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MELHORIA CONTÍNUA: UMA ABORDAGEM DA QUALIDADE NA ÁREA DE CLASSIFICAÇÃO FINAL, NUMA INDÚSTRIA DE LOUÇAS SANITÁRIAS Camila Pinheiro de Farias (FA7) camilapfarias@yahoo.com.br Luiz Eduardo Costa Lima Soares (FA7) luizeduardocostalima@gmail.com Jean Mari Felizardo (FA7) jean_m_felizardo@yahoo.com.br O presente artigo científico tem como objetivo geral avaliar a melhoria na área de classificação final de uma indústria do ramo de louças sanitárias, após aplicação do uso das ferramentas da qualidade em seu processo. Neste ramo de negócio, trabalhar com qualidade em seu sistema produtivo vem de encontro com os padrões do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) e além disso, torna a companhia mais competitiva no mercado. Inicialmente, com o intuito de alcançar os objetivos propostos foi utilizada a abordagem teórica para aplicar as ferramentas da qualidade, a melhoria contínua, os indicadores de performance e sua aplicabilidade na área de ênfase. Para desenvolver o estudo foi utilizado o método qualitativo com caráter exploratório-descritivo baseando-se em bibliografias e documentos de pesquisa. A coleta de dados foi realizada por meio de observação participante e os dados foram analisados utilizando a técnica da análise descritiva. Baseado na revisão de literatura e consenso com as informações obtidas pela coleta de dados, foi possível identificar os pontos críticos e propor ações corretivas e preventivas para conseguir resultados positivos para a indústria do ramo de louças sanitárias localizada no estado do Ceará. Também, a área de classificação final obteve ganhos representativos na otimização de seus processos, na redução dos custos diretos por meio do consumo consciente dos insumos e padronização de suas atividades. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 11 Palavras-chave: Classificação final, ferramentas da qualidade, louças sanitárias, melhoria contínua, produtividade XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 12 1 Introdução Na metade do século XX viu-se o alvorecer de uma nova revolução industrial, fundada sobre o trabalho e os ensinamentos de inovadores de processos (Deming, Juran, Ishikawa e Taguchi). Em menos de trinta anos, a adoção de práticas (ciclo PDCA, diagrama de causa e efeito e o controle estatístico) levaram a novos padrões de desempenho não apenas em qualidade, mas também em produtividade, em uma transformação que se disseminou para todas as áreas da indústria (IMAI, 2014). Para o ramo de louças sanitárias adotar as práticas de qualidade é buscar a excelência para se credenciar ao Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), que vem a ser um instrumento do governo federal para cumprimento dos compromissos firmados pelo Brasil quando da assinatura da carta de Istambul (Conferência do Habitat II/1996). A meta é organizar o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva (BRASIL, 2015). Inserido a este programa têm-se o Programa Setorial da Qualidade (PSQ) que, por meio de avaliações trimestrais, avaliam se todas as louças sanitárias comercializadas no Brasil atendem às normas brasileiras e às diretrizes de uso racional de água. Existem 16 marcas (de 8 fabricantes diferentes) certificadas como qualificadas dentro do programa (BRASIL, 2015). No ano de 2014 a média de conformidade dessas empresas dentro do programa foi de 90,8%, ou seja, apenas uma marca não obteve resultados satisfatórios em todas as avaliações (BRASIL, 2015). Para Imai (2014), a implementação da melhoria contínua permite às organizações atingir suas metas e objetivos pelo aumento do desempenho, como decorrência do aumento da produtividade e redução dos custos. Portanto, com base neste constructo, o objetivo geral deste estudo é avaliar a melhoria na área de classificação final de uma indústria do ramo de louças sanitárias, após aplicação do uso das ferramentas da qualidade em seu processo. Para melhor entendimento dos leitores, é válido esclarecer que no ramo da indústria de louças XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 13 sanitárias a área de classificação final é considerada como um controle de processo e atua como “termômetro” da qualidade do produto final (louça sanitária). Nesta área ocorre a seleção dos produtos que tem qualidade para serem comercializados (qualidade primária e secundária). A seleção é realizada peça por peça, considerando como critério de avaliação a parte estética da louça (visual) e os aspectos sanitários (característica intrínseca do produto). Quando a louça é isenta de defeitos estéticos e possui um bom aspecto sanitário é enquadrada com qualidade primária (grau A). Porém, quando a estética está comprometida (presença de defeitos estéticos) que impactam visualmente a aparência as peças são classificadas com qualidade secundária (grau B). 