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Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP PRODUÇÃO E QUALIDADE DA CARNE BUBALINA André Mendes Jorge Professor Doutor do Departamento de Produção e Exploração Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, Campus de Botucatu, E-mail: jorgeam@fca.unesp.br INTRODUÇÃO Em um programa de produção de carne, é relevante considerar as fases negativas de desenvolvimento do animal. Deve haver condições para que o mesmo se desenvolva normalmente, proporcionando um crescimento durante todo o ano. O baixo rendimento observado nos trópicos pode ser atribuído em grande parte, a desnutrição resultante da sazonalidade característica da produção de forragem nesta região. Devido ao desequilíbrio entre os ganhos na época das águas e da seca faz- se necessária a suplementação alimentar em certos períodos, para que se possa abater animais com idades inferiores a 30 meses. Essa suplementação pode ser a pasto, podendo-se ainda utilizar pastagem cultivada anual na seca ou inverno ou mesmo a pastagem fenada naturalmente (macega). A suplementação protéica tem sido utilizada para diminuir as perdas de peso ou aumentar a produção animal durante os períodos críticos. Vários trabalhos de pesquisa (RICHARDSON et al. 1976; THOMAS e ADDY, 1977; HAFLEY et al., 1993; POPPI e Mc LENNAN, 1995) estudaram o efeito de diversos tipos de suplementos protéicos sobre a produção animal e geralmente, as melhores respostas foram obtidas onde havia alta disponibilidade de forragem, mesmo que de baixa qualidade. Durante o período do ano, em que a pastagem apresenta baixa qualidade, a suplementação protéica ou protéico-energética proporciona ganho de peso satisfatório, enquanto que a suplementação exclusivamente energética não mailto:jorgeam@fca.unesp.br Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 2 apresenta ganho satisfatório (SCALES et al. 1974). Com a suplementação protéica normalmente, tem-se ganho em peso por diversos fatores, entre eles o aumento na ingestão de matéria seca (Mc COLLUM e HORN, 1992). O consumo de matéria seca de gramíneas tropicais é influenciado positivamente pelo nível de proteína da gramínea, até o nível de 7% (MILFORD e MINSON, 1965). O aumento de ingestão de matéria seca e conseqüentemente no ganho em peso vivo, quando se suplementa com nitrogênio, pode estar relacionado com o aumento de nitrogênio amoniacal no rúmen o que proporciona o desenvolvimento microbiano (HENNESEY e WILLIANSOM, 1990). EXPORTAÇÕES DE CARNE BOVINA – DESEMPENHO E PERSPECTIVAS O mercado mundial de carne bovina cresceu 4,2% ªª entre 1990 e 1999, de acordo com os dados da FAO (2000). Entretanto, tal desempenho encobre dois períodos distintos: crescimento médio de 7,4%ªª na primeira metade e estabilidade no período restante (0,4% ªª ). O principal fator determinante do freio na expansão do comércio mundial de carne bovina parece ter sido a divulgação da incidência de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE - doença da vaca louca) no rebanho bovino inglês e da possibilidade de transmissão da doença aos seres humanos aliado a vários surtos de febre aftosa nos países da Comunidade Econômica Européia em 1999 e 2000, o que afetou o consumo de carne bovina naqueles países. Entretanto, a influência destes surtos no comércio mundial total foi pequena (PAULA e FAVARET, 2001). Na primeira metade da década o Brasil apresentou taxas de crescimento positivas e manteve desempenho semelhante no restante do período, embora com ritmo menor. O País conquistou e consolidou novos mercados, aproveitando o vácuo criado pela crise européia e da diminuição da presença argentina no mercado, em função da incidência de febre aftosa em seu rebanho. O desempenho brasileiro no período, as oportunidades abertas pela crise e as ameaças que podem pairar sobre o setor de produção e processamento de carne bovina no Brasil serão apresentados. O mercado mundial de carne bovina desossada e de carne industrializada movimentou, em 1999, US$ 15,3 bilhões, dos quais o Brasil foi responsável por US$ 0,85 bilhão (5,5%). Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 3 O Gráfico 1 apresenta a evolução da exportação mundial de carne bovina desossada e carne industrializada. Gráfico 1 - Evolução da Exportação Mundial de Carne Bovina Desossada e Carne Industrializada O crescimento do comércio total foi de 4,2%ªª no período, com desempenhos distintos: na primeira metade da década, o crescimento médio anual foi de 7,4% , enquanto no restante do período foi de 0,4%. O segmento de carne industrializada apresentou retração (queda média anual de 1,6% em valor e 2% em volume) na segunda metade da década, após ter crescido em média 6,8% ao ano em valor e 6,2% em volume no primeiro período. Excetuando-se Canadá e Reino Unido, os 10 maiores importadores mundiais diminuíram o ritmo de suas importações, sendo que a metade reduziu efetivamente suas importações em termos absolutos (PAULA e FAVARET, 2001). Do lado exportador, todos os principais países diminuíram suas taxas de crescimento na segunda metade do período. Apenas Tailândia (19%ªª), Brasil (5,3%ªª), EUA (3,5%ªª) e Irlanda (3,5%ªª) apresentaram taxas positivas e significativas (PAULA e FAVARET, 2001). Os EUA diminuíram sua importação em 33% e dobraram a exportação, em função de programa de redução do seu rebanho de 105 para 95 milhões de cabeças. O acompanhamento deste mercado reveste-se de especial interesse para o Brasil uma vez que este país é, atualmente, o segundo destino mais importante da exportação brasileira do segmento (PAULA e FAVARET, 2001). - 2 4 6 8 10 12 14 16 18 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 U S$ B ilh õe s Fonte : FAO (2000) Desossada Industrializada Total Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 4 O comércio mundial de carne bovina desossada manteve-se em expansão durante a década passada. Volumes e valores apresentaram taxas médias de crescimento de 6,2% e 4,9%, respectivamente, porém com características diferentes nas duas metades do período. Na ponta exportadora, Canadá, Brasil e Alemanha tiveram expressivos aumentos de suas exportações, com taxas médias anuais de crescimento de 46%, 25% e 21%, respectivamente. O maior exportador, os Estados Unidos, manteve estabilidade no valor de suas exportações, enquanto o segundo colocado, a Austrália, teve uma taxa média de retração de 1,8% ªª. A participação conjunta destes dois países na exportação mundial variou de 42% a 43% e somente no ano de 1999 baixou para 40%. Reino Unido, Irlanda e Argentina tiveram ritmos negativos de crescimento na segunda metade da década. Os mercados importadores que mais cresceram foram México, Estados Unidos e Itália, com significativos aumentos nos valores importados de carne bovina desossada no período de 1995 a 1999. México e Itália aumentaram em dez e quatro vezes o volume de suas importações do início ao final da década e oito e três vezes em valor (PAULA e FAVARET, 2001). Segundo PAULA e FAVARET (2001) a posição relativa do Brasil nos mercados mundiais de carne bovina desossada e carne industrializada melhorou na década passada nos dois segmentos. O País, em 1990, o País ocupava a 14ª posição entre os maiores exportadores de carne desossada e