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1 2 UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências e Letras – Araraquara - Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PROGRAMAÇÃO E CADERNO DE RESUMOS XIX Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/Araraquara IV Seminário Internacional de Estudos Literários IV Workshop do Grupo de Pesquisasem Dramaturgia e Cinema (GPDC) “O cinema e seus duplos” 18 a 22 de junho de 2018 Déborah Garson Cabral Leonardo Vicente Vivaldo Brunno V. G. Vieira (Orgs.) ISBN: 978-85-8359-055-2 XIX Seminário Araraquara p. 1-102 2018 3 XIX SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS LITERÁRIOS IV WORKSHOP DO GRUPO DE PESQUISASEM DRAMATURGIA E CINEMA (GPDC) “O CINEMA E SEUS DUPLOS” Realização Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários GPDC - Grupo de Pesquisa em Dramaturgia e Cinema (CNPq) Comissão Organizadora Brunno V. G. Vieira (Coordenador do PPGEL/UNESP/Araraquara) Renata Soares Junqueira (UNESP/Araraquara/GPDC) Fabiane Renata Borsato (UNESP/Araraquara/Coordenadora do Projeto Cine Campus) Fernanda Barini Camargo (PPGEL/UNESP/Araraquara) Déborah Garson Cabral (PPGEL/UNESP/Araraquara) Geisa Cristina Semensato (PPGEL/UNESP/Araraquara) Leonardo Vicente Vivaldo (PPGEL/UNESP/Araraquara) Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva (PPGEL/UNESP/Araraquara) Comitê Científico Profa. Dra. Ana Portich (UNESP/Marília) Prof. Dr. André Luís Gomes (UnB) Prof. Dr. António Preto (Escola Superior Artística do Porto – ESAP) Profa. Dra. Aparecida de Fátima Bueno (FFLCH/USP) Prof. Dr. Carlos Francisco de Morais (Universidade Federal do Triângulo Mineiro/GPDC) Profa. Dra. Claudia Barbieri Masseran (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/GPDC) Profa. Dra. Flávia Nascimento Falleiros (UNESP/São José do Rio Preto) Prof. Dr. Gilberto Figueiredo Martins (UNESP/Assis) Profa. Dra. Márcia Regina Rodrigues (pós-doutoranda UNESP/GPDC) Profa. Dra. Maria do Rosário Lupi Bello (Universidade Aberta de Portugal) Prof. Dr. Mário Fernando Bolognesi (UNESP/Instituto de Artes) Profa. Dra. Milca Tscherne (GPDC) Prof. Dr. Pedro Maciel Guimarães (UNICAMP) Profa. Dra. Silvana Pessôa de Oliveira (UFMG) Comissão de Trabalho Brunno V G. Vieira (Coordenador do PPGEL/UNESP/Araraquara) Renata Soares Junqueira (UNESP/Araraquara/GPDC) Fernanda Barini Camargo (PPGEL/UNESP/Araraquara) Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva (PPGEL/UNESP/Araraquara) Geisa Cristina Semensato (PPGEL/UNESP/Araraquara) Déborah Garson Cabral (PPGEL/UNESP/Araraquara) Leonardo Vicente Vivaldo (PPGEL/UNESP/Araraquara) Carlos Eduardo Monte (PPGEL/UNESP/Araraquara) Cristiane Passafaro Guzzi (UNESP/Araraquara/Prof. Letras) Jéssica Fabrícia da Silva (Grad./UNESP/Araraquara) Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (19. : 2018 : Araraquara, SP) Programação e Caderno de Resumos da XIX Semana de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, IV Seminário Internacional de Estudos Literários e IV Workshop do Grupo de Pesquisas em Dramaturgia e Cinema “O cinema e seus duplos” / Organizadores Déborah Garson Cabral, Leonardo Vicente Vivaldo, Brunno V. G. Vieira; Araraquara, 2018 (Brasil). – Documento eletrônico. - Araraquara : FCL-UNESP, 2018. – Modo de acesso: <http://fclar.unesp.br/#!/pos-graduacao/stricto-sensu/estudos-literarios/publicacoes/>. 1. Literatura. 2. Literatura -- Estudo e ensino. 3. Cinema. I. Título. II. Seminário Internacional de Estudos Literários (4. : 2018 : Araraquara, SP) III. Workshop do Grupo de Pesquisas em Dramaturgia e Cinema (4. : 2018 : Araraquara, SP). IV. Cabral, Déborah Garson. V. Vivaldo, Leonardo Vicente. VI. Vieira, Brunno V. G. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FCLAr – UNESP. 4 Prezados participantes, Vimos dar as boas vindas a todos os pesquisadores que atenderam ao nosso convite para debater o tema “O cinema e seus duplos”, em especial, aos debatedores e a nossos pós-graduandos que aceitaram o desafio do diálogo e da troca de ideias sem os quais o conhecimento não se efetiva. O cinema é chamado de “sétima arte” porque surgiu depois das seis que o antecederam na história das artes: música, teatro, pintura, escultura, arquitetura e literatura. Ao longo de toda a sua evolução desde o final do século XIX, o cinema, pelo esforço dos seus fautores (realizadores, teóricos e críticos), não tem feito senão variados exercícios com a finalidade de libertar-se da tutela das outras artes – sobretudo da literatura e do teatro –, propondo-se como linguagem específica que, podendo embora beneficiar-se de todas as outras linguagens artísticas (como, aliás, também ocorre com o teatro), é capaz de sugerir sentidos com formas próprias, alcançadas com exclusividade pelo dispositivo técnico que gera a arte cinematográfica. A técnica que permite o close- up, por exemplo, oferece ao espectador de cinema o privilégio de ver as imagens (de rostos, objetos etc.) com detalhes que ao espectador de teatro não é dado visualizar. Para refletir sobre essas especificidades, concentramos o XIX Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, o IV Seminário Internacional de Estudos Literários e o IV Workshop do Grupo de Pesquisas em Dramaturgia e Cinema numa proposta única: confrontar diferentes exercícios de análise fílmica e suscitar, pelo intercâmbio de perspectivas diversas, discussões sobre o cinema enquanto linguagem específica que articula, com os seus meios próprios, outras linguagens artísticas como a da literatura, a do teatro, a da pintura, a da música, a da arquitetura etc. Destaque especial é dado ao cinema de Manoel de Oliveira (1908/2015), objeto de pesquisa de vários dos integrantes do GPDC, que propõem um ciclo oliveiriano de filmes para estimular o debate sobre o cinema e seus duplos. Renata Soares Junqueira Brunno V. G. Vieira p/ Comissão Organizadora 5 PROGRAMAÇÃO GERAL 18/06/2018 19/06/2018 20/06/2018 21/06/2018 22/06/2018 9:00h às 10:00h (Anfiteatro B) Conferência de abertura: O Cinema e seus Duplos Profa. Dra. Maria do Rosário Lupi Bello – Universidade Aberta, Lisboa, Portugal Moderador: Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira Expediente suspenso na UNESP, na parte da manhã, Of. Circular 005/2018- PROPEG 10:00h às 12:00h (Anfiteatro B) Mesa-Redonda: “Literatura, Teatro e Cinema” “O diálogo entre o cinema e o teatro no Expressionismo alemão” Prof. Dr. Carlos Francisco de Morais (UFTM) “Jogos e Cenas de Eduardo Coutinho” – Prof. Dr. Gilberto Martins (FCL/ Assis/UNESP) Moderador: Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira Palestra: “Os duplos do cinema em A Divina Comédia, de Manoel de Oliveira” Profa. Dra. Renata Soares Junqueira – FCL/Araraquara Participação: Profa Ma. .Edimara Lisboa (GPDC - USP); Profa. Ma. Fernanda Barini (GPDC - UNESP) e Profa. Ma. Mariana Copertino. (GPDC - UNESP) Depoimento: “Como trabalha um conselheiro literário? Considerações sobre o filme A Carta” Jacques Parsi, historiador de cinema, tradutor e conselheiro literário de Manoel de Oliveira Moderadora: Profa Ma. Mariana Copertino (GPDC UNESP) Palestra: “Das servidões do amor (sobre Party, de Manoel de Oliveira)” Profa. Dra. Silvana Pessôa de Oliveira – FALE/UFMG Moderadora: Profa Dra.Claudia Barbieri Intervalo para almoço 14:00h às 15:30h (Salas 12, 13, 14 e 15) Sessões de Comunicação Sessões de Comunicação Sessões de Comunicação Sessões de ComunicaçãoSessões de Comunicação Coffee break 16:00h às 17:30h (Salas 12, 13, 14 e 15; Anf C e Anf D) Debates de Projetos de Pesquisa Debates de Projetos de Pesquisa Debates de Projetos de Pesquisa Debates de Projetos de Pesquisa Debates de Projetos de Pesquisa 17:30h às 19:30hs (Anfiteatro B) Palestra de encerramento: “O sorriso de Ema: considerações sobre o ator oliveiriano” Prof. Dr. Pedro Maciel Guimarães – UNICAMP Moderadora: Profa Dra Márcia Rodrigues 19:30h às 22:30h Ciclo de Cinema Manoel de Oliveira (Anfiteatro D) Exibição de filme para debate: A Divina Comédia (1991) Exibição de filme para debate: A carta (1999) Exibição de filme para debate: Party (1996) Exibição de filme para debate: Vale Abraão (1993) 6 PROGRAMAÇÃO GERAL 18/06/2018 – SEGUNDA-FEIRA das 9h às 10h Anf. B SESSÃO DE ABERTURA Prof. Dr. Cláudio Cesar de Paiva (Diretor da FCL/UNESP/Araraquara) Profa. Dra. Renata Soares Junqueira (Líder do GPDC-PPGEL/UNESP) Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Coordenador do PPGEL/UNESP) CONFERÊNCIA DE ABERTURA O cinema e seus duplos Profa. Dra. Maria do Rosário Lupi Bello – Universidade Aberta, Lisboa, Portugal Moderador: Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira 18/06/2018 – SEGUNDA-FEIRA das 10h às 12h Anf. B MESA REDONDA Literatura, Teatro e Cinema “O diálogo entre o cinema e o teatro no Expressionismo alemão” Prof. Dr. Carlos Francisco de Morais (UFTM) “Jogos e Cenas de Eduardo Coutinho” – Prof. Dr. Gilberto Martins (FCL/ Assis/UNESP) Moderador: Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira \ 18/10/2017 – SEGUNDA-FEIRA das 14h às 15h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO SC 1. Romance Moderno e Romance Contemporâneo Sala 12 Coordenador: Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro 1. Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro: Testemunho da iniquidade: Justiça e Direito em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. (UNESP/ CAPES) 2. Elisa Domingues Coelho: Entre o Social e o Religioso: o entre-lugar dos personagens do romance de 30. (FCLAr/ UNESP) 3. Naiara Speretta Ghessi: (Des)filiações, orfandades e o papel (trans)formador da arte nos romances de Milton Hatoum. (FCLAr/ UNESP) 4. Pedro Barbosa Rudge Furtado: A perspectiva do EU sobre a visão de mundo do outro em O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos. (FCLAr/ UNESP) 7 SC2. Vertentes de crítica literária Sala 13 Coordenador: André Luiz Alselmi 1. André Luiz Alselmi: “Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos”: os diferentes ÉTHE discursivos na correspondência de Caio Fernando Abreu. (Centro Universitário Barão de Mauá/ UNESP) 2. Claudimar Pereira da Silva: O Fogo, a Madressilva e o Rio: uma isotopia do poético em O som e a fúria e Enquanto agonizo, de William Faulkner. (FCLAr/ UNESP) 3. Marcelo Branquinho Massucatto Resende: De Orlando a Orlanda: performances literárias da transexualidade no século X. (FCLAr/ UNESP) 4. Marina Venâncio Grandolpho: Machado de Assis e a formação do crítico. (FCLAr/ UNESP) SC3. Relações entre Literatura e Cinema Sala 14 Coordenadora: Deborah Garson Cabral 1. Deborah Garson Cabral: O efeito da névoa na construção do espaço nas obras de Umberto Eco e a referência ao Cinema Noir. (FCLAr/UNESP) 2. Ana Claudia Rodrigues: Borges e Bertolucci: o verso e o anverso na estética tradutória. (UNESP) 3. Juliana Cristina Minaré Pereira: Da literatura para o cinema, uma distorção inevitável? (FCLAr/ UNESP) 4. Manuela Rodrigues Furtado: Os planos de Lulu! (PUCRS) SC4. Gênero e ficção I Sala 15 Coordenadora: Leila de Almeida Barros 1. Leila de Almeida Barros: A correlação entre maternidade e morte em Enquanto agonizo (1930) e Palmeiras selvagens (1939). (FCLAr/UNESP) 2. Laís Rodrigues Alves Martins: Ficção Pós-moderna: o passado no tempo presente. (FCLAr/UNESP)/ 3. Marcelo Maciel Cerigioli: A representação da mulher nos romances espanhóis sobre o pós-guerra. (FCLAr/UNESP) 4. Vivian Leme Furlan: A liberdade feminina como força criadora: o matrismo na ficção de Natália Correia. (FCLAr/UNESP) 8 18/06/2018 – SEGUNDA-FEIRA das 16h às 17h30 SESSÕES DE DEBATES SD1. Abordagens machadianas Sala 12 Debatedor: Prof. Dr. Jefferson Cano (UNICAMP) Mediador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan 1. Mauro Roberto Dias Miranda (M): A Semana Literária: Machado de Assis e a construção da crítica no Brasil. 2. Sandro Ponciano dos Santos (M): As muitas faces da poesia romântica machadiana. 3. Clarissa Navarro Conceição Lima (D): Machado de Assis e Guy de Maupassant, dois autores marcados pelo riso torto. 4. Maylah Esteves (D): Duplo e o fantástico em uma leitura comparada entre Machado de Assis e Edgar Allan Poe. SD2. Literatura norte-americana e inglesa Anf. D Debatedora: Profa. Dra. Juliana Pimenta Attie (UNIFAL) – videoconferência Mediadora: Profa. Dra. Maria das Graças Gomes Villa da Silva 1. Gabriela Carlos Luz (M): A desarticulação do monomito do herói em Beowulf. 2. Rosemary Elza Finatti (M): A sacralização do universo feminino na obra O despertar, de Kate Chopin. 3. Gilliale de Souza Jeremias (M): Emily Dickinson e Manuel Bandeira: um diálogo entre poetas. SD3. Vida e literatura Anf. C Debatedora: Profa. Dra. Natali F. Costa e Silva (UNIFAL) – videoconferência Mediador: Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi 1. Alessandro da Silva (D) - O intelectual e o exílio na ficção de María Rosa Lojo: um estudo comparativo dos romances La pasión de los nómades (1994), Finisterra (2005), Árbol de família (2010) e Todos éramos hijos (2014). 2. Luciléa Ferreira Gandra (M): Vozes veladas sob os véus das filhas de Alá. 18/06/2018 – SEGUNDA-FEIRA das 19h30 às 22h30 Anfiteatro D FILME Exibição do filme para debate: A Divina Comédia (1991) 9 19/06/2018 – TERÇA-FEIRA das 10h às 12h Anf.B MESA REDONDA “Os duplos do cinema em A Divina Comédia, de Manoel de Oliveira” Profa. Dra. Renata Soares Junqueira – FCL Araraquara Participação: Profa Ma. .Edimara Lisboa (GPDC - USP); Profa. Ma. Fernanda Barini (GPDC - UNESP) e Profa. Ma. Mariana Copertino. (GPDC - UNESP) 19/06/2018 – TERÇA-FEIRA das 14h às 15h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO SC5. Literatura brasileira e portuguesa contemporânea Sala 12 Coordenadora: Rafaella Berto Pucca 1. Rafaella Berto Pucca: Divergentes vozes do passado: dialogismo, polifonia e carnavalização na obra romanesca de Moacyr Scliar. (FCLAr/UNESP) 2. Gabriel Capelossi Ferrone : O bom samba não tem lugar: os espaços e a música em Desde que o Samba é Samba, de Paulo Lins. (FCLAr/UNESP) 3. Gabriela Cristina Borborema Bozzo: A inversão de máximas em Os meus sentimentos, de Dulce Maria Cardoso. (FCLAr/UNESP) 4. Igor Iuri Dimitri Nakamura: Formas e representações do amor em Marçal Aquino: uma leitura do romance “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”. (FCLAr/UNESP) SC6. Literatura, cinema e ensino Sala 13 Coordenador: Efraim Oscar Silva 1. Efraim Oscar Silva: Símbolos e montagem na produção ficcional de Modesto Carone. (FCLAr/UNESP). 2. Ana Carolina Miguel Costa: Literatura na sala de aula: estudo, método e prática da leitura do texto literário. (FCLAr/UNESP) 3. Bruno Darcoleto Malavolta: O último espetáculo da poesia brasileira: a poesia no crepúsculo da cultura. (FCLAr/UNESP) 4. Glenda Verônica Donadio: Do cinema à narrativa: aplicação do conceito de montagem em L´Écume des Jours, de Boris Vian. (FCLAr/UNESP) 10 SC7. Literatura alemã e romance de formação Sala 14 Coordenador: Naiara Alberti Moreno 1. Naiara Alberti Moreno: A assimilação do conceito de romance de formação pela fortuna crítica de Michel Laub. (FCLAr/UNESP)/COORDENADORA 2. Carina Zanelato Silva: Der Findling e o fracasso da educação iluminista. (FCLAr/UNESP) 3. Daniel Moraes Gregores: O personagem literário Johannes Kreisler e o gênio romântico. (FCLAr/UNESP) 4. José Lucas Zaffani dos Santos: Melancolia e narração. A morte como estímulo à escrita em O Náufrago, de Thomas Bernhard. (FCLAr/UNESP) SC8. Linguagem literária e linguagem cinematográfica Sala 15 Coordenador: Cristiane Passafaro Guzzi 1. Cristiane Passafaro Guzzi: A escrita audiovisual: problematizando o estatuto do roteiro. (UNESP/FROfLetras)/ 2. Douglas de Magalhães Ferreira: Entre palavras e imagens: Casa-Grande, Senzala e Cia, roteiro de Joaquim Pedro de Andrade. (FCLAr/UNESP) 3. Murilo Eduardo dos Reis: Aproximação entre cinema e literatura em Rubem Fonseca. (FCLAr/UNESP) 4. Thaís Gonçalves Dias Porto: Entre o cinema e a literatura: a mudança de perspectiva através da intermidialidade em Das Nackte Auge, de Yoko Tawada. (FCLAr/UNESP) 19/06/2018 – TERÇA-FEIRA das 16h às 17h30 SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD4. Ressignificações de obras artísticas Sala 12 Debatedor: Prof. Dr. Márcio Prado (UEM) Mediadora: Profa. Dra. Karin Volobuef 1. Ana Claudia Rodrigues (D): Borges e Bertolucci: traduções do tema. 2. Isabella Gonçalves Vido (D): Uma fruição no desassossego: o sublime e o trágico na tragédia de Friedrich Schiller. 3. Laura Nogueira Pacheco (M): Leitura em tela: a ressignificação do autor frente à literatura digital. 4. Geisa Cristina Semensato (M): De Corisco a Coirana: euforia e disforia no cinema épico de Glauber Rocha. 11 SD5. Recepções da Literatura clássica Sala 13 Debatedor: Prof. Dr. Raimundo Carvalho (UFES) Mediador: Prof. Dr. João Batista Toledo Prado 1. Ingrid Moreno Ferreira (M): “Dafne e Apolo” nas Metamorfoses de Ovídio à luz da semiótica figurativa. 2. Isabela Maia Pereira de Jesus (M): Terentianus, De littera, de syllaba, de pedibus: estudo crítico e tradução anotada. 3. Brendon de Alcantara Diogo (M): O trágico na cena contemporânea: montagem, recepção e representação da Tragédia Grega no Brasil. 19/06/2018 – TERÇA-FEIRA das 19h30 às 22h30 Anfiteatro D FILME Exibição do filme para debate: A carta (1999) 20/06/2018 – QUARTA-FEIRA das 10h às 12h Anfiteatro B DEPOIMENTO “Como trabalha um conselheiro literário? Considerações sobre o filme A carta” Jacques Parsi (Historiador de cinema, tradutor e conselheiro literário de Manoel de Oliveira) Moderadora: Profa Ma. Mariana Copertino (GPDC UNESP) 20/06/2018 – QUARTA-FEIRA das 14h às 15h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO SC9. O cinema de Manoel de Oliveira Sala 12 Coordenadora: Elis Crokidakis Castro 1. Elis Crokidakis Castro: A cidade em Manoel de Oliveira e em dois outros clássicos diretores de cinema: Walter Ruttman e Fritz Lang. (UNESA/ FACHA) 2. Edimara Lisboa: O Porto da memória em Manoel de Oliveira. (FFLCH-USP) 3. Mariana Copertino: “Você é polícia, você é ladrão”: realismo social e humanismo crítico em Aniki-Bobó, de Manoel de Oliveira. (FCLAr/ UNESP) 4. Moisés Henrique Mietto Romão: Francisca e Belle Toujours: considerações sobre a eloquência do silêncio nos filmes de Manoel de Oliveira. (FCLAr/ UNESP) 12 SC10. Pintura, cinema e fotografia Sala 13 Coordenador: Renan Augusto Ferreira Bolognin 1. Renan Augusto Ferreira Bolognin: Eu não estou lá? Literatura brasileira contemporânea, fotografias e alguns resultados parciais. (FCLAr/UNESP) 2. Clêmie Ferreira Blaud: Um prefácio para o Fausto de Murnau. (FFLCH-USP) 3. Ivan Amaral: A obra transfigurada: variações visuais de Marie Menken. (ECA- USP) 4. Thais Vieira: Olhares de Van Gogh: o pictórico-cinematográfico como forma de narrar uma biografia. (FCLAr/UNESP) SC11. Relações entre literatura e cinema II Sala 14 Coordenador: Vinicius Lucas de Souza 1. Vinicius Lucas de Souza: Jekyl, Hyde e seus irmãos: diálogos entre O Médico e o monstro e O médico e a irmã do monstro. (FCLAr/UNESP) 2. Erivoneide Barros: A Expressividade literária nas aulas de Serguei Eisenstein. (IEL/UNICAMP) 3. Gabriela Bruschini Grecca: Convenções narrativas do romance distópico no filme Alphaville, de Jean-Luc Godard. (FCLAr/UNESP) 4. Stéfano Stainle: Do parágrafo à cena: o sequestro da construção afetiva. (FCLAr/UNESP) SC12. Perspectivas da ficção no século XX Sala 15 Coordenadora: Profa. Dra. Claudia F. de Campos Mauro 1. Profa. Dra. Claudia F. de Campos Mauro: Os contos de Primo Levi como território do fantástico. (FCLAr/UNESP) 2. Prof. Dr. Ivair Carlos Castelan: “Senilità”, de Italo Svevo e, “Um Amore”, de Dino Buzzati: diálogos possíveis. (FCLAr/UNESP) 3. Amanda da Silveira Assenza Fratucci: A manifestação do fantástico tradicional no século XX: Les Malédictions de Claude Seignolle. (FCLAr/UNESP) 4. Carlos Eduardo Monte: A Queda da Baliverna, uma abordagem pós-estruturalista do conto buzzatiano. (FCLAr/UNESP) 13 20/06/2018 – QUARTA-FEIRA das 16h às 17h30 SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD6. Narrativa italiana do século XX Anf. D Debatedora: Profa. Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP/IBILCE) videoconferência Mediador: Prof. Dr. Ivair Carlos Castelan 1. Sérgio Gabriel Muknicka (D): Alberto Moravia e a trilogia no feminino:Il Paradiso, Un’Altra Vitta e Boh. 2. Vanessa Matiola (M): A marca do insólito nos contos de Dino Buzzati. SD7. Literatura e diversidade Sala 13 Debatedora: Profa. Dra. Rosangela Sarteschi (USP) Mediadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes 1. Thaís Fernanda Rodrigues da Luz Teixeira (D): Perspectivas femininas negras nos romances: Um defeito de cor, Alzira está morta: Ficção histórica No Mundo Negro do Atlântico e As lendas de Dandara: 2. Daniela de Almeida Nascimentos (M): Memória e construção da identidade em Diário de Bitita. 3. Isabela Cristina do Nascimento (M): Outras macabéas: mulheres nordestinas e deslocamento em dois romances de Marilene Felinto. 20/06/2018 – QUARTA-FEIRA das 19h30 às 22h30 Anfiteatro D FILME Exibição do filme para debate: Party (1996) 21/06/2018 – QUINTA-FEIRA das 10h às 12h Anfiteatro B PALESTRA Das servidões do amor (sobre Party, de Manoel de Oliveira) Profa. Dra. Silvana Pessôa de Oliveira – FALE/UFMG Moderadora: Profa. Dra. Claudia Barbieri Masseran (UFRRJ) 14 21/06/2018 – QUINTA-FEIRA das 14h às 15h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO SC13. Estética cinematográfica, espaço e memória Sala 12 Coordenadora: Profa. Dra. Claudia Barbieri Masseran (UFRRJ) 1. Elis Crokidakis Castro (UNESA/FACHA)/ Eliana Monteiro (FACHA): Paisagem urbana: cinema, espaços periféricos e corpos. 2. Fernanda Barini: “[Douro] dum certo idílio com o demoníaco”: reflexões sobre o espaço romanesco e o espaço cinematográfico em Vale Abraão. (FCLAr/ UNESP) 3. Iamni Reche Bezerra: O instante de morte em La Jetée. (Unicamp) 4. Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues: As trajetórias da memória em Hiroshima, mon amour. (FCLAr/ UNESP) SC14. Identidade Portuguesa Sala 13 Coordenadora: Ana Maria Saldanha 1. Ana Maria Saldanha: O cinema militante português: abordagem interdisciplinar no Portugal de Abril. (IPM – Instituto Politécnico de Macau) 2. Carlos Henrique Fonseca: Das páginas ao ecrã: a leitura cinematográfica de Ivo Ferreira sobre as Cartas de António Lobo Antunes. (FCLAr/UNESP) 3. Heloísa Helena Ribeiro: Poesia, intertextualidade e construção da identidade portuguesa em Silvestre, de João César Monteiro. (FCLAr/UNESP) 4. Jorge Eduardo Magalhães de Mendonça: Frei Luís de Sousa: Missões opostas no teatro e no cinema. (UFF) SC15. Literatura ClássicaSala 14 Coordenadora: Jaqueline Vansan 1. Jaqueline Vansan: A domina elegíaca como metáfora do fazer poético. (FCLAr/UNESP) 2. Adilson Oliveira Dos Santos: Vestígios do criador da humanidade na mitologia e nas fábulas de Esopo. (FCLAr/UNESP) 3. Jéssica Frutuoso Mello: Argonáutica(s): o tratamento dado à obra de Apolônio por Varrão Atacino. (FCLAr/UNESP) 4. Vivian Gregores Carneiro Leão Simões: A literatura técnica latina e os seus antecedentes gregos. (FCLAr/UNESP) 15 SC16. Literatura e crítica Sala 15 Coordenadora: Bruna Fernanda de Simone 1. Bruna Fernanda de Simone: Traços pós-modernos em A Convergência dos Ventos de Nuno Júdice. (FCLAr/UNESP) 2. Alex Wagner Dias: Construção e utopia na poesia de invenção. (FCLAr/UNESP) 3. Jorgelina Rivera: Pós-utopia em Haroldo de Campos. Uma aproximação a “A educação dos cinco sentidos” por meio do filme “Hiroshima, mon amour”. (FCLAr/UNESP) 4. Rosana Letícia Pugina: CLB: O corpo grotesco e o discurso carnavalizado em A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro. (FCLAr/UNESP) 21/06/2018 – QUINTA-FEIRA das 16h às 17h30 SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD8. Aspectos da poesia brasileira moderno-contemporânea Sala 12 Debatedora: Profa. Dra. Cristiane Rodrigues de Souza (UFMS) Mediador: Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira 1. Márcia Maria Sant’Ana Jóe (D): O poema da pintura – relações intersemióticas em Poemas, obra de Portinari. 2. Natália Aparecida Bisio de Araujo (D): As relações estéticas entre Blaise Cendrars, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral no Modernismo Braisileiro. 3. Patrícia Vieira Lochini (M): Por uma poética romântica: utopia e resistência em Howl (1956), de Allen Ginsberg e Paranoia (1963), de Roberto Piva. 4. Pedro Passerini Rodrigues (M): A poesia futebolística de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. SD9. Poesia em três tempos Sala 13 Debatedor: Prof. Dr. Fabiano da Silva Santos (UNESP/Assis) Mediadora: Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan 1. Daniel de Assis Furtado (D): Lírica sacra no barroco luso-brasileiro. 2. Camila Sabino (M): O futurismo irônico de Álvaro de Campos. 16 3. Zenilda Durci (M): Ferreira Gullar e a poesia de tensão social em Dentro da noite veloz e Barulho. SD10. Vieses críticos em Literatura brasileira Sala 14 Debatedor: Prof. Dr. Alvaro Santos Simões Junior (UNESP-Assis) Mediador: Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente 1. Jonatan de Souza Santos (D): A sátira nas crônicas limabarretianas. 2. Elvis Paulo Couto (M): Entre literatura e sociedade: a crítica literária de Antonio Candido e Roberto Schwarz. 3. Jéssica Ciurlin Silva (M): Cíntia Moscovich, leitora de Laços de família de Clarice Lispector. 4. Pedro Barbosa Rudge Furtado (D): O social no íntimo e o íntimo no social: modos de representar a história no romance de 30. 21/06/2018 – QUINTA-FEIRA das 19h00 às 22h30 Anfiteatro D FILME Exibição do filme para debate: Vale Abraão (1993) Expediente suspenso na FCL, no período da manhã, Of. Circular 005/2018-PROPEG 22/06/2018 – SEXTA-FEIRA das 14h às 15h30 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO SC17. Cinema e personagem Sala 12 Coordenadora: Profa. Dra.Fabiane Renata Borsato 1. Profa. Dra. Fabiane Renata Borsato: A Dama do Lotação E Belle de Jour: O duplo como índice de metalinguagem e integração do ser e seus desejos. (FCLAr/UNESP) 2. Carla Alexandre Ezarqui: Instinto criminal versus instinto materno na adaptação cinematográfica do romance La Fin de la Nuit de François Mauriac. (FCLAr/UNESP) 3. Felipe Camargo Mello e Manoelle Gabrielle Guerra: A mulher de duas idades: Leituras do feminino literário e cinematográfico de órfãos do Eldorado. (FCLAr/UNESP) 4. Márcia Regina Rodrigues: Luís de Lima e o Salário do Medo, de Henry-Georges Clouzot. (FCLAr/UNESP) 17 SC18. Teatro e cinema Sala 13 Coordenador: Prof. Dr. Antonio Donizeti Pires 1. Prof. Dr. Antonio Donizeti Pires: Do teatro risonho e trágico ao cinema de amor e de ação: o Mito de Orfeu na cena brasileira. (FCLAr/UNESP). 2. Daniel de Assis Furtado: O triunfo da verdade: sobre Deus da Carnificina e A Palavra. (FCLAr/UNESP) 3. Júlia Mara Moscardini Miguel: Intertextualidade e discurso no teatro de Dea Loher. (FCLAr/UNESP) 4. Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier: A poesia dramática villieriana: entre a ilusão e a realidade. (FCLAr/UNESP) SC19. Poesia e cinema Sala 14 Coordenador: Thiago Buoro 1. Thiago Buoro: O vídeo-poema (UNESP) 2. Alexander Bezerra Lima: A montagem nos processos de criação da poesia eletrônica. 3. Patrícia Resende Pereira: As mãos que sonham o sentido: poesia e poética cinematográfica em Carlos de Oliveira e Manuel Gusmão. (UFMG/CNPQ) 4. Ednéia Minante Vieira: Cenas em linha única: seis microcontos Carrascozeanos transpostos para a linguagem fílmica. (FCLAr/UNESP) 5. Leonardo Vivaldo: “Olavobilaquices”: o movimento serial na poesia de Geraldo Carneiro. (FCLAr/UNESP) SC20. Gênero e ficção II Sala 15 Coordenadora: Karla Cristiane Pintar 1. Karla Cristiane Pintar: A reconstituição dos mitos genuínos para a edificação de A Cidade Das Damas. (UNESP/IES) 2. Camila Goos Damm: As deusas dos ramos e o sagrado feminino. (FCLAr/UNESP) 3. Juliana Cristina Terra de Souza: Aspectos do mito em As Brumas de Avalon: a criação de um imaginário em torno do sagrado feminino na matéria da Bretanha. (FCLAr/UNESP) 4. Maisa dos Santos Trevisoli: Releituras de Branca de Neve e os Sete Anões: a intertextualidade e o gótico. (FCLAr/UNESP) 18 22/06/2018 – SEXTA-FEIRA das 16h às 17h30 SESSÕES DE DEBATES DE PROJETOS SD11. Literatura francesa oitocentista Sala 12 Debatedora: Profa. Dra. Márcia Eliza Pires (UNESP/Araraquara) Mediadora: Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira 1. Cristovam Bruno Gomes Cavalcante (D): As faces de Saturno: um estudo sobre as representações melancólicas na poesia de Alphonsus de Guimaraens e na de Paul Verlaine. 2. Dalila Silva Neroni Jora (M): Tradução literária: da ponte ao abismo – um estudo de tradução por meio da literariedade. 3. Maria Júlia Pereira (M): A concepção de justiça iluminista em Les Miserables: as personagens Jean Valjean, Javert, Myriel e Enjolras. SD12. Faces de Agustina Bessa-Luís Sala 13 Debatedora: Profa. Dra. Silvana Maria Pessôa de Oliveira (UFMG) Mediadora: Profa. Dra. Fabiane Renata Borsato 1. Fernanda Barini Camargo (D): Espaço romanesco e espaço cinematográfico: a arquitetura e as identidades do lugar em Vale Abraão. 2. Rodolfo Pereira Passos (D): A liberdade, a divergência e a “memória do amor”: o teatro de Agustina Bessa-Luís. 22/06/2018 – SEXTA-FEIRA das 17h30 às 19h30 Anfiteatro B PALESTRA DE ENCERRAMENTO O sorriso de Ema: considerações sobre o ator oliveiriano. Prof. Dr. Pedro Maciel Guimarães – UNICAMP Moderadora: Profa. Dra. Márcia Rodrigues 19 Resumos das comunicações 20 VESTÍGIOS DO CRIADOR DA HUMANIDADE NA MITOLOGIA E NAS FÁBULAS DE ESOPO Adilson Oliveira dos SANTOS (FCLAr/UNESP/M) adilsonsantos@fclar.unesp.br. Or. Prof. Dr. Fernando Brandão dos SANTOS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Fábula; mito; Prometeu; Zeus; criação do homem. Neste artigo, após delimitarmos o campo material do mito e da fábula, fizemos o cotejo de algumas fontes de textos gregos e um latino, Metamorfoses de Ovídio, a fim de perscrutar a origem da humanidade atribuída a Prometeu. Depois da análise dessas fontes, verificamos que as fábulas de Esopo fornecem valiosos registros de Prometeu como o deus que criou o homem. Na nossa pesquisa, em concorrência com Prometeu, outra interessante atribuição encontrada como sendo o deus criador da humanidadefoi Zeus. Descoberta essa que necessitaria de mais pesquisa em busca de outras fontes. CONSTRUÇÃO E UTOPIA NA POESIA DE INVENÇÃO Alex Wagner DIAS (FCLAr/UNESP/M) alexwdias@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (FCLAr/UNESP) Palavras-chaves: Poesia; Cinema e Pintura; Invenção e Composição; Utopia Muitos poetas modernos legaram verdadeiras revoluções tanto em suas obras poéticas quanto em suas teorias, ensaios e críticas sobre o fazer literário, a profissão dos poetas e escritores e as relações da escrita com outras linguagens artísticas. Neste sentido, este trabalho pretende demonstrar, a partir de poemas e textos teóricos de Fernando Pessoa, Edgar Allan Poe, João Cabral de Melo Neto, Vladimir Maiakóvski e Haroldo de Campos, que suas formas de pensarem a composição perpassam um tripé em que podemos definir a invenção permeada por uma equação entre cálculo e utopia. Há, além deste debruçar-se sobre a invenção, um outro tripé a ser explorado e que se refere às relações das teorias desses poetas com as teorias da pintura e do cinema, aqui observadas pelo olhar de artistas que também se destacaram como teóricos nestas artes, a saber, Fayga Ostrower, Wassily Kandinsky, Sergei Eisenstein e Andrei Tarkovski. Aproximar artistas-críticos de artes distintas, poesia, pintura e cinema, nos permite averiguar de modo mais expansivo os percursos que sustentam as composições destes poetas-críticos modernos, no plano prático, a obra em si e a metapoesia, e teórico. Com isto, esta pesquisa não busca fazer uma arte sobressair-se à outra, mas possibilitar diálogos que enriqueçam o desenvolvimento de novos olhares críticos para os poetas que destacamos neste trabalho e da possibilidade de encontrarmos novos estímulos às leituras de suas obras. As escolhas dos autores se justificam pela importância e influência que suas obras, tanto teóricas quanto poéticas, tiveram e ainda têm para pesquisadores, críticos e poetas de nosso tempo e que distinguem, em conseguinte, os posicionamentos desses poetas e artistas em relação as ideias de inspiração, intuição e o trabalho profissional em arte. Assim, os poemas, no presente trabalho, servem como campo de comparação para as sustentações das teorias sobre composição em seus autores e não para análises que busquem decompor os poemas para depois remontá-los, visto que isso constituiria um outro objetivo, muito embora, este projeto sirva como mailto:adilsonsantos@fclar.unesp.br mailto:e_mail@email.com.br 21 esteio, no sentido de citar-se diversos pesquisadores que fizerem essas análises frente às obras dos poetas citados. As análises dos poemas, aqui, buscarão uma fruição estética que se valha de uma linguagem mais poética, que consideramos mais adequada para tratarmos de tais temas e abordagens. A MONTAGEM NOS PROCESSOS DE CRIAÇÃO DA POESIA ELETRONICA DIGITAL: O USO DA TECNICA DE MONTAGEM EM JUSTA POSIÇÃO USADA NO CIMENA NA GERAÇÃO DE SENTIDOS NO PROCESSO CRIAÇÃO DE POEMAS DIGITAIS. Alexander Bezerra LIMA (UNIARA) alexiconartes@gmail.com Palavras-chave: montagem; cinema; poesia digital. O poema criado em ambiente digital exige tipos específicos de conhecimentos em várias áreas. Podem-se citar conhecimentos sobre os aspectos verbais e não-verbais desta poesia, sua visualidade, seus aspectos sonoros, a carga cultural de interpretação e o conhecimento sobre o uso de ferramentas tecnológicas disponíveis para a sua criação. Nesse processo de criação do poema digital, observa-se a possibilidade do uso de uma técnica de montagem usada no cinema potencializando interpretações criadas a partir de um texto poético que possibilite elaboração de um roteiro e, posteriormente, de montagem com a intenção de suscitar estímulos, aumentando a percepção e gerando novos sentidos. A montagem, segundo alguns teóricos da área do cinema, é usada como processo criativo em várias linguagens artísticas, tendo como base sempre a justaposição de dois elementos. No caso da leitura interpretativa dos poemas, tendo o computador como mediador, a possibilidade de experimentar essa técnica é potencializada.Há uma particularidade nesse conceito de montagem no que diz respeito à criação do roteiro. Nele o artista vai definir qual o tipo de montagem que vai usar e assim estimular a geração de imagens nas quais a determinação da ordem das palavras, no sentido da montagem, dará maior ou menor intensidade na geração de sentidos. A ordem da apresentação do texto, comumente chamada se adaptação, pode modificar a “impressão”, ou o sentido, ou ainda a imagem recriada pelo leitor. A partir desse argumento, podemos sugerir que os poemas digitais são um tipo de artefato artístico, cujo lugar está entre o texto e o cinema, uma vez que é preciso seguir um roteiro de montagem para o poema neste novo suporte oferecendo outras possibilidades narrativas, mas diferentemente do cinema e do texto impresso. A MANIFESTAÇÃO DO FANTÁSTICO TRADICIONAL NO SÉCULO XX: LES MALÉDICTIONS DE CLAUDE SEIGNOLLE Amanda da Silveira Assenza FRATUCCI (FCLAr/UNESP/D) as.assenza@gmail.com Or. Profa. Dra. Ana Luiza Silva CAMARANI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Literatura Francesa; Fantástico; Claude Seignolle. A literatura fantástica surgiu como modalidade literária durante o período do Romantismo europeu, com a intenção de representar o mundo interior e subjetivo da mente, conferindo à imaginação humana uma importância maior do que a da razão e da mailto:alexiconartes@gmail.com mailto:as.assenza@gmail.com 22 realidade. Grande parte dos estudiosos do fantástico afirma que esse fantástico tradicional que se manifestou ao longo do século XIX teve uma vida relativamente curta, não chegando ao século XX. Tzvetan Todorov, principal estudioso da literatura fantástica do século XIX, afirma em sua Introdução à Literatura Fantástica, que a manifestação tradicional da modalidade se esgotou com os textos de Maupassant no final do século XIX. O que temos nos dias atuais, portanto, é uma série de estudos a respeito da manifestação mais recente da modalidade fantástica que afirmam que há atualmente um neofantástico, principalmente nas literaturas de língua espanhola; outros tratam o Realismo Mágico ou Maravilhoso como manifestação fantástica atual. Assim, o presente estudo tem por objetivo mostrar que o fantástico tradicional do século XIX ainda tem, ao longo do século XX e até os dias atuais, uma permanência na literatura. O objetivo maior deste trabalho é, portanto, dar continuidade aos estudos teórico-críticos acerca da modalidade fantástica, mostrando que o fantástico tradicional continuou manifestando-se na literatura do século XX, trazendo a hesitação como principal aspecto. Para isso, partiremos da leitura, interpretação e análise dos textos ficcionais selecionados, de autoria de Claude Seignolle, escritor contemporâneo, verificando e buscando compreender como se dá a presença do fantástico tradicional nas obras do autor. Além disso, buscaremos compreender quais são as características que diferenciam esse fantástico tradicional aplicado à literatura dos séculos XX e XXI do neofantástico definido por Sartre, Alazraki ou Bessière. LITERATURA NA SALA DE AULA: ESTUDO, MÉTODO E PRÁTICA DA LEITURA DO TEXTO LITERÁRIO Ana Carolina Miguel COSTA (FCLAr/UNESP/M/CAPES) carol_c_fdj@hotmail.com Or. Profa. Dra. Fabiane Renata BORSATO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: literatura; texto literário; ensino. Ao observarmos o cenário da educação brasileira na atualidade, notamos como esta se esvai dia a dia, com escolas sem estrutura; material de qualidade ruim; professores, de um lado, não capacitados, e de outro, marginalizados; a falta de interesse dos discentes e da sociedade;dentre tantos outros obstáculos. Ao adentramos a elementos mais específicos, como a leitura, ou ainda, a leitura de textos literários, percebemos que a defasagem é ainda maior. Na sala de aula, o docente deve conseguir o prazer da leitura, e a conscientização sobre seus benefícios, porém muitos não o fazem, utilizam os textos como meio para ensinar algum conteúdo específico, tal como a gramática ou técnicas de redação. Além disso, percebemos que cada vez mais o aprendizado está baseado no ensino especializado, visto que professores apenas reproduzem conteúdos que serão cobrados em exames