Prévia do material em texto
1 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3 BREVE HISTÓRICO ................................................................................ 4 O QUE É PSICOPEDAGOGIA?........................................................... 4 COMPETÊNCIAS DO PSICOPEDAGOGO ............................................. 5 Recursos Utilizados em Psicopedagogia ................................................. 6 Psicopedagogia: ação e parceria ......................................................... 7 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................ 8 PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR ............................................................ 10 A ESCUTA PSICOPEDAGÓGICA AOS PROFESSORES NA ESCOLA ......................................................................................................................... 12 A ESCUTA CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA ...................................... 13 A postura analítica e a atitude clínica na psicopedagogia .................. 15 Confrontando a visão da psicopedagoga e das professoras ............. 20 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR .................................... 23 PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR ...................................................... 24 CÓDIGO DE ÉTICA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA – ABPp ............................................................................ 27 CAPÍTULO I: DOS PRINCÍPIOS ........................................................ 27 CAPÍTULO II: DAS RENPONSABILIDADES DOS PSICOPEDAGOGOS ................................................................................... 28 CAPÍTULO III: DAS RELAÇÕES COM OUTRAS PROFISSÕES ...... 29 CAPÍTULO IV: DO SIGILIO................................................................ 29 CAPÍTULO V: DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS ........................... 30 CAPÍTULO VI: DA PUBLICIDADE PROFISSIONAL ............................. 30 CAPÍTULO VII: DOS HONORÁRIOS ................................................. 31 CAPÍTULO VIII: DAS RELAÇÕES COM SAÚDE E EDUCAÇÃO ...... 31 2 CAPÍTULO IX: DA OBSERVÂNCIA E CUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA ..................................................................................................... 31 CAPÍTULO X: DAS DISPOSIÇÕES GERAIS .................................... 31 A CONSTRUÇÃO DO OLHAR DO/A PSICOPEDAGOGO/A ................ 32 A Importância da Afetividade no Processo de Cognição - Afetividade e Cognição: Caminhos que se Cruzam ............................................................... 35 ALUNO - AFETIVIDADE - PROFESSOR: UMA TRÍADE QUE DÁ CERTO ......................................................................................................................... 37 O PAPEL DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ..... 39 DESENVOLVENDO O "ESPAÇO POTENCIAL" NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ............................................................................................. 42 CONSTRUINDO UM ESPAÇO POTENCIAL ........................................ 43 TEMPO DE BRINCAR/ DE CRIAR/ DE DESPERTAR... ....................... 47 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 56 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 BREVE HISTÓRICO Segundo Bossa (2000), os primeiros esboços de Psicopedagogia aconteceram na França no início do século XIX com contribuições da Medicina, Psicologia e Psicanálise, para ação terapêutica em crianças que tinham lentidão ou dificuldades para aprender. Os estudos franceses influenciaram a iniciação psicopedagógica na Argentina e esta no Brasil. Aproximadamente há 30 anos, surgiram os primeiros grupos de estudos sobre a aprendizagem e o sistema educacional brasileiro. Os cursos na área de Psicopedagogia começam a surgir nos anos 70, mas é na década de 90 que se multiplicam. Em 1996 foi aprovado em Assembleia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, o Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a Psicopedagogia é um campo de atuação em saúde educação que lida com o processo de aprendizagem humana, é de natureza interdisciplinar e o trabalho pode se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código. O QUE É PSICOPEDAGOGIA? É a área do conhecimento que estuda a aprendizagem humana, objetivando facilitar o processo de aprendizagem não apenas no ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo, afetivo, social e durante toda vida. A Psicopedagogia cuida do ser que aprende, pois deve evitar o fracasso e facilitar os processos de aprendizagem. 5 Para Rubinstein (1996, p. 127), “a Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo”. Isso significa colher conhecimentos de várias áreas como a Psicologia, Pedagogia, Medicina, Fonoaudiologia e outras. Portanto, tem enfoque transdisciplinar, ou seja, recebe influências de vários ramos. A transdisciplinaridade para Assmann (1998), não pretende desvalorizar o que cabe às disciplinas específicas, mas melhorar e ampliar o conhecimento em todas. Apenas uma área de conhecimento não seria capaz de abarcar a complexidade de um processo de aprendizagem, pois cada indivíduo possui uma modalidade de aprendizagem, um jeito particular de aprender, a Psicopedagogia aliada a outras áreas de conhecimento, está comprometida em resolver os problemas e melhorar as condições de aprendizagem. A Psicopedagogia não é a associação da Psicologia com a Pedagogia, pois ela se propõe a pesquisar e resolver os problemas de aprendizagem através de um intercâmbio dos conhecimentos de outras áreas. COMPETÊNCIAS DO PSICOPEDAGOGO Cabe ao Psicopedagogo em primeiro lugar, estabelecer um vínculo positivo com o aprendiz, a fim de proporcionar o resgate do prazer de aprender. É um trabalho terapêutico centrado na aprendizagem, mas levando-se em consideração o aprendente como um todo, seu meio e suas relações. O Psicopedagogo elabora diagnósticos e realiza intervenções durante o trabalho com foco na aprendizagem, porém sem perder de vista o ser humano com sua individualidade, capacidade e ambiente no qual está inserido, ou seja, 6 um olhar amplo, imparcial e sem preconceito, uma escuta atenta que vai além das evidências, geralmente já observadas pela família e pela escola. De acordo com Barone (1990, p.19), “a tarefa do Psicopedagogo é levar a criança a reintegrar-se à vida escolar normal, segundo suaspotencialidades e interesses”. O Psicopedagogo não trabalha sozinho, atua em parceria com outros profissionais como: Neurologista, Psiquiatras, Fonoaudiólogos, Psicólogos e outros. Para Paín (1992, p.74), “o tratamento Psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se um transtorno de aprendizagem”. Recursos Utilizados em Psicopedagogia Não existem recursos específicos e limitados, mas são geralmente jogos, atividades de expressão artística, linguagem oral e escrita, dramatização e todo tipo de recursos que facilitem o desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e prazer. De acordo com Fernández (2001, p.163), devemos proporcionar “um espaço de confiança, criatividade onde possamos dar um sentido criativo e lúdico ao nosso trabalho”. Seu filho não vai bem na escola? Tem dificuldades em aprender? Problemas escolares? É inquieto? Desobediente? Desinteressado? Desatento? Agressivo? A Orientadora solicita sua presença constantemente na escola? A professora pede ajuda? Quando esse pedido de ajuda está ligado à aprendizagem, procure um Psicopedagogo! 7 Psicopedagogia: ação e parceria A Psicopedagogia, área de conhecimento interdisciplinar, tem como objeto de estudo a aprendizagem humana. É papel fundamental do psicopedagogo potencializá-la e atender as necessidades individuais, no decorrer do processo. O trabalho psicopedagógico pode adquirir caráter preventivo, clínico, terapêutico ou de treinamento, o que amplia sua área de atuação, seja ela escolar - orientando professores, realizando diagnósticos, facilitando o processo de aprendizagem, trabalhando as diversas relações humanas que existem nesse espaço; empresarial - realizando trabalhos de treinamento de pessoal e melhorando as relações interpessoais na empresa; clínica - esclarecendo e atenuando problemas; ou hospitalar - atuando junto à equipe multidisciplinar no pós-operatório de cirurgias ou tratamentos que afetem a aprendizagem. É importante salientar que a Psicopedagogia é uma área que vem para somar, trabalhando em parceria com os diversos profissionais que atuam em sua área de abrangência. Um questionamento breve sobre “o que é a Psicopedagogia” poderia trazer à tona uma resposta imediatista, identificando facilmente a constituição da palavra: Psicologia e Pedagogia. Essa análise reducionista do real significado omite a perspectiva de interdisciplinaridade da mesma. A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuação dirigida pelo e para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser, que apreende da realidade, e constrói o seu conhecimento, aprendendo. Visto que o conhecimento é construído natural e continuamente pelo sujeito, no seu viver, não sendo exclusividade do ambiente escolar, já que ocorre simultaneamente com o processo de vida, a Psicopedagogia pode auxiliar várias áreas da atividade humana. 8 As relações dela com o conhecimento, vinculado à aprendizagem e as significações do ato de aprender, fazem parte do seu foco de estudo a fim de contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas, ressignificando hábitos e atitudes. As teorias vinculadas a ela são relacionadas à prática pedagógica, envolvendo o atendimento às necessidades individuais de aprendizagem, o fracasso escolar e a apropriação do conhecimento; à prática clínica, integrando compreensão, prevenção e métodos terapêuticos ao analisar o aprender; à área hospitalar, no que diz respeito à continuidade do processo de aprendizagem, aliada à Fonoaudiologia, Neurologia, Fisioterapia, Psicologia, e Medicina em geral, fazendo deste processo doloroso, um momento mais humano; e finalmente, à área empresarial - trabalhando com os processos de aprendizagem individual e organizacional, em parceria com o psicólogo organizacional e o profissional de Recursos Humanos no que se refere ao recrutamento de pessoal, treinamento, melhorando a qualidade do trabalho, da produtividade e as relações intra e interpessoais, administrando conflitos. Em suma, o psicopedagogo é um profissional envolvido com a aprendizagem humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas intervindo neste processo, seja para potencializá-lo ou para amenizar dificuldades, atendendo as necessidades individuais de aprendizagem. Neste sentido pretende-se divulgar o caráter transdisciplinar da Psicopedagogia, suas ações e parcerias, nas diversas áreas de atuação do psicopedagogo. EVOLUÇÃO HISTÓRICA Definida a área de atuação da Psicopedagogia, uma breve análise sobre seus primórdios nos remete à Europa do século XIX. Conforme Bossa, as primeiras tentativas de articulação entre a Medicina, a Psicologia, a Psicanálise e a Pedagogia deram-se na França. Onde há documentos de Janine Mery, apresentando considerações sobre o termo Psicopedagogia Curativa, termo utilizado para definição da ação terapêutica sobre as crianças que experimentavam dificuldade ou lentidão, em relação aos colegas e às aquisições 9 escolares. Lá se encontram, também, os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico-psicopedagógico na França. As ideias francesas influenciaram a ação psicopedagógica argentina, de grandes nomes como Sara Paín, Alícia Fernandez e Jorge Visca. Foi a Psicopedagogia argentina, que influenciou a práxis brasileira. Os estudos referentes a Psicopedagogia, no Brasil, têm uma história de aproximadamente 30 anos, inicialmente dedicados à pesquisa - em forma de grupos de estudos, que refletiam sobre a prática educacional. Na década de 70 os primeiros cursos na área de Psicopedagogia foram oferecidos. Mas, foi nos anos 90, que estes cursos proliferaram pelo Brasil - que têm nas Regiões Sul e Sudeste, maior demanda de especialização e trabalhos realizados. A ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), teve seu início através de um grupo de estudos, formados por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem. Este grupo tornou-se a APp (Associação Paulista de Psicopedagogia), para a partir de 1980 conquistar âmbito nacional. Atualmente, a ABPp, busca o reconhecimento da profissão. Conforme divulgado no site da mesma, em 1997, o Deputado Federal Barbosa Neto, atendendo ao pedido de algumas psicopedagogas, criou o Projeto de Lei no. 3124/97 que dispõe sobrea regulamentação da profissão de Psicopedagogo, cria os Conselhos Regionais de Psicopedagogia e determina outras providências. Este projeto foi encaminhado à Comissão de Trabalho no dia 15/5/97 e aprovado pela mesma Comissão no dia 3/9/97. Após esta aprovação este Projeto de Lei foi encaminhado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto onde permaneceu por quatro anos e também foi aprovado, com algumas emendas, no dia 12/9/01. Atualmente este P.L. está na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação esperando pela sua aprovação. Caso seja aprovado, este P.L. irá para o Senado para a sua apreciação e, depois ser sancionada pela Presidente da República. O que certamente acontecerá, pois, avanços já podem ser contabilizados nesta área. Em 20/9/01, o projeto de lei nº 108/01 foi aprovado no Estado de São Paulo, autorizando o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico públicos. 