Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL EFEITO DO SORGO SOBRE O DESEMPENHO ZOOTÉCNICO, CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E O DESENVOLVIMENTO DA MUCOSA INTESTINAL DE FRANGOS Daniel Mendes Borges Campos Zootecnista JABOTICABAL - SÃO PAULO - BRASIL 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL EFEITO DO SORGO SOBRE O DESEMPENHO ZOOTÉCNICO, CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E O DESENVOLVIMENTO DA MUCOSA INTESTINAL DE FRANGOS Daniel Mendes Borges Campos Orientador: Prof. Dr. Marcos Macari Co-orientador: Renato Luis Furlan Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia (Produção Animal). Maio de 2006 Jaboticabal – SP ii DADOS CURRICULARES DO AUTOR DANIEL MENDES BORGES CAMPOS – nascido em Jaboticabal – SP, no dia 10 de julho de 1979. Em março de 1998 ingressou no curso de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal (FCAV– UNESP), concluindo em novembro de 2002. No período de 20 janeiro de 2003 até 21 de janeiro de 2004, trabalhou como “Trainee” de produção na empresa Agroceres Nutrição Animal, no município de Patos de Minas – MG. Em março de 2004 iniciou o curso de Mestrado em Zootecnia, na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal (FCAV–UNESP). iii Aos meus queridos Pais, Ivomar Borges Campos e Sandra Maria Mendes Borges Campos Aos meus irmãos, Eduardo Mendes Borges Campos e Emiliano Mendes Borges Campos A minha babá, Vera Lúcia Rodrigues da Silva, A minha noiva, Thaisa Cristina Devós Ganga Obrigado pelo apoio, incentivo, amor e exemplo de vida Dedico iv AGRADECIMENTOS A Deus pela vida e seus encantos. Aos Professores Marcos Macari e Renato Luis Furlan pela orientação e exemplo como profissionais. Aos amigos da Graduação e Pós-Graduação, em especial, Aiani Maria Vaz, Bruno Serpa Vieira, Carla Heloisa Faria Domingues, Daniel Emygdio Faria Filho, Karoll Alfonso Torres, Paulo Sergio Rosa, Tiago Urbano pela colaboração na condução das etapas de campo e discussão do presente trabalho. Um conselho “MENOS CHARLA MAS TRABAJO” (Comandante Alfonso). Aos funcionários Clara, Damaris, Euclides, Shirley e em especial o Sr. Orandi (Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal), Robson, Isildo, Sr. João, e Vicente (Setor de Avicultura), Sandra e Oswaldo (Fábrica de Ração) e a Tânia (Departamento de Tecnologia) pelo auxílio e amizade. Aos professores Isabel Boleli e Vera Maria Barbosa de Moraes (Exame Geral de Qualificação) pelas preciosas contribuições desta dissertação. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, pela concessão de bolsa e estudo durante 2004 e 2005 (Processo 04/05058-8). Aos meus amigos e colegas que não estão citados neste texto, mas contribuíram de alguma forma para eu chegasse a este momento. v SUMÁRIO Página CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS........................................................................... 1 CAPÍTULO 2 - EFEITO DA SUBSTITUIÇÃO DE MILHO POR SORGO SOBRE O DESEMPENHO, AS CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E O CUSTO DE ARRAÇOAMENTO EM FRANGOS DE CORTE...................................................................... 6 Resumo.................................................................................................................. 6 Introdução.............................................................................................................. 7 Material e Métodos................................................................................................ 8 Resultados............................................................................................................. 11 Discussão.............................................................................................................. 13 Conclusão.............................................................................................................. 15 CAPÍTULO 3 - CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA MUCOSA INTESTINAL DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM SORGO BAIXO TANINO............................... 16 Resumo.................................................................................................................. 16 Introdução.............................................................................................................. 17 Material e Métodos................................................................................................ 18 Resultados............................................................................................................. 22 Discussão.............................................................................................................. 32 Conclusão.............................................................................................................. 35 CAPÍTULO 4 - USO DA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA E MODELOS MATEMÁTICOS PARA PREDIZER O DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM DIETAS À BASE DE MILHO E SORGO.............................................. 36 Resumo.................................................................................................................. 36 Introdução.............................................................................................................. 37 Material e Métodos................................................................................................ 38 Resultados e Discussão........................................................................................ 40 Conclusão.............................................................................................................. 43 REFERÊNCIAS........................................................................................................................ 43 vi EFEITO DO SORGO SOBRE O DESEMPENHO ZOOTÉCNICO, CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E O DESENVOLVIMENTO DA MUCOSA INTESTINAL DE FRANGOS RESUMO - A variação nos preços dos principais ingredientes da alimentação avícola (milho e soja), fazem da utilização de ingredientes alternativos a resposta viável para a obtenção de resultados econômicos satisfatórios. O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) é tido como uns dos principais ingredientes energéticos substitutos ao milho, todavia, existe certa resistência na utilização de sorgo em rações pré-iniciais devido à possibilidade deste cereal afetar o desempenho dos pintainhos. Neste sentido, foram realizadas três pesquisas para analisar o desempenho, as características da carcaça e o desenvolvimento da mucosa intestinal de frangos alimentados com sorgo baixo tanino em substituição ao milho. Concluiu-se que: (1) o sorgo baixo teor em tanino pode substituir completamente o milho em dietas para frangos de corte a partir do primeiro dia de idade sem comprometimento do desempenho e o rendimento de carcaça e cortes comerciais; (2) A altura dos vilos e o número de células caliciformes do intestino não são afetados pelos níveis de substituição de milho por sorgo baixo tanino, no entanto, a profundidade de cripta do duodeno aumenta com a inclusão de sorgo nas rações; (3) a idade apresenta efeito significativo sobre o número de células caliciformes onde ocorre aumento na quantidade de células produtoras de mucina no período de 1 a 21 dias de idade. A altura dos vilos no duodeno atinge seu desenvolvimentomáximo aos 21 dias de idade. Palavras-chave: altura de vilo, células caliciformes, dieta pré-inicial, modelos matemáticos, profundidade de cripta vii SORGHUM EFFECT ON PERFORMANCE, CARCASS CHARACTERISTICS AND MUCOSAL DEVELOPMENT OF BROILERS SUMMARY – Prices variation of main grains of poultry production (corn and soybean), make the utilizations of alternative feeds an important way to obtain good economics results. Sorghum (Sorghum bicolor (L.) Moench) is the most common alternative for corn, therefore, there is a resistance to use sorghum in pre-starter diets due the possibility of this cereal affects the chicks performance. In these sense, three studies, were carried out to assess the performance, carcass characteristics and mucosal development in broilers fed with sorghum in place of corn. In conclusion: (1) sorghum with low tannin content can substitute completely corn in broilers diets since the first day of life without impair performance and carcass yield; (2) villus height and goblet cells numbers of small gut are not affected by levels of substitutions of corn by sorghum with low tannin content, however, crypt depth of duodenum increases with sorghum inclusion; (3) goblet cells are significative affected by age, with a the higher amount of these cells from 1 to 21 days of age. Villus heights on duodenum reach the maximum development at 21 days of age. Keywords: crypt depth, goblet cells, mathematical models, villus height, pre-starter diet 1 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS As grandes oscilações de preços dos ingredientes das rações conduzem a avicultura de corte à busca por substitutos dos tradicionais ingredientes utilizados para o arraçoamento, buscando assim minimizar custos de produção. No entanto, esta substituição pode ser limitada pela qualidade de determinados ingredientes alternativos, devido à presença de fatores antinutricionais ou a sua composição bromatológica. A nutrição da primeira semana de vida do pintainho de corte tem sido o foco de diversas pesquisas, pois representa cerca de 17% do período de vida da ave, além de ocorrer a maior taxa de crescimento do trato gastrintestinal (TGI) (GÔNZALEZ & SALDANHA, 2001; UNI & FERKET, 2004). Os