Buscar

CADERNO - DIREITO CONSTITUCIONAL I

Prévia do material em texto

Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
CADERNO FBDG – DIREITO CONSTITUCIONAL I – PROF: DIRLEY DA CUNHA 
JÚNIOR 
AULAS 01 E 02 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO E DO 
NEOCONSTITUCIONALISMO 
 
COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE A DISCIPLINA: 
Direito Constitucional – ramo do direito responsável pelo estudo das constituições, além da 
investigação e da formação de soluções para questões políticas. A título exemplificativo 
pode-se citar casos concretos do cotidiano, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) 
assegurou a aplicação da Constituição Federal no processo de instalação da CPI da pandemia 
do covid-19 – tendo em vista a previsão formal de que 1/3 dos senadores, no mínimo, 
precisam assinar o requerimento para a instalação de uma CPI. Assim, pode-se concluir que 
“constituição é vida” por ser aplicada constantemente no nosso cotidiano e apresentar suma 
importância para a consolidação de um Estado Democrático de Direito. 
O Direito Constitucional apresenta um cunho interdisciplinar com áreas do próprio âmbito 
jurídico (Direito Cível, Direito Penal...) como também com outras áreas do conhecimento – 
tais como Filosofia, Sociologia, Economia e Ciência Política. Além da relação de multidiálogo 
já mencionada anteriormente, em determinadas ocasiões podem ocorrer relações de 
dominação/ sujeição, tendo em vista que o Direito Constitucional se sobrepõe em diversos 
momentos em detrimento de outras áreas do conhecimento (tendo como exemplo a 
questão da irretroatividade somente para beneficiar o réu no âmbito do Direito Penal). 
 Direito Constitucional positivo: estuda os princípios e normas de uma constituição 
de um determinado Estado; 
 
 Direito Constitucional comparado: tem o objetivo de estudar teoricamente as 
normas jurídico-constitucionais positivas de vários Estados, não necessariamente que 
estejam em vigor, buscando-se, por conseguinte, semelhanças e divergências entre 
os objetos de análise; 
 
 Direito Constitucional geral: define uma série de princípios e conceitos que se 
encontravam em vários direitos positivos e classificá-los de forma única; 
 
O ESTUDO DO CONSTITUCIONALISMO: 
1. Conceito: O constitucionalismo consiste em um movimento político e filosófico 
inspirado por ideias libertárias que reivindica, desde seus primeiros passos, um 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
modelo de organização política lastrada no respeito aos direitos dos governados e na 
limitação do poder dos governantes (limitar o exercício da autoridade e conter 
decisões arbitrárias). 
OBS 1: Em países como a Coréia do Norte, a presença de um constitucionalismo somente 
apresenta um caráter simbólico – visto que prescrições formais como a liberdade de 
expressão encontram-se longe de serem exercidas na prática. 
OBS 2: Totalitarismo x Autoritarismo – ambos se distanciam de princípios democráticos e 
consistem em expressões do abuso de poder, entretanto o controle exercido por regimes 
totalitários é mais perverso – abrangendo os ambientes externo e interno do convívio social 
(capacidade de influenciar na leitura de livros, na formação de casamentos, na roupa a ser 
vestida, entre outros). 
2. Origem: De acordo com historiadores do constitucionalismo e, também, com 
cientistas políticos, a origem do constitucionalismo vem da Antiguidade Clássica do 
povo hebreu. Nesse sentido, o governo teocrático instalado era baseado na 
obediência à vontade divina – existindo, por conseguinte, a necessidade dos 
governantes respeitarem os direitos dos governados (como a proteção da liberdade) 
e também, de terem as suas atuações limitadas. 
 
3. Fases: 
 
3.1 – Constitucionalismo Antigo – presença marcante nas cidades-Estado onde se 
consagrou um regime político-constitucional de democracia direta. A República 
Romana (V a II a.C) também foi palco importante para o amadurecimento das ideias 
constitucionalistas, sobretudo em razão de haver instituído um sistema de freios e 
contrapesos para dividir e limitar o poder político – resgatando a percepção do 
controle múltiplo e constante entre os poderes de Montesquieu e que, 
posteriormente, foi aperfeiçoada por James Madison; 
 
3.2 – Constitucionalismo Medieval – apesar da existência de um cenário de hostilidade 
proveniente do poder inerente ao poder real, o constitucionalismo, durante a Idade 
Média, resistiu através da promulgação da Magna Carta pelo rei inglês João Sem 
Terra em 1215. A nobreza juntamente com os membros da Igreja – contando 
também com o apoio de camponeses – consegue pressionar João Sem Terra visando 
ao reconhecimento de determinados direitos como a garantia do processo legal, 
envolvendo o direito da ampla defesa e do contraditório – responsáveis por conduzir 
ao caminho do ideal de justo. Outras conquistas inerentes à Magna Carta 
consistiram na garantia do juiz natural, na proibição de tributação unilateral por 
parte dos governantes e na proibição das prisões arbitrárias. Em síntese, a Magna 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Carta de 1215 representou um pacto entre o rei e a nobreza em prol da limitação do 
poder absoluto do rei e da garantia de direitos aos cidadãos; 
 
3.3 – Constitucionalismo Moderno – contexto marcado pela consolidação de 
monarquias absolutistas na Europa Ocidental e a busca de rompimento com esse 
cenário por meio de movimentos inspirados em ideais iluministas e liberais – tendo 
em vista a forte influência exercida por filósofos como John Locke. Nesse período, 
três episódios que tiveram em comum a busca por garantir princípios democráticos 
(contenção do poder dos governantes e garantia dos direitos aos cidadãos) merecem 
destaque: 
 
 
 Revolução Gloriosa (revolução liberal inglesa): concretizou a instalação de 
uma monarquia constitucional parlamentarista através de um documento 
promulgado pelo parlamento em 1689: Bill of Rights (Declaração de 
Direitos). Nesse sentido, ficou determinado que o rei continuaria a exercer o 
papel chefe de Estado (função mais simbólica ou cerimonial e responsável 
por representar a soberania estatal), mas existiriam limitações na sua 
atuação coordenadas pelo parlamento. O parlamento, órgão que antes era 
subserviente ao rei, agora passa a exercer protagonismo, sendo o primeiro-
ministro o chefe de governo. Esse modelo constitucional de monarquia é 
adotado até os dias atuais; 
 
 Independência dos EUA: também conhecida como Revolução Americana foi 
concretizada a partir de um processo gradual e violento – caracterizado pela 
união formalizada entre as treze colônias inglesas na América, culminando na 
existência de uma força armada comum com o auxílio das milícias - 
libertaram-se do domínio inglês. A Declaração de Independência formalizou 
a Independência das treze colônias em 4 de Julho de 1776 (Independence 
Day) – tendo Thomas Jefferson como um dos principais escritores (terceiro 
presidente da história estadunidense). Em 7 de setembro de 1787, na 
Filadélfia, é escrita a primeira constituição do mundo, determinando a 
criação dos Estados Unidos da América; 
 
 Revolução Francesa: a França, no período anterior à Revolução, era um país 
essencialmente feudal, convivendo com uma sucessão de regimes 
absolutistas e uma forte crise econômica. A Revolução Francesa, de cunho 
burguês e liberal-iluminista (influência de nomes como Montesquieu, 
Rousseau e Immanuel Kant), representou uma indignação do Terceiro Estado 
contra os privilégios inerentes aos dois primeiros Estados, culminando, por 
conseguinte, na extinção desses setores privilegiados e na proclamação de 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
um novo modelo monarquia constitucional. Assim, convoca-se uma 
assembleia nacional constituinte (26 de agosto de 1789), responsável pela 
proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 
apresentando uma perspectiva universal. Ademais, em 3 de Setembro de 
1791, a França elabora a segunda constituição do mundo – contribuindo 
paraa ascensão, cada vez mais, de constituições na era moderna, 
fortalecendo, consequentemente, o ordenamento jurídico de civil law (um 
Estado de Direito baseado no império da lei – sendo esta a expressão da 
vontade geral); 
 