10 A funcionalidade desta profissão que espera ser reconhecida, é aqui tratada de acordo com as habilidades que podem ser desenvolvidas, nas respectivas áreas de atuação. Click e assista https://www.youtube.com/watch?v=YPCMnUr2RVE https://www.youtube.com/watch?v=U- IimAg86UU&index=4&list=PLYIuur6wfP80-llgulQtuOstRDcLODMcD PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR A escola mudou com o passar dos tempos. Novas tecnologias e metodologias ingressaram no cotidiano escolar. Professores e planos de curso tornam-se defasados, necessitandode atualização. Paradigmas ultrapassados ou esgotados perdem espaço para paradigmas emergentes ou inovadores - o que não diminuiu consideravelmente o compartimento e isolamento da escola em relação à realidade de cada educando. Muitas vezes desmotivado e amedrontado pela reprovação, num local em que as necessidades individuais de aprendizagem não são atendidas. É neste contexto atual que o Psicopedagogo conquista espaço. Uma observação minuciosa e uma escuta atenta sem “preconceitos”, assinalada pela imparcialidade, pode detectar a real problemática da instituição escolar. “Esse é o papel do psicopedagogo nas instituições: olhar em detalhe, numa relação de proximidade, porém não de cumplicidade”, afirma Césaris (2001); facilitando o processo de aprendizagem. 11 Afinal, a Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo da aprendizagem humana e assim estar resolvendo as dificuldades da mesma, ou mesmo prevenindo-as, visando o interesse e o prazer do aluno e do professor pelo processo de ensinar e aprender, garantindo o sucesso escolar para todos. Com vasto cabedal teórico, a Psicopedagogia tem diversos e diferentes fatores nos quais se basear para tentar explicar eventuais entraves no processo de aprendizagem, passando a assumir um papel mais abrangente, “cujo principal objetivo é a investigação sobre a origem da dificuldade de, bem como a compreensão de seu processamento, considerando todas as variáveis que intervêm neste processo”, como afirma Rubinstein (1992, p. 103). Ou seja, a linha de trabalho definida pelo psicopedagogo, é a forma de ação e investigação para identificar as possíveis defasagens no processo de aprender. Tamanha a complexidade deste ato, todas as variáveis devem ser consideradas, desde uma disfunção orgânica ou uma falha no processo de compreensão, que pode estar comprometendo a aprendizagem. Assim, as necessidades individuais de aprendizagem não podem ser definidas por apenas um fator, estando ele na própria criança, no meio familiar ou no ambiente escolar. Exatamente por isso, Ferreira (2002), ressalta: Devido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento, além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter noções de linguística, para explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita. Também de conhecimentos sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão de homem , seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem. A Psicopedagogia Educacional pode assumir tanto um caráter preventivo bem como assistencial. Na função preventiva, segundo Bossa (2000) cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo de aprendizagem, participar da 12 dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação . Já no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria “ensinagem”. Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a comunidade escolar, participando das reuniões de pais - esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe - avaliando o processo didático metodológico; acompanhando a relação professor-aluno - sugerindo atividades ou oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o desenvolvimento do educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que estão compartilhando. Apesar desta dinâmica, Ferreira (2002), adverte: (...) Mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um padrão de comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra, a clínico-terapêutica, onde seriam encaminhadas apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola. A ESCUTA PSICOPEDAGÓGICA AOS PROFESSORES NA ESCOLA Evidencia-se na literatura sobre psicopedagogia pouca reflexão acerca da escuta psicopedagógica aos professores na escola. Entretanto, a escuta é um elemento relevante e vem ocupando constantemente seu espaço nas mais 13 variadas áreas, como: na psicanálise, na psicologia, bem como na própria psicopedagogia. Neste contexto, o principal objetivo deste artigo foi analisar a forma como o profissional formado em psicopedagogia exerce sua escuta aos professores na instituição escolar. Assim, optou-se pela realização de pesquisa de campo, utilizando-se a técnica de entrevistas para levantamento de dados, numa abordagem qualitativa. Contudo, a falta de referencial teórico dificulta o desenvolvimento da escuta clínica por parte dos psicopedagogos. Em virtude disso, o presente estudo pretende contribuir para a literatura sobre o assunto, apresentando possíveis estratégias para aprimorar/desenvolver a escuta psicopedagógica. O olhar e a escuta são elementos complementares no processo de análise de fenômenos sociais, pois, o ver e o escutar contribuem nesse processo. Para Weffort (1997), não ouvimos realmente o que os outros falam, e sim o que se quer ouvir. Neste sentido, o ver e o ouvir demandam implicações e entregas ao outro. A situação analítica desenvolvida por Freud (1976)para o seu método psicanalítico, “surge e se desenvolve na escuta e para a escuta singular à qual se propõe” (FALCÃO; MACEDO, 2004, p. 2). Assim, como recurso proveniente da técnica psicanalítica e que aos poucos vem conquistando espaço em diferentes profissões, a escuta clínica apresenta-se e destaca-se como ponto relevante intersubjetivo, característico do encontro analítico. Segundo Cecim (1997, p. 31), essa escuta difere-se da audição. Porque, enquanto a audição permite à apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta clínica refere-se à apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, audição das expressões e gestos, posturas e condutas durante a escuta. E, esta, não se limita exclusivamente ao campo da fala, “[mais do que isso]busca permitir os membros interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade” (CECCIM, 1997, p. 31). A ESCUTA CLÍNICA NA PSICOPEDAGOGIA 14 A atuação do psicopedagogo, em instituições escolares, requer postura/atitude clínica frente às diversas produções sejam elas explícitas ou implícitas dos indivíduos a quem se propõe intervenção psicopedagógica. Nesta perspectiva, a escuta psicopedagógica clínica insere-se como mecanismo de verificar e tratar os diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano do trabalho docente nas escolas. Para se apropriar da utilização da escuta clínica na psicopedagogia, é relevante antes, caracterizar o olhar clínico como aquele que toma em consideração um campo – de pesquisa ou de intervenção – estruturado por um jogo de relações e de intervenções dinâmicas e complexas.No entanto, ele também supõe que o prático e o pesquisador estejam convenientemente deslocados da relação, isto é, que eles assumam uma postura de implicação- distanciamento. Tal postura, por sua vez, possibilitar-lhes-á estar efetivamente co-presente na situação que eles analisam, sem perder, para tanto, suas especificidades e suas competências (MARTINS, 2003, p. 43). Isto remete que a atitude clínica necessária ao psicopedagogo ante sua possibilidade de intervenção, implica a busca por novos sentidos para sua relação com o objeto pesquisado. A observação torna-se, assim, importante. Pois, o olhar clínico se estabelece fundamentalmente na observação. Contudo, a escuta se impõe como fator imprescindível no que se refere ao temporal, “aquilo não-dito” (MARTINS, 2003, p. 44). Portanto, para Martins (2003), isto significa que as diferentes funções do olhar e da escuta clínicas, que se apoiam em perspectivas diferentes e, consequentemente, em metodologias também específicas, precisam ser articuladas no intuito de se estabelecer pontos de referência nos aspectos temporal e espacial. O psicopedagogo, enquanto terapeuta é um sujeito que “legaliza a palavra do paciente, [...] alguém que com sua escuta outorga valor e sentido à palavra de quem fala, permitindo-lhe organizar-se (começar a entender-se), precisamente a partir de ser ouvido” (FERNANDEZ, 1991, p. 126). Com isso, a escuta psicopedagógica torna-se fator preponderante no atendimento a heterogeneidade de/dos professores na escola, possibilitando-lhes, vez e voz para expressarem-se oralmente e/ou através de mensagens subliminares. O psicopedagogo terapeutizando, precisa posicionar-se em um lugar capaz de proporcionar-lhe a análise eficaz, de modo a permitir “ao paciente organizar-se 15 e dar sentido ao discurso a partir de um outro que escuta e não desqualifica, nem qualifica”. “Somente a partir das fraturas do discurso, por um lado, e de nos aproximarmos, por outro lado, por encontrar o dramático, resgataremos o interessante, o original dessa história (FERNANDEZ, 1991, p. 126). A postura analítica e a atitude clínica na psicopedagogia O psicopedagogo deve “escutar e traduzir” (FERNANDEZ, 1991, p. 127) de modo transcendente o que lhe é apresentado, buscando a atitude clínica necessária no trato dos dados obtidos através de sua escuta e análise. Pois, “são as palavras, ou sua ausência, associados com a cena penosa, as que dão ao sujeito os elementos que impressionarão sua imaginação” (MANNONI apud FERNANDEZ, 1991, p. 127). Assim, a função da escuta psicopedagógica não é fazer o paciente confessar o tido como importante, mas sim, garantir ao indivíduo a possibilidade de que fale do que realmente carece de importância. Para Fernandez (1991, p. 128), o lugar analítico, tão importante para o desenvolvimento da escuta clínica, é “lugar de testemunha e atitude clínica, da atitude do que escuta e traduz promovendo um discurso mítico e não real. Lugar e atitudes necessários a todo terapeuta, que o psicopedagogo deverá assumir”. Neste sentido, a referida autora apresenta sua proposta ou guia para o psicopedagogo conseguir uma escuta psicopedagógica: (FERNANDEZ, 1991, p. 131) Escutar–olhar – o primeiro momento da intervenção psicopedagógica supõe escutar-olhar o outro e mais nada. De acordo com Fernandez (1991, p. 131), “escutar não é sinônimo de ficar em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos”; Deter-se nas fraturas do discurso – estar atento aos aspectos trazidos através do discurso verbal, assim como ao corporal, ao agir subjetivo do sujeito; Observar e relacionar com o que aconteceu previamente à fratura – registrar as fraturas, as formas diferentes de expressar-se; Descobrir o esquema de ação – significação – “para encontrar o esquema de ação, não é necessário deter-se no conteúdo do 16 mesmo, mas no processo e nos mecanismos” (FERNANDEZ, 1991, p. 132); Buscar a repetição dos esquemas de ação – buscar detectar em que outras situações e com que outros contextos e conteúdos repete-se este esquema; Interpretar a operação, mais do que o conteúdo –levantar as concepções e ideias inconscientes sobre a aprendizagem, estabelecendo relações com a “operação particular que constitui o sintoma” (FERNANDEZ, 1991, P. 133). O momento da intervenção psicopedagógica é único tanto para o paciente, quanto para o terapeuta, e requer o estabelecimento de uma relação harmônica entre ambos, onde o escutar esteja presente cotidianamente neste processo. Para isso, Fernandez (1991, p. 131) esclarece que “escutar não é sinônimo de ficar em silencio, como olhar não é de ter os olhos abertos. Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se”. Todavia, o terapeuta deve aprimorar a sua escuta para além do que o paciente expõe oralmente, permitindo-lhe “falar e ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem” (p. 131) para poder intervir da melhor maneira possível. No entanto, para Martins (2003) é imperioso que ambos estejam convenientemente deslocados na relação estabelecida, isto é, que eles assumam uma visão/postura de implicação-distanciamento. Esta postura possibilitar-lhes-á efetivamente estarem co-presentes na situação que analisam, sem para isso, perder suas especificidades e suas capacidades. Ou seja, uma postura/atitude clínica que se estruture numa escuta, que aqui deve ser compreendido como um mecanismo de acompanhamento acerca da realidade, registrando-se o vivenciado, o experimentado. É preciso criar espaços onde as vivências institucionais possam ser afirmadas e verdadeiramente escutadas. Esta perspectiva, no plano das práticas do psicopedagogo, poderá fomentar o reconhecimento e a apropriação “de elementos até então desconsiderados na abordagem dos processos educativos, possibilitando uma 17 reapropriação da experiência e de outros sentidos, a eles atribuídos, pela abertura ao desconhecido, pela disponibilidade para a alteração(e por consequência da heterogeneidade), para a escuta do inefável (MARTINS, 2003, p. 44). Para realização deste estudo, pesquisou-se uma psicopedagoga e quatro professoras de uma escola pública, localizada na zona urbana da cidade de Santo Amaro, Recôncavo do Estado da Bahia, sendo utilizado como critério de inclusão todos os funcionários que atuam numa mesma instituição escolar. Em relação à pesquisa de campo, foi utilizado como instrumento para coleta de dados a realização de entrevistas. Os dados obtidos foram analisados partindo- se da perspectiva da abordagem qualitativa. De um modo geral, as entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa. Tipicamente, o investigador está interessado em compreender o significado atribuído pelos sujeitos a eventos, situações processos ou personagens que fazem parte de sua vida cotidiana (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 168). Neste contexto, constituíram-se como aspectos a serem englobados na entrevista com a psicopedagoga: A forma como esta compreende e analisa a função de sua escuta; Ao modo como tem escutado os professores desta instituição, se exerce essa escuta cotidianamente, assim como isso ocorre; As possíveis contribuições desta escuta aos professores na intervenção psicopedagógica, a forma como isso se efetiva. As entrevistas com as professoras constavam: A respeito da percepção em relação à atuação da psicopedagoga na escola; Ao modo como percebe e analisa a possível parceria entre ambos, a forma como essa parceria pode contribuir na prática docente no trato das dificuldades de aprendizagem dos alunos; 18 A existência de possíveis oportunidades de ser escutada pela psicopedagoga nesta instituição, a forma como ocorre; Os momentos destinados a reunião onde se possibilita a exposição de problemas. Partindo-se destes itens, as entrevista foram realizadas. Assim, optou-se por iniciar a coleta de dados através da entrevista com a psicopedagoga, para, posteriormente, realizá-las com as professores que recebem assistência desta profissional. Todavia, visando preservar a identidade dos sujeitos pesquisados, foram utilizados nomes fictícios para os participantes da pesquisa. A realização da entrevista com a psicopedagoga englobou fundamentalmente três aspectos básicos em torno da escuta psicopedagógica aos professores na escola. Sobre a forma como esta compreende e analisa a função de sua escuta na instituição, a mesma abordou que reconhece a relevância desta, afirmando que “ao escutar o outro vou percebendo assuas necessidades, o que realmente está sendo vivenciado pela profissional”. Posteriormente, em torno do segundo aspecto, a respeito do modo como a psicopedagoga tem escutado os professores desta instituição, se exerce essa escuta constantemente, assim como isso se dá na prática. Obteve-se a seguinte resposta: Através de diálogo procuro escutar com atenção as necessidades dos profissionais que trabalham comigo, buscando entender o ponto de vista de cada um, visto que ao escutá-los trocamos ricas experiências e, assim, explorar dimensões e possíveis caminhos para solucionar as demandas necessárias. E, esses momentos ocorrem durante as reuniões pedagógicas quinzenalmente (MÁRCIA). Outro aspecto levantado foi a partir das possíveis contribuições desta escuta aos professores na sua intervenção, bem como a forma como isso se efetiva, onde a mesma respondeu que “ao escutar o outro (os professores) podemos perceber suas necessidades e a de seus alunos e, procurar orientá- los da melhor maneira possível”. A atuação psicopedagógica não pode ser efetivada em momentos inadequados como em reuniões pedagógicas, mas em espaços e momentos específicos, onde a professora seja oportunizado a expressar-se em sua multiplicidade, e a psicopedagoga escutá-lo transcendentemente. Contudo, esta 19 escuta não pode/deve estar contaminada com impressões impregnadas de estereótipos e de fraturas das relações sociais estabelecidas entre ambos. Para tanto, Weffort (1997), salienta que a ação de escutar clinicamente o outro é um processo reflexivo e analítico de sair de si para ver e compreender o outro e a realidade segundo seus próprios pontos de vista, sua subjetividade, singularidade e segundo sua história. Assim, para Weffort (1997), a escuta constitui-se como uma ação altamente movimentada, reflexiva, estudiosa e transcendente. O lugar da escuta poderá possibilitar ao psicopedagogo “criar situações coletivas, espaços de construção de conhecimentos sobre si mesmo – sobre a escola, sobre as experiências dos envolvidos no processo educacional, etc. – de tal forma que os problemas vividos sejam amplamente discutidos e a busca de soluções para os mesmos, compartilhada” (MARTINS, 2003, p. 44). Ao psicopedagogo cabe, no exercício de sua escuta, de acordo com as concepções de Fernandez (1991), detectar os lapsos, as diversas dificuldades na expressão do discurso, da forma como os cortes são efetivados, das inconsistências, das repetições, das pausas prolongadas, emerge o inconsciente, etc. Em momentos posteriores, durante a realização das entrevistas com as quatro professoras, pode-se detectar uma inquietação em torno do acompanhamento psicopedagógico realizado nesta escola. Partindo-se deste pressuposto, o primeiro aspecto levantado foi a respeito de como elas percebem essa profissional e sua atuação na escola. Onde obteve- se considerações como: “Ela trabalha bem, buscando sempre saber nossas necessidades e ajuda no que pode, entretanto, o tempo dela aqui na escola é pouco, o trabalho acaba sendo fragmentado”. Ademais, abordaram que percebem a relevância dessa profissional atuando num ambiente escolar e que a parceria estabelecida nesta acaba contribuindo na prática docente, pois, segundo as entrevistadas, “o atendimento que ela nos garante ajuda a possibilitar aos alunos uma melhorara comportamental em sala de aula e na aprendizagem”. Outro aspecto discutido com as professoras foi se elas têm oportunidades de serem escutados pela psicopedagoga nesta instituição, assim como a forma que isso se efetiva, da existência ou não de momentos destinados a reuniões, onde elas pudessem expor seus problemas, etc. Onde elas afirmaram que sim, que ela ouve suas queixas em momentos específicos nas reuniões pedagógicas que se efetivam quinzenalmente. Assim, reafirmam que o 20 tempo destinado para tal fim é pouco. Os discursos das professoras entrevistadas aparentam estar emersos em um receio (medo) em expressar realmente o que pensam a respeito da atuação da psicopedagoga na instituição. E isso é vislumbrado através do subliminar de suas falas, nas inquietações, nos olhares, nas expressões, nas faltas, etc. Com isso, evidencia-se a importância da criação de mecanismos que garantam as professoras serem efetivamente escutadas pela psicopedagoga neste espaço. Confrontando a visão da psicopedagoga e das professoras Através do confronto entre as informações obtidas a partir da realização das entrevistas tanto com a psicopedagoga, quanto com as professoras participantes deste estudo, pôde-se detectar fraturas nos discursos destas em relação à atuação da psicopedagoga nesta unidade escolar e o modo como suas intervenções se efetivam no cotidiano deste espaço. A escuta, elemento tão relevante ao psicopedagogo, é tido/visto tanto pela psicopedagoga quanto pelas professoras que recebem seu acompanhamento, meramente como um canal auditivo capaz de apreender falas e possibilitar a intervenção partindo-se destas. Contudo, a escuta clínica necessária a este profissional, requer o transcendente, o subentendido do discurso exposto oralmente. Ou seja, “o exercício da escuta clínica, por sua vez, tem como perspectiva desvelar dimensões do cotidiano escolar e das relações que o estruturam até então impensadas, desconhecidas, mas que tangenciam as práticas que aí se estabelecem” (MARTINS, 2003, p. 45). As professoras não podem/devem ser encaradas como pacientes da psicopedagoga, daí a precisão da adequação da escuta clínica para o atendimento às mesmas. Entretanto, a escassez na fundamentação teórica/prática a respeito da escuta clínica na psicopedagogia revela uma possível falha no processo de formação desta profissional, que muitas vezes, não é preparada para assumir uma postura/atitude clínica ante a demanda. Na construção da escuta necessária ao psicopedagogo, constata-se, segundo Weffort (1997, p. 1) alguns movimentos necessários a sua construção: 21 1 – “movimento de concentração para a escuta do próprio ritmo [...] o que se quer observar, que hipóteses se quer checar, o que se intui que não se vê, não se entende, não se sabe qual o significado, etc.”; 2 – “o movimento que se dá no registro das observações, seguindo o que cada um se propôs na pauta planejada, onde o desafio está em sair de si para colher os dados da realidade significativa e não idealizada”; 3 – “o movimento de trazer para dentro de si a realidade observada, registrada, para assim poder pensá-la, interpretá-la [...]. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não sabemos”. Macedo e Falcão (2009, p. 6) apud Freud (1937) apontam para o importante efeito da escuta clínica no campo analítico: “a análise é um processo terminável enquanto se refere ao uso da capacidade de escuta do analista, mas interminável enquanto se refere à capacidade adquirida pelo paciente de escutar-se. O processo analítico, a partir da escuta do” psicopedagogo, “envolve a instrumentalização da escuta do paciente em relação a si mesmo. Para se chegar às últimaspalavras deste estudo, retoma-se a questão que o originou: de que forma a escuta psicopedagógica vem contribuindo no interior da instituição escolar? A resposta para tal indagação pode ser obtida sob as seguintes dimensões: Através da pesquisa de campo realizada, percebeu-se que a escuta psicopedagógica não tem acontecido/contribuído nas intervenções efetivadas na instituição escolar fonte da coleta de dados, pois, a psicopedagoga não demonstrou exercer a escuta clínica as professoras neste espaço. Assim, evidenciou-se que as entrevistadas não demonstraram apropriação a respeito do real significado da escuta para a psicopedagogia. Segundo Weffort (1997), os indivíduos não foram educados para a escuta, nem para seu real significado. Ou seja, a escuta acaba estereotipada exclusivamente para a função auditiva. Cabe registrar a escassez de material sobre a escuta na psicopedagogia, fator que pode ser preponderante quanto a sua não utilização por parte da profissional pesquisada. Assim, visualiza-se ainda, a falta de recomendações e orientações técnicas em relação à apropriação e utilização da escuta transcendente ao que é falado e apreendido auditivamente, capaz de captar lapsos, falhas, repetições, sintomas, queixas, o subjetivo, etc. aspectos que lhe permita interpretação e intervenção adequadas. 22 Para Macedo e Falcão (2009), a formação do terapeuta precisa estar atrelada ao “famoso tripé – formação teórica, atividade de supervisionar-se e análise pessoal – constitui os recursos na qualificação do processo de escutar o outro. Com isso, detecta-se que os psicopedagogos precisam estar abertos para efetivamente escutar os professores e suas queixas na escola, não auditivamente, mas de modo transcendente, buscando então, “a sintonia com o ritmo do outro, do grupo, adequando em harmonia” (WEFFORT, 1997, p. 1) para favorecer o trabalho deste no contexto escolar. Portanto, fica evidente a relevância de os cursos de formação em psicopedagogia se adequarem a essa necessidade de estimular o desenvolvimento da postura/atitude e escuta clínicas para que o profissional possa escutar os professores na escola e também desenvolver as intervenções convenientes. O alcance da escuta psicopedagógica está conectada a apropriação de um fazer-se terapeuta. Em virtude disso, ao se propor um estudo em torno da escuta psicopedagógica aos professores na escola, laça-se um olhar, segundo Macedo e Falcão (2009), para a importância dado pelo terapeuta às falas, gestos, movimentos, etc. de seu analisado, isso demonstrou o papel da escuta deste em relação a si próprio, em sua investigação pessoal. Pois, a escuta da psicopedagogia encontra sua vitalidade na capacidade do analista em perceber e reconhecer o valor e a necessidade de ser ele próprio escutado, gerando em si uma capacidade que está fora do domínio da rigidez ou da padronização, e que por isso abre espaço à escutado outro. Click e assista https://www.youtube.com/watch?v=-du8JaMCsZM 23 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR A procura de um profissional fora do espaço escolar apresenta alternativas às propostas e condições existentes na escola. O atendimento diferenciado pode ir além das questões-problema vinculadas à aprendizagem podendo trazer à tona, mais facilmente, as razões que desencadeiam as necessidades individuais - às vezes alheias ao fator escola, que fazem com que as crianças e adolescentes sintam-se excluídos, ou excluam-se a si mesmos do sistema educacional. O papel do profissional está caracterizado, conforme Fernández (1991), por uma atitude que envolve o escutar e o traduzir, transformando-se em uma testemunha atenta que valida a palavra do paciente; completamente inerente às relações entre ele e sua família. Nesta perspectiva, a imparcialidade sem preceitos ou preconceitos na escuta, interpretação, reflexão e intervenção, criando e recriando espaços, é fundamental. Podendo assim a psicopedagogia, ser considerada como uma forma de terapia. É importante ressaltar que nessa modalidade clínica, o psicopedagogo também não trabalha sozinho, dependendo de parcerias com profissionais de outras áreas como: a Psicologia, a Neurologia, a Medicina e quais outras se fizerem necessárias pra o caso a ser atendido Se terapeuta é aquele que não cura, mas cuida do outro, tentando amenizar o seu sofrimento, esta ideia ganha força. O psicopedagogo é um terapeuta ao trabalhar com a aprendizagem, uma característica humana. Gonçalves (1997), defende esta afirmação: “todo trabalho psi é clínico, seja realizado numa instituição ou entre as quatro paredes de um consultório. 24 Clínica é a nossa atitude de respeito pelas vivências do outro, de disponibilidade perante seus sofrimentos, de olhar e de escuta além das aparências que nos são expostas”. Vai além, quando sobre os cuidados do corpo: “caberá ao terapeuta a função de dialogar com o corpo, desatando os nós que se colocam como impelidos à vida e à inteligência criativa”. E, a esta vida deve-se dar atenção, cuidando do ser. Afinal, não é somente o problema que existe e vive. É preciso “olhar para aquilo que vai bem, para o ponto de luz que pode dissipar as trevas, aquilo que escapa ao homem, abrindo espaços para mudanças, um espaço onde o homem possa se recolher e descansar, encontrando seus próprios caminhos para aprender”. O que não é ensinar, mas possibilitar aprendizagens. Essa relação promove um processo de crescimento para ambas as partes, criando “ensinantes e aprendentes”, numa interação sem papéis fixos e independentes, direcionada para o interior ou exterior de cada envolvido. Deixando de lado particularidades, o próprio ponto de vista e seus condicionamentos, para ver as coisas a partir delas mesmas, como são. Isso cria uma interdependência ativa que faz com que um complemente o outro e ambos cresçam construindo novos conhecimentos. O olhar do psicopedagogo, além de lúcido deve ser esclarecedor, sem julgamentos ou depreciações. Diante de um olhar assim, a aceitação flui naturalmente. E esta aceitação é a condição primeira, a mais necessária para que se inicie o caminho de cura, aliando a teoria à prática. PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR 25 A educação hospitalar da criança e do adolescente representa um novo desafio à educação, especificamente ao psicopedagogo, que, devido sua formação interdisciplinar é um dos profissionais mais aptos a esta modalidade. A alternativa de apoio educacional psicopedagógico ao paciente interno é interessante para assegurar-lhe uma boa recuperação em meio à inquietação oriunda da preocupação sobre o tratamento recomendado à recuperação e o tempo de hospitalização. Em suma, o ambiente hospitalar é um local que emana diversos sentimentos e sensações: ora de doença ou saúde, de imensa tensão ou angústia ou então de alívio, cura ou consolo. Extremamente técnico, aos poucos o local se abriu a outros profissionais que não são da área da saúde. No caso do psicopedagogo é necessário conectar-se com a equipe, criando um elo entre as especialidades. De acordo com Vasconcelos (2000), as doenças tratadas no hospital podem ser classificadas em: Acidentes, sejam acidentes domésticos (queimaduras, quedas, feridas), ou acidentes externos. Para esta categoria, junte-se tentativa de suicídio, estuprose espancamentos (casos de maus-tratos). Esta primeira classificação constitui o que se chama traumatologia e internações gerais. Enfermidades de má formação congênita, como afecções ósseas, nefrológicas, hepáticas, neurológicas ou musculares: má-formação de membros ou do esqueleto, escolioses, luxações congênitas das articulações do quadril, miopatias, etc. 26 Finalmente, enfermidades adquiridas ao nascimento ou de crescimento: debilidade motora cerebral, poliartrite, poliomielite, tumores muscularesou ósseos, cânceres. As equipes médicas agrupam cirurgiões, médicos, anestesistas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, bem como, psicopedagogos. Ainda pode-se contar com visitas voluntárias, com intenções diversas, sejam elas recreativas, religiosas ou humanitárias. Toda esta equipe acompanha, direta ou indiretamente, todas as etapas de uma internação, que em geral são enfrentadas de forma diferente por cada indivíduo hospitalizado. A sensação de dor, por exemplo, é sentida diferentemente de acordo com a idade do paciente e de acordo com diferenças individuais. Nessa hora, nossa intervenção ganha uma razão de ser, mas não é ainda, necessariamente aquilo que traz a cura, logo, não é essencial. Ainda não fácil de distinguir entre a dor e outras agressões de que a criança é a vítima (separação da mãe, mudança de quadro, rostos e procedimentos desconhecidos) (...) Nossa intervenção leva em conta o estado emocional da criança que pede socorro quando se nega a uma atividade ou quando é agressiva (...) Em nossa escuta de Psicopedagogo, devemos agir por uma atividade que possa transpor o sofrimento de angústia, de solidão -Vasconcelos (2000) Mesmo assim, muitas vezes as crianças não são capazes de expressar nem de reproduzir o que as faz temer, desenvolvendo angústias, fazendo surgir depressão, revolta ou desespero, ou ainda a possibilidade de regressão no nível de desenvolvimento. Mais uma vez, o psicopedagogo é aquele que faz diferença, trazendo o sentimento de valorização da vida, amor próprio, autoestima, aceitação e segurança - recuperar estes prazeres e garantir a construção dos conhecimentos que estariam acontecendo em ambiente escolar, é função do trabalho psicopedagógico que se insere na esfera hospitalar. Afinal, a aprendizagem é um processo tão amplo e grandioso que ocorre através de interações, em qualquer lugar. Click e assista 27 https://www.youtube.com/watch?v=pibzo6l4Oks CÓDIGO DE ÉTICA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA – ABPp A versatilidade e a seriedade da Psicopedagogia, está amparada pelo Código de Ética da Categoria, reformulado pelo Conselho Nacional e Nato do biênio 95/96, disponível no site da Associação Brasileira de Psicopedagogia, a ABPp., como se segue: CAPÍTULO I: DOS PRINCÍPIOS Artigo 1º A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio _ família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia. Parágrafo único A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem. Artigo 2º A Psicopedagogia é de natureza interdisciplinar. Utiliza recursos das várias áreas do conhecimento humano para a compreensão do ato de aprender, no sentido ontogenético e filogenético, valendo-se de métodos e técnicas próprios. Artigo 3º 28 O trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e institucional, de caráter preventivo e/ou remediativo. Artigo 4º Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados de curso de Pós-graduação em Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reconhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável trabalho deformação pessoal. Artigo 5º O trabalho psicopedagógico tem como objetivo: (i) promover a aprendizagem, garantindo o bem-estar das pessoas em atendimento profissional, devendo valer-se dos recursos disponíveis, incluindo a relação Inter profissional; (ii) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia. CAPÍTULO II: DAS RENPONSABILIDADES DOS PSICOPEDAGOGOS Artigo 6º São deveres fundamentais dos psicopedagogos: A) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da aprendizagem humana; B) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões de mundo; C) Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da competência psicopedagógica; D) Colaborar com o progresso da Psicopedagogia; E) Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que possível; F) Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diagnóstico; 