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AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 1 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Afecções da Coluna Vertebral Cervicobraquialgias, Dorsalgias, Lombalgias e Lombociatalgias A cervicalgia e a lombalgia são os quadros dolorosos mais comuns da coluna vertebral. Constituem a 2ª queixa de dor no homem adulto, perdendo apenas para os quadros de cefaleia. A cervicalgia é a dor no seguimento cervical da coluna. Afeta cerca de 50% dos indivíduos em algum momento da vida e apresenta predileção pelo sexo feminino. A lombalgia, por sua vez, é a dor no seguimento lombar da coluna. Afeta de 65 a 85% da população mundial ao longo dos anos. Corresponde a 3ª causa mais comuns de afastamento do trabalho, a 5ª de internação hospitalar e a 3ª de procedimentos cirúrgicos. Etiologia As dores cervicais e lombares apresentam múltiplas causas já bem definidas. Porém, a real causa da dor não é diagnosticada em um grande número de pacientes, mesmo após vasta investigação clínica/la- boratorial e por imagens. Por exemplo, nas lombalgias, apenas 25 a 30% dos pacientes recebe um diagnóstico anatomopatológico provável. A grande maioria constitui, ainda, as chamadas cervical- gias/lombalgias comuns, idiopáticas ou inespecíficas. Para fins didáticos, podemos classificar as causas de dor em primárias e secundárias. Primárias se fatores locais envolvendo a estrutura da coluna levam à dor, e secundárias se fatores à distância ou não próprios da coluna são os responsáveis pela dor. Podemos ainda dividir as causas em: mecânico- degenerativas (primárias), não mecânicas, psicogênicas, psicossomáticas ou referidas (secundárias). (Tabela 1). Tabela 1: Classificação das causas de lombalgia e cervicalgia Primá- rias Mecânico-de- generativas Biomecânicas: relacionadas às alterações biomecânicas da unidade fun- cional espinhal. Há substrato anatomopatológico determinado para a dor (p. ex.: discopatias e osteoartrite). Lombalgia/cervicalgia comum ou idiopática e distensões musculares: ca- ráter mecânico, sem irradiação ou com irradiações atípicas, e sem alte- rações anatomopatológicas determinadas (p. ex.: torcicolos, síndromes miofasciais). Secun- dárias Não mecâni- cas Inflamatórias: doença vertebral inflamatória de origem sistêmica (p. ex.: espondilite anquilosante). Infecciosas: discite infecciosa. Neoplásicas: metástases. Metabólicas ou relacionadas a doenças sistêmicas: hiperparatireoi- dismo, ocronose e osteomalácia. Psicossomáti- cas ou psico- gênicas e do- res referidas: Psicogênicas: a dor é percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica (p. ex.: fibromialgia, transtornos conversivos, depressão, histeria etc). Dores referidas: a lesão está em outros sítios que não a coluna (p. ex.: pode ser uma dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, dor viscerogênica como em uma vasculite de carótidas ou espasmo esofá- gico, e pode ser somática como em um herpes zoster). Causas Mecânico-degenerativas São relacionadas a alterações da biomecânica na unidade funcional espinhal (UFE), que é a menor unidade de movimento vertebral, constituída por 1 par de vértebras adjacentes, duas articulações sino- viais (zigoapofisárias ou facetárias) e o complexo disco-ligamentar-muscular. 1.Alterações discais São causas comuns de disfunção mecânica da UFE (85% das causas mecânicas de lombalgia), pois o disco tem a importante função de absorver os impactos e as pressões sofridas pela coluna. Com o AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 2 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR seu mau funcionamento, as pressões recebidas se deslocam para outros pontos e estruturas não ha- bilitadas, gerando, assim, lesões permanentes, inflamação e dor. As alterações discais mais comumente encontradas são discopatias e abaulamentos ou herniações. As discopatias englobam a desidratação discal, as fissuras e as rupturas discais. A desidratação discal é causada pelas alterações dos níveis de proteoglicanos e diminuição de água no núcleo pulposo. As fissuras são lacerações concêntricas do ânulo fibroso, e as rupturas, lacerações radiais. Os abaula- mentos e herniações são alterações do contorno discal. Se globais, são chamadas de abaulamentos; se focais, de hérnias. 2.Alterações osseocartilaginosas e capsuloligamentares (10 a 15% das causas mecânicas de lombal- gia) São aquelas que podem acometer a face intervertebral ou platô vertebral, as articulações zigoapofisá- rias e o complexo capsuloligamentar vertebral, e devem-se mais comumente à osteoartrite. Na osteoartrite vertebral, inicialmente há lesão cartilaginosa e de osso subcondral. Em estágios mais avançados, há a formação de osteófitos nos platôs vertebrais ou nas articulações zigoapofisárias, po- dendo haver, desse modo, distensão da cápsula articular, sinovite ou derrame articular, formação de cistos sinoviais e espessamento com pregueamento do ligamento amarelo. Todas estas alterações crônicas podem levar à redução do canal medular ou dos forames de conjugação e a manifestações de estenose de canal vertebral ou a radiculopatias. Além disso, osteoartrite e discopatias podem levar ao desalinhamento vertebral, como consequência da degeneração ligamentar e óssea. O deslizamento vertebral anterior é chamado de espondilólise e pode vir acompanhado de espondilolistese (fratura) da pars interarticularis, ou seja, do istmo entre as articulações interapofisárias que mantém a estabili- dade vertebral no plano sagital. 