2 Revisão de literatura 2.1 Melhoria contínua A gestão da melhoria contínua tem duas funções principais: manutenção e melhoria. A manutenção faz com que as tarefas sejam executadas em conformidade com os procedimento operacionais padrão (POP’s). E a melhoria, refere-se às atividades voltadas para elevar esses padrões (IMAI, 2014). Para Carpinetti (2012) o processo de melhoria contínua de produtos e processos deve estar sempre em movimento (circulação), pois a busca pela melhoria contínua é um processo cíclico e que passa por modificações onde os desafios superados são reelaborados e transformados em novas metas/objetivos. 2.2 Ferramentas da qualidade As ferramentas da qualidade devem ser do conhecimento de todas as pessoas da organização, e devem fazer parte do programa de treinamento da qualidade (BALLESTERO-ALVAREZ, 2012). Para o desenvolvimento deste estudo científico as ferramentas eleitas tiveram como fundamento a finalidade para seu uso. Para identificação e priorização do problema (mapeamento do processo); para elaboração e implementação de soluções (capacidade do processo e diagrama de causa e efeito) e para verificação de resultados (lista de verificação) (CORRÊA; CORRÊA, 2012). XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 14 2.2.1 Mapeamento do processo Quando se mapea um processo busca-se apresentar informações quanto a aspectos relevantes de entrada, processamento e saída, para que seja possível realizar uma análise focalizada e propor otimizações do processo (RODRIGUES, 2014). Para Carpinetti (2012, p. 152), “mapeamento de processos consiste na representação da lógica de funcionamento de uma organização real por meio de um formalismo descritivo. O objetivo é criar um 'mapa de processo', que mostra graficamente o relacionamento entre seus elementos e atividades”. 2.2.2 Capacidade de um processo Segundo Carpinetti (2012, p. 154), “a capacidade de um processo de fabricação é avaliada por meio de índices de capabilidade. O índice mais usado para quantificar a capabilidade de um processo é o Cp, ilustrado na Equação 1. Na Equação 1, o Cp considera apenas a variabilidade do processo com base no limite superior especificado (LSE) e limite inferior especificado (LIE), tendo como denominador seis vezes o desvio-padrão(σx). O índice de capabilidade é um indicativo do nível de qualidade do processo (CARPINETTI, 2012). Um processo é considerado como fora de controle quando algum dos seus pontos ultrapassar os limites (LSE ou LIE) (RODRIGUES, 2014). Equação 1 – Capabilidade do processo (Cp) Fonte: Carpinetti (2012, p. 154) Rodrigues (2014) mensura a capacidade de um processo, considerando a amplitude natural do processo, esta amplitude correspondendo a seis desvios-padrão (6σ), conforme ilustrado na Equação 2. Mediante dados da Equação 2 se extrae a conclusão de que quanto maior o Cp menor a variabilidade do processo, mas o Cp não identifica se o processo se encontra centrado na XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 15 média (RODRIGUES, 2014). A amplitude da especificação será ilustrada pela diferença entre LSE e LIE, dividida pela amplitude do processo, ou seja, seu desvio-padrão (σ). Em virtude disso pode apresentar interpretações não adequadas. Esta análise fica mais clara com as informações apresentadas na Figura 2. Equação 2 – Capacidade do processo (Cp) Fonte: Rodrigues (2014, p. 120) Esta capacidade determina a relação entre o desempenho real e o desempenho especificado e é considerado capaz quando: (1) atende aos limites de especificação definidos pelo cliente; e, (2) se encontra controlado (RODRIGUES, 2014). Na Figura 2 considera como um processo capaz, quando o Cp é maior que 1 e será considerado como incapaz, quando o Cp for menor do que 1. Figura 2 – Ilustração das especificações para Cp XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 16 Fonte: Rodrigues (2014, p. 121) 2.2.3 Diagrama de causa e efeito A partir do momento em que é possível controlar o processo, entendendo quais são suas variáveis, suas especificações, seus pontos de controle, todo e qualquer desvio, problema ou necessidade de melhoria encontrado deve ser tratado por meio da ferramenta de diagrama de causa e efeito (BALLESTERO-ALVAREZ, 