períodos pré e pós-eclosão são críticos para o desenvolvimento e sobrevivência de frangos de corte. Durante esse período, os pintainhos sofrem uma transição metabólica e fisiológica em função da troca da alimentação dos nutrientes do saco vitelínico para um alimento exógeno, uma fonte de nutrientes baseada principalmente em lipídeos para uma dieta sólida, baseada em carboidratos e proteínas. Imediatamente após a eclosão, os pintainhos utilizam suas limitadas reservas corporais para conseguir um rápido desenvolvimento físico e funcional do trato gastrintestinal, a fim de desenvolver a capacidade de digerir alimentos e assimilar nutrientes (UNI & FERKET, 2004). Esta imaturidade do TGI na fase pré-inicial reduz a capacidade de utilização dos nutrientes, o que parece acarretar decréscimo dos valores de energia metabolizável (EM) do alimento (LONGO et al., 2005). O intestino delgado é o principal órgão responsável pela digestão e absorção de nutrientes, assim quanto antes os pintainhos alcançarem sua capacidade funcional, mais cedo poderão utilizar os nutrientes da dieta,, crescer eficientemente e demonstrar seu potencial genético, resistir a infecções e a doenças metabólicas (UNI & FERKET, 2004). O peso do intestino em comparação com o peso do embrião aumenta de 1% do décimo sétimo dia de incubação para 3,5% no dia da eclosão. Logo após a eclosão, o proventrículo, moela e intestino delgado crescem mais rapidamente do que outros 2 órgãos e tecidos. Nos pintainhos, maior tamanho relativo destes órgãos digestivos ocorre entre 3 e 7 dias de idade (UNI & FERKET, 2004). Na eclosão o TGI dos pintainhos está anatomicamente completo. No entanto, a superfície de absorção e taxa de proliferação dos enterócitos aumenta após a eclosão, sendo esse rápido desenvolvimento diferente ao longo do intestino delgado. No duodeno, o crescimento dos vilos está praticamente completo aos 7 dias de vida, enquanto que no jejuno e íleo o desenvolvimento continua além do 14° dia de vida (UNI, 1999). O desenvolvimento da mucosa intestinal envolve o aumento da altura e quantidade dos vilos, o que corresponde a um aumento em número de suas células epiteliais, enterócitos, células caliciformes e enteroendócrinas. Esse processo decorre primariamente de dois eventos citológicos associados: renovação e extrusão celular. A renovação consiste na proliferação e diferenciação resultante das divisões mitóticas sofridas por células totepotentes (“stem cells”) localizadas na cripta e ao longo dos vilos, e a extrusão é a perda de células, que ocorre normalmente no ápice dos vilos. O equilíbrio entre esses dois processos determina o “turnover” (síntese-migração-extrusão) constante na mucosa, o qual garante a manutenção do tamanho dos vilos e, portanto, a manutenção da capacidade digestiva e de absorção intestinal. Quando a mucosa intestinal responde a algum agente com um desequilíbrio no “turnover” a favor de um desses processos, ocorre modificação na altura dos vilos. A manutenção da mucosa intestinal, em condições fisiológicas normais, tem custo energético elevado para o frango, segundo MCBRIDE & KELLY (1990) a manutenção do epitélio intestinal e estruturas de suporte anexas corresponde a cerca de 20% da energia bruta consumida pelo animal, além da redução da quantidade de substrato digerido e absorvido, há ainda o custo da restauração do epitélio. A energia conservada pelo reduzido “turnover” de células no epitélio intestinal poderá ser utilizada para o desenvolvimento de massa muscular. Assim, o rendimento econômico do lote será seriamente comprometido quando o “turnover” intestinal for alterado (MAIORKA et al., 2002). As aves neste período pré-inicial possuem limitações na atividade enzimática e digestiva. Aparentemente são necessários três a quatro dias entre o nascimento e a 3 capacidade máxima enzimática para a digestão de carboidratos. A amilase pancreática, maltase e sacarase atingem a atividade específica máxima dentro deste período (MARCHAIN & KULKA, 1997). NOY & SKLAN (1995) trabalhando com pintainhos de corte com quatro dias de idade, demonstraram que a digestão do amido aumentou pouco do 4° para o 21° dia de vida das aves, passando de 82 para 89%, respectivamente. NITSAN et al. (1991) observaram que o valor máximo de amilase no pâncreas ocorre no 8° dia de vida, e no intestino delgado o valor máximo foi encontrado no 17°dia. A digestão de gordura também melhora com o aumento da idade, (SAKOMURA et al. 2004) concluíram que a digestibilidade da gordura aumentou com a idade e que tal variação foi associada com a atividade enzimática da lipase. NITSAN et al. (1991) encontraram valores máximos de lipase no pâncreas no 8° dia e no intestino delgado no 4° dia de vida das aves. Em peruzinhos a digestibilidade de sebo bovino e uma mistura de óleos vegetais passou de 66,4 e 83,7% na 2ª semana de vida para 90,8 e 96,5% na 8ª semana (SELL et al., 1986). NITSAN et al. (1991) confirmaram a presença de quimiotripsina e de tripsina no pâncreas de pintainhos na eclosão, contudo, a atuação de ambas as enzimas foram baixas até o 5° ou 6° dia de idade quando tiveram um aumento significativo, sendo o ápice da quimiotripsina no 10° dia de vida. No geral, a digestão protéica passa de 78 para 90% do 4° para o 21° dia de vida (NOY & SKLAN, 1995). Assim sendo, devido a características anatômicas e fisiológicas do TGI pertinente a esta primeira semana de vida, tais como: as necessidades nutricionais existentes e suas limitações em digerir e absorver determinados nutrientes, o rápido crescimento do animal, sua dificuldade de sobrevivênciaem ambientes frios e a alta correlação entre o peso vivo aos sete dias de vida com o peso de abate, fazem com que os ingredientes utilizados para a formulação de sua dieta sejam diferenciados. O valor nutricional dos alimentos depende basicamente de seu conteúdo em nutrientes, e da sua disponibilidade biológica. Depende ainda, da presença e dos níveis de substâncias tóxicas e/ou antinutricionais, as quais podem alterar essa composição ou tornar indisponíveis esses nutrientes (PEZZATO, 1995). O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) tem sido avaliado como substituto do milho nas rações para aves e suínos, 4 principalmente nas regiões semi-áridas e tropicais, onde sua cultura apresenta melhor rendimento por unidade de área (ROSTAGNO et al., 2000). No entanto, de acordo com a classificação apresentada por FARIA FILHO et al. (2005), que estudaram o perfil dos aminoácidos dos alimentos utilizados na avicultura em relação ao padrão de aminoácidos da proteína ideal, concluíram que a proteína do sorgo apresenta o pior perfil de aminoácidos dos cereais utilizados na avicultura. Segundo esta classificação, o sorgo só apresenta um perfil melhor de aminoácido que o glúten de milho. As simulações de rações elaboradas com a respectiva classificação criada pelos autores, demonstraram que a substituição do milho por sorgo baixo tanino afetou o balanço de aminoácidos da ração. Dispõe ainda, de nível muito baixo de pigmentos e nível inferior de extrato etéreo (SCHEUERMANN, 2003). O sorgo contém vários compostos fenólicos que podem afetar a cor, a aparência e qualidade nutricional. Esses compostos podem ser classificados em três grupos básicos: ácidos fenólicos, flavonóides e taninos. Os ácidos fenólicos são encontrados em todos os tipos de sorgo enquanto os flavonóides não o são. O fenol, conhecido como tanino, encontra-se concentrado na testa da semente, que é um tecido altamente pigmentado localizado logo abaixo do pericarpo. Os taninos são classificados em hidrolisáveis e condensados. Os taninos condensados ou proantocianidinas são polímeros de flavonóides, cujos monômeros (flavan-3-ol) são unidos carbono-carbono. Os taninos hidrolisáveis são ésteres de ácido gálico e de ácido hexahidroxidifênico e glicose, além de outros polióis (AGOSTNI-COSTA, 2003). O grau de toxidade do tanino depende do seu tipo, se hidrolisável ou condensado, das suas proporções na dieta, dos produtos finais da hidrólise no intestino e da espécie animal (QUINTERO PINTO, 2000). As proantocianidinas estão ligadas à coagulação e precipitação de enzimas e alguns minerais, formação de complexos com os carboidratos da dieta, inibição da atividade de algumas enzimas digestivas, como a tripsina e α-amilase. Quando ingeridos em certas quantidades, reduzem a taxa de crescimento, uma vez que diminui o aproveitamento energético e protéico da dieta levando a maior excreção de nitrogênio nas fezes como resultado da interação tanino-proteínas, formadas por múltiplas pontes de hidrogênio. Os taninos condensados também causam necroses e distorções nos vilos da mucosa 5 intestinal e aumento no número de células caliciformes (MITJAVILA et al., 1977; TREVINO, 1992; CHANG et al., 1994; ORTIZ et al., 1994; OLIVEIRA, 1998). Os ácidos fenólicos não têm efeito adverso na qualidade nutricional, porém podem causar cor indesejável aos alimentos, quando processados sob condições alcalinas. Os flavonóides, a exemplo dos ácidos fenólicos, também não causam problemas na digestibilidade e palatabilidade do sorgo. Constituem um amplo grupo de compostos fenólicos encontrados nas plantas, sendo que alguns deles estão entre os principais pigmentos presentes em vegetais (BUTULO, 2003). Alguns trabalhos relataram os efeitos negativos nas dietas que contêm níveis elevados de tanino sobre o ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar dos frangos de corte (CHANG & FULLER, 1964; ROSTAGNO et al., 1973; DOUGLAS & SULLIVAN, 1991; ORTIZ et al., 1994;). No entanto, em trabalhos no quais foram utilizados sorgo com baixo teor em tanino, não foram observados efeitos negativos nos índices de desempenho. Os autores SILVA (2003) e GARCIA et al. (2005) trabalhando com níveis de 0, 25, 50, 75 100% de substituição de milho por sorgo baixo teor em tanino, verificaram que os frangos apresentaram médias similares para consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar nas fases inicial e crescimento. DOUGLAS & SULLIVAN (1991) ao substituírem milho por sorgo baixo teor em tanino na fase inicial de frangos de corte não observaram efeito significativo para ganho de peso e conversão alimentar. Contudo, mesmo quando o sorgo possui níveis baixos de tanino existe uma resistência de se utilizar este cereal em dietas na fase pré-inicial de frangos de corte, devido à possibilidade de afetar o desenvolvimento da mucosa intestinal e a atividade enzimática do animal e assim afetar o desempenho zootécnico na primeira semana de vida. Assim, o objetivo do trabalho foi estudar o efeito da substituição do milho por sorgo baixo tanino sobre o desempenho, as características da carcaça, o desenvolvimento da mucosa intestinal e elaborar modelos de superfície de resposta para a predição do desempenho de frangos de corte alimentados com sorgo e/ou milho como ingredientes energéticos em rações de frangos de corte. 