Buscar

Psiquiatria Básica (e-book) unidade 1,2,3,4,5,6

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ser 
'1C 
gente criando o futuro 
Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz 
Diretor-presidente Jânyo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo 
Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz 
Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira 
Autoria Fabiana Gonçalves Felix 
Projeto Gráfico e Capa DP Content 
DADOS DO FORNECEDOR 
Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design lnstrucional, 
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. 
© Ser Educacional 2021 
Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro 
Recife-PE - CEP 50100-160 
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. 
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. 
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio 
ou forma sem autorização. 
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.0 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do 
Código Penal. 
Imagens de ícones/capa:© Shutterstock 
o 
\ 
1 ASSISTA 
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple­
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 
1 CITANDO 
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa 
relevante para o estudo do conteúdo abordado. 
1 CONTEXTUALIZANDO 
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; 
demonstra-se a situação histórica do assunto. 
1 CURIOSIDADE 
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto 
tratado. 
1 DICA 
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma 
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 
1 EXEMPLIFICANDO 
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. 
1 EXPLICANDO 
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da 
área de conhecimento trabalhada. 
Unidade 1 - O campo da Psiquiatria e as grandes síndromes psiquiátricas 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 
O campo da Psiquiatria ....................................................................................................... 13 
Epistemologia psiquiátrica ............................................................................................. 14 
Causalidade psíquica versus determinismo biológico .............................................. 17 
A avaliação psiquiátrica ..................................................................................................... 20 
Entrevista e anamnese ................................................................................................... 21 
O Exame do Estado Mental ............................................................................................ 24 
As grandes síndromes psicopatológicas ........................................................................ 28 
Síndromes ansiosas ........................................................................................................ 28 
Síndromes depressivas e maníacas ............................................................................ 29 
Síndromes neuróticas ..................................................................................................... 31 
Síndromes psicóticas ..................................................................................................... 32 
Síndromes relacionadas ao comportamento alimentar ........................................... 32 
Síndromes relacionadas às substâncias psicoativas ............................................... 34 
Síndromes relacionadas à sexualidade ...................................................................... 34 
Síndromes psicorgânicas .............................................................................................. 35 
Sintetizando ........................................................................................................................... 36 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 37 
Unidade 2 - As síndromes psiquiátricas 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 39 
Transtornos de humor: um breve histórico ...................................................................... 40 
O que os transtornos de humor contemplam? ........................................................... 42 
Transtorno afetivo bipolar (TAS) ................................................................................... 45 
Transtornos depressivos ................................................................................................ 47 
Transtornos de ansiedade ................................................................................................... 49 
Fobia social e fobias específicas .................................................................................. 51 
Transtorno de pânico e agorafobia .............................................................................. 52 
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ............................................................ 54 
Ansiedade de separação e mutismo seletivo ............................................................. 54 
Transtornos psicóticos e mentais orgânicos .................................................................. 57 
Esquizofrenia .................................................................................................................... 57 
Transtornos neurocognitivos (TNC) ............................................................................. 59 
Transtornos relacionados ao uso de substância psicoativa ........................................ 60 
Fases da mudança de comportamento ....................................................................... 61 
Sintetizando ........................................................................................................................... 63 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 64 
Unidade 3 - Principais transtornos psiquiátricos e deficiência intelectual 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 66 
Os transtornos de personalidade ...................................................................................... 67 
Transtornos de personalidade do grupo A .................................................................. 70 
Transtornos de personalidade do grupo 8 .................................................................. 71 
Transtornos de personalidade do grupo C .................................................................. 73 
Os transtornos dissociativos .............................................................................................. 75 
Transtorno dissociativo de identidade ......................................................................... 76 
Amnésia dissociativa ...................................................................................................... 77 
Transtorno de despersonalização/desrealização ...................................................... 77 
Os transtornos alimentares e os transtornos relacionados ao controle de impulsos ........ 78 
Anorexia e bulimia nervosa ........................................................................................... 90 
Pica e transtorno de ruminação ................................................................................... 81 
Transtorno restritivo/evitativo e compulsão alimentar ............................................. 81 
Deficiência intelectual ....................................................................................................... 83 
Sintetizando ...........................................................................................................................87 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 88 
Unidade 4 - Urgências psiquiátricas, reforma psiquiátrica, psicofarmacologia e 
psiquiatria infantil 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 90 
Urgências psiquiátricas ...................................................................................................... 91 
Comportamento agressivo ............................................................................................. 91 
Suicídio .............................................................................................................................. 93 
Quadros orgânicos com alterações no estado mental ............................................. 95 
Uso ou abstinência de substâncias psicoativas ........................................................ 95 
Psicose aguda .................................................................................................................. 96 
Psiquiatria comunitária e reforma psiquiátrica ............................................................. 97 
Noções básicas de psicofarmacologia ........................................................................... 99 
Fundamentos da neurotransmissão ............................................................................. 99 
Os neurotransmissores ................................................................................................ 103 
Medicamentos antidepressivos ................................................................................. 105 
Medicamentos ansiolíticos .......................................................................................... 107 
Medicamentos psicóticos ............................................................................................ 109 
Introdução à psiquiatria infantil e da adolescência ................................................... 111 
Avaliação, exame e testagem psicológica ............................................................... 111 
Depressão infantil ......................................................................................................... 113 
Sintetizando ......................................................................................................................... 115 
Referências bibliográficas ............................................................................................... 116 
Queira ou não queira, goste ou não da ideia, os psicólogos precisam ter o co­
nhecimento mínimo de como a psiquiatria atua, pois sempre iremos nos deparar 
com pacientes que são acompanhados por essa especialidade médica. Algumas 
vezes necessária e fundamental, em outras não. Sempre nos deparamos com os 
mais diversos tipos de profissionais: aqueles que encaminham para psicólogos, 
que valorizam nossa intervenção, assim como aqueles que desconhecem, des­
prezam e usam de fórmulas químicas para silenciar o paciente. 
A disciplina de Psiquiatria básica seria muito melhor escrita por um médico 
psiquiatra. Mas o olhar de um psicólogo faz grande diferença, pois pode trazer 
consigo a experiência prática de quem já vivenciou trocas valiosas com exce­
lentes profissionais médicos, com pacientes crônicos e de situações de grande 
confusão e sofrimento, que não há como não ter o suporte medicamentoso. 
Como lidar? 
Todas as práticas de cuidado são aliadas. Reforço: práticas de cuidado. Pas­
samos por momentos difíceis na história, onde não era cuidado e respeito, mas 
castigo, isolamento, preconceito, medo e exclusão. Então é ético e fundamental 
o conhecimento sobre psicopatologia e a atuação da psiquiatria na integralida­
de do cuidado. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
A professora Fabiana Gonçalves Felix 
é formada em em Psicologia Cogniti­
va Comportamental pelo Instituto WP 
(2017), especialista em Saúde da famí­
lia e comunidade (UNIASSELVI, 2013), 
especialista em Psicologia e Saúde 
mental (UNERJ, 2002) e graduada em 
Psicologia pela Universidade Regional 
de Blumenau (FURB, 2002). É psicóloga 
na Prefeitura Municipal de Blumenau e 
atualmente atua na assistência à saúde 
da mulher e fissurados de lábio e palato. 
Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/9487271956195456 
Minha vivência como psicóloga e minha árdua luta em manter-me crítica não 
teria sentido sem a presença de cada pessoa que acolhi e atendi. Sendo assim, 
dedico a cada um deles o esforço aqui colocado para que futuros profissionais 
possam ter o mesmo cuidado que tenho ao acolher o sofrimento do outro. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
UNIDADE 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Compreender o campo epistemológico da psiquiatria; 
Conhecer os princípios da avaliação psiquiátrica, desde a avaliação da 
história do paciente, sintomas clínicos e técnicas de entrevista; 
Conhecer as grandes síndromes psiquiátricas e suas categorias. 
Tópicos de estudo 
O campo da Psiquiatria 
Epistemologia psiquiátrica 
Causalidade psíquica versus 
determinismo biológico 
A avaliação psiquiátrica 
Entrevista e anamnese 
O exame do estado mental 
As grandes síndromes 
psicopatológicas 
Síndromes ansiosas 
Síndromes depressivas e 
maníacas 
Síndromes neuróticas 
Síndromes psicóticas 
Síndromes relacionadas ao 
comportamento alimentar 
Síndromes relacionadas às 
substâncias psicoativas 
Síndromes relacionadas à 
sexualidade 
Síndromes psicorgânicas 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
O campo da Psiquiatria 
Relato de experiência 
•• 
No meu último ano de graduação em Psicologia, iniciei minha especializa­
ção em Psicologia e saúde mental. Eu sabia que queria atuar com pacientes 
psiquiátricos e que estávamos em plena força no movimento da luta antimani­
comial. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) eram recentes e a militância 
era contra a institucionalização da loucura e exclusão dos pacientes psiquiátri­
cos na sociedade. 
Meu primeiro trabalho foi em uma unidade de internação psiquiátrica em 
hospital geral. Na primeira semana pude aprender as rotinas da unidade e co­
nhecer os pacientes com quem eu iria atuar, auxiliando no processo de alta. 
Lembro de um paciente catatônico que não apresentava melhora com os me­
dicamentos, estando há três semanas internado e sem qualquer resposta. Foi 
quando o psiquiatra me perguntou se eu já havia presenciado o tratamento 
de eletroconvulsoterapia (eletrochoque). Claro que não, disse eu, perplexa. Foi 
então que ele me chamou para presenciar como era feita a aplicação e acom­
panhar o paciente catatônico. Lembro de estar imensamente incomodada, eu 
não tinha força alguma de opinar contra, até porque nem poderia, pois eu não 
conhecia a terapia, apenas os castigos destinados antigamente da forma per­
versa com que era feita essa prática. 
