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2019-tcc-faamagalhAúes

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CAPA 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E 
CONTABILIDADE 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA APLICADA 
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
 
 
 
FRANCISCO DE ASSIS ANDRADE MAGALHÃES 
 
 
 
 
 
 
A ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1946 A 1968 
COM ÊNFASE NO PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO - PAEG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2019 
CAPA 
 
FRANCISCO DE ASSIS ANDRADE MAGALHÃES 
 
 
 
 
 
 
 
A ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1946 A 1968 
COM ÊNFASE NO PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO - PAEG 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Ciências 
Econômicas da Faculdade de Economia, 
Administração, Atuária, Contabilidade e 
Secretariado Executivo da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial para 
obtenção do Título de Bacharel em Ciências 
Econômicas. 
 
Orientador: Prof. Dr. José de Jesus Sousa 
Lemos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2019 
CAPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPA 
FRANCISCO DE ASSIS ANDRADE MAGALHÃES 
 
 
 
 
 
A ECONOMIA BRASILEIRA NO PERÍODO DE 1946 A 1968 
COM ÊNFASE NO PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO - PAEG 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Ciências 
Econômicas da Faculdade de Economia, 
Administração, Atuária, Contabilidade e 
Secretariado Executivo da Universidade 
Federal do Ceará, como requisito parcial para 
obtenção do Título de Bacharel em Ciências 
Econômicas. 
 
Orientador: Prof. Dr. José de Jesus Sousa 
Lemos. 
 
Aprovada em: ___/___/______. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Ma. Elizama Cavalcante de Paiva 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
 
_________________________________________ 
Ma. Lydia Maria Portela Fernandes 
Secretaria do Desenvolvimento Agrário - SDA 
 
CAPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus. 
Aos meus pais, Francisco e Maria. 
 
 
 
 
CAPA 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus pelo dom da vida. 
À minha família, na pessoa da minha amada esposa Arolisa Vasconcelos e do meu 
querido filho Heitor Vasconcelos, por serem meu apoio e inspiração na continuidade deste 
projeto. 
Aos meus pais, Francisco e Maria, que me proporcionaram uma educação digna 
mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas. 
Aos meus avós João, Aline, Francisco e Joana (in memoriam) por serem os 
alicerces da minha família. 
À minha tia, Francisca dos Santos (Tia Fitinha), que junto com os meus pais, 
foram as pessoas responsáveis pelos meus estudos. 
Aos meus irmãos, Cleane Andrade, Paulo Henrique e Ana Paula, por sempre 
acreditarem na minha capacidade. 
Ao Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos, pela excelente orientação e pela amizade 
construída ao longo desse processo. 
Aos professores participantes da banca examinadora Ma. Elizama Cavalcante de 
Paiva e Ma. Lydia Maria Portela Fernandes pelo tempo, pelas valiosas colaborações e 
sugestões. 
Aos colegas da turma de graduação, especialmente, Robson Freires, Karine 
Gomes e Beatriz Pinheiro, pelas reflexões, críticas e sugestões. 
 
 
CAPA 
RESUMO 
 
O estudo visou fazer uma avaliação dos resultados encontrados depois da implantação do 
programa de ação econômica do governo e a reforma do sistema financeiro (PAEG) 1964 
/1968 com a chegada dos militares ao poder depois das turbulências políticas que levaram o 
Congresso Nacional a apearem do poder o Presidente João Goulart e eleger indiretamente o 
primeiro presidente militar, Marechal Castello Branco. O trabalho faz uma retrospectiva 
histórica para mostrar como o Pais chegou ao caos econômico e político em que se encontrava 
no começo de 1964 que levou multidões em manifestações por todo o Brasil até a destituição 
do Presidente. O PAEG visava estabilizar a moeda, trazer a inflação para patamares mais 
compatíveis para que o pais conseguisse retomar o seu crescimento econômico. Foram 
adotadas políticas fiscais e monetárias restritivas e interferências nas taxas de câmbio. Houve 
mudanças no sistema financeiro e a criação do Banco Central. As medidas adotadas no PAEG 
criaram condições para que o País experimentasse taxas de crescimento entre os anos de 1968 
e 1973 em níveis nunca experimentados antes ou depois da sua implantação. Aquele período 
ficou conhecido na literatura como o Milagre Econômico Brasileiro. 
 
Palavras-chave: Economia Brasileira. Estabilidade Monetária. Ajuste Fiscal. Crescimento 
Econômico 
 
CAPA 
ABSTRACT 
 
The study evaluated the results found after the implementation of the government's economic 
action program and the financial system reform (PAEG) 1964/1968 with the arrival of the 
military to power after the political turbulence that led the National Congress to step down the 
President João Goulart and indirectly elect the first military president, Castello Branco. The 
work gives a historical retrospective to show how the Country arrived at the economic and 
political chaos in the beginning of 1964 that took people gathered together in manifestations 
against that situation, until the dismissal of the President. The PAEG was build to stabilize the 
currency, bringing inflation to more compatible levels so that the Country could recover its 
economic growth. Restrictive fiscal and monetary policies and interference with exchange 
rates were adopted. There have been changes in the financial system and the creation of the 
Central Bank. The measures adopted in the PAEG created conditions for the country to 
experience growth rates between 1968 and 1973 at levels never experienced before or after its 
implementation. That period became known in the literature as the Brazilian Economic 
Miracle. 
 
Keywords: Brazilian Economy. Monetary Stability. Fiscal Adjustment. Economic growth. 
 
CAPA 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - PIB e Inflação no período de 1960 a 1964 ....................................................... 28 
Tabela 2 - Déficit do Governo Federal e seu Financiamento ........................................... 31 
Tabela 3 - Empréstimos bancários ao setor privado e Expansão dos Meios de 
Pagamentos ........................................................................................................ 32 
 
 
 
CAPA 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Principais Impostos no Brasil pré e pós Reforma de 1965/67..................... 33 
Quadro 2 - O SFN após as Reformas de 1964 - 1967 ................................................... 37 
 
 
 
CAPA 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
APE Associações de Poupança e Empréstimo 
Bacen Banco Central 
BB Banco do Brasil 
BD Banco de Desenvolvimento 
BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
BNH Banco Nacional de Habitação 
Cacex Carteira de Comércio Exterior 
Camob Caixa de Mobilização Bancária 
Cared Carteira de Redesconto 
CEF Caixa Econômica Federal 
Cexim Carteira de Exportação e Importação 
CMBEU Comissão Mista Brasil Estados Unidos 
CMN Conselho Monetário Nacional 
Eximbank Banco de Exportação e Importação 
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço 
FMI Fundo Monetário Internacional 
FPEM Fundo de Participação dos Estados e Municípios 
ICM Imposto sobre Circulação de Mercadorias 
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados 
IPTU Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana 
ISS Imposto Sobre Serviços 
MPCE Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica 
ORTN Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional 
PAEG Programa de Ação Econômica do Governo 
PEM Programa de Estabilização Monetária 
PIB Produto Interno Bruto 
PSD Partido Social Democrático 
SFN Sistema Financeiro Nacional 
Sumoc Superintendência da Moeda e do CréditoUDN União Democrática Nacional 
a.a. Ao ano 
 
