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Nome: Marcos Negrão RA: 802227 Resenha: Documentários “A greve do ABC Paulista” e “Peões” O documentário ABC da greve, lançado em 1990 e dirigido por Leon Hirszman, acompanha a história das greves protagonizadas pelo ABC Paulista - cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, na região Metropolitana de São Paulo, durante a década de 1970, que movimentou cerca de 180 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de vida. Como suas reivindicações não tiveram sucesso, decidiram entrar em greve, enfrentando o governo militar. Isso é respondido por meio de intervenções nas associações de classe. O governo mobilizou um grande número de policiais e iniciou uma repressão em larga escala. Liderados pelos sindicatos, que na época tinham a direção central sob Luís Inácio Lula da Silva, eles exigiam principalmente reajustes salariais maiores do que os propostos por órgãos do governo e dirigentes do setor. O exemplo da greve do ABC mostrou um claro conflito entre a classe trabalhadora e seus patrões, que também receberam apoio do governo. Na verdade, foi um conflito que envolveu tensão e divisão desde o início, quando foram feitas propostas de realinhamento desproporcionais às demandas da época, e os ataques e represálias continuaram ao longo da greve. Além disso, os conflitos de interesse são evidentes, já que as propostas de reajuste salarial eram distintas. Além do movimento político emergente, o documentário também documenta as reações de representantes oficiais, dos patronais e da junta, como o caso de repressão dos militares, deliberada por uma decisão do Ministério do Trabalho, afim de intervir no Sindicato dos Metalúrgicos, expulsando os responsáveis pelo comando da greve. Destacando a atuação de lideranças sindicais, principalmente de Lula, o filme reacendeu o principal conflito entre as partes envolvidas após a conclusão das negociações no dia 13 de maio, com grevistas voltando ao trabalho após aceitarem um aumento salarial de 63%. No entanto, o aparente fracasso do movimento de reajuste de 70% foi visto como uma vitória do ABC da Greve. O filme ainda traz de forma rápida, sobre a possível aliança entre vários setores da esquerda, trabalhadores, artistas e organizações engajadas da igreja católica unidos contra a ditadura militar e pelo sucesso do movimento operário. União que o filme faz questão de gravitar em torno de Lula, liderança cujo carisma, posto à prova quando precisa convencer os trabalhadores a interromper a greve. Desta forma, é possível ver como o movimento realmente causou impacto e o documentário produzido tem importante papel por registrar e difundir esta história que projetou também lideranças no país, como o próprio Lula que mais tarde tornou-se presidente da República. Os trabalhadores são filmados a partir de sua própria experiência, que se desenvolve em frente à câmera e independentemente dela. O registro do movimento grevista operário do ABC possuía importância além da documentação histórica, afinal, o movimento transbordava as reivindicações dos metalúrgicos, tornando-se um símbolo da atuação política para os trabalhadores do Brasil. O ABC paulista apresenta uma concentração de grandes massas com alto grau de consciência de classe, e seu movimento grevista se caracteriza por um paradigma de movimento pacífico, organizado e coeso em defesa de melhores condições de vida, estabelecendo uma nova legitimidade para greve como uma forma de litígio e reivindicações. O movimento grevista dos trabalhadores deve, portanto, ser visto como parte de um processo estrutural maior de desmonte do regime militar, principalmente pela proibição de greves pela ditadura e pelo fato de o movimento grevista enfrentar os sindicatos e declarar a greve ilegal, e mesmo assim, manteve-se até à conclusão de acordos com os empresários. Embora o filme não seja uma reportagem, nota-se o gesto do jornalista, pois o objetivo é documentar todos os aspectos do movimento, obedecendo à ordem cronológica dos acontecimentos. O objetivo é não apenas explorar e documentar os eventos sociais da greve, como as grandes aglomerações realizadas no estádio Vila Euclides ou no Paço, mas também documentar as condições de vida dos trabalhadores, seu modo de vida e localização, sua saúde como seus laços familiares, vida cotidiana, principalmente suas condições de trabalho. "Peões", documentário de 2004 dirigido por Eduardo Coutinho, traz um olhar mais humano sobre o movimento grevista no ABC e relata a história de seus responsáveis. O foco são as vidas e trajetórias de parceiros de luta que trilharam caminhos diferentes, alguns igualmente felizes, outros ainda enfrentando as mesmas - se não