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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA MÓDULO DE MOLÉCULAS, CÉLULAS, GÊNESE E NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ANA PAULA VIEGAS NEVES MARCOS EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS QUEREN HAPUQUE ALBUQUERQUE DE OLIVEIRA RAISSA VIEIRA DE SOUZA THIAGO SOUZA LUZ Receptores Colinérgicos BELÉM-PA 2022 ANA PAULA VIEGAS NEVES MARCOS EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS QUEREN HAPUQUE ALBUQUERQUE DE OLIVEIRA RAISSA VIEIRA DE SOUZA THIAGO SOUZA LUZ Receptores Colinérgicos Monografia apresentada à Universidade Federal do Pará – Campus Belém, sob orientação da prof.ª MSc. Luciana Fernandes Pastana Ramos, como requisito para obtenção de nota parcial na disciplina Biologia Celular. BELÉM-PA 2022 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 4 2. SÍNTESE E LIBERAÇÃO DA ACETILCOLINA ..................................................... 5 2.1 SÍNTESE ........................................................................................................ 5 2.2 LIBERAÇÃO ................................................................................................... 5 3. RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS ................................................ 6 4. RECEPTORES COLINÉRGICOS MUSCARÍNICOS ............................................ 7 4.2 NO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP) ............................................. 7 4.3 NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) .................................................. 7 5. SUBTIPOS DE RECEPTORES COLINÉRGICOS MUSCARÍNICOS (RCMS) ..... 8 5.1 RCMS EXCITATÓRIOS: SUBTIPOS M1, M3 E M5 ....................................... 9 5.2 RCMS INIBITÓRIOS: SUBTIPOS M2 E M4 ................................................. 10 5.3 EXEMPLOS DE LOCALIZAÇÃO E ATUAÇÃO DOS SUBTIPOS DE RCMS NO ORGANISMO .................................................................................................. 10 5.3.1 M1 (Excitatórios) .................................................................................... 10 5.3.2 M2 (Inibitório) ......................................................................................... 11 5.3.3 M3 (Excitatório) ...................................................................................... 11 5.3.4 M4 (Inibitório) ......................................................................................... 11 5.3.5 M5 (Excitatório) ...................................................................................... 11 5.4 A bexiga e a existência de RCMs Excitatórios e Inibitórios .......................... 12 6. REGULAÇÃO DE RECEPTORES ACOPLADOS À PROTEÍNA G .................... 12 6.1 DESSENSIBILIZAÇÃO ................................................................................ 12 6.2 INTERNALIZAÇÃO E RECICLAGEM .......................................................... 13 6.3 DOWNREGULATION ................................................................................... 15 7. DOENÇAS RELACIONADAS AO SISTEMA COLINÉRGICO ............................ 15 7.1 DOENÇA DE ALZHEIMER .......................................................................... 15 7.2 TABAGISMO ................................................................................................ 17 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 19 1. INTRODUÇÃO O termo colinérgico é normalmente utilizado para definir neurônios, receptores ou sinapses que usam acetilcolina. Por sua vez, esta é uma molécula neurotransmissora - produzida do sistema nervoso central - que auxilia na contração cardíaca e nos músculos; ela também é responsável pela regulação do sono, da memória e do aprendizado. Ademais, deve-se pontuar que o Sistema de Neurotransmissão Colinérgica envolve a acetilcolina, os seus receptores colinérgicos e as enzimas responsáveis pela sua síntese e sua degradação. Ao partir desse viés, esse trabalho abordará a importância dos dois tipos de receptores colinérgicos (os nicotínicos e os muscarínicos), a sua atuação e acerca das doenças que estão relacionadas. A acetilcolina também possui funções excitatórias e inibitórias, assim facilitam o impulso elétrico em um neurônio ou podem inibi-lo. Em função disso, o funcionamento cerebral pode ser comprometido se houver déficit dele no organismo, o que pode causar hiperatividade, déficit de atenção, doença de Alzheimer, entre outros. Figura 1 - Representação do Sistema Colinérgico, blog dr. Carlos Rey, 2014. 