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Referencial Teórico
A contabilidade, no que diz respeito à sua primordial função de controle de patrimônio das aziendas, desdobra-se em diversas possibilidades de emprego. É ferramenta que dá suporte aos controles internos (Norma Brasileira de Contabilidade 11), aos trabalhos de auditoria interna (Norma Brasileira de Contabilidade TI 01) e também auditoria externa (Norma Brasileira de Contabilidade TA 200), esta última salutar para a manutenção da confiança nas demonstrações contábeis do setor privado. 
O presente trabalho, porém, tem enfoque nas atividades de controle contábil e auditorias internas voltadas para o ramo público, evidenciando os principais aspectos que as diferenciam das técnicas voltadas ao setor privado. Há de se observar, porém, que em algum momento, principalmente com as lentas mudanças, marcadas pelas reformas administrativas abaixo descritas, observar-se cada vez mais traços de um perfil de planejamento contábil privado misturando-se ao perfil contábil aplicado ao setor público.
Conforme apontamentos feitos por Oliveira (2005) a contabilidade voltada ao patrimônio de instituições privadas é regida, de maneira geral, pela lei 6.404/76 – Lei das Sociedades por Ações (Brasil, 1964), viga-mestra da contabilidade societária geral, a qual norteia as técnicas indicativas e limitadoras da atuação das sociedades empresarial como um todo. Esta contabilidade, conforme dita as Normas Brasileiras de Contabilidade, atende a muitos possíveis interessados no patrimônio de cada instituição, tais como a própria administração das instituições, seus sócios, investidores em potencial e também o próprio fisco. É fácil perceber então que talvez o próprio modelo capitalista de Estado só é possível graças às técnicas contábeis, mesmo por ser inverossímil a manutenção de qualquer balança econômica ou comercial com fluxos de riqueza sem qualquer tipo de controle ou registro.
Por outro lado, Rosilho (2016), aponta que as técnicas contábeis voltadas ao setor público, de maneira geral, são dirigidas ao controle do patrimônio estatal, tanto no que diz respeito às fontes primárias de receita pública (ocasiões em que o Estado atua diretamente na economia, por vezes submetendo-se, inclusive, ao regime de direito privado), às fontes secundárias de receita pública (manifestação do poder extroverso do Estado, principalmente no que diz respeito à imperatividade na exigência dos tributos), e também ao destino de tais verbas arrecadadas na satisfação dos interesses coletivos. A própria Carta Magna traz em diversos artigos especificas determinações as quais requerem, dos responsáveis por dinheiro público, rigoroso controle dos gastos estatais
A ideia de controle da administração pública está umbilicalmente ligada à necessidade de proteção dos delegatários do poder estatal contra o seu exercício arbitrário. Extrai-se dessa premissa que a razão de ser do controle se encontra nas próprias bases do direito administraivo, que surgiu atrelado à centralidade do poder decisório e dependente de uma concepção de interesse público voltada a justificar a existência do poder político soberano restrito à esfera pública. (Rosilho, 2016)
A atual Constituição (Brasil, 1988) prevê, ainda, sem prejuízo da separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, o sistema de freios e contrapesos realizado mutuamente pelos três poderes, os quais são investidos de funções políticas que permitem fiscalizar tanto a si próprios quanto os outros poderes.
Como previsto na Constituição da República (Brasil, 1988), integra essa, tanto auto quanto mútua fiscalização, a capacidade de fiscalização orçamentária, destacando-se o poder legislativo (auxiliado pelo Tribunal de Contas da União, em âmbito federal), nas três esferas da federação, a função contábil-orçamentária dos outros poderes (controle externo), sem prejuízo da atuação de controle interno do executivo (por meio das controladorias) e do controle interno do judiciário (realizado principalmente pelo Conselho Nacional de Justiça, órgão não exercente de função jurisdicional).
Embora tenham sido ressaltados neste texto aspectos do atual ordenamento jurídico determinantes para a contabilidade pública seja praticada não apenas com legalidade, mas também com probidade, a contabilidade voltada ao setor público, no Brasil, começou a ser implementada por volta de 1808, quando seu único usuário, ao invés de toda uma administração pública colegiada e escalonada em uma diversidade de órgãos e instituições, resumia-se a figura do rei. Segundo Delgado (1989) a contabilidade servia de instrumento na mão de detentores do poder. Modelo marcado por traços de pessoalidade e patrimonialismo.
Os primórdios da contabilidade brasileira voltavam-se, então, às necessidades de tomada de conhecimentos das receitas públicas pelo então soberano governante, para controle tributário das aduanas nacionais, nos portos.
Passados os anos, com a evolução da sociedade como um todo, as necessidades da máquina pública foram submetidas a sucessivas mudanças. Merecem destaque, inclusive, as Reformas Administrativas do Estado brasileiro. 
A primeira reforma administrativa, datada de 1930, segundo Leite (2019) sagrou-se como a reforma burocrática, surgida num contexto centralizador, durante o governo de Getúlio Vargas. Esta reforma procurou romper com os laços de pessoalidade característicos do modelo anterior, patrimonialista. Inclusive, um dos marcos positivos do modelo burocrático, ao contrário do que muitos possam pressupor ter surgido no contemporâneo modelo gerencial, foi a meritocracia, privilegiando a ocupação dos cargos públicos por méritos técnicos por exemplo.