O psiquiatra me explicou sobre os cuidados de sedação, de certa forma eu 
estava muito curiosa (e angustiada) em ver o reestabelecimento daquele pa­
ciente. Assisti o processo de aplicação e não vi manifestação de dor, ele estava 
devidamente sedado. Mas eu vi em uma semana a resposta de um paciente to­
talmente imóvel, que não se comunicava nem com o olhar, para um mesmo pa­
ciente comendo sozinho, chorando suas dores e verbalizando suas angústias. 
Naquele momento entendi que eu precisava me abrir para aprender 
mais. Eu estava decidida a abrir mão dos meus ideais de humaniza­
ção do cuidado e de luta pela inclusão daquelas pessoas, 
mas o hospital não era o lugar ideal para minhas lutas. 
Ali recebíamos pessoas em crise e tão logo que me-
lhoravam, recebiam alta e mantinham o cuidado am-
bulatorial. Era do outro lado que eu queria estar. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Por três anos trabalhei no hospital na unidade psiquiá­
trica até que fui chamada no concurso do meu municí­
pio, para atuar no Centro de Atenção Psicossocial Álcool 
e Drogas (Caps Ad). Foi então que eu pude trabalharda 
forma como eu acreditava, no hospital aprendi e passei a 
respeitar muitas outras formas de cuidado, a compreender a função 
importante da medicalização e do trabalho integrado com outras categorias, 
como a terapia ocupacional, a enfermagem, a assistência social, entre outras. 
Esse depoimento introdutório não é para dizer a vocês que apoio eletro­
choque, mas sim para dizer que é importante fazermos as pazes com a psiquia­
tria, que é importante sim conhecer a psicopatologia, até porque há um certo 
preconceito de alguns médicos em relação aos psicólogos, visto que muitos 
destes também não conhecem o mínimo para saber interagir com uma equipe 
multidisciplinar. Os pacientes muitas vezes chegam sabendo mais do que nós 
sobre medicamentos e sobre doenças. Quantos colegas já vi desconhecer uma 
condição que era fundamental saber para lidar com o paciente com transtorno 
de personalidade e paciente em crise, inclusive psicólogos com medo da loucu­
ra! É importante conhecer para saber o que enfrentar. 
•• 
Epistemologia psiquiátrica 
A epistemologia é uma palavra composta pelos radicais "episteme", que sig­
nifica conhecimento, e "logos" que significa estudo ou ciência. Dessa forma, 
pode-se dizer que epistemologia é um campo da filosofia que se encarrega 
de estudar o conhecimento, as crenças ou sistema de crenças. Ampliando a 
compreensão para a epistemologia psiquiátrica, conclui-se que estamos aqui 
falando da compreensão do campo da psiquiatria, por onde anda suas crenças, 
seu conhecimento e seu estudo. 
A psiquiatria deriva do grego e seu significado é: "a arte de curar a alma". 
É uma área da medicina responsável pelo estudo, diagnóstico e tratamento 
dos transtornos mentais e do comportamento. O psiquiatra trabalha tanto na 
prevenção quanto no diagnóstico e na reabilitação de pessoas em diferentes 
formas de sofrimento psíquico, como a depressão, as ansiedades, os transtor­
nos psicóticos, as demências, entre outros. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Registra-se que a psiquiatria surgiu ainda no século V (a.C.) e os hospitais 
psiquiátricos na Idade Média. Mas foi no século XVIII que a medicina avançou 
enquanto um saber médico. Ao longo dos tempos o número de pacientes pas­
sou a crescer intensamente e as internações em hospitais passaram a aumen­
tar. Foi no século XX que os transtornos mentais passaram a ser estudados a 
partir do contexto biológico, com o surgimento de classificação dos sofrimen­
tos e dos transtornos, bem como os medicamentos psiquiátricos. Por haver 
todo um estudo descritivo de tais doenças, elas passaram a ser diferenciadas 
por suas características biológicas e psicopatológicas, a possibilidade de cura, 
duração e curso de cada uma delas e a diferenciação do tratamento. 
Passamos então a estar diante de uma nova forma de categorização das 
pessoas: como elas reagem ao sofrimento. Desde o século XIX passa-se a "com­
preender" a forma como algumas delas vão se posicionar diante da vida, sen­
do que estamos diante de uma época que ferve a categorização, a divisão, o 
julgamento e a avaliação. Podemos imaginar quantas "cobaias humanas" pa­
deceram, quantas mulheres foram silenciadas numa sociedade altamente pa­
triarcal, quantos pensadores foram silenciados. Na Figura 1 podemos observar 
um paciente amarrado em um colete de força, geralmente usado para conter 
pacientes agitados. 
Figura 1. Paoente em isolamento utilizando um colete de força para conter agitação. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 20/06/2021. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
Hoje nós compreendemos que a saúde mental de uma pessoa é influencia­
da por uma série de fatores, como a condição biológica, a condição familiar, so­
cial e cultural. Esses por sua vez, influenciam a nossa forma de enfrentamento, 
de superação ou de padecimento. No entanto, passamos por um período da 
história onde o sofrimento era usado de forma ideológica e desumana. Certa­
mente, estamos falando do início também de todo o conceito que trazemos até 
hoje em relação à medicina psiquiátrica, o medo de muitas pessoas de serem 
consultadas por "médicos de louco", de como esses profissionais irão realizar 
o tratamento, dando choque ou dopando, criando um afastamento e impedi­
mento do trabalho interdisciplinar. 
A psiquiatria tem mudado e os no­
vos psiquiatras também. Os espaços 
de formação hoje são diferentes de 
outrora, pois antes os residentes ti­
nham apenas o hospital psiquiátrico 
como referência de espaço de forma­
ção e, portanto, levavam essa prática 
para o consultório. A compreensão do 
sofrimento se reduzia aos sintomas e a medicalização buscava o silenciamento 
dos pacientes. Todo o movimento da reforma psiquiátrica foi fundamental para 
essa mudança de paradigma. Hoje temos os Caps, os tratamentos ambulato-
riais e uma lei que impede a internação psiquiátrica sem qualquer justificativa. 
Todo esse contexto promoveu uma mudança na grade curricular e os antigos 
professores foram saindo de cena. Claro que não podemos afirmar que todos 
são humanizados, mas não é uma questão de serem psiquiatras ou não, mas 
da condição de valores de cada profissional, independente da categoria. 
Psiquiatras são médicos, cuidam do sofrimento psíquico a partir do modelo 
biomédico, com uso de medicamentos. Isso não é considerado um problema 
na saúde mental, ao contrário, é bem importante. Erro é não haver o traba­
lho inter e multidisciplinar. Os psiquiatras realizam exames físicos, interpretam 
exames laboratoriais e de imagem e investigam condições clínicas que interfe­
rem na saúde mental, visto que há desordens que ocorrem por uma condição 
clínica e desordens emocionais ou neurológicas que podem ser melhor obser­
vadas através da avaliação neuropsicológicas, com testes. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
A terapêutica envolve alguns protocolos, onde o mais 
comum, inclusive, e o motivo de maior procura, é a 
prescrição de medicamentos, que geralmente é reco-
mendada por associar com psicoterapia. Psiquiatras 
também realizam psicoterapia, onde o ideal é que eles 
façam uma formação em uma abordagem clínica (embora 
há os que não façam atendimentos de psicoterapia com seus pa­
cientes ou façam sem formação, infelizmente, como alguns psicólogos). A inter­
nação em unidades psiquiátricas de hospital geral (ou até mesmo internação 
na clínica médica), também ocorrem por seu encaminhamento. Antigamente 
havia os hospitais psiquiátricos, que deixaram de existir no País a partir da Lei 
Paulo Delgado (Lei 10.216, de 2001) e as internações eram longas, até mesmo 
viravam depósito de pessoas desprezadas por seus familiares. Atualmente o 
tratamento é realizado de forma ambulatorial e, quando necessário, encami­
nha-se para a internação. Os encaminhamentos para atendimento psiquiátrico 
podem ser feitos por outros profissionais médicos e podem ocorrer de forma 
judicial ou por demanda espontânea. 
Apesar da psiquiatria ser um dos ramos mais antigos da medicina, sua sig­
nificância surgiu a partir do surgimento da neurociência, lembrando que a me­
dicina é uma ciência de tamanha relevância e impacto social, sendo assim, o 
estudo de fenômenos neuroquímicos deram validação e credibilidade . 
•• 
Causalidade psíquica versus determinismo biológico 
Sobre o sofrimento psíquico, o dever do profissional de saúde é avaliar se o 
sofrimento tem uma causa de base emocional ou de causa biológica. É muito 
comum ouvirmos uma queixa e rapidamente associarmos a questões emocio­
nais (pois somos psicólogos e desconhecemos questões clínicas). Muitos mé­
dicos, independente da área, encaminham para o psicólogo um paciente que 
permanece com queixas após vários exames médicos. Certamente ocorrem 
erros de alguns psicólogos que descartam uma condição clínica interferindo 
no afeto e comportamento, bem como de médicos que não escutam melhor a 
queixa do paciente e desconsideram outros caminhos para a avaliação clínica, 
julgando a queixa como de fundo psicológico. 
PSIQUIATRIABÁSICA • 
Essa questão envolve uma postura ética do profissional de saúde, pois é neces­
sário trabalhar de forma interdisciplinar e quando não for possível, no mínimo de 
forma multidisciplinar. É necessário estudar a queixa, a situação em que o pacien­
te se encontra (luto, perdas, adaptações, mudanças de rotina) e, principalmente, 
ter uma boa capacidade de escuta. É um treino diário do profissional, mesmo com 
anos de atuação. 
