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INVESTIGAÇÃO E PERÍCIA CRIMINAL: CRIMES AMBIENTAIS E CRIMES DIGITAIS UNIDADE 1, SESSÃO 1: MEIO AMBIENTE CONHECENDO A DISCIPLINA Caro estudante, neste material, abordaremos as nuances relativas à investigação e perícia criminal nos delitos ambientais e digitais, analisando sua efetiva aplicabilidade prática. Na primeira unidade da disciplina, iniciaremos nossos estudos relativos aos aspectos sistêmicos e teóricos dos crimes ambientais, procedendo à análise, logo na primeira seção, do meio ambiente e seus conceitos, espécies e os princípios a ele aplicáveis. A segunda seção desta unidade é reservada ao estudo dos aspectos históricos que permeiam o direito ambiental, na qual analisaremos a evolução histórica dessa importante disciplina, traçando um paralelo com seu tratamento no direito comparado, abordando, ainda, os aspectos relevantes relativos ao desenvolvimento do protecionismo ambiental no decorrer dos anos. Na terceira seção desta primeira unidade, faremos uma análise concatenada dos crimes ambientais no Brasil, abordando os conceitos e elementos do ato criminoso, bem como as bases normativas aplicáveis ao caso concreto e às consequências desses atos. A segunda unidade da disciplina é voltada à parte da matéria, ou seja, analisaremos a investigação e perícia ambiental em espécie. Na primeira seção da segunda unidade, estudaremos o efetivo trabalho de fiscalização ambiental realizado pelo IBAMA e como funciona a fiscalização ambiental no Estado de São Paulo, pontuando, ainda, quem e quais são as atribuições dos agentes de fiscalização. Os aspectos conceituais e legais relativos às perícias ambientais, serão tratados na segunda seção da unidade, onde será abordada a atividade pericial propriamente dita e as previsões legais inerentes à atividade, demonstrando, ainda, qual o efetivo papel e importância do perito na investigação. A terceira seção da unidade trata dos aspectos técnicos que permeiam a matéria, tendo por objeto o estudo os procedimentos técnicos adotados, os laudos periciais e a utilização da prova pericial no âmbito do processo civil. A terceira unidade da disciplina é voltada, por sua vez, aos aspectos técnicos e sistêmicos dos crimes digitais, onde analisaremos os crimes cibernéticos e suas classificações, os softwares criminosos que vêm sendo utilizados e a análise do tempo e local do crime. Na terceira unidade, estudaremos as nuances do marco civil da internet e a tipificação dos delitos informativos realizados com o advento da Lei 12.737/12, abordando os aspectos relevantes da Convenção Europeia sobre crimes cibernéticos. Essa unidade terá ainda como objeto de estudo a proteção de dados e o controle de informação, onde será analisada a Lei Geral de Proteção de Dados e os detalhes que permeiam o tratamento de dados pessoais de crianças no mundo virtual. A última unidade da disciplina é voltada à análise efetiva da investigação forense digital, sendo analisado, logo na primeira seção, os aspectos relativos à investigação forense digital, desde a perícia forense computacional até a perícia digital em dispositivos móveis, e as técnicas de coleta utilizadas pela perícia. Estudaremos ainda os procedimentos forenses relativos à investigação e perícia digital, procedendo a uma análise fiel das etapas que permeiam o processo, como o procedimento de coleta, extração, análise e apresentação. Por fim, o objeto de estudo da última seção são os aspectos relevantes e controversos quanto à investigação, como os aspectos jurídicos dos ataques por Ransomware, a utilização de provas ilícitas no processo penal e a inter-relação entre o direito penal do inimigo e a investigação criminal. CONVITE AO ESTUDO Nesta unidade, você será apresentado ao mundo das investigações e perícias criminais no âmbito dos crimes ambientais, principalmente no que tange a seus aspectos orgânicos e sistêmicos. Na primeira seção desta unidade, iniciaremos nossos estudos com o exame dos conceitos relativos ao Meio Ambiente, abordando as espécies de meio ambiente e os princípios que permeiam o tema. A segunda seção desta unidade é reservada ao estudo dos aspectos históricos que permeiam o direito ambiental, onde analisaremos a evolução histórica dessa importante disciplina, traçando um paralelo com seu tratamento no direito comparado, abordando os aspectos relevantes relativos ao desenvolvimento do protecionismo ambiental no decorrer dos anos. Na terceira seção desta primeira unidade, faremos uma análise concatenada dos crimes ambientais no Brasil, abordando os conceitos e elementos do ato criminoso, bem como as bases normativas aplicáveis ao caso concreto e as consequências advindas desses atos. Assim, convidamos você a se aprofundar no tema, ampliando seus conhecimentos relativos ao assunto. PRATICAR PARA APRENDER Nesta seção, vamos dar os primeiros passos em direção às investigações e à perícia criminal em matéria ambiental, assim, é indispensável entendermos os conceitos iniciais que permeiam a matéria. Vamos iniciar nossos estudos tomando por base os conceitos que regem o Direito Ambiental, fazendo uma análise aprofundada acerca das espécies de meio ambiente existentes. De absoluta relevância para a matéria, abordaremos os princípios gerais relativos ao direito ambiental e sua aplicabilidade prática, posto que, mesmo ante a inexistência de um consenso doutrinário a esse respeito, todos são importantes para o desenvolvimento do meio ambiente e do direito ambiental como um todo. Após o estudo de todo o material, imagine a situação hipotética na qual você, na condição de magistrado, recebe um processo para sentença. Nele, consta um pedido do Ministério Público, por meio de Ação Civil Pública, no qual postula a suspensão dos efeitos de normas municipais que impõem aos munícipes o pagamento de imposto de melhoria em razão da expansão urbana. No polo passivo está a Fazenda Municipal e os empreendedores responsáveis pelo impacto ambiental. Fundamente a decisão, de forma concisa, trazendo o princípio que atende o caso. CONCEITO-CHAVE CONCEITOS Ao tratarmos de Direito Ambiental, é importante destacar que esta é uma ciência jurídica voltada a disciplinar os atos humanos que causam ou têm potencial de causar impactos no meio ambiente. O objetivo primordial do Direito Ambiental é a efetiva defesa e preservação do meio ambiente, a fim de mantê-lo em padrões de qualidade aceitáveis, tanto para as gerações presentes quanto para as futuras. Assim, é possível destacar que o Direito Ambiental tem por escopo regular as relações entre as pessoas, os governos, as empresas e o próprio meio ambiente, conciliando os interesses de todos com a manutenção do bem-estar e das condições ambientais. Ao tratar do direito à integridade do meio ambiente, o próprio Supremo Tribunal Federal foi didático no julgamento do MS 22.164-0 SP (STF, 1995): O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. A importância do Direito Ambiental reside na necessidade de combater os efeitos nocivos da degradação do meio ambiente, tendo a Constituição Federal, em seu art. 23, VI e VII, atribuído como competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” e, ainda, “preservar as florestas, a fauna e a flora”. Sob a ótica da Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual trata da Política Nacional do Meio Ambiente, o conceito de meio ambiente está especificado em seu art. 3º, que define como “o conjuntode condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” Com base em tal premissa, o autor José Afonso da Silva (2007, p. 20) conceitua o meio ambiente como: a interação do conjunto de elementos naturais artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente, compreensiva dos recursos naturais e culturais. Diante dessas assertivas, é fácil a conclusão de que o meio ambiente é formado não apenas por seres vivos, mas contempla um espectro muito mais amplo, englobando todos os elementos que permitem a existência da vida como conhecemos, incluindo a vida humana, vegetal e animal. Com isso, é possível afirmar que a preservação do meio ambiente é de suma importância para a continuidade da própria vida, demonstrando, dessa forma, a importância da presente matéria, principalmente no que tange aos meios que o Estado dispõe para investigar e punir as ações lesivas ao meio ambiente. ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE Ao tratarmos de direito ambiental e do meio ambiente propriamente dito, é indispensável compreender as classificações do meio ambiente, visando a correta interpretação dos conceitos estudados. No direito alemão, adota-se o conceito mais restritivo de meio ambiente, que engloba apenas os elementos naturalistas, ou seja, fauna, flora, solo, água, excluindo-se elementos “humanos ou sociais”. Isso é o que se extrai da Lei Fundamental Alemã, em seu art. 20a, que dispõe sobre a proteção dos recursos naturais e animais. A doutrina brasileira, ao abordar o assunto, não exclui os elementos humanos e sociais, classificando o meio ambiente em: natural, cultural, artificial e do trabalho. O chamado “meio ambiente natural” é justamente aquele apresentado no modelo estrito, ou seja, formado pela fauna, flora, recursos hídricos, solo, etc. O “meio ambiente cultural”, por sua vez, engloba todo o patrimônio artístico-cultural, folclore, cultura popular, obras de arte, etc. Assim, é possível afirmar que o meio ambiente cultural contempla o patrimônio material e imaterial, como muito bem explana o autor Fabiano Melo (2017, p. 40): Considera-se patrimônio cultural material aqueles bens móveis e imóveis relevantes no processo cultural, como imóveis tombados, obras de artes etc. Já o patrimônio cultural imaterial é constituído pelos saberes, lugares, celebrações e formas de expressão. Como exemplos, as festas religiosas (Círio de Nazaré em Belém-PA, Festa do Divino Espírito Santo em Paraty-RJ e em Pirenópolis-GO), as danças (frevo, samba de roda do Recôncavo baiano, as manifestações do samba carioca), as manifestações folclóricas (Bumba meu Boi), os saberes na elaboração de algumas comidas (queijo minas, acarajé etc.). O “meio ambiente artificial”, como a própria expressão indica, é aquele formado por meio de intervenção humana, ou seja, o espaço urbano propriamente dito, como os parques, equipamentos públicos, redes de esgoto, praças, sistema de iluminação pública, etc. É importante ter atenção ao tratar das edificações, até porque, na hipótese de estarmos diante de um imóvel tombado em razão de seu valor cultural, tratar-se-á de meio ambiente cultural e não artificial, sobrepondo-se seu valor à sua forma. Por fim, mas não menos importante, o meio ambiente do trabalho é aquele onde o trabalhador exerce suas atividades laborais. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 725.257, de relatoria do Ministro José Delgado, em voto prolatado em 2007, foi didático: Com a Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que o meio ambiente divide-se em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio ambiente físico ou natural é constituído pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc., incluindo os ecossistemas (art. 225, §1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares, etc. (art. 215, §1º e §2º). Meio ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, principalmente urbanas (art.182, art.21,XX e art.5º, XXIII), e meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições existentes no local de trabalho relativos à qualidade de vida do trabalhador (art.7º, XXXIII e art.200). Assim, é possível concluir que, no que tange à classificação do meio ambiente, o Brasil acolheu o conceito amplo em detrimento do restritivo adotado pelo sistema alemão, visando dar proteção não apenas aos aspectos físicos, mas levando em conta também os aspectos humanos e culturais. PRINCÍPIOS Os princípios que regem o Direito Ambiental não são tratados de maneira uniforme pela doutrina, posto que não há um consenso formado entre os autores, sendo considerados princípios diversos por cada um deles. Ao tratar do assunto, Ingo Wolfgang Sarlet (2020) enumera, como princípios do Direito Ambiental o princípio da dignidade da pessoa humana; o princípio da dignidade animal e da natureza; o princípio da integridade ecológica; o princípio da solidariedade; o princípio da responsabilidade em face das presentes e futuras gerações; o princípio do poluidor-pagador; o princípio do desenvolvimento sustentável; o princípio da função ambiental; o princípio da participação pública; o princípio da prevenção; o princípio da precaução; o princípio da cooperação e o princípio da não discriminação. O autor Paulo de Bessa Antunes (2020), por sua vez, lista como princípios do Direito Ambiental: o princípio da dignidade da pessoa Humana; o princípio do desenvolvimento; o princípio democrático; o princípio da precaução; o princípio da prevenção; o princípio do equilíbrio; o princípio da capacidade de suporte; o princípio da responsabilidade e o princípio do poluidor-pagador. Ante a pluralidade de princípios e a grande divergência doutrinária sobre o assunto, vamos tratar apenas daqueles que consideramos mais relevantes, devendo o assunto ser aprofundado em estudo individual. Ao abordarmos o princípio da dignidade da pessoa humana e seu alcance no Direito Ambiental, é indispensável ressaltar que o bem-estar do ser humano é enfoque primordial do Direito Ambiental, posto que a própria preservação ambiental visa dar melhores condições de vida às pessoas; sob essa ótica, o princípio da dignidade da pessoa humana guarda estrita relação com o Direito Ambiental, ao passo que a própria “Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano” (1972) é clara ao dispor que: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. No que concerne aos princípios da precaução e prevenção, referem-se à necessidade de evitar riscos ao meio ambiente, por meio de ações que visem a preservação ambiental e a mitigação de riscos, no intuito de preservar o meio ambiente propriamente dito. Assim, o princípio da precaução tem por objetivo impedir o risco de perigo abstrato, ou seja, quando mesmo diante de insuficiência de certeza científica, o fato pode causar danos, estando, portanto, com maior proximidade ao início do fato do que ao dano propriamente dito. Por sua vez, o princípio da prevenção tem como objetivo primordial evitar um risco concreto, ou seja, embasado em dados científicos, há a comprovação de que determinada atividade causará, invariavelmente, danos ambientais. Assim, a prevenção busca mitigar ou mesmo evitar a ocorrência desse dano. De absoluta relevância para o presente estudo, está o princípio do poluidor-pagador, segundo o qual os custos ambientais devem ser arcados pelo empreendedor e afastadosda coletividade. Possui caráter econômico e preventivo/repressivo, ao passo que tem por objetivo evitar a ocorrência de danos ambientais e, caso ocorram, garantir sua reparação. É importante lembrar que há diversos outros princípios que permeiam os processos ambientais além dos aqui citados, sendo aconselhável uma análise acurada de todos, principalmente no que tange ao caráter protetivo e à necessidade de conciliar e equilibrar o desenvolvimento urbano e a proteção ambiental. ASSIMILE O Meio Ambiente do Trabalho é um conceito relativamente novo, cujo objeto de estudo e conceito vêm sendo delimitados, porém cabe frisar que a garantia de um meio ambiente de trabalho saudável possui status constitucional, tendo sua proteção delineada no art. 7º, XXII, da Constituição Federal. REFLITA A respeito do tema estudado, cabe a reflexão acerca da proteção constitucional trazida pelo art. 225, analisando sobre quais espécies de meio ambiente ela se entende. EXEMPLIFICANDO Em se tratando do meio ambiente cultural, algumas manifestações artísticas ganharam expressividade ante a proteção conquistada junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, como no caso do Frevo, considerado expressão artística do carnaval pernambucano, que foi reconhecido na 7ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Os conceitos abordados nesta disciplina têm por objetivo auxiliar você no processo de assimilação e introdução à matéria de investigação e perícia criminal relativa aos crimes ambientais, demonstrando, inicialmente, os principais conceitos e aspectos que permeiam o tema em estudo. REFERÊNCIAS ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2020. ANTUNES, P. de B. Os princípios da precaução e da prevenção no direito ambiental. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direitos Difusos e Coletivos. Nelson Nery Jr., Georges Abboud, André Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3gAm3Lu. Acesso em: 10 set. 2021. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 725257 / MG (2005/0022690-5). Rel. José Delgado. Julgado em: 14/05/2007. Deutscher Bundestag: Grundgesetz. Lei Fundamental Alemã. Disponível em: https://bit.ly/3JfJohS. Acesso em: 2 ago. 2021 SARLET, I. W. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Forense, 2020. SILVA, J. A. da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007. SOUZA, M. C. Meio ambiente. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Penal. Christiano Jorge Santos (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3Jvm9AD. Acesso em: 10 set. 2021. Bons estudos! SEM MEDO DE ERRAR Foi apresentada, no início do material, a situação hipotética em que você, na condição de magistrado, recebe um processo para sentença. Nesse processo, consta um requerimento do Ministério Público, por meio de Ação Civil Pública, que postula a suspensão dos efeitos de normas municipais que impõem aos munícipes o pagamento de imposto de melhoria em razão da expansão urbana. No polo passivo está a Fazenda Municipal e os empreendedores responsáveis pelo impacto ambiental. https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/330/edicao-1/os-principios-da-precaucao-e-da-prevencao-no-direito-ambiental https://www.btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf https://conteudo.colaboraread.com.br/202201/INTERATIVAS_2_0/INVESTIGACAO_E_PERICIA_CRIMINAL_CRIMES_AMBIENTAIS_E_CRIMES_DIGITAIS/LIVRO_DIGITAL/npf_u1s1.html Com base na premissa apresentada, deve ser apresentado o princípio que melhor atende ao caso. É esperado que você fundamente sua resposta apontando que o princípio do poluidor pagador impõe o pagamento dos custos dos abalos ambientais aos empreendedores que estão desenvolvendo seus projetos de expansão urbana, afastando a coletividade de tal responsabilidade, dado o seu caráter econômico, preventivo e repressivo. AVANÇANDO NA PRÁTICA MEIO AMBIENTE CULTURAL Você foi chamado para fazer sustentação oral no Tribunal de