3.Lombalgia/cervicalgia idiopática É hoje também denominada de lombalgia/cervicalgia comum, inespecífica ou distensão muscular: tem caráter mecânico, porém sem alterações precisas nos exames de imagem que lhes confira um alvo de alteração anatomopatológica na UFE. Algumas vezes, encontramos, ao exame físico, apenas pontos miofasciais na musculatura (triggers points) ou contraturas. Acredita-se que é uma forma anatomoclí- nica inicial da causas de natureza mecanicodegenerativas. Causas Não mecânicas Entre elas, podemos citar os processos inflamatórios, infecciosos, neoplásicos e metabólicos da co- luna. 1.Doenças inflamatórias As espondiloartropatias são caracteristicamente um tipo de doença autoimune inflamatória que afeta o esqueleto axial nas ênteses (pontos de inserção de ligamentos e tendões ao esqueleto) e que também podem afetar as articulações sacroilíacas, assim como as grandes articulações dos membros inferiores. A artrite reumatoide, que também é uma doença autoimune sistêmica, pode acometer a coluna cervical no segmento C1-C2, em 34 a 42% dos casos, determinando subluxação atlantoaxial. 2.Processos infecciosos Normalmente tem origem no disco intervertebral e são chamados de espondilodiscites, porém podem se estender para as vértebras e tecidos adjacentes com gravidade. Os microrganismos podem atingir a coluna vertebral por via hematogênica, linfática ou por contiguidade (inoculação direta). 3.Tumores São mais comumente metástases nos corpos vertebrais de carcinomas de pulmão, mama, próstata, rins, tireoide e cólon. O mieloma e a leucemia também podem envolver as vértebras, e todos normal- mente levam a sintomas por compressão neurológica ou por fraturas patológicas. Os tumores primários benignos mais comuns da coluna são hemangiomas, cistos ósseos aneurismáticos, osteoma osteoide, AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 3 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR osteoblastoma e osteocondroma. Os malignos são osteossarcoma, condrossarcoma, sarcoma de Ewing, linfoma, plasmicitoma e cordoma. 4.Doenças metabólicas ou repercussão de outras doenças sistêmicas Entre as causas não mecânicas, há uma série de outras doenças sistêmicas que podem levar à dor na coluna. P. ex.: doenças osteometabólicas (osteoporose e hiperparatiroidismo) que normalmentesão dolorosas por acometerem estruturas intra ou extrarraquidianas adjacentes, ou por levarem a fraturas. Causas Psicogênicas ou Psicossomáticas e Dores Referidas 1.Causas psicogênicas e psicossomáticas A dor é percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica, geralmente de caráter difuso, descrição imprecisa ou punitiva e forte associação com desencadeantes emocionais. P. ex.: fibromialgia, depressão, histeria etc. A anamnese é a principal arma diagnóstica e os exames complementares e físicos são normais. 2.Dores referidas A lesão está em outros sítios que não a coluna. Por exemplo, pode ser uma dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, dor viscerogênica como em uma vasculite de carótidas, espasmo esofágico ou pode ser somática, como em um herpes zoster. Fisiopatologia É complexa e ainda pouco compreendida. Nas causas mecanicodegenerativas e não mecânicas, seu desenvolvimento ocorre primariamente por meio da instalação de forças anormais sobre a coluna (al- terações discais, alterações osseocartilaginosas e alterações capsuloligamentares). Esta biomecânica alterada gera novas lesões locais, que liberam mediadores de inflamação, principalmente dos discos vertebrais. Os mediadores então estimulam nociceptores, encontrados nas articulações sinoviais, no núcleo fibroso do disco intervertebral, nos ligamentos paravertebrais ou nos vasos e nervos protegidos pela estrutura óssea da coluna. As causas psicogênicas ou psicossomáticas têm a fisiopatologia ainda menos clara e o que se infere até agora é que a dor é percebida no córtex cerebral. Achados Clínicos Avaliação clínica detalhada, anamnese e exame físico devem ser os instrumentos iniciais de avaliação de todo o paciente com dor na coluna. História Clínica Caracterização do Paciente Sempre pesquisar características básicas como idade, sexo, raça, peso corpóreo, situação ocupacional (profissão/situação trabalhista), hábitos e vícios (atividade física, fumo), perfil psíquico e estado civil. Estes dados são importantes, pois com eles podemos determinar grupos de risco para determinadas doenças da coluna. Por exemplo, sabemos que as estenoses de canal vertebral ocorrem mais comu- mente em pacientes com > 60 anos de idade; e as hérnias discais, em pacientes de 20 a 60 anos, assim como sabemos que condições psicológicas como histeria e doenças conversivas são mais rela- cionadas à dor aguda na coluna que a depressão. Porém, a depressão é muito prevalente em pacientes com lombalgia crônica comum. Outros fatores de risco conhecidos para lombalgia são a obesidade e