Tal reforma, conforme bem destrinchado por Leite (2019), marcou a primeira tentativa em desatar-se das consequências, por vezes nefastas, do modelo patrimonialista da administração pública, modelo que consagrou a expressão popular de reconhecimento do Brasil como a “terra dos amigos do Rei”. O modelo patrimonialista foi marcado pelo poder centralizado e concentrado nas mãos do soberano, pela falta de transparência e ausência da participação popular nas diretrizes dos gastos públicos e ainda da evidente irresponsabilidade dos administradores públicos, os quais mantinham vínculos quase familiares ou biológicos com o Estado. Por estar maculado por tais características, tal modelo foi responsável por um panorama de grande desorganização administrativa, de nociva ineficácia dos aparelhos do Estado, de um sistema que sujeitava o erário público a improbidade e corrupção consequentes da falta de responsabilização de um limitadíssimo grupo privilegiado. Como citado anteriormente, nesta época o contabilidade servia de instrumentalmente como um controle mais simplório do patrimônio público e seu único objetivo era que este pequeno grupo de pessoas acabassem por defender interesses públicos que muitas vezes confundiam-se com todos os tipos de interesses de promoção pessoal.
Se a centralização ditou a primeira reforma administrativa, a descentralização foi o que marcou a segunda reforma. Durante esta ocorreu o surgimento das entidades das entidades do que hoje é conhecido como administração indireta. Agora, a administração pública ao invés de desempenhar seus diferentes papéis de maneira centralizada, hierarquizada e burocratizada através de seus órgãos públicos, partiu para um modelo de especialização ao criar outras pessoas jurídicas, o que representou notável mudança no modo de atuação, uma vez que órgãos são desprovidos de personalidade jurídica
As conquistas e necessidades contemporâneas do homem em vivência social exigiram do Estado que alargasse sensivelmente o seu raio de ação. Em conseqüência, tornou-se inevitável a abolição de procedimentos administrativos que se tornaram incompatíveis com a realidade caracterizada no momento vivido pela humanidade, dando lugar ao surgimento de novas atitudes no campo da administração pública, a fim de que fossem atendidas as necessidades dos administrados, ordenando-se sistematicamente as mutações contínuas que demonstraram umreal movimento onde o individual cedia campo largo para o social. Sentiu o Estado a obrigação de chamar para si a responsabilidade do controle de tais mudanças sociais, pelo que se viu compelido a impor serviços públicos especializados e a assumir determinadas atividades de natureza privada, tornando, assim, mais efetiva a sua ingerência na vida dos cidadãos. Em razão desse atuar ampliado da ação do Estado, interferindo nas aspirações e anseios do homem moderno e limitando as suas atividades, surgiu um fenômeno jurídico que se identifica como sendo a interpenetração do direito público com o direito privado, destacando-se a supremacia daquele sobre o último e determinando o reexame de princípios jurídicos até então estabelecidos, além da necessidade do nascimento de outras categorias para normatizar o fato concreto elevado ao posto de ter necessidade de controle. (DELGADO, 1989)
A segunda reforma, embora tenha preocupando-se em dar maior efetividade aos meios pelos quais a administração pública alcança seus fins ainda não supria a necessidade de eficiência demandada pelo mundo moderno, uma realidade globalizada e altamente competitiva. Os meios definitivamente teriam que perder lugar de importância para os fins. 
Diversos fatores, tais como a crise dos Estados de 1970 (Felix, 2013) percurtiram uma mentalidade de maior atenção aos controles de provisionamento do serviço público. A própria Carta Magna de 1988 prevê o princípio da eficiência, de onde emanam todos os contemporâneos e pertinentes fundamentos do conjunto de atributos da Administração Pública Gerencial, a qual dita que a máquina pública deve buscar estreitamento cada vez maior com o modelo de austeridade das instituições privadas, encontrando forma de entregar mais à sociedade e, em contrapartida, custando menos
A Reforma Gerencial de 1995 propunha, em linhas gerais, uma Reforma do Aparelho de Estado e do seu pessoal, visando a um ajuste fiscal austero e à redução do excesso de quadros no funcionalismo público, em curto prazo; em médio prazo, buscava uma modernização e mais eficiência no atendimento ao cidadão. O ajuste fiscal seria feito com base na exoneração por excesso de quadros e modificação no sistema previdenciário, enquanto a modernização se daria com base no fortalecimento do “núcleo estratégico do Estado” e na descentralização da 17 administração públicaatravés das organizações sociais e das agências executivas, as quais estariam ligadas ao Estado por meio do contrato de gestão. (LEITE, 2019)
Todos esses fatores, apontados por Leite (2019), foram percussores da reforma gerencial, de 1995, sob o governo então de Fernando Henrique Cardoso. Aqui o centro de atenção foram, finalmente, os fins. A qualidade do produto final da máquina pública e de como os recursos públicos são gastos de forma a atender com a máxima eficiência, transparência e austeridade aos anseios da população. 
Dessa forma, o Estado procurou atuar cada vez mais em consonância com aquilo que se espera de uma empresa privada, pois assim estimula-se a busca pelo desempenho, pela máxima economia e racionalização dos recursos e da manutenção da competitividade. Todo esse histórico, então, resulta em um diferente emprego da contabilidade pública que, embora não se confunda com, ganha traços da contabilidade voltada ao desempenho econômico característico da contabilidade societária privada.

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