vestibulares. Ou seja, o aluno não é visto como protagonista, um ser ativo que pode refletir, criar, criticar, interpretar, questionar; ele é colocado como um receptáculo, que vai reproduzir mecanicamente o que lhe foi transmitido, sendo, então, a literatura para ele não como um ato libertador, mas castrador. Diante desse problema, pretendemos ponderar sobre o fato de que a literatura não é um instrumento para outros fins e planear métodos para aproximar alunos dos textos literários. Desse modo, queremos mostrar possibilidades de leitura do texto literário na sala de aula, através dos resultados obtidos com pesquisa de campo - que teve início elencado na seleção de textos literários, seguida de elaboração de questões epilinguísticas, conforme proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa (1997), para incitar a reflexão sobre o texto e seus recursos expressivos e na leitura em voz alta mailto:emaildoaluno@email.com.br mailto:emaildoaluno@email.com.br 23 dos textos - e estudos teóricos, sendo a análise de conteúdo pautada no método quantitativo e qualitativo proposto por Laurence Bardin (1977). BORGES E BERTOLUCCI: O VERSO E O ANVERSO NA ESTÉTICA TRADUTÓRIA Ana Claudia RODRIGUES (FCLAr/UNESP/D) Anac_redacao@yahoo.com.br Or. Maria de Lourdes Ortiz Gandini BALDAN (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Tradição; tradução; criação; discussão estética. O intuito desta comunicação é estabelecer uma análise de cunho intersemiótico do conto “Tema do traidor e do herói” (1944), de Jorge Luis Borges, no filme A estratégia da aranha (1970), de Bernardo Bertolucci, e daí, articular, à luz de uma leitura crítica do olhar, uma categoria estética da tradução como criação emanada pelo tradutor/recriador. A partir do título do filme, percebe-se a desconstrução do conceito de fidelidade frente à tradução, e, desse modo, o tradutor torna-se fiel à própria sensibilidade que translada no tempo e no espaço – o outro (conto) e o mesmo (filme) como elementos estéticos distintos na forma, mas unidos na imanência da relação tradição/ tradução, que nada mais seria que um remanejamento, um despertar de uma obra na outra por intermédio de novos sentidos. E nesse espelhamento entre conto e filme, infere-se o reflexo, quase secreto, de algo maior, uma vez tratar-se da história enigmática daquele que sai em busca da biografia de seu ancestral, e, de imediato, recebe a informação de que se trata de um herói, mas à medida que as investigações se aprofundam, descobre outra versão dos fatos: o tão aclamado herói era um traidor, e que tudo não passava de uma trama arquitetada numa história cíclica, aquela, dentro de tantas outras que remonta, aqui no caso, às obras de Shakespeare (Júlio César e Macbeth). E diante da revelação de que o herói era um traidor, fez-se silêncio, ora imbuído pelo choque que ofusca os olhos quando se está diante da ‘verdade’ consumada, ora pela constatação de que a ‘verdade’ não importa, e sim, a estratégia de sua representação. Portanto, mediante tais arranjos de duplicidades (Shakespeare e Borges), (Borges e Bertolucci), (traidor e herói), (trágico e dramático), emana a síntese de que o elemento estético que perdura no tempo requer a perda da ilusão unívoca e intocável que possa recair sobre si, a fim de que transcenda nos seus duplos, tal e qual o verso e o anverso de uma mesma moeda, não necessariamente, a tradução literal, mas a transgressão criadora. “EU NÃO SOU O QUE ESCREVO OU SIM, MAS DE MUITOS JEITOS”: OS DIFERENTES ÉTHE DISCURSIVOS NA CORRESPONDÊNCIA DE CAIO FERNANDO ABREU André Luiz ALSELMI (Centro Universitário Barão de Mauá /FCLAr/UNESP/D) andre_alselmi@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Adalberto Luis VICENTE (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Caio Fernando Abreu; Cartas e Literatura; Éthe discursivos. Muitos estudiosos valem-se das cartas de personalidades históricas ou literárias para investigar aspectos ligados à identidade do emissor. Nesse sentido, os documentos epistolares são tomados como lugar da verdade, devido à suposta sinceridade mailto:Anac_redacao@yahoo.com.br mailto:andre_alselmi@yahoo.com.br 24 constituinte do discurso epistolar. Entretanto, de acordo com os estudos mais recentes sobre o gênero, ao invés de se creditar às missivas um caráter de discurso verdadeiro – que traria à cena a essência do remetente – é preciso desconfiar do discurso do epistológrafo, que manipula a linguagem a fim de construir uma “ilusão epistolar”, apresentando ao destinatário uma imagem bastante controlada de si. Nesse sentido, a correspondência pode ser lida como um discurso simulado e, nesse caso, o eu que se enuncia na carta não pode ser relacionado diretamente à pessoa de carne e osso do emissor, devendo ser entendido, assim, mais como um efeito de linguagem que como substituto de um eu real. Partindo dessas ideias, esta comunicação apresenta uma análise da construção dos diferentes éthe discursivos de Caio Fernando Abreu a partir discurso epistolar de alguns textos reunidos na coletânea Cartas (2002), organizada por Italo Moriconi . Com base nas ideias de Mikhail Bakhtin e de José Luiz Fiorin, que consideram o enunciador do texto como um efeito de linguagem, são analisadas as diferentes personae de Caio Fernando Abreu nas cartas e sua variabilidade de acordo com determinados destinatários: a de filho, quando escreve a seus pais; a de amigo, quando se comunica com pessoas que compõem seu círculo de amizades; a de amante, quando se comunica com Vera Antoun; e, por fim, a de escritor, quando escreve para personalidades da cena literária. A partir do contraste entre as diferentes vozes, analisam-se elementos como a linguagem, o tema e o tom das missivas, bem como alguns componentes estruturais, como a assinatura desses textos. O discurso epistolar é considerado, assim, a partir da relação entre as suas três dimensões constituintes: éthos (enunciador); páthos (enunciatário) e logos (discurso). DE MÃO DADA COM MEU AMIGO JEAN VIGO: A POESIA “CINEMATOGRÁFICA” DE ADÍLIA LOPES André Luiz Menezes de MORAIS (IBILCE/UNESP/M/CAPES) andremorais1@bol.com.br Or. Prof. Dr. Orlando Nunes de AMORIM (IBILCE/UNESP) Palavras-chave: Adília Lopes; Jean Vigo; poesia/cinema. Nesta comunicação, proponho uma discussão sobre questões que envolvem poesia e cinema tomando como ponto de partida para essa reflexão o poema “[De mão dada]”, da portuguesa Adília Lopes (1960- ). Nesse poema, Adília Lopes expõe dois traços fundamentais de sua poética: a narração e a referência cultural. Em quatro versos, a poeta relata um episódio entre si (eu-lírico) e seu amigo, enquanto ambos “assistem” aos filmes do cineasta francês Jean Vigo (1905-1934). Intenciono aproximar os recursos poéticos utilizados pela autora portuguesa àqueles praticados pelos cineastas, tendo os filmes de Jean Vigo como “interlocutores” dessa leitura entre as práticas poética e cinematográfica. DO TEATRO RISONHO E TRÁGICO AO CINEMA DE AMOR E DE AÇÃO: O MITO DE ORFEU NA CENA BRASILEIRA Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (FCLAr/UNESP/ CNPq) adpires@fclar.unesp.br Palavras-chave: Mito órfico; Cinema; Teatro. mailto:andremorais1@bol.com.br mailto:adpires@fclar.unesp.br 25 Desde o século XIX,na cena teatral brasileira há pelo menos três peças que partem do mito de Orfeu e o aclimatam à realidade problemática dos trópicos, ainda que em diapasões muito diferentes: a comédia Orfeu na roça (1868), de Francisco Correia Vasques (1839-1892); o poema dramático Orpheu (1923), de Homero Prates (1890- 1957); e a “tragédia carioca” Orfeu da Conceição (estreia teatral em 1956), de Vinicius de Moraes. Se a primeira, adaptada e representada (com enorme sucesso de público) por Correia Vasques, ativo ator/escritor cômico e empresário teatral carioca, é uma paródia em segundo grau da paródica ópera-bufa Orfeu nos infernos (1858), de Jacques Offenbach (música) e Hector Crémieux (texto), a segunda é um poema dramático de estofo parnaso-simbolista, idealista e espiritual, que nunca foi levado à cena. Já a terceira, a mais bem-sucedida experiência teatral do poeta-músico Vinicius de Moraes, por ele mesmo subintitulada “tragédia carioca”, é a base de dois filmes emblemáticos, em português, sobre o mito de Orfeu: Orfeu negro (1959), de Marcel Camus, premiado em Cannes e em Hollywood, e Orfeu (1999), de Carlos Diegues. O primeiro (acusado de exotismo, mas importante porta-estandarte da MPB e dos valores musicais afro- brasileiros no exterior) e o segundo (mais vincadamente realista, ao explorar a violência e o estado paralelo conflagrado pelo tráfico de drogas nas favelas, nos tempos atuais) – ainda que muito diferentes entre si – são recriações/releituras/reescrituras do mito de Orfeu (através, claro, da ótica pioneira de Vinicius de Moraes) e, tal qual na peça de 1956, valem pela construção que empreendem de uma personagem autêntica e ontologicamente válida, imersa em um espaço sócio-cultural e histórico degradado, com seus problemas pessoais e coletivos. E porque tais revisões e reelaborações cinematográficas são vincadas por perspectivas, pontos de vista e contextos sociais e histórico-culturais muito diferentes da origem, que acabam por problematizar (e enriquecer) a própria tradição clássica grega, é que se pretende realçá-las na comunicação, que condensará dois textos publicados pelo autor: “Orfeu na cena trágica brasileira” (Portugal, 2015) – parcialmente apresentado no XIV Congreso de Estudios Clásicos da SEEC, Barcelona, Espanha, 2015 – e “Três personae de Orfeu na cena brasileira” (Brasil, 2017). TRAÇOS PÓS-MODERNOS EM A CONVERGÊNCIA DOS VENTOS DE NUNO JÚDICE Bruna Fernanda de SIMONE (FCLAr/UNESP/D) bru_aisha@hotmail.com Or. Prof. Dra. Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: poesia portuguesa contemporânea; Pós-Modernidade; Nuno Júdice. O poeta português Nuno Júdice, autor de uma densa e rica obra poética, empreende, desde suas primeiras publicações, um trabalho voltado à discussão do lugar da arte e do poema no mundo contemporâneo, tais temáticas estão presentes dentro de suas produções por meio de uma retomada da tradição literária ocidental. Em 2015, com a publicação de A Convergência dos Ventos, não foi diferente. Há, nessa obra, uma quantidade considerável de poemas em que o poeta algarvio deixa evidente seu intuito de reavivar escritores de outras épocas, momentos e personagens da literatura. Tal processo pode ser identificado como uma característica pós-moderna em sua obra. Período de revisão e reflexão a respeito de pensamentos racionalistas e totalitários que permearam o século XX, a pós-modernidade promove uma análise crítica das grandes narrativas, da História e da própria modernidade. Tal atitude tem como um de seus reflexos, no âmbito literário, a descrença no novo, na originalidade e a retomada do mailto:bru_aisha@hotmail.com 26 passado literário como um exercício de diálogo com este. Assim, buscando o entendimento do passado e a ruptura com a ideia de tempo cronológico e acelerado, um dos traços essenciais da pós-modernidade é a inclinação sobre questões e releituras de outras épocas e de outros momentos da literatura. Essa inclinação pode ser notada nos poemas de Júdice, em A Convergência dos Ventos, pois há neles uma preocupação em fazer de cada poema o lugar seguro para que o passado seja retomado e fixado, busca-se o congelamento do tempo pela palavra. Muitos de seus poemas são uma compilação de histórias da literatura que não devem ser esquecidas, eles reafirmam a importância de compreender a arte e a poesia por meio de tudo o que já existiu e que retorna infinitamente, tal como num ciclo. Portanto, através da análise de alguns poemas judicianos da obra em questão, objetiva-se demonstrar quais são os procedimentos utilizados pelo poeta para reanimar as histórias míticas, escritores de diversas épocas da literatura ocidental e até mesmo personagens marcantes, que fazem de sua produção poética o lugar da retomada do passado. Além disso, pretende-se evidenciar que essa obsessão pelo retorno à tradição é, em sua obra, um aspecto proveniente das questões pós-modernas. O ÚLTIMO ESPETÁCULO DA POESIA BRASILEIRA: A POESIA NO CREPÚSCULO DA CULTURA Bruno Darcoleto MALAVOLTA (FCLAr/UNESP/D/CAPES) brunomalavolta@gmail.com Or. Prof. Dr. João Batista Toledo PRADO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Teoria crítica; Guy Debord; Sociedade do Espetáculo; Poesia. Agambem reconhece a materialização econômico-cultural denunciada pela teoria do espetáuclo de Guy Debord, embasada esta, por sua vez, em uma percepção de que o conceito marxista do fetiche da mercadoria havia estabelecido, para além daquela indústria cultural adorniana e horkeimeriana, um estado de coisas de dependência aboluta deste sistema-espetáculo para se mediar as relaões humanas de toda ordem, fazendo jus a um sistema hegeliano que obedeça a uma totalidade imanente. Pertence, logo, este espetáculo, à grandeza dos objetos linguísticos, como uma linguagem exterior do estado que deseja suprimir o poético, e nele toda sua comunicação, agora convertida em racionalismao técnico, o oposto da linguagem simbólica. Como, pois, responderia a poesia brasileira, no caldo de sua cultura cada vez mais apartadada ocidentalidade, e sobretudo como o fariam quatro poetas fundamentais de nossa modernidade e contemporaneidade líricas, a saber, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Roberto Piva e Alberto Pucheu? Eis o rastro que farejaremos, munidos da intuição de que o Drummond de Sentimento do mundo e A rosa do povo representa a reação desta poesia aos primeiros estilhaços espetaculares, chamando a si a responsabilidade de salvaguardar uma certa cultura oral arremessada na cultura de massa, pacificando o hiato apontado por Cândido para o diminuto papel da cultura erudita neste processo de modernização. Drummond não deixa, ainda, de apontar pelas vias de um comunismo primitivo uma possível organização discursiva que poderia, se extremada, ferir a organização retórica espetacular. Não é senão o que fará Gullar, que em seu Romances de cordel sacrificará seu próprio projeto estético em razão de extremar o discurso ideologicamente à esquerda e, em um Dentro da noite veloz, abandonará um certo fetiche pelo prognóstico marxista, e rebalizará sua dialética com a imanência do capitalismo tardio, chegando a seu poema social maduro. A a empreitada ideológica dessa poesia se esgotará em Piva, para quem o ataque ao espetáculo se dará pela mailto:brunomalavolta@gmail.com 27 organização do discurso sob uma perspectiva nietzscheana, e já não ideológica, pois dionisíaca, em que o irracionalismo toma as rédeas do ataque à medula da cultura ocidental. Ficando a cargo de Pucheu dar uma resposta do hoje para a consolidação da era espetacular em seu mais perfeito funcionamento e potencialidade, em busca de questionar o lugar da poesia em seu Para que poetas em tempos de terrorismos, quando dois gêneros retóricos, o lírico e o espetacular, embatem uma guerra especulativa em torno da palavra hoje. AS DEUSASDOS RAMOS E O SAGRADO FEMININO Camila Goos Damm (FCLAr/UNESP/M/CAPES) camilagdamm@hotmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Sagrado feminino; arquétipos; mitologia celta. O projeto tem como objetivo analisar as características arquetípicas e mitológicas presentes nas personagens Rhiannon, Arianrhod e Blodeuwedd, encontradas no conjunto de lendas galesas chamadas Os Quatro Ramos do Mabinogion. Essas lendas, registradas em dois manuscritos medievais e traduzidas para o inglês por Lady Charlotte Guest, apresentam diversas evidências de pertencerem a uma tradição oral do folclore pré-cristão dos povos celtas que ali habitavam. A análise será feita tanto dentro do conjunto simbólico particular à cultura celta quanto através dos estudos de mitologia comparada, a partir de uma perspectiva junguiana e das reflexões de Erich Neumann em A Grande Mãe. A partir dessa análise, buscaremos demonstrar a relevância do resgate de figuras femininas pertencentes às mitologias fundadoras para o conceito de sagrado feminino, pois a relação entre a mulher e a espiritualidade sofreu grande repressão desde o declínio do paganismo e a ascensão do cristianismo e, concomitantemente, de uma ordem cultural crescentemente patriarcal. Com a expansão e a ramificação de diversos movimentos feministas, o interesse numa espiritualidade que contemple o sagrado feminino cresce novamente, voltando seu olhar para figuras tanto reais quanto fictícias do passado na busca por predecessoras e inspiração para uma nova identidade espiritual. Mostraremos também a importância desse resgate para o movimento feminista dentro da perspectiva literária, que tem como uma de suas buscas o redescobrimento dos mitos e histórias em que a mulher é figura central ou tem papel de destaque; para questões de representatividade da figura feminina e de como se inspiram, criam e percebem essas personagens no contexto atual e partindo de uma perspectiva crítica de como a mulher tem sido representada na ficção; e também para o resgate da relevância histórica e cultural das mitologias ora referidas, das quais podemos ver reflexos até hoje, apesar das tentativas de modificação e mascaramento visando o menosprezo da figura feminina. DER FINDLING E O FRACASSO DA EDUCAÇÃO ILUMINISTA Carina Zanelato SILVA (FCLAr/UNESP/D/CAPES) carinazs@hotmail.com Or. Profa. Dra. Karin VOLOBUEF (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Pedagogia Iluminista; Heinrich von Kleist; Immanuel Kant. mailto:camilagdamm@hotmail.com mailto:carinazs@hotmail.com 28 A pedagogia desenvolvida na época do Iluminismo procurou debater os meios de se educar o homem para o bem e para a independência intelectual, fundando os pressupostos dessa formação em uma lógica moral voltada para o exemplo da virtude e da boa conduta, que tinha como propósito unir harmoniosamente todos os homens sob o princípio comum das leis morais. Para tanto, a filosofia do Século das Luzes pregou como parâmetro de sua pedagogia a total responsabilidade do homem por seus atos, o que acarretou na imprescindibilidade de uma formação adequada, que operasse na natureza humana uma transformação positiva, resultando em ações pautadas na máxima do bem moral. Inicialmente adepto a esta proposta, Heinrich von Kleist, logo após sua famosa “crise kantiana”, passou a contestar o modelo de educação Iluminista, pontuando a sua reflexão a partir de um viés cético, que discutia não só a capacidade humana de adquirir conhecimentos, como também os processos de formação que garantiriam ao homem uma educação mais completa, pois, para o autor, a nova visão de realidade aberta pelo criticismo kantiano evidenciou os fracassos da pedagogia iluminista. Sob este novo ponto de vista, as noções de liberdade e de moralidade ganharam uma nova caracterização, já que se tornou impossível para Kleist determinar ou prever quais seriam os resultados dos projetos educacionais, até então vigentes, na conduta humana; o homem seria em si mesmo contraditório, e estaria ligado, pelo destino ou pelo fim dado a ele pela natureza, a milhares de outras instâncias que muitas vezes se sobrepõem à educação formal fornecida pelos pais ou pela escola. Esta discussão, que aparece em suas cartas e ensaios, foi transposta também para a sua literatura. Em seu conto Der Findling (O adotado, 1811), Kleist, criticamente, coloca em xeque uma educação pautada nos valores morais burgueses da família e do bem supremo, desembocando em um texto repleto de violência, maldade e malogro da felicidade, o que nos despertou o interesse para a análise destes aspectos na elaboração dos elementos que compõem a narrativa. Assim, nesta comunicação, enfocaremos como Kleist constrói em seu conto personagens e espaços que evidenciam a falha no sistema educacional iluminista. INSTINTO CRIMINAL VERSUS INSTINTO MATERNO NA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA DO ROMANCE LA FIN DE LA NUIT DE FRANÇOIS MAURIAC Carla Alexandra EZARQUI (FCLAr/UNESP /M/CNPq) carla.ezarqui@hotmail.com Or. Profa. Dra. Andressa Cristina de OLIVEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Narrativa francesa ;personagem; adaptação cinematográfica. Publicado em 1935, o romance La fin de la nuit, de François Mauriac dá continuidade ao drama do desajuste, da busca pela identidade vivenciado por Thérèse, personagem protagonista, de origem provinciana, e que vive há quinze anos em Paris, após uma tentativa fracassada de envenenar o marido. Seu conflito interior é agravado pela paixão que lhe devota o namorado da filha, Marie, uma jovem de dezessete anos, com quem estabeleceu poucos contatos depois de sua partida para a capital. A infância, o casamento, o envenenamento e a separação são retratados no romance Thérèse Desqueyroux (1927), embora o próprio autor tenha declarado não haver uma interdependência entre ambas as obras. Adaptado ao cinema, pela primeira vez, por Albert Riéra, em 1966, La fin de la nuit obteve uma mis en scène semelhante àquela da adaptação do romance Thérèse Desqueyroux, de 1962 por Georges Franju, conservando, inclusive, os mesmos atores para a personagem protagonista e seu marido, Bernard. Na mailto:carla.ezarqui@hotmail.com 29 primeira, houve a colaboração do autor e ambas retrataram fielmente o texto literário, tanto no que tange ao enredo quanto aos diálogos, ligeiramente alterados, explorando a dramaticidade presente na escrita do romance. Thérèse Desqueyroux recebeu nova adaptação cinematográfica em 2012, por Claude Miller, que reproduziu a obra resguardando a época (década de 20), a caracterização das personagens e grande parte do diálogo. Em contrapartida, em 2015, o diretor Lucas Belvaux concedeu a La fin de la nuit uma adaptação livre cuja mis en scène se compromete, sobretudo, em denotar o que há de intemporal na obra de Mauriac, ou seja, a humanidade da personagem, cuja expressão é partilhada entre a literatura e o cinema. O drama familiar, reproduzido no contexto atual, é submetido a várias adequações, por consequência, os conflitos secundários tomam nova forma. Assim, objetiva-se analisar a maneira pela qual os instintos criminal e materno são transpostos para a tela e, ainda, o modo como os elementos são estruturados para representar o “espírito” da obra, sobretudo no que concerne à atmosfera das cenas transcorridas na província, e à crítica à burguesia, tão particulares em Mauriac. A QUEDA DA BALIVERNA, UMA ABORDAGEM PÓS-ESTRUTURALISTA DO CONTO BUZZATIANO Carlos Eduardo MONTE (FCLAr/UNESP/D/CAPES) monteadvocacia@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Cláudia Fernanda de Campos MAURO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Dino Buzzati; A queda da Baliverna; pós-estruturalismo. A queda da Baliverna é um conto de Dino Buzzati. Escrito em 1957, quando a Itália se levantava das agruras da Segunda Guerra, o que lemos é a aventura, ou a desventura,de um protagonista/herói que, tendo o hábito hebdomadário de visitar um antigo mosteiro, a Baliverna, construído no século XVII para abrigar a ordem dos frades de São Celso, vê-se, certa feita, após um ato relativamente infantil (puxar uma haste), como responsável pela queda da gigantesca construção, em decorrência de uma sucessão de efeitos. A magnânima construção, no entanto, exemplo fundamental de uma ordem religiosa, que repousa no binômio estrutural, modelo e organicidade, é lida como uma das engenhosas alegorias de Buzzati e, aqui, colocada em análise questões que são revisitadas com o advento de novos rumos teóricos, sobretudo com o pós-estruturalismo e a desconstrução, de Jacques Derrida. Por estas balizas, que se avolumam a partir dos anos 60, valores cristalizados pelo modernismo, e que vinham sendo questionados por Nietzsche e Heidegger, entre outros, como as ideias de origem, tradição, técnica, utilidade, início ou centro, até então inexoráveis, passam a ser investigados mais detidamente. Neste trabalho, marcadamente, dois destes cânones, em certa medida se alinham: estrutura e progresso. O conto de Buzzati ora é lido como um exemplo, como uma impressão de um mundo que, pouco a pouco, percebe-se sofrendo cada vez mais com os efeitos das imposições que o circundam; por uma realidade, ou os efeitos ilusórios desta, que necessariamente se integram como apenas mais um objeto em análise. A heterotelia, noção que se expande com a rubrica do pós-modernismo, sobretudo em autores como Michel Maffesoli, e a da traição da herança, com Harold Bloom, faz com que se discuta a circunscrição originária do constructum, de quanto, na estrutura já se encontra presente o jogo de massas em equilíbrio, algo que poderá ser acionado com um simples quebrar de hastes, dando-nos, pelo apocalipse, a dimensão de sua fragilidade. mailto:monteadvocacia@yahoo.com.br 30 DAS PÁGINAS AO ECRÃ: A LEITURA CINEMATOGRÁFICA D E IVO FERREIRA SOBRE AS CARTAS DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES Carlos Henrique FONSECA (FCLAr/UNESP/D) karloshfonseca@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: António Lobo Antunes; Ivo Ferreira; Cartas da Guerra; Literatura e Cinema. D’este viver aqui neste papel descripto (2005) é um livro organizado pelas filhas do escritor António Lobo Antunes, Maria José Lobo Antunes e Joana Lobo Antunes, que reúne cartas do pai à sua primeira esposa, Maria José, durante o período em que serviu como médico combatente na Guerra Colonial, no leste de Angola, entre os anos 1971 e 1973. Em 2016, o diretor português Ivo Ferreira dirige o filme Cartas da Guerra, uma leitura cinematográfica daquilo que resultou em uma obra epistolar de Lobo Antunes. Este trabalho propõe uma análise da forma com que enquadramentos, planos, iluminação, filmagem e montagem, categorias próprias da linguagem fílmica, bem como categorias compartilhadas entre a arte do cinema e a literatura como tempo, espaço, narrador e ambientação foram empregados no filme a fim de captar a natureza poética das referidas cartas, em que já estão presentes vários elementos que constituirão, posteriormente, recorrências estéticas e temáticas da produção romanesca loboantuniana, na qual ecoa, de várias formas, a experiência individual e coletiva da guerra. Duas escolhas do diretor servirão como ponto de partida para a análise ora proposta: a) a filmagem total do filme em preto e branco que, além de uma escolha estética específica, é eficiente na recriação de uma atmosfera mais densa e intimista, em sintonia com o período salazarista e a perversa herança do colonialismo; b) a narração da quase totalidade das cartas na voz feminina, lidas pela atriz que interpreta a esposa do médico combatente, mas que traz, no seu cerne, uma voz coletiva das mulheres e famílias que foram privadas de seus pais, maridos e filhos ao longo dos treze anos de guerra colonial. Tal escolha narrativa ratifica também a distância, a saudade, o sofrimento e os absurdos da guerra, vividos pelo autor das cartas e que viria a se tornar um dos maiores nomes da literatura portuguesa contemporânea. O objetivo é ressaltar a forma como o “específico fílmico” consegue resultar numa produção esteticamente autônoma, ainda que objetivando explorar profundamente os temas e estruturas recorrentes na primeira fase do universo literário loboantuniano. O FOGO, A MADRESSILVA E O RIO: UMA ISOTOPIA DO POÉTICO EM O SOM E A FÚRIA E ENQUANTO AGONIZO, DE WILLIAM FAULKNER Claudimar Pereira da SILVA (FCLAr/UNESP/M/CNPq) claudimarsilva84@gmail.com Prof. Dr. Paulo César Andrade da SILVA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: William Faulkner; narrativa poética; fragmentação. William Faulkner é considerado um dos mais importantes e influentes escritores do século 20, uma das quatro bases de sustentação da literatura modernista, ao lado de James Joyce, Virginia Woolf e Marcel Proust. Como as árvores da região Sul dos Estados Unidos, a obra de Faulkner enraíza-se em um tronco semântico-estrutural imponente, enfeixando temas e figuras articuladas à conjuntura histórica, social e mailto:claudimarsilva84@gmail.com 31 econômica desta região do país, representada imaginariamente pelo condado de Yoknapatawpha, microcosmos fictício criado pelo autor. Na obra do escritor sulista, há o constante jogo escorregadio dos tempos, a pluralidade de vozes e perspectivas, a supuração de subjetividades desagregadas que desaguam em linguagens fragmentadas e densamente poéticas, a um passo do silêncio de si mesmas. Nos anos de 1929 e 1930, em plena metástase do ideário modernista, Faulkner publicou, respectivamente, O som e a fúria e Enquanto agonizo, considerados pela crítica como dois de seus romances mais experimentais. Fraturado em quatro partes e imbuído de vozes narrativas distintas, O som e a fúria (2004) narra o processo de decomposição moral e econômica de uma família do sul dos Estados Unidos, os Compson, cuja ruína ocorre devido à incapacidade de seus membros em adaptar-se à nova conjuntura histórico-social que instala-se no sul após a derrota na Guerra Civil Americana (1861-1865). Enquanto agonizo (2010), romance polifônico sustentado na apresentação de 59 monólogos interiores, dispostos alternadamente, narra a viagem dos Bundren, uma família de agricultores pobres, através dos espaços míticos do condado de Yoknapatawpha, com o objetivo de enterrar o corpo de Addie Bundren, a matriarca da família, cujos restos mortais ela pede que sejam enterrados em Jefferson, sua cidade natal. Desse modo, a presente comunicação objetiva a análise da narrativa poética nestes dois romances, tendo como corpus três narradores: os irmãos Benjy e Quentin Compson, de O som e a fúria, e Darl Bundren, de Enquanto agonizo. Trabalhamos com a hipótese de que estas três vozes narrativas operam na constituição daquilo que nomearemos como uma poética da fragmentação, isto é, a representação da dissolução subjetiva do (s) narrador (es), em termos de estrutura, linguagem e poeticidade. Para tanto, serão utilizados os pressupostos teóricos sobre a narrativa poética de Jean-Yves Tadié (1978), Ralph Freedman (1963) e Massaud Moisés (1967), além do montante teórico-crítico de Faulkner, no intuito de respaldar nossas análises. UM PREFÁCIO PARA O FAUSTO DE MURNAU Clêmie Ferreira BLAUD (FFLCH/USP/M) clemieblaud@gmail.com Or. Prof. Dr. Leon KOSSOVITCH (FFLCH/USP) Palavras-chave: F.W. Murnau; cinema; Fausto; Goethe. Fausto, uma lenda alemã, adaptada da obra de Goethe, é assim anunciado nos créditos iniciais do filme de longa-metragem realizado em 1926 por F. W. Murnau. Visual, o filme evoca obras pictóricas e escultóricas que traduzem aquilo que não se pode dizer em palavras reafirmando a tradição horaciana do ut pictura poesis na abordagem renascentista de Leonardo Da Vinci: “pinturaé poesia muda, poesia é pintura cega” para oferecer-nos um Fausto onde se escondem tableaux vivants. Silencioso, o filme conta com breves indicações de diálogos nos intertítulos mantendo um frágil vínculo com a peça teatral do poeta alemão. Murnau faz as vezes de um Homero, compilando para além da segunda versão do Fausto de Goethe, os Faustos de Lessing que nunca foram concluídos, a versão de Christopher Marlowe e lendas antigas. Ora, o debate sobre as fronteiras entre as artes perpassa pintores e escritores ao longo dos séculos e alcança os poetas alemães de Fausto: Lessing com seu polêmico texto publicado em 1766 Laocoonte ou sobre as fronteiras da poesia e da pintura, ao qual Goethe responderá em 1794 com Sobre Laocoonte. Um século depois, nem teatro, nem escultura, nem pintura, nem poesia, o cinema nasce “mudo” e enquanto aprender a falar tenta resolver os problemas de especificidade herdados do discurso da história da arte mailto:clemieblaud@gmail.com 32 acrescentando a ele mais dúvidas: se o filme é uma nova arte, qual seria a sua especificidade? O Fausto de Murnau é uma via de reflexão paradigmática neste debate onde poesia e pintura se misturam subvertendo a narrativa para a perspectiva do diabo. Neste breve estudo sobre o filme de 1926, apontaremos algumas cenas que sucitam indagações sobre as fronteiras entre as artes mobilizando o texto goetheniano, obras visuais e recursos da arte do movimento que serviram à mise-en-scène Murnau. Trata-se de colocar mais perguntas do que defender hipóteses, porém - admitindo-se que pelo menos uma teoria da linguagem cinematográfica pode estar contida no interior de cada filme - Fausto é obra referencial para investigação sobre a especificidade do cinema. Tentemos conhecê-lo e apreciá-lo. A ESCRITA AUDIOVISUAL: PROBLEMATIZANDO O ESTATUTO DO ROTEIRO Cristiane Passafaro GUZZI (UNESP/ProfLetras) crisguzzi@gmail.com Palavras-chave: roteiro; escrita audiovisual; literatura. A questão da localização dos roteiros de Tv e cinema em um lugar específico dos estudos discursivos tem sido alvo de muita discussão nas faculdades de Letras, o que não deve acontecer, naturalmente, nas Escolas de Comunicação. Nestas, o estudo do roteiro tem lugar certo e o estatuto do texto como um projeto de realização midiática não oferece motivo de questionamento. Nas faculdades de Letras não é assim. O roteiro não é visto como texto literário – objeto privilegiado de estudo - e como texto-partitura ele não é comumente estudado. Nesse sentido, pretendemos problematizar, aqui, o roteiro como texto a ser investigado no campo dos estudos literários, se não como um texto com este estatuto, mas como um texto que evidencia – ainda que pela ausência – as questões relativas ao literário: narratividade, composição de personagens, espaço, tempo, organização linear das cenas, questões enunciativas etc. Tais problematizações nos levaram a estruturar um projeto de pós-doutoramento, ora concluído, mas em desdobramento contínuo, que pauta-se na problematização do estatuto do roteiro e, consequentemente, do estatuto do que é literatura. O roteiro é, afinal, um potencial gênero literário ou uma mera produção técnica? Se nem literatura, nem filme ainda, qual é então o seu lugar, ou melhor, o seu entre-lugar? As ficções escritas para teatro são consideradas literatura. Então, por que razão as ficções escritas para cinema não o podem ser? A aceitação da “qualidade literária” de alguns roteiros pode ser um caminho? A constatação de uma possível genealogia da própria História da literatura e do cinema e televisão, a partir do modo como alguns escritores e diretores lidam com o texto literário em suas traduções para roteiros, parece criar um campo propício para o gênero não ser mais entendido apenas como um mero instrumento técnico, com indicações de câmera, ângulos e ambientação cênica, mas como um texto consolidado, em alguns casos de extrema qualidade literária e que, em tempos de reconfiguração do que é literatura dentro de um cenário de artes intercambiáveis, merece atenção e inclusão em estudos acadêmicos e em novas práticas de leitura. Para tanto, buscaremos problematizar e revisitar estudos existentes sobre as especificidades da literatura e do roteiro, a partir de diferentes trabalhos realizados por escritores, roteiristas e diretores de cinema e televisão mailto:crisguzzi@gmail.com 33 O PERSONAGEM LITERÁRIO JOHANNES KREISLER E O GÊNIO ROMÂNTICO Daniel Moraes GREGORES (FCLAr/UNESP/ M/ CNPq) daniel_gregores@hotmail.com Or. Profa. Dra. Karin VOLOBUEF (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Gênio; Johannes Kreisler; Gato Murr; E. T. A. Hoffmann. É no contexto do século XIX que se situa o fenômeno responsável por primeiro nos despertar atenção no que tange ao personagem do autor alemão E. T. A. Hoffmann: trata-se da influência concreta exercida pelo Kapellmeister Johannes Kreisler sobre alguns dos principais nomes do romantismo musical europeu, como Schumann, Brahms, Berlioz, Wagner e Mahler. Frente a esse fenômeno, foi levantada a hipótese de pesquisa de que talvez, para além da temática musical, a confluência de um ideal de época, mais especificamente, o do gênio romântico, fosse responsável por tal influência. De modo a pôr à prova a hipótese levantada, mostrou-se essencial empreender uma investigação acerca do entendimento da ideia do gênio no período que antecedeu a compreensão e configuração do entendimento mais propriamente romântico do termo. Nesse sentido, sem desconsiderar a contribuição da herança clássica ao ideal do gênio, o recorte epistemológico estabelecido compreende o período entre fins do século XVII e princípios do século XIX e se pauta, sobretudo, segundo o entendimento e reflexão de autores expoentes de Inglaterra, França e Alemanha que se debruçaram sobre a questão do gênio à época. Com relação ao personagem literário Johannes Kreisler, adotou-se como obra de referência o seu retrato segundo o romance Lebensansichten des Katers Murr, que serviu de base para a análise da potencialidade do personagem hoffmanniano. Num percurso que permite entrever as mudanças em torno da compreensão do papel do artista e do próprio entendimento da criação em arte, as diferentes concepções levantadas e estudadas nos permitiram avaliar o fato literário de Kreisler à luz do poderia ser apontado como um ideal de gênio romântico, sobretudo em se tratando do primeiro grupo romântico alemão de Jena. O objetivo da comunicação é, por fim, apresentar os resultados decorrentes da pesquisa empreendida durante o mestrado que se mostram de interesse não somente para o contexto de estudo da obra do escritor alemão E. T. A. Hoffmann como também para o da própria compreensão do Romantismo de uma maneira geral, fundamental para as bases da modernidade. O EFEITO DA NÉVOA NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NAS OBRAS DE UMBERTO ECO E A REFERÊNCIA AO CINEMA NOIR Deborah Garson CABRAL (FCLAr/UNESP/D) debcabral_rp@yahoo.com.br Or. Profa. Dr. Claudia Fernanda de Campos MAURO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Névoa; espaço; Cinema Noir; Umberto Eco. Nas produções narrativas de Umberto Eco é possível verificar a construção do espaço de maneira cinematográfica. A descrição dos lugares, a ambientação, além de outros elementos, facilitam a construção imagética dos espaços em que a narrativa se desenvolve. Não em vão sua primeira obra literária foi transformada em filme, obtendo grande sucesso de bilheteria ao redor do mundo. Este autor procura construir a narrativa de maneira a buscar referências em outras mídias, utilizando de recursos narrativos para mailto:daniel_gregores mailto:debcabral_rp@yahoo.com.br 34 aproximar as artes, causando um