piores - dificuldades. No filme, testemunhamos vinte histórias diferentes de pessoas que estiveram de alguma forma envolvidas nos movimentos grevistas de 1979 e 1980 do ABC Paulista. Eles foram trabalhadores da indústria metalúrgica local, que se destacaram naquele período como Lula, mas seguiram caminhos diferentes, menos glamorosos. Coutinho nos mostra como esses homens foram criados, como suas ações foram direcionadas, quais ideias os moveram e como esse evento em particular deixou uma marca duradoura em suas vidas. O filme se localiza nas vidas das pessoas entrevistadas, não se passa apenas onde começa ou ocorre o movimento, mas sim na realidade e vida cotidiana dessas personalidades. Em todos os relatos são carregados de emoção e sentimento de orgulho e vontade de mudança por parte dos entrevistados, e em dado momento percebe-se até uma confusão sobre esse orgulho, confundindo o brio da participação no movimento com o “valor e dignidade” da profissão, como dito na seguinte frase por um dos entrevistados: “"Meu filho também é peão, com muito orgulho. Algum problema nisso?", que ao mesmo tempo traduz uma contristação sobre a situação atual de seu próprio filho, afinal, ele sabe que essa vida carrega uma “falsa dignidade” e muito sofrimento, pois ele sabe o que é ser um “peão”, entende o que é ser a infantaria insignificante e substituível da industrialização brasileira na visão dos poderosos, que é explorada e clama pela igualdade, que ao mesmo tempo faz parte de uma elite intelectual e artística: operários que conhecem seu ofício, compreendem exatamente o seu funcionamento e o executa como poucos, e é aquele sem o qual uma fábrica não funcionaria. Fazendo um paralelo com os dias atuais, podemos trazer o conceito da “uberização” para maior entendimento do contexto do qual estamos inseridos, visto que esse traduz um pouco da situação vivida pelos operários das metalúrgicas, porém de uma forma mais velada e endossada, que pode ser definida como um novo modelo de trabalho, que, na teoria, se coloca como mais flexível, no qual o profissional presta serviços conforme a demanda e sem que haja vínculo empregatício. A título de exemplificação, como o próprio nome sugere, esse tipo de trabalho engloba entregadores, motoristas e outros “prestadores de serviço para aplicativos”. Esse modelo de trabalho vem sendo adotado por algumas empresas, principalmente as de tecnologia, não está restringido apenas aos aplicativos de motorista. O ponto de discórdia é que ele oferece maior flexibilidade para ambas as partes. Nesse caso, o profissional será “seu próprio patrão” e ficará responsável por administrar seu tempo, ou seja, é ele quem define quantas horas vai trabalhar. Arranjos entre freelancers e plataformas digitais podem ser vistos como um exercício de autonomia e empreendedorismo, ou como uma relação injusta e instável, dependendo do ponto de vista. Segundo plataformas como Uber e Rappi, as pessoas que prestam serviços por meio delas são empreendedores individuais. No Uber, a frase “você está no comando", é o slogan vigente. Por outro lado, as pessoas que usam o aplicativo para trabalhar não têm nenhum direito ou benefício,mas devem seguir as regras estabelecidas pela empresa. Por exemplo, se um motorista precisar se ausentar por problemas de saúde, ele só poderá cuidar dele mesmo. Em vista disso, o Uber reconheceu a sindicalização de motoristas que atuam no Reino Unido. O acordo garante mais proteção aos trabalhadores e foi comemorado pelo Sindicato GMB, que representa mais de 70 mil profissionais que atuam no país. A decisão faz parte de uma briga judicial que chegou à Suprema Corte e o acordo tem como foco combater a popular “economia de bico”, a informalidade, trazer segurança para os trabalhadores em diversos aspectos, principalmente o financeiro, que engloba a preservação de moradia, alimentação e saúde, ou seja, faz a manutenção de direitos básicos ao final de tudo. A partir de agora, os motoristas poderão contar com uma negociação coletiva, com direito a um salário mínimo e outros benefícios. Em vista disso, podemos concluir que as medidas governamentais conjuntamente com as sindicais são fundamentais para garantir direitos, preservar a dignidade e a integridade física de seus trabalhadores, elas horam e garantem ao menos a chance de uma vida honesta e minimamente decente, além de traduzirem a necessidade de valorização do povo e das massas e que esses, não são “peões” de grandes corporações que normalizam a subordinação excessiva e a concordância forçada em relação às vontades dos grandes, mas sim que são a base da vida, sociedade e comunidade da qual vivemos e estamos inseridos.
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