinata, após um período de 12 horas no escuro. Foram coletadas folhas de seis árvores; sendo uma emergente (capoeira, sol), duas do estrato intermediário do dossel (meia-sombra) e três do sub-bosque (sombra). Após a coleta, foram tomadas medidas morfométricas das folhas. As análises de trocas gasosas foram realizadas após pernoite em condições de elevada umidade atmosférica, com o objetivo de as folhas atingirem a turgescência máxima. Verificou-se que o tempo de 15 minutos foi insuficiente para as folhas de sol atingirem Amax, ao passo que este tempo foi quase suficiente para as folhas de sombra. As folhas de sombra apresentaram valores de Amax entre 4 e 6 µmol CO2 m2 s-1, enquanto que as de meia-sombra e sol apresentaram valores entre 10 e 12 µmol CO2 m2 s-1. Os valores de gs e Amax foram proporcionais para todas as folhas analisadas. Com relação às medidas morfométricas, observou-se que, em geral, folhas de sol e de sombra apresentaram número semelhante de folíolos e foliolíolos, ao passo que, as folhas de sol apresentaram comprimento e largura dos foliolíolos ligeiramente inferiores às folhas de sombra. PALAVRAS CHAVES: pau-brasil, Caesalpinea echinata, trocas gasosas, taxa fotossintética máxima, condutância estomática, sol/sombra, Mata Atlântica, Serra do Teimoso, Jussari. INTRODUÇÃO A troca de energia e de matéria no dossel de florestas tropicais ocorre primariamente através da superfície foliar. A copa das árvores, entretanto, é composta por muitas folhas e a extrapolação dos processos que ocorrem ao nível foliar para toda a copa é complexa e requer cuidado. Isso ocorre devido ao fato de que a estrutura das copas das árvores proporciona 1 Engenheiro Florestal, Pós-graduação em Biologia Vegetal - Univ. Estadual de Campinas 2 Graduação em Agronomia – Univ. Estadual de Santa Cruz 3 Eng. Agrônomo, Doutor em Fisiologia Vegetal, Depo de Ciências Biológicas - Univ. Estadual de Santa Cruz condições ambientais distintas para as folhas. Além disso, a fotossíntese apresenta respostas não lineares em relação aos fatores abióticos envolvidos no processo, como luz, temperatura e umidade do ar (Holbrook e Lund, 1995). Em baixos níveis de intensidade luminosa a taxa fotossintética varia em proporção direta com o aumento da radiação incidente na superfície foliar. No entanto, a partir do ponto de saturação de luz, conforme aumenta a intensidade luminosa, a taxa fotossintética, ou aumenta lentamente, ou estabiliza. A taxa fotossintética no ponto de saturação de luz, varia entre 2 a 7 µmol CO2 m2 s-1, e 10 a 15 µmol CO2 m2 s-1, em folhas de sombra e sol, respectivamente (Larcher, 1995; Lüttige, 1997; Lambers, Chapin e Pons, 1998). Medições de parâmetros de trocas gasosas, como fotossíntese e condutância estomática, no dossel de florestas tropicais úmidas, as quais são caracterizadas por elevada biodiversidade e presença de árvores de grande porte, são geralmente onerosas, devido a necessidade da construção de torres de acesso, além de exigirem elevado esforço amostral. Nesse sentido, procedimentos metodológicos que permitam a avaliação das trocas gasosas em folhas destacadas, coletadas por meio de técnicas de escalada artificial em árvores, surgem como alternativas para estudos de fotossíntese no dossel de florestas tropicais úmidas. Este trabalho teve como objetivo comparar os valores da taxa fotossintética máxima e da condutância estomática em folhas destacadas de Caesalpinea echinata, crescendo em condições de sub-bosque, estrato intermediário e topo do dossel; bem como estimar o tempo mínimo para a obtenção da taxa fotossintética máxima em folhas de sombra e sol. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi desenvolvido na Reserva do Particular do Patrimônio Natural da Serra do Teimoso, localizada no município de Jussari (15°12’S e 39° 29’W), Bahia. A área pode ser caracterizada como transição entre floresta úmida nos topos de morros e semidecídua para a base. Foram coletadas folhas de pau-brasil (Caesalpinea echinata Lam., Caesalpinaceae), em diferentes estratos de dois ambientes distintos (capoeira e mata). Foram selecionadas apenas as folhas completamente expandidas, maduras e, preferencialmente, com ausência de danos visuais causados por pragas e doenças. A coleta foi realizada com auxílio de podão ou tesoura de poda; sendo coletadas folhas de seis plantas, crescendo em diferentes ambientes, conforme descrito na Tabela 1. No dia anterior à realização das medições de trocas gasosas, foram coletadas entre 5 a 10 folhas por árvore. No laboratório de apoio, as folhas selecionadas foram colocadas num dessecador com água por 12 horas (pernoite), para atingir a turgescência máxima. Na manhã seguinte foram realizadas as análises de trocas gasosas, utilizando-se o medidor de fotossíntese LI 6400 (Li-Cor, USA), equipado com uma fonte de luz artificial 6400-02B RedBlue #SI-925, proporcionando um valor de radiação fotossinteticamente ativa de 1500 µmol fótons m-2 s-1. Com a finalidade de verificar o tempo de exposição necessário para se obter os valores da taxa fotossintética máxima (Amax) e da condutância estomática ao vapor de água (gs), em folhas de sol e de sombra, para as plantas 1A e 2S, foram testados os intervalos de tempo para indução da fotossíntese de 15 e 30 minutos. Para cada folha foram registrados o número de folíolos e número, largura e comprimento de foliolíolos. Foi adotado delineamento experimental totalmente ao acaso, com seis plantas (tratamentos) e três folhas (repetições) por planta. Os resultados foram apresentados na forma de gráficos, com base nas médias e desvios padrões. RESULTADOS O período de tempo de 15 minutos foi insuficiente para as folhas de pleno sol atingirem a taxa fotossintética máxima (Amax), (figura 1A e 1C), ao passo que para as plantas de sombra ou meia sombra este tempo foi muito próximo ao necessário para atingir este valor (figura 1B e 1D). Nas folhas da planta 1A, os valores da taxa fotossintética medidos 1, 15 e 27 minutos após o início das medições foram de 0,82 ± 1,19, 9,59 ± 0,12 e 12,20 ± 0,90 µmol CO2 m-2 s-1, respectivamente. Indicando incrementos expressivos, na ordem de 1070% e 27%, entre 1 e 15 minutos, e 15 e 27 minutos, respectivamente. Nas folhas da planta 2S, por outro lado, os valores da taxa fotossintética medidos 1, 15 e 30 minutos após o início das medições foram de 2,58 ± 0,18, 4,98 ± 0,18 e 5,59 ± 1,02 µmol CO2 m-2 s-1, respectivamente. Indicando incrementos na ordem de 93% e 12%, entre 1 e 15 minutos, e 15 e 30 minutos, respectivamente. Foi observado que os maiores valores de condutância estomática ocorreram para as plantas que apresentaram maiores valores de taxa fotossintética máxima e os menores para aquelas com menores taxas (figura 1). Valores elevados de gs, observados até, aproximadamente, 4 a 5 minutos (figura 1b, 1c e 1d) foram originados da presença de pequenas gotas de água na superfície das folhas, decorrentes da metodologia empregada para a hidratação das mesmas. Os valores máximos de gs para as plantas 1A e 2S foram de 0,25 ± 0,04 e 0,12 ± 0,05 mol H2O m-2 s-1, respectivamente. Nesses casos, as diferenças percentuais entre os valores medidos aos 15 e 30 minutos foram de 87 e 20%, para as plantas 1A e 2S, respectivamente. Comparando os valores de Amax e gs entre as plantas analisadas (figura 2a e 2b), observa-se que os maiores valores foram obtidos nas plantas cujas copas encontravam-senas porções intermediária ou superior do dossel; sendo importante salientar os resultados obtidos na planta 3A, estrato