passou para a 10ª posição em 1999. No segmento de carne industrializada era o 10º colocado em 1990 e passou a ser o quinto maior exportador em 1999. O desempenho das exportações brasileiras neste segmento apresenta interessantes aspectos de competitividade: não só manteve importantes taxas de crescimento num mercado mundial em retração, principalmente na segunda metade da década, como também aumentou a participação neste comércio, como demonstra o Gráfico 2, aproximando-se do maior exportador mundial, a Dinamarca (especializado em carne suína). Anais do II SimpósioPaulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 5 Gráfico 2 - Carne Bovina Industrializada - Exportação Mundial e Participação do Brasil No segmento de carne desossada o Brasil conseguiu importante aumento em valor e volume de suas exportações, triplicando sua participação no mercado mundial. Entretanto apresenta-se como um mercado inconstante para o país, passível de diminuir pela metade ou dobrar o volume de um ano para o outro (exemplos de 1995 e 1999). Este é um mercado que apresenta uma série de restrições sanitárias. O mercado do pacífico, cujos maiores compradores são os EUA e o Japão, não permitem a importação de carne de países que não erradicaram a febre aftosa, enquanto o mercado do atlântico (Europa, basicamente), embora não tenha esta restrição só permite importação com base em cotas pré-estabelecidas. Além disso, é um mercado em que maiores fornecedores mundiais, Austrália e Estados Unidos mantêm-se na liderança com, no mínimo, 40% de participação. O Gráfico 3 apresenta os movimentos do comércio internacional e a participação brasileira. A queda de participação relativa do maior produtor se deu em função do aumento das exportações brasileiras e do Canadá, sendo este a maior taxa de crescimento no período 1995-1999 (25% ao ano). - 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 U S $ M ilh õe s 0.0% 2.0% 4.0% 6.0% 8.0% 10.0% 12.0% 14.0% 16.0% 18.0% Pa rt ic ip aç ão n o m er ca do Exportação mundial Participação do Brasil Participação maior exportador Fonte : FAO (2000) Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 6 Gráfico 3 - Carne Bovina Desossada - Exportação Mundial e Participação do Brasil O Gráfico 4 apresenta a evolução do volume mensal exportado entre 1987 e 2000. Segundo PAULA e FAVARET (2001), a primeira observação relevante é que há um movimento cíclico marcante, sem tendência definida. Os anos de 1988 e 1992 apresentaram picos superiores aos de 2000, embora o crescimento a partir de 1997 tenha sido o mais longo – três anos de aumento da média móvel de 12 meses. Uma análise puramente estatística não autorizaria previsão de crescimento ininterrupto nos próximos anos, mas as mudanças no mercado mundial e os ganhos de competitividade do produto brasileiro podem apontar para um quadro otimista. - 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 U S$ M ilh õe s 0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 30.0% Pa rt ic ip aç ão n o m er ca do Exportação mundial Participação Brasil Participação maior exportador Fonte : FAO (2000) Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 7 Brasil - Exportações Mensais de Carne Bovina - Volume jan/87 a dez/00 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 jan/87 jan/88 jan/89 jan/90 jan/91 jan/92 jan/93 jan/94 jan/95 jan/96 jan/97 jan/98 jan/99 jan/00 Efetiva Média móvel 12 mm Toneladas Gráfico 4 – Exportações Mensais de Carne Bovina –1987 a 2000 O Gráfico 5 sugere a ocorrência de três períodos bem marcados: crescimento acelerado entre 1990 e 1993; retração entre 1993 e 1997; e novo salto a partir de então. As carnes processadas e os cortes apresentaram comportamentos semelhantes até 1998, quando disparam as exportações destes e desaceleram aquelas, caindo em 2000. O aumento das exportações de carne bovina em cortes explica-se tanto pela oportunidade aberta pela crise sanitária européia como, também, pela diminuição dos impostos e sobre-taxas cobradas pelos países da comunidade européia a partir de 1997 (PAULA e FAVARET, 2001). - 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 U S$ M ilh õe s Processadas Cortes Total do Setor Fonte : SECEX Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 8 Gráfico 5 – Evolução das Exportações Brasileiras de Carne Bovina O destino das exportações brasileiras de carne industrializada passou por mudanças importantes, mas continua apresentando alta concentração, ainda que inferior à do início da década. Gráfico 6 – Principais Destinos da Exportação Brasileira de Carne Bovina Industrializada O Reino Unido foi o principal importador de carne industrializada brasileira, com exceção de 1999, quando foi superado pelos EUA. Segundo PAULA e FAVARET (2001) a ocorrência da BSE e seus impactos sobre o consumo explicam a grande queda verificada em 1996. A recuperação que se seguiu ainda não havia permitido a retomada dos níveis de 1991-95 quando novos casos da doença mais uma vez abalaram o mercado inglês e reduziram as exportações brasileiras. Como resultado, a participação do Reino Unido nas exportações brasileiras caiu de 57%, em 1991, para 35%, em 2000. A diminuição das exportações argentinas de carne industrializada permitiu que o Brasil ocupasse um novo espaço, aberto no mercado americano. Como a retração do mercado inglês foi acompanhado do aumento das vendas para os EUA, - 50 100 150 200 250 300 350 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 U S$ M ilh õe s REINO UNIDO ESTADOS UNIDOS ITALIA ALEMANHA PAISES BAIXOS OUTROS Fonte: SECEX Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 9 a concentração nos dois principais importadores continuou alta, sendo de no mínimo 59%. No segmento das carnes desossadas a concentração é menor. Isto sugere menor exposição que o segmento de carne industrializada a eventuais crises de demanda localizadas (PAULA e FAVARET, 2001). Gráfico 7 – Principais Destinos da Exportação Brasileira de Carne Bovina Desossada PANORAMA DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CARNE BUBALINA E DERIVADOS Segundo estatísticas recentes da FAO (2001), o rebanho mundial bubalino no ano de 2000 era de aproximadamente 165 milhões de cabeças (Quadro 1), sendo que foram abatidos quase 22 milhões de cabeças (Quadro 2), o que representou em termos grosseiros uma taxa de abate média mundial de 13,3%, considerada muito alta. 0 100 200 300 400 500 600 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 U S$ M ilh õe s PAISES BAIXOS ITALIA ALEMANHA ESPANHA REINO UNIDO OUTROS Fonte : SECEX Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 10 Quadro 1 – Rebanho Mundial de Bubalinos (em cabeças) Mundo 164.968.015 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) Ano Rebanho Bubalino (Cabeças) 2000 Índia 93.772.000 China 22.587.000 Paquistão 22.700.000 Egito 3.200.000 Vietnam 2.897.220 Indonésia 2.859.000 Tailândia 2.100.000 Brasil 1.150.000 Sri Lanka 727.700 Turquia 176.000 Itália 173.000 http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 11 Quadro 2 – Bubalinos Abatidos no Mundo (em cabeças) Ano Bubalinos Abatidos (Cabeças) 2000 India 10.300.000 China 3.600.000 Paquistão 4.000.000 Egito 1.700.000 Nepal 585.000 Vietnam 430.000 Filipinas 321.000 Indonesia 235.199 Tailândia 215.000 