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129 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 Fim de jogo no Estreito de Taiwan? Amaury Porto de Oliveira In June 29, 2010, delegations from the People’s Republic of China (PRC) and Republic of China (the name of the nationalist regime established on the continent in the early twentieth century) signed in the Chinese city of Chongquing a Framework Agreement on Economic Cooperation. With some optimism that can be viewed as the beginning of the step that will lead to the final solution of the Question of Taiwan. The signing of the agreement marked the end of two years of negotiations between the Chinese Association for Relations Across the Taiwan Strait (Arats, the English acronym) and Taiwan’s Strait Exchange Foundation (SEF). The entities concerned, formally unofficial, were created fifteen years ago, but were halted between 1997 and 2008, when separatist tendencies prevailed in Taipei. A 29 de junho de 2010, delegações da República Popular da China (RPC) e da República da China (nome do regime na- cionalista criado no continente no início do século XX) assinaram, na cidade chine- sa de Chongquing, um Acordo Quadro de Cooperação Econômica (ECFA – Econo- mic Cooperation Framework Agreement), que com algum otimismo pode ser visto como o início da etapa que levará à solu- ção fi nal da Questão de Taiwan. A assinatura marcou o fi m de dois anos de negociações entre a chinesa Associação para as Relações através do Estreito de Taiwan (Arats – Association for Relations Across the Taiwan Straits) e a taiwanesa Fundação para Intercâmbios no Estreito (Sef – Straits Exchange Foundation). As entidades em causa, formalmente não ofi - ciais, foram criadas há quinze anos, mas estiveram paralisadas entre 1997 e 2008, quando predominaram em Taipé tendên- cias independentistas. Foram os presiden- tes delas que assinaram o acordo de agora, e Chongquing foi escolhida para a cerimô- nia de assinatura por ter sido lá que se desenrolaram na década dos 1940, com intermediação dos Estados Unidos, os úl- timos esforços de conciliação entre o Kuo- mintang (KMT), de Chiang Kai-shek, e as forças de Mao Zedong, antes da fuga dos nacionalistas para a Ilha de Formosa. O clima para as negociações entre a Arats e a SEF foi criado no plano governamental, depois que a expressiva vitória eleitoral do candidato do KMT, em março de 2008, pôs fi m a oito anos da presidência inde- pendentista de Chen Shui-bian. Respaldadas por seus respectivos go- vernos, a Arats e a SEF lançaram-se ao trabalho. Duas rodadas de conversações foram realizadas ainda em 2008 e, em abril de 2009, os presidentes das duas associa- ções encontraram-se na cidade chinesa de Nanquim para assinar ajustes, como o da conversão em voos rotineiros dos voos charter, que já vinham sendo permitidos entre cidades dos dois lados do Estreito. A frequência dos voos foi aumentada de 108 para 270 por semana e seis novos destinos Amaury Porto de Oliveira é embaixador aposentado, membro do Gacint/IRI-USP é especialista em temas asiá- ticos. Em sua carreira de 45 anos, serviu em vários pos- tos diplomáticos, entre eles, Cingapura, onde chefiou a embaixada brasileira no período entre 1987 e 1990. 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 12914 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 129 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 130 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS no continente foram abertos. Assinaram- -se ainda ajustes sobre serviços fi nanceiros e para a cooperação no combate a ações criminosas. No mês de julho, o Ministério de Assuntos Econômicos de Taiwan pas- sou a aceitar requerimentos de inves ti- dores do continente, e começaram a ser concluídos, entre repartições governa- mentais da China e de Taiwan, memo- randos de entendimento nos terrenos fi - nanceiro e bancário. Paralelamente aos avanços nessas diversas frentes de traba- lho, ia-se perseguindo o objetivo-maior do Acordo Quadro, que foi afi nal delineado em dezembro de 2009, num importante encontro dos presidentes da Arats e da SEF, na cidade taiwanesa de Taichung. Assinaram-se ali três novos acordos: sobre a estandardização de produtos industriais, quarentena de alimentos e pesca. Meu propósito neste trabalho é recons- tituir, em linhas gerais, a evolução da ve- lha Formosa, de colônia japonesa a im- portante centro da indústria global da informação. Especular, em seguida, sobre as perspectivas de fi m de jogo para a Questão de Taiwan, que possam estar sen- do abertas pelo Acordo Quadro assinado em 2010. Antes, porém, de enveredar por esses terrenos, descreverei desenvolvi- mentos do último lustro, que tornaram viável a própria conclusão do Acordo. Um divisor de águas1 Tem-se tornado usual assinalar 2008 como momento de virada nas relações políticas entre os dois lados do Estreito de Taiwan, em consequência das expressivas vitórias do KMT, tanto na eleição legislati- va do mês de janeiro quanto na eleição presidencial de março, na Ilha. É fora de dúvida que o afastamento do poder do Partido Democrático Progressista (PDP) e de Chen Shui-bian ampliou as possibilida- des de trabalho entre Pequim e Taipé. Mas eu tendo a datar de 2005 o divisor de águas, opção também feita, entre outros, pelo pesquisador britânico Dafydd Fell, em artigo na “Asian Survey”. Paradoxalmente, o desenvolvimento que vejo como o acicate dos novos tempos costuma ser citado, pela mídia ocidental, como evidência da beligerância empeder- nida dos chineses continentais: a Lei Anti- -Secessão, promulgada em Pequim pelo Congresso Nacional do Povo (14/03/05). Essa lei tornou obrigatória a intervenção armada do governo de Pequim, se e quan- do os governantes de Taipé cruzarem umas quantas linhas de comportamento, dando passos interpretáveis, como o lan- çamento do processo de independência da Ilha. Em meados de 2005, passei dois meses na China buscando melhorar meu entendi- mento dos processos em marcha, através de entrevistas e conversas com intelectuais chineses, correspondentes estrangeiros e diplomatas lá em posto. Dentre os docu- mentos que pude coletar, sem autorização para identifi car a fonte, destaco o texto de uma conferência feita para público seleto pelo professor Yan Xuetong, que era na época o diretor do Instituto de Estudos In- ternacionais da Universidade Tsinghua, em Pequim. O Professor Yan é também um dos líderes da chamada Nova Esquerda, combativa tendência dentro do Partido Co- munista Chinês (PCC), a qual esteve muito por trás da elaboração e aprovação da Lei Anti-Secessão. Na conferência menciona- da, de que farei um resumo, Yan expôs com clareza os raciocínios que explicam a Lei Anti-Secessão, na ótica de seu grupo. Ele começou distinguindo duas fases no desdobramento da Questão de Taiwan. De 1949 (criação da RPC e fuga dos nacio- nalistas para Taiwan) até 1992, duas auto- ridades políticas separadas pelo Estreito porfi avam pelo governo de todo o territó- 