Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Folclore e as Intervenções Culturais no Brasil 02 1. Folclore 4 Definição, Características e Significado 4 Características do Folclore 5 Significado 6 Folclore, a Memória de um Povo 6 Irmãos Grimm 9 2. O Folclore no Brasil 11 Proteção legal 15 Algumas Lendas, Mitos e Contos Folclóricos do Brasil 15 Outras Manifestações Folclóricas do Brasil 17 3. O Folclore e a Educação 20 O Estudo do Folclore 26 4. Referências Bibliográficas 33 03 4 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 1. Folclore Fonte: Escola Educação1 Definição, Características e Significado m agosto de 1846, foi lançada na Inglaterra, a palavra folclore pelo arqueólogo William J. Thomas, que mandou uma carta à revista “The Athenaeum”, de Londres, com a finalidade de pedir apoio para um levantamento de dados sobre usos, tradições, lendas, baladas religiosas daquele país. A carta foi publicada a 22 de agosto, e convencionou-se ser este o Dia Mundial do Folclore. Folk = povo e Logre = conhecimento e significa sabedoria popular. O fol- 1 Retirado em https://escolaeducacao.com.br/o-que-e-folclore/ clore é a expressão cultural mais le- gítima de um povo. O folclore é conjunto de tradi- ções, conhecimentos, crenças popu- lares, lendas, músicas, danças, adi- vinhações, provérbios, superstições, brinquedos, jogos, poesias, artesa- natos, contos, enfim é o estudo da mentalidade popular. É a tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. O Folclore revela a existência de uma alma co- letiva, de que já nos falavam Lazarus e Steinthal. Essas produções popula- res, que brotam espontâneas como E 5 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL as águas das fontes, que surpreende- mos a alma dos povos nas suas dife- rentes fases e que lhes desvendamos os mais íntimos sentimentos de re- volta e ternura, de amor e ódio, de bravura e medo, de alegria e sau- dade. Ciência que cuida das tradi- ções, usos e costumes dos povos. Sa- ber do povo. Nasce e se desenvolve no meio do povo. Caracteriza os cos- tumes de cada terra. É transmitido de pai para filho, oralmente ou por ensinamentos práticos, sendo defi- nido, inclusive, como a história não escrita de um povo. Os métodos de pesquisa dessa natureza adquiriam maior amplitu- de e tendendo um campo de frontei- ras menos imprecisas', mas ainda não bem delimitadas, o folclore pode ser hoje definido como a ciência que trata das tradições populares, ex- pressas através de lendas, canções, cantos, historietas, rezas, adivinha- ções, rituais, superstições, frases proverbiais, fábulas, receitas mitos. O advento do movimento po- sitivista no decorrer do século XIX, os interesses pela cultura popular passaram a ter o sentido de redesco- brir os substratos do passado que dão coerência a atividade e à história humanas. "Arcaico não significa mais um passado longínquo e degra- dado, mas uma cadeia que deveria ser compreendia para tornar inteli- gível a sociedade", nos revela Burke (1989). Características do Folclore Antiguidade: vem de um tempo muito remoto. Todo o povo, em sua fase primitiva, ao contemplar as coi- sas desconhecidas da natureza, ex- perimenta mais ou menos as mes- mas reações, que geram sentimentos múltiplos de curiosidade e medo, de deslumbramento e indagação. Anonimato: Não se consegue defi- nir com precisão fez isso ou aquilo. Não tem autor identificado. Constância: sobrevive em todo país e em cada região com seu toque típico, apesar de avanço da tecnolo- gia. Tradição: são narrados oralmente pelas pessoas mais idosas às crian- ças. Espontaneidade: é um modo de sentir, pensar e agir que os membros da coletividade exprimem ou identi- ficam como seu, sem que a isto se- jam levados por influência direta de instituições estabelecidas. Funcionalidade: o povo não co- nhece o ato gratuito. Tudo que faz tem um destino, preenche uma fun- ção, revela o modo de ser, a mentali- dade de um grupo primitivo ou po- pular, exatamente pelas funções que cumpre. 6 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL Aceitação coletiva: sem ela nada se torna folclórico. Essa aceitação faz com que o autor fique anônimo, e a obra passa a ser patrimônio de todos. Significado O folclore como expressão do povo faz parte de riqueza cultural e portanto está inserido no patrimô- nio cultural. É sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma par- te essencial da cultura de cada na- ção. Folclore, a Memória de um Po- vo Folclorismo é o ramo das Ciên- cias Sociais e Humanas, e seu estudo deve ser feito de acordo com a meto- dologia própria dessas ciências. Como parte da cultura de uma na- ção, o folclore deve ter o mesmo di- reito de acesso aos incentivos públi- cos e privados concedidos às outras manifestações culturais e científicas. Segundo Von Gennep Alguns folcloristas estendem o campo do folclore a todas as socie- dades, até mesmo as primitivas. En- tretanto, a existência de graus dife- rentes da mesma cultura é necessá- ria para caracterizar o fenômeno. Todos na sociedade partici- pam da criação e da manutenção do folclore, é por isso, não apenas atra- vés da sua aceitação ou repressão. O fenômeno folclórico em si resume, com extraordinária limpidez as es- peranças e as expectativas gerais, baseia-se tanto na tradição como na inovação. Em geral a forma (o auto, a redonda, a quadrada...) permane- ce, enquanto o conteúdo se modifica e se atualiza. Assim o folclore planta suas raízes no passado imemorial da humanidade e se projeta como voz do presente e do futuro. O folclore não é um fato do passado, é um fato vivo, presente, e perpétuo vir a ser. Voz atual do pre- sente deve estudar cultura popular como existe, na sua mutação conti- nua. As formas periféricas serão es- clarecedoras apenas ao estudo da sua realidade viva, presente, atual e fluida. A psicanálise deu aos estudos de folclore; Partindo da interpreta- ção dos sonhos, entendeu Freud que o folclore deve revelar os elementos simbólicos que a favorecem. Esse conhecimento, segundo o mesmo, nos vem de várias fontes dos contos e mitos, e facécias do folclore, isto é, do estudo dos costumes, usos, pro- vérbios e contos de diversos países, da linguagem poética e da lingua- gem comum. Nele encontramos em toda parte o mesmo simbolismo dos 7 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL sonhos que, nessas inter-relações, sairão desse exame com a certeza aumentada, baseada no inconscien- te coletivo A tendência dos costumes dos povos diferentes é quando estes se relacionam de modo íntimo, consti- tuir expressões híbridas, ou seja, suas culturas se misturam resultan- do em novas expressões de manifes- tações populares. Os grupos humanos influen- ciam uns aos outros, e assim é razoá- vel concluir que o folclore não é uma ciência estática, morta. Ao contrario ele é dinâmico, pois além de pesqui- sar o passado, tem de estar atenta às transformações do presente. O Brasil tem dimensões conti- nentais, o povo embora mantenha basicamente uma unidade espiritual e linguística às vezes apresenta cos- tumes bem definidos entre si. Pode sofrer algumas transformações em suas características conforme a loca- lidade, mas o tema é sempre o mes- mo. O estudo do folclore e o respei- to às tradições fazem parte dos deve- res patrióticos. Conhecendo nosso folclore, conhecemos a nós mesmos e sabemos que um povo se constitui lentamente, alicerçado em suas tra- dições. Devido a grande a quantidadede motivos que compõem o folclore brasileiro, ainda que se escrevesse uma extensa enciclopédia sobre o assunto, não se poderia garantir que estivesse completa. Isto sem consi- derar os motivos ainda em pesquisa. O folclore, igualmente, vulgar e coletivo isto é, de conhecimento amplo e social de um grupo mesmo que cada um dos participantes dete- nha apenas uma parcela desse co- nhecimento. Quando todos os co- nhecimentos se juntam os fatos se concretizam. O folclore, durável, persistindo por longas gerações e grupos que se sucedem, exercendo em alguns casos, um papel social de resistência mesmo que inconsciente, aos modismos de cada tempo. Para o fato folclórico