Nos primeiros debates da antropologia para explicar a existência das diferen­
ças raciais entre os homens, surgiram doutrinas estereotipadas em relação à evo­
lução humana. Uma delas ficou conhecida como determinismo biológico, onde 
as características físicas e comportamentais eram condicionadas a uma herança 
genética. Apesar de essas doutrinas terem sido refutadas há quase um século, 
ainda persistem preconceitos na atualidade. 
Quando nos referimos ao determinismo biológico, estamos dizendo que uma 
condição já é predeterminada, não havendo chances de mudança. No caso dos 
aspectos psicológicos, o determinismo biológico afirmava que o comportamento 
ou afeto de determinada pessoa estava condicionada pelas suas características 
hereditárias. Por esse viés, era a condição biológica da pessoa que explicava de­
terminados eventos e que teriam grande diferença na escolha de um tratamento. 
O que precisamos ter em mente é que a genética tem um fator determinante, 
porém este fator pode ser transformado por todas as condições culturais, sociais, 
religiosas ou políticas, enfim, o ser humano não está condicionado a sua marca 
biológica. Vejamos o exemplo de uma criança com Síndrome de Down, que tendo 
um ambiente saudável de crescimento pode muitas vezes alcançar um desenvol­
vimento melhor do que uma criança sem a síndrome em condições precárias de 
alimentação e demais fatores de proteção. No entanto, sabendo de toda condição 
biológica que a caracteriza, precisamos entender seus limites e suas necessidades. 
Dessa forma, voltamos para a situação discutida no início, onde a condução ética 
do profissional será marcante no sucesso do tratamento. 
Quando falamos em causalidade psíquica, estamos nos referindo às condições 
somáticas de natureza puramente emocional ou psíquica e que não tenha qualquer 
relação com uma disfunção clínica de base biológica. A causalidade psíquica pode 
ser explicada de variadas formas, dependendo da abordagem filosófica na qual a 
explicação está fundamentada. A psicanálise e a abordagem comportamental po­
derão apresentar explicações diferentes sobre a enurese infantil, por exemplo. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
Cardoso e Massimi (2017), apre­
sentam algumas ideias sobre esse 
tema pela perspectiva de Edith Stein. 
As autoras explicam que, no início do 
século XX, a causalidade psíquica esta­
va sendo muito discutida, em virtude 
das diversas teorias psicológicas que 
emergiam naquele período. De certa forma a discussão era: qual a natureza 
das situações psicológicas que originavam doenças físicas e qual o tratamento 
específico? A complexidade de respostas e alternativas terapêuticas é estuda-
da até hoje. O que as autoras concluem é que o tema da "casualidade psíquica" 
requer problematizar as teorias psicológicas atuais, que têm se deparado com 
questionamentos de natureza filosófica e epistemológica, apesar de mais de 
um século de estudos. Afirmam que quando a ciência psicológica se separa da 
filosofia, corremos o risco de reduzi-la ao naturalismo cientificista (representa-
do pela neurociência e medicina psicossomática) ou relativista das ciências 
humanas em geral. As autoras explicam que Edith Stein defendia que somente 
uma elaboração filosófica rigorosa é que pode integrar todas as explicações 
legais do fenômeno psíquico analisado, sem reduzir um fator ou outro, garan­
tindo um diálogo adequado entre as ciências naturais e culturais. 
Essa afirmação é muito rica e corrobora com a condição de uma postura 
ética do profissional psicólogo: conhecer os determinantes bioló-
gicos, saber o que é e como se comunicar com o psiquiatra, en-
tender qual é a hora de encaminhar para um outro profissional 
(médico, nutricionista etc.) e conhecer as doenças psiquiátricas. 
EXPLICANDO 
Você já ouviu falar na medicina psicossomática? A ciência, através da 
neurociência, da biologia celular e molecular e outros estudos em gené­
tica, percebeu múltiplas conexões do sistema nervoso com os sistemas 
imunológicos e endócrinos, o que possibilitou o desenvolvimento da 
medicina psicossomática. Conclui-se que mente e corpo estão integrados 
em todos os aspectos da vida humana, inclusive no adoecimento. A medi­
cina psicossomática não é uma nova modalidade da medicina, mas uma 
habilidade de compreensão da condição do ser humano que deveria estar 
presente na prática de todos os médicos. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
•• 
A avaliação psiquiátrica 
A avaliação psiquiátrica é uma avaliação médica que envolve tanto o exame da 
condição geral do paciente, quanto o Exame do Estado Mental (EEM) e a sua história 
clínica psiquiátrica. Os médicos podem recorrer aos exames laboratoriais, de ima­
gem, testes psicológicos, neurológicos e psiconeurológicos como auxiliares na ava­
liação. O diagnóstico tem como referência as psicopatologias, baseadas nas referên­
cias do Código Internacional de Doenças - 1 O (CID-1 O) e no Manual de Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais - 5 (DSM-5). 
Em geral as pessoas procuram um psiquiatra e não diretamente (ou apenas) o 
psicólogo por questões culturais e clínicas. Culturais, pois muitos ainda acham que o 
médico é o centro do tratamento e é quem pode melhor indicar a alternativa de cui­
dado para o sofrimento, e clínicas pois há situações onde a avaliação médica para o 
uso de psicofármacos se torna necessária. Há de considerarmos ainda, que o acesso 
ao profissional psicólogo, infelizmente, é limitado. 
O medicamento psiquiátrico é um dos principais instrumentos terapêuticos do 
psiquiatra, podendo também ser realizada a psicoterapia, embora haja críticas aos 
profissionais que não têm formação em alguma abordagem e se arriscam a atender 
os pacientes por psicoterapia além de medicar. Há médicos que além de formação 
em uma abordagem psicoterápica também usam das práticas integrativas, como 
auriculoterapia, aromaterapia, florais, entre outros. 
A avaliação inicial do paciente que procura o atendimento psiquiátrico passa pela 
condição física e mental. Há várias situações de desorganização mental que tem um 
fundamento orgânico, como a confusão mental em idosos que pode ser causada 
por uma infecção, por exemplo. A entrevista psiquiátrica é a forma de se obter in­
formações importantes como ponto de partida e, quando necessário, outras fontes 
são consultadas, como familiares e equipes de saúde, assim como na psicologia. 
Em relação aos serviços psiquiátricos, há a atuação ambulatorial, que incluem 
as consultas e psicoterapia ou internações, em hospital geral e hospital dia. Há duas 
formas de internação: a voluntária e a compulsória. A internação voluntária, como 
está dito, é aquela em que o paciente está de acordo com essa forma de tratamento, 
está ciente de sua internação.Já a internação compulsória necessita de critérios que 
a justifiquem, para que seja uma internação legal, mas no geral é quando o paciente 
não está ciente nem de acordo, mas está colocando em risco sua vida e a de outras 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
pessoas. A Figura 2 mostra uma avaliação psiquiátrica, que pode acontecer tanto no 
espaço ambulatorial, quanto no hospital ou outros espaços de internação e tem o 
objetivo de realizar o psicodiagnóstico e planejar o tratamento, que pode ser medi­
camentoso ou não. 
Figura 2. Avaliação psiquiátrica. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 20/06/2021 . 
•• 
Entrevista e anamnese 
Primeiramente é importante reafirmar que estamos apresentando confor­
me orientação bibliográfica, o que necessariamente não acontece ipsislitteris, 
pois a rotina e a prática de consultório, somando às demandas e experiência 
profissional, permitem e exigem novas formas de intervenção. De qualquer 
forma, o roteiro para entrevista e anamnese é bem rico de informações para os 
profissionais conseguirem se apropriar do máximo de informações pertinentes 
no diagnóstico de pessoas com transtorno mental. 
Ter habilidade e conhecer a técnica para realizar entrevistas é uma condição 
fundamental e insubstituível para os profissionais de saúde. Um pouco dessa 
habilidade é intuitiva, parte do profissional, da sua personalidade e da sua sensi­
bilidade nas relações pessoais, segundo afirma Dalgalarrondo (2000). Tão impor­
tante quanto saber das técnicas de medicalização ou intervenção psicoterápicas, 
é a condição do profissional de acolher o paciente no seu sofrimento, de conse­
guir ouvi-lo para além de seus delírios e desconexões. Necessita-se de paciência, 
respeito e habilidade para lidar com pacientes mais invasivos e agressivos. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
O objetivo da entrevista é poder 
acolher o paciente, criar v ínculo para o 
tratamento e estabelecer uma relação 
de confiança, colher o máximo de in­
formações possíveis para conhecer a 
condição psicopatológica do paciente, 
bem como sua vida e sua cultura, para 
poder identificar o seu diagnóstico e 
estabelecer o plano de tratamento. 
Dalgalarrondo (2000) sugere, sem­
pre que possível, evitar: 
1) Posturas rígidas e estereotipa­
das: o profissional deve ser flexível, pois 
não há como achar que uma forma de 
intervir deve ser a mesma para todos; 
2) Atitude excessivamente neutra ou fria: o profissional deve evitar pas­
sar a ideia de distanciamento afetivo; 
3) Reações exageradamente emotivas: o profissional não deve produzir 
uma falsa intimidade, que é o contrário da condição anterior. Não é ser frio 
nem muito caloroso, é ser acolhedor e respeitoso; 
4) Comentários valorativos: ou seja, que tragam juízos de valor sobre a 
vida e a condição do paciente, sua família e sua cultura; 
5) Reações de pena ou compaixão: esse tipo de reação não ajuda na con­
dição de acolhimento nem na explicação de fatos importantes na entrevista; 
6) Responder com hostilidade e agressão: o profissional não deve agir 
dessa forma, pois não gera empatia com o paciente, infelizmente é fato a pre­
sença dessa reação em muitos profissionais; 
7) Entrevista excessivamente prolixa: a entrevista não deve ser muito 
longa, onde o paciente fala muito, mas não diz nada, que pode ser por negação 
ou mesmo falta de condições de se manter na entrevista. Cabe ao entrevista­
dor saber manter o foco. 