2012). Na Figura 1 os processos são representados por um conjunto de fatores que quando acionados resultam num efeito ou produto. Onde custo, qualidade, entrega e serviços são as quatro dimensões da qualidade, que avaliam o desempenho de um processo (TUBINO, 2009). Figura 1 – Diagrama de causa e efeito XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 17 Fonte: Tubino (2009, p. 165) 2.2.4 Lista de verificação Nesta subseção, é apresentada a ferramenta lista de verificação, que serve como “controlador” ou “mensurador” das ações desenvolvidas nas subseções supracitadas, ou seja, é responsável pela análise do desenvolvimento de ações do processo. As folhas de verificação devem conter, de forma simples, objetiva e clara, o procedimento correto a ser seguido e as verificações que deverão ser avaliadas no processo para evitar a recorrência dos problemas, ou até mesmo dispersar-se do objetivo determinado. Corrêa e Corrêa (2012) enaltece que essas folhas não substituem a documentação formal do processo. Na subseção 2.2.2 da revisão de literatura, foram apresentadas as especificações de um processo e mediante a determinação do LIE e LSE é possível a elaboração de uma folha de verificação para avaliar a distribuição desses itens de controle do processo, ou seja, ela pode ser planejada a partir de necessidades de análises de dados futuros (CARPINETTI, 2012). 2.2.5 Ciclo PDCA Mediante determinação e apuração dos dados que indicam a existência de melhoria de um determinado processo, é necessário realizar o arranjo e planejamento destas informações e o XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 18 uso do ciclo PDCA (Figura 2) se torna uma ferramenta de auxílio e suporte para se chegar aos objetivos desejáveis (CORRÊA; CORRÊA, 2012). Figura 2 – Ciclo PDCA de Shewhart-Deming Fonte: Corrêa e Corrêa (2012, p. 172) Com a utilização do ciclo PDCA é possível a análise e o controle dos processos críticos, buscando garantir o padrão ou inserindo pequenas melhorias. Carvalho e Paladini (2012, p. 358), afirmam que o ciclo PDCA é “um processo recorrente e em termos semânticos, trata-se de um processo que pode ser indefinidamente continuado, já que seus efeitos parciais vão, sucessivamente, transformando-se em causas de efeitos semelhantes”. 2.3 Indicadores da qualidade Para Carpinetti (2012), o uso da medição de desempenho vem sendo cada vez mais considerada como uma técnica relevante de gestão de desempenho, especialmente no processo de revisão de progresso de uma organização. Medir o desempenho não é um fim, mas um meio de se gerenciar o desempenho de um produto, de uma atividade ou até mesmo de toda uma organização. A atuação da área da qualidade na produção é realizada de forma com que exista ganho entre XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 19 as partes. Onde a produção recebe conhecimento de como se aproveitar dos benefícios da qualidade e por outro lado a qualidade conquista novos aliados e ganha efetividade (eficácia + eficiência) nos processos estabelecidos (BALLESTERO-ALVAREZ, 2012). Portanto, a qualidade está totalmente enraizada no processo produtivo e quando bem aplicada poderá trazer ganhos de produtividade para as organizações. 2.4 Produtividade Para Martins e Laugeni (2005), a produtividade é a busca contínua por métodos de trabalhos mais eficientes, bem como os processos de produção, com a finalidade de aprimorar a produtividade com um custo mínimo. A Equação 3 apresenta como se realiza o cálculo para obter o valor da produtividade levando em consideração as entradas e saídas de um processo produtivo. A mesma é calculada entre o quociente entre o que a empresa produz (saídas) e o que ela consome (entradas) (MARTINS; LAUGENI, 2005). Equação 3 – Cálculo da produtividade Fonte: Martins e Laugeni (2005, p. 2) Corrêa e Corrêa (2012), informa que para se obter resultados favoráveis de melhoria da produtividade é necessário gerenciar os dados: (1) frequência de medição (quando a medida deve ser registrada e relatada); (2) quem medirá (responsável pela execução do primeiro dado); (3) fontes de dados (folha de verificação); (4) quem age nos dados (responsável por corrigir o curso das ações); e, (5) quais ações possíveis (aplicação do ciclo PDCA). Avaliar a produtividade é importante pois a empresa entenderá quais são suas fontes de eficiência (ou ineficiência). 