29 G) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos; H) Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes; I) Manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito público. CAPÍTULO III: DAS RELAÇÕES COM OUTRAS PROFISSÕES Artigo 7º O psicopedagogo procurará manter e desenvolver boas relações com os componentes das diferentes categorias profissionais, observando, para este fim, o seguinte: A) Trabalhar nos estritos limites das atividades que lhes são reservadas; B) Reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização; encaminhando-os a profissionais habilitados e qualificados para o atendimento; CAPÍTULO IV: DO SIGILIO Artigo 8º O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do exercício de sua atividade. Parágrafo Único Não se entende como quebra de sigilo, informar sobre cliente a especialistas comprometidos com o atendimento. Artigo 9º O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor perante autoridade competente. Artigo 10º 30 Os resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, mediante concordância do próprio avaliado ou do seu representante legal. Artigo 11º Os prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos e a eles não será franqueado o acesso a pessoas estranhas ao caso. CAPÍTULO V: DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS Artigo 12º Na publicação de trabalhos científicos, deverão ser observadas as seguintes normas: A) A discordância ou críticas deverão ser dirigidas à matéria e não ao autor; B) Em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase aos autores, sendo de boa norma dar prioridade na enumeração dos colaboradores àquele que mais contribuir para a realização do trabalho; C) Em nenhum caso, o psicopedagogo se prevalecerá da posição hierárquica para fazer publicar em seu nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação; D) Em todo trabalho científico deve ser indicada a fonte bibliográfica utilizada, bem como esclarecidas as ideias descobertas e ilustrações extraídas de cada autor. CAPÍTULO VI: DA PUBLICIDADE PROFISSIONAL Artigo 13º O psicopedagogo ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e honestidade. Artigo 14º O psicopedagogo poderá atuar como consultor científico em organizações que visem o lucro com venda de produtos, desde que busque sempre a qualidade dos mesmos. 31 CAPÍTULO VII: DOS HONORÁRIOS Artigo 15º Os honorários deverão ser fixados com cuidado, a fim de que representem justa retribuição aos serviços prestados e devem ser contratados previamente. CAPÍTULO VIII: DAS RELAÇÕES COM SAÚDE E EDUCAÇÃOArtigo 16º O psicopedagogo deve participar e refletir com as autoridades competentes sobre a organização, implantação e execução de projetos de Educação e Saúde Pública relativo às questões psicopedagógicos. CAPÍTULO IX: DA OBSERVÂNCIA E CUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA Artigo 17º Cabe ao psicopedagogo, por direito, e não por obrigação, seguir este código. Artigo 18º Cabe ao Conselho Nacional da ABPp orientar e zelar pela fiel observância dos princípios éticos da classe. Artigo 19º O presente código só poderá ser alterado por proposta do Conselho da ABPp e aprovado em Assembleia Geral. CAPÍTULO X: DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 20º O presente código de ética entrou em vigor após sua aprovação em Assembleia Geral, realizada no V Encontro e II Congresso de Psicopedagogia da ABPp em 12/07/1992, e sofreu a 1ª alteração proposta pelo Congresso Nacional e Nato no biênio 95/96, sendo aprovado em 19/07/1996, na Assembleia 32 Geral do III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia da ABPp, da qual resultou a presente solução. Como outrora lembrado, o fundamento da Psicopedagogia é o estudo da aprendizagem humana, que se constitui a cada momento em qualquer tempo. Intrínseca ao ser humano, que se dá em todos os sentidos, em qualquer local e continuamente. Justamente por ser tão ampla e complexa, essa habilidade, surgiu a necessidade de um profissional com perfil específico para dedicar-se a ela, seja potencializando-a ou fortalecendo-a perante as adversidades encontradas ou criadas. Podemos afirmar que, devido à interdisciplinaridade de sua formação, o psicopedagogo é um profissional apto para inserir-se nesta cadeia de conhecimento e informação a que estamos expostos. A contribuição do psicopedagogo ao complexo ato de aprender pode se concretizar em diferentes instituições, sejam elas escolares, clínicas, hospitalares ou organizacionais. Ainda muito jovem no cenário a que se presta, vem construindo sua história através de intensas pesquisas que envolvem teoria e prática, mostrando- se séria e comprometida em sua atuação, construindo parcerias com diversas áreas do conhecimento e da atividade humana. A versatilidade e competência deste profissional certamente serão reconhecidas, tornando-o um parceiro imprescindível no atual e futuro mercado de trabalho. A CONSTRUÇÃO DO OLHAR DO/A PSICOPEDAGOGO/A Prof. Ms. João Beauclair (adaptado) “A verdadeira viagem da descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos “ Marcel Proust 33 A constituição deste texto se deu como uma tentativa de sistematizar algumas ideias sobre a construção do olhar do/a psicopedagogo/a. Trata-se de levantar questionamentos, propor caminhos de reflexão e estabelecer algumas possibilidades de interlocução com autores de diferentes campos do conhecimento que podem, cada qual a sua maneira, contribuir para o debate. Uma pergunta inicial me conduz neste labirinto de tessituras plurais, envolto em luzes múltiplas: Como pode o/a psicopedagogo/a ver os problemas que dificultam a aprendizagem? Que habilidades e competências ele/a deve ter, desenvolver, buscar, enfim, construir? Ou ainda, como conseguir uma escuta, um olhar psicopedagógico vinculado à estas questões? Num primeiro momento desta escritura, tomo como ponto de partida algumas contribuições significativas propostas por Fernandéz (1990). Para esta autora é mister o/a psicopedagogo/a estar “posicionando-se em um lugar analítico e assumindo uma atitude clínica, à qual será necessário incorporar conhecimentos, teoria e saber acerca do aprender “. E nesta incorporação reside, a meu ver, o maior desafio. Que espaços de formação possui o/a psicopedagogo/a? Que conhecimentos ele/a já possui? Quais teorias e saberes fazem parte do seu campo conceitual? Como ele/a se vê enquanto psicopedagogo? Que desafios enfrenta e de que modo tal enfrentamento se dá? Rubinstein(1999) nos dá uma boa pista quando ressalta que a Psicopedagogia deve ser compreendida como” uma práxis dinâmica, tanto em 34 seu contexto interno, isto é, no interior da relação terapêutica, no processo, nos recursos e necessidades do paciente, como no contexto externo, no sentido que as diferentes concepções teóricas que sustentam a prática estão muito relacionadas com o percurso acadêmico e com o contexto particular de formação pessoal do profissional que exerce a função.” No que se refere ao contexto externo, o que irá me interessar neste estudo é tentar, no âmbito restrito deste trabalho, fazer uma revisão da literatura sobre o tema e, ao assim proceder, propor algumas reflexões a respeito da Psicopedagogia como uma área multidisciplinar onde nos é possível resignificarmos nossas próprias práticas, sejam estas concebidas como pedagógicas ou terapêuticas. Já ao buscar compreensão do contexto interno, o desafio ainda se torna mais forte, pois será preciso aprender ainda sobre o que é a relação terapêutica inserida no âmbito da prática psicopedagógica. Na verdade, o que se configura aqui é a busca que proponho, enquanto educador compromissado com o meu fazer, por uma maior compreensão sobre o como garantir um aprendizagem efetiva nos “espaços tempos” da escola. E sobre aprender Alessandrini(1999) nos diz :” é uma palavra que, a meu ver, exprime o grande segredo da vida: transformar toda ação passível de introjeção e reflexão, bem como toda oportunidade de crescimento e desenvolvimento, em ação construtiva. Cada momento de aprendizagem representa a possibilidade de apreender o sentido do conhecimento .” É no campo específico desta ação construtiva que o/a psicopedagogo/a pode ver os problemas que dificultam a aprendizagem. As habilidades e competências que necessitam ter devem estar vinculadas à compreensão do par dialético proposto por Fernandéz(1990) entre o desejo e o não desejo de aprender, ou seja, é preciso instrumentalização e pesquisas constantes para que se compreenda como tal processo ocorre e de que modo pode-se intervir em sua trajetória e rumo. Se compreendemos aqui a Psicopedagogia como área multidisciplinar do conhecimento, é preciso estar, antes de qualquer outra disponibilidade, atentos/as para o estudar constante e pesquisa permanente. Não há como deixar de lado este aspecto: o /a psicopedagogo/a necessita deste constante movimento de olhar novos horizontes e caminhos para trilhar, para abrir espaços 35 não só objetivos como também subjetivos, onde a autoria e a autonomia de pensamento seja uma concreta possibilidade. De acordo com Gonçalves(s/d) as ”relações com o conhecimento, a vinculação com a aprendizagem, as significações contidas no ato de aprender, são estudados pela Psicopedagogia a fim deque possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas e para a ressignificação de atitudes subjetivas.” É neste sentido, o da ressignificação de minhas atitudes e práticas subjetivas, que me lanço no desafio de conseguir uma escuta, um olhar psicopedagógico vinculado às questões do conhecimento e da aprendizagem humana, sabendo que não há teoria única que possa dar conta de responder todas as minhas indagações e inquietudes. No entanto sei que na minha prática cabe, e sempre caberá, buscar nas mais diferentes teorias o que a ela pode dar sustentação. Iniciantes ideias, caminho singular de uma possível construção: o espaço de interlocução aqui se abre e, assim, me permito ter a ousadia de autoria e autonomia no pensar. Que venham os/as interlocutores/as, pois só é possível construir o singular no plural. Click e assista https://www.youtube.com/watch?v=UZGJaNjGqo4 A Importância da Afetividade no Processo de Cognição - Afetividade e Cognição: Caminhos que se Cruzam Este texto tem como objetivo destacar a importância daafetividade nas relações sociais, principalmente no contexto escolar, enfatizando a importância da relação afetiva professor- aluno e a sua relevância para o processo de ensino – aprendizagem. Busca-se ainda fazer reflexões relativas à importância do vínculo familiar neste processo bem 36 como mostrar de que maneira as relações afetivas contribuem no processo cognitivo. Em nossa sociedade, principalmente no âmbito do contexto escolar, muito se tem discutido acerca dos problemas relacionados às dificuldades que os alunos encontram durante o processo de construção do conhecimento assim como sobre a dificuldade que alguns professores têm encontrado diante de tal situação. O que ocorre no âmbito escolar hoje é que, o que se tem ensinado em sala de aula acaba caindo num grande vazio devido ao distanciamento que existe entre o professor e o aluno. Na verdade, pouco se tem pensado – dentro das escolas, sobre o valor que a afetividade tem na construção do conhecimento; pouco se tem falado acerca da importância de existir uma relação harmônica, confiável entre professores e alunos e destes com toda a comunidade escolar. É necessário que se reflita sobre os tipos de relação que existem no contexto escolar e mais, sobre o papel da família, sua influência e importância durante o processo de aquisição, construção do conhecimento; já que o ser humano é um ser social, e como tal, precisa ter um bom relacionamento, entendimento com aqueles que de fato são responsáveis por gerir este processo. Uma interação mútua entre professor e aluno e deste com a família, pode evitar problemas como distúrbios na aprendizagem já que a afetividade, assim como aspectos emocionais, está presente no processo de construção do conhecimento. O ser humano como fruto da sua interação com o mundo, forma sua personalidade, desenvolve há bilidades, adquire e reformula conhecimentos a partir da sua relação com o outro. É através do convívio com o outro, que o individuo desenvolve sentimentos, afetividades que facilitam sua interação e dão acesso a novos conhecimentos. Sendo assim, é preciso que haja um vínculo afetivo entre todos aqueles que estão envolvidos no processo de aprendizagem - família, aluno e professor, para que o aprendizado se dê de forma satisfatória e seja prazeroso. 