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Aula 2 - Sintomas Depressivos e de Ansiedade

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Carla Bertelli – 5° Período 
Sintomas depressivos e ansiedade Sintomas depressivos e Ansiedade 
• Conhecer os conceitos e como identificar sintomas 
depressivos e de ansiedade na APS. 
• Conhecer a abordagem inicial de escuta na APS ao 
usuário em sofrimento psíquico. 
• Conhecer a conduta proposta para os transtornos 
de ansiedade e depressão na APS. 
Referências: GUSSO, Gustavo; LOPES, José M.C.; DIAS, Lêda C. 
(Orgs.). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, 
Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019, p. 2388. Cap. 36. 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M.C. DIAS, Lêda C. (Orgs). Tratado 
de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e 
Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019, p. 2388. Cap. 239. 
O termo “saúde mental”, como é utilizado neste texto, refere-se ao 
resultado da interação de uma complexa série de fatores biológicos, 
psicológicos, familiares e sociais, resultando em uma forma de 
funcionamento mental a ser avaliada pelo médico de família e 
comunidade na totalidade de seu atendimento. 
A “vida mental” está inserida em um corpo biológico e, portanto, 
sofre todas as suas influências, assim como influencia eventos 
corporais, mas ela própria não é biológica. A abordagem em saúde 
mental, neste texto e na prática do médico de família e comunidade, 
segue esse mesmo princípio. 
A abordagem em saúde mental na atenção primária à saúde (APS) 
necessita de habilidades técnicas específicas do corpo de 
conhecimentos científicos específicos da psicologia e da psiquiatria, 
mescladas ao desenvolvimento de atitudes do médico. 
Os médicos de família e comunidade são, geralmente, os únicos 
recursos de saúde mental a que as pessoas têm acesso e aqueles 
que assumem a responsabilidade pelos cuidados continuados em 
longo prazo dessas pessoas. 
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Grande parte da demanda de um médico que trabalhe 
em cuidados primários de saúde é constituída por 
pessoas que estão com algum tipo de sofrimento 
psíquico, independentemente de sua origem, esteja ela 
em uma crise vital ou tenha um transtorno psiquiátrico 
bem definido. 
A tarefa de avaliar mental e emocionalmente a pessoa, 
embora tenha algumas particularidades específicas, não 
é tão diferente assim de outras tarefas do cotidiano do 
médico. A abordagem emocional requer que ele não só 
compreenda os critérios de diagnóstico, mas que seja 
capaz de acolher com sensibilidade sinais e sintomas das 
pessoas, muitas das quais terão dificuldade em relatar 
uma história clara. A abordagem emocional se traduz pela 
descrição dos sentimentos associados aos fatos, já que 
o afeto é um facilitador para a compreensão e a 
elaboração do que está ocorrendo. 
A forma mais simples de abordagem emocional em uma 
consulta é: 
●Perceber as emoções que estão em jogo. 
●Reconhecer na emoção uma oportunidade de 
compreensão do que está ocorrendo no íntimo da 
pessoa, para estabelecimento de uma relação de 
confiança com o profissional. 
●Ouvir com empatia, legitimando os sentimentos. 
●Ajudar a pessoa a encontrar as palavras e a identificar 
a emoção que está sentindo. 
●Explorar estratégias para solução do problema em 
questão. 
Na vivência do médico de família e comunidade, é 