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13014 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 130 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 131 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? rio da China. Nos anos 1990, quando to- maram corpo as ideias de uma identidade taiwanesa propaladas pelo presidente Lee Teng-hui; a disputa deixou de ser pelo governo da China para ir-se fi xando na pretensão de soberania sobre uma parcela do território chinês. Para os governantes de Pequim, nas palavras do professor Yan, é aceitável que as autoridades constituídas em Taipé rei- vindiquem o poder sobre a parcela de ter- ritório que são capazes de governar. Nega- se-lhes, porém, o direito de contestar que Taiwan é parte da China. Ninguém tem o direito de estabelecer um novo país sobre parte do território da China. Pequim tem consciência de que existe aí uma situação anômala, mas vê sua permanência como resultado da sustentação militar dada pe- los Estados Unidos ao regime de Taiwan. Em outras palavras, a mudança de uma disputa entre partidos pelo governo da China para a reivindicaçãode sobe- rania sobre parcela do território chinês resultou da interferência de potência ex- terna nos assuntos internos da China. In- terferência que não teve ligação direta com a Guerra Fria. Ao contrário, os forne- cimentos de armas americanas ao regime de Taipé aumentaram bastante após o co- lapso da URSS, na medida em que a China perdeu interesse para os Estados Unidos como auxiliar na contenção aos soviéticos. Os dirigentes de Pequim veem a Ques- tão de Taiwan como um remanescente da guerra civil chinesa, dando azo à política ofi cial do “Direito à Recuperação por Via Militar”. Foi só a partir das remodelações de Deng Xiaoping, em 1979, que se passou a falar de “Recuperação Pacífi ca”. Com a ressalva, sempre, de que essa outra posi- ção foi elaborada na defrontação com um adversário que disputava o direito a go- vernar a China. Não como resposta a um adversário que pretende assumir a sobera- nia sobre parcela do território nacional chinês. Diante deste, a via pacífi ca só é mantida em virtude da preocupação de Pequim com a estabilidade da região, mas o professor Yan insiste em que a possibi- lidade do recurso à via militar tem de ser preservada, até a solução defi nitiva da Questão. Para Yan, a premissa que guia os dirigentes de Pequim é a de que o tempo corre a favor da solução pacífi ca. A China pode esperar até que surjam as condições necessárias para uma solu- ção negociada. O aumento dos contatos comerciais e pessoais através do Estreito e o fortalecimento econômico da China con- tinental levarão, inexoravelmente, ao apa- recimento de tais condições. Os membros da “Nova Esquerda” começavam, contu- do, a inquietar-se com essa tranquilidade da parte dos dirigentes de Pequim. O fato era, enfatizou Yan, que o tempo não estava correndo a favor da solução pacífi ca; tampouco era certo que o desen- volvimento econômico da China fosse ga- rantir a solução negociada da Questão. O movimento separatista surgira e crescera em Taiwan paralelamente com a política de abertura e desenvolvimento econômico da RPC, e as “forças básicas” aglutinadas nos partidos taiwaneses favoráveis à inde- pendência vinham crescendo, a cada elei- ção. A atitude de “espera indefi nida” dos dirigentes de Pequim aproximava-se do seu limite, diante das evidências de que a clique de Chen Shui-bian preparava-se para acelerar o processo de separação, in- clusive com algum feito de impacto sob a proteção dos Jogos Olímpicos que se apro- ximavam. Estados Unidos e Japão tinham todo interesse na separação da Ilha, apesar do apoio formal de Washington ao status quo no Estreito. Na verdade, “manter ou alterar o status quo” reduzia-se a apoiar a independência gradual ou imediata. Em última análise, a política da reunifi cação pacífi ca transmitia aos independentistas de Taiwan e seus aliados uma imagem de 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13114 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 131 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 132 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS imobilismo de Pequim, e até de aceitação de passos mais ousados. Para manter sua credibilidade internacional, o governo de Pequim precisava adotar com urgência posições mais fi rmes. Tal foi a gênese da Lei Anti-Secessão, e a principal conclusão que se tira da confe- rência do professor Yan é a de que os pro- motores desse texto legal estavam, talvez, mais preocupados em pressionar os diri- gentes de Pequim do que propriamente os separatistas de Taipé. Hu Jintao, nomeado secretário-geral do PCC em outubro de 2002 (XVI Congresso do PCC) e elevado à Presidência da República na sessão de março de 2003 do Congresso Nacional do Povo, viu ali a oportunidade de obter a posição que lhe faltava, de presidente da Comissão Militar Central, o chefe supre- mo das Forças Armadas chinesas. No dia 13 de março de 2005, ele endossou viva- mente a Lei Anti-Secessão, em discurso claramente dirigido às “forças patrióticas” do regime, pronunciado no CNP, onde havia sido depositado o Projeto de Lei.2 Horas depois do discurso, Hu foi designa- do para a Presidência da CMC, por 2.886 votos a favor, 6 votos contra e 6 absten- ções. A Lei seria aprovada no dia seguinte. Tendo tomado em mãos a situação, Hu contra-atacou com habilidade, convidan- do o líder do KMT em Taiwan, Lien Chan, a visitá-lo em Pequim. A visita ocorreu logo em abril, com grande impacto midiá- tico nos dois lados do Estreito, e a Questão de Taiwan acabou recolocada no seu anti- go contexto de problema entre partidos. A imagem televisionada do presidente da China recebendo em Pequim o líder do KMT, vindo direto de Taipé para esse encontro, sacudiu o ambiente político nos dois lados do Estreito. Era a primeira reu- nião pública da liderança do PCC e do KMT, desde os idos dos anos 1940. Vários ajustes foram assinados, no nível parti- dário, com relevo para um esquema de reuniões e consultas seguido ainda hoje. Ainda em 2005, outras personalidades políticas da Ilha fi zeram a peregrinação a Pequim, e foi tornando-se inviável o plano de um referendo de cunho inde- pendentista, acalentado pelo governo de Chen Shui-bian. Foram essas novidades no plano de partidos que forneceram a base para os entendimentos de governo a governo, iniciados quando o KMT vol- tou ao poder em Taiwan, no ano de 2008. O quadro histórico Guiando-me pela periodização adota- da por Edwin A. Winckler,3 cabe aqui dar uma ideia de como Formosa (Taiwan) evo- luiu na Idade Moderna. Até o início do século XVI, a Ilha foi terra de ninguém, entregue à sua população aborígene de origem pouco precisa. Winckler cita, a partir daí, três grandes eras: imperial chi- nesa (1500-1895); colonial japonesa (1895- 1945), e republicana (nacionalista) chinesa (1945-presente). Na verdade, o poder im- perial chinês só se fez sentir com força em meados do século XVII, no contexto