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Jean Mendes Custódio Bauru – 2011 Dissertação Apresentada à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” UNESP, Campus de Bauru, como requisito à formação no curso de Bacharelado em Design – Habilitação em Design Gráfico. Orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi Banca Examinadora ______________________________________________ Prof. Dr. Dorival Campos Rossi ______________________________________________ Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli ______________________________________________ Prof. Dr. João Baptista de Mattos Winck Filho ______________________________________________ Ms. Frederico Breslau Agradeço e dedico este trabalho aos meus pais por me fornecer todo o incentivo e estrutura para ingressar neste curso e também pelo apoio para que eu me mantivesse empenhado mesmo nos momentos de maior incerteza. Aos amigos que fiz no curso, e aos inúmeros momentos de descontração que tornaram o processo acadêmico menos tortuoso. Aos professores que me guiaram e mostraram a quão maravilhosa e gratificante é esta área que escolhi. Em especial, agradeço ao Professor Dorival, por orientar meu projeto e principalmente por ser uma inspiração quando estive desacreditado, e me apresentar a esse novo mundo de idéias que uma vez descoberto não mais nos abandona. Jean Mendes Custódio Trabalho de Conclusão de Curso Índice Resumo 08 Programa 11 Introdução – Conceito e Criatividade 12 I – Clinica do Design 14 II – Rizoma e Multiplicidade 21 Conclusão 28 Referências 31 8 RESUMO CUSTÓDIO, Jean Mendes (2011), O DESIGN DO RIZOMA E A MULTIPLICIDADE NA CRIAÇÃO, Uma Aplicação Filosófica no Processo Criativo. Dissertação de conclusão do curso de Design, da Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus de Bauru. (orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi). Essa pesquisa tem como objetivo aproximar as teorias filosóficas de Deleuze e a plataforma de trabalho do Design tomando por base o estudo da obra Mil Platôs, esta introduz conceitos da organização das ideias humanas e as aproxima no processo de criação. A construção de uma multiplicidade baseada na obra do filósofo é capaz de responder ao problema de composição para um material de expressão no ambiente do Design, de efetuar uma desterritorialização das intensidades e de promover a heterogênese das qualidades de um território existencial. A proposta é apoiar as criações nessas teorias buscando um resultado que se aproxime dessa qualidade psicológica e caracterize um conteúdo atual e de maior abrangência visto que trabalha atentamente e engloba as questões filosóficas e vem a se integrar a uma nova forma de se fazer Design, aprimorando os conceitos de produção e expressão. A pesquisa segue um método intuitivo baseado em duas linhas de construção, a primeira representa uma introdução aos conceitos filosóficos propostos pelo autor seguido de um estudo do espaço de atuação da filosofia, a segunda é a aproximação das correntes filosóficas e os conceitos de Deleuze e uma analise da aplicação e identificação dessas teorias no campo do Design atuando na organização do processo criativo. 9 ABSTRACT Custódio, Jean Mendes (2011), THE DESIGN OF THE RHIZOME AND MULTIPLICITY IN CREATION, A Philosophical Application in the Creative Process. Dissertation of the conclusion course project in Design, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), Universidade Estadual Paulista - UNESP, Bauru. (Adviser: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi). This research has as objective approximate philosophical theories from Deleuze to Design’s working platform. Taking as a basis the study of book Mille Plateaux, it introduces concepts of organization of human ideas and approaches in the creative process. The construction of a multiplicity, based on the work of the philosopher is capable of answering to the problem of the composition for expression material for design environment, performing a deterritorialization of intensities and to promote the qualities of a heterogenesis existential territory. The proposal is to support the creations of these theories seeking a result that approaches this quality psychological and current content and features a more comprehensive working closely watched and encompasses the philosophical questions and has to integrate a new way of doing Design, humanizing and evolving concepts of production and expression. The research follows an intuitive method based on two lines of construction, the first is an introduction to philosophical concepts proposed by the author, followed by a study of the performance space of philosophy, the second is the philosophical approach and the concepts of Deleuze and a review of identification and application of these theories in the field of Design organization working in the creative process. 