Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CULTURA E ARTE GRADUAÇÃO EM CURSO DE DESIGN-MODA SABRINA CIDADE PESSOA A NOIVA TRADICIONAL INDIANA HINDU: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS E SUAS SIMBOLOGIAS FORTALEZA 2016 SABRINA CIDADE PESSOA A NOIVA TRADICONAL INDIANA HINDU: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS E SUAS SIMBOLOGIAS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Design-Moda do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, como pré-requisito parcial para a obtenção de título de bacharel em Design-Moda. Orientadora: Profª. Drª. Francisca Raimunda Nogueira Mendes. FORTALEZA 2016 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) P568n Pessoa, Sabrina Cidade. A noiva tradicional indiana hindu : análise dos elementos estéticos e suas simbologias / Sabrina Cidade Pessoa. – 2016. 45 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Instituto de cultura e Arte, Curso de Design de Moda, Fortaleza, 2016. Orientação: Profa. Dra. Francisca Raimunda Nogueira Mendes. 1. Noiva. 2. Hindu. 3. Índia. 4. Simbologias. 5. Indumentária. I. Título. CDD 391 SABRINA CIDADE PESSOA A NOIVA TRADICONAL INDIANA HINDU: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS E SUAS SIMBOLOGIAS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Design-Moda do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, como pré-requisito parcial para a obtenção de título de bacharel em Design-Moda. Aprovada em: ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Francisca Raimunda Nogueira Mendes. (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Profª. MsC. Marta Sorélia Félix de Castro. Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Profª. MsC. Walkiria Guedes de Souza. Universidade Federal do Ceará (UFC) AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado a dádiva da vida, numa família que eu não desejaria diferente, e permitir que eu continue minha caminhada. Aos meus pais, que dedicaram suas vidas à minha educação e da minha irmã, sempre acreditando em nós, fazendo tudo isso com muito amor e carinho. À minha irmã, pelo apoio e por ter aguentado firme todas as vezes que precisei, cuidando daquilo que eu não pude dar conta. À minha família, tios(as), primos(as) que também acreditaram em mim, e me deram força e apoio sempre que precisei. À minha avó Anita, que de certa forma me inspirou a seguir carreira em Design- Moda, e que me mesmo não estando mais entre nós, sempre me dá o impulso que preciso para continuar. À minha professora orientadora Francisca Mendes, por ter me guiado e me mantido calma sempre que precisei. A todos os professores que tive até hoje, pois no decorrer da vida, foram eles que me deram os conhecimentos necessários para evoluir sempre. À Déborah, minha melhor amiga, e ao Rafael, meu amor, por terem sido anjos na minha vida, sempre me dando credibilidade, apoio e amor. À minha turma, Amanda, Jamile, Lézio, Mali e Raphaella, por terem seguido essa caminhada junto comigo, me apoiando de diversas formas, em diferentes momentos que precisei, e pelas experiências e risadas trocadas em toda essa graduação. E em especial, à Manu, que de forma indireta, fez com que eu me interessasse pela cultura indiana, resultando nesta pesquisa. A todos aqueles que passaram pela minha vida, me dando suporte para eu conseguir o que tenho e ser o que sou hoje. A todos vocês, muito obrigada! RESUMO O presente trabalho configura-se em uma análise da representação e simbologias do vestido de noiva usado pelas indianas hindus, como também a ornamentação da noiva para o casamento. Aqui identifiquei como a imagem da noiva indiana é construída, através da estética, para que esta seja representada de acordo com suas crenças na religião Hindu, que possui o maior número de adeptos na Índia. Logo, precisei compreender também alguns aspectos das crenças do hinduísmo para entender as aplicações desses elementos estéticos na noiva. Para um melhor embasamento, utilizei também uma análise sobre simbologia das cores e suas diferentes representações nos respectivos âmbitos pesquisados. A metodologia utilizada foi realizada com o auxílio de pesquisa bibliográfica e documental. Ao final dos estudos concluiu-se que as cores usadas no traje da noiva indiana hindu como também os rituais são de grande importância. Cada ritual pré-casamento tem como finalidade incutir na noiva de algo considerado auspicioso, como beleza, prosperidade, sabedoria, obediência, fertilidade; assim também como a roupa e os adornos utilizados; assim, a noiva se tornando-a, aum espelho de uma Deusa, aquela que trará boa sorte e alegria ao marido e à família a quem está sendo entregue. Palavras-chave: Noiva, Hindu, Índia, Simbologias, Indumentária. ABSTRACT This paper presents analysis of symbols and representation in wedding dresses worn by Hindu Indian and also the bridal ornamentation for the wedding. It was identified how the image of the Indian brides is built by aesthetics, for the representation of their beliefs in Hindu religion, which has the largest number of adherents in India. For this purpose had to be understood some aspects of Hinduism beliefs to understand the applications of these aesthetic elements on the bride. For a better basis, was used an analysis of colors’ symbolism and their different representations in their respective surveyed areas. This work’s relevance is justified by the lack of academic material written on the subject, especially under by the sight of a fashion student, and the information can be used in the creative process items for fashion. This study was conducted with the use of bibliographic and documentary research. At the end of the studies it was concluded that the colors used in the Hindu Indian bride's costume as well as the rituals are of great importance. Each pre-wedding ritual is intended to instill the bride of something considered auspicious, such as beauty, prosperity, wisdom, obedience, fertility; as well as the clothing and adornments used; So the bride becomes the mirror of a Goddess, the one who brings good fortune and joy to her husband and the family to whom she is being delivered. Keywords: Bride, Hindu, India, Symbologies, Clothes. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Indianas com sáris coloridos.............................................................................. 27 Figura 2 - Noiva indiana hindu............................................................................................ 30 Figura 3 - Salwar kameez..................................................................................................... 31 Figura 4 - Sári inspirado em Bollywwod.............................................................................. 32 Figura 5 - Sári tradicional.................................................................................................... 33 Figura 6 - Cerimônia do Haldi............................................................................................. 36 Figura 7 - Mãos de noiva ornamentadas com a henna......................................................... 37SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 9 2 2.1 2.2 2.3 2.4 3 3.1 3.2 METODOLOGIA............................................................................................. Tipo de Pesquisa................................................................................................ Plano de coleta de dados................................................................................... Categorias Analíticas........................................................................................ Tratamento de dados........................................................................................ ÍNDIA: CULTURA E RELIGIÃO.................................................................. Hinduísmo.......................................................................................................... A mulher indiana ............................................................................................. 11 11 11 12 12 14 17 21 4 5 5.1 5.2 6 NOIVAS E CORES........................................................................................... A NOIVA INDIANA......................................................................................... O traje da noiva................................................................................................. Rituais e símbolos.............................................................................................. CONCLUSÃO................................................................................................... REFERÊNCIAS................................................................................................ 