CAPA 
LISTA DE SÍMBOLOS 
 
$ Dólar 
% Porcentagem 
Cr$ Cruzeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPA 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14 
2 UMA BREVE ANÁLISE DA ECONOMIA BRASILEIRA ANTES DO PAEG ............... 17 
2.1 Retrospectiva do Governo Dutra de 1946 a 1950 ........................................................ 17 
2.2 O Segundo Governo Vargas, de 1951 a 1954 .............................................................. 19 
2.3 Governo Café Filho entre 1954 – 1955 ....................................................................... 22 
2.4 Plano de Metas: Juscelino Kubitschek (1956 – 1961) ................................................. 24 
2.5 Jânio Quadros e João Goulart: 1961 – 1964 ................................................................ 25 
3 O PAEG: 1964 a 1967 ....................................................................................................... 28 
3.1 Diagnósticos, objetivos e instrumentos de ação .......................................................... 28 
3.2 A Política financeira ................................................................................................... 30 
3.2.1 Redução dos Déficits Governamentais ................................................................. 30 
3.2.2 A Política Monetária ........................................................................................... 31 
3.2.3 A Política Tributária ........................................................................................... 32 
3.2.4 A Política Bancária ............................................................................................. 34 
3.3 A Política Salarial ...................................................................................................... 38 
3.4 Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG: resultados .................................. 39 
4 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 40 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 41 
ANEXO A – INSTRUÇÃO 70 – Sumoc .............................................................................. 42 
ANEXO B – INSTRUÇÃO 109 – Sumoc ............................................................................ 48 
ANEXO C – INSTRUÇÃO 112 – Sumoc ........................................................................... 49 
ANEXO D – INSTRUÇÃO 113 – Sumoc ............................................................................ 51 
ANEXO E – INSTRUÇÃO 204 – Sumoc ............................................................................ 54 
ANEXO F – INSTRUÇÃO 235 – Sumoc ............................................................................. 59 
ANEXO ESTATÍSTICO...................................................................................................... 64 
 
 
 
 
 
 
14 
1 INTRODUÇÃO 
 
O começo dos anos sessenta do século passado foi marcado por intensa 
efervescência política, grande parte causada pela desconfiança que a maioria dos brasileiros 
experimentava em relação ao Presidente João Goulart, que havia assumido em decorrência da 
Renúncia do Presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961. Aquele período culminou com o 
impedimento do Presidente e a chegada ao poder dos militares, em abril daquele ano. Uma 
das causas daquelas turbulências políticas, mas não a única, era a disparada do processo 
inflacionário, que estava ficando sem controle. A População majoritariamente e o Congresso 
Nacional, dando ressonância àqueles anseios, acreditava que o Mandatário não mais reuniria 
condições para promover o necessário equilíbrio monetário que seria um dos vetores 
promotores das demais estabilidades, inclusive a política. 
O problema da inflação já vinha se agravando no país desde o Governo Dutra. Em 
um primeiro momento, a sua gestão foi marcada por políticas monetária e fiscal de perfis 
ortodoxos, que até fizeram com que a inflação diminuísse. Mas, no final do seu governo a 
política monetária voltou a ser expansiva, comprometendo o controle inflacionário. O seu 
sucessor herdaria uma inflação na casa dos dois dígitos. 
Getúlio Vargas tomou posse para o seu segundo mandato - 1951 a 1954, com a 
missão de conter a inflação. Seu projeto de governo foi definido em duas fases. Para que 
ambas lograssem êxito, a primeira fase seria a adoção de uma política monetária restritiva, 
permitindo reduzir a inflação e a segunda fase seria a dos empreendimentos. O colapso 
cambial sofrido comprometeu o processo de contenção da inflação e problemas políticos o 
levaram a cometer suicídio em 25 de agosto de 1954. 
Ao tomar posse após o suicídio de Getúlio, Café Filho teria a missão de, além de 
conter o processo inflacionário, fazer o enfrentamento da crise cambial pela qual o país vinha 
passando. A breve gestão de Café Filho na presidência do país foi marcada por uma séria crise 
de liquidez, falências de empresas e queda na formação bruta do capital fixo. Tudo isso fruto 
de uma política econômica de perfil altamente ortodoxo. 
Em seguida, houve a eleição e a posse de Juscelino Kubitschek como Presidente 
da República, a partir de 31 de janeiro de 1956. O seu Governo foi marcado na história como 
de crescimento e transformações econômicas, principalmente devido ao Plano de Metas, que 
trouxe ao Brasil uma fase de aceleração da taxa de crescimento. A indústria de transformação 
ganhou espaço e a agricultura foi perdendo representatividade na participação relativa na 
formatação do Produto Interno Bruto – PIB agregado do País. O processo de substituição de 
15 
importações foi se aprofundando em níveis mais elevados, promovendo mudanças estruturais 
na economia. Porém, a inflação no final de sua gestão estava a níveis muito elevados, assim o 
aumento do déficit público também foi agravado. 
Juscelino conseguiu fazer com que a economia do País crescesse e se 
desenvolvesse graças ao Plano de Metas, mas não há como negar que ele também entregou ao 
sucessor um país com grave crise inflacionária e com o déficit público mais elevado, déficit 
esse causado pelos excessos de gastos, sobretudo com a construção e transferência da nova 
Capital do País para Brasília no Centro Oeste a partir de 21 de abril de 1960. 
No final de 1960, houve eleição para Presidente da República e Jânio Quadros se 
elegeu ganhando do General Lott, que lhe fazia oposição. Tomou posse em 31 de janeiro de 
1961. Porém, Jânio Quadros teve um curto período à frente da Presidência da República. 
Logo ao assumir, lançou um pacote de medidas ortodoxas a fim de tentar resolver os 
problemas macroeconômicos deixados por Juscelino Kubitscheck. No entanto, não se pode 
avaliar essas medidas, pois o Presidente renunciaria em 25 de agosto de 1961. 
O período que seguiu foi marcado na história brasileira pela aventura do 
parlamentarismo. Isso se deu porque a Câmara dos Deputados impediu o vice de Jânio 
Quadros, João Goulart, de tomar posse como Presidente no regime Presidencialista. Foi feito 
um acordo, aceito por João Goulart, para a implantação do parlamentarismo para garantir a 
sua posse na Presidência da República, porque Jango (como era conhecido) fazia parte do 
quadro do antigo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB de Getúlio Vargas, historicamente 
ligado aos movimentos trabalhistas e sindicais. Era visto, por isso como um político de 
esquerda. Houve também o veto militar à sua posse como Presidente no regime 
presidencialista. Goulart aceitou o acordo que lhe garantia a presidência, mas, de outro lado, 
retirava-lhe parte dos poderes constitucionais, transferidos para o primeiro-ministro queera 
Tancredo Neves que passou a ser o Chefe do Governo naquele processo. 
Em 1963, há o plebiscito que devolve ao País o regime presidencialista. Antes, em 
dezembro de 1962, o Ministro Extraordinário para Assuntos de Planejamento, o Economista 
Celso Furtado, lançou o Plano Trienal. O Plano tinha vários objetivos e entre eles estavam a 
contenção da inflação, fazer com que a país voltasse a crescer e renegociação da dívida 
externa. 
As medidas adotadas por João Goulart não foram suficientes para conter o 
processo inflacionário que, na época, foi agravado ainda mais pelo descontrole nas contas 
públicas e pela permanência do déficit governamental. O clamor por reformas de base, assim 
como a penetração de ideologias de esquerda nas atitudes e decisões do Presidente, levou 
16 
multidões às ruas e inquietação aos quartéis. Isso provocou instabilidade política no País. Em 
fins de março, a Câmara dos Deputados caça o mandato do Presidente, declara vago o cargo e 
assumem os militares, em abril de 1964. 
O Cearense Marechal Castello Branco assumiu em abril de 1964 como primeiro 
presidente militar, com a promessa de fazer a transição para promover novas eleições livres 
para Presidente em 1965. No entanto, ao assumir a presidência, encontra um quadro de altas 
taxas de inflação, com queda na atividade produtiva. Diante de um quadro econômico 
altamente desfavorável, o Governo lançou o Programa de Aceleração Econômica do Governo 
- PAEG. 
O objeto deste estudo é avaliar o PAEG no que concerne às ações deste no que diz 
respeito às políticas que foram adotadas para sanar os problemas econômicos do Brasil. A 
pesquisa fará uma análise das reformas estruturais: a monetária, com o intuito de conter a 
inflação, procurando novas maneiras de financiar os dispêndios governamentais e a fiscal, que 
propunha melhorar as contas públicas e a arrecadação Federal. O trabalho também analisará 
as mudanças que aconteceram no do Sistema Financeiro Nacional. 
O presente trabalho se divide em três Seções, além desta introdução. A segunda 
Seção analisa a economia brasileira antes do PAEG, desde o Governo Dutra até o Governo de 
João Goulart. Na terceira Seção foi abordado o tema principal deste trabalho que é o PAEG e 
a Reforma do Sistema Financeiro e a quarta Seção termina, com as conclusões. 
 