10 11 Programa A proposta deste estudo é descrever a teoria das multiplicidades, somada a outros fundamentos filosóficos presentes na obra Mil Platôs de Deleuze, e introduzir essas correntes na organização do trabalho do designer, especificamente no processo de criação, além de familiarizar o leitor à filosofia de Deleuze e Guattari ela proporciona uma aproximação dessas teorias ao plano de produção do Design e classifica novos métodos para a execução de trabalhos nesse meio. Os autores apresentam essa teoria como um construtivismo que ultrapassa os dualismos entre “consciência e inconsciente”, “natureza e história”, “o corpo e a alma”. Toda a obra se fundamenta nos princípios multidisciplinares, na aproximação de diferentes segmentos, na criação de uma unidade não linear de ideias. Os capítulos se dividem em dois grandes blocos, o primeiro trata de introduzir a filosofia de Deleuze, o estudo deste se orienta na literatura e no próprio espaço de atuação da filosofia. O segundo e uma estruturação da teoria focando seus pontos na apresentação do trabalho do designer, nessa etapa o conceito de multiplicidade se coloca como fator de composição do conteúdo; e a organização no formato do rizoma representa as linhas de ideias que constituem o processo criativo. 12 "O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potencia. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos". (DELEUZE, Gilles, e Félix GUATTARI. O que é a Filosofia1992) Introdução: Conceito e Criatividade Conceito é uma palavra chave para se iniciar qualquer estudo ou dialogo com a obra de Gilles Deleuze, o conceito para Deleuze é o principal produto da filosofia. Essa visão da filosofia como uma ferramenta para a criação de conceitos é o base do projeto de Deleuze, de colocar o pensamento como uma experimentação. É essa visão que organiza todo o processo de ideias que surgem na filosofia deleuzo-guattariana e representa o grande ponto relevante desse estudo. Para Deleuze o próprio pensamento representa criação, esse é o ponto de ligação da filosofia com o Design, ou melhor, é a conclusão que não há divisão entre os mesmos, tendo em vista que qualquer pensamento da ordem filosófica ou na projeção do designer é criação. Definir o pensamento como criação, é defender que a vida é na verdade todoum processo criativo, a própria forma do pensar é uma ferramenta de construção. Portanto a vida é o resultado das intensidades criativas, o pensamento não é a procura do conhecimento, mas sim a capacidade de criar o conhecimento, os conceitos. Portanto o conceito surge na necessidade de se produzir o conhecimento, esse é autorreferente porque surge de sua própria necessidade e se refere a si próprio. Sendo a filosofia a função criativa de conceitos, ela surge para se auto definir, esta representa o conhecimento de si e não de outras coisas. 13 Para entender o pensamento como criação é necessário que se entenda que todas as disciplinas estão orientadas pelo processo criativo de conceitos. Filosofia, ciência ou arte que apesar de atualmente serem divididas, se valem da criação como ponto fundamental para seu desenvolvimento ou para a construção do conhecimento. A criação é que constrói essas disciplinas, portanto não é de estranheza tratar a criação como sendo a base do conhecimento. Considerando o Design como resultado de uma intensidade criativa ele deixa de ser como é atualmente visto, uma ferramenta de criação, e passa a representar o próprio conhecimento. Essa visão representada por Deleuze e Guattari utiliza conceitos para explicar artes, ciência e filosofia, todas colocadas num mesmo nível, uma projeção de uma multiplicidade heterogênea com uma definição de conceito baseada na transdisciplinaridade, ou seja, as disciplinas não só se postam unidas e como colaboradoras entre si, mas possuem uma organização conceitual maior que ultrapassa a definição de cada uma delas isoladamente. 14 I – Clinica do Design. O Estudo se orienta na obra de Gilles Deleuze, numa aproximação do Design e da filosofia. O objetivo é traçar um roteiro para se adentrar no “mundo da criação de conceitos” reorganizando as idéias numa nova perspectiva de trabalho no processo de criação. Dada a característica do estudo e o ponto de referencia metodológico, o estudo primário da filosofia inicia na aplicação pratica desta ciência, baseada na rotina que um cientista desenvolve, transpondo em experimentos suas percepções e seguindo na maioria dos casos somente sua intuição para desvendar a complexidade que é o campo das ideias, esse foi o principal campo epistemológico trabalhado por Deleuze em sua obra. Definir a Filosofia através da criação de conceitos foi uma das características marcantes da organização proposta em Mil platôs. A obra de estudo foi construída em parceria com o psicanalista Félix Guattari, a estrutura do trabalho revela um movimento de conceitos, é a aplicação da filosofia como uma ferramenta da criatividade o ponto fundamental desses conceitos, e a grande ligação que podemos fornecer com o Design, ligação essa que só é representada neste trabalho como um ponto inicial de estudo, já que aprofundando a teoria nos vemos inseridos naquilo que Deleuze chama de “plano de imanência”, a teoria de que o pensamento tem uma forma, uma imagem associada a ele, não é mais possível traçar uma linha que divida as ciências e é esta mesmo a proposta fundamental desse estudo. 