2. SÍNTESE E LIBERAÇÃO DA ACETILCOLINA 2.1 SÍNTESE A síntese da acetilcolina deve-se por meio da acetilação da colina - esta é catalisada pela enzima colina-acetiltransferase (CAT) - com acetil coenzima A (acetil- CoA). Após a sua síntese, parte da acetilcolina é transportada e armazenada em vesículas sinápticas, por meio de um transportador vesicular da Acetilcolina que é capaz de elevar a sua concentração em até 100x no interior das vesículas, dentro do próprio neurônio. Figura 2 - Acetilcolina: Síntese e reciclagem da acetilcolina na sinapse. 2.2 LIBERAÇÃO Surge o potencial de ação (com cargas positivas devido à presença de íons Na+) que despolariza o terminal do axônio, o canal de cálcio é aberto e o cálcio entra na célula, em consequência disso, a acetilcolina é liberada por exocitose. Em seguida, parte dessa molécula neurotransmissora interage com receptores colinérgicos presentes nas membranas pré e pós-sinápticas, e a outra parte dela é hidrolisada pela enzima acetilcolinesterase (AChE) em acetato e colina. Figura 3 - Transferência de informação na sinapse (blog Arquivo Bioqui, 2015). 3. RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS Os receptores colinérgicos nicotínicos estão localizados, principalmente, nas terminações das junções neuromusculares e nos gânglios sinápticos dos nervos parassimpáticos, eles são ionotrópicos, ou seja, permitem a passagem de cátions por dentro deles para equilibrar a diferença de potencial adquirida a partir do potencial de ação. Dessa maneira, a acetilcolina agirá de forma direta - transmissão excitatória rápida - o que promove a abertura de canais iônicos, mediante a esse neurotransmissor endógeno ou às moléculas exógenas, como a nicotina, e uma resposta rápida que ocasiona na contração muscular. Nesse âmbito, conclui-se que os RCNs regulam a liberação e a ativação de neurotransmissores nas regiões pré- e pós-sinápticas, respectivamente, podendo controlar a eficácia da transmissão sináptica. Outrossim, vale ressaltar que os RCNs apresentam diversas funções, como o aprendizado, a memória, o desenvolvimento neuronal e a sua participação do sistema de recompensa (prazer). Nesse contexto, a atuação desses receptores nos processos de memória e de aprendizado revela sua participação na fisiopatologia e nos processos inflamatórios característicos da doença de Alzheimer; além disso, o comprometimento da atividade cooperativa entre RCN e receptores dopaminérgicos na região mesoestriatal pode estar envolvido em algumas disfunções neurológicas que predispõem pacientes à doença de Parkinson. Figura 4 - Função dos receptores nicotínicos (Medicina Resumida, Youtube). 4. RECEPTORES COLINÉRGICOS MUSCARÍNICOS 4.2 NO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP) • Redução da frequência e força da contração cardíaca; • O relaxamento de vasos sanguíneos periféricos; • Constrição das vias respiratórias (brônquios e bronquíolos). 4.3 NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) • O controle da função extrapiramidal (parte automática: caminhar, falar,escrever, nadar, dirigir uma bicicleta ou automóvel; • Vestibular (detecta a posição e o movimento da cabeça no espaço); • Funções cognitivas como memória, aprendizado e atenção; • Respostas emocionais, na modulação do estresse, no sono e na vigília. O conhecimento das funções dos RCMs e de seus subtipos avançou consideravelmente após a clonagem de seus cinco genes distintos (M1-M5) em células de mamíferos. Todos os RCMs pertencem à superfamília de receptores acoplados à proteína G e estruturalmente são proteínas de membrana contendo sete domínios transmembranares. A diferença funcional na ativação dos diferentes subtipos de RCMs reside principalmente na constituição da alça i3 desses receptores, a i3 é a região dos receptores muscarínicos que interage com a proteína G e apresenta variação na sequência de aminoácidos