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Diagnóstico microbiológico das infecções humanas

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Diagnóstico 
microbiológico das 
infecções humanas 
A microbiologia clínica é a prática do diagnóstico das infecções 
humanas, desde a requisição do exame à análise laboratorial. Todos 
os protocolos em microbiologia clínica seguem as recomendações da 
CLSI (Sigla em inglês: Clinical and Laboratory Standards Institute), que 
foi traduzido e adotado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária) (ANVISA, 2013a). 
Tudo começa com a coleta da amostra biológica, que segue 
protocolos específicos dependendo do tipo de amostra, sempre 
visando a preservação dos microrganismos e impedindo a sua 
contaminação. Após a coleta e recebimento da amostra, a mesma 
deve ser semeada em um meio de cultura apropriado recomendado 
pela ANVISA (ANVISA, 2013b). A técnica de semeadura utilizada 
inicialmente deve ser por esgotamento para isolar as UFCs (Unidades 
Formadoras de Colônias), assim é possível coletar a amostra de uma 
única população bacteriana (que conterá apenas uma única espécie 
microbiana), essa amostra (a partir da UFC) será usada para todas as 
análises microbiológicas posteriores (como identificação e 
antibiograma por exemplo). 
Após o isolamento microbiano é realizada a análise macroscópica, que 
identifica fatores como tamanho, forma das colônias, consistência, 
cheiro e densidade. O tamanho das colônias pode ser: puntiforme (<1 
mm de diâmetro) , com colônias muito pequenas, características de 
bactérias mais exigente; pequena (até 2 mm de diâmetro) como os 
gêneros Shigella e Yersinia, Salmonella, Acinetobacter spp, 
Enterococcus spp, pneumococos, Streptococcus spp. Cândida 
spp.; média (até 3 mm de diâmetro), como as demais Enterobactérias, 
as bactérias não fermentadores e Estafilococos ou então colônias 
grandes (mais de 4 mm de diâmetro), como os gêneros de Bacillus 
spp, Klebsiella e Enterobacter, o mesmo ocorre com não 
fermentadores como Pseudomonas. A forma das colônias pode ser: 
redonda (E. coli, Klebsiella, Serratia, Stenotrophomonas, 
Acinetobacter, Estafilococos, Estreptococos); irregular 
(Pseudomonas, Proteus, Providencia, Morganella, Bacillus); produção 
de véu (Proteus, Comamonas); filamentosas (fungos filamentosos – 
bolores); formando pontas, como estrelas (Candida spp.); com 
depressão no centro (Pneumococo); elevada (Klebsiella, Bacillus); ou 
achatada (Enterobacter, Pseudomonas). Já a consistência pode ser: 
mucóide (Klebsiella, Pseudomonas,Bacillus); seca (E. coli, Citrobacter, 
S. aureus); butirosa (manteiga) (Candida spp.). O cheiro pode ser 
adocicado, como o do gênero Pseudomonas spp. ou ainda fétido, 
como as bactérias anaeróbias. Por fim, a densidade pode ser opaca, 
como a E. coli, Candida, S. aureus ou brilhante, 
como Stenotrophomonas e Pneumococo (TORTORA, FUNKE, 
CASE, 2017). 
 
Após o isolamento bacteriano e análise macroscópica, de modo geral, 
deve-se confeccionar uma lâmina e realizar a coloração de Gram. 
Deste modo é possível seguir com a identificação do microrganismo, 
que dependerá se é uma bactéria Gram-positiva ou Gram-negativa 
(ANVISA, 2013b). 
Quando se trata do diagnóstico fúngico das micoses, é necessário 
semear a amostra inicialmente em meio de cultura adequada (ágar 
saboraud, mycosel ou ágar batata). A semeadura deve sempre ser 
feita em duas placas, para que sejam incubadas em temperaturas 
diferentes. Pois os fungos patogênicos normalmente são dimórficos, 
ou seja, possuem ambos os fenótipos: fungos filamentosos (bolores) à 
temperatura ambiente e leveduriformes à 37ºC. Para fungos 
filamentosos o diagnóstico é feito pela técnica de microcultivo, para 
análise microscópica da morfologia. Já para as leveduras, leva-se em 
consideração o tipo de amostra e a hipótese diagnóstica, pois caso a 
suspeita seja de um fungo previamente conhecido, como a Candida 
albicans, existem testes específicos (ANVISA, 2013c). 
Dentre as bactérias Gram-negativas de importância clínica podemos 
destacar os grupos: Enterobactérias e as Bactérias não fermentadoras 
como as Neisserias e os Bacilos Não-Fermentadores (BNFs). As 
Enterobactérias são parte do grupo mais heterogêneo das bactérias. 
São mais de 40 gêneros de bactérias pertencentes a este grupo, e 
todas têm em comum algumas características como: são bacilos 
gram-negativos, fermentadores de glicose, anaeróbias facultativas e 
todas são teste oxidase negativas, chave para a sua identificação. Já 
as Neisserias são bactérias de morfologia esférica, em cocos ou 
diplococos, e dentre as suas 10 espécies do gênero, apenas duas são 
patogênicas para o ser humano: a Neisseria meningitidis e a Neisseria 
gonorrhoeae. As amostras devem ser semeadas em ágar, sangue ou 
chocolate suplementado e sua diferenciação se dá pela oxidação de 
diferentes carboidratos. No teste da oxidase e catalase são positivas. 
Os bacilos Não-Fermentadores (BNFs) também são um grupo bem 
heterogêneo, que como o próprio nome diz, têm em comum a sua 
morfologia, são todos em forma de bacilos, e não fermentam glicose 
(diferentemente das enterobactérias), e são todos oxidase 
positivos. Para a diferenciação e identificação de todos esses grupos 
bacterianos é realizada uma série de testes bioquímicos padronizados 
pela ANVISA, e para liberação do laudo é necessário que pelo 80% 
dos testes sejam confirmatórios, por isso quanto mais testes forem 
realizados, maior será a acurácia do resultado (ANVISA, 2013a). 
Dentre as bactérias Gram-positivas de importância clínica, podemos 
ressaltar três gêneros: Staphylococcus spp., Streptococcus spp. 
e Enterococcus spp. Para sua identificação, o teste inicial, além da 
coloração de Gram, é a catalase. Os Estafilococos são catalase 
positivos, já os Estreptococos e os Enterococos são negativos. 
Os Staphylococcus spp. são bactérias em forma de cocos agrupados, 
e sua principal espécie é o Staphylococcus aureus, segundo maior 
causador das infecções humanas. Para sua identificação é necessário 
realizar o teste da coagulase, DNA e manitol, sendo positivo para 
todos, já os demais estafilococos são liberados como “Estafilocos 
coagulase negativa”. Já os Streptococcus spp., bactérias em cocos 
em cadeia, são classificados em relação à sua capacidade de 
hemólise nas hemácias íntegras presentes no ágar sangue. Os alpha-
hemolíticos realizam hemólise parcial, os beta-hemolíticos realizam 
hemólise total e os gamma-hemolíticos não realizam hemólise. Neste 
último grupo se enquadra as bactérias do gênero Enterococcus spp., 
cocos aos pares (diplococos), que são todos gamma-hemolíticos e no 
teste de PYR são positivos (ANVISA, 2013a).

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