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CEL0014-WL-LC-Resenha-Patch Adams – O Amor é Contagioso

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Patch Adams – O amor é contagioso (resenha) 
Lição de Solidariedade 
A noção que possuímos a respeito do que seria algo "contagioso" nos remete de imediato a 
doenças e, em seguida, a imagem de médicos, jalecos brancos, hospitais, remédios, internações e 
tudo que esteja diretamente relacionado à área de saúde. Não é fácil atribuir um símbolo tão 
intimamente ligado à noção de enfermidades a um outro conceito, aparentemente tão díspar e 
distante quanto o amor. O título do filme em português nos remete de imediato a uma reflexão (o que, 
creio, não foi proposital por parte dos responsáveis), pois nos faz pensar se é possível espalhar 
"bactérias" ou "vírus" do amor entre as pessoas, infectando-as de boas intenções e proporcionando, 
dessa forma, melhores ações por parte de todas elas. 
Seria, sem qualquer sombra de dúvidas, muito mais interessante do que espalhar através de 
armas químicas o medo e a morte a inocentes como temos visto em algumas regiões desse planeta. 
O filme nos mostra um estudante de medicina, que como milhares de outros acaba de entrar na 
universidade, e procura em seus professores a resposta para suas várias dúvidas a respeito da 
formação profissional. Seu nome é Patch Adams (vivido por Robin Williams, que tem, mais uma vez, 
a capacidade de nos fazer rir e chorar). 
A observação dos mestres em ação, de suas atitudes, e principalmente da forma como eles se 
relacionam com seus pacientes desperta em Patch a consciência de que aos tratamentos médicos 
falta um quesito fundamental: a humanidade, entendida como respeito, apreço, consideração, estima 
e calor humano da parte dos médicos em relação a seus pacientes (e, mesmo, em termos da forma 
como interagem com as enfermeiras). 
Patch percebe que o distanciamento dos doutores no tratamento de seus pacientes pode estar 
provocando repercussões não percebidas a "olho nu" que revertem negativamente na recuperação 
dos doentes. De que adiantam todos aqueles equipamentos modernos e caros, remédios de última 
geração, ambientes sofisticados e limpos como os dos hospitais norte-americanos (é fundamental, 
convenhamos, que os setores da saúde disponham desses recursos todos, coisa que em nossa 
pátria amada Brasil não acontece) se não há por parte dos responsáveis pelo tratamento uma 
aproximação em relação a seus pacientes? O distanciamento e o pouco caso dos profissionais da 
área podem causar malefícios à saúde de seus pacientes – é o que, em última análise, conclui o 
jovem estudante.Chegar a essa ideia não foi difícil, complicado pode ser reverter esse quadro. 
Como fazer com que o pedestal que separa médicos e pessoas em tratamento seja destruído? 
De que forma podemos tornar mais humanos nossos especialistas em saúde para que eles consigam 
com atitudes e presença ajudar a reverter por completo o drama de muitos de seus pacientes? Me 
lembro bem de um relato de uma enfermeira a respeito da forma cruel como foram tratados os 
primeiros pacientes internados em virtude do vírus HIV (AIDS), distanciados dos médicos e de seus 
auxiliares, separados por portas e vidros de seus parentes, agonizavam até a morte sem ao menos 
um carinho, uma presença, uma palavra de conforto. 
O brilhantismo de Patch permitiu a ele criar um movimento que, depois, acabou por se espalhar 
por todo o território norte-americano e, posteriormente, para várias regiões desse vasto mundo em 
que vivemos (inclusive o Brasil), chamado "doutores da alegria", que consiste na visita aos enfermos 
por parte de médicos treinados para fazer rir, para tirar de dentro dos doentes uma força adicional, 
para buscar em cada um deles uma energia extra que lhes permita ficar um pouco mais fortes e 
combater com mais ênfase suas doenças. 
Os "anticorpos" propostos pelo personagem de Williams, contidos nessa atitude benevolente, de 
paciência, de relacionamentos calorosos e de bom astral e humor, não foram bem aceitos logo de 
princípio, muitos médicos relutaram (há resistências até hoje) como transparece no filme, em 
abandonar suas auras de cidadãos especiais, dotados de superpoderes e, por isso mesmo, passíveis 
de uma conduta que muitas vezes chegava mesmo a causar constrangimento a seus pacientes (é 
óbvio que, como em qualquer profissão, há médicos que não se utilizam de suas prerrogativas para 
se sentir acima dos demais mortais, assim como é patente que o conhecimento que possuem, por 
lhes permitir salvar vidas, lhes confere esse status ao qual nos referimos). Abaixo a prepotência, viva 
a humildade e o respeito. 
Transferindo a situação das alas hospitalares para os corredores das escolas onde trabalhamos, 
surgem dúvidas como: – Quantas vezes essa ideia de superioridade não nos afasta, professores, de 
nossos alunos? Quantos casos detectados de alunos-problemas que, em nossos dizeres, não têm 
mais solução, poderiam ser solucionados se abandonássemos essa atitude de prepotência em 
nossas aulas e no relacionamento com os estudantes? Será que nós, profissionais da educação, 
também não cometemos os mesmos pecados percebidos no filme "Patch Adams" entre os médicos? 
 
O filme nos provoca e estimula no sentido de fazer com que nos mobilizemos em favor de uma 
atitude mais respeitosa em relação aos outros, desperta a solidariedade numa época em que se fala 
tanto em ajudar as pessoas que precisam, incentiva os jovens (não só eles, nós também) a partir de 
um exemplo vitorioso e real (o filme baseia-se em fatos verídicos, o que aumenta sua credibilidade 
junto ao público) a participar de ações voluntárias e nos mostra que precisamos dos outros, que não 
podemos nos isolar, que devemos estender a mão na direção dos demais seres humanos pois 
também contamos com seu auxílio. Um grande exemplo! 
 
Ficha Técnica 
Patch Adams - O amor é contagioso 
(Patch Adams) 
País/Ano de produção: EUA, 1998 
Duração/Gênero: 115 min., drama 
Distribuição: Universal (UIP) 
Direção de Tom Shadyac Roteiro de Steve Oedekerk 
Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica Potter, Philip Seymour Hoffman. 
 
 
 
 
 
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da 
Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro 
"Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

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