efeito cinematográfico na construção do espaço em suas histórias. Assim ocorre em “O nome da Rosa” (1980), trama de suspense e investigação,em “A misteriosa chama da rainha Loana” (2004), narrativa memorialista, em “O cemitério de Praga” (2011), romance histórico, em “Numero Zero” (2015), mais um enredo de suspense, mesclado com narrativa histórica, entre outros. Elementos como a névoa, a sombra, os espaços obscuros como guetos e ruas sombrias, o jogo entre luz e sombra, além das temáticas desenvolvidas em cada um dos romances citados, promovem, no percurso da leitura, a construção de ambientes que remontam ao Cinema Noir, no qual há predominância dessas composições, além de outros elementos como a abordagem detetivesca da narrativa, bem como a presença da femme fatale, a ocorrência de um crime a ser investigado, entre outros. Dessa forma, o presente trabalho se propõe a relacionar, nas obras citadas, os devidos elementos e, com isso, demonstrar a presença da referência do Cinema Noir na composição de Umberto Eco, levando em conta o contexto em que esse estilo cinematográfico surgiu e também o de escrita do autor, verificando a não gratuidade de sua descrição narrativa do espaço, pois nela há o explícito objetivo de reverenciar essa tão grandiosa arte, o cinema. ENTRE PALAVRAS E IMAGENS: CASA-GRANDE, SENZALA E CIA, ROTEIRO DE JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE Douglas de Magalhães FERREIRA (FCLAr/UNESP/D/ CAPES) doug-mf@hotmail.com Or. Profa. Dra. Maria de Lourdes O. G. BALDAN (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: literatura e cinema; roteiro cinematográfico; intermidialidade; Joaquim Pedro de Andrade. RESUMO: Inserido no intrincado campo de pesquisa das inter-relações literatura/cinema, este trabalho toma como objeto de reflexão e análise um roteiro cinematográfico não filmado de autoria de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), um dos expoentes do Cinema Novo que assina, dentre outros, o longa-metragem Macunaíma (1969). Trata-se de Casa-grande, senzala & cia, roteiro-leitura do célebre estudo sociológico de Gilberto Freyre e publicado em 2001, em edição repleta de materiais complementares, como diários da produção, croquis de cenários, imagens de bastidores e entrevistas com o diretor. Ciente das contradições do trabalho no qual se inspirou, o cineasta procurou ampliar o painel lá retratado, de modo que seu Casa- grande, senzala & cia trabalha, de forma intercalada, com as façanhas dos diferentes grupos em conflito durante os primeiros tempos do Brasil colonial, configurando-se, assim, como uma espécie de épica à brasileira, mas sem pompas e repleta de lances de sensualidade e brutalidade, humor e horror, e de atos antropofágicos. Como se pretende demonstrar, o roteiro faz uso de um método de composição pouco ortodoxo para o gênero, com raras indicações técnicas de câmera, elaboração de títulos para cada cena e a preferência, muitas vezes, pelo discurso indireto em lugar do direto, o que aponta para uma evidente preocupação com a palavra. Pretende-se, aqui, por meio da análise de excertos do objeto, explorar tais peculiaridades, bem como as potencialidades do gênero roteiro, no intuito de contribuir tanto para a sua caracterização enquanto produção intermidiática – imagens projetadas por palavras –, quanto para a (re)interpretação da cinematografia de Joaquim Pedro de Andrade, uma vez que o roteiro não filmado em questão e os filmes de fato produzidos pelo cineasta guardam muitos traços comuns entre si, como a prática do humor irônico, o sublinhar da hipocrisia das relações interpessoais, o interesse pela formação social, tradição cultural e identidade nacional mailto:doug-mf@hotmail.com 35 brasileiras. O PORTO DA MEMÓRIA EM MANOEL DE OLIVEIRA Edimara LISBOA (FFLCH/USP/D) edimaralisboa@gmail.com Or. Profa. Dra. Fátima BUENO (FFLCH/USP) Palavras-chave: Cinema; Memória; Duplicação do eu. O convite para elaborar um documentário sobre sua cidade natal, de modo a prestigiar as comemorações da jornada cultural Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, levou Manoel de Oliveira a realizar o filme memorialístico Porto da Minha Infância (Portugal; França, 2001, Biografia; Docuficção, 62 min., cor). Quando Manoel de Oliveira nasceu, em 1908, o cinema português contava pouco mais de uma década de história, portanto é compreensível que uma pesquisa das imagens de arquivo da cidade do Porto na Cinemateca Portuguesa, para atender ao convite, tenha acabado por entrecruzar-se com as lembranças do cineasta, que experienciou tanto a história do cinema em Portugal (como um dos protagonistas), quanto o desenvolvimento cultural portuense ao longo de todo o século XX. “Recordar momentos dum passado longínquo é viajar fora do tempo. Só a memória de cada um o pode fazer. É o que vou tentar” – este intertítulo que abre a obra oferece uma chave de leitura para a compreensão dos três episódios em que o filme é estruturado: a meninice de Manoel de Oliveira; a experiência boêmia da sua juventude; e o surgimento de sua paixão pelo cinema. A comunicação pretende evidenciar os artifícios de montagem que organizam esses três momentos do filme em consideração ao potencial do cinema de articular outras linguagens artísticas por meio de seus próprios mecanismos formais. Nesse sentido, a análise dos elementos cinematográficos terá em conta os processos de duplicação do eu mapeados pelos estudos da literatura de memórias, de maneira a investigar os índices de construção de uma imagem coerente de si mesmo que resultam numa escrita de si fílmica. Através de uma montagem conciliadora, Porto da Minha Infância consegue dar sentido de conjunto a uma série de fragmentos imagéticos e às lembranças a eles atreladas. Assim, ao perscrutar vivências do cineasta, o filme oferece possibilidades de reflexão sobre a memória cultural não só do artista, mas também de uma cidade. CENAS EM LINHA ÚNICA: SEIS MICROCONTOS CARRASCOZEANOS TRANSPOSTOS PARA A LINGUAGEM FÍLMICA Ednéia Minante VIEIRA (FCLAr/UNESP/M) neiaminante@hotmail.com Or. Profa. Dra. Juliana SANTINI (FCLAr/UNESP) Palavras-Chave: Linha Única, microcontos, curta-metragem. A interseção entre a literatura e o cinema é antiga e, na contemporaneidade, a transposição da linguagem literária para a cinematográfica tem se tornado cada vez mais recorrente, como no caso de romances e contos que foram adaptados em filmes ou, ainda, filmes que foram transformados em livros. O diálogo entre literatura e cinema é objeto de importantes pesquisas e, com o avanço das tecnologias cinematográficas e da mailto:edimaralisboa@gmail.com mailto:neiaminante@hotmail.com 36 imagem, muitas obras podem ser analisadas a partir da conexão entre essas duas áreas. Dentro do cenário literário recente, as formas breves têm sido frequentemente exploradas, com especial destaque para os minicontos e microcontos, um desafio no processo de transmutação para a linguagem cinematográfica, já que há uma importante concisão no enredo e nas ações das personagens que, muitas vezes, dificulta a captação das cenas em movimento. Pensando nesses aspectos, o presente trabalho pretende analisar como a linguagem literária dos microcontos é transposta para a linguagem fílmica. Para isso, analisaremos a obra intitulada Linha Única, de João Anzanello Carrascoza, uma coletânea de microcontos escrita em uma única linha e materializada graficamente de diferentes formas, que teve seis de suas micronarrativas, posteriormente, transpostas para dois curtas-metragens, incorporando, dessa forma, recursos do cinema. Diante disso, refletiremos a relação entre a tessitura narrativa dos microcontos e sua “representação” cinematográfica, pontuando de que forma as micronarrativas, mesmo diante de sua brevidade, possibilitam a criação de cenas que as sintetizam. Nesse processo de transmutação do papel para a tela, pontuaremos a abertura e flexibilidade que os microcontos proporcionam, já que a construção fílmica abrange elementos no enredo que ultrapassamo texto propriamente dito. Dessa forma, verificaremos como a relação entre as diferentes linguagens se configura e se os curtas- metragens, feito cena em gotas, cenas em linha única, conseguiram apreender a essência dos microcontos de João Anzanello Carrascoza. SÍMBOLOS E MONTAGEM NA PRODUÇÃO FICCIONAL DE MODESTO CARONE Efraim Oscar Silva (FCLAr/UNESP/D/CAPES) efraimoscarsilva8@gmail.com Or. Profa. Dra. Rejane Cristina Rocha (UFSCar) Palavras-chave: literatura; cinema; Modesto Carone. A literatura, a dramaturgia e a pintura foram - e em certa medida continuam a ser - referenciais no processo de criação cinematográfica. Uma vez tendo consolidado as suas formas de expressão, o cinema passou a ser ele próprio uma referência para a literatura e o teatro. Procedimentos e recursos próprios da representação literária e da pintura, como, por exemplo, as variações do foco narrativo e a perspectiva, foram apropriados pelo cinema e, tendo adquirido maior grau de sofisticação, resultaram na multiplicidade de enquadramento, no flashback, etc. Muitas obras literárias e montagens teatrais do século XX empregaram, em maior ou menor grau, algumas dessas técnicas “reconfiguradas” pelo cinema. No âmbito do debate sobre as inter-relações entre literatura e cinema, formulamos a hipótese de que a obra ficcional de Modesto Carone faz uso do símbolo e da montagem, deslocando-os do âmbito teórico para o universo da criação. Para comprová-la, apresentamos trechos de três livros de ficção de Carone, juntamente com as reflexões acerca dos conceitos de símbolo e montagem na literatura e no cinema, desenvolvidas por dois teóricos do cinema e pelo próprio escritor, em sua tese de doutorado. Concluímos que a apropriação dessas duas técnicas é verificável na sua obra ficcional e atende a finalidades específicas. Mais conhecido como tradutor da obra de Kafka para o português brasileiro e como crítico literário, Modesto Carone construiu, em paralelo e de forma discreta, uma carreira como criador literário, já tendo publicado quatro volumes de contos e uma novela. Duas características singulares da sua obra ficcional são a neutralização de algumas das marcas mais consagradas da representação literária e a aproximação com a forma do discurso ensaístico, documental, reflexivo, normalmente considerado “não literário”. Essa proximidade com as formas de mailto:efraimoscarsilva8@gmail.com 37 expressão não literárias e as implicações daí advindas estão no foco da pesquisa que desenvolvemos atualmente, que, embora não contemple as relações da obra de Carone com o cinema, tampouco as considera irrelevantes. A CIDADE EM MANOEL DE OLIVEIRA E EM DOIS OUTROS CLÁSSICOS DIRETORES DE CINEMA: WALTER RUTTMAN E FRITZ LANG Elis Crokidakis CASTRO (UNESA/ FACHA) eliscrokidakis@yahoo.it Palavras-chaves: cidade; cinema; arquitetura. Neste trabalho faremos um passeio por alguns filmes de Manoel de Oliveira que visitam a cidade do Porto sua terra natal e os espaços da cidade que é olhada pelo cineasta.Falar das cidades não chega a ser uma novidade em termos teóricos, todavia falar da cidade de alguém, ou da cidade de um cineasta principalmente é algo que suscita uma curiosidade. Quando trabalhamos as cidades descritas na literatura, temos em mente que, o que interpretamos e lemos passa necessariamente por nossa forma de ler, pelas significações que damos às narrativas, para criar nossas próprias imagens, nossos próprios filmes e esses se mostram diferentes para cada leitor, mas como ler se as imagens não precisam ser imaginadas, quando elas já estão prontas, feitas pelo cineasta que as selecionou e montou? Assim ocorre uma diferença entre ver em imagens da Sevilha de João Cabral de Melo Neto, ou o Rio de Janeiro de João do Rio ou a Paris de Baudelaire ou a São Petersburgo descrita por Marshall Berman, que são descritas no texto, requerendo de nós um mergulho também em nossos próprias imagens de memória ou de literatura e ver as imagens de Manoel de Oliveira, Walter Ruttman, Fritz Lang e muitos outros cineastas que tem nas cidades parte ou toda a sua matéria fílmica. E como ler tais imagens no universo de uma cidade exaustivamente filmada por um criador? É isso que analisaremos nas criações de Manoel de Oliveira: “Douro faina Fluvial”, “A cidade do Porto”, e também em outros dois filmes que influenciaram o diretor: de Walter Ruttman, “Berlin - Symphony of a Metropolis” (1927), e de Fritz Lang, “Metrópolis.” (1927), onde tais filmes, cada um dentro de seu contexto, sendo documental ou de ficção, marcarão a história do cinema servindo até hoje de referência para todos os cineastas que transitam pelas cidades em busca de matéria cinematográfica. PAISAGEM URBANA: CINEMA, ESPAÇOS PERIFÉRICOS E CORPOS Elis Crokidakis CASTRO (UNESA/FACHA) Eliscrokidakis@yahoo.it Eliana MONTEIRO (FACHA) Elianamonteiro55@gmail.com Palavras chave: cidade; cinema; corpos. A relação entre a câmera e os corpos dos atores/personagens em filmes de Cláudio Assis (Texas Hotel, 1999, Amarelo Manga,2002, Crime Delicado, 2005, Baixio das Bestas, 2006, A Febre do Rato, 2011 e Big Jato, 2015), será um dos focos centrais desse trabalho onde a interface entre esses dois elementos confere ao diretor uma estética própria e, inconfundível, que soma os corpos e a cidade onde eles se inserem. Reconhecemos em Assis como um dos diretores mais relevantes de sua geração, capaz de levar às telas um olhar dilatado sobre aquilo que se passa diante da lente, provocando em seus espectadores um “choque perceptivo”. Buscaremos refletir o estado de mailto:eliscrokidakis@yahoo.it mailto:Eliscrokidakis@yahoo.it mailto:Elianamonteiro55@gmail.com 38 degradação de seus personagens (marcada nos corpos sob diversos aspectos) como também suas desintegrações sociais levadas, tanto uma como a outra, ao limite mais criativo do diretor, que será a luz do conceito de “obscenidade” de Jean Baudrillard analisado. Em tal conceito se configuram o avesso da cena, o avesso do espetáculo e o avesso do jogo de sedução. Também nessa análise estabeleceremos as intrínsecas relações do espaço físico com o espaço afetivo da memória e da representação que é pontuado através desse cinema de certa forma marginal, onde algumas vezes esse espaço é reflexo, outras vezes ele é ruína e outras ainda representação simbólica de algo afetivo ou mesmo político. Isso porque, no universo do estudo do cinema nos deparamos muitas vezes com imagens de espaços\cidades que não existem mais, ou de cidades inventadas ou de cidades que precisam servir para denunciar algo que ocorre com seus habitantes .Assim, uma das obras de Cláudio Assis será observada sob a perspectiva de um cineasta pernambucano, nascido em Caruaru - região do agreste brasileiro - capaz de construir correspondências, física e social entre as mais diversas periferias do país e que adquirem sentido umas em relação às outras. Assis é um cineasta que, assim como o Brasil, parece fora de controle. ENTRE O SOCIAL E O RELIGIOSO: O ENTRE-LUGAR DOS PERSONAGENS NO ROMANCE DE 30 Elisa Domingues COELHO (FCLAr/UNESP/D) elisadcoelho@gmail.com Or. Profa. Dra. Juliana Santini (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Literatura Brasileira; Romance; década de 30. A produção literária de 1930 vem sendo estudada segundo uma chave de leitura do Modernismo que articula ruptura e inovação. Circunstância que, juntamente ao contexto histórico da década e à forte polarização ideológica da intelectualidade nesse decênio, consolidou uma crítica em que literário e ideológico se misturam e deixam muitas lacunas na análise literária dos romances dessa geração. Todavia, um olhar mais atento às permanências do que às rupturas, como o fazem Afrânio Coutinho e Mário de Andrade, pode, filiando-se a uma outra perspectiva, mostrar que a prosa de 30 está inseridaem uma tradição que remonta ao Romantismo e que, portanto, a maneira como sua configuração aparece na fortuna crítica do decênio – entre duas grandes tendências – também pode ser explicada por questões não literárias. Uma delas, que ocupa um lugar central nessa nossa revisão da crítica de 30, é a relação entre literatura e religião, a qual fez com que essa prosa fosse estudada e dividida entre dois temas inconciliáveis: social e religioso. A proposição desse trabalho é, justamente, a partir de um estudo ainda inicial de Maria Luiza, de Lúcia Miguel Pereira, preservar o emaranhado desses elementos na estrutura narrativa e compreender como a construção da prosa dessa década se configura a partir, justamente, da presença da relação entre social e religioso, que se fundem na economia do romance ao trazer a trajetória das personagens em busca de uma saída para a crise social e humana que se configurou em 30. Dessa forma, através do estudo da trajetória da protagonista e da estruturação da voz e do foco narrativos, podemos ver como a percepção da personagem desse mundo e dos acontecimentos que compõem o enredo iluminam as contradições na medida em que o desenvolvimento do seu fluxo de consciência a retira da centralidade de sua estrutura familiar – que se filia ao passado – e a lança em uma busca – característica da personagem de 30 – por um novo lugar possível, fazendo do deslocamento no discurso religioso protagonizado pela personagem o próprio deslocar operado pela crise de 30. mailto:elisadcoelho@gmail.com 39 A EXPRESSIVIDADE LITERÁRIA NAS AULAS DE SERGUEI EISENSTEIN Erivoneide BARROS (IEL/UNICAMP/D) erivoneidebarros@gmail.com Or. Prof. Dr. Fabio Akcelrud DURÃO (IEL/Unicamp) Palavras-chave: Literatura Comparada; Eisenstein; Cinema. Resumo: Nos escritos do cineasta e teórico russo Serguei Eisenstein, a arte literária está presente como um modelo de estrutura artística, motivadora de reflexões sobre aspectos formais e estilísticos, envolvidos nas diferentes fases da concepção artística. A Literatura, tanto russa quanto mundial, tornou-se um recurso pedagógico fundamental no programa de ensino interdisciplinar desenvolvido por Eisenstein para o curso de Direção Cinematográfica do Instituto Estatal de Cinema Russo (VGIK). O novo cenário social em construção na União Soviética, após o advento do Plano Quinquenal, implantado por Iósef Stálin, gerou profundas transformações no sistema educacional. Muitos discentes ingressavam nos institutos de ensino superior sem uma formação anterior sólida que oferecesse a este público o desenvolvimento de aspectos críticos e estéticos em relação às diferentes manifestações artísticas. Para Eisenstein, um futuro diretor precisaria ser um ávido leitor, além de conhecedor das diferentes artes, pois só dessa maneira seria capaz de criar uma estética própria. Dentro dessa perspectiva, no primeiro e no segundo ano do curso, estava prevista a leitura e discussão coletiva de diferentes obras literárias a fim de observar criticamente os aspectos que constituem o fenômeno artístico no campo da Literatura. Desse modo, a articulação entre o fazer e o pensar teórico permitiria ao aluno entender que Cinema e Literatura são linguagens que dialogam e ampliam possibilidades significativas que estão além dos meandros da adaptação de uma obra literária para a linguagem cinematográfica. Considerando a afirmação de Eisenstein de que o cinema apresenta mecanismos de construção artística advindos da linguagem literária, essenciais para o estabelecimento de uma imagem que não esteja presa meramente ao factual (representação), minha proposta para esta comunicação é discutir o conceito de expressividade artística explorado pelo teórico- cineasta. A leitura partirá da análise do texto Literatura e Cinema (1928), em que Eisenstein discute as relações entre a estrutura das obras literárias Germinal e A terra, de Émile Zola, e seu filme A greve (1924) e o projeto cinematográfico de A linha geral, além de trechos de artigos oriundos dos exercícios realizados em suas aulas, posteriormente publicados em revistas e livros. “A DAMA DO LOTAÇÃO” E BELLE DE JOUR: O DUPLO COMO ÍNDICE DE METALINGUAGEM E INTEGRAÇÃO DO SER E DE SEUS DESEJOS Fabiane Renata BORSATO (FCLAr/UNESP/ILCML/U.Porto) fabiane@fclar.unesp.br Palavras-chave: A dama do lotação; Belle de jour; relações intersemióticas. Desdobramentos de protagonistas em alteridades cujos comportamentos surpreendem seus maridos e a sociedade são temas de “A dama do lotação”, uma das narrativas da obra A vida como ela é... O homem fiel e outros contos (1951-61), de Nelson Rodrigues e do filme Belle de jour, de Luís Buñuel, surgido em 1967. As protagonistas de “A mailto:erivoneidebarros@gmail.com mailto:fabiane@fclar.unesp.br mailto:fabiane@fclar.unesp.br 40 dama do lotação” e Belle de jour não são unidades ególatras, ao contrário, sustentam-se como consciências e inconsciências em conflito, desdobradas nas alteridades que dão título às obras. Nelson Rodrigues e Buñuel abandonaram traços naturalistas em favor da criação de planos imaginários e fantasiosos, de universos patológicos que procuram uma causa, mas acabam por gerar ainda mais incertezas, como é exemplo a cena de infância de Séverine e a consequente insinuação de abuso sexual ligado ao universo religioso e à recusa da hóstia na primeira comunhão, por parte da menina. No conto de Nelson Rodrigues, a protagonista Solange oferece indícios de que a dama do lotação é um constructo cênico, um papel dramático que não compromete sua condição de esposa fiel. Conto e filme apresentam, portanto, protagonistas que assumem tanto a condição de esposas fiéis e ingênuas, quanto de mulheres atraentes e libidinosas. Trata-se de projeções oníricas em que o inconsciente parece não caber no diálogo, o que promove a liberação das fantasias que, postas em relação com os fatos, colocam em xeque a lógica costumeira e as certezas do espectador/leitor. Este estudo propõe analisar o jogo de representações e desdobramentos das personagens do conto e do filme, bem como as implicações entre ficcionalidade, despersonalização e múltiplas identidades, sendo estes elementos que impedem julgamentos morais das personagens e anunciam o traço metalinguístico do conto de Nelson Rodrigues. Para tanto, mobilizaremos estudos sobre teoria do cinema, desenvolvidos por Robert Stam, Ismail Xavier e Bordwell & Thompson; sobre gêneros literários, escritos por Garcia Berrio e Rosenfeld; sobre o Surrealismo, de autoria de Octavio Paz e sobre a personagem da narrativa, do teatro e do cinema, em textos de Almeida Prado, Candido e Sales Gomes. “[DOURO] DUM CERTO IDÍLIO COM O DEMONÍACO”: REFLEXÕES SOBRE O ESPAÇO ROMANESCO E O ESPAÇO CINEMATOGRÁFICO EM VALE ABRAÃO Fernanda Barini CAMARGO (FCLAr/UNESP/D) fernanda.barini.camargo@gmail.com Or. Profa. Dra. Renata Soares JUNQUEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: espaço romanesco; espaço cinematográfico; Vale Abraão. Os espaços na arte nos atualizam sobre o lugar de identidades ficcionais no mundo. Se Agustina Bessa-Luís o escreve com a caneta, Manoel de Oliveira o faz com a câmera, a partir do texto da romancista. Em Vale Abraão, longa-metragem (1993) e romance homônimo (1991), a geografia inventada do Vale é o alicerce da fábula protagonizada por Ema, mulher sedutora, sensual e desafiadora, cuja insatisfação (ou tédio) romântica a conduz a jogos erótico-amorosos – sempre incapazes de preencher o inquietante vazio que a habita. A trajetória percorrida pela personagem é fortemente marcada pela presença de cinco quintas: o Romesal, onde nascera e crescera, a quinta de Vale Abraão, sua residência matrimonial, a quinta das Jacas, palco para a sua apresentação à sociedade burguesa que ali vivia, a Caverneira, a qual abriga um adensamento de paixões e a quintado Vesúvio, ambiente de consumação do desenlace trágico. Os espaços arquitetônicos criados no romance de Agustina servem de andaimes para a construção de metáforas-chave, as quais sustentam os pilares narrativos. Constata-se deste modo, que o espaço narrativo para a romancista rejeita a atribuição de mero pano de fundo ficcional. Ao recriar a trama cinematográfica da fábula literária, Manoel de Oliveira não apenas se apropria das imagens do Douro e, portanto, do Vale, como cenário – ele transporta para o ecrã o narrador romanesco heterodiegético em voz-over, responsável por comentar o espaço filmado e usá-lo como via de acesso para a mailto:fernanda.barini.camargo@gmail.com 41 consciência das personagens. Os enquadramentos escolhidos, vários deles emoldurados pelas estruturas arquitetônicas, instigam simbologias ligadas aos campos semânticos claustrofobia e castração. Todavia há, na narrativa fílmica, um eixo de força, tão enigmático e indomável quanto Ema: o rio Douro. Compondo o espaço e fiando o tempo, o rio é para onde todas as janelas se voltam, sendo também área demarcadora de um ambiente perturbador. Com o objetivo de promover reflexões sobre o modus operandi da construção do espaço no romance agustiniano e no cinema oliveiriano, esta comunicação se propõe a analisar Vale Abraão, filme e romance homônimo, a partir das formas artísticas que o edificam: a literatura e o cinema. O BOM SAMBA NÃO TEM LUGAR: OS ESPAÇOS E A MÚSICA EM DESDE QUE O SAMBA É SAMBA, DE PAULO LINS. Gabriel Capelossi FERRONE (FCLAr/UNESP/M/CAPES) gabrielcapelossi@hotmail.com Or. Profa. Dra. Juliana SANTINI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Espacialidade. Samba; Paulo Lins. Este trabalho visa apontar e analisar as diferentes estratégias narrativas para a construção de espacialidades no romance Desde que o samba é samba (2012), de Paulo Lins. Na obra, o autor responsabiliza-se por recriar o nascimento e o desenvolvimento do gênero Samba no início do século XX no Rio de Janeiro. A história narrada desenvolve-se não apenas a partir das figuras fictícias, como Valdirene, Sodré e Bancura, mas também pela ficcionalização de figuras históricas, como Tia Ciata, Ismael Silva, Francisco Alves e Osvaldo Caetano Vasques. A trama é, além disso, fortemente apoiada nas relações de deslocamento espaciais às quais as personagens são submetidas. Isto é, na narrativa, o Samba é responsável por promover dinamicidades topográficas – físicas e simbólicas – capazes de reestruturar o convívio político-social – e, por consequência, as respectivas relações conflituosas – criado por Lins. Isso leva a crer que o autor não pensou o espaço narrativo meramente como um aspecto cênico limitado a um elemento ingênuo ou coincidencial de seu livro. Sobre isso, Paul Claval nos mostra que o espaço intervém diretamente na vida social porque serve, também, como elemento de base à atividade simbólica (Samba). Portanto, para que os apontamentos realizados em torno das diferentes espacialidades do romance discutam o espaço como uma matéria fundamental na análise do romance, este estudo se valerá das proposições de Michel de Certeau, com suas diferenciações entre Espaço e Lugar, de Maurice Halbwachs, com sua teoria sobre a memória coletiva, e de Georg Wink, sobre a intencionalidade da construção de um espaço em determinada narrativa. Além disso, para aprofundar a observação da interferência que o espaço pode tomar na valoração das manifestações culturais e sociais construídas ao longo da trama, serão utilizados os pensamentos de Roberto DaMatta sobre os conceitos de casa e rua e de Norbert Elias, com os estabelecidos e os outsiders. A INVERSÃO DE MÁXIMAS EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA CARDOSO Gabriela Cristina Borborema BOZZO (FCLAr/UNESP/M/CNPq) gabrielaborborema@live.com Or. Profa. Dra. Maria Célia de Moraes LEONEL (FCLAr/UNESP) mailto:gabrielcapelossi@hotmail.com mailto:gabrielaborborema@live.com 42 Palavras-chave: Dulce Maria Cardoso, Os meus sentimentos, inversão de máximas. O estudo da produção romanesca de Dulce Maria Cardoso revela um minucioso trabalho da forma – categorias narrativas de modo geral – que, organicamente, elaboram o tema de cada livro. Acreditamos que tal arquitetura chega ao ápice em Os meus sentimentos composto por apenas um período que se estende por mais de trezentas páginas, urdindo o tema da não-pertença. Neste trabalho, tendo tal romance como objeto, tomamos como tema um aspecto específico da elaboração da linguagem – a inversão de máximas, provérbios, ditados - com o objetivo de verificar de que modo esse componente – em colaboração com outros recursos linguísticos e com outras categorias da narrativa, especialmente, a história, a protagonista, o tempo – contribui para construir o tema mencionado. Na composição, saltam à vista, entre outros recursos como o ritmo de fluxo de consciência, a ironia. Para a concretização dessa última é que a escritora lança mão da inversão de máximas, gerando o questionamento de verdades absolutas que compõem a realidade sócio-histórica representada na narrativa que incorpora o período salazarista e a Revolução dos Cravos. As inversões, como pretendemos mostrar, corroboram a realização do projeto artístico da autora conforme proposto por Gonçalves Neto e Gama em relação a outro romance, O chão dos pardais. Para atingir os objetivos, levantamos os provérbios presentes no texto e investigamos o modo como se dá a sua inversão nas diferentes ocorrências. Para tanto, contamos com embasamento teórico-crítico dividido em três linhas principais: a) crítica da produção da escritora com centro no ensaio “Liquidez, reconfigurações e pluralidades: a representação identitária da sociedade portuguesa em Chão de Pardais de Dulce Maria Cardoso”, de Gonçalves Neto e Gama; b) teoria relativa ao conceito de máxima, com fulcro na Arte retórica de Aristóteles, em “La Rochefoucauld: reflexões ou sentenças e máximas”, de Roland Barthes e A Ciropédia de Xenofante: um romance de formação na Antiguidade, de Emerson Cerdas; c) estudo sobre a antifábula de James Thurber, em “The american face of Aesop: Thurber’s Fables and Tradition”, de Pack Carnes. CONVENÇÕES NARRATIVAS DO ROMANCE DISTÓPICO NO FILME ALPHAVILLE, DE JEAN-LUC GODARD Gabriela Bruschini GRECCA (FCLAr/UNESP/D/CAPES) gabrielabgrecca@hotmail.com Or. Profa. Dra. Rejane Cristina ROCHA (UFSCar/ FCLar/UNESP) Palavras-chave: Ficção científica; narrativa distópica; Alphaville. Esta comunicação objetiva debater e analisar uma das primeiras obras da filmografia de Jean-Luc Godard, Alphaville (1965). O filme, enquadrado no gênero cinematográfico de ficção científica, apresenta diversos traços que são considerados convenções tradicionais do romance distópico, gênero literário que se popularizou no decorrer do século XX a partir do surgimento de suas obras mais prototípicas, como Nós, de Yevgeny Zamyatin, e 1984, de George Orwell. Esta última ecoa, em Alphaville, diversos aspectos temáticos conhecidos mundialmente pela forma como foram abordados neste romance, o que torna pertinente, para esta discussão, pontuar as influências no filme do romance distópico, gênero tão amplo, a partir da obra de Orwell, a fim de que as aproximações entre os traços de ambas as obras sejam demonstradas de maneira mais concreta. Assim, seis convenções das narrativas distópicas foram selecionadas, a fim de debater o modo como foram trazidas por Orwell em 1984 e como mailto:gabrielabgrecca@hotmail.com 43 elas aturam na construção do espaço e do Poder em Alphaville, sendo elas: o governo pelo medo; a ascensão do poder pela tecnologia; o cerceamento das liberdades individuais; o controle da linguagem; a manipulação da história; e a resistência do protagonista pela arte. Com isto, pretende elucidar-se como a literatura e o cinemase influenciam dialeticamente. A primeira é capaz de agir sobre o segundo não somente quando a obra cinematográfica é uma adaptação direta de um texto literário, mas também quando suas maneiras de recriar os questionamentos existenciais e sociais extrapolam o nível do enredo e formulam novos modos de engajar-se a estas questões, possíveis de serem transportados para as outras manifestações artísticas. Já o cinema age sobre a literatura quando atua na expansão, na modificação e na transformação dos próprios limites do gênero literário; afinal, um filme como Alphaville, a partir das especificidades dos recursos cinematográficos, pode apresentar um universo distópico de modos ainda imprevistos pelos autores de literatura, ressignificando, de um modo geral, a relação entre as artes e os impulsos utópicos/distópicos, tão próprios de momentos sócio-históricos de crise e de mudança de paradigmas. DO CINEMA À NARRATIVA: APLICAÇÃO DO CONCEITO DE MONTAGEM EM L’ÉCUME DES JOURS, DE BORIS VIAN Glenda Verônica DONADIO (FCLAr/UNESP/M/CNPQ) glendadonadio@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Andressa Cristina de OLIVEIRA (FCLAR/UNESP) Palavras-chave: Boris Vian; Eisenstein; Montagem. Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise comparativa entre o texto de Eisenstein (2002) e a obra L’écume des jours (2017), de autoria de Boris Vian, levando em conta, sobretudo, o conceito de montagem explicado n’O sentido do filme. Pretende- se demonstrar como o conceito de montagem seria aplicado no contexto de uma obra literária, como também evidenciar os efeitos imagéticos resultantes de sua utilização, por meio da seleção de dois trechos exemplificativos. Além disso, busca-se evidenciar o emprego de duas técnicas de montagem: a metonímia (mais especificamente, a sinédoque) e a metáfora (via justaposição de duas imagens) consoante definições de Jakobson em Linguística. Poética. Cinema. (1970) e Martin em A linguagem cinematográfica (2007). A análise comparativa será pautada, portanto, nas observações pontuadas ao longo dos trabalhos de Eisenstein, Jakobson e Martin buscando, posteriormente, demonstrar como estes conceitos seriam aplicados no decorrer da obra de Vian. A demonstração ocorrerá por meio da exposição e explicação dos trechos exemplificativos. Assim, visa-se esclarecer que os conceitos teóricos a respeito da montagem, apesar de voltarem-se, essencialmente, ao meio cinematográfico, abordam, também, questões tocantes à literatura, as quais serão o foco dessa breve análise. Primeiramente, será apresentado um trecho de L’Écume des jours no qual adota-se o conceito de montagem por meio da metonímia, ou seja, os diferentes planos (planos gerais, planos médios, primeiros e primeiríssimos planos) evidenciariam partes do corpo das personagens como representação do todo, sendo que a imagem final é elaborada pelo autor, dessa maneira, com objetivo de contar a confusão causada pela personagem principal ao causar um acidente na pista de patinação de gelo, o qual resulta em um amontoado de patinadores. Por conseguinte, será apresentado o segundo e último trecho, no qual se efetua o conceito de montagem por meio da metáfora, ou seja, serão apresentadas considerações a respeito da importância da justaposição de duas cenas mailto:glendadonadio@yahoo.com.br 44 contrastantes – o ambiente agradável, ensolarado e alegre apresentado inicialmente, sucedido pela inserção contínua de elementos sombrios, responsáveis por imprimir uma espécie de estranhamento, concretizando a disparidade entre uma cena e outra – com o propósito de construir a imagem final pretendida pelo autor. Por fim, será ressaltada a importância da aplicação da justaposição na obra L’Écume des jours, seja no trecho exemplificativo, seja na história como um todo. TESTEMUNHO DA INIQUIDADE: JUSTIÇA E DIREITO EM MEMÓRIAS DO CÁRCERE DE GRACILIANO RAMOS Gustavo de Mello Sá Carvalho RIBEIRO (FCLAr/UNESP/D/CAPES) gustavo.fcl2010@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Maria Célia de Moraes LEONEL (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Graciliano Ramos; Memórias do cárcere; autobiografia. Sabe-se que a obra de Graciliano Ramos tem, cada livro à sua maneira, fortes marcas autobiográficas, mas, ao lado de Infância de 1945, é em Memórias do cárcere, publicação póstuma de 1953, que essas características surgem de maneira mais vívida por tratar-se de uma narrativa de testemunho em que o escritor alagoano expõe, por uma rememoração crítica, detalhada e elaborada, o período de cerca de um ano em que esteve, sem motivo legal ou formal, privado da liberdade pelo governo de Getúlio Vargas. Dados os acontecimentos relatados e as reflexões feitas pelo autor, tomamos um tema que tem relevância não apenas nessa obra, mas na prosa nacional, especialmente nos chamados romances de 30. Trata-se da justiça, entendida aqui tanto como valor quanto como órgão estatal responsável pelo exercício de tal princípio. O objetivo do trabalho é, portanto, verificar como tal tema é construído pelo narrador por meio de rememorações e reflexões que faz em seu relato. Para isso, damos enfoque às particularidades da literatura de testemunho na sua forma de representação literária da justiça. A metodologia do trabalho consiste em, a partir de proposições teóricas sobre justiça e direito e conceitos relativos a esses campos, levantar e examinar como componentes literários constroem a visão desses temas na obra em pauta por meio da investigação minuciosa das categorias narrativas - personagens, história, narrador, focalização, tempo, espaço, linguagem - sempre relacionadas umas às outras. Ressalta- se que levamos em conta para tal análise o que Philippe Lejeune chama de "pacto autobiográfico" e que tais elementos narrativos, em Memórias do cárcere, são lidos como reelaborados pela memória e escrita do autor. Para consecução de nossos objetivos, lançamos mãos de embasamento teórico que pode ser resumido da seguinte forma: primeiramente, ensaios sobre o autor e a obra em questão como, por exemplo, "Dettera: ilusão e verdade - Sobre a (im)propriedade em alguns narradores de Graciliano Ramos" de Valentim Facioli e "Graciliano e as Memórias do cárcere" de Flávio Loureiro Chaves; em segundo lugar, teorias do direito e da justiça, das quais destacamos História do direito de Flávia Lages de Castro e Filosofia do direito de Paulo Nader; em terceiro, teorias da narrativa como O discurso da narrativa de Genette e, por último, estudos de narrativa, em especial sobre escritas de si, como "Graciliano Ramos: considerações autobiográficas" de Maria Célia Leonel e José Antonio Segatto. mailto:gustavo.fcl2010@yahoo.com.br 45 POESIA, INTERTEXTUALIDADE E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PORTUGUESA EM SILVESTRE, DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO. Heloísa Helena RIBEIRO (FCLAr/UNESP/G/FAPESP) helo100ribeiro@gmail.com Or. Profa. Dra. Fabiane Renata BORSATO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: filme; intertextualidade; duplo. A