24 30 31 34 39 41 9 1 INTRODUÇÃO Nos casamentos, na maioria das culturas, as noivas são o centro das atenções no momento do ritual. Há sempre uma expectativa enorme, tanto do noivo, como das respectivas famílias e amigos, em ver a entrada da noiva. Tanto que nos casamentos católicos, por exemplo, há uma marcha nupcial, tocada especialmente para a entrada da noiva - geralmente a clássica marcha nupcial de Mendelssohn -, sendo ela a última a entrar na igreja. Na Índia, apesar das distâncias culturais com os países do Ocidente, a noiva também é um espetáculo à parte. No entanto, como podemos perceber nos filmes de Bollywood ou mesmo no exemplo da novela brasileira Caminho das Índias, produzida pela Rede Globo, a noiva indiana se veste de maneira totalmente diferente das noivas ocidentais. É comum ver nos casamentos brasileiros, por exemplo, a noiva buscar uma imagem de naturalidade, a maquiagem é suave, o vestido, na maioria das vezes, totalmente branco, os brincos, pulseiras e colares são geralmente delicados. Já a noiva indiana se veste com roupas bastante coloridas, usando muitas vezes vermelho, cor quase que impensável para a maioria das noivas brasileiras; os adornos são joias extravagantes por todo o corpo, brincos, tiaras, várias pulseiras, tornozeleiras, colares grandes; e ainda temos as tatuagens em henna que são feitas nos braços, mãos, pernas, pé e rosto. Gonçalves (2013) afirma que a roupa branca é associada, de diferentes formas, à representação de pureza, seja esta, asseio do corpo ou uma alma pura, como também faz conotação à sacralidade cristã católica. Sendo assim, da mesma forma que se entende aqui, no Brasil, e na maior parte do ocidente, que uma noiva casa vestida de branco para denotar pureza, os elementos usados pelas noivas indianas tem suas conotações, que estão ligadas principalmente a sua religião, no caso desta pesquisa, a religião hindu. São tantas as informações estéticas que são postas sobre a noiva indiana, que foi despertada a curiosidade de saber o que tudo isso significa para ela, e para a sociedade que a cerca. Este trabalho tem como objetivo geral analisar a simbologia das vestes e ornamentação feminina no casamento tradicional hindu. Nesta pesquisa contemplamos como objetivos específicos conhecer brevemente alguns fatos sobre a cultura indiana; compreender a religião hindu e suas crenças; abordar conceitos do casamento ocidental e compará-los com o casamento tradicional indiano hindu; investigar a simbologia das cores no casamento indiano hindu; e identificar os elementos estéticos que são utilizados para representar simbolicamente os rituais que ocorrem antes e no momento do casamento. 10 O presente trabalho justifica-se pela necessidade de lançar um olhar a diferentes culturas e poder usar essas informações, principalmente academicamente, gerando um despertar sobre o assunto, que resulte em novas pesquisas mais aprofundadas, como também gerar “bagagem” para o processo criativo nos cursos de Design-Moda. A metodologia adotada para este trabalho envolveu pesquisas bibliográficas e documentais, onde foram observados dois filmes indianos que tem sua trama em torno de casamentos (Vivah e 2 States), fotografias e vídeos de casamentos indianos hindus reais. O trabalho foi dividido em cinco capítulos. A introdução equivale ao primeiro. No capítulo dois encontra-se a metodologia usada para a construção desse trabalho. No terceiro capítulo são abordadas questões contextuais sobre a Índia, sua cultura e a religião hindu. No quarto capítulo, para fins de comparação, falo sobre a roupa e ornamentações da noiva ocidental, como também da significação e relação com as cores nas culturas ocidentais e indianas. Chegando ao quinto capítulo, trato de discorrer sobre a noiva indiana hindu, tratando das questões familiares, que estão intrinsecamente ligadas ao casamento, como também dos rituais e a sua ligação e influência na estética da noiva hindu indiana e ainda discorro sobre o comportamento da noiva no processo de noivado e casamento. E por fim, no sexto capítulo encontra-se a conclusão deste trabalho. 11 2 METODOLOGIA Este capítulo é dedicado a explicar a metodologia usada para a elaboração do presente trabalho. 2.1 Tipo de pesquisa Para fazer melhor análise das questões simbólicas e culturais que permeiam o universo de uma noiva que se casa dentro dos preceitos da religião hindu, o tipo de pesquisa mais adequada deve apresentar a abordagem qualitativa que segundo Pádua (2004, p. 36) se preocupa “com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores, representações sociais, que permeiam a rede de relações sociais”. Sendo assim percebe-se que a pesquisa volta-se para uma questão mais subjetiva e que possui embasamento em conhecimentos teóricos coletados a partir de livros, trabalhos acadêmicos, como também análises imagéticas a partir de filmes, fotografias e audiovisuais. Não foi verificada necessidade de utilizar dados quantitativos na pesquisa. Sobre os objetivos da pesquisa afirmamos que seu caráter é principalmente descritivo, que segundo Gonçalves (2005, p.91) procura “descobrir a frequência com que o fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”; mas também tem cunho explicativo onde Gonçalves (2005) afirma ser mais complexa que a descritiva, pois os dados coletados estão sendo analisados e interpretados, buscando justificar fenômenos e causas. E tratando-se dos procedimentos, classificamos o estudo como pesquisa bibliográfica que de acordo com Pádua (2004) tem por finalidade apresentar ao pesquisador os estudos ou artigos já desenvolvidos na área de abrangência e pesquisa documental onde Pádua (2004) afirma que as fontes de pesquisa que não estão em forma de texto, como, por exemplo, fotos, filmes, audiovisuais, entre outros, são considerados documentos para pesquisa. 2.2 Plano de coleta de dados As etapas para o desenvolvimento da pesquisa organizam-sedesta forma: 1. Pesquisa bibliográfica específica - seleção das principais referências bibliográficas (livros e trabalhos acadêmicos) que tem relação com o tema abordado; 2. Pesquisa documental específica - seleção das principais referências documentais (filmes, audiovisuais, fotografias), sendo 12 escolhidos os filmes Vivah e 2 States que mostram casamentos hindus, na Índia, de dois pontos de vista diferentes, como também alguns vídeos de casamentos indianos reais que mostram partes do processo de casamento e dos rituais; e ainda fotografias que mostram detalhes da ornamentação da noiva como também de alguns rituais; 3. - Tratamento de dados - após a coleta de todos os dados foi possível fazer a análise e interpretação, para poder chegar à conclusão desta pesquisa. 2.3 Categorias Analíticas As categorias, de acordo com Gonçalves (2005) são subdivisões de temas na forma de títulos genéricos que representem as conceituações das palavras chaves. No presente trabalho foram utilizadas as seguintes palavras chaves para representar as temáticas centrais do trabalho: Casamento, Hindu, Índia, Indumentária, Simbologias. 2.4 Tratamento de dados Para análise dos dados foi feita a observação, análise e comparação das informações obtidas a partir dos dados bibliográficos e documentais selecionados. Foram visitados dois filmes de produção indiana (bollywood), Vivah e 2 States. Nestes filmes foi possível observar como se dá, em partes, a realização de casamentos indianos, e como acontece o envolvimento e interferências das famílias dos noivos em todo o processo desde a escolha dos parceiros, seja o casamento desejado pela família ou não. Alguns vídeos de casamentos hindus indianos, reais (os casamentos de Anisha Karnik & Neil Dewan1, Nisha Patel & Elliott Groves2, Rinal Patel & Anish Patel3), e também vídeos de alguns rituais, como a cerimônia da henna4 e a cerimônia do haldi5, também fizeram parte da coleta de dados como base para a análise. Estes vídeos proporcionaram a observação de como são feitos alguns rituais que são realizados antes do casamento e durante a cerimônia de casamento em si. Segundo Pádua 1 ANISHA karnik & neil dewan - marathi hindu / same day highlights. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NMUehRvVC5Q>. Acesso em: 11 outubro 2016. 2 NISHA patel & elliott groves - cinematic hindu highlights. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AN2qwx6UgJk>. Acesso em: 11 outubro 2016. 3 RINAL patel & anish patel - cinematic wedding day highlights (hindu). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EnZHIE6eEAU>. Acesso em: 11 outubro 2016. 4 WEDDING henna (mendhi) ceremony. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ry2GHG_FcD8>. Acesso em: 25 setembro 2016. 5 AYSHA'S colorful haldi ceremony by weddplanner wedding studio. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4AxpAZHQ9GU>. Acesso em: 23 setembro 2016. https://www.youtube.com/watch?v=NMUehRvVC5Q 13 (2004) esta é uma fase muito importante, pois é nela que o pesquisador demonstra a sua criatividade na pesquisa. Do contrário, esta seria apensa uma compilação de dados. 