6 CAPÍTULO 2 – EFEITO DA SUBSTITUIÇÃO DE MILHO POR SORGO SOBRE O DESEMPENHO, AS CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E O CUSTO DE ARRAÇOAMENTO EM FRANGOS DE CORTE. RESUMO – O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a influência do sorgo baixo teor em tanino sobre o desempenho e o rendimento de carcaça e cortes comerciais nos frangos de corte de 1 – 42 dias de idade. Foram utilizados 750 pintainhos de um 1 dia de idade Cobb-500®, em um delineamento inteiramente casualizado. A dieta controle foi à base de milho e farelo de soja e outras quatro dietas com substituições de 25, 50, 75 e 100% do milho por sorgo baixo teor em tanino, com 6 repetições por tratamento totalizando 30 unidades experimentais. As rações experimentais foram isonutrientes dentro de cada fase de criação: inicial (1-21 dias de idade) e crescimento (22-42 dias de vida). O consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar não foram afetados (p>0,05) pelos níveis de inclusão de sorgo nos períodos 1 a 7, 1 a 14, 1 a 21 e 1 a 42 dias de vida das aves. A viabilidade criatória, o índice de eficiência produtiva e o rendimento de carcaça e cortes comerciais aos 42 dias de idade também não foram influenciados (p>0,05) pelos níveis crescentes de sorgo. Assim, o sorgo baixo teor em tanino pode substituir completamente o milho em dietas para frangos de corte a partir do primeiro dia de idade sem comprometimento do desempenho e o rendimento de carcaça e cortes comerciais. Palavras-Chave: sorgo, frangos de corte, desempenho, características de carcaça. 7 Introdução A nutrição do pintainho de corte em sua primeira semana de vida tem sido o foco de diversas pesquisas, devido a forte correlação entre o peso dos animais no sétimo dia de vida com o peso de abate. Esta fase representa cerca de 17% do período de vida da ave, além de ocorrer a maior taxa de crescimento relativo do trato gastrintestinal (UNI & FERKET, 2004; GONZÁLEZ & SALDANHA, 2001). Esse período é considerado uma transição entre a vida embrionária (dependente dos nutrientes do saco vitelínico) para a vida adulta, baseada em uma dieta sólida constituída basicamente por proteínas e carboidratos. Imediatamente após a eclosão, os pintainhos utilizam suas limitadas reservas corporais para conseguir um rápido desenvolvimento físico e funcional do trato gastrintestinal (TGI), a fim de desenvolver a capacidade de digerir alimentos e assimilar nutrientes (UNI & FERKET, 2004). As aves neste período possuem limitações na atividade enzimática e digestiva.Diversos autores demonstraram melhora significativa na digestibilidade de carboidratos, gorduras e proteínas com o aumento da idade (SELL et al., 1986; NITSAN et al., 1991; NOY & SKLAN, 1995; MARCHAIN & KULKA, 1997). A necessidade de minimizar custos de alimentação das aves mesmo que pequena resulta em grande impacto na avicultura devido ao seu volume de produção, por isso, o sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) tem sido avaliado como possível substituto do milho nas rações para aves e suínos para tal objetivo. De acordo com DOWLING et al. (2002) o sorgo se torna viável economicamente quando seu preço equivale a 95% do preço do milho. O sorgo contém vários compostos fenólicos que podem afetar a cor, a aparência e qualidade nutricional da dieta. Esses compostos podem ser classificados em três grupos básicos: ácidos fenólicos, flavonóides e taninos. No entanto, somente os taninos podem afetar a qualidade nutricional da dieta. Os taninos estão ligados à coagulação e precipitação de enzimas e alguns minerais. Eles podem formar complexos com os carboidratos da dieta e inibir a atividade de algumas enzimas digestivas, como a tripsina e α-amilase. Quando ingeridos em certas quantidades, causam redução no ganho de peso e uma pior conversão alimentar de 8 frangos de corte, uma vez que diminui o aproveitamento energético e protéico da dieta levando a maior excreção nitrogênio nas fezes como resultado da interação tanino- proteínas, formada por múltiplas pontes de hidrogênio (CHANG & FULLER, 1964; ROSTAGNO et al., 1973; DOUGLAS & SULLIVAN, 1991; TREVINO, 1992; CHANG et al., 1994; ORTIZ et al., 1994; OLIVEIRA, 1998). No entanto em trabalhos nos quais foram utilizados sorgos com baixos teores em tanino, não foram observados efeitos negativos nos índices de desempenho (DOUGLAS & SULLIVAN, 1991; POUR-REZA & EDRISS, 1997; DINIZ et al., 2002; SILVA, 2003 e GARCIA et al., 2005). Contudo, mesmo quando o sorgo possui níveis baixos de tanino, existe resistência de se utilizar este cereal em dietas na fase pré-inicial devido à possibilidade de afetar a digestibilidade dos nutrientes através das interações do tanino com a ração ou com as limitadas enzimas digestivas, além de atuar como possível fator de perturbação da mucosa intestinal principalmente na fase pré-inicial ou acarretar lotes não homogêneos. Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o custo do arraçoamento de dietas com sorgo baixo teor em tanino, o desempenho zootécnico e o rendimento de carcaça e cortes comerciais de frangos de corte alimentados com sorgo baixo teor em tanino em substituição ao milho. Material e Métodos O experimento foi conduzido no setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal-SP. Foram utilizadas duas câmaras climáticas com 16 unidades experimentais de 2,5 x 1,6m. Foram utilizados 750 frangos machos Cobb-500®, distribuídos em um delineamento com blocos casualizados. O objetivo dos blocos foi controlar diferenças de temperatura, umidade e gases nas diferentes câmaras. Na chegada dos pintainhos foi 9 realizada pesagem de uma amostra do lote para a determinação do peso médio e foram montadas unidades experimentais com animais pesando em média 42,48 ± 0,56g. Os tratamentos consistiram na administração ad-libitum de uma dieta controle a base de milho e farelo de soja e outras quatro dietas com substituições de 25, 50, 75 e 100% do milho por sorgo baixo teor em tanino, com 6 repetições por tratamento totalizando 30 unidades experimentais. As rações experimentais foram isonutrientes dentro de cada fase de criação: inicial (1-21 dias de idade) e crescimento (22-42 dias de vida). Foram formuladas seguindo a composição nutricional dos ingredientes e os níveis nutricionais proposto por ROSTAGNO et al. (2000) (Tabela1). O sorgo utilizado no presente experimento teve 4,52 mg de catequina por grama de amostra. O conteúdo total de tanino foi analisado pelo método da Vanilina – HCl, este método baseia-se na reação da leucoantocianidina (catequina) e proantocianidina (tanino condensado) com vanilina na presença de HCl, é um método específico para a determinação de tanino condensado e alguns flavonóides. Os animais foram vacinados contra doença de Marek e Bouba Aviária no incubatório. No 8° dia de idade as aves foram vacinadas (via ocular) contra as doenças de Newcastle e Gumboro e no 14° dia contra a doença de Gumboro na água de bebida. 10 Tabela 1 – Composição centesimal das rações experimentais do período inicial (1 - 21 dias de idade) e crescimento (22 - 42 dias de idade). * Suplementadas a fim de alcançar os níveis nutricionais de ROSTAGNO et al. (2000). 