15 Essa teoria de o pensamento seguir um modelo é representada por Deleuze em Mil platôs, quando ele questiona a conformidade do pensamento associado à figura do Estado, entendo estado como a organização da sociedade. O “plano de imanência” já é definido por Deleuze e Guatarri em Mil platôs, porem o termo só surge na obra posterior “O que é filosofia” antes o do termo nascer, entretanto já se tinha essa teoria ao se tratar da “imagem do pensamento” quando Deleuze define que o pensamento não pode se orientar através da imagem, imagem que aqui deve ser entendida como sendo um modelo, ou seja, que o pensamento atual se orienta por modelos pré-concebidos e por isso não representam a filosofia pura quando se organizam. É no plano de imanência que surgem as intensidades criativas, a força que possibilita a construção dos conceitos e a organização da base da filosofia, por isso esse é o terreno pré-filosófico, não porque antecede a filosofia, mas porque ela depende dele para existir, o plano é a representação máxima da capacidade do pensamento e da criação, é onde de fato surge a criação. Acontece de criticarem conteúdos de pensamento julgados conformistas demais. Mas a questão é primeiramente a da própria forma. O pensamento já seria por si mesmo conforme a um modelo emprestado do aparelho de Estado, e que lhe fixaria objetivos e caminhos, condutos, canais, órgãos, todo um organon. Haveria, portanto uma imagem do pensamento que recobriria todo o pensamento, que constituiria o objeto especial de uma "noologia", e que seria como a forma-Estado desenvolvida no pensamento. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix - Mil Platôs, Vol. 05, p.43 O plano de imanência não é um conceito pensado nem pensável, mas a imagem do pensamento, a imagem que ele se dá do que significa pensar, fazer uso do pensamento, se orientar no pensamento... DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix - O que é a filosofia, p. 53 16 Este tópico recebeu o titulo de Clinica do Design, principalmente por tratar de difundir essa outra forma de organização do pensamento, desvinculando de modelos ou de ideias preconcebidas, assim coloco o Design numa espécie de estudo dos fatores problemáticos em sua organização, definindo os pontos que podem ser explorados para o surgimento de um novo método de atuação. O primeiro ponto de ação é desvincular o design de uma área especifica, ele se define como o processo e não como atuante ou produto que resulta numa etapa final, essa definição é base da teoria da multiplicidade já que como na proposta de Deleuze, esta não se vincula a nenhum território, não permite divisões ou regras na sua composição. O estudo da aplicação filosófica do design não se foca na definição dos conceitos, mas no plano em que estes são criados, assim como Deleuze propõe que conceitos são criados para organizar um sistema, e que esses derivam não das essências que pré existem, mas das necessidades que surgem durante a sua própria existência. Esses conceitos da filosofia funcionam como os processos de criação no Design, analisando o ambiente, os conceitos são como a intervenção artística do Design, na ação de dar forma a uma força, a um objeto do plano virtual, sim, virtual, já que as sensações com quem trabalham a filosofia não são formadas por matérias físicas, porém tem uma intensidade tão real que a mesma necessita ser avaliada e definida para que o trabalho do filósofo se aplique, assim como na criação o designer executa sua função organizando essa sensação não do ponto de vista psicológico, mas trazendo para uma organização visual do sistema, o resultado dessa organização permite compreender a sensação em outras linguagens, o papel do designer aqui não representa a criação em si, mas a tradução do fator humano existencial no processo. “Pré-filosofia não significa nada que preexista, mas algo que não existe fora da filosofia, embora esta o suponha. O não-filosófico está talvez mais no coração da filosofia que a própria filosofia.” DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix - O que é a filosofia, p. 57 17 Essa organização coloca o Design no seu ponto mais interessante