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129 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011
Fim de jogo no Estreito de Taiwan?
Amaury Porto de Oliveira
In June 29, 2010, delegations from the People’s Republic of China (PRC) and Republic of China (the name of the 
nationalist regime established on the continent in the early twentieth century) signed in the Chinese city of 
Chongquing a Framework Agreement on Economic Cooperation. With some optimism that can be viewed as 
the beginning of the step that will lead to the final solution of the Question of Taiwan. The signing of the 
agreement marked the end of two years of negotiations between the Chinese Association for Relations Across 
the Taiwan Strait (Arats, the English acronym) and Taiwan’s Strait Exchange Foundation (SEF). The entities 
concerned, formally unofficial, were created fifteen years ago, but were halted between 1997 and 2008, when 
separatist tendencies prevailed in Taipei.
A 29 de junho de 2010, delegações da 
República Popular da China (RPC) e da 
República da China (nome do regime na-
cionalista criado no continente no início 
do século XX) assinaram, na cidade chine-
sa de Chongquing, um Acordo Quadro de 
Cooperação Econômica (ECFA – Econo-
mic Cooperation Framework Agreement), 
que com algum otimismo pode ser visto 
como o início da etapa que levará à solu-
ção fi nal da Questão de Taiwan.
A assinatura marcou o fi m de dois anos 
de negociações entre a chinesa Associação 
para as Relações através do Estreito de 
Taiwan (Arats – Association for Relations 
Across the Taiwan Straits) e a taiwanesa 
Fundação para Intercâmbios no Estreito 
(Sef – Straits Exchange Foundation). As 
entidades em causa, formalmente não ofi -
ciais, foram criadas há quinze anos, mas 
estiveram paralisadas entre 1997 e 2008, 
quando predominaram em Taipé tendên-
cias independentistas. Foram os presiden-
tes delas que assinaram o acordo de agora, 
e Chongquing foi escolhida para a cerimô-
nia de assinatura por ter sido lá que se 
desenrolaram na década dos 1940, com 
intermediação dos Estados Unidos, os úl-
timos esforços de conciliação entre o Kuo-
mintang (KMT), de Chiang Kai-shek, e as 
forças de Mao Zedong, antes da fuga dos 
nacionalistas para a Ilha de Formosa. O 
clima para as negociações entre a Arats e a 
SEF foi criado no plano governamental, 
depois que a expressiva vitória eleitoral 
do candidato do KMT, em março de 2008, 
pôs fi m a oito anos da presidência inde-
pendentista de Chen Shui-bian.
Respaldadas por seus respectivos go-
vernos, a Arats e a SEF lançaram-se ao 
trabalho. Duas rodadas de conversações 
foram realizadas ainda em 2008 e, em abril 
de 2009, os presidentes das duas associa-
ções encontraram-se na cidade chinesa de 
Nanquim para assinar ajustes, como o da 
conversão em voos rotineiros dos voos 
charter, que já vinham sendo permitidos 
entre cidades dos dois lados do Estreito. A 
frequência dos voos foi aumentada de 108 
para 270 por semana e seis novos destinos 
Amaury Porto de Oliveira é embaixador aposentado, 
membro do Gacint/IRI-USP é especialista em temas asiá-
ticos. Em sua carreira de 45 anos, serviu em vários pos-
tos diplomáticos, entre eles, Cingapura, onde chefiou 
a embaixada brasileira no período entre 1987 e 1990.
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ARTIGOS
no continente foram abertos. Assinaram-
-se ainda ajustes sobre serviços fi nanceiros 
e para a cooperação no combate a ações 
criminosas. No mês de julho, o Ministério 
de Assuntos Econômicos de Taiwan pas-
sou a aceitar requerimentos de inves ti-
dores do continente, e começaram a ser 
concluídos, entre repartições governa-
mentais da China e de Taiwan, memo-
randos de entendimento nos terrenos fi -
nanceiro e bancário. Paralelamente aos 
avanços nessas diversas frentes de traba-
lho, ia-se perseguindo o objetivo-maior do 
Acordo Quadro, que foi afi nal delineado 
em dezembro de 2009, num importante 
encontro dos presidentes da Arats e da 
SEF, na cidade taiwanesa de Taichung. 
Assinaram-se ali três novos acordos: sobre 
a estandardização de produtos industriais, 
quarentena de alimentos e pesca.
Meu propósito neste trabalho é recons-
tituir, em linhas gerais, a evolução da ve-
lha Formosa, de colônia japonesa a im-
portante centro da indústria global da 
informação. Especular, em seguida, sobre 
as perspectivas de fi m de jogo para a 
Questão de Taiwan, que possam estar sen-
do abertas pelo Acordo Quadro assinado 
em 2010. Antes, porém, de enveredar por 
esses terrenos, descreverei desenvolvi-
mentos do último lustro, que tornaram 
viável a própria conclusão do Acordo.
Um divisor de águas1
Tem-se tornado usual assinalar 2008 
como momento de virada nas relações 
políticas entre os dois lados do Estreito de 
Taiwan, em consequência das expressivas 
vitórias do KMT, tanto na eleição legislati-
va do mês de janeiro quanto na eleição 
presidencial de março, na Ilha. É fora de 
dúvida que o afastamento do poder do 
Partido Democrático Progressista (PDP) e 
de Chen Shui-bian ampliou as possibilida-
des de trabalho entre Pequim e Taipé. Mas 
eu tendo a datar de 2005 o divisor de 
águas, opção também feita, entre outros, 
pelo pesquisador britânico Dafydd Fell, 
em artigo na “Asian Survey”.
Paradoxalmente, o desenvolvimento 
que vejo como o acicate dos novos tempos 
costuma ser citado, pela mídia ocidental, 
como evidência da beligerância empeder-
nida dos chineses continentais: a Lei Anti-
-Secessão, promulgada em Pequim pelo 
Congresso Nacional do Povo (14/03/05). 
Essa lei tornou obrigatória a intervenção 
armada do governo de Pequim, se e quan-
do os governantes de Taipé cruzarem 
umas quantas linhas de comportamento, 
dando passos interpretáveis, como o lan-
çamento do processo de independência 
da Ilha.
Em meados de 2005, passei dois meses 
na China buscando melhorar meu entendi-
mento dos processos em marcha, através 
de entrevistas e conversas com intelectuais 
chineses, correspondentes estrangeiros e 
diplomatas lá em posto. Dentre os docu-
mentos que pude coletar, sem autorização 
para identifi car a fonte, destaco o texto de 
uma conferência feita para público seleto 
pelo professor Yan Xuetong, que era na 
época o diretor do Instituto de Estudos In-
ternacionais da Universidade Tsinghua, 
em Pequim. O Professor Yan é também um 
dos líderes da chamada Nova Esquerda, 
combativa tendência dentro do Partido Co-
munista Chinês (PCC), a qual esteve muito 
por trás da elaboração e aprovação da Lei 
Anti-Secessão. Na conferência menciona-
da, de que farei um resumo, Yan expôs com 
clareza os raciocínios que explicam a Lei 
Anti-Secessão, na ótica de seu grupo.
Ele começou distinguindo duas fases 
no desdobramento da Questão de Taiwan. 
De 1949 (criação da RPC e fuga dos nacio-
nalistas para Taiwan) até 1992, duas auto-
ridades políticas separadas pelo Estreito 
porfi avam pelo governo de todo o territó-
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FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
rio da China. Nos anos 1990, quando to-
maram corpo as ideias de uma identidade 
taiwanesa propaladas pelo presidente Lee 
Teng-hui; a disputa deixou de ser pelo 
governo da China para ir-se fi xando na 
pretensão de soberania sobre uma parcela 
do território chinês.