14 3 ÍNDIA: CULTURA E RELIGIÃO A Índia é um país bastante diversificado. Sua cultura é rica de informações e crenças, hábitos e costumes herdados tanto do oriente como do ocidente. As paisagens são repletas de contrastes, um misto de belezas e desgraças que ao olhar estrangeiro provoca a curiosidade de saber como essas pessoas conseguem se organizar no caos presente. Suas tradições são fortemente seguidas ao mesmo tempo em que o futuro tecnológico instala-se rigorosamente em seus cotidianos. Os indianos absorveram todas as invasões que sofreram, mas mantiveram suas tradições. Dizem que nenhuma época eliminou a anterior. [...] E nem poderiam, pois a noção de tempo da Índia tradicional é cíclica. Não tem começo nem fim. Segue adiante continuamente. [...] Na memória indiana, o passado se confunde com o futuro. E isso é evidente até no vocabulário: a palavra kal em híndi quer dizer tanto amanhã quanto ontem. (COSTA, 2015, p. 13) Um país que abriga mais de um bilhão de habitantes não poderia ser de outra maneira, senão fortemente diversificado em vários aspectos, como por exemplo, sociais, culturais e religiosos/espirituais. Conforme Pétrola (2004, p. 62), “com dois idiomas oficiais (o hindi e o inglês), a Índia acolhe outras 14 línguas principais e 844 dialetos falados em diversas regiões”. Há diversidade também nas religiões: “Os hindus formam 85% da população indiana, mas o país é um mosaico de culturas e religiões: sikhs, católicos, parsis, jainistas, budistas, entre outros. Além disso, a sociedade indiana é dividida em castas – que não se limitam mais apenas à religião hindu” (PEREIRA, 2010, p.45). Muitos confundem a cultura indiana com a cultura hindu, pois elas estão bastante interligadas devido à numerosa população de indianos adeptos ao hinduísmo, sendo assim, até mesmo o Direito indiano é confundido com o Direito hindu. “Direito indiano e Direito hindu não são sinônimos; o primeiro é o Direito do Estado indiano, que se aplica a todo e qualquer dos seus habitantes, não importando qual seja a sua Religião, enquanto o Direito hindu é o Direito que somente se aplica à comunidade hindu” (CAMPOS NETO, 2009, p. 71). Como bom exemplo dessa discordância entre os direitos civis indianos e os religiosos, no caso do hindu, podemos citar as castas. As castas são um tipo de organização social que segundo Costa (2015) é uma ideologia que provém de textos milenares e preceitua que há uma hierarquia que define os homens e suas posições sociais e que estes não podem se desligar desta hierarquia nunca. Logo, quem nasce numa casta permanece nela para sempre. Desta 15 forma, pessoas de castas mais baixas como, por exemplo, os Párias (os intocáveis6), são severamente discriminados por quem é hindu e até mesmo por quem não é da religião, o que confirma como os costumes hindus estão instalados no inconsciente indiano. Já o Direito indiano repudia a discriminação por castas: A Legislação atual, tornando-se eco da vergonha do indianismo – como a “intocabilidade” –, fez com que modernos reformadores ou legisladores considerassem uma injustiça social, abolindo o grupo social dos Párias; porém, sua situação não melhorou muito e nem se sentem confortados. Os hindus ortodoxos – rigorosos na tradição e seus privilégios –, opõem grande resistência a esta Lei, nascida há cerca de 20 anos. (CAMPOS NETO, 2009, p. 84) Um dos personagens mais emblemáticos da Índia foi Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como Mahatma Gandhi, advogado por formação, lutou durante toda a sua vida pelos direitos dos indianos, minorias, e pregou a paz em seus discursos. Ele repudiava a “intocabilidade”, mas defendia as castas. É contrária à alma do indianismo que um homem atribua a si mesmo uma classe mais alta, ou designe a outros uma mais baixa. Todo mundo nasceu para servir à Criação de Deus, o Brâmane, por sua sabedoria, o Chatria, por sua força protetora, o Vaisia, por sua habilidade comercial e o Sudra, por seu trabalho corporal. Isto não quer dizer que todo Brâmane esteja dispensado do trabalho corporal, senão que tem maior disposição para o estudo, nem que um Sudra não possa adquirir sabedoria, senão que servirá melhor com seu corpo... (Palavras de Gandhi apud CAMPOS NETO, 2009, p. 83-84) Devido ao favorecimento de Gandhi na permanência das castas, para muitos indianos Párias, ou Dalits, ele é mal visto. Ao contrário, Ambedkar, um Dalit que lutava pelos direitos e respeito ao seu povo, é ainda hoje um ídolo para os “intocáveis”. Segundo Costa (2015) Ambedkar passou por muitas situações de humilhação no decorrer de sua vida, assimcomo a maioria dos Dalits, no entanto este teve a sorte de ser financiado por nobres indianos para estudar fora do país, sendo assim o primeiro Dalit a estudar no exterior. Retornando ao seu país ele tentou se firmar como advogado, mas não obteve êxito devido a sua “intocabilidade” e a partir de então, passou a lutar pelos Párias liderando manifestações, buscando aos poucos a igualdade social para sua casta. Ambedkar e Mahatma Gandhi, dois grandes ícones da Índia, eram rivais. Na sua luta contra a intocabilidade, Gandhi costumava limpar toaletes para dar o exemplo – um insulto para uma pessoa de casta alta. [...] Gandhi é uma figura histórica controvertida para muitos indianos e malvista por muitos dalits até hoje. Em uma visita que fiz a um grupo de homens dalits budistas em uma favela de Mumbai, em 2006, eles me perguntaram qual era o indiano mais admirado no Brasil. “Gandhi” eu 6 Chamados de intocáveis por que “realizavam ritualmente trabalhos que contaminavam, como o manuseio de defuntos.” (PONRAJ, 2012, p. 45). 16 respondi. Todos me olharam com profunda decepção. Eu tentei explicar que não havia nenhuma predisposição contra Ambedkar no Brasil. Os brasileiros simplesmente desconheciam sua existência. [...] Um exemplo foi a proposta de Ambedkar de criar um eleitorado separado para os dalits. Gandhi era contra porque temia a divisão da sociedade hindu e acabou vencendo o cabo de guerra utilizando a tática que adotaria mais tarde na luta contra a independência: a greve de fome. Ambedkar cedeu para que Gandhi encerrasse seu jejum, mas a mágoa ficou guardada e até hoje lideranças dalits acusam o líder pacifista de ter boicotado a ascensão política dos intocáveis. (COSTA, 2015, p. 36-37) Além das castas, outro aspecto interessante da cultura indiana são as festas, as datas comemorativas e a forma como eles festejam. Entre as tradições indianas preferidas dos turistas estão os festivais. Muito conhecido mundo afora como Festival das cores, o Holi, segundo Cachado (2010) é uma celebração hindu à chegada da primavera, ocorre geralmente entre os meses de fevereiro e março e tem como finalidade aniquilar coisas negativas e, consequentemente trazer a purificação. É realizado com uma brincadeira, onde as pessoas saem às ruas vestidas de branco para jogarem pós coloridos umas nas outras. No Brasil, por exemplo, podemos perceber que, ultimamente, vários Festivais das cores estão sendo promovidos, e estes atraem vários jovens que apreciam festas e músicas eletrônicas. Entre os mais conhecidos estão o Happy Holi – O festival das cores e o Holi One. Esses festivais, no Brasil, acontecem todos os anos e percorrem por várias cidades levando uma promessa de festa alegre e unificadora, onde os jovens se vestem de branco para depois preencher aquele espaço com os pós coloridos. Geralmente, a entrada nestes eventos é classificada como livre e, mesmo prevalecendo uma massa jovem, de crianças a idosos, todos são convidados a participar da celebração. Inspirado no Holi, da índia, o evento por lá acontece durante as celebrações da primavera, quando os participantes se pintam e lançam um pó colorido ao ar. O ponto alto da festa de música eletrônica é quando acontecem os colorblast´s, a cada 45 minutos, com uma explosão de cores quando todos lançam ao alto o pó colorido. (VEJA RIO, 2015)7 Além do holi, a Índia é morada de vários outros festivais conhecidos mundialmente que atraem milhares de curiosos todos os anos como, por exemplo, o Diwali, conhecido com Festival das luzes, que é celebrado pelo hinduísmo, jainismo8 e pelo sikhismo9; o Navratri, 7VEJA RIO. Festa de música eletrônica Happy Holi chega ao Rio. Disponível em: <http://vejario.abril.com.br/cultura-lazer/festival-de-musica-eletronica-happy-holi-acontece-pela-primeira-vez- no-rio/>. Acesso em: 25 nov. 2015. 8“O jainismo é uma religião indiana cuja fundação remete ao século VI a.C, na bacia do Gangis, e teria sido criada por Varnamana – um príncipe hindu que aos 28 anos decidiu abdicar de seus bens materiais para se dedicar à busca espiritual. A palavra “jina”, que dá origem à designação jainismo, tem o significado de “conquistador”. A base da religião jainista é a ideia de que cada ser humano está destinado a encarnar em http://vejario.abril.com.br/festas 17 Festival das nove noites, hindu, mas celebrado por boa parte dos indianos; o Durga Puja, que é uma espécie de continuação do Navratri; entre outros festivais. A aproximação com o ocidente fez com que a Índia não só mostrasse para o mundo particularidades de sua cultura, mas fez também com que o país absorvesse o processo de globalização e se acercasse das evoluções tecnológicas ocidentais. Como país emergente, a Índia vem sendo reconhecida por sua capacidade em Tecnologia da Informação (TI). “Das 500 empresas listadas pela revista Forbes como as maiores do mundo, cerca da metade adquirem seus sistemas de informação na Índia” (PEREIRA, 2010, p. 40). De acordo com Pétrola (2004) o país asiático vem se mostrando valoroso, a nível mundial, no ramo de desenvolvimento de softwares. Os Estados Unidos absorvem cerca de 60% dos aplicativos para computadores desenvolvidos na Índia e são seu principal mercado de destino, a ponto de a indústria indiana ter se transformado num prolongamento da economia norte- americana. A Europa é o segundo mercado para o software produzido na Índia, consumindo 21% de suas exportações, seguindo-se o Japão, que fica com 4%. Embora modesta, há previsões de que a demanda japonesa cresça no curto prazo. (PÉTROLA, 2004, p. 62) Assim percebemos que cada vez mais a Índia vem se tornando um país globalizado. Entretanto, essa globalização não penetra tanto no cotidiano indiano quando se trata da religião Hindu, que é reafirmada a cada dia com a eternização dos rituais diários e a perseverança do sistema casteísta. 