Justiça de Pernambuco, em sede de recurso de Agravo de Instrumento, em face de uma decisão de primeiro grau que indefere liminarmente a realização do carnaval local, em razão do excessivo barulho causado pelos blocos e folias, além de apontar, expressamente, certa ridicularização ao frevo. Registra-se, para esse caso, tempos de normalidade sanitária e jurídica. Fundamente sua manifestação, frente às matérias aqui estudadas. UNIDADE 1, SESSÃO 2: ASPECTOS HISTÓRICOS PRATICAR PARA APRENDER Caro estudante, reservamos esta seção para o estudo dos aspectos históricos que permeiam o direito ambiental, na qual analisaremos a evolução histórica dessa importante disciplina, desde os primórdios do descobrimento, quando imperava a exploração desregrada de recursos, até a realização do Congresso Internacional sobre o Meio Ambiente, realizado em 1972, e o advento da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981, que marcaram o início dos esforços pelo protecionismo ambiental, analisando ainda o desenvolvimento das políticas protecionistas posteriores. Traçaremos ainda um paralelo com o tratamento do meio ambiente dentro do espectro do direito comparado, abordando ainda os aspectos relevantes relativos ao tema. Imagine a situação hipotética na qual, diante do vasto e respeitado conhecimento sobre o tema, você foi convidado para representar o País na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP26. Chegando lá, o representante da França faz fortes acusações sobre a despreocupação do Brasil com o Meio Ambiente e ações para abalos climáticos. Com direito de resposta, apresente argumento sustentável a fim de justificar, por direito comparado, a preocupação com a matéria. CONCEITO-CHAVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA Ao tratarmos de perícias e investigações relativas a crimes ambientais é indispensável compreender a evolução e desenvolvimento histórico que permeiam o tema, até porque, quando comparado a outros direitos, o protecionismo ambiental é relativamente recente, tendo o país atravessado uma longa fase de exploração desregrada de seus recursos, desde o descobrimento, no ano de 1500, sendo que as noções relativas à efetiva necessidade de proteção ambiental e as consequências da exploração desregrada só vieram à tona recentemente. O autor Marcelo Abelha Rodrigues (2021, p. 31), ao tratar do desenvolvimento histórico do Direito Ambiental, é didático ao ponderar que, mesmo havendo resquícios de medidas de proteção ambiental desde a antiguidade, os objetivos eram mediatos e antropocêntricos, servindo apenas de combustível para o egoísmo do homem, in verbis: Porquanto os bens ambientais (água, fauna, flora, ar, etc.) já tenham sido objeto de proteção jurídico normativa desde a antiguidade, importa dizer que, salvo em casos isolados, o que se via era uma tutela mediata do meio ambiente, tendo em vista que o entorno e seus componentes eram tutelados apenas na medida em que se relacionavam às preocupações egoísticas do próprio ser humano. Assim, é possível afirmar que essa primeira fase do protecionismo ambiental tinha por escopo apenas a proteção econômica do meio ambiente, visto como pertencente ao indivíduo e não à coletividade. Essa afirmativa pode ser facilmente conferida no revogado Código Civil de 1916, onde, ao tratar dos direitos de vizinhança, é possível conferir que a tutela dos bens ambientais possui caráter autônomo, tratados como propriedade, sob a ótica exclusiva de seu valor patrimonial. Cabe pontuar que, mesmo a visão econômicado meio ambiente, já poderia ser traduzida como uma preocupação ou mesmo uma percepção do legislador de que esses bens naturais não eram infinitos. Já na década de 1960, algumas legislações de caráter ambiental foram promulgadas, como a Lei nº 4.771/65 e a Lei nº 5.197/67, denominadas, respectivamente, Código Florestal e Código de Caça. É importante destacar que os citados diplomas, apesar do caráter protecionista, não tinham por objetivo tutelar o meio ambiente de forma autônoma, tendo por efetivo objeto a proteção da saúde do homem, ou seja, o escopo era a proteção do meio ambiente para, assim, proteger ao próprio indivíduo. Até o início da década de 1970, imperava o pensamento de que o meio ambiente era um poço inexaurível de recursos naturais, porém o advento de catástrofes ambientais, como as secas, inversão térmica e demais efeitos decorrentes do efeito estufa, levaram a uma conscientização global de que a exploração dos recursos naturais, da forma como vinha sendo realizada, traduzir-se-ia em verdadeiro problema para a manutenção das condições ideais de vida. No intuito de criar regras para a exploração ambiental e visando a efetiva proteção e até mesmo renovação dos recursos naturais, em meados de 1972, convocou-se, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, tendo participado 113 países, a qual teve como desdobramento a produção da Declaração sobre Ambiente Humano, também chamada Declaração de Estocolmo, definindo 26 princípios de caráter protecionista ambiental. Assim, já na década de 1980, deu-se início efetivamente ao que, hoje, conhecemos como direito ambiental, tutelando-se não mais os interesses do homem, mas a proteção autônoma do próprio meio ambiente. Com base em tal mudança de paradigma, em 31 de agosto de 1981, foi promulgada a Lei nº 6.938/81, dispondo acerca da Política Nacional do Meio Ambiente, traduzindo-se como verdadeiro marco da evolução histórica do protecionismo ambiental, sendo a normativa que efetivamente passou a tratar do meio ambiente de modo autônomo, extirpando, dessa forma, o tratamento antropocêntrico, ao definir, em seu art. 3º I, que o meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). DIREITO COMPARADO Não é só no Brasil que a percepção quanto à importância da proteção ambiental ganhou notoriedade. Após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, de 1972, a degradação ambiental foi apresentada como um problema global, ao qual deveriam ser depreendidos esforços internacionais para sua efetiva preservação. Enquanto a Constituição Federal Brasileira possui um conceito amplo de protecionismo ao definir, em seu artigo 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988), a legislação francesa, por exemplo, em sua Carta do Meio Ambiente, é pontualmente rasa ao tratar do protecionismo ambiental, em seu art. 1º, garantindo apenas o direito de cada um de viver em um meio ambiente equilibrado e saudável. Em se tratando da União Europeia como um todo, o Tratado Sobre o Funcionamento da União Europeia reserva seu título XX, do art. 191 a 193, ao meio ambiente, onde dispõe acerca dos objetivos da União no que tange à preservação, proteção e melhoria de qualidade do meio ambiente. Cabe enfatizar que, sob a ótica do protecionismo ambiental, a União Europeia possui algumas das normas ambientais mais exigentes, tomando por base dados técnicos e científicos, objetivando manter o equilíbrio entre o efetivo protecionismo e o desenvolvimento econômico-social da União. Já na América do Sul, a Argentina, assim como o Brasil, passou por um processo evolutivo de sua legislação e da própria consciência ambiental após a Conferência de Estocolmo, passando a abordar o tema com maior seriedade, após a reforma constitucional de 1994, quando passou a institucionalizar o protecionismo ambiental por meio de informações técnicas e da educação ambiental. A Ley General del Ambiente, promulgada em Buenos Aires, aos 6 de novembro de 2002, estabeleceu os objetivos da política ambiental argentina, impondo, logo em seu segundo artigo, que a política ambiental do país tem por objetivo a preservação, conservação, recuperação e melhoramento da qualidade dos recursos ambientais, tanto naturais como culturais, e a realização de atividades antrópicas. Assim, é possível notar que o próprio conceito de meio ambiente, no âmbito da política nacional argentina, é mais amplo, englobando, assim como no Brasil, o meio ambiente cultural. Em se tratando das políticas ambientais dos Estados Unidos da América, sua estrutura é complexa, sendo formada principalmente por leis federais e estaduais, julgados da common law e regulações expedidas por agências federais. Compulsando as legislações norte-americanas, é possível destacar algumas de maior importância para o Direito Ambiental, em especial o NEPA, ou National Environmental Policy Act, que é o responsável por estabelecer os objetivos da política nacional e que determina que as agências federais realizem avaliações de impacto ambiental. Outro relevante instrumento de proteção ambiental norte-americano é o Clean Air Act, que tem por objetivo exigir controles de qualidade do ar, para combater, dessa forma, a emissão de poluentes nos Estados Unidos e para mitigar a ocorrência de chuvas ácidas em regiões poluentes. Assim, no que tange à análise comparada da legislação ambiental, é possível notar que, após a década de 1970 e a conscientização ambiental a nível global, conquistada após a convenção de Estocolmo, não apenas o Brasil, mas todos os países passaram a exercer esforços para a proteção do meio ambiente. Não é diferente com a preocupação climática, pois estamos na 25ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças Climáticas - COP25, discutindo, inclusive, sobre o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, onde várias Nações dispuseram