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1 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 OBJETIVO 01: CARACTERIZAR A TRANSMISSÃO SINÁPTICA VISÃO GERAL As sinapses comunicam a informação transportada pelos potenciais de ação de um neurônio a outro em circuitos neurais. Os mecanismos celulares que estão na base da transmissão sináptica relacionam-se intimamente com os mecanismos que geram outros tipos de sinais elétricos, ou seja, com o fluxo iônico através dos canais de membrana. No caso das sinapses elétricas, esses canais são as junções comunicantes; um fluxo direto, porém passivo, de corrente através das junções comunicantes é a base da transmissão sináptica nessa situação. No caso das sinapses químicas, canais com poros menores e mais seletivos são ativados pela ligação de neurotransmissores aos receptores pós- sinápticos, após a liberação do terminal pré-sináptico. O grande número de neurotransmissores existentes no sistema nervoso pode ser dividido em duas amplas classes, neurotransmissores de baixo peso molecular e neuropeptídeos. Os neurotransmissores são sintetizados a partir de precursores específicos, em reações enzimáticas reguladas; a seguir, são empacotados em vesículas, que podem ser de diferentes tipos, e, por fim, são liberados na fenda sináptica, mediante um processo dependente de Ca2+. Muitas sinapses liberam mais de um tipo de neurotransmissor, e múltiplos neurotransmissores podem ser empacotados na mesma vesícula sináptica. Neurotransmissores são liberados em unidades ou quanta, refletindo seu modo de armazenamento vesicular. As vesículas descarregam seus conteúdos na fenda sináptica quando a despolarização gerada pela invasão de um potencial de ação abre canais de Ca2+ dependentes de voltagem, permitindo que o Ca2+ aumente no terminal pré- sináptico. Ainda não está comprovado como o Ca2+ desencadeia a liberação de neurotransmissores, mas um grande número de proteínas no terminal pré-sináptico, incluindo a sinaptotagmina e as SNAREs, estão claramente envolvidas. Os receptores pós-sinápticos transduzem as ligações do neurotransmissores em sinais elétricos pela abertura ou pelo fechamento de canais iônicos. As correntes pós-sinápticas produzidas pela abertura ou pelo fechamento sincronizado de canais mudam a condutância da célula pós-sináptica, aumentando ou diminuindo, portanto, sua excitabilidade. As mudanças na condutância que aumentam a probabilidade de disparo de um potencial de ação são ditas excitatórias, enquanto as que diminuem essa possibilidade são ditas inibitórias. Em virtude do fato de que os neurônios pós-sinápticos são comumente inervados por muitos sinais de entrada diferentes, o efeito integrado das mudanças na condutância de todos os PEPSs e PIPSs produzidos na célula pós- sináptica, a qualquer instante, determina se essa célula disparará ou não um potencial de ação. Duas grandes famílias de receptores para neurotransmissores estão envolvidas na realização das ações de sinalização pós- sináptica. Os efeitos pós-sinápticos dos neurotransmissores serão finalizados pela sua degradação na fenda sináptica, pelo transporte de volta ao interior das células ou pela simples difusão para longe da fenda sináptica. TIPOS DE SINAPSES Os diferentes tipos de sinapses encontradas no encéfalo humano podem ser divididos em duas classes gerais: sinapses elétricas e sinapses químicas. Embora sejam uma minoria distinta, as sinapses elétricas são encontradas em todos os sistemas nervosos, permitindo o fluxo passivo direto da corrente elétrica de um neurônio para outro. SINAPSE ELETRICA O neurônio a montante é denominado elemento pré- sináptico, e o neurônio a jusante, por onde a corrente flui, é denominado elemento pós-sináptico. As membranas dos dois neurônios comunicantes aproximam-se muito junto à sinapse e são conectadas por uma especialização intercelular denominada junção comunicante ou em fenda. Junções comunicantes contêm canais nas membranas pré e pós-sinápticos precisamente pareados e alinhados, de tal maneira que cada par de canais forma um poro. O poro da junção comunicante é maior do que os canais dependentes de voltagem. Como resultado, uma variedade de substâncias pode apenas difundir-se entre os citoplasmas dos neurônios pré e pós-sinápticos. Além de íons, as substâncias que se difundem através dos poros das junções comunicantes incluem moléculas com pesos moleculares tão grandes quanto várias centenas de dáltons. Isso permite que o ATP e outros importantes metabólitos intracelulares, tais como os segundos mensageiros, sejam transferidos entre neurônios. Sinapses elétricas, portanto, funcionam permitindo que a corrente iônica flua de forma passiva através dos poros das junções comunicantes de um neurônio para outro. A fonte usual dessa corrente é a diferença de potencial gerada no local pelo potencial de ação. A comunicação através dessas junções tem inúmeras consequências interessantes: uma delas é que a transmissão pode ser bidirecional, isto é, a corrente pode fluir em qualquer direção através da junção comunicante, dependendo de qual membro do par acoplado é invadido por um potencial de ação (embora alguns tipos de junções comunicantes tenham propriedades especiais que resultem em uma transmissão unidirecional). Outro aspecto importante das sinapses elétricas é a transmissão extremamente rápida: o fluxo da corrente passiva através da junção comunicante é praticamente instantâneo, sem atrasos na comunicação, como ocorre nas sinapses químicas. Esses aspectos são evidentes no funcionamento das primeiras sinapses elétricas descobertas no sistema nervoso. Um sinal elétrico pós-sináptico é observado nessa sinapse em uma fração de milissegundo depois da geração do potencial pré-sináptico. De fato, parte desse breve atraso sináptico é causada pela propagação do potencial no terminal pré-sináptico, não havendo, portanto, atraso na transmissão de sinais na sinapse elétrica. O propósito mais geral das sinapses elétricas é sincronizar a atividade elétrica entre populações de neurônios. Por exemplo, neurônios do tronco encefálico que controlam o ritmo da atividade elétrica envolvida na respiração estão sincronizados por sinapses elétricas, assim como 2 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 populações de interneurônios no córtex cerebral, no tálamo, no cerebelo e em outras regiões do SNC. A transmissão elétrica entre determinados neurônios secretores de hormônios no hipotálamo de mamíferos garante que todas as células desencadeiem potenciais de ação quase ao mesmo tempo, facilitando a descarga da secreção hormonal na circulação. O fato de que os poros das junções comunicantes são grandes o suficiente para permitir a difusão intercelular de moléculas como ATP e segundos mensageiros também permite que as sinapses elétricas coordenem a sinalização e o metabolismo de neurônios acoplados. Essa propriedade pode ser importante, em especial, para células gliais, as quais formam extensas redes de sinalização através de junções comunicantes. SINAPSE QUIMICA: O espaço entre os neurônios pré e pós-sinápticos é muito maior nas sinapses químicas do que nas sinapses elétricas e é chamado de fenda sináptica. Entretanto, um aspecto essencial de todas as sinapses químicas é a presença de pequenas organelas próximas ou ligadas à membrana no terminal pré-sináptico denominadas vesículas sinápticas. Essas organelas esféricas são preenchidas com um ou mais neurotransmissores, os sinais químicos secretados pelos neurônios pré-sinápticos que agem como mensageiros entre os neurônios comunicantes, dando nome à sinapse de acordo com a natureza doneurotransmissor. A transmissão nas sinapses químicas baseia-se em uma elaborada sequência de eventos. O processo é iniciado quando um potencial de ação invade o terminal neuronal pré-sináptico. A mudança no potencial de ação causada pela chegada do potencial provoca a abertura de canais de Ca2+ dependentes de voltagem no terminal pré-sináptico. Em virtude do enorme gradiente de concentração através da membrana pré-sináptica (a concentração de Ca2+ externa é de cerca de 10-3 M, enquanto a concentração interna é cerca de 10-7 M), a abertura desses canais causa um influxo rápido de Ca2+ no terminal, o que resulta em elevação transitória da concentração de Ca2+. Essa elevação, por sua vez, permite a fusão das vesículas com a membrana plasmática do terminal pré-sináptico. A fusão das vesículas com a membrana do terminal permite a liberação do conteúdo vesicular (principalmente neurotransmissores) na fenda sináptica. Seguindo a exocitose, os neurotransmissores se difundem através da fenda sináptica e se ligam a receptores específicos na membrana neuronal pós-sináptica. A ligação de neurotransmissores aos receptores causa a abertura (ou o fechamento em alguns casos) de canais na membrana pós-sináptica, alterando, portanto, a permeabilidade iônica nas células pós-sinápticas. A corrente resultante induzida pelo neurotransmissor altera a condutância e, comumente, o potencial de membrana pós- sináptica, aumentando ou diminuindo a probabilidade do neurônio de desencadear um potencial de ação. Dessa maneira, a informação é transmitida de um neurônio para outro. 