3.1 Hinduísmo De acordo com Campos Neto (2009) a religião hindu resulta de uma tradição de origem milenar e não possui um único criador, sendo ainda uma religião que possui inúmeros deuses, mas estes se unificam numa força maior, um “Ser Universal”, denominado Brahman. A palavra hinduísta significa simplesmente “indiano” (da mesma raiz do rio Indo), e talvez a melhor maneira de definir o hinduísmo seja dizer que é o nome das várias formas de religião que se desenvolveram na Índia depois que os indo-europeus abriam caminho para a Índia do Norte, de 3 a 4 mil anos atrás (Gaarder et al., 2001, s.n.) sucessivos corpos, perfazendo um longo ciclo de reencarnações até atingir o estágio máximo de evolução, quando, então, a sequência de ciclos reencarnatórios cessa.” (BARROS, 2013, p. 138). 9“O sikhismo acredita na existência de um único Deus e nos ensinamentos de dez Gurus. [...] Para um sikh, deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. [...] Esta religião, fundada por Guru Nanak, nos finais do século XV, no Punjab, integra elementos do hinduísmo e do misticismo do islã (o sufismo).” (RAJPUT, 2012, p.46). 18 “Uma das características principais do pensamento hindu é a tendência para a introspecção, daí a sua atitude passiva e tranquila, a vida interior contemplativa, a filosofia, a actividade religiosa, a vida cenobática e monástica, o pensamento metafísico e a renúncia” (FRIAS, 2003, p. 185). Os hindus seguem uma vida cheia de regras e abnegações, e geralmente, fazem isso de forma rigorosa, pois eles acreditam na reencarnação. Para eles a vida é cíclica, e este carma, só finda quando eles levam uma vida seguindo todos os preceitos hindus. Desta forma, Campos Neto (2009) afirma que a maioria dos adeptos do hinduísmo opta por serem vegetarianose acreditam que todo ser vivo deva ser respeitado. Ou seja, se um hindu não seguir o propósito de sua vida, este não sairá do ciclo e poderá, de repente, voltar em forma de animal, por exemplo. Segundo a tradição védica (dos Vedas, escrituras sagradas), os sábios hindus - chamados rishis - descobriram que todo ser individual (fosse um homem, fosse uma pedra) estaria ordenado a um fim que lhe seria próprio. Um fim que, caso cumprido, traria a felicidade plena daquele sujeito. Ou seja: existiria uma lei da existência. E isso foi chamado de darma, enquanto a ação de fazer cumprir essa lei recebeu o nome de carma. A sintonia perfeita entre darma e carma leva à suprema iluminação, ou libertação. Já os seres que se afastam em vida da lei da existência se mantêm aprisionados no ciclo de nascimento, morte e transmigração - chamado em sânscrito de samsara. (OPPERMANN, 2015)10 No hinduísmo, assim como no cristianismo, há uma espécie de “Trindade Santa”. Conforme Frias (2003) a trindade hindu é chamada por Trimurti e nela encontra-se o Deus Brahma, o criador, e seria esse o mais importante, Vixnu, o conservador, e Xiva, o destruidor. É interessante notar que, na Índia, as coisas são tão “ramificadas”, por assim dizer, ou mesmo complicadas, que diversos autores apresentam os nomes dos deuses com escrita diferente. Para Campos Neto (2009), por exemplo, o Trimurti é apresentado como, Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma nascido de uma flor de lótus que floresceu no umbigo de Vishnu. Brahma é o Criador que constrói o Universo a cada ciclo do mundo. Embora seja o membro principal do Trimurti, não é venerado com freqüência de maneira independente. Como Vishnu e Shiva representam forças opostas, Brahma é o equilíbrio. (CAMPOS NETO, 2009, p. 74) Uma das características fortes do hinduísmo está na variedade e quantidade de deuses que eles veneram. Segundo Campos Neto (2009) cada um dos principais deuses, Brahma, Vishnu e Shiva possuem uma representação feminina, Sarasvati para Brahma, Lakshmi para Vishnu e 10OPPERMANN, Álvaro. Hinduísmo - 330 milhões de divindades. Revista Superinteressante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/hinduismo-330-milhoes-de-divindades>. Acesso em: 25 novembro 2015. 19 Parvati, benigna, ou Durga, temível, para Shiva; e esses ainda podem gerar novos deuses, como por exemplo, Ganesha, o deus com cabeça de elefante, que é fruto da união entre Shiva e Parvati. E assim, deuses geram mais deuses. “O número oficial de deuses na Índia chega a 330 milhões. Extraoficialmente, porém, essa conta bate na casa do bilhão” (OPPERMANN, 2015)². No cristianismo temos como forma de guia espiritual, a Bíblia Sagrada, para os hindus, as palavras que guiam todos os passos de suas vidas, estão escritas nos textos Védicos. Os Vedas - significado de conhecimento - são constituídos de quatro Samhitas (coleção de antigos textos Shruti, compostos no ano 1000 a.C.) e recompostos muitos anos depois. Da quadrilogia Vedas, temos Rigveda, Yajurveda, Sammaveda e Atharvaveda; cada um possui um Brahmana (texto explicativo) um Arauyaka (conjunto de fórmulas mágicas) e um Upanishad (ensinamentos). (CAMPOS NETO, 2009, p. 81) Nesses textos estão os ensinamentos básicos da religião hindu, no entanto como Santoro e Sartorelli (2015) explicam estes não são compostos de leis, mas sim de rituais. Os Vedas são textos ritualísticos, e não uma enciclopédia de procedimentos religiosos”, diz Carlos Eduardo Barbosa, especialista em cultura hindu e professor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala, em São Paulo. Além disso, todos os textos incorporam um conceito filosófico que está na origem de todo o sistema de crenças hinduísta e permanece vivo na maioria das correntes existentes hoje em dia: o monismo. “Segundo essa filosofia, somos todos partes de uma coisa só, que é uma espécie de inteligência divina”, diz o historiador Edgard Ferreira Neto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. (SANTORO; SARTORELLI, 2015)11 Outro aspecto inerente ao hinduísmo é a organização social que distingue as pessoas através do sistema de castas, onde os hindus são divididos através de uma hierarquia, entre: “Brâmanes (sacerdotes), Xátrias (guerreiros), Váxias (comerciantes), Sudras (camponeses e trabalhadores) e os Parias (os Intocáveis, sem direitos na sociedade)” (LOUZADA; LABORDE, 2009, p. 5). Segundo Ponraj (2012) os Parias, na realidade, não são considerados hindus, pelo menos não pela comunidade hindu, mas apenas para o governo. Ele afirma que as castas teriam se originado, assim como o hinduísmo, com a chegada dos arianos à Índia. Ponraj (2012) nos mostra um antigo hino Rig-Veda que explica a origem mítica das castas: Quando os deuses fizeram um sacrifício com o Homem como sua vítima... Quando dividiram o Homem, em quantas partes o dividiram? Como foi a sua boca,como foram seus braços, como foram as suas coxas e seus pés chamados? 11 SANTORO, André; SARTORELLI, André Victor. Os Vedas: um livro aberto. Revista Superinteressante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/os-vedas-um-livro-aberto>. Acesso em: 25 novembro 2015. 20 O Brahman era a sua boca, o guerreiro foi feito de seus braços. Suas coxas se tornaram Vaishya, dos seus pés o Shudra nasceu. Com sacrifício os deuses sacrificaram o Sacrifício, essas foram as primeiras leis sagradas. (PONRAJ, 2012, p. 47) Ponraj (2012) afirma que a palavra em sânscrito para castas seria Varnan que significa cor, assim a questão racial seria uma das explicações para a criação do sistema de castas. Pereira (2009) nos diz que é possível conhecer a casta de outra pessoa através do sobrenome da família, seja este proveniente dos pais, para filhos solteiros ou vindos dos maridos para as que são casados. Na tentativa de apresentar sumariamente a casta, pode-se adiantar que, na sua heterogeneidade, é definida pela endogamia (a proibição de casar fora do grupo), pela comensalidade (restrições na partilha de alimentos cozinhados e água entre grupos) e pela ocupação profissional (a assumpção de que uma certa profissão é hereditária e característica de uma casta). (PEREIRA, 2009, p. 20) Muito se discute sobre a real necessidade e origem das castas, pois estas distinções geram muito preconceito e até rivalidade entre os mesmos, o que contraria totalmente os dogmas da religião hindu. De acordo com Campos Neto (2009) existe uma teoria de que o sistema de castas seria proveniente dos arianos que se infiltraram na Índia nos anos 2000 a.C., entretanto, nos textos védicos, que seriam a principal fonte de saberes sobre a invasão ariana na Índia, não são mencionadas as castas. Para Ponraj (2012) há ainda como classificar o hinduísmo em três tipos: Hinduísmo Tribal, Hinduísmo Rural e Hinduísmo Militante. O Hinduísmo Tribal, na verdade, não chega a ser hinduísmo, eles poderiam se converter ou mesmo ser influenciados pelo hinduísmo, mas sua fé está em espíritos, sacrifícios de sangue e magias. Já o Hinduísmo Rural/Popular é uma mistura entre o Hinduísmo Tribal e Ortodoxo (militante). Estes crêem em vários deuses, em ofertas, em adorações a templos, em oração, em astrologia, como também em sacrifícios de sangue, bruxarias ou feitiços, e são mais receptivos a outras crenças. O Hinduísmo Militante ou Ortodoxo é aquele mais severo, onde eles acreditam que apenas nas escrituras védicas se encontra a verdade e as respostas para os problemas do mundo; onde um hindu só pode ser hindu se este for também indiano, assim como um verdadeiro indiano deveria ser hindu, e também que a Índia é o único local perfeito para desenvolver a espiritualidade. Apesar dessa afirmação de que um verdadeiro indiano deve ser hindu, não é o que se pratica pelos hindus ortodoxos quando renegam, por exemplo, os “intocáveis”. 