 
17 
2 UMA BREVE ANÁLISE DA ECONOMIA BRASILEIRA ANTES DO PAEG 
 
A presente Seção faz uma abordagem histórica, desde o período pós-guerra até o 
início dos Governos Militares que foram implantados em abril de 1964. Portanto, a 
abordagem cobre desde o Governo de Eurico Gaspar Dutra, que assumiu a presidência com a 
renúncia de Getúlio Vargas até o Governo de João Goulart, que reassumiu a presidência logo 
após sair vitorioso do plebiscito que restabeleceu o Presidencialismo como forma de Governo 
do Brasil, em 1963. Em todos esses Governos se podem notar as dificuldades enfrentadas pelo 
Brasil na área econômica e sua dificuldade de conter o processo inflacionário, assim como o 
déficit público. 
2.1 Retrospectiva do Governo Dutra de 1946 a 1950 
 
A renúncia de Getúlio Vargas ao poder provocando, em 1945, a queda do Estado-
Novo, elevou ao cargo de Presidente da República o General do Exército Eurico Gaspar 
Dutra. Seu Governo seria norteado por uma política externa de controle cambial e passou a 
existir o contingenciamento das importações. Esse fato ocorreu entre os anos de 1947 e 1948. 
Ao final de seu mandato, houve a troca do Ministro da Fazenda que era dotado de tendências 
fortemente ortodoxas, ou seja, adotava políticas capazes de conter a inflação cortando a 
expansão monetária e frear o déficit do governo, por um ministro de maior flexibilidade nas 
políticas fiscal e monetária. Não se pode deixar também de citar que houve uma tentativa de 
controle inflacionário. 
No início, o Governo Dutra estava voltado a fazer uma política liberal de câmbio, 
com o intuito de atrair investimentos estrangeiros para o país. Mas logo essa política foi 
deixada de lado, com a adoção de política de taxa fixada do câmbio pelo Poder Executivo. No 
setor interno, o Governo via na inflação o problema que necessitaria ser resolvido com mais 
rapidez. Foi identificado que os aumentos nos índices dos preços eram causados pelos déficits 
no orçamento público. Para resolver esse problema, era necessário utilizar políticas fiscais e 
monetárias restritivas. E assim foi feito, com a nomeação para o Ministério da Fazenda de 
Correa e Castro. 
A política Externa do Governo Dutra, adotada até o ano de 1946, manteve o 
câmbio sobrevalorizado, o que aumentava as importações. Giambiagi et al. (2011, p. 4) 
descreve alguns dos vários objetivos dessa política, entre eles: 
I - Atender à demanda contida de matérias-primas e de bens de capital para 
reequipamento da indústria, desgastada durante a guerra; II - Forçar a baixa dos 
18 
preços industriais, mediante o aumento da oferta de produtos estrangeiros, 
importados com uma cotação cambial sobrevalorizada; III - Estimular o ingresso de 
capitais, com a liberalização de sua saída, na expectativa de que funcionasse como 
fator de atração de recursos. 
 
O Governo viu que essa política estava tomando os rumos que não eram os 
desejados, pois o país não tinha as reservas cambiais de que necessitaria para prosseguir com 
essa política de sobrevalorização cambial e os recursos que se esperava que entrassem no país 
não aconteceram, tendo em vista que a prioridade dada pelos Estados Unidos, logo depois de 
terminada a guerra, foi de reconstrução da Europa. 
Assim, o Governo se viu obrigado a mudar os rumos da sua política econômica 
externa, mas não através da desvalorização cambial. Em 1947, passou-se a adotar os controles 
cambiais e de importação. Esse controle era operado pelo Banco do Brasil que atendia, em 
primeira instância, às demandas do governo e logo após disponibilizaria as divisas de acordo 
com uma escala que foi imposta pelo governo federal e que valorizava as importações 
essenciais. Em 1948, foi imposto o sistema de contingenciamento a importações de acordo 
com as prioridades do Governo. (GIAMBIAGI et al., 2011, p. 5). 
O controle de importações acabou por favorecer a indústria nacional. No início, 
visava resolver o problema do desequilíbrio externo e dar melhor uso às poucas divisas em 
moedas conversíveis que se tinha no país. Contudo, foram impostas medidas que restringiam 
a importação de bens e produtos considerados não essenciais e que tivessem similar nacional. 
Assim resultou: 
 
Um estímulo considerável à implantação interna de indústrias substitutivas desses 
bens de consumo, sobretudo os duráveis, que ainda não eram produzidos dentro do 
país e passaram a contar com uma proteção cambial dupla, tanto do lado da reserva 
de mercado como do lado do custo de operação. Esta foi basicamente a fase da 
implantação das indústrias de aparelhos eletrodomésticos e outros bens de consumo 
durável. (TAVARES, 1972a, p. 71 apud ABREU et al., 2014, p. 113) 
 
No campo da política interna, era necessário conter o avanço da inflação. Para 
tanto, a política ortodoxa foi adotada até o ano de 1949. Era necessário, portanto, a adoção de 
uma política monetária restritiva que promoveria elevação dos juros internos e, por essa via, 
reduziria a demanda do setor privado, através da redução dos seus gastos. O diagnóstico feito 
então era de que se tratava de inflação de demanda. Além da política monetária, foi adotada 
uma política fiscal, com o intuito de estancar o déficit do governo. 
Com estas medidas a inflação, que nos anos de 1945 e 1946 alcançou 11% e 22% 
ao ano, respectivamente, chegou a cair para o 2,7% no ano de 1947. Contudo, voltou ao seu 
19 
processo de aceleração no ano de 1948, quando chegou a 8%. Quando o Governo trocou de 
Ministro da Fazenda, saindo Correa e Castro para a entrada de Guilherme da Silveira, houve 
também a troca de uma política monetária restritivae ortodoxa para uma mais “frouxa”. A 
inflação voltou a subir nos anos subsequentes, alcançando os níveis de 12,3% em 1949 e 12,4 
% em 1950, graças a essa política monetária “frouxa” e também pela expansão do crédito para 
a indústria por parte do Banco do Brasil. 
Conclui-se que o Governo Dutra não atingiu, como previsto no seu início de 
mandato, o controle da inflação. 
2.2 O Segundo Governo Vargas, de 1951 a 1954 
 
