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Análise Crítica - Terceirização do Cuidado

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Análise Crítica - Terceirização do cuidado 
 
 
As mudanças na parentalidade e a atuação 
da creche 
 
 Entre o século XIX e começo do século XX, 
pais e mães tinham papéis distintos. Enquanto 
o pai se dedicava apenas ao trabalho e tinha 
pouco contato com os filhos, a mãe exercia o 
papel de dona de casa, não se aventurando 
no mercado de trabalho, e de cuidadora – a 
relação mãe-bebê era bastante valorizada e 
romantizada –. Só da década de 70 pra cá é 
que as mulheres começaram a ser ativas em 
massa no mercado de trabalho, e, 
consequentemente surgiu a dupla jornada, já 
que havia também as tarefas domésticas 
para serem realizadas. 
 
 Por muitas mulheres não quererem abdicar de 
suas carreiras para se dedicarem apenas à 
criação dos filhos, as creches surgem como 
uma alternativa por auxiliarem as mães nesse 
processo. Ademais, com o passar dos anos, a 
creche foi evoluindo: antes era 
compreendida como um ambiente de 
satisfazer os cuidados básicos da criança, 
enquanto nos dias de hoje, além desses 
cuidados, atua no desenvolvimento integral e 
na educação da criança. Não é onde a 
criança só passa o tempo. Ela brinca, é 
cuidada e ensinada. 
 
 Sob esse viés, vale salientar também que, 
mães que não trabalham, e, teoricamente 
teriam tempo de cuidar de seus filhos, ainda 
assim, buscam colocá-los nas creches para 
que eles socializem e tenham contato com as 
diferenças. 
 
Criação compartilhada x Criação delegada 
 
 Como já apresentado, as creches hoje em 
dia têm funções mais amplas para auxiliar no 
desenvolvimento infantil, no entanto, há 
papéis que são responsabilidade dos pais. A 
criação compartilhada ocorre quando 
família e escola, por exemplo, cuidam da 
criança de “igual para igual”, cada qual 
exercendo seus papeis distintos, mas 
complementares. Já a criação delegada ou 
terceirizada acontece quando a 
responsabilidade dos pais na criação de seus 
filhos é nula ou mínima, e o cuidado fica sob 
custódia da escola, creche, ou outro familiar. 
 
 Essa criação terceirizada muitas vezes é 
malvista por ser compreendida por muitos 
como abandono dos pais, o que nem sempre 
é verdade. Em casos que ambos os 
progenitores têm carreiras árduas e precisam 
se dedicar a elas pelas exigências cada vez 
maiores do mercado de trabalho, ou em 
casos de famílias disfuncionais, a criação 
delegada é a melhor opção. 
 
 Mas de modo geral, a criação compartilhada 
se apresenta como a mais indicada, pois 
intercala os cuidados dos pais e da escola, 
educar e cuidar, de maneiras distintas e que 
agregam ao desenvolvimento infantil. 
 
 No entanto, hoje em dia, mãe, pai e 
educadores querem que a criança se 
desenvolva cada vez mais cedo, utilizando 
métodos rígidos e padronizados, e acabam 
por não respeitar a individualidade da 
criança. É preciso que pais e educadores 
possibilitem o holding, afinal com a 
singularidade desconsiderada, o pleno 
desenvolvimento infantil é prejudicado. Nesse 
sentido, creches e escolas devem atender as 
necessidades da criança e da família, de 
forma que ninguém saia prejudicado no 
processo. 
 
O papel do pai 
 
 Como já apresentado, as creches hoje em 
dia têm funções mais amplas para auxiliar no 
desenvolvimento infantil, entretanto, o tempo 
que a criança passa em casa com os pais é 
fundamental. Nesse contexto, como já 
mencionado, os tempos mudaram, e a 
criação agora é parental, não só materna. A 
By: Ewylle Farias 
figura paterna também começou a ter papel 
mais ativo na criação dos filhos e nas tarefas 
de casa. 
 