3 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 A eficiência da transmissão sináptica requer um controle preciso da concentração de neurotransmissores dentro da fenda sináptica. Os neurônios desenvolveram, portanto, uma sofisticada habilidade para regular a síntese, o empacotamento, a liberação e a degradação (ou remoção) de neurotransmissores para atingir os níveis desejados dessas moléculas. A síntese de neurotransmissores de baixo peso molecular ocorre dentro dos terminais pré- sinápticos. As enzimas necessárias para a síntese do transmissor são sintetizadas no corpo neuronal e transportadas para o citoplasma do terminal nervoso a uma velocidade de 0,5 a 5 milímetros por dia, mediante um mecanismo denominado transporte axonal lento. As moléculas precursoras utilizadas por essas enzimas de síntese são normalmente captadas para o interior do terminal nervoso por proteínas transportadoras encontradas na membrana plasmática do terminal. As enzimas sintetizam os neurotransmissores no citoplasma do terminal pré-sináptico, e os transmissores são então carregados nas vesículas sinápticas por proteínas transportadoras localizadas na membrana. Para alguns neurotransmissores de baixo peso molecular, os passos finais da síntese ocorrem dentro das vesículas sinápticas. A maioria dos neurotransmissores de baixo peso é empacotada em vesículas de 40 a 60 nm de diâmetro, cujos centros parecem claros em micrografias eletrônicas; por isso, essas vesículas são referidas como vesículas pequenas e eletronlúcidas. Os neuropeptídeos são sintetizados no corpo neuronal, o que significa que são produzidos longe do local de secreção. Para resolver esse problema, vesículas carregadas de peptídeos são transportadas ao longo do axônio no sentido do terminal sináptico por meio de um transporte axonal rápido. Esse processo leva vesículas a uma velocidade de 400 milímetros por dia ao longo de elementos do citoesqueleto denominados microtúbulos, que são longos filamentos cilíndricos com diâmetro de 25 nm. As vesículas contendo os peptídeos se movem ao longo dos microtúbulos sobre trilhas específicas, envolvendo proteínas motoras que usam ATP, como a cinesina. Os neuropeptídeos são empacotados em vesículas com diâmetro de 90 a 250 nm, as quais são densas em micrografias eletrônicas; por isso, são denominada vesículas grandes e eletrondensas. Depois de um neurotransmissor ser secretado na fenda sináptica, ele deve ser removido para permitir que o neurônio pós-sináptico se envolva em outro ciclo de transmissão sináptica. A remoção de neurotransmissores pressupõe sua difusão para longe dos receptores pós- sinápticos, sua recaptação nos terminais neuronais ou pelas células gliais que cercam a sinapse, sua metabolização por enzimas específicas ou a combinação desses mecanismos. Proteínas transportadoras específicas removem a maioria dos neurotrasmissores de baixo peso (ou seus metabólitos) da fenda sináptica, devolvendo-os, muitas vezes, aos terminais sinápticos para reutilização. 4 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 MECANISMOS MOLECULARES NA FASE PRÉ- SINAPTICA: Várias linhas de evidência indicam que a proteína sinapsina, que liga vesículas sinápticas de maneira reversível, interconecta vesículas aos filamentos de actina do citoesqueleto mantendo as vesículas presas ao reservatório citoplasmático. A mobilização desse reservatório de vesículas é resultado da fosforilação da sinapsina pela ação de proteínas cinases, principalmente a proteína cinase dependente de Ca2+/calmodulina do tipo II. A fosforilação mediada pela CaMKII permite a dissociação da sinapsina da vesícula. Uma vez que as vesículas estão livres de suas amarras, elas fazem seu caminho para a membrana plasmática, na qual ancoram por reações ainda pouco conhecidas. Então, uma série de reações preparatórias (denominada fase de iniciação) antecede a reação de fusão da vesícula com a membrana plasmática. Grandes quantidades de proteínas estão envolvidas na fase de iniciação, incluindo algumas que também participam de outros eventos de fusão de membranas. Por exemplo, duas proteínas originalmente encontradas na fusão de vesículas com as membranas do aparelho de Golgi, a ATPase NSF (a proteína de fusão sensível a N-etilmaleimida, de NEM- sensitive fusion proteins) e as SNAP (proteínas solúveis anexas a NSF, de soluble NSF attachment proteins), também envolvidas na fase de iniciação das vesículas para fusão. Essas duas proteínas regulam a agregação de outras proteínas denominadas SNARE (receptores para SNAP, de SNAP receptores). Muitas outras proteínas envolvidas na fase de iniciação, incluindo munc-13, nsec-1, complexina, snapin, sintafilina e tomosina, interagem com as SNAREs. RECEPTORES DE NEUROTRANSMISSORES: Em 1907, o fisiologista britânico John N. Langley introduziu o conceito de moléculas receptoras para explicar as ações específicas e potentes de certas substâncias químicas sobre células musculares e nervosas. Grande parte dos trabalhos subsequentes têm mostrado que, de fato, as moléculas receptoras justificam a capacidade que possuem os neurotransmissores, os hormônios e as drogas de alterarem as propriedades funcionais dos neurônios. Embora tenha ficado claro, desde a época de Langley, que os receptores são importantes para a transmissão sináptica, a sua identidade e seus mecanismos de ação detalhados permaneceram um mistério até pouco tempo. Agora, sabe- se que receptores para neurotransmissores são proteínas inseridas na membrana plasmática de células póssinápticas. Os domínios da molécula receptora que se estendem até a fenda sináptica ligam neurotransmissores liberados nesse espaço pelo neurônio pré-sináptico. A ligação de neurotransmissores, direta ou indiretamente, causa a abertura ou o fechamento de canais iônicos na membrana pós-sináptica. O fluxo iônico resultante, em geral, altera o potencial de membrana da célula pós-sináptica, mediando, então, a transferência de informação através da sinapse. Mudanças de permeabilidadena membrana pós-sináptica durante a neurotransmissão: Os estudos da sinapse neuromuscular pavimentaram o caminho para a compreensão da liberação de neurotransmissores, bem como foram valiosos para o entendimento dos mecanismos que permitem aos receptores de neurotransmissores gerar sinais pós-sinápticos. A ligação da acetilcolina aos receptores pós-sinápticos abre canais iônicos na membrana da fibra muscular. Graças ao trabalho de Erwin Neher e Bert Sakmann em 1976, esse efeito pode ser diretamente demonstrado pelo uso do método que “pinça” pequenos pedaços de membrana – a fixação de membrana, para medir as diminutas correntes iônicas pós-sinápticas que fluem quando duas moléculas individuais de acetilcolina ligam-se aos receptores . A exposição da superfície extracelular de um pedaço de membrana pós-sináptica à acetilcolina gera por alguns milissegundos correntes através de canais iônicos isolados. 5 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 Isso mostra que a ligação da aceticolina a seus receptores abre canais ativados por ligantes, da mesma maneira que mudanças no potencial de membrana abrem canais iônicos dependentes de voltagem. As ações elétricas da ligação de acetilcolina multiplicam-se muito quando um potencial de ação em um neurônio motor pré-sináptico causa a liberação de milhões de moléculas de acetilcolina na fenda sináptica. Fisiologicamente, nesse caso, um arranjo denso de moléculas transmissoras liga-se a milhares de receptores para acetilcolina na membrana pós-sináptica, abrindo de forma transitória um grande número de canais iônicos pós-sinápticos. Embora os receptores para acetilcolina, individualmente, abram-se apenas por breves momento, a abertura de um grande número de canais é sincronizada em um curto espaço de tempo, no qual a acetilcolina é secretada a partir dos terminais pré-sinápticos . A corrente macroscópica resultante da soma da abertura de muitos canais iônicos é denominada corrente de placa terminal (ou CPT). Em virtude do fato de a CPT normalmente dirigir-se para o interior da célula, ela causa uma despolarização do potencial pós-sináptico de membrana. Essa mudança despolarizante no potencial é o PPT, que desencadeia normalmente o potencial de ação pós-sináptico, em virtude da abertura de canais de Na+ e de K+ dependentes de voltagem POTENCIAIS PÓS-SINÁPTICOS EXCITATÓRIOS E INIBITÓRIOS Os princípios da excitação, descritos para a junção neuromuscular, são pertinentes para todas as sinapses excitatórias. Os princípios da inibição pós-sináptica são, em grande parte, os mesmos para a excitação e são também bem gerais. Em ambos os casos, os neurotransmissores ligam-se aos receptores que abrem ou fecham canais iônicos na célula pós-sináptica. Se a resposta é um PEPS ou um PIPS, isso depende do tipo de canal que está acoplado ao receptor e da concentração dos íons permeantes dentro e fora da célula. De fato, o único fator que distingue a excitação da inibição pós-sináptica é o potencial de inversão do PPS, em relação ao limiar de voltagem para gerar potenciais de ação na célula pós-sináptica. Considere, por exemplo, uma sinapse neuronal que usa glutamato como neurotransmissor. Muitas dessas sinapses têm receptores que, como os da ACo na sinapse neuromuscular, abrem canais permeáveis a cátions. Quando esses receptores glutamatérgicos são ativados, Na+ e K+ fluem através da membrana pós-sináptica, gerando um potencial de inversão próximo de 0 mV. Se o potencial de repouso do neurônio pós-sináptico é –60 mV, o PEPS resultante despolarizará, trazendo o potencial de membrana pós-sináptico para cerca de 0 mV. Para o neurônio hipotético, o limiar do potencial de ação é – 40 mV. Portanto, o PEPS induzido pelo glutamato aumentará a probabilidade de que esse neurônio gere um potencial de ação, caracterizando a sinapse como excitatória. Como um exemplo de ação pós-sináptica inibitória, considere uma sinapse neuronal que usa o GABA como neurotransmissor. Em tais