o fumo. Caracterização da Dor Outro passo importante na anamnese é a caracterização minuciosa da dor, pela determinação do tempo da dor, ritmo, etc. 1.Tempo AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 4 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Aguda: < 3 meses; crônica: > 3 meses e recidivante. A cervicalgia ou a lombalgia mecânica comum normalmente tem início súbito, após esforço inadequado ou sobrecarga de trabalho ou exercícios físi- cos. A maior parte dos episódios de dor na coluna não incapacita os pacientes. Mais de 50% dos episódios melhora em 1 semana; e 90%, em 2 semanas. Os 7 a 10% restantes continuam a apresentar sintomas por mais de 6 meses, e a partir da 7ª a 12ª semana de dor, já constituem as entidades co- nhecidas como cervicalgia e lombalgia crônicas. 2.Ritmo Na coluna, o ritmo é dividido em mecânico e inflamatório. A dor de caráter mecânico é intimamente relacionada às atividades físicas e posturais do indivíduo, ou seja, a dor normalmente é desencadeada pela atividade/exercício e melhora com o repouso. A dor inflamatória ou não mecânica pode aparecer ou piorar com o repouso e melhorar com o movimento. O indivíduo pode apresentar dor noturna, ao acordar e dor acompanhada de rigidez matinal. Entre as dores de caráter inflamatório estão as espon- diloartropatias. Pesquisa de Sinais de Alerta As cervicalgias e lombalgias inflamatórias normalmente apresentam sintomas de alerta (red flags) iden- tificáveis com uma boa anamnese (Tabela 2). Tabela 2: Sinais de alerta nas lombalgias (red flags) Febre/calafrios Dor em < 18 anos e > 55 anos de idade História de trauma violento Dor constante progressiva e noturna História de câncer Uso de corticosteroides sistêmicos Abuso de drogas Aids Perda de peso Doenças sistêmicas Restrição da mobilidade Deformidade estrutural Perda do controle dos esfincteres, fraqueza muscular/atrofia associada Rigidez matinal Envolvimento articular periférico História familiar de doença reumatológica Pesquisa de Sintomas Neurológicos As dores na coluna podem ser localizadas ou irradiadas e com ou sem envolvimento neurológico. As irradiações seguem dois padrões básicos: irradiações típicas: indicando envolvimento de raízes nervosas, como nas cervicobraquialgias ou lom- bociatalgias; irradiações atípicas: sem envolvimento neuronal. As irradiações típicas seguem o dermátomo característico de uma raiz nervosa. As irradiações atípicas normalmente correspondem à dor referida da lesão da coluna ou a pontos miofasciais da musculatura paravertebral. Os pontos miofasciais (pontos gatilhos) são áreas de contratura muscular capazes de reproduzir a dor do paciente. Se há irradiações típicas da dor para os membros, o próximo passo na anamnese é determinar qual a posição da coluna desencadeia a dor irradiada: extensão, flexão ou inclinação lateral. Normalmente, nas hérnias discais, a dor aparece no dia seguinte a um esforço maior que gerou ruptura de fibras do anel fibroso do disco intervertebral. A flexão da coluna é normalmente o mecanismo de AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 5 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR lesão e o movimento que desencadeia a dor, com irradiação característica da raiz nervosa comprimida pelo disco. A estenose de canal medular é uma patologia tipicamente do idoso e tem como sintoma a claudicação neurogênica, que é a presença de dor irradiada para membros (nem sempre típica) ao esforço físico, normalmente acompanhada de fraqueza muscular e necessidade de interrupção da caminhada, com melhora dos sintomas após alguns minutos de repouso. A estenose de canal medular tem causa ainda desconhecida, mas admite-se a participação de isque- mia radicular ou aumento da pressão liquórica em decorrência de aderência da pia-máter e osteoartrite. O quadro clínico melhora com a flexão da coluna e piora com extensão por mais de 30 segundos. O modelo de guia para anamnese em coluna está mostrado na Tabela 3. Tabela 3: Guia geral para anamnese da coluna Tempo de evolução Dor aguda: < 3 meses Dor crônica: > 3 meses Dor recidivante Ritmo da dor Mecânico Inflamatório Sinais de alerta (red flags) Febre, emagrecimento, dor noturna, neuropatia etc Situação trabalhista Continua trabalhando ou não Acidente de trabalho, indenização, aposentadoria, litígio trabalhista Irradiação da dor Localizada Irradiada para membros Fatores de melhora e piora Posição: flexão ou extensão Marcha: claudicação neurogênica? Início da dor Relação com esforço/trauma Súbito ou progressivo Exame Físico O exame físico da coluna é outro elemento importante para o bom diagnóstico e tratamento das dores cervicais e lombares. O exame físico da coluna pode ser dividido em inspeção estática e dinâmica, palpação, avaliação da mobilidade passiva/marcha e manobras especiais. Todo exame da coluna exige um exame neurológico completo com avaliação criteriosa das raízes medulares se o paciente se queixa de dor irradiada. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial das cervicalgias e lombalgias é amplo e, a princípio, devemos diferenciar entre as causas primárias e as secundárias. Estas últimas exigem tratamento específico após investigaçãocomplementar. Os principais diagnósticos diferenciais estão descritos na Tabela 4. Tabela 4: Diagnóstico diferencial das lombalgias e cervicalgias Causas Cervical Lombar Pri- má- rias Mecânico-de- generativas Osteoartrite: uncoartrose, das interapofi- sárias ou dos complexos disco-osteofitá- rios Osteoartrite: interapofisárias ou complexos disco-osteofitários Hérnia discal cervical Listeses e espondilólises Síndrome do chicote (Whiplash) Fraturas osteoporóticas ou pós- trauma Fraturas vertebrais osteporóticas ou pós- trauma Hérnia discal lombar Síndromes miofasciais Canal lombar estreito AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 6 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Contraturas musculares, torcicolos e dis- tensões ligamentares Contraturas musculares, disten- sões musculares/ligamentares Canal cervical estreito Síndromes miofasciais Se- cun- dá- rias Não mecâni- cas Infecciosas: discites, osteomielite Infecciosas: discites, osteomie- lite, artrite séptica sacroilíaca Doenças sistêmicas, osteometabólicas e reumatológicas: acometimento cervical da artrite reumatoide espondiloartropa- tias, polimialgia reumática, arterite de cé- lulas gigantes etc Doenças sistêmicas osteometa- bólicas e reumatológicas: ocro- nose, hiperparatireoidismo, os- teomalácia, espondiloartropa- tias Psicossomá- ticas ou psi- cogênicas e dores referi- das Psicogênicas: fibromialgia, depressão, histeria etc. Psicogênicas: fibromialgia, de- pressão, histeria etc. Referidas: infarto agudo do miocárdio, espasmo de esôfago, carotidínea etc Referidas: cólica renal, dissec- ção de aorta etc Exames Complementares Quando algum sinal de alerta (red flags) estiver presente ou se não houver melhora clínica após 1 mês de dor, devem ser solicitados os exames complementares. Radiografia Radiografias simples de coluna em posição ereta e nas incidências anteroposterior, perfil e oblíqua. As radiografias permitem a avaliação das estruturas ósseas da coluna, alinhamento das estruturas, pre- sença de fraturas ósseas, calcificações, formação de osteófitos ou sindesmófitos, listeses e espondilo- listeses. As partes moles e as estruturas adjacentes não são facilmente visualizadas em radiografias. Tomografia Computadorizada Está indicada para avaliar desarranjos discais, alterações degenerativas facetárias e intervertebrais, o canal medular, recessos laterais e forames intervertebrais: Dentre as principais indicações estão as seguintes: Ressonância Magnética É a modalidade de escolha para demonstrar afecção espinal oculta e avaliar elementos neuronais e estruturas paravertebrais, incluindo as partes moles. Eletroneuromiografia Deve ser realizada se há dúvidas do acometimento radicular e de sua causa. Exames Laboratoriais Importantes quando há sinais de alerta para que sejam feitos os diagnósticos diferenciais. Hemograma, eletroforese de proteínas, provas de atividade inflamatória (velocidade de hemossedimentação e pro- teína C reativa) etc. Tratamento O tratamento das cervicalgias e lombalgias é dividido em: tratamento das causas primárias ou secun- dárias. Quando o paciente apresenta-se com uma causa secundária, para sua dor, o tratamento deve ser individualizado de acordo com a sua comorbidade. Já os pacientes no grupo das causas primárias, podem ser tratados inicialmente da mesma forma, como veremos a seguir e no Algoritmo 1. Alguns casos, como canal lombar estreito e hérnias discais, posteriormente devem receber tratamento diferenciado com possibilidades cirúrgicas e fisioterápicas específicas. Esta conduta de generalizar o tratamento inicial de todas as cervicalgias e lombalgias mecânicas, a despeito do conhecimento do diagnóstico estrutural correto, baseia-se em estudos de custo-efetividade e epidemiológicos. Sabe-se que o emprego de imagem para todos os pacientes não é sensível para AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 7 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR detectar o diagnóstico estrutural e que a média de recuperação de um quadro de lombalgia/cervicalgia comuns é geralmente rápida. Cerca de 90% dos quadros agudos melhoram dentro de 2 semanas. Logo, esperar por exames não é mais efetivo que o rápido tratamento da dor. Tratamento das Cervicalgias e Lombalgias Mecânicas Agudas O tratamento para os quadros agudos visa principalmente ao alívio da dor. Acredita-se que quanto mais rapidamente o paciente ficar assintomático, melhor o prognóstico. A posterior combinação com orien- tações ergonômicas e fisioterápicas, nas escolas de coluna, deve ser feita. Tratamento Medicamentoso Inicial 1.Analgésicos não opioides: paracetamol (500 mg de 4 a 6 x/dia, máximo 4 g/dia), dipirona (500 mg a 1 g ou 40 gotas até 4 x/dia), clonixinato de lisina (125 mg, 3 a 4 x/dia), ácido acetilsalicílico (500 mg a 1 g 4 a 6 x/dia, máximo de 4 g/dia) e flupirtina (100 mg 3 a 4 x/dia). 2.Analgésicos opioides: fosfato de codeína (30 a 60 mg 4 a 6 x/dia), cloridrato de tramadol (50 a 100 mg/dose, 4 a 6 x/dia, máximo de 400 mg), oxicodona (10 a 40 mg/dose 2 x/dia), morfina (10 a 30 mg/dose, até 6 x/dia). 3.Anti-inflamatórios não hormonais (AINH): não foram encontradas diferenças entre as classes dos AINH, podendo-se assim usar inibidores seletivos da Cox-2 ou não. Embora sejam associados a menos sintomas digestivos, costumam se associar à maior risco cardiovascular. 