da derrota da dinastia Ming pelos manchus Ching. Curiosamente, remanescentes do poder Ming fugiram para a Ilha, onde um deles, Koxinga, governou durante algum tempo. Nessa era, Taiwan viveu por lon- gos períodos na interface do mundo tradi- cional chinês com o nascente capitalismo europeu, representado no caso por nave- gadores de grande distância portugueses, espanhóis e holandeses. Em 1855, navega- dores americanos hastearam a bandeira dos EUA numa praça-forte em Kaohsiung e, pouco depois, a coligação anglo-fran- cesa que derrotara a China na Segunda Guerra do Ópio declarava aberto o porto de Tainan. A esta altura, alemães e japone- ses mobilizavam-se para também obter posições coloniais no Leste Asiático. O Ja- 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13214 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 132 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 133 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? pão visou desde o início a Península Corea na, onde o rei Kojong acabou pedin- do a ajuda da China. Antes mesmo de os chineses conseguirem acudir os coreanos, o Japão atacou e destruiu o destacamento naval da China, impondo a esta o Tratado de Shimonoseki (1895), que entregou For- mosa e as Ilhas Pescadores aos japoneses. O Japão buscava integrar-se na Primei- ra Revolução Industrial, quando já se ti- nham esgotado as condições para o cami- nho liberal adotado por países pioneiros, como a Inglaterra ou a França. Os japone- ses precisaram recorrer às lições que esta- va dando a Alemanha, de industrialização sob o comando do Estado. E tiveram tam- bém de negociar com os imperialistas oci- dentais sua aceitação entre eles, como um imperialista-tardio. Na expressão suges- tiva de Bruce Cumings: “O Japão montou o Império que os anglo-americanos deixa- ram-no montar”. De todo modo, eram parcas na Ásia as terras ainda disponíveis para serem colonizadas, e os exíguos re- cursos do Estado japonês não lhe permi- tiam grandes aventuras. Tóquio foi tendo de contentar-se com a anexação de países vizinhos, tratados co- mo extensões do território nacional. Vale dizer, ampliando a eles o sistema adminis- trativo ea infraestrutura material já exis- tentes no país central, com o cuidado de excluir os locais das camadas superiores de gerenciamento. Em Taiwan, por exem- plo, a autoridade colonial arcou com 60% dos custos dos novos sistemas de controle da água e de irrigação. Investiu na educa- ção, e a taxa de alfabetização cresceu de 1%, em 1905, para 27%, em 1940, enquanto o número de matrículas no ensino elemen- tar subia de 8,7% da população total, em 1905, para 57% em 1935. Graças aos cuida- dos de saúde pública, a população de Taiwan cresceu de 3 para mais de 5 mi- lhões de pessoas durante a era colonial. Não se formou uma classe comercial e in- dustrial taiwanesa, mas no campo os japo- neses deixaram prosperar um estamento de grandes agricultores nativos, a fi m de manter girando a produção de arroz e açúcar, mercadorias que vieram a repre- sentar 70% das exportações da Ilha, maci- çamente destinadas ao Japão. Em 1945, a rendição incondicional do Japão deixou os Estados Unidos com o controle de todos os territórios insulares ocupados no Pacífi co pelo Império Japo- nês. O retorno de Taiwan, as Pescadores e outras ilhas chinesas à República da China (o regime de Chiang Kai-shek) já havia sido estabelecido nos arranjos dos Aliados da Segunda Guerra Mundial, nas Con- ferências do Cairo e Potsdam. Um gover - n a dor delegado pelo KMT logo assumiu em Taipé, começando a tratar a Ilha como território conquistado. Juncos partiam diariamente para o continente, levando máquinas e outros bens saqueados de em- presas da Ilha. Em 1947, os desmandos dos nacionalistas provocaram uma revolta dos ilhéus, na qual se diz que foram truci- dadas entre 10 mil e 20 mil pessoas, in- cluindo praticamente toda a elite da era japonesa. Estavam, por outro lado, come- çando a chegar as levas de continentais que fugiam diante do avanço de Mao Ze- dong. Estima-se em 2 milhões de indiví- duos esses recém-chegados, que ocupa- ram a cúpula política e militar do novo regime. De 1949 a 1987, Taiwan viveria sob a Lei Marcial. E de 1951 a 1965 foi to- mada em mãos, para efeitos práticos, pe- los Estados Unidos. Burocratas da Usaid foram dando forma, política e economica, a um novo país.4 A fase de dependência direta dos Esta- dos Unidos merece um registro especial, para o qual vou me apoiar num conhecido texto de Bruce Cumings5 e em dois artigos inseridos na coletânea editada por Edwin Winckler, já citada neste trabalho. Antes mesmo de terminar a guerra, uma podero- 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13314 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 133 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 134 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS sa coalizão de interesses domésticos pas- sou a mobilizar-se, nos EUA, contra a decisão da Conferência de Potsdam de destruir o poderio industrial e militar do Japão, decisão que começou a ser imple- mentada pelo comandante da ocupação, general MacArthur. A vitória dos comunistas na China abriu caminho para o triunfo da coalizão em causa, na chamada “inversão de cur- so”. O Japão foi mantido numa posição de vassalagem, mas como a peça-chave do dispositivo estratégico de contenção da RPC, montado por Washington no Pacífi - co Norte. Uma economia regional do Nor- deste Asiático foi sendo também desen- volvida, atribuindo-se ao Japão o papel de cabeça industrial, com a metade sul da Península Coreana e Taiwan como suce- dâneos da velha hinterlândia colonial ja- ponesa, e os países do Sudeste Asiático, na medida em que se liberavam dos coloni- zadores europeus, transformados em for- necedores das matérias-primas industriais e energéticas requeridas pela nova indús- tria japonesa, e em absorvedores das ma- nufaturas de baixa tecnologia que o Japão iria poder produzir. A Guerra da Coreia, em 1950, consolidaria tudo isso. O dinhei- ro americano nela derramado funcionaria como um Plano Marshall para o Japão, e a intervenção de centenas de milhares de “voluntários” chineses, se de um lado le- vou ao armistício de 1953 (até hoje não superado), deu azo à decisão do presiden- te Truman de isolar militarmente Taiwan. No primeiro dos dois artigos acima mencionados,6 Richard Barrett apoia-se em documentos ofi ciais americanos torna- dos públicos em diferentes momentos para estabelecer uma diversidade de po- sicionamentos em relação a Taiwan, da parte das autoridades norte-americanas. Os militares eram favoráveis à manuten- ção de um regime politicamente estável e pró-americano na Ilha embora não se mostrassem dispostos (até a Guerra da Coreia, pelo menos) a empenhar muitos recursos nesse objetivo. No Departamento de Estado, preva- lecia a tese de que um apoio limitado a Taiwan poderia trazer benefícios de curto prazo para Estados Unidos, mas havia o risco de prejudicar as relações com a RPC, se