Laos 153.600 Mundo 21.976.780 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) A produção de carcaças (kg/animal) dos principais países é apresentada no Quadro 3, e mostra grande variação (entre 100-253 kg carcaça/anima), com média mundial de 139,4 kg, o que provavelmente seja devido a diferenças no peso de abate dos animais. http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 12 Quadro 3 – Produção Mundial de Carcaças Bubalinas (kg/cabeça) AnoCarcaças Bubalinas (kg/cabeça) 2000 Tailândia 253,0 Vietnam 215,0 Nepal 208,2 Itália 201,3 Bulgária 200,0 Indonésia 192,6 Filipinas 184,9 Egito 167,8 India 138,0 Paquistão 135,0 Laos108,1 China 100,0 Mundo 139,4 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) No mesmo ano, a produção mundial de carne bubalina foi de 3,06 milhões de toneladas (Quadro 4), destacando-se a Índia, Paquistão e China como principais países produtores. http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 13 Quadro 4 – Produção de Carne Bubalina (toneladas) AnoProdução de Carne Bubalina (toneladas) 2000 Índia 1.421.400 Paquistão 540.000 China 360.000 Egito 285.259 Nepal 121.769 Vietnam 92.450 Filipinas 59.350 Tailândia 54.395 Indonésia 45.300 Laos 16.600 Irã 10.650 Sri Lanka 4.181 Iraque 2.145 Bulgária 1.200 Itália 1.076 Mundo 3.062.834 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) A produção mundial de couro fresco para o mesmo período foi de 29,6 milhões de unidades (Quadro 5), representando uma média de 27,7 kg / animal (variando de 17,6 a 40,0 kg) (Quadro 6), reflexo dos diferentes pesos de abates nos diversos países produtores e produção total mundial de 818 mil toneladas (Quadro 7). http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 14 Quadro 5 – Produção Mundial de Couro Fresco Bubalino (unidades) AnoProdução de Couro Fresco de Bubalinos (unidades) 2000 Índia 16.900.000 Paquistão 4.600.000 China 3.600.000 Egito 1.700.000 Nepal 840.000 Vietnam 430.000 Filipinas 321.000 Mundo 29.578.780 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 15 Quadro 6 – Produção Mundial de Couro Fresco Bubalino (kg/cabeça) Ano Produção de Couro Bubalino Fresco (kg/cabeça) 2000 Vietnam 40,0 Nepal 39,0 Sri Lanka 35,0 Bulgária 33,3 Indonésia 33,0 China 30,0 India 30,0 Itália 30,0 Tailândia 30,0 Filipinas 22,0 Romênia 22,0 Egito 20,0 Paquistão 17,6 Mundo 27,7 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 16 Quadro 7 – Produção Mundial de Couro Bubalino (toneladas) Ano Produção de Couro Bubalino Fresco (ton) 2000 Índia 507.000 China 108.000 Paquistão 80.960 Egito 34.000 Nepal 32.760 Vietnam 17.200 Indonésia 7.762 Filipinas 7.062 Tailândia 6.450 Laos 2.458 Sri Lanka 1.295 Malásia 548 Turquia 490 Bulgária 200 Itália 160 Mundo 818.201 Fonte: Adaptado de http://apps.fao.org/page/collections (2001) RENDIMENTO DO ABATE DE BUBALINOS Há uma grande escassez de pesquisas sobre as características das carcaças e da carne de bubalinos, criados em diferentes condições de manejo e sistemas de alimentação e, os resultados existentes são, às vezes, contraditórios. Portanto, todo cuidado é pouco quando se comparar resultados de estudos conduzidos em diferentes condições experimentais. A estimativa do rendimento da carcaça e dos cortes primários e comerciais, por ocasião do abate, é de suma importância para complementar a avaliação do desempenho do animal durante o seu desenvolvimento (JORGE, 1999). http://apps.fao.org/page/collections Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 17 Basicamente, no Brasil a carcaça é dividida em: dianteiro, contendo cinco costelas, que compreende a paleta e o acém completos; costilhar ou ponta de agulha; e o traseiro especial ou serrote, que compreende o coxão e a alcatra completa (JORGE et al., 1997). O rendimento de carcaça de animais de diferentes raças sofre influência direta dos pesos da cabeça, couro e trato gastrintestinal. Tal fato tem sido observado por diversos autores e segundo JORGE et al. (1997) os mais baixos rendimentos de carcaça verificados nos bubalinos é uma conseqüência, principalmente, dos maiores pesos de couro e cabeça, apresentados por esses animais, o que chega a acarretar uma diferença de até 5% no rendimento de carcaça a favor dos bovinos. Em termos econômicos é desejável maior rendimento do traseiro especial em relação aos outros cortes, uma vez que nele se encontram as partes nobres da carcaça, que têm maior valor no mercado (JORGE et al., 1997). A avaliação do rendimento do corte serrote ou traseiro especial, e de seus componentes bem como do costilhar ou ponta de agulha é de grande utilidade uma vez que esses cortes são utilizados em grande parte pelos frigoríficos e açougues na comercialização (JORGE , 1999). Os bubalinos apresentam resultados satisfatórios quanto ao rendimento de cortes primários da carcaça e podem até mesmo superar os bovinos em rendimentos de determinados cortes o que contribui em muito para desmistificar a espécie e esclarecer o setor produtivo quanto ao seu real potencial de produção (JORGE, 1999). JORGE et al. (1997) trabalhando com bovinos e bubalinos abatidos em diferentes estádios de maturidade fisiológica (peso de abate) observaram que os bubalinos apresentaram menor rendimento de dianteiro e maior de traseiro total em conseqüência de sua maior proporção de ponta-de-agulha, uma vez que eles não diferiram dos bovinos quanto ao rendimento de traseiro especial. Trabalhando com bubalinso Mediterrâneo e bovinos Nelore em diversos sistemas de criação, no Estado de São Paulo, MATTOS et al. (1990) observaram que os bubalinos mostraram-se bastante precoces, chegando a atingir peso de abate aos 24 meses em pastagens exclusivas e quando confinados aos 14 meses, conseguiram praticamente atingir este mesmo peso de abate aos 18 meses. Por outro lado, bovinos Nelore, nascidos na mesma estação de nascimento que os Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 18 bubalinos (10 semestre), para atingirem peso de abate aos 24 meses necessitaram ficar em confinamento a partir dos 16 meses (oito meses confinados). O produto comercializado pelo produtor é a carcaça, que no frigorífico é desdobrada em cortes primários, porém, para atingir o consumidor devem ser desdobrados nos diversos cortes comerciais por ele utilizados. Figura 1 – Esquema dos Cortes Comerciais Primários e Secundários em Carcaça de Bubalinos Fonte: Adaptado de FELÍCIO e PICCHI (1978) Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP Desdobramento de Peso de um Bubalino em Seus Vários Componentes e Cortes Primários Peso de Abate 450 kg – 500 kg Peso Vivo Conteúdo Gastrintestinal 59,3 kg – 74,7 kg 13,2 % - 14,9 % 89, Peso Corporal Vazio 390,7 kg – 425,3 kg 86,8 % - 85,1 % 1 21,4 Cabeça + Pés + Couro 87,79 kg – 95,56 kg 22,47 % 2 Órgãos (CFBP) 1,09 kg – 12,08 kg 2,84 % 19 22,5 13 59,0 Vísceras 9 kg – 23,39 kg 5,50 % Carcaça kg – 247,2 kg 49,44 % Dianteiro 1 kg – 99,0 kg 40,07 % Traseiro Total 3,3 kg – 148,1 kg 59,93 % Paleta Completa 37,7 kg – 41,9 kg 16,95 % Acém Completo 51,4 kg – 57,1 kg 23,12 % Alcatra Completa 45,8 kg – 50,9 kg 20,59 % Coxão kg – 65,5 kg 26,51 % Ponta de Agulha 28,5 kg – 31,7 kg 12,83 % Traseiro Especial 104,8 kg – 116,4 kg 47,10 % Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP Desdobramento do Peso de Carcaça em