entre os RCMs. A variação da sequência de aminoácidos na alça i3 nos dois grupos de receptores muscarínicos provavelmente determina o acoplamento distinto à proteína G, justificando os diferentes mecanismos de regulação da resposta celular. Os receptores muscarínicos M1, M3 e M5, quando ativados por agonistas colinérgicos, acoplam-se preferencialmente com a proteína Gq/11, induzem a ativação da fosfolipase C, que promove a hidrólise de fosfoinositídeos presentes na membrana e a produção de diacilglicerol e inositol trifosfato (segundos mensageiros). De forma diferenciada, os receptores muscarínicos M2 e M4, quando ativados, acoplam-se preferencialmente à proteína G inibitória, Gi/o, que inibe a atividade da adenilciclase e reduz os níveis intracelulares de AMP cíclico. 5. SUBTIPOS DE RECEPTORES COLINÉRGICOS MUSCARÍNICOS (RCMS) Os RCMs apresentam características funcionais e de localização que permitem sua diferenciação e separação em cinco subtipos, (M1-M5), o RCM pertencente ao subtipo M5 único que ainda não possui total caracterização em nível farmacológico e funcional. Figura 5 - Receptor colinérgico muscarínico mostrando os 7 domínios transmembranares e a alça de ligação à proteína G. Em zoom, parte da sequência de aminoácidos dessa alça que liga à proteína, revelando os homólogos entre os receptores M1,M3 e M5 e entre os receptores M1,M3 e M5 e entre M2 e M4. Os RCMs atuam principalmente nos neurônios parassimpáticos do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) e no Sistema Nervoso Central (SNC). Sendo que, no SNA se localizam na região pós-ganglionar. É importante ressaltar a atuação do SNA Parassimpático na estimulação do repouso em alguns órgãos e tecidos e na digestão no trato gastrointestinal, o que define, consequentemente, a atuação dos RCMs no organismo em momentos de relaxamento, descanso e repouso. Antes de cada subtipo dos Receptores Muscarínicos ser especificado, é importante relatar a divisão deles em dois grupos: Os RCMs Excitatórios e Inibitórios. 5.1 RCMS EXCITATÓRIOS: SUBTIPOS M1, M3 E M5 Tais receptores recebem essa classificação por estarem acoplados à porção da macromolécula de proteína G, encontrada no interior da célula, do tipo Gq. A Proteína Gq está envolvida na ativação da enzima de Fosfolipase C, que ao entrar em contato com o RCMs, produz uma resposta enzimática excitatória, sinalizando uma maior atividade para a célula. A ativação da Proteína Gq induz ao aumento de IP3, que gera maior concentração e liberação de Ca²+ no interior da célula e a ativação de fenômenos dependentes de Ca²+, como a contração do músculo liso e a secreção de substâncias. O produto da reação da Fosfolipase C e do DAG (Diacilglicerol) ativa a proteinocinase C em conjunto com o Ca²+ e a fosfodilserina, permitindo a produção de diversas respostas fisiológicas. Figura 6 - Receptores Muscarínicos M1, M3 e M5. 5.2 RCMS INIBITÓRIOS: SUBTIPOS M2 E M4 Recebem tal classificação por estarem acoplados à porção da macromolécula de Proteína G intracelular, principalmente, do tipo Gi. A Proteína Gi está relacionada à diminuição da resposta celular. Atua inibindo a atividade da enzima Adenilato Ciclase, ocasionando a diminuição dos níveis de AMPc, inibindo a reação catabólica da célula; ativando os canais de influxo regenerador de K+ e inibindo os canais de Ca²+. Consequentemente, ocorre a hiperpolarização e a inibição das membranas e ações excitatórias na célula. 5.3 EXEMPLOS DE LOCALIZAÇÃO E ATUAÇÃO DOS SUBTIPOS DE RCMS NO ORGANISMO 5.3.1 M1 (Excitatórios) Encontrados em grande quantidade no trato gastrointestinal e no SNC (Córtex Cerebral, Corpo Estriado e Hipocampo). No trato gastrointestinal há a predominância de receptores excitatórios. A Acetilcolina se liga aos RCMs M1, presentes nas células do epitélio estomacal (Células Oxínticas ou Parietais), atuando de forma excitatória pela necessidade da produção de ácido clorídrico e suco gástrico, auxiliando na digestão dos alimentos. No SNC, os RCMs M1 atuam principalmente no aumento da função cognitiva (aprendizado e memória). Figura 7 - Receptores Muscarínicos M2 e M4. 