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Hermenêutica Constitucional: Interpretação da Constituição

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17/08/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
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1. Hermenêutica Constitucional
Interpretar é descobrir o significado, conteúdo e alcance dos símbolos linguísticos.
Por exemplo: o art. 5º, XI da CF/88 afirma que “a casa é asilo inviolável da
pessoa[...]”. Qual o significado e a extensão da palavra casa? Casa está
relacionada a privacidade. Esta existe somente na residência da pessoa, o lar?
Já, exegese é o ato de interpretar (vem do grego eksêgésis, eós) exposição de
fatos históricos, interpretação, comentário, interpretação de um sonho, tradução'.
Hermenêutica, por sua vez, é a ciência que tem por objeto a técnica de interpretar
textos, ela estabelece as regras para se fazer a interpretação de textos.
Somos obrigados, então, a perguntar: quem pode interpretar a constituição?
Respondemos que, oficialmente o Supremo Tribunal Federal, por conta do que
dispõe o art. 102, I, “a”, da Constituição Federal de 1988, porém, podemos
observar que todas as demais pessoas, de acordo com a teoria da Sociedade
Aberta dos Intérpretes da Constituição idealizada por Peter Häberle, pois, deve-se
democratizar a exegese constitucional, de sorte que casos de grande repercussão
sejam previamente discutidos com todos antes de serem decididos pelo Judiciário.
É o que tem acontecido nos últimos anos no Supremo Tribunal Federal, que em
casos polêmicos junto à sociedade, tem realizado audiências públicas com
representantes da sociedade civil para discutir o assunto antes de decidir, como
ocorreu com o caso das pesquisas com células tronco.
 
1.1 Hermenêutica Constitucional
Entende-se, de maneira não pacífica, que a Constituição por suas características,
está a exigir critérios de interpretação específicos, pois se trata de norma
diferente das demais leis, devido ao:
a) Seu caráter político-jurídico fundamental: o texto constitucional não é como
uma lei, pois a constituição trata de assuntos específicos que não poderiam ser
veiculados por lei, como a organização do Estado, dos Poderes, princípios
fundamentais do estado, etc., questões que não poderiam ser tratadas por lei;
b) Estabelecimento de direitos fundamentais, de caráter extremamente abstrato
e que impõem limites à atuação do Estado;
c) O excessivo caráter ideológico das constituições (aborto é constitucional?) Esse
resposta envolve valores culturais, religiosos e filosóficos não uniformes na
sociedade.
 
1.1.1 Objeto da interpretação
O objeto da interpretação é o texto constitucional com suas regras e princípios,
considerando-se que a finalidade é sua aplicação ao caso concreto específico,
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embora deva-se ter em mente que a Constituição deve ser considerada em seu
conjunto.
Quanto aos princípios consagrados constitucionalmente, como diretriz para a
atividade interpretativa, na medida em que são guias para sua própria
interpretação.
O mesmo pode-se dizer do preâmbulo da Constituição. Contudo, há corrente
doutrinária que nega sua conotação jurídica, estando fora do campo da
interpretação constitucional. Tal corrente desconsidera a função auxiliar do
preâmbulo, que é importante, para a atividade interpretativa, na medida em que
mostra os pontos basilares do sistema dispositivo constitucional, os quais serão
encontrados no texto da Carta Magna.
Questiona-se se as sentenças de matéria constitucional são objeto da
interpretação constitucional. A doutrina entende que sim, principalmente após a
criação no direito pátrio da ação declaratória de constitucionalidade, que possui
efeito vinculante. Assim as mencionadas sentenças passam a ser consideradas
como Constituição formal.
Para se bem exercer a atividade de interpretação constitucional deve-se ter em
mente a consideração de todos os elementos ou objetos para um resultado
complementar saudável à atuação da Constituição.
 
1.2 Fontes interpretativas
Com a denominação fontes interpretativas queremos dizer de onde provém a
atividade de interpretar a Constituição, ou melhor, quem faz a interpretação; a
quem incumbe interpretar a Constituição em uma sociedade democrática de um
direito.
Neste sentido, destacam-se cinco fontes interpretativas da Constituição Federal: a
interpretação político-legislativa, a jurisdicional, a promovida pelo Poder Executivo
e a doutrinária – conhecidas como interpretação em estrito senso – e as fontes
genéricas – denominadas interpretação em sentido lato.
 