Para os governantes de Pequim, nas 
palavras do professor Yan, é aceitável que 
as autoridades constituídas em Taipé rei-
vindiquem o poder sobre a parcela de ter-
ritório que são capazes de governar. Nega-
se-lhes, porém, o direito de contestar que 
Taiwan é parte da China. Ninguém tem o 
direito de estabelecer um novo país sobre 
parte do território da China. Pequim tem 
consciência de que existe aí uma situação 
anômala, mas vê sua permanência como 
resultado da sustentação militar dada pe-
los Estados Unidos ao regime de Taiwan.
Em outras palavras, a mudança de 
uma disputa entre partidos pelo governo 
da China para a reivindicaçãode sobe-
rania sobre parcela do território chinês 
resultou da interferência de potência ex-
terna nos assuntos internos da China. In-
terferência que não teve ligação direta 
com a Guerra Fria. Ao contrário, os forne-
cimentos de armas americanas ao regime 
de Taipé aumentaram bastante após o co-
lapso da URSS, na medida em que a China 
perdeu interesse para os Estados Unidos 
como auxiliar na contenção aos soviéticos.
Os dirigentes de Pequim veem a Ques-
tão de Taiwan como um remanescente da 
guerra civil chinesa, dando azo à política 
ofi cial do “Direito à Recuperação por Via 
Militar”. Foi só a partir das remodelações 
de Deng Xiaoping, em 1979, que se passou 
a falar de “Recuperação Pacífi ca”. Com a 
ressalva, sempre, de que essa outra posi-
ção foi elaborada na defrontação com um 
adversário que disputava o direito a go-
vernar a China. Não como resposta a um 
adversário que pretende assumir a sobera-
nia sobre parcela do território nacional 
chinês. Diante deste, a via pacífi ca só é 
mantida em virtude da preocupação de 
Pequim com a estabilidade da região, mas 
o professor Yan insiste em que a possibi-
lidade do recurso à via militar tem de ser 
preservada, até a solução defi nitiva da 
Questão. Para Yan, a premissa que guia os 
dirigentes de Pequim é a de que o tempo 
corre a favor da solução pacífi ca.
A China pode esperar até que surjam 
as condições necessárias para uma solu-
ção negociada. O aumento dos contatos 
comerciais e pessoais através do Estreito e 
o fortalecimento econômico da China con-
tinental levarão, inexoravelmente, ao apa-
recimento de tais condições. Os membros 
da “Nova Esquerda” começavam, contu-
do, a inquietar-se com essa tranquilidade 
da parte dos dirigentes de Pequim.
O fato era, enfatizou Yan, que o tempo 
não estava correndo a favor da solução 
pacífi ca; tampouco era certo que o desen-
volvimento econômico da China fosse ga-
rantir a solução negociada da Questão. O 
movimento separatista surgira e crescera 
em Taiwan paralelamente com a política 
de abertura e desenvolvimento econômico 
da RPC, e as “forças básicas” aglutinadas 
nos partidos taiwaneses favoráveis à inde-
pendência vinham crescendo, a cada elei-
ção. A atitude de “espera indefi nida” dos 
dirigentes de Pequim aproximava-se do 
seu limite, diante das evidências de que a 
clique de Chen Shui-bian preparava-se 
para acelerar o processo de separação, in-
clusive com algum feito de impacto sob a 
proteção dos Jogos Olímpicos que se apro-
ximavam. Estados Unidos e Japão tinham 
todo interesse na separação da Ilha, apesar 
do apoio formal de Washington ao status 
quo no Estreito. Na verdade, “manter ou 
alterar o status quo” reduzia-se a apoiar a 
independência gradual ou imediata. Em 
última análise, a política da reunifi cação 
pacífi ca transmitia aos independentistas 
de Taiwan e seus aliados uma imagem de 
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ARTIGOS
imobilismo de Pequim, e até de aceitação 
de passos mais ousados. Para manter sua 
credibilidade internacional, o governo de 
Pequim precisava adotar com urgência 
posições mais fi rmes.
Tal foi a gênese da Lei Anti-Secessão, e 
a principal conclusão que se tira da confe-
rência do professor Yan é a de que os pro-
motores desse texto legal estavam, talvez, 
mais preocupados em pressionar os diri-
gentes de Pequim do que propriamente os 
separatistas de Taipé. Hu Jintao, nomeado 
secretário-geral do PCC em outubro de 
2002 (XVI Congresso do PCC) e elevado à 
Presidência da República na sessão de 
março de 2003 do Congresso Nacional do 
Povo, viu ali a oportunidade de obter a 
posição que lhe faltava, de presidente da 
Comissão Militar Central, o chefe supre-
mo das Forças Armadas chinesas. No dia 
13 de março de 2005, ele endossou viva-
mente a Lei Anti-Secessão, em discurso 
claramente dirigido às “forças patrióticas” 
do regime, pronunciado no CNP, onde 
havia sido depositado o Projeto de Lei.2 
Horas depois do discurso, Hu foi designa-
do para a Presidência da CMC, por 2.886 
votos a favor, 6 votos contra e 6 absten-
ções. A Lei seria aprovada no dia seguinte. 
Tendo tomado em mãos a situação, Hu 
contra-atacou com habilidade, convidan-
do o líder do KMT em Taiwan, Lien Chan, 
a visitá-lo em Pequim. A visita ocorreu 
logo em abril, com grande impacto midiá-
tico nos dois lados do Estreito, e a Questão 
de Taiwan acabou recolocada no seu anti-
go contexto de problema entre partidos.
A imagem televisionada do presidente 
da China recebendo em Pequim o líder
do KMT, vindo direto de Taipé para esse 
encontro, sacudiu o ambiente político nos 
dois lados do Estreito. Era a primeira reu-
nião pública da liderança do PCC e do 
KMT, desde os idos dos anos 1940. Vários 
ajustes foram assinados, no nível parti-
dário, com relevo para um esquema de 
reuniões e consultas seguido ainda hoje. 
Ainda em 2005, outras personalidades
políticas da Ilha fi zeram a peregrinação
a Pequim, e foi tornando-se inviável o 
plano de um referendo de cunho inde-
pendentista, acalentado pelo governo de 
Chen Shui-bian. Foram essas novidades 
no plano de partidos que forneceram a 
base para os entendimentos de governo
a governo, iniciados quando o KMT vol-
tou ao poder em Taiwan, no ano de 2008.