onde todas as possibilidades de ligações de ideias e de caminhos para o processo criativo definem bem a questão da multiplicidade que rege os pensamentos durante a construção. No caso do design todo esse fator de surgimento de ideias, de transformação e ligação para novas criações é definido como processo de criação. O diálogo do design com a teoria de Deleuze fica evidente na questão da Multiplicidade, principalmente na questão da concepção de diferenças. Para enquadrar de fato essa teoria, consideramos que a multiplicidade age no designcomo uma reconstrução, cessa a divisão e centralizam os processos do design numa constante equação de conteúdos, nesse ponto ele não se define em uma fase ou outra, mas na construção total, o design é à força do surgimento, a capacidade operacional da resultante, a necessidade de atualizações e ligações com outras forças e ate mesmo uma possibilidade de renascimento ou reinicio de todo o processo decorrente. O projeto passa a não ter um fim definido, apenas um ponto de partida que logo após o inicio da sua construção se mescla ao próprio projeto, a questão atemporal da sua existência vai além do fato de ele não possuir um término, uma força que o cessa, mas também esta presente no âmbito de que o mesmo tem infinitas possibilidades de conexões e pode vim a se atualizar e renascer em cada uma dessas relações que para que ocorram necessitam somente da base ou da existência do mesmo. A Multiplicidade proposta por Deleuze tem um dialogo tão forte com o processo criativo, que pode por muitas vezes ser entendida como a própria ação de construir, no entanto devemos destacá-la como a força motivacional de pensamento, que estimula a construção e a ligação que atualiza o projeto, para melhor compreender essa força, pense no processo em que se enquadra o trabalho do designer, toda a sua abrangência e possíveis ligações, as fontes ou referencias que o constituem é um perfeito exemplo de organização no principio do rizoma, uma união horizontal com desdobramentos das ideias num processo não linear que permite conexões com qualquer tempo de sua construção. 18 Definida a organização do projeto segundo a teoria do rizoma, podemos destacar cada principio desse, segundo a teoria proposta por Deleuze, no projeto do Design. O primeiro princípio do rizoma é a conexão, ela define a ligação do design com as correntes teóricas de produção, com as mídias de divulgação ou com os leitores que o recebem e ate mesmo uma interconectividade, uma possibilidade de o projeto se conectar a si mesmo, em algum ponto de sua existência que desdobra possibilidades de expansão ou de atualização do projeto. O segundo princípio é a heterogeneidade do projeto que determina a diversidade que ocorrem nessas conexões, e por isso se deriva diretamente da capacidade conectiva, as novas conexões se desdobram e surgem estendendo o projeto, que aumenta sua capacidade de alcance e sua ligação existencial, também aumentando assim a percepção dos receptores desse design. No terceiro principio, surge a questão da multiplicidade, ele deriva diretamente dos dois primeiros, já que define a extensão do projeto, ou como também pode ser definido, representa o seu alcance, por isso esta diretamente ligado aos dois primeiros, a extensão se constrói diretamente da conexão e da diversidade a que se une durante o processo, quanto maior o numero de conexões e maior a variedade heterogênea de conectores, maior o alcance ou abrangência do projeto. No quarto princípio se observa bem essa questão da extensionalidade do projeto, ele trata a questão da ruptura a-significante, termo usado pelo próprio Deleuze representa que mesmo se rompendo o conteúdo em qualquer ponto, ou mesmo se excluindo uma porção do projeto, esse permanece com a capacidade de se reconstruir e mesmo nessa porção menor tem-se a impressão do todo. Para exemplificar esse principio, Deleuze cita o formigueiro, “É impossível exterminar as formigas, porque elas formam um rizoma animal, do qual a maior parte pode ser destruída sem que ele deixe de se reconstruir.” DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix - Mil Platôs Vol. 01. Pag.18 19 “Quando Foucault admira Kant por ter colocado o problema da filosofia não remetendo ao eterno, mas remetendo ao Agora, ele quer dizer que a filosofia não tem como objeto contemplar o eterno, nem refletir a história, mas diagnosticar nossos devires atuais: um devir-revolucionário que, segundo o próprio Kant, não se confunde com o passado, o presente nem o porvir das revoluções. Um devir- democrático que não se confunde com o que são os Estados de direito, ou mesmo um devir-grego que não se confunde com o que foram os gregos. Diagnosticar os devires, em cada presente que passa, é o que Nietzsche atribuía ao filósofo como médico, "médico da