Alguns aspectos são importantes também de estar atento para executar 
bem a entrevista, chamada por Dalgalarrondo (2000) como "as três regras de 
ouro da entrevista psiquiátrica", segundo mostra o Quadro 1. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
QUADRO 1 . AS TRÊS REGRAS DE OURO DA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA 
� 
Primeiros contatos 
Para pacientes muito tímidos, ansiosos e paranoides é interessante iniciar com perguntas 
neutras, (como nome, profissão, onde mora) para aos poucos fazer perguntas mais fortes e 
que podem ser constrangedoras ou dolorosas. É a famosa sabedoria popular "comer a sopa 
quente pelas beiradas". 
Pacientes organizados mentalmente 
Para estes pacientes, com nível intelectual capaz de boa compreensão, boa/razoável 
escolaridade, fora de um estado ps1cót1co, a entrevista pode ser de forma mais aberta, onde 
lhe é perm1t1da uma expressão mais fluente e espontânea. 
Pacientes desorganizados mentalmente 
Paciente que estão desorganizados mentalmente, que apresentam pouca compreensão 
e comprometimento intelectual, precisam que a entrevista seja mais estruturada, de 
perguntas mais simples e dirigidas. 
Fonte: DALGALARRONDO, 2000, p. 51 . 
A anamnese é a verificação dos sinais e características de uma complicação 
ou comorbidade, realizada através da entrevista clínica. Apesar de cada pro­
fissional de saúde ter um olhar mais específico para determinadas situações, 
no contexto da saúde mental, ela pode ser feita por várias categorias para ob­
servar o maior número de detalhes possíveis. É uma etapa bem importante do 
tratamento, pois orienta a ordem de prioridade de intervenção de cuidados, 
assim como a identificação de fatores que estão interferindo no quadro que 
se apresenta. 
A anamnese pode ser trabalhada em etapas, organizando o trabalho da equi­
pe ou do profissional executante. No Quadro 2 estão as principais situações que 
devem estar presentes na anamnese e a descrição de cada uma delas. 
QUADRO 2. INFORMAÇÕES PARA ANAMNESE 
Função 
Identificação 
Queixa principal 
História da enfermidade 
atual 
Pré-natal - nascimento 
Descrição 
Nome, sexo, idade, estado civil, grupo étnico, procedência, 
religião. 
Motivo do atendimento, acrescentar a descrição na linguagem do 
paciente. 
Início dos sintomas e sua frequência, duração e flutuações. 
Descrever na sequência cronológica dos sintomas e eventos. 
Gestação, parto, condições do nascimento (incluindo peso, anoxia, 
icterícia, distúrbio metabólico). 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Desenvolvimento na 
infância, adolescência e 
idade adulta. 
História médica e 
psiquiátrica 
Histórico familiar 
Personalidade 
pré-mórbida 
Situação socioeconõmica 
Condições de habitação 
(moradia) 
Estrutura e 
funcionamento familiar 
Grau de sociabilidade 
Escolaridade 
Trabalho 
Tabagismo, alcoolismo 
e outras drogas 
Atenção a situações 
especiais 
Condições de saúde, desenvolvimento motor, da linguagem e o 
controle esfincteriano, vida escolar, relacionamentos, sexualidade. 
relacionamento conJugal etc. 
Internações, cirurgias, doenças, tratamentos, medicamentos 
utilizados. 
Fazer genograma e ecomapa, descrever histórico de doenças, 
histórias de suicíd io, violação da lei, funcionamento social. 
Atitudes e padrões de comportamento (exemplo: competitividade, 
preocupações com limpeza, humor habitual, capacidade de 
expressar sentimentos etc.) 
Classe alta, média alta, média baixa, baixa, pobreza absoluta. 
Água encanada, energia elétrica, esgoto sanitário e coleta de lixo. 
Equilibrada, conflitos frequentes, apoio. 
Lazer e atividades soc1a1s. 
Alfabetizado, analfabeto, ensino fundamental, médio ou superior. 
Ocupação ou profissão. 
Tipo, quantidade, início, motivação para parar, quando parou. 
Luto: Tristeza por uma perda importante. Tem curso previsível 
(cerca de um ano) no ser humano saudável. 
Transtornos de adaptação: angústia, desconforto emocional, 
depressão e estresse reativos à necessidade de adaptação por 
mudanças importantes e impactantes de vida (exemplo: divórcio, 
separação dos filhos, mudança de casa, escola, país etc.). São mais 
intensos nas crianças, adolescentes e idosos, pessoas adultas 
intolerantes às frustrações e imaturas. Tem início em até 30 dias 
após o evento perturbador/modificador da vida da pessoa. Cursa 
com humor lábil, impaciência, irritabilidade, desgaste emocional, 
sensação de desânimo. Pode causar alterações na atividade laboral. 
Fonte: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, (s.d.). (Adaptado) 
•• 
O Exame do Estado Mental 
O Exame do Estado Mental (EEM) é a avaliação clínica do aspecto geral do 
comportamento, humor, cognição e outras características, que identificam as 
condições mentais de uma pessoa. É realizado nos pacientes que 
apresentam alterações em seu comportamento e afeto e avalia as 
diferentes condições da função mental. É importante que 
a pessoa a ser avaliada esteja com sua atenção preser-
vada, por exemplo: uma pessoa que esteja medicada 
de forma que não consiga se atentar às perguntas do 
examinador de certo sairá prejudicada. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Ao realizar o EEM é importante 
que o profissional esteja focado na 
avaliação geral da pessoa, como está 
sua aparência (modo de andar, seus 
adornos, cuidados com higiene pes­
soal), suas atitudes e postura durante 
a consulta ou atendimento- está coo­
perativo, indiferente, amedrontado, 
histriônico? Além da avaliação geral, o 
EEM avalia as funções mentais, ou seja, a forma como a pessoa está proces­
sando seus pensamentos e racionalidade. O Quadro 3 demonstra quais os 
parâmetros são avaliados no EEM e a forma como pode ser feita. 
QUADRO 3. O EXAME DAS FUNÇÕES MENTAIS 
� 
Funções mentais avaliadas no Exame do Estado Mental (EEM) 
1) Nível de consciência 
O que avalia? Observações e sugestões 
Vígil: apresenta abertura ocular, estado alerta 
e responsivo; 
Sonolência: lent1f1cação das 1de1as; 
Torpor: está dormindo, mas responde a estímulos; 
Coma: não pode ser acordado. 
2) Estado cognitivo 
O que avalia? 
A orientação 
Avalia a orientação autopsíquica, ou seja, se a 
pessoa se reconhece como sujeito, se reconhece 
sua condição familiar ou as pessoas próximas; e a 
orientação alopsíquica, que diz respeito ao tempo 
e ao espaço. 
A atenção 
Avalia a capacidade para centrar-se em uma 
atividade. O seu exame envolve observar: a 
vigilância, a tenacidade e a concentração. 
Memória 
Avalia a capacidade de registrar, fixar, reter, 
evocar, reconhecer objetos, pessoas, experiências 
ou estímulos sensoriais. 
Observações e sugestões 
Autopsíquica: perguntar dados sobre sua vida, 
como seu nome, nome de familiares, se reconhece 
as pessoas que a acompanham. 
Alopsíquica: em que ano está? Cidade, estado ou 
país ou lugar daquele momento, como hospital 
ou consultório. 
Vigilância: necessita observar se a pessoa 
compreende a manutenção de um foco de 
atenção para estímulos externos. Pode estar 
aumentada (hipervigilante) e diminuída 
(hipovigilante). 
Tenacidade: é a capacidade de manter-se em uma 
tarefa específica, termina até alcançar o objetivo. 
Concentração: é a capacidade de manter a 
atenção voluntária, em processos internos 
de pensamento ou em alguma atividade 
mental. Um exemplo é pedir que se subtraia, 
consecutivamente o número 7, a partir do 100. 
Desenvolve-se atividades capazes de avaliar as 
memórias imediatas (últimos minutos), recente 
(situações dos últimos dias) e remota (de tempos 
antigos vividos, como a infância, por exemplo). 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Inteligência 
Avalia o conjunto de habilidades cognitivas 
de diferentes processos intelectivos, como o 
raciocínio, planejamento, resolução de problemas, 
pensamento abstrato, compreensão de ideias 
complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem 
a partir da experiência. É importante considerar 
a média esperada para o grupo sociocultural e a 
faixa etária da pessoa avaliada. 
Sugere-se a aval iação do raciocínio lógico; a 
capacidade de fazer contas; a capacidade de 
abstração (capacidade de formular conceitos e 
ideias, compará-los e relacioná-los). 
Observar se o paciente se util iza de analogias 
e metáforas (pode ser avaliada a compreensão 
de provérbios); 
Sugere-se também avaliar a capacidade 
de generalização, por exemplo, perguntar 
sobre grupos de coisas, animais. O juízo 
crítico é a capacidade de perceber e aval iar 
adequadamente a realidade externa e separá­
la dos aspectos do mundo interno ou subjetivo. 