esse apoio fosse sendo prolongado. Em contraste com a cautela dos militares e di- plomatas, os mais entusiasmados com o progresso de Taiwan eram os burocratas da Usaid. Eles viam na Ilha a oportuni- dade única de promover o desenvolvi- mento econômico e social de uma grande área rural, experiência distinta da recons- trução de zonas industriais pela simples adição de capitais e tecnologia. Pareceu até, por momentos, que os promotores da ajuda americana gostariam de ver a der- rocada do governo nacionalista, a fi m de substituí-lo por um mandato das Nações Unidas. Típica dessa linha de pensamento foi a criação pelo Congresso americano, em 1948, da Comissão Conjunta Si no- -Americana para a Reconstrução Rural (JCRR, Sino-American Joint Commission on Rural Reconstruction), que faria as ve- zes de Ministério da Agricultura de Taiwan até 1979, com orçamento anual votado pelo Congresso dos Estados Unidos. Gra- ças à JCRR, o governo de Taipé pôde levar adiante programas de ajuda técnica agrí- cola a muitos países africanos, com efeitos práticos na disputa pelo reconhecimento diplomático sustentada com Pequim. Como de esperar, ao promoverem a formação de uma economia regional do Pacífi co Norte no quadro da reorganiza- ção estratégica da área, no pós-Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos bus- caram incentivar o desenvolvimento de economias nacionais de tipo capitalista. Um dos primeiros cuidados foi efetuar reformas agrárias radicais nos países des- tinados a liderar a “Esfera Comercial do 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13414 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 134 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 135 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? Oriente”: Japão, Coreia do Sul e Taiwan. As reformas foram levadas adiante quase que simultaneamente, na virada dos 1940 para os 1950, e o mesmo técnico ameri- cano, Wolf Ladejinsky, esteve nos três paí- ses para os retoques fi nais. No segundo dos artigos acima evocados, Denis Fred Simon7 amplia o exame da obra de state- -building posta em marcha pelos Estados Unidos em Taiwan. Na verdade, a grande responsável por esse trabalho foi a Mutual Security Agency (MAS), que atuava na Ilha através de dois braços: a missão da AID e a missão do Military Assistance Advisory Group (MAAG). Esta última en- carregada de assistir no levantamento das estruturas defensivas necessárias e no trei- namento do pessoal adequado. Quanto à Usaid, como mostra Simon, sua contribui- ção foi muito além da mercantilização do ambiente rural. Os conselheiros america- nos empenharam-se em promover o for- talecimento do setor privado, diante das tendências estatizantes do governo de Tai- pé, e é possível colher, em outras fontes, relatos de como a Usaid usava sua in- fl uência para profi ssionalizar burocratas e técnicos taiwaneses segundo as normas americanas, frustrando a carreira de quem não parecia útil à consolidação de uma economia capitalista.8 Em 1965, os Estados Unidos suspen- deram a ajuda fi nanceira direta a Taiwan. Calcula-se que, nos quinze anos de sua duração, US$ 1,5 bilhão (de 1950) tenham sido doados a fundo perdido: 40% em mé- dia da formação anual de capital. Os con- selheirosda Usaid haviam ensinado aos taiwaneses os segredos do desenvolvi- mento puxado pelas exportações; haviam aberto o mercado doméstico americano às manufaturas de baixa tecnologia que a nova indústria taiwanesa começara a pro- duzir; e haviam também estimulado os investimentos diretos estrangeiros na eco- nomia local. O governo de Taipé dava mostras de que poderia continuar a cami- nhar com as próprias pernas. Contudo, tal como estivera acontecendo com a Coreia do Sul, Taiwan recebera a missão de fun- cionar como bastião do dispositivo estraté- gico americano de contenção da China, e precisava manter um estabelecimento mi- litar adequado, com a maior autonomia possível em termos de autofi nanciamento e de abastecimento de armas. Nos anos 1970, sobretudo depois da retirada militar dos Estados Unidos do Sudeste Asiático e do lançamento da Doutrina Nixon, Coreia do Sul e Taiwan ainda precisaram ser aju- dados pelos Estados Unidos a levantar in- dústrias para a fabricação de armamentos, recebendo inclusive licenças de produção que eram negadas a países da OTAN.9 O Estado desenvolvimentista Chalmers Johnson, da Universidade de Berkeley, foi o grande teorizador do Estado Desenvolvimentista, num livro que marcou época: MITI and the Japanese Miracle (Stanford, 1982). Ele centralizou sua análise no Estado que a “reversão de curso” dos Estados Unidos permitira renascer no Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, mas o modelo desenvolvimen- tista surgira na virada do século XIX para o século XX, quando os japoneses efetua- ram sua primeira industrialização, guia- dos pelos ensinamentos colhidos na Ale- manha. Na sua nova versão, o Estado Desenvolvimentista japonês foi também adotado pela Coreia do Sul e por Taiwan. Há toda uma corrente de pensamento que contesta esta última observação e procura explicar o surto de modernização de Taiwan pela via do liberalismo econômico pregado pelos anglo-americanos. É possí- vel levantar uma grande bibliografi a de livros e artigos em defesa de cada uma das duas posições, mas não terei espaço para 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13514 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 135 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 136 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS entrar nesse debate. Levarei adiante a re- construção que estou fazendo, apoiado na aceitação das teses desenvolvimentistas. Para Chalmers Johnson, são quatro os fatores que compõem o Estado Desenvol- vimentista: (1) a autonomia do Estado diante da sociedade civil, ou seja, a razão econômica prima sobre interesses particu- laristas; (2) a elite do país ou parte decisiva dela chega a um consenso sobre a imperio- sidade do desenvolvimento; (3) há uma efetiva participação do aparelho do Estado na condução dos negócios públicos; (4) o Estado conduz uma política industrial em consonância com as exigências do mer- cado mundial. Nos anos 1960 a 1980, Taiwan satisfez essas quatro condições,10 mostrando-se apta a conquistar nichos no mercado internacional para o escoamento de suas manufaturas intensivas em traba- lho, a princípio, e intensivas em capital e conhecimento a seguir. Na fase avançada, a indústria dos componentes semicondu- tores, base de todas as múltiplas aplica- ções da eletrônica, foi o setor que maior atenção recebeu em Taiwan, tanto do go- verno quanto do empresariado. Em 1973, foi criada a estatal Electronics Research and Services Organisation (ERSO), com a missão de encontrar um parceiro transna- cional para a instalação da indústria tai- wanesa dos semicondutores, o que veio a acontecer em 1977. Em associação com a RCA, o governo de Taipé investiu mais de US$ 3 milhões na aquisição de conheci- mentos