1.2.1 O legislador – interpretação político-legislativa
Conforme esclarece Celso Bastos, o Poder Legislativo interpreta o texto
constitucional quando elabora determinada lei de acordo com que estipula, formal
e materialmente, a Constituição, ou ainda quando considera as possíveis
interpretações que, em situações futuras, possam ter as regras que irá aprovar.
Tem-se que o legislador, seja o constitucional exercendo seu poder constituinte
derivado ou reformador, seja o ordinário ao elaborar leis infraconstitucionais, deve
produzir a lei, de acordo com os ritos constitucionais previstos para sua
elaboração (controle formal), bem como aferir se seu conteúdo está de
conformidade com o que dispõe o texto constitucional (controle material ou
substancial).
O Poder Legislativo exerce este controle mediante interpretação a ser dada por
meio das Comissões de Constituição e Justiça, que procedem à verificação
preventiva da constitucionalidade dos projetos de lei e das propostas de emendas
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à Constituição. Tais Comissões destinam-se, basicamente, a emitir pareceres
sobre projetos de lei, examinando, previamente sua constitucionalidade.
Por isso, o legislador, no momento da produção da lei, deve proceder uma
verdadeira interpretação do texto constitucional, que lhe traça os limites válidos
de atuação, tanto materiais como formais. Se extrapoladas estas balizas, inclusive
principiológicas, a lei se tornará passível de fulminação pelo Poder Judiciário.
 
1.2. Os juízes e Tribunais – interpretação jurisdicional
Embora igualmente consideráveis as demais espécies de fontes de interpretação,
o certo é que a mais relevante delas é a efetuada pelo Poder Judiciário, seja na
adequação da norma abstrata ao caso concreto, seja na verificação em abstrato
da constitucionalidade de determinada regra.
As leis são elaboradas de forma genérica e abstrata, sendo que para tornar o
direito eficaz e operativo faz-se necessária uma conversão, obtida mediante a
interpretação operativa do aplicador da lei, onde essa regra geral e abstrata é
individualizada e concretizada. Neste sentido, diz-se que as leis são sempre obras
inconclusas. Os problemas jurídicos não podem ser resolvidos apenas como uma
operação dedutiva. Cabe ao magistrado a função de interpretar, conferir sentido à
norma, para, então, aplicá-la ao caso concreto.
Constata-se, pois, a necessidade de se superar o paradigma jurídico kelseniano
positivista, voltado à ideia de que a ciência pura é a ciência a-valorativa, a-
histórica, a-ética, onde os juristas se apresentam como meros técnicos imparciais
que aplicam formal e tecnicamente o Direito.
Daí a importância, neste processo, da formação do sistema educacional brasileiro,
em especial do ensino jurídico. Este, por sua vez, se voltado apenas para a
abstração e automática aplicação das normas jurídicas, desconectado com o
espaço social ao qual a Constituição se insere, e descompromissado com os
demais valores que lhe dão sentido (como a moral, a justiça, a igualdade, a
liberdade, a dignidade da pessoa humana, o bem comum, etc.), impossibilitará a
boa formação do intérprete jurídico. E, assim sendo, o aplicador do direito, ao
conferir solução aos diversos casos jurídicos, não o fará de maneira adequada e
sensível, resolvendo-oscom razoabilidade, justiça e igualdade substancial. Neste
sentido, acrescenta GOMES:
 