3) Pensamento 
O que avalia? 
Avalia as funções que conseguem associar 
conhecimentos novos e antigos, integrando, 
estímulos, analisando, abstraindo, julgando, 
concluindo, sintetizando e criando. O pensamento 
é avaliado, por meio da linguagem, nos seguintes 
aspectos: forma, fluxo e conteúdo. 
Observações e sugestões 
Forma: É a relação e nexo das ideias entre 
si, com coerência (construção das frases em 
relação à sintaxe), logicidade (pensamento 
fundado na realidade), circunstancialidade 
(alteração na qual há expressão do pensamento 
por meio de detalhes irrelevantes e 
redundantes, porém paciente consegue chegar 
ao objetivo), tangencialidade (o objetivo nunca 
é alcançado, ou não é claramente definido, 
embora o paciente fique sempre próximo ao que 
seria sua meta) e fuga de ideias (associações 
tênues ou livres). 
Fluxo: é a velocidade com que as ideias passam 
pelo pensamento (acelerado, lentificado, 
adequado ou bloqueado). 
Conteúdo: avalia os conceitos emitidos pelo 
paciente e sua relação com a realidade, como 
conteúdo predominante, preocupações, 
obsessões, ideação suicida ou homicida, 
presença de delírios (falsa crença não 
compartilhada por membros do 
grupo sociocultural). 
4) Linguagem 
O que avalia? 
É o modo de se comunicar. Envolve linguagem 
verbal, gestos, olhar, expressão facial e escrita. 
A linguagem falada é o principal ponto de 
observação. 
Observações e sugestões 
Observar a quantidade (mutismo, monossilábico, 
prolixo, não espontâneo etc.), a velocidade 
(pode ser rápida, lenta, hesitante), a qualidade 
(conteúdo do discurso (pobre ou elaborado), 
alterações na articulação das palavras, . neologismo (criação de novas palavras), ecolalla 
(repetição da última ou das últimas palavras 
dirigidas ao paciente) e o volume (alto ou baixo). 
S) Sensopercepção 
O que avalia? 
Designa qual a capacidade de perceber e 
interpretar os estímulos que se apresentam aos 
órgãos dos cinco sentidos. Quando alterada pode 
manifestar-se através das ilusões, alucinações, 
despersonalização e desrealização. 
Observações e sugestões 
As ilusões ocorrem quando os estímulos 
sensoriais reais são confundidos ou interpretados 
erroneamente, por exemplo: achar que a cadeira 
é um carrinho de bebê. As alucinações ocorrem 
quando há percepção sensorial na ausência de 
estimulo externo (percepção sem objeto), por 
exemplo: ouvir vozes sem que haja estimulo 
auditivo. A despersonalização é a alteração 
na percepção de si próprio, manifestada por 
sentimentos de estranheza ou irrealidade e a 
desrealização é a alteração na percepção do 
meio ambiente. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
6) Humor/Afeto 
O que avalia? 
O humor diz respeito ao estado emocional de 
longa duração, interno, não dependente de 
estímulos externos e pode influenciar a percepçao 
de si mesmo e do mundo ao seu redor. 
O afeto é a experiência imediata e subjetiva das 
emoções sentidas em relação à situação: Inclui a manifestação externa da resposta emocional do 
paciente a eventos. 
Observações e sugestões 
Avalia-se o humor/afeto pela expressão facial, 
gestos, tonalidade afetiva da voz, con_te_údo do discurso e psicomotricidade, choro fac1I, nsos 
imotivados etc. 
Observar a qualidade do afeto: tristeza, culpa, 
alegria, vergonha, etc.; 
a modulação do afeto: hipermodulação, 
hipomodulação, embotamento, rigidez; e a_ tonalidade afetiva: hipotimia (sintomas depressivos), 
hipertimia (euforia), disforia (tonalidade afetiva 
desagradável, mal-humorada), 
(7) Psicomotricidade 
O que avalia? 
A integração das funções de motricidade e mental 
sob o efeito da educação e do desenvolvimento do 
sistema nervoso. 
Observações e sugestões 
Observar a velocidade e intensidade da 
mobilidade geral na marcha, quando sentado e 
na gesticulação; a agitação ou retardo, a acatisia 
(movimento de "amassar barro"), os maneirismos 
_ (movimentos involuntários estereotipados), os tiques (movimentos involuntários e espasmódicos) 
e a presença de sinais de catatonia (obediência 
automática, flexibilidade cérea). 
Fonte: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, (s.d,). (Adaptado) 
Algumas observações são impor­
tantes para refletir: o EEM é uma ava­
liação médica, mas psicólogos devem 
saber, especialmente os profissionais 
que estiverem atuando diretamente 
com pacientes psiquiátricos. Ainda as­
sim, há observações e avaliações feitas 
nos quais não nos atemos. Muitas vezes nem os médicos se 
atêm com detalhes, a não ser que a situação exija um olhar 
mais apurado para um diagnóstico diferencial. Quando o 
paciente é avaliado na sua aparência, nos seus adornos, nas 
suas vestimentas ou cuidados com a higiene, deve-se sempre 
levar em conta sua cultura, seu acesso, mas principalmente a forma como ele se 
apresentava antes. 
ASSISTA 
O vídeo O exame do estado mental: avaliando funções afinal 
-sacoplimcapj-Ep. 15 (epílogo) mostra a aplicação do Exa­
me do Estado Mental (EEM), apresentado por um psicólogo. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
•• 
As grandes síndromes psicopatológicas 
As síndromes psiquiátricas são conjuntos de sinais e sintomas, menciona­
dos pelos pacientes e familiares e observados pelos profissionais de saúde, 
que possibilitam elaborar as hipóteses diagnósticas dos transtornos 
mentais. Sintomas e sinais não necessariamente são doenças. É ne­
cessário um conjunto de critérios que irão definir o diag-
nóstico, prognóstico e curso da doença. Uma análise 
breve dos principais grupos de síndromes psicopata-
lógicas ou psiquiátricas nos ajudaram a compreender 
as principais síndromes psicopatológicas. 
Síndromes ansiosas 
•• 
A ansiedade é uma condição patológica que apresenta um sentimento de 
temor acompanhado de outros sintomas e sinais de hiperatividade do sis­
tema nervoso central. Geralmente os pacientes costumam mencionar preo­
cupação, no entanto, há de se diferenciar a ansiedade normal da ansiedade 
patológica. A ansiedade normal é aquela relativa a uma condição adaptativa, 
que prepara o ser humano para uma ameaça, como: um emprego novo ou 
uma prova de vestibular. Já a ansiedade patológica traz grande sofrimento à 
pessoa, a ponto de prejudicar suas rotinas diárias e relacionamentos. Atual­
mente, as referências técnicas para os transtornos de ansiedade dividem-se 
da seguinte forma: 
a) Transtorno de ansiedade de separação; 
b) Mutismo seletivo; 
c) Fobia específica; 
d) Transtorno de ansiedade social; 
e) Transtorno de pânico; 
f) Agorafobia; 
h) Transtorno de ansiedade generalizada; 
i) Transtorno de ansiedade induzido por substância; 
j) Transtorno de ansiedade devido à outra condição médica; 
h) Outro transtorno de ansiedade não especificado. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Antigamente, o transtorno de estresse pós-traumático e o transtorno ob­
sessivo compulsivo estavam incluídos nas síndromes ansiosas, mas com o 
DSM-5 esses foram incluídos em outra categoria. Os transtornos de ansiedade 
têm sido as causas mais comuns de sofrimento e procura de tratamento. De 
todos listados acima, os mais comuns são: 
• Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): preocupação excessiva e 
abrangente sobre vários assuntos cotidianos, gerando muitos sintomas somá­
ticos, como fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia e prejuí­
zo funcional; 
• Fobia específica: é quando a pessoa apresenta um medo acentuado de 
um objeto, animal ou situação, como pavor de um pássaro, de voar de avião, de 
injeção, entre outros, o que pode gerar muitos prejuízos sociais; 
• Fobia social: é um medo excessivo de humilhação, de exposição em con­
textos sociais, que pode inclusive gerar ataques de pânico. A pessoa apresen­
ta medo de falar em público, de usar espaços comuns, até mesmo de ir para 
escola e trabalho, o que gera grandes perdas, pois ela faz de tudo para evitar 
situações que a exponha. 
• Transtorno de pânico: a pessoa sofre com ataques que ocorrem de forma 
inesperada, com a presença de grande medo de perder o controle ou morrer, 
com sintomas somáticos como taquicardia, sufocamento, tontura, formiga­
mentos, aperto ou dor no peito. Há sempre a presença do medo de que novos 
ataques aconteçam, por isso a pessoa passa a evitar sair sozinho. 
•• 
Síndromes depressivas e maníacas 
As síndromes depressivas são um grande problema de saúde pública e por 
muitos anos se mantém como a principal causa de incapacidade en­
tre todos os problemas de saúde. Do ponto de vista psicopatológi­
co, a síndrome depressiva é caracterizada pelo humor 
triste, mas apresenta também uma multiplicidade 
de sintomas, inclusive os sintomas psicóticos e fe-
nômenos biológicos associados. Dalgalarrondo 
(2000) distribui os sintomas nas seguintes cate-
gorias, conforme Quadro 4. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
QUADRO 4. SINTOMAS PRESENTES NA SÍNDROME DEPRESSIVA 
Sintomas 
Afetivos 
Alterações instintivas e 
neurovegetativas 
Alterações ideativas 
Alterações cognitivas 
Alterações da 
autovalorização 
Alterações da volição e 
psicomotricidade 
Psicóticos 
Fonte: DALGALARRONDO, 2000, p. 1 90. 