A partir da ascensão do positivismo jurídico, o constitucionalismo perde a sua 
essência primitiva e a finalidade da lei, passando esta a ser formalmente uma 
expressão do detentor do poder. O positivismo jurídico, vinculado à força das leis, 
passa a ser utilizado como um mecanismo ideológico em prol da ascensão e da 
sustentação de regimes totalitários no século XX – a lei se torna um mecanismo de 
opressão coordenada pelos governantes que passam a dominar os parlamentos – 
nazismo (Alemanha), fascismo (Itália), salazarismo (Portugal), franquismo (Espanha), 
entre outros. Em síntese, pode-se falar na existência, durante esse período, de uma 
crise no constitucionalismo. 
Assim, busca-se uma reformulação nos fundamentos do Estado de Direito, 
culminando na ascensão de constituições (que antes detinham uma conotação muito 
mais política). Nesse cenário, as constituições passam a deter autoridade jurídico-
normativa. Os direitos das pessoas humanas, dessa forma, ganham cada vez mais 
destaque e, em muitas constituições, tornam-se cláusulas pétreas – não correndo 
risco de sofrerem modificações a não ser pela elaboração de outra constituição (ou 
em caso da ocorrência de um golpe). As cláusulas pétreas, assim, tornam-se grandes 
obstáculos visando a limitar a reformulação das constituições por esta não ocorrer 
nem em caso de emenda constitucional. Os fatos citados anteriormente ratificam a 
existência de um novo movimento histórico pautado em uma perspectiva pós-
positivista: o neoconstitucionalismo. 
 
Neoconstitucionalismo: Movimento que surge na Europa após a Segunda Guerra 
Mundial, como superação do positivismo jurídico, dando ensejo à consolidação de 
um Estado Constitucional, fundado na centralidade da Constituição e dos Direitos 
Fundamentais. Identifica um conjunto amplo de transformações, em meio às quais 
podem ser assinalados: 
 Como marco histórico, a formação do Estado Constitucional de Direito; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Como marco filosófico, o pós-positivismo, tendo em vista a centralidade dos 
Direitos Fundamentais, a partir do discurso normativo da dignidade da pessoa 
humana e a reaproximação entre Direito e Ética, Moral e Filosofia; e 
 
 Como marco teórico, o conjunto de mudanças que incluem a força normativa 
da constituição, a normatividade dos princípios, a expansão da jurisdição 
constitucional, o desenvolvimento de uma nova dogmática de interpretação 
constitucional, a ampliação do sistema de proteção dos direitos 
fundamentais, tudo abrindo o caminho para a constitucionalização do Direito 
e a formação do Estado Constitucional; 
Assim, pode-se falar em uma “humanização do Direito”, visto que o Estado passa a 
admitir como norma aquilo que se encontra escrito, porém, essas normas devem 
estar em concordância com os direitos fundamentais – tais como a dignidade da 
pessoa humana; 
Nesse sentido, as leis não deixam de ter importância, mas passam a se situarem na 
periferia, tendo em vista o papel de centralidade exercido pelas constituições – que 
buscam a assegurar a consolidação dos direitos fundamentais; 
 
AULA 03 – TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
1. As principais posições teóricas sobre os variados sentidos de Constituição 
 
1.1 – Sentido sociológico: Um dos destaques que buscaram sintetizar o sentido 
sociológico de constituição consistiu em Ferdinand Lassalle (1825 – 1864), autor 
de “O que é uma constituição?”. De acordo com Lassalle, a constituição real e 
efetiva é a soma dos fatores reais de poder (poder político + poder econômico + 
poder operário) que regem uma sociedade, ou seja, a constituição, nessa 
perspectiva, trata-se, ainda que produto da razão humana, de uma expressão da 
realidade social; 
 
1.2 – Sentido político: Um dos destaques que buscaram sintetizar o sentido político 
de constituição consistiu em Carl Schmitt (1888 – 1985), com a elaboração e 
publicação da obra “Teoria da Constituição”. De acordo com Schmitt, a 
constituição é a decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre 
o modo e a forma de existência da unidade política, ou seja, a constituição não 
seria um produto da realidade social como afirmava Lassalle, mas o resultado do 
conjunto de decisões políticas fundamentais (independentemente de serem 
democráticas ou não). Em síntese, Schmitt valoriza o “poder do povo” através 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
dessas escolhas fundamentais anteriormente mencionadas, entretanto, também 
é considerado um teórico responsável por legitimar governos arbitrários; 
 
1.3 – Sentido jurídico: Um dos destaques que buscaram sintetizar o sentido jurídico 
de constituição consistiu em Hans Kelsen (1881 – 1973), autor de “Teoria Pura do 
Direito” e responsável por associar constituição a normas. De acordo com o 
pensamento kelseniano, a constituição é um conjunto de normas jurídicas 
fundamentais que ocupa o último escalão da pirâmide normativa - ou seja, 
aderindo a uma perspectiva positivista, corrobora a tese de que a constituição é 
um mero conjunto de normas advindo da razão. A constituição diferencia-se das 
demais por ser a norma suprema, apresentando um caráter impositivo, servindo 
de suporte de validade formal. Entretanto, nesse viés a constituição não seria um 
suporte de validade material pelo fato de se encontrar dissociada de valores 
humanos. 
 
 
 
 
1.4 – Sentido cultural: Um dos destaques que buscaram sintetizar o sentido cultural 
de constituição consistiu em Konrad Hesse (1919 – 2005), autor de “A força 
normativa da constituição”. Partindo desse pressuposto, a constituição é norma e 
realidade, pois para ela exercer sua força normativa, deve estar próxima da 
realidade da qual emanou. Dessa forma, a constituição seria um conjunto de 
normas jurídicas dotadas de supremacia e força, obtendo a capacidade de regular 
a realidade socio-política e também ser por ela regulada. Em síntese, a 
constituição é objeto indissociável da cultura humana e, por conta disso, 
apresenta um caráter aberto, sendo passível de sofrer modificações pela 
realidade. 
 
OBS: A título exemplificativo no Brasil pode-se citar mudança de interpretação 
acerca da união estável (de pessoas e não mais restrita a tradicional relação entre 
homem e mulher), representando, portanto, uma adequação do direito à 
realidade social (a ascensão de movimentos LGBTQ+), embora tenha causado 
questionamentos por parte de conservadores. 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
No âmbito jurídico brasileiro, pode-se citar Miguel Reale (1910-2006), autor de 
“Teoria tridimensional do direito”. Miguel Reale buscou integrar três concepções 
de Direito: a sociológica (associada aos fatos e à eficácia do direito), a axiológica 
(associada aos valores e aos fundamentos do direito) e a normativa (associada às 
normas e à vigência do direito). Assim, segundo essa teoria, o Direito seria 
composto pela conjugação harmônica entre as três dimensões – a fática, a 
axiológica e a normativa –, em uma dialética de implicação e polaridade em um 
processo histórico. Em resumo, de acordo com Miguel Reale, direito é fato, valor 
e norma; 
 
 
AULA 04 – TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
1. Quanto ao conteúdo: 
 
 Constituição material: conjunto de normas, escritas ou não escritas, que regulam 
a estrutura do Estado. Ademais, tem por referência o conteúdo, que deve 
expressar necessariamente uma matéria essencialmente constitucional (Estado, 
Poder e Direitos da Pessoa Humana). A título exemplificativo pode-se citar as 
constituições inglesa e israelense; 
 