sinapses, os receptores GABA em geral abrem canais seletivamente permeáveis ao Cl–, e a ação do GABA causa um fluxo de Cl– através da membrana pós-sináptica. Considere o caso em que ECl é – 70 mV, como acontece em muitos neurônios, de forma que o potencial de repouso pós-sináptico de – 60 mV é menos negativo do que ECl. A força eletromotriz resultante (Vm – Einv) irá causar um fluxo carregado negativamente de Cl– para dentro, gerando um PIPS hiperpolarizante. Esse PIPS deixará a membrana pós- sináptica afastada do limiar do potencial de ação de – 40 mV, inibindo de forma clara a célula pós-sináptica. A abertura ou o fechamento de canais iônicos pós-sinápticos é realizada de diferentes maneiras pelas duas grandes famílias de receptores proteicos. Os receptores em uma das famílias – denominados receptores ionotrópicos – estão ligados diretamente a canais iônicos (do grego tropos, significando movimento em resposta a um estímulo). Esses receptores contêm dois domínios funcionais: um extracelular que liga o neurotransmissor, e um outro que se estende através da membrana, formando o canal iônico. A segunda família de receptores para neurotransmissores são os receptores metabotrópicos, assim chamados porque o movimento resultante de íons através dos canais depende de um ou mais passos metabólicos. Esses receptores não têm canais iônicos como parte de sua estrutura e só podem afetar canais vizinhos mediante a ativação de moléculas intermediárias denominadas proteínas G. Por essa razão, os receptores metabotrópicos são também chamados de receptores acoplados à proteína G. Receptores metabotrópicos são proteínas monoméricas com um domínio extracelular que liga o neurotransmissor e com outro domínio intracelular que se liga a proteínas G. A ligação dos neurotransmissores a receptores metabotrópicos ativa proteínas G, as quais se dissociam do receptor e interagem diretamente com canais iônicos ou se ligam a outras proteínas efetoras, como enzimas, produzindo mensageiros intracelulares que abrem ou fecham canais iônicos. Essas duas famílias de receptores pós-sinápticos originam potenciais com padrões de tempo bem diferentes, produzindo ações pós-sinápticas em uma faixa que varia de menos de um milissegundo a minutos, horas ou mesmo dias. Canais iônicos ativados por ligante geralmente medeiam ações pós-sinápticas rápidas. Exemplos são os PPTs produzidos nas sinapses neuromusculares pela ACo, os PEPSs produzidos em certas sinapses glutamatérgicas e os PIPSs produzidos em certas sinapses GABAérgicas. Em todos esses casos, os potenciais pós-sinápticos surgem dentro de um ou dois milissegundos após um potencial de ação que chega ao terminal pré-sináptico e duram algumas dezenas de milissegundos ou menos. Por outro lado, a ativação de receptores metabotrópicos geralmente produz respostas muito mais lentas, variando de centenas de milissegundos a minutos ou mais. A ação lenta dos receptores metabotrópicos reflete o fato de que múltiplas proteínas precisam se ligar em uma sequência capaz de produzir uma resposta fisiológica final. É importante mencionar que um dado neurotransmissor pode ativar tanto os receptores ionotrópicos quanto os metabotrópicos para produzir tanto os PPSs rápidos quanto os lentos na mesma sinapse. Talvez o mais importante princípio a se ter em mente é o de que a resposta provocada por um neurotransmissor é determinada pela quantidade complementar de receptores pós-sinápticos e seus canais associados. 6 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 OBJETIVO 02: CARACTERIZAR OS NEUROTRANSMISSORES A maioria dos neurônios no encéfalo humano comunica-se mediante a liberaçãode mensageiros químicos denominados neurotransmissores. Um grande número de neutrotransmissores são hoje conhecidos, e outros ainda deverão ser descobertos. O principal neurotransmissor excitatório no encéfalo é o aminoácido glutamato, enquanto o principal neurotransmissor inibitório é o ácido γ-aminobutírico, ou GABA. Esses e todos os demais neurotransmissores evocam respostas elétricas pós-sinápticas, ativando e ligando-se a membros de um grupo ainda mais variado de proteínas, os denominados receptores de neurotransmissores. A maior parte dos neurotransmissores é capaz de ativar diversos receptores diferentes, aumentam ainda mais as formas possíveis de sinalização sináptica. Após ativarem seus receptores pós-sinápticos, os neurotransmissores são removidos da fenda sináptica por seus transportadores ou por enzimas de degradação. Anormalidades na função de neurotransmissores contribuem para uma ampla variedade de distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Como resultado, muitas terapias neurofarmacológicas baseiam-se em drogas que alteram os neurotransmissores, seus receptores e/ou proteínas responsáveis pela remoção desses neurotransmissores da fenda sináptica. CATEGORIAS DE NEUROTRANSMISSORES São conhecidos mais de cem diferentes agentes que atuam como neurotransmissores. Esse grande número permite uma enorme diversidade na sinalização química entre os neurônios. Será útil separarmos essa infinidade de transmissores em duas amplas categorias apenas de acordo com seus tamanhos. Neuropeptídeos são moléculas transmissoras relativamente grandes, compostas de 3 a 36 aminoácidos. Aminoácidos individuais, como o glutamato e o GABA, assim como os transmissores acetilcolina, serotonina e histamina, são muito menores do que os neuropeptídeos, sendo, portanto, chamados de neurotransmissores pequenos (ou neurotransmissores de moléculas pequenas). Dentro dessa categoria de neurotransmissores de moléculas pequenas, as aminas biogênicas (dopamina, noradrenalina, adrenalina, serotonina e histamina) são frequentemente discutidas em separado, em virtude de suas propriedades químicas e ações pós-sinápticas semelhantes. Os detalhes de síntese, empacotamento, liberação e remoção diferem para cada neurotransmissor . ACETILCOLINA A acetilcolina é sintetizada nos terminais nervosos a partir da acetil-coenzimaA (acetil-CoA, que é sintetizada a partir da glicose) e da colina, em uma reação catalisada pela colina-acetiltransferase. A colina está presente no plasma em alta concentração (cerca de 10 mM) e é captada por neurônios colinérgicos por meio de um transportador Na+/colina de alta afinidade. Após a síntese no citoplasma do neurônio, um transportador vesicular de ACo carrega aproximadamente 10 mil moléculas de ACo em cada vesícula colinérgica. Em contraste com a maioria dos demais neurotransmissores pequenos, a ação pós-sináptica da ACo em muitas sinapses colinérgicas (em especial na junção neuromuscular) não é encerrada pela recaptação, mas por uma poderosa enzima de hidrólise, a acetilcolinesterase (ACoE). Essa enzima encontra-se concentrada na fenda sináptica, assegurando uma rápida diminuição na concentração da ACo após sua liberação do terminal pré-sináptico. A ACoE tem uma atividade catalítica muito alta (uma molécula de ACoE transforma cerca de 5.000 moléculas de ACo por segundo) e hidrolisa a ACo em acetato e colina. A colina produzida pe la hidrólise da ACo é transportada de volta para os terminais nervosos e utilizada para ressintetizar ACo. Muitas das ações pós-sinápticas da ACo são mediadas pelo receptor colinérgico nicotínico (nACoR), assim designado porque a nicotina, um estimulante do SNC, também se liga a esses receptores. O consumo de nicotina produz um certo grau de euforia, relaxamento e, por fim, dependência, e acredita-se que esses efeitos sejam mediados, nesse caso, pelos nACoRs. Os receptores nicotínicos constituem o tipo mais bem estudado de receptor ionotrópico para neurotransmissores. O receptor nACoRs são canais de cátions não seletivos que geram respostas pós-sinápticas excitatórias. Um certo número de toxinas biológicas ligam-se especificamente a esses receptores, bloqueando-os. A disponibilidade desses ligantes altamente específicos – em especial de um componente do veneno de serpente denominado α- bungarotoxina – tem dado aos pesquisadores uma ferramenta valiosa para isolar e purificar nACoRs. Uma segunda classe de receptores para a ACo é ativada por muscarina, um alcaloide tóxico encontrado em alguns cogumelos, de modo que são denominados receptores colinérgicos muscarínicos (mACoRs). Os mACoRs são metabotrópicos e medeiam a maior parte dos efeitos da ACo no encéfalo. Diversos subtipos de mACoR são conhecidos. Os receptores colinérgicos muscarínicos são altamente expressos no estriado e em várias outras regiões do 7 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 prosencéfalo, onde exercem uma influência inibitória sobre os efeitos motores mediados pela dopamina. Esses receptores são também encontrados nos gânglios do sistema nervoso periférico. Por fim, eles medeiam respostas colinérgicas periféricas em órgãos efetores do sistema neurovegetativo – como coração, músculo liso e glândulas exócrinas – e são responsáveis pela inibição da frequência cardíaca determinada pelo nervo vago. Numerosas drogas atuam como agonistas ou antagonistas nos receptores mACo, mas a maioria delas não faz distinção entre diferentes tipos de receptores muscarínicos e frequentemente produzem efeitos colaterais. Ainda assim, bloqueadores mACo terapeuticamente úteis incluem a atropina (utilizada para dilatar a pupila), a escopolamina (efetiva na prevenção de náuseas) e o ipratrópio (útil no tratamento da asma). GLUTAMATO: O glutamato é o mais importante transmissor na função encefálica normal. Quase todos os neurônios excitatórios no sistema nervoso central são glutamatérgicos, e estima-se que mais da metade de todas as