4.Relaxantes musculares: carisoprodol (150 mg 3 a 4 x/dia) e ciclobenzaprina (5 mg 3 a 4 x/dia, má- ximo de 40 mg/dia), baclofeno (5 mg 3 x/dia, máximo de 80 mg/dia), tizanidina ( 2 a 4 mg/dose 3 x/dia, máximo de 36 mg/dia). Em revisão sistemática publicada recentemente, analgésicos como o paracetamol, relaxantes muscu- lares, AINH, opioides, benzodiazepínicos e gabapentina para a radiculopatia apresentaram boa evidên- cia de efetividade no tratamento da dor na lombalgia aguda. Em contrapartida, não há evidências claras para o uso de corticosteroides sistêmicos. Já as revisões em cervicalgia não demonstram claramente a efetividade dos AINH, relaxantes muscu- lares ou infiltração epidural no alívio da dor. Injeções de lidocaína intramuscular (triggers) e metilpred- nisolona sistêmica até 8 horas do trauma na síndrome de Whiplash são tratamentos com boas evidên- cias de efetividade. Embora sem evidências estatísticas para algumas destas medicações, ainda é consenso o seu uso nos casos de cervicalgia mecânica. Trabalhos melhor elaborados são necessários para responder definitivamente esta questão. Outros tratamentos terapias alternativas (massagem e acupuntura) para alívio das dores agudas apresenta pouca evidên- cia de benefício, logo, devemos esperar 3 semanas antes de optar por elas; não se recomenda repouso no leito, mas também não devem ser estimulados exercícios que atinjam a coluna no período. Se o repouso alivia a dor, ele deve ser orientado nos primeiros 3 dias. a volta à atividade habitual sempre deve ser estimulada; fisioterapia com alongamento da musculatura paravertebral e fortalecimento de musculatura abdominal ou cervical deve ser iniciada após fase aguda, pois previne recorrências; tração, injeções facetárias ou epidurais e estimulação nervosa elétrica transcutânea parecem ser inefi- cazes ou minimamente efetivas em alguns estudos randomizados e só devem ser consideradas após falha dos medicamentos orais; injeções com toxinas botulínica (Botox A intramuscular) para a cervicalgia mecânica, apresenta resul- tados ainda controversos. Tratamento da Lombalgia/Cervicalgia Crônica Comum AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 8 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Estudos recentemente apontam para uma possível implicação da neuroplasticidade na causa da dor crônica da coluna. Acredita-se que a demora no tratamento da dor na fase aguda possaestar implicado na gênese da dor crônica. Hoje, o que sabemos sobre o tratamento desses quadros se resume a: exercícios intensos reduzem a dor e melhoram a função da coluna; antidepressivos são úteis para 1/3 dos pacientes com dor lombar crônica, principalmente naqueles associados a alterações psicológicas e depressão. Entre os antidepressivos, os tricíclicos são compro- vadamente os mais efetivos; opioides parecem ser mais efetivos que anti-inflamatórios no alívio sintomático, porém sem ganhos funcionais; terapias alternativas (massagem e acupuntura) para alívio das dores crônicas apresentam pouca evi- dência de benefício, e os trabalhos existentes são de qualidade duvidosa. Finalizando, um quadro de dor crônica normalmente necessitará de abordagem multidisciplinar, com planos de terapia comportamental, fisioterapia de proteção articular, exercícios supervisionados e edu- cação do paciente. As escolas de coluna e programas de exercícios prescritos pelos fisioterapeutas parecem ter efeitos benéficos, porém são poucas as evidências científicas disto. Abordagens cirúrgicas são raramente úteis. Tratamento das Hérnias Discais Pacientes com sintomas de dor com irradiação típica e na ausência de cauda equina ou déficit neuro- lógico progressivo devem ser tratados de forma conservadora por pelo menos 1 mês. O tratamento conservador agudo lembra o dos quadros mecânicos não específicos. Medicamentoso Analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais; corticosteroides: podem oferecer vantagens adicionais devido à inibição mais efetiva do processo infla- matório; relaxantes musculares; opioides: podem ser necessários para alívio da dor, mas devem ser usados apenas por períodos limi- tados; infiltração epidural com corticosteroides, anestésicos e opioides é uma opção após falha do tratamento conservador. Não há evidências de que mudem evolução natural da doença. Cirúrgico Se dor grave e persistente e déficit progressivo, tomografia ou ressonância deve ser realizada e a cirurgia, considerada. Tratamento da Estenose Espinhal ou Canal Estreito Há poucas evidências científicas para o uso da terapia não cirúrgica, que consiste em exercícios de bicicleta ou caminhadas, com breves paradas quando acontece a dor; evitar álcool e sedativos e forta- lecer musculatura de membros inferiores. Anti-inflamatórios, analgésicos e infiltração com corticoste- roide epidural podem ser benéficas, porém sem evidências estatísticas. Estudos sugerem que a cirurgia de descompressão tem resultados melhores no alívio da dor por pelo menos alguns anos. Após 4 anos, porém, 30% podem voltar a ter dor grave. Fundamentos Do Diagnóstico Por que doenças