5.3.2 M2 (Inibitório) Amplamente encontrados no SNC (Cérebro posterior, tálamo, córtex cerebral, hipocampo, corpo estriado) e no coração. Exercem importante função no miocárdio, pela inibição da adenilclicase e hiperpolarização causada pela abertura dos canais de K+. Consequentemente, ocorre a diminuição do potencial de ação cardíaco e ação Inotrópica e Cronotrópica Negativa. Inotrópica Negativa: Diminuição da contração do músculo cardíaco. Cronotrópica Negativa: Diminuição da frequência cardíaca. 5.3.3 M3 (Excitatório) Amplamente expresso no SNC (porém, menos que outros RCMs) nas regiões do córtex cerebral e hipocampo. Também é encontrado nos músculos lisos e glândulas e no coração. Ao ser ativado pela Acetilcolina, promove contração do músculo esfincteriano da íris, ocasionando em redução da pupila, causando a redução do campo de visão em estado de repouso (ajustando a visão para identificar melhor imagens de perto). Também exerce importante função no aumento da secreção lacrimal; aumento da secreção gástrica (auxiliando na ingestão de alimentos) e aumento da secreção salivar. 5.3.4 M4 (Inibitório) Localizado principalmente na região periférica do SNC, os RCMs do subtipo M4, ligado à proteína Gi, atua na alta inibição da secreção de Acetilcolina, ou seja, como um autor regulador. A Ach não utilizada retorna ao neurônio pré-sináptico e se conecta ao receptor M4, causando a inibição da liberação de excessos de Ach. 5.3.5 M5 (Excitatório) Como dito anteriormente, o RCM do subtipo M5 é o único que ainda não possui uma caracterização completa e estudos totalmente embasados e confirmados sobre sua atuação em nível funcional e caracterização em nível farmacológico. Sendo assim, algumas pesquisas mostram que os RCMs M5 estão localizados na Substâncias Nigra e no SNC em baixos níveis. Acopla-se através da Proteína Gq, ou seja, a proteína de ação excitatória. Alguns estudos também estipulam que o RCM M5 teria como atuação funcional a mediação da dilatação nas artérias cerebrais e aorta. Facilitaria a liberação de dopamina, atuando na intensificação do comportamento de procura e recompensa (Relação com a Substância Nigra). 5.4 A BEXIGA E A EXISTÊNCIA DE RCMS EXCITATÓRIOS E INIBITÓRIOS A bexiga sofre influência parassimpática por possuir RCMPs M1 e M3, que atuam no músculo liso da bexiga, aumentando a contração do Músculo Detrusor. (Ação Excitatória) Os Esfíncteres Vesicais localizados na bexiga possuem RCMs do subtipo M2. Assim, quando a Ach se liga a eles, exerce ação inibitória, promovendo seu relaxamento. O conjunto dos dois processos parassimpáticos ocorrentes na bexiga (Excitatório e Inibitório) promovem a micção. 6. REGULAÇÃO DE RECEPTORES ACOPLADOS À PROTEÍNA G Os três mecanismos de regulação da resposta celular induzida por ativação de receptores acoplados à proteínaG são: a dessensibilização, a internalização ou sequestro de receptores, e a diminuição do número de receptores ou downregulation. 6.1 DESSENSIBILIZAÇÃO A dessensibilização relaciona-se de forma direta com a redução na geração de segundos mensageiros estimulada pela ativação do receptor pelo agonista e possui como pré-requisitos: a ativação prolongada do receptor por seu agonista, a fosforilação do receptor por proteínas cinases dependentes de receptores acoplados à proteína G (GRKs) ou dependentes de segundos mensageiros como a PKA ou PKC, e a ligação das arrestinas (classe de proteínas citosólicas) ao receptor. Na dessensibilização, a redução da capacidade de resposta do receptor ocupado pelo agonista pode acontecer influenciando (dessensibilização heteróloga − fosforilação dos receptores pelas proteínas cinases dependentes de segundos mensageiros) ou não (dessensibilização homóloga − ativação de GRKs) demais receptores não estimulados e existente na célula em questão. 