civilização" ou inventor de novos modos de existência imanentes. A filosofia eterna, mas também a história da filosofia, cedem lugar a um devir-filosófico. Que devires nos atravessam hoje, que recaem na história, mas que dela não provêm, ou antes, que só vêm dela para dela sair?” (DELEUZE, Gilles, e Félix GUATTARI. O que é a Filosofia1992, p. 144 e 145) Nessa concepção, imaginando que cada ponto do projeto represente um pequeno formigueiro, o resultado disso é organização tão solidificada, que cada porção do projeto é capaz de representá-lo e ainda tem essa capacidade de reconstruí-lo sem alterar lhe sua identidade, a capacidade de atualizar uma construção como essa é infinitamente maior se comprada a um projeto linear, nada mais é do que a desterritorialização e reterritorialização da informação. Que reorganiza os pontos sem perder o foco ou o objetivo principal, enfim ela pode alterar a sua forma, mas o seu “design” como fator fundamental se preserva durante todo o processo. No Design elas funcionam como sustento ao projeto, são responsáveis pela sua manutenção e sua atualização na aplicação, essa proposta aborda o fator da criatividade sem convicções prematuras, tem um bom dialogo ao campo da experimentação visto que sem abordar regras rígidas de construção e de apresentação mantém evidente a sensação de variáveis e possibilidades extremas de resultados. Agora retomando a pesquisa no ponto da vivência, uma vez introduzido ao campo da psicologia aplicada, na instituição de tratamento, observa- se essa teoria em pratica, no âmbito da clinica psicológica, A clínica psicológica é o campo em que Deleuze promove o encontro inusitado entre as filosofias de Bergson e Nietzsche, graças a uma superposição entre os conceitos de “impulso vital” e “vontade de potência” O conceito de impulso vital nos permite analisar as diferenças de natureza entre as durações virtuais que integram um fenômeno, já o conceito de vontade de potência nos permite avaliar a natureza da Diferença na sua literalidade, como um campo de intensidades sempre em devir. 20 Trazendo essas teorias ao projeto construtivo do Design, quanto a essa representação da teoria da multiplicidade e da ordem dos impulsos vitais serem a pura necessidade criativa, é indispensável que se pense isso ao projetar no campo do design, essa força operacional, quando aliada a criação produz um resultado extremamente capaz de adaptação e a existência nas mais variadas aplicações, um projeto com toda essa capacidade de conexão tem um alcance humano infinitamente superior, sua projeção partindo desse plano é capaz de trazer muito mais conteúdo e ainda servir a criação de outros projetos. O rizoma pode representar para o design, uma organização universal das conexões, ou uma definição visual para o projeto criado nesses princípios. 21 II – Rizoma e Multiplicidade Primeiramente a definição de rizoma, para a botânica, chama-se rizoma a um tipo de caule que algumas plantas possuem. Ele cresce horizontalmente, geralmente subterrâneo, mas podendo também ter porções aéreas. As aplicações tanto para a filosofia quanto a qualquer outra área para esse conceito ficam evidentes nas descrições das condições discursivas, que Guattari e Deleuze propõem a partir dos conceptos de raiz, radícula e rizoma apresentam possibilidades interessantes ao embasamento epistemológico para análise de sistemas, em especial para o Design, nos focamos no formato do rizoma, como uma extensão de algo sólido, porém que representa o ponto de conexão de várias raízes decorrentesdeste mesmo ponto. Para Deleuze, o rizoma é inter-relação entre os conceitos. O rizoma é o roteiro dos acontecimentos, que tem espaços e tempos livres, onde os acontecimentos são potencialidades desenvolvidas das relações entre os elementos do principio característico das multiplicidades. O Conceito é o objeto de criação que organiza o trabalho do designer. Ele é múltiplo em sua composição e nas relações de seus componentes com outros conceitos. Da mesma forma que as raízes de uma gramínea são ilimitadamente expansíveis, mantendo a potencialidade de uma nova planta em cada um de seus “nós” (ou pseudobulbos), os conceitos são dotados de expansão ilimitada e em cada “nó” ou desdobramento conceitual possui a essência do conceito que o precede, sem que esses desdobramentos representem uma mera repetição desse nó, ele traz em si uma cópia do conceito original. Esse modelo se assemelha muito ao padrão geométrico "O que Guattari e eu chamamos Rizoma é precisamente um caso de sistema aberto. Volto à questão: o que é filosofia? Porque a resposta a essa questão deveria ser muito simples. Todo mundo sabe que a filosofia se ocupa de conceitos. Um sistema é um conjunto de conceitos. Um sistema aberto é quando os conceitos são relacionados a circunstâncias e não mais