pesquisa em questão tem como objetivo analisar os intertextos da cantiga La Laranja e do conto popular português A Mão do Finado, existentes no Longa Metragem Silvestre (1981). Ademais, busca-se observar como se relacionam as referências medievais populares indicadas acima, nesse enredo fílmico contemporâneo. O filme tem como enredo uma construção intertextual que parte da fusão entre duas histórias populares portuguesas A Mão do Finado e Donzela Que Vai à Guerra, porém resgata outras formas como a cantiga La Laranja, e ditados populares. Além das questões intertextuais para as quais a pesquisa se volta, o filme permite a discussão de outros tópicos, como duplo, existente no intertexto de Silvestre com Donzela Que Vai à Guerra, história popular de origem castelhana transcrita em verso. Na película esse intertexto ocorre quando Sílvia se transforma em Silvestre, quem dá nome ao filme, a fim de sejuntar à guerra para resgatar o pai que fora sequestrado. Nesse momento, uma parte de Donzela Que Vai à Guerra é transcrito integralmente nas falas de Sílvia e de sua irmã mais velha, Susana. Assim, a partir da transfiguração da jovem, manifesta-se a figura da donzela guerreira— arquétipo presente na literatura de diferentes regiões do mundo desde a antiguidade. A donzela guerreira é essencialmente o duplo, contido na figura da donzela—representação do feminino—, e da guerreira—representação do masculino—, considerando-se o papel desempenhado pela mulher, e as características atribuídas ao feminino e ao masculino, nas sociedades. O filme também apresenta a figura do peregrino, presente no eixo temático da intertextualidade com A Mão do Finado. No longa, o peregrino é um homem com uma mão brilhante, associado pelas irmãs ao maligno. Contudo, ele se apresenta primeiramente como um romeiro cristão, e posteriormente como um pretendente a marido que heroicamente derrota o dragão de Sílvia, ganhando sua mão. Portanto cria-se, na película, a partir da figura desse homem, um duplo entre anjo e demônio, e herói e vilão. A fim de se estudar a construção das personagens em questão, em relação as modificações e aos novos significados gerados a partir da transposição, utilizar-se-á, pois, de teorias da intertextualidade tais como as de Genette, Compagnon, e Hutcheon, bem como, da teoria da personagem de Genette, e de discussões acerca da personagem realizadas por Beth Brait. O INSTANTE DE MORTE EM LA JETÉE Iamni Reche BEZERRA (IEL/UNICAMP/D) iamnireche@gmail.com Or. Prof. Dr. Marcos SISCAR (UNICAMP) Palavras-chave: La jetée; instante; Jacques Derrida. Esta comunicação tem como objetivo apresentar um leitura da noção do “instante”, enquanto o tempo próprio do testemunho e da morte, a partir do curta-metragem La jetée, lançado em 1962 com roteiro e direção do documentarista Chris Marker. Em uma Paris em ruínas após a Terceira Guerra Mundial, um homem marcado por uma intensa mailto:iamnireche@gmail.com 46 memória de infância é escolhido pelos alemães para passar por experiências de viagem no tempo, com o propósito de pedir ajuda e mantimentos às sociedades futuras para que a reconstrução da cidade pós-guerra seja possível. A película é a única obra ficcional de Marker que, conhecedor das técnicas do documentário, compôs La jetée a partir de fotogramas (não há movimento de câmera, à excessão de uma única e brevíssima cena). As fotografias e o tom documental da obra resgatam a impressão realista do relato, colocando em questão o estatuto da verdade fotográfica e testemunhal, expondo sua instabilidade, descrita por Jacques Derrida como a necessária indecidibilidade entre ficção e verdade, literatura e testemunho. Em Demeure. Maurice Blanchot. (1998), Derrida se reporta ao tensionamento do sujeito na narrativa blanchotiana, compreendendo o “instante” a partir de sua estrutura aporética, que o obriga a permanecer (demeure) exatamente ali onde não se poderia demorar. Assim, o instante de enunciação testemunhal abala a estrutura do tempo presente, sendo, ao mesmo tempo, antecipação e adiamento, confusão onde se veem circunscritas as viagens no tempo da película de Marker (memória de passado e memória de futuro nos são apresentadas como fragmenos dessa estrutura dramática). Se tomamos como princípio estético do filme a montagem fotográfica, podemos pensar que o que está em jogo é o instante de captura deste presente que se da a ver em sua condição de ruína, dessa memória que se reconstroi na mente do personagem a cada sessão do experimento no laboratório, anunciando, como vemos no desfecho de La jetée, o instante que é também, e especialmente, o instante de sua morte. FORMAS E REPRESENTAÇÕES DO AMOR EM MARÇAL AQUINO: UMA LEITURA DO ROMANCE “EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS” Igor Iuri Dimitri NAKAMURA (FCLAr/UNESP/M/CAPES) igornakamura@hotmail.com Or. Prof. Dr. Paulo Cézar Andrade da SILVA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Amor; Literatura; Marçal Aquino. Este trabalho assunta as figurações do amor no romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios de Marçal Aquino. Estuda o amor entre as fronteiras do erotismo e da sexualidade. Depreende uma narrativa amorosa e destrincha sua estrutura e elementos textuais. A hipótese é que o amor não é construído involuntariamente para tornar deglutível uma história da violência. O trabalho se subdivide estruturalmente em quatro capítulos. No primeiro capítulo, explana sobre a vida, a obra e a recepção de Marçal Aquino, assim como o seu lugar na literatura. No segundo capítulo, traça um percurso teórico com o qual se apresentam noções sobre o amor de Platão (2004a) a Bauman (2004), com um recorte do escopo teórico em seguida. Ressalta o pressuposto teórico de que o amor encontra-se no plano do conteúdo e se materializa no plano da expressão (HJELMSLEV, 1975), ou seja, do âmbito social, externo, se perfaz no âmbito estético, interno (CANDIDO, 2000). No terceiro capítulo, o trabalho mostra que o discurso erótico-amoroso constitui lufadas de linguagem (BARTHES, 1981) no romance cujas manifestações do erotismo abalam o simulacro do real. A figuração corpórea adensa-se e as formas feminis reificam o erotismo dos corpos (BATAILLE, 1987) no amour-passion (GIDDENS, 1993). Equipara-se o amor como uma simbiose amorosa (FROMM, 2000) entre a dominação e a servidão, a femme fatale e a femme fragile em torno da bipolaridade da protagonista. No quarto capítulo, embasa-se nas categorias de ordem, duração, frequência, modo e voz, de Genette (1995), para a análise mailto:igornakamura@hotmail.com 47 narrativa com ênfase no tema amoroso. O trabalho expõe uma narrativa amorosa e uma diegese da barbárie, das quais resulta a tensão entre poesia e violência. Nos desdobramentos dos níveis narrativos (extra, intra, metadiegético), as facetas amorosas ilustram os conflitos do amor carnal (Eros) com o amor cristão (Ágape) e o amor fraterno (Philia). A relação entre quem conta (narrador) e quem ouve (narratário) sujeita a temática amorosa a nível de conversa. A posição de quem vê (focalização) é construída para exprimir a emotividade do eu que ama diante do impacto da paixão. Apercebem-se os signos da espera e da angústia da perda do objeto amoroso sobre os quais se prostra o eu que os edifica com as anacronias no tempo da memória. Os espaços diegéticos carregam-se de sentidos e funcionam como aprisionamento e libertação dos sujeitos passionais. O trabalho mostra que o amor consiste em uma forma motriz de resistência. “SENILITÀ”, DE ITALO SVEVO E, “UN AMORE”, DE DINO BUZZATI: DIÁLOGOS POSSÍVEIS Ivair Carlos CASTELAN (FCLAr/UNESP/PósD) ivaircastelan@gmail.com Supa: Profa. Dra. Claudia Fernanda de Campos MAURO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Senilità; Un amore; personagem. O presente trabalho pretende investigar as possíveis convergências no tocante à caracterização dos protagonistas em dois grandes romances da literatura italiana: Senilità (1898) de Italo Svevo, e Un amore (1963), de Dino Buzzati, em Senilità, de Svevo, a narrativa se desenvolve a partir e em torno da relação afetiva entre Emilio Brentani e Angiolina Zarri. Ele, um solteirão de 35 anos, simples empregado de uma firma de seguros que no passado publicara um livro, com relativo sucesso e que lhe rendeu certa fama de literato, a qual não se manteve por sua inércia, vive uma monótona e opaca existência ao lado de sua irmã Amália, até conhecer a jovem Angiolina, por quem se apaixona perdidamente.Assim como em Senilità, Un amore, de Buzzati, também apresenta uma narrativa construída em torno de uma relação afetiva vivida entre Antonio Dorigo, arquiteto renomado de 49 anos e, Laide, uma “suposta” aspirante a bailarina do famoso teatro Scala de Milão, mas que na verdadenão passa de uma prostituta. O percurso dos personagens dos dois romances selecionados é muito semelhante. Tanto Emilio Brentani, protagonista de Senilità, de Svevo, quanto Antonio Dorigo, protagonista de Un amore, de Buzzati, percorrerão o caminho narrativo em busca de autoconhecimento, auto identificação em suas relações com as belas, jovens e inteligentes amantes. Ainda que os dois autores tenham escrito em períodos históricos diferentes, Svevo no final do século XIX e Buzzati em pleno século XX, os dois romances selecionados apresentam vários pontos convergentes quanto à temática, estilo e retratação dos respectivos protagonistas. Importante explicitar ainda que, embora Senilità tenha sido publicado em 1898, isto é final do século XIX, já esboça, de forma plena características, valores, elementos que serão posteriormente esmiuçados na literatura do Novecento italiano. Desse modo, o que se pretende explicitar neste momento, partindo primeiramente das próprias narrativas, é o processo de caracterização desses protagonistas, que apresenta vários pontos de contato, dos quais pretende-se averiguar. mailto:ivaircastelan@gmail.com 48 A OBRA TRANSFIGURADA: VARIAÇÕES VISUAIS DE MARIE MENKEN Ivan AMARAL (ECA/USP/M) ivanamaral.reis@gmail.com Prof. Dr. Cristian BORGES (ECA/USP) Palavras-chave: Marie Menken; cinema experimental; vanguarda. Marie Menken (1909-1970), filha de imigrantes lituanos dos EUA, inicia carreira de artista plástica em Nova York com pinturas abstratas que exploravam materiais não- tradicionais, como quando utilizava tinta luminescente e barbantes, entre outros, para buscar um apelo à luz e ao movimento em seu trabalho pictórico. Algumas exibições em galerias de arte da metrópole norte-americana contemplaram seu trabalho, no entanto, é a partir de 1943 que Menken, quando realiza seu primeiro filme, acaba por produzir obra cinematográfica que transforma radicalmente a maneira de se fazer cinema experimental nos EUA, influenciando cineastas como Stan Brakhage e Jonas Mekas. Ainda que não contemplada pela crítica e pela teoria de maneira justa com sua importância no meio em que atuava, Menken era significativamente reconhecida pelo meio artístico de Nova York, sendo amiga bastante próxima de Andy Warhol, para o qual também dedica um filme, e tendo inspirado, como protagonista, a peça de teatro Quem tem medo de Virginia Woolf?.nA presente comunicação, dentre o variado montante de vinte e quatro filmes que compreendem sua obra cinematográfica, tem como objetivo apresentar a relação entre cinema, música experimental e artes plásticas que compete ao seu primeiro filme: Visual Variations on Noguchi (1943). Por meio dele, poderemos compreender tanto a confluência entre distintas expressões artísticas quanto algumas características específicas do meio fílmico, as quais permitem o entendimento de um processo de criação o qual chamamos de transfiguração. Desse modo, as esculturas de seu amigo e arquiteto Isamu Noguchi, filmadas por meio de fulgurosos movimentos com a câmera na mão que deslocam a forma fílmica da linguagem narrativa para a da abstração, são transfiguradas para o meio fílmico. Tal transfiguração permite uma percepção radicalmente nova tanto das esculturas quanto do próprio cinema, permitindo encontrar no filme aspectos da fotogenia, termo de Jean Epstein, e conceitos de Vilém Flusser acerca do aparato cinematográfico que se contrapõe à delimitação imposta por P. Adams Sitney ao cinema da realizadora, classificado por ele como resultado do filme-lírico e do que também chama de “câmera- somática”. A DOMINA ELEGÍACA COMO METÁFORA DO FAZER POÉTICO Jaqueline VANSAN (FCLAr/UNESP/D) jaque.vansan@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. João Batista Toledo PRADO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: elegia latina; domina elegíaca; fazer poético Difundido na Grécia, principalmente entre os séculos VII e V a.C., o gênero elegíaco originalmente foi caraterizado pelo uso de métrica própria, materializada no dístico elegíaco, estrofe formada pela sequência composta por um verso hexâmetro, constituído de seis pés métricos, e outro pentâmetro, organizado em torno de cinco pés métricos, os quais eram usados para tratar de assuntos variados, desde lamentos fúnebres, temas bélicos, exaltação patriótica, questões morais até temas amorosos, além de, na época mailto:ivanamaral.reis@gmail.com mailto:jaque.vansan@yahoo.com.br 49 alexandrina, servir como meio para a descrição de lendas da mitologia, em especial as que continham fundo erótico. Inspirados pelo metro e pelo caráter mítico-sentimental que esse gênero alcançou em terras helênicas, poetas como Tibulo, Propércio e Ovídio popularizam a elegia em Roma, no século I a.C., atribuindo a ela contornos altamente subjetivos. As composições elegíacas latinas, desse modo, tratavam do relacionamento conflituoso entre um eu lírico, apresentado, em geral, como a figura do próprio poeta, e uma bela, porém inclemente, mulher, a puella ou domina elegíaca, que muitas vezes era também cobiçada por outro amante de condições de vida abastada, o diues amator, rival encarregado de completar o triângulo amoroso em que se apoiavam os poemas desse gênero desenvolvido sob o reinado do imperador Otaviano Augusto. Personagem central da trama concebida pela elegia romana, a domina, caracterizada como uma mulher possuidora de rara erudição e livre do controle masculino, embora interessada nos recursos financeiros que o amante pode lhe proporcionar, por vezes, confunde-se com o próprio poema, uma vez que detalhes utilizados em sua descrição evocam as origens e influências do gênero quando desenvolvido entre os latinos, bem como celebram as convenções e a grandeza dos poetas e da própria elegia amorosa romana. Tendo isso em vista, a presente comunicação tem como objetivo analisar passagens de elegias escritas por Propércio e Ovídio em que a domina torna-se uma metáfora do fazer poético elegíaco, representando, dessa forma, não somente a paixão do eu lírico pela mulher amada, mas também o ardor do poeta pelo seu ofício. ARGONÁUTICA(S): O TRATAMENTO DADO À OBRA DE APOLÔNIO POR VARRÃO ATACINO Jéssica Frutuoso MELLO (FCLAr/UNESP/M/CNPq) jessicafrutuoso@yahoo.com.br Prof. Dr. Brunno Vinicius Gonçalves VIEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Apolônio de Rodes; Varrão Atacino; tradução. As histórias relacionadas à viagem dos argonautas em busca do velocino de ouro têm se mostrado, desde a Antiguidade, muito produtivas dentro e fora de ambiente literário. Em meados do século III a.C., Apolônio de Rodes compõe a primeira epopeia, de que se tem notícia, dedicada a narrar a viagem empreendida por Jasão e cerca dos cinquenta melhores heróis da Grécia à Cólquida, onde, com a ajuda de Medeia por ele enamorada, obtém o velocino e, finalmente, retorna a Iolcos, trazendo não só o velocino demandado por Pélias, mas também a feiticeira com quem se casara no reino dos feácios. Apolônio apresenta diferentes inovações em sua obra quanto ao gênero épico, como o tamanho – são apenas quatro cantos, vinte a menos que suas antecessoras homéricas –, e o desenho de seu herói principal que parece não se adequar ao ideal de herói épico, em contraposição a seu companheiro de viagem, Héracles. Já em solo romano, sua obra era considerada importante o suficiente para receber, além de menções e citações, pelo menos uma tradução, a de Varrão Atacino, contemporâneo de Catulo, no século I a.C.. Assim como o texto original, a tradução de Varrão Atacino também recebe nota de outros poetas, como Ovídio, Propércio, Sêneca, o Velho e Quintiliano, embora nem sempre em tons elogiosos. Infelizmente, dessa tradução, restam apenas poucos fragmentos. De qualquer forma, essa obra lhe confere o rótulo de interpres, já que tende a seguir um modelo uerbum pro uerbo, mesmo que apresente algumas prováveisinovações, conforme ainda é possível averiguar nos fragmentos supérstites, como a supressão de termos e a desambiguação de determinado trecho. Alguns estudiosos propõem mesmo a possibilidade de que tenha ocorrido contaminatio a partir de autores mailto:jessicafrutuoso@yahoo.com.br 50 como Catulo, com base na escolha vocabular do tradutor. Propõem-se, então, alguns comentários acerca da relação entre Apolônio e seu par latino em termos de tradução e contaminatio. FREI LUÍS DE SOUSA: MISSÕES OPOSTAS NO TEATRO E NO CINEMA Jorge Eduardo Magalhães de MENDONÇA (UFF/D) jemagalhaes@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Sílvio Renato JORGE (UFF) Palavras-chave: Teatro, Ditadura, Cinema Este trabalho tem como principal objetivo fazer uma breve associação entre a Literatura, o Teatro e o Cinema e sua utilização como fomentação do regime político, geralmente opressor e ditatorial, de um país. Em sistemas ditatoriais é comum utilizar as artes e a cultura nacional como propaganda do governo, sendo dado destaque ao Estado Novo Português. Será feita uma abordagem histórica em relação à intenção de Antônio Ferro, diretor do Secretariado Nacional de Propaganda, em utilizar a arte e a cultura, principalmente o cinema português como objeto de propaganda do Estado Novo, despertando no imaginário coletivo a glorificação de mitos portugueses de seu passado glorioso. Será dado enfoque aos dois objetivos opostos do drama histórico Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, que, assim como vários autores que viveram em regimes ditatoriais, usam como subterfúgio analogias históricas para criticar o presente sem sofrerem represálias. O drama Garrettiano, escrito na década de 40 do século XIX, retorna ao passado histórico português, quando o país estava sob domínio filipino, para criticar a então presente ditadura de Costa Cabral; ao contrário da sua versão cinematográfica no século XX, que, apesar de sua adaptação para as telas ser bem fiel ao texto original de Garrett, tem a missão oposta: servir como objeto de propaganda do Estado Novo Português, dentro da política de propaganda de Antônio Ferro, que durante sua gestão estimulou a adaptação de diversos clássicos da Literatura Portuguesa para as telas do cinema, que além do citado drama de Garrett, contou também, por exemplo, com as versões cinematográficas dos romances campestres de Júlio Dinis, o drama A severa, de Júlio Dantas e Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, dentre outros. Todas estas importantes obras que eram convenientes para o estímulo de um nacionalismo patriótico utilizado para exaltação do regime de Salazar. PÓS-UTOPIA EM HAROLDO DE CAMPOS. UMA APROXIMAÇÃO A “A EDUCAÇÃO DOS CINCO SENTIDOS” POR MEIO DO FILME “HIROSHIMA, MON AMOUR” Jorgelina RIVERA (FCLAr/UNESP/D/CAPES) jorgelina.r@gmail.com Or. Profa. Dra. Diana Junkes Bueno MARTHA (UFSCar) Palavras-chave: Memória; Poesia pós-utópica; Haroldo de Campos. O pilar central deste trabalho será a importância da memória e pós-utopia na obra de Haroldo de Campos. Em conjunção, para a construção deste pilar, utilizaremos os conceitos de ‘ruína’ e ‘história aberta’ do filósofo Walter Benjamin. Como embasamento para este estudo serão fundamentais como referenciais teóricos os ensaios mailto:jemagalhaes@yahoo.com.br mailto:jorgelina.r@gmail.com 51 de Walter Benjamin “Experiência e pobreza” (1933) e as teses II, VI, VII e IX de Sobre o conceito de história (1940) em conjunção com alguns trechos pertinentes ao assunto do filme “Hiroshima mon amour” (1959). Paralelamente, para um melhor aproveitamento da obra do filósofo alemão utilizaremos o livro Walter Benjamin: aviso de incêndio (2001) de Michael Löwy. O poema escolhido para fechar essa comunicação e utilizar como exemplo será “A educação dos cinco sentidos” de Haroldo de Campos, pertencente ao livro homónimo (1985). Para complementar, utilizaremos o prefácio ao livro “A educação do sexto sentido: poesia e filosofia em Haroldo de Campos” de Kenneth David Jackson e o “Prefácio à primeira edição espanhola” de Andrés Sanchez Robayna. No seu livro A educação dos cinco sentidos (1985), Haroldo de Campos propõe por meio dos cinco sentidos atingir um sexto que seria o sentido poético: aquele que encontra-se no limiar ou, segundo Lacan, o que poderia se denominar como ‘real’ que foge a uma materialização, aquilo que não pode ser dito ou expressado. Campos utiliza como matéria de construção da sua poética a memória, ou mnemosyne, mãe da musa da épica, a reminiscência quem possui a força/poder do seu pai, Zeus, e a memória da sua mãe. Paralelamente, no filme “Hiroshima, mon amour” a protagonista vive entre o passado e o presente, suas memórias constroem o presente e influenciam nela: embora ela tente esquecer o vivido, as experiências voltam, pois é preciso que conviva com elas para prosseguir. Em “Educação dos cinco sentidos”, Haroldo de Campos retoma ao filósofo Karl Marx para arquitetar um poema que procura ir além dos cinco sentidos superficiais que nos relacionam ou aproximam ao ‘real’. O sexto sentido, que remete à linguagem, é a poesia. Ela se encontra num lugar de transição: o inter (o limiar de W. Benjamin?) o Purgatório (Dante Alighieri), ou o salto tigrino (Andrade de Souza). Esse lugar de mudança constante define a poesia haroldiana, que se caracteriza por fundar-se numa viagem através do significante e o significado, onde o substantivo cumpre um papel essencial. MELANCOLIA E NARRAÇÃO. A MORTE COMO ESTÍMULO À ESCRITA EM O NÁUFRAGO, DE THOMAS BERNHARD José Lucas Zaffani dos SANTOS (FCLAr/UNESP/D/CAPES) zaffanilucas@gmail.com Or. Profa. Dra. Wilma Patrícia Marzari Dinardo MAAS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: escrita; morte; narrador. O romance O náufrago (1983), do austríaco Thomas Bernhard, é a tentativa do narrador (anônimo) de elaborar o luto pela morte dos amigos Glenn Gould e Wertheimer. Os três conheceram-se, na juventude, quando foram estudar piano no Mozarteum, em Salzburg. Após Glenn Gould tornar-se um nome reconhecido na música do século XX ao executar as Variações Goldberg, de Bach, Wertheimer e o narrador iniciaram seu processo de derrocada. Imbuídos por uma sensação de fracasso, ambos abandonaram o piano e passaram a cultivar uma existência melancólica. O desfecho de Wertheimer figura como o mais trágico, uma vez que, depois da morte de Glenn, ele se suicida. Herdeiro dessa amizade, o narrador, em seu relato, oferece uma panorâmica da personalidade dos amigos. Paralelamente, a subjetividade do narrador irrompe em determinados momentos criando, assim, uma relação especular em que ele ora se reflete em Glenn, ora em Wertheimer. Nosso objetivo concentra-se no processo de escrita do narrador no que tange, sobretudo, sua experiência com a morte. Por meio da memória, o narrador reconstrói o passado ao lado dos amigos, ao mesmo tempo em que parece experienciar sua própria morte simbólica. A narrativa manifesta afetos como dor e melancolia e tem, mailto:zaffanilucas@gmail.com 52 na perda, um estímulo à escrita e à narração. É pela escrita que se vislumbra algum sentido para o que se perde e para o tempo que dispersa. A fim de compreender como a manifestação desses afetos, suscitados, sobretudo, pela instância da morte, contribui para a fatura da obra, traremos como aporte teórico textos do filósofo francês Maurice Blanchot, dentre os quais A parte do fogo e O espaço literário. No pensamento de Blanchot, o sujeito que escreve ousa permanecer senhor de si perante a morte. Mais ainda, o sujeito que pensa a morte encara-a como uma oportunidade de tecer relações com a arte. INTERTEXTUALIDADE E DISCURSO NO TEATRO DE DEA LOHER Júlia Mara Moscardini MIGUEL (FCLAr/UNESP/ D/ CAPES) jumoscardini@hotmail.com Profa. Dra. Elizabete Sanches ROCHA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: intertextualidade; teatro político;teatro contemporâneo; O discurso é composto por várias vozes, premissa anunciada desde os estudos de Bakhtin. A partir dessa linha teórica, várias frentes surgiram com grande abrangência para discutir o conceito de intertextualidade. Os avanços no campo dos estudos do intertexto permitiram uma especificação maior do termo, abrindo espaço para discussão das várias ocorrências do mesmo na literatura. Para além da discussão bakhtiniana, o termo intertextualidade vai se moldando entre as várias definições possíveis defendidas por teóricos do discurso. A escritora francesa Tiphaine Samoyault faz um apanhado sobre o fenômeno da intertextualidade e sua manifestação nos textos literários pontuando as várias maneiras de retomada textual e sua acomodação em um texto de acolhida. A partir dos escritos de Samoyault e da teoria do também francês Antoine Compagnon, é possível fazer um apanhado dos efeitos de sentido atribuídos pelo intertexto na composição de duas obras da dramaturga contemporânea alemã, Dea Loher. Em duas de suas peças, Olgas Raum e Licht, há a recorrência do trabalho com o intertexto, sendo que o presente artigo almeja investigar essas manifestações. Loher faz uso de citações, referências e alusões, recortando trechos de outros textos e acoplando- os à sua escrita. Além do âmbito textual, esse jogo de recortar e colar é visível também no trabalho estético da dramaturga, que recorre a elementos presentes em outras estéticas teatrais e os adapta em sua obra, dando origem a um estilo original. Representante da vertente política no teatro, Loher proporciona ao leitor a possiblidade de reflexão e, nas duas peças em questão, ela o faz através da desconstrução do discurso canônico, mostrando como os discursos são fabricados e como estão ligados à manutenção do poder. Dessa maneira, o intertexto, a estética híbrida e outros recursos estéticos e linguísticos são orquestrados para abrigar essa temática política que chega até o leitor como questionamentos e indagações. DA LITERATURA PARA O CINEMA, UMA DISTORÇÃO INEVITÁVEL? Juliana Cristina Minaré PEREIRA (FCLAr/UNESP/M/CNPq) juminare@gmail.com Or. Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado LEITE (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Desmundo, adaptação, literatura, cinema. mailto:jumoscardini@hotmail.com mailto:juminare@gmail.com 53 O presente trabalho pretende analisar o filme Desmundo, de Alain Fresnot, adaptado da obra homônima de Ana Miranda. O objetivo primordial do trabalho é discutir as adaptações realizadas na transposição da linguagem literária para a linguagem cinematográfica e os diferentes efeitos de sentido causados no leitor / espectador e apenas no espectador. Para tanto, analisar-se-á os recortes narrativos feitos pelo diretor e como eles foram desenvolvidos no filme, comparando-os com a obra literária. Intenta-se observar o que é semelhante, mas, sobretudo, o que é diferente para que se possa compreender a razão pela qual essas mudanças são empreendidas, que vão além da linguagem. Focar-se-á principalmente na questão do narrador, maior modificação percebida no caso em análise. No literário, quem narra é uma das órfãs enviadas de Portugal para o Brasil para se casar forçadamente com um dos colonos que já estavam desbravando o novo mundo. No filme, Oribela, personagem narradora, continua sendo obrigada a ser casar, entretanto, ao perder seu lugar para um narrador onisciente, com um olhar diferente do seu, altera sobremaneira a percepção que se tem sobre a história e sobre a própria personagem, que perde sua capacidade de argumentação com a mudança de foco narrativo. No que tange ao literário, uma das características mais marcantes da obra é justamente a voz feminina combativa, que se coloca em constante luta contra a subjugação imposta pelo patriarcado. Esse movimento contra o sistema também acontece no cinema, porém, de maneira menos intensa e representativa, sendo que há, em alguns momentos, o reforço da misoginia. O propósito desta análise é, portanto, problematizar algumas escolhas feitas pelo diretor, se foram inevitáveis ou se representam algo mais profundo, que diz respeito à hegemonia do discurso masculino dominante, e quais implicações que essa mudança provoca na compreensão global da história e na propagação de ideias distorcidas para quem apenas tem contato com o filme. ASPECTOS DO MITO EM AS BRUMAS DE AVALON: A CRIAÇÃO DE UM IMAGINÁRIO EM TORNO DO SAGRADO FEMININO NA MATÉRIA DA BRETANHA Juliana Cristina Terra de SOUZA (FCLAr/UNESP/M/CAPES) julianacristinaterra@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Mito, Feminino, Matéria da Bretanha. A extensa produção literária da escritora norte-americana Marion Zimmer Bradley (1930-1999) é composta de contos e romances, na grande maioria pertencentes aos gêneros de ficção científica e fantasia. As brumas de Avalon (The Mists of Avalon, de 1982), trata-se de sua obra de maior fama e foi responsável por conferir à autora sucesso mundial. Nesta proposta de comunicação, buscaremos analisar brevemente aspectos do mito em torno do sagrado feminino criados no romance, bem como relacionar tal advento com o contexto histórico vivido por Bradley. Na narrativa em questão, Bradley se utilizou de episódios presentes na Matéria da Bretanha para criar sua releitura, contudo, a autora buscou desarticular os sentidos tradicionais atribuídos às personagens femininas e construiu uma centralidade do sagrado que não segue o Cristianismo – o que é desenvolvido ao longo de todas as versões do ciclo arturiano a partir da Baixa Idade Media –, mas o divino no aspecto feminino. Tendo como fonte um mito que se desenvolve em torno de uma figura masculina e cristã– um rei exemplar – Bradley revisita a tradição literária e cria novos mitos para a Matéria da Bretanha, a partir de uma perspectiva de valorização do feminino – seja em relação às sacerdotisas de mailto:julianacristinaterra@yahoo.com.br 54 Avalon, seja quanto à figura da Deusa-Mãe. O embate religioso ocorre entre o Cristianismo que se institucionalizava com cada vez mais força na Europa, passando a ser a religião dos nobres vassalos e, por outro lado, a crença nos deuses pagãos antigos, que resistia. Avalon, a Ilha Sagrada, foi o último reduto onde o culto à Deusa Mãe ainda figurava como crença dominante. A função dos mitos em As brumas de Avalon é a de dar protagonismo às mulheres da narrativa. Para tanto, a autora transforma os mitos cristãos masculinos consolidados no ciclo arturiano, em mitos pagãos femininos, a partir do arquétipo da Grande Deusa (o divino no aspecto feminino) – o que faz por meio da união de aspectos da cultura celta, que estão na origem das lendas arturianas, mas que foram apagados nas versões cristãs, somados aos elementos esotéricos e neo-pagãos em voga no século XX, momento de escritura da autora. A RECONSTITUIÇÃO DOS MITOS GENUÍNOS PARA A EDIFICAÇÃO DE A CIDADE DAS DAMAS Karla Cristiane PINTAR (IES/UNESP/D) karlapintar@hotmail.com Or. Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado LEITE (IES/Unesp) Palavras-chave: mito genuíno; mito tecnificado; ressignificação. Os mitos sempre foram importantes para a constituição de uma sociedade, de seus costumes e de suas crenças. Não é diferente, portanto, com o período da Idade Média: uma época ainda pouco visitada e estudada, mas de valores extremos para a compreensão da atual sociedade e, no contexto deste trabalho, da posição da mulher – particularmente de sua escrita – em um momento em que imperavam histórias sobre o feminino contada por olhares, geralmente, masculinos. Assim, A Cidade das Damas [Le Livre de la Cité des Dames, 1405] é, portanto, a proposta de uma ressignificação dos mitos para a compreensão dos valores atribuídos à época em relação às mulheres a partir da análise de histórias de damas religiosase pagãs dentro da obra. Esse livro é a criação de uma Cidade constituída por valores morais e éticos, os quais foram perdidos em proveito dos mitos tecnificados que foram elaborados para o controle de uma parcela da população e estabelecimento de poderes numa época em que o feminino se encontrava às sombras de um cânone varonil vigente. Desse modo, é possível identificar tanto a importância da tecnificação dos mitos para a apresentação da mulher a essa sociedade quanto da ressignificação dada a eles por Pizan, remodulando as interpretações até então estabelecidas. Este trabalho, portanto, tem o intuito de analisar a estratégia argumentativa da autora Christine de Pizan para desmitificar as crenças estabelecidas na sociedade do Medievo e voltar aos significados dos mitos genuínos que, na visão da autora, poderiam harmonizar o espaço ideal edificado dentro da obra. Dessa maneira, Pizan usa de sua perspicácia e prudência para evidenciar a linguagem poética como base para que significados sejam revistos e recriados em proveito de uma voz que se expande em pluralidade, conferindo importância ao corpo feminino a às suas palavras, mesmo que inserida dentro de uma urbe ficcional apresentada. mailto:karlapintar@hotmail.com 55 FICÇÃO PÓS-MODERN@: O PASSADO NO TEMPO PRESENTE Laís Rodrigues Alves MARTINS (FCLAr/UNESP/M/CNPq) laisramartins@gmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: As Horas; Pós-Modernismo; Virginia Woolf. No decurso do século XX, observou-se, em escala global, uma série de alterações nos tecidos sociais que posteriormente culminariam na gestação da pós-modernidade tal como a conhecemos hoje. Pode-se dizer que as raízes do pós-moderno remontam à década de 1960, período de efervescências e transformações culturais nas mais variadas esferas e âmbitos. Mais tarde, em meados dos anos 1980, empregar-se-ia, de fato, o termo “pós-moderno” na Bienal de Veneza, com vistas a descrever a mescla de estilos old/new em monumentos arquitetônicos. A partir desse momento, o pós-moderno se instaura no campo da arquitetura e posteriormente migra para os mais diversos nichos, como cinema, fotografia, dança, teatro, música, literatura, entre outros. A arte proveniente dessa época, conforme se procurará demonstrar, distancia-se, de certa forma, dos ideais modernistas vinculados a crenças de originalidade e universalidade, e sinaliza em favor de uma maior abertura ao polissêmico, à heteroglossia e ao hibridismo, bem como à problematização das noções de central e periférico e das fronteiras entre os gêneros artísticos. Passa-se a explorar, de maneira mais enfática, as relações entre-textos, especialmente por meio do estabelecimento de diálogos explícitos com obras e demais manifestações discursivas do passado, revisita essa sempre acompanhada de um revisionismo crítico, com o intuito de conferir a esses objetos renovados vieses e nuances, por meio de sua transposição a novos cenários. A narrativa As Horas (The Hours, 1998), de autoria do norte-americano Michael Cunningham (1952 --), pode ser tomada como uma representante dessa estética, posto que se vale, tanto estrutural quanto tematicamente, de Mrs. Dalloway (1925), um dos romances canônicos do modernismo em língua inglesa e produção de destaque em meio ao opus literário de Virginia Woolf (1882 – 1941), para sua composição. Intenta-se, nessa comunicação, demonstrar como Cunningham entretece sua narrativa à da escritora britânica, promovendo, por meio desse movimento, simultaneamente, um tributo à Woolf e a seu espólio, aproximando-os do contexto contemporâneo, e promovendo, destarte, uma mescla entre o “velho” e o “novo”. A CORRELAÇÃO ENTRE MATERNIDADE E MORTE EM ENQUANTO AGONIZO (1930) E PALMEIRAS SELVAGENS (1939) Leila de Almeida BARROS (FCLAr/UNESP/D) leilabarros_@hotmail.com Or. Prof. Dr. Alcides Cardoso dos SANTOS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Mulher; Finitude; Existência. Resumo: Nos núcleos de Enquanto Agonizo (1930) e Palmeiras Selvagens (1939) jazem três importantes personagens femininas: Addie Bundren, Dewey Dell e Charlotte Rittenmeyer. Em Enquanto Agonizo, Addie é a matriarca de uma família de agricultores que, em seu leito de morte, verbaliza ao marido o desejo de ser enterrada em Jefferson, a sede do condado imaginário de Yokanapatawpha. Nos entremeios do romance, depois de sua morte, a voz de Addie se faz ouvir de dentro do caixão onde jaz seu corpo. mailto:laisramartins@gmail.com mailto:leilabarros_@hotmail.com 56 Finalmente, o leitor pode acessar, por meio de um monólogo, as memórias da família e a história da matriarca contadas a partir de seu ponto de vista. Quando o silêncio e a inércia do corpo em decomposição de Addie dão lugar a uma linguagem ácida e desconcordante em relação aos padrões estabelecidos por sua sociedade, é possível vislumbrar as motivações e sentimentos de uma mulher que jamais se ajustou aos papeis de mãe e esposa que lhes foram imputados. A desconfiança da personagem com relação às palavras marca seu entendimento de que o casamento e a maternidade são noções idealizadas pelos homens através da palavra – sob a forma da lei – que devem ser executadas pelas mulheres, por meio de seus corpos. Depois de parir e criar seus filhos, Addie elege a finitude como a possibilidade mais autêntica de seu ser e começa a preparar-se, em vida, para morrer. Anos depois, sua única filha, Dewey Dell, fará a viagem rumo a Jefferson ao lado do caixão da mãe tendo em mente uma única meta: comprar um remédio abortivo para livrar-se do filho que está esperando do namorado. Apenas assim será possível deixar de reproduzir a jornada de infortúnios que fora a vida de sua mãe. O aborto passa a ser, também, o objetivo primordial de Charlotte, de Palmeiras Selvagens, que abandona o casamento e os filhos para viver com um estudante de medicina uma história de amor fora dos padrões, pautada pelo nomadismo e pelo livre-arbítrio. A descoberta de uma gravidez indesejada e o anseio por abortar levam Charlotte à óbito pelas mãos do próprio amante. Sendo assim, compreender como se estabelece a relação entre maternidade e morte em Enquanto Agonizo (1930) e Palmeiras Selvagens (1939) é o objetivo central deste trabalho. A maternidade e a morte, ao se materializarem como destino irrevogável dessas personagens, apontam para as várias facetas do tema da morte e sua abrangência na ficção faulkneriana. A POESIA DRAMÁTICA VILLIERIANA: ENTRE A ILUSÃO E A REALIDADE Lígia Maria Pereira de Pádua XAVIER (FCLAr/UNESP/D) lmpp23@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado LEITE (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Villiers de l’Isle-Adam; poesia dramática; Crise da representação. No final do século XIX, as normas que regiam a criação artística caem por terra e o artista vivencia uma crise da representação engendrada pela ruptura da linguagem referencial, e a palavra poética, por sua vocação transgressora, é reivindicada como suporte basilar da criação artística, daí decorre o advento do Simbolismo que coloca em pauta as suas potencialidades simbólicas. No drama, esta palavra funda um novo tipo de teatro que não tem mais o intuito de comunicar, mas de sugerir fazendo com que as fronteiras entre as artes se fundam levando a cabo o processo romântico de mistura de gêneros. Não mais sujeitos à verossimilhança aristotélica, os dispositivos cênicos desvencilham-se das regras das três unidades estabelecendo um novo conceito de teatro mais afeito às revoluções artísticas da época. A dramaturgia de Villiers de l’Isle-Adam coloca-se, assim, no epicentro desta crise e faz-se testemunha de suas implicações já que é justamente na recusa do tratamento mimético da realidade que o teatro villieriano se coloca e se faz poesia dramática. Alcunhadas pelo próprio autor de “poema dramáticoem prosa” ou “drama em prosa”, as peças villierianas vindicam a palavra poética como fundadora da tessitura dramática lançando o leitor/espectador a um jogo especular entre ilusão e realidade através de estratégias que remetem à ruptura entre o significante e o significado. Solapando a mimesis aristotélica, Villiers funda, então, sua obra dramática no princípio da arbitrariedade do signo linguístico. Dessa forma, o objetivo da minha mailto:lmpp23@yahoo.com.br 57 comunicação será apresentar as estratégias das quais Villiers lança mão para tecer especularmente seu texto teatral e para criar no espaço vazio deixado pela ruptura do significante e do significado uma outra forma de percepção do real calcada na plasmação dramática da palavra poética que desloca continuamente o referente de suas bases delatando, assim, a corrupção da linguagem comunicacional pelo seu valor essencialmente monetário e acusando seu caráter falsário de criação de um simulacro verista. “OLAVOBILAQUICES”: O MOVIMENTO SERIAL NA POESIA DE GERALDO CARNEIRO Leonardo Vicente VIVALDO (FCLAr/UNESP/D/CAPES) leovivaldo@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (FCLAr/UNESP) Palavras-Chave: Poesia brasileira contemporânea; Série, Olavo Bilac, Geraldo Carneiro. O marco inicial da poesia de Geraldo Carneiro (1952) está relacionado aos anos 70 e a poesia marginal – através da Coleção Frenesi e da famosa antologia 26 poetas hoje, de Heloísa Buarque de Hollanda. Contudo, é perceptível, após a convivência com os seus oito livros, e mais de 40 anos de poesia, que a dicção de Carneiro, embora devedora dos legados marginais, acaba indo muito além dessa filiação inicial. Prova disso é o seu mergulho na tradição poética do Ocidente, concretizada através da utilização maciça do recurso intertextual. Em busca da construção de sua “eros-dicção”, Carneiro emprega incessantemente a fusão da palavra poética do Eu com a palavra poética do Outro – expandindo a cosmovisão de sua poesia pelos mais diversos autores do cânone ocidental. Mas de Dante Alighieri e Camões, passando por Mallarmé e Shakespeare, curiosamente, chegamos até Olavo Bilac. Em fala proferida na ABL, o professor e também poeta Antônio Secchin, acerca da poesia de Geraldo Carneiro, afirma: “No seu Poemas Reunidos, de 2010, eu constatei ali, com maior ou menor respeito para com os escritores com os quais ele dialoga, que Geraldo ora é Camões; ora é Bilac – que, aliás, é uma verdadeira obsessão” (SECCHIN, 2014). A obsessão de Carneiro por Olavo Bilac, referenciada por Secchin, é construída e descontruída em diversas séries que acabam formando um verdadeiro thriller poético em que o mocinho (ou anti-herói?) Bilac, e a sua poesia, tão execrada depois do Modernismo de 22, é revisitado como protagonista de uma trama repleta de (con)fusões, elogios, galhofas e reviravoltas. RELEITURAS DE BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES: A INTERTEXTUALIDADE E O GÓTICO Maisa dos Santos TREVISOLI (FCLAr/UNESP/M/CAPES) mahtrevisoli@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr) Palavras-chave: revisões; Branca de Neve; gótico. Contos de fadas oferecem ao público que os lê uma viagem a um mundo de fantasias e encantamento que se desdobram ao redor das personagens caracterizados por suas ações, boas ou ruins, que após encontros e confrontos culminam em um final feliz, para mailto:leovivaldo@yahoo.com.br 58 os heróis, certamente. Quem assistiu a produção da Disney de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) poderia pensar que a história é clichê, moralizante, infantil, porém, o que muitos não pensariam é que a história original, que inspirou o filme, é bem mais sombria e violenta. A obra Little Snow-White (1812), dos irmãos Grimm, sofreu modificações a cada edição publicada, sempre retirando ou reescrevendo algo para deixá-los mais adequados ao público infantil até o ponto em que a madrasta não mais morria em uma dança mortal calçando sapatos vermelhos em brasa. Na segunda metade do século XX iniciou-se uma tendência em buscar nos contos de fadas inspirações para reescrevê-los, modificando-os seja por meio das personagens, do cenário, do ponto de vista, dos acontecimentos, do estilo. As revisões de contos de fadas, por meio de suas subversões, problematiza suas criações patriarcais, machistas e socializantes, assim como abre espaço para colocar em pauta movimentos do próprio momento histórico, o feminismo, a fragmentação do ser humano, a luta por igualdade de gêneros e raças, para citar algumas. Após ler diversas revisões, é possível perceber um tom gótico nas narrativas, no cenário, na caracterização das personagens, em diferentes níveis, que permeiam a maioria dessas reescritas. Esse tom gótico nos levou a debater se essa escolha estilística não seria mais do que isso ao levar em consideração a própria natureza híbrida do gótico, bem como sua capacidade de trazer à tona as aflições e descontentamentos de uma sociedade por meio sombrio, do horror, do terror, do sublime, do inquietante. Essa pesquisa propõe que o gótico é o elemento intertextual que conecta as revisões e o conto “original” por meio de uma processo palimpséstico inerente ao gótico. Analisaremos as obras Snow, Glass, Apples (1994), de Neil Gaiman, The Dead Queen (1973), de Robert Coover, e Branca dos Mortos e os Sete Zumbis (2013), de Fábio Yabu, sendo elas revisões do conto Little Snow-White, dos irmãos Grimm, buscando indícios que comprovem nossa hipótese. A MULHER DE DUAS IDADES: LEITURAS DO FEMININO LITERÁRIO E CINEMATOGRÁFICO DE ÓRFÃOS DO ELDORADO Felipe Camargo MELLO (FCLAr/UNESP/G) fcamargomello@gmail.com Manoelle Gabrielle GUERRA (FCLAr/UNESP/M) manuhguerra@gmail.com Palavras-chave: Órfãos do Eldorado; cinema; narrativa brasileira contemporânea. Este trabalho tem por objetivo discutir a novela Órfãos do Eldorado (2008), de Milton Hatoum, ao lado de sua adaptação cinematográfica, observando a composição das personagens Florita e Dinaura a partir dos processos narrativos empreendidos em cada uma das realizações. Tal análise terá como base a organização da narrativa literária a partir de um domínio autodiegético no qual as personagens são caracterizadas por meio do olhar do narrador, Arminto Cordovil, que confere às mulheres traços de caráter específicos, delimitando a influência que elas exercem no interior dos fatos narrados. Ao contar a própria história, o protagonista embaralha tempos e imagens e constrói as figuras femininas sempre associadas à sua vivência e à decadência financeira de sua família, polarizando Florita e Dinaura. Ao pensar o modo como tal construção se dá no interior da narrativa fílmica, é possível entrever uma quebra desse procedimento, dando lugar a um movimento que busca amalgamar essas figuras femininas, tornando-as duas faces de uma mesma moeda. Na mente de Arminto, as duas mulheres são pólos opostos, mas no decorrer da história elas mostram-se cada vez mais próximas, ambas interferindo em seu julgamento e direcionando seu comportamento por meio de jogos mailto:fcamargomello@gmail.com mailto:manuhguerra@gmail.com 59 mentais. A junção de Dinaura e Florita em uma mesma pessoa se dá, no filme, a partir de um entrelaçamento de passado e presente. Uma delas refere-se à menina, àquela que foi trazida para o convívio da família Cordovil; e a outra é a mulher, a figura do tempo presente, que se origina em Vila Bela. Corrobora-se para uma possível interpretação de um dos epítetos dados a mais jovem pelo narrador de “a mulher de duas idades”. Essa transfiguração ocorrida coloca-se para além daquilo que é mostrado no romance, e institui-se como um potencial de leitura e interpretação do texto hatoumniano que toma forma imagética e particular no cinema. OS PLANOS DE LULU Manuela Rodrigues FURTADO (PUCRS/M/CAPES) manuela_rf6@hotmail.comOr. Prof. Dr. Paulo Ricardo KRALIK (PUCRS) Palavras-chave: Cinema; cinematografia; Linguagem; Enquadramentos; Planos. Este artigo tem por objetivo uma reflexão sobre uma releitura e reexpressão de uma obra literária transposta para uma obra cinematográfica. Para tanto, utiliza-se como estudo de caso a obra As Idades de Lulu, longa metragem que estreou na Espanha no ano de 1990 e é baseado na novela homônima de Almudena Grandes. Dirigido por Bigas Luna, este filme é então uma releitura, uma reexpressão da obra literária levada às telas de cinema. O filme é de estilo biográfico. Conta e mostra as experiências de Lulu, seu desenvolvimento como mulher dentro daquele contexto social, os idos anos da década de 90. Encena-se, com a história da protagonista, uma proposta de discussão do papel social da mulher e sua subjetividade, a formação de sua personalidade que explora a sexualidade por meio das experiências vivenciadas com parceiros e situações diversas. Desejos e fantasias sexuais da personagem feminina relatados de forma a construir um diálogo humano. Os cenários principais da narrativa são espaços internos, fechados: quartos, salas, oficinas, cafés e bares. Há poucas cenas externas no filme, como, por exemplo, o casamento da protagonista que ocorre a céu aberto, em um jardim, contrastando marcadamente com a cena final, um quarto escuro, um vestíbulo, quase um buraco, perigoso, onde pouco se vê e muito acontece. No filme as páginas e as letras adquirem uma nova roupagem expressa por meio do som e da imagem, onde é processada uma nova fórmula de comunicação expressiva, a arte do cinema. Nele percebe-se uma outra visão artística de mundo onde outras possibilidades interpretativas são apresentadas através das ferramentas técnicas da filmagem cinematográfica. Desde um outro ponto de vista desfruta-se de planos, enquadramentos e movimentos de câmera tão sensíveis quanto às descrições narrativas da obra em sua linguagem literária original. Como método, aponta-se as partes do livro encenadas tratando de interpretar e entender as escolhas de enquadramento, lado e altura de ângulo do mesmo, e a movimentação de câmera dos quadros das cenas do filme, desenvolvendo uma análise das escolhas dessas composições e suas respectivas narrativas. Desta forma, entende-se que a rica possibilidade da exploração e de construção entre as artes cinematográfica e literária é legítima. A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NOS ROMANCES ESPANHÓIS SOBRE O PÓS-GUERRA Marcelo Maciel CERIGIOLI (FCLAr/UNESP/D) marcelocerigioli@hotmail.com mailto:manuela_rf6@hotmail.com mailto:marcelocerigioli@hotmail.com 60 Or. Profa. Dra. María Dolores Aybar RAMÍREZ (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Representação; Mulher; Romance Espanhol. Resumo: A Espanha passou por um momento muito conturbado no século XX, que foi a sua Guerra Civil, composta de batalhas sangrentas, confrontos por terra, bombardeios e grandes fugas de pessoas de seu território, o que deixou marcas profundas no país e na sociedade, com muitos mortos, desaparecidos e outros tantos refugiados. Na sequência vieram 36 anos de regime ditatorial, no qual o Estado estabelecia as obrigações, os direitos e os deveres do cidadão no âmbito público e privado. A partir de 2006, com o debate em relação à criação da Lei da Memória Nacional, surgiu na Espanha o grande interesse por resgatar as memórias públicas e privadas desse período histórico, o que se refletiu também no cenário literário, com o mercado editorial publicando muitos livros que retratam a Espanha do século XX. Estudando a produção ficcional espanhola contemporânea que trata do período pós-guerra civil, observamos que algumas escritoras também passaram a se dedicar a esse contexto, dando maior visibilidade às personagens femininas. Desta forma, chegamos à presente pesquisa de doutorado, que busca analisar como romances contemporâneos retratam a mulher desse período. Para esta investigação foram selecionados como corpus os livros Mujeres que caminan sobre hielo, escrito por Gloria Ruiz e La sonata del silencio, de Paloma Sánchez-Garnica. Seguindo o pressuposto de que a obra literária pode constituir um modo de representação da realidade e ampliando-o em direção às questões de gênero, para a análise utilizamos uma reflexão sociológica na abordagem do texto literário. A fundamentação teórica para esta investigação se baseia nos estudos da narrativa, sobre o romance, a representação e a questão de gênero. Como resultados preliminares, o estudo em andamento mostra o processo de construção de identidade das protagonistas para sobreviver, desempenhar a sua cidadania, trabalhar e, ao mesmo tempo, poder exercer a sua individualidade perante as restrições que eram impostas ao gênero feminino nesse contexto. DE ORLANDO A ORLANDA: PERFORMANCES LITERÁRIAS DA TRANSEXUALIDADE NO SÉCULO XX Marcelo Branquinho Massucatto RESENDE (FCLAr/UNESP/M/CAPES) Marcelobranquinho9@gmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Transexualidade; estudos de gênero; desconstrução; teoria queer. A presente dissertação pretende buscar pela literatura do século XX uma possível arqueologia dos romances cuja temática principal consiste na construção de uma performance narrativa da transexualidade como conhecida no início de século XXI. Ao longo do século XX (e ainda no XXI), a transexualidade era/é caracterizada como patologia e doença mental passível de interferência das ciências médicas, percepção herdada da visão falocrática e positivista acerca do corpo dos séculos XVIII e XIX. O desenvolvimento dos estudos culturais na segunda metade do século XX possibilitou leituras queer de obras literárias sob a perspectiva da desconstrução, originada a partir dos escritos do filósofo Jacques Derrida, permitindo a contestação de leituras cânones de obras literária já estabelecidas como parte da literatura universal. O romance Orlando (1928), de Virginia Woolf, narra um aristocrata do século XVI que experimenta sua fluidez de gêneros e vivencia as transformações da sociedade inglesa 61 ao longo da Modernidade. De acordo com as leituras de Harold Bloom e Camille Paglia, Orlando é um romance cuja inconsistência gira em torno do fato do personagem principal ser andrógino, sendo a única forma de ler o romance desprendendo-o de uma leitura feminista ou política, que tenha como foco a fluidez de identidades ou a transexualidade de Orlando. O que pretendemos é apresentar, por meio da teoria queer e da desconstrução, uma leitura que tenha como foco a transexualidade e a jouissance do texto, bem como a intertextualidade com obras posteriores à sua publicação, como o romance Orlanda (1996), da belga Jacqueline Harpman, em que a protagonista Aline experimenta seu desejo de trocar de corpo com Lucien e experimentar novas vivências no lugar de sua metade/duplo masculinx, batizadx Orlanda. A partir de uma análise conjunta de duas obras publicadas em diferentes períodos do século XX, que dialogam entre si por meio da mesma performance temática e da intertextualidade, pretende-se apontar pontos em comum e divergentes, levando em conta seu contexto e averiguando quais as possíveis contribuições e heranças que deixaram para a literatura e subjetividade transexuais do século XXI. LUÍS DE LIMA E O SALÁRIO DO MEDO, DE HENRY-GEORGES CLOUZOT Márcia Regina RODRIGUES (FCLAr/UNESP/PósD) marregna@gmail.com Palavras-chave: Luís de Lima; personagem cinematográfica; Henry-Geoges Clouzot. Nascido em Portugal, o ator, encenador e tradutor Luís de Lima (1925-2002) escolhe viver no Brasil, a partir da década de 1950, e aqui realiza importantes atividades nas artes cênicas – hoje consideradas um grande contributo para o desenvolvimento do teatro moderno brasileiro. Antes de se mudar para São Paulo, inicialmente para dar aulas deinterpretação na Escola de Arte Dramática, Lima passa alguns anos em Paris, onde atua no premiado filme franco-italiano O salário do medo (Le salaire de la peur), 1953, de Henry-Georges Clouzot (1907-1977), mestre do suspense do cinema francês. Baseado no romance homônimo de Georges Arnaud (1917-1987), O salário do medo é um filme de suspense e narra a história de imigrantes europeus que, vivendo em condição de miséria numa região pobre da América Latina, sonham retornar ao seu país de origem num futuro próximo. Para conseguirem dinheiro para a viagem de regresso à pátria, candidatam-se às vagas de motorista dos caminhões que deverão transportar explosivos, sendo dois homens a se revezarem na direção do veículo durante o difícil percurso. O filme pode ser dividido em duas partes: a que narra o processo de contratação dos motoristas, em que são apresentadas as personagens; e a que mostra o transcorrer da viagem para o transporte da perigosa carga, momento no qual se dá um aprofundamento das relações entre os motoristas e deles com a situação tensa em que se encontram, resultando numa reflexão acerca da condição humana. O jovem ator Luís de Lima interpreta o italiano Bernardo e, apesar de ser uma personagem secundária, o seu papel é bastante significativo, pois representa, na primeira parte de O salário do medo, o prenúncio da tragédia que afinal se concretiza, como se fosse uma síntese da construção diegética do filme. Além disso, Bernardo – que não passou no exame para a condução dos caminhões – e os outros motoristas, que protagonizam a ação do transporte de dinamite, têm o mesmo destino fatal; de modo que, ao fim e ao cabo, os imigrantes são todos iguais, sofrem a mesma miséria, independentemente da experiência ou da falta dela, da idade, ou da esperteza. A proposta desta comunicação é dar a conhecer o ator Luís de Lima numa de suas primeiras experiências de atuação no cinema e apresentar alguns apontamentos acerca mailto:marregna@gmail.com 62 das personagens do filme de Clouzot a partir das considerações de Paulo Emílio Sales Gomes sobre a personagem cinematográfica. “VOCÊ É POLÍCIA, VOCÊ É LADRÃO”: REALISMO SOCIAL E HUMANISMO CRÍTICO EM ANIKI-BÓBÓ, DE MANOEL DE OLIVEIRA Mariana Veiga Copertino F. SILVA (FCLAr/UNESP) mariveigacopertino@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Renata Soares JUNQUEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Manoel de Oliveira; cinema; literatura; Aniki Bobó; Presença. No primeiro longa-metragem de Manoel de Oliveira, Aniki Bóbó (1942), a infância e todo o universo genuíno que a circunda é, ao mesmo tempo, o tema central do filme e o recurso para expressar a realidade humana daquele momento em particular. Inspirada no poema em prosa Os meninos milionários, de Rodrigues de Freitas, a película aborda questões relacionadas ao universo dos adultos, através da vivência das crianças pobres da ribeira do Porto. Originalmente, o conto de Freitas foi publicado em 1935, na revista Presença, folha modernista que teve papel fundamental na concepção estética da cinematografia de Manoel de Oliveira, uma vez que, em torno dela, reuniam-se diversos intelectuais que contribuíram para a formação do realizador no universo das artes, dentre eles estavam Casais Monteiro, José Régio e o próprio Rodrigues de Freitas. A película conta a história de Carlitos que é apaixonado por Terezinha e disputa o carinho e as atenções da amada com Eduardito, seu rival e antagonista. Enquanto o primeiro garoto é doce e gentil, o segundo parece ser o seu oposto, maldoso e sempre disposto a uma briga. O pueril triângulo amoroso impulsiona atitudes erradas da parte de Carlitos que comete uma infração para tentar agradar a Terezinha e precisa lidar com a culpa resultante de suas ações. A narrativa, fabular e delicada, trabalha um jogo de opostos a fim de transmitir uma mensagem pautada tanto no realismo social, quanto no humanismo crítico, preceitos em voga no momento do lançamento da obra. Diante disso, esta comunicação se propõe analisar o filme Aniki-Bóbó, de Manoel de Oliveira, em perspectiva comparada com o texto literário que lhe serviu de fonte, procurando observar o retrato que o realizador faz do mundo infantil como duplo da realidade social na qual estão inseridas as personagens. Além disso, cumpre observar o jogo de espelhos que se configura na narrativa, especialmente conduzido pelo embate entre o bem e o mal a atormentar o jovem protagonista em sua jornada amorosa. MACHADO DE ASSIS E A FORMAÇÃO DO CRÍTICO Marina Venâncio GRANDOLPHO (FCLAr/UNESP/D) marinavegran@gmail.com Or. Prof. Dr. Wilton José MARQUES (UFSCar) Palavras-chave: Oitocentismo; Machado de Assis; crítica literária. Resumo: O presente trabalho é resultado da primeira parte de nosso projeto de pesquisa sobre a crítica literária desenvolvida pelo escritor Machado de Assis (1839-1908) na coluna “Semana literária”, publicada semanalmente no jornal Diário do Rio de Janeiro entre janeiro e julho de 1866 e definida pelo crítico francês Jean-Michel Massa como um “manual de literatura”, definição na qual nos pautamos para evidenciar a mailto:mariveigacopertino@yahoo.com.br mailto:marinavegran@gmail.com 63 importância de tal contribuição machadiana. Nesse sentido, a primeira etapa de nosso trabalho tem como objetivo tratar da formação de Machado de Assis como crítico literário, apresentando um panorama geral da crítica literária produzida por ele entre os anos 1856, quando publica seu primeiro artigo sobre literatura, e 1866, quando estreia a coluna “Semana Literária”. Dessa maneira, importa destacar que a crítica produzida pelo escritor em 1866 já conta com o reconhecimento do meio literário da época e se apresenta mais aprofundada e resoluta, diferentemente dos artigos publicados por ele anteriormente, que, embora apresentassem ideias pertinentes à discussão do cenário literário oitocentista, ainda eram incipientes e pouco aprofundadas. Por essa razão, é imprescindível compreender a formação do crítico literário que Machado foi, uma vez que seu percurso de formação é marcado pelo estudo e exercício constantes, fato que o tornou notável crítico nos periódicos da época. Foram muitos os artigos publicados pelo escritor entre 1856 e 1858 e eles representam considerável contribuição não só para a crítica literária oitocentista, mas também para a literatura brasileira oitocentista como um todo, já que neles Machado trata da importância estabelecida pela crítica literária na formação de um público leitor, ainda escasso no cenário oitocentista no período, e no fazer literário como um ofício de constante aprimoramento. Assim, considerando a relevância da crítica literária desempenhada por Machado de Assis, sobretudo na coluna “Semana literária”, propomos refletir brevemente sobre aspectos que fazem com que a formação de Machado como crítico literário contribua para o cenário literário brasileiro oitocentista. FRANCISCA E BELLE TOUJOURS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELOQUÊNCIA DO SILÊNCIO NOS FILMES DE MANOEL DE OLIVEIRA Moisés Henrique Mietto ROMÃO (FCLAr/UNESP/M/CAPES) moises_romao@hotmail.com.br Profa. Dra. Renata Soares JUNQUEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Manoel de Oliveira; silêncio; misé-en-scéne. Dono de uma longeva filmografia, o singular cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015) sempre se mostrou avesso ao paradigma filmográfico hollywoodiano. Ao contrário, a ruptura da linearidade diegética e da transparência é comum em seus filmes, o que leva o espectador a refletir sobre as revelações de seus métodos cinematográficos. Além disso, o realizador apresenta uma construção fílmica que explicita a soma de outras artes, como a pintura, a literatura, a música e o teatro, para citar só algumas. Do teatro, por exemplo, nota-se a importância do texto. A palavra tem um peso muito grande nas películas do portuense– tão grande a ponto de Oliveira filmar, em certas ocasiões, a própria palavra escrita para ressaltar a crucial significância desta para a apreensão total da obra. Tendo isso em mente, e sublinhando alguns filmes em que os diálogos são imprescindíveis, como em Viagem ao princípio do mundo (1997) ou Um filme falado (2003), para citar apenas dois, é interessante cotejar Francisca (1981) e Belle toujours (2006), obras em que os diálogos existem e são importantes, mas que recorrem ao silêncio das personagens, em planos fulcrais, para sugerir um significado maior do que aquele que qualquer palavra seria capaz de enunciar. A mise-en-scène, nesses momentos pontuais, é composta por elementos expressivos e muito significativos, os quais parecem gritar e dar voz à mudez. Apesar de serem fragmentos relativamente curtos, o peso da quietude faz parecerem horas. Diante disso, a presente comunicação procura elucidar os pontos de convergência entre dois planos emblemáticos e analisar como se dá a eloquência do silêncio em ambos: o primeiro, em mailto:moises_romao@hotmail.com.br 64 um taciturno jantar comemorativo entre os recém-casados José Augusto e Francisca Owen, no longa-metragem Francisca; e o segundo, um jantar silencioso que marca um reencontro, após 39 anos sem se verem, entre Henri Husson e Séverine Serizy, em Belle toujours. APROXIMAÇÕES ENTRE CINEMA E LITERATURA EM RUBEM FONSECA Murilo Eduardo dos REIS (FCLAr/UNESP/CAPES) muriloreis86@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Célia de Moraes LEONEL (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Rubem Fonseca; narrativa; romance policial. A comunicação resulta da intenção de verificar como Rubem Fonseca utiliza-se de linguagem que aproxima a vertente literária do romance policial por ele produzido do cinema – no Brasil, sua obra é tida como um marco, no que diz respeito ao tipo de narrativa inaugurada por Edgar Allan Poe nos contos protagonizados por Dupin. Para atingirmos nossos objetivos, é fundamental que tomemos, como embasamento teórico, bibliografia que dá conta das categorias da narrativa, da mesma maneira que referências textuais a respeito da produção fonsequiana. Dessa maneira, utilizamos fortuna crítica do escritor, formada por ensaios que podem ser classificados como gerais e específicos ou pontuais, que abordam características de sua obra. Examinamos, com base em trechos dos romances O caso Morel e Agosto – publicados, respectivamente, em 1973 e em 1990 –, como o escritor vale-se de estilo que aproxima seu texto de roteiros escritos para o cinema e seu narrador, que emprega modos de narrar variados, do profissional que expande e afunila imagens ao manipular o anel da lente de sua câmera. Como se sabe, Rubem Fonseca é assumidamente muito influenciado pela cinematografia. O autor trabalhou como roteirista de filmes publicitários do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês) na década de 1960 e atuou como participante ativo das adaptações fílmicas e televisivas de seus livros – caso de Bufo & Spallanzani e Agosto. As apreciações que fizemos de trechos dos romances selecionados para este trabalho mostram que a narrativa fonsequiana é caracterizada pela grande precisão verbal e, por isso, aproxima-se de artes predominantemente imagéticas, como o cinema e a fotografia. Outros textos de Rubem Fonseca também são trazidos à baila por conta da repetição de certas características de sua obra (principalmente entre os anos 1960 e 1990). Dessa maneira, buscamos explicar como essa aproximação entre cinema e literatura contribui para a reconhecida linguagem sofisticada de Fonseca. A ASSIMILAÇÃO DO CONCEITO DE ROMANCE DE FORMAÇÃO PELA FORTUNA CRÍTICA DE MICHEL LAUB Naiara Alberti MORENO (FCLAr/UNESP/D/CAPES) naiara.moreno@fclar.unesp.br Or. Profa. Dra. Juliana SANTINI. (FCLAr/UNESP) Co-or. Profa. Dra. Patricia MAAS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Bildungsroman; crítica literária; Michel Laub. O termo alemão Bildungsroman, comumente traduzido para o português como romance de formação, foi criado em 1810 e, desde então, tem-se mostrado bastante profícuo, mas mailto:muriloreis86@gmail.com mailto:naiara.moreno@fclar.unesp.br 65 também bastante problemático aos estudos literários. O impasse se impõe desde o questionamento sobre a pertinência de traduzi-lo: os megaconceitos Bildung (formação) e Roman (romance), nessa junção, estão historicamente circunstanciados ao esforço de autoafirmação da incipiente burguesia alemã, que busca então legitimar seu lugar diante de uma aristocracia decadente, produto do absolutismo tardio do final do século XVIII. As noções de formação e romance surgem, portanto, nesse contexto, como instituições burguesas, integradas ao universo cultural da Aufklärung (Iluminismo). Assim, a complexidade em relação a essa categoria literária decorre, entre outras razões, da ancoragem histórica e cultural de sua origem, em contraposição à expansão de seu uso ao longo do tempo, por meio de processos de apropriação e ressignificação. Outro ponto controverso está na possível discrepância, apontada pela historiografia, entre as conceituações basilares do termo e o romance ao qual esteve comumente associado, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe, obra consagrada pela crítica como paradigma do gênero. A despeito dessas controvérsias, poucas designações foram tão largamente difundidas, consolidando-se no léxico crítico dentro e fora do continente europeu. Assim, em mais de dois séculos de existência, o romance de formação ganhou diferentes acepções à medida que foi empregado para tratar de um repertório de obras cada vez mais heterogêneo. Na crítica literária brasileira, a trajetória do termo é bastante recente: foi Massaud Moisés, na década de 1970, quem primeiro o empregou, relacionando-o a obras como O Ateneu, de Raul Pompéia, e Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade. Desde então, várias outras produções brasileiras já foram incluídas nessa tradição. Neste século, tal expediente continua em voga e não raras são as vezes em que romances contemporâneos brasileiros são associados a esse cânone. Reconhecendo a escassez de trabalhos que, em vista da complexa genealogia do termo, problematizem esse uso, propõe-se aqui uma contribuição para o rastreamento do estado da questão na crítica literária brasileira deste século. Para tanto, partindo do desenvolvimento histórico do conceito, confere-se enfoque à fortuna crítica do escritor gaúcho Michel Laub, terreno aparentemente fértil à discussão. Por meio do levantamento da presença do termo nesse discurso crítico e da averiguação de seus usos, espera-se cooperar para a delimitação de seu status, esclarecendo o que a crítica tem compreendido como romance de formação. (DES)FILIAÇÕES, ORFANDADES E O PAPEL (TRANS)FORMADOR DA ARTE NOS ROMANCES DE MILTON HATOUM Naiara Speretta Ghessi naiara_speretta@hotmail.com Palavras-chave: literatura brasileira contemporânea; Milton Hatoum; identidade; voz narrativa. Ao observar o conjunto ficcional de Milton Hatoum, é possível depreender que há uma reincidência de narradores e/ou protagonistas que têm a genealogia truncada e que buscam uma formação ou uma transformação por meio da escrita - e de outras artes, o que se reflete na fragmentação desses registros. Dessa forma, é interessante observar o modo como essa situação engendra-se em Relato de um certo Oriente e Cinzas do Norte e como os personagens desses romances assumem as suas respectivas bastardias para buscarem a (re)construção de suas identidades. Além de apresentarem uma genealogia truncada e problemas relacionados à própria origem, eles são, em sua maioria, 66 personagens transeuntes, expatriados, errantes, inadaptados, ou seja, o deslocamento tem início dentro do eixo familiar e estende-se ao espaço que os circunda. Contudo, ambos – a narradora nãonomeada e Mundo – reivindicam a possiblidade de autonomia e de reescrever as suas memórias e o fazem cada qual a seu modo, pois ela escreve o seu relato a partir de diversos pontos de vista, mas, ao transcrever as outras falas, assume um papel ativo sobre a sua história e resiste por meio dela. Já Mundo o faz por meio de sua arte, pois, apesar de Lavo, o seu amigo, ser o narrador e organizador da compilação sobre a sua vida, Mundo conta a sua história a partir do projeto “Memórias de um filho querido” ao exemplificar, por meio de sete quadros objetos, a decadência dessas vidas esfaceladas. Assim, a hipótese defendida por este trabalho é a de que mesmo após as suas andanças, esses personagens não conseguem reconfigurar as suas origens ou se encontrar, já que a identidade não é algo que possa ser adquirido em um espaço ou em um tempo, mas se constitui como a soma de todas as experiências vivenciadas. No entanto, o deslocamento geográfico que ambos realizam é o meio pelo qual eles são capazes de contar a sua história e compreender que, mesmo que a reelaboração das origens não seja possível, a tentativa é inevitável. AS MÃOS QUE SONHAM O SENTIDO: POESIA E POÉTICA CINEMATOGRÁFICA EM CARLOS DE OLIVEIRA E MANUEL GUSMÃO Patrícia Resende PEREIRA (UFMG/D/CNPq) patriciarpereira@gmail.com Or. Prof. Dr. Silvana Maria Pessôa de OLIVEIRA (UFMG) Palavras-chave: Carlos de Oliveira; Manuel Gusmão; cinema; poesia O propósito é realizar um estudo teórico-crítico e comparativo da releitura cinematográfica da obra do poeta português Carlos de Oliveira feita pelo crítico e também poeta Manuel Gusmão, um dos mais importantes estudiosos do trabalho do escritor, no filme Carlos de Oliveira – Sobre o lado esquerdo. Dirigido por Margarida Gil, com quem Gusmão co-escreve o roteiro, o média-metragem de 50 minutos, de 2007, pode ser entendido como resultado da leitura feita pelo ensaísta do trabalho poético do escritor português, possibilitando que o filme transite entre o cinema, a poesia e o ensaio crítico, além de servir como uma homenagem. Para tanto, Manuel Gusmão tem em mãos Finisterra: paisagem e povoamento (1978), que oferece o cerne da narrativa; textos de O aprendiz de feiticeiro, especialmente os que dizem respeito ao processo da escrita, tema de reflexão constante da obra de Carlos de Oliveira, e poemas selecionados de Mãe pobre, Cantata, Terra de harmonia, Descida aos infernos e Sobre o lado esquerdo. Há, ainda, alusões à produção cinematográfica de Uma abelha na chuva, “adaptação” da obra homônima, escrita em 1953. Em referência a esta “transposição”, de 1972, tem-se, no elenco do média-metragem, o diretor Fernando Lopes e a atriz Laura Soveral, intérprete de Maria dos Prazeres, esposa de Álvaro Silvestre, o que reforça a proposta de se fazer uma homenagem à obra de Carlos de Oliveira. No média-metragem, Soveral representa a mulher da família de Finisterra, enquanto Lopes está envolvido em duas situações da narrativa: as sequências em que trechos da “biografia” do poeta são lidos e quando interpreta o adulto do último romance escrito pelo poeta, tarefa que divide com o ator Luís Miguel Cintra. Há de se levar em consideração, ainda para o estudo proposto, o fato de que Manuel Gusmão, em seu trabalho como poeta, publica, em A terceira mão (2008), uma série de conjuntos em que se coloca como assumido continuador da obra de Carlos de Oliveira. É nesse livro onde se encontra argumentos que forçam a ideia de um diálogo a ser estabelecido entre mailto:patriciarpereira@gmail.com 67 os dois autores no média-metragem. A PERSPECTIVA DO EU SOBRE A VISÃO DE MUNDO DO OUTRO EM O AMANUENSE BELMIRO, DE CYRO DOS ANJOS Pedro Barbosa Rudge FURTADO (FCLAr/UNESP/D) pedro.sonata@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Célia de MORAES LEONEL (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Personagem; ideologia; romance intimista. Objetiva-se, na comunicação, debater como os fios ideológicos das personagens secundárias desse romance – que emula a forma diário – de Cyro dos Anjos infiltram-se na psique do protagonista. No afã de se conciliar com o mundo, Belmiro tenta não entrar em conflito com o que o cerca, permanecendo, dessa forma, num fogo cruzado no que toca à visão de mundo, mais ou menos sedimentada, de seus amigos. Cyro dos Anjos, ao elaborar um protagonista repleto de dúvidas, titubeante em tomadas de posição, posiciona os fios ideológicos mais rígidos nas personagens secundárias. Tal rigidez só pode existir por meio da mediação de Belmiro sobre o outro; é a partir da perspectiva dele, então, que concebemos as outras personagens, servindo, muitas vezes, como objeto de estudos da mente humana pelo amanuense. Tais investigações da personagem principal perpassam boa parte de seu relato íntimo, que iria fincar-se, a priori, no passado – visto por ele – como glorioso. Valores do passado, do presente e dos outros combinam-se internamente em Belmiro, fazendo com que as suas contradições aflorem. Vale ressaltar a grave polarização ideológica pela qual o mundo e, igualmente, o Brasil passavam no decênio de 1930, em que a dinâmica social requisitava uma tomada de partido política. Belmiro, evadindo-se das tensões do presente, rejeita os conflitos do seu tempo internamente; no entanto, dialogicamente, ainda que se embrenhando no próprio ego reminiscente, ele acaba por trazer à tona, por meio da sua consciência vigilante, os