3 Procedimentos metodológicos Esta pesquisa científica é classificada quanto aos seus objetivos (exploratória-descritiva), sua natureza (qualitativa), quanto ao local (estudo de caso) e quanto aos procedimentos (bibliográfica e documental). A determinação para escolha do tipo de pesquisa foi em XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 20 detrimento de uma necessidade existencial na indústria de louças sanitária e na área de estudo, pois desta maneira é possível contextualizar o atual cenário da área de classificação final e entender quais os melhores recursos a serem utilizados para otimizar e melhorar o processo de qualidade. Neste estudo científico é caracterizado a observação participante no período de 02 de março à 30 de abril de 2015, conforme Gil (2010) o pesquisadortem participação real na organização ou grupo. Além disto, a pesquisa documental foi realizada com dados coletados e aprovados pelo coordenador técnico da área de qualidade. Para o formulário foi elaborado oito fatores, transcritos pelos pesquisadores para o papel, com o intuito de correlacionar o instante atual com o instante após aplicação das ferramentas da qualidade na área de classificação final numa indústria de louças sanitárias. Também, outro documento utilizado foi para descrever os seis fatores que identificam pontos de como a linha de classificação final está inserida no contexto da qualidade no que tange aos aspectos de padronização, especialização da mão-de- obra e documentação do processo. 4 Resultados da pesquisa A indústria de louças sanitárias de cerâmica está localizada no estado do Ceará e mantém um foco elevado para se manter no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) por meio da conformidade de seus produtos junto ao Programa Setorial da Qualidade (PSQ), instrumento do governo federal. 4.1 Sistema produtivo da indústria de louças sanitárias Na Figura 3 é ilustrado o processo produtivo de louças sanitárias de cerâmicas. O processo inicia-se com o uso de matérias-primas específicas onde serviram de base para as áreas de preparação de massa (formulação que será utilizada pelas áreas de fundição para a formação das peças/produtos), preparação de moldes (tem como componente principal o gesso e será utilizado pelas áreas de fundição como molde para dar forma as peças/produtos) e preparação de esmalte (formulação do subproduto que será utilizado pela área de esmaltação para dar a tonalidade das peças/produto). Após as áreas de preparação (massa, molde e esmalte), fundição e esmaltação, o fluxo XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 21 continua com a etapa de carga do forno, onde as peças serão distribuídas (leiaute) em carros próprios para serem inseridos no forno. As demais etapas estão detalhadas na Figura 4. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 22 Figura 3 – Processo produtivo de louças sanitárias de cerâmicas Fonte: elaborado pelos autores. Após esse período de queima, processo pelo qual o produto irá adquirir um brilho e uma vitrificação do esmalte, transformando a mesma em um material rígido e com aspecto sanitário, cada referência é coletada pelos classificadores das linhas respectivas e iniciasse o processo de classificação e embalagem. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 23 Figura 4 – Processos envolvidos diretamente com a classificação final Fonte: elaborado pelos autores. Para que todo o processo seja garantido, a equipe da qualidade avalia, de forma amostral, se as peças estão sendo corretamente classificadas e tem potencial para comercialização. Todos os critérios usados tanto pela linha de classificação final quanto pela área da qualidade estão embasados na norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), número 15097 do ano de 2011. 4.1.1 Área de classificação final da indústria A área de classificação final é onde ocorre a seleção dos produtos que tem qualidade para ser comercializada, ou seja, realiza o controle do processo sendo um filtro de tudo o que foi produzido. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 24 O processo é dividido em três linhas, sendo: linha 1 - produção de bacias sanitárias (para caixa acoplada e convencional); linha 2 - produção de colunas (para lavatório e tanque lava roupas), lavatório (LVT) e lava roupas (LVR); e, linha 3 - caixas acopladas. Embora as atividades existentes na área de classificação final possuam procedimentos operacionais padrão (POP’s), as mesmas ainda não estão devidamente padronizadas, totalmente voltadas para o cliente e com o processo otimizado. O atual processo de classificação de uma peça está sendo executado em cento e setenta segundos (em média), e este indicador é bom para o atual volume de produção porém como existe a intenção, por parte do planejamento de controle da produção (PCP), em aumentar em vinte por cento o volume produtivo, é preciso otimizar o processo para atender a nova demanda da produção. Também, outra oportunidade de melhoria é trabalhar a padronização do processo de classificação final, para obter resultados mais satisfatórios e conseguir ingressar ao centro de distribuição (CD) maior quantidade de peças com graduação de primeira ordem (grau A) explicitado na seção Introdução. 