sinapses do encéfalo liberem esse agente. O glutamato desempenha um papel especialmente importante na neurologia clínica, pois elevadas concentrações de glutamato extracelular, liberado como resultado de uma lesão neural, são tóxicas para os neurônios. O glutamato é um aminoácido não essencial que não cruza a barreira hematoencefálica, devendo ser sintetizado nos neurônios a partir de precursores locais. O principal precursor para a síntese de glutamato é a glutamina, que é liberada pelas células gliais. Uma vez liberada, a glutamina é captada pelos terminais pré-sinápticos e metabolizada em glutamato pela enzima mitocondrial glutaminase. O glutamato pode também ser sintetizado por transaminação do 2-cetoglutarato, um intermediário do ciclo do ácido cítrico. Assim, parte da glicose metabolizada pelos neurô nios pode também ser utilizada para a síntese de glutamato. O glutamato sintetizado no citoplasma pré-sináptico é empacotado em vesículas sinápticas por transportadores, denominados VGLUT. Pelo menos três diferentes genes para VGLUTs foram identificados. Uma vez liberado, o glutamato é removido da fenda sináptica por diversos transportadores de aminoácidos excitatórios (TAAEs). Há cinco tipos diferentes de transportadores de alta afinidade para o glutamato, alguns deles presentes em células gliais e outros em terminais pré- sinápticos. O glutamato captado pelas células gliais é convertido em glutamina pela enzima glutamina sintetase; a glutamina é, então, transportada para fora das células gliais e a seguir para dentro dos terminais nervosos. Dessa forma, os termi nais sinápticos atuam em cooperação com as células gliais para manter um suprimento adequado do neurotransmissor. O conjunto dessa sequência de eventos é referido como ciclodo glutamato-glutamina. Foram identificados diversos tipos de receptores para o glutamato. Três deles são receptores ionotrópicos, denominados receptores NMDA, receptores AMPA e receptores cainato. Esses receptores para o glutamato são assim designados em função dos agonistas que os ativam: NMDA (N-metil-D- aspartato), AMPA (α-amino-3-hidroxil-5-metil-4-isoxasol- propionato) e ácido caínico. Todos os receptores glutamatérgicos ionotrópicos são canais catiônicos não seletivos, semelhantes aos nACoRs, permitindo a passagem de Na+ e K+ e, em alguns casos, de pequenas quantidades de Ca2+. Desse modo, a ativação de receptores NMDA, AMPA ou cainato sempre produz respostas pós-sinápticas excitatórias. Assim como outros receptores ionotrópicos, os receptores AMPA/cainato e NMDA também são formados pela associação de diversas subunidades proteicas, que podem se combinar de muitas maneiras, produzindo um grande número de isoformas desses receptores. Os receptores NMDA apresentam propriedades especialmente interessante. Talvez a mais significativa seja o fato de que o canal iônico do receptor NMDA permite a entrada de Ca2+, além de cátions monovalentes, como Na+ e K+. Como resultado, os PEPS produzidos pela abertura do receptor NMDA podem aumentar a concentração de Ca2+ dentro do neurônio pós-sináptico; a mudança na concentração de Ca2+ pode então atuar como um segundo mensageiro, ativando cascatas de sinalização intracelulares. Outra propriedade-chave desses receptores é sua capacidade de ligar Mg2+ extracelular. Em potenciais de membrana hiperpolarizados, esse íon bloqueia o poro do canal do receptor NMDA. A despolarização, no entanto, empurra o Mg2+ para fora do poro, permitindo o fluxo de outros cátions. Essa propriedade fornece a base para o fluxo de corrente voltagem-dependente através do receptor e significa que o receptor NMDA permite a passagem de cátions (mais notavelmente de Ca2+) apenas durante a despolarização da célula pós-sináptica, em virtude ou da ativação de um grande número de sinais de entrada excitatórios e/ou do disparo repetitivo de potenciais de ação na célula pré-sináptica. Acredita-se que essas propriedades sejam a base para algumas formas de plasticidade sináptica. Outra propriedade incomum dos receptores NMDA é a abertura do canal desse receptor que necessita a presença de um coagonista, o aminoácido glicina. Há pelo menos cinco formas de subunidades para o receptor NMDA (NMDA-R1 e NMDA-R2A a NMDA-R2D); diferentes sinapses possuem distintas combinações dessas subunidades, produzindo uma variedade de respostas pós- sinápticas mediadas por receptores NMDA. Enquanto algumas sinapses glutamatérgicas possuem apenas receptores AMPA ou NMDA, a maioria delas apresenta tanto os receptores AMPA quanto os NMDA. Um antagonista de receptores NMDA, o APV (2-amino-5 8 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 fosfono-valerato), é com frequência utilizado para distinguir entre os dois tipos de receptores. A utilização dessa droga também tem demonstrado diferenças entre os sinais elétricos produzidos pelo NMDA e aqueles produzidos pelos receptores AMPA, como o fato de que correntes sinápticas produzidas pela estimulação de receptores NMDA são mais lentas e de mais longa duração do que aquelas produzidas pela estimulação de receptores AMPA/cainato. Os papéis fisiológicos dos receptores cainato são menos bem definidos; em alguns casos, esses receptores são encontrados em terminais pré-sinápticos e servem como um mecanismo de retroalimentação para regular a liberação de glutamato. Além desses receptores ionotrópicos para o glutamato, há três tipos de receptores glutamatérgicos metabotrópicos (mGluRs). Esses receptores, que modulam indiretamente canais iônicos pós-sinápticos, diferem em seu acoplamento às vias intracelulares de transdução de sinal e em sua sensibilidade a agentes farmacológicos. Diferentemente dos receptores glutamatérgicos ionotrópicos, que são excitatórios, os mGluRs causam respostas pós-sinápticas mais lentas que podem aumentar ou diminuir a excitabilidade das células pós-sinápticas. GABA E GLICINA A maior parte das sinapses inibitórias no encéfalo e na medula espinhal utiliza ou o ácido -aminobutírico (GABA) ou a glicina como neurotransmissores. O GABA é mais comumente encontrado em interneurônios, em circuitos locais, embora as células de Purkinje no cerebelo forneçam um exemplo de neurônios de projeção GABAérgicos. O principal precursor para a síntese de GABA é a glicose, que é metabolizada até intermediários do ciclo do ácido cítrico, gerando por fim glutamato (piruvato e glutamina também podem ser precursores). A enzima glutamato-descarboxilase (GAD), que é encontrada quase que exclusivamente em neurônios GABAérgicos, catalisa a conversão de glutamato em GABA (Figura 6.8A). Para sua atividade, a GAD requer um cofator, o piridoxal- fosfato. Uma vez que o piridoxal-fosfato é derivado da vitamina B6, uma deficiência dessa vitamina pode levar à redução na síntese de GABA. A importância dessa observação tornou-se clara após uma desastrosa série de mortes de bebês ter sido ligada à falta de vitamina B6 na fórmula de um leite em pó utilizado para alimentá-los. A falta de B6 resultou em uma grande diminuição no conteúdo de GABA no encéfalo, e a consequente perda da inibição sináptica causou convulsões que, em alguns casos, foram fatais. Uma vez que o GABA é sintetizado, ele é transportado para dentro das vesículas sinápticas por um transportador vesicular de aminoácidos inibitórios (TVAAI). O mecanismo para a remoção de GABA é semelhante àquele do glutamato: tanto os neurônios como a glia contêm transportadores de alta afinidade para o GABA, denominados GATs, e diversas formas desses transportadores foram identificadas. A maior parte do GABA é convertida, por fim, em succinato, o qual é, a seguir, metabolizado no ciclo do ácido cítrico, que medeia a síntese de ATP na célula. As enzimas necessárias para essa degradação, a GABA-amino transferase e a desidrogenase do semialdeído succínico, são enzimas mi tocondriais. A inibição da degradação do GABA determina um aumento no con teúdo de GABA no tecido e um aumento na atividade de neurônios inibitórios. Há ainda outras vias para a degradação do GABA. A mais notável delas resulta na produção de γ-hidroxibutirato, um derivado do GABA que tem sido utilizado para drogar vítimas de estupro em encontros. A administração oral de γ hidroxibutirato pode causar euforia, déficits de memória e inconsciência. Presume-se que esses efeitos sejam causados por ação em sinapses GABAérgicas no SNC. Sinapses inibitórias que empregam GABA como seu transmissor podem exibir três tipos de receptores pós- sinápticos, denominados GABAA, GABAB e GABAC. GABAA e GABAC são receptores ionotrópicos, enquanto os receptores GABAB são metabotrópicos. Os receptores GABAérgicos ionotrópicos são geralmente inibitórios, pois os canais a eles associados são permeáveis ao cl-. O potencial de inversão para o Cl– em geral é mais negativo do que o limiar para o disparo neuronal em virtude da ação do cotransportador K+/Cl– , que mantém baixa a concentração intracelular de Cl-. O resultante influxo de Cl– negativamente carregado através dos receptores GABAérgicos ionotrópicos inibe as células pós-sinápticas. A distribuição do aminoácido neutro glicina no sistema nervoso central é mais localizada do que aquela do GABA. Cerca de metade das sinapses inibitórias da medula espinhal utiliza a glicina; a maioria das demais sinapses inibitórias utiliza o GABA. A glicina é sintetizada a partir da serina pela isoforma mitocon drial da serina hidroximetiltransferase (veja Figura 6.8B) e é transportada para dentro das vesículas sinápticaspelo mesmo transportador vesicular de aminoácidos inibitórios que carrega o GABA em vesículas. Uma vez liberada da