O quadro histórico
Guiando-me pela periodização adota-
da por Edwin A. Winckler,3 cabe aqui dar 
uma ideia de como Formosa (Taiwan) evo-
luiu na Idade Moderna. Até o início do 
século XVI, a Ilha foi terra de ninguém, 
entregue à sua população aborígene de 
origem pouco precisa. Winckler cita, a 
partir daí, três grandes eras: imperial chi-
nesa (1500-1895); colonial japonesa (1895-
1945), e republicana (nacionalista) chinesa 
(1945-presente). Na verdade, o poder im-
perial chinês só se fez sentir com força em 
meados do século XVII, no contexto da 
derrota da dinastia Ming pelos manchus 
Ching. Curiosamente, remanescentes do 
poder Ming fugiram para a Ilha, onde um 
deles, Koxinga, governou durante algum 
tempo. Nessa era, Taiwan viveu por lon-
gos períodos na interface do mundo tradi-
cional chinês com o nascente capitalismo 
europeu, representado no caso por nave-
gadores de grande distância portugueses, 
espanhóis e holandeses. Em 1855, navega-
dores americanos hastearam a bandeira 
dos EUA numa praça-forte em Kaohsiung 
e, pouco depois, a coligação anglo-fran-
cesa que derrotara a China na Segunda 
Guerra do Ópio declarava aberto o porto 
de Tainan. A esta altura, alemães e japone-
ses mobilizavam-se para também obter 
posições coloniais no Leste Asiático. O Ja-
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FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
pão visou desde o início a Península 
Corea na, onde o rei Kojong acabou pedin-
do a ajuda da China. Antes mesmo de os 
chineses conseguirem acudir os coreanos, 
o Japão atacou e destruiu o destacamento 
naval da China, impondo a esta o Tratado 
de Shimonoseki (1895), que entregou For-
mosa e as Ilhas Pescadores aos japoneses.
O Japão buscava integrar-se na Primei-
ra Revolução Industrial, quando já se ti-
nham esgotado as condições para o cami-
nho liberal adotado por países pioneiros, 
como a Inglaterra ou a França. Os japone-
ses precisaram recorrer às lições que esta-
va dando a Alemanha, de industrialização 
sob o comando do Estado. E tiveram tam-
bém de negociar com os imperialistas oci-
dentais sua aceitação entre eles, como um 
imperialista-tardio. Na expressão suges-
tiva de Bruce Cumings: “O Japão montou 
o Império que os anglo-americanos deixa-
ram-no montar”. De todo modo, eram 
parcas na Ásia as terras ainda disponíveis 
para serem colonizadas, e os exíguos re-
cursos do Estado japonês não lhe permi-
tiam grandes aventuras.
Tóquio foi tendo de contentar-se com a 
anexação de países vizinhos, tratados co-
mo extensões do território nacional. Vale 
dizer, ampliando a eles o sistema adminis-
trativo ea infraestrutura material já exis-
tentes no país central, com o cuidado de 
excluir os locais das camadas superiores 
de gerenciamento. Em Taiwan, por exem-
plo, a autoridade colonial arcou com 60% 
dos custos dos novos sistemas de controle 
da água e de irrigação. Investiu na educa-
ção, e a taxa de alfabetização cresceu de 
1%, em 1905, para 27%, em 1940, enquanto 
o número de matrículas no ensino elemen-
tar subia de 8,7% da população total, em 
1905, para 57% em 1935. Graças aos cuida-
dos de saúde pública, a população de 
Taiwan cresceu de 3 para mais de 5 mi-
lhões de pessoas durante a era colonial. 
Não se formou uma classe comercial e in-
dustrial taiwanesa, mas no campo os japo-
neses deixaram prosperar um estamento 
de grandes agricultores nativos, a fi m de 
manter girando a produção de arroz e 
açúcar, mercadorias que vieram a repre-
sentar 70% das exportações da Ilha, maci-
çamente destinadas ao Japão.
Em 1945, a rendição incondicional do 
Japão deixou os Estados Unidos com o 
controle de todos os territórios insulares 
ocupados no Pacífi co pelo Império Japo-
nês. O retorno de Taiwan, as Pescadores e 
outras ilhas chinesas à República da China 
(o regime de Chiang Kai-shek) já havia 
sido estabelecido nos arranjos dos Aliados 
da Segunda Guerra Mundial, nas Con-
ferências do Cairo e Potsdam. Um gover -
n a dor delegado pelo KMT logo assumiu 
em Taipé, começando a tratar a Ilha como
território conquistado. Juncos partiam 
diariamente para o continente, levando 
máquinas e outros bens saqueados de em-
presas da Ilha. Em 1947, os desmandos 
dos nacionalistas provocaram uma revolta 
dos ilhéus, na qual se diz que foram truci-
dadas entre 10 mil e 20 mil pessoas, in-
cluindo praticamente toda a elite da era 
japonesa. Estavam, por outro lado, come-
çando a chegar as levas de continentais 
que fugiam diante do avanço de Mao Ze-
dong. Estima-se em 2 milhões de indiví-
duos esses recém-chegados, que ocupa-
ram a cúpula política e militar do novo 
regime. De 1949 a 1987, Taiwan viveria 
sob a Lei Marcial. E de 1951 a 1965 foi to-
mada em mãos, para efeitos práticos, pe-
los Estados Unidos. Burocratas da Usaid 
foram dando forma, política e economica, 
a um novo país.4
A fase de dependência direta dos Esta-
dos Unidos merece um registro especial, 
para o qual vou me apoiar num conhecido 
texto de Bruce Cumings5 e em dois artigos 
inseridos na coletânea editada por Edwin 
Winckler, já citada neste trabalho. Antes 
mesmo de terminar a guerra, uma podero-
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ARTIGOS
sa coalizão de interesses domésticos pas-
sou a mobilizar-se, nos EUA, contra a
decisão da Conferência de Potsdam de 
destruir o poderio industrial e militar do 
Japão, decisão que começou a ser imple-
mentada pelo comandante da ocupação, 
general MacArthur.
A vitória dos comunistas na China 
abriu caminho para o triunfo da coalizão 
em causa, na chamada “inversão de cur-
so”. O Japão foi mantido numa posição de 
vassalagem, mas como a peça-chave do 
dispositivo estratégico de contenção da 
RPC, montado por Washington no Pacífi -
co Norte. Uma economia regional do Nor-
deste Asiático foi sendo também desen-
volvida, atribuindo-se ao Japão o papel de 
cabeça industrial, com a metade sul da 
Península Coreana e Taiwan como suce-
dâneos da velha hinterlândia colonial ja-
ponesa, e os países do Sudeste Asiático, na 
medida em que se liberavam dos coloni-
zadores europeus, transformados em for-
necedores das matérias-primas industriais 
e energéticas requeridas pela nova indús-
tria japonesa, e em absorvedores das ma-
nufaturas de baixa tecnologia que o Japão 
iria poder produzir. A Guerra da Coreia, 
em 1950, consolidaria tudo isso. O dinhei-
ro americano nela derramado funcionaria 
como um Plano Marshall para o Japão, e a 
intervenção de centenas de milhares de 
“voluntários” chineses, se de um lado le-
vou ao armistício de 1953 (até hoje não 
superado), deu azo à decisão do presiden-
te Truman de isolar militarmente Taiwan.
No primeiro dos dois artigos acima 
mencionados,6 Richard Barrett apoia-se 
em documentos ofi ciais americanos torna-
dos públicos em diferentes momentos
para estabelecer uma diversidade de po-
sicionamentos em relação a Taiwan, da 
parte das autoridades norte-americanas. 
Os militares eram favoráveis à manuten-
ção de um regime politicamente estável
e pró-americano na Ilha embora não se 
mostrassem dispostos (até a Guerra da 
Coreia, pelo menos) a empenhar muitos 
recursos nesse objetivo.
