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Cultura Bíblica

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Prévia do material em texto

BíBlica
 Prof. Alexandre de Paula Amorim
cultura
Indaial – 2021
2a Edição
Impresso por:
Elaboração:
 Prof. Alexandre de Paula Amorim
Copyright © UNIASSELVI 2021
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
A524c
Amorim, Alexandre de Paula
Cultura bíblica. / Alexandre de Paula Amorim. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2021.
218 p.; il.
ISBN 978-65-5663-582-8
ISBN Digital 978-65-5663-581-1
1. Texto bíblico. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 220
O presente livro didático tem como objetivo apresentar os aspectos culturais, 
étnicos, ecológicos, econômicos, religiosos e sociais dos antigos hebreus e dos demais 
povos antigos do Oriente Próximo e da Palestina. Permitir que o acadêmico possa ser 
apresentado e introduzido aos diversos mundos e às diversas culturas que figuram, 
que fizeram parte e que influenciaram na construção do texto bíblico.
É importante que o leitor tenha em mente que, Apesar de estarmos tratando 
de uma disciplina de natureza religiosa, o foco da disciplina Cultura Bíblica não é a 
religião em si e nem o texto bíblico, precisamente. O interesse principal da disciplina é 
o de entender a cultura, ou melhor, as culturas e as sociedades que deram origem aos 
escritos bíblicos. Todo o esforço dirigido é para a compreensão dos aspectos culturais, 
étnicos, ecológicos, econômicos, religiosos e sociais de outros vários por trás do texto.
No Tópico 1 apresentaremos a discussão acerca do conceito antropológico 
de cultura. A origem e a evolução do conceito que remontam as análises do tema 
desenvolvidas por John Locke ainda no século XVII até as contribuições mais atuais 
sobre o tema e conceito. Na sequência, apresentaremos uma introdução à Bíblia, sua 
origem, sua história, sua relevância para os povos semitas e para a civilização ocidental. 
As especificidades da Bíblia, quanto às diferenças entre os textos da Bíblia hebraica, a 
Septuaginta, a Bíblia cristã católica e a Bíblia protestante. 
No Tópico 2 temos um panorama sobre a Palestina, sua origem, história, 
localização, principais características históricas, culturais e ambientais. Sua ocupação, 
as disputas e sua importância como o cenário, como o contexto vital mais importante 
que influenciou na formação dos judeus e dos escritos bíblicos. Também há informações 
básicas sobre o Crescente Fértil e a capital judaica, Jerusalém.
No Tópico 3 apresentaremos uma história sumária dos hebreus, sua origem, seu 
modo de vida, a formação de sua religião, os etnônimos, sua trajetória tribal à formação da 
monarquia e sua relação com os diversos povos, semitas e não semitas que fizeram parte 
da formação de desenvolvimento dos antigos hebreus e, posteriormente, dos judeus. 
Bons estudos!
Prof. Alexandre de Paula Amorim
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — A TERRA, A CULTURA E O POVO DA BÍBLIA ................................................... 1
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À CULTURA E A BÍBLICA ............................................................3
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................3
2 A ORIGEM DA CULTURA ......................................................................................................5
3 O QUE É CULTURA? ............................................................................................................. 7
4 A BÍBLIA............................................................................................................................. 12
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 22
TÓPICO 2 — A TERRA: CANAÃ, ISRAEL, PALESTINA ........................................................ 25
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25
2 TOPONÍMIA ........................................................................................................................27
3 LOCALIZAÇÃO E CLIMA ....................................................................................................27
4 O CRESCENTE FÉRTIL ..................................................................................................... 28
5 A CAPITAL ........................................................................................................................ 30
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................33
TÓPICO 3 — O POVO: OS HEBREUS E OS SEMITAS ........................................................... 35
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35
2 OS HEBREUS .....................................................................................................................37
3 ETNONÍMIA ....................................................................................................................... 40
4 OS SEMITAS ..................................................................................................................... 42
4.1 OS CANANEUS .....................................................................................................................................43
4.2 OS BABILÔNICOS ................................................................................................................................44
5 POVOS NÃO SEMITAS ...................................................................................................... 48
5.1 OS EGÍPCIOS ........................................................................................................................................ 48
5.2 OS PERSAS............................................................................................................................................51
5.3 OS GREGOS ..........................................................................................................................................52
5.4 OS ROMANOS ......................................................................................................................................55
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................57
RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................59
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 60
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 63
UNIDADE 2 — O MUNDO E A CULTURA DO ANTIGO TESTAMENTO ................................... 65
TÓPICO 1 — A VIDA CULTURAL DOS HEBREUS ..................................................................67
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................67
2 O MODO DE VIDA HEBRAICO ........................................................................................... 68
2.1 O MODO DE PRODUÇÃO .....................................................................................................................71
3 A COSMOVISÃO HEBRAICA ..............................................................................................76
3.1 A MITOLOGIA HEBRAICA .................................................................................................................... 77
3.2 AS CONCEPÇÕES JUDAICAS ACERCA DA CRIAÇÃO................................................................ 80
3.3 CONCEPÇÕES JUDAICAS ACERCA DO SOFRIMENTO ...............................................................82
4 O PARENTESCO ............................................................................................................... 85
4.1 O MATRIMÔNIO E A SEXUALIDADE .................................................................................................89
4.2 O PAPEL DA MULHER ........................................................................................................................94
4.3 O LEVIRATO ..........................................................................................................................................96
4.4 OS ANCIÃOS ......................................................................................................................................... 97
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................99
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................100
TÓPICO 2 — A VIDA RELIGIOSA DOS HEBREUS ...............................................................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103
2 O SISTEMA DE SACRIFÍCIOS ......................................................................................... 104
3 AS FESTIVIDADES RELIGIOSAS ....................................................................................106
3.1 O HABURAH ........................................................................................................................................108
3.2 O QUIDDUS .........................................................................................................................................108
3.3 A FESTA DA PÁSCOA .......................................................................................................................109
3.4 A FESTA DOS PÃES ÁZIMOS ............................................................................................................111
4 A ARTE JUDAICA ............................................................................................................ 112
4.1 O ANICONISMO DAS RELIGIÕES ABRAÂMICAS ...........................................................................114
5 PRINCIPAIS CÓDIGOS LEGAIS DO PERÍODO PATRIARCAL ......................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................117
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 118
TÓPICO 3 — A VIDA POLÍTICA DOS HEBREUS .................................................................. 121
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121
2 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA NO PERÍODO TRIBAL ........................................................122
3 A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA NA MONARQUIA ...............................................................123
3.1 A GEOPOLÍTICA JUDAICA ................................................................................................................ 126
4 AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS NO PERÍODO MONÁRQUICO ............129
5 AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS PROVOCADAS PELO EXÍLIO ............130
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................135
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................138
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 141
UNIDADE 3 — O MUNDO E A CULTURA DO NOVO TESTAMENTO ..................................... 147
TÓPICO 1 — A VIDA CULTURAL NO NOVO TESTAMENTO .................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................149
2 O PERÍODO DO INTERTESTAMENTO ..............................................................................150
2.1 O ESCRIBA E O SÁBIO ...................................................................................................................... 153
2.2 O ECLETISMO DO INTERTESTAMENTO ........................................................................................ 155
2.3 AS SEITAS, OS GRUPOS E OS PARTIDOS JUDAICOS .............................................................1582.3.1 Os Fariseus ................................................................................................................................158
2.3.2 Os Saduceus ............................................................................................................................ 159
2.3.3 Os Zelotas .................................................................................................................................160
2.3.4 Os Herodianos ..........................................................................................................................161
2.3.5 Os Essênios ..............................................................................................................................161
3 MODO DE VIDA NO NOVO TESTAMENTO ........................................................................164
3.1 A FAMÍLIA NO NOVO TESTAMENTO ...............................................................................................165
3.2 O MODO DE PRODUÇÃO DO NOVO TESTAMENTO .................................................................... 170
3.3 A DIETA NO NOVO TESTAMENTO ................................................................................................... 171
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 173
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 174
TÓPICO 2 — A VIDA POLÍTICA NO NOVO TESTAMENTO ................................................... 177
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 177
2 O IMPÉRIO ROMANO .......................................................................................................178
3 A SITUAÇÃO POLÍTICA DA PALESTINA ........................................................................182
3.1 CIDADES, VILAS E ALDEIAS ............................................................................................................ 187
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................190
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 191
TÓPICO 3 — A VIDA RELIGIOSA NO NOVO TESTAMENTO ................................................193
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................193
2 A IMPORTÂNCIA DO TEMPLO E DA SINAGOGA NO NOVO TESTAMENTO .....................194
3 O JUDAÍSMO DO NOVO TESTAMENTO ...........................................................................196
3.1 CRENÇAS E CRENDICES ................................................................................................................ 199
4 OS SAMARITANOS ..........................................................................................................201
5 JESUS E A CULTURA DO NOVO TESTAMENTO ............................................................. 202
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 205
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 209
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................210
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................213
1
UNIDADE 1 — 
A TERRA, A CULTURA E O 
POVO DA BÍBLIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a importância dos elementos culturais na leitura da Bíblia;
•	 analisar	os	desafios	de	compreensão	do	texto	bíblico;
• entender o que é cultura; 
•	 aplicar	a	concepção	antropológica	de	cultura	à	leitura	bíblica;
•	 entender	a	importância	da	Palestina	no	mundo	antigo;
•	 identificar	os	diferentes	topônimos	e	ocupações;
• compreender a realidade ambiental da cultura judaica;
•	 entender	a	origem	dos	judeus;
•	 identificar	os	principais	elementos	da	formação	da	identidade	judaica;
•	 distinguir	entre	a	religião	javista	e	o	judaísmo;
•	 situar	Israel	no	contexto	palestinense.
•	 perceber	influências	e	contribuições	dos	povos	e	nações	no	judaísmo.
	 Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	dela,	você	encontrará	
autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	INTRODUÇÃO	À	CULTURA	BÍBLICA
TÓPICO	2	–	A	TERRA:	CANAÃ,	ISRAEL,	PALESTINA
TÓPICO	3	–	O	POVO:	ISRAEL,	OS	POVOS	SEMITAS	E	OS	POVOS	NÃO	SEMITAS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
INTRODUÇÃO À CULTURA E A BÍBLICA
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO 
“A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. 
Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm 
visões desencontradas de cada coisa.”
(Ruth Benedict)
“Que o homem progrida quanto quiser, que todos os ramos do 
conhecimento humano se desenvolvam ao mais alto grau, coisa 
alguma substituirá a Bíblia, base de toda a cultura e de toda a 
educação.”
(Immanuel Kant)
Em	 relação	 à	 leitura	 da	 Bíblia,	 a	 maioria	 dos	 exemplares	 disponíveis	 para	
aquisição	 é	 fruto	 de	 traduções	 literais,	 que	 traduzem	 o	 significado,	 mas	 que	 não	
conseguem	traduzir	o	sentido,	como	nas	traduções	idiomáticas.	Outro	fator	importante	
é	 compreender	 que	 não	 se	 trata	 de	 descrições	 precisas	 e	 exatas,	 pois	 os	 escritos	
bíblicos	não	foram	escritos	para	os	parâmetros	experimentais	da	ciência	moderna.	E	
assim	como	não	satisfaz	à	exigência	da	ciência	moderna,	os	escritos	bíblicos	também	
não	 satisfazem	 a	 exigência	 antropológica,	 no	 sentido	 de	 não	 serem,	 em	 rigor,	 um	
registro	etnográfico.	Os	relatos,	por	mais	que	deixem	escapar	alguns	detalhes	históricos	
e	etnológicos,	são	econômicos	nessas	informações,	pois	foram	escritos	para	falantes	
nativos	e	não	para	serem	escrutinados	por	outras	culturas	e	em	outras	épocas.	