da coluna lombar e não lombalgias e lombociatalgias AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 9 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Lombalgias e lombociatalgias, inespecíficas ou idiopáticas, ou a low back pain, da terminologia anglo- saxônica corrente, termos enraizados na prática médica, são prejudiciais por serem, meramente, sin- drômicos. São nocivos para o paciente, porque não induzem médicos não-especialistas a procurar um diagnóstico etiológico específico. Dizer que em apenas 15% pode-se chegar a uma causa específica para a dor lombar é um equívoco, pois sinaliza, para o paciente, que o médico tem dúvidas sobre sua doença e, consequentemente, sobre os resultados esperados do seu tratamento. Em muitos casos, doenças mais ou menos graves estão por trás de uma banal dor lombar. Os pacientes sempre esperam por um diagnóstico mais específico; a maioria deles não se satisfaz apenas com o rótulo "lombalgia inespecífica ou idiopática"; uma receita de analgésico, AINH e sessões de fisioterapia. Por essa razão, e para fugir da desinformação que tais termos veiculam, seria melhor que se falasse em Doenças da Coluna Vertebral Lombar. A assertiva, acima citada, - de que apenas 15% teriam uma causa específica - data de estudos da década de 1960, que tinham falhas graves de metodologia. Nessa época foram avaliados 1.920 casos de dor lombar em um subúrbio de Londres, Inglaterra. Nessa amostra encontraram-se causas especí- ficas para apenas 245 pacientes, ou seja, 12,76%. Desde aquela data, com raras exceções, as esta- tísticas basearam-se em amostras populacionais heterogêneas que violam os "dogmas" básicos desta ciência e viciam, intencionalmente ou não, os resultados da terapêutica. Tratar de lombalgias e ciatalgias sem atentar para as verdadeiras causas e esperar meses tratando sintomas para ver o que acontece, uma das 85% das doenças que se diz não terem causa - pode ser um tumor benigno ou maligno, infecção, fratura ou metástase da coluna vertebral lombar - , é um ver- dadeiro desastre para o paciente. Causas específicas existem; basta procurá-las. A dor lombar constitui uma causa frequente de morbidade e incapacidade, sendo sobrepujada apenas pela cefaléia na escala dos distúrbios dolorosos que afetam o homem. Dois terços das pessoas a terão pelo menos uma vez em suas vidas, sendo as suas causas as que levam a um alto índice de absente- ísmo, afastamento e/ou aposentadoria pela Previdência Social. Em pesquisas feitas com pessoas abaixo dos 50 anos de idade acometidas de dor lombar, em 85% delas foi possível se chegar a uma causa, fazendo uma minuciosa história clínica e um acurado exame físico. Por que isto não é possível acima dos 50, quando é nitidamente perceptível o envelhecimento da população e maiores são as possibilidades de doenças de pior evolução? Uma das grandes dificuldades no estudo e na abordagem das lombalgias e lombociatalgias não é a inexistência de agentes etiológicos específicos, mas sim de outros fatores, como a aplicação de uma correta e fidedigna correlação entre os achados clínicos e os de imagem. Para que isso seja factível e possível, algumas interrogações e problemas - cruciais - devem ser levantados, e, posteriormente, so- lucionados: Quais são as interrogações/problemas? 1. Existe algum comprometimento neurológico? 2. Qual é o sítio anatômico que é a fonte da dor? 3. Há alguma evidência de comprometimento sistêmico extra ou intra-raquidiano ("sinais de alerta ver- melhos")? 4. Existem problemas psicossociais que possam ser detectados ("sinais de alerta amarelos" amplifi- cando ou prolongando o quadro doloroso)? As interrogações podem ser respondidas e, por consequência, as suas respectivas soluções, se leva- dos em conta os seguintes dados da anamnese e exame físico: A. O comprometimento neurológico pode ser facilmente perceptível pela marcha, pelo equilíbrio, pela sensibilidade, pelos reflexos musculotendíneos e por manobras semióticas e sinais de compressão radicular. Essas manobras e sinais serão detalhados na Diretriz sobre o diagnóstico clínico. AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 10 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR B. A dor lombar, que piora com a flexão da coluna, pode ter origem nos discos herniados, degenerados e/ou lesados; e quando piora com a extensão da coluna, a referida dor pode ser devida à artrose, ao estreitamento do canal ósseo e a outras afecções das articulações zigapofisárias. C. Os "sinais de alerta vermelhos" podem ser detectados por uma acurada anamnese e um cuidadoso exame físico; tais sinais indicam, provavelmente, tumores, infecções, afecções metabólicas, ginecoló- gicas, endócrinas, vasculares ou dos sistemas digestório, urinário e genital. D. Os problemas psicossociais que se manifestam pelos "sinais de alerta amarelos" são detectáveis em pessoas com história atual e/ou pregressa de ansiedade, depressão, litígios, conflitos trabalhistas e previdenciários. Ao se afirmar que em 85% dos casos se trata apenas e exclusivamente do rótulo "lombalgia" ou "lom- bociatalgia", e se procura justificar estas síndromes por estes e tantos outros rótulos (lumbago, ciática, "reumatismo" na coluna),pode-se