No Departamento de Estado, preva-
lecia a tese de que um apoio limitado a 
Taiwan poderia trazer benefícios de curto 
prazo para Estados Unidos, mas havia o 
risco de prejudicar as relações com a RPC, 
se esse apoio fosse sendo prolongado. Em 
contraste com a cautela dos militares e di-
plomatas, os mais entusiasmados com o 
progresso de Taiwan eram os burocratas 
da Usaid. Eles viam na Ilha a oportuni-
dade única de promover o desenvolvi-
mento econômico e social de uma grande 
área rural, experiência distinta da recons-
trução de zonas industriais pela simples 
adição de capitais e tecnologia. Pareceu 
até, por momentos, que os promotores da 
ajuda americana gostariam de ver a der-
rocada do governo nacionalista, a fi m de 
substituí-lo por um mandato das Nações 
Unidas. Típica dessa linha de pensamento 
foi a criação pelo Congresso americano, 
em 1948, da Comissão Conjunta Si no-
-Americana para a Reconstrução Rural 
(JCRR, Sino-American Joint Commission 
on Rural Reconstruction), que faria as ve-
zes de Ministério da Agricultura de Taiwan 
até 1979, com orçamento anual votado 
pelo Congresso dos Estados Unidos. Gra-
ças à JCRR, o governo de Taipé pôde levar 
adiante programas de ajuda técnica agrí-
cola a muitos países africanos, com efeitos 
práticos na disputa pelo reconhecimento 
diplomático sustentada com Pequim.
Como de esperar, ao promoverem a 
formação de uma economia regional do 
Pacífi co Norte no quadro da reorganiza-
ção estratégica da área, no pós-Segunda 
Guerra Mundial, os Estados Unidos bus-
caram incentivar o desenvolvimento de 
economias nacionais de tipo capitalista. 
Um dos primeiros cuidados foi efetuar 
reformas agrárias radicais nos países des-
tinados a liderar a “Esfera Comercial do 
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FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
Oriente”: Japão, Coreia do Sul e Taiwan. 
As reformas foram levadas adiante quase 
que simultaneamente, na virada dos 1940 
para os 1950, e o mesmo técnico ameri-
cano, Wolf Ladejinsky, esteve nos três paí-
ses para os retoques fi nais. No segundo 
dos artigos acima evocados, Denis Fred 
Simon7 amplia o exame da obra de state-
-building posta em marcha pelos Estados 
Unidos em Taiwan. Na verdade, a grande 
responsável por esse trabalho foi a Mutual 
Security Agency (MAS), que atuava na 
Ilha através de dois braços: a missão da 
AID e a missão do Military Assistance 
Advisory Group (MAAG). Esta última en-
carregada de assistir no levantamento das 
estruturas defensivas necessárias e no trei-
namento do pessoal adequado. Quanto à 
Usaid, como mostra Simon, sua contribui-
ção foi muito além da mercantilização do 
ambiente rural. Os conselheiros america-
nos empenharam-se em promover o for-
talecimento do setor privado, diante das 
tendências estatizantes do governo de Tai-
pé, e é possível colher, em outras fontes, 
relatos de como a Usaid usava sua in-
fl uência para profi ssionalizar burocratas e 
técnicos taiwaneses segundo as normas 
americanas, frustrando a carreira de quem 
não parecia útil à consolidação de uma 
economia capitalista.8
Em 1965, os Estados Unidos suspen-
deram a ajuda fi nanceira direta a Taiwan. 
Calcula-se que, nos quinze anos de sua 
duração, US$ 1,5 bilhão (de 1950) tenham 
sido doados a fundo perdido: 40% em mé-
dia da formação anual de capital. Os con-
selheirosda Usaid haviam ensinado aos 
taiwaneses os segredos do desenvolvi-
mento puxado pelas exportações; haviam 
aberto o mercado doméstico americano às 
manufaturas de baixa tecnologia que a 
nova indústria taiwanesa começara a pro-
duzir; e haviam também estimulado os 
investimentos diretos estrangeiros na eco-
nomia local. O governo de Taipé dava 
mostras de que poderia continuar a cami-
nhar com as próprias pernas. Contudo, tal 
como estivera acontecendo com a Coreia 
do Sul, Taiwan recebera a missão de fun-
cionar como bastião do dispositivo estraté-
gico americano de contenção da China, e 
precisava manter um estabelecimento mi-
litar adequado, com a maior autonomia 
possível em termos de autofi nanciamento 
e de abastecimento de armas. Nos anos 
1970, sobretudo depois da retirada militar 
dos Estados Unidos do Sudeste Asiático e 
do lançamento da Doutrina Nixon, Coreia 
do Sul e Taiwan ainda precisaram ser aju-
dados pelos Estados Unidos a levantar in-
dústrias para a fabricação de armamentos, 
recebendo inclusive licenças de produção 
que eram negadas a países da OTAN.9
O Estado desenvolvimentista 
Chalmers Johnson, da Universidade
de Berkeley, foi o grande teorizador do 
Estado Desenvolvimentista, num livro 
que marcou época: MITI and the Japanese 
Miracle (Stanford, 1982). Ele centralizou 
sua análise no Estado que a “reversão de 
curso” dos Estados Unidos permitira
renascer no Japão do pós-Segunda Guerra 
Mundial, mas o modelo desenvolvimen-
tista surgira na virada do século XIX para 
o século XX, quando os japoneses efetua-
ram sua primeira industrialização, guia-
dos pelos ensinamentos colhidos na Ale-
manha. Na sua nova versão, o Estado 
Desenvolvimentista japonês foi também 
adotado pela Coreia do Sul e por Taiwan. 
Há toda uma corrente de pensamento que 
contesta esta última observação e procura 
explicar o surto de modernização de 
Taiwan pela via do liberalismo econômico 
pregado pelos anglo-americanos. É possí-
vel levantar uma grande bibliografi a de 
livros e artigos em defesa de cada uma das 
duas posições, mas não terei espaço para 
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136 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
entrar nesse debate. Levarei adiante a re-
construção que estou fazendo, apoiado na 
aceitação das teses desenvolvimentistas.
Para Chalmers Johnson, são quatro os 
fatores que compõem o Estado Desenvol-
vimentista: (1) a autonomia do Estado 
diante da sociedade civil, ou seja, a razão 
econômica prima sobre interesses particu-
laristas; (2) a elite do país ou parte decisiva 
dela chega a um consenso sobre a imperio-
sidade do desenvolvimento; (3) há uma 
efetiva participação do aparelho do Estado 
na condução dos negócios públicos; (4) o 
Estado conduz uma política industrial em 
consonância com as exigências do mer-
cado mundial. Nos anos 1960 a 1980, 
Taiwan satisfez essas quatro condições,10 
mostrando-se apta a conquistar nichos no 
mercado internacional para o escoamento 
de suas manufaturas intensivas em traba-
lho, a princípio, e intensivas em capital e 
conhecimento a seguir. Na fase avançada, 
a indústria dos componentes semicondu-
tores, base de todas as múltiplas aplica-
ções da eletrônica, foi o setor que maior 
atenção recebeu em Taiwan, tanto do go-
verno quanto do empresariado. Em 1973, 
foi criada a estatal Electronics Research 
and Services Organisation (ERSO), com a 
missão de encontrar um parceiro transna-
cional para a instalação da indústria tai-
wanesa dos semicondutores, o que veio a 
acontecer em 1977. Em associação com a 
RCA, o governo de Taipé investiu mais
de US$ 3 milhões na aquisição de conheci-
mentos teóricos e formação de pessoal, até 
fundar a United Microelectronics Corpo-
ration (UMC) e a Taiwan Semiconductors 
Manufacturing Company (TSMC), em 
1987. A evolução dessa indústria merece 
atenção, tanto pelo papel de liderança que 
ela adquiriu no progresso de Taiwan, 
quanto por ter se tornado a grande arena 
de resistência à China continental.11
Numa iniciativa claramente voltada 
para estimular o desenvolvimento econô-
mico apoiado no conhecimento, o governo 
de Taipé fundou em 1980 o Hsinchu Scien-
ce-based Industrial Park (HSIP), numa 
área a 70 quilômetros da capital, onde 
atua vam instituições acadêmicas e de pes-
quisas. Uma delas, o Industrial Technolo-
gy Research Institute (ITRI), estava ativa 
desde 1973, preparando o terreno para as 
tecnologias da informação (TI) e a indús-
tria dos circuitos integrados (CI). O Hsin-
chu veio a ser o grande catalisador da as-
censão mundial de Taiwan nas TI e CI, 
graças inclusive a seu papel na atração de 
chineses que estivessem estudando ou tra-
balhando no exterior, nesses setores. Em 
1994, o número dos retornados alcançaria 
o pico de 6.500 indivíduos, responsáveis 
pela fundação de algumas centenas de 
empresas especializadas, na Ilha.