A década de 1950 se inicia com a eleição de Getúlio Vargas para governar o 
Brasil, porém, desta vez, através do voto popular. Getúlio obteve 48,7% e o brigadeiro da 
Aeronáutica, Eduardo Gomes, do partido da União Democrática Nacional – UDN, ficou em 
segundo lugar, com 29,7% dos votos. O terceiro lugar coube a Cristiano Machado, do Partido 
Social Democrático – PSD, com 21,5% dos votos. 
O Governo começou com boas perspectivas para desenvolver o país. No campo 
externo, contava com o aumento dos preços do café e também do apoio dos Estados Unidos 
no tocante aos projetos de desenvolvimento do Brasil. Para tanto, antes mesmo que Getúlio 
Vargas tomasse posse, foi formada a Comissão Mista Brasil Estados Unidos (CMBEU), que 
teve por finalidade a elaboração de projetos de desenvolvimento brasileiro. Em relação ao 
setor interno, o novo Governo se deparou com uma herança nada agradável deixada pelo seu 
antecessor. A inflação voltou a patamares elevados e também havia o descontrole nas contas 
públicas. 
O novo Governo de Getúlio Vargas que se inicia em 31 de janeiro de 1951, 
herdou de seu antecessor a volta do processo inflacionário e o desequilíbrio financeiro nas 
contas públicas. 
Com o intuito de resolver esses problemas deixados por Dutra, Getúlio adotou um 
projeto que seria executado em duas etapas. Na primeira, seria buscada a estabilização da 
economia para que se pudesse adotar uma política monetária restritiva, com o intuito de 
conter o processo inflacionário. Feito isso, seria executada a segunda etapa que trataria dos 
empreendimentos necessários ao crescimento brasileiro. Aqueles empreendimentos contavam 
com o aval da CMBEU. 
20 
No entanto, esse projeto sofreu um revés, pois as relações com os Estados Unidos, 
foram alteradas devido ao General Eisenhower ter vencido as eleições presidenciais no seu 
País e também pelos problemas apresentados no âmbito da política cambial. O problema 
cambial se deu através do afrouxamento das licenças de concessões. O Governo tinha a 
perspectiva de que essa suavização nas licenças de importação seria capaz de conter o 
processo inflacionário que pairava sobre a economia brasileira. Além da inflação, foram 
apontados outros pontos que justificariam essa redução do controle sobre as importações. Tais 
justificativas aparecem no relatório da Carteira de Exportação e Importação do Banco do 
Brasil – Cexim de 1951, a saber: 
 
(a) Persistência e séria pressão inflacionária interna e de aguda propensão a 
importar (...); 
(b) Abastecimento precário do mercado interno, no que tange aos produtos 
importados, devidos às restrições cambiais de importação aplicadas com 
crescente severidade desde 1948 até meados de 1950, e afrouxadas apenas 
parcialmente, subsequentemente à melhoria da posição cambial em fins de 
1950; 
(c) Perspectivas de crescente escassez internacional de matérias-primas e 
equipamento importável, em função da expansão dos programas armamentistas; 
(d) Perspectivas favoráveis da evolução das exportações dos principais produtos, 
cujos preços se situavam em nível satisfatório, compensando as dificuldades 
previsíveis no escoamento de gravosos; 
(e) Posição cambial temporariamente favorável. (Cexim, Relatório, 1951 apud 
VIANNA, 1987, p. 47) 
 
Essa política de afrouxamento nas licenças de importações trouxe sérios 
problemas de ordem cambial, o que levou o Governo a tomar medidas de reversão dessa 
política, ou seja, houve a decisão de apertar os licenciamentos. 
No setor externo, com a chegada do General Eisenhower à presidência americana, 
as relações com o Brasil deixaram de ser favoráveis devido à mudança de política adotada por 
esse novo Governo. Sua prioridade passou a ser o combate ao comunismo devido à Guerra 
Fria e também houve mudança do ponto IV, de Truman. Este ponto IV tratava-se de um 
programa de cooperação técnica entre Estados Unidos e os países latino-americanos. Portanto, 
este programa visou o desenvolvimento de vários países, incluindo o Brasil. Com a mudança 
nesse ponto, ficou claro que os Estados Unidos iriam deixar de financiar os projetos que 
fossem elaborados pela CMBEU. 
Com esses reveses sofridos, a primeira etapa que o Governo havia traçado para o 
Brasil ficou comprometida e impossibilitada de acontecer. Nas palavras de Abreu et al. (2014, 
p. 132-133): “O colapso cambial e a deterioração das relações econômicas com os Estados 
Unidos determinaram seu abandono”. 
21 
Diante dos problemas enfrentados na execução da primeira fase do projeto 
tornando impossível a execução da segunda fase, o Governo resolveu fazer uma nova 
tentativa de estabilização da economia. Para o Ministério da Fazenda foi chamado Oswaldo 
Aranha, para ocupar o lugar de Horácio Lafer. Esse ministro ainda continuou adotando uma 
política ortodoxa para a solução dos problemas econômicos do País, porém, desta feita, ele 
passou a privilegiar o ajuste cambial. Nas palavras de Vianna (1987, p. 101) ficam explícitos 
os motivos que levaram Oswaldo Aranha a privilegiar o ajuste cambial: 
 
“Havia razões para tanto. Como vimos, as exportações eram decrescentes, 
continuavam acumulando-se atrasados comerciais e o Eximbank havia 
suspendido o envio da segunda parcela do empréstimo de US$ 300 milhões”. 
 
Outro ponto de relevância que o Ministro deu importância foram as negociações 
com diversos países para resolver a questão dos atrasados comerciais agravado pelo problema 
de ordem cambial pelo qual o País passou durante a primeira tentativa de estabilização da 
economia ainda na gestão de Horácio Lafer, quando este era Ministro da Fazenda. 
O plano de Oswaldo Aranha passava por uma reestruturação da economia através 
do controle cambial e também da solução do problema do déficit público sem a emissão de 
moeda e, consequentemente, da expansão do crédito para o setor privado. Para combater esses 
problemas, foi lançada a Instrução 70 da Superintendência da Moeda e do Crédito – Sumoc. 
(ABREU et al., 2014). 
As principais alterações no comércio exterior trazidas pela Instrução 70 foi a 
retomada do monopólio cambial por parte do Banco do Brasil e a extinção do controle 
quantitativo das importações. Quanto às contas do Governo obtidas devido às cobranças de 
ágios e sobretaxas, estas ficaram positivas. 
Apesar da austeridade na política fiscal adotada por Oswaldo Aranha, fatores 
externos a todo esse controle fizeram com que no ano de 1953 houvesse expansão dos gastos 
do Governo. Os gastos com obras públicas, a seca na região Nordeste, um abono elevado ao 
funcionalismo civil da União e os gastos devido à realização das eleições municipais foram 
fatores que fizeram com que os gastos do Governo fossem elevados. 
Além dos gastos citados anteriormente, houve também a expansão do crédito por 
parte do Banco do Brasil, pois este pagou com recursos próprios US$ 250 milhões referentes 
aos atrasados comerciais e também teve que emprestar Cr$5 bilhões ao Tesouro Paulista para 
evitar a quebra do Estado. 
22 
Com isso a inflação no ano de 1953 voltou a crescer, dando um salto de 12% para 
20,8%. Conforme Vianna (1987, p. 109-110): 
Para o pensamento econômico ortodoxo, a explicação está no retorno do déficit 
público e consequente expansão dos meios de pagamento (...). Na verdade, existem 
razões para crer que a mudança no patamar da inflação em 1953 deveu-se, antes de 
mais nada, ao impacto das desvalorizações cambiais decorrentes do regime da 
Instrução 70. 
 
Outro ponto que também prejudicou o Plano de Estabilizaçãoadotado por 
Oswaldo Aranha foi a briga interna no Governo entre Ministério do Trabalho e Ministério da 
Fazenda. O então ministro do Trabalho, João Goulart, enviou relatório ao Presidente Getúlio 
Vargas que concedia aumento de 100% do salário mínimo, mesmo com o parecer contrário do 
Ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha. 
Outro problema que também afetou os planos do ministro Oswaldo Aranha estava 
ancorado nas dificuldades de exportação do café, que trouxeram novos problemas ao controle 
cambial. Os propósitos de controle inflacionário também foram abalados com a Instrução 70, 
devido às desvalorizações cambiais nela embutidos. (VIANNA, 1987). 
 Portanto, o Programa de estabilização da economia brasileira proposta pelo 
ministro da Fazenda começou a deteriorar-se. 
O principal produto de exportação do Brasil, o café, ao sofrer fortes crises, logo 
afetou a economia brasileira e, desta forma, pôs em xeque os planos do Ministério da 
Fazenda. O controle inflacionário também perseguido ao longo de toda a gestão do então 
Governo não foi alcançado. 
Diante disso, viu-se que as duas tentativas de estabilização perseguidas pelo 
Governo Getúlio Vargas não lograram sucesso, tendo em vista problemas surgidos ao longo 
dos dois planos de estabilização que afetaram tanto o câmbio como o controle da inflação. 
2.3 Governo Café Filho entre 1954 – 1955 
 