sobre direito comparado. ASPECTOS RELEVANTES Ao tratarmos dos aspectos relevantes do Direito Ambiental, sob a ótica de seu desenvolvimento histórico, cabe destacar que a própria normativa ambiental desenvolveu-se tomando por base as preocupações internacionais, expostas na Convenção de Estocolmo, que demonstraram ser indispensáveis para o desenvolvimento da premissa protecionista, alcançar o efetivo equilíbrio entre a proteção ambiental e a evolução econômica e social. A respeito do tema, o ambientalista Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin (2011, p. 45) é didático ao expor sua linha de pensamento: Retrospectivamente e em favor da clareza didática, podemos identificar três momentos (mais modelos do que propriamente períodos) históricos na evolução legislativo- ambiental brasileira. Não se trata de fases históricas cristalinas, apartadas, delimitadas e mutuamente excludentes. Temos, em verdade, valorações ético-jurídicas do ambiente que, embora perceptivelmente diferenciadas na forma de entender e tratar a degradação ambiental e a própria natureza, são, no plano temporal, indissociáveis, já que funcionam por combinação e sobreposição parcial, em vez de substituição pura e simples. A interpenetração é sua marca, deparando-nos com modelos legais que convivem, lado a lado — o que não dizer harmonicamente —, não obstante suas diversas filiações históricas ou filosóficas, o que, em certa medida, amplia a complexidade da interpretação e implementação dos textos normativos em vigor. Outro aspecto relevante em relação ao Direito Ambiental, diz respeito à natureza jurídica do meio ambiente. O art. 225 da Magna Carta, cláusula pétrea(de caráter imutável pelo Poder Constituinte Reformador), defende um meio ambiente como bem de uso comum do povo, indivisível e de dever absoluto do Estado. Dessa forma, o meio ambiente, enquanto pertencente ao povo e de caráter naturalmente indivisível, até porque sua titularidade, em sendo de todo o povo, é indeterminável, possui clara característica de direito difuso, ou seja, de interesse para a coletividade. Essa característica de direito difuso e até mesmo ubíquo (dada a ausência de fronteiras ou limites de seu alcance), apenas ganhou espaço com o advento da Política Nacional do Meio Ambiente, promulgada por meio da Lei Federal nº 6.938/81 e da própria Constituição Federal de 1988, até porque, como mencionado, até então, a legislação nacional tratava o meio ambiente sob a ótica antropocentrista, não lhe conferindo caráter autônomo. De grande relevância para entender a evolução histórica do Direito Ambiental em âmbito nacional, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) – Rio 92, realizada em junho de 1992, deu origem à Declaração dos Princípios sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que consagrou a proteção ao meio ambiente como interesse não apenas desta como das futuras gerações e, ainda, reconheceu a responsabilidade dos países industrializados como os principais causadores dos danos já ocorridos ao meio ambiente, servindo de verdadeiro corolário lógico do que foi criado em Estocolmo, na década de 1970. ASSIMILE Ao tratarmos da evolução histórica do protecionismo ambiental, cabe destacar que, apesar da parca legislação anterior à década de 1960, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1946, em seu art. 175 fazia menção a tal garantia, expondo que: “as obras, monumentos e documentos de valor histórico e artístico, bem como os monumentos naturais, as paisagens e os locais dotados de particular beleza ficam sob a proteção do Poder Público”. A respeito do tema, cabe apontar, ainda, que a Constituição de 1967 manteve essa característica, dispondo de igual forma em seu art. 8º, XVII e parágrafo único do art. 172. REFLITA Em se tratando da evolução histórica do Direito Ambiental e do próprio caráter protecionista adotado pela legislação brasileira, reflita: até que ponto o protecionismo ambiental deve ser levado quando comparado às necessidades de desenvolvimento econômico e social? Como devemos sopesar as necessidades da sociedade e do meio ambiente? EXEMPLIFICANDO A importância de compreender o desenvolvimento das políticas e pensamentos ambientais reside, principalmente, na possibilidade de aplicação e, até mesmo, na evolução dos conceitos estudados por parte das gerações futuras. Os conceitos abordados demonstram que a aplicabilidade prática do protecionismo ambiental decorre da necessidade de que as pessoas se tornem mais conscientes sobre a importância da sustentabilidade. Com base nos conteúdos apresentados, é possível entender, mesmo sem esgotar a matéria, a forma com que o Direito Ambiental e a própria consciência protecionista evoluíram e se desenvolveram do decorrer dos anos, principalmente ante a elaboração de políticas públicas voltadas à defesa ambiental e à efetiva noção de que o meio ambiente deve ser tratado de forma autônoma, não como um mero elemento econômico. REFERÊNCIAS BENJAMIN, A. H. V. Introdução ao direito ambiental brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. COMITÊ FACILITADOR DA SOCIEDADE CIVIL CATARINENSE. Declaração Final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - RIO+20. O Futuro que Queremos. Disponível em: https://bit.ly/3oCjFYZ. Acesso em: 12 de setembro de 2021. ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração de Estocolmo sobre o ambiente humano - 1972. Disponível em: https://bit.ly/3HDiGz7. Acesso em: 12 de setembro de 2021. RODRIGUES, M. A.. Direito Ambiental Esquematizado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. Bons estudos! SEM MEDO DE ERRAR Foi apresentada anteriormente a situação hipotética em que, na Conferência das Nações Unidas sobre mudanças Climáticas COP26, você, na condição de palestrante, foi questionado pelo representante da França, que fez fortes acusações sobre a despreocupação do Brasil com o Meio Ambiente e ações para abalos climáticos, devendo, portanto, apresentar argumento sustentável a fim de justificar, por direito comparado, a preocupação com a matéria, embasando-se no conteúdo estudado. É esperado que o aluno sustente que a Constituição Federal Brasileira possui um conceito amplo de protecionismo ao definir, em seu artigo 225 (BRASIL, 1988), que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Justamente o oposto ocorre na legislação francesa, vez que, em sua Carta do Meio Ambiente é pontualmente rasa ao tratar do protecionismo ambiental em seu art. 1º, garantindo apenas o direito de cada um de viver em um meio ambiente equilibrado e saudável. AVANÇANDO NA PRÁTICA MEIO AMBIENTE COMO CLÁUSULA PÉTREA https://riomais20sc.ufsc.br/files/2012/07/CNUDS-vers%C3%A3o-portugu%C3%AAs-COMIT%C3%8A-Pronto1.pdf https://conteudo.colaboraread.com.br/202201/INTERATIVAS_2_0/INVESTIGACAO_E_PERICIA_CRIMINAL_CRIMES_AMBIENTAIS_E_CRIMES_DIGITAIS/LIVRO_DIGITAL/www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-humano.html Você é um recém aprovado no concurso da Procuradoria Legislativa do Estado de São Paulo. Ansioso para iniciar os trabalhos, lhe é enviado um projeto de lei do Deputado João Lenhador, versando sobre Direito Ambiental, tratando o tema como direito divisível. Apresente o direito que atenda ao caso com base nos estudos apresentados, pontuando a viabilidade ou não daquela minuta. RESOLUÇÃO Bons estudos! UNIDADE 1, SESSÃO 3: CRIMES AMBIENTAIS NO BRASIL PRATICAR PARA APRENDER Caro estudante, nesta seção, abordaremos os aspectos sistêmicos e teóricos relativos aos crimes ambientais no Brasil, tratando de seus conceitos e elementos, em especial, das principais definições necessárias ao correto entendimento do tema. Trataremos, ainda, das bases normativas do Direito Ambiental no Brasil, posto que há uma vasta gama de legislação esparsa a respeito do tema, a depender do microbem tutelado, como, por exemplo, o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/12); Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98); Lei de Fauna (Lei nº 5.197/67); Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97); Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei nº 9.985/2000); Lei das Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (Lei nº 6.902/81) e Política Agrícola (Lei nº 8.171/91). A fim de complementar a disciplina, estudaremos as consequências dos crimes ambientais no Brasil relativas à própria degradação ambiental, bem como as consequências para os praticantes dos atos poluidores. Imagine a situação hipotética em que a Sra. Sissi, famosa caçadora de felinos, vai visitar o núcleo engordador, lugar de proteção da fauna e flora, localizado na Serra da Cantareira, em São Paulo. Chegando lá, juntamente com seu marido, o Sr. Rodrigo, instigados pelo seus instintos primitivos, decidem caçar, o que é proibido. Imediatamente, encontram uma jaguatirica, momento que desferem disparos de arma de fogo, matando o animal. Porém, não contavam com um protetor que lá estava (Sr. Moreira), que chamou a polícia ambiental, sendo presos em flagrante delito. Você é a autoridade policial de plantão e precisa definir a situação, enquadrando-a como macro ou microbem e tipificando a conduta. CONCEITO-CHAVE CONCEITOS E ELEMENTOS A fim de compreender corretamente as bases relativas ao Direito Ambiental Brasileiro, é indispensável a compreensão dealguns conceitos importantes para a disciplina. A definição de meio