6.2 INTERNALIZAÇÃO E RECICLAGEM O método de internalização, também conhecido como sequestro de receptores acoplados à proteína G, trata-se de mais um nível de regulação da ação desses receptores na ocasião em que são estimulados pelo agonista. Estudos por meio do uso de receptor β2-adrenérgico como modelo têm revelado que a exibição ao agonista proporciona a translocação desses receptores da parte superficial da célula para seções em seu interior. O processo de internalização de receptores, além de um mecanismo para a dessensibilização, também é utilizado para sua ressensibilização desses receptores. O método de recuperação da atividade de receptores ocorre, preferencialmente, através de um processo de reciclagem dos receptores internalizados previamente, que parece ser constitutivo na maioria das células. Nessa reciclagem, os receptores que são fosforilados pelas GRKs e internalizados em vesículas intracelulares são defosforilados, por enzimas fosfatases, que terão sua atividade favorecida pela redução do pH das vesículas. Os receptores são, então, reinseridos na membrana, onde passam a ser aptos a um ciclo de regulação novo. A internalização de receptores acoplados à proteína G influencia diretamente a distribuição celular e subcelular desses receptores. Essa distribuição pode ser indicada por quatro vias de tráfego intracelular. Na maioria das vezes, os receptores sintetizados recentemente, resultantes do aparelho de Golgi, são orientados para a região de superfície da célula. Todavia, além de integrar um depósito de reserva no interior da célula, os receptores existentes nos endossomas são capazes de ser reciclados para a membrana plasmática ou seguem para a fusão com lisossomas, nos quais sofrerão degradação. Em células não excitadas por agonistas, esse percurso de receptores no interior da célula ocorre um tanto quanto lento, sendo bruscamente agilizado em presença de agonistas. A literatura apresenta dois caminhos de internalização de receptores acoplados à proteína G, mediados por proteínas clatrina e cavéolas. O caminho permeado por clatrina tem sido o mais estudado, sendo afirmado experimentalmente como encarregado pela internalização de vários receptores, como os receptores β2- adrenérgicos, muscarínicos e de endotelina A. Goodman, 1997, observaram que a ligação da arrestina ao receptor fosforilado proporciona o recrutamento e a ligação da proteína clatrina a esse complexo (conforme ilustra a Figura 2) que se polimeriza, promovendo o recobrimento da membrana e a formação de vesículas intracelulares que contém complexos proteicos que incluem o receptor, a arrestina e proteínas cinases. Recentemente, foi evidenciado que a arrestina pode possibilitar o recrutamento de enzimas tirosina- cinases da família das Src e, por conseguinte, induzir a elaboração do complexo receptor acoplado à proteína G-tirosina-cinase Src. A ativação da tirosina cinase Src é de fundamental importância para a ativação de proteínas cinases ativadas por mitógenos (MAPKs). A internalização de receptores acoplados à proteína G induzida por seus agonistas específicos, via proteína clatrina, supostamente regula a resposta celular perante o estímulo do agonista, proporcionando uma nova onda de sinalização celular que envolve a ativação das MAPKs. Recentemente, tem sido percebida a relação funcional entre a internalização e a transdução de sinal induzida por vários receptores de neurotransmissores, inclusive aqueles aderidos à proteína G, em menores invaginações vesiculares (50-100 nm) da membrana plasmática, intituladas cavéolas (Figura 2). Essas estruturas comportam-se como subcompartimentos da membrana celular especialistas no fluxo de proteínas e em mecanismos de transdução de sinal permeados por receptores. Figura 8 - Regulação do receptor muscarínico acoplado à proteína G, ressaltando os mecanismos de dessensibilização (1), internalização via clatrina (2), ressensibilização (3) e internalização via cavéolas (4). 6.3 DOWNREGULATION A downregulation nada mais é do que a redução de receptores por intermédio da diminuição da síntese, da internalização com degradação em lisossomos ou degradação não lisossômica de receptores. A downregulation pode ser estimulada por diferentes mecanismos, dentre estes, a modulação da expressão gênica. Experimentos indicam que o número de receptores existentes em uma célula pode ser regulado através do nível de expressão gênica, tal como o de biossíntese e de degradação destes. Ademais, nota-se a redução dos receptores M2 e M4 existentes nos dendritos, como, ainda, a redução de receptores M2 aderidos à membrana, depois de uma estimulação neuronal colinérgica crônica, revelando que esses receptores sofreram downregulagem. A redução do RNAm de receptores M2 no núcleo basal de Meynart e em neurônios estriatais de camundongo, nos quais os níveis de ACh são altos de maneira crônica, explica em parte a perda dos receptores M4 dos dendritos. A downregulation pode ter como resultado uma elevação da proteólise de proteínas G acopladas a receptores. Para os receptores β2-adrenérgicos, supõe-se que a proteólise é o principal mecanismo de downregulation. 