A essa altura, Taiwan ocupava o tercei-
ro lugar mundial na produção de material 
microeletrônico, atrás apenas dos Estados 
Unidos e do Japão. Uma de suas inovações 
mais bem-sucedidas fora a separação de 
subsetores no interior da grande indústria 
dos CI. Empresas taiwanesas especializa-
ram-se em fundições para o fabrico das 
bolachas de silício (wafers), sem preocu-
par-se com o desenho do circuito integra-
do a ser nelas implantado. Essa separação 
entre dois tipos de atividades complexas e 
caras permitiu avanços tecnológicos em 
cada um deles, e a proliferação de compa-
nhias, ditas fabless, concentradas nos dese-
nhos dos circuitos. As fabless multiplica-
ram-se nos EUA, enquanto Taiwan liderava 
nas fundições. Mas em 1988 ganhou con-
tundência um elemento perturbador dos 
êxitos de Taiwan: o fator RPC. Em julho, o 
governo de Pequim promulgou um “Re-
gulamento para o Incentivo de Investi-
mentos dos Compatriotas Taiwaneses”.
Ao pôr em marcha, em 1979, seu gran-
de esforço de aggiornamento da RPC, Deng 
Xiaoping dera desde o início destaque ao 
trabalho com Taiwan. Além da criação da 
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137 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011
FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
ZEE de Xiamen, fazendo face à Ilha, Pe-
quim suspendeu o bombardeio das ilhotas 
de Quemoi e Matsu, em execução desde 
1950, e o Congresso Nacional do Povo 
emitiu uma “Carta aos Compatriotas de 
Taiwan”, conclamando-os ao estabeleci-
mento de relações diretas – comerciais, 
marítimas e postais – entre os dois lados 
do Estreito. O governo de Taipé respondeu 
com frieza, mas o empresariado mostrou-
-se crescentemente interessado no apro-
fundamento de tais relações. Em meados 
dos anos 1980, depois da assinatura do 
acordo sino-britânico para o retorno de 
Hong Kong à soberania chinesa, Pequim 
intensifi cou sua campanha de “um país 
dois sistemas” em direção a Taiwan, e tam-
bém os esforços diplomáticos pelo “desre-
conhecimento” do governo taiwanês.
Particularmente dolorosa para Taipé 
havia sido a decisão de Washington de 
transferir para Pequim o seu reconheci-
mento. E quando os americanos interferi-
ram em todo o quadro fi nanceiro do Leste 
Asiático, na famosa reunião do Hotel Pla-
za em Nova York (1985), Chiang Ching-
kuo, fi lho e sucessor de Chiang Kai-shek 
no comando do partido único KMT, con-
cluiu ser oportuno democratizar o sistema 
político de Taiwan. Em entrevista dada à 
proprietária do Washington Post (7/10/86), 
ele anunciou sua determinação de suspen-
der a Lei Marcial e a proibição à formação 
de partidos políticos.12
A suspensão da Lei Marcial fl exibilizou 
a posição de Taipé em relação aos investi-
mentos na RPC, desde que feitos de forma 
indireta, em geral através de Hong Kong. 
No continente, enquanto isso, tomava im-
pulso a política de estimular companhias 
estrangeiras a virem produzir na China, 
trazendo os insumos e a tecnologia, e com 
a obrigação de exportar o produzido. Con-
dições especiais foram dadas aos taiwane-
ses, que podiam vender no mercado do-
mésticochinês até 30% dos seus produtos. 
As indústrias de baixa tecnologia (a dos 
calçados, v.g.) começaram a cruzar em 
massa o Estreito, levando o governo de 
Taipé a introduzir medidas administrati-
vas, como limites para as somas que in-
vestidores taiwaneses podiam investir no 
continente, ou cotas para o volume de ex-
portações permitido. Apesar dessas medi-
das, o fl uxo de investimentos e exporta-
ções da Ilha não parava de crescer, e em 
2001 deu um salto, em virtude do ingresso 
das “duas Chinas” na OMC. É consenso, 
entre os economistas, que Taiwan benefi -
ciou-se mais do que qualquer outro país 
do ingresso da RPC na OMC. Se se in-
cluem as exportações para Hong Kong, as 
vendas de Taiwan para a “Grande China” 
atingiram, na primeira metade de 2002, 
quase US$ 19 bilhões, ou 30% das exporta-
ções totais do país; dez pontos percentuais 
a mais do que a parcela das exportações 
taiwanesas para os Estados Unidos no 
mesmo período. Três tipos de explicações 
costumam ser usados para explicar esse 
salto: (1) a grande experiência das empre-
sas taiwanesas em exportar para a China e 
seu bom conhecimento dos sistemas de 
contingenciamento e licenciamento chine-
ses; (2) o crescente valor dos componentes 
e peças taiwaneses para os produtores do 
continente; (3) o nível cada vez maior dos 
investimentos de companhias de Taiwan 
na indústria continental.
Aspecto central do relacionamento si-
no-taiwanês é a convergência que se de-
senvolve entre as trajetórias tecnológicas 
das duas economias, à medida que ambas 
se instalam na globalização. Nos dois la-
dos do Estreito, o Estado foi o iniciador, 
facilitador e suporte de programas de 
P&D, de educação e de reestruturação 
tecnológica. Foi, também, o grande inter-
locutor das corporações transnacionais, 
no que concernia aos aspectos tecnológi-
cos das respectivas economias, e à integra-
ção delas nas redes produtivas globais.
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138 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
Em Taiwan, o governo chegou a aca-
lentar a ideia de fazer do país um Centro 
de Operação Regional da Ásia-Pacífi co, 
servindo de base para companhias trans-
nacionais interessadas em trabalhar nos 
mercados do Leste Asiático: Sudeste Asiá-
tico e China, em particular. O plano não 
marchou, basicamente porque a China 
também foi empenhando-se em atrair as 
transnacionais para trabalhar diretamente 
no mercado chinês, mudando por exem-
plo sua abordagem industrial de áreas 
territoriais para setores técnicos.
Não demorou que as companhias tai-
wa nesas das TI e CI tivessem elas pró-
prias de transferir suas atividades de pon-
ta para o continente, a fi m de enfrentar a 
concorrência das transnacionais. Foi um 
choque para Taipé quando, em 2000, dois 
grupos empresariais da Ilha anunciaram 
que iriam instalar no continente fundições 
de bolachas de silício, do tipo liderado 
por Taiwan. Em 2002, em reação a essa 
perda de vigor diante da RPC, o Estado 
Desenvolvimentista taiwanês lançou um 
programa para novo salto industrial, com 
a criação de uma economia baseada na 
inovação tecnológica. Dez áreas-chave
para atividades com maior valor agrega-
do foram identifi cadas, e atenção especial 
passou a ser dada à P&D em todas elas. 