ambiente é descrita no artigo 3º da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, que o conceitua como “o conjunto de condições, leis, influências e interações https://conteudo.colaboraread.com.br/202201/INTERATIVAS_2_0/INVESTIGACAO_E_PERICIA_CRIMINAL_CRIMES_AMBIENTAIS_E_CRIMES_DIGITAIS/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s2.html#resolucao%20.item-1 de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Em se tratando da definição de meio ambiente no âmbito do direito brasileiro, é importante conceituarmos a divisão existente entre macrobem ambiental e microbem ambiental. Por macrobem ambiental entendemos o meio ambiente como um todo, ou seja, a definição dada pelo art. 3º da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente em espécie, considerando a harmonia e o equilíbrio ecológico entre todos os seus elementos. Assim, no que tange ao macrobem ambiental, sua proteção possui caráter amplo, observando quaisquer atos que afetem ou perturbem o equilíbrio ecológico e os ecossistemas. Por sua vez, ao tratarmos do microbem ambiental, estamos diante do tratamento individualizado de cada um dos elementos que o compõem, como água, solo, flora, fauna, atmosfera, etc. Assim, a proteção dos microbens ambientais, ante o seu caráter individualizado, possui caráter estrito, havendo até mesmo legislações específicas para cada um deles, como a Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e a Lei 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política agrícola. Outro relevante conceito a ser abordado na presente disciplina é o “poluidor”, até mesmo em decorrência do princípio do poluidor-pagador. A Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, conceitua poluidor, em seu art. 3º, IV, como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”, ou seja, o poluidor é aquele que pratica direta ou indiretamente ato que altere negativamente as características do meio ambiente. Ao tratar do conceito de poluidor, Celso Antônio Pacheco Fiorillo (2020, p. 52-53) é didático ao enfatizar a amplitude dos atos praticados: Diante desses conceitos, percebe-se que haverá poluição com a degradação da qualidade ambiental, ou seja, com a ocorrência de qualquer alteração adversa das características do meio ambiente. Todavia, mister que se preencha o conceito de qualidade ambiental. Seu conteúdo é dado pelo inciso que cuida de definir poluição, quando elenca todos os bens que são tutelados sob o rótulo de qualidade ambiental. São eles: a saúde, a segurança, o bem estar da população, as condições normais das atividades sociais e econômicas, a preservação da biota (fauna e flora), a manutenção das condições estéticas (paisagem) e sanitárias do próprio meio ambiente, a existência e o respeito aos padrões ambientais estabelecidos. Diante dos conceitos e elementos apresentados, será possível a melhor compreensão do universo abordado na matéria, partindo, dessa forma, para compreender os objetivos a serem alcançados nas investigações e perícias que visem apurar crimes ambientais. BASES NORMATIVAS O Direito Ambiental brasileiro é regido por disposições expressas da Constituição Federal e, ainda, por diversas legislações esparsas que compreendem o universo dos já estudados microbens ambientais. A Constituição Federal, em seu art. 225, é enfática ao garantir que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, assegurando, dessa forma, a efetividade do direito ao incumbir o Poder Público de uma série de atribuições voltadas à preservação e proteção ambiental. Ainda sob a ótica constitucional, o inciso VI do art. 170 da Magna Carta lista a defesa do meio ambiente como um princípio a ser observado pela própria ordem econômica, garantindo, inclusive, “tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação”. Cabe ressaltar, ainda, que o art. 129, III da Constituição Federal atribuiu como função do Ministério Público a promoção de ações civis públicas como instrumento para, dentre outros, a proteção do meio ambiente, traduzindo-se, assim, em verdadeira ferramenta à disposição do órgão ministerial para a defesa ambiental. Em termos de legislação infraconstitucional, a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, é a de caráter mais amplo, ao passo que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, apresentando os principais objetivos da normativa, inclusive no que tange à racionalização do uso do solo; planejamento e fiscalização do uso de recursos ambientais; proteção de ecossistemas; recuperação de áreas degradadas, controle de atividades poluidoras; proteção de áreas ameaçadas e, até mesmo, o acompanhamento do estado da qualidade ambiental, conforme disposições expressas em seu art. 2º. A Lei 6.938/91 é de absoluta relevância em qualquer disciplina que envolva a matéria ambiental, estabelecendo instrumentos indispensáveis à consecução de seus objetivos, como a avaliação de impactos ambientais, prevista no art. 9º, III do mencionado códex, e também na Resolução nº 237 do CONAMA. Dentre as principais leis brasileiras relativas à matéria ambiental, temos a já citada Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/91) e, ainda, o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/12); Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98); Lei de Fauna (Lei nº 5.197/67); Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97); Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei nº 9.985/2000); Lei das Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (Lei nº 6.902/81) e Política Agrícola (Lei nº 8.171/91). Dentre as normativas citadas, o Código Florestal Brasileiro trata, efetivamente, de normas gerais concernentes à preservação da vegetação, áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. A importância da normativa reside ainda nas definições constantes de seu art. 3º, que conceituam Amazônia Legal; Áreas de Preservação Permanente; Reserva Legal; área rural consolidada; pequena propriedade rural, dentre outras expressões indispensáveis para estudo do Direito Ambiental. A Lei de Crimes Ambientais, por sua vez, é voltada às sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, tratando desde a gradação das penalidades, suas agravantes e atenuantes, até a tipificação dos crimes propriamente ditos. A Lei de Fauna reserva-se exclusivamente à proteção da fauna enquanto microbem do Direito Ambiental, tipificando os delitos contra os animais, inclusive no que concerne à caça e exportação, além de tratar da caça legal e do registro de clubes amadoristas. Os recursos hídricos no âmbito nacional são tratados pela mencionada Lei 9.433/97, que cria a Política Nacional de Recursos Hídricos, cujo objetivo primordial é descrito em seu art. 2º (BRASIL, 1997): “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”, além de promover o uso racional dos recursos hídricos e a promoção à captação. A fim de regulamentar o art. 225 da Constituição Federal, foi instituído o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, por meio da Lei 9.985/2000, estabelecendo, dessa forma, critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, definidas no art. 1º do citado códex (BRASIL, 2000) como o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturaisrelevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. No que tange às disposições da Lei Federal nº 6.902/81, sua importância reside na possibilidade de criação de estações ecológicas, dando providências quanto ao tratamento a ser conferido nessas estações, inclusive sobre práticas vedadas no perímetro. Por fim, a Lei 8.171, que dispõe sobre a política agrícola nacional, fixa os fundamentos, objetivos, competências e estabelece instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal. CONSEQUÊNCIAS Ao tratarmos dos crimes ambientais no Brasil, não podemos deixar de abordar as consequências que essa espécie de delito gera, em especial no que concerne ao impacto ambiental. No estudo relativo aos impactos ambientais, cabe, por primeiro, frisar que nem todos os impactos são negativos, havendo impactos positivos decorrentes da intervenção humana na reconstrução do meio ambiente e, até mesmo, nas ações tomadas para sua efetiva preservação. Paulo de Bessa Antunes (2020, p. 385-386), ao tratar do mencionado binômio dos impactos ambientais, é objetivo ao tratar da contribuição humana como ferramenta de impactos positivos: Impacto é choque, modificação brusca causada por força exterior que tenha colidido com um objeto. Sinteticamente: o impacto ambiental é uma modificação brusca causada no meio ambiente. O EIA somente examina os impactos ambientais antrópicos. A análise, contudo, poderá incluir a contribuição humana para a ocorrência de impactos ambientais naturais, como ocorre com a atual discussão sobre mudanças climáticas globais. [...] O impacto ambiental pode ser (i) positivo e (ii) negativo. Normalmente, o direito ambiental está mais voltado para o impacto ambiental negativo, pois é ele que será capaz de gerar o dano ambiental e, consequentemente, a responsabilidade. O EIA deve indicar todos os impactos ambientais, positivos e negativos, como forma de propiciar ao administrador os instrumentos necessários para a correta avaliação do empreendimento. Em se tratando de crimes ambientais, o enfoque é voltado aos impactos negativos advindos das ações que prejudicam e degradam o meio ambiente. Cabe frisar