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ESTUDOS ANATÔMICOS E MICROQUÍMICOS DA FOLHA DE 
Endlicheria paniculata (LAURACEAE) 
Gonçalves, R. A.¹; Pinheiro, A. B.²; Martins, A. R.³ 
¹Departamento de Biologia e Zootecnia – ricks-almeida@hotmail.com 
²Faculdade de Tecnologia de Capão Bonito – alyson-pinheiro@hotmail.com 
³Departamento de Biologia e Zootecnia – aline@bio.feis.unesp.br 
 
Introdução 
Lauraceae é uma família com distribuição tropical e subtropical, concentrada em 
florestas pluviais da Ásia e Américas. A família inclui cerca de 50 gêneros e 2500 espécies, 
sendo que no Brasil ocorrem 22 gêneros e cerca de 400 espécies. Esta é uma das mais 
complexas famílias da flora brasileira, do ponto de vista taxonômico, pelo grande número de 
espécies e por serem utilizados caracteres crípticos na distinção de gêneros e espécies 
(SOUZA & LORENZI, 2008). 
Lauraceae destaca-se entre as demais famílias pela sua importância econômica. 
Algumas espécies têm sido utilizadas pelas indústrias para a fabricação de diversos produtos, 
porém, a maioria das espécies tem seu uso restrito às comunidades tradicionais que detêm o 
conhecimento empírico da utilização dessas plantas (MARQUES, 2001). 
Após séculos de exploração desordenada na região Amazônica, as espécies da família 
Lauraceae produtoras de óleos essenciais continuam tendo interesse comercial mas com 
poucos estudos químicos e farmacológicos. Na biodiversidade Amazônica, ainda há espécies 
da família Lauraceae que nunca foram analisadas entre as 400 espécies observadas no Brasil 
(ALCÂNTARA et. al, 2010). 
A espécie Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr. é popularmente conhecida como 
“canela”, “canela-cheirosa”, “canela-do-brejo”, “canela-frade”, “canela-peluda”, “canela-sebo”, 
“canelão” e “canelinha”, são árvores de 3 a 10 metros, raramente chega a 20 metros. 
Apresenta folhas simples, com margem do limbo inteira, filotaxia alterna, e com nervuras 
claramente visíveis. Quando amassadas, as folhas exalam cheiro característico. Sua 
inflorescência é axilar, e as flores masculinas normalmente são pouco maiores que as 
femininas que possuem tépalas mais estreitas. Possui fruto elíptico, e a cúpula vermelha da 
planta feminina, em contraste com o fruto negro, dá à espécie excelente efeito ornamental, 
sendo também atrativo para pássaros frugíforos. Distribuída amplamente no Brasil nas regiões 
Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul. Floresce de junho a novembro e de janeiro a 
fevereiro e com frutos de abril a novembro. E. paniculata é uma das espécies mais polimorfas 
da família Lauraceae, especialmente quanto ao tamanho, espessura e pubescência das folhas 
e dos ramos (WANDERLEY et. al, 2003) 
O presente trabalho teve como objetivo analisar a anatomia foliar da espécie Endlicheria 
paniculata e verificar através de testes histoquímicos as classes de compostos presentes em 
suas estruturas secretoras. 
 
Materiais e Métodos 
O material foi coletado em um fragmento de Mata Atlântica do Parque Estadual 
Intervales, situado na região sul do Estado de São Paulo. As folhas foram amostradas de três 
indivíduos da mesma espécie, caracterizando o trabalho em triplicata, entre as coordenadas S 
24º12’ e 24º32’, e W 48º03’ e 48º32’. 
Exsicatas do material herborizado foram identificadas por especialistas da família 
Lauraceae e incorporadas no Herbário da UNESP – Ilha Solteira. 
As amostras foram fixadas em FAA 50 e após 48 horas o material foi estocado em álcool 
70%. 
As amostras da região mediana da lâmina foliar foram desidratadas em série etílica, 
incluídas em hidroxi-etil-metacrilato (Leica Historesin) e os blocos obtidos foram seccionados 
com a espessura de 8 µm. O material foi corado com Azul de Toluidina 0,05% em tampão 
fosfato e ácido cítrico pH entre 4,5-6,0 (SAKAI, 1973), as lâminas foram montadas com resina 
sintética “Entellan”. 
Testes histoquímicos foram realizados em material incluído em historesina. Para 
detecção de substâncias lipídicas, utilizou Sudan IV (JENSEN 1962); para amido, cloreto de 
zinco iodado (STRASBURGER 1913); para compostos fenólicos, cloreto férrico (JOHANSEN 
1940) e para substâncias pécticas, vermelho de rutênio (JOHANSEN 1940). 
 