Cortes Secundários 22,9 15,1 12,0 Paleta Completa 37,7 kg – 41,9 kg 16,95 % 20 9,6 10,2 11,3 14, 5,16 11,3 Ossos kg – 10,7 kg 4,32 % Carne com Gordura 28,1 kg – 31,2 kg 12,62 % Músculo do Braço 5,2 kg – 5,7 kg 2,32 % Paleta kg – 25,5 kg 10,3 % Acém Completo 51,4 kg – 57,1 kg 23,12 % Carne com Gordura 41,2 kg – 45,8 kg 18,54 % Ossos kg – 11,32 kg 4,58 % Acém kg – 16,8 kg 6,8 % Peito kg – 12,6 kg 5,1 % Pescoço 8 kg – 16,4 kg 6,64 % Ponta de Agulha 28,5 kg – 31,7 kg 12,83 % Carne com Gordura 23,38 kg – 25,98 kg 10,51 % Ossos kg – 5,73 kg 2,32 % Flancokg – 13,3 kg 5,4 % Costela kg – 12,6 kg 5,1 % Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP Desdobramento do Peso de Carcaça em Cortes Secundários (continuação) 12,9 1 1 10,9 Alcatra Completa 45,8 kg – 50,9 kg 20,59 % 11,4 Carne com Gordura 34,4 kg – 38,2 kg 15,44 % 21 5,9 k 2 15 59,0 12,2 4,2 Ossos kg – 12,7 kg 5,15 % Alcatra kg – 14,3 kg 5,8 % Filé g – 6,5 kg ,64 % Contra-Filé ,6 kg – 17,3 kg 7,0 % Coxão kg – 65,5 kg 26,51 % Carne com Gordura 46,7 kg – 51,9 kg 21,0 % Ossos kg – 13,6 kg 5,5 % Coxão Mole 4,2 kg – 15,8 kg 6,4 % Coxão Duro 3,1 kg – 14,6 kg 5,9 % Lagarto kg – 4,7 kg 1,9 % Patinho kg – 12,1 kg 4,9 % Músculo da Perna 4,2 kg – 4,7 kg 1,9 % Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP Resumo do Desdobramento da Carcaça 222,5 Carcaça kg – 247,2 kg 49,44 % 48,6 Porção Comestível 173,8 kg – 193,1 kg 78,1 % 22 Ossos kg – 54,1 kg 21,8 % Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 23 PROPRIEDADES DA CARNE As propriedades da carne fresca determinam sua utilidade para o comerciante, a atração para o consumidor e a adequação para processamento posterior. São importantes suas características de retenção de água, cor, textura, sabor e aroma (HOFFMAN, 1993). Capacidade de Retenção de Água A capacidade de retenção de água (CRA) é uma propriedade de importância fundamental em termos de qualidade tanto na carne destinada ao consumo direto, como para a carne destinada à industrialização. Pode ser definida como a capacidade da carne de reter sua umidade ou água durante a aplicação de forças externas, como corte, aquecimento, trituração e prensagem. Entretanto, durante uma aplicação suave de qualquer desses tratamentos, há uma certa perda de umidade, devido uma parte da água presente na carne encontrar-se na forma livre. A capacidade de retenção de água do tecido muscular tem grande importância durante o armazenamento. Quando os tecidos têm pouca capacidade de retenção de água, as perdas de umidade e conseqüentemente de peso durante o armazenamento são grandes. Esta perda ocorre geralmente nas superfícies musculares da carcaça exposta à atmosfera durante a estocagem. Uma vez realizado os cortes para a venda, existe uma maior oportunidade de perda de água em conseqüência do aumento de superfície muscular exposta à atmosfera. Portanto, os cortes para a venda devem ser acondicionados em materiais com um coeficiente de transmissão de vapor baixo (ROÇA, 2000). A formação de ácido lático e a conseqüente queda do pH postmortem são responsáveis pela diminuição da capacidade de reter água da carne. Essas reações causam uma desnaturação e perda da solubilidade das proteínas musculares. Várias pesquisas têm demonstrado que na carne normal, somente um terço da perda da capacidade de retenção de água se deve à queda do pH. Segundo ROÇA (2000) a maturação é o processo que consiste em manter a carne fresca a uma temperatura superior ao ponto de congelação (0ºC), que torna a carne mais tenra e aromática. Durante a maturação da carne, aumenta levemente a Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 24 capacidade de retenção de água, devido a uma pequena elevação do pH e degradação enzimática da estrutura miofibrilar. O cloreto de sódio aumenta o pH da carne, aumentando sua propriedade de retenção de água. Cor Os pigmentos da carne estão formados em sua maior parte por proteínas: a hemoglobina que é o pigmento sangüíneo e a mioglobina, pigmento muscular que constitui 80 a 90% do total. Pode-se encontrar na carne outros pigmentos como catalase e citocromo-enzimas, mas sua contribuição na cor é muito menor. A mioglobina é formada por uma porção protéica denominada globina e uma porção não protéica denominada grupo hemo. A quantidade de mioglobina varia com a espécie, raça, sexo, idade, localização anatômica do músculo e atividade física, o que explica a grande variação de cor na carne. Bovinos, bubalinos e ovinos possuem uma quantidade maior de hemoglobina que suínos, pescado e aves. As cores típicas da carne de algumas espécies são: bovino e bubalino adulto: vermelho cereja brilhante eqüino: vermelho escuro ovino: vermelho pálido a vermelho ladrilho suíno: rosa acinzentado aves: branco cinza a vermelho pálido Fatores como estresse, queda do pH e pH final da carne também exercem efeitos na cor da carne (SEIDEMAN, 1984). Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 25 Segundo RENERRE (1990) ao cortarmos a carne proveniente de um bovino recém abatido, observamos a cor vermelho púrpura, devido principalmente à mioglobina. Quando a carne fica em contato com o ar, os pigmentos reagem com o oxigênio molecular e formam um pigmento relativamente estável denominado oximioglobina. Este pigmento é responsável pela cor vermelha brilhante, que proporciona um aspecto atraente para o consumidor. A oximioglobina se forma em 30-40 minutos de exposição ao ar, e esta reação é denominada oxigenação, que ocorre rapidamente porque a mioglobina tem grande afinidade pelo oxigênio. A reação é reversível e denomina-se desoxigenação causada pela dissociação do oxigênio devido ao baixo pH, aumento da temperatura, luz ultravioleta e baixa tensão de oxigênio. A desoxigenação da oximioglobina resulta na mioglobina reduzida que é muito instável. As condições que causam desoxigenação também são responsáveis pela oxidação formando a metamioglobina, de coloração marrom, indesejável. A formação desta cor constitui um sério problema para a venda da carne, porque a maioria dos consumidores a associam com um longo período de armazenamento, embora que pode haver formação em poucos minutos. Na carne fresca, substâncias redutoras evitam o acúmulo de metamioglobina. A formação de metamioglobina é favorecida por baixas pressões de oxigênio, altas temperaturas (ativa enzimas que utilizam o oxigênio), sal (oxidante) e bactér ias aeróbias (reduzem a tensão de oxigênio). A redução da metamioglobina pode ocorrer pelo sistema redutor da carne, por enzimas presentes no músculo (metmyoglobin reducing activity), onde a forma trivalente do ferro passa para a forma divalente. Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 26 SEIDEMAN (1984) cita que pode ocorrer a descoloração bacteriana, surgindo pigmentos de cor verde, como a sulfomioglobina devido ao desenvolvimento de bactérias produtoras de H2S (Pseudomonas mephitica), e a coleglobina em decorrência do crescimento de bactérias produtoras de H2O2. As peças recentes de carne fresca mantém sua cor atrativa aproximadamente por 72 horas, dependendo dos invólucros utilizados e do emprego de baixas temperaturas. Textura Segundo DRANSFIELD et al. (1994) a textura dos alimentos é um parâmetro sensorial que possui os atributos primários: maciez, coesividade, viscosidade e elasticidade; secundários como gomosidade, mastigabilidade, suculência, fraturabilidade e adesividade; e residuais como velocidade de quebra, absorção de umidade e sensação de frio na boca. Os atributos mais importantes para a textura da carne são a maciez, suculência e mastigabilidade (SHIMOKOMAKI, 1973). Maciez Segundo SEUSS & HONIKEL (1989) a maciez é talvez o fator mais importante para o consumidor, para julgar a qualidade da carne. Os fatores que podem afetar a maciez da carne tem duas origens: Fatores ante-mortem : idade, sexo, nutrição, exercício, estresse antes do abate, presença de tecido conjuntivo, espessura e comprimento do sarcômero; Fatores post-mortem: estimulação elétrica, rigor-mortis, esfriamento da carcaça, maturação, método e temperatura de cozimento, e pH final. O efeito do tratamento térmico sobre a maciez da carne é um reflexo da ação de temperaturas elevadas sobre o colágeno e proteínas miofibrilares. As diferentes proteínas musculares se desnaturam adistintas temperaturas. As proteínas solúveis e a miosina são termolábeis e sua desnaturação começa a 45- 50ºC. As proteínas do tecido conjuntivo desnaturam a temperaturas de 60-70ºC, dependendo do grau de ligações cruzadas do colágeno. A força de cisalhamento é utilizada para avaliar a maciez da carne. Uma força maior para o cisalhamento indica maior dureza da carne. Durante o aquecimento até 50-60ºC ocorre um aumento da força de cisalhamento. A 65ºC Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 27 ocorre uma queda brusca desta força, que aumenta novamente até chegar aos 80ºC, para em seguida diminuir novamente. Esta curva da força do cisalhamento durante o aquecimento pode variar conforme a idade do animal. WHEELER et al (1994) relatam que novilhos de 18 meses apresentam curvas diferentes de novilhos de 6 meses, principalmente devido a presença de enlaces transversais termoestáveis de colágeno. GIGLI et al. (2001) trabalhando com bezerros bubalinos alimentados em diferentes sistemas de alimentação e abatidos aos 360 dias de idade, encontraram valores médios de maciez para a carne crua de 2,51 kg/cm2 e para a carne cozida de 1,90 kg/cm2, o que confirma a boa qualidade da carne destes animais. Suculência A suculência da carne cozida é a sensação de umidade observada nos primeiros movimentos de mastigação, devido à rápida liberação de líquido pela carne e, também, da sensação de suculência mantida, devido principalmente à gordura que estimula a salivação. A gordura intermuscular funciona como uma barreira contra a perda do suco muscular durante o cozimento, aumentando portanto a retenção de água pela carne e aumento da suculência. A gordura intramuscular aumenta a sensação de suculência na carne. A maturação da carne a 0ºC por 14 a 21 dias também aumenta a suculência da carne devido ao aumento da capacidade de retenção de água. A suculência da carne depende também da perda de água durante o cozimento. Temperaturas de 80ºC produzem maiores perdas no cozimento que temperaturas ao redor de 60ºC. Mastigabilidade A mastigabilidade é um atributo secundário da textura que é avaliado pelo número de mastigadas necessário para deixar a carne em condições de ser deglutida. Apresenta alta correlação positiva com a maciez. Sabor e Aroma SHIMOKOMAKI (1976) cita que já foram identificados mais de 1000 componentes responsáveis pelo aroma e sabor da carne. O aroma e sabor da carne podem ser determinados por fatores antes do abate como espécie, idade, sexo, Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 28 raça, alimentação e manejo. Outros fatores como pH final do músculo, condições de esfriamento e armazenamento, e procedimento culinário também afetam este parâmetro sensorial (FARMER & PATTERSON, 1991). COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CARNE Segundo ROÇA (2000) a carne magra apresenta em torno de 75% de água, 21 a 22% de proteína, 1 a 2% de gordura, 1% de minerais e menos de 1% de carboidratos. A carne magra dos diferentes animais de abate possui uma variação química pequena (Tabela 1). O conteúdo energético é relativamente baixo, com média de 105 kcal/100g de carne crua. Na gordura pura os valores são maiores, em torno de 830 kcal/100g. NASCIMENTO et al. (1993) analisando amostras de filé de machos bubalinos Murrah engordados em pastagem cultivada de Brachiaria humidicola e abatidos aos dois anos e meio de idade encontraram teores de água, matéria seca, proteína, gordura e minerais de 76,23%, 23,77%, 20,69%, 1,98% e 1,10%, respectivamente. Esses valores estão bastante próximos àqueles encontrados em outros tipos de carne (Tabela 1). Tabela 1 – Composição química (g/100g) e conteúdo energético (Kcal/100g) médio da carne magra, crua e da gordura de alguns animais de abate Fonte: SEUSS (1991, 1993) As carnes cozidas ou assadas perdem água durante o preparo culinário, aumentando o teor dos outros componentes, como gordura e proteínas (Tabela 2 e Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 29 3). Uma comparação entre a composição da carne magra, preparada, com outros alimentos mostra que a carne é um alimento rico em proteínas, pobre em carboidratos e relativamente pobre em gordura. Segundo CRIPE (1996) em 100 g de carne bubalina cozida encontra-se um conteúdo energético de 131 Kcal, 26,83 g de proteínas e 1,80 g de gorduras. Tabela 2 - Composição química (g/100g) e conteúdo energético (Kcal/100g) médio de alguns alimento preparados Fonte: SEUSS (1991) Tabela 3 – Composição química (g/100g) de produtos cárneos realizadas no Laboratório de Tecnologia dos Produtos de Origem Animal, da Unesp- FCA, campus de Botucatu. Fonte: ROÇA (2000) Água A água é muito importante para a atividade muscular, uma vez que a pressão e descompressão, contração e relaxamento somente é possível em Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 30 presença da água. A porcentagem da água dos animais abatidos guarda estreita relação com a proteína. A relação água-proteína pode ser considerada como uma constante biológica. Esta relação é utilizada para determinar a quantidade de água adicionada à carne picada e aos embutidos (ROÇA, 2000). A carne vermelha magra possui ao redor de 75% de água, em peso. Por ser um componente abundante, a água influi na qualidade da carne, afetando a suculência, textura, cor e sabor. Sendo a água o meio universal das reações biológicas, sua presença afeta diretamente as reações que ocorrem na carne durante o armazenamento e processamento. Minerais O conteúdo de cinzas ou resíduo mineral fixo, obtido após incineração da carne a 500-600ºC, está em torno de 0,8 a 1,8%. Entre as funções importantes que exercem os íons orgânicos e inorgânicos destacam-se: o cálcio e o magnésio desempenham papel importante na contração muscular; os compostos orgânicos do fósforo, com diversos ésteres do ácido fosfórico intervém nas modificações post- mortem, no processo de maturação da carne e hidratação da carne (ROÇA, 2000). A carne possui quase todos os minerais de importância para a nutrição humana. Em termos quantitativos, o fósforo e o potássio são os mais importantes (Tabela 4). A relação entre potássio e sódio é favorável na carne, considerando que o sódio se encontra em quantidade escassa. Tabela 4 – Conteúdo de minerais em