Café Filho tomou posse da Presidência da República logo após a trágica morte de 
Getúlio Vargas. O presidente falecido deixou um país numa grave crise inflacionária e 
também em uma crise cambial que deveria ser contornada para que o país voltasse a crescer. 
Foi nesse contexto de crise que tomou posse no Ministério da Fazenda Eugênio Gudin. 
Professor e adepto de uma política ortodoxa, avaliou que o déficit público e a 
expansão de crédito como algo que contribuíram decisivamente para agravar a crise 
inflacionária na qual o Brasil estava mergulhado. Sendo assim, não seria estranho constatar 
23 
que ele adotaria uma política econômica ortodoxa. Outro ponto que o Ministro daria 
importância mais imediata seria a resolução do problema cambial, que foi agravado pela crise 
nos preços do café e pela retração das exportações desse produto. 
Como o Ministro tinha grande prestígio na comunidade financeira internacional, 
ele tentou um empréstimo de US$300 milhões junto ao Fundo Monetário Internacional – 
FMI, mas conseguiu apenas US$80 milhões em novos créditos de fontes oficiais e a 
renegociação do mesmo valor de um empréstimo que houvera sido feito na gestão Oswaldo 
Aranha. O restante, US$200 milhões, viria de um empréstimo captado em bancos privados 
dando como garantia os US$ 300 milhões em ouro que o Brasil possuía em reservas. 
Como não obteve sucesso na negociação de novos empréstimos junto ao Governo 
Americano, Gudin, através da Instrução 113 da Sumoc, resolveu o problema dos obstáculos à 
entrada de capital estrangeiro no país. Esta instrução autorizou a Carteira de Comércio 
Exterior do Banco do Brasil – Cacex, a emitir licenças de importação sem cobertura cambial. 
Na esfera doméstica, o Ministro tinha no seu programa de estabilização uma 
política de “austeridade fiscal e contração monetário-creditícia”. (ABREU, et.al, 2014, p. 
147). 
O sustentáculo de seu programa de estabilização era uma série de medidas 
voltadas para diminuir a expansão monetária e de crédito. Para isso lançou mão da instrução 
108 da Sumoc onde “aumentava-se a taxa compulsória sobre os depósitos à vista de 4% para 
14% e de 3% para 7% sobre os depósitos a prazo, superiores a 90 dias”. (ABREU et.al, 2014, 
p. 147). O recolhimento destes valores deixaria de ser feito no Banco do Brasil e passariam a 
ser realizados à caixa da Sumoc. 
No âmbito da política cafeeira, lançou a Instrução 109 da Sumoc, onde fixou a 
bonificação para o café, e a Instrução 112, que fixou uma bonificação para os demais produtos 
de exportação, porém em um nível superior àquele feito para o café. Isso fez com que os 
cafeicultores se manifestassem contra a Instrução 112, pois eles viam-na como um “confisco 
cambial”. Isso foi o suficiente para determinar a queda do Ministro. 
Após a saída de Gudin do Ministério da Fazenda, foi chamado o banqueiro José 
Maria Whitaker. Este, por sua vez, teve como principal meta a eliminação do confisco 
cambial. Sua política econômica foi totalmente diferente de seu antecessor, pois passou a 
expandir novamente o crédito com o financiamento da atividade produtiva. 
No ano de 1955, o Brasil enfrentou outra crise bancária, fruto da política restritiva 
de Gudin. Para contornar essa crise, Whitaker ordenou ao Banco do Brasil que colocasse à 
disposição dos bancos comerciais os recursos necessários à normalização da situação do país. 
24 
Em ralação à política cambial, Whitaker, juntamente com Roberto Campos, então 
presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, estava inclinado a 
fazer uma reforma cambial. Esta reforma se daria a partir de um mercado livre, onde todas as 
taxas cambiais seriam unificadas e também seria feita uma leve desvalorização na taxa de 
câmbio, que era fixa. 
Contudo, antes da realização de tal reforma cambial, ele julgava primordial 
fortalecer o sistema tarifário para garantir a proteção à indústria, pois os ágios cambiais 
seriam eliminados com essa reforma. 
O Ministro não chegou a ver o seu plano concretizado, pois o Senado não aprovou 
a proposta, provocando assim, o seu pedido de demissão. Restando três meses para o final de 
seu mandato, assumiu o Ministério da Fazenda Mário Câmara, que ainda tentou adotar uma 
política monetária restritiva, mas não havia mais o tempo necessário para alterar a condução 
da política econômica adotada por Whitaker. 
2.4 Plano de Metas: Juscelino Kubitschek (1956 – 1961) 
 
Juscelino Kubitschek iniciou o seu Governo com um ideal desenvolvimentista. 
Para tanto, lançou o Plano de Metas, que era um conjunto de metas estabelecido para 
promover o desenvolvimento brasileiro e dar continuidade ao processo de substituição de 
importações. Por ser um plano muito completo e coerente, foi implantado com muito sucesso 
e logrou êxito na grande maioria das metas estabelecidas para a economia do Brasil. 
Diferentemente dos planos anteriores à gestão de Kubitschek, que priorizavam o 
desenvolvimento do país apenas no campo da infraestrutura, o Plano de Metas visou o 
desenvolvimento em cinco áreas: educação, energia, transporte, alimentação e indústrias de 
base. Para que o Plano de Metas fosse implantado, era preciso uma série de mudanças nas 
políticas de desenvolvimento, sobretudo na política cambial. 
Em 1957, fez-se uma nova reforma cambial. Além do seu caráter protecionista à 
industrialização, ela revogou os efeitos da Instrução 70 da Sumoc, ao reduzir as cincos 
categorias existentes até então a apenas duas. Outro ponto fundamental foi a captação de 
recursos à disposição do Tesouro, pois com a Instrução 70, o fundo de ágios e bonificações 
tinha vinculação em seu uso por força de lei. Esses recursos viriam através de impostos ad 
valorem, ou seja, seriam impostos cobrados sobre o valor da mercadoria. 
Em relação à política monetária pode-se dizer que esta foi extremamente 
expansionista, tanto no que diz respeito à necessidade do Governo em financiar a execução do 
25 
Plano de Metas quanto também ao aumento do crédito ao setor privado para financiamento de 
investimentos das empresas. O resultado disso foi uma inflação elevada. Quanto à política 
fiscal, era necessário conter os gastos do Governo. O mecanismo encontrado foram os 
“atrasos nos pagamentos a fornecedores envolvidos em projetos ligados ao Plano de Metas”. 
(GIAMBIAGI, et al., 2011, p. 38). 
 Como a expansão monetária proporcionou o aumento da inflação, o Governo 
enviou ao Congresso o PEM – Programa de Estabilização Monetária. Este plano havia sido 
elaborado pelo Ministro da Fazenda, Lucas Lopes e pelo presidente doBNDE, Roberto 
Campos. 
Para que o PEM lograsse êxito, o Governo brasileiro tentou um empréstimo junto 
ao Eximbank, porém tal empréstimo só viria caso o Brasil obtivesse o aval do FMI, que 
passou a exigir uma série de medidas do Governo para conter o déficit público, a expansão do 
crédito, uma política salarial mais moderada, o fim da compra de café por parte do Governo, 
além de uma reforma cambial. O Governo comprova o excedente da produção do café com o 
intuito de elevar o seu preço. 
Todavia, o Governo rompeu negociações com o Fundo Monetário Internacional, 
visto que as medidas exigidas por ele tinham como objetivos a estabilização da economia. 
Juscelino, por sua vez, preferiu dar continuidade no Plano de Metas, deixando para o seu 
sucessor o legado negativo do seu Governo, que foi o aumento do processo inflacionário. 
2.5 Jânio Quadros e João Goulart: 1961 – 1964 
 