a essências. Mas por um lado os conceitos não são dados prontos, eles não preexistem: é preciso inventar, criar os conceitos, e há aí tanta invenção e criação quanto na arte ou na ciência." DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix - Mil Platôs Vol. 01 22 fractal, onde uma estrutura é replicável infinitas vezes, mantendo sempre o seu padrão original, mas formando uma nova estrutura a partir dali. Para trazer essa aplicação do Design e complementando a questão de infinitas possibilidades ao projeto, agora acrescentamos essa questão da conexão, neste ponto além do projeto em si ser infinitamente mutável do ponto de vista criativo, ainda adquire uma predisposição a conexão de outros projetos, assim fazem-se conexões e diálogos entre diferentes projetos e a correspondência desses permitem o surgimento de alternativas que também serão igualmente capazes de desenvolver-se individualmente ou em meio a essas conexões. Essa nova organização no desenvolvimento do projeto, não se orienta num processo linear e com etapas definidas, fazendo uma correspondência com a filosofia, essa antiga organização que divide o projeto em etapas ou processos, organiza-se como uma concepção de árvore, onde o tronco pode servir como exemplo da organização dessas etapas, partindo da base, fundamentada e teorizada que sustenta a porção mais elevada da construção, traz uma impressão de rigidez, essa projeção tenta se sustentar nessas plataformas de conexões, defendendo que os galhos representam esses desdobramentos da proposta, porém seu alcance fica limitado a quem interpreta essa base, já que o resultado é diretamente uma continuação dela e se coloca totalmente dependente dessa estrutura inicial, outro ponto importante é que os galhos são resultados lineares já que uma vez iniciada a interpretação através de um galho, não há um possível retorno e o produto de um galho não se conecta a resultante de outro, são caminhos divergentes que apesar de evoluírem da mesma porção primaria, tomam projeções e seguem caminhos diversos na sua evolução. "Um rizoma não começa e nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”, mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e…e…e…” É que o meio não é uma média; ao contrário, é o lugar onde as coisas adquirem velocidade. Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duras margens e adquire velocidade no meio… DELEUZE, G. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro : Editora 34, 1995, pp.37 23 Aproveitando o surgimento desse termo “evolução”, podemos citar a própria teoria evolucionista de Darwin, que é organizada nesse formato arvore e mesmo representando a mais revolucionaria ideia para a ciência, hoje já enfrenta divergências quanto a sua consistência, já sabemos que os seres não evoluíram em linearidade de um mesmo ancestral, como propunha Darwin, a genética comprova isso como compartilhamos diversos ancestrais com outras espécies e essa evolução não representa uma linha única, na teoria de Darwin, a árvore da evolução representava o processo como as espécies se transformavam, nos galhos que se dividiam porem mantendo um ancestral comum, o tronco da arvore, hoje sabemos que essa representação não serve mais ao propósito de explicar evolução das espécies, o principio que melhor organiza esse processo é o do rizoma, já que a evolução e divisão das espécies não são lineares como propôs Darwin e mesmo duas espécies coexistentes hoje que dividem proximidades nas características estruturais e comportamentais podem geneticamente terem derivado de ancestrais diferentes no passado, é como o rizoma, onde as conexões não obedecem a uma hierarquia, e mesmo fatores similares podem provir de redes variadas e bastante diferentes entre si. Ao se organizar o projeto na forma de uma árvore, os resultados evoluem separadamente, ambos derivados de uma mesma base (A), porém os resultados (B,C,D,E) não se conectam entre si, a evolução do processo é linear, e se priva dentro de etapas bem definidas há uma hierarquia nas conexões. 24 Se pensarmos as conexões como raízes, além de uma maior conexão e abrangência, os resultados (A, B, C, etc...) serão mais eficientes, o projeto se desenvolve por completo e seu alcance será muito maior. 