existe sempre uma justificativa, uma expli- cação nem sempre dentro da lógica dita cientifica, mas segundo a ótica nascida de seu conhecimento e visão culturais. O fato folclórico existe por alguma razão: para explicar uma ação. Curiosamente essas ações, ain- da que praticadas num pequeno gru- po, adquirem uma abrangência uni- versal, à medida que, em suas carac- terísticas grupais, elas representam a aplicação, naquela sociedade, de uma pratica existente em todo o mundo. Este é o fenômeno chamado universalidade do folclore, que per- mite observar que fatos, ações, ma- nifestações e pensamentos sejam os mesmos em povos de todo o mundo 8 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL mesmo que praticados em outras roupagens, palavras e atitudes. O folclore é anônimo mesmo quando se conhecem o autor e os praticantes de um determinado fato ou ação. As produções folclóricas ca- racterizam-se pela popularidade e aceitação coletiva, sendo geralmente tradicionais e anônimas. Quando cria ou executa sua atividade, o au- tor está agindo de acordo com uma linha derivada da cultura popular. Como acontece, por exemplo, com a poesia popular, sabe-se quem é o po- eta, mas a sua obra se insere na es- trutura marcada pela cultura do po- vo. O folclore é espontâneo nas- cido que é da vontade livre do povo de se manifestar por meio de todos os canais de sua criatividade. Atual- mente, por toda parte temos ainda vivas histórias e lendas pertencentes ao patrimônio oral dos povos e ousa- mos dizer que essa é ainda contri- buição mais profunda na literatura infantil. Parlendas, provérbios, adi- vinhas têm sido pouco abandona- dos, na redação escrita, ligada a jo- gos brinquedos e outras práticas. Os provérbios tendem a desaparecer é muito raro encontrá-los na conver- sação diária a não ser entre pessoas mais idosas. Na zona rural, onde a vida é mais vagarosa e a tecnologia tem re- duzido acesso, todas essas formas de literatura tradicional possui maior probabilidade de durar. Nos grandes centros, porem, onde ninguém con- versa e poucos pensam e as lições da vida parece emanarem, ocorre o oposto. O folclorres revoluciona a lite- ratura infantil brasileira introduzin- do uma série de novos elementos tanto formais como em conteúdo, pois é ele que nos vai oferecer uma literatura infantil crítica visto que se preocupa em “debater assuntos pú- blicos” para que sejam mais facil- mente entendidos pelas crianças. Seu toque de humor fará com que se “[...] desmistifique uma série de pseudoverdades”. (ZILBERMAN, MAGALHÃES, 1987, p. 43 – ibidem, p. 65). O povo que utiliza formas an- tigas para se exprimir. Não o faz ape- nas porque essas formas tenham im- portância para seu futuro. Essas for- mas “antigas” se modificam e se re- novam pela recomposição, manten- do a correlação entre as classes, no plano cultural. Teatro e escola, as diversões populares suprem as deficiências da educação oficial, desenvolvem a for- ça da criação independente do povo, dão surgimento a uma consciência popular. Através do folclore, o povo se faz presente na sociedade, se afirma no âmbito da superestrutura ideolo- 9 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL gia, em verdade o folclore nem sem- pre será folclore. Pode perder-se na memória dos homens ou transfor- mar-se na realidade social do futuro. Existem exemplos históricos que nos indicam, com suficiente clareza, que aquilo que uma época imaginou ser folclore, “sabedoria vulgar” pode vir ser um dos aspectos mais signifi- cativos do complexo cultural de ou- tra época o caráter futuro do fol- clore, como reivindicação, se aplica à literatura oral de todos os países contra as injustiças sociais. A vida rural está em falência paulatina, de um lado porque o es- paço onde ela transcorre assume, de modo crescente, um significado abs- trato; de outro porque a presença da vida urbana vai deixando marcas profundas. O avanço da história motiva uma reação contrária na forma de um novo esforço de superação, que coincide, nos livros citados, com uma opção escapista: todos os per- sonagens, crianças na sua maior parte não se satisfazem com seu co- tidiano e almejo suplantá-lo, o que se viabiliza por meio de uma viagem: além disso, ela guarda do sonho sua mais exata significação: a realização dos desejos. Irmãos Grimm Dedicaram-se ao registro de várias fábulas infantis, ganhando as- sim grande notoriedade, notorieda- de essa que, gradativamente, tomou proporções globais. Também deram grandes contribuições à língua ale- mã, tendo os dois trabalhado na cri- ação e divulgação, a partir de 1838, do Dicionário Definitivo da Língua Alemã (o "Deutsches Wörterbuch"), que não chegaram a completar, de- vido a morte de ambos entre as déca- das de 1850 e 1860. 11 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 2. O Folclore no Brasil Fonte: Toda Matéria2 impossível conhecer, de fato, um povo, sem conhecer sua cul- tura, suas raízes, suas tradições, que se vão diluindo com o progresso e com a influência estrangeira. O sub- desenvolvimento leva a supervalori- zação e deslumbramento tudo que vem de fora, que, subestimando tu- do aquilo que é genuinamente pró- prio e que deve ser defendido, valo- rizando as características nacionais e preservando as tradições de um povo. Nas tradições de um povo está a força de sua nacionalidade. Os an- glo-saxões resistiram ao domínio francês, fazendo contar e ouvir os 2 Retirado em https://www.todamateria.com.br/folclore-brasileiro/ feitos do Rei Arthur, da Távora Re- donda; os germanos recorrem ao Ni- belung, para resistir à influência cul- tural francesa; e até os gregos conta- ram as lendas heroicas, sob pressão turca. Assim afirmam os cultores da história dos povos. E se multiplica- riam os exemplos de que só no espí- rito popular da tradição, nos valores perenes de uma raça, se encontra força para manter-se a liberdade de um povo. Os estudos europeus e ameri- canos sobre o folclore repercutiram e chegaram ao Brasil na segunda metade do século XIX, liderados por E 12 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL Celso de Magalhães (1849/1879), Sílvio Romero (1851/1914) e João Ribeiro (1860/1934). Seguiram-lhe Arthur Ramos (1903/1949), Ama- deu Amaral (1875/1929), Mário de Andrade (1893/1945), Renato Al- meida (1895/1981) e Edison Carnei- ro (1912/1972), dentre outros. No Brasil, os primeiros estu- dos voltaram-se para a poesia popu- lar. As pesquisas foram inicialmente conduzidas por correntes filosóficas e científicas vigentes na Europa e que marcaram época entre os inte- lectuais brasileiros. No Brasil, as fontes do folclore são três correntes étnicas que contri- buem para sua formação: o portu- guês, o indígena e o negro. Amálga- ma das três raças (vermelha, branca e negra), o folclore brasileiro, con- forme afirma Silvio Romero, “é o ca- minho mais seguro e mais claro para estudar o processo da formação bra-sileira, pela análise de suas origens”. Para o consagrado sociólogo, o ge- nuíno elemento nacional é o mesti- ço. É esse o brasileiro nato, soma de gerações: elemento assimilador, di- ferenciador e nacionalizante. O ín- dio e o negro, como o português, são estrangeiros. Essas três fontes de nacionalidade brasileiras, assim de- finidas: o índio vencido, o negro ca- tivo e o branco escravizado, embora tão diversas entre si, estavam identi- ficadas por um denominador co- mum: a melancolia da saudade. Mesmo o índio sofria de saudade, na própria terra em que vivia: a sau- dade de liberdade, em suas matas. E isso os fazia “cantar e “contar” jun- tos. Também os uniu o instinto ge- nérico. Contudo, é curioso notar-se que cada um, índio, negro e portu- guês, conservava suas tradições, cantando seu povo, seu país, culti- vando seus costumes, realizando seus rituais e eternizando-os. E as- sim, no Brasil, durante o primeiro século da colonização, as tradições das três raças permaneceram dife- renciadas. A partir do século XVII, começam as aglutinações e assimila- ções, num processo de influências recíprocas. E aí tem início a nossa nacionalidade, com sua raça, sua Li- teratura, criada por Gregório de Ma- tos Guerra, o pai da Literatura brasi- leira. Nascido na Bahia, Gregório, poeta notável oferece, em sua obra, um documento precioso de linguís- tica em nosso folclore, realizando as primeiras transformações que a lín- gua portuguesa clássica, lusitana, como é óbvio, o nosso poeta não fi- cou alheio aos problemas e à lingua- gem de seu país, documentado com realismo a sociedade da época, seus costumes, sua política, seus mexeri- cos e sua linguagem em formação e transformação. 