teóricos e formação de pessoal, até fundar a United Microelectronics Corpo- ration (UMC) e a Taiwan Semiconductors Manufacturing Company (TSMC), em 1987. A evolução dessa indústria merece atenção, tanto pelo papel de liderança que ela adquiriu no progresso de Taiwan, quanto por ter se tornado a grande arena de resistência à China continental.11 Numa iniciativa claramente voltada para estimular o desenvolvimento econô- mico apoiado no conhecimento, o governo de Taipé fundou em 1980 o Hsinchu Scien- ce-based Industrial Park (HSIP), numa área a 70 quilômetros da capital, onde atua vam instituições acadêmicas e de pes- quisas. Uma delas, o Industrial Technolo- gy Research Institute (ITRI), estava ativa desde 1973, preparando o terreno para as tecnologias da informação (TI) e a indús- tria dos circuitos integrados (CI). O Hsin- chu veio a ser o grande catalisador da as- censão mundial de Taiwan nas TI e CI, graças inclusive a seu papel na atração de chineses que estivessem estudando ou tra- balhando no exterior, nesses setores. Em 1994, o número dos retornados alcançaria o pico de 6.500 indivíduos, responsáveis pela fundação de algumas centenas de empresas especializadas, na Ilha. A essa altura, Taiwan ocupava o tercei- ro lugar mundial na produção de material microeletrônico, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Uma de suas inovações mais bem-sucedidas fora a separação de subsetores no interior da grande indústria dos CI. Empresas taiwanesas especializa- ram-se em fundições para o fabrico das bolachas de silício (wafers), sem preocu- par-se com o desenho do circuito integra- do a ser nelas implantado. Essa separação entre dois tipos de atividades complexas e caras permitiu avanços tecnológicos em cada um deles, e a proliferação de compa- nhias, ditas fabless, concentradas nos dese- nhos dos circuitos. As fabless multiplica- ram-se nos EUA, enquanto Taiwan liderava nas fundições. Mas em 1988 ganhou con- tundência um elemento perturbador dos êxitos de Taiwan: o fator RPC. Em julho, o governo de Pequim promulgou um “Re- gulamento para o Incentivo de Investi- mentos dos Compatriotas Taiwaneses”. Ao pôr em marcha, em 1979, seu gran- de esforço de aggiornamento da RPC, Deng Xiaoping dera desde o início destaque ao trabalho com Taiwan. Além da criação da 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13614 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 136 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 137 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? ZEE de Xiamen, fazendo face à Ilha, Pe- quim suspendeu o bombardeio das ilhotas de Quemoi e Matsu, em execução desde 1950, e o Congresso Nacional do Povo emitiu uma “Carta aos Compatriotas de Taiwan”, conclamando-os ao estabeleci- mento de relações diretas – comerciais, marítimas e postais – entre os dois lados do Estreito. O governo de Taipé respondeu com frieza, mas o empresariado mostrou- -se crescentemente interessado no apro- fundamento de tais relações. Em meados dos anos 1980, depois da assinatura do acordo sino-britânico para o retorno de Hong Kong à soberania chinesa, Pequim intensifi cou sua campanha de “um país dois sistemas” em direção a Taiwan, e tam- bém os esforços diplomáticos pelo “desre- conhecimento” do governo taiwanês. Particularmente dolorosa para Taipé havia sido a decisão de Washington de transferir para Pequim o seu reconheci- mento. E quando os americanos interferi- ram em todo o quadro fi nanceiro do Leste Asiático, na famosa reunião do Hotel Pla- za em Nova York (1985), Chiang Ching- kuo, fi lho e sucessor de Chiang Kai-shek no comando do partido único KMT, con- cluiu ser oportuno democratizar o sistema político de Taiwan. Em entrevista dada à proprietária do Washington Post (7/10/86), ele anunciou sua determinação de suspen- der a Lei Marcial e a proibição à formação de partidos políticos.12 A suspensão da Lei Marcial fl exibilizou a posição de Taipé em relação aos investi- mentos na RPC, desde que feitos de forma indireta, em geral através de Hong Kong. No continente, enquanto isso, tomava im- pulso a política de estimular companhias estrangeiras a virem produzir na China, trazendo os insumos e a tecnologia, e com a obrigação de exportar o produzido. Con- dições especiais foram dadas aos taiwane- ses, que podiam vender no mercado do- mésticochinês até 30% dos seus produtos. As indústrias de baixa tecnologia (a dos calçados, v.g.) começaram a cruzar em massa o Estreito, levando o governo de Taipé a introduzir medidas administrati- vas, como limites para as somas que in- vestidores taiwaneses podiam investir no continente, ou cotas para o volume de ex- portações permitido. Apesar dessas medi- das, o fl uxo de investimentos e exporta- ções da Ilha não parava de crescer, e em 2001 deu um salto, em virtude do ingresso das “duas Chinas” na OMC. É consenso, entre os economistas, que Taiwan benefi - ciou-se mais do que qualquer outro país do ingresso da RPC na OMC. Se se in- cluem as exportações para Hong Kong, as vendas de Taiwan para a “Grande China” atingiram, na primeira metade de 2002, quase US$ 19 bilhões, ou 30% das exporta- ções totais do país; dez pontos percentuais a mais do que a parcela das exportações taiwanesas para os Estados Unidos no mesmo período. Três tipos de explicações costumam ser usados para explicar esse salto: (1) a grande experiência das empre- sas taiwanesas em exportar para a China e seu bom conhecimento dos sistemas de contingenciamento e licenciamento chine- ses; (2) o crescente valor dos componentes e peças taiwaneses para os produtores do continente; (3) o nível cada vez maior dos investimentos de companhias de Taiwan na indústria continental. Aspecto central do relacionamento si- no-taiwanês é a convergência que se de- senvolve entre as trajetórias tecnológicas das duas economias, à medida que ambas se instalam na globalização. Nos dois la- dos do Estreito, o Estado foi o iniciador, facilitador e suporte de programas de P&D, de educação e de reestruturação tecnológica. Foi, também, o grande inter- locutor das corporações transnacionais, no que concernia aos aspectos tecnológi- cos das respectivas economias, e à integra- ção delas nas redes produtivas globais. 