37 ALUNO - AFETIVIDADE - PROFESSOR: UMA TRÍADE QUE DÁ CERTO Depois da figura da família, o professor é a figura que ocupa grande importância na vida do aluno, pois ele não é apenas mediador entre o aluno e o conhecimento, ele divide angústias, dúvidas, É ele quem com calma e firmeza ensina o aluno a dar seus primeiros passos, direcionando-o a teia que é o mundo do conhecimento. Segundo Balestra (2007) o professor é o elo fundamental, indispensável para estabelecer a interação aprendente - objeto de conhecimento, e para que esta interação se dê, os laços de confiança e afetividade entre aquele que ensina e aquele que aprende devem estar bem consolidados pois “a afetividade deve ser vista como a força motriz que impele o sujeito para o conhecimento.” (PIAGET apud BALESTRA, 2007:42). Enxergar o aluno como um ser que já vem para a escola com uma bagagem de conhecimento, com um conhecimento de mundo construído é fundamental para que se firmem laços com o ser aprendente. Durante o processo de aquisição do conhecimento, respeitar o que o aluno traz de conhecimento externo ao ambiente escolar, assim como seu tempo de aprender é muito importante para que a aprendizagem ocorra naturalmente, pois: Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente, saber algo socialmente aceito como “conhecimento”. Saber quer dizer ter construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade. (FERREIRO, 1981:17) Tal respeito contribui para o processo de ensino –aprendizagem já que “a afetividade e a inteligência são, portanto, indissociáveis e constituem os dois 38 aspectos complementares de toda conduta humana.” (PIAGET, 2001:22). Assim, a aproximação, o despertar para os vínculos afetivos é um fator primordial e de extrema importância durante o processo de cognição. Segundo ainda Piaget (2001) em todas as fases da vida humana os vínculos afetivos são fatores determinantes, o que pode resultar numa melhor integração deste com o meio social ou, quando os vínculos não acontecem, num distanciamento daquele com este meio gerando problemas como os distúrbios de aprendizagem. Desta forma, então, é correto afirmar que a aprendizagem está ligada à afetividade, ambas caminham juntas, sendo importante assim, que sejam criados no ambiente escolar, mecanismos para que afetividade e aprendizagem ocorram e se completem, no intuito de se obter um resultado prazeroso – que é a construção do conhecimento, tanto para o educando, quanto para o educador. É preciso que o educador crie vínculos com seus alunos para que possa criar situações de aprendizagem, pois “o objeto a ser conhecido deve contemplar os interesses que caracterizam a fase de desenvolvimento mental em que se encontra a criança.” (BALESTRA, 2007: 36) e mais, o equilíbrio cognitivo necessita da afetividade (do interesse, da vontade, da motivação que deve ser despertada pelo professor) para que haja a construção de novas estruturas intelectuais. Em outras palavras, o professor tem que muitas vezes se despir de velhos paradigmas e métodos para que seja possível aproximar o aluno do objeto a ser conhecido, pois segundo Balestra (2007) tal objeto deve ser desafiador, tem que ser significante, provocar a ação do ser cognoscente. Ou seja, muitas vezes, para criar situações de aprendizagem além do aspecto afetivo é preciso mudar a metodologia, buscar outras fontes, mudar o tom de voz, já que o ser aprendente é como o vaso na mão do oleiro, deve ser moldado cuidadosamente, com carinho, para que suas estruturas no campo da construção do conhecimento não se quebrem, para que assim o aprendizado se dê como um ato motivador. Em suma, mais do que professores bem titulados e equipamentos modernos, as relações estabelecidas na escola necessitam de mais afetividade, pois: 39 O grau de afetividade que envolve a relação do (a) professor (a) com os seus pares representa o fio condutor e o suporte para a aquisição do conhecimento pelo sujeito. O aluno, especialmente o da educação infantil, precisa sentir-se integralmente aceito para que alcance plenamente o desenvolvimento de seus aspectos cognitivo, afetivo e social. (BALESTRA, 2007:50) O PAPEL DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Como é sabido a família é o alicerce que rege a vida de todo ser. É ela que primeiramente apresenta o mundo do conhecimento à criança, já que este não é adquirido somente no âmbito escolar. O primeiro conhecimento que qualquer indivíduo possui antes de ingressar na escola é o conhecimento prévio, ou conhecimento de mundo – como assim também é chamado, e este, ao contrário do ambiente escolar, não precisa de regras pré-estabelecidas, ele ocorre naturalmente, através do contato social do indivíduo com a família e destes com o mundo que os cerca. É na família que a criança faz seus primeiros vínculos afetivos e é por meio dela que o individuo é apresentado ao mundo cultural. Ela é a grande responsável pela educação das crianças e também da sua aprendizagem e é por meio desta aprendizagem que o individuo começa a construir saberes. Porém, embora a família seja tão importante, parte fundamental na formação de um indivíduo, o que se vê hoje é que os pais se eximem de seu 40 papel e principalmente, da vida escolar, do processo de construção do conhecimento de seus filhos, que começa em casa. A relação afetiva que uma criança tem em casa irá contribuir negativa ou positivamenteno seu desempenho escolar. Os anseios e as expectativas que a família tem sobre a criança são muito relevantes tanto em sua formação acadêmica quanto pessoal, pois a criança espera ser admirada, elogiada, motivada, amada, e quando isto não acontece, ela se sente desestimulada, não produz, não vê satisfação, prazer no ato da aprendizagem. Vale aqui acrescentar, que o acompanhamento da vida escolar do aluno pelos pais é muito importante. Segundo relata os estudos piagetianos, a afetividade é uma valiosa contribuição para a educação da criança na família e, especialmente na escola, no entanto, “o acompanhamento de seu desempenho escolar, ou seja, do processo cognitivo,é importante, mas o aspecto afetivo não pode ser negligenciado em nenhum momento do desenvolvimento infantil, principalmente na vida escolar.” (BALESTRA, 2001: 49). Todo e qualquer acontecimento dentro do âmbito familiar é refletido na escola, se os pais não vão bem e não apresentam um vínculo afetivo com seus filhos, no âmbito escolar, a criança tende a apresentar problemas de aprendizagem e sua vida acadêmica pode se tornar um fracasso. Desta forma cabe as famílias propiciar um ambiente saudável, que ofereça e estimule o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. O ambiente familiar é o local onde, de fato, a criança desenvolve suas capacidades emocionais e intelectuais. E os aspectos emocionais conforme Weiss (2008) estariam ligados ao desenvolvimento afetivo que tem extrema importância na construção do conhecimento e na expressão deste através da produção escolar. Ao contrário do ambiente escolar, onde o aprendizado se dá de maneira mais objetiva, no contexto familiar a aprendizagem ocorre, sem dúvidas, de forma bem mais subjetiva, livre, significativa e espontânea, daí a importância de que haja uma relação de diálogo e afetividade ente o ser aprendente e sua família. Em resumo, a afetividade familiar é muito importante, como é importante também que escola e família caminhem juntas numa constante interação, pois assim o aluno poderá ter um desenvolvimento cognitivo maior e um ajustamento cultural e emocional mais adequado. Família e escola devem ser parceiras e 41 aliadas para que lado a lado possam encontrar meios para resolver problemas como as dificuldades de aprendizagem. A afetividade mais do que mola propulsora do aprendizado é o fator primordial, que define, que delimita os campos que o aluno irá trilhar durante o processo de cognição. E sendo assim, família e professores devem cultivar este sentimento para que a aprendizagem não se torne um fracasso. Mais do que metodologias modernas de ensino, equipamentos sofisticados e uma boa titulação, o professor deve ter a consciência de que ele é o responsável pelo processo de aprendizagem dentro da instituição escolar, e como tal, a motivação, o interesse, o prazer em construir e desconstruir conhecimento é responsabilidade sua. É ele quem deve despertar no aluno o gosto pelo aprendizado, e mais do que isso, é ele quem deve pegar o aluno pela mão e acompanhá-lo durante suas primeiras passadas no mundo do conhecimento. Vale acrescentar porém, que para que o processo cognitivo se dê por completo no âmbito escolar, ou seja, para que a relação professor-aluno possa resultar em ponte para o conhecimento, as relações familiares do aluno também devem ser nutridas, já que a família é a instituição mais importante da vida de qualquer individuo. O professor, sem dúvidas, é muito importante no processo cognitivo, mas a família também, já que é no seio familiar que ocorrem as primeiras aprendizagens. Mais do que participar do processo de aprendizagem de seus filhos, os pais ou responsáveis pelo ser aprendente devem ter uma relação afetiva consistente com este, já que o processo de cognição envolve tanto aspectos sociais, orgânicos, pedagógicos, quanto emocionais e cognitivos. E isso significa que se o individuo não estiver bem em suas relações sociais, familiares, fora do contexto escolar; dentro da escola, seu aprendizado poderá estar comprometido. Então, família e escola devem caminhar juntas, criando oportunidades, nutrindo o prazer pelo aprendizado, despertando no ser aprendente quão prazeroso pode ser trilhar o mundo do conhecimento, quando se está disposto para isso. Mais do que parceiro, o professor é a família do aluno dentro de sala 42 de aula, é seu espelho, assim como os pais são os professores de seus filhos fora do ambiente escolar. Portanto, o ato cognitivo deve ser acompanhado afetivamente por todos aqueles que são parte deste processo e que podem contribuir para torná-lo mais prazeroso: pais e professores. DESENVOLVENDO O "ESPAÇO POTENCIAL" NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A este texto interessa observar o espaço que se cria nos encontros terapêuticos e que possibilitam o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem, tanto do cliente como do terapeuta. Sobre o espaço potencial Winnicott afirma: "O brincar tem lugar no espaço potencial entre o bebê e a figura materna. Brincar desenvolve-se no espaço potencial de acordo com a oportunidade que o bebê tem de experenciar separação sem separação, e sua iniciação está associada com a experiência do bebê em desenvolver confiança na figura da mãe" (WINNICOTT,in ABRAM, p.226). Segundo o autor, quando o bebê pode "criar a figura da mãe", estabelece- se a experiência de ilusão. Desta experiência inicial de onipotência, surge o espaço potencial, que seria a "área de subjetividade" entre o bebê e a mãe, que emerge durante a fase de repúdio do objeto "não-eu". "A característica específica deste lugar em que se inscrevem o jogo e a experiência cultural é a seguinte: a existência deste lugar depende da experiência da vida e não das tendências herdadas" (WINNICOTT, 1967, p. 45). Não é um espaço transcendental nem instintivo a partir do qual compreendemos o mundo, mas um espaço