cé lula pré-sináptica, a glicina é rapidamente removida da fenda sináptica por transportadores de glicina na membrana plasmática . Os receptores para a glicina são também canais de Cl– ativados por ligantes, sua estrutura geral espelhando a dos receptores GABAA. Os receptores para a glicina são pentâmeros que consistem em misturas de quatro produtos de genes que codificam as subunidades α, que ligam a glicina, juntamente à subunidade acessória β. Os receptores para a glicina são fortemente bloqueados pela estricnina, o que pode ser responsável pelas propriedades tóxicas desse alcaloide de plantas. AMINAS BIOGÊNICAS: 9 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 Aminas biogênicas que funcionam como transmissores regulam muitas funções encefálicas e também apresentam atividade no sistema nervoso periférico. Uma vez que estão implicadas em tão amplo espectro de comportamentos funções homeostáticas centrais a fenômenos cognitivos, como a atenção), não é surpresa nenhuma que defeitos na função das aminas biogênicas estejam implicados na maior parte dos transtornos psiquiátricos. A farmacologia da sinapse aminérgica é de enorme importância para a psicoterapia, com drogas que estão entre os agentes mais importantes do arsenal da farmacologia moderna e são capazes de afetar a síntese, a ligação aos receptores ou o catabolismo desses transmissores. Muitas drogas de abuso também atuam sobre vias relacionadas às aminas biogênicas. Há cinco aminas biogênicas reconhecidas como neurotransmissores: as três catecolaminas – dopamina, noradrenalina (norepinefrina) e adrenalina, epinefrina, a histamina e a serotonina Todas as catecolaminas (assim designadas em função do fato de apresentarem o grupamento catecol em sua estrutura) são derivadas de um precursor comum, o aminoácido tirosina. O primeiro passo na síntese das catecolaminas é catalisado pela tirosina-hidroxilase, em uma reação que requer oxigênio como cossubstrato e tetra-hidrobiopterina como cofator, para sintetizar di-hidroxifenilalanina (DOPA). DOPAMINA: Embora a dopamina esteja presente em diversas regiões encefálicas, a área com maior conteúdo de dopamina no encéfalo é o corpo estria do, que recebe importantes aferências oriundas da substância nigra e desempenha um papel especial na coordenação dos movimentos corporais. Na doença de Parkinson, por exemplo, os neurônios dopaminérgicos da substância nigra degeneram, levando a uma disfunção motora característica. Acredita-se que a dopamina também esteja envolvida na motivação, na recompensa e no reforço, e muitas drogas de abuso atuam afetando sinapses dopaminérgicas no SNC. Além desses papéis no SNC, a dopamina também desempenha um papel, ainda não bem compreendido, em alguns gânglios simpáticos. A dopamina é produzida pela ação da enzima DOPA- descarboxilase sobre o DOPA. Após sua síntese no citoplasma dos terminais pré-sinápticos,a dopamina é estocada em vesículas sinápticas por um transportador vesicular de monoaminas (TVMA). A ação da dopamina na fenda sináptica é terminada por sua recaptação pelos terminais nervosos ou por células gliais vizinhas por um transportador de dopamina dependente de Na+, denominado TDA. A cocaína aparentemente produz seus efeitos psicotrópicos ligando-se ao TDA e inibindo esse transportador, resultando em um aumento líquido na concentração de dopamina na fenda sináptica. A anfetamina, outra droga causadora de dependência, também inibe o TDA, assim como o transportador da noradrenalina. As duas principais enzimas envolvidas no catabolismo da dopamina são a monoamino- oxidase (MAO) e a catecol-O-metiltransferase (COMT). Tanto neurônios quanto células gliais contêm MAO mitocondrial e COMT citoplasmática. Inibidores dessas enzimas, como a fenelzina e a tranilcipromina, são utilizados clinicamente como antidepressivos. Uma vez liberada, a dopamina atua comportamentos complexos; por exemplo, a administração de agonistas de receptores para a dopamina determina hiperatividade e repetidos comportamentos estereotipados em animais de laboratório. A ativação de um outro tipo de receptor para a dopamina no bulbo inibe o vômito exclusivamente pela ativação de receptores acoplados a proteínas G. A maior parte dos subtipos de receptores para a dopamina atua por ativação ou por inibição da adenilato-ciclase. NORADRENALINA: A noradrenalina (também denominada norepinefrina) é utilizada como neurotransmissor no locus ceruleus, um núcleo do tronco encefálico que se projeta difusamente para vários alvos no prosencéfalo (Figura 6.11B), onde influencia o sono e a vigília, a atenção e o comportamento alimen tar. Talvez os mais notáveis neurônios noradrenérgicos sejam as células ganglionares simpáticas, que empregam noradrenalina como o principal neurotransmissor periférico dessa divisão do sistema motor visceral. A síntese de noradrenalina necessita da enzima dopamina- β-hidroxilase, que catalisa a produção de noradrenalina a partir de do pamina. A noradrenalina é transportada para dentro de vesículas, utilizando o mesmo TVMA envolvido no transporte vesicular de dopamina. A noradrenalina é removida da fenda sináptica pelo transportador de noradrenalina (TNA), o qual é também capaz de captar dopamina. Como mencionado anteriormente, o TNA é o alvo molecular para a anfetamina, que atua como estimulante, produzindo um aumento líquido na concentração de noradrenalina e de dopamina liberadas. Uma mutação no gene para o TNA é a causa da intolerância ortostática, um distúrbio que produz vertigem quando o indivíduo fica de pé. Assim como a dopamina, a noradrenalina é degradada pela MAO e pela COMT. Assim como a adrenalina, a noradrenalina atua em receptores adrenérgicos α e β. Ambos são acoplados a proteínas G; de fato, o receptor β-adrenérgico foi o primeiro receptor metabotrópico para neurotransmissor a ser identificado. Duas subclasses de receptores α-adrenérgicos são hoje conhecidas. A ativação de receptores α1 geralmente resulta em uma lenta despolarização, ligada à inibição de canais de K+, enquanto a ativação de receptores α2 produz uma lenta hiperpolarização, devida à ativação de um tipo diferente de canais de K+. Há três subtipos de receptores β-adrenérgicos, dois dos quais são expressos em muitos tipos de neurônios.. ADRENALINA: A adrenalina (também denominada epinefrina) está presente no encéfalo em níveis mais baixos do que as demais catecolaminas e também está presente em um menor número de neurônios do encéfalo do que outras catecolaminas. Neurônios que contêm adrenalina no sistema nervoso central são encontrados principalmente no sistema 10 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 tegumentar lateral e no bulbo e projetam-se para o hipotálamo e para o tálamo. A função desses neurônios secretores de adrenalina não é bem conhecida. A enzima que sintetiza a adrenalina, a feniletanolamina-N- metiltransferase, está presente apenas em neurônios secretores de adrenalina. Por outro lado, o metabolismo da adrenalina é muito semelhante àquele da noradrenalina. A adrenalina é transportada para dentro de vesículas pelo TVMA. Na membrana plasmática, transportadores específicos para a adrenalina têm sido identificados, embora o TNA seja capaz de transportar adrenalina. Como já foi observado, a adrenalina atua em receptores α e β- adrenérgicos. HISTAMINA: A histamina é encontrada em neurônios do hipotálamo, que se projetam de forma esparsa, porém bastante difusa, a todas as regiões do encéfalo e da medula espinhal.As projeções histaminérgicas centrais medeiam o alerta e a atenção, de forma similar às projeções centrais de ACo e noradrenalina. A histamina também controla a reatividade do sistema vestibular. A histamina é liberada de mastócitos na corrente sanguínea em resposta a reações alérgicas ou da no tecidual. A proximidade entre mastócitos e vasos sanguíneos, juntamente às potentes ações da histamina nos vasos sanguíneos, levanta a possibilidade de que a histamina possa influenciar o fluxo sanguíneo encefálico. A histamina é produzida a partir do aminoácido histidina por uma histidina- descarboxilase e é transportada para dentro de vesículas pelo mesmo TVMA que transporta as catecolaminas. Ainda não foi identificado qualquer transportador de histamina em membrana plasmática. A histamina é degradada pelas ações combinadas da histamina-metiltransferase e da MAO. Há três tipos conhecidos de receptores de histamina, todos eles acoplados a proteínas G. Em virtude da importância dos receptores da histamina na mediação de respostas alérgicas, muitos antagonistas desses receptores foram desenvolvidos como agentes anti-histamínicos. Anti- histamínicos capazes de cruzar a barreira hematoencefálica, atuam como sedativos, pois interferem no papel da histamina no alerta, no SNC. SEROTONINA: A serotonina, ou 5-hidroxitriptamina (5-HT), foi inicialmente considerada como tendo ação no sentido de aumentar o tônus vascular em virtude de sua presença no soro (por isso, o nome serotonina). A serotonina é encontrada principalmente em grupos de neurônios da região da rafe da ponte e da parte superior do tronco encefálico, as quais apresentam proje ções difusas ao prosencéfalo e regulam o sono e a vigília. A serotonina ocupa um lugar de destaque na neurofarmacologia, pois um grande número de drogas antipsicóticas, valiosas para o tratamento da depressão e da ansiedade, atua em vias serotoninérgicas. A serotonina é sintetizada a partir do aminoáci do triptofano, o qual é um componente essencial da dieta. O triptofano é captado pelos neurônios por um transportador na membrana plasmática e hidroxilado em