� 
Características 
Tristeza, melancolia, choro fácil e/ou frequente, apatia, 
sensação de falta de sentimento, tédio, irritabilidade, 
angústia, desespero, desesperança. 
Fadiga, cansaço, desânimo, insônia ou hipersonia, perda ou 
aumento do apetite, constipação, palidez, diminuição de libido 
e anedon1a. 
Pessimismo, culpa, arrependimento, ruminação, 1de1as de 
morte, 1deação ou plano suicida. 
Déficit de atenção e concentração, déficit de memória, 
dificuldade de tomar decisões e pseudodemência depressiva. 
Sentimento de baixa autoestima, insuficiência, incapacidade, 
vergonha e autodepreciação. 
Lentificação psicomotora, diminuição da fala, mutismo, 
tendência a permanecer na cama e recusas. 
Ideias delirantes de cunho negativo, delírio de ruína, delírio de 
culpa, hipocondria, alucinações e ilusões auditivas. 
As síndromes depressivas podem 
ser desencadeadas por diversos fato­
res: biológicos, genéticos, ambientais e 
neuroquímicos. Os subtipos de síndro­
mes depressivas podem ser: a) episódio 
ou fase depressiva e transtorno depres­
sivo recorrente; b) distimia; c) depressão 
atípica; d) depressão psicótica; e) estu­
por depressivo; f) depressão ansiosa; g) 
depressão secundária. 
As síndromes maníacas dizem respeito à condição de euforia e "alegria pato­
lógica", geralmente presente no transtorno de humor bipolar. Apresenta-se quase 
sempre agitação psicomotora, exaltação, logorreia e pensamento acelerado. De 
modo geral, os sintomas presentes nas síndromes maníacas são: aumento da au­
toestima, insônia, muita produção verbal e de forma rápida, agitação psicomotora, 
irritabilidade, arrogância, heteroagressividade, desinibição social e sexual, tendên­
cia exagerada para compras ou dar presentes (fazer doações), ideias de grandeza, 
de poder, alucinações. Os subtipos de mania são especificados no Quadro 5. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
QUADRO 4. SUBTIPOS DE SÍNDROMES MANÍACAS 
Subtipo 
Mania franca ou grave 
Mania irritada ou 
disfórica 
Mania mista 
Hipomania 
Ciclotimia 
� 
Característica 
Forma mais intensa de mania, agitação psicomotora importante, 
heteroagress1v1dade, fuga de ideias, delírios de grandeza. 
Predominância da 1mtab1lidade, mau humor, hostilidade, podendo 
ocorrer heteroagressiv1dade e destruição de Objetos. 
Presença de sintomas maníacos e depressivos ocorrendo ao 
mesmo tempo ou alternando-se rapidamente. 
É uma forma leve de episódio maníaco que muitas vezes passa 
despercebido pois a pessoa está mais disposta que o normal, fala 
muito, conta piadas e tanto a pessoa quanto seu meio social não 
saem muito prejudicadas. 
Frequentes períodos com a presença de poucos e leves sintomas 
depressivos com discreta elevação do humor. Ocorre sem que o 
indivíduo apresente um episódio completo de depressão ou mania. 
Fonte: DALGALARRONDO, 2000, p. 1 94. 
•• 
Síndromes neuróticas 
Neurose é um termo abandonado na atualidade, mas na psicopatologia ele 
é bem colocado para as situações patológicas associado a algum transtorno 
somatoforme. As principais são: 
1. Síndromes fóbicas: que também estão no grupo das síndromes ansio­
sas e são caracterizadas pelo medo irracional e de grande sofrimento para a 
pessoa; 
2. Síndromes obsessivo-compulsivos: quadro caracterizado por ideias, 
fantasias e imagens obsessivas e/ou com atos, rituais e comportamentos ob­
sessivos. É uma condição de extremo sofrimento onde a pessoa não consegue 
ter controle sobre os pensamentos; 
3. Síndromes histéricas: apresentam alterações tanto físicas (alterações 
motoras e sensoriais) quanto psíquicas (alterações de consciência, memória e 
percepção). Pode ser dissociativa, onde o paciente tem crises que se asseme­
lham a crises epiléticas, como também conversivas, onde o paciente 
apresenta alterações sensoriais e motoras,como não conse­
guir enxergar ou andar. 
4. Síndromes hipocondríacas: quadros onde a pes­
soa apresenta a ideia de doença grave, sentindo sinais 
inexistentes ou hipervalorizando os sinais insignificantes. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
•• 
Síndromes psicóticas 
As síndromes psicóticas são as popularmente chamadas de loucura. Os 
sintomas típicos são os delírios, as alucinações, pensamento desorganizado e 
comportamento bizarro. Sintomas paranoides são muito comuns, com a sen­
sação de perseguição através de alucinações auditivas e visuais. A principal 
forma de psicose é a esquizofrenia. 
A esquizofrenia apresenta sintomas bem significativos, chamados de "sin­
tomas de primeira ordem, que apresentam uma distorção entre o eu e o mun­
do". Os sintomas de primeira ordem são, segundo Dalgalarrondo (2000): 
• Percepção delirante: uma percepção normal, mas que recebe uma sig­
nificação delirante, como se fosse uma "revelação"; 
• Alucinações auditivas características: vozes de comando ou que co­
mentam coisas pejorativas ou ofensivas; 
· Eco ou sonorização dos pensamentos: o paciente ouve seus próprios 
pensamentos, como uma voz ressoando; 
• Roubo de pensamento: sensação que o paciente experimenta que seu 
pensamento foi extraído ou roubado; 
• Vivências de influência: pode ser corporal, quando o paciente sente 
que algo controla seu corpo ou ideativa, sensação que o controle dos seus 
pensamentos. 
Os sintomas de segunda ordem são os de menor importância no diagnós­
tico, ou seja, não é necessário que haja sua presença para que seja confirma­
da a esquizofrenia. São eles: perplexidade, alterações sensoriais, empobreci­
mento do campo afetivo, intuição delirante, alterações do ânimo. 
•• 
Síndromes relacionadas ao comportamento alimentar 
As síndromes relacionadas ao comportamento alimentar são perturbações 
nesse comportamento que pode levar desde o emagrecimento extremo, por 
deixar de ingerir alimentos ou reduzir de forma inadequada, até a obesidade, 
por excesso na ingestão de comida. Muito se percebe que os transtornos ali­
mentares estão relacionados com a cultura de determinadas sociedades, o que 
demonstra a maior prevalência entre mulheres jovens de países ocidentais. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Os principais tipos de síndromes relacionadas 
ao comportamento alimentar são a anorexia 
nervosa e a obesidade. A causa é multifatorial 
e está associada principalmente com a condi­
ção sócio cultural, mas também conta com fato­
res genéticos e da estrutura psicológica. 
A anorexia é a perda de peso autoinduzida por 
abstenção de alimentos ou por comportamentos como vô­
mitos, exercício excessivo e uso de medicamentos diuréticos, laxativos e 
anorexígenos. Há a distorção da imagem corporal e um medo excessivo de 
ganhar peso, portanto a pessoa começa a desenvolver uma série de com­
portamentos compulsivos como pesar-se, medir-se, começam a disfarçar a 
magreza e a evitar se alimentar para fugir de comentários e observações de 
familiares e amigos. Em função da perda de peso excessiva, começam a sur-
gir alterações endócrinas, metabólicas e eletrolíticas, como a amenorreia, 
secreção anormal da insulina, infecções, desnutrição, entre outros. 
A bulimia é caracterizada por compulsões alimentares periódicas segui­
das de métodos compensatórios inadequados como o vômito autoinduzido, 
laxantes, diuréticos e prática de exercícios em excesso para evitar o ganho 
de peso. Na bulimia, a pessoa apresenta sofrimento pela forma corporal, 
mas seu sofrimento é compensado na compulsão alimentar. Como a perda 
de peso não é perceptível como no caso da anorexia, é mais difícil para a 
família perceber o transtorno. 
O transtorno do comer compulsivo também está no quadro desta sín­
drome e consiste em episódios de compulsão alimentar, no entanto, sem 
os métodos purgativos de eliminação dos alimentos ingeridos, assim como 
não há a preocupação irracional com a forma corporal. A pessoa com esse 
transtorno começa a comer compulsivamente e só para quando fica descon­
fortável fisicamente, a maioria apresenta obesidade ou sobrepeso, outras 
características que está associada é a velocidade que comem, geralmente 
mais rápido do que o normal e sentem-se culpados após o consumo. 
Existe também o transtorno de Pica, que é caracterizado pela ingestão 
de substâncias não comestíveis, como sabonete, cabelo, cinzas de cigarro, 
argila etc. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
•• 
Síndromes relacionadas às substâncias psicoativas 
Os transtornos relacionados às substâncias psicoativas referem-se ao abu­
so e dependência de substâncias psicoativas, que ativam a região de recom­
pensa do cérebro, gerando excitação e prazer. As síndromes são: intoxicação, 
fissura, tolerância, síndrome de abstinência, abuso, dependência e as psicoses 
induzidas. 
A intoxicação, o uso nocivo e o abuso são padrões de uso que trazem danos 
tanto à saúde física quanto danos às relações familiares e sociais. A fissura é o 
desejo intenso de uso da substância. A tolerância é quando o efeito da droga 
acaba ficando menor após repetidas vezes, sendo que o organismo necessita 
cada vez de quantidades maiores para causar o mesmo efeito. A síndrome de 
abstinência é o conjunto de sinais e sintomas que se apresentam horas ou dias 
após a cessação do uso da substância que vinha consumindo continuamente. 