1 Níveis de garantia por quilograma do produto: selênio 54,6mg; ácido nicotínico 6930mg; cobre 25000mg; pantotenato de cálcio 1900mg; biotina 32mg; manganês 15252mg; DL-metionina (mínimo) 340g; iodo 260mg; coccidiostático 25000mg; antioxidante 100mg; colina 120mg; promotor de crescimento e eficiência alimentar 10000mg; vitamina A 1400000U.I.; vitamina B1 356mg; vitamina B12 2000mcg; vitamina B2 1920mg; vitamina B6 693mg; vitamina D3 600000U.I.; vitamina E 5000mg; vitamina K 196mg; zinco 18250mg. 2 Níveis de garantia por quilograma do produto: selênio 54,6mg; ácido nicotínico 6930mg; cobre 25000mg; pantotenato de cálcio 1900mg; biotina 32mg; manganês 15252mg; DL-metionina (mínimo) 270g; iodo 260mg; coccidiostático 22000mg; antioxidante 100mg; colina 120mg; promotor de crescimento e eficiência alimentar 10000mg; vitamina A 1400000U.I.; vitamina B1 356mg; vitamina B12 2000mcg; vitamina B2 1920mg; vitamina B6 693mg; vitamina D3 600000U.I.; vitamina E 5000mg; vitamina K 196,5mg; zinco 18250mg. As aves e as sobras de ração nos comedouros foram pesadas, permitindo determinar o consumo de ração (CR), o ganho de peso (GP) e a conversão alimentar (CA) no 7°, 14°, 21° e 42° dia de vida das aves. A viabilidade criatória (VC) foi calculada pela seguinte formula: VC = 100 – {(NAM / NAI) x 100} onde, NAM é o número de aves mortas por unidade experimental e NAI é o número de aves inicial por unidade experimental ao final de 42 dias de vida. O índice de eficiência produtiva (IEP) foi calculado pela seguinte formula: IEP = (GMD x VC) / (CA x10) onde, GMD é o ganho médio diário (g). INICIAL CRESCIMENTO Ingredientes % 0% 25% 50% 75% 100% 0% 25% 50% 75% 100% Milho 54,89 41,17 27,45 13,72 - 60,33 45,25 30,17 15,08 - Sorgo baixo tanino - 13,72 27,45 41,17 54,89 - 15,08 30,17 45,25 60,33 Farelo de Soja, 45 36,31 36,22 36,12 36,03 35,94 30,61 30,51 30,40 30,30 30,20 Óleo de soja 3,72 4,02 4,32 4,63 4,93 4,24 4,57 4,90 5,24 5,57 Fosfato bicálcico 1,82 1,82 1,81 1,80 1,80 1,62 1,61 1,61 1,60 1,59 Calcário Calcítico 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 Sal Comum 0,46 0,46 0,46 0,46 0,47 0,39 0,39 0,39 0,40 0,40 DL-metionina* 0,06 0,07 0,08 0,08 0,09 0,08 0,09 0,09 0,10 0,11 L-lisina* 0,15 0,16 0,17 0,17 0,18 0,20 0,21 0,22 0,23 0,24 Suplemento mineral e vitamínico 0,50 1 0,50 0,50 0,50 0,50 0,502 0,50 0,50 0,50 0,50 Caulim 1,10 0,88 0,65 0,43 0,21 1,10 0,85 0,60 0,36 0,12 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Energia e Nutrientes Composição Calculada Energia Metabolizável(Kcal) 3000 3000 3000 3000 3000 3100 3100 3100 3100 3100 Proteína bruta (%) 21,40 21,40 21,40 21,40 21,40 19,31 19,31 19,31 19,31 19,31 Cálcio (%) 0,96 0,96 0,96 0,96 0,96 0,87 0,87 0,87 0,87 0,87 Fósforo Disponível (%) 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41 Sódio (%) 0,22 0,22 0,22 0,22 0,22 0,19 0,19 0,19 0,19 0,19 Lisina (%) 1,26 1,26 1,26 1,26 1,26 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 Metionina (%) 0,56 0,56 0,56 0,56 0,56 0,51 0,51 0,51 0,51 0,51 Aminoácidos sulfurados (%) 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,82 0,82 0,82 0,82 0,82 11 Aos 42 dias foram sacrificadas duas aves por unidade experimental para avaliaçãodo rendimento de carcaça inteira, peito, coxa+sobrecoxa, pés, asas, dorso, cabeça mais pescoço e gordura abdominal, todos os valores percentuais foram expressos em relação ao peso vivo. O modelo matemático utilizado para VC, IEP, RC e cortes comercias foi: yij = µ + ti + bj + eij. Onde yij = é o valor observado na parcela que recebeu tratamento i no bloco j, µ é o efeito da média, ti é o efeito do tratamento i, bj é o efeito do bloco j e eij é o erro experimental na parcela que recebeu o tratamento i no bloco j. Os dados foram verificados quanto à presença de “outliers” e testou-se as pressuposições de normalidade dos erros studentizados e de homogeneidade das variâncias. Após constada a não violação dessas pressuposições, os dados foram submetidos à análise de variância através do procedimento GLM do programa SAS® (SAS Institute, 2002) e em caso de diferença significativa (5%) as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (5%). Resultados Os valores médios obtidos para o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar nos períodos de 1 a 7, 1 a 14, 1 a 21 e 1 a 42 dias de idade encontram-se na Tabela 2. Os níveis de inclusão de sorgo baixo teor em tanino não afetaram de maneira significativa os valores médios para consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar nos períodos de 1 a 7, 1 a 14, 1 a 21 e 1 a 42 dias de idade. 12 Tabela – 2. Médias e resultados da análise de variância para consumo de ração (CR), ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA) das aves nos períodos de 1 – 7, 1 – 14, 1 – 21 e 1 a 42 dias de idade. Sorgo% Probabilidades Período (dias) Variáveis 0 25 50 75 100 Sorgo % Bloco CV(%) CR (g) 151,39 148,76 149,06 152,30 148,75 0,7580 0,1775 3,67 GP (g) 125,08 122,27 123,46 125,52 123,35 0,6813 0,7778 3,35 1 a 7 CA 1,21 1,19 1,21 1,20 1,20 0,9119 0,1649 3,40 CR (g) 546,19 537,89 562,30 531,25 540,84 0,8435 0,4002 8,45 GP (g) 406,67 409,23 407,01 403,02 399,78 0,7556 0,0378 3,25 1 a 14 CA 1,34 1,32 1,38 1,32 1,36 0,8695 0,0885 10,09 CR (g) 1191,96 1174,69 1208,21 1177,09 1176,04 0,8103 0,5742 4,20 GP (g) 853,75 863,74 865,87 877,53 855,03 0,5116 0,0005 2,79 1 a 21 CA 1,40 1,36 1,39 1,31 1,38 0,4271 0,0651 6,05 CR (g) 4326,08 4303,12 4379,21 4380,33 4242,11 0,1825 0,6372 2,45 GP (g) 2601,24 2614,70 2667,74 2684,73 2630,35 0,2790 0,0177 2,77 1 a 42 CA 1,66 1,65 1,64 1,63 1,61 0,3162 0,0221 2,39 Os valores encontrados para viabilidade criatória (VC), índice de eficiência produtiva (IEP), rendimento de carcaça e cortes comerciais não foram afetados de maneira significativa pelas dietas experimentais, os resultados estão nas Tabelas 3 e 4. Tabela 3 – Médias e resultados da análise de variância para a Viabilidade Criatória (VC) e Índice de Eficiência Produtiva (IEP) do lote experimental. Sorgo % VC% IEP 0 99 370 25 98 370 50 95 363 75 95 373 100 98 381 Probabilidade Sorgo % 0,0802 0,5012 Bloco 0,1758 0,1062 CV(%) 3,24 4,68 13 Tabela 4 – Médias e resultados da análise de variância para rendimento de carcaça (RC), coxa mais sobre-coxa (Coxa+Sob %), peito, asa, dorso, pés, gordura abdominal (Go Ab %) e cabeça mais pescoço (Cab + Pés %) das aves no período experimental (1 – 42 dias de idade). Todos os valores percentuais foram expressos em relação ao peso vivo da ave no abate. Sorgo% RC % Coxa+Sob % Peito % Asa % Dorso % Pés % Go Ab % Cab+Pés % 0 80,92 22,82 26,30 7,92 11,87 3,79 1,49 8,21 25 81,63 22,91 27,47 8,13 11,22 3,82 1,31 8,08 50 79,18 21,88 25,69 7,87 11,44 3,94 1,49 8,36 75 80,77 22,18 26,43 7,75 11,37 3,64 1,43 8,02 100 80,08 22,96 26,25 7,96 11,38 3,94 1,32 8,50 Probabilidades Sorgo% 0,2797 0,1676 0,2750 0,2666 0,6075 0,2212 0,7211 0,1522 Bloco 0,0362 0,2130 0,6926 0,3453 0,5042 0,6507 0,8616 0,3430 CV(%) 2,43 3,90 5,14 3,71 6,34 6,27 20,85 4,38 Discussão O sorgo é um cereal de grande importância, se encontra em quinto lugar no “ranking” de produção mundial, está atrás somente do trigo, do milho, do arroz e da cevada. O Brasil é atualmente o oitavo país na produção e consumo mundial de sorgo, com uma produção que passou de 781.400 toneladas na safra 1999/2000 para 2.014.100 toneladas na safra 2003/2004, sendo o Centro Oeste a principal região de produção com 1.255.500 toneladas (AGRIANUAL, 2004). Segundo DOWLING et al. (2002) a proteína proveniente dos cereais em rações de aves contribui com mais de 1/3 da proteína da dieta. FARIA FILHO et al. (2005) classificaram os alimentos comumente utilizados na avicultura em relação ao perfil de aminoácidos tomando como referência o perfil de aminoácidos da proteína ideal. O sorgo baixo teor em tanino apresentou o pior perfil de aminoácidos dentre os cereais estudados (milho, trigo, linhaça, cevada, aveia, triticale e arroz) e simulações realizadas pelos autores demonstraram uma melhora no perfil de aminoácidos das dietas quando utilizados ingredientes melhores classificados com relação ao balanço de aminoácidos. Apesar do sorgo baixo teor em tanino afetar o perfil de aminoácidos da dieta, nossos resultados mostraram que a completa substituição de milho por sorgo baixo teor em tanino manteve os mesmos parâmetros consumo de ração, ganho de peso, 14 conversão alimentar, rendimento de carcaça e cortes comerciais dentro dos valores apresentados por aves alimentadas com ração à base de milho e soja. Estes achados positivos corroboram com outros autores que não observaram diferença significativa no desempenho de aves alimentadas com sorgo baixo teor em tanino. DOUGLAS & SULLIVAN (1991), ao substituírem milho por sorgo baixo teor em tanino na fase inicial (1-21 dias) não observaram diferença estatística para ganho de peso e conversão alimentar. POUR-REZA & EDRISS (1997) relataram que a substituição de milho por sorgo baixo teor em tanino não afetou o desempenho das aves, contudo o autor trabalhou a partir do 7° até o 49° dia de vida, não fornecendo sorgo na primeira semana. DINIZ et al. (2002) trabalharam com a fase pré-inicial (tempo que a parcela experimental levou para consumir 300 g/ave) até os 49 dias de idade, com uma substituição de 50 e 100% do milho por sorgo baixo teor em tanino observaram que os níveis de inclusão não afetaram a conversão alimentar aos 49 dias de idade. SILVA (2003) não verificou diferença significativa no consumo de ração e conversão alimentar aos 21 e 42 dias de idade quando o milho foi substituído por 25, 50, 75 e 100% de sorgo baixo teor em tanino, resultados semelhantes foram encontrados por GARCIA et al. (2005) que não encontraram diferença significativa ao trabalhar com sorgo baixo teor em tanino nos níveis 0, 25, 50, 75 e 100% em substituição ao milho para as variáveis consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar aos 21, 35 e 42 dias de idade. Com relação ao rendimento de carcaça e cortes comerciais resultados semelhantes foram encontrados por GARCIA et al. (2005) que não encontraram diferença estatística para os valores de carcaça inteira, perna, asas, peito e dorso. DINIZ et al. (2002) trabalharam com lote misto. Os machos não foram afetados pela substituição do milho por sorgo para as porcentagens de peito, asa e dorso. No entanto, os rendimentos de carcaça inteira e coxa + sobre-coxa foram maiores para os tratamentos contendo 50 e 100% de sorgo baixo tanino em substituição ao milho. Nas fêmeas as médias observadas não diferiram para carcaça inteira, peito e dorso, porém a porcentagem de asa apresentou uma média superior para a dieta à base de sorgo e soja. 15 Estes resultados de desempenho e características de carcaça se devem provavelmente à suplementação de aminoácidos sintéticos 100% digestíveis