7. DOENÇAS RELACIONADAS AO SISTEMA COLINÉRGICO A conexão direta de certas doenças com o sistema colinérgico destaca a importância do bom funcionamento de tal sistema. Dentro dessa perspectiva, é possível abordar patologias que comprometem diferentes eixos de funcionamento do corpo humano ligadas aos receptores colinérgicos muscarínicos e aos nicotínicos. Dessa maneira, é crucial entender os níveis e consequências das doenças, assim como conhecer os agentes farmacológicos utilizados no tratamento e seus respectivos efeitos colaterais, para ter uma compreensão ampla dos mecanismos abordados anteriormente. 7.1 DOENÇA DE ALZHEIMER Desde os anos 1980, a relação entre o sistema colinérgico e a demência do tipo Alzheimer tem sido explorada, visto que esta é uma doença definida como degenerativa e progressiva. Partindo disso, são observadas modificações neuroquímicas primárias no sistema colinérgico de pacientes, o que sugere uma disfunção neurológica a qual promove alterações de memória, atenção, aprendizagem e outros processos cognitivos comuns como, por exemplo, a dificuldade na atividade de planejamento. Tais mudanças são geradas por meio de alterações na quantidade de receptores muscarínicos em diversas regiões cerebrais e na sinalização induzida por esses receptores, é importante destacar também a presença de altas concentrações de uma proteína chamada de inibidor endógeno de baixo peso molecular(IEBP); essa proteína, por sua vez, exerce antagonismo endógeno aos receptores colinérgicos muscarínicos nos pacientes em que são observadas a neuropatia degenerativa do Alzheimer. Além do mais, a manifestação da doença de Alzheimerpode ser separada em três estágios, são eles: inicial, intermediário e avançado. Os primeiros sinais da doença são geralmente confundidos com estresse e/ou envelhecimento, eles se dão com a alteração na memória de curto prazo, empobrecimento do vocabulário e dificuldade em movimentos coordenados. Na fase intermediária o paciente necessita de suporte para realizar atividades diárias, os problemas de memória se intensificam e a memória de longo prazo começa a se deteriorar, há oscilações de humor mais intensas e dificuldades motoras e na linguagem falada também passam a ser apresentadas. Por fim, na fase avançada da doença o indivíduo torna-se completamente dependente de cuidados, a comunicação oral é gravemente comprometida, a apatia e a exaustão são constantes, há significativa perda do peso corporal e o paciente passa a não reconhecer familiares próximos. Após o diagnóstico, pessoas com a doença de Alzheimer tem a expectativa média de vida de 3 a 4 anos, no entanto o período pode oscilar e o paciente pode superar este tempo estimado em até 12 anos. Atualmente, o tratamento do Alzheimer requer intervenções farmacológicas que visam a fisiopatologia específica de tal, ele inclui o uso de fármacos que trazem melhoria para sintomas específicos e ainda intervenções comportamentais que possam melhorar os sintomas e as atividades diárias do paciente. Os inibidores da tacrina e donepezil permitem um aumento dos níveis cerebrais de acetilcolina e mais recentemente um antagonista não competitivo de receptor memantina, que está indicado para as fases iniciais a avançada da doença, são esses os únicos agentes farmacológicos atualmente aprovados pelo FDA (U.S Food and Drug Administration). 