O Governo de Jânio Quadros já se iniciou tendo que resolver um grave problema, 
uma inflação altíssima e também a expansão do crédito provocado pelo Plano de Metas, que 
nos anos anteriores, foi cada vez mais pressionado devido às várias tentativas de estabilização 
da economia. Como dito anteriormente, Juscelino deixou um quadro inflacionário altíssimo, 
além dos problemas no balanço de pagamentos. É em meio a essa turbulência que, em 31 de 
janeiro de 1961, assumiu Jânio Quadros com a promessa de resolver esses problemas e 
também de combater a corrupção que, segundo ele, se instalou no poder. 
O novo Governo teria que enfrentar uma inflação que cresceu de 11,8% ao ano em 
1955 e passou para nada menos que 25,4% a.a. em 1960. Algumas medidas foram tomadas, 
entre elas estava um plano ortodoxo de estabilização que logo agradou ao FMI e aos credores 
do Brasil. Entre as medidas adotadas estavam a contração monetária, diminuição de subsídios 
26 
sobre a importação de petróleo e trigo, contenção do gasto público além da Instrução 204 da 
Sumoc que desvalorizou o câmbio. 
Entretanto, por falta de apoio político, Jânio Quadros renunciou ao seu mandato 
em agosto do mesmo ano deixando a incumbência da solução de tais problemas para o vice 
que fora eleito, João Goulart. Naquela eleição, presidente e vice eram eleitos em chapas 
distintas. 
Quando da renúncia de Jânio Quadros, João Goulart estava em viagem para a 
China. Goulart era visto como um comunista por parte da sociedade e também pelos militares. 
Criou-se então um impasse, pois o vice-presidente não pudera assumir o cargo de Presidente 
como mandava a constituição de 1946. Esse impasse só foi solucionado com a mudança de 
regime de Governo, que deixou de ser presidencialista para ser parlamentarista. 
Tancredo Neves assumiu como Primeiro Ministro deste período da história 
brasileira, que duraria até o final de 1962. Durante a experiência Parlamentarista no Brasil 
houve três gabinetes, a saber: Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima. O regime 
presidencialista foi restaurado após um plebiscito popular realizado em janeiro de 1963, que 
restabeleceu plenos poderes a João Goulart. 
A gestão de Tancredo Neves demonstrou preocupação com o processo 
inflacionário e adotou medidas desenhadas para conter o processo de expansão do crédito. 
Conforme Abreu et al. (2104, p. 184): 
 
Em particular, o governo mostrou-se preocupado com a expansão monetária 
ocorrida durante a crise política, estabelecendo mecanismos de depósito 
compulsório sobre depósitos à vista dos bancos privados e de controle de expansão 
do crédito do Banco do Brasil. Quanto à política financeira pública, o governo 
propunha-se, como ação de emergência, a aplicar o Plano de Economia de gastos 
aprovado por Quadros e a financiar o déficit programado de 1962 de forma não 
inflacionária. 
 
Infelizmente, essas medidas não foram suficientes para conter o déficit público e a 
expansão monetária. Ambos voltaram a subir, o que levou o governo a adotar uma nova 
política de estabilização econômica. 
Finalizado o período de Tancredo Neves como Primeiro Ministro, assumiu como 
Primeiro Ministro Brochado da Rocha, que também lançou planos de estabilização 
econômica. Sua meta era de sair de uma inflação, em 1962, de 60% ao ano para 30% ao ano 
em 1963. Brochado da Rocha não teve longa duração no poder, devido às pressões do 
Congresso para que fosse antecipado o plebiscito sobre a manutenção ou não do regime 
27 
parlamentarista. Com a vacância do cargo, assumiu interinamente Hermes Lima até a 
realização do plebiscito que foi marcado para o dia 06 de janeiro de 1963. 
Saindo vitorioso desse plebiscito, João Goulart assumiu de forma plena como 
Presidente da República e logo lançou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e 
Social, sob a tutela de Celso Furtado. O Plano Trienal tinha em seu escopo a redução da 
inflação nos anos seguintes. Suas perspectivas eram uma redução inflacionária de 50% ao ano 
em 1962 para 25% a.a. em 1963. Essa redução visava alcançar uma inflação próxima aos 10% 
ao ano em 1965. Além da redução da inflação tinham as reformas estruturais nos setores 
bancário, fiscal, administrativo e agrário. 
No âmbito fiscal houve uma redução nos subsídios que o governo dava ao 
petróleo e ao trigo, assim como aos setores de transportes e comunicação. No sistema 
bancário foi publicada a Instrução 235 da Sumoc que aumentou o depósito compulsório dos 
bancos com o intuito de conter a expansão do crédito do Banco do Brasil e dos bancos 
privados. 
As medidas tomadas durante a execução do Plano Trienal não se comportaram 
conforme o governo havia planejado. Houve descontrole na oferta de moeda, provocando o 
aumento da inflação, além do descontrole nas contas públicas e a permanência do déficit do 
balanço de pagamentos. (GIAMBIAGI, 2010). 
Com isso, o Plano Trienal foi abandonado. O desfecho do Governo de João 
Goulart se deu no dia 31 de março de 1964, com a falta de apoio dos parlamentares e de parte 
da sociedade civil que, em passeatas que reuniram multidões, requeriam a sua renúncia. Como 
não aconteceu, a Câmara dos Deputados promoveu o seu afastamento. Com o cargo de 
Presidente da República vago e atendendo ao clamor popular da época, os militares 
ascenderam ao poder em abril de 1964, com o cearense Marechal Castello Branco sendo o 
primeiro de uma série de cinco Presidentes militares que ficariam no poder por 21 anos, até 
março de 1985. 
 
 
 
 
 
 
 
28 
3 O PAEG: 1964 a 1967 
 
A ascensão dos Militares ao poder em abril de 1964 elevou ao poder o Marechal 
Castello Branco que, por sua vez, nomeou para o Ministério do Planejamento Roberto 
Campos e para o Ministério da Fazenda Octávio Gouveia de Bulhões. Estes dois economistas 
tinham um perfil ortodoxo e foram responsáveis por delimitarem os objetivos da política 
econômica nas seguintes bases: combate à inflação, sem prejudicar o desenvolvimento, 
aumento das exportações e a retomada do crescimento. 
No ano de 1964 foi lançado o Plano de Ação Econômica do Governo – PAEG que 
teria como objetivo retomar o processo de desenvolvimento da economia brasileira. Este 
capítulo está composto, além desta breve introdução, dos objetivos do PAEG e das reformas 
estruturais lançadas no período, que foram as reformas fiscal e financeira. 
3.1 Diagnósticos, objetivos e instrumentos de ação 
 
O Governo Castello Branco herdou uma economia arruinada. A atividade 
produtiva brasileira vinha sofrendo sucessivas quedas. No ano de 1961, a produção brasileira 
era da ordem de 8,6% ao ano e, já nos anos seguintes, sofre sucessivas quedas. O PIB no ano 
de 1962 cresceu de 6,6% e chega ao ano de 1963 com crescimento de apenas 0,6%. 
Outro problema que também precisaria ser enfrentado seria a inflação altíssima, 
que só crescia desde o ano de 1961. Na tabela abaixo se verifica as sucessivas quedas na 
atividade produtiva assim como a elevação da inflação brasileira. 
 