21 A últimacasta, a dos shudras é considerada como formada por pessoas que devem servir as pessoas das outras três castas acima. Os shudras, como vimos anteriormente, teriam saído dos pés de Brahman, e por isso recebem a posição dos serviçais. Dessa forma, não há lugar para os “intocáveis”, pois eles não têm casta, e se não tem casta teoricamente não são hindus. No entanto, o que se vê é que mesmo sem serem considerados hindus, os párias e os hindus rurais, muitos deles, ainda se casam seguindo os rituais hindus. 3.2 A mulher indiana No imaginário dos homens indianos, a mulher indiana é símbolo da beleza maior. De acordo com Faux et al (2000) poetas cantavam as belezas das mulheres indianas exaltando suas formas e nos mostra a descrição de um poeta chamado Kalidasa, do século VI: [...] “protótipo de mulher lasciva pelo Criador, esguia e cheia de juventude, tem os dentes pontudos e lábios vermelhos como a fruta bimba; sua cintura é estreita e seu olhar o de uma gazela assustada; seu umbigo é profundo; anda com passos comedidos devido à plenitude de seus seios”. A cor da boca-de-leão é avivada nos lábios com suco de ameixas selvagens e de cera para fixar e brilhar. (Kalidasa apud FAUX et alii, 2000, p. 266-268) No entanto, essa visão de mulher perfeita está ligada às imagens das deusas, e ao mesmo tempo em que se tem deusas fortemente idolatradas na religião hindu, as mulheres comuns são em sua maioria negligenciadas e muitas vezes desprezadas pela sociedade que a cerca. Por vezes sua beleza é exaltada, representando a deusa, é vista como forte, inteligente e de beleza fascinante, e em outros momentos é tida como o incentivo para o mais profundo dos pecados, sendo ela que leva o homem ao caminho da perdição. Na Índia, ter uma filha, não é o desejo da maioria das famílias, pois ela é considerada um prejuízo para as famílias, já que esta será criada para, quando crescida, ser entregue a outra família, através do casamento, levando consigo parte das riquezas de sua família, o dote. De acordo com Costa (2015) é comum que o sacerdote hindu deseje a noiva indiana, durante o casamento, que ela seja mãe de cem meninos. E quando estas ficam grávidas, todas as mulheres da família fazem orações aos deuses para que o feto seja de um menino, ou mesmo se este for uma menina, que ele se transforme em menino. Com o advento da tecnologia, as mulheres passaram a poder identificar o sexo do feto antes de seu nascimento, com os exames de ultrassonografia. Costa (2015) nos afirma que esse exame acabou sendo proibido na Índia, pois quando os pais descobriam que o feto era de uma menina, tratavam logo de fazer um aborto; essa prática ficou conhecida como aborto 22 seletivo. “Teoricamente, as mulheres que buscam o aborto seletivo podem ser condenadas a três anos de prisão e pagar uma multa equivalente a mais de US$ 1 mil. Médicos que informam o sexo do feto podem perder sua licença profissional e estão sujeitos a até cinco anos de prisão” (COSTA, 2015, p. 118), mas a punição raramente acontece. É ainda muito comum o abandono e o assassinato de meninas na Índia. O site Diário do Centro do Mundo12 publicou em 2013, trechos traduzidos do livro “Casamento Arranjado” de autoria de Sushi Das, uma jornalista que nasceu na Índia, cresceu na Inglaterra e que se fixou na Austrália como editora de opinião do jornal The Age. Segundo o site, Sushi Das descreve, em seu livro, de forma humorada, como é ser uma mulher indiana e suas dificuldades. Em um dos trechos traduzidos ela diz: Garotas. Elas são uma dependência econômica para os pais indianos. A criação delas é cara. Elas podem arruinar a reputação da família com o poder da indiscrição. Elas precisam de um dote quando você as casa, e o que você recebe de volta? Nada além de preocupação e miséria. Garotos, por outro lado, são produtivos economicamente. Quando crescerem, ganharão salários, trarão uma esposa para casa, recebendo o dote desta, e agirão de modo a preservar e trazer prosperidade à situação dos pais, quando estes envelhecem. Quem não desejaria filhos?Por sorte, tivemos um filho em nossa família. Mamãe não era mais apenas a mãe de filhas; era a mãe de um filho. Seria melhor ter sido mãe de vários filhos, mas mamãe estava grata por ter apenas um. Grata por ter sido recompensada por uma autoridade elevada, ela era capaz de estender sua profunda simpatia para qualquer mulher negligenciada por Deus. (Sushi Das apud Diário do Centro do Mundo, 2013) E se tratando de noivas, Costa (2015) afirma que é comum acontecer suicídios de mulheres devido a pressões psicológicas ou físicas que elas sofrem; em muitos outros casos as esposas são assassinadas por não terem entregado o dote prometido. Uma das formas mais comuns de assassinato é encharcando a esposa com querosene e ateando fogo nela, e assim, pode-se usar como desculpa que esta morreu por acidente de cozinha, já que as suas cozinhas são equipadas com fornos que funcionam a base de querosene. Quando idosas as mulheres podem ser consideradas respeitosas e sábias devido a sua experiência de vida, mas se forem viúvas podem ser consideradas apenas um fardo para a família, mesmo sendo uma viúva jovem, e terminam sendo abandonas para mendigar nas ruas. No entanto, se a viúva for jovem esta ainda pode se casar com seu cunhado, que assim assume responsabilidade pela antiga nora, agora, esposa. 12 DAS, Sushi apud Diário do Centro do Mundo. Uma escritora conta o que é ser mulher na Índia. [S.I.]: Diário do centro do mundo, 2013. Disponível em: < http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-vida-dificil-das- mulheres-nascidas-na-india/>. Acesso em: 27 setembro 2016. http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-vida-dificil-das-mulheres-nascidas-na-india/ http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-vida-dificil-das-mulheres-nascidas-na-india/ http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-vida-dificil-das-mulheres-nascidas-na-india/ 23 As mulheres, geralmente, são vistas como propriedades masculinas, seja de seu pai ou posteriormente de seu marido. De acordo com Jostein Gaarder et al. (2001) o status de uma indiana casada, sem filhos, não é dos melhores, e se a mulher for solteira pior ainda. No entanto, a Índia está entre os primeiros países a ter uma mulher exercendo um papel político de grande importância. Indira Gandhi foi primeira-ministra da Índia durante quinze anos, primeiro mandato entre 1966 a 1977 e o segundo mandato entre 1980 e 1984. “Muitas mulheres desfrutam de notável influência pública, e em nenhum outro país do Terceiro mundo há tantas mulheres trabalhando fora de casa” (Gaarder et al., 2001, não paginado). É notável que a mulher indiana tenha de se manter sempre atenta, pois em poucos segundos ou por conta de detalhes, esta pode deixar de ser endeusada para ser desmoralizada e amaldiçoada. Muitas mulheres na Índia são criadas para servirem como moeda de troca das famílias. Felizmente, o contato com culturas ocidentais, está fazendo com que muitas indianas repensem a forma como são tratadas e tenham ciência de que merecem ser respeitadas assim como se respeita aos homens. 24 4 NOIVAS E CORES Nos costumes ocidentais, geralmente, as noivas usam vestidos de casamento na cor branca. De acordo com Monger (2004, apud CARVALHO, 2012, p. 47) “elementos culturais ocidentais estão presentes em metade dos casamentos japoneses e o vestido branco é reconhecido, em grande parte do mundo, como símbolo do casamento”. O vestido branco, tempos atrás, remetia obrigatoriamente à pureza e castidade da noiva, onde Gonçalves (2013) afirma que a pureza da moça estava associada ao uso da vestimenta branca no dia do casamento, revelando assim o prêmio maior, que seria a virgindade dela; e ainda nos diz que a vestimenta branca é o divisor de águas entre o limpo e o sujoe desta forma pode ser associada tanto a limpeza corporal ou a pureza da alma, remetendo assim, a sacralidade cristã. A consolidação de Maria no imaginário feminino vai além da imagem sacra que repousa nas igrejas católicas, saindo nos momentos de festividade dedicada a ela em forma de procissão [...] no período de 1958 a 1968, o casamento, sobretudo o católico, com a noiva em vestido longo, branco ou branco alvíssimo, com grinalda de flores na cabeça e um longo véu, a exemplo de um manto, parece representar a busca e o encontro com a senhora maior do cristianismo [...]