É	 comum	certas	 tradições	 judaicas	e	 cristãs	 considerarem	o	 judaísmo	como	
sendo	 a	 saga	 linear	 de	 uma	 religião	 e	 de	 um	 único	 povo,	 que	 tem	 sua	 origem	 na	
convocação	de	Abrão	 por	Yahweh.	 Se	 do	 ponto	 de	vista	 genealógico	 e	 teológico	 tal	
interpretação	tenha	sua	coerência,	do	ponto	de	vista	cultural,	mutatis mutandis,	trata-
se	de	diversos	povos,	diversas	religiões	e	diversas	culturas.	Sendo	que	Israel,	o	povo	da	
Bíblia,	é	soma	de	todas	elas.
Para	 a	 compreensão	 do	 ambiente	 histórico	 e	 cultural	 bíblico,	 utiliza-se	 três	
categorias	de	fontes:	as	primárias,	as	secundárias	e	as	terciárias.	As	fontes	primárias	
são	as	descobertas	arqueológicas,	as	fontes	secundárias	são	os	próprios	textos	bíblicos	
e	as	fontes	terciárias	são	analogias	com	outras	sociedades	anteriores,	 contemporâneas	 
e	posteriores.	
4
Cabe	 ainda	 esclarecer,	 que	 os	 escritos	 bíblicos	 são	 frutos	 de	 interpretação	
teológica	tanto	por	parte	do	hagiógrafo	(escritor	bíblico)	quanto	por	parte	da	comunidade	
que	 recebeu	 os	 textos.	 Mesmo	 que	 contenham	 elementos	 culturais,	 geográficos	
e	 históricos,	 os	 escritos	 são	 condicionados	 pela	 crença	 religiosa	 do	 escritor	 e	 dos	
receptores	do	texto	bíblico.	
Analogicamente	 falando,	 é	 como	 se	 o	 texto	 bíblico	 fosse	 uma	 pintura	 que	
necessita	de	uma	moldura	para	ficar	de	pé.	Esta	moldura	são	as	condições	histórico-
culturais	e	ambientais.	Estas	duas	categorias	juntas	formam	o	que	na	exegese	bíblica	
se	chama	sitz im leben	–	“espaço	de	vida”,	“contexto	de	vida”.	O	fato	é	que	se	trata	de	
um	espaço	de	vida	de	quatro	mil	anos	atrás.De	um	contexto	de	vida	muito	diferente	
dos	dias	atuais,	com	estruturas	 linguísticas	e	estruturas	de	pensamento	muito	distintas	
das	atuais.	A	pretensão	de	alcançar	um	conhecimento	objetivo	e	direto	deste	contexto,	
torna-se	improvável.	
Levando	 em	 consideração	 apenas	 o	 fator	 língua,	 este	 já	 carrega	 em	 si	 uma	
grande	complexidade.	A	 língua	ou	o	seu	sistema,	a	 linguagem,	é	muito	mais	do	que	
somente	aquilo	que	possibilita	a	interação	entre	falantes.	
A	 linguagem	é	algo	extensivo	do	 ser	humano.	É	parte	do	 seu	 ser,	 ou	 seja,	 é	
ontológica.	É	a	manifestação	do	próprio	existir	do	ser	humano,	de	seu	grupo,	de	sua	
cultura.	E	se	é	possível	dizer	que	as	palavras	possuem	diversos	significados,	determinando	
com	isso,	seu	uso	polissêmico	na	construção	do	pensamento	e	da	 linguagem,	o	que	
dizer	então	de	um	idioma	de	quatro	mil	anos,	foneticamente	impronunciável,	como	é	o	
caso	do	hebraico	antigo.
A	Bíblia	é	uma	coletânea	de	livros	que	narra	a	história	do	povo	hebreu.	Cobre	um	
período	de	mais	ou	menos	mil	 e	 setecentos	anos,	que	vai	desde	os	patriarcas	 (Abraão,	
Isaac,	Jacó)	no	século	XIX	a.C.	até	os	últimos	escritos	do	Novo	Testamento	(2ª	epístola	
de	Pedro)	no	século	II	d.C.	
Por	 se	 tratar	 de	um	contexto	histórico	que	está	distante	 cerca	de	 três	mil	 e	
setecentos	anos,	relativos	ao	Antigo	Testamento,	e	dois	mil	anos	no	que	se	refere	ao	
Novo	Testamento,	 somado	 a	 um	 contexto	 social	 e	 cultural	muito	 diferente	 dos	 dias	
atuais,	um	dos	principais	entraves	à	análise	e	estudo	do	texto	bíblico	é	a	sua	correta	
compreensão	e	interpretação.
Apesar	de	ser	um	conjunto	de	 livros,	a	Bíblia	deve	ser	compreendida	em	sua	
totalidade,	ou	seja,	em	sua	unidade	interna.	Tal	unidade	pode	ser	interpretada	a	partir	
de	duas	perspectivas.	Uma	é	a	do	 interesse	geral	e	científico,	que	olha	para	a	Bíblia	
como	fonte	histórica	e	etnográfica	da	origem	e	desenvolvimento	de	Israel	como	uma	
grandeza	multiétnica.	A	outra	é	a	dos	 religiosos	que	têm	na	Bíblia	um	 livro	 sagrado,	
fonte	da	mensagem	de	 redenção	de	Yahweh	para	os	hebreus	e	que	posteriormente	
torna-se	uma	mensagem	universal.	
5
A	 maioria	 dos	 leitores	 da	 Bíblia	 a	 interpreta	 de	 forma	 literal.	 Entretanto,	 é	
consenso	entre	os	especialistas	que	a	leitura	da	Bíblia	não	pode	ser	literalista,	ou	seja,	
“ao	pé	da	 letra”	–	 isso	é	 impraticável.	Tampouco	se	deve	abri-la	aleatoriamente	para	
corroborar	 uma	 opinião	 que	 se	 deseja	 defender.	 Independentemente	 do	 interesse,	
seja	ele	científico	ou	religioso,	é	necessário	que	se	compreenda	que	cada	livro	tem	sua	
própria	história	e	deve	ser	lido	à	luz	do	seu	contexto	histórico,	gênero	literário,	intenção	
do	autor,	sem	que	se	perca	de	vista	a	sua	unidade	com	o	todo.
Antes	de	 iniciar	 a	 reflexão	do	tema	proposto	pelo	presente	 livro	didático	–	a	
cultura	na	Bíblia	–	é	necessário	que	se	saiba,	de	fato,	do	que	está	se	tratando.	Nesse	
caso,	optou-se	por	apresentar,	 específica	e	separadamente	os	temas	que	compõe	o	
título	da	disciplina:	a	cultura	e	a	Bíblia.	
Sitz im leben é uma expressão alemã utilizada na exegese de 
textos bíblicos, cunhada pelo teólogo Herman Gunkel. Na crítica 
das formas ou história das formas, o ponto de vista sociológico 
tornou-se um exercício obrigatório para os exegetas. Por meio 
do sitz im leben, se reconhece que as tradições bíblicas levam a 
marca dos ambientes socioculturais que as transmitiram. Traduz-
se comumente por “contexto vital”. De uma forma simples, o sitz 
im leben descreve em que ocasião uma determinada passagem da 
Bíblia foi escrita, ou seja, qual foi o fato que motivou o surgimento 
de um determinado gênero literário bíblico. Há dois tipos de sitz im 
seben: o primário e o secundário. O primário se refere ao fato que 
promoveu a elaboração do gênero literário. O secundário se refere 
ao local onde era utilizado este gênero.
NOTA
2 A ORIGEM DA CULTURA
As	 ciências	 sociais	 ainda	 não	 chegaram	 a	 um	 consenso	 sobre	 a	 origem	 da	
cultura.	Contudo,	na	antropologia,	há	uma	interpretação	amplamente	aceita,	que	afirma	
ser	a	regra	da	proibição	do	incesto	que	estabelece	o	limite	entre	o	reino	da	natureza	e	
o	reino	da	cultura	entre	os	seres	humanos,	de	acordo	com	o	antropólogo	francês	Lévi-
Strauss	 (1982).	 Segundo	Lévi-Strauss	 (1982),	 ao	 impor	 limites	 à	 natureza	humana,	 a	
regra	ou	o	tabu	do	incesto	acaba	produzindo	uma	estrutura	de	organização	social,	que	
obriga	os	homens	de	uma	família	a	buscarem	mulheres	em	outra	família,	estabelecendo	
assim	uma	rede	de	reciprocidade.	
6
Pelo	 fato	 de	 existirem	pessoas,	 em	 especial,	mulheres	 com	 as	 quais	 não	 se	
pode	ter	relações	sexuais,	os	grupos	humanos	se	veem	obrigados	a	trocarem	mulheres	
entre	si,	criando	a	regra	da	exogamia	e	estabelecendo	alianças	com	outros	grupos	que	
eram	potenciais	rivais.	A	regra	da	exogamia,	a	que	obriga	a	se	casar	com	uma	pessoa	
de	outro	grupo	ou	família,	também	pode	ter	ajudado	a	manter	a	integridade	do	grupo	
familiar,	já	que	impede	que	os	homens	da	mesma	família	disputem	a	mesma	mulher.	
Mas	a	cultura,	impotente	diante	da	filiação,	toma	consciência	de	seus	
direitos	 ao	mesmo	 tempo	 que	 de	 si	mesma,	 diante	 do	 fenômeno,	
inteiramente	diferente,	da	aliança,	o	único	sobre	o	qual	a	natureza	já	
não	disse	tudo.	Somente	aí,	mas	por	fim	também	aí,	a	cultura	pode	e	
deve,	sob	pena	de	não	existir,	afirmar	‘primeiro	eu’	e	dizer	à	natureza:	
‘não	irás	mais	longe’.	Considerada	em	seu	aspecto	puramente	formal,	
a	proibição	do	incesto,	portanto,	é	apenas	a	afirmação,	pelo	grupo,	de	
que	em	matéria	de	relação	entre	os	sexos	não	se	pode	fazer	o	que	
quer.	O	aspecto	positivo	da	 interdição	consiste	em	dar	 início	a	um	
começo	de	organização	(LÉVI-STRAUSS,	1982,	p.	71-83).
FIGURA 1 – CASAL PRIMITIVO
FONTE: <https://bit.ly/3gTdlIp>. Acesso em: 17 maio 2021.
Quando	os	seres	humanos	começam	a	produzir	cultura,	eles	concomitantemente,	
se	separam	e	superam	os	limites	 impostos	pela	da	natureza.	O	reino	da	natureza	é	o	
reino	amplo	da	biologia,	da	flora,	da	fauna,	de	todos	os	seres	vivos,	incluindo	os	próprios	
seres	humanos.	A	natureza	é	a	totalidade	das	coisas.	É	tudo	que	existe	no	mundo	natural	
antes	que	o	homem	faça	alguma	coisa,	Segundo	Gardini:
O	 conceito	 moderno	 de	 natureza	 refere-se	 ao	 dado	 imediato;	 ao	
conjunto	das	coisas,	antes	que	o	homem	faça	qualquer	coisa	nelas;	
ao	conjunto	das	energias	e	das	substâncias,	essências	e	 leis.	Este	
conjunto	 é	 experimentado	 como	 pressuposto	 da	 existência,	 e	
como	 tarefa	 a	 desempenhar	 pelo	 conhecimento	 e	 pela	 criação.	