A dependência química é o padrão mal adaptativo do uso de substâncias 
químicas que traz grande repercussão na vida da pessoa dependente. No caso 
da interrupção do uso da substância, o corpo manifesta sintomas de depen­
dência, refletido como ansiedade, desconforto, irritabilidade e sintomas de 
abstinência. 
As psicoses tóxicas são os quadros psicóticos induzidos pelo uso de subs­
tância que podem durar horas, dias ou semanas, dependendo da substância, 
da quantidade e da condição do indivíduo. 
•• 
Síndromes relacionadas à sexualidade 
As síndromes relacionadas à sexualidade exigem bastante cautela, pois se 
torna necessário avaliar um arcabouço de situações que são tabus e conse­
quentemente geram um impacto psicossocial significativo. A sexualidade sem­
pre foi foco de atenção, portanto muitos dos transtornos surgiram ao longo 
dos tempos. As categorias de transtornos considerados são: o desejo sexual 
inibido, disfunção erétil, ejaculação precoce, vaginismo (dor na penetração), as 
chamadas perversões sexuais (pedofilia, zoofilia e necrofilia) e outros proble­
mas relacionados ao ato sexual, como abusos ou estupros que ocorrem por 
distorções da realidade ou pensamento do abusador. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
•• 
Síndromes psicorgânicas 
As síndromes psicorgânicas são aquelas resultantes uma lesão cerebral, 
que podem ter múltiplos fatores, como uma degeneração ou uma lesão vas­
cular, por exemplo. As síndromes demenciais, o delirium e outras de origem 
psicorgânicas são de origem biológica, no entanto estão entre as condições 
clínicas que tem manifestações mentais e comportamentais. 
O delirium não é o delírio comumente visto e falado. Trata-se de sintomas 
como o delírio da psicose, portanto de causa orgânica. As causas mais comuns 
do delirium são a abstinência de drogas, as intoxicações, os traumas físicos, a 
hipoglicemia, as infecções do sistema nervoso central (SNC), tumores, epilep­
sia, enxaqueca, infecções pelo HIV, entre outros. 
As demências são caracterizadas pela perda das múltiplas 
habilidades cognitivas e funcionais, como a memória, a função 
cognitiva (contas, reconhecimento, linguagem), alteração das 
funções executivas e curso progressivo. 
1 DICA 
O filme Nise: o Coração da Loucura retrata todo o movimento dessa médi­
ca no tratamento de pacientes psicóticos. 
PSIQUIATRIA BÁSICA • 
Sintetizando 
• 
Esta unidade procurou discutir os assuntos mais introdutórios à psiquiatria, 
como uma ideia do campo, seu conceito, espaços de atuação, as condições or­
gânicas e psicossomáticas, assim como algumas reflexões sobre a atuação do 
psiquiatrae a intersecção com a psicologia. 
Foram apresentados conceitos da avaliação psiquiátrica, procurando trazer 
alguns aspectos da entrevista, posturas, condutas e habilidades, bem como apre­
sentar os principais tópicos examinados na anamnese. Foi apresentado também 
o que é o Exame do Estado Mental (EEM) e o significado de cada esfera analisada. 
Outro conceito introdutório da psiquiatria é a apresentação das grandes sín­
dromes psicopatológicas (psiquiátricas), que é o conjunto de doenças que estão 
dentro do espectro de atuação do psiquiatra. Foi apresentado aqui as principais 
patologias, pois novas categorias são incluídas devida a complexidade. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
Referências bibl iográficas 
• 
CARDOSO, C.R.D.; MASSIMI, M. Causalidade psíquica e a fundamentação da psi­
cologia científica segundo Edith Stein. Teocomunicação. Porto Alegre, n. 1, p. 
26-38, 2017, v.47. Disponível em:<https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/ 
teo/article/view/25913/15912>. Acesso em: 20 jun. 2021. 
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 
Porto Alegre: Artmed, 2000. 
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO-USP. Centro de simulação de prá­
ticas de enfermagem. Orientações para o Exame Psiquiátrico. [s.d.]. Disponí­
vel em: <https://ed isci pli nas.usp. br/pl ugi nfile.ph p/3596396 /mod_resou rce/ 
content/1/ORIENTACOES_PARA_EXAME_PSIQUITRICO.pdf>. Acesso em: 20 jun. 
2021. 
NISE - Coração da loucura. Direção de Roberto Berliner. Rio de Janeiro: Imagem 
Filmes, 2016. (106min.), son., calor. 
O EXAME do estado mental: avaliando funções afinal - sacoplimca pj - Ep. 15 
(epílogo). Postado por Breno Sanvicente-Vieiral. (22min. 57s.). son. calor. port. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rlJEjLZkgiA>. Acesso em: 20 
jun. 2021. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
UNIDADE 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Conhecer os principais transtornos psiquiátricos e suas características mais 
relevantes; 
Conhecer os detalhes de cada diagnóstico, dados epidemiológicos, 
características clínicas e tratamento. 
Tópicos de estudo 
Transtornos de humor: um 
breve histórico 
O que os transtornos de 
humor contemplam? 
Transtorno afetivo bipolar (TAB) 
Transtornos depressivos 
Transtornos de ansiedade 
Fobia social e fobias específicas 
Transtorno de pânico e 
agorafobia 
Transtorno de ansiedade 
generalizada (TAG) 
Ansiedade de separação e 
mutismo seletivo 
Transtornos psicóticos e 
mentais orgânicos 
Esquizofrenia 
Transtornos neurocognitivos 
(TNC) 
Transtornos relacionados ao 
uso de substância psicoativa 
Fases da mudança de 
comportamento 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
•• 
Transtornos de humor: um breve histórico 
Os sentimentos de dor e vazio na alma são quase universais. Ao longo da 
história, grandes mentes se debruçaram sobre essas sensações, tão naturais e 
humanas. Em sua tese de doutorado, Almeida (2018) apresenta a história dos 
transtornos de humor. Resumidamente, Hipócrates os formula no período co­
nhecido como Antiguidade Clássica. A mania e a melancolia, por exemplo, são 
os quadros clínicos embrionários da história da medicina. Aristóteles associa o 
temperamento melancólico às capacidades artística e intelectual. Para o filóso­
fo, tal aspecto era um sinal de transtorno mental causado pelo excesso da bile 
negra. Já Areteu caracteriza a tristeza dentro da melancolia e chama atenção 
para uma preocupação mórbida de caráter delirante. Dessa maneira, ele es­
tabelece um vínculo entre mania e melancolia, sentimentos diferentes dentro 
de uma mesma doença. Vale a pena notar que, dentro desse grande e antigo 
período, já existia a ideia de uma doença provocar desequilíbrio não apenas no 
cérebro, mas no corpo inteiro. 
Entrando na Idade Média, marcada pela visão religiosa sobre os transtornos 
mentais, inicia-se a fase de "demonologia" do sofrimento psíquico. Por exem­
plo, a apatia, considerada como preguiça, entra para o rol dos sete pecados 
capitais. Justifica-se, portanto, o preconceito sobre a depressão, que dura até 
hoje: algumas pessoas ainda pensam que a doença nada mais é do que "coisa 
de gente fraca e preguiçosa" ou, simplesmente, "falta do que fazer". 
O movimento renascentista recuperou as perspectivas filosófica, biológica 
e psicológica do sofrimento e voltou a vê-lo como uma doença. Em 1621 , Ro­
bert Burton diferencia a melancolia da loucura. Entretanto, reconhe­
ce momentos em que elas ocorrem concomitantemente, como no 
caso da mania. Finalmente, a ciência moderna constrói a teoria 
dos humores sobre a ideia de um desequilíbrio entre as partes 
do cérebro. Segundo Souza e Lacerda (2013 apud Almeida, 
201 8, p. 29), o termo "depressão" apareceu pela primeira 
vez em 1 680; o objetivo era designar um estado de desâ-
nimo ou perda de interesse. 
Vale a pena considerar a contribuição de Philippe Pinel 
nesse processo, um marco na psiquiatria. Ele defendeu que • 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
esse ramo da medicina deveria ter um processo de observação rigoroso, além 
de se aproximar mais das ciências médicas e se afastar de cenários ideológicos. 
In ic ia-se, portanto, a doença institucionalizada, em outras palavras, passa-se 
a descrever quadros clínicos de maneira adequada e medica-se o sofrimento. 
Além disso, a internação surge como medida terapêutica. 
De volta às alterações de humor, o século XIX começa a descrever melhor 
as alterações entre mania e depressão. Apesar de o debate sobre as questões 
mentais tender para o aspecto moral, nunca se deixou de lado a h ipótese de 
lesões cerebrais ou disfunções físicas. Freud e Kraepelin mantiveram discursos 
opostos sobre a origem dos transtornos mentais; a famosa rivalidade entre de­
terminismo biológico e causalidade psíquica. Em 1905, Adolf Meyer sugere 
que se substitua o termo "melancolia" por "depressão". Graças à sua concepção 
de que o transtorno psiquiátrico é uma disfunção na capacidade de reagir aos 
problemas cotidianos, os postulados do psiquiatra suíço influenciaram signi­
ficativamente o primeiro Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM). 