13 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL No século XVIII, o Arcadismo aproxima os poetas da natureza, e os poetas da Escola Mineira dão nova feição à Literatura nacional e novas perspectivas á nossa nacionalidade, com o despertar da paisagem brasi- leira, natural, política, social e hu- mana, num apelo à consciência de seu povo. Este é um autêntico ele- mento catalizador do nosso folclore, representado pelo celebre Caldas Barbosa, o conhecido Viola de Lo- reno, divulgador das famosas modi- nhas, por ele popularizadas, consti- tuindo-se uma bela expressão da tradição folclórica. Posteriormente o Romantis- mo consolida a importância do fol- clore, e desenvolvem-se as pesquisas em torno do tema, valorizado pela Escola Romântica como uma autên- tica expressão de nacionalismo. Inezita Barroso importante cultiva- dora do folclore brasileiro expresso musicalmente Fonte: http://artenocaos.com/femi- nismo/inezita-barroso-a-folclorista- do-brasil/ O folclore é diferente em cada região e cultura. A riqueza do folclo- re brasileiro, além das diferentes contribuições das raças que o for- mam, é a sua variedade de expres- são, sua diferenciação, pela vasta ex- tensão do nosso país, motivando o desenvolvimento de características próprias, específicas, em vários lo- cais. Eis por que o folclore do Brasil está dividido em Regiões: do Norte (Amazonas, Pará: a lenda da Vitória- Régia, A Criação do Norte, A Iara, etc.); do Nordeste (Ceará, Rio Gran- de do Norte, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Alagoas, Sergipe, Piauí: A Caipora ou o Caapora, O Lo- bisomem, O Barba-ruiva, A mula- sem-Cabeça, etc.); do Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás: Origem das Estrelas, Anhanguera, As Lágrimas de Potira, etc.); do Leste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais: O Sonho de Paraguaçu, O Segredo de Robério Dias, O filho do trovão, etc.); do Sul (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul: O negrinho do Pastoreio entre ou- tras.) As lendas folclóricas, como tantas outras expressões culturais, sofrem influência exterior, ou vão recebendo-a em suas diversas recri- ações, o que as afasta de sua expres- são autêntica, adulterando-as. O Sa- ci tem sido o mais explorado e por isso o mais polimorfo, em nossa mi- 14 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL tologia. O folclore serve também co- mo fonte recreativa. É necessário, entretanto, observar as superstições e crendices, para não despertar crenças e temores prejudiciais à for- mação da criança. Muitas crianças da gerações mais recentes nunca viram (talvez nem ouviram falar) uma ninhada de pintinhos, e desconhecem o proces- so natural pelo qual é elaborado um ninho, até que os pintinhos furem com seus biquinhos a casca do ovo, em busca da vida cá fora, da luz; nem cogitam que os bois já puxaram car- ros, os poéticos “carros-de-boi”, cantando seu lamento pelas estradas agrestes da terra. A cultura popular relaciona-se inteiramente ao estudo da cultura de todos os elementos que constituíram a nacionalidade brasileira (sudane- ses e bantos, portugueses, negro, ín- dio, italiano, alemães, japoneses, sí- rio-libaneses e outros). O folclore é por excelência um meio de difusão de conhecimentos da cultura do po- vo. A escola, através da linguagem oral e escrita, transforma-se em um veículo comunicativo dos contos, provérbios, parlendas, jogos, folgue- dos, trabalhos manuais, artes e arte- sanatos, melodias, ritmo e instru- mentos, dos valores éticos, morais e estéticos, pela finalidade formativa e pela atitude de patriotismo que co- munica. Todas as culturas compõem o patrimônio comum da humani- dade. O folclore deve ser estudado a partir de suas consequências sociais, antropológicas, psicológicas e estéti- cas, para a noção, envolvimento e vinculação da cultura popular. Quanto o povo transmite seus conhecimentos, usa como fonte muitas vezes o folclore. É comuni- cada de boca em boca pelos homens, de natureza anônima, e não conhe- cendo o autor, não é de ninguém, diz respeito ao povo. Apreciando o fol- clore de um país podemos compre- ender o seu povo e a sua história. O folclore brasileiro é um dos mais ex- traordinário do mundo. Neles, estão as tradições dos distintos povos que constituíram nossa terra, principal- mente o indígena, o africano e o eu- ropeu. Porém, nem tudo que é popu- lar é folclórico. Para um estilo ser avaliado como folclórico é preciso ter raiz anônima, ou seja, não saber quem o inventou, ser transmitido de geração em geração e ser socialmen- te, praticado por muitos e não por uma só pessoa. A cultura brasileira recebeu contribuição de diversos po- vos, o que levou nosso folclore a ter identidade própria, pois resulta de diferentes histórias e costumes. "O difícil - adverte mestre João Ribeiro - é levantar nessa prole infinita a li- nhagem que nos conduza às fontes primitivas. São muitos os cruzamen- tos e as contaminações que se desco- 15 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL brem em caminho; mas afinal não é impossível superar esse labirinto". No Congresso Brasileiro de Folclore, em 1951, ficou deliberado que: constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pe- los círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio cientí- fico e artístico humano ou à fixação de orientação religiosa e filosófica. Proteção legal Fazem parte do folclore brasi- leiro a mitologia, as crendices, as lendas, os folguedos, as danças regi- onais, as canções populares, os cos- tumes populares, as histórias popu- lares, religiosidade popular ou cos- tumes populares, a linguagem típica de uma região, medicina popular, o artesanato etc. As crenças, as lendas, as tradi- ções, costumes e tradições, são bens imateriais, que compõem o patrimô- nio cultural, estão protegidos juridi- camente pelo texto constitucional. Sendo, pela lei, consideradosbens imateriais difusos de uso comum do povo e que podem ser protegidos pe- la a ação civil pública (Lei 4.3/85). Constituição Federal: Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direito culturais e às fontes da cultura naci- onal, e apoiará e incentivará a valo- rização e a difusão das manifesta- ções culturais; Art. 216. Constituem patrimô- nio cultural brasileiro os bens de na- tureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identida- de, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. As formas de expressão; II. Os modos de criar, fazer e vi- ver; III. As criações científicas, artísti- cas e tecnológicas; IV. As obras, objetos, documen- tos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artís- tico-culturais; V. Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, ar- tístico, arqueológico, paleontoló- gico, ecológico e científico. Algumas Lendas, Mitos e Con- tos Folclóricos do Brasil Boitatá: Representada por uma co- bra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que des- respeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e 16 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL que seja um dos primeiros do fol- clore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do pa- dre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre". Boto: Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazô- nica. Ele é representado por um ho- mem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. An- tes de a madrugada chegar, ele mer- gulha nas águas do rio para transfor- mar-se em um boto. Curupira: Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Re- presentado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que des- respeitam a natureza. Quando al- guém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira. Lobisomem: Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capa- cidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo. Mãe-D'água: Encontramos na mi- tologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água: a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de pei- xe. Com seu canto atraente, conse- gue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas. Corpo-seco: É uma espécie de as- sombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi re- jeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada. Pisadeira: É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provo- cando a falta de ar. Dizem que costu- ma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio. Mula-sem-cabeça: Surgido na re- gião interior, conta que uma mulher teve um romance com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira é transfor- mada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelo pescoço. Mãe-de-ouro: Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais 17 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL do Brasil, toma a forma de uma mu- lher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias. Saci-Pererê: O saci-pererê é repre- sentado por um menino negro que tem apenas uma perna. Sempre com seu cachimbo e com um gorro ver- melho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se di- verte muito com isso. Adora espan- tar cavalos, queimar comida e acor- dar pessoas com gargalhadas. Capelobo: Personagem folclórico típico da região Norte do Brasil (principalmente Maranhão e Pará). O capelobo é uma espécie de mons- tro com corpo de homem musculoso e peludo e cabeça de tamanduá-ban- deira. Feroz, ataca caçadores nas flo- restas e se alimenta de carne de ga- tos e cachorros. Comadre Florzinha (ou Coma- dre Fulozinha): É uma mulher ca- bocla, representada em algumas versões da lenda como uma espécie de fada pequena, que vive nas flores- tas do Brasil (principalmente na Zo- na da Mata nordestina). Vaidosa e maliciosa, possui cabelos compridos e enfeitados com flores coloridas. Vive para proteger a fauna e a flora. Junto com suas irmãs, vivem apli- cando sustos e travessuras nos caça- dores e pessoas que tentam desma- tar a floresta. Cobra Norato: Cobra Norato é um homem, que se transforma em uma cobra grande durante o dia. Era filho de uma índia com um boto. Tinha uma irmã gêmea, que também era uma cobra. Ambos viviam nos rios da região, local em que foram joga- dos após o nascimento. Cobra Nora- to era muito bom e gentil, enquanto a irmã era malvada e cruel. Na lenda, Cobra Norato mata a irmã e o encan- to é desfeito com a ajuda de um ami- go. Essa lenda une outras duas, tam- bém de origem indígena, da região amazônica: lenda do boto-cor-de- rosa e a lenda da Cobra Grande. Outras Manifestações Folclóri- cas do Brasil Além dos mitos e lendas, o fol- clore brasileiro apresenta uma gran- de diversidade cultural. Podemos também considerar como legítimas representações do nosso folclore: ritmos e danças folclóricas (carim- bó, forró, capoeira, frevo, caiapó), comidas regionais típicas, músicas regionais, encenações (marujada, bumba-meu-boi, congada e cavalha- da) superstições, representações ar- tísticas (artesanato, confecção de rendas e cestas de palha), comemo- rações, brincadeiras e jogos infantis (parlendas, amarelinha e trava-lín- guas), ditados populares, tradições, 18 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL crenças e festas populares (festa ju- nina, Festa do Divino, Círio de Na- zaré e Folia de Reis). A título de exemplo apresen- tamos uma das expressivas produ- ções do Folclore brasileiro, uma his- torieta recolhida em Carangola, no Estado de Minas Gerais: "Havia, em certo lugar, um vi- gário de nome Padre Lourenço, a que as beatas não deixavam descansar, antes e depois das missas, com confissões e mais confissões. O padre, para ver-se livre delas, arranjou um roteiro para as de- sobrigas, e certo domingo o leu na igreja, à hora da missa, di- zendo: "Minhas devotas. Estou ficando velho e cansado e por isso, de agora em diante, tenho de se- guir para as confissões o se- guinte roteiro: aos domingos, confessarei as preguiçosas; às segundas, as maldizentes; às terçãs, as ladras; às quartas, as hipócritas; às quintas, as bêba- das; às sextas, as feiticeiras, e aos sábados, as comilonas e er- radas". Desse dia por diante, nenhuma mulher se quis mais confessar naquela freguesia e o Padre Lourenço viveu ainda muitos anos, sempre descansado". (Em LINDOLFO GOMES: Con- tos Populares). E assim, deixando a alma ex- pandir-se, ora em explosões de afe- to, ora de revolta, ora de ironia e sar- casmo, o povo, em sua simplicidade, vai legando aos pósteros os seus can- tos, as suas histórias, as suas senten- ças, enfim a sua sabedoria toda. 20 O FOLCLOREE AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 3. O Folclore e a Educação Fonte: Escola da Inteligência3 folclore tem a ver com as cren- ças de um grupo ou de um po- vo. Mistura um pouco de verdade e de criatividade. Nem por isso é pou- co importante. Na verdade, a serie- dade é tão grande que existem estu- diosos do assunto, que são pesquisa- dores que recebem o nome de folclo- rista. Como o folclore é uma forma de conhecimento, são saberes e cos- tumes tornados tradicionais em sua vida social; são as crenças, as lendas, 3 Retirado em https://escoladainteligencia.com.br/blog/como-ensinar-folclore-na-educacao-infantil/ os cantos, a religiosidade, as artes etc, que contribuem para reforçar os laços de identidade e pertencimento de povo a um determinado espaço e a um grupo social e étnico. Estimu- lar o ensino através de atividades que envolvam conhecimento sobre o folclore brasileiro e a cultura popu- lar é uma prática pedagógica presen- te em algumas escolas públicas do País. Os costumes folcloristas não param no tempo. Dia após dia eles O 21 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL são atualizados. A exemplo disso, te- mos os contadores de histórias. Nas áreas rurais é bem conhecida a figu- ra do contador de histórias sertane- jo. Mas ele também existe em outros lugares e épocas. Hoje em dia, por exemplo, há o contador de histórias nas escolas, nos teatros e nos mu- seus. O tempo mudou, a forma mu- dou, mas o contador permanece. Folclore não é algo imutável, que pertence ao passado, mas acon- tece hoje em dia, nas brincadeiras que as crianças inventam, por exem- plo, nos apelidos que elas criam. Os laços da literatura infantil com a es- cola foram indicados antes: ambas são alvos de uns incentivos maciços quando são fortalecidos os ideais da classe média. Para esse grupo, a edu- cação é um meio de ascensão social e a literatura um instrumento de di- fusão de seus valores, tais como a importância da alfabetização da lei- tura e do conhecimento (configuran- do o pedagogismo que marca o gêne- ro) e a ênfase no individualismo no comportamento moralmente aceitá- vel e no esforço pessoal. Esses aspec- tos fazem da literatura um elemento educativo embora essa finalidade não esgote sua caracterização. A fic- ção para a infância engloba um elen- co abrangente de temas que respon- dem a exigências da sociedade, ul- trapassando o setor exclusivamente escolar, assim sendo, integra-se inti- mamente à ficção para crianças, na medida em que ensino e literatura se interpenetrem de diversos modos, variando segundo a concepção como foi entendida a capacidade de os li- vros serem absorvidos e atualizados pelos professores. Nesse sentido a primeira modalidade a ser examina- da é a que mais assemelha e, parado- xalmente, mais se distanciam da es- cola: trata-se da constituição de um espaço equivalente ao escolar, capaz de, ao mesmo tempo, ser mais efici- ente que a escola. Lobato é o ideali- zador desse cenário perfeito, que se localiza mais uma vez, no Sítio do Pica-pau Amarelo. O tema folclore desperta a atenção das crianças e contagia a turma. Os estudantes en- tram em contato com a cultura, pes- quisam, reúnem informações pre- sentes em seu cotidiano e aprofun- dam os conhecimentos