 De acordo com o material, esse cuidado com 
os filhos, ainda que presente, não se iguala ao 
papel da mãe pelo menos até os dois anos e 
meio da criança. Até essa idade a criança 
ainda é bastante dependente da mãe, 
especialmente no período da 
amamentação, que não só promove a 
alimentação, mas também a intimidade 
entre a mãe e o bebê com o contato e a 
troca de olhares, por exemplo, segundo a 
teoria winnicottiana. Sob esse aspecto, e 
tendo como base as respostas das entrevistas, 
nota-se que, nesse primeiro momento, o pai 
ajudava, mas como coadjuvante, dando 
suporte na relação mãe-bebê. 
 
 Com o crescimento da criança, o pai tende a 
ganhar mais espaço na relação - enquanto a 
mãe perde com o fim do período de 
aleitamento, estabelecendo o cuidado 
parental - e zelar pelo filho de forma 
igualitária, ou quase, visto que a figura 
materna ainda é mais cobrada que a 
paterna nesse cuidado por influencias do 
passado. 
 
Pandemia e mudanças na criação 
compartilhada 
 
 Nesse período de pandemia da doença 
infectocontagiosa causada pelo Coronavírus 
(COVID-19), uma das diretrizes é o isolamento 
social, ou seja, ficar em casa sem contatos 
externos. Esse período está sendo um grande 
desafio para os pais, pois creches e escolas 
foram suspensas, e - apesar dos dias ou 
horários de trabalho dos pais serem reduzidos, 
ou um membro do casal ter optado a ficar em 
casa com a criança - muitos não estavam 
acostumados a lidar com o filho fora do 
segundo ambiente de cuidados. Assim, foi 
preciso buscar atividades que, mesmo 
realizadas em casa, possam ser favoráveis ao 
desenvolvimento motor, cognitivo e 
emocional desses bebês e crianças. 
 
 O Manual Fapesp sugere, para crianças dos 0 
ao 5 anos, atividades que são simples e 
lúdicas, como ler, brincar de diversas formas, 
apontar, desenhar, mas que farão grande 
diferença no desenvolvimento dos pequenos. 
O manual mostra que brincadeiras que 
estimulam movimento e sons, por exemplo, 
podem ser realizadas durante a alimentação, 
no vestir da criança, no banho, ou seja, não 
necessariamente os pais precisam criar toda 
uma situação para a brincadeira, ela pode 
acontecer em qualquer momento, 
especialmente se tratando de uma criança 
mais nova. No entanto, é fundamental 
também que situações já pensadas no 
brincar sejam propostas anteriormente pelos 
pais para atingir resultados específicos, como 
ensinar as cores e os números, propor quebra-
cabeças e nomear as partes do corpo. 
 
 Para crianças mais velhas, isto é, as que têm 
certa independência, as coisas já são 
diferentes, especialmente com as atividades 
remotas. Por ser um novo modo de ensino e 
pais e filhos não estarem acostumados, muitos 
acreditam que o aprendizado das crianças 
foi afetado, pois é difícil a criança focar e 
manter-se concentrada por muito tempo na 
tela, ao contrário do que ocorre em uma sala 
de aula. 
 
 Sob esse viés, segundo a psicóloga Nathalia 
Campana, o aprendizado da criança é 
relativo, pois depende de cada família e de 
cada criança. Um ambiente familiar bem 
estruturado contribui para um bom 
aprendizado, ao passo que uma família 
desestruturada afeta negativamente o 
desenvolvimento da criança, mesmo se antes 
considerada a “melhor da turma”. Além disso, 
em um ambiente familiar favorável, 
estudantes tímidos e dispersos nas aulas 
presenciais têm se desenvolvido melhor online 
por sentirem mais segurança em suas falas 
e/ou ações. 
 
 Para os estudantes é relativo, mas para as 
escolas está difícil, pois os educadores estão 
trabalhando mais, utilizando ferramentas 
antes desconhecidas e/ou inovando suas 
aulas para manter uma boa dinâmica online, 
o que gera desgaste e/ou frustração, uma vez 
que nem todos os alunos usufruem da melhor 
maneira.

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