diferentes tecidos e alimentos Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 31 Em bubalinos CRIPE (1996) relata que encontrou em 100g de carne cozida os seguintes teores de minerais: cálcio (15mg); ferro (2,12mg); potássio (313mg) e sódio (56mg). Com exceção dos teores de sódio que foram inferiores em bubalinos, os teores estão bastante próximos ao da carne bovina (Tabela 4). Da mesma forma, ARENAS DE MORENO et al. (2001) estudaram o conteúdo de minerais do músculo Longissimus dorsi de bubalinos, expressos por 100g de tecido fresco, e encontraram os valores médios de: potássio (337,7mg); fósforo (201,45mg); magnésio (22,63mg); manganês (0,027mg); zinco (4,65mg) e cobre (0,10mg). Entretanto, os produtos cárneos processados são ricos em sódio devido à adição de sal refinado, na proporção de 2 a 3% durante a elaboração. A carne também é uma boa fonte de oligoelementos como zinco e ferro. A importância da carne como fonte de ferro não se baseia somente no elevado teor, e sim porque o ferro proveniente da carne possui uma melhor biodisponibilidade que os alimentos vegetais. Carboidratos A carne é pobre em carboidratos, podendo ser constituída de polissacarídeos (glicogênio) e monossacarídeos (glicose e frutose). O conteúdo de glicogênio varia com o tipo de músculo e atividade. No animal vivo, está em torno de 1,5%, e após as modificações post-mortem, em torno de 0,1%. As vísceras comestíveis são mais ricas em carboidratos que a carne muscular. O fígado bovino possui de 2 a 4% e o de suíno, 1% de carboidratos.Quando a carne é assada, os carboidratos combinam-se com aminoácidos livres, formando melanoidinas que dão sabor e odor característicos. Vitaminas A carne possui vitaminas hidrossolúveis do grupo B, como vitaminas B1, B2, B6 e B12 (Tabela 5). As vitaminas lipossolúveis, como vitamina A e D, encontram-se em quantidades importantes somente nas vísceras, principalmente no fígado. O fígado e os produtos derivados da carne possuem quantidades consideráveis de vitamina C. CRIPE (1996) relata os seguintes valores de vitaminas em 100g de carne bubalina cozida: Tiamina (B1) de 3,03 mg; riboflavina (B2) de 0,25 mg; niacina de Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 32 6,29 mg; B6 de 0,46 mg e B12 de 1,75 mcg. Os valores encontrados são intermediários aos encontrados para as carnes bovina e suína magra assadas. Tabela 5 – Teores de vitaminas em alguns alimentos preparados (por 100g) A carne suína é importante fonte de vitamina B1, enquanto que a carne de outros animais de abate contem esta vitamina em menores teores. A carne e produtos derivados também possuem ácido nicotínico, pantotênico e fólico. As vitaminas podem ser perdidas ou diminuídas durante o cozimento. A perda por cocção corresponde a cerca de: A (5-10%), B1 (30%), B2 (25%) e C (35- 40%). O processo de fritura (alta temperatura em curto tempo) promove menos perdas de vitaminas termolábeis. O armazenamento da carne deve ser feito sob refrigeração e em ausência da luz, para não haver perdas de algumas vitaminas. Se o armazenamento for prolongado aconselha-se usar peças grandes. Os metais, o corte e a trituração tem ação prejudicial sobre as vitaminas, sendo que o processo de cura de carnes promove destruição da vitamina C. Matéria Graxa Segundo ROÇA (2000) a carne tem sido classificada dentro da categoria de alimentos ricos em gordura e é apontada de maneira muito crítica, quanto ao aspecto de alimentação saudável. As tabelas de composição química da carne divulgadas normalmente, são antigas e ultrapassadas e apresentam um teor de matéria graxa elevado, o que não é observado atualmente. A graxa está armazenada no tecido animal de quatro modos: extracelular, constituída dos depósitos de tecido adiposo subcutâneo e demais depósitos no Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 33 organismo animal; a intermuscular entre os músculos; a intramuscular, conhecida como marmorização, constituídas de fibras muito finas no tecido muscular. Possui também uma pequena quantidade de graxa no tecido muscular, a qual é encontrada formando pequenas gotículas no líquido intercelular. A marmorização é desejável na carne, desde que não seja em excesso. Contribui para a suculência, firmeza e sabor da carne. As graxas de bovinos, bubalinos e ovinos possuem maior proporção de ácidos graxos saturados, enquanto que em suínos e aves predominam os ácidos graxos insaturados (Tabela 6). CRIPE (1996) relata os seguintes valores de ácidos graxos em 100g de carne bubalina cozida: saturados (0,60g); monoinsaturados (0,53g); poliinsaturados (0,36g) e colesterol (61,0mg). PALEARI et al. (1997) analisando a carne de búfalas leiteiras quanto ao perfil de ácidos graxos encontraram os seguintes valores: palmitoleico – C16:1 (ω7) de 1,31%; oléico – C18:1 (ω9) de 42,52%; linoleico –C18:2 (ω6) de 1,74% e linolênico – C18:3 (ω3) de 0,21%. Os mesmos autores encontraram valores de ácidos graxos totais saturados e insaturados de 53,21% e 46,79%, respectivamente, o que correspondeu a uma relação ácidos graxos saturados/insaturados de 1,15. Os valores encontrados por PALEARI et al. (1997) com bubalinos, desta forma, estão bem próximos aos de bovinos relatados por FORREST et al. (1979) que encontraram valores de ácidos graxos totais saturados e insaturados de 53,7% e 46,3%, respectivamente (Tabela 6). UZCÁTEGUI-BRACHO et al. (2001) estudando o conteúdo intramuscular de lipídios e ácidos graxos no músculo Longissimus dorsi de bubalinos e bovinos azebuados, abatidos aos 19 e 24 meses de idade, observaram que a carne de bubalinos apresentaram maior conteúdo de ácidos graxos insaturados e tendência de apresentarem maior relação ácidos graxos poliinsaturados/saturados (AGPI/AGS) que bovinos. Os mesmos autores também relataram que nenhuma das duas carnes apresentaram valores de relação AGPI/AGS recomendáveis para dietas saudáveis (>0,45) e somente a carne bovina alcançou o valor recomendado de ω6/ω3 (<4,0) no presente estudo (bubalinos: 3,86 e bovinos: 4,47). Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 34 Tabela 6 – Composição em ácidos graxos e triacilgliceróis em depósitos de gordura subcutâmea (em % do total de ácidos graxos ou % de triacilgliceróis) O Ácido Linoléico Conjugado (CLA) e a Carne Dietética O Ácido Linoléico Conjugado (CLA) é um ácido graxo cuja fonte provém dos ruminantes e exibe poderosa ação anticarcinogênese quando usado em baixos níveis dietéticos. Além disso, o CLA foi demonstrado ser anti-aterogênico, anti- diabético e provem efeitos benéficos ao crescimento, à saúde, nos níveis de gordura corporal e na proporção de músculo para gordura. Muito há que ser conhecido sobre os mecanismos exatos pelos quais CLA mostram seus efeitos (BELURY, 1997). Além disso, os resultados animadores de estudos com animais precisam ser reproduzidos, apropriadamente, em humanos. A carne de ruminantes representa uma das fontes primárias naturais desta combinação intrigante que alguns chamaram um “nutriente previamente não reconhecido” (PARIZA, 1997). Compostos Nitrogenados Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 35 Proteínas O teor em proteínas com alto valor biológico é uma característica positiva da carne. O valor biológico de uma proteína está determinado pelo seu conteúdo em