Cerca de 70 empresas locais foram es-
timuladas a criar seus próprios centros 
inovadores.13
A interdependência
sino-taiwanesa
Recapitulando. A abertura do mercado 
continental às empresas de Taiwan esteve 
na raiz do chamado “Milagre Taiwanês”: 
um longo período (1951-1987) de cresci-
mento médio em torno de 8,8% anuais. 
Inicialmente, foram empresas pequenas e 
médias que reduziram seus custos de pro-
dução e melhoraram sua competitividade 
internacional, ao se instalarem no conti-
nente. O Estado desenvolvimentista rea-
giu ao esvaziamento industrial, promo-
vendo o surgimento de empresas mais 
intensas em tecnologia e com maior valor 
agregado, as quais, por sua vez, acabaram 
deslocando sua produção para o continen-
te, a fi m de poderem aumentar as exporta-
ções para os Estados Unidos e o Japão.
No fi nal dos anos 1980, pressões prote-
cionistas dos EUA, inclusive no terreno 
fi nanceiro com o Acordo do Hotel Plaza 
(1985), forçaram o reajuste violento da 
economia taiwanesa, dando origem a uma 
onda de investimentos diretos no exterior, 
nos Estados Unidos e na China continen-
tal, em particular. Em direção à China, um 
novo salto de investimentos aconteceria 
no novo século, com a entrada dos dois 
países na OMC. O Estado taiwanês estive-
ra impulsionando as TI e CI, mas elas 
cresceram em ligação cada vez mais estrei-
ta com o mercado chinês. Na altura de 
2006, a China continental se transformara 
no maior importador e maior exportador 
em relação a Taiwan.
Na década de 1970, com a aproximação 
estratégica entre Washington e Pequim, 
paralelamente à substituição de Taipé por 
Pequim nas Nações Unidas, teve início 
um período de esgarçamento nas relações 
de Taiwan com seu grande patrono, que 
acabou levando, no entanto, à decisão de 
Chiang Ching-kuo, fi lho e sucessor de 
Chiang Kai-shek, de democratizar seu re-
gime, em parte para revitalizar a sua legi-
timidade internacional. No início de 1986, 
tornara-se evidente que Chiang Ching-
-kuo tinha pouco tempo mais de vida. O 
problema da sua sucessão ganhava pre-
mência, e surgiam sinais de descontenta-
mento político que punham em dúvida a 
possibilidade de uma transição palaciana 
do poder.
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139 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011
FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
O velho ditador vinha dando mostras, 
porém, de notável senso da História,
tomando a iniciativa, nos seus dois últi-
mos anos de vida, de uma série de refor-
mas liberalizadoras, apesar da recalcit-
rância da velha guarda do KMT e das 
lideranças militares. Graças a isso, a che-
fi a do Estado pôde ser assumida, após a 
morte de Chiang, pelo vice-presidente 
Lee Teng-hui, um agrônomo nascido na 
Ilha e educado no Japão e EUA (Universi-
dade de Cornell).
No 13o Congresso do KMT, em outubro 
de 1988, Lee foi também conduzido à Pre-
sidência do KMT. Usando sua dupla lide-
rança, do Estado e do partido, Lee Teng-
hui promoveria a reivindicação dos ilhéus 
a uma identidade nacional taiwanesa, 
oposta à identidade chinesa. Muito se tem 
discutido e escrito em torno dessa reivin-
dicação, que, embora bastante popular na 
Ilha, ainda não obtém maioria nos sucessi-
vos recenseamentos lá realizados. É im-
portante verifi car que os chineses conti-
nentais convivem bem com a ideia. Haja 
vista os mais de 2 milhões de taiwaneses, 
entre empresários, técnicos e respectivas 
famílias, que vivem hoje no continente em 
comunidades urbanas concebidas segun-
do seus usos e preferências. Inclusive com 
escolas para os fi lhos, nas quais se adota o 
currículo vigente na Ilha, um dos princi-
pais veículos de difusão da ideia da iden-
tidade taiwanesa.
A Questão de Taiwan nasceu junto com 
a fundação da RPC, como um aspecto ain-
da não resolvido do próprio processo de 
surgimento do novo regime. Tornou-se de 
praxe, assim, que o problema seja tratado 
em Pequim diretamente pelo líder supre-
mo. No tempo de Mao Zedong, nem o pri-
meiro-ministro Zhou Enlai tinha autorida-
de para tomar decisões autônomas. Na era 
reformista de Deng Xiaoping criou-se uma 
comissão, conhecida sob a sigla CLGTA, 
confi ada a um alto dirigente (Yang Shan-
gkun, inicialmente), que atuava como uma 
espécie de vice-czar nos assuntos de 
Taiwan. Quando a Terceira Geração, com 
Jiang Zemin como seu núcleo, sentiu-se 
plenamente instalada no poder, Jiang 
apressou-se a substituir ele próprio o velho 
Yang Shangkun, na Presidência da CLGTA 
(novembro de 1993). Ele redigiu em segui-
da um documento vazado em termos for-
tes, conhecido como “os oito pontos de 
Jiang Zemin”, que veio a ser aprovado 
pelo Birô Político do PCC, em janeiro de 
1995. Hu Jintao,núcleo da Quarta Geração 
de dirigentes, também assumiu a Presi-
dência da CLGTA. Ele tivera, porém, pou-
co contato com a Questão de Taiwan, ao 
longo de sua carreira, e seguiu adotando 
cautelosamente os “oito pontos de Jiang”. 
Hu repetiu a prática iniciada por seu ante-
cessor de nomear um membro do Comitê 
Permanente do Birô Político para a Vice-
-Presidência da CLGTA, atribuindo-lhe a 
responsabilidade por eventuais contatos 
diretos com o lado taiwanês.
O vice de Jiang, o poderoso Zeng Qin-
ghong, conduziu em julho de 2000 uma 
série de conversações secretas com o chefe 
da Casa Civil do presidente Lee Teng-hui. 
Um jornal de Pequim revelou a ocorrência 
dessas conversas, em Hong Kong e Ma-
cau, sem desvendar o conteúdo. Esses an-
tecedentes mostram a importância institu-
cional da intervenção de Hu Jintao, em 
2005, neutralizando o ataque esquerdista 
da Lei Anti-Secessão para recolocar o pro-
blema no nível das relações entre partidos.
Diferentemente da imagem de agres-
siva intransigência diante de Taiwan, que 
observadores mal-dispostos em relação
à China costumam apresentar, é possível 
encontrar na evolução institucional acima 
descrita um contínuo movimento de ade-
quação às realidades políticas e estraté-
gicas que cercam a Questão de Taiwan. 