4.2 Utilização das ferramentas da qualidade na área de classificação final numa indústria de louças sanitárias Para ilustrar todos os dados coletados no mapeamento do processo, foi utilizado a ferramenta fluxograma e foi por meio deste que as Figura 3 e 4 foram ilustradas na subseção 4.1 e a Figura 7 contida nesta subseção. Por meio do mapeamento do processo e fluxograma, foi identificado que a eficiência de produção da linha de classificação final está totalmente comprometida pelo fornecimento de produtos por meio da etapa de carga de forno e pelo ciclo do forno. Quanto menor for o ciclo (menos tempo de queima) mais produção é enviada e caso o fornecimento seja suspendido a linha não tem produção. Na Figura 5, é apontada as causas pertencentes a cada estágio do diagrama (máquina, método, material, mão-de-obra, meio ambiente e medida) referente ao processo de classificação final. Os estágios (meio ambiente, medida e material) foram analisados, porém não foi pontuado XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 25 nenhum efeito que causasse impacto a linha de classificação final. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 26 Figura 5 – Diagrama e causa e efeito da área de classificação final Fonte: elaborado pelos autores. Identificada as causas que existem no processo de classificação final, foi possível criar uma lista de verificação para mensurar e quantificar cada um dos fatores que estão interferindo nesta área: a) dos 27 funcionários, 15 estavam aptos a realizarem atividades de classificação dos produtos. E mediante treinamento (realizado em fevereiro e março de 2015) foi possível qualificar seis funcionários (da linha de embalagem), ou seja, ganho de 22,2% no quadro de funcionários à frente da linha de avaliação das louças; b) sobre a rotatividade dos funcionários, identificou-se que no primeiro mês do ano de 2015, 11,1% do quadro de funcionários sofreu redução; que no segundo houve uma queda para 3,7%; no mês de março ficou no mesmo percentual, porém com um funcionário a menos (processo de contratação); e, no mês de abril o quadro manteve-se completo; c) a Figura 6, mostra que dos 27 funcionários da linha de classificação final 55,6% (15 funcionários) são especializados na linha 1 (bacias), isso é devido ao grau de importância que essa linha tem para o negócio da empresa, distribuídos pelos três turnos; XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 27 Figura 6 – Indicador farol (nível de especialização dos funcionários da linha de classificação final) Fonte:dados extraídos da coleta por meio da pesquisa de campo, janeiro a abril 2015. d) de acordo com a Figura 7, a área de classificação final possui sete pontos considerados como críticos para o processo, pois erros nessa etapa podem comprometer o indicador de peças enviadas ao CD e o indicador de qualidade da fábrica, são eles: na etapa de inspeção visual (nas três linhas); processo de apontamento (presente em todas as linhas); e, na instalação de mecanismos (na linha 3); XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 28 Figura 7 – Fluxograma da área de classificação final com os pontos críticos Fonte: elaborado pelos autores. e) quanto a padronização dos processos na linha de classificação final, existem 21 procedimentos documentados e destes 80,9% estão devidamente padronizados conforme o processo e sua execução; f) os equipamentos de embalagem (máquina de arquear e paletizadora automática) e o instrumento de nível estão devidamente ajustados/calibrados de forma a garantir sua eficiência no processo. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 29 Com a aplicação das ferramentas da qualidade na área de classificação final foi avaliado que a execução dos classificadores ficou mais padronizada nos três turnos de trabalho. A concepção de importância entre as atividade críticas de quem fornece (carga de forno) para a área de classificação final e para quem eles fornecem o produto final está mais alinhada com os interesses desta indústria. 