 Constituição formal: conjunto de normas escritas e formalmente inseridas no 
texto constitucional, tendo ou não valor constitucionalmaterial. Além disso, tem 
por referência o texto, que pode tratar de qualquer matéria. Em síntese, há uma 
maior preocupação com o aspecto estrutural, tendo em vista que o conteúdo 
pode ser qualquer um (incluindo temáticas consideradas irrelevantes). A título 
exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira (embora, vale ressaltar, 
também apresente um conteúdo majoritariamente significativo); 
 
2. Quanto à forma: 
 
 Constituição escrita: há um texto único, codificado e sistematizado, elaborado 
racionalmente por um órgão constituinte. Também chamada de constituição 
instrumental, é produto das revoluções liberais do século XVIII. Pode-se citar, a 
título exemplificativo, as constituições dos Estados Unidos e da França, além de 
todas as constituições brasileiras elaboradas ao longo da história. Vale ressaltar 
que toda constituição escrita é formal; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Constituição não-escrita: também chamada de costumeira, baseia-se nos 
costumes, na jurisprudência e em alguns textos esparsos, como é na Inglaterra. 
Ademais, sempre existiram e precederam às constituições escritas, perdendo a 
primazia, entretanto, a partir do final do século XVIII. Toda constituição não-
escrita é material, contudo existem algumas normas escritas esparsas – que 
possuem a função de complementariedade; 
 
3. Quanto à origem: 
 
 Constituição democrática: elaborada por representantes legítimos do povo, que 
compõem, por eleição, um órgão constituinte. A título exemplificativo, pode-se 
citar as constituições brasileiras dos anos de 1891 1934, 1946 e 1988; 
 
 Constituição outorgada: denominada por alguns doutrinadores como “carta 
política” devido ao cunho autoritário, a constituição outorgada é aquela 
elaborada por um processo que não envolve qualquer participação do povo. É 
fruto do autoritarismo, do abuso, da usurpação do poder constituinte do povo. 
São impostas pelo governante e normalmente são designadas pela doutrina de 
cartas. A título exemplificativo, pode-se citar as constituições brasileiras dos anos 
de 1824, 1937, 1967 e 1969; 
 
 Constituição pactuada: responsável por oficializar um compromisso político 
instável de duas forças políticas opostas. A título exemplificativo pode-se citar a 
constituição francesa de 1791 – pacto proveniente da oposição entre duas forças 
políticas (burguesia x nobreza); 
OBS: Alguns doutrinadores, como José Afonso da Silva, admitem a existência da 
constituição cesarista – ou seja – aquela em que a participação popular restringe-se a 
ratificar a vontade do detentor do poder. Em síntese, é uma constituição imposta pelos 
governantes através da coação do povo (ex: Código Napoleônico francês); 
 
4. Quanto à estabilidade ou consistência ou alterabilidade: 
 
 Constituição imutável: é aquela que não prevê nenhum processo de alteração de 
suas normas; 
 
 Constituição fixa: é aquela que só pode ser alterada pelo próprio poder constituinte 
originário. No que tange à constituição fixa, percebe-se dois empecilhos: um de 
ordem jurídica (modificar a constituição não é função do poder responsável pela 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
elaboração da constituição) e um de ordem fática (é inviável convocar eternamente 
aqueles que elaboraram a constituição); 
 
 Constituição rígida: caracteriza-se por estabelecer e exigir procedimentos especiais, 
solenes e formais, necessários para a reforma de suas normas. A título 
exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira, tendo em vista que a 
modificação da Constituição de 1988 somente pode ocorrer através do procedimento 
de emenda constitucional – aprovado por 3/5 do Congresso Nacional; 
 
 Constituição flexível: é aquela que pode ser alterada pelo mesmo procedimento 
observado para as normas legais. A título exemplificativo pode-se citar a constituição 
inglesa; 
 
 Constituição semiflexível: corresponde a uma constituição parcialmente rígida e 
parcialmente flexível. No Brasil, a constituição de 1824 era semiflexível – proibindo 
qualquer modificação nos primeiros quatro anos de vigência. Nos dias atuais, não há 
exemplos; 
 
5. Quanto à extensão: 
 
 Constituição sintética: é aquela que regula sucintamente os aspectos básicos da 
organização estatal. A titulo exemplificativo pode-se citar a constituição dos Estados 
Unidos – composta por apenas 7 artigos; 
 
 Constituição analítica: é aquela extensa que disciplina longa e minuciosamente todas 
as particularidades ocorrentes e consideradas relevantes no momento para o Estado 
e para a sociedade, definindo largamente os fins atribuídos ao Estado. A título 
exemplificativo, pode-se citar a constituição brasileira em vigência; 
 
6. Quanto à finalidade: 
 
 Constituição garantia: foi o paradigma de constituição adotado após as revoluções do 
século XVIII para servir de instrumento de garantia das liberdades públicas 
individuais, visando a limitar o poder dos governantes. A título exemplificativo pode-
se citar a constituição francesa de 1791 pautada em aspectos liberais; 
 
 Constituição dirigente: é uma consequência do constitucionalismo social do século 
XX, que provocou a evolução do modelo de Estado, de Estado liberal (passivo) para 
Estado social (intervencionista). Observa Canotilho que a Constituição dirigente se 
volta à garantia do existente, aliada à instituição de um programa ou linha de direção 
para o futuro, sendo estas as suas duas finalidades. A título exemplificativo pode-se 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
citar a constituição mexicana de 1917 – a primeira do mundo a assumir esse modelo 
– preocupada com os direitos trabalhistas, sociais, econômicos, entre outros. No caso 
brasileiro, a primeira constituição dirigente foi a promulgada em 1934 – inspirada na 
antiga constituição alemã de Weimar; 
 
 
7. Quanto ao modo de elaboração: 
 
 Constituição dogmática: também denominada de sistemática, consiste em um 
documento escrito e sistematizado, elaborado por um órgão constituinte em 
determinado momento da história político-constitucional de um país, a partir de 
dogmas ou ideias fundamentais da Ciência Política e do Direito dominantes na 
ocasião. A título exemplificativo pode-se citar a constituição atual brasileira – 
proveniente de uma convenção racional de constituintes; 
 
 Constituição histórica: sempre não escrita, é aquela cuja elaboração é lenta e ocorre 
sob o influxo dos costumes e das transformações sociais. A título exemplificativo 
pode-se citar a constituição inglesa; 
 
8. Quanto à ideologia: 
 
 Constituição ortodoxa: é aquela resultante da consagração de uma única ideologia. A 
título exemplificativo pode-se citar as constituições da União Soviética de 1923, 1936 
e 1977; 
 
 Constituição eclética: é aquela que contempla várias ideologias aparentemente 
contrapostas, conciliando as ideias que permearam as discussões na Assembleia 
Constituinte. A título exemplificativo pode-se citar a constituição brasileira que prevê 
a liberdade religiosa, entre outros aspectos; 
 
9. Quanto ao ser da realidade social – classificação ontológica (Karl Loewenstein): 
 
 Constituição normativa: é aquela cujas normas dominam o processo político, 
apresentando valor jurídico. A título exemplificativo, pode-se citar a constituição 
brasileira; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Constituição nominal: é aquela que não possui valor jurídico, não passando de uma 
constituição de fachada (simbólica). A título exemplificativo, pode-se citar a 
constituição da Síria; 
 
 Constituição semântica: é aquela utilizada apenas para justificar o exercício 
autoritário do poder. A título exemplificativo, pode-se citar as constituições 
brasileiras de 1967 e de 1969; 
 
A Constituição Brasileira de 1988 é formal, escrita, democrática, rígida, analítica, dirigente, 
dogmática, eclética e normativa; 
 