Tabela 1. PIB e Inflação no período de 1960 a 1964 
Ano Variaçõesanuais do PIB (%) Deflator Implícito do PIB (%) 
1960 9,4 25,4 
1961 8,6 34,7 
1962 6,6 50,1 
1963 0,6 78,4 
1964 3,4 89,9 
1965 2,4 58,2 
1966 6,7 37,9 
Fonte: Apêndice estatístico, in: ABREU, Marcelo de Paiva et al. A ordem do progresso: dois séculos de 
política econômica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 
 
29 
Pelo exposto na tabela 1, se pode verificar que era urgente o controle inflacionário 
e, ao mesmo tempo, fazer com que a atividade produtiva voltasse a crescer. Diante do caos 
econômico que o país estava atravessando, o então Ministro do Planejamento, Roberto 
Campos, fez um diagnóstico do que gerava tamanha inflação. Para ele a inflação era gerada 
pelos déficits do governo e também pela pressão salarial. (Giambiagi et al., 2011). 
Esse diagnóstico da inflação estava dentro de um estudo elaborado pelo Ministro e 
apresentado ao Presidente Castello Branco. O estudo era intitulado “A Crise Brasileira e 
Diretrizes de Recuperação Econômica”, no qual Roberto Campos indicava duas linhas gerais 
para ação do Governo, que eram: o lançamento de um plano de ação e reformas estruturais. 
Esse plano de ação veio a ser o PAEG e as reformas de estrutura foram as reformas fiscal e 
financeira. 
Em novembro de 1964 foi lançado o PAEG, com a incumbência de resolver os 
problemas econômicos existentes à época. Para tanto o Programa de Ação Econômico do 
Governo ficou norteado por estes cinco objetivos, conforme BRASIL (1965, p. 15): 
 
a) Acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico do país, interrompido no 
biênio 1962/1963; 
b) Conter, progressivamente, o processo inflacionário durante 1964 e 1965, 
objetivando um razoável equilíbrio dos preços a partir de 1966; 
c) Atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais, e as tensões criadas pelos 
desequilíbrios sociais, mediante a melhoria das condições de vida; 
d) Assegurar, pela política de investimentos, oportunidades de emprego produtivo 
à mão de obra que continuamente aflui ao mercado de trabalho; 
e) Corrigir a tendência a déficits descontrolados do balanço de pagamentos, que 
ameaçam a continuidade do processo do desenvolvimento econômico, pelo 
estrangulamento periódico da capacidade para importar. 
 
Tendo relacionado os objetivos que iriam nortear o Programa de Ação do 
Governo, era necessário adotar os mecanismos adequados para que tais objetivos fossem 
executados. As ações seriam: (a) a política financeira; (b) política econômica internacional; e 
(c) política de produtividade social. 
Como visto acima, através dos objetivos e dos meios que foram utilizados para 
alcança-los, pode-se verificar que o PAEG foi um programa de ação que tentou resolver os 
problemas econômicos pelos quais o Brasil vinha passando. Neste caso, é importante salientar 
que este programa via a inflação como grande empecilho ao crescimento do Brasil. Contudo, 
para que ela fosse combatida com êxito, foi necessário identificar o que estava provocando 
este aumento inflacionário. 
O PAEG listava três causas tradicionais dos sucessivos aumentos da inflação: 
déficits públicos, a expansão do crédito e as elevações salarias sempre superiores ao aumento 
30 
da produtividade. Tanto os déficits públicos como a expansão creditícia foram combatidos 
dentro da política financeira. As questões salarias foram objeto de ação da política da 
produtividade social. 
3.2 A Política financeira 
 
A Política financeira do PAEG tinha como objetivos tratar das seguintes áreas: (a) 
política de redução dos déficits governamentais; (b) política tributária; (c) política monetária; 
(d) política bancária; (e) política de investimentos públicos. Estes cinco pontos visavam 
sempre a contenção da violenta inflação que tomava conta do país. 
3.2.1 Redução dos Déficits Governamentais 
 
A política de redução do déficit do Governo foi bastante exitosa, levando-se em 
consideração que as metas planejadas pelo Governo Federal foram alcançadas. Em proporção 
do PIB, o déficit governamental em 1963 era de 4,2% alcançando sucessivas quedas ao longo 
dos anos. Em 1964, o déficit foi de 3,2% tendo chegado a 1,1% em 1966. As medidas que o 
Governo adotou para chegar a tais números foram: eliminação dos subsídios a autarquias e 
sociedades de economia mista - essa redução se deu através de políticas tarifárias -, os 
investimentos de menor prioridade foram cortados, melhorou os métodos de arrecadação, 
reforço das incidências dos impostos de consumo, renda e selo e contenção dos vencimentos 
do funcionalismo público. (SIMONSEN; CAMPOS, 1975). 
Ao acompanhar o déficit do Governo Federal no início da década de 1960, pode-
se notar que era financiado quase que integralmente pelo Governo. 91% do déficit eram 
financiados pelas autoridades monetárias e apenas 9% eram financiados tomando recursos 
emprestados ao setor privado interno e externo. Até o ano de 1964, ainda eram enormes os 
dispêndios do Governo para arcar com os custos da baixa arrecadação diante de enormes 
despesas. Neste mesmo ano, 1964, 100% do déficit da União foram financiados pelas 
autoridades monetárias. Os dados da Tabela 2 mostram uma dimensão maior do déficit e das 
suas formas de financiamento até o ano de 1966. 
Conforme se evidencia na Tabela 2, a partir do ano de 1965, mais da metade das 
despesas do Governo Federal passaram a ser financiadas a partir de empréstimos junto ao 
público e, no ano de 1966, esses empréstimos já financiavam integralmente o déficit da 
União. 
31 
Tabela 2. Déficit do Governo Federal e seu Financiamento 
Ano 
Déficit da União em 
relação ao PIB (%) 
Autoridades Monetárias (%) Público (%) 
1960 2,8 91 9 
1961 3,4 99 1 
1962 4,3 88 12 
1963 4,2 81 19 
1964 3,2 101 -1 
1965 1,6 45 55 
1966 1,1 -3 103 
Fonte: RESENDE, André Lara. A política brasileira de estabilização: 1963/68. Pesquisa e Planejamento 
Econômico, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p.757-806, dez. 1982. Quadrimestral. Disponível em: 
<http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/395/336>. Acesso em: 17 abr. 2019. 
 
3.2.2 A Política Monetária 
 
Todo o programa de ação do Governo estava voltado para conter a inflação. Não 
seria diferente que as medidas adotadas na política monetária também tivessem esse intuito. A 
política monetária estava voltada para a diminuição dos meios de pagamento. Contudo, 
devido ao saldo positivo no balanço de pagamentos, fruto de uma política cambial mais 
favorável às exportações, houve um influxo de capitais recebidos do exterior, o que gerou 
uma expansão dos meios de pagamentos. 
Este aumento de capitais provindos do exterior se deu devido aos aumentos nas 
exportações brasileiras e diminuição das importações. Além das exportações terem crescido 
substancialmente, houve o aporte de empréstimos provindo dos Estados Unidos, como 
também o aumento nos investimentos diretos no Brasil. Durante o período de 1964/67 o 
Brasil foi o quarto maior tomador mundial de empréstimos e, durante o ano de 1965, os 
empréstimos e financiamentos foram elevadas em 65% em relação a 1964. (RESENDE, 
1982). 
Outro ponto que também contribuiu para que a política monetária não fosse tão 
exitosa foram os aumentos de empréstimos bancários ao setor privado. 
Pode-se observar na Tabela 3 que no ano de 1965, ano em que se previa uma 
expansão dos meios de pagamentos de apenas 30%, esse crescimento foi bem maior, 
chegando aos 75,4%. Em relação à expansão dos empréstimos ao setor privado, também 
podemos verificar que em termos nominais foi bastante expansiva devido à inflação de custos, 
mas em termos reais foi muito restritiva. (SIMOSEN; CAMPOS, 1975). 
 
http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/395/336
32 
Tabela 3. Empréstimos bancários ao setor privado e Expansão dos Meios de Pagamentos 
Ano 
Empréstimos ao 
Setor Privado 
(Milhões de 
Cruzeiros) 
Emp. Bancários - 
Taxa de 
Crescimento 
Anual (%) 
Valor Real dos 
Empréstimos 
(Milhões de Cr$ de 
1969) 
Expansãodos 
Meios de 
Pagamentos 
(%) 
1960 565,0 40,9 15.362,1 38,2 
1961 781,4 38,3 14.383,3 51,6 
1962 1.254,5 60,5 15.259,4 63,3 
1963 1.944,9 55,0 13.049,7 64,0 
1964 3.506,4 80,3 12.257,7 85,8 
1965 5.521,5 57,5 14.355,9 75,4 
1966 7.379,9 33,7 13.829,0 16,8 
Fonte: SIMONSEN, Mário Henrique; CAMPOS, Roberto de Oliveira. A nova economia brasileira. Rio de 
Janeiro: José Olympio, 1975. 257 p. 
 