Mas	 “natureza’’	 também	 significa	 um	 conceito	 valorativo,	 a	 norma	
7
É importante ressaltar que tal interpretação antropológica da 
possível origem da cultura, nada diz sobre a origem humana, se 
criacionista, evolucionista ou design inteligente. Mostra apenas a 
lógica por trás de uma instituição humana, que, possivelmente, 
teria sido a regra que estabeleceu uma distinção entre os seres 
humanos e os outros animais, permitindo, assim, a proliferação 
da espécie.
IMPORTANTE
3 O QUE É CULTURA?
Dentro	das	humanidades,	mais	 especificamente,	 dentro	das	ciências	 sociais,	
o	termo/conceito	cultura	é	um	dos	mais	debatidos,	um	dos	mais	polêmicos	e	um	dos	
mais	estudados.	
Há	um	consenso	entre	os	especialistas	de	que	cultura	é	um	conceito	de	natureza	
antropológica.	Entretanto,	dentro	da	própria	antropologia	não	há	um	consenso	sobre	o	
tema	entre	as	diversas	vertentes.	Por	tratar-se	de	um	tema	muito	presente	no	cotidiano	
das	pessoas,	o	conceito	de	cultura	também	é	um	dos	conceitos mais apropriados tanto 
pelo	senso	comum	quanto	por	outras	áreas	do	conhecimento.
obrigatória	 de	 todo	 conhecimento	 e	 de	 toda	 criação,	 do	 justo,	 do	
saudável	e	perfeito,	precisamente	o	que	se	entende	por	“natural”.	Daí	
os	critérios	de	toda	existência	válida:	do	homem	natural,	da	sociedade	
natural	 e	 da	 forma	 do	 estado,	 da	 educação,	 da	 maneira	 de	 viver.	
Tal	como	se	 realizam	desde	o	século	XVI	ao	século	XX	 (GUARDINI,	 
2000,	p.	38).
Emcontraposição,	a	cultura	é	tudo	que	o	homem	produz	a	partir	da	natureza,	
com	o	uso	de	suas	faculdades:	todo	o	conjunto	de	habilidades	adquiridas	e	desenvolvidas	
coletivamente,	 desde	 as	 técnicas	mais	 rudimentares	 com	emprego	de	 instrumentos	
líticos	até	as	conquistas	científicas	mais	modernas.	
A	cultura	é	um	fenômeno	complexo,	que	pode	ser	compreendido	a	partir	de	
suas	 características	 principais.	 Essas	 características	 podem	 ser	 agrupadas	 segundo	
três	aspectos:	a	origem,	a	forma	e	a	finalidade.	
•	 Origem	–	ela	é	humana,	social	e	laboriosa.
•	 Forma	–	sensível,	dinâmica	e	múltipla.
•	 Finalidade	–	religiosa,	humanista	e	naturalista.
8
O	 conceito	 antropológico	 de	 cultura	 foi	 uma	 das	 ideias	 mais	
importantes	 e	 de	 maior	 influência	 no	 pensamento	 do	 século	 XX.	
O	uso	do	 termo	cultura	 adotado	pelos	 antropólogos	do	 século	XIX	
espalhou-se	 para	 outras	 áreas	 de	 pensamento	 com	 um	 profundo	
impacto;	hoje	é	um	lugar-comum	para	que	os	humanistas	e	outros	
cientistas	sociais	falem,	por	exemplo,	de	“cultura	japonesa”.
No	 entanto,	 paradoxalmente,	 a	 noção	 de	 cultura	 implícita	 nesses	
usos	mostrou	 ser	muito	 ampla	 e	muito	 rudimentar	 para	 ser	 capaz	
de	 capturar	 os	 elementos	 essenciais	 no	 comportamento	 humano.	
A	 reação	 de	 alguns	 estudiosos	 foi	 abandonar	 o	 termo	 como	
instrumento	 conceitual	 básico;	 resposta	 de	 outros	 foi	 aprimorar	 e	
limitar	o	instrumento	para	torná-lo	mais	preciso.	
No	uso	da	antropologia,	é	claro,	cultura	não	significa	cultivo	nas	artes	
e	 dotes	 sociais.	 Refere-se,	 ao	 contrário,	 à	 experiencia	 apreendida	
e	acumulada.	Uma	cultura	–	digamos	a	cultura	 japonesa	–	 refere-
se	 àqueles	 de	 comportamento	 característicos	 de	 um	 grupo	 social	
específico	 que	 foram	 socialmente	 transmitidos	 (KEESING,	 2014,	 p.	
34-35).
É	provável	que	nenhuma	apropriação	do	termo	cultura	tenha	tido	mais	êxito	do	
que	a	efetuada	pelas	chamadas	minorias.	Há	uma	miríade	de	grupos	que	se	consideram	 
vítimas	 do	 processo	 civilizacional	 do	 Ocidente.	 Estas	 transformam	 a	 cultura	 num	
termo	corrente	e	instrumental	usado	como	forma	de	protesto	contra	o	atual	processo	
civilizatório	do	capitalismo.	De	acordo	com	Kuper	(2002),	o	uso	corrente	do	termo,	na	
verdade,	é	fruto	de	um	fenômeno	de	despertamento	de	consciências	culturais,	que	está	
na	ordem	do	dia.	Desde	subgrupos	urbanos,	aborígines	australianos	à	fundamentalistas	
islâmicos,	todos	se	sentem	ameaçados	pela	diferença	e	sobreposição	cultural.
O	conceito	de	cultura,	no	sentido	de	como	é	utilizado	atualmente,	de	acordo	
com	Laraia	(2017),	já	se	desenvolvia	deste	o	início	da	era	moderna.	John	Locke	(1632-
1704),	 em	 1690	no	 seu	Ensaio acerca do entendimento humano, combatia as ideias 
de	correntes	 inatistas,	que	afirmam	ser	genética	a	transmissão	de	valores,	princípios,	
crenças	 e	 comportamento	 humano.	 Para	 tais	 correntes,	 a	 hereditariedade	 é	 o	
fundamento	que	explica	a	continuidade	das	ações	humanas.	
Depois	de	Locke,	seguem	as	contribuições	de	James	Turgot	(1727-1781),	Jean-
Jacques	Rousseau	(1712-1778),	até	que	em	1871,	o	antropólogo	britânico	Edward	Tylor	
elaborou	o	que	é	considerada	a	primeira	definição	antropológica	de	cultura.	Entretanto,	
antes	 de	 apresentar	 a	 definição	 antropológica	 de	 cultura,	 entenda	 o	 processo	 de	
desenvolvimento	do	conceito.
Três	nações,	a	francesa,	a	alemã	e	a	inglesa	tiveram	um	papel	fundamental	para	
o	desenvolvimento	do	conceito	de	cultura.	São	três	perspectivas	que	guardam	entre	 si	
distinções	e	aproximações	conceituais,	sendo	as	responsáveis	pelos	principais	debates	e	
evolução	do	conceito	de	cultura.	
9
Na	França,	o	debate	se	dá	em	torno	do	termo	civilização	(civilisation).	O	termo	
civilização	é	cunhado	no	espírito	positivista	do	 iluminismo	e	tem	sentido	análogo	ao	
sentido	dado	posteriormente	ao	termo	cultura.	
No	 conceito	 de	 civilização	 está	 a	 ideia	 de	 um	 progresso	 material	 e	
desenvolvimento.	 Posteriormente,	 o	 conceito	 ganha	 o	 sentido	 tanto	 de	 progresso	
material	quanto	de	desenvolvimento	intelectual.	Estes,	na	concepção	francesa	devem	
servir	 de	 referência	não	apenas	para	a	Europa,	 como	também	para	outros	povos	do	
mundo	todo	em	estágio	inferior,	os	chamados	povos	primitivos	(KUPER,	2002).
Na	Alemanha,	a	princípio,	o	conceito	kultur	era	semelhante	ao	conceito	francês	
de	civilização.	Aos	poucos	foi	se	construindo	uma	distinção	de	cultura	como	realidade	
espiritual,	 ligada	 ao	 aspecto	 interior	 da	 cultura	 de	 cada	 nação.	 Diferentemente	 da	
concepção	 universalista	 francesa,	 a	 concepção	 alemã	 se	 fundamenta	 nos	 valores	
nacionais,	espirituais,	na	genialidade	individual,	nas	emoções	e	até	mesmo	nas	forças	
obscuras.	Este	é	o	conteúdo	do	conceito	alemão,	kultur	(KUPER,	2002).
Entre	 a	 concepção	 francesa	 civilisation e	 a	 concepção	 alemã	 kultur,	 o	
antropólogo	britânico	Edward	Tylor	elabora	o	conceito	 inglês	culture,	como	uma	espécie	
de	síntese,	que	tomado	em	seu	sentido	etnográfico,	significa	“todo	complexo	que	inclui	
conhecimentos,	crenças,	arte,	moral,	leis,	costumes	ou	qualquer	outra	capacidade	ou	
hábitos	adquiridos	pelo	homem	como	membro	de	uma	sociedade”	(LARAIA,	2017,	p.	25).	
Nesta	definição	está	todo	aspecto	material	e	imaterial	como	também	o	processo	pelo	
qual	é	transmitida	a	cultura.	Esta	definição	é	considerada	a	primeira	definição	de	cultura	
de	natureza	antropológica.	
A	concepção	de	Tylor	 estabelece	uma	 importante	distinção	de	cultura	como	
sendo	 produção	 humana	 fortemente	 marcada	 pelo	 caráter	 do	 aprendizado	 e	 da	
transmissão,	em	oposição	à	ideia	de	transmissão	biológica,	ligada	ao	conceito	de	raça	
que	ainda	pairava	sobre	a	Europa.	Nesse	sentido,	cultura	se	refere	ao	modo	de	pensar	
e	agir	assimilados	no	convívio	diário	com	outros	seres	humanos.	E	é	construída	através	
de	um	processo	que	envolve	inúmeras	gerações.
Entretanto,	é	preciso	esclarecer,	que	por	mais	que	suas	contribuições	tenham	
sido	de	grande	importância,	Tylor	ainda	permanece	como	um	evolucionista.	A	grande	
preocupação	 de	 Tylor	 não	 estava	 na	 diversidade	 cultural,	 mas	 sim	 na	 questão	 da	
igualdade	humana.	Segundo	ele,	a	diversidade	cultural	seria	o	resultado	dos	diferentes	
estágios	da	evolução	humana.	Uma	concepção	tipicamente	evolucionista	unilinear	fruto	
da	grande	influência	de	Charles	Darwin	nas	ciências	modernas	(LARAIA,	2017).
Coube	 a	 Franz	 Boas	 (1858-1949),	 um	 antropólogo	 teuto	 americano,	 o	 papel	 de	
desarticular	as	concepções	evolucionistas.	Boas	foi	o	precursor	de	uma	corrente	teórica	
conhecida	como	particularismo	histórico,	culturalismo	ou	relativismo	cultural.	
10
Em	seu	artigo	The limitation of the comparative method of anthropology,	de	
1896,	Boas	 (2003)	expõe	quais	 são	as	duas	 tarefas	primordiais	da	Antropologia:	 1)	 a	
reconstrução	 da	 história	 de	 povos	 ou	 regiões	 particulares;	 2)	 a	 comparação	 da	vida	
social	de	diferentes	povos,	cujo	desenvolvimento	segue	as	mesmas	leis.
Segundo	 a	 perspectiva	 de	 Boas	 (2003),	 cada	 povo	 ou	 cultura	 escolhe	 seu	
próprio	caminho	diante	do	devir	histórico	ao	qual	é	submetido.	A	partir	desta	perspectiva,	
admite-se	uma	teoria	evolutiva	multilinear	e	não	mais	unilinear,	como	pensava	Tylor,	
ou	seja,	existem	vários	caminhos	para	o	desenvolvimento	e	o	progresso	de	um	povo.	