. (GONÇALVES, 2013, não paginado) Carvalho (2012, p.42) nos diz que “atualmente, o vestido branco não possui essa mesma implicação, visto que a pureza da noiva não é mais enaltecida nem requerida para que o matrimônio ocorra, mas branco tornou-se, tradicionalmente, a cor do traje nupcial”. Muitas mulheres, ocidentais, sonham em casar na igreja, de véu e grinalda e usando, claro, o tão desejado vestido de noiva branco. Algumas sonham toda a sua vida com o momento da entrada da noiva na igreja. Um eficiente fortalecedor dessa tradição, aqui no ocidente, são os filmes e as novelas que propagam uma imagem de “esplendor da noiva casta” entrando na igreja. Mas de onde veio realmente essa tradição, muitos não sabem. A Rainha Vitória da Inglaterra foi a pessoa que consagrou o vestido de noiva branco como também a cor preta para o luto. De acordo com Garbelotto e Mitidieri (2010) a Igreja Católica era quem ditava as diretrizes do casamento, e no final do Renascimento o modelo de elegância barroco foi instituído pela corte católica da Espanha. O preto deveria ser usado para demonstrar uma boa índole religiosa, e esse costume passou a ser usado nos vestidos de noivas dessa época. A Rainha Vitória, segundo Garbelotto e Mitidieri (2010) foi responsável por mudar a simbologia do vestido de noiva, pois apesar de algumas mulheres já terem se casado de branco, antes mesmo de Vitória, foi a monarca quem introduziu a associação da cor branca à 25 pureza e ao romantismo, já que ela teria sido a primeira noiva da realeza a se casar declaradamente por amor; e foi também quem perpetuou o costume, já que sua influência era grande por fazer parte da corte; a partir de então as noivas passaram a usar branco. “Esse traje já trazia todas as características da indumentária de noiva dos nossos dias: o vestido era branco, assim como o véu completado por uma grinalda de flores de laranjeiras” (GARBELOTTO; MITIDIERI, 2010, p. 6-7). Os autores afirmam ainda que houve outro fator, que segundo eles, teria influenciado bastante para a perpetuação do costume do vestido de noiva branco, que teria sido uma proclamação do Papa Pio IX, no ano de 1854, onde ele dizia que as moças deveriam usar vestido de noiva na cor branca para fazer referência à Maria Imaculada, como à Imaculada Conceição. Este pronunciamento papal teria estabelecido o tradicional romantismo católico, que ditava a noiva qualificada como uma noiva virgem. “Esta bula agregou à sua vestimenta um adereço de mão que podia ser um terço ou um pequeno livro de orações, porque além de casta, a noiva deveria ser também religiosa” (GARBELOTTO; MITIDIERI, 2010, p. 7). Segundo Carvalho (2012) a roupa da noiva é como algo sagrado e esse é um status que nenhum dos outros trajes referentes à festa vai ter. E até hoje muitas mulheres ocidentais, desejam e casam usando um vestido branco, pois a ideologia romântica ficou tão cravada no imaginário dessas mulheres, e também dos homens, que muitos entendem que a noiva casar de branco é praticamente uma obrigação. Já na Índia, as conotações de cores podem ser totalmente diferentes das que conhecemos no ocidente, e devido a isso, muitas vezes o choque cultural é tão grande, que alguns criam preceitos negativos sobre uma cultura como a do povo indiano. A natureza por si só, nos rodeia com suas infinitas cores e nuances. Estas nos cortejam diariamente a cada direção em que olhamos. Desde tempos antigos as cores nos transmitem informações, elas nos comunicam sinais, emoções, advertências, ou seja, são carregadas de simbologias, a princípio interpretadas por associações às ocorrências da natureza, mas ao longo dos anos ganharam várias outras significações através das diferentes culturas como também, da modernidade. “No curso da história, as pessoas desenvolveram muitas diferentes tradições de representação. Estilos de construção de imagem variam segundo a cultura, tecnologia e localização [...]” (FRASER; BANKS, 2007, p.14). Para quem observa o país indiano, é possível perceber facilmente como é forte a diferença entre os ocidentais e os indianos com relação às cores usadas tanto nas roupas como em decorações, ou várias outras situações. Na índia as cores usadas são em sua maioria intensas, tudo é muito forte e exagerado. Enquanto nós, ocidentais, usamos um rosa pastel, os 26 indianos usam o rosa-choque. Perceba que no ocidente nós também usamos rosa-choque, só que o fazemos, geralmente, quando é tendência, diferentemente da forma e frequência como é usada na Índia, onde não importa qual a tendência vigente, sempre se pode usar o rosa-choque ou trazer combinações de cores intensas e berrantes, como afirma Costa (2015): A influência ocidental tem provocado uma reviravolta no guarda-roupa indiano. Mas o país continua colorido. As cores representam a vida. Combinações que para o olhar ocidental são fortes demais, para os indianos são normais, como rosa-choque com azul-turquesa, verde-abacate com laranja, ou roxo com vermelho. (COSTA, 2015, p. 285) O branco na Índia, por exemplo, pode ter uma conotação bem diferente da ocidental. De acordo com Costa (2015, p. 285) “bege e branco são considerados cores mortas, boas para velório”; já Wills (2000, p. 19) afirma que no hinduísmo, maior parte da população indiana, “o branco é associado com a condição suprema, sattva, que representa a paz e a verdade divina”. No entanto, Perez et al (2006) justifica que devemos ter ciência de que uma cor pode provocar, em alguns momentos um sentimento positivo e em outras circunstâncias, um sentimento negativo, e ainda diz: “ [...] a cor branca é signo de paz e harmonia e de tristeza e morte (no Oriente, particularmente na Índia)” (PEREZ et al, 2006, p. 97). Sendo assim, podemos concluir que mesmo dentro de uma mesma cultura, a significância das cores pode variar e isto pode ser exemplificado com a cor branca, no uso dela, por exemplo, pelos brâmanes, que como já vimos representam a casta mais alta, fazendo referência ao uso da sabedoria; como também o uso da cor branca pelas viúvas, ou seja, a cor do luto, da morte. Para Fischer-Mirkin (2001), o branco, no ocidente, representa limpeza, altruísmo e remete a um aspecto angelical. Aqui já podemos perceber pontos de vista comuns, mesmo em culturas tão diferentes. Em vista disso, o branco é a cor que revela os erros, oposto ao preto, remetendo assim, a verdade e ao altruísmo. Por isso esta cor é associada aos sábios e no caso dos indianos hindus, aos Brâmanes. No hinduísmo, o preto, segundo Wills (2000, p. 19) significa “a condição mais baixa do ser, conhecida como tamas. Essa condição se traduz em letargia e sensualidade”. Costa (2015) nos diz que pela tradição o preto não é popular, pois este não seria “auspicioso”. No entanto já seria possível observar garotas de elite, usando o nosso “pretinho básico” em festas mais modernas. Já no Ocidente, segundo Fischer-Mirkin (2001) o preto pode representar elegância e mistério, e é uma cor bastante usada pelas mulheres quando estas não querem errar no look; pode representar ainda invisibilidade ou severidade, ou até mesmo erotismo; o autor ainda 27 fala que antigamente as mulheres que usavam o preto, eram aquelas reconhecidas como experientes sexualmente. O preto refere-se ainda a algo desconhecido e completo.Podemos até pensar em preto como escuridão, esta sempre nos traz um sentimento de insegurança, pois não podemos enxergar o que acontece na escuridão, ou o que o outro está fazendo. Dessa forma, os atos podem ser mascarados na escuridão e assim seria possível encobrir ações consideradas “erradas”. O preto então seria inconscientemente a cor que dá margem ao erro, ao pecado, e aquilo que “incentiva” o pecado não é “auspicioso” para os indianos. Já o vermelho, é uma cor bastante usada na Índia, principalmente pelas mulheres. Os indianos acreditam que a cor vermelha é uma cor “auspiciosa” e de acordo com Perini (2011) os indianos enxergam o vermelho como cor representante dos soldados e também sinalizador de pureza, por isso é usado para as noivas indianas nos casamentos. De acordo com Heller (2008) o vermelho seria a cor sagrada que representa Lakshmi, deusa indiana símbolo da beleza e da riqueza. Figura 1 – Indianas com sáris coloridos. Fonte: El Diario Montanes13 Acesso em: 24/01/2017. Fraser (2007) já nos traz outra visão mencionando que no misticismo indiano e nas terapias holísticas, o vermelho faz parte do mais baixo dos sete chacras14, que fica na base da 13 El Diario Montanes. As cores mágicas da Índia. Disponível em: < http://www.eldiariomontanes.es/fotos/internacional/201508/08/magicos-colores-india-30113657182460- mm.html >. Acesso em: 24 janeiro 2017. 28 espinha dorsal. Representa ainda “paixão, perigo, raiva, amor, sexo, poder - o vermelho evoca qualquer tipo de sentimento forte” (FRASER, 2007, p.21). Aqui, podemos perceber que já há uma maior distância, em questão de significados e representação das cores entre a cultura indiana e a ocidental. Apesar de as mulheres de ambos os costumes usarem bastante vermelho, sua conotação para elas é redondamente divergente. Ao usar vermelho, a mulher ocidental pretende emitir sensualidade, erotismo ou poder, em sua maioria, enquanto a mulher indiana usa o vermelho no casamento, pois este simboliza a pureza, que para nós, ocidentais, seria representada pelo branco. O dourado, segundo Wills (2000, p.19) simboliza “[...] para os hindus, imortalidade luz e verdade. Essa cor é associada a Agni, o deus hindu do fogo e uma das três grandes divindades.” Já numa linguagem mais globalizada o dourado pode remeter a riqueza ou realeza. Segundo Bastos, Farina e Perez (2006, p. 106) “por ser raro, pouco abundante, a cor ouro tem associações vinculadas à escassez; dinheiro, luxo e até felicidade” e ainda afirmam que pode remeter ainda a fama e glamour. No simbolismo cristão, a cor ouro é signo do sagrado. Podemos evidenciar até mesmo a origem da palavra “auréola”, vem de aurum – ouro: signo revelador da santidade. Percebemos também que as cores do Vaticano são amarelo e branco, ou seja, ouro e prata, que são as cores do primado de Pedro. (BASTOS; FARINA; PEREZ, 2006, p.107) Assim podemos perceber que quando se trata de religião a cor dourada se refere a uma questão de soberania da fé e do deus criador. Sendo assim, podemos entender que todos os adornos dourados, sejam nas joias ou nos bordados da roupa da noiva, aludem ao ser divino em condição plena. Mas certamente não deixam de simbolizar riqueza, já que as famílias fazem questão de exibir as melhores joias, usadas tanto pela noiva como pelas demais mulheres da família. Bastos, Farina e Perez (2006) nos dizem que o verde remete à umidade, calma, frescor, esperança, amizade, equilíbrio além de sugerir associações com a natureza e ecologia; sendo também uma cor que favorece o surgimento de paixões. Pires (2011) explica que para os indianos além de simbolizar calma e equilíbrio também é associado a rejuvenescimento e renovação; e explica que nos rituais hindus são usadas folhas verdes de plantas sagradas para fazer referência a natureza e sua importância. Dessa forma podemos reconhecer que o verde 14 “A palavra chakra vem do sânscrito “roda” ou “disco” e originou-se na filosofia do antigo sistema de yoga da Índia, mais especificamente dos textos Tântricos. Nesse sistema, há sete chakras principais distribuídos verticalmente ao longo da coluna vertebral, começando na base da coluna e terminando no topo da cabeça. No corpo físico, esses sete chakras correspondem aos principais gânglios nervosos, glândulas do sistema endócrino e vários processos corporais, como a respiração, digestão ou procriação (JUDITH, 2004, p. 4).” 