como a DL-metionina e L-lisina. No presente estudo, as diferenças na suplementação destes aminoácidos chegaram a 50% para DL-metionina e 20% de L-lisina para a fase inicial e 37,5% de DL-metionina e 20% de L-lisina paraa fase de crescimento entre as dietas 0 e 100% de sorgo baixo teor em tanino. A dieta 100% de sorgo forneceu as seguintes quantidades de aminoácidos digestíveis 1,06% de lisina, 0,51% de metionina e 0,75% de metionina+cistina, e a dieta controle forneceu 1,05% de lisina, 0,49% de metionina e 0,82% de metionina+cistina. A viabilidade criatória, índice que avalia o número de aves alojadas e o número de aves retiradas para o abate, esta relacionada à genética da ave, ao manejo utilizado, às condições sanitárias e ambientais e também as condições nutricionais fornecidas ao lote. No presente experimento a viabilidade criatória não sofreu efeito significativo para os níveis de inclusão de sorgo baixo teor em tanino, indicando que este cereal não afetou o desenvolvimento das aves nas condições em que foram criadas. GARCIA et al. (2005) não observaram diferença significativa para mortalidade quando trabalhou com sorgo baixo teor em tanino. O índice de eficiência produtiva, variável que pondera o ganho de peso diário, conversão alimentar e a viabilidade criatória também não apresentou diferença significativa, indicando os bons resultados de desempenho encontrados nos tratamentos experimentais. Conclusão O sorgo baixo teor em tanino pode substituir completamente o milho em dietas para frangos de corte a partir do primeiro dia de idade sem comprometimento do desempenho e o rendimento de carcaça e cortes comerciais. 16 CAPÍTULO 3 – CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA MUCOSA INTESTINAL DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM SORGO BAIXO TANINO. RESUMO – O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a influência do sorgo baixo teor em tanino sobre a altura dos vilos, profundidade das criptas e número de células caliciformes no epitélio intestinal de frangos de corte de 1 – 42 dias de idade. Foram utilizados 750 pintainhos de um dia de idade Cobb-500®, em um delineamento em blocos casualizados. A dieta controle foi a base de milho e farelo de soja e outras quatro dietas com substituições de 25, 50, 75 e 100% do milho por sorgo baixo teor em tanino, com 6 repetições por tratamento totalizando 30 unidades experimentais. As rações experimentais foram isonutrientes dentro de cada fase de criação: inicial (1-21 dias de idade) e crescimento (22-42 dias de vida). Ajustou-se o modelo de superfície de resposta para as variáveis analisadas, considerando os efeitos lineares e quadráticos da porcentagem do sorgo e idade bem como a interação entre eles. Os parâmetros foram estimados pelo método dos quadrados mínimos. A altura dos vilos nos diferentes segmentos intestinais não foi afetada pelos níveis crescentes de sorgo. A altura dos vilos no duodeno apresentou um crescimento contínuo durante a fase de inicial de criação. A profundidade das criptas do duodeno foram maiores para os tratamentos com maiores níveis de sorgo na fase final de criação. O número de células caliciformes não foi influenciado pelas dietas experimentais. O fator idade apresentou efeito significativo sobre o número de células caliciformes onde ocorreu aumento na quantidade de células produtoras de mucina no período de 1 a 21 dias de idade. Palavras-Chave: sorgo, frangos de corte, células caliciformes, vilos e criptas intestinais. 17 Introdução Oscilações nos preços dos alimentos comumente utilizados nas rações de animais de produção levam os nutricionistas a utilizarem ingredientes alternativos para que possam alcançar resultados de desempenho e econômicos satisfatórios, contudo existem limitações que vão desde fatores antinutricionais à composição nutricional do alimento. O estudo do desenvolvimento da mucosa intestinal de frangos de corte tem sido o foco de diversas pesquisas devido a sua crucial importância no processo de digestão e absorção dos alimentos. Após o nascimento, os pintainhos dependentes dos nutrientes do saco vitelínico passam a utilizar os nutrientes provenientes da ração, passando de uma fonte de nutrientes baseada em gorduras para uma fonte baseada principalmente em carboidratos e proteínas. Assim, os pintainhos utilizam suas limitadas reservas corporais (saco vitelínico) para conseguir um rápido desenvolvimento físico e funcional do trato gastrintestinal, a fim de desenvolver a capacidade de digerir alimentos e assimilar nutrientes (UNI & FERKET, 2004). De acordo com MAIORKA et al. (2002) o desenvolvimento da mucosa intestinal envolve o crescimento dos vilos, o que corresponde a um aumento em número de células epiteliais (enterócitos, células caliciformes e enteroendócrinas). As células caliciformes, responsáveis pela produção de uma camada de muco composta principalmente por glicoproteínas que são conhecidas como mucinas, que contêm uma longa porção polissacarídica tornando-as hidrofílicas e viscosas, as funções das mucinas são: de proteger a membrana em escova contra agressões químicas e efeitos abrasivos da digesta, atuar como barreira contra microrganismos, pois integrada ao muco encontra-se a flora intestinal natural e imunoglobulinas e influenciar o transporte entre o conteúdo luminal e a membrana em escova (BOLELI, et al., 2002; UNI et al., 2003). A hiperplasia e/ou hipertrofia das células caliciformes no intestino delgado é visto como resposta a algum tipo de agressão visando manter a integridade da mucosa. Diversos trabalhos (MITJAVILA et al., 1977; ORTIZ et al., 1994; 18 OLIVEIRA et al., 2000 e UNI et al., 2003) relataram este efeito por diferentes razões, tais como os fatores antinutricionais dos alimentos ou o atraso no fornecimento de alimento após eclosão. O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) é tido como um dos principais substitutos ao milho em rações de aves e suínos. Este cereal contém vários compostos fenólicos que podem afetar a cor, a aparência e qualidade nutricional. Esses compostos podem ser classificados em três grupos básicos: ácidos fenólicos e flavonóides (inócuos aos animais) e o composto fenólico antinutricional conhecido como tanino. As proantocianidinas ou tanino estão ligados à coagulação e precipitação de enzimas e alguns minerais, formação de complexos com os carboidratos da dieta, inibição da atividade de algumas enzimas digestivas, como a tripsina e α-amilase. Quando ingeridos em certas quantidades, reduzem a taxa de crescimento do animal, uma vez que diminui o aproveitamento energético e protéico da dieta levando a maior excreção de nitrogênio nas fezes como resultado da interação tanino-proteínas, formadas por múltiplas pontes de hidrogênio. Os taninos condensados também causam necroses e distorções nos vilos da mucosa intestinal e aumento no número de células caliciformes (MITJAVILA et al., 1977; TREVINO, 1992; CHANG et al., 1994; ORTIZ et al., 1994; OLIVEIRA, 1998). De acordo com JIMENEZ et al. (1994), os taninos condensados não são absorvidos pela mucosa intestinal de frangos, mas os demais compostos fenólicos são absorvidos e distribuídos em vários tecidos do organismo. Os cultivares de sorgo que são vendidos atualmente no Brasil possuem pequena quantidade de tanino condensado nos grãos. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento da mucosa intestinal de frangos de corte alimentados com níveis crescentes de sorgo baixo teor em tanino em substituição ao milho. Material e Métodos O experimento foi conduzido no setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal-SP. 19 Foram utilizadas duas câmaras climáticas com 16 unidades experimentais com 2,5 x 1,6m. Foram utilizados 750 frangos machos Cobb-500®, distribuídos em um delineamento com blocos casualizados. O objetivo dos blocos foi controlar diferenças de temperatura, umidade e gases nas diferentes câmaras. Na chegada dos pintainhos foi realizada uma pesagem de uma amostra do lote para a determinaçãodo peso médio e foram montadas unidades experimentais com animais pesando em média 42,48 ± 0,56g. Os tratamentos consistiram na administração ad-libitum de uma dieta controle a base de milho e farelo de soja e outras quatro dietas com substituições de 25, 50, 75 e 100% do milho por sorgo baixo teor em tanino, com 6 repetições por tratamento totalizando 30 unidades experimentais. As rações experimentais foram isonutrientes dentro de cada fase de criação: inicial (1-21 dias de idade) e crescimento (22-42 dias de vida). Foram formuladas seguindo a composição nutricional dos ingredientes e os níveis nutricionais de acordo com ROSTAGNO et al. (2000) (Tabela1). O sorgo utilizado no presente experimento teve 4,52 mg de catequina por grama de amostra. O conteúdo total de tanino foi analisado pelo método da Vanilina – HCl, este método baseia-se na reação da leucoantocianidina (catequina) e proantocianidina (tanino condensado) com vanilina na presença de HCl, é um método específico para a determinação de tanino condensado e alguns flavonóides. Os animais foram vacinados contra doença de Marek e Bouba Aviária no incubatório. No 8° dia de idade as aves foram vacinadas (via ocular) contra as doenças de Newcastle e Gumboro e no 14° dia contra a doença de Gumboro na água de bebida. 20 Tabela 1 – Composição centesimal das rações experimentais do período inicial (1 - 21 dias de idade) e crescimento (22 - 42 dias de idade). * Suplementadas a fim de alcançar os níveis nutricionais de ROSTAGNO et al. (2000). 