 
OBJETOS DA CONSTITUIÇÃO 
 Organizar oEstado e definir os seus princípios estruturantes; 
 Organizar os poderes e estabelecer suas funções e limites; 
 Definir a forma de aquisição e exercício dos poderes; 
 Declarar os direitos e as garantias fundamentais; 
 Estabelecer os fins do Estado; 
 
ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO 
 Preâmbulo: declaração prévia dos objetivos e fins da constituição; 
 
 Parte dogmática: parte permanente dotada de plena força jurídico-normativa; 
 Disposições transitórias (no Brasil, ADCT – ato das disposições constitucionais 
transitórias): parte que reúne normas jurídicas com eficácia temporárias, com o 
propósito de garantir uma transição entre constituições; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO: 
 Elementos orgânicos – contidos nas normas que regulam o Estado e o poder, 
como as normas que disciplinam a divisão dos poderes. Ex: título III (organização 
do Estado) e IV (organização do poder) da CF/88; 
 
 Elementos limitativos – correspondem às normas que formam o catálogo de 
direitos e garantias fundamentais, limitadoras do poder estatal. Ex: art 5º da 
CF/88; 
 
 Elementos socio-ideológicos – normas que identificam na constituição o grau de 
comprometimento das constituições modernas entre o Estado individual e o 
Estado social. Ex: os direitos sociais (art 6º e 7º da CF) e os títulos VII (ordem 
econômica e financeira) e VIII (ordem social) da CF/88; 
 
 Elementos de estabilização constitucional – contêm-se nas normas que visam a 
garantir a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do 
Estado e das instituições democráticas. Ex: art. 34/36 (intervenção nos Estados-
membros e nos municípios) e art. 60 (o processo legislativo das emendas 
constitucionais); 
 
 Elementos formais de aplicabilidade – encontram-se nas normas que prescrevem 
a forma de regulação da própria constituição. São, assim, elementos 
de aplicabilidade os artigos 1º ao 4º, que revelam princípios fundamentais 
da Constituição, assim também as disposições constitucionais transitórias; 
 
 
AULAS 05 E 06 – O PODER CONSTITUINTE, EMENDA À CONSTITUIÇÃO, 
MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL E FENÔMENOS JURÍDICOS 
1. Conceito: O poder constituinte representa a autoridade máxima de se estabelecer 
uma constituição. Em síntese, as constituições emanam do poder constituinte – 
determinando direitos, procedimentos e obrigações, estando em conformidade com 
os direitos fundamentais. Nesse sentido, o poder constituinte ascende em 
detrimento do poder inerente às leis – tendo em vista que estas emanam de um 
poder constituído. Vale ressaltar que o poder constituinte possui a capacidade de 
fixar uma constituição e elaborar uma nova – apresentando caráter soberano (cria 
todos os demais poderes, mas não deriva de nenhum outro); 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
2. Titularidade e exercício: a correspondência plena entre titularidade e exercício 
ocorre somente na esfera abstrata. O único titular é o povo, mas o exercício é 
delegado aos constituintes ("representantes"). A título exemplificativo pode-se citar, 
no Brasil, a elaboração da Lei da Ficha Limpa (N° 135/2010) e a elaboração da Lei de 
Crimes Hediondos (N° 8072/1990) como normas provenientes da iniciativa popular. 
 
 
2.1 – Experiência da convenção constituinte da Filadélfia: contribuiu para a elaboração 
da Constituição de 1787 nos Estados Unidos – alegando que o poder constituinte 
provém do povo (“Nós, o povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais 
perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa 
comum, promover o bem-estar geral [...])”; 
 
2.2 – Experiência da Assembleia Constituinte da República Francesa (Abade Sieyès): 
após o processo revolucionário liberal-burguês, transferiu o poder constituinte do 
soberano para o povo; 
 
Estrutura política no período anterior à Revolução Francesa: estrutura política, social 
e econômica extremamente desigual e responsável pela concentração de privilégios 
nas mãos dos dois primeiros Estados. 
 
 1º Estado: Alto Clero 
 2º Estado: Nobreza 
 3º Estado: Povo (comerciantes, burgueses e colonos – responsáveis pelo 
sustenta da estrutura político-econômica e sendo ao mesmo tempo vítima 
dela) 
 
Abade Sieyès redigiu um texto que passa a circular para que as pessoas pudessem 
ler, fomentando a ascensão de um processo revolucionário. As teses de Sieyès 
contribuíram para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. 
 
 “O que é o Terceiro Estado?” – De acordo com Sieyès, o Terceiro Estado seria tudo, 
pois além de representar a maior parcela populacional francesa, é responsável pelo 
sustento da estrutura político-econômica pelo fato de ser o único a pagar impostos; 
 
 “O que tem sido o Terceiro Estado?” – De acordo com Sieyès, o Terceiro Estado não 
tem sido nada no contexto político, pois todos os benefícios e vantagens eram 
concedidos nas mãos dos dois primeiros Estados; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 “O que pretende ser o Terceiro Estado?” – De acordo com Sieyès, o Terceiro Estado 
deveria ser a nação francesa – evidenciando, assim, o repúdio aos dois primeiros 
Estados - e enquanto nação, exercer o poder constituinte. 
 
3. Espécies: 
 
3.1 – Poder constituinte originário: responsável pela elaboração das constituições – 
correspondendo, assim, a uma potência pública; 
 
3.2 – Poder constituinte derivado: após a promulgação, entra em cena o poder 
constituinte derivado – sendo a ele atribuída a competência de promover as 
reformas do texto normativo da constituição, ou seja, as reformas constituições 
(emendas constitucionais). Ademais, possui a competência de constituir a 
constituição local de cada um dos entes federados (no caso do Brasil - 27); 
 
3.2.1 – Poder constituinte derivado reformador: aquele que a constituição determinou 
a competência de aprovar as reformas no texto normativo da constituição. O 
poder constituinte derivado reformador é exercido pelo Congresso Nacional 
(Bicameral – Câmara dos deputados federais – representa a vontade do povo + 
Senado Federal – representa a vontade dos Estados); 
 
3.2.2 – Poder constituinte derivado decorrente: aquele competente de delegar a 
elaboração das constituições locais dos entes federados. O poder constituinte 
derivado decorrente é de competência das Assembleias Legislativas (ex: A 
Constituição da Bahia foi aprovada pela Assembleia Legislativa da Bahia); 
 
OBS: Após a aprovação, a PEC (Proposta de emenda constitucional) deixa de possuir tal 
nomenclatura. 
OBS: Os munícipios são responsáveis pela elaboração de leis orgânicas, assumindo, o 
conjunto dessas leis orgânicas, simbolicamente, o papel de uma “constituição municipal” 
– embora essa terminologia não seja acatada pela maioria dos doutrinadores; 
 
 
4. Quadro comparativo: 
 
CARACTERÍSTICAS DO PODER 
CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE 
DERIVADO 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Poder inicial/ inaugural: inaugura 
uma nova ordem constitucional; 
 
 Poder autônomo: não se encontra 
submetido a nenhum outro poder; 
 
 Poder ilimitado: não há nenhum 
limite jurídico que impeça o seu 
trabalho livre; 
 
 Poder incondicionado: não se sujeita 
a nenhuma condição prévia para a 
sua manifestação; 
 
 Poder permanente: não cessa pois 
deriva do povo; 
 
 
 Poder não inicial/ não inaugural/ 
secundário: garante a continuidade 
da ordem anteriormente estabelecida; 
 
 Poder dependente: depende do poder 
constituinte derivado originário; 
 
 Poder limitado: sujeito aos limites que 
a própria constituição estabelece; 
 
 Poder condicionado: a própria 
constituição estabelece a sua forma 
de manifestação; 
 
 Poder temporário ou provisório: 
submetido a meras competências 
(ativado esporadicamente); 
 
 
5. Limitações do poder constituinte derivado previstas no próprio texto da 
Constituição:5.1 – Temporais: são aquelas que proíbem o poder constituinte derivado de ser exercido 
durante um período de tempo. A Constituição de 1988 não impôs nenhuma restrição 
temporal, entretanto, ao longo da nossa história, a Constituição de 1824 estabeleceu 
uma limitação temporal ao poder constituinte derivado - no seu artigo 178, o qual previa 
a proibição de alteração nos quatro primeiros anos após a outorga. 
5.2 – Circunstanciais: são aquelas que proíbem, que na vigência de determinadas 
circunstâncias excepcionais, a alteração na Constituição. Essas circunstâncias são 
previstas constitucionalmente no art. 60, § 1º: estado de sítio, estado de defesa e 
intervenção federal. 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado 
de defesa ou de estado de sítio. 
 