uma reação catalisada pela enzima triptofano-5-hidroxilase, o passo limitante para a síntese de 5-HT. O carregamento de 5-HT nas vesículas sinápticas é realizado pelo mesmo TVMA que também é responsável pelo carregamento de outras monoaminas. Os efeitos sinápticos da serotonina são encerrados por seu transporte de volta aos terminais nervosos, por um transportador específico de serotonina(TSER). Muitos fármacos antidepressivos são inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), inibindo o transporte de 5- HT pelo TSER. A via catabólica principal para a serotonina é mediada pela MAO. Muitos receptores para 5-HT foram identificados. A maioria deles é constituída por receptores metabotrópicos. Eles têm sido relacionados a comportamentos que incluem emoções, ritmos circadianos, comportamentos motores e estado de alerta mental A ativação de receptores 5-HT também medeia a saciedade e a redução no consumo de alimento, razão pela qual drogas serotoninérgicas são, algumas vezes, úteis no tratamento de distúrbios alimentares. Apenas um grupo de receptores para a serotonina, denominados receptores 5-HT3, é constituído por canais iônicos ativados por ligantes. Esses receptores são canais de cátions não seletivos e medeiam, portanto, respostas pós-sinápticas excitatórias. Sua estrutura geral, com canais funcionais formados pela reunião de múltiplas subunidades, é semelhante à de outros receptores ionotrópicos descritos neste capítulo. OXIDO NITRICO: O NO é um gás produzido pela ação da óxido-nítrico sintase, uma enzima que converte o aminoácido arginina em um metabólito (citrulina), gerando simultaneamente NO . A NO-sintase neuronal é regulada pela ligação de Ca2+ a um sensor de Ca2+, a proteína calmodulina. Uma vez produzido, o NO pode atravessar a membrana plasmática, o que significa que o NO gerado dentro de uma célula pode viajar pelo meio extracelular e atuar dentro de células vizinhas. Assim, esse sinal gasoso apresenta um raio de influência que estende-se para além da célula de origem, difundindo umas poucas dezenas de micrômetros de seu sítio de produção antes de ser degradado. Essa propriedade torna o NO um agente potencialmente útil para coordenar as atividades de múltiplas células em uma região bem localizada, podendo mediar certas formas de plasticidade sináptica que se espalham dentro de pequenas redes de neurônios. Todas as ações conhecidas do NO são mediadas dentro de seus alvos celulares; por essa razão, o NO é frequentemente considerado um segundo mensageiro, e não um neurotransmissor. Algumas dessas ações do NO devem-se à ativação da enzima guanilato-ciclase, que produz o segundo mensageiro GMPc dentro das 11 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 células-alvo. Outras ações do NO são o resultado da modificação covalente de proteínas-alvo via nitrosilação, a adição de um grupo nitrila a determinados aminoácidos dentro das proteínas. O NO decai espontaneamente por reação com o oxigênio, produzindo óxidos inativos de nitrogênio. Como resultado, o sinal do NO dura apenas um curto período de tempo, da ordem de segundos ou menos. A sinalização pelo NO regula, evidentemente, uma variedade de sinapses que também empregam neurotransmissores convencionais; até o que se sabe atualmente, as sinapses glutamatérgicas representam o alvo mais bem estudado do NO no sistema nervoso central. O NO pode também estar envolvido em alguns distúrbios neurológicos. Tem sido proposto, por exemplo, que um desequilíbrio entre o óxido nítrico e a produção de superóxido participe da etiologia de alguns distúrbios neurodegenerativos. OBJETIVO 03: CARACTERIZAR O SISTEMA RECOMPENSA A dependência de substancias pode ser entendida como alterações cerebrais provocadas pela ação direto do uso prolongado de uma droga de abuso. Essas alterações são influenciadas por aspectos ambientais, sociais, culturais, educacionais, comportamentais e genéticos. Com as pesquisas, os cientistas descobriram que as mesmas regiões cerebrais que podem provocar a auto estimulação também são as regiões ativadas pelas drogas de abuso, sendo, portanto, as vias mesolimbica e mesocortical as principais vias neurais envolvidas nesse circuito motivacional. Logo, as drogas de abuso estimulam as mesmas regiões do cérebro que induzem a autoestimulação elétrica em animais, ativadas em situações prazerosas. Cada droga de abuso tem o seu mecanismo de ação particular, mas todas elas atuam, direta ou indiretamente, ativando uma mesma região do cérebro: o sistema recompensa cerebral. Esse sistema é formado por circuitos neuronais responsáveis pelas ações reforçadas positiva e negativamente. Quando nos deparamos com um estimulo prazeroso, nosso cérebro lança um sinal: o aumento de dopamina, importante neurotransmissor do SNC, no núcleo accumbens, região central do sistema de recompensa e importante para os efeitos das drogas de abuso. Normalmente existe um aumento de dopamina com estímulos prazerosos, causados muitas vezes por alguns alimentos, sexo e ambientes agradáveis. As drogas de abuso agem no neurônio dopaminérgico, isto é, neurônios cujo principal neurotransmissor é a dopamina, induzindo um aumento brusco e exacerbado de dopamina no núcleo accumbens, mecanismo comum para praticamente todas as drogas de abuso. Esse sinal é reforçador, associado a sensações de prazer, fazendo com que a busca pela droga se torne cada vez mais provável. SISTEMA MESOLÍMBICO É composto por projeções dopaminérgicas que partem da área tegmentar ventral e chegam principalmente ao núcleo accumbens. A área tegmentar ventral éonde se localizam os corpos neuronais dopaminérgicos e é responsável também pelas projeções desses neurônios para as demais estruturas do sistema de recompensa. Já o núcleo accumbens é responsável pelo aprendizado e pela motivação, bem como pela valorização de cada estimulo. Existem projeções dopaminérgicas para outras estruturas cerebrais, tais como o hipocampo, estrutura associada com aprendizagem e memória espaciais; e a amígdala, estrutura responsável pelo processamento do conteúdo emocional de estímulos ambientais. O sistema mesolimbico está relacionado ao mecanismo de condicionamento ao uso da substancia, bem como a fissura, à memoria e as emoções ligados ao uso. SISTEMA MESOCORTICAL É composto pela área tegmentar ventral, pelo córtex pré- frontal, pelo giro do cíngulo e pelo córtex orbiofrontal. • O córtex pré-frontal é responsável pelas funções cognitivas superiores e pelo controle do sequenciamento de ações. • O giro do cíngulo, por estar localizado acima do corpo caloso, tem conexões com diversas outras estruturas do sistema límbico e tem as funções: atenção, memória, regulação da atividade cognitiva e emocional. • O Córtex orbiofrontal é responsável pelo controle do impulso e da tomada de decisão. As alterações que ocorrem no sistema mesocortical em decorrência do consumo de substancias psicoativas estão relacionadas com a compulsão e a perda do controle para o consumo de drogas. Ambos os sistemas, mesolímbico e mesocortical, funcionam paralelamente entre si e com as demais estruturas cerebrais configurando o sistema de recompensa cerebral, sendo que a dopamina é o principal neurotransmissor presente nesse sistema, porém, não o único. Neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina, glutamato e o ácido gama- aminobutírico (GABA) são responsáveis pela modulação do SNC e também estão presentes no sistema de recompensa. 12 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 OBJETIVO 04: CARACTERIZAR O MECANISMO DAS PRINCIPAIS DROGAS ILICITAS: A dopamina é o neurotransmissor sintetizado dentro do sistema recompensa. Para a sua síntese é necessário a presença do aminoácido tirosina. Por meio da enzima tirosina hidroxilase, a tirosina é transformada em forma em DOPA. A dopamina tem sua origem na descarboxilação da DOPA. Em seguida, é armazenada nas vesículas dos terminais pré-sinápticos para ser liberado na fenda após um estimulo neuronal. Esse estimulo pode ser uma comida favorita, um carinho, uma boa conversa ou um filme favorito. Uma vez liberada na fenda, atua sobre os receptores dopaminérgicos, cujo efeito é uma sensação de bem-estar e euforia. Rapidamente após a ligação com os receptores dopaminérgicos, a dopamina é retirada da fenda. Isso sé dá por meio de três processos básicos: [1] difusão da dopamina para fora da fenda sináptica, [2] destruição por enzimas e [3] recaptação para o pré-sináptico de onde fora liberada. Ali, será estocada para ser liberada novamente. A recaptação é realizada pela bomba de recaptação, transportadores dopaminérgicos, encarregados de captar parte da dopamina liberada na fenda sináptica e devolvê-la ao terminal pré- sináptico a fim de ser reciclada. O sistema dopaminérgico possui três tratos considerados como os mais importantes, de grande interesse para o entendimento da neurobiologia da dependência química. Um destes é o trato mesolímbico-mesocortical, que se projeta a partir da área tegmental ventral (ATV) para a maior parte do córtex frontal (funções psíquicas superiores) e sistema límbico (emoção) e parece ser a via dopaminérgica relacionada à recompensa. Estudos têm demonstrado relação íntima entre algumas estruturas cerebrais e a recompensa. O nucleus accumbens e a área tegmental ventral parecem moderar o estímulo à recompensa, induzido por substâncias psicoativas. Grande parte da propriedade causadora de dependência das drogas está na ativação do sistema dopaminérgico de recompensa. Isso pode ser feito de modo direto ou indireto. Substâncias psicoativas como a cocaína e a anfetamina