deixar o paciente à mercê de doenças incapacitantes, graves e até mesmo mortais (rotura de aneurisma de aorta) que, diagnosticadas a tempo, poderiam ser tratadas e até mesmo curadas. No que concerne à fidedigna correlação entre a clínica e os achados de imagem, rótulos diagnósticos como osteoartrose, discopatia, protrusão discal, hérnias discais, osteoartrite, osteofitose degenerativa (uma redundância semântica), síndrome facetária, espondiloartrose ou osteocondrose, tais denomina- ções deixam de sê-lo [rótulos], quando se conhecem os valores preditivos de determinado sintoma, sinal ou achado de imagem. Explicando melhor: imagem de hérnia de disco deve corresponder a quadro clínico de hérnia de disco. Para evitar equívocos dessa natureza, o médico precisa ter em mente o conhecimento do valor preditivo de exames complementares e das variáveis da história e do exame físico. O valor preditivo é a capacidade que têm algumas determinadas variáveis da história, do exame físico e/ou complementar, de predizer quão específicas (especificidade) ou sensíveis (sensibilidade) elas são, e quais são os seus níveis de significância estatística nos estudos comparativos para se chegar ao diagnóstico final. Dessa forma, a caracterização etiológica faz da síndrome dolorosa lombar um processo eminentemente clínico, em que os exames complementares devem ser solicitados e valorizados em conformidade com os seus valores preditivos positivos e/ou negativos. A sua solicitação implica a existência de uma hipó- tese clínica, anteriormente levantada. Os exames complementares, na maioria das vezes, servem tão- somente para confirmá-la. Do ponto de vista evolutivo, as lombalgias, lombociatalgias e ciáticas decorrentes de mais de uma centena de causas podem ser caracterizadas como agudas ou lumbagos, subagudas e crônicas(11). As dores lombares, ciatalgias e ciáticas podem ser primárias da coluna vertebral, das vértebras, de seus ligamentos e articulações, da medula espinhal e raízes nervosas, ou secundárias e/ou decorrentes de órgãos contíguos a ela ou dela distantes, com ou sem envolvimento neurológico. Daí, mais perti- nente que a denominação sindrômica de lombalgias e lombociatalgias é a proposta atual de doenças da coluna vertebral lombar. Para se chegar ao diagnóstico específico causal, o raciocínio clínico tem como instrumento principal o valor preditivo. Para tal, é preciso conhecer o que é um falso-positivo [pacientes sem doença e resultado do teste positivo (abolição de reflexo e sem hérnia de disco)], verdadeiro-positivo [pacientes com do- ença + resultado do teste positivo (abolição de reflexo e hérnia de disco)], falso-negativo [pacientes com doença e resultado do teste negativo (reflexo normal e com hérnia de disco)] e verdadeiro-negativo [pacientes sem doença + resultado do teste negativo (reflexo normal e sem hérnia de disco)]. O reconhecimento das variáveis implicadas (sintomas, sinais e achados do exame físico), a sua distri- buição nas curvas de frequência e outros aspectos estudados em Epidemiologia, constituem desafio para o especialista. O tratamento das doenças da coluna vertebral depende desses conhecimentos. Para tanto, o seu arsenal de doutrina e prática médicas sobre o tema em questão precisa ser amplo e ele [especialista] deve utilizá-lo corretamente, sem tendenciosidades e com a precisão científica que a medicina baseada em evidências requer. AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 11 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Etiopatogenia Causas mecânico-degenerativas As doenças mais frequentes da coluna lombar são as de natureza mecânico-degenerativa. Sua produ- ção tem origem em alterações das estruturas anatômicas, desvios biomecânicos e distúrbios vascula- res do segmento lombar, ou na interação destes três fatores. Lombalgia mecânica comum A lombalgia mecânica comum, antes denominada lombalgia inespecífica ou idiopática, é a forma ana- tomoclínica inicial de apresentação e a mais prevalente das doenças de base mecânico-degenerativa. Nessas causas mecânico-degenerativas, os conhecimentos disponíveis baseiam-se em modelo teórico que é o da unidade anatomofuncional (UAF). bEssa é considerada a menor unidade de movimento do segmento lombar, composta por um par de vértebras justapostas, duas articulações sinoviais, as zigapofíseas (ou zigapofisárias), o seu corres- pondente complexo disco-ligamentar e a sua respectiva inervação. Quando ocorre um desequilíbrio mecânico, decorrente dos mais variados fatores - principalmente aqueles que afetam os postulados da 1a Lei de Newton, tal desequilíbrio, ao prejudicar a eficiência biomecânica da unidade anatomofuncio- nal, dá início às alterações patológicas que levam ao fenômeno doloroso. Outras doenças que podem causar um desequilíbrio mecânico • Spina bifida occulta; • Distensão muscular e/ou ligamentar; • Anomalias da transição lombossacral; • Encurtamento de membros (> 1,5 mm); • Alterações do ângulo lombossacral; • Atopia da primeira vértebra sacra; • Escolioses discretas/moderadas; • Degeneração com espessamento do ligamento amarelo; • Instabilidade vertebral: ântero-listeses e retrolisteses; • Espondilólise; • Espondilolisteses; • Artrose