“(...) Por isso, a educação jurídica há de ser a mais completa possível, de
modo a contribuir inclusive e especialmente no perfil do caráter ético que o
referido paradigma estatal exige do profissional do Direito. Sem o
comprometimento – jurídico e moral – deste profissional com os valores
constitucionais, carece ele de credibilidade para o exercício de quaisquer
atividades jurídicas, porquanto todas elas estão vinculadas,
constitucionalmente, aos fins que ensejam a existência da própria ordem
jurídica vigente, na qual o jurista é chamado a atuar. E, quando esta ordem
tem natureza democrática, estreitam-se os laços entre a Ética e o Direito,
passando este a integrar o universo mais amplo da primeira, não sendo
possível imaginar normas jurídicas válidas que firam princípios éticos
fundamentais à convivência. (...)”
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Para tanto, o juiz irá aferir, a partir da Constituição Federal, a compatibilidade do
conteúdo de sua decisão, bem como da lei que a embasa, com o querer
constitucional. E se da interpretação da lei resultar uma incompatibilidade entre a
mesma e o comando constitucional, deixará o julgador de aplicá-la ao caso
concreto. A esta atividade de analisar a própria lei, a partir da ótica constitucional,
dá-se o nome de controle de constitucionalidade.
 
1.3 Os Administradores Públicos – interpretação promovida pelo Poder
Executivo
Também o Poder Executivo não foge da interpretação constitucional, pois, ao
exercer suas atividades na Administração Pública, terá de fazê-lo à luz dos
princípios constitucionais, dentre os quais incluem-se os princípios da legalidade,
da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, dentre outros. Os
órgãos administrativos são intérpretes da Carta Magna, seja na aplicação de seus
atos de acordo com o Direito, seja por ocasião de criação de atos normativos –
como decretos, regulamentos e portarias. Consoante acrescenta GOMES (2002, p.
50):
 
“Com base nestes e nos demais princípios fundamentais e gerais, aliados
aos princípios de hermenêutica constitucional, já apontados, é que o
administrador público – presidente da Republica, governadores, prefeitos e
demais responsáveis pela prática de atos administrativos – devem
interpretar as normas constitucionais e infraconstitucionais, realizando assim
uma interpretação administrativa”.
A atuação administrativa deve-se pautar pelo princípio da legalidade, devendo
também o conteúdo do regulamento ser pré-determinado pela lei, não podendo
desdobrar dos limites legais. Embora também se apresente como uma formulação
genérica e abstrata, o regulamento não cria ou modifica a ordem jurídica, no
sentido de impor obrigações ou conferir direito aos administrados.
Outrossim, exerce também o Poder Executivo atividade interpretativa quando
efetua o controle prévio de constitucionalidade das leis, por intermédio do
Presidente da República ao vetar, total ou parcialmente, o projeto de lei
considerado contrário à Constituição.
 
1.4 Os doutrinadores – interpretação doutrinária
 A doutrina consiste em fonte interpretativa útil ao operador do Direito, além de
desempenhar, indiretamente, um relevante papel na complementação das demais
formas interpretativas. Conforme expõe GOMES, cabe à doutrina jurídica –
produzidas pelos autores de obras jurídicas, os docentes de Direito e
jurisconsultos – elaborar teses interpretativas, não apenas objetivando a solução
de determinado caso específico, mas como esclarecimento em torno de qual deve
ser a interpretação mais razoável e adequada de determinada norma
constitucional, em determinado momento e contexto social.
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Conforme esclarece Celso Bastos, a missão do doutrinador é a de sistematizar o
Direito vigente e elaborar conceitos jurídicos, para quem a interpretação das
normas jurídicas frequentemente recorre. E, neste sentido, Paulo Bonavides
observa que a autoridade dessa interpretação depende naturalmente do grau de
reputação intelectual e da força ideológica de seus argumentos.
 
1.5 A sociedade, a opinião pública, a imprensa, etc. – fontes
interpretativas genéricas
 Conforme ressalva GOMES, praticamente, não há discordância quanto aos
sujeitos supramencionados – entendidos como intérpretes em sentido estrito –
como possíveis intérpretes da Constituição. Entretanto, no contexto da
Democracia em construção, surge forte tendência pela ampliação do rol das
pessoas legitimadas a interpretar a Constituição, denominadas pela doutrina como
intérpretes em sentido lato.
Verdadeiro marco a respeito da interpretação operada em níveis diversos dos
tradicionalmente aceitos foi a obra de Peter Häberle, em cujo subtítulo, leia-se: A
sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição para a
interpretação pluralista e procedimental da Constituição. O autor esclarece a
distinção entre uma interpretação constitucional em sentido lato e aquela a ser
feita pela jurisdição constitucional, que se subentende como interpretação em
sentido estrito. Gilmar Mendes em apresentação da obra, sintetiza-a:
 