Cada	cultura	tem	uma	história	própria,	particular	e	sua	transformação	ocorre	através	do	
contato	com	outras	culturas.	
Como	o	tema	deste	livro	diz	respeito	aos	povos	da	antiguidade,	povos	nômades,	
seminômades,	 caçadores	 e	 coletores	 que	 mantinham	 outro	 tipo	 de	 relação	 com	 a	
natureza,	 é	 importante	 abordar	 a	 discussão	 antropológica	 acerca	 da	 natureza	 e	 da	
cultura,	pois	toda	a	evolução	das	sociedades	antigas,	assim	como	da	humanidade	como	
um	todo,	está	relacionada	à	relação	inversamente	proporcional	que	os	grupos	humanos	
mantêm	com	“reino	da	natureza”	ou	com	o	“reino	da	cultura”.
Por	natureza	entende-se	tudo	que	faz	parte	do	reino	animal,	vegetal	e	mineral.	
Deoutra	forma,	pode-se	dizer	que	a	natureza	é	a	totalidade	das	coisas.	É	tudo	que	existe	
antes	que	o	ser	humano	faça	alguma	coisa,	 incluindo	o	próprio	ser	humano.	Do	pondo	
de	vista	orgânico,	fisiológico,	o	ser	humano	é	um	espécime	do	reino	animal,	porém,	há	
uma	 especificidade	 tão	 peculiar	 no	 ser	 humano,	 que	 o	 antropólogo	 norte	 americano	
Alfred	Kroeber	(1876-1960),	chegou	a	se	referir	ao	ser	humano	como	o	“superorgânico”	 
(LARAIA,	2017).
A	 ideia	 não	 é	 negar	 ou	 menosprezar	 a	 dimensão	 biológica	 do	 ser	 humano,	 
pois,	sem	corpo,	sem	bios	não	há	ser	humano.	
O	propósito	do	“superorgânico”	é	evidenciar	duas	coisas:	primeiro	que	por	mais	
que	as	funções	vitais	ou	orgânicas	sejam	as	mesmas	em	todo	ser	humano,	a	forma	de	
lidar	com	as	demandas	vitais	e	orgânicas	é	diferente	de	uma	cultura	para	outra	cultura;	
segundo,	que	o	ser	humano	é	um	animal	tão	sui generis,	que	superou	sua	condição	
orgânica.	Através	da	 cultura,	 o	 ser	 humano	produz	 invenções	que	 lhe	 servem	como	
extensão	do	próprio	corpo,	enquanto	os	animais	precisam	se	adaptar	para	sobreviver.	
Veja	a	síntese	das	teses	do	artigo	de	Kroeber	(1949	apud	SANTOS,	2020,	p.	4-5):
1.	 A	 cultura,	 mais	 do	 que	 a	 herança	 genética,	 determina	 o	
comportamento	do	homem	e	justifica	as	suas	realizações.
2.	 O	homem	age	de	acordo	com	os	seus	padrões	culturais,	os	seus	
instintos	foram	parcialmente	anulados	[...]
3.	 A	 cultura	 é	 o	 meio	 da	 adaptação	 aos	 diferentes	 ambientes	
ecológicos	[...]
11
4.	 Em	 decorrência	 da	 afirmação	 anterior,	 o	 homem	 foi	 capaz	 de	
romper	as	barreiras	das	diferenças	ambientais	e	transformar	toda	
a	terra	em	seu	habitat.
5.	 Adquirindo	cultura,	o	homem	passou	a	depender	muito	mais	do	
aprendizado	 do	 que	 a	 agir	 através	 de	 atitudes	 geneticamente	
determinadas.
6.	 Como	já	era	do	conhecimento	da	humanidade,	desde	o	Iluminismo,	
é	este	processo	de	aprendizagem	(socialização	ou	endoculturação,	
não	 importa	o	termo),	que	determina	o	seu	comportamento	e	a	
sua	capacidade	artística	ou	profissional.
7.	 A	 cultura	 é	 um	 processo	 acumulativo,	 resultante	 de	 toda	 a	
experiência	 histórica	 das	 gerações	 anteriores.	 Esse	 processo	
limita	e	estimula	a	ação	criativa	do	indivíduo.
8.	Os	 gênios	 são	 indivíduos	 altamente	 inteligentes	 que	 têm	 a	
oportunidade	de	utilizar	o	conhecimento	existente	ao	seu	dispor,	
construído	 pelos	 participantes	 vivos	 e	 mortos	 do	 seu	 sistema	
cultural,	 e	 criar	 um	 novo	 objeto	 ou	 uma	 nova	 técnica.	 Nessa	
classificação	 podem	 ser	 incluídos	 os	 indivíduos	 que	 fizeram	 as	
primeiras	invenções,	tais	como	o	primeiro	homem	que	produziu	o	
fogo	através	do	atrito	da	madeira	seca;	ou	o	primeiro	homem	que	
fabricou	a	primeira	máquina	capaz	de	ampliar	a	força	muscular,	o	
arco	e	a	flecha	etc.	são	eles	gênios	da	mesma	grandeza	de	Santos	
Dumont	e	Eistein.	Sem	as	suas	primeiras	invenções	descobertas,	
hoje	consideradas	modestas,	não	teriam	ocorrido	as	demais.	E	pior	
do	que	isto,	talvez	nem	mesmo	a	espécie	humana	teria	chegado	
ao	que	é	hoje.
Em	contraposição	à	natureza,	a	cultura	é	tudo	que	o	homem	adquire	ou	produz	
com	o	uso	de	suas	faculdades.	Enquanto	os	animais	possuem	especializações	orgânicas,	
o	ser	humano	possui	uma	especialização	cerebral	(biopsíquica)	que	lhe	permite	atingir	e	
superar	todas	as	especializações	dos	animais.	O	ser	humano	cria,	aprende	e	transmite.	
Por	 ser	 biocultural,	 o	 ser	 humano	não	age	motivado	apenas	por	 seus	 instintos,	mas	
principalmente,	orientado	por	sua	cultura.	Para	se	entender	a	cultura	e	as	sociedades	
que	deram	origem	aos	escritos	bíblicos,	antes	é	preciso	entender	o	que	é	a	Bíblia,	pois	
ela	é	uma	das	principais	fontes	dessa	história	cultural.	
QUADRO 1 – QUADRO CONCEITUAL
FONTE: O autor
CULTURA:
Sentido habitual, senso comum:	formação	espiritual	que	eleva	o	gosto,	a	inteligência	e	a	
personalidade	à	dimensão	universal.
Sentido antropológico:	conjunto	complexo	que	inclui	conhecimentos,	técnicas,	tradições,	 
e	caracteriza	uma	sociedade	ou	um	dado	grupo.
Termos e expressões conexos.
Relação de vizinhança:	civilização.
Relação de dependência:	educação	–	humanidade	–	saber	–	sociedade.
Relação de oposição:	ignorância	–	natureza.
12
4 A BÍBLIA
A	Bíblia	é	o	livro	mais	popular	e	mais	lido	em	todo	o	mundo.	Por	ser	a	regra	de	fé	
das	religiões	monoteístas	da	atualidade	–	o	cristianismo	e	judaísmo,	estima-se	que	um	em	
cada	três	habitantes	do	planeta	possua	uma	Bíblia	ou	que	pelo	menos	já	a	tenha	lido	ou	
conheça	algumas	de	suas	histórias.	
Paradoxalmente,	por	mais	que	seja	um	dos	livros	mais	lidos	e	mais	conhecidos,	
a	Bíblia	também	é	um	dos	livros	menos	compreendidos.	Por	esse	motivo	é	que	existem	
milhares	 de	 religiões,	 seitas,	 cultos	 e	 confissões	 que	 se	 baseiam	 na	 Bíblia,	 mesmo	
mantendo	profundas	divergências	entre	si.
O	que	a	maioria	das	pessoas	não	sabe	é	que	a	Bíblia	não	é	um	livro.	É	na	verdade,	
um	conjunto	de	 livros,	uma	biblioteca.	Etimologicamente	falando,	o	termo	bíblia	é	plural	 
do	termo	grego	bíblion	(livro).	Seu	significado	original	é	“rolo”	ou	“livro”.	
Trata-se	 de	 um	 conjunto	 de	 livros	 de	 contextos,	 autores,	 séculos	 e	 gêneros	
diferentes,	mas	 que	 remetem	 à	mesma	 história	 da	 relação	 de	 um	Deus	 (Yahweh)	 e	
seu	povo	 (hebreus),	 no	caso	do	Antigo	Testamento	e	dos	cristãos,	no	caso	do	Novo	
Testamento.	Essa	forma	de	denominar	a	coleção	de	 livros	sagrados	no	singular	e	no	
feminino	é	recente,	segundo	Mounce	(2009,	p.	172):
Embora	este	significado	seja	eclesiástico	na	sua	origem,	suas	raízes	
remontam	até	ao	AT.	Em	Dn	9,	2	(LXX)	ta biblia	refere-se	aos	escritos	
proféticos.	No	Prólogo	de	Siraque,	refere-se	às	Escrituras	do	AT	de	
modo	geral.	Este	uso	linguístico	passou	para	a	igreja	cristã	(2	Clem.	
14.2)	e	cerca	do	 início	do	século	V	foi	estendido	para	 incluir	todo	o	
conjunto	 de	 escritos	 canônicos,	 conforme	 agora	 os	 possuímos.	 A	
expressão	ta biblia	passou	para	o	vocabulário	da	igreja	ocidental	e,	
no	século	XIII,	por	aquilo	que	Westcott	chama	de	"feliz	solecismo",	o	
neutro	plural	veio	a	ser	considerado	um	feminino	singular,	e,	nesta	
forma,	 o	 termo	 passou	 para	 as	 línguas	 da	 Europa	moderna.	 Essa	
mudança	 significante	 do	 plural	 para	 o	 singular	 refletiu	 o	 conceito	
crescente	da	Bíblia	como	uma	só	declaração	de	Deus,	ao	 invés	de	
uma	multidão	de	vozes	falando	em	nome	dEle.
A	Bíblia	é	o	livro	sagrado	do	judaísmo	e	do	cristianismo.	Para	estas	religiões	a	
Bíblia	não	é	um	compêndio	de	ciências	naturais	ou	de	história.	
Para	judeus	e	cristãos	a	Bíblia	é	a	Palavra	de	Deus,	a	Lei,	a	Sagrada	Escritura.	
Por	ser	um	dos	escritos	mais	antigos,	por	seu	valor	histórico	também	é	considerada	um	
patrimônio	da	humanidade.	Para	o	ocidente	de	tradição	judaico-cristã,	a	primeira	parte	
da	Bíblia,	o	Antigo	Testamento,	contém	a	história	do	início	da	humanidade. 
13
Um biblon era um rolo de papiro ou biblo, uma planta semelhante 
a uma taquara, cuja casca interna era secada para se tornar uma 
matéria de escrita de uso generalizado no mundo antigo.
NOTA
FIGURA 2 – PLANTA PAPIRO
FONTE: <http://twixar.me/ZR8m>. 
Acesso em: 17 maio 2021.
FIGURA 3 – PAPEL DE PAPIRO
FONTE: <http://twixar.me/hR8m>. 
Acesso em: 17 maio 2021.
Como	 já	mencionado,	 a	Bíblia	 contém	uma	divisão	em	duas	grandes	partes.	
São	duas	porções	de	livros	separados	cronologicamente	por	cerca	de	quinhentos	anos.	