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13714 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 137 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 138 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS Em Taiwan, o governo chegou a aca- lentar a ideia de fazer do país um Centro de Operação Regional da Ásia-Pacífi co, servindo de base para companhias trans- nacionais interessadas em trabalhar nos mercados do Leste Asiático: Sudeste Asiá- tico e China, em particular. O plano não marchou, basicamente porque a China também foi empenhando-se em atrair as transnacionais para trabalhar diretamente no mercado chinês, mudando por exem- plo sua abordagem industrial de áreas territoriais para setores técnicos. Não demorou que as companhias tai- wa nesas das TI e CI tivessem elas pró- prias de transferir suas atividades de pon- ta para o continente, a fi m de enfrentar a concorrência das transnacionais. Foi um choque para Taipé quando, em 2000, dois grupos empresariais da Ilha anunciaram que iriam instalar no continente fundições de bolachas de silício, do tipo liderado por Taiwan. Em 2002, em reação a essa perda de vigor diante da RPC, o Estado Desenvolvimentista taiwanês lançou um programa para novo salto industrial, com a criação de uma economia baseada na inovação tecnológica. Dez áreas-chave para atividades com maior valor agrega- do foram identifi cadas, e atenção especial passou a ser dada à P&D em todas elas. Cerca de 70 empresas locais foram es- timuladas a criar seus próprios centros inovadores.13 A interdependência sino-taiwanesa Recapitulando. A abertura do mercado continental às empresas de Taiwan esteve na raiz do chamado “Milagre Taiwanês”: um longo período (1951-1987) de cresci- mento médio em torno de 8,8% anuais. Inicialmente, foram empresas pequenas e médias que reduziram seus custos de pro- dução e melhoraram sua competitividade internacional, ao se instalarem no conti- nente. O Estado desenvolvimentista rea- giu ao esvaziamento industrial, promo- vendo o surgimento de empresas mais intensas em tecnologia e com maior valor agregado, as quais, por sua vez, acabaram deslocando sua produção para o continen- te, a fi m de poderem aumentar as exporta- ções para os Estados Unidos e o Japão. No fi nal dos anos 1980, pressões prote- cionistas dos EUA, inclusive no terreno fi nanceiro com o Acordo do Hotel Plaza (1985), forçaram o reajuste violento da economia taiwanesa, dando origem a uma onda de investimentos diretos no exterior, nos Estados Unidos e na China continen- tal, em particular. Em direção à China, um novo salto de investimentos aconteceria no novo século, com a entrada dos dois países na OMC. O Estado taiwanês estive- ra impulsionando as TI e CI, mas elas cresceram em ligação cada vez mais estrei- ta com o mercado chinês. Na altura de 2006, a China continental se transformara no maior importador e maior exportador em relação a Taiwan. Na década de 1970, com a aproximação estratégica entre Washington e Pequim, paralelamente à substituição de Taipé por Pequim nas Nações Unidas, teve início um período de esgarçamento nas relações de Taiwan com seu grande patrono, que acabou levando, no entanto, à decisão de Chiang Ching-kuo, fi lho e sucessor de Chiang Kai-shek, de democratizar seu re- gime, em parte para revitalizar a sua legi- timidade internacional. No início de 1986, tornara-se evidente que Chiang Ching- -kuo tinha pouco tempo mais de vida. O problema da sua sucessão ganhava pre- mência, e surgiam sinais de descontenta- mento político que punham em dúvida a possibilidade de uma transição palaciana do poder. 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13814 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 138 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 139 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? O velho ditador vinha dando mostras, porém, de notável senso da História, tomando a iniciativa, nos seus dois últi- mos anos de vida, de uma série de refor- mas liberalizadoras, apesar da recalcit- rância da velha guarda do KMT e das lideranças militares. Graças a isso, a che- fi a do Estado pôde ser assumida, após a morte de Chiang, pelo vice-presidente Lee Teng-hui, um agrônomo nascido na Ilha e educado no Japão e EUA (Universi- dade de Cornell). No 13o Congresso do KMT, em outubro de 1988, Lee foi também conduzido à Pre- sidência do KMT. Usando sua dupla lide- rança, do Estado e do partido, Lee Teng- hui promoveria a reivindicação dos ilhéus a uma identidade nacional taiwanesa, oposta à identidade chinesa. Muito se tem discutido e escrito em torno dessa reivin- dicação, que, embora bastante popular na Ilha, ainda não obtém maioria nos sucessi- vos recenseamentos lá realizados. É im- portante verifi car que os chineses conti- nentais convivem bem com a ideia. Haja vista os mais de 2 milhões de taiwaneses, entre empresários, técnicos e respectivas famílias, que vivem hoje no continente em comunidades urbanas concebidas segun- do seus usos e preferências. Inclusive com escolas para os fi lhos, nas quais se adota o currículo vigente na Ilha, um dos princi- pais veículos de difusão da ideia da iden- tidade taiwanesa. A Questão de Taiwan nasceu junto com a fundação da RPC, como um aspecto ain- da não resolvido do próprio processo de surgimento do novo regime. Tornou-se de praxe, assim, que o problema seja tratado em Pequim diretamente pelo líder supre- mo. No tempo de Mao Zedong, nem o pri- meiro-ministro Zhou Enlai tinha autorida- de para tomar decisões autônomas. Na era reformista de Deng Xiaoping criou-se uma comissão, conhecida sob a sigla CLGTA, confi ada a um alto dirigente (Yang Shan- gkun, inicialmente), que atuava como uma espécie de vice-czar nos assuntos de Taiwan. Quando a Terceira Geração, com Jiang Zemin como seu núcleo, sentiu-se plenamente instalada no poder, Jiang apressou-se a substituir ele próprio o velho Yang Shangkun, na Presidência da CLGTA (novembro de 1993). Ele redigiu em segui- da um documento vazado em termos for- tes, conhecido como “os oito pontos de Jiang Zemin”, que veio a ser aprovado pelo Birô Político do PCC, em janeiro de 1995. Hu Jintao,núcleo da Quarta Geração de dirigentes, também assumiu a Presi- dência da CLGTA. Ele tivera, porém, pou- co contato com a Questão de Taiwan, ao longo de sua carreira, e seguiu adotando cautelosamente os “oito pontos de Jiang”. Hu repetiu a prática iniciada por seu ante- cessor de nomear um membro do Comitê Permanente do Birô Político para a Vice- -Presidência da CLGTA, atribuindo-lhe a responsabilidade por eventuais contatos diretos com o lado taiwanês. O vice de Jiang, o poderoso Zeng Qin- ghong, conduziu em julho de 2000 uma série de conversações secretas com o chefe da Casa Civil do presidente Lee Teng-hui. Um jornal de Pequim revelou a ocorrência dessas conversas, em Hong Kong e Ma- cau, sem desvendar o conteúdo. Esses an- tecedentes mostram a importância institu- cional da intervenção de Hu Jintao, em 2005, neutralizando o ataque esquerdista da Lei Anti-Secessão para recolocar o pro- blema no nível das relações entre partidos. Diferentemente da imagem de agres- siva intransigência diante de Taiwan, que observadores mal-dispostos em relação à China costumam apresentar, é possível encontrar na evolução institucional acima descrita um contínuo movimento de ade- quação às realidades políticas e estraté- gicas que cercam a Questão de Taiwan. Num artigo em The China Quarterly,14 o professor taiwanês Yun-han Chu fez 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 13914 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 139 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 140 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS precisamente isso. Ele acentua cinco