“(...) A interpretação constitucional dos juízes, ainda que relevante, não é (e
não deve ser) a única. Ao revés, cidadãos e grupos de interesses, órgãos
estatais, o sistema público e a opinião pública constituiriam forças
produtivas de interpretação, atuando, pelo menos, como pré-intérpretes
(Vorinterpreten) do complexo normativo constitucional.”
Neste sentido, os cidadãos, os órgãos estatais, os grupos sociais, a opinião
publica, etc., são forças produtivas de interpretação ou intérpretes constitucionais
em sentido lato, o que representa uma democratização da interpretação
constitucional. Pois, consoante observa o autor: Como não são apenas os
intérpretes jurídicos da Constituição que vivem a norma, não detém eles o
monopólio da interpretação da Constituição.
Para Häberle, não existe norma jurídica, senão norma jurídica interpretada,
ressalvando que interpretar um ato normativo nada mais é do que situá-lo no
tempo ou integrá-lo na realidade pública. Pois, todo aquele que ... vive a norma
acaba, de alguma forma, por interpretá-la ou, pelo menos, co-interpretá-la. E, em
abordagem ao aludido tema, acrescenta, brilhantemente, GOMES:
 
“Cabe relembrar que interpretar equivale a compreender o significado de
algo, objeto interpretado, e que, na Democracia, todos têm o direito, não só
de compreender o sentido das leis; como inclusive de participar, direta ou
indiretamente, da elaboração destas, em face do postulado democrático da
soberania popular. Portanto, em princípio, todas as pessoas têm o direito de
conhecer, compreender, interpretar as normas constitucionais, por estas
consagrarem, simultaneamente, os princípios fundamentais do Estado
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instituído, dotado de inevitabilidade em relação a todos, bem como os
direitos; e, também, deveres fundamentais de todas as pessoas.”
 
1.4 Métodos de Interpretação Constitucional
Sendo a constituição um instrumento técnico jurídico-político, deve-se partir, na
sua interpretação, de um sistema organizado, metódico, científico, para sua
interpretação. Deve-se se socorrer à técnica científica para buscar obter os
significados e os sentidos do Texto Máximo.
Assim, a Hermenêutica e, mais especificamente, a Hermenêutica Constitucional,
fornece alguns métodos de interpretação do texto constitucional, sendo que todos
eles podem ser usados, não existindo uma prioridade de um sobre o outro ou uma
precedência de um sobre o outro.
Todos tendem a colaborar para se chegar a encontrar o sentidomais adequado do
texto constitucional.
 
a) Método jurídico (Ernest Forsthoff) – a Constituição é uma lei e, assim, devem-
se utilizar os mesmos instrumentos de interpretação da lei, tais como o:
- sistemático: indica que ao fazermos a interpretação da lei não podemos concluir
um absurdo. A lei deve ser interpretada levando-se em conta que ela não está
isolada dentro do ordenamento, ao contrário, ela está inserida num corpo de leis
que se interpenetram. Ela não pode ser contraditória com o ordenamento jurídico,
deve se chegar à interpretação de uma norma fazendo-a harmonizar-se com todo
o sistema
- teleológico: devemos aplicar a norma sob a ótica dos fins sociais a que ela se
destina e as exigências do bem comum. [1] A lei visa atingir certos objetivos,
finalidades. Devemos buscar encontrar quais os objetivos que a lei pretende
alcançar: é a mens legis;
- gramatical: procura extrair os sentidos das palavras consideradas no seu
conjunto. É o estudo do ponto de vista gramatical e sintático. A palavra deve ter
seu sentido isolado interpretado dentro da frase; deve-se observar a pontuação do
texto, a ideia que ele expressa;
- histórico: O Direito está em constante evolução já que a sociedade não é um
corpo estático no tempo (o Direito é um objeto cultural). O tecido social evolui, e,
com ele, seus valores, ideias e tudo mais. A norma é produzida num determinado
momento histórico e, muitas vezes, aplicada noutro. Para que ela não se esvazie
de conteúdo, devemos buscar as razões fundamentais que determinaram o seu
aparecimento num determinado momento, para então adequá-la à situação a que
se pretende subsumi-la
- autêntica: ocorre quando é realizada por quem produziu a norma: é a mens
legislatoris.
 