A	primeira	parte	é	o	Antigo	Testamento	ou	Primeiro	Testamento.	A	segunda	parte	diz	
respeito	ao	Novo	Testamento	ou	Segundo	Testamento.	De	acordo	com	Konings	(1998),	
o	termo	testamento	aqui	não	tem	o	sentido	de	rol	de	bens	ou	direitos	deixados,	mas	
de	“aliança	atestada”	entre	Deus	e	seu	povo,	a	chamada	berit.	Diz	respeito	ao	pacto	de	
fidelidade	de	Yahweh	para	com	seu	povo,	que	se	inicia	com	a	aliança	feita	com	Abraão	
e	tem	seu	cumprimento	final	no	Novo	Testamento	em	Jesus	Cristo.
FIGURA 4 – A TORAH
FONTE: <https://www.deviantart.com/qymaen/art/Torah-132588246>. Acesso em: 17 maio 2021.
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O	Antigo	Testamento	possui	quarentae	 seis	 livros,	 a	depender	da	versão	da	
Bíblia.	Os	primeiros	cinco	livros	(Gênesis,	Êxodo,	Levítico,	Números,	Deuteronômio),	são	
chamados	de	pentateuco.	Uma	referência	aos	“cinco	estojos”	onde	eram	guardados	os	
rolos	de	papiro	ou	pergaminho	contendo	os	cinco	primeiros	livros	da	Bíblia	hebraica.	
A	 tradição	 atribui	 à	 Moisés	 a	 autoria	 do	 pentateuco,	 mas	 na	 verdade,	 o	
pentateuco	recolhe	tradições	narrativas	e	legislativas	que	vão	desde	os	patriarcas	em	
1800	a.C.	até	o	período	de	Esdras	em	450	a.C.,	no	pós	exílio,	quando	ocorre	a	redação	
final.	Uma	posição	mais	moderada,	entende	que	Moisés	estava	presente	no	 início	do	
pentateuco,	mas	não	no	seu	final.	
Como	há	muitos	trechos	no	pentateuco	que	falam	de	leis	e	costumes	de	Israel,	
codificados	a	partir	de	Moisés,	esse	conjunto	de	livros	ganhou	o	nome	de	Torah (“Torá”),	
que	em	hebraico	tem	o	sentido	de	instrução,	de	ensinamento.	Na	versão	grega	da	Bíblia	
hebraica,	a	Septuaginta,	o	termo	“Torá”	é	traduzido	por	nómos.	A	Torá	tem	como	fonte	
quatro	tradições:	1)	a	tradição	 javista	–	 ligada	ao	reino	de	Judá;	2)	a	tradição	eloísta	–	
ligada	ao	reino	de	Israel;	3)	a	tradição	sacerdotal	–	da	classe	de	sacerdotes	e	levitas;	4)	a	
tradição	deuteronomista	–	ligada	à	tradição	profética	e	movimentos	de	reforma	religiosa	
nos	dois	reinos	(KONINGS,	1998).
O	Novo	Testamento	ou	Segundo	Testamento	é	composto	por	vinte	sete	livros.	
São	 escritos	 do	 primeiro	 século,	 que	 narram	 o	 testemunho	 a	 respeito	 de	 Jesus	 de	
Nazaré,	dado	por	 seus	apóstolos	e	discípulos	mais	próximos.	O	Novo	Testamento	foi	
escrito	em	grego	e	não	é	aceito	pelos	judeus.	Para	os	cristãos,	o	Novo	Testamento	é	a	
mensagem	que	contém	o	clímax	da	revelação	de	Yahweh,	que	se	deu	em	Jesus	Cristo,	
seu	Filho,	o	messias	salvador	do	mundo.
O	Novo	Testamento	foi	 escrito	em	grego,	pois	esta	era	a	 língua	do	cotidiano	
da	maioria	dos	judeus	e	cristãos	do	primeiro	século.	Era	um	grego	popular,	conhecido	
como koiné.	Como	os	primeiros	cristãos	também	eram	judeus,	o	grego	koiné	sofreu	forte	
influência	do	hebraico	e	aramaico.	Por	isso	se	diz	que	o	Novo	Testamento	está	repleto	
de	semitismos	(KONINGS,	1998).
Assim	como	o	Antigo	Testamento	não	é	um	compêndio	de	história	natural,	o	Novo	
Testamento	também	não	é	um	tratado	de	teologia	sistemática.	Toda	a	sistematização	
teológica	cristã	ocorre	nos	séculos	posteriores.	
O	Novo	Testamento	é	fruto	da	experiência	das	comunidades	cristãs	das	origens,	
que	acreditaram	na	pregação	dos	apóstolos.	E	essa	pregação	em	si,	não	era	uma	reflexão	
elaborada,	ou	teológica,	no	sentido	acadêmico.	Era	uma	mensagem	simples,	de	homens	
simples	para	alimentar	a	fé	de	pessoas	comuns.
Em	relação	à	autoria	dos	escritos	do	Novo	Testamento,	permanece	a	mesma	
dificuldade	que	possui	 toda	a	Bíblia.	Por	mais	que	a	tradição	atribua	a	autoria	de	tal	
livro	a	tal	autor,	tal	atribuição	não	resiste	à	crítica	histórica.	Há	várias	incongruências	de	
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datas,	estilística,	coerência	interna,	entre	outros.	Entretanto,	acadêmico,	tudo	isso	em	
nada	diminui	o	mérito	e	a	validade	dos	escritos	acolhidos	pela	comunidade	das	origens,	
que	serviram	e	ainda	servem	de	testemunho	de	fé	para	os	cristãos.	
Além	de	ser	o	conjunto	heterogêneo	de	livros,	a	Bíblia	possui	múltiplas	versões.	
As	diferenças	entre	Bíblias	se	restringem	ao	Antigo	Testamento.	A	Bíblia	hebraica	(Tanak)	
é	menor	que	a	Bíblia	cristã,	pois	não	possui	os	escritos	do	Novo	Testamento.	Tanak é 
o	acrônimo	que	faz	referência	à	divisão	dos	livros	da	Bíblia	hebraica.	Este	corresponde	
à	Torá,	(os	cinco	livros	da	Lei),	Nebiîm (vinte	e	um	livros	proféticos)	e	Ketubîm	(os	treze	
livros	chamados	de	Escritos).	A	Tanak	foi	escrita	em	hebraico	e	alguns	trechos	de	livros	 
em	aramaico	(KESSLER,	2009).
Por	volta	do	século	III	a.C.	a	comunidade	judaica	que	vivia	no	exílio	em	Alexandria	
no	Egito,	faz	uma	tradução	da	Bíblia	hebraica	para	o	grego.	Essa	versão	é	chamada	de	
Septuaginta,	referência	aos	setenta	anciãos	que	teriam	feito	tradução,	de	acordo	com	
a	tradição.	A	Septuaginta	possui	sete	livros	a	mais,	que	não	são	aceitos	pelos	judeus	e	
nem	pela	maioria	dos	protestantes.	São	os	chamados	deuterocanônicos	(não	aceitos	
no	 cânon	 ou	 “canonizados	 posteriormente”)	 (KESSLER,	 2009).	 Alguns	 protestantes	
chamam	estes	 livros	de	apócrifos.	O	que	consiste	em	um	erro	terminológico,	pois	os	
livros	apócrifos	são	aqueles	recusados	tanto	por	protestantes	quanto	por	católicos.
FIGURA 5 – A SEPTUAGINTA
FONTE: <https://mytheoblogy.files.wordpress.com/2012/11/septuagint-manuscript.jpg?w=497>. 
Acesso em: 17 maio 2021.
Os	 primeiros	 cristãos,	 incluindo	 o	 próprio	 Jesus	 Cristo,	 liam	 a	 Septuaginta.	
A	 tradução	 grega	 que	 incluía	 alguns	 livros	 e	 partes	 de	 livros	 a	mais	 do	 que	 a	Bíblia	
hebraica.	No	final	do	primeiro	século,	quando	os	cristãos	foram	expulsos	das	sinagogas,	
os	 rabinos	 judeus	 decidiram	 aceitar	 somente	 os	 livros	 que	 constavam	 no	 original	
hebraico,	o	chamado	cânon	restrito,	enquanto	os	cristãos	continuaram	com	o	cânon	
amplo	(Bíblia	grega).	Após	a	Reforma	Protestante	em	1517,	com	o	intuito	de	"voltar	às	
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origens",	o	protestantismo	adotou	o	cânon	 judaico,	o	cânon	restrito.	Por	 isso	há	uma	
diferença	entre	a	Bíblia	católica	e	a	Bíblia	protestante.	Porém,	para	os	que	acreditam	
nela,	a	mensagem	é	uma	só.
A	reivindicação	da	Bíblia	quanto	à	sua	origem	divina	é	amplamente	
justificada	 pela	 sua	 influência	 histórica.	 Seus	 manuscritos	 são	
contados	 aos	 milhares.	 Mal	 o	 NT	 havia	 sido	 reunido	 como	 um	
todo,	e	 já	havia	traduções	em	 latim,	siríaco	e	egípcio.	Hoje,	não	há	
nenhum	 idioma	no	mundo	civilizado	que	não	possua	a	Palavra	de	
Deus.	Nenhum	outro	livro	já	foi	tão	cuidadosamente	estudado,	nem	
teve	 tanta	 coisa	 escrita	 a	 respeito	 dele.	 Sua	 influência	 espiritual	 é	
inestimável.	 É	 preeminentemente	 o	 Livro	 –	 a	 Palavra	 de	 Deus	 na	
linguagem	do	homem	(MOUNCE,	2009,	p.	172-173).
A	Bíblia	é	um	documento	histórico,	mas	principalmente	teológico,	do	judaísmo	
e	do	cristianismo.	É	muito	comum	a	Bíblia	ser	criticada	por	estar	em	desacordo	com	
a	biologia,	com	a	arqueologia	ou	com	outras	ciências.	É	 importante	que	se	diga	que	
tais	críticas	não	são	pertinentes.	Apesar	de	conter	 informações	profundas	e	algumas	
até	cientificamente	comprovadas,	a	Bíblia	não	foi	escrita	para	tal	finalidade	e	nem	para	
o	crivo	da	ciência	moderna.	Para	a	finalidade	com	a	qual	foi	escrita,	a	Bíblia	cumpre	
cabalmente	o	seu	papel.	Qual	seja,	o	de	mensagem	teológica	da	redenção	humana.
Nos livros originais da Bíblia não havia separação entre as palavras, 
nem vogais, sem sinais de pontuação e nem títulos. No século XIII, foi 
feita a divisão em capítulos e, no século XVI, em versículos. E os dois 
Testamentos encadernados juntos só acontece no século XV, com a 
invenção da imprensa.
INTERESSANTE
FIGURA 6 – MANUSCRITO HEBRAICO
FONTE: <https://www.pinterest.cl/pin/312507661627476689/>. Acesso em: 17 maio 2021.