embates sócio-históricos de sua época, muito a partir da cosmovisão do outro. No que tange a isso, o conflito base do romance – que gera grande parte dos (não) acontecimentos da narrativa – é conduzido no que se vê entre transcendência – figurado, principalmente, pela voz de Silviano – e materialismo – ecoados nas vozes de Redelvim e Jandira. Balizando os nossos estudos, encontram-se tanto obras sobre o conturbado período de 30 – como de Luís Bueno e Sérgio Miceli – quanto relevantes textos da fortuna crítica d’O amanuense Belmiro. DIVERGENTES VOZES DO PASSADO: DIALOGISMO, POLIFONIA E CARNAVALIZAÇÃO NA OBRA ROMANESCA DE MOACYR SCLIAR Rafaella Berto PUCCA (FCLAr/UNESP/D) rafaellatuca@yahoo.com.br Or. Profa, Dra Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Dialogismo; Releitura histórica; Moacyr Scliar. Este trabalho busca apresentar recortes da obra romanesca de Moacyr Scliar em diálogo com a teoria crítica de Mikhail Bakhtin, sobretudo ao que se refere ao uso da file:///C:/pedro/AppData/Roaming/Microsoft/Word/pedro.sonata@gmail.com mailto:rafaellatuca@yahoo.com.br 68 carnavalização como processo de criação literária que incorpora múltiplas vozes na reescrita da História por meio da ficção. Trata-se, pois, de obras que valorizam o jogo discursivo, ou seja, o que vemos na narrativa de Scliar é um grande número de personagens ativas, que falam e vivem grandes histórias cotidianas e que, ao ganharem voz na trama, resgatam a memória como forma de polemizar a ordem instituída pela historiografia tradicional, revelando, assim, as contradições, as máscaras e o grotesco presente nas relações humanas de todos os tempos. Em outras palavras, estamos diante de uma produção que favorece o exercício da polifonia, uma vez que observamos a presença de muitos pontos de vistas em narrativas que se propõem abertas ao diálogo, tanto com o cânone, por intermédio de alusões e do uso frequente da intertextualidade; quanto com os diferentes discursos sociais e gêneros textuais, ou até mesmo com as distintas leituras advindas de seus interlocutores (considerando que se privilegia o discurso direto e há várias inserções metanarrativas de diálogos da narração com o possível leitor). Grosso modo, a intenção é fazer uma breve explanação dos conceitos de dialogismo, polifonia e carnavalização, mostrando a presença destas características em algumas composições do escritor gaúcho de origem judaica,escritor este que faz do dialogismo constitutivo uma marca de sua produção, um traço recorrente em autores contemporâneos considerados pós-modernos, conforme iremos evidenciar retomando a obra crítico-teórica de Linda Hutcheon. Para tanto, as narrativas selecionadas como suporte para a análise são: O Centauro no Jardim (1983), Cenas da Vida Minúscula (1991), Sonhos Tropicais (1992) A Majestade do Xingu (1997), A Mulher que Escreveu a Bíblia (1999) e Manual da Paixão Solitária (2006). EU NÃO ESTOU LÁ? LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, FOTOGRAFIAS E ALGUNS RESULTADOS PARCIAIS Renan Augusto Ferreira BOLOGNIN (FCLAr/UNESP/D/CAPES) renanbolognin@hotmail.com Or. Profa. Dra. Rejane Cristina ROCHA (UFSCar) Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Fotografias; Diálogo inespecífico. Resumo: Três textos literários brasileiros contemporâneos possuem como particularidade a infiltração de seus autores, seja como personagens da trama narrativa, seja através de fotografias de suas próprias vidas. Os livros que apresentam essa particularidade foram publicados no século XXI e alcançaram reconhecimento notório pela crítica especializada. Isto posto, não por acaso Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho; Rremembranças da menina de rua morta nua (2006), de Valêncio Xavier; e Divórcio (2013), de Ricardo Lísias, constituem o corpus central de nossa tese em andamento. A esse respeito, uma revisão bibliográfica - ainda não finalizada - demonstra que o diálogo entre literatura e fotografia remonta ao gênero romance, como Ana Marques Martins (2013, p. 13) explicita em sua tese de doutorado - Paisagem com figuras – que a primeira aparição deste diálogo remonta ao livro Bruges-la-morte (Éditions du boucher, 2005), do escritor simbolista belga Georges Rodenbach, em 1892. Usualmente, recorda-se o romance Nadja (Cosac Naify, 2009), publicado em 1928 por André Bréton, como essencial para o estabelecimento deste diálogo. Além destes, tanto autores estrangeiros do calibre de W.G. Sebald, Júlio Córtazar, Alan Pauls, Sophie Calle, Virginia Woolf, Oham Pamuk; quanto os brasileiros Victor Heringer, Dráuzio Varella, Chico Buarque, Paloma Vidal, Eliza Caetano, Ricardo Piva, Victor Ramil, mailto:renanbolognin@hotmail.com 69 Altair Martins, etc contribuíram estilisticamente para tornar este diálogo inespecífico vigoroso em seus livros. Assim sendo, para estudar o corpus a contento, propomos que o(s) porquê(s) dos diálogos entre fotografia e literatura no período contemporâneo sejam questionados através dos conceitos de inespecífico e de campo expansivo, de Florencia Garramuño (2014); do embasamento filosófico de Jacques Rancière (2009); e dos conceitos de simulacro/simulação, de Jean Baudrillard (1991), como sustentáculos teóricos. Como resultado incipiente, a pesquisa realizada demonstra os simulacros (BAUDRILLARD, 1981) dos autores como personagens de suas narrativas decorrer no esboroamento das estruturas de gêneros, tais como na escrita etnográfica (em Nove noites); na notícia televisiva/jornalística (em Rremembranças da menina de rua morta nua); e no álbum de família e redes sociais (em Divórcio). Deste modo, como discussões para esta comunicação, propomos as seguintes: i. O diálogo inespecífico (entre literatura e fotografia) dos textos do corpus possui traços distintivos em relação a textos narrativos brasileiros/estrangeiros de períodos históricos anteriores; ii. O uso abundante de imagens no período contemporâneo serve como ponto de contraste do corpus a outros textos; iii. A exposição do eu ganha fôlego como alicerce de críticas implícitas a campos do conhecimento contemporâneo. CLB: O CORPO GROTESCO E O DISCURSO CARNAVALIZADO EM A CASA DOS BUDAS DITOSOS, DE JOÃO UBALDO RIBEIRO Rosana Letícia PUGINA (FCLAr/UNESP/D/CNPq) rosanapugina@gmail.com Maria de Lourdes Ortiz Gandini BALDAN (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: corpo grotesco; carnavalização; A casa dos budas ditosos. À luz das reflexões bakhtinianas, o tema deste trabalho é o estudo o discurso carnavalizado e da estética do corpo grotesco no romance A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, pertencente à coleção “Plenos pecados”, da qual figura como o volume dedicado à luxúria. Para Bakhtin, quanto mais poderosa for a dominação do sistema, maior satisfação acarretarão o seu destronamento e o seu rebaixamento. Como consequência, o corpo grotesco tem caráter carnavalesco quando estimula e cria o humor conscientizador: aquele que expõe e problematiza a dissimulação social por meio do riso. Assim, na estética do grotesco, assiste-se à ridicularização de certos fenômenos sociais e a carnavalização do mundo, do pensamento e da palavra. Nesse quadro, notam- se a ordem hierárquica invertida e a orientação desse jogo para uma recusa violenta dirigida ao mundo oficial, com todas as suas interdições e restrições. O romance brasileiro A casa dos budas ditosos tem como núcleo o relato das aventuras sexuais de uma mulher que sempre viveu intensamente as infinitas possibilidades do sexo, por meio da experimentação de todas as formas de prazer, sem indícios de culpa e sem censura. CLB, personagem-protagonista do romance ubaldiano, nega tudo: é a encarnação “ao avesso” do mundo das possibilidades humanas limitadas, do exercício das funções e das interdições socialmente sacramentadas, ou seja, resume, em si, os conceitos supracitados. Os objetivos da pesquisa são verificar como se dá a estética do grotesco e compreender os mecanismos de constituição da carnavalização edificada na construção da personagem central de João Ubaldo Ribeiro, sobretudo com referência à exposição do corpo e do ato sexual. A metodologia do trabalho quanto à abordagem é exploratória, qualitativa e de cunho bibliográfico. Espera-se, como resultado, ter analisado profundamente a personagem, cuja criação refrata e reacentua vozes do seu tempo, sob o arcabouço teórico proposto para que seja demonstrada a sua tendência mailto:rosanapugina@gmail.com 70 singular de anarquizar o discurso e ver, com olhar crítico, os usos e os costumes da sociedade: subversão, carnavalização e desconstrução são elementos constitutivos da personagem, que vive e propõe a vida saturada por uma liberdade sexual plena. DO PARÁGRAFO À CENA: O SEQUESTRO DA CONSTRUÇÃO AFETIVA Stéfano STAINLE (FCLAr/UNESP/D) stefano@stainle.com.br Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (UNESP/FCLAr) Palavras-chave: cinema; literatura; J. R. R. Tolkien. A narrativa tolkieniana, entre outros, emprega o método de narração descritiva e a isso se deve a sua técnica realista. O universo ficcional do autor possui dimensões épicas, necessita de lenta e repetitiva assimilação em virtude da magnitude dessa extensão ficcional que apresenta ao leitor uma tempestade de nomes, línguas, raças, locais, objetos e datas a serem organizados durante o ato da leitura. A carga afetiva empregada junto ao exercício de imaginação no ato da leitura é um dos pré-requisitos para o entendimento da organização ficcional da obra de J. R. R. Tolkien que, além de convidar o leitor a fruir com o texto, também o convida e o desafia a construir seus próprios conteúdos afetivos em meio às cenas descritivas de longa duração. Nesse sentido, as adaptações cinematográficas de Peter Jackson, apesar do inigualável e espontâneo sucesso de bilheteria, não deixam espaço para a construção desses afetos. Tal fato se deve à estrutura das cenas, em parte por causa do apelo contemporâneo ao caráter dinâmico das cenas e à exigência de ação bélica constante. Embora se possa assistir ao filme repetidamente, seriam necessárias longas pausas e contemplações, quadro a quadro, para que a assimilação de todo o conteúdo descritivo tivesse o mesmo efeito que tem durante o ato de leitura. A palavra escrita carrega consigo a descrição de tempo e espaço,além dos diálogos e ações envolvidos, no sentido de que cria espaço para a imaginação e permite o acompanhamento das cenas de movimento constante. Os filmes, enquanto realizações e adaptações das narrativas, sequestram o exercício imaginativo e com ele se esvai toda construção afetiva capaz de tornar mágica a duração da construção afetiva tal como ocorre nos romances. ENTRE O CINEMA E A LITERATURA: A MUDANÇA DE PERSPECTIVA ATRAVÉS DA INTERMIDIALIDADE EM DAS NACKTE AUGE, DE YOKO TAWADA Thaís Gonçalves Dias PORTO (FCLAr/UNESP/M) thagdporto@gmail.com Or. Profa. Dra. Profa. Dra. Natália Corrêa Porto Fadel BARCELLOS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: cinema; intermidialidade; literatura contemporânea; identidade Resumo: O romance Das nackte Auge (2004) emprega em sua narrativa referências a filmes de diferentes épocas e realizadores. A autora, a japonesa Yoko Tawada, utiliza-se da hipertextualidade para compor uma narrativa que explora de maneira ímpar o poder persuasivo da sétima arte. Trata-se da história de uma jovem garota vietnamita, cujo mailto:stefano@stainle.com.br mailto:thagdporto@gmail.com 71 nome nunca é revelado, que, devido a um engano, desembarca na cidade de Paris no final da década de oitenta, onde passa a viver ilegalmente e, ao mesmo tempo, a frequentar as salas de cinema da capital francesa. Impossibilitada de se comunicar com os locais, a personagem nutri uma grande afeição pelas personagens interpretadas por Catherine Deneuve. Cada capítulo do romance leva o título de um filme em que atuou a atriz francesa. As referências midiáticas crescem progressivamente dentro do romance, de modo a esmaecer as fronteiras entre a ficção literária e fílmica. Tal processo relaciona-se à uma das características mais fortes da literatura contemporânea: a intermidialidade. A autora utiliza-se dos filmes como hipotextos que, sob as operações de seleção, ampliação, concretização ou realização, transforma, modifica, elabora ou amplia o hipertexto, isto é, o romance em questão. Tawada, assim como um realizador cinematográfico, elabora uma montagem, uma espécie de efeito Kuleshov literário, que modifica a maneira como o leitor compreende o romance. Desta forma, a autora explora a questão da identidade do sujeito fragmentado no mundo contemporâneo, cuja velocidade do fluxo de pessoas e informações, dificulta a oferta de momentos contemplativos. Justamente neste ponto faz-se necessária a ação da arte, que desempenha o fundamental papel desautomatizador, uma ferramenta que desloca o sujeito. Essa mudança de perspectiva representa um dos principais pontos dentro do projeto literário de Yoko Tawada, seja através de personagens que se encontram dispersos de sua terra natal, ou através da inversão de perspectiva do olhar ocidental sobre o mundo oriental. OLHARES DE VAN GOGH: O PICTÓRICO-CINEMATOGRÁFICO COMO FORMA DE NARRAR UMA BIOGRAFIA Thais VIEIRA (FCLAr/UNESP/G) thais.p.vieira@hotmail.com Or. Profa. Dra. Fabiane Renata BORSATO (UNESP/Araraquara) Palavras-chave: cinema, pintura, Van Gogh. O filme Com Amor, Van Gogh (2017), idealizado pela animadora polonesa Dorota Kobiela, é inteiramente produzido a partir de pinturas a óleo, as quais imitam o estilo do pintor pós-impressionista. A ação, que decorre em 1891, um ano após a morte do artista, é motivada por uma carta, escrita pelo pintor holandês, que não havia chegado ao destinatário, seu irmão Theo. O personagem condutor do enredo, Armand Roulin (inspirado pelo quadro Retrato de Armand Roulin, 1888 - Bojimans Van Beuningen, Rotterdam), é encarregado pessoalmente de fazer com que a carta seja entregue, e acaba por se envolver em uma espécie de odisseia investigativa. A viagem permeada de acontecimentos imprevistos apresenta-se como pretexto para que sejam explorados diversos quadros celebres de Vincent Van Gogh, assim como relatos de terceiros sobre o artista. A partir desses relatos, a narrativa se desenvolve sob diversos pontos de vista, particulares a cada personagem que teve contato com o pintor em momentos precedentes à sua morte. Este trabalho busca investigar a manifestação dessas visões que se entrelaçam a produções do próprio Van Gogh. Considerando o compilado de vozes exteriores (relatos) e interiores (expressadas pelas pinturas e cartas do holandês), pretende-se averiguar, nesta biografia cinematográfica, a maneira de narrar que, ao incorporar produções inerentes ao artista, tange um recorte de realidade singular, que flutua na lacuna existente entre as diversas facetas da personalidade de Van Gogh. Levando em consideração também o fato de o enredo ter sido baseado nos escritos do artista, verifica-se uma constante dualidade na estrutura da linguagem fílmica: ao passo mailto:thais.p.vieira@hotmail.com 72 que o pictórico pré-expressionista dialoga com a figura aparentemente perturbada de Van Gogh, há também, ao longo de toda a obra cinematográfica, aspectos que remetem a uma poeticidade típica do conjunto de textos epistolares do artista. Esses aspectos refletem ora na forma, ora no conteúdo do longa-metragem. Partindo, portanto, dessas observações sobre o misto de vozes narrativas que compõem um enredo tanto biográfico quanto ficcional, este trabalho objetiva atingir não somente o ponto de intersecção das artes plásticas em diálogo com a arte cinematográfica, como também a influência das cartas escritas pelo pintor como fonte literária para a montagem da película. O VÍDEO-POEMA Thiago BUORO (FCLAr/UNESP/D) thiago.buoro@hotmail.com Profa. Dra. Fabiane Renata BORSATO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: vídeo-poema; poesia visual; concretismo. Ao se tratar do intercâmbio entre Cinema e Literatura, não se pode deixar de considerar aquele que se especificou no domínio da poesia, particularmente a poesia que apresenta em sua linguagem pendor para os elementos fundamentais do filme: a poesia visual. Entre os concretistas brasileiros, a experiência desenvolveu-se programaticamente. Autor dos conhecidos Clip-poemas, Augusto de Campos denomina categoricamente cinepoemas as composições “LIFE” e “Organismo”, feitas ainda nos anos 1950, em suporte de papel, por Décio Pignatari. São poemas organizados numa sintaxe muito próxima da do cinema. A partir dessa época, o poema pôde contar cada vez mais com novos recursos tecnológicos: letraset, neon, holografia, laser, vídeo e, finalmente, computação digital. Assim, os poemas verbovocovisuais, na denominação joyceana dos concretistas, encontraram nas novas tecnologias meios correlatos não só de expressão, mas de expansão – ao ganhar novos significantes, ganharam novos significados. De todas as possibilidades tecnológicas, entre elas a exclusiva sonorização, enfatiza-se nesta minha abordagem, que pretende respeitar o tema do Seminário, a realização do poema em vídeo. Isso implica, em termos metodológicos, o mínimo exame das interações semióticas entre a linguagem cinematográfica e a linguagem do poema gráfico; interações que são bem compreendidas como operações de tradução intersemiótica. O poema escrito para o livro, ou para outro suporte na mesma medida bidimensional que dependa da leitura e visualização do receptor, converte-se em linguagem audiovisual, cujos signos possuem outra constituição morfológica e outra organização sintática. A evidente diferença está no aspecto cinético. O poema, antes acionado pela leitura decodificadora ativa, passa a integrar uma estrutura dinâmica que simula o movimento, exigindo uma percepção realista do espaço. Embora a versão gráfica traga a latência do movimento, sua tradução para o vídeo resulta evidentemente em nova criação. Assim, um vídeo-poema está muito além de ser uma simples mensagem veiculada pelo vídeo, ou um simples poema contido no recipiente do vídeo. AS TRAJETÓRIAS DA MEMÓRIA EM HIROSHIMA, MON AMOUR VanessaAparecida Ventura RODRIGUES (FCLAr/UNESP/D) Vanessa.ventura@hotmail.com Or. Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado LEITE (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Memória; Amor; Guerra; Esquecimento. mailto:thiago.buoro@hotmail.com mailto:Vanessa.ventura@hotmail.com 73 Quando falamos em memória, logo somos levados a pensar nas histórias e narrativas que antes eram conhecidas por meio da narrativa oral. Hoje, temos a escrita como forma de não permitir que esqueçamos o que chamamos por memória do trauma, pois escritores ao longo dos séculos buscaram retratar em suas obras momentos históricos marcantes, ou mesmo suas experiências, angústias e vivências. A relação História e Literatura não é uma problemática recente, ao contrário, remete aos pensadores da Antiguidade e vem sendo pensada e repensada desde então; assim, podemos dizer que as palavras memória e história evocam o mesmo tempo – o passado. Esta proposta tem como objetivo estabelecer relações entre os quatro eixos temáticos - Amor, Memória, Morte e Esquecimento -presentes em Hiroshima MonAmour(1959), filme produzido pelo cineasta francês Alain Resnais (1922 – 2014), com roteiro da escritora francesa Marguerite Duras (1914 – 1996), visando mostrar o quanto o universo produzido pelos dois desfila sobre tabus num discurso glorioso sobre guerra e paz. Esse discurso envolve de forma tão eficaz o telespectador, que mesmo o patriota francês ou qualquer ser humano que se posicione contra certos valores sociais, como o adultério, ficam desarmados frente ao encantamento da não discussão desses mesmos valores. Assim, procura-se demonstrar que Hiroshima MonAmour é um filme sobre o Amor e as dores da perda frente à guerra, num processo de rompimento com os conceitos convencionais do tempo narrativo, mesclando passado, presente e futuro, introduzindo técnicas que permitiram harmonizar tempo presente e memória. Um filme revolucionário no uso de flashbacks, utilização de planos inusitados, etc., no qual Resnais evoca toda uma coletividade massacrada pela guerra por meio de apenas dois personagens. No mais, cabe ressaltar que essa obra grandiosa não explica o horror a que os homens foram submetidos, mas é, sim, uma obra composta de inúmeros questionamentos, indagações que devem permanecer na mente de cada um de nós, como forma de afrontamento e denúncia de nossas mazelas históricas. JEKYLL, HYDE E SEUS IRMÃOS: DIÁLOGOS ENTRE O MÉDICO E O MONSTRO E O MÉDICO E A IRMÃ DO MONSTRO Vinicius Lucas de SOUZA (FCLAr/UNESP/D) viniciuslucassouza@gmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: O médico e o monstro; O médico e a irmã do monstro; duplo. Ao se considerar o romance O médico e o monstro (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1886), de Robert Louis Stevenson, essa narrativa está entre as muitas obras literárias que se dedicaram à abordagem do motivo do duplo (Doppelgänger), tropo que tenciona relações entre o eu e o outro, o original e a cópia, o verdadeiro e o falso. No romance de Stevenson, o Dr. Henry Jekyll, um cientista renomado, por meio de uma substância química fruto de seu experimento de Medicina Transcendental, altera sua corporeidade, transformando-se no infame e repulsivo Mr. Edward Hyde, dando vazão, assim, aos prazeres e paixões proibidos à faceta respeitável do doutor. Se passarmos ao campo do Cinema, inúmeras releituras do romance em questão foram e são realizadas ao longo dos anos. Numa dessas releituras, O médico e a irmã do monstro (Dr. Jekyll and Sister Hyde, 1971), dirigido por Roy Ward Baker e roteiro de Brian Clemens, a história do médico e do monstro é inovada ao adicionar uma mulher ao dilema Jekyll- Hyde. No filme, o foco da pesquisa do cientista é o elixir da vida e, para tanto, mailto:viniciuslucassouza@gmail.com 74 desenvolve sua droga baseada em hormônios femininos, a qual, uma vez ingerida, transforma-o numa mulher, a irmã Hyde, que aos poucos configura-se como uma femme fatale. No entanto, para aperfeiçoar seu elixir, a coleta dos hormônios passa a ser realizada por meio do assassinato de prostitutas das ruas de Londres, evidenciando Jekyll como o notório assassino de Whitechapel, Jack, o Estripador. Ademais, o duplo não só se presentifica na relação entre Jekyll e Hyde, mas também numa outra dupla, dois irmãos que se relacionam com o cientista e sua irmã, replicando a duplicidade na obra cinematográfica para além do signo dúplex. O objetivo da presente comunicação, portanto, é analisar O médico e a irmã do monstro, focando no motivo do duplo, presente tanto na forma quanto na temática fílmicas, e como o filme dialoga e relê o romance O médico e o monstro. A LITERATURA TÉCNICA LATINA E OS SEUS ANTECEDENTES GREGOS Vivian Gregores Carneiro Leão SIMÕES (FCLAr/UNESP/CAPES) vivian.simoes@ufrr.br Or. Prof. Dr. João Batista Toledo PRADO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Literatura técnica grega; literatura técnica latina; influências. Como acontece em outros gêneros, existe uma influência primordial da produção literária técnica grega nos escritos técnicos romanos, entretanto, a literatura técnica latina adquire precocemente certa independência da tradição que a precede, especialmente no que diz respeito à temática e à forma literária, e desenvolvem peculiaridades mais propriamente romanas que muitos outros gêneros, como a épica e a lírica, por exemplo. Dessa forma, a literatura técnica latina não sustenta com os seus precedentes genéricos helênicos o mesmo paralelo que outras obras da literatura latina, ao contrário, a importância que os escritos técnicos romanos têm no âmbito da literatura latina é bastante diferente daquela de seus correspondentes na literatura grega. O sentido da utilitas é o causador desta clara diferença entre os fatos literários, uma vez que os autores se propunham a servir de proveito ao mundo romano com suas obras. O desenvolvimento da literatura latina, especialmente da literatura técnica, está diretamente relacionado, desde o período republicano, às condições sociais e culturais de Roma, surge em resposta a um estímulo determinado por uma situação histórica, assim, produção da literatura latina, incluindo a literatura técnica, é uma reação direta e criativa à preponderante influência grega na Itália durante o período. A relação com a utilitas, de acordo com Albrecht (1997, p. 536), afeta de modo singular os escritos técnicos que têm nesse conceito uma de suas fundamentais razões de ser, assim, as disciplinas tecnológicas, como a agronomia, agrimensura, arquitetura e mesmo a medicina, bem como atividades como o direito, a retórica ou a gramática, que faziam parte fundamental da vida do romano, tinham particular importância. Todas essas atividades constituíram em Roma ofícios mais ou menos habituais e o conjunto de conhecimentos técnicos e científicos desenvolvidos em torno deles era suscetível de ser transmitido através da educação sistematizado através de disciplinas ou em forma de texto. Isto posto, a presente comunicação pretende expor e discutir o contexto do surgimento da literatura técnica latina, os seus antecedentes gregos e as condições para o seu desenvolvimento em Roma. A LIBERDADE FEMININA COMO FORÇA CRIADORA: O MATRISMO NA mailto:vivian.simoes@ufrr.br mailto:vivian.simoes@ufrr.br 75 FICÇÃO DE NATÁLIA CORREIA Vivian Leme FURLAN (UNESP/FCLAr/D/FAPESP) viviufscar@gmail.com Or. Prof. Dr. Jorge Vicente VALENTIM (UFSCar) Palavras-chave: Matrismo; Autoria feminina; corpo feminino; ginocrítica. Resumo: O projeto propõe investigar a obra literária de Natália Correia, direcionando a análise ao percurso da literatura de autoria feminina em Portugal e ao conceito de “matrismo” proposto pela autora. Militante da liberdade, a escritora ocupou múltiplos papeis na sociedade portuguesa, desde tradutora, jornalista atédeputada da Assembleia da República. Através da leitura de sua extensa obra é impossível não enxergar os traços de uma voz emancipadora, dos questionamentos sobre o lugar da mulher e os movimentos dos corpos em liberdade no espaço social que (ainda) se sustenta em estruturas heteronormativas e patriarcais. Assim, através do resgate desta posição matrista, objetiva-se investigar se esta proposta não seria uma maneira da autora em elencar e consolidar avant la lettre uma forma especial de feminismo, em que prioriza, sobretudo, a igualdade dos gêneros. Ao sugerir a desconstrução dos paradigmas e nomenclaturas pré-estabelecidos (machismo viril, feminismo caricata), Natália Correia sugere a diluição destes binarismos através da nomenclatura matrista, por se basear na natureza como Grande-Mãe, a qual todos os seres pertencem de maneira igualitária. Para tanto, a análise centrar-se-á, em especial, em três de seus textos: A Madona (1968), A ilha de Circe (1983) e As Núpcias (1992). Em A Madona, romance publicado em 1968 em um contexto de censura salazarista em Portugal, a personagem Branca distingue- se da clássica imagem da madona maternal representada pela história da arte, vivendo além das experiências homoeróticas e o domínio de seus amantes, o autoconhecimento de seu corpo em transe e em trânsito pelos países e vivências sexuais. Entendemos que esse e os outros dois romances que compreendem o corpus da tese, ao tocarem em temas como a liberdade do corpo feminino, o erotismo, a androginia, o incesto, a mitologia, a crítica aos conceitos cristãos cerceadores, atrelados à ideia de transcendência, e, principalmente, ao conceito de matrismo, proposto pela autora, acabam por envolver também propostas de emancipação dos textos de autoria feminina/feminista, tão importantes na consequente e devida ocupação do espaço das mulheres na literatura e na sociedade. Buscaremos reiterar este gesto político de Natália Correia, estabelecendo diálogo crítico-literário com o pensamento da ginocrítica de Elaine Showalter (1981). mailto:viviufscar@gmail.com 76 Resumos de Projetos de Pesquisa em andamento 77 O INTELECTUAL E O EXÍLIO NA FICÇÃO DE MARÍA ROSA LOJO: UM ESTUDO COMPARATIVO DOS ROMANCES LA PASIÓN DE LOS NÓMADES (1994), FINISTERRA (2005), ÁRBOL DE FAMÍLIA (2010) E TODOS ÉRAMOS HIJOS (2014) Alessandro da SILVA (FCLar/UNESP/D) alessandromaximian15@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Dolores Aybar RAMIREZ (FCLar/UNESP) Palavras-chave: María Rosa Lojo; Intelectual; Exílio. O presente estudo pretende constatar a construção de um projeto literário ligado à questão do exílio em quatro romances da escritora María Rosa Lojo, a saber, La Pasión de los Nómades (1994), Finisterra (2005), Árbol de Familia ( 2010) e Todos Éramos Hijos (2014). María Rosa Lojo tem sido uma das escritoras promissoras da literatura contemporânea argentina e sua obra tem despertado interesses críticos tanto em seu país quanto no exterior. De modo geral, os críticos afirmam que sua produção oscila entre dois eixos temáticos: o exílio e a ficcionalização da História. Além disso, vários estudos sinalizam a preocupação da escritora – também professora universitária e crítica literária – em usar uma ficção que beira ao ensaio para reproduzir o seu posicionamento intelectual e unir crítica e ficção em seus textos. Esse tecido híbrido – mescla de ficção e ensaio – é particularmente o interesse dessa pesquisa que pretende confrontar os romances supracitados e verificar a ligação entre eles, no que se refere ao processo de reconhecimento e aceitação do exílio. Filha de imigrantes espanhóis que chegaram à Argentina durante a Guerra Civil na Espanha, Lojo, desde cedo, aprendeu a viver em companhia do exílio e afirma que escrever literatura é, por assim dizer, negociar com essa realidade de exilada e/ou desterrada. Nesse sentido, o exílio torna-se uma lente usada pela escritora para fazer o texto literário, principalmente nessas narrativas escolhidas como corpus desse trabalho, tendo em vista que nelas aparecem personagens nômades à procura de um lugar no mundo. Tal como a escritora que aceita para si a condição de exilada, seus personagens também buscam constantemente permanecer e criar raízes, pois já não querem mais viver o exílio. Desse modo, por meio de análises comparativas dos romances selecionados e tendo como ferramentas os estudos de teóricos do romance e outros ensaios sobre o exílio, objetiva-se comprovar a hipótese inicial de que o exílio liga as quatro obras e ao escrevê-las a escritora negocia sua condição de exilada e encontra, no último romance, seu lugar num mundo que não é o seu, mas, ainda assim, é possível fixar raízes. BORGES E BERTOLUCCI: TRADUÇÕES DO TEMA DO TRAIDOR E DO HERÓI Ana Claudia RODRIGUES (FCLAr/UNESP/D) anac_redacao@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini BALDAN (FCLAr/UNESP) Palavras chaves: Tradição; tradução; criação; sentido. Resumo: O intuito deste projeto é estabelecer uma análise da tradução intersemiótica, ou transcriação, do conto de Jorge Luis Borges, “Tema do traidor e do herói”, (1944), mailto:alessandromaximian15@gmail.com mailto:Anac_redacao@yahoo.com.br 78 no filme A estratégia da aranha (1970), de Bernardo Bertolucci. À luz de um estímulo criativo, portanto, não fechado e concluso, vislumbra-se a apreciação de uma obra paralela e não meramente servil entre os elementos estéticos mencionados. Bertolucci, ao instaurar o trânsito entre tempos e espaços distintos, recria o conto de Borges não com um rigor absoluto perante um modo inquebrantável, mas, pelo contrário, adentra-se no próprio ‘jogo’ proposto no conto: a desconstrução da história de um herói. Pretende- se, portanto, inferir que Borges, a partir do próprio título do conto, propõe o caminho da investigação que recai sobre a história, seja esta estética ou biográfica para, no final, compreender que neste jogo ou teia estratégica, a ‘verdade’ não é unívoca e estanque, portanto, é múltipla e, por vezes, ambígua, e, dessa forma, mediante um descentramento do indivíduo, o que se denomina herói pode ser revelado, paulatinamente, traidor. Assim, o objetivo deste projeto é extrair do conto de Borges o caminho metafórico daquele que se envereda no âmago da tradição (passado) para trazê-la renovada à luz de uma tradução diversa. Bertolucci, de acordo com a análise presente, assumiria o papel do material que ele mesmo traduz – o tradutor ou resgatador de um passado, só que agora reinventado nos códigos de imagem, som e movimento. Em síntese, o que se pretende é uma relação de duplicidade: a análise da tradução dos códigos linguísticos do conto de Borges no sistema de signos audiovisuais do filme de Bertolucci, ao mesmo tempo que a emersão do papel tradutor – seria como se Borges, ao traduzir o próprio pensamento em suas obras, sobretudo, no conto em evidência, cuja história engendra-se na rememoração de tantas outras, e Bertolucci, ao traduzir este mesmo conto em seu filme, revelassem que, no fundo, as traduções seriam sempre eternizações do fazer artístico sob a égide de infindáveis e renovados sentidos, elemento que por si só seria capaz de exonerar, em rigor, o tradutor da ideologia de fidelidade ao original. Mas se é para falar sobre isso (fidelidade), prima-se aqui por outra ordem de lealdade: ao momento presente da recriação, sem jamais perder de vista as raízes em que se debruça o tradutor-recriador. LÍRICA SACRA NO BARROCO LUSO-BRASILEIRO Daniel de Assis FURTADO (FCLAr/UNESP/D) assis27@hotmail.com Or. Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: poesia luso-brasileira; barroco; lírica sacra. Os objetivos específicos deste projeto são: a) revisitar a poesia lírica de caráter religioso produzida em Portugal e no Brasil durante o período Barroco,realizando, sob esse enfoque, o resgate e a releitura dessas composições poéticas e de seus autores; b) comparar os principais recursos de expressão adotados por esses poetas; e c) levantar as principais características da poesia lírica barroca de caráter religioso produzida em Portugal e no Brasil, apontando suas peculiaridades e seus usos. Para tais esforços, tomaremos como referência o uso que Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) fez desses recursos de expressão em sua Lira sacra (manuscrito de 1703, editado em 1971), perpassando também a poesia religiosa de Gregório de Matos Guerra (1636-1696) e buscando o aproveitamento que todos esses poetas possam ter feito da poesia de Frei Iñigo de Mendoza (1425?-1507?), Alonso de Ledesma (1552-1623), Jerónimo de Cáncer y Velasco (159?-1655) e José de Valdivieso (1565-1638) — os mais ilustres representantes da corrente peninsular, e também brasileira, da poesia lírica a lo divino; a poesia religiosa do Cancioneiro (1554), de Jorge de Montemor (1520?-1561?), censurada em seu tempo pelo Santo Ofício, também será consultada. Sendo Gregório de mailto:assis27@hotmail.com 79 Matos o representante par excellence da poesia barroca brasileira e a Lira sacra, de Botelho de Oliveira, nosso ponto de partida, acreditamos que a busca pela poesia sacra nas obras de poetas portugueses ou brasileiros do período barroco — como o padre Luís da Cruz (1543-1604), Bento Teixeira (155?-1600), Francisco Rodrigues Lobo (1580- 1621), Dom Tomás de Noronha (?-1651), Diogo Camacho (?-?), Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666), Antônio Barbosa Bacelar (1610-1663), Sóror Violante do Céu (160?-1693), Bernardo Vieira Ravasco (1617-1697), Jerônimo Baía (162?