intermediário (ver Tabela 1), cujos valores de Amax e gs, obtidos após 15 minutos, foram muito semelhantes aos valores dessas variáveis obtidos após 30 minutos na planta 1A. Com relação às medidas morfométricas das folhas, observou-se que, em geral, folhas de sol e de sombra apresentaram número semelhante de folíolos e foliolíolos, ao passo que, as folhas de sol apresentaram comprimento e largura dos foliolíolos ligeiramente inferiores às folhas de sombra (figuras 3 e 4). Observou-se também uma elevada correlação entre o comprimento e a largura dos folíolos (figura 4), indicando que as folhas das plantas cujas copas encontravam-se em condições de sombra apresentaram maior área foliar individual. DISCUSSÃO Fatores como fisionomia da mata, diâmetro à altura do peito, estrato do dossel e luminosidade influenciam diretamente os valores máximos da taxa fotosssintetica por unidade de área foliar, bem como o período de tempo necessário para a indução da fotossíntese (Lüttge, 1997; Valladares et al., 1995; Zipperlen e Press, 1997). As folhas da periferia da copa das plantas de sombra (sub-bosque) diferem das folhas das plantas dos estratos intermediário e superior do dossel por apresentarem diferentes curvas de saturação da fotossíntese, com valores de Amax e gs distintos (Lüttige, 1997; Pearcy, 2000). Além disso, uma série de características morfológicas e anatômicas diferenciam a capacidade de adaptação das folhas à condições de sombra ou pleno sol; sendo que as folhas de sombra são em geral menos espessas, apresentam menor peso foliar específico, menor relação entre parênquimas paliçádico e lacunoso e maior área foliar (Nobel, 1991). Tais informações estão de acordo com os resultados obtidos no presente experimento, onde constatou-se a possibilidade de comparar os valores de Amax entre folhas de sombra e de sol em condições de laboratório; sendo que o tempo de indução da fotossíntese para folhas de sombra está próximo aos 15 minutos, enquanto para folhas de sol, fica próximo aos 30 minutos. Além dos resultados preliminares obtidos, o presente experimento aponta diversas possibilidades para o desenvolvimento de estudos com folhas de Caesapinea echinata e outras plantas arbóreas, visando elucidar os processos que ocorrem ao nível de folhas individuais e suas implicações na dinâmica sucessional e nos ciclos de carbono e água em dosséis de florestas tropicais úmidas. Considera-se ainda que, constatações mais definitivas à respeito da metodologia empregada deverão ser obtidas comparando-se as respostas da fotossíntese in vivo com folhas destacadas. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos foi possível concluir que: a) o tempo de indução da fotossíntese em folhas destacadas de Caesapinea echinata, após 12 horas no escuro, sugerido como tempo mínimo para avaliar a taxa fotossintética máxima, é de aproximadamente 30 minutos, o qual pode ser reduzido para folhas de sombra; b) de acordo com a metodologia utilizada, verificou-se que folhas de sombra apresentaram valores de Amax entre 4 e 6 µmol CO2 m2 s-1, enquanto que as folhas de meia-sombra e pleno sol apresentaram valores mais elevados, entre 10 e 12 µmol CO2 m2 s-1; e c) folhas de sol e de sombra apresentaram número semelhante de folíolos e foliolíolos, além de uma elevada correlação entre o comprimento e a largura dos folíolos, indicando que as folhas das plantas cujas copas encontravam-se em condições de sombra apresentaram maior área foliar individual. AGRADECIMENTOS Aos proprietários da Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Serra do Teimoso Henrique e Lucélia Berbert; aos financiadores Global Canopy Programme-International Canopy Network e Fundação Boticário de Proteção a Natureza; às equipes de escaladores das empresas