5.3 – Materiais ou substanciais: são aquelas que proíbem o poder constituinte derivado 
de ser exercido em determinadas matérias (expressas no art. 60, § 4º). As limitações 
materiais ou substanciais podem ser: 
5.3.1 – Explícitas: são identificadas expressamente no texto constitucional – como as 
cláusulas pétreas que não são alteradas nem por emenda constitucional; 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Art.60. 
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
 I - a forma federativa de Estado; 
 II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
 III - a separação dos Poderes; 
 IV - os direitos e garantias individuais. 
OBS: A recente proposta do voto impresso rejeitada pela Câmara dos Deputados Federais 
violaria uma cláusula pétrea (Art. 60, § 4º, II); 
5.3.2 – Implícitas: a luz da doutrina de Nelson de Souza Sampaio, são aquelas não expressas 
e identificadas a partir da interpretação do texto constitucional. A título exemplificativo 
pode-se citar como aspectos imodificáveis através de emenda constitucional: a fonte do 
poder constituinte do povo, a competência constitucional para o exercício do poder 
constituinte derivado reformador do Congresso Nacional e a rigidez constitucional (previsão 
de procedimentos formais específicos visando a alteração da constituição por meio de um 
processo legislativo de emenda constitucional); 
 
5.4 – Formais ou procedimentais: são aquelas que impõem formalidades previstas no 
próprio texto constitucional (no art. 60, § 2º) para alterações na constituição. Nesse 
sentido, vale ressaltar que uma proposta de emenda deve ser votada duas vezes em 
cada casa do Congresso Nacional (totalizando quatro votações) 
OBS: Qualquer emenda constitucional que viole qualquer uma das limitações citadas 
anteriormente (temporais, circunstanciais, materiais e formais) é considerada 
inconstitucional – não exercendo nenhum efeito jurídico; 
 
6. Processo legislativo de emendas à constituição: conjunto de atos, fases e etapas 
destinados a um resultado final - a elaboração de uma emenda à constituição. Nesse 
sentido, pode-se destacar a existência de três fases: 
 
6.1 – 1ª fase: apresentação da PEC (abertura do processo legislativo de emenda à 
constituição) no Congresso Nacional. Existem três formas de apresentação da PEC: 
1/3 da Câmara dos Deputados Federais ou 1/3 do Senado Federal; presidente da 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
república; mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades federativas (27 
= 26 estados + Distrito Federal); 
 
6.2 – 2ª fase: discussão e votação em dois turnos em cada casa do Congresso Nacional 
(totalizando quatro turnos) será aprovada caso obtenha 3/5 dos votos em cada 
votação. Vale relembrar que a recente PEC do voto impresso foi derrotada no 
primeiro turno ocorrido na Câmara dos Deputados Federais e, consequentemente, 
foi aprovada; 
 
6.3 – 3ª fase: promulgação e divulgação da Emenda Constitucional a partir de uma 
reunião solene entre as duas mesas (Câmara dos Deputados Federais e Senado 
Federal). Em seguida, a Emenda Constitucional é publicada no Diário Oficial da União 
no mesmo dia ou no dia seguinte; 
 
7. Mutação constitucional: mudança informal da constituição que opera sobre o 
sentido e significado do texto, sem a alteração do escrito. Em síntese, a mutação 
constitucional corresponde à ressignificação do texto constitucional proveniente da 
mudança de costumes, da interferência jurisprudencial, entre outros aspectos. 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
 § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e 
a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
OBS: O novo significado que a sociedade passou a exigir compreende a expressão “homem e 
a mulher” sem distinção de orientação sexual, passando a se reconhecer, também, a relação 
homoafetiva como casamento. Evidencia-se, portanto, uma nova interpretação que atribui 
uma ressignificação do texto, ou seja, uma mutação constitucional. 
OBS: Um debate pendente na atualidade se encontra vinculado ao ato de portar drogas para 
o uso próprio (autolesão), envolvendo, também, o princípio penal de intervenção mínima; 
 
8. Fenômenos jurídicos: 
 
8.1 – Recepção constitucional: adoção pela nova constituição do direito preexistente quando 
materialmente compatível com a nova constituição, podendo ser total ou parcial – sendo a 
segunda mais comum. A incompatibilidade culmina em uma revogação tácita – como 
evidenciado na transição da Constituição de 1967 para a de 1988. A recepção constitucional 
é presumida. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
8.2 – Repristinação: reestabelecimento da vigência de uma lei em razão da revogação da lei 
revogadora (A  revogada por B  revogada por C e ocorre o reestabelecimento da 
vigência de A caso expressa). A repristinação deve ser expressa e não presumida; 
 
8.3 – Desconstitucionalização: procedimento pelo qual uma norma que era constitucional é 
despromovida à condição de norma legal. Assim como a repristinação deve ser expressa e 
não presumida; 
 
 
AULA 07 – TEORIA DA NORMA CONSTITUCIONAL 
1. Conceito de norma constitucional: 
Toda disposição jurídica prevista explicitamente ou implicitamente na constituição. As 
normas constitucionais, portanto, podem ser explícitas (expressas/ escritas – como o 
princípio da solidariedade) ou implícitas (extraídas a partir da interpretação de normas 
constitucionais expressas - como o princípio da boa-fé, que foi extraído a partir da existente 
prescrição de um Estado Democrático de Direito). 
A constituição, portanto, corresponde a um conjunto de normas jurídicas cogentes – 
explícitas ou implícitas. 
 
2. Espécies de norma constitucional: 
 
2.1 – Norma constitucional princípio: 
Os princípios, durante muito tempo, foram negligenciados devido à consolidação do 
positivismo jurídico – que valorizava somente as normas constitucionais conhecidas como 
regras. Os princípios – juntamente com a analogia, costumes e equidade – passaram, aos 
poucos, a serem adotados como mecanismos de integração do Direito visando a suprir a 
existência de lacunas jurídicas. 
Os princípios enquanto normas jurídicas emergiram a partir do movimento conhecido como 
neoconstitucionalismo – que foi baseado no pensamento pós-positivista (segunda metade 
do século XX). 
 