zigapofísea; • Pés planos, valgos e cavos; • Hérnia de disco; • Discopatia degenerativa crônica; • Canal estreito artrósico com ou sem claudicação neurogênica intermitente; • Megapófise transversa (síndrome de Bartoletti); • Fraturas traumáticas; • Fraturas patológicas (devido a câncer primário e/ou metastático, mieloma múltiplo); • Escolioses e cifoses graves(15). AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 12 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Doenças sem a participação inicial do fator mecânico Inflamatórias As espondiloartropatias soronegativas (espondilite anquilosante, sacroiliites indiferenciadas, doença de Reiter, sacroiliites indiferenciadas, artropatia psoriásica, espondiloartropatias associadas à doença in- flamatória intestinal) são entidades que comprometem não apenas a coluna vertebral, mas também bacia, enteses e outras estruturas orgânicas. Essas [espondiloartropatias] caracterizam-se por dor lom- bar matinal, rigidez vertebral, poliartrite assimétrica - mais de membros inferiores do que superiores - e entesites (inflamação das inserções ligamentares no osso), como a calcaneodinia. Às vezes, como na espondilite anquilosante, a dor lombar é baixa, ou mais localizada nas nádegas, e irradia-se para as coxas, de forma alternada. Outras vezes, esses sintomas são acompanhados ou precedidos de dor nas articulações do esterno, bilateralmente, e diminuição da expansibilidade torácica, devido ao com- prometimento das juntas costovertebrais. Infecciosas Espondilodiscites, abscesso peridural e intradural. A tríade febre alta, dor com rigidez vertebral e he- mossedimentação elevada é o pilar do diagnóstico clínico nas espondilodiscites infecciosas por bacté- rias comuns. Na tuberculose vertebral, também uma espondilodiscite infecciosa, os sinais e sintomas mais frequentes são febrícula ou febre, suores noturnos, abscessos frios paravertebrais, velocidade de hemossedimentação alta e cavidades intra-somáticas nos corpos vertebrais. Em pacientes com lom- balgia crônica, esses achados devem ser considerados relevantes. Neoplásicas Linfomas e leucemias, carcinoma metastático, tumores intra-espinhais, tumores primários das vérte- bras, tumores retroperitoneais, doença de Paget. Por doenças das vísceras Prostatite, calculose renal, endometriose, pielonefrite, abscesso perineal, aneurisma de aorta, pancre- atite, doenças do estômago e intestinos, doença inflamatória pélvica, colecistite, fibrose retroperitoneal. Metabólicas As mais prevalentes são osteoporose, osteomalacia e hiperparatireoidismo, que cursam com baixa massa óssea. Frequentemente apresentamvárias formas e graus de fraturas ósseas nos corpos ver- tebrais, determinando, na maioria das vezes, transtornos biomecânicos nas unidades anatomofuncio- nais. O simples fato de se encontrar diminuição de massa óssea, pela densitometria ou por qualquer outro método, não significa que a dor lombar seja proveniente dessa diminuição. Para que a osteoporose seja considerada responsável pela lombalgia e/ou dorsalgia, são necessários os seguintes critérios: • Dor óssea grave, localizada, associada a espasmo muscular. • Cifose progressiva assintomática. • Exame físico pobre. • Ausência de dor radicular e anormalidades neurológicas. Convém lembrar que se deve sempre investigar as causas secundárias à osteoporose, como mieloma múltiplo, metástases tumorais e outras. A osteoporose, por si só, não dói, e sim as alterações mecânico- posturais dela decorrentes. Associadas a transtornos psicossomáticos Distúrbios emocionais podem levar à dor lombar ou agravar as queixas resultantes de outras causas orgânicas preexistentes. A anamnese é fundamental para identificar o fator psicogênico, comprovada- mente importante, nas formas crônicas de dor lombar. AFECÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL CERVICOBRAQUIALGIAS, DOR- SALGIAS, LOMBALGIAS E LOMBOCIATALGIAS AGUDAS E CRÔNICAS 13 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Fibromialgia e síndrome miofascial A fibromialgia e a síndrome miofascial são causas frequentes de dor lombar. Ambas não têm um claro substrato anatomopatológico que as confirme, mas existem evidências de contraturas musculares e hipóxia tissular. Uma das características da fibromialgia, entre outros achados, é a presença de pontos dolorosos, alguns deles na região lombar. Nas síndromes miofasciais, a dor é desencadeada pela di- gitopressão de "pontos-gatilho" e sentida em estruturas distantes deles. Ultimamente, a existência de fibromialgia tem sido questionada, pelo próprio autor dessa denominação (Frederick Wolf) e outros, como uma entidade nosológica distinta. A adequada avaliação dos pacientes portadores de lombalgias e lombociatalgias deve pressupor uma interação entre os achados clínicos e aqueles revelados pelos exames complementares (laboratoriais e de imagem), cuja solicitação deve suceder à criteriosa coleta de história e realização de exame físico completo. A avaliação isolada de achados de imagem é, portanto, destituída de valor, conduzindo, muitas vezes, a conclusões errôneas. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________
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