agem diretamente sobre esse sistema, enquanto a nicotina e os opiáceos estimulam-no indiretamente. As causas naturais que normalmente estimulam o sistema de recompensa chegam a aumentar em até 100% sua atividade. Na vigência de substâncias psicoativas, no entanto, essa atividade ser 1000 vezes maior. Do ponto de vista estritamente biológico, a capacidade das substâncias psicoativas em estimular o sistema de recompensa, resultando em euforia, relaxamento e bem- estar, deixaria o usuário mais propenso a repetir o consumo das mesmas, a fim de experimentar repetidamente os seus efeitos. Tal comportamento de busca, ocasionaria a dependência COCAÍNA A cocaína, estimula diretamente o sistema recompensa, ligando-se à bomba de recaptação de dopamina e bloqueando sua ação. Conseqüentemente, mais dopamina permanecerá na fenda sináptica. Há um aumento da concentração, do tempo de permanência e da intensidade de ação da dopamina sobre os seus receptores. O resultado é um quadro de euforia e prazer muito mais intenso do que as situações que estimulam o sistema naturalmente. Isso reforça a busca pela substância psicoativa, a fim de satisfazer a necessidade da recompensa desencadeada. A cocaína também tem grande afinidade pelo sistema de neurotransmissão de serotonina, responsável pela modulação do humor , o controle dos impulsos e capaz de estimular também o sistema de recompensa. A ação da cocaína nesse sistema também se dá por meio do bloqueio da recaptação de serotonina. A afinidade da cocaína por essa bomba de recaptação é muito mais intensa se comparada aos antidepressivos que atuam nesse mesmo sítio. ANFETAMINAS & ECSTASY As anfetaminas e o ecstasy atuam sobre o sistema de recompensa induzindo a liberação maciça de dopamina na fenda, em uma quantidade muito maior do que a observada em estímulos naturais. Ela também inibe a recaptação, mas numa intensidade muito menor, se comparada à cocaína. De qualquer forma, o resultado final é um excesso de dopamina, que será removida com mais dificuldade, deixando-a agir mais tempo sobre os receptores e produzindo efeitos de euforia mais intensos. O ecstasy, além de atuar diretamente sobre o sistema de recompensa, tem especial afinidade pelo sistema serotoninérgico, de provêm seus efeitos alucinógenos e sinestésicos (“sons têm cores e cores têm sons”). O sistema serotoninérgico, quando estimulado, também atua positivamente sobre o sistema de recompensa, aumentando ainda mais o efeito euforizante produzido por este. NICOTINA A nicotina estimula o sistema de recompensa de maneira indireta. Ela é capaz de se ligar aos receptores do um sistema de neurotransmissão conhecido por sistema colinérgico. A ligação aos receptores nicotínicos estimula a liberação de outro neurotransmissor, de natureza excitatória, conhecido por glutamato. O glutamato é capaz de estimular a liberação de dopamina no sistema de recompensa. Outra ação da nicotina está na inibição do sistema GABA. Ao contrário do sistema glutamato (excitatório), esse sistema é capaz inibir todos os outros sistemas do cérebro, inclusive o de recompensa. Estando o sistema GABA bloqueado pela nicotina, a sensação de bem-estar e euforia proporcionada pelo consumo de cigarros torna-se ainda mais intensa, duradoura e causadora de dependência. OPIÁCEOS Há uma grande concentração de receptores opiáceos ao redor da área tegmental ventral e do nucleus accumbens. O organismo possui receptores naturais para os opiáceos (heroína, dolantina, morfina, codeína e outros). Há três classes de receptores opióides envolvidos no surgimento de dependência aos opiáceos: receptores um, delta e kappa. O primeiro, no entanto, é o responsável pelos efeitos debem-estar experimentados durante o consumo de opiáceos. 13 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 Os opiáceos ativam o sistema de recompensa de maneira indireta por meio de duas ações. A primeira consiste na ligação dos opiáceos com os receptores opióides dentro do sistema de recompensa. A ligação faz com que um sinal seja enviado para liberar dopamina. O sistema GABA inibe a liberação de dopamina. Os opiáceos, no entanto, bloqueiam a ação desse sistema. Desse modo, os efeitos da dopamina tornam-se mais potentes e duradouros ÁLCOOL O álcool atua sobre o sistema de recompensa indiretamente, por meio de sua ação no sistema glutamato (excitatório), GABA (inibitório), opióide (prazer e analgesia) e serotonina (humor e controle dos impulsos). Todos esses sistemas são capazes de interferir no sistema de recompensa. Ao inibir o sistema glutamato e estimular o sistema GABA, produz uma sensação de relaxamento, modulada pelo sistema de recompensa (página 53 das ilustrações). Sua ação sobre a serotonina também produz uma sensação de euforia e bem- estar, predicativos que levam os indivíduos a desejarem novas experiências com a substância. Alguns estudos apontam para a ação do álcool sobre o sistema opióide. O álcool parece atuar positivamente sobre os receptores opióides mu e negativamente sobre os receptores delta. Estudos com animais demonstraram que aqueles que não possuíam receptores delta ingeriram álcool com mais avidez e descontrole. Já a estimulação dos receptores mu aumentava a procura por álcool entre esses animais. Desse modo, o sistema opióide atua diretamente sobre o sistema de recompensa e está associado ao desenvolvimento da dependência. MACONHA O princípio ativo da maconha, o THC, possui receptores específicos dentro do sistema de recompensa. Há uma grande concentração destes ao redor da área tegmental ventral, do nucleus accumbens e do hipocampo. Não se sabe até o momento, porém, como o THC estimula o sistema de recompensa. Uma das teorias vigentes postula que o THC, ao se ligar ao seu receptor específico dentro do sistema de recompensa, faz com essa ligação envie um sinal que estimula a liberação de dopamina e provoca os efeitos de bem-estar e relaxamento observados. O THC, provavelmente, é capaz de estimular o sistema opióide, que por sua vez estimula o sistema de recompensa. OBJETIVO 05: CARACTERIZAR NEUROADAPTAÇÕES E RELACIONAR COM A TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA. Há diversas correntes teóricas acerca da dependência química. Nenhuma delas é capaz de explicar totalmente os mecanismos e a psicopatologia envolvidos na gênese e na manutenção da dependência. Ainda assim, todas possuem observações pertinentes e úteis na abordagem e no tratamento desses indivíduos. A neurobiologia também deu contribuições ao tema. Entre essas, a teoria das neuroadaptações é a mais palpável, detectável em exames de neuroimagem e a responsável pelo surgimento da tolerância e dos sintomas de abstinência da substância. O consumo prolongado de substâncias psicoativas provoca modificações anatômicas e fisiológicas no cérebro. Tais modificações tornam a droga cada vez mais importante para o indivíduo, uma vez que o novo equilíbrio conta agora com a presença da substância. A partir daí, a ausência da mesma será marcada por sintomas de desconforto, tais como fissura, tremores, suor, aumento da pressão e da temperatura. A busca do prazer vai aos poucos sendo substituída pela busca de alívio dos sintomas de desconforto (síndrome de abstinência). As características desse novo comportamento de busca serão moldadas tanto pela personalidade, quanto pelo ambiente cultural que permeia estes indivíduos. Há duas neuroadaptações mais conhecidas: a tolerância e a síndrome de abstinência. HOMEOSTASE: TUDO NO ORGANISMO TENDE AO EQUILÍBRIO Qualquer organismo vivo tem um modus operandi, isto é, um jeito de funcionar geneticamente determinado, que independe da vontade ou mesmo do conhecimento do indivíduo sobre a sua existência. Ninguém pede para sentir sono, liberar hormônio do crescimento, aumentar os batimentos do coração durante o exercício, suar no calor ou tremer no frio. Cabe ao organismo executar tais funções, com a finalidade de adaptar o indivíduo aos novos estímulos que recebe ao longo da vida. Qualquer adaptação às modificações causadas pelo ambiente externo visa à manutenção do equilíbrio fisiológico (homeostase) do organismo. Se há aumento de temperatura, os vasos sanguíneos se dilatam para facilitar a perda de calor e as glândulas secretam gotas de suor para resfriar o corpo. Já no frio, os vasos se contraem e o corpo treme, a fim de produzir calor. Em ambos casos, o corpo se adaptou às modificações externas de temperatura para não prejudicar o equilíbrio da temperatura corpórea. Ao longo da vida, o organismo não necessitou de substâncias psicoativas para se estabelecer. O álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha e a heroína não são essenciais para o seu funcionamento. Frente à presença das mesmas, cria-se um novo padrão fisiológico de funcionamento. O organismo, então, se encarrega de destruí-las e eliminá-las, a fim de restabelecer seu equilíbrio habitual (homeostase). Quando tal presença se mostra ocasional, pontual, esporádica, o organismo apenas se incumbe da tarefa anteriormente descrita. Mas se a presença da substância se torna constante, o organismo produzirá uma série de modificações no cérebro para dificultar a ação das drogas e se aprimorará na destruição e excreção das mesmas. Mas se tais adaptações deixaram o funcionamento do organismo ‘mais parecido’ com o anterior (sem drogas), o novo modus operandi estabelecido passou a contar com a presença das drogas em seu dia-a-dia. Para isso, também desenvolveu mecanismos que sinalizam ao corpo a redução ou a ausência das mesmas. Desse modo, se de um lado o organismo se tornou mais indiferente à presença