aminoácidos essenciais. As proteínas de origem animal possuem, devido à sua composição em aminoácidos, um valor biológico mais elevado que as proteínas de origem vegetal (ROÇA, 2000). A solubilidade das proteínas da carne é o principal fator que determina as propriedades de suculência. A solubilidade é influenciada pelo pH, temperatura e início do rigor-mortis Enzimas Entre outras, encontram-se catepsinas, aldolases, fosforilases, lipases, catalases e peroxidases. São muito importantes nos fenômenos postmortem A maior parte encontram-se no sarcoplasma. Entre os fatores que influem na ação das enzimas podem ser destacados: Temperatura: atuam numa faixa de temperatura que vai de -20 a +60ºC. A temperaturas inferiores sua ação é retardada. Acima de 60ºc, inicia-se sua inativação. A 100ºC há destruição total. pH: a faixa ótima de atuação está entre pH 5-7. Umidade: a reação enzimática ocorre quando os componentes estão em meio aquoso. Diminuindo-se o teor de umidade, diminui também a ação enzimática. A ação enzimática pode ser evidenciada em vários aspectos. A catepsina é importante na maturação da carne. Atua em pH 4 a 5 (neste pH a maioria das enzimas são inativadas). Aminas Biogênicas São compostos nitrogenados sintetisados pela ação de organismos vivos. As principais aminas biogênicas são: histamina, cadaverina, putrecina e tiramina. A histamina tem sido apontada como causa de muitas intoxicações alimentares. Colesterol e Purina Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 36 Na carne estão presentes também substâncias indesejáveis, como colesterol e purinas, que devem ser evitadas o consumo em elevadas concentrações. O colesterol é uma substância encontrada na membrana celular de toda célula animal, sendo necessária para sua existência. A carne magra possui, em média 70mg de colesterol por 100g de carne crua, sendo maiores para novilhos e animais silvestres. Os valores dos embutidos variam de acordo com a quantidade de gordura. As vísceras apresentam elevados teores de colesterol (Tabela 7).Tabela 7 – Teores médios de colesterol (mg/100g) em alguns alimentos Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 37 As purinas são formadas a partir do ATP e elementos do ácido nucleico e são degradadas no organismo formando ácido úrico, que em pessoas normais é eliminado pela urina. Em pessoas com transtorno do metabolismo úrico, o consumo de alimentos ricos em purina eleva o teor de ácido úrico no sangue, podendo levar a ocorrência de gota úrica. Por essa razão é recomendável indicar o teor de purinas em mg de ácido úrico formado por 100g de alimento. A carne magra contém aproximadamente 150mg/100g, pertencendo ao grupo de alimentos com teor médio de purina. Os teores elevados de purinas são encontradas nas vísceras animais (ROÇA, 2000). FATORES QUE INFLUEM NA COMPOSIÇÃO DA CARNE Espécie: o efeito da espécie animal na composição da carne é o fator mais acentuado, porém nos músculos com pouca gordura, a variação da composição química é pequena (Tabela 1). Raça: depois da espécie, a raça é o fator intrínseco que mais afeta a composição química e bioquímica do músculo. Os bovinos de corte possuem maior quantidade de graxa intramuscular que os bovinos de leite. Sexo: em geral os machos possuem menor quantidade de graxa subcutânea que as fêmeas. Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 38 Idade: de maneira geral, ao aumentar a idade, aumentam quase todos parâmetros químicos, com exceção da água. Animais jovens possuem pouca quantidade de graxas subcutâneas e intramuscular, e não apresentam marmorização. Nutrição: em geral, o nível de alimentação sobre o crescimento de animais de carne se reflete na composição de diversos músculos. O teor de graxa intramuscular também é um reflexo do plano de nutrição. Localização anatômica: é o fator intrínseco mais complexo. Há variações na composição química dos músculos de diferentes localizações. Um clássico exemplo é a composição dos músculos da coxa e peito de aves (Tabela 1). Treinamento e exercício: a modificação mais acentuada ocorre no teor de mioglobina, que é relativamente mais alta nos músculos mais ativos que nos músculos menos ativos. Composição em Ácidos Graxo e Qualidade Vários fatores afetam as decisões dos consumidores para comprar carne mas uma importante é a percepção de qualidade. A sanidade percebida de um alimento está se tornando um assunto de qualidade fundamental para os consumidores e, no caso da carne, isto está relacionado em grande parte ao seu conteúdo de gordura e sua composição em ácidos graxos. Estudos prévios sugerem que a composição em ácidos graxos de carnes de ruminantes possa ser influenciada pela dieta, com conseqüências para outro atributo de qualidade importante, notavelmente o flavor que seria “comer com satisfação” (WOOD et al., 1999). Por exemplo, dietas com altos teores de grãos que resultam em concentrações elevadas de n-6 ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) em carnes (músculos) com um perfil de flavor diferente daquelas dietas a base de forragens que aumentam as concentrações na carne de n-3 PUFA (KEMP et al., 1981; LARICK & TURNER, 1990). Além da dieta, o efeito de raça pode ser importante. Há referências empíricas, sem comprovação científica, sobre a evidência de que a carne de animais de certas raças criados com determinadas dietas tem flavor superior ou característico. Tal carne poderia ser classificada como “tipo prêmio” se para isto fosse comprovada que era genuinamente diferente. Uma hipótese para apoiar Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 39 diferenças no gosto é que elas são, em grande parte, um resultado da variação na composição ácida graxos que, por sua vez, varia de acordo com a raça e o tipo de alimentação utilizado. Os ruminantes preferencialmente depositam PUFA em fosfolipídios (ENSER et al., 1998). Assim raças que apresentam baixa proporção de gordura (magras) poderiam ter proporções relativamente altas de PUFA comparadas com animais com alta proporção de gordura (gordos) nos quais o efeito do fosfolipídio é diluído por níveis mais altos de lipídio de armazenamento neutro (gordura de marmoreio). Variações na concentração absoluta e nas proporções relativas dos diferentes ácidos graxos poderiam afetar o perfil do flavor. Para investigar estas hipóteses, a composição em ácidos graxos da gordura e do músculo, bem como o perfil do flavor têm sido estudado em algumas espécies animais Segurança Alimentar: Certificação de Origem e Rastreabilidade Segundo HOWELLS (2000) a forma na qual o consumo ocorre atualmente está mudando e está pode ser expressada de vários modos, como por exemplo: O interesse crescente em segurança alimentar; Maior preocupação com assuntos do bem-estar ambientais e animais; Importância crescente de se “comer com qualidade”; O maior papel dos Serviços de Alimentos. Uma tendência adicional foi o interesse crescente em identificação animal e rastreabilidade. Os passos para estas mudanças podem variar de país para país, mas com certeza são mudanças de hábitos do consumidor em geral. As razões pelas quais requerem a identificação diferem entre os indivíduos, companhias e governos. Empresário rurais necessitam disto para a sua administração, para o seu rebanho e para melhoria de qualidade da carne, e principalmente para o importante reconhecimento de sua propriedade - uma exigência crucial. Governos, particularmente na Europa, precisam disto, dada as crescentes demandas do consumidor, para a garantia e a efetiva administração de medidas de apoio de mercado e prevenção de fraudes. Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 40 Companhias comerciais, particularmente as do mercado de varejo, precisam do sistema de identificação para diferenciação de produtos, rastreabilidade e marcas. A UNESP-FMVZ-BOTUCATU E O NOVO ENFOQUE DE SUAS LINHAS DE PESQUISA Depois das características de crescimento e reprodução, as características de carcaça formam o mais importante conjunto de componentes determinantes da lucratividade na atividade pecuária. Em todo mundo, quando a seleção para características de crescimento atinge os resultados desejados a ênfase da seleção tem sido alterada para as características de carcaça. A avaliação da carcaça normalmente exige o abate dos animais, o que impede que sejam medidas nos animais a serem selecionados. Entretanto, estimativas destas características podem agora ser obtidas a partir de análises ultrasonográficas realizadas nos animais vivos sem que os mesmos sofram qualquer tipo de injúria. A ultrasonografia é o método de eleição para obtenção de estimativas de área de olho do lombo (área da seção transversal do músculo Longissimus dorsi) e espessura de gordura subcutânea (medidas na altura da décima-segunda costela). A marmorização do Longissimus dorsi também pode ser estimada na região da décima-segunda costela. Como a ultrasonografia de carcaças é um método recente aplicado a bovinos há a premente necessidade de estudos de aplicabilidade e precisão da técnica em bubalinos. Como exemplo da interação Universidade-Empresa, aqui na FMVZ- Botucatu, está em execução importante projeto temático, financiado pela FAPESP, intitulado “Estudo do Modelo de Crescimento Biológico de Bovinos Superprecoces” sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Carlos Silveira, contando com modernas instalações, onde estão sendo conduzidos vários sub-projetos com a finalidade de se obter uma carne padronizada de animais jovens, de qualidade e rastreável. Fomos convidados pelo Prof. Silveira para que com a nossa equipe de pesquisa conduzíssemos, a partir do ano de 2002, experimentos utilizando-se bubalinos de diferentes grupos genéticos, em confinamento, com a finalidade de se avaliar as seguintes variáveis: Desempenho em confinamento: peso inicial, peso Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura,08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 41 final, ganho de peso no confinamento, ganho de peso médio diário em confinamento, consumo médio diário, conversão alimentar e eficiência biológica. Na carcaça avaliada por ultra-sonografia: área de olho do lombo, espessura de gordura subcutânea, marmoreio e produção de carne na carcaça. No abate: peso da carcaça quente, rendimento de carcaça, peso da carcaça fria, perda por resfriamento, conformação, acabamento e comprimento. Análise laboratorial da carcaça: área de olho do lombo, espessura de gordura subcutânea, marmoreio e maciez. Espera-se que sejam mostradas estas avaliações de carcaças de bubalinos de diferentes grupos genéticos aos criadores em geral e, em particular ao criador- selecionador de bubalinos das raças Murrah, Jafarabadi e Mediterrâneo, bem como as variações existentes nas características de carcaça e qualidade de carne desses animais, visando tornar rotina a utilização das tecnologias de ultra-som para avaliação das carcaças bubalinas e propiciar a oferta de animais com carcaça e carne de qualidade para o consumidor, permitindo desta forma subsidiar a cadeia produtiva de carne bubalina. Para tal esperamos contar com a confiança e a parceria de todos os criadores interessados, fornecendo os animais para avaliação e permitindo que, juntos possamos melhor compreender este fabuloso animal produtor de carne: o búfalo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para encerrar, gostaríamos de ressaltar que a decisão de engordar bubalinos em condições de pasto, utilizando-se a suplementação alimentar com concentrado ou terminá-los em confinamento depende de uma série de variáveis, como condições peculiares da região e propriedade como também do comércio. O emprego de qualquer destes sistemas pode viabilizar o abate de animais mais jovens, com carcaças de melhor qualidade, além de aumentar a capacidade de suporte da propriedade. Atualmente devido ao aumento da demanda de uma carne com qualidade e natural, sem resíduos de medicamentos, o Brasil surge como um enorme potencial para atender esta necessidade de mercado, pois possui condições ligadas tanto ao clima, quanto ao animal e às pastagens para produzir o búfalo "ecológico, natural ou verde". Frente à isto não há condições Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 42 de continuar trabalhando com os baixos índices de produtividade; tem-se, então, que maximizar as respostas com uso de tecnologias viáveis economicamente. Uma condição necessária para produzir estes animais à pasto e a custo mais baixo é a otimização do sistema de produção, por meio de técnicas como : correção e adubação do solo para maximizar a produção forrageira; um correto manejo da pastagem aliado à incorporação de nitrogênio para proporcionar alimentos de alto valor nutritivo para os animais e altas cargas de suporte; uma suplementação com proteína, energia e minerais para suprir as deficiências encontradas nas nossas pastagens tropicais em determinados períodos; uma genética adequada para produzir animais adaptados e precoces; um correto manejo sanitário e reprodutivo. Os resultados alcançados refletirão em um abate mais cedo dos animais com aumento de produtividade (kg de carne/hectare/ano) da propriedade, bem como um aumento do capital de giro. Anais do II Simpósio Paulista de Bubalinocultura, 08 a 10/11/2001, Pirassununga-SP 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENAS DE MORENO, L.; HUERTA-LEIDENZ, N.; RODRÍGUEZ, M.; RINCÓN- VILLALOBOS, G. Mineral content of Longissimus muscle from buffaloes and zebu-type cattle at four comparative ages. In: VI World Buffalo Congress. Section Meat Science and Technology. p.5-10, 2001. BELURY, M.A.; VANDEN HEUVEL, J.P. Protection against cancer and heart disease by the dietary fat, conjugated linoleic acid: potential mechanisms of action (Invited review). Nutr. Dis. Update J., 1:58-63, 1997. CRIPE, W. Water buffalo in the Americas. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON LIVESTOCK IN THE TROPICS, Tampa, 1996. Proceedings..., Tampa, IFAS- UF, 1996, p.60-61. DRANSFIELD, E. et al. 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PANORAMA DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CARNE BUBALINA E DERIVADOS RENDIMENTO DO ABATE DE BUBALINOS Desdobramento de Peso de um Bubalino em Seus Vários Componentes e Cortes Primários Resumo do Desdobramento da Carcaça PROPRIEDADES DA CARNE ( Textura COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CARNE FATORES QUE INFLUEM NA COMPOSIÇÃO DA CARNE ( Composição em Ácidos Graxo e Qualidade
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