 2.1.1 – Os princípios sob os critérios quantitativos: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
Com base nos critérios de grau, os princípios correspondem, portanto, a normas jurídicas – 
de expressivo caráter axiológico - dotadas de elevado grau de abstração e de generalidade, 
além de apresentarem um conteúdo indeterminado. 
A título exemplificativo pode-se citar o princípio da dignidade da pessoa humana. Essa 
norma é amplamente abstrata (não há uma explicação concreta do que seria dignidade da 
pessoa humana) e, também, extremamente genérica. Por se tratar de uma norma jurídica,impõe uma obrigação a todos, e, nesse sentido, o princípio da dignidade da pessoa humana 
é responsável por prescrever a necessidade de respeito à dignidade de cada um. 
De acordo com o filósofo iluminista Immanuel Kant, as pessoas são dotadas de dignidade e 
as coisas, de preço. 
Os princípios, enquanto normas jurídicas, desempenham três funções fundamentais: a 
função normogenética (consagra valores como democracia, liberdade, igualdade, segurança 
jurídica, dignidade...), a função hermenêutica (responsáveis por orientar sua exata 
compreensão) e a função integrativa (mecanismos de integração do Direito). 
 2.1.2 – Os princípios sob os critérios qualitativos : 
Durante um período significativo, a doutrina realizou uma diversidade de estudos em prol da 
distinção entre princípio e regra baseando-se em dados quantitativos. Entretanto, a 
classificação pautada em pressupostos qualitativos demonstra-se mais plausível e eficaz. 
Em seu livro, “Teoria dos Direitos Fundamentais”, Robert Alexy defendeu que os princípios 
são normas que ordenam o que deve ser realizado na maior medida possível, de acordo com 
as possibilidades fáticas e jurídicas existentes. Através dessa concepção, a doutrina tem 
considerado que os princípios são mandamentos de otimização. 
Os princípios se autorregulam, ou seja, limitam a atuação de outros princípios. Nessa 
perspectiva, o princípio que garante liberdade de manifestação do pensamento (CF - Art. 5, 
IX) terá a sua atuação limitada pela norma que protege a honra e imagem como direitos 
invioláveis (CF - Art. 5, X) – ou seja, não se pode falar tudo o que se queira devido ao fato de 
que se deve respeitar a honra do próximo. 
 
 2.1.3 – Aplicação dos princípios: 
Os princípios são aplicados através do método da ponderação ou sopesamento por estarem 
submetidos a possibilidades fáticas e jurídicas. A ponderação corresponde a um 
balanceamento para o caso visando, sobretudo, à resolução de antinomias jurídicas, ou seja, 
do choque entre normas jurídicas. 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 2.1.4 – Colisão de princípios: 
A colisão de princípios é solucionada a partir da dimensão do peso. A partir do método da 
ponderação ou sopesamento tendo em vista as particularidades de um determinado caso. A 
título exemplificativo pode-se citar a decisão do STF responsável por conceder autonomia a 
estados e municípios no que tange a abertura de templos religiosos em contexto pandêmico 
(direito à vida x direito à liberdade religiosa e de culto). 
 
2.2 – Norma constitucional regra: 
 
2.2.1 – As regras sob os critérios quantitativos: 
Com bases no critério de grau, as normas constitucionais conhecidas como regras são 
dotadas de diminuto grau de abstração e de generalidade, além de apresentarem um 
conteúdo determinado, ou seja, preciso. A título exemplificativo pode-se citar a regra da 
aposentadoria compulsória (Art. 40, § 1º, II). Essa regra é voltada para um servidor público 
que completou 75 anos (antecedente), o qual será aposentado recebendo proventos da 
aposentadoria proporcionais ao seu tempo de contribuição. 
 
 2.2.2 – As regras sob os critérios qualitativos: 
De acordo com Robert Alexy, em seu livro “Teorias dos Direitos Fundamentais”, as regras 
trabalham na lógica do “all or nothing” – ou seja – do tudo ou nada. Diferentemente dos 
princípios, não há satisfação parcial do previsto pelas regras e, portanto, caso essas sejam 
válidas, devem ser plenamente satisfeitas. Através dessa concepção, a doutrina tem 
adotado que as regras são mandamentos definitivos. 
 
 2.2.3 – Aplicação das regras: 
As regras são independentes de regras fáticas e jurídicas. Nesse sentido, são aplicadas pelo 
método da subsunção, isto é, são trabalhadas na integralidade. 
Partindo desse pressuposto, não há espaço para escolhas. Por exemplo, os servidores 
públicos de 74 anos não são contemplados pela regra da aposentadoria compulsória e não 
há controvérsias. 
 
 2.2.4 – Conflito de regras: 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
O conflito de regras pode ser resolvido de duas maneiras: 
 Na dimensão da validade: pelo critério da subsunção, escolhe-se a válida para se 
aplicar integralmente. A outra é considerada inválida e, consequentemente, 
abandonada; 
 
 Quando se for possível incluir uma exceção em uma das regras em conflito. Ex: O 
estatuto de uma faculdade prevê uma regra que determina que o aluno somente 
pode sair da sala depois do professor finalizar a aula. O mesmo estatuto determina 
que quando tocar o alarme de incêndio, os alunos devem sair imediatamente da sala 
de aula. Assim, no caso de embate entre essas duas regras, ocorrerá uma síntese a 
partir da consideração das duas regras: os alunos devem permanecer na sala de aula 
até o professor finalizar a aula, desde que não toque o alarme de incêndio. 
 
AULA 09 – CLASSIFICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL QUANTO À 
EFICÁCIA E INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
3. Classificação da norma constitucional quanto à eficácia e à aplicabilidade: 
3.1 – Norma constitucional com eficácia plena: Norma com eficácia máxima e que reúne 
todas as condições necessárias para ser aplicada diretamente, imediatamente e 
integralmente. A norma constitucional de eficácia plena apresenta aplicabilidade direta (não 
depende de nenhum ato posterior), imediata (não se sujeita a nenhum prazo ou medida 
intermediadora, sendo aplicada imediatamente) e integral (produz todos os efeitos que ela 
deseja). Ex: A regra que estabelece a aposentadoria compulsória para aqueles servidores 
públicos que completaram 75 anos (Art. 40, § 1º, II – CF/88) e a maior parte das normas 
constitucionais brasileiras que tratam de direitos fundamentais (como o direito à vida, por 
exemplo, expresso no Art. 5º - caput); 
 
3.2 – Norma constitucional com eficácia contida: Norma que não apresenta eficácia ampla, 
mas, assim como a norma constitucional com eficácia plena, reúne todas as condições 
necessárias para ser aplicada. A norma constitucional com eficácia contida apresenta 
aplicabilidade direta, imediata e não integral – tendo em vista que a própria norma prevê 
condições que evitam a sua aplicação integral. Ex: O direito à liberdade de escolha da 
profissão - Art. 5º, XIII: e livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas 
as qualificações profissionais que a lei estabelecer (cláusula de contenção). Ademais, pode-se 
citar ainda, a título exemplificativo, a liberdade econômica (Lei n.º 13.874, de 2019) que se 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
encontra restringida por algumas imposições como o monopólio do Estado no que tange a 
exploração de recursos minerais; 
 
3.3 – Norma constitucional com eficácia limitada: Norma que apresenta eficácia 
extremamente baixa pois não reúne as condições necessárias para ser aplicada. Partindo 
desse pressuposto, a norma constitucional com eficácia limitada apresenta aplicabilidade 
indireta, mediata e não integral. A título exemplificativo pode-se citar o Art. 153, VII que 
determina a possibilidade da incidência de impostos sobre grandes fortunas mediante a 
elaboração de lei complementar: Compete à União instituir impostos sobre (...) VII - grandes 
fortunas, nos termos de lei complementar (observa-se que há a presença uma eficácia, 
mesmo que mínima, devido ao estabelecimento da responsabilidade da União nessa 
questão); 
OBS: Aqui se encontra posta em análise a eficácia técnico-jurídica, ou seja, a imposição de 
obrigações através das normas. A eficácia técnico-jurídica difere-se da eficácia social tendo 
em vista que a segunda se refere à efetividade, isto é, ao cumprimento das normas pela 
sociedade; 
 
 
 
1. Interpretação constitucional 
 
1.1 – Noções gerais sobre interpretação: A interpretação jurídica envolve a compreensão 
(conhecimento, identificação) e aplicação (resolução de problemas) das normas 
jurídicas. Durante muito tempo sustentou-se o axiomaem latim “in claris cessat 
interpretatio" (na clareza cessa a interpretação), mas a própria incoerência desse 
acaba conduzindo-o ao descrédito pois para se chegar à conclusão de que na clareza 
cessa a interpretação foi necessário um conhecimento prévio anterior (ou seja, uma 
interpretação prévia); 
 
1.2 – Intepretação constitucional: A interpretação constitucional corresponde à 
compreensão das normas constitucionais visando à solução de problemas 
constitucionais. Dessa forma, a interpretação constitucional se vale de princípios 
próprios que lhe conferem especificidade e autonomia. A título exemplificativo pode-
se citar a colisão entre dois princípios (decreto municipais e governamentais de 
lockdowns em tempos de pandemia – direito à vida x liberdade econômica) como um 
problema constitucional; 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
1.3 – Métodos de interpretação constitucional: Muitos problemas constitucionais 
desafiam algo maior do que o mero ato de ler e aplicar a norma - tendo em vista que 
necessitam de métodos mais complexos em prol da resolução deles. 
 