referentes a elementos históricos. É preciso que a criança viva a sua influência, fique carregando pa- ra sempre, através da vida essa, pai- sagem, essa música, esse descobri- mento, essa comunicação. O folclore é uma rica fonte natural de Literatu- ra Infantil e que cresce dia a dia, não nos permitindo esgotar o assunto. As obras literárias não saem total- mente acabada das mãos de seus cri- adores, estes são aqueles que as aperfeiçoam cada vez que as reveem. Eles as criam; os críticos as recriam 22 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL e completam com múltiplas inter- pretações. Sendo que quanto mais rica é a obra, maior a sua complexidade e consequentemente, suas diversas e diferentes versões. Como diz Almei- da (1976, p. 9). O folclore revela o modo de ser, a mentalidade de um grupo primitivo ou popular, exata- mente pelas funções que cumpre. Conhecimento das tradições de um povo de tudo que caracteriza uma região, suas implicações no tempo e no espaço; conhecimento das diferentes áreas de cultura, oca- sionando maior enriquecimento cul- tural; interpretação da psicologia de um povo, através de suas tradições; conhecimento das raízes étnicas de um povo; investigação das socieda- des humanas; conhecimento das ca- racterísticas dos grupos sociais; conscientização da importância do conhecimento das tradições de um povo; aquisição de subsídios para a distinção entre Literatura Popular e Folclore. Se faz necessário compreender o espectro folclore em toda a sua ex- tensão. Embora haja legitimidade nas lendas, elas acabam configuran- do um vício, sobretudo nas aborda- gens escolares. O importante, é con- siderar saberes diversos, dos profes- sores, alunos, familiares e de quem mais possa contribuir com o proces- so educativo. É o mais completo auxiliar di- dático no plano pedagógico, pela ca- pacidade de globalização que nele se encontra, oferecendo-nos oportuni- dade de explorar todas as discipli- nas: Linguagem, através do modis- mo, do paralelo entre as expressões populares e a língua culta, das for- mas regionais, das expressões clássi- cas e tradicionais que se fixaram na linguagem, das transformações lin- guísticas, etc. Geografia física, eco- nomia, política, aspectos topográfi- cos, características dos grupos soci- ais e sua fixação no espaço, cultura e exploração da terra, formas de tra- balho, atividades culturais, etc. His- tória, pelas tradições dos povos e das raças, suas implicações étnicas e éti- cas, feitos heroicos e sociais, fatos e pessoas que se tornam importantes ou curiosos, acontecimentos locais, etc. Matemática, na aritmética dos pesos e medidas das receitas dos tra- dicionais bolos e licores, tão artesa- nais quanto saborosos e apreciados. A literatura, com os contos que a tradição veicula, através das narra- tivas folclóricas, orais ou escritas, nas lendas, nos desafios, na riqueza da Literatura de cordel, e na poesia, representada pelas quadrinhas de redondilha. Música, com as cantigas de roda e outras cançõezinhas que tanto enriquecem o acervo infantil. Arte artesanal, riquíssima de temas. Jogos e brincadeiras que o folclore 23 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL consagrou num rico material lúdico; e até a Ciência, na flora e na fauna que já não se encontram facilmente em nossos dias: as folhagens que re- alizam a medicina doméstica, e mes- mo certas flores que já não se culti- vam, adquirindo um colorido folcló- rico, como a “boca-de-lobo”, “os brincos-de-princesa”, as “boninas” e tantas outras. Só nesses termos interessa fa- lar de literatura infanto-juvenil que. O que constitui é o acervo de livros que, de século em século e de terra em terra as crianças têm descoberto, têm preferido, têm incorporado ao seu mundo, familiarizadas com seus heróis, suas aventuras, até seus há- bitos e sua linguagem, sua maneira de sonhar e suas glórias de derrotas. A literatura, ao oposto, não é, como tantos supõem, um passatempo. É uma nutrição. O oficio de contar histórias é remoto. Em todas as partes do mun- do encontramos. Porque essa litera- tura primitiva começa por ser utili- tária. A princípio, utiliza, a própria palavra como instrumento mágico. Serve-se dela com elemento do ri- tual, compelindo a natureza, por or- dens ou súplicas, louvores, ou en- cantações, a conceder-lhe o que mais importa, segundo as circuns- tâncias, ao bem estar humano. O valor estético vem acrescen-tar-se, depois, como acessório ao primeiro valor, de interesse imedia- to. Saber fazê-lo concorre para favo- recer com benefício. E implica, tam- bém, uma espacialização. Não há quem não possua entre suas aquisições, a riqueza das tradi- ções, recebidas por via oral. Elas precederam os livros, e muitas vezes o substituíram. Em certos casos, eles mesmos foram o conteúdo desses li- vros. O livro vem suprir essas au- sências. Tudo quanto se aprendia por ouvir contar, hoje se aprende pe- la leitura. E examinando boa parte dos livros, ainda os melhores, que as crianças utilizam, ai encontram as histórias da carochinha que perten- cem ao tesouro geral da humanida- de: as mil e uma noites, as grandes narrativas que embalaram a antigui- dade, os contos que Perrault, Mme. d’Aulnoy, os irmãos Grimm recolhe- ram histórias vindas de outras cole- ções, fragmentos de epopeias, tudo se comprimem nesses livros aproxi- mando tempos e países permitindo convívio unânime dos povos. Os gêneros literários surgem dessas primeiras provas, afeiçoan- do-se já a fluência das narrativas, aos ritmos do drama, matizando-se em lenda, resumindo-se no breve exemplo do provérbio, gerando to- das as outras espécies parece ter si- do moda do século XVII esse gosto pelas histórias da carochinha. Mme. 24 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL d’Aulnoy coligiu também uma de- zena delas que em diferentes nomes se vêem circular até hoje nos livros de fadas. Na permanência do tradicio- nal, na literatura infanto-juvenil tanto oral como escrita, pois por ele se vislumbra um caminho de comu- nicação humana desde a infância que, vencendo tempo e as distâncias nos permitem uma identidade de formação. Por essa comunhão de histórias que é uma comunhão de ensinamentos, de estilos de pensar, moralizar e viver, o mundo parece tornar-se fácil, permeável a uma so- ciabilidade que tanto se discute. Se as religiões tentam realizar a frater- nidade estabelecendo princípios que tornam os homens reconhecíveis à luz do seu credo essa moral leiga aju- da a realizar tal fraternidade, estabe- lecendo uma compreensão recíproca à luz das mesmas experiências mile- nares, traduzidas em narrativas amenas. Assim, leituras sagradas; mais que antes foram, também, narrati- vas orais, a tradição religiosa que, em meio às tradições profanas, são o alimento profundo da humanidade. Nem todos terão abertos livros na sua infância. Mas quem não terá ouvido uma lenda, uma fabula, um provérbio, uma adivinhação? Quem não terá brincado com uma canção que um dia lhe aparecerá noutro idi- oma? Quem não terá passado e agi- do em função de exemplos que são os mesmos que outros povos, de ou- tras eras, provenientes de um esfor- ço análogo do homem para adaptar- se a sua condição na terra. Por esse caminho é a literatura tradicional a primeira a instalar-se na memória da criança. Ela representa seu pri- meiro livro antes mesmo da alfabe- tização, e o único, nos grupos sociais carecidos de letras recebe-se na in- fância a visão do mundo sentido, an- tes de explicado; do mundo ainda em estado mágico. Ainda mal acor- dada, é por essa ponte de sonho que a criança caminha tonta do nasci- mento na paisagem do seu próprio mistério, essa pedagogia secular ex- plica-lhe em formas poéticas, fluidas com as incertezas tão sugestivas do empirismo, o ambiente que a rodeia - seus habitantes, seu comporta- mento, sua auréola. Hoje, por toda à parte temos ainda vivas histórias e lendas per- tencentes ao patrimônio oral dos po- vos. E ousamos dizer que essa é ain- da a contribuição mais profunda, na literatura infanto-juvenil. Parlen- das, provérbios e adivinhas têm sido um pouco abandonados, na redação