Num artigo em The China Quarterly,14
o professor taiwanês Yun-han Chu fez 
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140 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
precisamente isso. Ele acentua cinco des-
dobramentos positivos que estão ocorren-
do na abordagem da problemática taiwa-
nesa pelos dirigentes de Pequim: (1) os 
membros da CLGTA demonstram estar 
aprendendo a conviver com o pluralismo 
caótico da democracia em Taiwan e vêm 
exibindo maior com preensão dos anseios 
do grande público da Ilha, o qual por sua 
vez tem mostrado crescente receptividade 
às propostas do continente; (2) Pequim 
parece ter com preendido que muito tem-
po ainda passará até soluções mais abran-
gentes se tornarem possíveis, e deixou de 
exigir o reconhecimento prévio do prin-
cípio de “uma China única” para a ne-
gociação de problemas práticos, como os 
voos diretos e o turismo; (3) Pequim
diversifi cou seus contatos políticos na 
Ilha, cultivando relações com dirigentes 
dos diversos partidos taiwaneses; (4) Pe-
quim deixou cair de vez a ideia de impor 
prazos a Taiwan para tal ou qual acordo; 
(5) Pequim tem revelado grande fl exibili-
dade no tocante às relações triangulares 
Washington-Pequim-Taipé, parecendo ter 
concluído que precisará da ajuda dos Es-
tados Unidos para conter estratégias de 
marcha ardilosa (“creeping strategy”) pa-
ra a independência, que possam estar sen-
do seguidas em Taiwan.
Um ângulo pouco adotado nas análises 
da Questão de Taiwan é o do papel da 
presença taiwanesa nos avanços políticos 
na China continental – avanços bem reais, 
embora pouco reconhecidos. Vale a pena 
citar um artigo recente do reputado sino-
logista David Shambaugh: “O ambiente 
político na China torna-se gradualmente 
mais plural e liberal. Grande parte das re-
formas políticas (inclusive no interior do 
PCC) são difíceis de ver do exterior do 
país, mas é fato que o sistema político vem 
adquirindo maior transparência, respon-
sabilidade, respeito ao mérito, abertura, 
efi ciência e sintonização com o público. 
Apesar disso (ou talvez por causa disso), o 
PCC mantém-se fi rme no controle, com 
ampla legitimidade popular”.
O ponto aqui é reconhecer a infl uência 
taiwanesa nessa evolução. Dois ex-funcio-
nários graduados do Departamento de 
Estado americano exploraram o tema, em 
artigo de 2008.15 Acentuam eles que os in-
vestimentos e implantações industriais 
dos taiwaneses têm ajudado substancial-
mente a estabilização e modernização da 
RPC. À medida que se intensifi cam os la-
ços entre os dois lados do Estreito, a inter-
dependência econômica não só desenco-
raja a ideia da independência de jure de 
Taiwan, como também impulsiona a libe-
ralização pacífi ca da China. Schriver e 
Stokes, os autores que estou invocando, 
chamam a atenção para a contribuição que 
a infusão maciça de capitais e perícia 
taiwanesa terá dado para a melhoria das 
condições de vida, o aumento da escolari-
dade e da liberdade pessoal na RPC.
Empresários taiwaneses operam cerca 
de 100 mil empresas mistas ou subsidiá-
rias no continente; 63 das 500 maiores 
companhias da RPC são propriedade de 
taiwaneses. Os empresários da Ilha dão 
emprego a algo em torno de 10 milhões de 
operários, no continente, e estima-se que 
outros 40 milhões dependam de empre-
gos ancilares. Os gerentes taiwaneses têm 
tido uma ação inestimável na formação 
dos seus correspondentes chineses, habili-
tando-os a produzir bens competitivos no 
mercado global. Há, pois, em ação um 
“poder brando”, cujo peso tenderá a au-
mentar, em função dos desenvolvimentos 
posteriores ao quadro descrito pelos auto-
res americanos. Avoluma-se o fl uxo de 
turistas do continente, cada vez mais inte-
ressados nos debates da televisão da Ilha 
e no modo de vida ali. Cresce, por outro 
lado, o número de jovens diplomados 
taiwaneses que buscam no continente o 
seu primeiro emprego.
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141 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011
FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
Fim de jogo?
O grau de interdependência econômi-
ca e de interação das populações, já atingi-
do no entorno do Estreito de Taiwan, per-
mite que se considere remoto o perigo de 
choque armado entre chineses dos dois 
lados do Estreito. É certo que a RPC segue 
montando um poderoso dispositivo bélico 
na sua costa, mas a desproporção desse 
dispositivo diante das possibilidades de 
Taiwan e o tipo do armamento que se acu-
mula sugerem que o adversário mirado 
não é o regime taiwanês. A RPC busca, na 
verdade, dotar-se de um poderio militar 
assimétrico que lhe dê condições de não 
fazer feio, se tiver de enfrentar a potência 
hegemônica do presente, os Estados Uni-
dos. Este outro perigo não pode ser des-
cartado por Pequim.
Ainda a 15/11/10, o Conselho de Re-
lações Exteriores, editores da Foreign 
Affairs, circulou um texto do capitão Raul 
Pedrozo, professor no U.S. Naval War 
College, afi rmando o direito dos EUA de 
manterem “um programa vigoroso e os-
tensivo de vigilância e reconhecimento” 
nas águas próximas da China, inclusive 
no interior da sua Zona Econômica Exclu-
siva. A RPC tem contestado tal pretensão, 
desde a famosa interceptação do avião-
espião U.S. EP-3 (abril de 2001) até casos 
recentes, como a abordagem do U.S.S. 
Impeccable (março de 2009), quando este 
evoluía próximo a base de submarinos na 
Ilha de Hainan.
A eventualidade de uma derrapada 
que leve a choque armado é teoricamente 
mais realista nessas gesticulações estra-
tégicas, do que na Questão de Taiwan. É 
também pouco provável, pois o Birô Po-
lítico difi cilmente autorizaria o ELP a ata-
car Taiwan, sem estar totalmente certo
da perspectiva de triunfo. E o presidente 
Ma Ying-jeou, em maio de 2010, fez uma 
proclamação retumbante: “Jamais pedire-
mos aos Estados Unidos que venham lu-
tar por Taiwan”.
A Questão de Taiwan parece, pois, ter 
entrado numa fase de ajustamentos, na 
qual se entremearão todos os múltiplos 
antecedentes históricos, políticos e econô-
micos que procurei alinhar neste trabalho. 
E na qual, além dos antecedentes locais, 
vão entrar em cena considerações do equi-
líbrio global. Por maiores que sejam as 
divergências entre EUA e RPC, os dois 
países coincidem em não desejar uma 
guerra que ninguém sabe como acabará.16 
A dinâmica da agitação democrática em 
Taiwan tem levado, na verdade, a uma 
aproximação entre as duas grandes potên-
cias. No plano local, o jogo concreto será 
conduzido até 2012 pelos dois presidentes 
em posto. Hu Jintao já deu forma à sua 
própria visão do processo, num discurso 
de 31/12/08 em que enunciou “Seis Pon-
tos”: (1) um acordo pondo fi m às hostili-dades e instalando a paz, com base no 
princípio da “China única”; (2) reforço dos 
laços comerciais, inclusive com a negocia-
ção de um minucioso acordo de coopera-
ção; (3) aprofundamento das comunica-
ções e do intercâmbio entre os dois lados 
do Estreito; (4) desenvolvimento das tro-
cas culturais e pedagógicas; (5) busca de 
“ajustes apropriados e razoáveis” para a 
participação de Taiwan em instâncias in-
ternacionais”; (6) intensifi cação de trocas e 
contatos no campo militar, e abertura de 
um debate em torno de medidas para a 
construção de confi ança.
Ma Ying-jeou, do seu lado, está traba-
lhando sob o lema: “Não à reunifi cação; 
não à independência; não a um confl ito”. 