7.2 TABAGISMO A nicotina presente no tabaco é um agonista seletivo de receptores colinérgicos nicotínicos (RCN). Assim, quando a nicotina se liga aos receptores nicotínicos, tem rápido efeito estimulante, seguido de efeito depressor duradouro. Em razão ao fato de estimular e posteriormente bloquear os receptores nicotínicos em nível comportamental, a nicotina produz uma mistura de efeitos inibitórios e excitatórios. E assim como outras drogas capazes de causar dependência, ela está diretamente ligada à liberação de dopamina na região mesolímbica. A tolerância à nicotina observada em fumantes, assim como os sintomas de abstinência ocorre por dessensibilização após a exposição crônica. A nicotina chega às sinapses neurais através da barreira hematoencefálica e alcança concentrações de 50-600 nM, que são muito pequenas se comparadas às concentrações de ACh. No entanto, a nicotina persiste por não ser degradada pela pela AChE e é, justamente, tal exposição prolongada que pode estimular a dessensibilização. O uso crônico da nicotina pode causar o aumento do número de receptores associado a uma desativação funcional, que compete aos efeitos de dependência à nicotina. Ademais, a prática do fumo tem sua justificativa baseada no fato de que quem fuma, o faz por prazer, hábito ou dependência. Dependência explicada a cima pelas interações da nicotina com receptores específicos do cérebro, como resultado disso a ausência de tal fator agonista gera resistência ao abandono da substância, seguida de sintomas de abstinência, como náuseas, dor de cabeça e irritabilidade. Atualmente, são aprovados três medicamentos para o tratamento do tabagismo: a nicotina, a bupropiona e a vareniclina. Há cinco produtos para a reposição de nicotina, são eles: goma de mascar, pastilhas e comprimidos sistemas adesivos transdérmicos, inalador e spray. A bupropiona pode ser comercializada como antidepressivo e associada ao uso do adesivo de nicotina. No entanto, apesar de evidências mostrarem a eficácia desses medicamentos, a maioria dos pacientes não adere completamente ao tratamento, sendo, assim, necessárias novas opções terapêuticas. Levando em consideração os danos gerados pelo tabagismo, é válido destacar alguns benefícios possíveis a partir do tratamento da doença. Entre eles estão a redução gradual do risco de neoplasias, a redução gradual do risco cardiovascular, a melhora de sintomas respiratórios, o declínio menos acentuado da função pulmonar e o aumento da expectativa de vida. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância do sistema de neurotransmissão colinérgica tem sido significativamente evidenciada, visto sua relação com algumas doenças do SNC. As alterações neuropsiquiátricas que envolvem disfunções desse sistema podem ser observadas em quadros patológicos atualmente de considerável incidência, como doença de Alzheimer e o tabagismo. Neste trabalho, procurou-se fazer uma revisão sobre os conceitos básicos sobre os receptores colinérgicos, a fim de elucidar as vias de sinalização celular do neurotransmissor acetilcolina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTS, B. Fundamentos da Biologia Celular. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. BRUNTON, L. L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12 ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012. InfoEscola. Acetilcolina - neurotransmissor - síntese, liberação, efeitos. Disponível em: <https://www.infoescola.com/neurologia/acetilcolina/>. Acesso em: 06 set. 2022. Educa mais Brasil. Acetilcolina - Biologia Enem. Disponível em: <https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/acetilcolina>. Acesso em: 06 set. 2022. SciELO – Brasil. Sistema colinérgico: revisitando receptores, regulação e a relação com a doença de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo Sistema colinérgico: revisitando receptores, regulação e a relação com a doença de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia e tabagismo. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rpc/a/TZmvQnDBxM9nDw39QCJhpsf/>. Acesso em: 06 set. 2022. BRUNTON, L. L. Manual de Farmacologia e Terapêutica de Goodman & Gilman.12 ed. REY, C. A. Fenergan. Disponível em: < https://drcarlosrey.blogspot.com/2014/10/fenergan.html>. Acesso em: 07 set. 2022. DAMIÃO, B. Plantando Ciência: O que acontece com os neurotransmissores após a sinapse?. Disponível em: <https://drcarlosrey.blogspot.com/2014/10/fenergan.html>. Acesso em: 07 set. 2022. Medicina Resumida – Youtube. Farmacologia - Função dos RECEPTORES NICOTÍNICOS. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?time_continue=319&v=Rrd2eNkbXls&feature=emb_ title>. 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