1.3.1 – Método hermenêutico jurídico ou hermenêutico clássico (Escola Histórica do 
Direito de Savigny): 
 
 Intepretação literal ou filológica: interpretação constitucional ao “pé da 
letra”, ou seja, uma interpretação dogmática (o que, muitas vezes, acaba 
sendo perigoso); 
 
 Interpretação histórica: interpretação constitucional vinculada à análise 
do passado, ou seja, o intérprete retroage no tempo para buscar 
compreender os fatores que contribuíram para o legislador elaborar 
determinado texto; 
 
 Interpretação sistemática: interpretação constitucional que leva em 
consideração o todo e não somente partes específicas; 
 
 Interpretação teleológica ou finalística: interpretação constitucional que 
prioriza a análise da finalidade da norma; 
 
1.3.2 – Método hermenêutico tópico-problemático (Theodor Viehweg): A tópica 
(sintetizada desde nomes clássicos como Aristóteles) é uma técnica de pensar o 
problema, ou seja, uma técnica mental que se orienta para a solução de um 
problema. A interpretação – para Theodor Viehweg – deve começar pela 
discussão do problema concreto que se pretende resolver para, só no final, 
ocorrer a identificação da norma adequada (problema  norma); 
 
1.3.3 – Método hermenêutico concretizador ou concretista (Konrad Hesse): 
Diferentemente do defendido por Viehweg, Hesse partiu do pressuposto de que a 
norma deve anteceder o problema concreto na análise. Nesse sentido, há um 
propósito de concretizar o texto em relação ao problema que ele busca resolver. 
Apesar disso, a constituição possui muitas normas de conteúdo aberto, o que 
torna difícil a extração de uma solução para se resolver um determinado 
problema. O judiciário brasileiro tem priorizado esse método ao longo da história 
(conforme a jurisprudência do STF, por exemplo); 
 
1.3.4 – Método hermenêutico científico-espiritual (Rudolff Smend): Método que busca 
resgatar o espírito da constituição, ou seja, a ordem de valores subjacentes ao 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
texto constitucional. O intérprete, nesse sentido, precisa resgatar esses valores 
para entender a constituição; 
 
1.3.5 – Método hermenêutico normativo-estruturante (Friedrich Muller): De acordo 
com essa perspectiva, a norma é o resultado da interpretação – pois a norma não 
corresponde meramente ao texto, mas à união deste com a realidade social 
subjacente a esse. Nesse cenário, é necessária a compreensão do dever-ser e do 
ser e, a partir daí, obtém-se resultado: a norma. Assim, durante a intepretação 
constitucional, leva-se em consideração o texto normativo e o contexto social. 
Por exemplo, uma norma que proibia o uso de biquínis durante o governo Jânio 
Quadros não seria interpretada da mesma forma em 2021. Em síntese, com base 
no pensamento de Muller, conclui-se que a realidade constrói a norma e não a 
norma constrói a realidade – interpretando-se, portanto, a conjugação entre 
texto e realidade. 
 
 
1.4 – Princípios de interpretação constitucional: Princípios que norteiam a interpretação 
constitucional: 
 
1.4.1 – Princípio da unidade de constituição: É necessário compreender a constituição 
como um todo, a fim de se evitar uma interpretação parcial, ou seja, de forma 
fragmentada e fora de contexto. Em síntese, as partes não podem ser tratadas 
como pilhas isoladas, mas sim como um todo (a partir do geral se entende o 
específico). Uma análise constitucional isolada pode gerar conclusões 
contraditórias – como na interpretação isolada do Art. 226, § 3º da CF/88 que 
discorre acerca da união estável; 
 
1.4.2 – Princípio da integridade político-social: O intérprete deve levar em 
consideração princípios que venham a proporcionar uma ideia de integração 
político-social de uma comunidade, por mais que nessa comunidade existam as 
diferenças. Essas diferenças apresentam existência fundamental e devem ser 
respeitadas, conforme previsto constitucionalmente. Em síntese, há a busca de 
aglutinar a sociedade a partir de um conjunto de valores com o fito de evitar a 
obtenção de resultados que provocam a desagregação ou polarização da 
conjuntura social; 
 
1.4.3 – Princípio da máxima efetividade da constituição: A constituição precisa de 
máxima efetividade, ou seja, deve ser interpretada da forma mais ampla possível, 
levando em consideração determinados limites previstos constitucionalmente. A 
título exemplificativo pode-se citar a existência de fronteiras no que tange o 
direito à liberdade de expressão pois, apesar de corresponder a um direito 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
fundamental, essa deve respeitar a imagem, a honra e a dignidade dos demais 
cidadãos; 
 
1.4.4 – Princípio da concordância prática ou da harmonização: Esse princípio é utilizado 
quando há uma colisão de conflitos. O intérprete, nesse sentido, deve buscar 
uma solução em prol de conciliar a luz da situação concreta da colisão de 
conflitos. A título exemplificativo pode-se citar a colisão já mencionada 
anteriormente entre o direito à liberdade de expressão e o direito à honra – 
ambos tutelados constitucionalmente. Em síntese, o objetivo é uma 
harmonização entre os dois princípios antagônicos com base no caso concreto; 
 
1.4.5 – Princípio da conformidade funcional ou justeza: A função interpretativa deve 
ser atribuída ao órgão competente (matérias legislativas para os órgãos 
legislativos, matérias executivas para os órgãos executivos e questões judiciárias 
para os órgãos judiciários). Por exemplo, as funções judiciais (de declaração do 
Direito e da resolução de conflitos) são de responsabilidade dos órgãos judiciais. 
Visando à manutenção do equilíbrio entre os poderes, há o sistema de freios e 
contrapesos (ou sistema de freios e contrafreios), ou seja, a previsão da 
possibilidade de, excepcionalmente, um poder interferir no outro para atingir o 
objetivo anteriormente citado – a harmonia entre os três poderes. 
 
1.4.6 – Princípio da presunção da constitucionalidade das leis: O intérprete fiscaliza a 
constitucionalidade da lei, ou seja, se a lei é compatível com o texto 
constitucional. Caso a lei não seja compatível com a constituição, essa será 
afastada do ordenamento jurídico e declarada inconstitucional. Caso ocorra uma 
dúvida acerca da constitucionalidade da lei, presume-se a constitucionalidade da 
lei (como, por exemplo, no âmbito penal, na dúvida acerca da culpabilidade de 
um indivíduo, o réu é decretado inocente a partir do princípio da presunção de 
inocência - In dubio pro reo). Em síntese, na dúvida, a lei precisa ser respeitada e 
mantida, privilegiando-se, portanto, o trabalho realizado pelo poder legislativo; 
 
1.4.7 – Princípio da interpretação da lei conforme à constituição: A lei precisa ser 
interpretada conforme a constituição. Somente é possível aplicar esse princípio 
como orientador do textoconstitucional quando, diante da análise da lei, o 
intérprete chega a um resultado curioso. Por exemplo, um intérprete considerar 
que uma lei possibilita mais de um significado e que esses significados são 
antagônicos (leis plurissignificativas ou leis polissêmicas). A partir daí da 
concepção de que uma legislação tenha dois possíveis significados divergentes 
(significado 1 e significado 2), deve-se analisar a lei a partir da compatibilidade 
com a constituição. Nesse sentido, se for identificado que, através de um dos 
significados, a lei é desconforme, isto é, viola o texto constitucional, essa 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
interpretação é descartada por incompatibilidade. O outro significado (significado 
2) é fixado por proporcionar a análise da lei conforme à constituição. 
 