A visão da medicina sobre os transtornos de humor evoluiu da seguinte maneira: 
a. Ideia determinista, hereditária e "biologicista": do fim do sécu­
lo XIX até meados de 1 940, essa visão reinou sobre a maneira com 
que se tratava o comportamento depressivo. O coma insulínico, as 
terapias convulsivas e a lobotomia são alguns exemplos de terapia 
durante esse período; 
b. Teorias morais: preocupadas com a dignidade do paciente, elas sur­
gem na década de 1 950. Destacam-se as teorias psicanalíticas e da 
antipsiquiatria, que já falavam sobre como as influências psicológicas 
e sociais moldavam os quadros clínicos; 
c. Psicofarmacologia: esse ramo surge como uma esperança de se so­
lucionar os transtornos mentais da mesma forma que os antibióticos 
atuavam contra i nfecções; 
d. Depressão como desequilíbrio químico do cérebro: a perspectiva 
biológica da condição retoma os holofotes em função dos avanços 
nas pesquisas farmacológicas; e 
e. "Década de ouro do cérebro": a partir dos anos 1 990, o congres­
so americano considera este órgão como central na explicação dos 
transtornos. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
Essa lógica perdura até os dias de hoje. As medicações são peças chaves na 
adequação das pessoas ao trabalho e ao convívio social e familiar. Tal relação 
é fruto de uma sociedade que vive em função de trabalho, tempo, praticidade 
e produção. Em outras palavras, trata-se de um contexto social. Não sabemos 
mais "como sofrer" e, como consequência, poupamos nossos filhos de frus­
trações, o que apenas lhes causa uma série de sofrimentos futuros. Enquanto 
isso, profissionais da psicologia e da educação buscam humanizar as relações 
sociais e o próprio sofrimento. 
•• 
O que os transtornos de humor contemplam? 
O humor é o estado emocional de uma pessoa, isto é, a forma de expres­
sar emoções. Frente às situações da rotina diária,é normal que ele oscile ao 
longo do dia. Quando tal oscilação prejudica relações, compromissos e a vida 
laboral, torna-se patológica. Os termos mais comuns às condições patológi­
cas do humor são: 
• Disforia: mudança repentina e transitória do humor, com sentimentos 
de angústia, pesar, luto e ansiedade; 
• Eutimia: humor normal ou estável; 
• Hipertimia: felicidade exagerada ou doentia; 
• Hipotimia: humor "mais baixo" ou triste. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os transtornos mentais 
e do comportamento por meio do Código Internacional de Doenças (CID). Em 
1993, o CID-10 relacionou os transtornos de humor entre os códigos F30 a F39. 
Obviamente, cada classificação apresenta suas próprias especificidades. To­
memos o exemplo da depressão grave. É possível descrevê-la como: CID F33.2 
- depressão grave sem sintomas psicóticos. 
O CID-1 O considera esses transtornos como situações em que há alteração do 
humor ou afeto de forma que afete o nível global de atividade do indi­
víduo. Além disso, é comum observar depressão nesses ca­
sos, seja ela associada à ansiedade ou não. A maioria dos 
transtornos tende a ser recorrente e geralmente ocorre 
por situações estressantes. O Quadro 1 resume a forma 
como o CID-10 classifica e qualifica tais transtornos. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
QUADRO 1 . TRANSTORNOS DO HUMOR 
� 
F30 - Episódio maníaco 
F30.0 H1poman1a 
F30.1 Mania sem sintomas ps1cót1cos 
F30.2 Mania com sintomas psicóticos 
F30.8 Outros episódios maníacos 
F30.9 Episódio maníaco não especificado 
F30.0 Hipomania 
F31 - Transtorno afetivo bipolar 
F31.0 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual hipomaníaco 
F31.1 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos 
F31.2 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos 
F31.3 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo leve ou moderado 
F31.4 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave sem sintomas psicóticos 
F31.5 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos 
F31.6 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto 
F31.7 Transtorno afetivo bipolar, atualmente em remissão 
F31.8 Outros transtornos afetivos bipolares 
F31.9 Transtorno afetivo bipolar não espec1f1cado 
F32 - Episódio depressivo 
-
Ep1sód10 depressivo leve 
32.00 - Sem sintomas ps1cót1cos 
32.01 - Com sintomas ps1cót1cos 
Ep1sód10 depressivo grave sem sintomas ps1cót1cos 
Ep1sód10 depressivo grave com sintomas ps1cót1cos 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
Outros episódios depressivos 
Episódio depressivo não especificado 
F33 - Transtorno depressivo recorrente 
-
-
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve 
33.00 - Sem sintomas somáticos 
33.01 - Com sintomas somáticos 
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado 
33.10 - Sem sintomas somáticos 
33.1 1 - Com sintomas somáticos 
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave, sem sintomas psicót1cos 
Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave, com sintomas psicót1cos 
Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão 
Transtorno depressivo recorrente não especificado 
F34 - Transtornos persistentes do humor (afetivos) 
C1clotimia 
Distim1a 
Outros transtornos persistentes do humor (afetivos) 
Transtorno persistente do humor (afetivo) não especificado 
F38 - Outros transtornos do humor (afetivos) 
-
-
Outros transtornos únicos do humor (afetivos) 
38.00 - Episódio afetivo misto 
Outros transtornos recorrentes do humor (afetivos) 
38.1 O - Transtorno depressivo breve recorrente 
Outros transtornos especificados do humor (afetivos) 
F39 - Transtorno do humor afetivo não especificado 
Fonte: OMS, 1 993, [s.p.J. (Adaptado). 
Percebe-se que a instituição atribuiu todas as medidas possíveis à triste­
za, seja ela com agitação, inatividade, irritabilidade, choro ou, até mesmo, a 
ausência dele. 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
•• 
Transtorno afetivo bipolar (TAB) 
Em sexto lugar dentre as maiores causas de incapacitação para o trabalho 
e demais atividades da rotina diária, o transtorno afetivo bipolar (TAB) é uma 
doença crônica e incapacitante, que acomete 1% da população mundial. Des­
taca-se pela presença de dois extremos de humor: deprimido e expansível ou 
irritável. O TAB se divide em dois tipos: 
• Tipo 1: mais raro, com maior taxa de suicídios e um pior prognóstico. Os 
sintomas demoram mais para se estabilizarem; 
• Tipo l i : comum e mais leve, não apresenta episódios de mania, apenas 
de hipomania. 
Estudos indicam que 1/4 de todos os casos de suicídio apresenta diagnósti­
co de TAB. Portanto, é uma doença com alto risco. O diagnóstico e os sintomas 
podem se confundir com os de outros transtornos, como os de: personalidade 
borderline; déficit de atenção e hiperatividade; e impulso. O Quadro 2 apresen­
ta as principais diferenças e características diagnósticas do TAB tipo I e l i . 
QUADRO 2. CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 
::=:::::::=:::: 
Transtorno afetivo bipolar 1 Transtorno afetivo bipolar li 
Ao menos um episódio de mania ao longo 
da vida. 
Ao menos um episódio hipomaníaco ao longo 
da vida. 
Quadro de mania persiste por, pelo menos, 
uma semana. 
Dura de dias a meses com humor irritável ou 
impaciência. Mais difícil de diagnosticar. 
Possibilidade de sintomas ps1cóticos. Não há sintomas psicóticos. 
Quando em mania, sem crítica de sintomas. 
Quadro mais grave. 
Paciente apresenta crítica dos sintomas. Ge­
ralmente, quadro menos grave. 
Em ambos 
Autoestima elevada 
Diminuição do sono 
Mais falante 
Fuga de ideias 
Distração 
Aumento de atividade dirigida 
Atitudes compulsivas 
PSIQUIATRIA BÁSICA . 
O TAB se manifesta clinicamente por meio de quadros depressivos com a 
presença de anedonia, que os torna mais duradouras; geralmente, ocorrem no 
TAB tipo l i . Também se observa casos de mania ou de hipomania. Em algumas 
situações, inclusive, eles se misturam e há uma superposição de pelo menos 
três sintomas. Esse é um estado delicado, com mais índices de internações e 
maior risco de suicídio quando comparado às condições "puras" ou não mistas. 
Os fatores de risco para a bipolaridade incluem: histórico familiar; manifes­
tação de sintomas antes dos 20 anos; maior número de ocorrências depres­
sivas no histórico de vida; e depressão pós-parto. Carneiro e Moreno (2020) 
afirmam que filhos de pais com TAB têm maior probabilidade de desenvolver 
a doença. Seus estudos apontam uma concordância entre 40% a 70% de chan­
ces para filhos e 5% a 10% em parentes de primeiro grau. Fatores ambientais 
também podem influenciar, seja gerando mudanças a nível biológico ou contri­
buindo para o desenvolvimento da doença. 
Episódio maníaco 
Dentro do transtorno bipolar do tipo 1, esse episódio se caracteriza por um 
humor elevado, expansível ou irritado e por um aumento anormal da energia, 
que dura por, pelo menos, uma semana e se mantém na maior parte do dia. Ge­
ralmente, o indivíduo acometido pela condição apresenta: autoestima elevada; 
diminuição da necessidade do sono; eloquência; fuga de ideias; pensamentos 
acelerados; agitação; aumento da atividade social ou sexual; e envolvimento 
em situações de risco, como investimentos financeiros precipitados. 
EXPLICANDO 
Você sabe qual é a diferença de humor e afeto? O primeiro diz respeito ao 
estado emocional interno do indivíduo. Normalmente, é descrito de forma 
subjetiva, como: calmo; feliz; triste; ou impaciente. Já o afeto é a manifestação 
do humor ou da emoção. A forma como o médico ou o psicólogo descreve 
o humor segue os seguintes elementos: qualidade; quantidade; variação; 
adequação; congruência; plano; normal; ou lábil. Por exemplo: um paciente 
catatônico encontra-se com o humor embotado; um paciente em mania, com 
o humor expansível, inadequado; e um paciente deprimido, com o humor lábil. 
O leitor pode perguntar: tanta disposição é ruim? Deve-se entender

Outros materiais