29 no casamento hindu é usado simbolizando a mudança de vida, um novo começo, e esta renovação deve ser vivenciada com equilíbrio e tranqüilidade para que o casamento tenha bases sólidas e duradouras. Sobre o rosa, Heller (2013) nos diz que pode ter conotações infantis e de carinho, como também de sexualidade por conta da semelhança com tons de pele; o rosa também lembra feminilidade e gentileza. Para Bastos, Farina e Perez (2006) o rosa ainda se refere à encanto e amabilidade. Há também o rosa choque ou pink que é uma cor mais forte, e a versão do rosa que as indianas usam com maior frequência. Segundo Heller (2013) o rosa choque é considerada uma cor berrante e que não possui seriedade; é relacionada também a artigos de plásticos mais baratos. Na Índia, nota-se que as percepções do rosa não são tão diferentes das percepções ocidentais. O que acontece é que no ocidente o que se lê como berrante e sem seriedade (conotações negativas), na Índia se lê como vibrante e alegre (conotações positivas). As cores vão sempre emitir sensações nas pessoas, mas é importante que se observe em cada cultura separadamente; já que muitas vezes as concepções de sociedade, de religião, de ética, e mesmo de estética de cada cultura é divergente, pois tiveram a construção de suas sociedades realizadas em diferentes referenciais e momentos históricos, e assim acontece com a construção da simbologia das cores para cada cultura. 30 5 A NOIVA INDIANA O casamento indiano hindu, como já observamos, é muito diferente do casamento à moda ocidental. Começando pelos próprios conceitos de família e pela forma como se consegue um parceiro. Na Índia os casamentos são arranjados, ou seja, são os pais quem escolhem os parceiros de seus filhos. Depois, estes iniciam uma maratona de negociações entre as famílias para saber dos dotes de cada um dos pretendentes, como também para saber se as informações passadas pela outra família são verdadeiras, como por exemplo, a casta ou a renda da família,; ou mesmo descobrir se um dos lados possui algum segredo que comprometa a honra das famílias. A noiva e o noivo indianos passam por uma série de ritos até chegarem ao dia do casamento de fato. Geralmente, as festas preparatórias para o casamento, duram em torno de uma semana. Figura 2 - Noiva indiana hindu. Fonte: Youtube.com15 (Print Screen). Acesso em: 13/01/2017. É interessante notar através dos filmes e em alguns vídeos de casamentos indianos reais, que as noivas, em sua maioria, chegam à cerimônia de cabeça baixa, o olhar é tímido e o sorriso quase imperceptível, parecendo até insatisfeitas, o que diverge de todo o espírito da celebração, pois toda a sua ornamentação remete a um grande festejo, rico e farto. Costa (2015) confirma essa percepção com um relato sobre um casamento que ela acompanhou em sua viagem à Índia: “Logo na entrada do salão onde ela se encontraria com Deetimar, Richa procura olhar para baixo, um sinal de comedimento que as noivas devem demonstrar. É por 15 NISHA Patel & Elliott Groves - Cinematic Hindu Highlights. Robles Video Productions, 2015. (10min 45s), son., color.Disponívelem: <https://www.youtube.com/watch?v=AN2qwx6UgJk>. Acesso em: 13 janeiro 2017. https://www.youtube.com/channel/UCSHLIoX0D26bq4xc3oyocXQ 31 isso que boa parte delas não abre um sorriso de orelha a orelha nas fotos” (COSTA, 2015, p. 101). A noiva anda sempre muito comedida, talvez até por conta do grande peso que ela carrega em cima de si, já que são inúmeros adornos. Entretanto, há de fato um comedimento por conta das crenças em sua religião, onde o homem está sempre acima da mulher e esta lhe deve sempre obediência e respeito. 5.1 O traje da noiva As roupas, que podem ser o sári (ou saree) ou salwar kameez são sempre cheias de bordados e brocados de uma ponta a outra, somado ao peso dos vários metros de tecidos e das joias, nos braços, nas orelhas, na testa, nas mãos, nos pés, e na cabeça. Segundo Costa (2015) o salwar kameez é uma combinação de túnica que vai até a altura dos joelhos ou canelas, com uma calça bem larga e ainda a dupaata um echarpe que serve para cobrir os seios, já que essa é a parte do corpo que os homens indianos mais gostam, sendo assim o traje feminino que mais esconde as curvas das indianas, por isso é a opção das famílias hindus mais rígidas. Figura 3 – Salwar kameez. Fonte: Best Stylo16. Acessado em: 07/02/2017. 16 Best Stylo. Disponível em: < http://www.beststylo.com/new-punjabi-patiala-salwar-kameez-designs/>. Acessado em: 07 fevereiro 2017. http://www.beststylo.com/new-punjabi-patiala-salwar-kameez-designs/ 32 Em entrevista à revista Inesquecível Casamento, a figurinista Emilia Duncan (2016) – responsável pelo figurino da novela Caminho das Índias – afirma que o sári é dividido em duas partes. Uma blusa justa ao corpo, conhecida como choli – que para nós lembra o atual cropped – e uma saia longa, que pode ser rodada a partir da cintura, conhecida como ghagra, ou a partir dos joelhos, que se chama lengha. Podemos observar que há ainda uma forma de enrolar o sári em que este não abre roda alguma, mas também não fica justo ao corpo. Segundo Costa (2015) essa forma de usar o sári muito justo ao corpo, com blusinhas justas e curtas que permitam o vislumbre da barriga e das formas do corpo feminino de forma acentuada, são decorrentes dos sucessos de bollywood, sendo assim, famílias mais tradicionais evitam que as suas mulheres usem o sári desta forma. Figura 4 – Sári inspirado em Bollywood. Fonte: Pinterest.com17. Acessado em: 13/01/2017. Os saris mais sensuais desfilam nas telas de Bollywood. [...] Antigamente, na década de 1950, as heroínas dos filmes vestiam sáris comportados, que cobriam todo o corpo. Aos poucos surgiram os sáris apertados no bumbum. O sari de Bollywood foi escorregando cada vez mais para baixo da cintura, mostrando a barriguinha com piercing no umbigo. (COSTA, 2015, p. 287) Conforme Costa (2015) o sári é símbolo feminino e também do amadurecimento feminino, pois a menina indiana usa o sári pela primeira vez quando se torna adolescente. A 17 Sári inspirado em Bollywood. Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/482940760026665168/>. Acesso em: 13 janeiro 2017. 33 autora ainda nos diz que a choli não era obrigatória antigamente, mas por imposição dos britânicos, com sua moral da época vitoriana, foi que passaram a usá-la; então o costume e a moral dos britânicos influenciaram a forma de pensar dos indianos. A saia é formada por uma longa faixa de tecido, que mede em média seis metros. Dependendo da região, o sári é enrolado de diferentes formas, mas a maneira mais comum é enrolá-lo pelo corpo formando uma saia e depois lançando a ponta por um dos ombros. Este é fixado com auxílio de broches ou alfinetes para que fique seguramente preso em quem o veste. Segundo Costa (2015) houve várias tentativas de implantar o sári pronto para vestir, onde as suas pregas ou drapeados já estavam devidamente costurados, facilitando assim a forma de vestir, no entanto, essa moda não pegou entre as indianas. Figura 5 – Sári tradicional. Fonte: The Regal Diaries18. Acessado em: 07/02/2017. De acordo com Duncan apud Galvão (2016) os sáris são confeccionados geralmente em seda, algodão silk e chiffon; as peças podem ser bordadas, pintadas à mão e decoradas com diversos tipos de enfeites. “[...] o sári foi difundido pelas maharanis, as esposas 18 The Regal Diaries. Disponível em: < https://theregaldiaries.wordpress.com/tag/sabyasachi/>. Acessado em: 07 fevereiro 2017. 34 dos maharajas (em sânscrito significa grande rei), dos estados do norte e noroeste” (DUNCAN apud GALVÃO, 2016, não paginado). No dia a dia Costa (2015) certifica que as mais jovens evitam usar o sári, pois muitas não sabem vesti-lo como também pela falta de praticidade, dificultando os afazeres e movimentos da vida moderna. E assim, aquelas que desejam continuar na tradição e não enveredam para a ocidentalização, fazem preferência pelo uso do salwar kameez, uma combinação que serve tanto para homens como para mulheres. E apesar de, na vida moderna e urbana, muitas indianas rejeitarem os sáris, no momento do casamento ele é indispensável. 