Vale dizer, buscando uma solução media-
na ainda por ser inventada: Confede-
ração? Estado associado à maneira de 
Porto Rico? Na sua condição de presiden-
te do KMT, Ma infl uiu na conclusão do 
ECFA e está agora empenhado em dar 
substância a esse Acordo Quadro, através 
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142 POLÍTICA EXTERNA
ARTIGOS
da negociação de uma zona de livre co-
mércio com a China que evite a margina-
lização de Taiwan, diante da multiplica-
ção de acordos desse tipo no âmbito da 
Ansea (Associação das Nações do Sudes-
te Asiático).17 Apesar das suas realizações 
tecnológicas, a economia taiwanesa, pa-
dece de fraquezas estruturais, como o 
peso excessivo do comércio externo ou a 
grande concentração, regional e setorial, 
das exportações. Ou ainda a dependência 
de empresas americanas, japonesas e até 
sul-coreanas para obter tecnologias de 
ponta. Diante do crescente peso mundial 
da RPC, buscar uma composição com o 
colosso, preferentemente no quadro do 
chamado “Círculo Chinês”, impõe-se co-
mo uma tendência forte aos governantes 
de Taiwan.
Notas
1. Fell, Dafydd. “Was 2005 a Critical Election in Taiwan?” 
in Asian Survey – vol. 50, n. 5 set. out. 2010.
2. O Estado de S. Paulo (14/03/05). “Antes de votar lei 
contra Taiwan, Hu fala em guerra”.
3. Winckler, Edwin A & Susan Greenhalgh. Contending 
Approaches to the Economy of Taiwan. Armonk: M.E. 
Sharpe, 1988. Há muitos outros livros sobre a história 
de Taiwan, registrarei dois, de que também me servi 
para este trabalho: (1) Clark, Cal. Taiwan’s Develop-
ment. Nova York: Greenwood Press, 1989. (2) Klintwor-
th, Gary. New Taiwan, New China. Melbourne: Long-
man Australia, 1995.
4. A revista The China Quarterly, da Universidade de 
Londres, publicou em março de 2001 um número espe-
cial com intenção de dar um retrato abrangente de 
Taiwan no século XX. Sobre a evolução econômica, 
destacaram-se dois artigos: (1) Cheng, Tun-jen. “Trans-
forming Taiwan’s Economic Structure in the 20th Cen-
tury”; (2) Howe, Christopher. “ Taiwan in the 20th Cen-
tury: Model or Victim? Development Problems in a 
Small Asian Economy”. O Professor Howe tem um outro 
artigo, muito útil publicado na mesma revista, em 1996: 
“The Taiwan Economy: the transition to Maturity and 
the Political Economy of Its Changing International 
Status”.
5. Cumings, Bruce. “The Origins and Development of 
the Northeast Asian Political Economy”, in Deyo, Frede-
ric C. The Political Economy of the New Asian Industria-
lism. Ithaca: Cornell University Press, 1987.
6. Barrett, Richard E. “ Autonomy and Diversity in the 
American State on Taiwan”, in Winckler, Edwin A., Con-
tending Approaches to the Economy of Taiwan. Ar-
monk: M. E. Sharpe, 1988.
7. Simon, Denis Fred. “External Incorporation and Inter-
nal Reform”, in Winckler, Edwin A., Contending Appro-
aches to the Economy of Taiwan. Armonk: M. E. Sharpe, 
1988.
8. V. por exemplo: Haggard, Stephan. Pathways from 
the Periphery. Ithaca: Cornell University Press, 1987, 
passim.
9. Cf. Nolan, Janne E. Military Industry in Taiwan and 
South Korea. Londres: The Macmillan Press, 1986.
10. Cf. Amsden, Alice H. “O Estado e o Desenvolvimen-
to Econômico de Formosa” in Revista de Economia Po-
lítica, São Paulo – vol. 7, n. 4 (out. dez. 1987); Yu-Shan 
Wu. “Taiwan’s Developmental State”, in Asian Survey 
– vol. 47, n. 6 (nov. dez. 2007).
11. A história da indústria eletrônica em Taiwan está 
contada em muitos livros e artigos. Destaco uma obra 
recente e de boa qualidade: Rowen, Henry S. et allia 
(eds). Making IT: The Rise of Asia in High Tech. Stanford: 
Stanford University Press, 2007. Mais antigo, mas igual-
mente válido, há um estudo de Ernst, Dieter. New Op-
portunities and Challenges for Taiwan Electronics In-
dustry – The Role of International Cooperation. 
University of California Berkeley: Berkeley Roundtable 
on the International Economy (BRIE), n. 78, jul. 1995.
12. Num importante artigo em The China Journal, revista 
da Universidade Nacional da Austrália: “Taiwan’s Domes-
tic Politics and Cross-Strait Relations” (n. 53, jan. 2005), 
Yu-Shan Wu sugere que a escolha de Chiang Ching-Kuo 
fazendo seu anúncio no jornal americano mostra que o 
gesto democratizante era dirigido mais à audiência dos 
EUA que ao público doméstico. (p. 35, n. 1)
13. A revista The China Quarterly, da Universidade de 
Londres, é um farto repositório de artigos analisando a 
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FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN?
marcha dos investimentos taiwaneses na China Continen-
tal. Registro alguns aqui: Ping Deng, “Taiwan’s Restric-
tion of Investment in China in the 1990s” vol. 40, n. 6 
(nov, dez. 2000); Tse-Kang Leng. “Economic Globalization 
and it Talent Flows across the Taiwan Strait” vol. 42, n. 2 
(mar. abr. 2002); Sutter, Karen M. “Business Dynamism 
Across the Taiwan Strait” vol. 42, n. 3 (maio jun. 2002); 
Fuller, Douglas B. “The Cross-Strait Economic Rela-
tionship’s Impact on Development in Taiwan and China” 
vol. 48, n. 2 (mar. abr. 2008). Úteis, são também: Tse-Kang 
Leng, “State and Business in the Era of Globalization: The 
Case of Cross-Strait Linkages in the Computer Industry”, 
in The China Journal, Canberra n. 53, jan. 2005; Ming-
Chin Monique Chu. “Contrôler l’incon trôlable: La deloca-
lisation de l’indrustrie taiwanaise des semi-conducteurs 
vers La Chine Et sés implications pour la sécurité”, in 
Perspectives Chinoises, Hong Kong (2008, n. 1).
14. Yun-han Chu. “Power Transition and the Making of 
Beijing’s Policy towards Taiwan”, in The China Quarter-
ly (2003).
15. Schriver, Randall & Mark Stokes. “Taiwan’s Libera-
tion of China”, in Current History (set. 2008). Veja 
também: Tain-Jy Chen, “Will Taiwan Be Marginalized 
by China?” Nova York, Columbia University (Asian Eco-
nomic Papers 2:2), 2003; Smith, Heather & Stuart Harris. 
Economic Relations Across the Strait: Interdependence 
or Dependence?, Canberra: ANU Australia-Japan Rese-
arch Centre (Pacific Economic Papers n. 264).
16. Em artigo na Current History (set. 2010), o renoma-
do sinólogo David Shambaugh mostrou-se bem mais 
otimista: “...cross-strait relations have now developed 
to such an extent that the ‘Taiwan Issue’ has essentially 
been resolved. Game over” (p. 224).
17. Perspectives Chinoises, a revista do Centre d’études 
français sur La Chine Contemporaine publicou, no seu 
número 112 (2010/3) um dossiê sobre as opções de Ma 
Ying-jean diante do ECFA, que ele ajudou a negociar.
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