b) Método Tópico-problemático (Theodor Viehweg) – salienta o caráter prático da
interpretação – parte-se do caso concreto para a norma. É muito criticado, pois,
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interpretando-se por caso (topicamente), pode-se chegar a incongruências, o que
fere o caráter sistemático do texto constitucional.
 
c) Método hermenêutico-concretizador (Konrad Hesse) – é o inverso do método
tópico, pois parte da compreensão do texto normativo para fazê-lo incidir sobre o
caso concreto. Pressupõe que o intérprete tenha uma visão panorâmica do texto e
localize por aproximação o fato aos conteúdos normativos e valores
constitucionais.
 
d) Método científico-espiritual ou Integrativo (Rudolf Smend): A Constituição
(corpo e espírito da sociedade) não deve ser encarada como algo estático, mas
dinâmico, que se renova continuadamente, a compasso das transformações,
igualmente constantes, da própria realidade que as suas normas intentam regular.
O Direito, a Constituição e o Estado são fenômenos culturais ou fatos referidos a
valores, a cuja realização, os três servem de instrumento. As normas
constitucionais devem ser interpretadas de forma a integrar texto e fenômenos
culturais.
 
e) Método normativo-estruturante (Friedrich Müller): Faz uma distinção entre
norma e texto da norma e uma vinculação necessária entre programa normativo e
âmbito normativo. Interpretar implica aplicar a lei, concretizá-la. O texto da lei é
apenas a ponta do iceberg (interpretação é concretização, é a parte oculta da
norma) No momento de concretizar a norma, devem-se levar em consideração
outros elementos externos ao texto, mas que o integram: a doutrina, a
jurisprudência, políticos, sociais.
 
f) Método da comparação constitucional (Peter Häberle): é a busca de constatação
de pontos comuns ou divergentes entre dois ou mais direitos nacionais.
 
1.5 Princípios ou Técnicas de Interpretação Constitucional
Princípios são vetores que apontam a direção em que se deve buscar entender e
compreender uma determina norma. Servem tanto para direcionar a sua criação,
sua interpretação bem como a sua integração, no caso de lacunas.
Vejamos os princípios mais importantes utilizados na interpretação constitucional.
 