-1688), Frei Eusébio de Matos e Guerra (1629-1692), Frei Antônio das Chagas (1631-1682), Domingos Barbosa (1632-1685), José Borges de Barros (1657-1719), Gonçalo Ravasco Cavalcanti de Albuquerque (1659-1725), Sebastião da Rocha Pita (1660-1738), João de Brito e Lima (1671-1747), Dom Francisco de Vasconcelos (1673-1743), Dom Francisco Xavier de Meneses (1673-1743), Gonçalo Soares da França (1676-1742), Luís Camelo de Noronha (1689-?), Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (1695-1779), Frei Manuel de Santa Maria Itaparica (1704-1768) e João Borges de Barros (1706-?) — venha também a contribuir tanto com o resgate dos mesmos, cujos nomes via de regra são esquecidos ou relegados aos bastidores do estilo da época, quanto com a análise mais cuidadosa do conjunto de suas obras. O TRÁGICO NA CENA CONTEMPORÂNEA: MONTAGEM, RECEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA TRAGÉDIA GREGA NO BRASIL Brendon de Alcantara DIOGO (FCLAr/UNESP/M) brendondiogo@hotmail.com Or. Prof. Dr. Fernando Brandão dos SANTOS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Tragédia Grega; Representação; Recepção. Pretendo pesquisar o trágico no teatro brasileiro, principalmente as montagens contemporâneas da tragédia grega no Brasil, para tentar entender, à luz da teoria da recepção dos Clássicos postuladas por Fiona MacIntosh, Lorna Hardwick, Edith Hall, Anastasia Bakogiani, Simon Goldhill, entre outros estudiosos da teoria da recepção. Como suporte teórico para análise dos textos a serem debatidos em minha dissertação a exemplo de: Édipo Rei representada em 2012 no Espaço Sesc, Mata teu pai, adaptação de Medeia, encenada em 2017 e Antígona, também encenada em 2017, me utilizarei da semiologia teatral e os estudos de Kowzan a respeito dos sistemas de significação do espetáculo teatral, do mesmo modo, irei recorrer à semiótica de Ubersfeld para a compreensão dos signos, da representação teatral e no que mais for necessário. Tendo em vista que pesquisadores a exemplo de Daisi Malhadas, Fernando Brandão dos Santos, entre outros estudiosos que fizeram levantamentos a respeito da representação do teatro grego no Brasil, principalmente a partir dos anos 1960. Desse modo, parto também dos estudos estabelecidos por Gilson Motta, a respeito do espaço da tragédia grega representada no Brasil na cena contemporânea. Terei como foco para a minha abordagem sobretudo as representações de Édipo Rei (2012) Mata teu pai (2017) e Antígona (2017) uma vez que pretendo dar continuidade aos trabalhos publicados sobre a representação da tragédia grega no Brasil. O FUTURISMO IRÔNICO DE ÁLVARO DE CAMPOS Camila SABINO (FCLAr/UNESP/M) ccamila.sabino@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro FERNANDES (FCLAr/UNESP) mailto:brendondiogo@hotmail.com mailto:ccamila.sabino@gmail.com 80 Palavras-chave: Álvaro de Campos; ironia; vanguardas europeias. O presente projeto tem por objetivo analisar como foi configurada a vanguarda futurista na obra de Fernando Pessoa, especialmente na poesia do heterônimo Álvaro de Campos, cujos textos são interpretados por uma quantidade significativa de críticos como sendo efetivos representantes de uma estética futurista. O movimento futurista teve seu início em 1909, quando seu fundador Filippo Tommaso Marinetti publica no jornal francês Le Figaro seu primeiro manifesto. Para Marinetti e seus seguidores, o futurismo era a nova expressão estética capaz de refletir todas as transformações do início do século XX, como o avanço técnico-científico e as novas formas de comunicação e transportes. Eles acreditavam numa arte agressiva para combater o passado, exaltavam a vida moderna e as metrópoles e faziam o culto à velocidade e às máquinas. Assim, Campos por ser o poeta do mundo moderno, das grandes cidades, das máquinas e das guerras apresenta alguns aspectos relevantes desta vanguarda. Seus poemas exteriorizam todas as sensações do mundo frenético celebrado pelos futuristas, numa poesia que segue uma forma livre, com tom agressivo e vertiginoso obtido por meio de procedimentos que privilegiam as imagens fortes, o discurso caótico, com várias interjeições, exclamações e onomatopeias. Mas, apesar da aproximação com esta vanguarda, Campos não adere ao futurismo. Ao analisarmos os poemas nos quais percebemos o uso que o poeta faz dos elementos formais e temáticos próprios da estética futurista, verificamos também que a apropriação de elementos temáticos e formais pelo heterônimo de Pessoa é sempre acompanhada de muita ironia e de uma crítica bastante ambígua, mas muito contundente, contra as pregações promovidas pelos futuristas italianos. Campos é um poeta marcado por uma profunda dor de existir e pela fragmentação interior, que representa o homem moderno dilacerado pela própria realidade. A sua poesia, longe de expressar celebração do mundo moderno, expressa a angústia e o niilismo do sujeito lírico mergulhado em um mundo decadente e opressor. Pela perspectiva da teoria e da crítica literária buscamos compreender, assim, de que forma esses três elementos (despersonalização, ironia e vanguarda futurista) estão articulados nos poemas e nos textos teóricos de Campos. O corpus da pesquisa contará, em princípio, com poemas que corroboram o tema tais como Tão pouco heráldica a vida, Ode Triunfal, Ode Marítima, Ode Marcial, Saudação a Walt Whitman, A passagem das horas, A partida, Arco do triunfo, Marinetti acadêmico e o Ultimatum. Deste conjunto selecionado previamente sairão os textos a serem analisados. MACHADO DE ASSIS E GUY DE MAUPASSANT, DOIS AUTORES MARCADOS PELO RISO TORTO. Clarissa Navarro Conceição LIMA (FCLAr/UNESP/D) clarissa_cla@hotmail.com Or. Profa. Dra. Andressa Cristina de OLIVEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Machado de Assis; Maupassant; Literatura Comparada. Machado de Assis e Guy de Maupassant: contemporâneos do século XIX e pertencentes a mesma corrente realista-naturalista, cada um retratou, à sua maneira, além da sociedade de seu país, a condição humana: o que há dentro do homem de mais mesquinho, cruel, baixo, contraditório e, muitas vezes, incompreensível. Seus contos têm grandes semelhanças no trato do comportamento humano. Ambosviveram em meio às ideias em voga da época: o positivismo, o cientificismo e o naturalismo, e se mailto:clarissa_cla@hotmail.com 81 assemelham, ainda, na rejeição de muitas delas. São irônicos, ácidos e semelhantes na postura fatalista perante a vida e o homem. Maupassant e Machado não querem reformar os valores da sociedade ou mudar a natureza humana, mas escancarar a condição humana. Os objetivos desta pesquisa são analisar como a ironia é construída nos contos, como perpassa os elementos do texto e produz seus efeitos de sentido; analisar o distanciamento irônico e o humeur railleuse dos autores e, ainda, analisar a mimèsis, a construção coerente do real, a elaboração da verossimilhança nos textos. Este trabalho também visa discorrer sobre o realismo na França e o realismo no Brasil, apontando suas semelhanças e diferenças, além da recepção do realismo no Brasil; discorrer e analisar o Realismo diferenciado dos autores, uma vez que fogem, muitas vezes, dos preceitos desta Escola e partem de um modo próprio de criação; analisar as correlações entre os temas: loucura, miséria, crueldade, entre outros, com os panos de fundo da escravidão e da guerra e com as sociedades do século XIX na França e no Brasil e, por fim, analisar a posição e a intromissão do narrador/autor em ambos os autores. A pesquisa é essencialmente bibliográfica e teórico-analítica. Partimos da leitura e análise de contos de Maupassant e de Machado de Assis, focando a estrutura e suas relações com a História, com o Homem e com a Ironia. Para análise e aprofundamento teóricos iniciais, utilizaremos as obras dos estudiosos Bosi, Candido, Gledson, Schwarz, Compagnon, Adorno, Aristóteles, Auerbach, Muecke, Alleman, Elgozy, entre outros. AS FACES DE SATURNO: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES MELANCÓLICAS NA POESIA DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS E NA DE PAUL VERLAINE Cristovam Bruno Gomes CAVALCANTE (FCLAr/UNESP/D) cbgc13@hotmail.com Or. Prof. Dr. Adalberto Luis VICENTE (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Melancolia; Paul Verlaine; Alphonsus de Guimaraens. O que se apontou como melancolia no passado, hoje, após o desenvolvimento das ciências médicas, sabemos tratar-se de uma gama de disposições psíquicas disfóricas que podem ter as mais diversas origens, o que revela a amplitude e a complexidade do conceito. No entanto, a partir das análises e dos apontamentos feitos por Jean Starobinski, por Sigmund Freud, por Julia Kristeva e por Moacyr Scliar sobre o chamado sentimento ou temperamento melancólico, termo genérico usado para designar vários estados de disposições anímicas negativas, este projeto de pesquisa tenciona identificar, por meio de análises temáticas e estilísticas sugeridas por alguns desses críticos, como essas disposições disfóricas se formalizam nas obras Poèmes saturniens, Fêtes galantes, La Bonne chanson, Romances sans paroles, Sagesse e Jadis et naguère do autor francês Paul Verlaine, nome emblemático para o Decadentismo e o Simbolismo francês, e nas obras Dona Mística, Setenário das dores de Nossa Senhora, Câmara ardente, Kiriale, Pauvre lyre, Pastoral aos crentes do amor e da morte, Escada de Jacó, Pulvis e Salmos da noite do poeta brasileiro Alphonsus de Guimaraens, grande expoente do Simbolismo no Brasil. A partir da busca pela identificação de traços na expressão poética que remetem ao tema, avaliar-se-á se a caracterização das duas poéticas como melancólicas pela historia literária é justificável. A escolha de comparar a obra de ambos é resultante de recorrentes afinidades temáticas sugeridas pela crítica literária brasileira, o que rendeu por vezes a Alphonsus de Guimaraens o epíteto de “Verlaine brasileiro”. Partindo-se da identificação dos procedimentos comuns aos dois poetas no que concerne ao tema e à sua forma de expressão, buscar-se-á examinar, pela mediação dessa mailto:cbgc13@hotmail.com 82 temática, os pontos convergentes e os divergentes entre as duas poéticas, revelando o modo como esses dois autores constituem-se como vozes originais no contexto simbolista. Também será possível, assim, compreender de que maneira essas poéticas dialogam com a estética romântica, que, sobremaneira, foi marcada pela nostalgia e, por vezes, pela negatividade. TRADUÇÃO LITERÁRIA: DA PONTE AO ABISMO – UM ESTUDO DE TRADUÇÃO POR MEIO DA LITERARIEDADE Dalila Silva Neroni JORA (FCLAr/UNESP/M) dalilajora@gmail.com Or. Profa. Dra. Andressa Cristina de OLIVEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: estudos de tradução; tradução comparada; literariedade. Publicado em 1831, Notre-Dame de Paris teve o título modificado para O corcunda de Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame) após sua tradução para o inglês em 1833. A mudança, além de não agradar a Hugo, alterou o principal foco da obra e a inversão, que parecia inocente, criou um abismo na formação imagética dos leitores da versão traduzida deste romance. Ao transferir o protagonismo a Quasimodo, automaticamente, o núcleo da narrativa muda e o olhar do leitor passa a ser guiado, sobretudo, por esta personagem, relegando a catedral apenas como mero cenário onde se dá a narrativa. Desta forma, a tradução, que, metaforicamente, se apresenta como uma ponte, cuja finalidade é auxiliar leitores que não possuem conhecimento de uma determinada língua e cultura na travessia de uma margem a outra, figura-se, aqui, perigosamente, como sorvedouro cultural. Em sua tradução, a catedral é posta em segundo plano e o objetivo politizado do romance de Hugo perde, desta maneira, um pouco de sua força. Partindo disto, o presente trabalho objetiva realizar uma análise descritiva e crítica, comparando alguns capítulos previamente escolhidos de duas versões brasileiras entre si e com a obra original de Victor Hugo, a fim de refletir sobre a natureza do texto original e as proximidades e distâncias dos textos derivados. Ressaltaremos, também, o lugar de Victor Hugo e do romance Notre-Dame de Paris em seu contexto estético e histórico a partir da fortuna crítica de Victor Hugo e do Romantismo na França. O desenvolvimento desta pesquisa tem como ponto de partida a tradutologia aplicada à versão de obras literárias. Resulta oportuno destacar que a tradução é em grande parte estudada, analisada e teorizada por meio de um viés linguístico, abordagem que não proporciona dimensão literária. Como resultado destas considerações, depreendemos a importância de investigar a tradução por meio da literariedade. MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE EM DIÁRIO DE BITITA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS Daniela de Almeida NASCIMENTO (FCLAr/UNESP/M) adanielanascimento@gmail.com Or. Prof. Dr. Paulo César Andrade da SILVA Palavras-chave: identidade; literatura negro-brasileira; memória. mailto:dalilajora@gmail.com mailto:adanielanascimento@gmail.com 83 Este trabalho propõe um estudo analítico da construção da identidade em Diário de Bitita (1986), enquadrando-o na tradição da literatura afro-brasileira. Essa conformação teórica, por si só, abala a noção de uma identidade nacional una e coesa (DUARTE, 2005). Publicado postumamente, a narrativa da escritora Carolina Maria de Jesus oferece uma leitura da história sob uma perspectiva rara na literatura brasileira: a infância e juventude de uma mulher negra, que desafiou e superou imensas adversidades para existir desde seu nascimento numa pequena cidade de Minas Gerais, Sacramento, seu êxodo e errância por cidades mineiras e paulistas do interior, até a sua chegada a cidade de São Paulo. As memórias de Diário de Bitita são tão individuais quanto são coletivas, um “eu-que-se-quer-negro”: trata-se da vida e da formação da autora- narradora e é a história daqueles que ficaram circunscritos às margens do desenvolvimento e do “progresso” do país. Há um empenho em resgatar uma memória negra esquecida, cuja marca na escrita é a ruptura com contratosde fala e de escritura ditados pelo mundo branco (BERND, 1988). Cronologicamente anterior aos seus primeiros dois livros autobiográficos, Quarto de despejo (1960) e Casa de alvenaria (1961), Diário de Bitita, apesar do título, situa-se nas fronteiras entre memórias e autobiografia e integra o que reconhecemos ser um projeto literário idealizado, indicativo de uma busca por coerência e globalidade no qual Carolina de Jesus coloca- se como a autora da sua própria história, construindo, textualmente, sua identidade como escritora, mulher negra, brasileira, mas também como herdeira e participante de uma tradição ancestral africana. Pretende-se, então, uma análise da construção dessa identidade mediante o diálogo que a narrativa estabelece entre literatura, memória e história, o individual e o coletivo em quatro esferas: 1) a da autoria; 2) a do ponto de vista; 3) a da temática e 4) a da discursividade. O aporte ideológico de Diário de Bitita é exatamente essa relação entre literatura, memória e história por meio da qual a autora- narradora constitui-se sujeito situado historicamente. ENTRE LITERATURA E SOCIEDADE: A CRÍTICA LITERÁRIA DE ANTONIO CANDIDO E ROBERTO SCHWARZ Elvis Paulo COUTO (FCLAr/UNESP/M) coutoelvis@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Maria Célia de Moraes LEONEL (FCLAr/UNESP) Coo-or. Prof. Dr. Antonio Ianni SEGATTO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Antonio Candido; Roberto Schwarz; crítica literária. Objetiva-se avaliar os critérios de análise de texto de certa crítica literária que se propõe dialética. Trata-se de uma pesquisa dos métodos utilizados por Antonio Candido nos ensaios “Dialética da malandragem” e “De cortiço a cortiço” e por Roberto Schwarz em Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. Apesar de Schwarz ser visto por Leopoldo Waizbort e Alfredo de Melo como um continuador do trabalho de Candido, nossa pesquisa focalizará uma possível descontinuidade entre os autores: Nossa hipótese é a de que a crítica de Schwarz ao romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, se alinha à de Theodor W. Adorno sobre o drama de Samuel Beckett, pois ambas colocam em prática o método dialético de exposição segundo a acepção hegeliano-marxista. Por outro lado, a crítica de Candido aos romances Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresenta um modo dialético de exposição desvinculado do hegelianismo, cuja formulação heterodoxa de Candido se baseia na ideia de generalidade das relações sociais como constituinte dos “pressupostos de fatura”. mailto:coutoelvis@yahoo.com.br 84 Partiremos da análise de uma carta que Adorno escreveu a Benjamin em 1938, na qual aquele aponta as falhas relativas ao emprego da dialética na interpretação que este faz da poesia de Charles Baudelaire. Acreditamos que as objeções assinaladas por Adorno servirão de fundamento para que caracterizemos como opera, no campo dos estudos literários, a dialética hegeliano-marxista, da qual tanto o filósofo alemão como Schwarz seriam adeptos. Em seguida, faremos uma leitura imanente dos referidos ensaios de Candido, a fim de examinar o funcionamento da dialética da ordem e da desordem e da dialética do espontâneo e do dirigido. Buscaremos também compreender, por meio do texto “Duas vezes ‘A passagem do dois ao três’”, no qual Candido discorre sobre questões de método, aquilo que o autor compreende como dialética. Nosso trabalho será fazer, por conseguinte, a crítica da crítica — ou a metacrítica —, pois queremos distinguir as diferenças de método na leitura de romances brasileiros realizada por dois críticos que optaram, desde o início de sua trajetória intelectual, por ver a obra como parte integrante do mundo, sem incorrer no chamado sociologismo. ESPAÇO ROMANESCO E ESPAÇO CINEMATOGRÁFICO: A ARQUITETURA E AS IDENTIDADES DO LUGAR EM VALE ABRAÃO Fernanda Barini CAMARGO (FCLAr/UNESP/D) fernanda.barini.camargo@gmail.com Or. Profa. Dra. Renata Soares JUNQUEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Espaço; Agustina Bessa-Luís; Manoel de Oliveira. O longevo cineasta português Manoel de Oliveira ficou conhecido na pelas suas originais transposições de textos literários para o cinema. Dentre as suas mais produtivas parcerias está a da prolífica escritora Agustina Bessa-Luís, nortenha também ela. União criativa conflituosa, entre os laços compartilhados pelos artistas estão memórias do Douro, da tertúlia intelectual e de uma convergência de valores artísticos. O realizador e a romancista mostraram predileção por retratar a região que cerca o rio Douro, onde viveram. Conduziram os olhares de seus espectadores e leitores ao Porto, Lamego, Vila Real, Régua, Vila do Conde e às margens do rio de “sua aldeia”. O espaço é, deste modo, chave para uma análise que se proponha a estudar as possibilidades interpretativas engendradas pelo texto cinematográfico e literário de cada um dos artistas, a quem importou construir um retrato duriense, da sua geografia, da sua arquitetura, do seu contexto urbano e, sobretudo, rural, fortemente marcado pelas figuras das casas, quintas e solares. Esta reflexão se mostra ainda mais fecunda quando incide sobre a robustez semântica que apresentam tais ambientes à luz das personagens ficcionais e históricas que neles transitam: o tipo de geografia e residência onde vivem, a caracterização (sintática e semântica) desses espaços, as demais identidades que ali habitam, as práticas sociais e culturais ali estabelecidas, e os objetos que os cercam. Isto posto, o que se traz aqui é o desenvolvimento de uma investigação que se apoie em estudos dedicados ao espaço enquanto componente narrativo literário e cinematográfico, considerando processos de adaptação, com o objetivo de, numa ponta, arquitetar as relações entre as experiências vividas por Oliveira e Agustina no Douro, bem como das faces ficcionais desse mesmo Douro em objetos artísticos distintos e, noutra ponta, tecer uma reflexão consistente acerca dos recursos mobilizados pela literatura e pelo cinema para a orquestração de funções estéticas e semânticas do espaço. Para tal fim, escolheu- se como corpus de análise, uma obra fulcral dentre as produzidas por Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís: Vale Abraão, longa-metragem (1993) e romance homônimo (1991), cujo fio diegético percorre cinco quintas: o Romesal, a quinta de mailto:fernanda.barini.camargo@gmail.com 85 Vale Abraão, a quinta do Vesúvio, a Caverneira e a quinta das Jacas, espaços singulares tanto para o adensamento semântico da narrativa e de suas personagens quanto para um retrato do Douro rural, que sofre mudanças sociais e econômicas devidas à globalização e às transformações do Portugal pós- Revolução dos Cravos (1974). A DESARTICULAÇÃO DO MONOMITO DO HERÓI EM BEOWULF Gabriela Carlos LUZ (FCLAr/UNESP/M) gabrielacarlosluz@gmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Beowulf; monomito; literatura inglesa. O poema Anglo-Saxão Beowulf, de autor e data desconhecidos, narra a história do personagem homônimo, que parte em uma jornada com seus companheiros para livrar a tribo germânica dos Danos de um monstro chamado Grendel e efetivamente conquistar seu lugar de herói. Ao final do poema, em sua segunda parte, vemos Beowulf como um rei velho, cuja missão é livrar seu próprio povo, a tribo dos Getas, dos perigos de um dragão. Beowulf e sua missão se tornam ícones do heroísmo germânico e nórdico, mas seus caminhos e escolhas revelam um herói clássico com uma dimensão mais profunda do que se foi pensada anteriormente pela crítica especializada. O foco dado aos seus últimos momentos como rei velho aponta que o autor anônimo talvez não pretendesse apenas contar ao leitor sobre a jornada de um grande herói, mas mostrar os perigos que o temperamento impulsivopode causar a uma sociedade quando os deveres de um rei não são cumpridos em razão de sua impulsividade. Enquanto personagem, Beowulf se encaixa historicamente na figura de um herói tradicional clássico, porém os estudos feitos até agora nos mostram não só um herói com uma moral diferente do que se esperava encontrar na época em que fora composto, mas também um personagem cujos atos se assemelham aos de heróis ficcionais românticos e modernos. Analisando a figura do herói encontramos algumas incompatibilidades no que é considerado o modo tradicional dos heróis serem representados em obras equivalentes a um mito de certa sociedade, neste caso, a germânica. Partindo de estudos já feitos à respeito da figura do herói, especialmente o monomito proposto por Joseph Campbell em O Herói de Mil Faces (1949), trabalharemos como a figura única que é vista em Beowulf se distancia de uma forma relevante aos estudos de personagens clássicos pela crítica especializada. Sendo um personagem anterior ao período medieval, Beowulf levanta a questão de sua classificação como herói tradicional clássico, cuja investigação é o objeto da pesquisa que ora se propõe. DE CORISCO A COIRANA: EUFORIA E DISFORIA NO CINEMA ÉPICO DE GLAUBER ROCHA Geisa Cristina SEMENSATO (FCLAr/UNESP/M) geisasemensato@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Renata Soares JUNQUEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: cinema épico, Glauber Rocha, O dragão da maldade contra o santo guerreiro. mailto:emaildoaluno@email.com.br mailto:geisasemensato@yahoo.com.br 86 O cinema do brasileiro Glauber Rocha (1939-1981) produziu-se em duas fases distintas: antes e depois do golpe militar de 1964 no Brasil. Inspirados pelo neorrealismo italiano na sua reação aos artifícios ilusionistas do cinema industrial produzido em Hollywood, cineastas independentes deram origem, na França, à Nouvelle Vague, encabeçada por François Truffaut e Jean-Luc Godard. No Brasil, Glauber Rocha criou, no Cinema Novo, um cinema independente que desde logo se distinguiu daquele produzido na França pela sua explícita e urgente intenção política, bem como pela sua autoconsciência de cinema terceiro-mundista, alcançando assim, por notória originalidade, repercussão internacional ao mesmo tempo em que estimulava, no próprio cinema brasileiro, manifestações igualmente combativas e originais. A fase pré- 64, que inclui os longas-metragens Barravento (1961) e Deus e o diabo na terra do sol (1964), caracteriza-se estética e politicamente por uma excitação que ora chamamos euforia revolucionária; a fase pós-64, que ainda na década de 1960 ficaria bem marcada pelos filmes Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), é reveladora, por sua vez, de uma desolação nomeada aqui por disforia política que, segundo a nossa leitura, se traduz no discurso cinematográfico em termos de uma sensível inflação das alegorias de que o cineasta habitualmente fazia uso. Este projeto propõe uma abordagem interdisciplinar dos filmes de 1964 e 1969, que serão analisados e interpretados à luz da teoria brechtiana do teatro épico. Se a melhor crítica especializada tem demonstrado que todo o cinema novo de Glauber Rocha se constrói segundo os mesmos princípios de disjunção formal e descontinuidade diegética que Brecht preconizava no teatro, então é preciso identificar e analisar os procedimentos formais específicos que fazem de O dragão da maldade contra o santo guerreiro uma narrativa disfórica, sendo embora um filme que também versa sobre o sertão nordestino e o cangaço, já antes glosados pelo cineasta baiano no eufórico Deus e o diabo na terra do sol. EMILY DICKINSON E MANUEL BANDEIRA: UM DIÁLOGO ENTRE POETAS Gilliale de Souza JEREMIAS (FCLAr/UNESP/M) gillialedesouza@gmail.com Or. Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Literatura comparada; Poesia; Tradução. O ato de traduzir determinado texto implica uma parte substancial da cultura e subjetividade daquele que se predispõe ao exercício da tradução, isto é, do tradutor. Emily Dickinson, poetisa norte-americana do século XIX, foi autora de uma poesia que estava às margens do movimento literário então vigente, tendo sido introduzida à Língua Portuguesa pela tradução inaugural de apenas cinco de seus poemas por Manuel Bandeira que, ao selecioná-la, traduzi-la para a nossa língua e introduzi-la aos nossos leitores, sente-se contemplado na poesia de Dickinson através de sua intuição criadora enquanto tradutor. Nascidos em tempos diferentes e influenciados por autores distintos, mesmo que ambos os poetas estejam temporal e culturalmente distantes, vislumbramos, através da obra de ambos, poetas que se emparelham por seus temas e estilo. O esmorecimento e a morte elucidados por um estilo coloquial-irônico simbolizam o cotidiano de forma irônica, quase jocosa, e de maneira que a linguagem empregada por ambos esteja tão livre, irregular e cheia de consciência que, através do seu traço irônico, tanto Dickinson quanto Bandeira fazem uso de traços simbolistas, inicialmente, mailto:gillialedesouza@gmail.com 87 empregando seus próprios significados ante a efemeridade da vida, mas avançam rumo a uma poesia de consciência, vale dizer, uma poesia irônica que corrobora com a inclusão de Emily Dickinson na modernidade e a irmana com Manuel Bandeira. O presente trabalho tem por objetivo demonstrar as intersecções entre a poesia de Emily Dickinson e Manuel Bandeira partindo de seus recursos estilísticos e temáticos, além de elucidar os aspectos da tradução do poeta brasileiro enquanto tradutor. O estilo coloquial-irônico e as recorrentes temáticas de esmorecimento e morte são traços igualmente presentes em Dickinson e Bandeira durante a sua criação poética em suas particularidades enquanto poetas e, mais especificamente neste estudo, na atividade de tradução e recepção de Emily Dickinson no Brasil por Manuel Bandeira no começo do século XX. “DAFNE E APOLO” NAS METAMORFOSES DE OVÍDIO À LUZ DA SEMIÓTICA FIGURATIVA Ingrid Moreno FERREIRA (FCLAr/UNESP/M) ming.fcl@gmail.com Prof. Dr. Márcio N. THAMOS (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Poesia latina; Ovídio; semiótica figurativa. O presente trabalho procura explorar a figuratividade poética no texto latino, com bases no instrumental teórico que a Poética e a Semiótica Literária nos fornecem, tendo como corpus o episódio de “Dafne e Apolo”, que compõe a obra Metamorfoses (livro I, 452 – 567), de autoria de Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.), considerado um dos maiores poetas da Roma Antiga. As Metamorfoses são um longo poema escrito em hexâmetros datílicos, dividido em quinze livros, que narra cronologicamente a mudança na forma de homens, de animais, de plantas e minerais, resgatando, de modo lúdico e dinâmico, origens mitológicas da natureza que o autor tece literariamente. Trata, portanto, do surgimento dos elementos que compõem o mundo e da transformação ocorrida com diversos seres mitológicos em uma narrativa contínua. No trecho selecionado para a investigação, conta-se o primeiro amor de Apolo, que desencadeou uma perseguição a Dafne, filha do rio Peneu. O deus é atingido por uma flecha de ouro de Cupido, apaixonando-se pela ninfa; ela, por sua vez, é atingida por uma flecha de cobre e o rejeita. Há, com isso, uma perseguição e a ninfa, tentando fugir, suplica ajuda a seu pai quando Apolo a está alcançando; a narrativa se encerra com ela sendo transformada, pelo seu pai, em loureiro. Por meio de estudos acerca dos processos de figuratividade do discurso (quando um tema é revestido por figuras semióticas), a pesquisadora propõe uma investigação da narrativa, explorando-a a fim de que, sem esgotar o assunto, sejam identificados expedientes de iconicidade, que proporcionam os efeitos de ilusão referencial. Como resultado dessa investigação, pretende-seproduzir um discurso metalinguístico para se reconhecer os recursos da figuratividade poética determinantes da expressão. Ademais, para maior aprofundamento da análise e como base no desenvolvimento do trabalho, será produzida uma tradução de estudo (literal), com notas de referência e comentários acerca da cultura (sociedade, mitologia, história, geografia, filosofia etc.). OUTRAS MACABÉAS: MULHERES NORDESTINAS E DESLOCAMENTO EM DOIS ROMANCES DE MARILENE FELINTO mailto:emaildoaluno@email.com.br 88 Isabela Cristina do NASCIMENTO (FCLAr/UNESP) nascimentoisabelacristina@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Juliana SANTINI (FCLAr/UNESP) Palavras- chave: deslocamento, narrativa contemporânea, mulheres nordestinas. Este trabalho tem por objetivo analisar o modo como o deslocamento das protagonistas dos romances As mulheres de Tijucopapo (1982) e O lago encantado de Grogonzo (1987), de Marilene Felinto, atua na construção de suas identidades, problematizando, assim, a relação que se cria entre o espaço do sertão e o espaço da metrópole nas narrativas e atrelando essa discussão a um questionamento sobre o lugar ocupado pela mulher nas relações sociais e intersubjetivas no sertão contemporâneo. O trabalho parte da hipótese de que as personagens da autora apontam para uma nova perspectiva de representação da mulher nordestina em deslocamento na literatura brasileira, vinculada – ou não – a um domínio narrativo (voz e focalização) que interfere em sua composição. A jornalista e escritora brasileira Marilene Felinto, que em 1970 migrou de Pernambuco para São Paulo, cria no mundo ficcional dos dois romances personagens femininas coléricas nos sentimentos e palavras, com experiências de vida marcadas pela fragmentação e busca da identidade. Diferentemente do que já foi verificado nas obras regionalistas dos anos 30 sobre a migração nordestina e suas motivações – como a seca, a miséria e a fome – a mobilidade de personagens nordestinas que surge nas produções contemporâneas envolve, para além dos problemas geográficos e sociais, outros estímulos, outras vozes e outras nuances de significado. Os anseios, o sentimento de não-pertencimento e a revolta das personagens felintianas são desencadeados pelo deslocamento que compõe suas trajetórias de vida: saem do espaço de origem para um espaço outro e, no entanto, retornam. Neste fato reside uma dos aspectos norteadores deste trabalho: por que voltam? Segundo os estudos de Regina Dalcastagnè, a produção contemporânea avança com outros significados para a questão da retirada e retorno das personagens para as regiões agrárias de onde saíram. As mulheres que habitam os dois romances da autora pernambucana possuem, dentre outras semelhanças, o fato de realizarem o movimento regressivo: saem das metrópoles que as “criaram” em direção às suas origens, buscando respostas – ou não – para suas inquietações e memórias. Falar de personagens femininas e mobilidade na literatura é unir pontos antagônicos – já que grande parte dessas personagens permanece imóvel – que juntos envolvem a representação da transgressão, opressão, preconceito, coragem e protagonismo feminino. O projeto ainda permitirá o aprofundamento em narrativas e personagens que, por vezes, foram colocadas às margens da crítica literária. TERENTIANUS DE LITTERA, DE SYLLABA, DE PEDIBUS: ESTUDO CRÍTICO E TRADUÇÃO ANOTADA Isabela Maia Pereira de JESUS (FCLAr/UNESP/M/CAPES) isabelamaiapj@gmail.com Or. Prof. Dr. João Batista Toledo PRADO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Terentianus Maurus. Poética Clássica. Literatura Técnica. Este estudo se concentra na leitura e análise da obra Terentianus de littera, de syllaba, de pedibus, do autor latino Terenciano Mauro (TM). Caracteriza-se por ser um tratado técnico que tem por objetivo analisar e descrever os principais conceitos relacionados à métrica clássica greco-latina, bem como demonstrar e utilizar como modelos os mailto:nascimentoisabelacristina@yahoo.com.br mailto:isabelamaiapj@gmail.com 89 mecanismos de composição empregados por poetas latinos renomados. Ressalta-se que a obra é versificada e composta, em geral, em hexâmetros latinos. Diz-se “em geral”, pois o gramático alterna a metrificação ao longo do tratado. Observa-se que o emprego de versos e suas variações na produção de um tratado de natureza técnica são características que parecem se distanciar da tradição. Além disso, são indícios de que o autor se dedica de modo singular à composição formal do texto. Assim, esta pesquisa procura compreender a função que os recursos expressivos empregados por TM, atrelados aos demais elementos textuais, exercem sobre a unidade de sentido do tratado. Essa característica revela-se como um aspecto performativo e metalinguístico, pois a matéria de estudo se concretiza no momento em que o autor compõe aplicando preceitos que descreve e analisa. Não há dúvidas de que a obra de TM se define como um texto técnico, uma vez que ele próprio demonstra ter consciência disso em seu prefácio. No entanto, ainda que o objetivo do artígrafo latino seja ensinar conceitos técnicos para a composição poética, não significa que não possa haver ali nenhum elemento poético nem recurso expressivo, como se pode observar na escolha estilística do tratado. Desse modo, procura-se compreender o espaço que a obra ocupa dentro do gênero técnico, analisando suas principais características que contribuem para o entendimento da Poética Clássica, a partir da perspectiva de um autor latino. Ademais, também propõe-se neste estudo a tradução completa da obra em vernáculo, de modo que seu intuito não consiste em torná-la equivalente à forma do texto, mas em apresentar uma leitura e uma possibilidade de expressão em vernáculo português. UMA FRUIÇÃO NO DESASSOSSEGO: O SUBLIME E O TRÁGICO NA TRAGÉDIA DE FRIEDRICH SCHILLER Isabella Gonçalves VIDO (FCLAr/UNESP/D) isa.g.vido@gmail.com Or. Profa. Dra. Karin VOLOBUEF (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: sublime; trágico; Friedrich Schiller. Resumo: Poeta e dramaturgo de considerável importância para a literatura alemã do século XVIII, Friedrich Schiller foi também o autor de uma série de ensaios sobre as artes e a estética. Tendo-se dedicado sobretudo a estudos sobre as obras dramáticas e ao potencial emancipatório nas artes, Schiller acreditou que a íntima relação entre a categoria do sublime e seu efeito trágico concede à tragédia o apanágio de exercer decisivas influências sobre o aprimoramento do ser humano. À medida que o escritor ampliou de modo próprio os conceitos filosóficos circulantes em seu tempo, as noções concernentes ao sublime que se popularizaram entre os autores românticos – herança da filosofia crítica de Immanuel Kant – transformaram-se, no ateliê filosófico de Schiller, no “sublime patético”, que representa, através da ficção, o sofrimento do personagem que nos atinge em afeto e em consciência da própria liberdade. Igualmente, evidencia-se em artigos teóricos de nosso autor – a exemplo daqueles editados em 1792, “Acerca da razão por que nos entretêm assuntos trágicos” e “Sobre a arte trágica”, que versam sobre os desdobramentos da experiência trágica no espectador da peça teatral, bem como questões teóricas do teatro, ou ainda, artigos lançados mais tarde, como “Sobre o patético” (1793) e “Sobre o sublime” (1801) –, a ultrapassagem do trágico conforme esteve presente no panorama da reflexão teórica e crítica sobre as artes para alcançar temas tão caros ao pensamento como a vida, a existência e a história. Pronto que estava a buscar, na filosofia à qual vinha se dedicando, ferramentas teóricas capazes de se converter no aperfeiçoamento de sua confecção poética, o autor caracterizou-se pelo mailto:isa.g.vido@gmail.com 90 aproveitamento de conteúdos prementemente filosóficos em sua poesia, (“O ideal e avida”, “O poder do canto”, etc.), na narrativa d’ O visionário (1787) e, sobretudo, nas peças teatrais de sua fase clássica, dentre as quais devem-se destacar Maria Stuart (1800), A donzela de Orleáns (1801) e Guilherme Tell (1803-4). A fim de compreender as contribuições do autor à fundamentação estética da modernidade, nosso trabalho busca pôr em contato o sublime e o trágico tal como nos são apresentados em quatro artigos compreendidos na Teoria da tragédia de Friedrich Schiller e destacar a forma que eles adquirem na economia de Maria Stuart. CÍNTIA MOSCOVICH, LEITORA DE LAÇOS DE FAMÍLIA DE CLARICE LISPECTOR Jéssica Ciurlin SILVA (FCLAr/UNESP/M) jessicacirlin@hotmail.com Or. Prof. Dr. Luiz Gonzaga MARCHEZAN (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Clarice Lispector, Cíntia Moscovich, Laços de família. A presente pesquisa busca mostrar as afinidades existentes entre os contos de Clarice Lispector e Cíntia Moscovich. Para isso, selecionamos seis contos, sendo quatro deles de Lispector – Os laços de família, Uma galinha, A legião estrangeira e Amor – e dois de Moscovich – Os laços e os nós, os brancos e os azuis e O telhado e o violinista. Para a seleção dos contos levamos em consideração as narrativas de Cíntia que abordam os mesmos temas e figuras que a de Clarice. O objetivo da pesquisa é analisar a maneira como Cíntia Moscovich retoma, em suas narrativas, como nas circunstâncias comuns do cotidiano presente nos contos Laços de família e A legião estrangeira, temas e figuras que sustentam, nas histórias das ficcionistas, epifanias encenadas em meio aos fatos banais vividos. Para isso, discutimos a noção de interdiscursividade presente no capítulo Polifonia Textual e Discursiva, do livro Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade, em que José Luiz Fiorin discute a noção de Bakhtin de que textos e discursos não se produzem por eles mesmos, mas sim diante de outros textos e discursos. As vozes de um discurso sempre ressoam em noutros. Dentro dessa ideia, Fiorin desenvolve a noção de interdiscursividade, que segundo o estudioso é o processo em que um texto incorpora temas e figuras de outro texto. Assim, pela análise dos contos, podemos observar que Cíntia Moscovich retoma os mesmos temas e figuras já desenvolvidos por Clarice Lispector em suas narrativas. Os temas e figuras retomados são diversos. Em O telhado e o Violinista, Cíntia recupera o tema desenvolvido por Clarice em Uma galinha: a relação entre humanos e animais. Moscovich resgata as mesmas figuras utilizadas por Lispector: a da galinha, do ovo, dos membros da família. Ainda no conto O telhado e o violinista, Cíntia retoma a figura da garotinha maldosa que mata o pintinho, presente no conto A legião estrangeira de Clarice Lispector. Em Os laços e os nós, os brancos e os azuis, o tema retomado é o distanciamento entre mãe e filha presentes em Os laços de família. Outra questão que será desenvolvida no decorrer da pesquisa: o assunto da epifania, próspero para os estudos da ficção de Clarice e Cíntia, uma vez que ambas trabalham com o temário da epifania a partir de acontecimentos comuns do cotidiano. A SÁTIRA NAS CRÔNICAS LIMABARRETIANAS Jonatan de Souza SANTOS (FCLAr/UNESP/D) jonatan.souzasantos@gmail.com mailto:jessicacirlin@hotmail.com mailto:jonatan.souzasantos@gmail.com 91 Or. Profa. Dra. Juliana SANTINI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Crônica; Lima Barreto; Sátira. No presente trabalho, há o intuito de analisar a sátira nas crônicas de Lima Barreto, reunidas nos livros Feiras e Mafuás, Marginália e Vida Urbana. Desse modo, é possível verificar como o cronista carioca, também autor de Triste fim de Policarpo Quaresma, utiliza seu narrador para denunciar debilidades de uma realidade política e social brasileira, o mesmo estilo que serve de influência aos