1 Níveis de garantia por quilograma do produto: selênio 54,6mg; ácido nicotínico 6930mg; cobre 25000mg; pantotenato de cálcio 1900mg; biotina 32mg; manganês 15252mg; DL-metionina (mínimo) 340g; iodo 260mg; coccidiostático 25000mg; antioxidante 100mg; colina 120mg; promotor de crescimento e eficiência alimentar 10000mg; vitamina A 1400000U.I.; vitamina B1 356mg; vitamina B12 2000mcg; vitamina B2 1920mg; vitamina B6 693mg; vitamina D3 600000U.I.; vitamina E 5000mg; vitamina K 196mg; zinco 18250mg. 2 Níveis de garantia por quilograma do produto: selênio 54,6mg; ácido nicotínico 6930mg; cobre 25000mg; pantotenato de cálcio 1900mg; biotina 32mg; manganês 15252mg; DL-metionina (mínimo) 270g; iodo 260mg; coccidiostático 22000mg; antioxidante 100mg; colina 120mg; promotor de crescimento e eficiência alimentar 10000mg; vitamina A 1400000U.I.; vitamina B1 356mg; vitamina B12 2000mcg; vitamina B2 1920mg; vitamina B6 693mg; vitamina D3 600000U.I.; vitamina E 5000mg; vitamina K 196,5mg; zinco 18250mg. No 2°, 8°, 14°, 21° e 41° dia de vida, uma ave por repetição foi sacrificada por deslocamento cervical e coletadas duas partes de cada região do intestino delgado (duodeno: a partir do piloro até a porção distal da alça duodenal; jejuno: a partir da porção distal da alça duodenal até o divertículo de Meckel e íleo: entre o divertículo de Meckel e a abertura dos cecos). Após a coleta, um dos segmentos foi fixado em Bouin por 24 horas para a determinação de mucina neutra, e o outro em Paraformaldeído por 48 horas para a determinação de mucina ácida, altura de vilo e profundidade de cripta. Após a fixação ambos os segmentos foram desidratados, em uma série de concentração crescente de etanol (50, 60, 70, 80, 90 e 100%), diafanizados (xilol I e xilol II), infiltrados e incluídos em parafina e finalmente cortados. INICIAL CRESCIMENTO Ingredientes % 0% 25% 50% 75% 100% 0% 25% 50% 75% 100% Milho 54,89 41,17 27,45 13,72 - 60,33 45,25 30,17 15,08 - Sorgo baixo tanino - 13,72 27,45 41,17 54,89 - 15,08 30,17 45,25 60,33 Farelo de Soja, 45 36,31 36,22 36,12 36,03 35,94 30,61 30,51 30,40 30,30 30,20 Óleo de soja 3,72 4,02 4,32 4,63 4,93 4,24 4,57 4,90 5,24 5,57 Fosfato bicálcico 1,82 1,82 1,81 1,80 1,80 1,62 1,61 1,61 1,60 1,59 Calcário Calcítico 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 Sal Comum 0,46 0,46 0,46 0,46 0,47 0,39 0,39 0,39 0,40 0,40 DL-metionina* 0,06 0,07 0,08 0,08 0,09 0,08 0,09 0,09 0,10 0,11 L-lisina* 0,15 0,16 0,17 0,17 0,18 0,20 0,21 0,22 0,23 0,24 Suplemento mineral e vitamínico 0,50 1 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 2 0,50 0,50 0,50 0,50 Caulim 1,10 0,88 0,65 0,43 0,21 1,10 0,85 0,60 0,36 0,12 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Energia e Nutrientes Composição Calculada Energia Metabolizável(Kcal) 3000 3000 3000 3000 3000 3100 3100 3100 3100 3100 Proteína bruta (%) 21,40 21,40 21,40 21,40 21,40 19,31 19,31 19,31 19,31 19,31 Cálcio (%) 0,96 0,96 0,96 0,96 0,96 0,87 0,87 0,87 0,87 0,87 Fósforo Disponível (%) 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,41 0,41 0,41 0,41 0,41 Sódio (%) 0,22 0,22 0,22 0,22 0,22 0,19 0,19 0,19 0,19 0,19 Lisina (%) 1,26 1,26 1,26 1,26 1,26 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 Metionina (%) 0,56 0,56 0,56 0,56 0,56 0,51 0,51 0,51 0,51 0,51 Aminoácidos sulfurados (%) 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,82 0,82 0,82 0,82 0,82 21 Para a determinação das mucinas neutras (PAS+), cortes semi-seriados com 6 µm de espessura, em um total de cinco cortes por ave, foram desparafinizadas (Xilol I e II), hidratadas (álcool absoluto I e II), coradas com ácido periódico 5% (cinco minutos), um rápido banho de água destilada, seguido de um banho de água destilada à 50ºC, incubação com reativo de Schiff por quinze minutos (acompanhando a coloração do tecido), um banho de água sulfurosa (10mL de metabissulfito de sódio, mais 10 mL ácido clorídrico 1N com 200 mL de água destilada), um banho com água corrente seguido de um banho de água destilada. Após esta bateria de coloração as lâminas foram desidratadas, diafanizadas e finalmente montadas. Para determinação de mucinas ácidas (AB+), altura de vilo e profundidade de cripta, cortes semi-seriados com 5 µm de espessura, em um total de cinco cortes por ave, foram desparafinizadas, re-hidratadas e incubadas em uma solução de 3% ácido acético por três minutos, seguidas de uma incubação de dez minutos em uma solução de Alcian Blue (AB 1% em 3% de ácido acético com pH 2,5). Sendo lavadas com água destilada e um rápido banho de eosina. Após sofrerem novo banho com água destilada, as lâminas foram desidratadas, diafanizadas e montadas. O número de células caliciformes foi contado ao longo de um segmento de epitélio do vilo equivalente a 200 µm, em um total de oito vilos por ave (nº células caliciformes / 200 µm de epitélio do vilo), através de microscopia de luz. As imagens das lâminas AB+ foram digitalizadas e mensuradas a altura dos vilos (µm) e a profundidade das criptas (µm) para cada segmento do intestino delgado através do programa Image J®, onde cada repetição teve um mínimo de 30 medidas de altura de vilo e profundidade de cripta. Ajustou-se o modelo de superfície de resposta para as variáveis analisadas, considerando os efeitos lineares e quadráticos de porcentagem de substituição de milho por sorgo baixo tanino (sorgo%) e idade bem como a interação entre eles. Os parâmetros foram estimados pelo método dos quadrados mínimos. Os dados foram verificados quanto à presença de “outliers” e testou-se as pressuposições de normalidade dos erros studentizados e de homogeneidade de variância. As análises foram realizadas pelo general linear models do programa Statistica® 6.0. 22 Resultados As estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para altura do vilo e profundidade da cripta do duodeno encontram-se na Tabela 2. Tabela -2. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para altura de vilo e profundidade de cripta do duodeno de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Altura de Vilo Profundidade de Cripta Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 41,34365 9,902924 0,000055 14,42098 2,122309 0,000000 Sorgo% (S) 0,86555 0,482311 0,075137 -0,20278 0,103365 0,052013 (S)2* -0,00951 0,007750 0,222194 0,00222 0,001661 0,184100 Idade (ID) 8,71014 0,835892 0,000000 0,86328 0,179141 0,000004 (ID)2* -0,11095 0,0169430,000000 -0,01035 0,003631 0,005116 (S) X (ID) -0,01036 0,008794 0,240855 0,00847 0,001885 0,000016 r2** 0,75 0,72 N*** 131 131 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. Os termos lineares e quadráticos do polinômio para o fator idade foram significativos para a altura de vilo. Os vilos apresentaram um crescimento contínuo durante toda fase inicial de criação (1 a 21 dias de idade). Após este período, os vilos pouco cresceram e se estabilizaram por volta de 200µm de altura. Para profundidade de cripta o polinômio apresentou os termos lineares, quadráticos para idade significativos e também apresentou a interação significativa entre sorgo% e idade. As criptas foram mais profundas para os tratamentos que receberam níveis mais elevados de sorgo baixo tanino na fase final de criação, chegando a apresentar quase duas vezes a profundidade de cripta apresentada pelas aves alimentadas somente com milho e soja (55µm contra 30µm, respectivamente). O desdobramento desta interação e os demais resultados estão ilustrados na Figura 1. 23 ALTURA VILO - DUODENO PROFUNDIDE CRIPTA - DUODENO Figura – 1. Resultados da superfície de resposta ilustrando a altura de vilo e profundidade de cripta duodenal de frangos de corte, alimentados com níveis crescentes de sorgo. As estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para altura de vilo e profundidade de cripta do jejuno encontram-se na Tabela 3. 24 Tabela -3. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para altura de vilo e profundidade de cripta do jejuno de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Altura de Vilo Profundidade de Cripta Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 35,36205 6,952254 0,000001 5,620623 1,743696 0,001619 Sorgo% (S) -0,18261 0,362608 0,615426 -0044692 0,090946 0,624002 (S)2* 0,00517 0,006428 0,422967 0,001440 0,001612 0,373584 Idade (ID) 7,91334 0,634315 0,000000 1,729393 0,159093 0,000000 (ID)2* -0,12117 0,013466 0,000000 -0,022561 0,003377 0,000000 (S) X (ID) -0,00924 0,008220 0,263063 -0,001450 0,002062 0,483170 r2** 0,70 0,73 N*** 130 130 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. Os termos lineares e quadráticos do fator idade foram significativos para altura de vilo e profundidade de cripta no jejuno. Os vilos do jejuno apresentaram um crescimento contínuo durante a fase inicial de criação (1 a 21 dias de idade), após este período a altura dos vilos pouco variou, se estabilizando por volta de 140µm. As profundidades das criptas do jejuno alcançaram um platô (35µm) por volta do 30º dia de vida das aves. A Figura 2 demonstra o comportamento da mucosa do jejuno das aves experimentais. A Tabela 4 apresenta as estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para altura de vilo e profundidade de cripta do íleo. Tabela -4. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para altura de vilo e profundidade de cripta do íleo de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Altura de Vilo Profundidade de Cripta Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 17,15969 5,860988 0,003973 6,303544 1,520553 0,000058 Sorgo% (S) 0,39373 0,286597 0,171652 0,025320 0,074361 0,733989 (S)2* -0,00448 0,004612 0,333138 -0,000563 0,001199 0,639120 Idade (ID) 5,81098 0,487012 0,000000 1,059977 0,126698 0,000000 (ID)2* -0,07887 0,009776 0,000000 -0,015962 0,002547 0,000000 (S) X (ID) -0,00571 0,005318 0,284646 0,001176 0,001386 0,397793 r2** 0,73 0,58 N*** 149 147 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. A altura de vilo e a profundidade de cripta do íleo apresentaram os termos lineares e quadráticos da idade significativos. O período de crescimento dos vilos do íleo apresentou um comportamento semelhante aos demais segmentos intestinais, onde durante a fase inicial de criação (1 a 21 dias de idade) apresentou um crescimento 25 contínuo, após este período o crescimento pouco variou e se estabilizou por volta de 120µm. As profundidades das criptas do íleo apresentaram um crescimento contínuo durante a fase inicial de criação, após o 21º dia de vida a profundidade pouco variou estabilizando-se por volta de 25µm. O comportamento da mucosa do íleo das aves alimentadas com níveis crescentes de sorgo encontra-se na Figura 3. ALTURA VILO - JEJUNO PROFUNDIDADE CRIPTA - JEJUNO Figura – 2. Resultados da Superfície de resposta ilustrando o a altura dos vilos e a profundidade de criptas da mucosa do jejuno de frangos de corte, alimentados com níveis crescentes de sorgo. 26 ALTURA VILO - ÍLEO PROFUNDIDADE CRIPTA - ÍLEO Figura – 3. Resultados da superfície de resposta ilustrando a altura dos vilos e a profundidade das criptas da mucosa do íleo de frangos de corte, alimentados com níveis crescentes de sorgo. A Tabela 5 apresenta as estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200 µm de epitélio duodenal. Os termos lineares e quadráticos do fator idade apresentaram efeito significativo para o número de células que produzem mucina neutra e ácida. Houve um aumento no número de ambas as células durante a fase inicial de criação, seguido de um 27 decréscimo no número de células depois deste período. Estes resultados estão ilustrados na Figura 4. Tabela -5. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200 µm de epitélio duodenal de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Células PAS+ Células AB+ Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 11,47492 0,722849 0,000000 7,176561 0,487889 0,000000 Sorgo% (S) 0,01393 0,033175 0,675304 -0,002573 0,026122 0,921695 (S)2* -0,00006 0,000537 0,911209 0,000116 0,000437 0,791825 Idade (ID) 0,31977 0,058861 0,000000 0,489407 0,043771 0,000000 (ID)2* -0,00701 0,001162 0,000000 -0,010046 0,000915 0,000000 (S) X (ID) 0,00019 0,000644 0,771982 -0,000245 0,000522 0,639748 r2** 0,25 0,53 N*** 122 109 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. As estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200 µm de epitélio de jejuno encontram-se na Tabela 6. Tabela - 6. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200 µm de epitélio de jejuno de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Células PAS+ Células AB+ Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 12,63138 0,682035 0,000000 7,733326 0,465564 0,000000 Sorgo% (S) 0,04697 0,033679 0,165674 -0,022422 0,026189 0,393881 (S)2* -0,00123 0,000552 0,027201 0,000468 0,000449 0,300314 Idade (ID) 0,33428 0,059070 0,000000 0,556361 0,043988 0,000000 (ID)2* -0,00793 0,001194 0,000000 -0,011684 0,000930 0,000000 (S) X (ID) 0,00070 0,000676 0,304764 0,000124 0,000526 0,814125 r2** 0,31 0,64 N*** 127 109 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. Os termos quadráticos para o fator sorgo% e idade e o termo linear do fator idade apresentaram efeitos significativos para o número de células caliciformes produtoras de mucina neutra (PAS+). Para o número de células produtoras de mucina ácida (AB+) somente o fator idade apresentou os termos do polinômio linear e quadrático significativo. 28 Os números de células caliciformes que produzem mucina neutra e ácida aumentaramdurante os primeiros 21 dias de vida, após este período, o número de células diminui acentuadamente. As médias de células produtoras de mucina neutra (PAS+) no jejuno foram maiores para os tratamentos que apresentaram quantidades similares de sorgo e milho, para as dietas contento somente milho soja ou sorgo soja as médias foram menores. As ilustrações destes resultados estão na Figura 5. Número de Células PAS+ DUODENO Número de Células AB+ DUODENO Figura – 4. Gráfico de superfície de resposta ilustrando o número de células caliciformes produtoras de mucina por 200µm de epitélio duodenal das aves alimentadas com níveis crescentes de sorgo. 29 Na Tabela 7 encontram-se as estimativas dos parâmetros do modelo de superfície de resposta para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200 µm de epitélio de íleo. Tabela -7. Estimativa dos parâmetros, erro padrão da média (EPM) e probabilidade (P) para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra (PAS+) e mucina ácida (AB+) por 200µm de epitélio de íleo de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade. Células PAS+ Células AB+ Variáveis Parâmetros EPM P Parâmetros EPM P Intercepto 11,71879 0,738472 0,000000 7,575651 0,524105 0,000000 Sorgo% (S) -0,00397 0,038797 0,918587 0,017454 0,027177 0,521955 (S)2* 0,00037 0,000643 0,565068 0,000115 0,000472 0,807726 Idade (ID) 0,52183 0,061442 0,000000 0,583985 0,046061 0,000000 (ID)2* -0,01038 0,001248 0,000000 -0,011568 0,000963 0,000000 (S) X (ID) -0,00089 0,000764 0,247061 -0,000747 0,000553 0,178845 r2** 0,38 0,59 N*** 133 124 * efeito quadrático. **r2 = coeficiente de determinação. *** N = número de observações. Os termos lineares e quadráticos do polinômio foram significativos para fator idade para o número de células caliciformes que produzem mucina neutra e ácida. A quantidade de células caliciformes do íleo apresentou um comportamento semelhante ao número de células do duodeno, onde as médias aumentaram nos primeiros 21 dias de idade e sofreram uma queda após este período. O número de células caliciformes durante o período experimental no íleo está ilustrado na Figura 6. 30 Número de Células PAS+ JEJUNO Número de Células AB+ JEJUNO Figura – 5. Gráfico de superfície de resposta ilustrando o número de células caliciformes produtoras de mucina por 200µm de epitélio de jejuno das aves alimentadas com níveis crescentes de sorgo. 31 Número de Células PAS+ ÍLEO Número de Células AB+ ÍLEO Figura – 6. Gráfico de superfície de resposta ilustrando o número de células caliciformes produtoras de mucina por 200µm de epitélio de íleo das aves alimentadas com níveis crescentes de sorgo. 32 Discussão Após o nascimento, as aves passam por uma abrupta mudança na fonte de suprimentos, os nutrientes do saco vitelínico são substituídos por nutrientes de uma dieta exógena rica em carboidratos e proteínas. A ingestão desta nova fonte é seguida por um rápido crescimento do trato gastrintestinal e órgãos anexos para assimilar o alimento que está sendo ingerido (UNI et al., 1998). A massa intestinal aumenta mais rápido do que os demais órgãos da ave, alcançando um pico por volta do sexto dia de vida (UNI et al., 1999). A interação entre o crescimento intestinal, funções digestivas e a dieta são críticas durante este período. Diversas pesquisas sobre nutrição durante a primeira semana tem sido intensificadas e difundidas devido à alta correlação entre o peso dos pintainhos no sétimo dia de vida e seu respectivo peso ao abate (ROCHA et al., 2003). O sorgo atualmente comercializado em território nacional não possui altas concentrações do composto fenólico antinutricional conhecido como tanino, apesar desta evidência existe uma resistência de se utilizar este cereal em altas concentrações em dietas pré-iniciais. A manutenção da mucosa intestinal, em condições fisiológicas normais, tem custo energético elevado para o frango. Quando ocorrem lesões, além da redução da quantidade de substrato digerido e absorvido, há ainda o custo da restauração desse epitélio. A energia conservada pelo reduzido “turnover” de células no epitélio intestinal poderá ser utilizada para o desenvolvimento da massa muscular (MAIORKA et al., 2002). No presente estudo os níveis crescentes de sorgo baixo tanino não afetou a altura dos vilos do duodeno, jejuno e íleo em nenhuma idade avaliada. No entanto, a profundidade de cripta do duodeno foi afetada significativamente pela interação entre os níveis de inclusão de sorgo e a idade, onde as criptas foram mais profundas nos tratamentos com os maiores níveis de inclusão de sorgo na fase final de criação. Devemos ressaltar que a cripta é responsável por 55% da capacidade de proliferação celular do intestino (BOLELI et al., 2002) e uma cripta maior nos indica um maior potencial de proliferação celular. COOK & BIRD (1973) avaliando parâmetros morfométricos e a taxa de migração das células de criptas de aves “germ-free” e aves 33 criadas em um ambiente convencional, encontraram que as aves convencionais apresentaram criptas 54% maiores e maiores taxas de migração celular, e que o aumento na taxa de extrusão de algum modo é um estímulo à capacidade de proliferação e crescimento das criptas destas aves. Portanto, no duodeno onde encontramos criptas com tamanhos diferentes e vilos com alturas semelhantes inferimos que ocorreu uma maior proliferação e extrusão nos tratamentos com maiores criptas, ou seja, ocorreu um maior “turnover” e um maior gasto energético para manutenção deste epitélio. O duodeno e o jejuno são as porções do intestino delgado que apresentam maiores taxas de proliferação e migração celular, maiores vilos e criptas e respondem a agressões e a estímulos da mucosa de maneira mais acentuada (UNI et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2000; GEYRA et al., 2001). Dessa forma, qualquer tipo de perturbação no intestino delgado leva a alterações morfológicas