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QUADRO 2 – BÍBLIAS HEBRAICA, GREGA, CATÓLICA E PROTESTANTE
FONTE: Konings (1998, p. 12-13)
BÍBLIA HEBRAICA (TANAK)
Torá
(Lei)
Nebiîm
(profetas)
Anteriores	Posteriores
Ketubiîm
(Escritos)
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
1+2	Samuel
1+2	Reis
Isaías
Jeremias
Ezequiel
12	Profetas	Menores:
Oséias,	Joel,	Amós,	
Abdias,	Jonas,	
Miquéias,	Naum,	
Habacuc,	Sofonias,	
Ageu,	Zacarias,	
Malaquias
Salmos
Jó
Provérbios
Rute
Cantares
Eclesiastes
Lamentações
Ester
Daniel
Esdras+Nemias
1+2	Crônicas
BÍBLIAS GREGA, CATÓLICA E PROTESTANTE
ANTIGO TESTAMENTO (Com base na LXX)
Grifo:	livros	deuterocanônicos	(recusados	pelos	protestantes)
[Grifo]:	apócrifos	ou	pseudepigráficos	(recusados	por	protestantes	 
e	católicos)
NOVO TESTAMENTO
(Católico	–	Protestante
Livros históricos
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
1/2	Rs	(=	1/2	Sm)
3/4	Rs	(=	1/2	Rs)
1/2	Paralipômenos	
(=	1/2	Cr)
[1 (ou 3) Esd]
2	Esd	(=Esd/Ne)
Est	(+	fragmentos	
deuterocanônicos)
Judite
Tobias
1/2 Macabeus
[3/4 Macabeus]
Livros sapienciaisSalmos
[Odes]
Provérbios
Eclesiastes
Cantares
Jó
Sabedoria
Sirácida
[Salmos de Salomão]
Livros proféticos
Isaías
Jeremias
Lamentações
Baruc
Ezequiel
Dn	(+ fragmentos 
deuterocanônicos)
12	Profetas	Menores:
Oséias,	Amós,	
Miquéias,	Joel,	
Abdias,	Jonas,	Naum,	
Habacuc,	Sofonias,	
Ageu,	Zacarias,	
Malaquias
Evangelhos e Atos:
Mateus,	Marcos,	
Lucas,	João,	Atos
Cartas paulinas:
Romanos,	1/2	
Coríntios,	Gálatas,	
Efésios,	Filipenses,	
Colossenses,	1/2	
Tessalonicenses,	1/2	
Timóteo,	Tito,	Filemon,	
Hebreus
Cartas católicas 
ou universais:
Tiago,	1/2	Pedro,	1/2/3	
João,	Judas,
Apocalipses:
Apocalipse
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10 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A BÍBLIA COMO LITERATURA
	Leland	Ryken
1 A ideia da Bíblia como literatura não começa na era moderna.
Como	fiz	carreira	como	defensor	da	Bíblia	como	literatura	por	meio	século,	
adotei	a	estratégia	de	primeiro	limpar	do	terreno	as	concepções	equivocadas	e	só	
depois	fazer	a	defesa	positiva	da	importância	de	ler	e	interpretar	a	Bíblia	preservando	
sua	natureza	literária.	Uma	vez	que	a	expressão	“bíblia	como	literatura”	entrou	em	
cena	em	meados	do	século	XX,	é	compreensível	que	evangélicos	tenham	receio	da	
ideia.	Contudo,	grandiosos	baluartes	teológicos	do	passado,	como	Agostinho,	Lutero	
e	Calvino,	jamais	duvidaram	de	que	a	Bíblia	tivesse	qualidades	literárias.
2 Ver a Bíblia como literatura não é necessariamente um sinal de liberalismo 
teológico.
Como	os	eruditos	bíblicos	liberais	estão	mais	inclinados	que	os	conservadores	
a	adotar	abordagens	literárias	da	Bíblia,	é	fácil	associar	tais	abordagens	ao	liberalismo	
teológico;	no	entanto,	não	há	conexão	necessária	entre	eles.	Começo	meu	curso	
de	 literatura	na	Bíblia	com	a	 leitura	de	dez	declarações	de	autores	bíblicos	sobre	
a	natureza	singular	da	Bíblia	–	sua	inspiração,	sua	infalibilidade	e	assim	por	diante.	
Em	seguida,	digo	que,	para	mim,	um	estudo	literário	da	Bíblia	começa	onde	começa	
qualquer	outro	estudo	dela	–	afirmando	como	verdade	tudo	que	a	Bíblia	diz	acerca	
de	si	mesma.	Não	vejo	conflito	entre	o	que	creio	teologicamente	acerca	da	Bíblia	e	
meu	estudo	literário	dela.
3	 Dizer	 que	 a	 Bíblia	 é	 literatura	 não	 precisa	 implicar	 que	 seja	 ficcional	 e	 
não factual.
A	maior	parte	da	literatura	é	ficcional	em	algum	nível,	mas	a	ficcionalidade	
não	é	um	traço	definidor	da	 literatura.	Uma	obra	escrita	é	 literária	sempre	que	os	
autores	 empregam	 técnicas	 literárias,	 independentemente	 de	 registrarem	 o	 que	
realmente	aconteceu	ou	inventarem	os	fatos	narrados.
4 Quando encontramos qualidades literárias na Bíblia, não estamos 
acrescentando esses traços a ela.
Para	 pessoas	 não	 familiarizadas	 com	 a	 abordagem	 literária	 da	Bíblia,	 pode	
parecer	 que	 eruditos	 literários	 estão	 acrescentando	 algo	 à	 Bíblia,	mas	 esta	 é	 uma	
impressão	falsa.	Quando	 interagimos	com	a	Bíblia	usando	ferramentas	 literárias	de	
análise,	não	estamos	acrescentando	algo,	mas	descobrindo	o	que	já	está	no	texto.	
Não	podemos	tratar	a	história	de	Sansão	como	uma	tragédia	 literária	se	esta	não	
tiver	as	qualidades	desse	gênero.
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5 A ideia da Bíblia como literatura começou com os escritores da Bíblia.
Foram	os	escritores	da	Bíblia	que	nos	deram	uma	Bíblia	 literária,	de	modo	
que	a	origem	do	conceito	pode	remontar	a	eles.	Temos	uma	pista	disso	no	modo	
como	alguns	autores	bíblicos	falam	com	precisão	técnica	dos	gêneros	literários	em	
que	escreveram	–	salmo,	crônica,	cântico,	parábola,	epístola,	apocalipse	e	outros.	
Entretanto,	 a	 principal	 evidência	 é	 a	 natureza	 literária	 do	 que	 escreveram.	 Cada	
página	 da	 Bíblia	 contém	 ao	menos	 algum	 exemplo	 de	 técnica	 literária,	 e	muitas	
páginas	estão	inteiramente	repletas	delas.
6 O tema da literatura é a experiência humana.
Várias	qualidades	tornam	um	texto	literário,	e	é	fácil	negligenciar	o	princípio	
mais	básico	e	universal	da	literatura	–	o	princípio	que	diz	respeito	ao	conteúdo	da	
literatura.	A	literatura	toma	a	experiência	humana	como	tema.	Quando	lemos	uma	
obra	 literária,	compartilhamos	uma	experiência.	A	 literatura	é	veraz	perante	a	vida	
e	 a	 experiência,	 e	não	é	em	primeiro	 lugar	um	sistema	de	 transmissão	de	 ideias.	
Uma	abordagem	literária	da	Bíblia	identifica	e	revive	as	experiências	humanas	retratadas	 
e	evita	reduzir	a	Bíblia	a	um	conjunto	de	ideias.
7	 A	literatura	é	uma	corporificação	e	uma	encarnação	de	seu	tema.
Professores	 que	 ensinam	 literatura	 e	 escrita	 criativa	 alegam	que	 a	 literatura	
mostra	em	vez	de	dizer.	“Mostrar”	é	encarnar	concretamente;	“dizer”	é	expressar	uma	
abstração	ou	uma	ideia.	O	sexto	mandamento	nos	diz	“não	matarás”.	A	história	de	
Caim	e	Abel	 (Gênesis	 4,1-16)	mostra	 e	 encarna	 essa	verdade,	 e	 o	 faz	 sem	usar	 a	
abstração	do	assassinato	e	sem	ordenar-nos	que	nos	abstenhamos	dele.	Quando	o	
jovem	rico	pediu	que	Jesus	definisse	o	próximo,	Jesus,	em	vez	disso,	contou	uma	
história	(a	parábola	do	bom	samaritano)	que	nos	mostra	como	é	o	comportamento	
amoroso.	Uma	abordagem	literária	da	Bíblia	interage	com	as	experiências	encarnadas	
que	os	autores	bíblicos	põem	diante	de	nós.
8 Talento artístico é uma parte importante da natureza literária da Bíblia.
Deus	não	desprezou	a	beleza	quando	criou	o	mundo	e	tampouco	a	desprezou	
quando	 supervisionou	a	 redação	da	Bíblia.	As	partes	 literárias	da	Bíblia	 estão	 repletas	 
de	 destreza	 artística,	 e	 prestar	 atenção	 a	 ela	 e	 desdobrá-la	 mediante	 análise	 é	
uma	 parte	 importante	 de	 uma	 abordagem	 literária	 da	 Bíblia.	Ao	 fazê-lo,	 pode-se	
acrescentar	uma	dimensão	e	um	nível	de	apreciação	 inteiramente	novas	à	 leitura	
e	 ao	 estudo	 da	Bíblia.	Adicionalmente,	 precisamos	 operar	 com	base	 na	 premissa	
de	que	os	autores	bíblicos	consideravam	importante	e	digno	de	atenção	tudo	que	
punham	em	suas	obras,	inclusive	os	aspectos	artísticos.
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9 Respeitar os aspectos literários da Bíblia é uma forma de observar as 
intenções dos autores bíblicos.
Por	muito	tempo,	a	pedra	angular	da	hermenêutica	evangélica	foi	a	 intenção	
autoral	–	a	necessidade	de	interpretar	uma	passagem	preservando	a	intenção	inferida	
do	autor.	É	hora	de	colocarmos	a	abordagem	literária	da	Bíblia	sob	esta	rubrica.	É	
lógico	que,	se	um	autor	bíblico	confiou	sua	mensagem	a	formas	e	técnicas	literárias,	
ele	pretendia	que	aplicássemos	métodos	comuns	de	análise	literária	ao	texto.
10 Ler a Bíblia como literatura está ao alcance da capacidade de qualquer 
leitor.
Como	 a	 maioria	 dos	 evangélicos	 prestam	 pouca	 atenção	 à	 natureza	
literária	da	Bíblia,	perpetua-se	o	equívoco	de	que	a	abordagem	literária	da	Bíblia	é	
especializada	e	técnica.	Na	verdade,	tudo	que	ela	exige	é	que	apliquemos	à	Bíblia	
o	 que	 sabemos	 acerca	 da	 literatura	 em	 geral.	 Todos	 tivemos	 aulas	 de	 literatura	
na	 faculdade	 ou	 no	 ensino	 médio	 em	 que	 aprendemos	 que	 enredo,	 cenário	 e	
personagens	são	os	elementos	de	uma	história,	e	que	poetas	pensam	em	imagens	e	
figuras	de	linguagem.	Tudo	que	precisamos	fazer	é	pôr	em	prática	o	que	já	sabemos	
enquanto	lemos	e	interpretamos	a	Bíblia.
FONTE: <http://monergismo.com/novo/cosmovisoes/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-a-biblia-
como-literatura-leland-ryken/>. Acesso em: 17 maio 2021.
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Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 A	origem	e	a	evolução	do	conceito	de	cultura	desde	John	Locke	até	os	dias	atuais.
•	 Cultura	como	conceito	apropriado.	A	utilização	do	conceito	de	cultura	por	diversos	
campos	do	saber,	grupos	étnicos,	minorias	e	movimentos	sociais	e	emancipatórios.
•	 Cultura	como	conceito	antropológico.	Seu	desenvolvimento	dentro	da	Antropologia,	
de	Tylor	a	Geertz,	do	funcionalismo	aos	pós-modernos.
•	 A	 origem	 francesa	 do	 conceito	 de	 cultura.	 Concepção	 fundamentada	 na	 ideia	 de	
progresso	material	e	científico,	unilinear	e	universal.