a) Supremacia da Constituição – a Constituição Federal é o plexo de normas da
mais alta hierarquia no nosso ordenamento jurídico, é ela quem dá estrutura ao
sistema jurídico, pois é a partir dela que todas as demais normas são elaboradas.
Daí decorre que, toda nova norma com ela incompatível é nula, as normas
anteriores a ela que a antagonizam são revogadas e dentre as possíveis
interpretações de uma norma, é válida somente aquelas compatíveis com o texto
constitucional. Esse princípio traz em si a ideia de rigidez constitucional, pois.
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b) Força normativa da Constituição – na solução de problemas constitucionais
deve se buscar a otimização de seus preceitos, criar condições mais favoráveis
para tirar o melhor partido possível do texto.
Assim, deve se privilegiar as decisões do Supremo Tribunal Federal, pois é órgão
constitucional responsável pela guarda da constituição (art. 102, caput), aquele
que dá a última e definitiva palavra sobre a interpretação da Carta Federal. Como
consequência, os demais Tribunais do país devem se submeter às decisões do
Supremo Tribunal Federal nas questões constitucionais.
c) Unidade da Constituição – a Constituição Federal é um sistema, deve ser
entendida na sua totalidade e não fragmentariamente. Deve se evitar conflitos
normativos, pois não há uma hierarquia entre normas constitucionais, gozando,
todas, dos mesmos atributos. O texto principal da Constituição Federal não é
maior que o texto do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
d) Concordância prática ou harmonização – diante de situações de conflito ou
concorrência o intérprete deve buscar uma função útil a cada um dos direitos em
confronto, a aplicação de um não pode implicar a supressão de outro. Por
exemplo: está garantida a liberdade de atividade profissional e econômica,
todavia, o Estado pode estabelecer taxa pelo exercício do poder de polícia na
fiscalização das atividades profissionais, como ocorre com os Conselhos de Classe.
Assim também ocorre com a liberdade de comércio de medicamento, pois o
Estado criou a ANVISA, ente fiscalizador dessa atividade em favor da sociedade.
As normas tanto criam direitos para os cidadãos como estabelecem controle
dessas mesmas liberdades, as duas tem que viver em harmonia, não se podendo
afastar uma em detrimento da outra.
e) Máxima efetividade – é o princípio da eficiência que tem por escopo imprimir a
maior eficácia social às normas constitucionais, extraindo-lhes o maior conteúdo
possível, principalmente em matéria de direitos fundamentais (subprincípio da
força normativa). No caso de normas programáticas e especialmente de direitos
fundamentais, deve-se buscar, mesmo quando carecedoras de complementação, o
máximo possível de aplicabilidade. Na solução dos problemas de transição de um
para outro modelo constitucional (constituição anterior para constituição nova),
deve prevalecer, sempre que possível a interpretação que viabilize a
implementação mais rápida do novo ordenamento.
f)Correção funcional – o órgão encarregado da interpretação não poderá, como
resultado desta, imprimir alteração da repartição de competência
constitucionalmente erigida. O princípio da correção funcional consiste em
estabelecer a estrita obediência, do intérprete constitucional, da repartição de
funções entre os poderes estatais, prevista constitucionalmente.
g) Interpretação intrínseca – as conexões de sentido devem ser buscadas dentro
do próprio texto constitucional (a Constituição Federal se auto explica) deve-se
evitar buscar sentidos fora do texto constitucional;
h) Proporcionalidade – significa adequar meios aos fins; evitar-se sacrifício
desnecessário de direitos. Uma hermenêutica do razoável. Menor ônus para se
chegar ao resultado. Ilustra esse princípio um adágio popular que diz que nãose
deve usar uma bomba para matar uma formiga, pois seria desproporcional;
 
1.6 A força da realidade face à norma jurídica
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As normas constitucionais estão ligadas à realidade fática na qual pretendem
incidir. Esta é a essência da interpretação, vista como sendo o Direito vivendo
plenamente a fase concreta e integrativa objetivando-se na realidade.
A realidade deve estar integrada ao processo de interpretação. A legislação não
acompanha o desenvolvimento técnico da ciência em geral, propiciando desta
forma a utilização da interpretação evolutiva, que é a análise da realidade durante
a atividade interpretativa para se chegar ao nível em que a sociedade se encontra.
Também não se pode separar a interpretação da existência de um caso concreto
(mesmo hipotético), porque sem este não haveria necessidade daquela.
Isto ocorre mesmo no controle abstrato de constitucionalidade das leis, havendo
diferença de enfoque fático. Com efeito, não se vislumbra um caso concreto,
porém as diversas situações possíveis, primeiramente em nível constitucional e
depois, infraconstitucional. Se a interpretação da lei gerar uma impossibilidade de
interpretação com a Constituição, ela deverá ser declarada inconstitucional.
Exercício 1:
Sobre os métodos e princípios hermenêuticos aplicáveis na seara constitucional é
correto afirmar que:
 
 
 
 
 
 
A)
Os métodos clássicos de interpretação (literal ou gramatical, histórico, sistêmico e
teleológico), segundo a doutrina majoritária, não são aplicáveis na interpretação
do texto constitucional.
B)
Segundo o método tópico-problemático, o intérprete parte de uma pré-
compreensão da norma para aplicar ao problema, pois considera que o texto
constitucional é um limite intransponível para o intérprete.
C)
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De acordo com o princípio da correção funcional, o intérprete não pode subverter
o esquema organizatório-funcional estabelecido na Constituição, pois, caso
contrário, haveria permissão para que um poder invada a competência de outro.
D)
Pelo princípio da eficácia integradora, o intérprete, ao concretizar a Constituição,
deve harmonizar os bens jurídicos envolvidos no conflito, de modo que não seja
necessário sacrificar totalmente nenhum deles.
E)
Segundo o princípio da unidade da Constituição, para que não se instaure a total
insegurança jurídica, é preciso aceitar o dogma de que existe apenas uma
interpretação possível das normas constitucionais.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(C)
Comentários:
C) 
Exercício 2:
De acordo com a consagrada teoria da interpretação das normas constitucionais,
qual é o princípio que estabelece que a interpretação constitucional deve ser
realizada de maneira a evitar contradição entre suas normas?
 