nestas duas regiões, assim a alteração das criptas do duodeno na fase final de criação não é um resultado ilógico. Porém, alguns autores relatam a capacidade de adaptação de aves mais velhas a fatores estressantes como lectinas e tanino (D’MELLO &THOMAS, 1978; CHUBB, 1982; OLIVEIRA et al., 2000). Portanto, a alteração morfométrica das criptas do duodeno na fase final de criação pode ser uma resposta adaptativa da mucosa intestinal a um efeito acumulativo da presença de proantocianidinas do sorgo. A altura dos vilos e a profundidade das criptas aumentaram conforme a idade. No entanto, o crescimento dos vilos no duodeno teve um comportamento diferente do encontrado na literatura. De acordo com UNI (1999), o crescimentos dos vilos do duodeno está praticamente completo aos sete dias de vida. Neste experimento, a altura dos vilos para todos os tratamentos apresentou um crescimento contínuo durante toda fase inicial (de 1 até 21 dias de idade) das aves. A camada de mucina no intestino delgado possui uma importante função protetora para as células da mucosa e de transporte entre o lúmen e a membrana em escova, tendo extensivas implicações nas funções intestinais. A relevância das distintas mucinas produzidas ainda não é bem entendida, no entanto, tem sido sugerido que a mucina ácida funciona como uma barreira bacteriana dificultando a locomoção e a 34 mucina neutra parece ser menos degradável pelas glicosidades bacterianas e proteases endógenas. O alimento fornecido, a taxa de migração das células da mucosa intestinal e a população microbiana podem afetar o tipo de mucina e a quantidade produzida (UNI et al., 2003). As análises em superfície de resposta dos diferentes segmentos intestinais durante o período experimental, mostraram que os números de células caliciformes que produzem mucina neutra e ácida não foram afetadospelos níveis crescentes de sorgo baixo tanino. Estes resultados evidenciaram que os maiores níveis de inclusão de sorgo não fornece quantidade suficiente de tanino condensado para aumentar o número de células caliciformes, mesmo na fase pré-inicial onde o animal se encontra em processo de maturação do trato gastrintestinal. Diversos autores trabalhando com alimentos que possuem concentrações elevadas de fatores antinutricionais, tais como: lectinas e tanino e diferentes modelos biológicos (ratos e frangos), apresentaram um aumento no número de células caliciformes no epitélio do trato gastrintestinal como resposta às agressões causadas por tais substâncias (OLIVEIRA et al., 2000; ORTIZ et al., 1994; MITJAVILA et al., 1977). O fator idade demonstrou ter grande importância no número de células caliciformes que produzem mucina neutra e ácida. Durante o período de maior crescimento do intestino delgado (as primeiras três semanas) as aves apresentaram um número crescente de células caliciformes. Quando a velocidade de crescimento do epitélio diminuiu, o número de células caliciformes também decresceu. UNI et al. (2003) demonstraram que após a eclosão até o 8° dia a proporção de células caliciformes aumentou com a idade, porém em uma constante proporção aos enterócitos. No presente trabalho, dentro de um mesmo tamanho de epitélio intestinal (200µm) o número de células caliciformes variou com a idade. Talvez a necessidade da produção de mucina não seja a mesma com o avançar da idade devido a mudanças na taxa de proliferação celular, capacidade digestiva, mudança na flora intestinal ou a adaptação à dieta utilizada. 35 Conclusão A altura dos vilos e o número de células caliciformes do intestino não são afetados pelos níveis de substituição de milho por sorgo baixo tanino, no entanto, a profundidade de cripta do duodeno aumenta com a inclusão de sorgo nas rações. A idade apresenta efeito significativo sobre o número de células caliciformes onde ocorre aumento na quantidade de células produtoras de mucina no período de 1 a 21 dias de idade. A altura dos vilos no duodeno atinge seu desenvolvimento máximo aos 21 dias de idade. 36 CAPÍTULO 4 – USO DA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA E MODELOS MATEMÁTICOS PARA PREDIZER O DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM DIETAS À BASE DE MILHO E SORGO. RESUMO – Objetivo desta pesquisa foi criar modelos de superfície de resposta, com base nos dados selecionados pela revisão sistemática da literatura, para as variáveis independentes, níveis de substituição do milho por sorgo e idade, para predição do desempenho zootécnico. Localizaram-se nove trabalhos através do método de revisão sistemática da literatura, no período de 1995 a janeiro de 2006. Três trabalhos da literatura mais um trabalho não publicado do nosso grupo de pesquisa se adequaram aos critérios de inclusão estabelecidos: 1) efeito da substituição do milho por sorgo baixo teor em tanino; 2) envolveram frangos de corte de linhagem comercial; 3) apresentaram número de repetições, número de aves por repetição, níveis nutricionais empregados (proteína bruta e energia metabolizável) e apresentaram resultados de desempenho em tabela; 4) experimentos em baterias não foram aceitos; 5) utilizaram somente milho, soja e sorgo como ingredientes e as dietas com sorgo foram fornecidas já na primeira semana de vida. O banco de dados para consumo de ração e ganho de peso foi composto por um total de 10900 aves. Ajustou-se um modelo de superfície de resposta com duas variáveis independentes (sorgo% e idade). Os parâmetros foram estimados pelo método dos quadrados mínimos. Somente o termo quadrático da idade apresentou efeito significativo para consumo de ração (r2 = 0,98) e ganho de peso (r2 = 0,97). Os demais termos do polinômio não apresentaram efeito significativo. Estes resultados demonstram que o nível de substituição de milho por sorgo não prejudica o consumo de ração e o ganho de peso nas fases pré-inicial, inicial, crescimento ou terminação. Palavras-chave: análise de regressão, idade, sorgo baixo tanino, revisão sistemática da literatura, superfície de resposta. 37 Introdução A grande flutuação no cambio dos principais ingredientes (milho e soja) da alimentação avícola, fazem da utilização de ingredientes alternativos a resposta viável para a obtenção de resultados econômicos satisfatórios. O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) é tido como uns dos principais ingredientes energéticos substitutos ao milho, todavia, existe certa resistência na utilização de sorgo em rações pré-iniciais devido à possibilidade deste cereal afetar o desempenho dos pintainhos neste período. A determinação precisa da relação benefício/custo na criação de frangos de corte está na dependência do desenvolvimento de modelos matemáticos capazes de predizer o crescimento e o consumo de ração dos frangos em função dos fatores que influenciam essas variáveis (OVIEDO-RONDÓN & WALDROUP, 2002). Os modelos matemáticos são ferramentas que fornecem subsídios para tomadas de decisões que envolvem diversas variáveis, mostrando qual caminho seguir para obtenção do melhor retorno econômico da atividade desenvolvida. Dentre os possíveis modelos, os de superfície de resposta são de grande aplicabilidade prática, pois permitem modelar mais de um fator simultaneamente através de polinômios de primeira, segunda ou mais ordens, além de testarem a interação entre os fatores envolvidos na pesquisa (FREUND & LITTELL, 2000). EITS et al. (2005) ressaltaram que os modelos devem ser práticos (incluir variáveis conhecidas pelo nutricionista), flexíveis (envolver variáveis como sexo, níveis nutricionais, ingredientes, etc.) e precisos (derivados de vários conjuntos de dados). Neste contexto, a utilização de modelos que demonstrem a variação do desempenho das aves quando são submetidas às dietas compostas por ingredientes alternativos é de grande valia para embasar os nutricionistas em suas decisões. Para obtenção de dados consistentes, utilizou-se uma revisão sistemática da literatura (WANG & BUSHMAN, 1999), uma técnica simples capaz de identificar, selecionar e avaliar as pesquisas a serem utilizadas na elaboração do banco de dados a ser analisado. Portanto deve-se definir previamente a estratégia de busca, as bases de dados utilizadas na pesquisa, período da revisão e os critérios de seleção de estudos. A 38 revisão deve mostrar os trabalhos selecionados e também os trabalhos excluídos e a razão para tal procedimento. O objetivo de se realizar uma revisão sistemática da literatura é propiciar uma revisão reprodutível e não viesada (pois critérios de inclusão devem ser explícitos e coerentes impossibilitando uma seleção tendenciosa dos dados). Assim, o objetivo desta pesquisa foi criar modelos de superfície de resposta, com base nos dados selecionados pela revisão sistemática da literatura, para as variáveis independentes, níveis de substituição do milho por sorgo e idade, para predição do desempenho zootécnico. Material e métodos Localização dos estudos A revisão sistemática da literatura foi realizada por buscas eletrônicas com as palavras chaves sorgo e frangos de corte nas bases de dados “Biological Abstracts”, “Cab Abstracs”, “Medline”, “Scielo” e “Athena” no período de 1995 a janeiro de 2006. Foram inseridos dados de trabalhos não publicados de nosso grupo de pesquisa (Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal). Critérios de inclusão Os trabalhos selecionados apresentaram: 1) efeito da substituição do milho por sorgo baixo teor em tanino; 2) envolveram frangos de corte de linhagem comercial; 3) apresentaram número de repetições, número de aves por repetição, níveis nutricionais empregados (proteína bruta e energia
Compartilhar