co-construído juntamente com a nossa compreensão do mundo. Essa incorporação não é automática, mas gradual e deliberada, e provém de experiências vitais como a aprendizagem, como os exemplos e as relações intersubjetivas, que vão se configurando segundo a metodologia de um jogo. É a área importante da experiência "entre o indivíduo eo meio, esse espaço que no começo une e separa o filho e mãe, 43 quando o amor da mãe que se revela e se manifesta pela comunicação de um sentimento de segurança, outorga de fato à criança um sentimento de confiança no meio" (idem). Entendo ser importante perceber que é a figura mediadora (a mãe ou sua substituta), uma figura metapessoal, quem simboliza e introduz seu assentamento, não apenas biológico, mas humano no mundo. Pode-se pensar, então, em união e separação. Processos que serão a base para a confiança, e para o desenvolvimento do amor-próprio, da autonomia. Processos que, quando não estiveram presentes nas primeiras fases da vida, serão muitas vezes, buscados incessantemente em trabalhos terapêuticos: o resgate do pertencimento, do movimento de aproximação, da busca de sentido para a ação. CONSTRUINDO UM ESPAÇO POTENCIAL Tenho como objetivo deste artigo tecer algumas considerações sobre a criação do espaço potencial, enfocando primeiramente a relação mãe-bebê e, posteriormente, estender este conceito no contexto terapêutico, no trato com a queixa de dificuldade de aprendizagem. Para tanto, pretendo trazer minha experiência clínica em atendimento familiar para identificar a construção de um espaço (que eu nomeio potencial) que abrigou clientes e terapeuta. Dentre tantos conceitos propostos por Winnicott, volto minha atenção para o assunto que privilegia a relação do sujeito com o contexto em que ele vive. Penso que isto se deva à minha formação em terapia familiar de abordagem sistêmica e também ao fato de eu pensar o sujeito da aprendizagemsempre em relação com o outro. Como afirma Safra: "ocupar um lugar no mundo é ocupar um lugar na vida do outro" (SAFRA, 2000, p. 80). Segundo BOGOMOLETZ (1995): "...para a existência de um espaço potencial é preciso antes de tudo que exista a possibilidade de se perceber esse outro como alguém distinto e separado de nós. Conforme sabemos, na díade, ou na relação simbiótica não há um 'primeiro' e um 'segundo'. As duas partes da relação não se percebem como indivíduos, como entidades separadas, como pessoas inteiras. Neste tipo de 44 configuração humana percebe-se duas pessoas (do ponto de vista do observador, como diria Winnicott) que não se percebem duas pessoas, e sim uma espécie de gêmeos siameses, entre as quais existe um istmo invisível, como se fosse um cordão umbilical fantasma, que as une e as impede de existirem independentes (fisicamente) uma da outra. Esta condição 'física' torna- as psicologicamente inseparáveis, fusionadas e portanto inexistentes enquanto unidades individuais. 'Individual', nesse caso, é a díade, indivisível e indissolúvel". Winnicott explica: "A fase da fusão tem duas etapas. A primeira, do narcisismo primário ou da dependência absoluta. Não há 'outro' nessa fase, nem mesmo esse semi- outro que é a própria mãe. A mãe só se torna 'ela' na segunda fase, que ele chama de 'ruthlessness', ou da dependência relativa, na qual não há compaixão nem há empatia, na qual há ainda fusão e a qual se situa a meio caminho entre o narcisismo primário (ou absoluto) e a fase do 'concern', em que há compaixão, há empatia, e o 'outro' começa a ser aceito de bom grado, se todo o processo anterior transcorreu favoravelmente" (WINNICOTT, 1967, p. 65). Essa fase intermediária é aquela em que surge uma incipiente consciência do "eu", e também de tudo aquilo que "não é eu". Nessa fase, o "não-eu" não é tolerado porque o bebê ainda vive a ilusão de onipotência, ainda não passou pela desilusão em relação à existência prévia do mundo, e qualquer coisa que não pareça fruto da sua criatividade é percebida como uma coisa intrusa e intolerável. Parafraseando BOGOMOLETZ, a maior parte das mães inicia o seu processo de gestação na condição de unidade: mãe-embrião e depois mãe-feto. Para ela, a percepção de que a mãe e o bebê constituem um ser único e indivisível, somente pode ser empregado a partir de um certo momento no processo de desenvolvimento da criança. Para a mãe considerada "normal" há um momento, cedo ou tarde, em que o filho não é mais visto como uma parte dela mesma, mas não é fácil dizer que essa percepção algum dia possa se completar inteiramente. O fato é que a mãe considerada "normal" é aquela na qual percebemos uma consciência não muito atormentada de que há um mínimo de "in-dependência" entre ela e o filho. 45 Numa segunda fase, podemos falar de díade propriamente dita, pois há duas pessoas que se percebem como uma só. Isto a partir da situação anterior, em que uma das pessoas (o bebê) nada podia perceber. Mas agora o bebê percebe, e vai relutar muito até aceitar, se tudo correr bem, como diz Winnicott, que aqui há duas pessoas, e não uma. E vai fazer o possível para que tudo continue como antes, pois a mudança lhe parece forçosamente assustadora. Crescer e aprender podem ser muito ameaçadores para algumas crianças. É a paciência da mãe, diz Winnicott, que permite ao bebê ir aceitando o inevitável. E o inevitável é a percepção de que há duas pessoas, não duas metades que formam um todo. Neste momento, o que importa é dizer que a passagem da fusão para a dependência mínima é a passagem do estado de natureza para o estado da cultura, é a aceitação (pelo bebê) da mãe e, posteriormente, dos demais como pessoas por direito próprio. É o surgimento de um "eu" que se relaciona com o "não eu", em vez de combatê-lo; é a derrota da onipotência como instrumento de administração do mundo, embora não como instrumento de aperfeiçoamento desse mundo; é o início do ser propriamente humano, com toda a dignidade e todo o risco que isto implica. Cria-se então a possibilidade de um espaço potencial. Parafraseando Safra (opus cit.), é no espaço potencial que o sujeito pode completar o processo de construção de seu self. À medida que interage com o outro - a mãe, primeiramente; mais tarde, o professor, o amigo, o terapeuta - pode entrar em contato com diversas subjetividades através de manifestações culturais como a música, o texto, o diálogo, enfim, a presença humana que o enriquece e complementa. ... É uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser encontrado..." (WINNICOTT, 1967) Todos nós sabemos como é gostoso brincar de esconde-esconde. Quando crianças, tentávamos encontrar o melhor lugar para que ninguém nos achas se e, assim, nos sentíamos vitoriosos e espertos. Mas, e se a brincadeira prosseguisse e ninguém nos tivesse achado e, pior, nem tivessem sentido nossa falta! Aí sim, seria um desastre. Parece que esperteza e astúcia têm limites. É bom podermos nos diferenciar - achar um lugar bem difícil para se esconder - 46 mas, se por causa dessa diferença, formos excluídos, aí a tristeza e o desamparo abatem-se sobre nós. Nesta frase de Winnicott encontram-se os dois aspectos fundamentais para a realização pessoal: o registro do singular e do coletivo. Na ausência de um dos polos, há um sofrimento e uma experiência de não realização do self. Com muito interesse pela psicanálise, foi a partir dos textos de Winnicott que pude começar a articular a teoria psicanalítica com conceitos relacionais. Desta combinação nasceu a possibilidade de perceber, na obra do autor, ideias que enfatizam ao que é construído "na relação" com o meio, com a cultura, com o mundo. E é dentro desta perspectiva que se encaixa o conceito de espaço potencial. Uma das ideias centrais no esquema do desenvolvimento proposto por Winnicott é a de que a mãe precisa, com o tempo, ir diminuindo o grau de sua adaptação às necessidades iniciais do bebê. De um certo momento em diante, é preciso que ela permita ao bebê vivenciar pequenas frustrações, pois esta será a única maneira de ele desenvolver um contato com o mundo, em que terá de viver, que não se caracterize por hostilidade e receio. Winnicott acentua a ideia de que esse processo de tolerância crescente à frustração só pode ocorrer quando houve anteriormente uma quantidade suficiente de ilusão - a ilusão de onipotência. Então nos vemos ante o paradoxo segundo o qual a aceitação da realidade depende essencialmente de uma prévia falta de percepção dessa mesma realidade. Assim sendo, não há porque espantar-se com a ideia de que, a partir de Winnicott, os assuntos humanos talvez devam ser entendidos segundo a lógica paradoxal, e não mais segundo a lógica linear. A saída da onipotência deve ser feita pela via da empatia recíproca. No contexto terapêutico, esta será a condição para que se criar o espaço potencial. Penso que com esta referência podemos descrever o sofrimento que alguns pacientes apresentam: o desamparo resultante de uma saída rápida demais do universo da fusão, ou o desamparo resultante de uma permanência demasiadamente longa dentro dele o que, por simetria, causa o mesmo estrago. Tanto a mãe que não percebe o desamparo do bebê e deixa que o mundo o invada, quanto a mãe que não percebe o crescimento do bebê e o afoga em seu 47 amparo, roubando-lhe o acesso ao mundo, ambas fazem a mesma coisa: deixam de perceber o bebê. No processo de terapia temos (pelo menos) duas pessoas envolvidas que, no brincar, percebem-se mutuamente. Winnicott fala: "A psicoterapia tem lugar no encontro de duas áreas do brincar: uma do paciente, outra do terapeuta. A psicoterapia acontece quando duas pessoas brincam juntas. O corolário desta afirmação é que aonde não pode acontecer o brincar, o trabalho do terapeutaserá o de trazer o paciente de um estágio onde o brincar não é possível para um estágio onde o brincar torne-se possível". (WINNICOTT, in ABRAM, p.228) Voltando ao início deste tópico e pensando na frase de Winnicott, percebemos que na brincadeira podemos re-significar o que é estar escondido - valorização das competências individuais, autonomia, independência - e o que é ser encontrado (ou não) -fazer parte do coletivo, sentir-se pertencendo, compartilhar experiências humanas - e perceber que é no equilíbrio dessas duas posições que se caminha rumo ao desenvolvimento e à aprendizagem. Relatarei a seguir o atendimento de uma família, visando demonstrar como através da criação de um espaço potencial - onde o brincar teve lugar - foi possível a seus membros resgatar a aprendizagem por meio da criatividade e da capacidade de resolução de conflitos. TEMPO DE BRINCAR/ DE CRIAR/ DE DESPERTAR... A., um rapaz de 15 anos, vem à terapia trazido pelos pais. A queixa central é de dificuldade de aprendizagem e envolvimento com drogas. Bem vestido e bem arrumado não lembra, nem pela aparência, nem pelas atitudes, um drogadicto. Seus pais dizem não entender o que se passou com o filho, que sempre fora um ótimo estudante e muito responsável em casa. Cursou até a 2º série do Ensino Médio. Ao se aproximar do fim do curso, ele parecia estar desmotivado e sem condições de prosseguir. A escola os chamou para informar que A. apresentava dificuldades de atenção, de concentração, de organização para tarefas sistematizadas, o que o deixava impossibilitado de acompanhar o 48 ritmo dos colegas. Decidiram então que seria melhor tirá-lo do colégio. Neste momento, o rapaz afirma querer ajuda e estar disposto a retomar sua vida. Provenientes de famílias humildes de origem judaica, os pais tiveram de trabalhar muito para conquistar uma estabilidade econômica e poder mandar A. para o colégio. A história da família R. é muito rica e repleta de situações interessantes. Entretanto, para não fugir ao escopo deste trabalho, focalizarei, apenas, o que eu entendo pela construção de um espaço potencial entre a família e a terapeuta. De início, peço à família que me conte um pouco de sua história. Os pais falam dos avós, que vieram ao Brasil foragidos durante a 2a Guerra, e das dificuldades que aqui enfrentaram. Fico sabendo que apenas a avó materna ainda vive e que mora no interior do Estado. Incentivo-os a falarem de suas famílias de origem, de seus hábitos e costumes. Percebo que existem muitas histórias carregadas de emoção e tristeza que cercam os primeiros anos da família no Brasil. Percebo, ainda, que alguns assuntos parecem proibidos de serem mencionados. Não é uma proibição explícita, mas o assunto é desviado a cada vez que falamos; por exemplo, tudo o que se relaciona ao avô paterno. Depois de alguns atendimentos centrados em construções de narrativas, começo a perceber que estamos dando voltas em torno dos mesmos pontos e vou me sentindo como que paralisada pelo sistema. Aprendi, em decorrência de minha experiência, que nestes momentos, o uso de outros recursos, que não o puramente verbal, podem ser de grande ajuda. Proponho, então, o início do que eu mais tarde chamei de fase de jogos: atendimentos onde começamos a jogar WAR. Tanto os pais, como A., tinham um bom conhecimento de geografia e eles sentiam-se animados em me dar aulas e me contar os hábitos e os costumes de lugares que eu desconhecia. Nestas ocasiões, eram trazidos também assuntos pessoais e eu podia observar a hierarquia, as coalizões e as lealdades entre os três. Num desses encontros, fiquei sabendo que o avô paterno morrera dois dias antes do nascimento de A. Nesta mesma ocasião, ele falou, pela primeira vez, que se sentia muito pouco à vontade com o pai toda vez que falavam no avô. A mãe começa a chorar e diz que já era hora de terem esta conversa. O pai, visivelmente contrariado, inicia o relato contando que o avô se suicidara pouco antes de A. nascer. 