 
 
 
 
A)
Da máxima efetividade.
B)
Da unidade da constituição.
C)
Do efeito integrador.
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D)
Da justeza ou da conformidade funcional.
E)
Da concordância prática ou da harmonização.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(E)
Comentários:
E) 
Exercício 3:
O modo de pensar que foi retomado por Theodor Viehweg, em sua obra Topik und
Jurisprudenz, tem por principal característica o caráter prático da interpretação
constitucional, que busca resolver o problema constitucional a partir do próprio
problema, após a identificação ou o estabelecimento de certos pontos de partida.
É um método aberto, fragmentário ou indeterminado, que dá preferência à
discussão do problema em virtude da abertura textual das normas constitucionais.
O método de interpretação constitucional indicado no texto acima é denominado:
 
 
 
 
 
 
A)
tópico-problemático.
B)
hermenêutico-concretizador.
C)
científico-espiritual.
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D)
normativo-estruturante.
E)
sistêmico.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(A)
Comentários:
A) 
Exercício 4:
Acerca das espécies e métodos clássicos de interpretação adotados pela
hermenêutica jurídica, assinale a opção incorreta:
 
 
 
 
 
 
A)
A interpretação autêntica pressupõe que o sentido da norma é o fixado pelos
operadores do direito, por meio da doutrina e jurisprudência.
B)
A interpretação lógica se caracteriza por pressupor que a ordem das palavras e o
modo como elas estão conectadas são essenciais para se alcançar a significação
da norma.
C)
A interpretação sistemática se caracteriza por pressupor que qualquer preceito
normativo deverá ser interpretado em harmonia com as diretrizes gerais do
sistema, preservando-se a coerência do ordenamento.
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D)
A interpretação histórica se caracteriza pelo fato de que o significado da norma
deve atender às características sociais do período histórico em que é aplicada.
E)
A interpretação axiológica pressupõe uma unidade objetiva de fins determinados
por valores que coordenam o ordenamento, assim legitimando a aplicação da
norma.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(A)
Comentários:
A) 
Exercício 5:
A afirmação que “a Constituição Federal é um sistema, que deve ser entendido
harmoniosamente”, aponta para o princípio de interpretação correspondente a:
 
 
 
 
 
A)
força normativa da Constituição.
B)
unidade da Constituição.
C)
correção funcional.
D)
supremacia da Constituição.
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E)
nenhuma das anteriores.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(B)
Comentários:
B) 
Exercício 6:
Em análise aos princípios de interpretação das normas constitucionais, é 
INCORRETO afirmar que:
 
 
 
 
A)
O princípio da interpretação conforme a Constituição deverá ser utilizado para
compatibilizar ao texto constitucional aquelas normas que possuem sentido
unívoco.
B)
Em razão do princípio da eficiência deve ser atribuído a uma norma constitucional
o sentido que lhe confira maior eficácia social.
C)
O princípio da unidade da Constituição estabelece que o intérprete deverá 
considerar o texto constitucional como um todo, um sistema unitário de regras e
princípios, para evitar contradições.
D)
É inadmissível qualquer interpretação que venha alterar ou subverter a 
organização funcional constitucionalmente estabelecida pelo Constituinte
Originário, em virtude do princípio da conformidade ou justeza.
E)
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Pelo princípio da Concordância prática ou harmonização, diante de situações de
conflito ou concorrência o intérprete deve buscar uma função útil a cada um dos
direitos em confronto, a aplicação de um não pode implicar a supressão de outro.
O aluno respondeu e acertou. Alternativa(A)
Comentários:
A)

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