comum a pessoa não perceber o problema, e este ser 
detectado no momento da consulta. Nesse caso, cabe ao 
médico definir em que momento emocional a pessoa se 
encontra, questionar se ela percebe e traz o problema 
ou se tem alguma ideia própria sobre ele. 
Quando ela não sabe definir o problema e o que espera 
para resolvê-lo, é necessário explorar a situação em 
algumas consultas. Às vezes, as pessoas negam que o 
problema exista, ou pensam que ele não é sério. Nesse 
caso, o médico precisa, cuidadosamente, tornar o 
problema acessível às pessoas. Ele precisa orientá-las 
sobre os problemas e as consequências negativas se eles 
não forem abordados 
Quando as pessoas trazem o problema, elas percebem 
as consequências desse problema? O início desse 
processo de avaliação, do ponto de vista da saúde mental 
nos cuidados primários, não difere muito da abordagem 
centrada na pessoa, iniciando pela escuta feita na 
anamnese, avaliando e compreendendo a dimensão do 
problema e verificando com a pessoa quais são as suas 
expectativas sobre a abordagem, quais são suas 
ansiedades sobre vir ao ambulatório e ter a abordagem 
voltada para as questões de saúde mental, o que a motiva 
vir à consulta e qual é ou quem é o recurso de referência 
esperado. 
Carla Bertelli – 5° Período 
Qualquer tipo de anamnese que busque compreender 
tanto a pessoa quanto a doença propriamente dita 
sempre se pautará pela disponibilidade de um tempo 
minimamente adequado, variável para cada situação e 
pessoa, e uma atitude de atenção empática, pela escuta 
interessada da história da pessoa, em especial quanto à 
forma de comunicação verbal e não verbal, pelos termos 
utilizados, pelas pausas e silêncios, pelo tom afetivo do 
assunto em questão, pelas variações desse tom, pelas 
queixas e pelos sintomas descritos. É importante também 
o médico estar atento às suas próprias emoções e às 
suas reações emocionais imediatas às comunicações da 
pessoa, tanto as abertas quanto as mais sutis. 
Um exame aprofundado do motivo da busca do 
atendimento é sempre fundamental, pois fornece pistas 
preciosas sobre o contexto do início dos sintomas e do 
núcleo psicológico do problema ou do conflito atual. Em 
geral, o fator desencadeante está ligado a uma situação 
de conflito ou perda, seja esta real ou imaginária, ou uma 
perda de um ideal ou uma situação idealizada. 
A repercussão emocional de uma doença nunca deve 
ser menosprezada, necessitando ser levada em conta 
como fator desencadeante de quadros emocionais 
diversos, seja ela uma simples gripe ou alguma doença 
orgânica mais grave, pois pode – por si só – levar a uma 
situação regressiva ou à vivência de algum tipo de perda. 
A pessoa poderá responder a esse desequilíbrio 
orgânico com diversos sintomas emocionais, que, 
algumas vezes, irão interferir significativamente na 
evolução e no prognóstico do quadro. 
É essencial investigar também como a pessoa era ou 
estava antes da crise, seu grau de ajuste prévio, as 
defesas e os recursos mentais que empregava para 
manter seu equilíbrio. Sua forma de relacionamento 
anterior com as pessoas mais significativas em sua vida, 
especialmente na família e no trabalho, também ajuda a 
compreender a vida de relação daquela pessoa que está 
diante de nós expressando, frequentemente, algum tipo 
de ruptura nessa rede de significados e relações. Da 
mesma maneira, devem-se investigar modos anteriores 