des- dobramentos positivos que estão ocorren- do na abordagem da problemática taiwa- nesa pelos dirigentes de Pequim: (1) os membros da CLGTA demonstram estar aprendendo a conviver com o pluralismo caótico da democracia em Taiwan e vêm exibindo maior com preensão dos anseios do grande público da Ilha, o qual por sua vez tem mostrado crescente receptividade às propostas do continente; (2) Pequim parece ter com preendido que muito tem- po ainda passará até soluções mais abran- gentes se tornarem possíveis, e deixou de exigir o reconhecimento prévio do prin- cípio de “uma China única” para a ne- gociação de problemas práticos, como os voos diretos e o turismo; (3) Pequim diversifi cou seus contatos políticos na Ilha, cultivando relações com dirigentes dos diversos partidos taiwaneses; (4) Pe- quim deixou cair de vez a ideia de impor prazos a Taiwan para tal ou qual acordo; (5) Pequim tem revelado grande fl exibili- dade no tocante às relações triangulares Washington-Pequim-Taipé, parecendo ter concluído que precisará da ajuda dos Es- tados Unidos para conter estratégias de marcha ardilosa (“creeping strategy”) pa- ra a independência, que possam estar sen- do seguidas em Taiwan. Um ângulo pouco adotado nas análises da Questão de Taiwan é o do papel da presença taiwanesa nos avanços políticos na China continental – avanços bem reais, embora pouco reconhecidos. Vale a pena citar um artigo recente do reputado sino- logista David Shambaugh: “O ambiente político na China torna-se gradualmente mais plural e liberal. Grande parte das re- formas políticas (inclusive no interior do PCC) são difíceis de ver do exterior do país, mas é fato que o sistema político vem adquirindo maior transparência, respon- sabilidade, respeito ao mérito, abertura, efi ciência e sintonização com o público. Apesar disso (ou talvez por causa disso), o PCC mantém-se fi rme no controle, com ampla legitimidade popular”. O ponto aqui é reconhecer a infl uência taiwanesa nessa evolução. Dois ex-funcio- nários graduados do Departamento de Estado americano exploraram o tema, em artigo de 2008.15 Acentuam eles que os in- vestimentos e implantações industriais dos taiwaneses têm ajudado substancial- mente a estabilização e modernização da RPC. À medida que se intensifi cam os la- ços entre os dois lados do Estreito, a inter- dependência econômica não só desenco- raja a ideia da independência de jure de Taiwan, como também impulsiona a libe- ralização pacífi ca da China. Schriver e Stokes, os autores que estou invocando, chamam a atenção para a contribuição que a infusão maciça de capitais e perícia taiwanesa terá dado para a melhoria das condições de vida, o aumento da escolari- dade e da liberdade pessoal na RPC. Empresários taiwaneses operam cerca de 100 mil empresas mistas ou subsidiá- rias no continente; 63 das 500 maiores companhias da RPC são propriedade de taiwaneses. Os empresários da Ilha dão emprego a algo em torno de 10 milhões de operários, no continente, e estima-se que outros 40 milhões dependam de empre- gos ancilares. Os gerentes taiwaneses têm tido uma ação inestimável na formação dos seus correspondentes chineses, habili- tando-os a produzir bens competitivos no mercado global. Há, pois, em ação um “poder brando”, cujo peso tenderá a au- mentar, em função dos desenvolvimentos posteriores ao quadro descrito pelos auto- res americanos. Avoluma-se o fl uxo de turistas do continente, cada vez mais inte- ressados nos debates da televisão da Ilha e no modo de vida ali. Cresce, por outro lado, o número de jovens diplomados taiwaneses que buscam no continente o seu primeiro emprego. 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 14014 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 140 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 141 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? Fim de jogo? O grau de interdependência econômi- ca e de interação das populações, já atingi- do no entorno do Estreito de Taiwan, per- mite que se considere remoto o perigo de choque armado entre chineses dos dois lados do Estreito. É certo que a RPC segue montando um poderoso dispositivo bélico na sua costa, mas a desproporção desse dispositivo diante das possibilidades de Taiwan e o tipo do armamento que se acu- mula sugerem que o adversário mirado não é o regime taiwanês. A RPC busca, na verdade, dotar-se de um poderio militar assimétrico que lhe dê condições de não fazer feio, se tiver de enfrentar a potência hegemônica do presente, os Estados Uni- dos. Este outro perigo não pode ser des- cartado por Pequim. Ainda a 15/11/10, o Conselho de Re- lações Exteriores, editores da Foreign Affairs, circulou um texto do capitão Raul Pedrozo, professor no U.S. Naval War College, afi rmando o direito dos EUA de manterem “um programa vigoroso e os- tensivo de vigilância e reconhecimento” nas águas próximas da China, inclusive no interior da sua Zona Econômica Exclu- siva. A RPC tem contestado tal pretensão, desde a famosa interceptação do avião- espião U.S. EP-3 (abril de 2001) até casos recentes, como a abordagem do U.S.S. Impeccable (março de 2009), quando este evoluía próximo a base de submarinos na Ilha de Hainan. A eventualidade de uma derrapada que leve a choque armado é teoricamente mais realista nessas gesticulações estra- tégicas, do que na Questão de Taiwan. É também pouco provável, pois o Birô Po- lítico difi cilmente autorizaria o ELP a ata- car Taiwan, sem estar totalmente certo da perspectiva de triunfo. E o presidente Ma Ying-jeou, em maio de 2010, fez uma proclamação retumbante: “Jamais pedire- mos aos Estados Unidos que venham lu- tar por Taiwan”. A Questão de Taiwan parece, pois, ter entrado numa fase de ajustamentos, na qual se entremearão todos os múltiplos antecedentes históricos, políticos e econô- micos que procurei alinhar neste trabalho. E na qual, além dos antecedentes locais, vão entrar em cena considerações do equi- líbrio global. Por maiores que sejam as divergências entre EUA e RPC, os dois países coincidem em não desejar uma guerra que ninguém sabe como acabará.16 A dinâmica da agitação democrática em Taiwan tem levado, na verdade, a uma aproximação entre as duas grandes potên- cias. No plano local, o jogo concreto será conduzido até 2012 pelos dois presidentes em posto. Hu Jintao já deu forma à sua própria visão do processo, num discurso de 31/12/08 em que enunciou “Seis Pon- tos”: (1) um acordo pondo fi m às hostili-dades e instalando a paz, com base no princípio da “China única”; (2) reforço dos laços comerciais, inclusive com a negocia- ção de um minucioso acordo de coopera- ção; (3) aprofundamento das comunica- ções e do intercâmbio entre os dois lados do Estreito; (4) desenvolvimento das tro- cas culturais e pedagógicas; (5) busca de “ajustes apropriados e razoáveis” para a participação de Taiwan em instâncias in- ternacionais”; (6) intensifi cação de trocas e contatos no campo militar, e abertura de um debate em torno de medidas para a construção de