droga, também ficou mais sensível a sua falta. NEUROADAPTAÇÃO: O EQUILÍBRIO POSSÍVEL Segundo Littletton & Harper (1994), “a tolerância implica na capacidade da célula de se adaptar à presença dos agentes farmacológicos em seu ambiente para reassumir uma função relativamente normal. Em outras palavras, uma concentração mais alta da droga será necessária para produzir as mesmas perturbações funcionais que foram produzidas na primeira exposição da célula à droga”. Isso é diferente da resistência à droga: as bactérias resistentes aos 14 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 antibióticos funcionam normalmente com ou sem a presença destas substâncias. Os antibióticos não as afetam bioquimicamente. Dessa forma, os autores afirmam que “a dependência celular implica uma adaptação à presença da droga em seu ambiente, mas nesse caso a adaptação é tão severa que a célula não pode funcionar normalmente na ausência da droga. Assim, uma perturbação funcional (síndrome de abstinência) ocorrerá quando da remoção da droga”. Para os autores, a neuroadaptação ocasiona tolerância e síndrome de abstinência a partir de um único processo de modificação adaptativa. Essa, no entanto, pode ser didaticamente dividida em neuroadaptação de prejuízo e de oposição. ADAPTAÇÃO DE PREJUÍZO: TOLERÂNCIA A adaptação de prejuízo consiste no desenvolvimento de mecanismos que dificultem a ação da droga sobre as células, reduzindo, assim, seus efeitos. Isso pode acontecer a partir da redução do número ou da sensibilidade dos receptores à substância em questão ou do aumento da eficiência do corpo na metabolização e eliminação da droga. A partir dessas modificações, a quantidade habitual de droga consumida não provocará no usuário os efeitos positivosque buscava. Para obtê-los de agora em diante, necessitará de doses maiores, capazes de ‘romper’ as novas barreiras neurobiológicas criadas pelo organismo. Esse aumento causará uma nova neuroadaptação, que implicará em um outro aumento de dose e assim por diante. ADAPTAÇÃO DE OPOSIÇÃO: SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA Apesar de também causar tolerância, a adaptação de oposição está relacionada ao aparecimento da síndrome de abstinência nos dependentes de substâncias psicoativas. Segundo Littletton & Harper (1994), “a adaptação de oposição consiste num mecanismo para derrotar os efeitos da presença da droga através da instituição de uma força oponente dentro da célula. Este tipo de alteração tem claramente um potencial, quanto exposto à remoção da droga, de produzir transtornos funcionais na direção oposta àquela causada originalmente pela droga”. Desse modo, nota-se entre os usuários de sedativos uma síndrome de abstinência marcada por inquietação, insônia, aceleração do pensamento e confusão mental. Já entre os de estimulantes, o quadro é geralmente depressivo, com lentificação psicomotora e aumento do sono. É essencial afirmar que as adaptações de oposição causam um desequilíbrio no sistema nervoso central quando a droga é retirada. Esse desbalanço aparece na forma de sintomas de desconforto, de intensidade variável, geralmente de natureza oposta à droga utilizada. Tais sintomas permanecerão até que o organismo recupere seu equilíbrio anterior, no qual não havia a presença constante da droga. Esse quadro é denominado síndrome de abstinência. TOLERÂNCIA Existem sinais e sintomas que caracterizam a dependência química. Entre eles, há dois notadamente biológicos: a tolerância e a síndrome de abstinência. A Organização Mundial da Saúde define tolerância como “a necessidade de doses crescentes da substância psicoativa para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas.” A partir do surgimento da tolerância o indivíduo passa a sentir o efeito da droga em menor escala. Isso poderá levá-lo a aumentar sua dose habitual, para que consiga as mesmas sensações que o consumo da droga lhe proporcionava anteriormente. Por meio dos mecanismos neurobiológicos, o organismo pode desenvolver tolerância a uma droga de duas maneiras: pelo aprimoramento dos mecanismos de destruição (metabolização) e eliminação da droga, diminuindo, assim, seu tempo de ação sobre o cérebro (tolerância metabólica); ou pelo desenvolvimento neuroadaptações, que visam a deixar os neurônios menos sensíveis à ação da droga ou a provocar nestes uma reação de natureza oposta aos efeitos da droga dentro da célula (tolerância funcional). Não há desenvolvimento de tolerância para todos os efeitos da droga. Geralmente, há tolerância completa para os efeitos que trazem prazer ao usuário, como a euforia causada pela cocaína, ou o relaxamento e diminuição da ansiedade causados pelo álcool e os calmantes (benzodiazepínicos). Outras ações, no entanto, sofrem tolerância parcial. É o caso dos batimentos do coração nos usuários freqüentes de cocaína: apesar de mais acelerados do que nos períodos sem a droga, sua freqüência é menor, se comparada aos primeiros tempos de consumo. Há ainda a tolerância reversa ou sensibilização. Para algumas ações da cocaína, o cérebro torna-se mais sensível conforme o uso vai se repetindo: devido a isso, os tiques e os sintomas persecutórios (nóia), inicialmente leves ou mesmo inexistentes, aparecem durante o consumo de doses mínimas da substância. Um outro aspecto importante é a existência de tolerância cruzada. Isso significa que quando há desenvolvimento de tolerância para uma determinada droga, ela se estende para outras que possuem propriedades farmacológicas semelhantes. Desse modo, aqueles que desenvolvem tolerância para o álcool, o fazem também para os barbitúricos e benzodiazepínicos (tranqüilizantes ou calmantes). O LSD possui tolerância cruzada com a psilocibina e a mescalina, estando esse mesmo fenômeno presente entre a morfina e os opiáceos sintéticos (meperidina) e semi-sintéticos (heroína). Apesar da tolerância se desenvolver principalmente a partir da quantidade, duração e freqüência do consumo, parte dela está condicionada a fatores ambientais e biológicos. Desse modo, fatores como a disposição física, o estado mental e o tipo de ambiente onde o consumo de dá (de reuniões formais aos ambientes carnavalescos) também influenciam de alguma maneira o efeito potencial das substâncias sobre o cérebro. Alguns aspectos da tolerância são geneticamente determinados. Isso significa que o organismo já nasce com um potencial de tolerância predeterminado. Quanto maior o potencial, maior a resistência e a possibilidade de aumentar o consumo de álcool. Segundo Dudley (2002), partindo de uma perspectiva evolucionista, um dos legados genéticos do consumo de frutas fermentadas (alcoólicas) desde os tempos ancestrais da humanidade é a capacidade do homem metabolizar o álcool. Isso depende da ação das enzimas álcool desidrogenase (ADH), que converte o álcool em acetaldeído (tóxico), e acetaldeído desidrogenase, que converte o acetaldeído em acetato (menos tóxico e eliminado na urina). Apesar de presente em todos os seres vivos, tais enzimas variam entre os homens, quanto à 15 AES11-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED4-2019.1 intensidade de sua ação. Isso pode ser creditado a maior ou menor presença de frutos de fermentados na dieta dos hominídeos ao longo de sua evolução. Quanto mais eficaz a metabolização do álcool no organismo, maior a capacidade de tolerar sua presença, predispondo assim o indivíduo a futuros problemas. Quanto menor a eficácia enzimática, maiores serão os efeitos aversivos do consumo, tornando menos provável a instalação do hábito. Há uma grande discussão científica acerca da importância da tolerância para o diagnóstico e o surgimento da dependência. O National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) (1995) afirma que a tolerância pode encorajar o consumo de álcool, contribuindo para a dependência e danos ao organismo. Já Burst (1999) sugere os mecanismos neurobiológicos que geram tolerância ao álcool não participam do processo de dependência. Como exemplo, cita que os benzodiazepínicos, eficazes no tratamento da síndrome de abstinência do álcool, não possuem valor no tratamento da dependência desta substância. Escrevendo acerca da tolerância à nicotina, Perkins (2002) sugere que “embora importante para o entendimento da adaptação biológica, a tolerância não elucida os fatores responsáveis pela dependência da nicotina”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a tolerância um critério diagnóstico para a dependência química, mas sua presença isolada não permite qualquer conclusão acerca do tema. Por outro lado, a tolerância tem grande importância nos quadros agudos ocasionados pelo consumo de drogas. Há situações de risco bastante conhecidas. Kuebler e col. (2000) observaram que os novos usuários de heroína estão seriamente mais expostos ao risco de overdose, por desconhecerem seus limites biológicos para a substância. Com o desenvolvimento de tolerância, a necessidade de quantidades crescentes de substâncias como a heroína, a dolantina (meperidina) e a cocaína também expõe seus usuários ao risco de overdose. A tolerância é reversível após um período de abstinência. Desse modo, um indivíduo habituado a uma determinada dose de cocaína ou heroína, ao retomar o mesmo padrão. ALCOOL: Há diversos tipos de tolerância envolvidos no consumo de álcool, divididos em duas grandes classes: tolerância funcional e tolerância metabólica. A tolerância funcional encampa as adaptações sofridas pelo cérebro para compensar as alterações causadas pelo álcool, tanto no comportamento,
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