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1 Khilver Doanne Sousa Soares & IESC VI O climatério é um evento fisiológico e não patológico dividido em pré e pós-menopáusico. A menopausa ocorre em torno dos 50 anos de idade e corresponde à data da última menstruação em consequência da falência ovariana. Seu diagnóstico é retrospectivo, após 12 meses de amenorreia - reflete uma depleção folicular completa ou quase completa e deficiência extrema da secreção ovariana de estrogênio. A menopausa é classificada como natural ou artificial (iatrogênica) e como precoce (antes dos 40 anos) ou tardia (após os 55 anos). A transição menopáusica começa com variações na duração do ciclo menstrual e elevação do FSH sérico e termina com o último período menstrual, que só é reconhecido após 12 meses de amenorreia. O estágio -2 (precoce) é caracterizado por uma duração variável do ciclo (com mais de 7 dias de diferença da duração normal, que é de 21 a 35 dias). Estágio -1 (tardio) = é caracterizado pela falha de dois ou mais ciclos e um intervalo de amenorreia ≥ 60 dias, sendo este um período no qual os fogachos são comuns; Estágio -2 = é a perimenopausa e começa na transição menopáusica e termina 12 meses após o último período menstrual. Menopausa; Pós-menopausa: - Estágio + 1 (precoce): compreende os primeiros 5 a 8 anos após a última menstruação. É caracterizado por decréscimo adicional e completo da função ovariana e perda óssea acelerada, com persistência frequente dos fogachos; - Estágio +2 (tardio): começa 5 a 8 anos após o último período menstrual e termina com a morte. Estágios da evolução do período reprodutivo ao não reprodutivo de acordo com o STRAW + 10 Deve-se suspeitar de que uma mulher está no climatério quando estiver na faixa dos 45-50 anos. Quando sintomática, mais frequentemente se apresenta com irregularidade menstrual, 2 Khilver Doanne Sousa Soares fogachos, alterações de humor, distúrbios do sono e/ou outros sintomas inespecíficos. Sintomas da síndrome urogenital (SUG) do climatério, como ressecamento vaginal e incontinência, bem como problemas sexuais relacionados ou não à SUG também podem estar presentes. Anamnese & Exame Físico Entre as queixas apresentadas pelas pacientes, destaca-se a referência aos fogachos, irritabilidade, alterações no padrão do sono, artralgias/mialgias, palpitações, diminuição da memória e do interesse pelas atividades de rotina, diminuição da libido, dispareunia e sintomas geniturinários. Estes últimos devem ter sua presença questionada, uma vez que ocasionalmente não se apresentam como queixas iniciais da mulher. A idade da menarca e a data da última menstruação são importantes, assim como a presença de irregularidades menstruais e o método anticoncepcional utilizado. É imprescindível investigar os hábitos alimentares, atividades físicas, existência de patologias e uso de medicações. Nunca deve ser esquecida a presença de fatores de risco, como fumo e álcool em excesso. A verificação do peso e da altura, para cálculo do índice de massa corpórea (IMC), e a medida da circunferência abdominal demonstram a necessidade de maior atenção com a nutrição. A aferição da pressão arterial é uma oportunidade para rastreamento de alterações. A ausculta cardíaca e pulmonar, palpação da tireoide, do abdome e observação dos membros inferiores. Também pode ser útil a avaliação das mamas, axilas e cadeia ganglionar. A palpação abdominal e da pelve é direcionada à investigação de anormalidades na parede e na cavidade, como dor ou alterações nas características dos órgãos. Deve-se proceder à inspeção da vulva, com atenção para alterações do trofismo, coloração ou adelgaçamento da pele e mucosa. A avaliação da rugosidade da mucosa e da lubrificação do colo e da vagina pode refletir a situação hormonal e indicar necessidade de tratamento para melhorar o trofismo da mucosa, para diminuir o desconforto urogenital ao coito e em relação à predisposição a infecções. Exames Complementares O diagnóstico do climatério é substancialmente clínico e geralmente não é necessária a realização de dosagens hormonais. Porém, quando a menopausa for cirúrgica ou houver dúvida em relação à situação hormonal, a dosagem do FSH é suficiente para o diagnóstico de hipofunção/falência ovariana quando o resultado for maior do que 40 mUI/mL. Conduta Terapia Hormonal (TH) Antes do tratamento farmacológico deve-se orientar as pacientes a mudar o estilo de vida: resfriar o ambiente, vestir-se atenta ao clima, tomar banhos frequentes, dieta saudável e controle do peso, prática de exercícios físicos regulares e cessação do tabagismo podem melhorar os sintomas de boa parcela das mulheres. A TH permanece o tratamento mais eficaz para os sintomas vasomotores (SVMs) e para a síndrome genitourinária da menopausa (SGM) e, além disso, demonstrou prevenir a perda e fratura óssea. O tipo de TH, dose, formulação, via de administração e duração deve ser definido individualmente. O conceito de “menor dose” pelo menor período de tempo foi reavaliado e “pode ser inadequado ou até prejudicial para algumas mulheres”. Um conceito mais apropriado é a “dose, duração, regime e via apropriada de administração”. Dado o perfil de segurança mais favorável do estrogênio sozinho, durações mais longas podem ser mais apropriadas. Estratificação de risco por idade e tempo desde a menopausa é recomendada. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Para as mulheres com idade inferior a 60 anos ou que estão dentro de 10 anos do início da menopausa e não têm contraindicações, a relação risco-benefício é mais favorável para o tratamento dos SVMs incômodos e para aqueles com alto risco de perda ou fratura óssea. Mulheres que iniciam TH mais de 10 ou 20 anos após o início da menopausa ou têm 60 anos ou mais apresentam maiores riscos absolutos de doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral (AVC), tromboembolia venosa e demência. Maiores durações da terapia devem ser para indicações documentadas, como SVM persistente ou perda óssea, com tomada de decisão compartilhada e reavaliação periódica. O uso prolongado de TH alivia continuamente os sintomas dos SVMs persistentes. Com a interrupção da TH, praticamente todas as mulheres perderão densidade mineral óssea, com risco aumentado de fraturas ósseas e excesso de mortalidade por fratura do quadril. Em casos de necessidade de terapia + longa, as decisões devem ser individualizadas. Os riscos do uso prolongado de TH podem ser minimizados com redução da dose hormonal, uso de terapias transdérmica que evitam o efeito de primeira passagem hepática, ou a combinação de estrogênio conjugado com o bazedoxifeno, que fornece proteção endometrial sem necessidade de progesterona. A TH pode ser inadequada para algumas mulheres, incluindo aquelas com maior risco de doença cardiovascular, aumento do risco de doença tromboembólica ou risco aumentado de alguns tipos de câncer (câncer de mama, em mulheres com útero). Embora a TH seja considerada eficaz para a prevenção da osteoporose pós-menopáusica, geralmente é recomendada como opção apenas para mulheres com risco significativo, para as quais as terapias não estrogênicas não são adequadas. Continuar a terapia permanece uma decisão individual em mulheres selecionadas e bem aconselhadas com mais de 60 ou 65 anos. Não há dados para apoiar a interrupção da rotina em mulheres com idade de 65 anos. O progestogênio sempre deve ser acrescentado em mulheres que não são histerectomizadas. Naquelas mulheres que apresentam apenas sintomas urogenitais, como vaginite atrófica, síndrome uretral ou incontinência urinária, é recomendado o uso exclusivo da estrogenioterapia tópica vaginal. Contraindicações da TH As contraindicações à TH são: história de câncer de mama, câncer de endométrio, sangramento genital não esclarecido, doença arterial coronariana, porfiria, antecedentes de doençatromboembólica ou AVC, doença hepática em atividade ou aquelas pacientes de alto risco para o desenvolvimento de tais complicações. A “hipótese do tempo” sugere que a terapia hormonal no começo da menopausa (em comparação com o início 10 anos ou mais após o começo da menopausa) pode ser cardioprotetora devido à aparente habilidade do estrogênio em diminuir a progressão da aterosclerose em mulheres mais jovens. A TH não deve ser iniciada, contudo, para prevenção de doença. Tratamento Não-Hormonal para Sintomas Vasomotores do Climatério Para mulheres com ondas de calor moderadas a severas ocorrendo durante o dia e a noite, em que o estrogênio é contraindicado ou não é bem tolerado, ou pacientes que interromperam a terapia estrogênica e estão apresentando sintomas, sugere-se terapias não hormonais como ISRN, ISRS ou gabapentina. Para mulheres com sintomas moderados a graves e predominantemente diurnos e que não são candidatas para TH, sugere-se paroxetina ou 4 Khilver Doanne Sousa Soares citalopram como medicamentos de primeira escolha. Para mulheres com sintomas predominantemente noturnos, sugere-se gabapentina. Alguns fitoterápicos podem auxiliar no alívio dos sintomas presentes no climatério, particularmente os fogachos - alteração transitória que pode comprometer a qualidade de vida das mulheres nesse período. É indicada ultrassonografia transvaginal para avaliação endometrial nas seguintes situações: mulheres, mesmo assintomáticas, utilizando TH, moduladores seletivos dos receptores de estrogênios (SERMs), tibolona, fitoterápicos e qualquer outro tratamento que apresente ação estrogênica. É considerada normal na fase pós-menopáusica uma espessura endometrial de até 5 mm (e até 8 mm nas mulheres usuárias de TH). Nos casos de espessamento, é mandatória a investigação por histeroscopia e biópsia endometrial. Contracepção no Climatério É possível que a mulher engravide no período perimenopáusico, motivo pelo qual a orientação contraceptiva deve ser feita até que não tenha menstruado por 1 ano (ou que o FSH esteja na faixa da pós-menopausa). A mulher no climatério pode usar qualquer método anticoncepcional, desde que não apresente condições clínicas que contraindiquem o seu uso. A TH, quando indicada, somente deve ser iniciada após a suspensão de qualquer método anticoncepcional hormonal. Quando Referenciar Situações + Frequentes a Considerar o Referenciamento de Mulheres Climatéricas _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 5 Khilver Doanne Sousa Soares Árvores de Decisão _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
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