escrita, ligadas a jogos, brinquedos e outras práticas. Muitos fizeram pen- sando na beleza do ensinamento ou 25 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL na graça d narrativa, sem lhes ocor- rer que estavam trabalhando especi- almente na infância. Outros, dese- jando que as crianças viessem a re- ceber essa herança, mas depondo-a na mão dos adultos. Esse é, pois, o primeiro caso da literatura infanto-juvenil: a redação escrita das tradições orais, o que hoje constitui a disciplina do folclore pode ser a redação direta sem acrés- cimos, reduções, ou ornamentos que é, por exemplo, a linha que seguia os irmãos determinada criança passa- ram depois a uso geral como aconte- ceu com as fábulas de La Fontaine, as aventuras de Telêmaco, de Féne- lon, e outros mais. Por fim, no terceiro caso, é o dos livros não escritos para as crian- ças, mas que vieram a cair nas suas mãos e dos quais se fizeram depois adaptações, reduções, visando tor- ná-los mais compreensível ao pe- queno público. Se a aventura tornou-se as- sunto recorrente na literatura, outra fonte bem- sucedida foi a tematiza- ção da infância, que focalizando lite- ralmente crianças, que simbolizan- do-as através de outras espécies, co- mo bichos e bonecos animados. A fábula e, depois, o conto de fadas foram às modalidades literá- rias que procederam à conversão de personagens não humanas, mas an- tropomorfizadas, em símbolos das vivencias e da interioridade da cri- ança. No Brasil, a transposição cô- mica com Figueiredo Pimentel e prossegue com Monteiro Lobato (criador de Quindim e Rabicó), Éri- co Veríssimo (Os três porquinhos pobres), além de que vários outros escritores. Assim, não é de surpreen- der que historias desse tipo conti- nuem a encantar crianças até os dias de hoje. Na maior parte dos livros, a li- mitação física traduz-se também de modo especial, porque o lugar ideal de todos esses bichos é a casa. Esta simboliza o círculo doméstico a que as crianças devem se submeter. A desobediência coincide com o desejo de fuga, a que se segue o reconheci- mento do erro e o retorno ao lugar de origem. Raramente o animal é motivo para a incorporação do folclore. Há a tentativa de recuperar um acesso lendário que tem nos animais da fauna brasileira os principais agen- tes de aventuras. Toda via, os textos se ressentem de pesquisa às fontes, preferindo lidar mais uma vez com material de origem europeia ou com histórias de animais domésticos. Inspirado no conto de fadas e na fa- bula, os personagens que tomam a forma animal aparecem em textos comprometidos com a veiculação de valores do mundo adulto e com a consequente puerilização da crian- 26 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL ça. O mesmo ocorre em histórias que conservam a forma primitiva do conto de fadas. Igualmente digna de atenção é a ausência de crianças de carne e osso, bem como de coorde- nadas espaços-temporais, indicado- ras da relação dos contos com uma dada realidade histórica. Para pre- encher essa lacuna habilita-se um substituto: o boneco animado. Grimm. O segundo caso da li- teratura infanto-juvenil é o dos li- vros, que, escritos para uma deter- minada criança passaram depois a uso geral como aconteceu com as fá- bulas de La Fontaine, as aventuras de Telêmaco, de Fénelon, e outros mais. Por fim, no terceiro caso, é o dos livros não escritos para as crian- ças, mas que vieram a cair nas suas mãos e dos quais se fizeram depois adaptações, reduções, visando tor- ná-los mais compreensível ao pe- queno público. O Estudo do Folclore A língua e a história, conjunto de manifestações da cultura popular tradicional, retrata a alma de um povo, exprimindo sentimentos e va- lores estéticos que muitas vezes in- fluenciam as expressões mais elabo- radas da cultura de cada nação. Não existe definição universalmente aceita para o termo folclore, usado em geral para traduzir as manifesta- ções artísticas dos povos, ou de al- guns de seus extratos sociais, que surgem de maneiraespontânea e à revelia da cultura oficial. A palavra folclore também se aplica à ciência que estuda essas manifestações. Se- gundo Artur de Almeida Torres, o material folclórico, no que concerne às criações espirituais, é carinhosa- mente recolhido pelos estudiosos da matéria, os quais lhe dão forma ade- quada e inteligível, sem, contudo, modificar-lhe a fisionomia própria, o tom de simplicidade e a expressão característica da linguagem tosca. João Ribeiro afirma que "o progres- so do espírito precisou e quantificou as noções ingênuas do povo". Até fins do século XVIII, as eli- tes consideravam as expressões da cultura popular, fossem elas danças, sagas ou peças de artesanato, como produtos da ignorância, desconheci- mento das ciências e artes, patrimô- nio das classes superiores. No início do século XIX, alguns estudiosos co- meçaram a valorizar certas criações populares como a poesia, na qual en- contravam um frescor e uma pro- fundidade que constatava como o jornalismo e a rigidez da arte acadê- mica. O filósofo alemão Johann Gott fried van Herder observou que a li- teratura “popular” é um “arquivo” imaterial onde os povos conservam 27 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL sua memória coletiva. Foram os ir- mãos Jacob e Wilhelm Grimm que, nas coletâneas Kinder-und Haus- marchen (1812- 1822; contos para crianças e para o lar) e em Deutsche Mythologie (1835; Mitologia alemã), mostraram que as fábulas populares não só encerram interesse literário, como também contêm, não raro, chaves que permitem o acesso às mais antigas crenças religiosas. A ligação entre literatura fol- clórica e a história das religiões foi logo corroborada pelo descobrimen- to da antiga língua sânscrita, cujo parentesco com os idiomas euro- peus não tardou a ser demonstrado. Em meados do século XIX, o filósofo Max Muller chegou à conclusão de que as narrativas populares conti- nham os restos da antiga religião dos povos arianos, ocultos pela evolução da linguagem. Em 1846, o inglês William John Thoms propôs substi- tuir os termos um tanto pejorativo que então se usava para designar as artes populares pelo vocábulo anglo- saxão folklore (de folk, “povo”, e lo- re, “saber ou conhecimento tradicio- nal”). Apesar de toda modernidade existente hoje, os costumes, as cren- ças não são esquecidas e principal- mente pelos mais velhos, são eles que passam para os dias atuais o que aconteceu há anos a traz. Calazans diz que a melhor forma de se enten- der as manifestações folclóricas é nos desprendendo das conservações das circunstâncias presente ao co- nhecimento. "José Calasans... o ca- minho metodológico que devemos seguir: afastar-se de certo "conser- vantismo epistemológico", fundido as manifestações folclóricas à di- mensão histórica e antropológica". (SÀ. 2010, p. 319). No entanto pode- se dizer que a inteiração do folclore com a religião acontece em virtude da diversidade cultural. O Folclore e a Literatura: mitos, poemas, contos, adivinhas, canções, sagas, ritos e provérbios transmiti- dos por via oral são modalidades de literatura folclórica. Essas formas li- terárias são objeto de incontáveis re- petições de ante de plateias que, apesar de as conhecerem desde sem- pre, continuam a ouvi-las com de- leite. Após a invenção da escrita, três ou quatro mil anos antes Cristo, for- mou se uma cultura própria das classes superiores que se utilizavam os textos escritos, enquanto o povo humilde e iletrado continuava a re- petir e a recriar os temas mais anti- gos. Esta divisão entre cultura su- perior e cultura popular, entretanto, não foi absoluta, porque assim como muitos elementos da cultura oficial têm sido usados pelo folclore, e tam- 28 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL bém frequente que artistas e escrito- res recorram a este como fonte de ideias e procedimentos. Por vezes, grandes obras da literatura oral, de- pois de escritas, convertem-se em monumentos de arte, como ocorreu com as obras de Homero. A expressão mais profunda da literatura folclórica talvez sejam os contos, cuja origem remota às épo- cas mais remotas. Ao contrário dos