49 Com esta revelação, muitos assuntos são trazidos à tona e tenho a oportunidade de perceber o lugar que fora designado a A., cujo nome herdara do avô morto. É importante lembrar que neste contexto cultural, dar o nome de um antepassado a uma criança é a forma de homenageá-lo e expressar reconhecimento. Mas, neste caso, a nomeação trazia igualmente muita mágoa e ressentimento. Não vou me estender aqui sobre o fantasma do suicídio que assombra a família. Só não posso deixar de mencionar a enorme carga que um filho carrega quando deve ocupar concomitantemente o lugar do reparador (pelo suicídio) e do morto. O avô de A. era, segundo o pai, um homem muito inteligente e bem sucedido, que havia sido arrancado de seu meio pela eclosão da guerra. Valorizava muitos os estudos e não se conformara em deixar suas propriedades para fugir. Nunca aceitara a situação e, tendo ficado cada vez mais isolado, acabou pondo fim à própria vida. Deste avô, A. sabia apenas que fora uma pessoa muito esforçada, mas, conforme afirmou, sua fantasia era de que ele morrera louco. Nunca teve coragem de perguntar ao pai, mas disse sentir-se com medo de também acabar assim pois pensava que essa loucura poderia ser hereditária. Apesar de todo caminho já percorrido, eu buscava ainda entender, entre outras coisas, qual o sentido das drogas na vida de A. e como foi o processo de abandono dos estudos. Parecia-me que ele respondia a duas demandas paradoxais da família: ser bem sucedido e correr o risco de se matar X ser um fracassado e permanecer vivo. A partir daí, fizemos um trabalho com fotos e foi possível para a família resgatar muitas histórias que estavam enterradas juntamente com a memória deste avô. Aspectos culturais importantes e suas repercussões para a vida da família foram revistos. Pudemos, enfim, focar na vida atual de A. e suas possibilidades de reintegração social. O paradoxo pôde ser nomeado e finalmente entendido. Em muitos outros encontros voltamos a jogar. Certa vez, o pai de A. mencionou que este espaço da terapia era o único lugar onde ele se sentia à vontade por não precisar representar nenhum papel: neste lugar ele podia ser ele mesmo. Penso que neste momento ele se referia ao espaço que fora criado 50 entre a família e a terapeuta, onde havia confiança, tolerância, continência, possibilidade de crescimento. Penso que ele se referia ao espaço potencial. Winnicott afirma que o tempo da terapia deve ser aquele que permita ao paciente experimentar confiança e que, posteriormente, o encoraje à separação e à autonomia. "Como o bebê com sua mãe, o paciente não pode tornar-se autônomo, exceto em conjunto com seu terapeuta, que deve estar pronto para deixá-lo partir..." (WINICOTT, in ABRAM, p. 324). O espaço potencial, criado entre o sistema familiar e o terapêutico, propiciou um continente seguro para o brincar, para a criação de símbolos e significados que fizessem sentido para o cliente e seu grupo familiar e, ainda, para que os legados de sua cultura pudessem ser introduzidos como elementos enriquecedores da compreensão da dinâmica familiar. Junto com essas mudanças, puderam ser observadas alterações no desempenho escolar de A., que voltou a estudar, encontrando prazer em se aproximar do conhecimento. Ao se libertar dos segredos e mandatos familiares pôde superar suas dificuldades de aprendizagem e compreender o que nomeamos "função protetora do sintoma" (POLITY, 2001). Gostaria de finalizar este artigo, lembrando que entendo a função terapêutica como facilitadora para a resolução de conflitos, mobilizando a família a encontrar seus próprios recursos para fazê-lo. . E, como agente facilitador, o terapeuta busca a criação de um espaço onde as potencialidades possam ser realizadas. Segundo Winnicott, espaço de brincar, de criar, de despertar para a vida.O enfoque psicanalítico de orientação winnicottiana não nos impede de pensarmos a família como um sistema de múltiplas interações. Ao contrário, esse enfoque, no meu entender, dá ênfase ao relacional e à importância do meio no desenvolvimento do ser humano. Se pensarmos que um membro da família apresenta algum problema por viver em um determinado contexto familiar, podemos considerar que este contexto, por sua vez, está sendo constituído pela conduta deste indivíduo. Perguntar onde termina uma ação e onde começa outra é como tentar determinar onde termina a praia e onde começa o mar. O que pude observar, dentro dessa experiência terapêutica, é que quando foi criado um espaço para as questões serem recriadas e recontadas, a família foi capaz de fazer uso de instrumentos internos e relacionais que os permitiram 51 lidar melhor com as dificuldades. Esse espaço permitiu, ainda, trabalharmos com a queixa inicial na área da aprendizagem e "re-significá-la" para este sistema. Talvez possamos nos inspirar nas palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade para tentar compreender algumas das questões familiares: "Vou dobrar-me À regra nova de viver Ser outro que não eu até agora Musicalmente agasalhado Na voz de minha mãe, que cura doenças, Escorado No bronze de meu pai, que afasta os raios Ou vou ser - talvez isso apenas - apenas eu Unicamente eu, a revelar-me Na sozinha aventura em terra estranha? Agora me retalha O canivete desta descoberta: Eu não quero ser eu, prefiro continuar Objeto de família" Somos Quem Podemos Ser Engenheiros do Hawaii Um dia me disseram Que as nuvens não eram de algodão Um dia me disseram Que os ventos às vezes erram a direção E tudo ficou tão claro Um intervalo na escuridão Uma estrela de brilho raro Um disparo para um coração A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento 52 Um momento de embriaguez Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Um dia me disseram Quem eram os donos da situação Sem querer eles me deram As chaves que abrem essa prisão E tudo ficou tão claro O que era raro ficou comum Como um dia depois do outro Como um dia, um dia comum A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Um dia me disseram Que as nuvens não eram de algodão Um dia me disseram Que os ventos às vezes erram a direção Quem ocupa o trono tem culpa Quem oculta o crime também Quem duvida da vida tem culpa Quem evita a dúvida também tem Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Composição: Humberto Gessinger Além do Horizonte Jota Quest Além do Horizonte Existe um lugar 53 Bonito e tranquilo Pra gente se amar... La LaraLaraLaraLara Lala La LaráLaráLaraLara Larala La LaraLaraLaraLara Lala La LaraLaraLaraLara Larala... Além do horizonte deve ter Algum lugar bonito Pra viver em paz Onde eu possa encontrar A natureza Alegria e felicidade Com certeza... La nesse lugar O amanhecer é lindo Com flores festejando Mais um dia que vem vindo... Onde a gente pode Se deitar no campo Se amar na relva Escutando o canto Dos pássaros... Aproveitar a tarde Sem pensar na vida Andar despreocupado Sem saber a hora De voltar... Bronzear o corpo Todo sem censura Gozar a liberdade De uma vida Sem frescura... Se você não vem comigo Nada disso tem valor 54 De que vale O paraíso sem o amor... Se você não vem comigo Tudo isso vai ficar No horizonte esperando Por nós dois... Além do horizonte Existe um lugar Bonito e tranquilo Pra gente se amar... La Laralaralaralara Lala La Laralaralaralara Larala La Laralaralaralara Lala La Laralaralaralará Larala... Se você não vem comigo Nada disso tem valor De que vale O paraíso sem amor... Se você não vem comigo Tudo isso vai ficar No horizonte esperando Por nós dois... Além do horizonte Existe um lugar Bonito e tranquilo Pra gente se amar.... La LaraLaraLaraLara Lala La LaraLaraLaraLara Larala La LaraLaraLaraLara Lala La LaraLaraLaraLara Larala La LaraLaraLaraLara Lala La LaraLaraLaraLara Larala La LaraLaraLaraLara Lala La LaraLaraLaraLara Larala... 55 Composição: Erasmo Carlos / Roberto Carlos Click e assista https://www.youtube.com/watch?v=p9RHpUe3IBI 56 REFERÊNCIAS BALESTRA, Maria Marta Mazaro. A Psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007. BIBLIOGRAFIA ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia. www.abpp.com.br ANGELONI, M. T. Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2003. BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. CÉSARIS, Delia Maria de. O Psicopedagogo nas Instituições. Hoje. Disponível em www.psicopedagogiaonline.com.br . Acesso em : 27 de abril de 2003. CÓDIGO DE ÉTICA E ESTATUTO DA ABPp. Disponível em .abpp.com.br. Acesso em: 14 de julho de 2003. ENCONTRO MINEIRO DE PSICOPEDAGOGIA - Belo Horizonte, MG, 1997. Acesso em: 02 de maio de 2003. FERNÁNDEZ, Alícia. A inteligência aprisionada – abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. 2ª reed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1991. FERREIRA, Renata Tereza da Silva. A importância da psicopedagogia no ensino fundamental - 1ª a 4ªséries. Disponível em www.psicopedagogiaonline.com.br. Publicado em 25 de junho de 2002. Acesso em: 27 de abril de 2003. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24ª edição atualizada. São Paulo: Cortez Editora, 1981. GONÇALVES, Júlia Eugênia. Competência do Psicopedagogo. Disponível em www.aprender-ai.com.br. Texto apresentado por ocasião do II https://www.google.com/search?hl=pt- BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=643&q=imagens+sobre +psicopedagogia&oq=imagens+sobre+psicopedagogia&gs_l=img.3..0.4361.15 624.0.16486.28.15.0.13.13.0.255.2438.0j7j5.12.0....0...1ac.1.64.img..3.25.2483. ..0i30j0i8i30j0i24.SAIbi-7jth8 57 HOLTZ, Maria Luiza Marins. A Pedagogia Empresarial e as Relações Humanas. Disponível em www.sorocaba.com.br. Publicado em 06 de outubro de 2001. Acesso em: 02 de maio de 2003. MORGAN, G. Imagens da Organização. São Paulo : Atlas,1996. RUBINSTEIN, Edith. In SCOZ et al. Psicopedagogia: Contextualização, Formação e Atuação Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1992. STWART, T.A. Capital Intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. Rio de Janeiro: Campus, 1998. VASCONCELOS, Sandra Maia Farias. A Psicopedagogia hospitalar para crianças e adolescentes. Disponível em www.psicopedagogiaonline.com.br. Apresentado na Semana da Psicopedagogia da Universidade Estadual do Ceará - 2000. Acesso em: 28 de abril de 2003.