seus romances, além do já mencionado, Recordações do escrivão Isaías Caminha, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, Numa e a Ninfa. Este narrador limabarretiano não poupa sua acidez ao ridicularizar figuras que atuam no contexto político representado; por meio da ironia e da caricatura, os personagens e instituições são desmascarados em suas falhas, como se pode ver em “Histórias de Niterói”, “Efeitos da Lei Valetudinária”, “Queixa de Defunto”, “Os Cachorros da 'Barra'”, “Fala o Corvo”, “Projeto de Lei”, “Firmeza Política”, “A Fraude Eleitoral”, entre outras crônicas. Considerando essas observações, nota-se a intenção de Lima Barreto, como cronista satírico, em realizar obra literária de combate, como propunha no ensaio “O Destino da Literatura”, discurso de uma conferência que faria em Mirassol-SP, mas que não chegou a ser realizado; assim como nos romances e nos contos, sustenta seu projeto militante de arte, rompendo com padrões imitativos de uma imagem não condizente com a realidade problemática brasileira nos primeiros anos do século XX. É por isso que, nas crônicas limabarretianas, vê-se uma faceta não somente de um simples chamado “pré- modernista”, mas de um literato que ousou aplicar uma escrita de ruptura, prenunciativa em relação ao modernismo, ao trazer ao plano ficcional a realidade não mostrada pela tradição neoparnasiana e pela obra ornamentalista que vigorava, manifestando elemento de antecipação por meio da crítica social contida na sátira. É na postura satírica, militante e antecipadora de Lima Barreto cronista que concentra-se a atual pesquisa. LEITURA EM TELA: A RESSIGNIFICAÇÃO DO AUTOR FRENTE À LITERATURA DIGITAL Laura Nogueira PACHECO (FCLAr/UNESP/M) lauranpacheco@gmail.com Or. Profa. Dra. Rejane Cristina ROCHA (UFSCar) Palavras-chave: Literatura brasileira; Contexto Digital; Autoria. Com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação, o mundo tem se transformado e a cultura adquirido diversas nuances. A respeito das produções literárias no meio digital, muito se especula sobre o possível desaparecimento do livro, bem como as implicações advindas a partir desse novo suporte. Frente às novas possibilidades de se produzir literatura na contemporaneidade, o presente projeto tem como objetivo investigar de que modo a figura do autor tem se modificado no contexto digital e mapear os processos de concepção dialógicas presentes na relação entre autor e leitor durante a produção das obras escolhidas para compor o corpus. A fim de desenvolver essa análise, as proposições acerca da figura do autor explanadas por Barthes (2004) e Foucault (2009) serão usadas como referencial teórico inicial e, posteriormente, pretende-se trabalhar com a noção de dialogismo proposta por Bakhtin (2011) e, assim, pensar em uma relação não dicotômica entre leitor e autor. Ademais, as contribuições de Pierre Lévy (1999) acerca do conceito de Cibercultura servirão como base para 92 compreender a forma como os seres humanos têm se relacionado com o ambiente virtual e suas especificidades. Por fim, dois romances brasileiros produzidos em rede foram selecionados como objetos de análise para discussão aqui proposta, Os Anjos de Badaró (2000), de Mário Prata, escrito inteiramente online e acompanhado por milhares de internautas e Boa Noite (2016), de Pam Gonçalves, em que a autora compartilhou sua rotina de escrita com os seguidores do seu canal no Youtube. Além da análise bibliográfica, o projeto prevê um levantamento de dados acerca das condições de produção de ambos os romances, a fim de compreender os sentidos produzidos pelos sujeitos envolvidos nesse processo de concepção das obras. O recorte que aqui é dado mostra-se inovador, uma vez que a própria temática da Literatura Digital é um campo pouco explorado (se comparado às outras áreas) e os romances escolhidos também foram pouco investigados. VOZES VELADASSOB OS VÉUS DAS FILHAS DE ALÁ Luciléa Ferreira GANDRA (FCLAr/UNESP) Lucygandra.make@gmail.com Or. Profa. Dra. Maria Dolores Aybar RAMIRES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: literatura; mulheres; muçulmanas. Nosso projeto propõe-se ao estudo da literatura produzida por mulheres muçulmanas pois verificamos que apesar dos processos pós-modernos de globalização e suas consequentes mudanças nas estruturas sociais e culturais, as diferenças de tratamento e valorização permanecem. Diante disso, tomamos consciência de que para o discurso da história literária tradicional, a sociedade se baseia essencialmente na desigualdade entre os sexos e culturas e que, mesmo diante das mudanças nas estruturas sociais e/ou culturais, suas consequências são diferentes para homens e mulheres, ocidentais e orientais. Ainda que muito se tenha avançado, desde a segunda metade do século XX, na tentativa de desvendar o que seria uma escritura de autoria feminina ou um suposto texto que carregaria as marcas dessa feminilidade, a maioria dos estudos em nosso país limita-se a abordagens referentes às autoras ocidentais, com prevalência das brasileiras, seguidas pelas europeias e estadunidenses. Somente estudos recentes parecem abranger um olhar no sentido de se estender a outras partes do mundo, descobrindo, assim, a existência e a riqueza de produções literárias, principalmente de mulheres, em locais recônditos, impensáveis até então. Constatamos ainda, que nas sociedades contemporâneas ocidentais, o lenço/véu/hijãb tem assumido uma dimensão política e propiciado uma diversidade de narrativas sobre o Islão. Desse modo, ele se torna o véu- bandeira, o principal símbolo de opressão sobre as mulheres, dentro e fora da literatura e desmistifica-lo não contribui para analisar os discursos de normatividade social/religiosa, principalmente diante das diferentes versões do que é ser muçulmano. Assim, estamos nos propondo a ouvir essas vozes, as das muçulmanas e escritoras, mulheres que transgrediram as interdições a elas impostas, que subverteram as ordens que durante muito tempo as mantiveram incultas e, portanto, caladas e submissas, presas às suas condições de meio-mortas, meio-vivas. A partir dessa perspectiva, acreditamos que seja exatamente a marginalidade da produção literária das mulheres e sua importância de fator social dentro da criação artística que justificam uma imersão em seus textos, ainda mais quando essa escrita é marcada por crenças, costumes, dogmas e anos de exclusão e dominação masculina. mailto:Lucygandra.make@gmail.com 93 O POEMA DA PINTURA – RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS EM POEMAS, OBRA DE PORTINARI Márcia Maria Sant´Ana JÓE (FCLAr/UNESP/D) santanaletras@yahoo.com.br Or. Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini BALDAN (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Poesia; Pintura; Portinari. O objeto de Mestrado teve como ponto de partida a pesquisa de 32 poemas-pinturas de Arte em exposição, de Carlos Drummond de Andrade, do livro intitulado Farewell, de 1990. Para o presente trabalho de Doutorado pretendemos estudar a obra Poemas de Cândido Portinari, seu único livro de poemas e sem ilustrações. A obra póstuma de 1964 possui Nota da Editora, Poema de Vinícius de Morais em homenagem a Cândido Portinari, Prefácio de Manuel Bandeira, Nota bibliográfica de Antônio Callado e Retrato por Luís Jardim. A obra Poemas está dividida em 4 partes: O menino e o povoado, Aparições, A revolta e Uma prece. Os temas de Portinari-pintor e Portinari- poeta são os mesmos, mas agora são quadros feitos de palavras: as alegrias e medos dos tempos em Brodósqui. Vamos estudar como o pintor Cândido Portinari imita o processo de composição de suas obras plásticas por meio da palavra ou da linguagem verbal, assim pesquisando as relações estéticas entre essas diferentes linguagens, tendo como instrumento de análise a semiótica greimasiana, segundo o conceito de intertextualidade, figuratividade e questões próprias da poética: ritmo, rima e distribuição espacial das palavras. O objetivo é avaliar se tais dados podem configurar uma poética que se aproxime das pinturas de Portinari a serem observadas. Portinari circulava e frequentava a elite intelectual brasileira, presenciando e estimulando uma mudança da atitude estética e cultural do país e o expressionismo representou um marco na evolução da arte de Portinari. O objetivo do artista é de recriar o mundo e não de imitá-lo da mesma forma que se apresenta. A intenção é a de destacar o subjetivismo da expressão. A partir de então, Portinari retrataria o povo brasileiro especialmente a gente de sua terra, afirmando a opção pela temática social, que foi o fio condutor de toda a sua obra: denunciar as desigualdades da sociedade brasileira e as consequências desse desequilíbrio. Pintor, desenhista, Candido Portinari era também poeta e é predominantemente neste aspecto que nos debruçaremos. A intenção é a de mostrar as possíveis relações entre poesia e pintura no seu único livro de poesia. Os poemas de Portinari deverão ser analisados a partir do percurso gerativo de cada poema-pintura, até formas de sentido mais abstratas, como as de ordem tensiva, as da dimensão perceptiva e as relações de ordem afetiva ligadas às paixões e aos sentimentos, que possam fazer sentido para entender os poemas, únicos, no universo do artista-pintor. A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA ILUMINISTA EM LES MISÉRABLES: AS PERSONAGENS JEAN VALJEAN, JAVERT, MYRIEL E ENJOLRAS Maria Júlia PEREIRA (FCLAr/UNESP/M/CNPq) majuper@gmail.com Or. Prof. Dr. Adalberto Luis VICENTE (UNESP) Palavras-chave: personagem; concepção de justiça iluminista; Les Misérables. A presente pesquisa pretende demonstrar, no romance Les Misérables (1862), de Victor mailto:santanaletras@yahoo.com.br 94 Hugo, a relação das personagens Javert, Jean Valjean, Myriel e Enjolras com a concepção de justiça iluminista, na medida em que a encarnam e também reagem a ela. Tal concepção de justiça provoca importantes reações nas personagens, e, por isso, é possivelmente um dos principais móveis da ação da história: determina o senso de justiça que constrói e constitui as personagens, além de guiar suas ações no meio social e político apresentado em Les Misérables. Nesse sentido, este trabalho abordará a constituição, a construção e a ação das personagens na narrativa e na história da obra por meio dos textos teóricos sobre a personagem romanesca e também por meio da fortuna crítica de Victor Hugo. Tratará da concepção de justiça iluminista a partir do pensamento de Kant quanto à legalidade, à moralidade e à justiça fundamentada na liberdade e na obediência à lei jurídica; sendo igualmente relevante, para análise da personagem Enjolras, o pensamento de Montesquieu no que diz respeito às ideias de insurreição, república democrática, virtude política e sua relação com a justiça. De forma mais específica, esta pesquisa buscará: apontar como a personagem Jean Valjean, condenada e injustiçada pelo sistema legal, encarna a oposição à concepção de justiça legalista; expor a relação da personagem Javert com a concepção de justiça enquanto conformidade à lei, traduzida em sua postura legalista extremada e também em sua reação ao legalismo – a ruptura representada pelo suicídio – pois a lei implica injustiça, e, portanto, não se sustenta; demonstrar como a personagem Myriel representa reação à concepção de justiça legalista, visto que concebe a equidade como justiça; evidenciar a oposição da personagem Enjolras à concepção de justiça legalista, na medida em que lidera a insurreição contra a ordem imposta e crê em uma república democrática, baseada na equidade e apta a construir uma sociedade fraterna e justa. “A SEMANA LITERÁRIA”: MACHADO DE ASSIS E A CONSTRUÇÃO DA CRÍTICA NO BRASIL Mauro Roberto Dias MIRANDA (FCLAr/UNESP/M) maurodias_98@yahoo.com Or.Profa. Dra. Fabiane Renata BORSATO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Machado de Assis; crítica literária; “A Semana Literária”. A presente pesquisa pretende investigar, a partir da série de textos de crítica literária de Machado de Assis, intitulada "A Semana Literária", a importância do autor de Dom Casmurro para a formação e sistematização desse gênero no Brasil. Para tanto, evocaremos sua crítica aos textos produzidos por seus contemporâneos, expressa em textos como "O ideal do crítico" (1865) e "Notícias da atual literatura brasileira - Instinto de nacionalidade" (1873), em que questiona a imaturidade de seus pares na prática de uma crítica literária impressionista, laudatória ou destruidora de talentos nascentes. Em decorrência de seus questionamentos quanto à importância da formação de uma literatura brasileira a partir da crítica bem executada e fundada no texto literário e nas "leis poéticas", empreende, de janeiro a julho de 1866, uma série de 30 crônicas em que debate ou revisa obras então lançadas no cenário nacional, ou ligadas ao Brasil, que serão o principal objeto de nossa análise, no sentido de identificar a postura crítica de Machado de Assis, seus métodos de análise e sua concepção de literatura, uma vez envolvido com o processo criativo. O projeto contará com um breve panorama da atividade crítica no Brasil - história e natureza, aspectos da crítica impressionista combatida por Machado, apresentação detalhada da série "Semana Literária", e, finalmente, a análise do corpus selecionado de textos extraídos da série supracitada, destacando as leis poéticas que conduzem suas análises, o repertório formal mobilizado mailto:maurodias_98@yahoo.com 95 e outros aspectos, como a própria vivência literária do autor e o meio intelectual circundante. DUPLO E O FANTÁSTICO EM UMA LEITURA COMPARADA ENTRE MACHADO DE ASSIS E EDGAR ALLAN POE Maylah ESTEVES (FCLAr/UNESP/D) may7esteves@gmail.com Or. Prof. Dr. Brunno V. G. VIEIRA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Machado de Assis; fantástico; duplo; Edgar Allan Poe. O presente projeto tem por objetivo aprofundar os estudos do fantástico e do duplo em dois expoentes da literatura mundial, o americano Edgar Allan Poe (1809-1849) e o brasileiro Machado de Assis (1839-1908), através da análise comparativa de contos menos conhecidos de ambos os autores, que podem ajudar a contribuir para o entendimento da literatura fantástica oitocentista. A saber os contos escolhidos de Machado “A decadência de dois grandes homens” (1873), “As academias de Sião” (1884) e a “Igreja do Diabo” (1884); e, de Poe, “Metzengerstein” (1832), “O Rei Peste” (1835) e o “Diabo do Campanário” (1839). Levando em conta, como base teórica, a hesitação todoroviana, o duplo mítico de Nicole Fernandez Bravo (in BRUNEL, 1997) e as críticas sociais imbuídas nos contos de ambos os autores, (cf CESERANI, 2006). O presente resumo pretende conduzir o leitor sobre a teoria do fantástico e do duplo, levando em consideração o fantástico do século XIX, ao qual o teórico búlgaro-francês Tzvetan Todorov irá teorizar em Introdução à literatura fantástica. É sabido que muito se avançou quanto aos estudos do fantástico, culminando em David Roas, escritor e teórico, que concorda que o fantástico é uma modalidade narrativa, que prestigia sobretudo a forma, a sinestesia, sinédoque, hipérboles e outras figuras de linguagem, que ambientam a hesitação. Por esse termo cunhado por Todorov, a hesitação seria a dúvida que o leitor tem depois de ler um conto fantástico oitocentista, se houve ou não o sobrenatural na narrativa. Será explorado também as reminiscências góticas, cuja a ambientação trouxe muito ao fantástico, o noturno, o horror, o terror e a tensão que perpetua por toda a narrativa, que ambos os autores aqui estudados escolheram a modalidade do conto (CUNHA, 1998). Ainda levantamos a questão do quanto o brasileiro leu das obras poeanas e de que modo essas possíveis leituras influenciaram em seus contos fantásticos, lembrando que há indícios que Machado tenha lido Poe, conforme atestam inserções em seus textos (como o conto “Só!” de 1885) e a tradução de “The Raven”, (1845); “O Corvo”, na tradução machadiana de 1883. Portanto, levantaremos essas questões durante os oito semestres de trabalho na presente instituição, afim de enriquecer os estudos comparativos acerca do gótico, do fantástico, do maravilhoso e, principalmente, de como o duplo se comporta nas obras fantásticas oitocentistas. POR UMA POÉTICA ROMÂNTICA: UTOPIA E RESISTÊNCIA EM HOWL (1956), DE ALLEN GINSBERG E PARANOIA (1963), DE ROBERTO PIVA Patrícia Vieira LOCHINI (FCLAr/UNESP/M) pvlochini@gmail.com Or. Prof. Dr. Paulo César Andrade da SILVA (FCLAr/UNESP) mailto:may7esteves@gmail.com mailto:pvlochini@gmail.com 96 Palavras-chave: Romantismo; resistência; poesia contemporânea. Segundo os críticos Michael Löwy e Robert Sayre, o Romantismo não deve ser concebido não apenas como movimento histórico, mas como uma “estrutura mental coletiva”, uma visão de mundo que se manifesta não somente na Literatura, mas em diversos campos do conhecimento. Pensando nesse conceito de “estrutura mental coletiva” podemos afirmar que o espírito romântico não se limita aos séculos XVIII e XIX, mas se estende às manifestações reconhecidamente românticas que se desdobram em atitudes e comportamentos ao longo do século XX. A obra de Allen Ginsberg e Roberto Piva pertence a uma linhagem de tradição romântica que, em permanente contestação à ordem burguesa, trilham os caminhos da resistência, rebelando-se contra os valores de sua época. Um exemplo são os surrealistas, que se mantiveram com a tradição romântico-simbolista, tendo como ponto de partida a poesia em prosa de Rimbaud. Pela viagem, pelo discurso profético, pela religiosidade, pelo ritmo, as influências mais relevantes vão de Walt Whitman a William Carlos Williams. Deste modo, este estudo tem como objetivo discutir a presença romântica nas gerações rebeldes do século XX, a partir da análise da obra Howl (1956) de Allen Ginsberg, e Paranoia (1963), de Roberto Piva, com o intuito de investigar a permanência do pensamento romântico não como um movimento histórico, mas como uma “estrutura mental coletiva” e, partindo da reflexão sobre a permanência do pensamento de rebeldia nos diferentes contextos no século XX, identificar procedimentos formais, estilísticos, discursivos advindos de uma tradição romântica do século XIX. A pesquisa utiliza de uma abordagem comparatista, método eficaz para se descrever, analisar, identificar e por em relevo contextos históricos diversos, que fornece bases para descrever o projeto artisticamente intencional de cada poeta e entender as relações. Assim, pretende-se analisar os motivos desencadeadores dos ideais propagados pelos poetas e como estes se interrelacionam, estabelecendo, assim, um entrecruzamento literário entre períodos históricos, mas que se relacionam pela busca da identidade pessoal e coletiva. A POESIA FUTEBOLÍSTICA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E JOÃO CABRAL DE MELO NETO Pedro Passerini RODRIGUES (FCLAr/UNESP/M) pedro.passerini06@gmail.com Prof. Dr. Paulo César Andrade da SILVA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Drummond; Cabral; poesia brasileira; futebol. Sabemos que o futebol é o “esporte chefe” em nosso país. Somos “a pátria de chuteiras”, segundo Nelson Rodrigues; e por isso mesmo o futebol é trazido à tona nos mais diversos meios artísticos. Na Literatura, o futebol ficou próximo do gênero crônica e ajudou a consolidar grandes nomes do jornalismo esportivo brasileiro das décadas de 50 até a década de 90. Poucos poetas exploraram o tema com qualidade e também por isso ainda são poucos os trabalhos acadêmicos que tratam deste rico campo – com o perdão do trocadilho – de estudo. Para compreendermos o valor dofutebol enquanto objeto da poesia, este projeto de pesquisa escolheu os poemas futebolísticos de dois dos maiores nomes da poesia brasileira: Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Nosso corpus é formado por dezesseis poemas, sendo que nove deles são de autoria do poeta mineiro e os outros sete foram produzidos pelo pernambucano. Pontuamos que os poemas Drummondianos foram retirados da obra Quando é dia de mailto:pedro.passerini06@gmail.com 97 futebol (2002), enquanto os poemas Cabralinos compõe três obras do poeta: Museu de Tudo (1975), Agrestes (1985) e Poesia Completa (2014). Revisitaremos a fortuna crítica de ambos os poetas, bem como todo material escrito por eles que trata do futebol (crônicas, etc.). Utilizaremos todo o material teórico que trata do futebol como objeto à serviço da literatura para dar corpo às nossas análises. Nesta proposta é imprescindível a leitura de autores como o já citado Nelson Rodrigues, além de outros como Hans Ulrich Gumbrecht, Milton Pedrosa, José Miguel Wisnik, etc. O intuito é justificar e esclarecer as nossas interpretações acerca dos textos poéticos analisados. Como parte do referencial teórico, nós selecionamos críticos-literários como Antônio Carlos Secchin, Antônio Cândido, João Alexandre Barbosa, Sebastião Uchoa Leite, etc. Caso seja possível e necessário, tentaremos desconstruir algumas das premissas que foram levantadas por estes – e outros – teóricos. Através desta pesquisa, pretendemos situar os poemas futebolísticos de Cabral e Drummond dentro da obra de cada um deles, para posteriormente compreendermos o valor do esporte como objeto da poesia e mais amplamente da Literatura brasileira. A LIBERDADE, A DIVERGÊNCIA E A “MEMÓRIA DO AMOR”: O TEATRO DE AGUSTINA BESSA-LUÍS Rodolfo Pereira PASSOS (FCLAr/UNESP/D) e-mail: rodo230@yahoo.com.br Or. Prof. Dr. Jorge Vicente VALENTIM (UFSCar) Palavras-chave: Agustina Bessa-Luís; Mulheres; Teatro Português. O presente trabalho tem como objetivo analisar a obra teatral completa da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís, composta por 5 textos: O Inseparável ou O amigo por testamento (1958), A Bela Portuguesa (1986), Estados Eróticos Imediatos de Sören Kierkegaard (1992), Garrett, o Eremita do Chiado (1998) e Três Mulheres com Máscara de Ferro (2015). É nosso intuito discutir sobre as relações de poder em torno dos diálogos agustinianos, compreendendo principalmente o binômio masculino- feminino; assim, tentaremos demonstrar como a autora promove uma reflexão e um questionamento sobre a condição feminina a partir de suas peças teatrais. É necessário destacar o fato de que Agustina mescla de modo profícuo, em seu teatro, uma insigne capacidade do imaginário com uma preocupação notadamente de caráter social; principalmente no que diz respeito a uma singular e feérica história das mulheres e, sobretudo, a uma problematização e ficcionalização da própria História. Vale a pena ressaltar que a questão da liberdade é essencial nesta discussão, na medida em que o questionamento sobre a libertação da mulher reflete-se sistematicamente em toda a obra ficcional de Agustina Bessa-Luís, com reflexos significativos em seu teatro. À luz desta perspectiva, por exemplo, na peça Três Mulheres com Máscara de Ferro (2015), de Agustina Bessa-Luís, temos um diálogo dramático em que encontramos três personagens agustinianas fundamentais: Sibila, Fanny e Ema. Estas mulheres são protagonistas de três romances da autora que, justamente, subvertem os valores vigentes a partir de uma perspectiva feminina. É importante notar ainda que a percepção do outro vem a ser um tema central para a compreensão da obra agustiniana, sobretudo, a problematização da diferença. Observando, portanto, um estranho silenciamento da crítica sobre a obra teatral de uma das autoras mais instigantes da literatura portuguesa do século XX, é nosso intuito, aqui, estudar todas as peças de teatro de Agustina Bessa- Luís, revelando aquilo que tem sido esquecido pela crítica, isto é, levando em conta uma certa “desatenção” legada até o momento à produção teatral da autora portuguesa. mailto:rodo230@yahoo.com.br 98 A SACRALIZAÇÃO DO UNIVERSO FEMININO NA OBRA O DESPERTAR, DE KATE CHOPIN Rosemary Elza FINATTI (FCLAr/UNESP/M) rosefinatti@gmail.com Or. Prof. Dr. Aparecido Donizete ROSSI (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Kate Chopin; O despertar; Afrodite. O célebre romance O despertar (The Awakening, 1899), obra-prima da autora Kate Chopin (1850 – 1904) tem sido analisado por diversos críticos como um romance político e de temática sexual, no qual a protagonista Edna Pontellier frequentemente é considerada como uma Bovary Crioula, ou uma Bovary Americana, semelhante à Emma Bovary, protagonista do romance Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. Do ponto de vista de tais análises críticas, a protagonista é vista como uma mulher sulista casada e insatisfeita com os papéis sociais de mãe e esposa impostos pela sociedade patriarcal, que busca o amor, a liberdade e a autoafirmação, assim como Emma Bovary. E o final trágico do romance de Flaubert serve de lição para advertir as mulheres das consequências que sofreriam caso desobedecem às regras de conduta moldadas pela cultura do patriarcado. Diferentemente da perspectiva da crítica em geral, o ensaio intitulado “The Second Coming of Aphrodite: Kate Chopin’s Fantasy of Desire” (1983), de Sandra Gilbert, defende a ideia de que o sagrado feminino pode ser compreendido como o mito de Afrodite na figura de Edna Pontellier. O presente projeto alinha-se a esta perspectiva e considera o mito de Afrodite como determinante de suas instâncias narrativas e que a atmosfera mítica envolve todo o romance. Neste sentido, a protagonista se transforma em uma mulher independente, desperta para o seu próprio espírito, para o seu poder de pensar e agir, de tomar suas próprias decisões e de ir e vir independentemente das regras patriarcais. Dessa forma, pretende-se apresentar uma proposta diferente de leitura da obra máxima chopiniana, no que tange ao seu caráter mítico, à transformação da protagonista em Afrodite e uma nova abordagem em relação ao suposto suicídio no final do romance: a volta da protagonista para o mar, como a deusa que ela encarna. Tomaremos como principais fundamentações teóricas da pesquisa os apontamentos do ensaio de Sandra Gilbert, as reflexões de Mircea Eliade sobre o sagrado, as considerações de Cathérine Clement e Julia Kristeva sobre o sagrado feminino, os elementos oferecidos pela mitologia grega sobre Afrodite e sua relação simbólica com a água e o sagrado feminino e a vertente crítica do feminismo que se dedica à questão do sagrado e do metafísico relacionado ao feminino. AS MUITAS FACES DA POESIA ROMÂNTICA MACHADIANA Sandro Ponciano dos SANTOS (FCLAr/UNESP/M) rpsandrop@hotmail.com Or. Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Poesia brasileira; Romantismo; Machado de Assis. Esta pesquisa tem como objetivo principal o estudo da poesia machadiana da chamada fase romântica, que compreende os três livros iniciais de Machado de Assis, a saber: Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875). A investigação privilegiará a mailto:rosefinatti@gmail.com mailto:rpsandrop@hotmail.com 99 ótica da subjetividade lírica, e buscará esclarecer e aprofundar aquelas características românticas perceptíveis nas três obras, como o eu lírico afundado na subjetividade e na expressão de sua individualidade; a figura feminina idealizada; a cor local perpassada de certo indianismo também idealizado. A pesquisa ainda terá como finalidade mostrar outros aspectos relevantes e os componentes específicos da poesia de Machado de Assis, tanto no plano do conteúdo como no plano estrutural, o que se pretende demonstrar através das análises poéticasminuciosas que serão feitas no decorrer da pesquisa buscando-se, portanto, evidenciar as muitas faces da poesia do escritor e o seu impacto na fase final do Romantismo brasileiro. O interesse pelo estudo da poesia machadiana foi despertado pelo fato dela ser tão pouco apreciada e estudada pela crítica – isto culmina no fato de Machado de Assis ser reconhecido apenas como o maior romancista de todos os tempos da Literatura Brasileira, daí sabermos que sua poesia ficou à margem em relação à sua prosa. Por qual motivo? O que faltou para Machado ser elevado ao status de um grande poeta? Por que será que a poesia do escritor não acompanhou a grandiosidade de sua prosa? Penso que seja necessário um estudo detalhado e aprofundado do legado poético machadiano – estudo este que se beneficiará do aporte da própria crítica machadiana sobre poesia lírica, notadamente a do Romantismo brasileiro – o que justifica então a presente proposta de pesquisa. No momento, estamos em fase de reelaboração do projeto, por instâncias do orientador, bem como de levantamento bibliográfico, de leitura e fichamento da fortuna crítica machadiana e de textos crítico-teóricos e analíticos que fundamentem e aprofundem a concepção moderna de poesia lírica e nos deem subsídios para repensar os vários caminhos que o poeta trilhou. ALBERTO MORAVIA E A TRILOGIA NO FEMININO: IL PARADISO, UN’ALTRA VITA E BOH Sérgio Gabriel MUKNICKA (FCLAr/UNESP/D/CAPES) sergiomuknicka@hotmail.com Or. Profa. Dra. Maria Célia de Moraes LEONEL (UNESP/FCLAr) Palavras-chave: Alberto Moravia, literatura italiana, narrativa. Este estudo tem por objetivo demostrar a intelectualidade no discurso das narradoras dos livros Il paradiso (1970), Un’altra vita (1973) e Boh (1976) do autor italiano Alberto Moravia (1907-1990). Como embasamento teórico, utilizaram-se as questões convocadas por Gérard Genette em Discours du récit (2007) e por Lilia Crocenzi em La donna nella narrativa de A. Moravia (1964). É imprescindível ressaltar que, em todos os contos, as personagens femininas são narradoras autodiegéticas. Estas obras foram escolhidas, pois seus contos trazem à tona questões fulcrais no que diz respeito à poética moraviana. Como exemplo, pode-se citar a lassitude do indivíduo frente à realidade vivida, o corpo como mercadoria e objeto de consumo, o fetichismo de objetos, a hipocrisia social, o sexo, a revolta e a angústia existencial. As protagonistas dos contos debatem-se até o último momento para tentar lidar com as situações intrincadas de suas vidas. Ao fim e ao cabo, no entanto, tudo é reduzido a uma visão de mundo apática e desencantada. Por meio da cuidada seleção dos traços mais pungentes da personalidade humana, Moravia consegue expor a psicologia nevrótica de suas protagonistas, retratando-as como figuras cínicas e, aparentemente, distantes. A linguagem, simples e desprovida de ornamentos excessivos, é reflexo disso. Acredita-se, todavia, que o tom de oralidade, às vezes bastante marcado nos contos, pode ser lido como a confissão monologante dessas personagens que desfrutam da posição privilegiada, embora não mailto:sergiomuknicka@hotmail.com 100 totalmente confiável, de um narrador autodiegético que pode ficcionalizar à vontade suas histórias por meio do discurso em primeira pessoa e de uma focalização unilateral. Ao longo das narrativas, observou-se que o autor transferiu seu pensamento intelectual para a personagem feminina que, refletindo sobre si mesma, lucubra acerca das mazelas da existência humana. Diferentemente de personagens de obras de fôlego do autor, como Mariagrazia de Gli indifferenti (1929) ou Cecilia de La noia (1960), as personagens desses contos não mais aparecem para dar apoio à figura do intelecual masculino, mas fazem-se ouvir por meio de suas próprias narrações, expondo seus dramas de forma bastante teatralizada. PERSPECTIVAS FEMININAS NEGRAS NOS ROMANCES: UM DEFEITO DE COR, ALZIRA ESTÁ MORTA: FICÇÃO HISTÓRICA NO MUNDO NEGRO DO ATLÂNTICO E AS LENDAS DE DANDARA Thaís Fernanda Rodrigues da Luz TEIXEIRA (FCLAr/UNESP/D) thaisluz7@gmail.com Prof. Dr. Paulo César Andrade da SILVA (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: literatura negra; romance histórico; identidades. Pretende-se, com este trabalho, a partir das obras Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves, Alzira está morta: ficção histórica no mundo negro do atlântico (2015), de Goli Guerreiro e As lendas de Dandara (2016), de Jarid Arraes, examinar como são construídas as perspectivas femininas negras, considerando as manifestações identitárias das protagonistas que se materializam por meio do viés memorístico exaltado durante as narrativas. Segundo Bernd (1988) a literatura negra narra a emergência do ser, ela nasce da ruptura que se cria entre o homem e o mundo, originando-se do esforço de superar essa fragmentação, pois ao recordar o que foi esquecido, ela recupera o mundo perdido. No mais, a negritude é a tomada de consciência que promoveu o nascimento de um discurso literário negro que se transformou no lugar por excelência da manifestação do “eu-que-se-quer-negro” (BERND, 1988). Nesse sentido, Ribeiro (2017) destaca que, para a mulher negra, falar sobre suas experiências, significa ocupar o lugar de fala, isto é, ultrapassar o silêncio instituído para quem foi subalternizado, um movimento no sentido de romper com a hierarquia. Dessa forma, as obras narram os infortúnios e tentativa de apagamento das identidades culturais do povo negro pelas mãos do homem branco, mas ao mesmo tempo delineia a dinâmica de uma humanização histórica que promove a reapropriação de espaços existenciais próprios (BERND, 1988). No decorrer das narrativas, a tomada de consciência das protagonistas é responsável por desmistificar o imaginário construído pelos colonizadores que os negros são naturalmente inferiores e não têm história (MUNANGA, 1988). É pelo olhar feminino que se constrói uma nova história, e modelos propagados por uma voz masculina, branca são reconfigurados, isto é, o discurso trazido pelas protagonistas é contra hegemônico no sentido que visa desestabilizar a norma, porém igualmente é discurso forte e construído a partir de outros referenciais e geografias, visa pensar outras possibilidades de existências para além das impostas pelo regime discursivo dominante (RIBEIRO, 2017). Essas e outras considerações remetem ao que diz Fanon (2008), diante do branco, o negro tem um passado a valorizar e uma revanche a encaminhar, é preciso transformar o negro em um ser de ação. mailto:thaisluz7@gmail.com 101 A MARCA DO INSÓLITO NOS CONTOS DE DINO BUZZATI Vanessa MATIOLA (FCLAr/UNESP/M) vanessamatiola@hotmail.com Or. Profa. Dra. Claudia Fernanda de Campos MAURO (FCLAr/UNESP) Palavras-chave: Dino Buzzati; insólito; literatura italiana. Um dos possíveis caminhos para o trabalho com a obra do escritor italiano Dino Buzzati é a análise de seus contos tendo o fantástico como ponto norteador. Em algumas dessas narrativas curtas, um elemento sobrenatural aparece como fator que desestabiliza a realidade vivida pelas personagens, o que é essencial para enquadrá-lo dentro do gênero. Além disso, nos contos de Buzzati, o sobrenatural é unido a uma atmosfera de estranhamento angustiante que, por sua vez, se faz presente não apenas nos contos fantásticos do autor, mas também em outros que não se enquadram na categoria por não trazerem nada que foge do que seja considerado como “real”. Tendo isso em vista, procuramos o elemento comum aos contos buzzatianos que criaria a aura de incômodo causado pelo estranho. Após o contato com ensaios escritos pelos membros do grupo de pesquisa “Nós do Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica”, da UFRJ, e organizados por Flavio Garcia, chegamos à hipótese de que o insólito seria o componente conciliador doscontos fantásticos e não fantásticos de Dino Buzzati. O insólito é definido como tudo o que não é sólido, isto é, o que não se enquadra no plano do real e é considerado estranho, incomum, infrequente, anormal, inusitado e até incômodo. Contudo, a realidade é relativa e se apresenta de diferentes maneiras para cada indivíduo, o que se torna evidente quando as circunstâncias de tempo e espaço são consideradas, por exemplo. Assim, o insólito, sendo aquilo que foge do real, também terá diversas maneiras de manifestar-se. Nos contos de Buzzati, acompanhamos a perspectiva de uma personagem e a noção de “real” será baseada nela. Dessa forma, insólito se manifestará a partir da irrupção de algo que destoe da realidade ficcional criada, não necessariamente um fator sobrenatural. Selecionamos os contos “Eppure battono alla porta”, “Una goccia”, “Il mantello”, “Il disco si posò”, “La fine del mondo”, “I sette messaggeri” e “Sette piani” para trabalhar com esta ideia. FERREIRA GULLAR E A POESIA DE TENSÃO SOCIAL EM DENTRO DA NOITE VELOZ E BARULHOS Zenilda DURCI (FCLAr/UNESP/M) zdurci@hotmail.com Prof. Dr. Antônio Donizeti PIRES (FCLAr/UNESP) Palavras-chaves: Poesia brasileira contemporânea; Ferreira Gullar; Tensão social. O presente projeto de pesquisa de mestrado tem como objetivo fazer um estudo da poesia de tensão social nas obras Barulhos (1987) e Dentro da noite veloz (1975), de Ferreira Gullar (1930-2016), pseudônimo de José Ribamar Ferreira, que além de poeta, teve papel relevante como teórico da poesia, da arte e da cultura em geral, ademais de ser dramaturgo, roteirista e pintor. A pesquisa justifica-se pela relevância das obras mencionadas e do próprio poeta, bem como pelos poucos estudos existentes acerca de sua produção.Os dois livros escolhidos para compor o presente projeto, Dentro da noite veloz e Barulhos, foram publicados em momentos históricos diferentes: o primeiro, contendo poemas dos anos 60 e 70, é publicado pós-exílio; o segundo, dos anos 80, que, mailto:vanessamatiola@hotmail.com mailto:zdurci@hotmail.com 102 ao menos em parte recupera a preocupação central de Ferreira Gullar com a questão da linguagem e da metalinguagem, se afastando um pouco da poesia de tensão social, tão típica dos anos 60. Ou seja, as duas questões fundamentais da poesia lírica, forma e conteúdo, estarão então entre as preocupações da pesquisa. Em Dentro da noite veloz, publicado em 1975, Gullar reuniu poemas escritos entre os anos de 1962 e 1974, que representam momentos de protesto e de recordação, compostos durante o regime militar. Posteriormente, em sua produção poética com Barulhos (1987), no qual há vários metapoemas e a própria avaliação do trabalho de poeta, o autor demonstra uma postura bastante crítica em relação ao mundo das letras. De modo específico, a partir dessas obras, o objetivo é refletir sobre problemas de construção formal, de linguagem e metalinguagem, tão caros ao poeta no decorrer de sua vasta obra . De modo geral, há o intuito de refletir sobre a inserção e a importância do poeta Ferreira Gullar no panorama geral da poesia brasileira da segunda metade do século XX. 103