que, ao tratarmos de consequências, os crimes ambientais possuem o que podemos chamar de “responsabilidade ambiental tripla”, ao passo que a própria Constituição Federal, em seu art. 225, §3º, impõe que as condutas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados, ou seja, gerando consequências na esfera civil, penal e administrativa. Na esfera penal, as consequências são relativas à aplicação das sanções descritas para o delito tipificado, enquanto, na esfera cível, a consequência mais comum diz respeito à aplicação de multas. Por fim, as consequências na esfera civil são aquelas concernentes à efetiva reparação do dano ambiental, possuindo, dessa forma, caráter objetivo, ou seja, basta a ocorrência do dano e a existência de nexo causal para sua incidência. ASSIMILE O princípio do poluidor-pagador impõe que os custos ambientais devem ser arcados pelo empreendedor e afastados da coletividade. Possui caráter econômico e preventivo/repressivo, ao passo que tem por objetivo evitar a ocorrência de danos ambientais e, caso ocorram, garantir sua reparação. REFLITA Com base nas premissas apresentadas, é possível realizar a seguinte reflexão: O aumento da ocorrência de crimes ambientais no Brasil pode ser decorrente das punições brandas previstas em legislações mais antigas? EXEMPLIFICANDO Um claro exemplo de dano ambiental com impactos negativos para todo o ecossistema é o vazamento de petróleo. O petróleo, devido à sua viscosidade, bloqueia a luz solar, impedindo, dessa forma, a fotossíntese do fitoplâncton. O fitoplâncton é o alimento do zooplâncton que, por sua vez, serve de alimento para diversos organismos maiores, ou seja, o efeito do vazamento de petróleo afeta não apenas um, mas toda a cadeia alimentar marinha, por vezes, de modo irreversível, razão pela qual é indispensável a adoção de medidas que mitiguem os danos ambientais causados. As premissas estudadas na presente seção têm por objetivo servir de prelúdio ao estudo das investigações e perícias relativas aos crimes ambientais, sendo que os conceitos, princípios e bases normativas estudados são indispensáveis para o aprofundamento na matéria proposta. REFERÊNCIAS ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 21. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020. FARIAS, T. Q. Princípios gerais do direito ambiental. Âmbito Jurídico [online]. 2 dez. 2006. Disponível em: https://bit.ly/3BaaOD5. Acesso em 15 set. 2021. FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Bons estudos! SEM MEDO DE ERRAR No início da seção, foi apresentada a situação hipotética em que dois caçadores matam um felino dentro de uma área de proteção, tendo sido surpreendidos por um protetor que https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-ambiental/principios-gerais-do-direito-ambiental/ chamou a polícia que, por sua vez, confirmou o flagrante. Colocado no papel de autoridade policial, é esperado que o aluno aponte que se trata de caça isolada, apontando a violação ao microbem. Cabe apontar a proteção constitucional do art. 225. O aluno deve complementar sua resposta, apontando que a lei da fauna, Lei n°5.197/67, em seu art. 2°, aponta a proibição da caça profissional e, no art. 27, da mesma lei, pune com pena de reclusão de 2 a 5 anos a violação do referido dispositivo do art.2°. Por fim, a Lei n° 9605/98, no seu art. 29, traz a caça de animais silvestres, cominando pena de detenção de 6 meses a 1 ano, mais multa. AVANÇANDO NA PRÁTICA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL Você é o promotor de justiça da sua cidade e lhe chega uma notícia crime em que uma pessoa física, maior e capaz, provocou diretamente degradação ambiental, causando alteração negativa nas características do meio ambiente (em especial contra o microbem, água). Informe a peça processual e o direito material que deve ser alegado. RESOLUÇÃO Bons estudos! UNIDADE 2, SESSÃO 1: FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL CONVITE AO ESTUDO Nesta unidade, você, aluno(a), será apresentado(a) ao mundo das investigações e perícias criminais no âmbito dos crimes ambientais, a fim de tratar das investigações e perícias na prática, incluindo o papel da fiscalização, a atividade pericial e os aspectos técnicos envolvidos. Na primeira seção desta unidade, iniciaremos nossos estudos com o exame do efetivo papel da fiscalização ambiental e como sua atuação é realizada no âmbito federal e estadual, pontuando, de forma didática, as atribuições do Agente de Fiscalização. A segunda seção desta unidade é reservada ao estudo dos aspectos conceituais e legais da perícia ambiental. Nela analisaremos a atividade pericial, as previsões legais relativas à perícia ambiental e o papel do perito ambiental no âmbito das investigações. Na terceira seção desta segunda unidade, faremos uma análise concatenada dos aspectos técnicos que envolvem o trabalho da perícia ambiental, inclusive no que tange aos laudos periciais e a utilização da prova pericial no processo civil. Assim, convido você a se aprofundar no tema, ampliando seus conhecimentos relativos ao assunto. https://conteudo.colaboraread.com.br/202201/INTERATIVAS_2_0/INVESTIGACAO_E_PERICIA_CRIMINAL_CRIMES_AMBIENTAIS_E_CRIMES_DIGITAIS/LIVRO_DIGITAL/fmt_u1s3.html#resolucao%20.item-1 PRATICAR PARA APRENDER Nesta seção, vamos estudar a prática das investigações e perícias criminais em matéria ambiental tomando por base a atuação dos órgãos de fiscalizaçãoe de seus agentes. De absoluta relevância para a matéria, iniciaremos a seção analisando o efetivo papel do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) enquanto autarquia federal, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, voltada ao exercício do poder de Polícia Ambiental. Ainda nesta seção, abordaremos o papel da fiscalização ambiental em âmbito estadual, pontuando as diferenças de atuação nessa esfera, bem como explanando o papel dos órgãos pertencentes ao Estado. Por fim, abordaremos uma figura de grande protagonismo no procedimento de fiscalização, que é o Agente de Fiscalização, o qual, dotado de poder de polícia inerente ao seu cargo, materializa a fiscalização ambiental, instaurando os autos de infração ou procedimentos administrativos necessários à apuração do fato ou imposição de sanção. Após o estudo de todo o material, imagine a situação hipotética na qual você, aluno(a), está no meio da fase oral do concurso para o cargo de Analista Ambiental do IBAMA, quando o examinador lhe interrompe, questionando o seguinte: Prezado Doutor, vi que o senhor domina a matéria, mas gostaria de saber se a fiscalização ambiental, como atividade estatal, encontra limites constitucionais. Neste momento, engolindo seco e disfarçando bem o nervosismo, cabe ao candidato oportunizar a resposta, ganhando tempo suficiente para que não venham outras dúvidas do examinador. Assim, elabore uma apresentação segura, a fim de dar por satisfeito o questionamento. CONCEITO-CHAVE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL PELO IBAMA O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, criada por meio da Lei Federal nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Nos termos do mencionado códex, a finalidade do IBAMA é, efetivamente, exercer o poder de polícia ambiental, executar ações das políticas nacionais relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e a fiscalização, monitoramento e controle ambiental. Ao tratarmos especificamente da fiscalização ambiental enquanto atribuição do IBAMA, podemos defini-la como o efetivo exercício de poder de polícia decorrente da legislação ambiental, consistindo, desta forma, na materialização da atribuição estatal de fiscalizar os atos ou condutas praticadas por potenciais poluidores e por aqueles que se utilizam dos recursos naturais, garantindo assim a preservação ambiental ou mesmo a mitigação de eventuais danos ambientais. O objetivo da fiscalização ambiental é, por meio de sua atuação preventiva ou repressiva, induzir a alteração do comportamento social por meio da coerção, materializada na aplicação de sanções previstas na legislação. São características da fiscalização executada pelo IBAMA a discricionariedade, autoexecutoriedade e a coercibilidade. A discricionariedade está atrelada à ideia de liberdade na atuação do órgão fiscalizador, ao passo que deve valorar, sob a ótica da conveniência e oportunidade, a graduação das sanções. A autoexecutoriedade, por sua vez, versa sobre a efetiva possibilidade de imposição, e forma direta, de medidas ou sanções relativas ao poder de polícia administrativa, cujo objetivo é a repressão da atividade lesiva ao meio ambiente. Por fim, a coercibilidade trata especificamente da imposição de sanções com o intuito de coagir o praticante do ato a não reincidir em sua prática ou, até mesmo, servir de exemplo para que outros não venham a praticar tais condutas. O art. 70 da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), atribui, dentre outras, ao IBAMA a competência para lavrar autos de infração na esfera federal e ainda para a instauração de processos administrativos de apuração de infração. Como a execução das atribuições do IBAMA dizem respeito à esfera federal, insta consignar que a Lei Complementar nº 140/11, visando esclarecer quaisquer dúvidas a respeito do tema, definiu, de forma didática, as competências de cada ente na proteção