Soluções Verticais e Jardins Suspensos-Jardinagem Vertical; ao monitor em escalada Marcial C.Jorge; e aos organizadores do curso Talita Fontoura e Flavio Santos. Tabela 1 - Caracterização das árvores e do ambiente nos locais de coleta das folhas de Caesalpinea echinata. Árvore Altura (m) DAP (cm) ou ∅ a 10 cm solo Fisionomia da mata Estrato da árvore Luminosidade 1S 2,0 1,0 Capoeira Sub-bosque Sombra 2S 1,4 0,9 Capoeira Sub-bosque Sombra 3S 1,1 0,7 Capoeira Sub-bosque Sombra 1A 15,0 58,1 Capoeira Emergente Pleno sol 2A 9,0 11,4 Mata madura Estrato intermediário Meia sombra 3A 7,0 4,8 Mata madura Sub-bosque Meia sombra Figura 1 - Taxa fotossintética por unidade de área foliar (A) e condutância estomática ao vapor de água (gs) em função do tempo de indução da fotossíntese à 1500 µmol fótons m-2 s-1 e após um período de aclimatação ao escuro por 12 horas, para as plantas 1A (a, b) e 2S (c, d). (n=3) a -5 0 5 10 15 0 4 8 12 16 20 24 28 32 A ( µ m ol m -2 s -1 ) 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 gs (m ol m -2 s -1 ) c -5 0 5 10 15 0 4 8 12 16 20 24 28 32 A ( µ m ol m -2 s -1 ) 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 gs (m ol m -2 s -1 ) -5 0 5 10 15 0 4 8 12 16 20 24 28 32 Tempo (min.) A ( µ m ol m -2 s -1 ) 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 gs (m ol m -2 s -1 ) -5 0 5 10 15 0 4 8 12 16 20 24 28 32 Tempo (min.) A ( µ m ol m -2 s -1 ) 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 gs (m ol m -2 s -1 ) A gs b d Figura 2 - Valores da taxa fotossintética máxima (Amax) e da condutância estomática em Amax (gs) para plantas de C. echinata em diferentes ambientes e tempos de indução da fotossíntese (15 e 30 minutos) à 1500 µmol fótons m-2 s-1. (n=3) Figura 3 - Número de folíolos e foliolíolos em folhas de plantas de C. echinata em diferentes ambientes. (n=3) a 5,9 4,3 4,2 5,1 7,0 10,9 12,4 5,6 0 3 6 9 12 15 1S(15) 2S(15) 3S(15) 1A(15) 2A(15) 3A(15) 1A(30) 2S(30) Am ax ( µ m ol m -2 s -1 ) b 0,15 0,07 0,07 0,07 0,07 0,25 0,24 0,11 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 1S(15) 2S(15) 3S(15) 1A(15) 2A(15) 3A(15) 1A(30) 2S(30) Planta gs (m ol m -2 s -1 ) 12,7 8,0 9,0 7,7 8,7 10,3 19,3 16,6 15,5 19,6 17,3 18,4 0 6 12 18 24 30 1S 2S 3S 1A 2A 3A Planta N úm er o de fo lío lo s ou fo lio lío lo s Figura 4 - Relação entre o comprimento e largura dos foliolíolos de folhas de C. echinata em diferentes ambientes. 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,0 1,3 1,6 1,9 2,2 2,5 Comprimento (cm) La rg ur a (c m ) 1S 2S 3S 1A 2A 3Ay = 0,50x + 0,08 R2 = 0,76 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,0 1,3 1,6 1,9 2,2 2,5 LITERATURA CITADA HOLBROOK, N. M.AND LUND, C. P. 1995. Photosynthesis in forest canopies. In M. D. Lowman and N. M. Nadkarni, (eds.). Forest Canopies, pp.441-430, Academic Press, California. LAMBERS, H.; CHAPIN III, F.S.AND PONS, T.L. 1998. Plant physiological ecology. Springer-Verlag, Berlin. LARCHER, W. 1995. Physiological plant ecology. Springer-Verlag, Berlin. LÜTTGE, U. 1997. Physiological ecology of tropical plants. Springer-Verlag, Berlin. NOBEL, P.S. 1991. Physiochemical and environmental plant physiology. Academic Press, San Diego. PEARCY, R.W. 2000. Acclimation to sun and shade. In A.S. Raghavendra (ed.). Photosynthesis. A comprehensive treatise, pp.250-263. Cambridge University Press, Cambridge. VALLADARES, F.; ALLEN, M.T.AND PEARCY, R.W. 1997. Photosynthetic responses to dynamic light under field conditions in six tropical rainforest schrubs occurring along a light gradient. Oecologia 111:505-514. ZIPPERLEN, S.W. AND PRESS, M.C. 1997. Photosynthetic induction and stomatal oscillations in relation to the light environment of two dipterocarp rain forest tree species. Journal of Ecology 85:491-503.