4.3 Produtividade na área de classificação final após a aplicação das ferramentas da qualidade No Quadro 1 é possível verificar que existe uma evolução na quantidade de unidades inspecionadas em todas as linhas, fato este considerado como positivo pois significa que a capacidade de execução dos funcionários vem acompanhada do aumento da demanda produzida. Quadro 1 – Indicador de produtividade da área de classificação final Nº DADOS ANO 2015 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL 1 Quantidade de peças enviadas para classificação final 10.335 33.771 47.886 62.553 2 Capacidade de inspeção – turno A 3.272 11.351 16.481 16.903 2.1 Linha bacia acoplada 1.568 4.133 5.994 6.594 2.2 Linha lavatório 28 1.420 1.974 2.064 2.3 Linha caixa 1.556 4.542 6.762 6.832 2.4 Linha lava roupa 120 330 312 245 2.5 Linha colunas 0 926 1.400 1.161 3 Capacidade de inspeção – turno B 5.368 11.836 16.868 15.949 3.1 Linha bacia acoplada 2.544 4.475 6.041 6.103 3.2 Linha lavatório 784 1.358 1.698 1.555 3.3 Linha caixa 1.772 4.877 7.618 6.589 3.4 Linha lava roupa 224 209 257 408 3.5 Linha colunas 44 917 1.249 1.319 4 Capacidade de inspeção – turno C 1.695 10.584 14.537 15.938 4.1 Linha bacia acoplada 712 4.166 5.593 5.650 4.2 Linha lavatório 265 1.274 1.786 2.099 4.3 Linha caixa 128 4.077 5.698 6.391 4.4 Linha lava roupa 121 137 215 377 4.5 Linha colunas 469 930 1.229 1.380 5 Capacidade inspeção – funcionário linha bacia acoplada 1.608 4.258 5.876 6.116 6 Capacidade inspeção – funcionário linha lavatório 359 1.351 1.819 1.906 7 Capacidade inspeção – funcionário linha caixa 1.152 4.499 6.693 6.604 8 Capacidade inspeção – funcionário linha lava roupa 155 225 261 343 9 Capacidade inspeção – funcionário linha colunas 171 924 1.293 1.287 Fonte: elaborado pelos autores. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 30 No Quadro 2, é demonstrado o indicador de produtividade de cada linha existente na área de classificação final, onde S (produção proveniente do forno – saída); E (produção entregue ao CD – entrada); e, %P (percentual de produtividade). A base de cálculo para medição desse indicador foi de acordo com Martins e Laugeni (2005) exposto na revisão de literatura. De maneira geral, os indicadores obtiveram aumento no percentual de produtividade, resultados bastante enaltecedores para área de controle do processo. A diferença dos valores em cada mês é decorrente do aumento programado e gradativo da produção. Quadro 2 – Indicador de produtividade das linhas de classificação final LINHA JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL S E %P S E %P S E %P S E %P Bacias 4.824 2.980 61,8 12.774 10.290 80,6 17.628 14.724 83,5 18.347 14.713 80,2 Lavatórios 1.077 968 89,9 4.052 3.421 84,4 5.458 4.800 87,9 5.718 4.211 73,6 Caixas 3.456 2.541 73,5 13.496 11.236 83,3 20.078 17.093 85,1 19.812 16.356 82,6 Lava roupas 465 393 84,5 676 573 84,8 784 626 79,8 1.030 769 74,7 Colunas 513 449 87,5 2.773 2.526 91,1 3.878 3.490 90,0 3.860 3.194 82,7 Fonte: elaborado pelos autores. 4.4 Melhorias obtidas na área de classificação final após a aplicação das ferramentas da qualidade em seu processo Nesta subseção é apresentado os ganhos obtidos pela área de classificação após a aplicação dos conceitos e vivência das ferramentas da qualidade, mediante treinamento aplicada pela equipe da qualidade (Quadro 3). A redução no consumo atingida no mês de março de 2015 e mantida no mês de abril trouxeram ganhos significativos para a indústria, uma vez que com a otimização na utilização desses recursos os custos da área de classificação final caíram na proporção de 8,5% quando comparado ao mês de fevereiro de 2015. O aumento no nível de documentos e processos padronizados favoreceu os resultados na melhoria de consumo do insumos, bem como, na qualidade geral na fábrica que vinha aumentando gradativamente, porém, no último mês de acompanhamento teve uma baixa de 6,2% devido a problemas do próprio processo de fabricação, anterior a área de classificação final, portanto, como não é especificamente o objeto de estudo desta pesquisa científica, não será detalhado os fatos do referido problema desta redução dos resultados. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 31 Quadro 3 – Melhoria e otimização na área de classificação final Nº DADOS ANO 2015 JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL 10 Consumo fita de proteção – linha bacia acoplada (por unidade) (m) 1,65 1,71 1,60 1,58 11 Consumo fita de proteção – linha lavatório (por unidade) (m) 1,89 1,88 1,86 1,88 12 Consumo fita adesiva – linha caixa (por unidade) (m) 1,22 1,25 1,20 1,22 13 Consumo fita stretch – linha bacia acoplada (por palete) (Kg) 0,340 0,360 0,310 0,335 14 Consumo filme stretch – linha lavatório (por palete) (Kg) 0,570 0,570 0,555 0,561 15 Consumo filme stretch – linha caixa (por palete) (Kg) 0,590 0,615 0,576 0,605 16 Documentação (unidade) 25 25 27 27 16.1 Padronizados (unidade) 17 17 23 23 16.2 Não padronizados (unidade) 8 8 4 4 17 Qualidade geral da fabrica (%) 70,9 83,0 85,1 78,9 Fonte: elaborado pelos autores. Mediante essa coleta de dados (Quadro 3), foi possível determinar os limites superior e inferior especificado (LSE e LIE). Para que os consumos dos dois insumos (fita adesiva para embalagem das caixas e o consumo de filme stretch para paletização dos lavatórios) apontados como não conformes se enquadrem dentro da capacidade estabelecida será necessário aumentar o LSE para algo próximo de 0,720Kg e 0,579Kg, respectivamente. Não será possível diminuir pois o valor de LIE já encontra-se no consumo mais baixo. O aumento desses valores não implicará em aumento dos gastos, pois os valores trabalhados antes do projeto eram bem superiores aos atuais resultados (Quadro 4). Quadro 4 – Identificação dos limites superior e inferior INSUMO - LINHA LIE LSE σ Cp Fita de proteção – linha bacia acoplada (m) 1,48 1,65 0,0254 1,116 Fita de proteção– linha lavatório (m) 1,17 1,42 0,0387 1,075 Fita adesiva – linha caixa (m) 0,576 0,690 0,0226 0,840 Fita stretch – linha bacia acoplada (Kg) 0,281 0,335 0,0080 1,125 Filme stretch – linha lavatório (Kg) 0,530 0,573 0,0078 0,917 Filme stretch – linha caixa (Kg) 0,530 0,578 0,0065 1,239 Fonte: elaborado pelos autores. As variáveis do processo, na área de classificação final, que sofreram mudanças após a aplicação dos conceitos de melhoria contínua foram: método de classificação das bacias; ajuste da máquina de arquear; elaboração do documento de paletização para todas as linhas; e, XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 32 plano de manutenção autonôma e preventiva na máquina de fita adesiva. 5 Considerações finais A atuação da área da qualidade junto ao processo de classificação final desta indústria do ramo de louças sanitárias localizada no estado do Ceará, veio como grande desafio para ambas as áreas uma vez que para adotar a qualidade é necessário em primeira instância a burocratização do processo para somente depois otimizá-lo. Para o ramo de louças sanitárias a necessidade de se trabalhar com qualidade, adotando práticas de melhoria, vem de encontro com o que o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) exige como necessidades básicas para produzir e comercializar louças, que é: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. A criação de uma cultura de melhoria contínua dentro do processo de classificação final, fez com que os funcionários constantemente se encontrem pensando e agindo no que pode ser melhorado em sua atividade. A realização deste estudo na área de classificação final, a destacou das demais áreas pois, como projeto piloto, ficou notório o interesse das outras áreas da indústria pelo conhecimento do que vem a ser a aplicação da melhoria contínua e o que ela pode fazer em cada parte do processo. Referências BALLESTERO-ALVAREZ, María Esmeralda. Gestão da qualidade, produção e operações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BRASIL. Programa brasileiro da qualidade e produtividade do habitat (PBQP-H). Distrito Federal, 2015. Disponível em: <http://pbqp-h.cidades.gov.br/pbqp_apresentacao.php>. Acesso em: 17 mar. 2015. CARPINETTI, Luiz Cesar Ribeiro. Gestão da qualidade: conceitos e técnicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. CARVALHO, Marly Monteiro de; PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da qualidade: teoria e casos. 2. ed. Rio de Janeiro: ABEPRO, 2012. CORRÊA, Henrique L.; CORRÊA, Carlos A. Administração de produção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 33 IMAI, Masaaki. Gemba Kaizen: uma abordagem de bom senso à estratégia de melhoria contínua. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. MARTINS, Petrônio Garjia; LAUGENI, Fernando Piero. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. RODRIGUES, Marcos Vinicius. Ações para a qualidade: gestão estratégica e integrada para a melhoria dos processos na busca da qualidade e competitividade. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. TUBINO, Dalvio Ferrari. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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