•	 A	 origem	 alemã	 do	 conceito	 de	 cultura.	 Concepção	 fundamentada	 nos	 valores	
nacionais,	espirituais,	na	genialidade	individual,	nas	emoções	e	nas	forças	obscuras.
•	 A	 Bíblia,	 sua	 origem,sua	 história,	 sua	 relevância	 para	 os	 povos	 semitas	 e	 para	 a	
civilização	ocidental.
•	 A	Bíblia	e	suas	especificidades.	Suas	divisões;	Antigo	Testamento	e	Novo	Testamento,	
a	Tanak,	a	Septuaginta,	a	Bíblia	cristã	católica	e	a	Bíblia	protestante.	
•	 A	Bíblia	e	sua	importância	para	os	judeus	e	para	os	cristãos.	Sua	importância	como	
orientação	traditiva	para	os	 judeus,	na	sua	formação	e	desenvolvimento	enquanto	
povo	e		como	regra	de	fé	para	os	cristãos.	
RESUMO DO TÓPICO 1
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AUTOATIVIDADE
1	 A	 cultura,	 assim	 com	 outros	 conceitos	 fundamentais,	 desde	 a	 sua	 origem	 passa	
por	 um	 processo	 de	 debates,	 disputas	 teóricas,	 polissemias	 e	 apropriações	 por	
outros	campos	do	conhecimento.	Por	se	tratar	de	um	conceito	que	diz	 respeito	a	
todas	 as	 dimensões	 da	 vida	 humana,	 o	 conceito	 de	 cultura	 acabou	 se	 tornando	
o	 objeto	 próprio	 da	 Antropologia.	 Elabore	 um	 texto	 dissertativo,	 apresentando	 o	
conceito	antropológico	de	cultura	e	o	conceito	de	cultura	apropriado	por	campo	de	
conhecimento	ou	segmento	social.
2	 O	 ser	 humano	 é	 um	 ser	 simultaneamente	 biológico	 e	 cultural,	 pois	 é	 constituído	
tanto	por	aspectos	biológicos	como	culturais.	É	um	ser	biológico	porque	faz	parte	
da	natureza	e,	como	tal,	apresenta	características	comuns	aos	outros	seres	vivos,	
tais	 como	 comer,	 andar,	 dormir,	 brincar,	 acasalar,	 procriar	 etc.	 Como	 ser	 cultural,	
ao	 contrário	 de	 outros	 animais	 que	 nascem	 já	 adaptados	 à	 natureza	 e	 agem	por	
instinto,	o	ser	humano	produz	cultura	e	a	transmite	e	adapta	aos	seus	descendentes,	
classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	O	ser	humano	é	um	ser	biocultural	porque	nasce	de	forma	natural,	mas	torna-se	um	
ser	cultural.
(			)	A	natureza	é	o	 reino	do	mundo	selvagem,	 incluindo	os	povos	primitivos	que	não	
foram	ocidentalizados,	civilizados.
(			)	O	ser	humano	não	possui	especializações	corporais	assim	como	os	animais,	porém,	
cria	especializações	superficiais	que	supera	a	dos	animais.
(			)	O	 ser	 humano	 é	 um	 ser	 biocultural	 porque	 possui	 um	 corpo	 com	 necessidades	
naturais	e	fisiológicas.	Não	obstante,	vivencia	essas	necessidades	de	acordo	com	a	
sua	cultura.	
Assinale	a	alternativa	que	contém	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	V	–	F.
b)	 (			)	 V	–	V	–	F	–	F.
c)	 (			)	 F	–	F	–	V	–	V.
d)	 (			)	 F	–	V	–	F	–	V.
3	 A	Bíblia	é	o	livro	mais	lido	na	atualidade.	Ela	foi	composta	por	um	longuíssimo	período	
de	 mais	 ou	 menos	 três	 mil	 anos	 de	 tradição	 oral,	 redações	 primitivas,	 redações	
posteriores,	várias	 cópias	 e	uma	centena	de	versões	 e	 traduções.	 Seus	 livros	 são	
compostos	 por	 múltiplos	 gêneros	 literários,	 dos	 quais	 constam	 salmos,	 crônicas,	
cânticos,	parábolas,	epístolas,	apocalipses	e	outros.	Com	relação	à	Bíblia,	assinale	a	
alternativa	CORRETA:
23
a)	 (			)	 A	Bíblia	é	a	religião	das	três	maiores	religiões	do	mundo;	cristianismo,	judaísmo	e	
islamismo.
b)	 (			)	 A	Bíblia	é	um	livro	literário	como	qualquer	outro.
c)	 (			)	 A	Bíblia	judaica,	católica	e	protestante	é	a	mesma	Bíblia.
d)	 (			)	 O	fato	de	a	Bíblia	ser	um	livro	literário	que	possui	vários	gêneros,	em	nada	altera	
o	fato	dela	ser	um	livro	sagrado.
4	 A	Bíblia	é	um	livro	sagrado	que	serve	de	regra	de	fé	e	orientação	moral	para	milhões	
de	indivíduos.	Por	outro	lado,	é	um	importante	patrimônio	universal	por	fazer	parte	dos	
documentos	 históricos	 escritos	mais	 antigos	 da	 humanidade.	Analise	 os	 enunciados	 
a	seguir:
I-	 A	Bíblia	é	um	dos	importantes	documentos	históricos	da	civilização	indo-europeia.
II-	 A	Bíblia	é	uma	coleção	de	livros	redigida	originalmente	em	dezenas	de	línguas.
III-	 A	Bíblia	é	um	livro	de	regiões	monoteístas.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:	
a)	 (			)	 Apenas	os	enunciados	I	e	II	estão	corretos.
b)	 (			)	 Apenas	os	enunciados	I	e	III	estão	corretos.
c)	 (			)	 Apenas	os	enunciados	II	e	III	estão	corretos.
d)	 (			)	 Apenas	o	enunciado	III	está	correto.
24
25
A TERRA: CANAÃ, ISRAEL, PALESTINA
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
A	terra	do	povo	da	Bíblia	é	uma	pequena	faixa	de	terra	com	extensão	territorial	
de	 apenas	 22.000	 km².	 A	 Palestina,	 como	 é	 conhecida	 na	 historiografia	 universal	 é	
do	 tamanho	do	menor	 estado	brasileiro,	 o	 estado	de	Sergipe.	Para	 se	 ter	uma	 ideia,	
caberiam	 sete	 Palestinas	 dentro	 do	 estado	 do	Amazonas,	 o	maior	 estado	 brasileiro,	
porém,	a	 inexpressividade	topográfica	da	Palestina	contrasta	com	a	sua	 importância	
geográfica,	estratégica,	política	e	econômica.	
Situada	na	costa	oriental	do	Mar	Mediterrâneo,	ponto	de	convergência	entre	a	
Europa,	a	Ásia	e	a	África,	a	Palestina	era	uma	das	mais	importantes	rotas	comerciais	do	
mundo	antigo.	Também	era	através	da	Palestina	que	se	estabelecia	a	conexão	entre	o	
oriente	 e	 o	 subcontinente	 indiano.	 É	 nesta	 região	 que	 os	 hebreus	 e	 posteriormente	
Israel	se	estabelece.	Numa	terra	geograficamente	aberta	para	a	 influência	dos	povos	
do	Mediterrâneo,	dos	povos	da	Ásia	Menor	e	principalmente,	aberta	para	a	influência	de	
duas	grandes	civilizações,	o	Egito	e	a	Mesopotâmia.
FIGURA 7 – CANAÃ: IDADE DO BRONZE
FONTE: <https://super.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/09/super_imgmapa_exodo.
jpg?quality=70&strip=info>. Acesso em: 17 maio 2021.
26
Palestina	 sempre	 foi	 uma	 região	 muito	 cobiçada	 por	 causa	 de	 sua	 posição	
estratégica.	Foi	palco	de	muitos	conflitos	e	disputas.	Entre	tantos	conflitos,	 invasões	e	
destruições,	dois	eventos	em	especial	estão	entre	os	mais	traumáticos	para	a	memória	
judaica.	No	ano	200	a.C.	Antíoco	Epifânio,	um	rei	da	dinastia	dos	selêucidas,	proíbe	a	
prática	do	judaísmo,	desfigura	o	templo	e	o	dedica	à	Zeus.	E	no	ano	135	d.C.	o	imperador	
romano	 Adriano,	 constrói	 sobre	 as	 ruínas	 de	 Jerusalém	 uma	 cidade	 romana,	 Aelia 
Capitolia.	Ergue	um	templo	dedicado	a	Júpiter	e	muda	o	nome	da	Judéia	para	Síria-
Palestina	para	apagar	qualquer	ligação	com	os	judeus.
Quando se trata da Geografia Bíblica, o interesse não é estudar 
apenas os povos e as terras do Oriente, mas conhecer o cenário 
onde os acontecimentos bíblicos vieram a acontecer, para que 
se possa compreender melhor a história do relacionamento de 
Yahweh com seu povo, através do estudo da influência que as 
características físicas e ambientais da região exerceram sobre os 
personagens da epopeia bíblica.
IMPORTANTE
FIGURA 8 – ARQUEOLOGIA EM ISRAEL E ORIENTE PRÓXIMO
FONTE: <http://twixar.me/qR8m>. Acesso em: 17 maio 2021.
FIGURA 9 – COLUNAS ROMANAS, RUÍNAS EM AELIA CATOLINA
FONTE: <http://twixar.me/rR8m>. Acesso em: 17 maio 2021.
27
2 TOPONÍMIA
A	identificação	dos	nomes	de	localidades	da	antiguidade	não	é	tarefa	fácil.	No	
caso	da	Palestina,	por	ser	uma	região	palco	de	disputas	imperiais,	e	que	possui	um	rico	
acervo	arqueológico,	os	topônimos	da	religião	foram	registrados	e	conservados.	Quanto	
à	delimitação	das	fronteiras	e	cronologia	não	se	pode	exigir	muito.	
Na	 maioria	 das	 vezes	 a	 localidade	 recebia	 o	 nome	 do	 povo	 ocupante,	 mas	
também	ocorria	o	inverso.	Fato	que	torna	ainda	mais	difícil	para	o	estudo	da	toponímia,	
dado	que	durante	toda	a	Idade	do	Bronze	(2.000	a.C.	–	1.200	a.C.)	os	povos	semitas	se	
deslocavam	constantemente	por	toda	a	região.	
O	 topônimo	Canaã	 (do	 hebraico	Kna’an)	 é	 provavelmente	 uma	 referência	 ao	
neto	amaldiçoado	de	Noé,	filho	de	Cão	(cf.	Gênesis	9,	18;	22-27).	A	esse	descendente	
de	Noé	estariam	ligados	grupos	semitas	que	historicamente	habitavam	a	Fenícia	e	em	
partilhar,	a	Síria-Palestina	(DOUGLAS,	2006).	Canaã	era	o	nome	dado	à	Palestina	antes	
da	ocupação	dos	hebreus.	Pelos	hebreus,	 a	 região	 sempre	 foi	 chamada	de	Canaã	e	
posteriormente	Israel,	nunca	de	Palestina.
O	termo	Palestina	não	é	um	termo	usado	na	Bíblia.	É	o	termo	com	o	qual	a	região	
tornou-se	conhecida	na	historiografia	mundial.	O	termo	vem	dos	gregos	antigos	que	
apelidaram	assim	a	 região,	por	causa	dos	povos	que	habitavam	a	 região	costeira,	os	
filisteus,	filistim	(em	hebraico	plishtim).A	administração	romana	denominava	a	região	da	Judéia.	Na	atualidade,	a	região	
abrange	o	Estado	de	Israel,	em	que	predomina	a	população	judaica.	E	o	Estado	Palestino,	
em	que	predomina	a	população	palestina	e	árabe	(KONINGS,	1998).	