25 Já numa nova organização da produção, na introdução do conceito de rizoma, o projeto é tal qual a projeção de uma raiz, não tem um processo linear de desenvolvimento, a organização não segue critérios de autoridade ou importância, aqui todo o desenvolvimento se dá no sentido horizontal do ponto de vista de uma dobra não sobrepor outra e sim conectar-se em paralelo a essa, a teoria é capaz de se adaptar à medida que a criação evolui, novos conceitos de fundem a base da criação e o resultado produzido esta conectado a esses da mesma forma que as teorias mais primárias que organizaram o projeto. Cada porção da criação, ou pode se chamar cada etapa da produção esta diretamente conectada a fase inicial da criação, nesses pontos de conexão das raízes, mesmo num ponto avançado da produção observa-se a programação inicial do projeto, e mesmo as variadas conexões de teorias que se fundiram ao processo e por vezes alteraram a proposta inicial, em resumo, o projeto não se orienta mais em etapas, a evolução dele é constante e as possibilidades são definidas aqui, na própria teoria de Deleuze, no aspecto de “dobras”, a cada novo conceito que se funde ao processo criativo, surge uma dobra, uma possibilidade de um novo resultado, já que não há uma fase definida para criação, ela incorpora todo o processo. 26 Um exemplo eficiente, que nos permite ter uma ideia da abrangência dessas conexões dentro da teoria do rizoma, é o mapeamento das conexões da internet país a país no planeta, a rede mundial de computadores representa toda a capacidade de uma construção rizomatica, o alcance é imenso e a informação é transferida em altíssima velocidade. Mapa das conexões mundiais da internet país a país, publicado em http://www.chrisharrison.net/ Link do projeto: http://www.chrisharrison.net/projects/InternetMap/ 27 Outro exemplo dessas conexões é a organização que a ciência faz das áreas fundamentais da pesquisa científica, a organização através desse conceitodemonstra como são amplos os caminhos, ou “dobras”, que o sistema pode formar. Mapeamento das áreas de pesquisa cientifica, divulgado gratuitamente para reprodução no site: http://anthropology.net/ link do artigo: http://anthropology.net/2007/03/19/how-science-is-connected/science-connection-map/ 28 .Conclusão Esse estudo orientou-se em função dos desafios que envolvem o processo criativo, a aproximação das teorias de Deleuze ao espaço de trabalho do designer revelou a capacidade desse conceito em se aplicar a variados sistemas de pensamento e na organização das redes criativas durante o processo de construção do projeto. A multiplicidade do real é o próprio processo da criação, a possibilidade de eventos improváveis, de impulsos criativos constituírem nosso próprio conhecimento. A aplicação deste projeto é representar um ponto de partida para se viajar a esse plano das idéias, um mundo guiado exclusivamente pela necessidade de se criar, de se inventar as coisas, porem não se deve esquecer que a multiplicidade só existe na eterna troca, os conceitos se criam em suas próprias necessidades e se conectam a outras realidades. As incertezas são grandes ao se trabalhar com os conceitos de multiplicidade e a orientação rizomatica das idéias torna qualquer conclusão deste projeto provisória, esta conclusão representa uma pausa no processo de desenvolvimento da pesquisa, o objetivo de introduzir a teoria foi alcançado. Mas ainda existem muitos outros pontos, as idéias se reconstroem e fazem novas conexões, este texto cumprirá seu papel servindo de base a um estudo maior, ou a construir um simples pensamento fragmentado. 29 De forma intuitiva e na base das experimentações filosóficas, tal como um cientista trabalha hipóteses de sua intuição em diferentes situações a fim de encontrar pontos onde o resultado se aproxima do cálculo inicial, de fato esse trabalho apresenta muitos pontos a se desenvolver, podendo assim representar um ponto de partida para outros estudos ou comparações, como a própria teoria afirma um ambiente de conexões, assim também é a estruturação deste trabalho um ponto de onde podem surgir inúmeras vertentes. Nessas condições não coloco o texto como livre de objeções, tendo em vista que essas podem estruturar melhor ainda o principio de conectividade e podem sistematizar outras áreas de opiniões ao relacioná-las com essa pesquisa, como o próprio Deleuze já colocou, o conceito é muito mais da ordem do dissenso que do consenso, ou seja, não estamos em busca de conceitos universais, pelo contrário, estamos sempre travando uma batalha contra as opiniões preconcebidas; tal colocação é valida para classificar essas divergências que podem nascer durante a apreciação do tema, de fato não busco com essa dissertação um “convertimento” as teorias de Deleuze, já que o ponto fundamental dessa filosofia é não assumir uma verdade única, essas ideias inacabadas são o fator de maior atração nesses conceitos, assim ao transmitirmos para o Design, os projetos inacabados do ponto de vista filosófico são eternos em tempo, a ideia de determinar um ponto final é que encerra e prende a criação em seu desenvolvimento, o fato de não haver esse ponto se traduz em permanecia para a criação, ela se transforma, faz sua conexões e se aprimora e se reinventa. 30 31 Referências (pesquisadas e consultadas) ALLIEZ, Eric. 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