confi ança. Ma Ying-jeou, do seu lado, está traba- lhando sob o lema: “Não à reunifi cação; não à independência; não a um confl ito”. Vale dizer, buscando uma solução media- na ainda por ser inventada: Confede- ração? Estado associado à maneira de Porto Rico? Na sua condição de presiden- te do KMT, Ma infl uiu na conclusão do ECFA e está agora empenhado em dar substância a esse Acordo Quadro, através 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 14114 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 141 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 142 POLÍTICA EXTERNA ARTIGOS da negociação de uma zona de livre co- mércio com a China que evite a margina- lização de Taiwan, diante da multiplica- ção de acordos desse tipo no âmbito da Ansea (Associação das Nações do Sudes- te Asiático).17 Apesar das suas realizações tecnológicas, a economia taiwanesa, pa- dece de fraquezas estruturais, como o peso excessivo do comércio externo ou a grande concentração, regional e setorial, das exportações. Ou ainda a dependência de empresas americanas, japonesas e até sul-coreanas para obter tecnologias de ponta. Diante do crescente peso mundial da RPC, buscar uma composição com o colosso, preferentemente no quadro do chamado “Círculo Chinês”, impõe-se co- mo uma tendência forte aos governantes de Taiwan. Notas 1. Fell, Dafydd. “Was 2005 a Critical Election in Taiwan?” in Asian Survey – vol. 50, n. 5 set. out. 2010. 2. O Estado de S. Paulo (14/03/05). “Antes de votar lei contra Taiwan, Hu fala em guerra”. 3. Winckler, Edwin A & Susan Greenhalgh. Contending Approaches to the Economy of Taiwan. Armonk: M.E. Sharpe, 1988. Há muitos outros livros sobre a história de Taiwan, registrarei dois, de que também me servi para este trabalho: (1) Clark, Cal. Taiwan’s Develop- ment. Nova York: Greenwood Press, 1989. (2) Klintwor- th, Gary. New Taiwan, New China. Melbourne: Long- man Australia, 1995. 4. A revista The China Quarterly, da Universidade de Londres, publicou em março de 2001 um número espe- cial com intenção de dar um retrato abrangente de Taiwan no século XX. Sobre a evolução econômica, destacaram-se dois artigos: (1) Cheng, Tun-jen. “Trans- forming Taiwan’s Economic Structure in the 20th Cen- tury”; (2) Howe, Christopher. “ Taiwan in the 20th Cen- tury: Model or Victim? Development Problems in a Small Asian Economy”. O Professor Howe tem um outro artigo, muito útil publicado na mesma revista, em 1996: “The Taiwan Economy: the transition to Maturity and the Political Economy of Its Changing International Status”. 5. Cumings, Bruce. “The Origins and Development of the Northeast Asian Political Economy”, in Deyo, Frede- ric C. The Political Economy of the New Asian Industria- lism. Ithaca: Cornell University Press, 1987. 6. Barrett, Richard E. “ Autonomy and Diversity in the American State on Taiwan”, in Winckler, Edwin A., Con- tending Approaches to the Economy of Taiwan. Ar- monk: M. E. Sharpe, 1988. 7. Simon, Denis Fred. “External Incorporation and Inter- nal Reform”, in Winckler, Edwin A., Contending Appro- aches to the Economy of Taiwan. Armonk: M. E. Sharpe, 1988. 8. V. por exemplo: Haggard, Stephan. Pathways from the Periphery. Ithaca: Cornell University Press, 1987, passim. 9. Cf. Nolan, Janne E. Military Industry in Taiwan and South Korea. Londres: The Macmillan Press, 1986. 10. Cf. Amsden, Alice H. “O Estado e o Desenvolvimen- to Econômico de Formosa” in Revista de Economia Po- lítica, São Paulo – vol. 7, n. 4 (out. dez. 1987); Yu-Shan Wu. “Taiwan’s Developmental State”, in Asian Survey – vol. 47, n. 6 (nov. dez. 2007). 11. A história da indústria eletrônica em Taiwan está contada em muitos livros e artigos. Destaco uma obra recente e de boa qualidade: Rowen, Henry S. et allia (eds). Making IT: The Rise of Asia in High Tech. Stanford: Stanford University Press, 2007. Mais antigo, mas igual- mente válido, há um estudo de Ernst, Dieter. New Op- portunities and Challenges for Taiwan Electronics In- dustry – The Role of International Cooperation. University of California Berkeley: Berkeley Roundtable on the International Economy (BRIE), n. 78, jul. 1995. 12. Num importante artigo em The China Journal, revista da Universidade Nacional da Austrália: “Taiwan’s Domes- tic Politics and Cross-Strait Relations” (n. 53, jan. 2005), Yu-Shan Wu sugere que a escolha de Chiang Ching-Kuo fazendo seu anúncio no jornal americano mostra que o gesto democratizante era dirigido mais à audiência dos EUA que ao público doméstico. (p. 35, n. 1) 13. A revista The China Quarterly, da Universidade de Londres, é um farto repositório de artigos analisando a 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 14214 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 142 24/02/11 14:4124/02/11 14:41 143 VOL 19 No 4 MAR/ABR/MAI 2011 FIM DE JOGO NO ESTREITO DE TAIWAN? marcha dos investimentos taiwaneses na China Continen- tal. Registro alguns aqui: Ping Deng, “Taiwan’s Restric- tion of Investment in China in the 1990s” vol. 40, n. 6 (nov, dez. 2000); Tse-Kang Leng. “Economic Globalization and it Talent Flows across the Taiwan Strait” vol. 42, n. 2 (mar. abr. 2002); Sutter, Karen M. “Business Dynamism Across the Taiwan Strait” vol. 42, n. 3 (maio jun. 2002); Fuller, Douglas B. “The Cross-Strait Economic Rela- tionship’s Impact on Development in Taiwan and China” vol. 48, n. 2 (mar. abr. 2008). Úteis, são também: Tse-Kang Leng, “State and Business in the Era of Globalization: The Case of Cross-Strait Linkages in the Computer Industry”, in The China Journal, Canberra n. 53, jan. 2005; Ming- Chin Monique Chu. “Contrôler l’incon trôlable: La deloca- lisation de l’indrustrie taiwanaise des semi-conducteurs vers La Chine Et sés implications pour la sécurité”, in Perspectives Chinoises, Hong Kong (2008, n. 1). 14. Yun-han Chu. “Power Transition and the Making of Beijing’s Policy towards Taiwan”, in The China Quarter- ly (2003). 15. Schriver, Randall & Mark Stokes. “Taiwan’s Libera- tion of China”, in Current History (set. 2008). Veja também: Tain-Jy Chen, “Will Taiwan Be Marginalized by China?” Nova York, Columbia University (Asian Eco- nomic Papers 2:2), 2003; Smith, Heather & Stuart Harris. Economic Relations Across the Strait: Interdependence or Dependence?, Canberra: ANU Australia-Japan Rese- arch Centre (Pacific Economic Papers n. 264). 16. Em artigo na Current History (set. 2010), o renoma- do sinólogo David Shambaugh mostrou-se bem mais otimista: “...cross-strait relations have now developed to such an extent that the ‘Taiwan Issue’ has essentially been resolved. Game over” (p. 224). 17. Perspectives Chinoises, a revista do Centre d’études français sur La Chine Contemporaine publicou, no seu número 112 (2010/3) um dossiê sobre as opções de Ma Ying-jean diante do ECFA, que ele ajudou a negociar. 14 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 14314 - Artigo 12 - Amaury Porto.indd 143 24/02/11 14:4124/02/11 14:41
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