3 LOCALIZAÇÃO E CLIMA
A	 Palestina	 ou	 Israel	 está	 localizada	 na	 costa	 oriental	 do	 Mar	 Mediterrâneo.	
Encontra-se	latitudinalmente	no	hemisfério	Norte.	Por	 isso,	possui	diferenças	marcantes	
entre	as	estações	climáticas.	Pode	ocorrer	neve	durante	o	 inverno	e	ter	verões	bem	
ensolarados.	Faz	fronteira	ao	Norte	com	a	Fenícia,	atual	Líbano;	ao	Sul	com	o	Egito;	ao	
Leste	faz	fronteira	com	Amon	e	Moabe,	atual	Jordânia;	e	Nordeste	com	Aram,	Atual	Síria.
Na	época	em	que	os	hebreus	chegam	à	Palestina,	o	território	palestino	nesse	
período	era	composto	por	quatro	regiões:	a	faixa	junto	ao	Mar	Mediterrâneo;	uma	zona	
de	montanhas	e	colinas	áridas;	uma	faixa	estreita	entre	o	Jordão;	e	os	semiáridos	que	
pertencem	ao	deserto	da	Síria	e	Arábia.	Em	geral,	uma	região	que	não	favorecia	a	prática	
da	agricultura	(BARBOSA,	2009).
28
FIGURA 10 – MAPA MUNDI LOCALIZAÇÃO DE ISRAEL
FONTE: <https://vamospraonde.com/wp-content/uploads/2016/12/israel-mapa-1024x507.jpg>. 
Acesso em: 17 maio 2021.
A Palestina é atravessada de norte a sul por montanhas 
beirando uma depressão ou fosso geográfico, pelo qual 
desce o rio Jordao, que desemboca no Mar Morto – 
chamado assim porque a evaporação elevou seu teor 
salino a ponto de impossibilitar a vida em suas águas.
INTERESSANTE
4 O CRESCENTE FÉRTIL
Em	relação	à	localização	mais	ampla,	a	Palestina	está	situada	no	que	hoje	se	
chama	de	Oriente	Médio.	Na	antiguidade	essa	 região	era	conhecida	como	Crescente	
Fértil,	 o	cenário	pano	de	fundo	da	história	bíblica.	É	uma	faixa	territorial	em	formato	
semicircular,	 uma	meia	 lua,	 de	 terras	 férteis	 que	 se	 estendem	 do	 Egito	 até	 o	 Golfo	
Pérsico,	passando	pelas	planícies	da	Palestina	e	da	Mesopotâmia	(KONINGS,	1998).
29
FIGURA 11 – MAPA DO CRESCENTE FÉRTIL
FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/wp-content/uploads/2018/10/crescente-fertil.jpg>. 
Acesso em: 17 maio 2021.
O	crescente	fértil	foi	historicamente	habitado	por	diversos	povos	e	civilizações	
desde	 os	 mais	 primitivos	 estágios	 da	 humanidade.	 Os	 povos	 antigos	 assim	 o	
denominavam	 por	 ser	 uma	 região	 extremamente	 propícia	 à	 agricultura,	 literalmente	
"rasgando"	 áreas	 desérticas	 completamente	 inóspitas,	 impróprias	 para	 povoamento	
constante	 e	 estável.	 O	 Crescente	 é	 fértil	 em	 contraposição	 aos	 desertos	 e	 cadeias	
de	montanhas	que	o	cercam	uma	região	com	uma	 importância	única	para	a	história	
universal.	Veja	o	comentário:
Apesar	 de	 o	 Crescente	 Fértil	 abranger	 diversos	 países,	 suas	
extremidades	 não	 se	 encontram	 tão	 distantes	 assim:	 de	 Egito	 até	
ao	Golfo	Pérsico	são	2.000	km	–	a	distância	de	Belém	a	Brasília.	As	
rotas	comerciais	que	atravessavam	a	região	eram	disputadas	pelas	
“forças	imperiais”,	ora	da	Mesopotâmia	(assírios,	babilônios,	persas),	
ora	do	Egito.	E	entre	o	rochedo	e	o	mar,	o	marisco	que	sofre	é	a	terra	
de	 Canaã/Israel,	mas,	 em	vez	 de	 comparar	 a	 terra	 de	 Israel	 a	 um	
marisco,	 poderíamos	compará-la	 a	uma	pérola,	 pois	 as	 sucessivas	
ondas	 de	 conquista	 imperialista	 não	 desalojaram	 o	 povo	 de	 Israel	
ali	encrustado,	mas	antes	forneceram-lhe	a	experiência	histórica	e	
religiosa	única,	que	fez	nele	se	desenvolver	a	pérola	que	chamamos	
a	Bíblia	(KONINGS,	1998,	p.	29).
Existe	 uma	 crença	 medieval	 que	 diz	 que	 Jerusalém	 é	 o	 centro	 do	 mundo.	
Segundo	 Douglas	 (2006),	 num	 certo	 sentido,	 tal	 crença	 não	 é	 tão	 absurda,	 “pois	 o	
minúsculo	corredor	 sírio,	 que	une	o	mundo	da	Europa,	da	Ásia	e	da	África,	 os	cinco	
mares	Mediterrâneos,	Negro,	Cáspio,	Vermelho	e	Golfo	Pérsico,	é	o	lugar	onde	a	maior	
massa	de	terra	do	nosso	planeta,	se	transforma	num	istmo”	(DOUGLAS,	2006,	p.	977).
30
FIGURA 12 – MAPA DE JERUSALÉM NO CENTRO DO MUNDO 
FONTE: <https://bit.ly/3opt6db>. Acesso em: 17 maio 2021.
5 A CAPITAL 
A	afirmação	de	que	Jerusalém	está	 no	 centro	 do	mundo	não	 é	 um	exagero	
quando	 se	 compreende	 que	 esta	 é	 a	 cidade	 sagrada	 para	 os	 cristãos,	 judeus	 e	
muçulmanos.	Estamos	falando	de	mais	da	metade	da	população	do	planeta,	55,48%,	o	
que	equivale	a	4	bilhões	e	327	milhões	de	pessoas.	
A	 crença	 de	 que	 uma	 terra	 foi	 dada	 por	 Deus,	 impede	 que	 esta	 terra	 seja	
entregue	ou	até	mesmo	dividida.	O	fato	de	ser	um	solo	sagrado	é	usado	politicamente,	
colocando	Jerusalém	no	centro	da	questão	geopolítica	mundial.
Não	há	registro	de	uma	cidade	que	tenha	sido	tão	disputada	nos	últimos	quatro	
mil	anos.	De	fato,	Jerusalém	é	a	cidade	mais	disputada	da	história.	Seus	números	são	
impressionantes.	A	cidade	foi	palco	de	cento	e	dezoito	conflitos	nos	últimos	quatro	mil	
anos.	Duas	vezes	destruída,	vinte	três	vezes	sitiada,	cinquenta	e	duas	vezes	atacada	e	
quarenta	e	quatro	vezes	capturada	(SZKLARZ,	2008).
Jerusalém	foi	fundada	por	volta	de	dois	mil	a.C.	Há	inscrições	egípcias	antigas	
que	mostram	o	 interesse	dos	faraós	pela	cidade	em	mil	e	novecentos	a.C.	No	século	
seguinte,	a	cidade	torna-se	um	núcleo	urbano	pelas	mãos	dos	cananeus.	Estes	serão	
conquistados	por	semitas	descendentes	de	Canaã	filho	de	Noé,	os	jebuseus.	É	contra	
este	povo	que	Davi	 luta	 e	 conquista	Jerusalém,	 fazendo	dela	 a	 capital	 de	 seu	 reino	
(DOUGLAS,	2006;	SZKLARZ,	2008).
31
Jerusalém,	que	em	hebraico	(Yerushalem),	significa	“cidade	da	paz”,	segundo	
atribuição	 encontrada	 no	 Antigo	 Testamento	 em	 hebraico	 (Jeremias	 26,	 18)	 e	 no	
aramaico	em	(Esdras	5,	14).	Jerusalém	é	uma	cidade	de	muitos	topônimos,	de	muitas	
denominações.	Também	chamada	de	Sião	(Tzion),	provavelmente	por	causa	da	fortaleza	
jebusita	próxima	à	cidade	na	época	em	que	a	cidade	foi	conquistada	pelo	monarca	Davi.	
Davi	quanto	se	torna	rei,	sua	capital	era	Hebrom.	Percebeu	que	Jerusalém	tinha	
uma	 localização	 diplomaticamente	 estratégica	 entre	 as	 tribos	 de	Benjamim	 e	 Judá.	Ao	
conquistá-la,	Jerusalém	passa	a	ser	conhecida	também	com	a	“cidade	de	Davi”	(ir David)	
(2	Samuel	5,	6-8).	Posteriormente,	seu	filho	Salomão	constrói	o	templo	e	Jerusalém	se	
torna	a	“cidade	santa”	(ir qodesh)	(2	Samuel	5,	9).
FIGURA 13 – RUÍNAS DO TEMPLO DE SALOMÃO
FONTE: <https://bit.ly/2SOOg8L>. Acesso em: 17 maio 2021.
32
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 A	Palestina,	sua	origem	e	história.	De	terra	primitiva	dos	filisteus	até	se	tornar	terra	
prometida	 dos	 hebreus.	 Sua	 localização	 e	 principais	 características	 históricas,	
culturais	 e	 ambientais.	 Sua	 importância	 estratégia,	 sua	 ocupação	 e	 os	 diversos	
capítulos	de	domínio	e	disputas.	
•	 A	Palestina,	uma	terra	de	múltiplos	significados.	A	história	da	toponímia	da	Palestina.	
A	Filistia,	a	Palestina,	a	Canaã	e	o	Israel.
•	 A	Palestina,	a	terra	dos	 judeus,	e	o	cenário	do	nascimento	da	Bíblia.	A	história	da	
Palestina,	o	cenário,	o	contexto	vital	mais	 importante	e	o	que	mais	 influenciou	na	
formação	dos	judeus	e	dos	escritos	bíblicos.
•	 O	 Crescente	 Fértil	 e	 sua	 importância	 para	 as	 civilizações	 do	mundo	 antigo.	 Uma	
das	 regiões	mais	 importantes	 do	Mundo	Antigo.	 Berço	 das	 principais	 civilizações,	
culturas	e	religiões.	Uma	região	em	constante	disputa	em	função	de	sua	localização	
estratégica.	
•	 A	capital	Jerusalém,	sua	história	e	sua	importância	para	os	judeus.		A	antiga	cidade	
dos	jebuseus.	Uma	cidade	que	foi	berço	do	esplendor	da	monarquia	hebraica,	uma	
das	cidades	mais	amadas	e	mais	disputada	da	história.
RESUMO DO TÓPICO 2
33
1	 A	Palestina	é	uma	região	semiárida	de	estepes.	Batizada	há	muito	com	o	nome	de	
Terra	Santa,	igualmente	conhecida	por	Cananeia,	ou	terra	de	Canaã,	consiste	numa	
estreita	faixa	territorial	a	sudoeste	do	Líbano,	banhada	a	leste	pelo	mar	Mediterrâneo	
e	 dividida	 pelo	 rio	 Jordão,	 em	 duas	 partes:	 a	 leste,	 a	 Transjordânia;	 e	 a	 oeste,	 a	
Cisjordânia,	onde	se	encontra,	presentemente,	o	Estado

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