mitos e das fábulas, os contos não precisam ser criados por alguém, e por isso, ao mesmo tempo em que respeitam as convenções culturais, podem apresentar uma enorme vari- edade de temas. As narrativas dos ir- mãos Grimm e de Charles Perraut (A gata Borralheira, Chapeuzinho Ver- melho, etc.) são apenas alguns dos contos folclóricos mais conhecidos, especialmente após sua difusão es- crita. Relacionadas com contos são as fábulas folclóricas cujos persona- gens são quase sempre animais, e das quais se pode extrair um pre- ceito moral ou social. Não só os con- tos também as fábulas e os grandes poemas populares têm sido objeto de numerosos estudos científicos e constituem a base de arquivos naci- onais cada vez mais ricos. O Folclore, a Música e a Dança: todas as culturas criaram formas musicais para acompanhar seus tra- balhos ritos e festas. Os folcloristas acreditam que tais canções sejam fruto de criações individuais, mes- mo que depois apresentem altera- ções introduzidas por seus usuários. O intercâmbio de melodias entre pa- íses e povos vizinhos não os impede de ter suas próprias criações musi- cais, acompanhadas de instrumen- tos também típicos. A música folclórica é geral- mente monofônica (executada por uma só voz), embora em algumas partes do mundo sejam comuns as canções para duas ou mais vozes. Cumpre distinguir essa música fol- clórica da que se denomina popular ou ligeira, composta por profissio- nais para enormes plateias, e que é um fenômeno que data somente do século XIX. Mais difícil é delimitar a área exata das danças folclóricas, que para alguns são apenas as que têm funções mágicas ou econômi- cas, e para outros todas as que foram criadas por algum povo, de maneira espontânea, em suas atividades coti- dianas. Uma terceira concepção pre- tende que as danças populares cons- tituam a origem de manifestações elaboradas, coma o flamengo anda- luz ou as danças da Índia, que reque- rem grande especialização. Na ori- gem das danças folclóricas encon- tram-se sobrevivências de ritos pré- históricos, ainda que em muitas seja também evidente é contribuição das novas religiões, como a cristã. 29 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL Folia de Reis Fonte: https://www.todamate- ria.com.br/folia-de-reis/ O Folclore e as Criações mate- riais: o acervo das obras do folclore inclui ainda objetos até obras arqui- tetônicas. Seus criadores os produ- zem para algum uso imediato com os materiais mais a mão, seguindo mo- delos tradicionais que nenhum arte- são costuma desrespeitar. A arquite- tura folclórica, de que há exemplos em quase todo planeta, tem uma ori- entação predominantemente do- méstica, embora também existem construções populares para usos re- ligiosos, públicos ou utilitários, co- mo no caso dos celeiros galegos. Existe uma pintura folclórica que se adapta aos mais diversos objetos, como móveis, imagens de santos e até exteriores de casas. As classes populares também criaram uma arte religiosa própria, que pode ser vista nos presépios cristãos ou nas mar- gens das divindades hindus. Folclore e a Literatura oral: arte de demonstrar eventos reais ou fictí- cios em palavras, imagens e sons. Histórias têm sido compartilhadas em todas as culturas e localidades como um meio de entretenimento, educação, preservação da cultura e para incutir conhecimento e valores morais. No livro intitulado Contos dos Irmãos Grimm, Estés (2005, p. 14) afirma que “Desde tempos ime- moriais, alguns contos têm sido usa- dos para fazer proselitismo de certas maneiras de ser, agir e pensar.”A li- teratura oral é frequentemente con- siderada como sendo um aspecto crucial da humanidade. Os seres hu- manos têm uma habilidade natural para usar comunicação verbal para ensinar, explicar e entreter, o que explica o porquê da literatura oral ser tão preponderante na vida coti- diana. A literatura oral tradicional difere da literatura oral multimédia no sentido de que ela é experimen- tada e se forma dentro da mente da audiência. Por exemplo, um dragão descrito será diferente para cada ou- vinte, enquanto uma representação visual será mais específica. Dado que a literatura oral tradicional de- pende da experiência pessoal e da imaginação do recipiente, ela tende a ter um impacto mais forte. Entre os exemplos de literatu- ra oral no Brasil contam-se poesias (cancioneiros, desafios, testamentos de Judas), narrativas (contos, fábu- las, mitos e lendas a que se podem acrescentar histórias como a Donze- 30 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL la Teodora e os pares da França), ro- mances (a Bela Infanta, o Soldado Jogador, a Nau Catarineta) e gestas enigmas e adivinhas, anedotas, tra- va-línguas (um ninho de mafagafos cheio de mafagafinhos, a aranha ar- ranha a jarra, a jarra arranha a ara- nha), missivas como o pão-por-Deus Catarinense, provérbios e compara- ções (cotia ficou sem rabo de fazer favor, o direito do anzol é ser torto, antes fanhoso do que sem nariz), os pasquins manuscritos, os abecês e, em geral, a literatura de cordel. Folclore Infantil: Na área do fol- clore infantil inserem-se as rondas (cirandinha, ponte da vingança, a linda rosa juvenil), parlendas (bão- balalão, senhor capitão, espada na cinta ginete na mão), mnemônicas (um, dois, feijão com arroz), formu- letes para o pegador ou animal o brinquedo (pra mim já pode cara de bode), jogos de salão ou ao ar livre (berlinda, anel, amigo, amiga, ama- relinha, carniça, gude), teatro das crianças. O folclore, as Crendices e Su- perstições: Entre as crendices as superstições alinham-se prenúncio (derramar pó de café: zanga na cer- ta; colher caindo no chão visita de mulher), agouros (o pio da coruja, o uivo do cão, o número 13, a sexta- feira e o gato preto), os demônios, a magia (bruxarias, adivinhações, profecias, sortes mágicas), concep- ções do mundo e da vida, cultos e de- voções (são Gonçalo violeiro, casa monteiro das velhas) e os tipos hu- manos por eles criados, taumatur- gos, beatos e fanáticos. O Folclore e a Lúdica: Entre as diversões cabe citar jogos e sorte (capoeira, maculelê), danças e bailes (samba de umbigada, Moçambique, chimarrita, ciriri, cana-verde), cor- tejos, como as folias de Reis e do Di- vino, escolas de samba, ternos, ran- chos, autos dramáticos cômicos (cheganças, cavalhadas de mouros e cristãos, reisados, congadas, bum- ba-meu-boi), o teatro de bonecos (mamulengos) e as festas tradicio- nais do calendário católico, como São João, carnaval, São Benedito, a Senhora do Rosário, o Círio de Na- zaré. O Folclore, as Artes e Técnicas: No campo das realizações materiais incluem-se as pinturas, a escultura (madeira, ferro, balata, guaraná, ex- votos), as cerâmicas utilitárias, de- corativas e figurativas, a decoração doméstica, a vestimenta do vaquei- ro, da baiana, de gaúcho, adoramos pessoais, técnicas de construção (ca- sas de sapado, barracos e pernas-de- pau), os artesanatos de renda e bor- dados, de chapéus, redes, utensílios de pesca, cestos, gaiolas, bonecos e brinquedos (de pano, de capim, mi- olo de pão, madeira, lata ou pape- lão). 31 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL O Folclore e a Música: São inú- meros no Brasil as manifestações de música vocal e instrumental, além de instrumentos típicos (tambor, cu- íca, berimbau, viola de cocho, ra- beca) e os conjuntos instrumentais (Zé-Pereira, banda cabaçal e ou- tros). O folclore, os Usos e Costumes: Áreas de riquíssima diversidade são a dos costumes agrícolas (mutirão) e pecuários (apartação), e especial- mente na alimentação (com desta- que para a doçaria, os cordiais e as aguardentes), a culinária (caruru e vatapá na Bahia, tacacá no Pará, ar- roz de cuxá no Maranhão, barreado no Paraná, maniçoba no Nordeste), os mundéus, as armadilhas de caça e pesca, a medicina e chás, pomadas, mezinhas, rezas e benzimentos, o comércio (o bolicho da fronteira oes- te, o flutuante do Amazonas, as bar- ganhas de Taubaté) e o transporte (carro de bois, o reboque amazônico, o boi de sela de Marajó e do Panta- nal), as cerimônias rituais, chama- das ritos de passagem, que marcam nascimento, batismo, primeira co- munhão, noivado, casamento e mor- te (enselenças e gurufim). O Folclore e a Linguagem: Na vasta área da linguagem gestual e verbal, citem-se a mímica, a metá- fora, na suplementação da deficiên- cia vocabular, os nomes, apelidos ou cognomes, as frases feitas (“comer o pão que o diabo amassou”, “tirar o cavalo da chuva”, “botar o carro adi- ante dos bois”), as formas de trata- mento ou etiquetas, os apelidos na- turais de estados ou cidades (papa- goiaba, barriga-verde, “campista, nem a prazo, nem a vista”), a gíria e as linguagens especiais, quase sem- pre de ladrões de embarcadiços, de motoristas. Enumeram-se ainda as rinhas de galos, os papagaios de papel, o jo- go de osso, pios que imitam aves, os contos de trabalho, o serra a velha, o pau-de-sebo, os amuletos (olhos de boto, figas, patuás), o jantar dos ca- chorros a encomendação das almas, o carimbó, gigantões, carrancas de proa, ladainhas e procissões para pedir chuva. 