AULAS 10 E 11 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
1. Conceito: 
 
1.1 – Conceito estrutural: Sistema de defesa das constituições em prol da proteção 
dessas, pois, caso contrário, as constituições ficariam passíveis de sofrerem 
transgressões. Partindo desse pressuposto, o controle de constitucionalidade 
proporciona a defesa da rigidez constitucional e da relevância desse texto 
fundamental. 
 
1.2 – Conceito fiscal: Atividade de fiscalização da lei em face da constituição. 
 
1.3 – Conceito fundido: O controle de constitucionalidade consiste num sistema de 
defesa das constituições rígidas, que funciona por meio de uma atividade de 
fiscalização ou verificação da conformidade ou adequação da lei ou do ato do 
poder público com a constituição. 
 
No Brasil, os órgãos de controle de constitucionalidade são os órgãos judiciais, ou 
seja, é de competência dos juízes e tribunais essa missão de proteger e defender 
a constituição a partir da fiscalização das leis. Já a França, na sua constituição da 
Quinta República, concedeu essa função de guardião da constituição ao Conseil 
Constitutionnel (Conselho Constitucional). 
 
 
2. Pressupostos para a existência do controle de constitucionalidade: 
 
2.1 – A constituição deve ser escrita e, consequentemente, formal; 
 
2.2 – A constituição deve ser rígida, ou seja, os mecanismos para alteração do texto 
constitucional são distintos dos mecanismos para a alteração de normas 
infraconstitucionais; 
 
2.3 – Deve existir um órgão responsável por exercer o controle constitucional (órgão 
de controle). Vale ressaltar que a constituição de cada país determina esse órgão. 
No Brasil assim como nos Estados Unidos, são todos os juízes e todos os tribunais 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
os responsáveis pelo controle constitucional – enquanto que no Chile, na 
Colômbia, no Peru e na Bolívia é perceptível a presença de um único tribunal para 
o exercício desse papel de “guardião da constituição”; 
 
 
3. Mecanismos de controle: Surgiram com a finalidade de responder a três principais 
perguntas – Quem exerce o controle de constitucionalidade? Como é exercida essa 
atividade de controle? e Quais as consequências desse controle? 
 
 
3.1 – Modelo americano: 
 
 Surgido nos Estados Unidos em 1803; 
 
 Apresenta matriz estadunidense e serve de referência para todo o continente 
americano; 
 
 Surgido através de uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos no 
caso Marbury x Madison. Marbury foi um cidadão estadunidense que havia 
sido nomeado juiz de uma das cortes de Washington DC pelo então 
presidente estadunidense John Adams. Entretanto, Marbury foi nomeado 
faltando pouco tempo para o término do mandato de Adams e, nesse 
sentido, ele não conseguiu tomar posse. O presidente posterior Thomas 
Jefferson e seu secretário James Madison resolveram não conceder a posse a 
Marbury. Marbury, nesse cenário, recorreu a um escritório de advocacia que 
entrou com uma ação na Suprema Corte dos Estados Unidos. John Marshall, 
“justiceiro” da Suprema Corte dos Estados Unidos, foi o responsável pelo 
primeiro voto e chegou à conclusão de que, diante da colisão entre uma lei e 
a constituição, deve ocorrer a supremacia da constituição. A partir daí, foi 
necessária a análise acerca da constitucionalidade daquela lei – obtendo-se a 
conclusão de que a lei era iníqua (nula) e, portanto, inconstitucional, cabendo 
à Suprema Corte dos Estados Unidos, aos tribunais e aos juízes o exercício do 
controle de constitucionalidade de acordo com a competência de cada um a 
luz do caso concreto. 
 
 Características: Em síntese, infere-se a existência de um controle judicial 
(realizado pelo poder judiciário), difuso (realizado por todos os tribunais e 
juízes – não se limitando apenas à Suprema Corte), concreto (é realizado a 
partir da análise de um caso concreto, tal como Marbury x Madison) e 
incidental (a inconstitucionalidade é examinada como incidente da questão 
principal); 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 
 Efeitos do controle de constitucionalidade: Do ponto de vista da eficácia 
temporal a eficácia é retroativa, isto é, a decisão é tão poderosa que nulifica 
todos os efeitos de uma norma inconstitucional desde a sua publicação oficial 
(eficácia ex tunc). Ademais, essa eficácia é restrita às partes (eficácia 
interpartes); 
OBS: Se for uma decisão da Suprema Corte dos EUA, por conta do princípio do stare 
decisis, firma-se um precedente obrigatório e a decisão passa a ter efeitos erga 
omnes, isto é, vale para todos os casos posteriores 
 
3.2 – Modelo europeu: 
 
 Surgiu na Áustria em 1920; 
 
 Kelsen foi convidado a elaborar e apresentar o anteprojeto a fim de se 
promulgar a nova constituição do país; 
 
 Kelsen discordava das características do modelo americano e, daí, propôs 
novas características: controle judicial, concentrado (concentrado em um 
único tribunal – Tribunal Constitucional) e abstrato (ou seja, desvinculado de 
qualquer caso concreto, existindo ações diretas por meio das quais algumas 
autoridades podem propor uma ação ao Tribunal Constitucional para que este 
examine a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo – tudo isso 
desvinculado de qualquer conflito de interesses); 
 
 No que tange os efeitos do modelo europeu, este se difere do sistema 
americano de controle difuso, tendo em vista que são Erga omnes (a decisão 
tem efeito para todos) e Ex nunc (os efeitos não são retroativos 
 
 
3.3 – Modelo brasileiro: 
 
 Modelo misto ou eclético, ou seja, mescla pressupostos tanto do modelo 
americano quanto do modelo europeu; 
 
 Controle difuso e concreto (presença de tribunais superiores e inferiores que 
realizam o controle de constitucionalidade a luz de um caso concreto), 
concentrado e abstrato (STF é responsável pelo julgamento de ações diretas); 
 
 
Thiago Coelho (@taj_studies) 
 
 Ações diretas: ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ação principal – 
visa à exclusão da norma do ordenamento jurídico), ADO (Ação Direta de 
Inconstitucionalidade por Omissão), ADC (Ação Direta de Constitucionalidade 
da lei) e ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ação 
subsidiária); 
 
 Ex: A constituição determina que uma lei seja elaborada e ela não é, por 
conseguinte, se tem uma inconstitucionalidade por omissão; 
 
 Ex: A ADPF 130 julgou inconstitucional, em 2009, a Lei de Imprensa (Lei 
5.250/67) que previa o controle do trabalho dos profissionais de informação a 
luz da “moral e dos bons costumes”; 
 
 
 
 
Art. 103 – CF/88: 
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de 
constitucionalidade: 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 13.105, de 2015) 
(Vigência) 
 
I - o Presidente da República; 
II - a Mesa do Senado Federal; 
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; 
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação 
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (Redaçãodada pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004) 
VI - o Procurador-Geral da República; 
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; 
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; 
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
 
 
Thiago Coelho – FBDG – 2021.2 
@taj_studies

Continue navegando