de adoecer, ou seja, como a pessoa adoeceu antes, que 
sintomas ela teve, como lidou com eles, como saiu ou 
não da situação, que medida mais ajudou na ocasião. 
Em suma, ao fazer a abordagem da pessoa, o médico 
deve: 
●Perceber a comunicação verbal e não verbal da pessoa 
que busca ajuda. 
●Perceber a própria reação emocional imediata às 
comunicações da pessoa. 
●Aprofundar o motivo do atendimento. 
●Verificar a existência de conflitos/perdas. 
●Questionar/relacionar com problemas orgânicos. 
●Avaliar a situação de vida antes do conflito. 
●Avaliar e descrever os achados do exame do estado 
mental. 
O exame do estado mental é parte fundamental da 
avaliação da pessoa. Diversas áreas merecem atenção e 
devem ser analisadas no atendimento de uma pessoa 
com problemas de saúde mental. As principais são 
atenção, sensopercepção, representações, memória, 
orientação, consciência, pensamento (juízo, raciocínio), 
linguagem, afetividade, inteligência e atividade voluntária 
(conduta). 
Elas podem ser agrupadas em uma fórmula mnemônica 
conhecida pelas suas iniciais, ASMOCPLIAC ( çã
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Atenção – Sofre alteração em todos os transtornos 
mentais, podendo ocorrer aprosexia (ausência total de 
atenção); distração (dificuldades na fixação da atenção); 
hipoprosexia (enfraquecimento acentuado da atenção,como nos quadros depressivos); hiperprosexia (aumento 
quantitativo da atenção, como nos quadros paranoicos). 
Sensopercepção – Considera as sensações e as 
percepções. quanto às primeiras, informam os efeitos 
dos estímulos sobre os órgãos dos sentidos, estímulos 
que podem ser externos (luz, som, etc.) ou internos (p. 
ex., sensibilidade visceral, dor em um órgão). Entre suas 
alterações, estão aumento de sensibilidade (hiperestesia), 
sua diminuição (hipoestesia), sua supressão completa 
(anestesia) ou redução da sensibilidade especificamente 
quanto à dor (analgesia). Já a percepção diz respeito ao 
ato pelo qual uma pessoa toma conhecimento consciente 
de objetos do meio exterior. Quando há alterações da 
percepção, elas se manifestam pelas ilusões e pelas 
aberrações perceptivas sensoriais (p. ex., o uso de 
mescalina faz as cores serem percebidas de forma mais 
vibrante do que realmente são). 
Memória – Suas alterações, que podem ser quantitativas 
ou qualitativas. Entre as quantitativas se encontram a 
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hipermnesia (sua acentuação) e a hipomnesia, ou 
amnesia (graus diferentes de perda da memória, por sua 
diminuição). 
Orientação – Noções de espaço e tempo. 
Consciência – Pode estar lúcida, obnubilada (diminuição 
do grau de clareza do sensório, com lentidão da 
compreensão, dificuldades de percepção e elaboração 
dos estímulos sensoriais) ou mesmo comatosa, 
geralmente acompanhada de manifestações 
neurológicas. 
Pensamento – Tem diversos elementos, podendo ir de 
um pensar elementar (ideias vagas, casuais e irregulares, 
sem lógica ou utilidade, como em alguns devaneios) a 
uma forma superior de pensar (como um ato reflexivo, 
uma sucessão lógica de ideias, encadeadas 
coerentemente). Juízo 
Linguagem – Expressão do pensamento. 
Inteligência – Mensurada por testes psicológicos 
específicos. 
Afetividade – Capacidade de expressar sentimentos e 
emoções. 
Comportamento/Conduta – Processos psíquicos que 
determinam a direção e a intensidade da ação de acordo 
com um objetivo consciente o não. 
 