32 32 33 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 33 4. Referências Bibliográficas "A tradição é uma constância no Folclore, não UHÄ característica", Renato Almeida, Inteligência do Folclore. Livros de Portu- gal, Rio de Janeiro, 1957, p. 51. "O anônimo n&D é o que não tem autor, mas o de autor desconhecido", Renato Al- meida, op. cit., p. 59. ________. As ovelhas da pastora: as múltiplas facetas de uma peregrinação de Sergipe. In: Revista Brasileira de História das Religiões. Nº 7, Aracaju, 2010. ALMEIDA, R. A inteligência do folclore. 2. ed. Brasília: INL, 1974. Almeida, Renato - A inteligência do Folclo- re. Rio mec/Cia. Edit. Americana, 1974. BENJAMIN, R. Folclore no terceiro milê- nio. Palestra apresentada no IV Seminário de Ações Integradas em Folclore, 31 ago. 2001. Disponível em: <http://cmfolclore.sites.uol.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. BLOON, H. Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as ida- des. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. BRANDÃO, C. R. O que é folclore. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000. BRASIL, Constituição da República Fede- rativa: promulgada em 5 de outubro de 1988/obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 35. ed atual. São Paulo: Saraiva, 2005. Burke, Peter - A cultura popular na idade moderna. S. Paulo, Cia. Das Letras, 1989. CÂMARA CASCUDO, L. da. Dicionário do folclore brasileiro. 4. ed. São Paulo: Me- lhoramentos; Brasília: INL, 1979. CARNEIRO, Edison. Dinâmica do folclore. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1965. CARVALHO, B. V. de. A literatura infantil: visão histórica e crítica. 6 ed. São Paulo: Global, 1989. Cf. Basilio de Magalh&es, O Folclore no Brasil, Rio de Janeiro, 1939, p. 52. Cf. Cultura e Folklore en America. Buenos Aires, 1947, p. 157. Cf. Manual de Folklore, Paris, 1936. AL- MEIDA, Renato. Folclore. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1976. Cf. Slgm. Freud, Totem et Tabou, Ed. Pa- yot, Paris, 1951, e Artur Ramos, O Folclore Negro do Brasil, Rio de Janeiro, s.d., p. 259. Ci. Paul Séblllot, op. cit., p. 5; Van Gennep, Le FolkloreParis, 1924, p. 18; e Joaquim Ribeiro, Folklore Brasileiro, Rio de Janei- ro, p. 17. VJ. O Folklore, Rio de Janeiro, 1919, p. 232. Cf. Basilio de Magalhães, O Folclore no Brasil, Rio de Janeiro, 1939, p. 62. COELHO, Nelly Novais. A literatura infan- til: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000. COMISSÃO NACIONAL DE FOLCLORE. Carta do folclore brasileiro. Salvador: CNF, 1995. Disponível em: <http://www.museodofolclore.com.br>. Acesso em: 15 jan. 2007. CUNHA, M. A. A. Literatura infantil: teo- ria e prática. São Paulo: Ática, 1994. Darton, Robert - O grande massacre dos gatos. Geral Editora, 1988, 2ª edição. 34 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 34 E. C. 01. Ceilândia Sul. Projeto Político Pe- dagógico. Brasília, 2004. FÈLIX. Joana d´Arc Bicalho. Org e outros. Aprendendo a aprender. Brasília: Uni- CEUB, 2005. v. 10. FERNANDES, F. Folclore e mudança so- cial na cidade de São Paulo. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. FERNANDES, F. O folclore em questão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Folclore. Cadernos de Folclore nº 3, Rio de Janeiro, mec/funarte, 1976. FRADE, C. Folclore. 2. ed. São Paulo: Glo- bal, 1997 (Coleção Para entender, III). Frade, Cáscia. Folclore/Cultura Popular: Aspectos de sua História. 8º Encontro com o Folclore/Cultura Popular. Espaço Cultu- ral Casa do Lago/UNICAMP, 18 a 22 de Agosto de 2003 Gennep, Arnold von. In Laytano, Dante de. O Folclore do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, Martins Livreiro; Caxias do Sul: EDUCS, 1984. p. 11 http://pt.wikipe- dia.org/wiki/Folia_de_Reis Georges, Robert A., Michael Owens Jones, "Folkloristics: An Introduction," Indiana University Press, 1995. História, Literatura e Folclore da América Espanhola, pág. 202. Ed. Coelho Branco. Rio, 1945. http://educacaointegral.org.br/metodolo- gias/como-trabalhar-com-o-folclore-em- sala-de-aula/ http://portalcenariocultu- ral.com.br/agenda/mariangela-zan- canta-inezita-barroso/ http://www.cidadespaulistas.com.br/fo- lia-de-reis/folia-de-reis.html https://www.webartigos.com/artigos/fol- clore-e-religiao-uma-relacao-con- junta/70743/#ixzz56cwxtOFc Comissão Nacional do Folclore. Carta do Folclore Brasileiro. Capítulo I - Conceito. Salvador, 1995. Imagem de capa: https://brasiles- cola.uol.com.br/folclore In Psicologia dei Lenguage, trad, caste- lhana da Editorial Faidos, Buenos Aires, s.d., p. 88. Le goff, Jacques _ Para um novo conceito de Idade Média - Tempo Tabalho e Cultura no Ocidente. Lisboa, Ed. Estampa, 1979. LIMA, R. T. de. Abecê de folclore. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. LIVRO guia nº 4. Estágio curricular super- visionado. Brasília: UniCEUB, 2005. MEIRELES, Cecília. Problemas da litera- tura infantil. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1984. NAKAMURA, A. L. Evolução do conceito de folclore. Anuário do 38º. Festival do Folclore de Olímpia (SP), n. 32, p. 4-11, 2002. NETO, Amâncio Cardoso dos Santos. A mesa com Adolphine: alimentação de uma família em Sergipe no século XIX. In: Re- vista do IHGS. Nº 40, Aracaju, 2010. p. 251-262. OLIVEIRA, Jorge Leite de. Texto acadê- mico: técnicas de redação e de pesquisa ci- entífica. Petrópolis: Vozes, 2005. PCNs Brasil. Parâmetros curriculares na- cionais. Ministério de Educação, Secreta- ria da Educação: Brasília, 1997. Peirano, Mariza - "A legitimidade do fol- clore". In: Seminário Folclore e Cultura Popular as várias faces de um debate. Rio de Janeiro, ibac, 1992. 35 O FOLCLORE E AS INTERVENÇÕES CULTURAIS NO BRASIL 35 RADESPIEL, Maria. Alfabetização sem se- gredos: 2º ciclo. 4ª série. Minas Gerais: Ie- mar, 2003. Revel, Jacques - A invenção da sociedade. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil S.A., 1989. SÁ, Antônio Fernando Araújo. O historia- dor e a cultura popular: José Calasanz e o folclore de Sergipe e Bahia. In: Revista do IHGS. Nº 40, Aracaju, 2010. p. 305-321. SANT’ANNA, J. Festival do Folclore: festa do amor. Anuário do 38º. Festival do Fol- clore de Olímpia (SP), n. 32, p. 3, 2002. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. 16. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. Cf. Alfredo Povlña, Teoría del Folclore, Córdoba, 1953, p. 13; Paul Séblllot, Le folklore. Litté- rature orale et ethnographie tradition- nelle, Paris, 1913, p. 4; e Artur Ramos, Es- tudos de folklore, Rio de Janeiro, s.d., p. 14. SANTOS, Magno F. J. Lágrimas, dor e de- solação: sujeitos e representações na so- lene procissão de São Cristovão. In: Re- vista Memória História e Justiça. Vol. 1, nº 2, Aracaju, 2009. SILVA, Ezequiel Teodoro. De olhos aber- tos: reflexão sobre o desenvolvimento da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. UNESCO. Recomendações sobre o Estudo do Folclore ZILBERMAN, R. LAJOLO, M. Literatura infantil brasileira: histórias e histórias. 6 ed. São Paulo: Àtica, 2002. ZILBERMAN, R. MAGALHÃES, L. C. Lite- ratura infantil: autoritarismo e emancipa- ção. São Paulo: Àtica, 1987. 03 6
Compartilhar