Resultados 
A espécie Endlicheria paniculata apresentou como características foliares epiderme 
unisseriada; mesofilo dorsiventral e feixes vasculares do tipo colateral. A nervura central das 
folhas possui um grande feixe vascular colateral circundando por um anel esclerenquimático. 
As folhas são hipoestomáticas, apresentam tricomas tectores ao longo da epiderme e 
idioblastos no parênquima paliçádico e na região da nervura central. 
No teste histoquímico (Tabela 1) foi constatada a presença de compostos fenólicos 
(evidenciado pelo Cloreto Férrico) em células secretoras do feixe vascular na região da nervura 
central. Através do teste com Sudan IV, evidenciou-se grande quantidade de células com 
lipídios na região da nervura central e no mesofilo foliar. A cutícula que reveste toda a 
superfície da epiderme foliar também apresentou respostas positiva para lipídios. Grãos de 
amido foram observados nas células parenquimáticas ao redor da nervura central pelo teste de 
Cloreto de Zinco Iodado. O teste de Vermelho de Rutênio, que detecta presença de 
substâncias pécticas não evidenciou secreção com esta natureza química nas células 
secretoras (Tabela 1). 
Tabela 1. Resultados dos testes histoquímicos realizados nas folhas de Endlicheria paniculata. 
 Cloreto Férrico Sudan IV Cloreto de Zinco 
Iodado 
Vermelho de 
Rutênio 
Epiderme - + (Cutícula) - - 
Parênquima 
Paliçádico 
- + (Células 
Secretoras) 
- - 
Parênquima 
Lacunoso 
- + (Células 
Secretoras) 
 - - 
Feixe Vascular + (Células 
Secretoras) 
+ (Células 
Secretoras) 
+ (Amido) - 
 
Discussão e Conclusão 
Outras espécies da família Lauraceae apresentam características semelhantes a espécie 
estudada. De acordo com COUTINHO (2006), estudando a Ocotea gardneri, constatou que as 
folhas dessa espécie também apresentam folhas do tipo hipoestomáticas e células secretoras 
de óleo. DUARTE et al. (2006) também descrevem tais características para as folhas de Laurus 
nobilis L., e descrevem ainda a presença de bainha esclerenquimática ao redor do feixe 
vascular central da folha e do mesofilo dorsiventral. 
A espécie Endlicheria paniculata apresentou características como epiderme unisseriada; 
mesofilo dorsiventral; feixes vasculares do tipo colateral; nervura central das folhas com grande 
feixe vascular circundado por um anel esclerenquimático; folhas hipoestomáticas; tricomas 
tectores; idioblastos entre as células do parênquima paliçádico e na região da nervura central; 
grãos de amido nas células parenquimáticas ao redor da nervura central. Tais características 
podem contribuir para identificação taxonômica de tal espécie e auxiliar no direcionamento de 
estudos para identificar as substâncias químicas de natureza lipídica que foram detectadas em 
células secretoras do mesofilo foliar. 
 
 
Referências 
ALCÂNTARA, I.M.; YAMAGUCHI, K.K.L.; SILVA, J.R.A.; VEIGA-JÚNIOR, V.F. Composição 
química e atividades biológicas dos óleos essenciais das folhas e caule de 
Rodostemonodaphne parvifolia Madriñán(Lauraceae). Acta Amazônica. Vol.40(3) p. 567-572, 
2010. 
DUARTE, M. R.; OLIVEIRA, G. C.; Caracteres macro e microscópicos de folha de louro 
(Laurus nobilis L., Lauraceae), Curitiba – PR, 2006 
COUTINHO, D. F.; AGRA, M. F.; BARBOSA-FILHO, J. M.; BASILIO, I. J. L. D.; Morfo-
anatomia foliar de Ocotea gadneri (Meisn.) Mez (Lauraceae-Lauroideae). Revista Brasileira 
de Farmacognosia, vol. 16(2), p. 178-184, Abr. /Jun. 2006 
JENSEN, W.A. Botanical histochemistry: principle and practice. San Francisco, W.H. 
Freeman, 1962. 
JOHANSEN, D.A. Plant microtechinique. New York; McGraw-Hill Company Inc., p. 523, 1940. 
MARQUES, C.A.; Anatomia foliar aplicada à taxonomia de espécies de Lauraceae Lind. 
Viçosa, 75p., Dissertação de Mestrado – Programade Pós-Graduação em Botânica, 
Universidade Federal de Viçosa, 2001. 
SAKAI, W.S. Simple Method for differential stainning of paraffin embedded plant material 
using toluidine blue. Stain Technology, vol. 48, p. 247-248, 1973. 
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática: Guia Ilustrado para Identificação das 
Famílias de Fanerógamas Nativas e Exóticas do Brasil. Instituto Plantarum de Estudos da 
Flora LTDA, Nova Odessa - SP,2ª ed., 2008 
STRASBURGUER, E. Handbook os pratical botany. (Transl. W. Hillhouse). George Allen & 
Company Ltda, London, 1913. 
WANDERLEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; GIULIETTI, A.M.; MELHEM, T.S.; Flora 
Fanerogâmica do Estado de São Paulo. Rima, São Paulo, vol. 3, 2003.

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