5.2 Rituais e símbolos Segundo Rodolpho (2004) a concepção de “ritual” inicial que a maioria das pessoas tem sobre esse assunto, é que este é um evento arcaico e formal, realizado apenas para celebrar acontecimentos especiais ou mesmo para ser realizado em cerimônias religiosas como cultos e missas; e nos explica que nenhuma dessas formas de pensamento está totalmente certa. Dizemos que os rituais emprestam formas convencionais e estilizadas para organizar certos aspectos da vida social, mas por que esta formalidade? Ora, as forma estabelecidas para os diferentes rituais têm uma marca em comum: a repetição. Os rituais, executados repetidamente, conhecidos ou identificáveis pelas pessoas, concedem uma certa segurança. Pela familiaridade com a(s) seqüência(s) ritual(is), sabemos o que vai acontecer, celebramos nossa solidariedade,partilhamos sentimentos, enfim, temos uma sensação de coesão social. (RODOLPHO, 2004, p.139) De acordo com Turner (2005, p.49) “o símbolo é a menor unidade do ritual que ainda mantém as propriedades específicas do comportamento ritual; é a unidade última de estrutura específica em um contexto ritual.” Sendo assim este é de extrema importância para ratificar as ações rituais. Como por exemplo, uma aliança colocada no dedo anelar da mão esquerda, que sela todo o ritual do casamento ocidental. Já no casamento hindu, pode-se dizer que a marquinha vermelha que o homem faz na testa da noiva com o dedo usando o sindoor19, é aliança que sela o compromisso. Segundo Galvão (2016) o sindoor simboliza bênçãos para que o casal tenha prosperidade. A partir desse dia a mulher casada terá de aplicar o sindoor todos os dias em sua testa, pois este funciona para elas da mesma forma como a aliança ocidental. No entanto, assim como nem 19 Pó avermelhado feito com uma mistura de açafrão e mercúrio 35 todos - os casados - usam alianças na cultura ocidental, algumas indianas hindus também não usam o sindoor mesmo estando casadas. De acordo com Faux et al (2000) esta marca vermelha traçada na divisão dos cabelos além de identificar a mulher casada simboliza que ela caminhará no caminho reto, ou seja, ali está a marca do compromisso com a sua religião e tradições, confirmando que a noiva fará de tudo para cuidar da sua família, do seu marido, e tomará o seu devido papel de esposa. De acordo com Costa (2015) há vários sinais que indicam as mulheres casadas na Índia; além do sindoor,há o mangalsutra, um colar de ouro com pedras pretas, muitas chudras nos braços, que são pulseiras vermelhas e brancas; grandes brincos e anéis, de dedos das mãos e dos pés; além de tornozeleiras e piercing no nariz. Segundo Pedrosa apud Cardoso (2010). O casamento é um momento forte na vida da mulher indiana. Alegria faustosa e ritos de volúpia. Longa trança perfumada com sândalo. Depilação completa. Máscara corporal de argila. Banhos com ervas perfumadas. Aplicação de curcuma ou de farinha de grão-de-bico misturada com leite. Fricções para dar a pele uma maciez de bebê. Olhos pintados de kajal. Linha das sobrancelhas realçada de pontilhados brancos. Jejum ritual de dois dias. Noite da hena em que mãos e pés são ornados com arabescos de mendhi, nome indiano da hena. Jóias de ouro. Sári vermelho bordado de ouro. Guirlandas de flores suaves. Olhos baixos sob o véu vermelho. (FAUX et al, 2000, p. 270-272) Como já foi dito, o casamento indiano hindu, dura mais de um dia e segundo a consultora indiana da novela Caminho das Índias, Mallika Rajagopal, são necessários no mínimo três dias. Um dia para os cumprimentos dos noivos e das famílias, um dia para o noivado e um dia para o casamento de fato. Um dos primeiro ritos que antecedem o casamento é a cerimônia do Haldi20, nesta tradição, o haldi é aplicado nos braços e rostos dos noivos pelos convidados, que um por um mergulham a mão no recipiente onde fica a mistura e sujam os noivos no rosto e nos braços. É geralmente uma cerimônia descontraída. Pelo que podemos observar nos vídeos cerimoniais de casamentos hindus, este rito é realizado separadamente para a noiva e para o noivo. No filme Vivah, podemos observar esse rito sendo realizado na casa de Prem. Conforme 20 Mistura feita de curcuma (açafrão) e outras especiarias. 36 Verano21, esse rito é realizado nos noivos e em sete mulheres casadas com intuito de afastar maus espíritos, e sua cor – amarelada – representa sorte e fertilidade. Figura 6 - Cerimônia do Haldi. Fonte: Clube do Cabelo & Cia22. Acessado: 13/01/2017. Após o Haldi, para as noivas, acontece um dos ritos mais conhecidos a nível mundial. A cerimônia do Mehendi – henna. Nesse ritual, pés, mãos e braços, são decorados de forma complexa com um desenho, escolhido pela noiva, com o uso da henna. É costume também que alguns parentes próximos tenham suas mãos e pés decorados com a henna. “[...] a tradição diz que se a cor ficar escura, a noiva terá um marido carinhoso e uma boa relação com a sogra” (COSTA, 2015, p. 101). Faux et al (2000) explica que este ritual é feito geralmente na véspera do casamento. 21 CASAMENTO Indiano. Revista Casar. Disponível em: <http://revistacasar.net/festa/casamento-indiano/>. Acesso em: 12 novembro 2016. 22 O SEGREDO da beleza indiana: receita de máscara de açafrão. Disponível em: <http://www.clubedocabeloecia.com.br/2013/12/o-segredo-da-beleza-indiana-receita-de.html>. Acesso em: 13 janeiro 2017. http://revistacasar.net/festa/casamento-indiano/ 37 Figura 7 - Mãos de noiva ornamentadas com a henna. Fonte: Fashion And Beauty Blogger23. Acessado em: 13/01/2017. Costa (2015) nos fala que há ainda a festa Sangeet, que seria uma noite regada à muita música e danças, bem ao estilo indiano. Há também o Baraat. Este acontece no dia da cerimônia do casamento, onde acontece a recepção do noivo e sua família pela família da noiva. Segundo Verano24 o noivo faz uma procissão pelas ruas até a chegada no local da cerimônia, geralmente acompanho de seus convidados e parentes e também de uma banda. O noivo chega ao local da cerimônia principal – às vezes montado num cavalo branco – acompanhado de uma banda de músicos vestido em estilo ocidental, com botas e jaquetas de mangas compridas, até mesmo no infernal verão indiano. Antigamente, o noivo fazia a procissão montado em um elefante, mas isso raramente acontece hoje. Alguns vão de carro mesmo. (COSTA, 2015, p. 104) Após a procissão, o Baraat, os membros mais próximos da família da noiva cumprimentam o noivo e sua família. A mãe da noiva traz consigo uma espécie de bandeja onde se encontra um pequeno recipiente com um tipo de óleo, um vela, às vezes pétalas de flores, entre outros objetos simbólicos e faz um gestual com essa bandeja sobre a cabeça do 23 EASY mehndi desenhos com vídeo tutoriais. Disponível em: <http://www.fashionandbeautyblogger.com/mehndi-design-videos/>. Acesso em: 13 janeiro 2017. 24 CASAMENTO Indiano. Revista Casar. Disponível em: <http://revistacasar.net/festa/casamento-indiano/>. Acesso em: 12 novembro 2016. http://revistacasar.net/festa/casamento-indiano/ 38 noivo, como se o estivesse abençoando ou desejando sorte. Nesse momento os homens das duas famílias também trocam colares de flores em sinal de confraternização. Conforme Costa (2015) a oficialização da cerimônia ocorre em uma hora determinada pelo astrólogo – pois este seguindo seus conhecimentos marca o casamento de acordo com a hora mais “auspiciosa” para o casal – que se consolida geralmente pela madrugada, quando muitos dos convidados já se despediram da festa. É nesse momento que os noivos fazem seus votos, dando sete voltas na fogueira sagrada enquanto o sacerdote da cerimônia recita versos em sânscrito. 39 6 CONCLUSÃO O estudo realizado permitiu um breve conhecimento sobre a cultura indiana e os costumes e preceitos da religião hindu. Pode-se perceber que a Índia é um país bastante diversificado em termos de crenças e articulações sociais, e que estas estão sempre intimamente ligadas, ou seja, o ser social não se dissocia do ser religioso, como por exemplo, a estrutura casteísta, onde mesmo aqueles que não são da religião, tem uma casta imposta pela maioria hindu, e estes são tratados de acordo com suas respectivas castas mesmo sem crer nisto. O estudo realizado aqui permitiu uma aproximação sobre a cultura indiana e os costumes e preceitos da religião hindu. É notável também que a Índia, e principalmente os indianos hindus, enfrentam na atualidade vários desafios, que podem por em risco a atual estrutura em que se baseiam suas crenças, pois a tecnologia que se instalou no país, traz consigo diferentes compreensões de sociedade, vindas do ocidente, principalmente, e que fazem com que os jovens, em sua maioria, questionem a concepção de vida tradicional dos indianos hindus. Observa-se também que a vida, em termos sociais, da mulher indiana está sempre por um fio. Qualquer decisão considerada mal vista pode fazer com que esta seja maltratada pelas famílias e vizinhos. Muitas mulheres são consideradas apenas um fardo, que vai trazer gastos e posteriormente levar os bens da sua família para a família de outro (futuro marido). A análise permitiu notar como a família, está presente, e toma a frente de todas as decisões pertinentes aos noivos e até mesmo pessoas que não são da família como, por exemplo, o astrólogo, que define a data do casamento. Isso demonstra como a cadeia patriarcal hindu está inserida no cotidiano e nas festividades, e assim acontece com o casamento e com todos os rituais realizados pelos noivos. Desta forma, as cores, os tecidos, as jóias, etc., todos são escolhidas de forma a representar, em cada momento, por mínimo que seja, o hinduísmo, como se contassem uma história que se arremata em cada detalhe. As cores são outro fator que permeiam os símbolos dos rituais indianos hindus, principalmente no casamento. Grande parte das mulheres hindus escolhe a cor vermelha para o traje do casamento, que em sua cultura e religião simboliza, além de pureza,
Compartilhar