.Conceito – Estado emocional vivenciado com a qualidade 
subjetiva de medo ou de emoção a ela relacionada com 
o desconforto somático subjetivo e alterações somáticas 
manifestadas. 
O sintoma de ansiedade refere-se a um estado de 
angústia, preocupação e/ou apreensão. É um sentimento 
acompanhado de outras queixas mentais como 
pensamentos excessivos, medos intensos, insônia, 
irritabilidade, palpitações cardíacas, tremores e 
parestesias periféricas ou perto da boca. Todos esses 
sintomas fazem parte de um mecanismo normal de ‘’luta 
ou fuga’’. De fato, a ansiedade pode ser benéfica pois 
aumenta o nível de vigilância e prontidão para enfrentar 
desafios, o problema é quando se torna algo exagerado 
trazendo prejuízos para sua vida. 
 
Em geral, os sintomas são relatados pelo paciente, com 
queixas normalmente de nervosismo ou angústia. Outros 
pacientes podem queixar-se com insatisfação ou álbum 
problema físico que esteja somatizado a ansiedade. Idosos 
tendem a ‘’omitir’’ a sua situação de ansiedade, tendo em 
vista o preconceito com tal situação. 
 
É importante diferenciar ansiedade de inquietação. A 
Ansiedade é um sentimento de apreensão, já a 
inquietação pode significar hiperatividade, agitação, 
irritabilidade. 
• Transtorno de Ansiedade de Separação 
• Fobia Específica 
• Transtorno de Pânico 
• Agorafobia 
• Transtorno de ansiedade generalizada 
• Transtorno de ansiedade induzida por 
substâncias/medicamentos 
• Transtorno de ansiedade devido a uma condição 
médica geral. 
Passo 1 – Diferenciar ansiedade e inquietação 
Passo 2 – Qual a causa desse transtorno? 
Passo 3 – Esclarecer se a ansiedade é o problema 
principal ou é parte de um ou mais transtornos 
subjacentes (estresse/trauma, abuso de substâncias, 
depressão, transtorno bipolar). 
é
Disponibilizar-se para escutar ativamente a pessoa 
Manter atitude de compreensão e empatia com a 
situação vivida 
Carla Bertelli – 5° Período 
Revisar com a pessoa a história do desenvolvimento da 
crise atual, de modo que ela possa compreender seu 
curso 
Identificar crises semelhantes no passado e o modo de 
resolução delas 
Comprometer a pessoa em um esforço compartilhado 
para a resolução do problema atual 
Apoiar passos práticos e realistas para resolver a crise 
atual 
Deixar de lado problemas crônicos e de personalidade 
em um primeiro momento 
Apresentar as possibilidades terapêuticas e implementar 
o plano construído em conjunto. 
A maioria das pessoas com quadros leves e moderados 
melhoram espontaneamente ou com intervenções 
medicamentosas, como seguimento usual com médico, 
atividade física, psicoterapia. 
É um transtorno mental de determinação multifatorial 
(genético, ambientais, biológicos) como o modelo diátese-
estresse 
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) 
e os Inibidores da recaptação de serotonina e 
noradrenalina (ISRSN) são os mais indicados como 
primeira opção farmacológica devido a presença de 
menos efeitos colaterais. 
 Desigualdades sociais, 
violência, família, trabalho, doença, serviços de saúde, 
gravidez e puerpério, uso de bebidas alcoólicas ou outras 
drogas. História pessoal ou familiar de depressão, uso 
exagerado dos serviços de saúde, doenças crônicas 
(diabetes), mudanças hormonais (puerpério), dor crônica, 
abuso de substancias. 
ç 
Hipotireoidismo, transtorno bipolar, esquizofrenia, 
demência, Parkinson, climatério e menopausa. 
Passo 1 – Uma boa escuta para que a pessoa exponha 
as suas inquietações. Deixar que a pessoa expresse 
livremente seus sintomas.
Passo 2 – Separar se o caso em questão é grave (alerta 
vermelho) ou pode ser acompanhado com mais calma. 
 
• Isolamento social 
• Prostração Intensa – Cansaço/exaustão 
• Grande perda de peso 
• Sintomas psicóticos 
• Tentativa de suicídio 
• Plano de suicídio elaborado. 
 
• Iniciar tratamento com antidepressivo 
• Acessar familiares ou amigos próximos para 
avaliar gravidade e auxiliar no seguimento 
• Solicitar apoio da equipe de saúde mental 
É importante saber que existem pacientes que não 
relatam o sofrimento e o pensamento suicida, isso 
acontece porque essa temática é carregada de valores 
morais e religiosos negativos. Por isso não se fala tanto. 
Conversar sobre esse tema, explicar que são 
pensamentos frequentes e recorrentes nessas situações 
pode ser terapêutico ao paciente, dando abertura para 
sua fala. 
ó
Critérios de diagnostico segundo a CID-10 
• Sintomas fundamentais: Humor deprimido, perda de 
interesse, fatigabilidade 
• Sintomas acessórios: Concentração e atenção 
reduzida, autoestima e autoconfiança reduzida, ideias 
de culpa, inutilidade, atos auto lesivos e/ou de suicídio, 
sono perturbado e apetite diminuído 
- Episodio leve: 2 sintomas fundamentais + 2 acessórios 
- Episodio moderado: 2 sintomas fundamentais + 3 a 4 
acessórios 
- Episodio grave: 3 sintomas fundamentais + >4 
acessórios 
 – Apoio da família, amigos e pessoas 
significativas, crenças religiosas, culturais e étnicas, 
envolvimento na comunidade, vida social satisfatória, rede 
social significativa, acesso a serviços e cuidados de saúde 
mental.

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