ambiental, tratando da esfera federal especificamente no artigo 7º. Ao tratar do poder fiscalizatório do IBAMA, talvez o mais importante instrumento para consecução de seus objetivos seja o Processo Administrativo Sancionador, voltado a responsabilização administrativa ambiental em face de eventuais atos danosos ao meio ambiente. Ao tratar do exercício da fiscalização por parte do IBAMA, o autor Paulo de Bessa Antunes (2020, p. 140) é didático ao dispor acerca de seus objetivos: A fiscalização efetivada pelo Ibama é regida pelas normas contidas no Regulamento Interno da Fiscalização (RIF) do Ibama aprovado pela Portaria nº 24 de 16 de agosto de 2016, com nova redação dada pela Portaria nº 3.326, de 12 de setembro de 2019. O objetivo principal da atividade fiscalizatória é a prevenção da prática de ilícitos administrativos ambientais, “induzindo o comportamento social de conformidade com a legislação ambiental pela aplicação de sanções administrativas e das medidas judiciais cabíveis” (artigo 3º), cabendo-lhe, ainda, a apuração administrativa dos atos infracionais. A fiscalização ambiental, assim como qualquer atividade estatal, possui limites constitucionais que devem ser respeitados, ou seja, o IBAMA, no efetivo exercício de suas atribuições, deve pautar suas ações nos limites do respeito aos direitos e às garantias fundamentais, dando plena observância aos princípios da legalidade, publicidade e impessoalidade, bem como respeitando a privacidade de domicílio. FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO No âmbito dos estados, as atribuições gerais relativas à proteção ambiental estão descritas no art. 8º da Lei Complementar nº 140/11, sendo especificado no inciso XIII que, dentre as competências, compete ao Estado “exercer o controle e fiscalizar as atividades e os empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for cometida aos Estados”. A título exemplificativo, no âmbito do Estado de São Paulo, há diversos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental, como: Centro de Vigilância Sanitária (CVS- SP); Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP); Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA-SP); Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB); Coordenadoria de Licenciamento Ambiental de Recursos Naturais do Estado de São Paulo (CPRN-SP); Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN); entre muitos outros, cada qual responsável por um microbem ambiental. A fim de abordar o tema relativo à fiscalização no Estado de São Paulo, é indispensável nos aprofundarmos especificamente no papel da CETESB, principalmente por ser a responsável pelo licenciamento e fiscalização de atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente, como as geradoras de poluição, tendo por escopo a preservação e/ou recuperação da qualidade do ar, da água e do solo. A CETESB foi originalmente criada pelo Decreto Estadual nº 50.079, de 24 de julho de 1968, tendo passado por ampla reestruturação quando a Lei Estadual nº 13.542, de 08 de maio de 2009, entrou em vigor, ganhando o manto de agência ambiental, sendo-lhe incumbidas atribuições relativas ao efetivo controle e fiscalização do meio ambiente. Ainda no que concerne ao Estado de São Paulo, a Lei nº 14.626, de 29 de novembro de 2011, em seu Anexo I, apresenta o rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, definindo o grau de “potencial poluidor” (Pp) de cada uma das atividades, criando ainda a Taxa Ambiental Estadual, objetivando a otimização da fiscalização ambiental. Ao tratarmos da fiscalização ambiental no âmbito do Estado de São Paulo, é indispensável abordarmos o Decreto Estadual nº 64.456, de 10 de setembro de 2019, que “dispõe sobre o procedimento para apuração de infraçõesambientais e imposição de sanções, no âmbito do Sistema Estadual de Administração da Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos Recursos Naturais (SEAQUA)”. O referido Decreto apresenta as nuances relativas ao processo administrativo de apuração de infrações ambientais, especificando seus requisitos, prazos e princípios, inclusive que concerne a efetiva necessidade de observação do contraditório e ampla defesa no âmbito administrativo ambiental. AGENTE DE FISCALIZAÇÃO Ao tratarmos do processo de fiscalização ambiental, uma figura de grande protagonismo no procedimento é o Agente de Fiscalização que, dotado de poder de polícia inerente ao seu cargo, materializa a fiscalização ambiental, instaurando os autos de infração ou procedimentos administrativos necessários à apuração do fato ou imposição de sanção. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), em seu art. 70, define quem são os responsáveis pela lavratura do auto de infração ou processo administrativo, assim dispondo: Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. § 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. (BRASIL, 1998) Em se tratando da fiscalização realizada pelo IBAMA, a Portaria nº 24, de 16 de agosto de 2016, aprova o regulamento interno da fiscalização justamente com o intuito de uniformizar e dar segurança jurídica ao exercício de poder de polícia administrativo do órgão, afirmando ainda, em seu art. 5º, que “a fiscalização ambiental emprega a dissuasão como a principal forma de promover a mudança de comportamento social e prevenir a prática de ilícitos ambientais”, conceituando que, por dissuasão, entende-se a mudança esperada no comportamento do indivíduo pelo medo de ser punido. O exercício da fiscalização ambiental é efetivado pelo servidor designado pelo Presidente do IBAMA por meio de portaria, nos termos do art. 8º da Portaria 24/16, o qual deve ser analista ambiental ou técnico ambiental do quadro efetivo do órgão e cumprir os requisitos elencados no art. 10 da mesma portaria, sendo assim designado como Agente Ambiental Federal (AAF). Aos Agentes Ambientais Federais compete, dentre outras funções, a elaboração de relatório de fiscalização, que deve conter, nos termos do art. 14 da Instrução Normativa Conjunta MMA/IBAMA/ICMBIO nº 1, de 12 de abril de 2021: I - a descrição das circunstâncias que levaram à constatação da infração ambiental e à identificação da autoria, II - o nexo de causalidade entre a situação infracional apurada e a conduta do infrator identificado, comissiva ou omissiva; III - o registro dos meios de prova, evidências materiais, documentais ou testemunhais coletadas, aptos à demonstração das elementares do tipo infracional cometido e à dosimetria da sanção; IV - os critérios e a dosimetria utilizados para a fixação da multa; V - a identificação clara e objetiva do dano ambiental; VI - as circunstâncias agravantes e atenuantes; e VII - todos e quaisquer outros elementos considerados relevantes para a caracterização da responsabilidade administrativa. (BRASIL, 2021) Ao constatar a ocorrência de uma infração ambiental, o Agente Ambiental Federal deve lavrar o auto de infração, indicando a imposição de sanções, que podem ser de advertência, multa, apreensão, destruição, suspensão de venda ou fabricação, embargo ou demolição de obra, suspensão de atividades ou restritiva de direitos. Assim, enquanto protagonista do processo de fiscalização ambiental, o agente de fiscalização é indispensável ao efetivo cumprimento das políticas protecionistas, posto que é responsável pela atuação na linha de frente da defesa do meio ambiente, independente do microbem afetado. ASSIMILE A portaria nº 24, de 16 de agosto de 2016, traz uma série de requisitos para designação do servidor como Agente Ambiental Federal, a saber (BRASIL, 2016): Art. 10. Para a designação do servidor para a função de AAF, deverão ser atendidos os seguintes requisitos: I - ser analista ambiental ou técnico ambiental do quadro efetivo do Ibama; II - ter concluído curso de fiscalização ambiental com aproveitamento de, no mínimo, 70% (setenta por cento); III - ter aptidão física apropriada para o exercício da função; IV- apresentar atestado de saúde para o exercício da função; V- não ter sentença condenatória transitada em julgado em processo criminal por conduta incompatível com a função de AAF; VI - não ter sido condenado em processo administrativo disciplinar por conduta incompatível com a função de AAF; VII - não apresentar conduta ou atividade conflitante, pretérita ou presente, ou contrária ao disposto neste RIF, ao interesse institucional ou às demais regras de conduta no serviço público; VIII - estar lotado, ou em exercício, em unidade que tenha competência de realizar fiscalização ambiental; e IX - ter disponibilidade e condições para participar de atividades externas e viagens a serviço. REFLITA Diante do quando estudado até agora, é possível traçar um paralelo entre a pluralidade de órgãos e distribuição de atribuições com a maior eficácia da proteção ambiental ou você acredita que essa divisão de funções dificulta o trabalho de fiscalização? EXEMPLIFICANDO O IBAMA não atua somente na fiscalização ambiental, mas também na efetiva proteção ambiental por meio de operações específicas, como a Operação Mata do Mamão 2021, que teve início em 19 de julho de 2021, com a participação do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), em que 142 pessoas, entre servidores e brigadistas, atuaram para controlar e extinguir os incêndios florestais dentro e no entorno da Mata do Mamão, localizada no sudoeste do estado do Tocantins (TO). Ante ao conteúdo estudado, é possível notar a importância do trabalho fiscalizatório para a consecução das políticas ambientais, principalmente diante da efetiva necessidade de buscar um meio ambiente saudável e ampliar a proteção conferida ao macrobem ambiental. REFERÊNCIAS ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 21. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020. BRASIL. Lei n. 9.605, de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998. Disponível em: https://bit.ly/3sLtxRF. Acesso em: 1 fev. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Portaria n. 24, de 16 de agosto de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 ago. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3ryfQGa. Acesso em: 1 fev. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa Conjunta MMA/IBAMA/ICMBIO n. 1, de 12 de abril de 2021. Regulamenta o processo administrativo federal para apuração de infrações administrativas por condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 abr. 2021. Disponível em: https://bit.ly/35TQH09. Acesso em: 1 fev. 2022. IBAMA. O que é fiscalização ambiental. Disponível em: https://bit.ly/3Lw6RNM. Acesso em: 30 set. 2021. Bons estudos! SEM MEDO DE ERRAR http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/23514630/do1-2016-08-22-portaria-n-24-de-16-de-agosto-de-2016-23514366 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-conjunta-mma/ibama/icmbio-n-1-de-12-de-abril-de-2021-314019923http://www.ibama.gov.br/fiscalizacao-ambiental/o-que-e-fiscalizacao Foi apresentada a situação hipotética na qual, você, aluno(a), em uma banca de concurso, é questionado sobre os limites constitucionais da fiscalização ambiental enquanto atividade estatal. Primeiro, cabe a você demonstrar conhecimento sobre o tema. Mencione que a fiscalização pelo IBAMA é regida pelo Regulamento Interno da Fiscalização - Portaria nº 24/16 (com nova redação dada pela Portaria nº 3.326/19). Relate que o objetivo principal da atividade fiscalizatória é a prevenção da prática de ilícitos administrativos ambientais, para incutir no comportamento social a conformidade com a legislação ambiental. Dada todas essas razões, além de seus fundamentos no art. 225 da CRFB, importe em afirmar que a fiscalização ambiental, assim como qualquer atividade estatal, possui limites constitucionais que devem ser respeitados, ou seja, o IBAMA, no efetivo exercício de suas atribuições deve pautar suas ações nos limites do respeito aos direitos e às garantias fundamentais, dando plena observância aos princípios da legalidade, publicidade e impessoalidade, bem como respeitando a privacidade de domicílio. AVANÇANDO NA PRÁTICA GARIMPANDO Um Analista Ambiental, devidamente designado, com uma equipe, foi chamado para averiguar uma denúncia de crime ambiental em um Parque Tombado pela União, quando depara, em estado de flagrância, um senhor garimpando a área (conhecido Amon Dente de Ouro), vindo até a assumir a responsabilidade naquele momento. Foi lavrado pelo Analista o auto de infração. Concomitante à ação criminosa, foi aberto o processo administrativo, o qual culminou na punição do causador do abalo ambiental. Insatisfeito com a decisão, o advogado do Amon Dente de Ouro, além de recorrer da punição, representou o Analista alegando que não era sua atribuição a lavratura do auto de infração, mas sim ao Técnico Ambiental que participou desde o início da operação, buscando, assim, a nulidade do ato. Na conclusão da sindicância, foi reconhecida a prática do crime (porque apurado na esfera penal) e a individualização do agente. Por sua surpresa, na sequência, foi aberto o processo disciplinar para apurar sua responsabilidade por ter realizado o auto de infração. Você é o advogado(a) do caso e precisa apresentar uma defesa para o Analista. Aponte o direito que reserva ao caso apresentado. Mãos à obra! RESOLUÇÃO Bons estudos! UNIDADE 2, SESSÃO 2: ASPECTOS CONCEITUAIS E LEGAIS DA PERÍCIA AMBIENTAL PRATICAR PARA APRENDER https://conteudo.colaboraread.com.br/202201/INTERATIVAS_2_0/INVESTIGACAO_E_PERICIA_CRIMINAL_CRIMES_AMBIENTAIS_E_CRIMES_DIGITAIS/LIVRO_DIGITAL/fmt_u2s1.html#resolucao%20.item-1 Prezado(a) aluno(a), nesta seção abordaremos a atividade pericial propriamente dita e a importância da realização de perícias em matéria ambiental para a efetiva elucidação e quantificação de danos ao meio ambiente. Estudaremos ainda as previsões legais concernentes à perícia ambiental, passando pelas legislações esparsas que tratam sobre o assunto, seja no Código de Processo Penal, Lei de Crimes Ambientais ou mesmo no Código de Processo Civil, possibilitando, assim, a realização de uma análise concatenada dos objetivos do trabalho pericial enquanto ferramenta voltada à investigação criminal ambiental Por fim, abordaremos o efetivo papel do perito não apenas na investigação, mas nos processos que envolvam matéria ambiental como um todo, elucidando que suas atribuições não são unicamente voltadas para apontar a materialidade de um determinado fato, mas, principalmente, quantificar seu alcance e o prejuízo causado, demonstrando ainda que a sua atuação é diretamente ligada com o exercício do contraditório e da ampla defesa. Seguindo tais premissas, imagine uma situação hipotética em que você é chamado para defender os interesses de um cliente que responde por crime ambiental. Sabe-se que o perito esteve no local, cumprindo a regra do art. 6º do CPP, entretanto, sugeriu ao dano o importe de R$100.000,00 (cem mil reais) para fins de instrumento balizador da multa ambiental. Ocorre que não apresentou justificativa da sua aferição. Em peça de recurso, apresente a defesa que comporta ao caso em tela. CONCEITO-CHAVE A ATIVIDADE PERICIAL Em matéria ambiental, a perícia é o procedimento cuja finalidade é avaliar eventuais danos ao meio ambiente e todos os seus microbens, investigando e detectando causas de um acontecimento ou de uma situação potencialmente nociva, objetivando, por meio de uma análise estritamente técnica, solucionar os fatos ocorridos e emitindo o competente laudo. A perícia ambiental traduz-se em verdadeiro instrumento investigativo, desempenhando papel crucial nas demandas ambientais perante a Justiça, principalmente ao tratarmos de crimes ambientais. Sob o aspecto histórico, na Inglaterra dos anos 70 foram criadas as primeiras auditorias e perícias, cuja finalidade era instrutiva e preventiva. Já no Brasil, foi apenas com o advento da Lei Federal nº 9.605/98 que houve uma maior ampliação em sua aplicabilidade. A atividade pericial ambiental tem por escopo não apenas identificar o eventual fato danoso, mas também sua extensão e consequências. O perito ambiental pode ter formação em diversas áreas, dentre elas, Ciências biológicas; Engenharia Ambiental; Oceanografia; Agronomia; Ecologia e etc., a depender das necessidades expostas no caso concreto. O autor Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira (2017, p. 506), ao tratar da atividade pericial, é didático no que tange a finalidade do trabalho: Se o crime ambiental deixar vestígios, tornar-se-á imprescindível o exame pericial para constatação da materialidade delitiva necessária à justa causa da ação penal. O exame pericial também é necessário para outras questões relevantes, por exemplo, para aferição da extensão do ano ambiental que servirá de baliza para dosagem da pena ou até para o reconhecimento de uma agravante ou qualificadora de pena. A Lei Federal nº 9.605/98 deu tamanha importância ao trabalho pericial, que trouxe a previsão, em seu art. 19, de que, sempre que possível, quando da realização de perícia para constatação de eventual dano ambiental, deve haver a demonstração do efetivo prejuízo causado pelo ato, auxiliando, desta forma, a fixação de fiança (se o caso) e o cálculo da multa aplicável. Assim como em todo trabalho pericial, a atividade pericial em matéria ambiental tem por escopo auxiliar o magistrado, posto que não é exigido que este possua conhecimento técnico em todas as ciências exatas e humanas, portanto, sempre que necessária uma opinião técnica a respeito de determinado assunto, imperiosa a realização de perícia. Em termos técnicos, a NBR 14653-1:2001 (2001, p. 5), editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, ao tratar da “Avaliação de Bens” conceitua perícia como “atividade técnica realizada por profissional com qualificação específica, para averiguar e esclarecer fatos, verificar o estado de um bem, apurar as causas que motivaram determinado evento, avaliar bens, seus custos, frutos ou direitos”. Ante às premissas estudadas, pode-se concluir que o trabalho pericial sob a ótica da investigação ambiental é imprescindível ao sucesso não apenas de uma determinada investigação, mas para a própria consecução das políticas protecionistas ambientais e para o bom andamento dos feitos judiciais, principalmente no que tange a efetiva mensuração do dano visando a fixação de multas. PREVISÕES LEGAIS RELATIVAS À PERÍCIA AMBIENTAL Em matéria ambiental, a legislação brasileira é tida como vasta e abrangente, servindo, inclusive, de modelo para outros países. A positivação da preservação ambiental acabou por fomentar os mecanismos judiciais voltados ao protecionismo ambiental, desde os direitos relativos à efetiva indenização pela
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