A partir do ano de 1966, a política monetária voltou a ser restritiva e a expansão 
dos meios de pagamento chegou aos 16,8%. Ao observar a questão dos empréstimos, nota-se 
que o valor real do ano de 66 foi abaixo do triênio 1960/62. 
3.2.3 A Política Tributária 
 
A política tributária realizada durante o PAEG foi considerada, ao lado da reforma 
do sistema financeiro brasileiro, como uma reforma estrutural. Esta política visou o aumento 
da arrecadação capaz de promover e incentivar o crescimento econômico do país. Para que 
desse certo, várias medidas foram adotadas: 
 
(1) instituição da arrecadação de impostos através da rede bancária; (2) extinção dos 
impostos do selo (federal), sobre profissões e diversões públicas (municipais); (3) 
criação do ISS (Impostos Sobre Serviços), a ser arrecadado pelos municípios; (4) 
substituição dom imposto estadual sobre vendas, incidente sobre o faturamento das 
empresas, pelo ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), incidente apenas 
sobre o valor adicionado a cada etapa de comercialização do produto; (5) ampliação 
da base de incidência do imposto sobre a renda de pessoas físicas; (6) criação de 
uma série de mecanismos de isenção e incentivos a atividades consideradas 
prioritárias pelo governo à época – basicamente, aplicações financeiras, para 
estimular a poupança, e investimentos (em capital fixo) em regiões e setores 
específicos; e (7) criação do Fundo de Participação dos Estados e Municípios 
(FPEM), através do qual parte dos impostos arrecadados em nível federal (no qual se 
concentrou a arrecadação) era repassada às demais esferas de governo. 
(HERMANN, 2011 p. 54 – 55). 
 
Como observado no texto de Herman (2011), o Governo criou uma série de 
mecanismos para aumentar a arrecadação. Permitiu que os contribuintes pagassem os 
impostos devidos através da rede bancária, aumentou a base de incidência do imposto de 
renda. Mesmo a Reforma Tributária estava voltada com o comprometimento do aumento da 
33 
produção no país, haja vista a medida em que o Governo dava incentivos fiscais em 
determinadas áreas que ele considerava como primordiais para o crescimento do país. 
Ainda conforme Hermann (2011, p. 55), a reforma adotada no Governo Castello 
Branco elevou a arrecadação de tributos no país saindo “de 16% do PIB em 1963 para 21% 
em 1967”. Contudo, a reforma tributária incidia de forma mais severa sobre as classes de 
baixa renda. No quadro 1 está mostrado como era o sistema tributário brasileiro e como ficou 
após a reforma. (Hermann, 2011). 
 
Quadro 1 - Principais Impostos no Brasil pré e pós Reforma de 1965/67 
Pré reforma Pós Reforma 
1 Federais 1 Federais 
1.1 Imposto de Importação 1.1 
Imposto ao Comércio Exterior 
(importação e Exportação) 
1.2 Imposto de Consumo 1.2 IPI 
1.3 Impostos Únicos 1.3 Impostos Únicos 
1.4 Imposto de Renda 1.4 Imposto de Renda 
1.5 
Impostos sobre Transferências de 
Fundos para o Exterior 
1.5 Imposto sobre Operações Financeiras 
1.6 Impostos sobre Negócios 1.6 Impostos Extraordinários 
1.7 Impostos Extraordinários 1.7 Outros (transportes, comunicações, etc.) 
1.8 Impostos Especiais 1.8 Imposto Territorial Rural 
2 Estaduais 2 Estaduais 
2.1 Impostos sobre Vendas a Varejo 2.1 ICM 
2.2 
Imposto sobre Transmissão “Causa 
Mortis" 
2.2 
Imposto sobre Transmissão de Bens 
"Inter Vivos" e "Causa Mortis" 
2.3 Imposto sobre Expedição 2.3 - 
2.4 Imposto sobre Atos Regulados 2.4 - 
2.5 Impostos Especiais 2.5 - 
3 Municipais 3 Municipais 
3.1 Imposto Territorial Rural 3.1 - 
3.2 
Imposto sobre Transmissão "Inter 
vivos" 
3.2 - 
3.3 
Imposto sobre Propriedade Territorial 
Urbana 
3.3 
Imposto sobre Propriedade Territorial 
Urbana 
3.4 Imposto de Indústria e Profissões 3.4 Imposto cobre Serviços - ISS 
3.5 Imposto de Licença 3.5 
3.6 Imposto sobre Diversões Públicas 3.6 
3.7 Imposto sobre Atos de Economia 3.7 
Fonte: SANTOS, Lucas Siqueira dos - Reforma Tributária no Brasil: histórico, necessidades e propostas. 
2015. Tese (Mestrado em Direito Tributário) - Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas. São Paulo: 2015 
 
34 
Ao observar as informações contidas no Quadro 1, nota-se que o grosso da 
arrecadação com a reforma ainda ficou com a União, já que os impostos municipais e 
estaduais, em sua grande maioria, foram extintos. Aos Estados ficou o direito de legislar sobre 
o ICM e o Impostos de Transmissão de Bens. Aos Municípios ficaram o ISS e o IPTU. 
Portanto, coube à União a centralização sobre a legislação de tributos com a reforma. 
No que diz respeito à criação do Fundo de Participação do Estados e Municípios 
(FPE e FPM) houve uma redução de 10% para 5% do valor dos repasses do IR e do IPI para 
os municípios. (VARSANO, 1996). Mas não só a diminuição dos repasses, a forma como 
Estados e Municípios deveriam alocar tais recursos foram condicionados pelo Governo 
Federal. Estes poderiam ser utilizados em investimentos. 
Pode-se perceber o nível centralizador da Reforma Tributária de 1965/67. O país 
passava por um regime de exceção e poderia ser bem difícil que uma reforma com essas 
características fosse aprovada por um Congresso em um regime que gozasse de suas plenas 
funções democráticas. (Hermann, 2011). 
Essa reforma tributária conseguiu, sem dúvidas, aumentar as receitas do Governo 
e ainda ficar com significativos saldos em caixa, mesmo após os repasses aos Estados e 
Municípios. No entanto, ela não trouxe uma igualdade para todos os contribuintes tendo em 
vista que através dos incentivos fiscais dados pelo Governo Federal, ela priorizou as classes 
de rendas mais altas. (Hermann, 2011). 
Diante dessa característica, já em 1970, foi necessário ao Governo fazer novas 
modificações e em 1975, o sistema tributário deixou de ser utilizado para novas políticas. 
3.2.4 A Política Bancária 
 
A Reforma Bancária instituída no Governo Castello Branco foi uma das reformas 
estruturais estabelecidas pelo PAEG. Ela veio estruturar todo o Sistema Financeiro Nacional 
pois até 1964 ainda não tinha um Banco Central. Este papel cabia ao Banco do Brasil até 
1945, que ainda tinha a suas funções de banco comercial. Em 1945 foi criada a Sumoc que 
mais tarde seria o embrião do Banco Central. 
A estrutura do sistema financeiro brasileiro, durante muito tempo, era composta 
basicamente pelas seguintes instituições: Sumoc e Banco do Brasil. A Sumoc desempenhava 
as funções políticas de um banco central. Era dela a responsabilidade da política cambial, da 
fixação das taxas de juros dos bancos comerciais e também da fixação do percentual dos 
35 
depósitos compulsórios além da fiscalização do capital estrangeiro no Brasil e fiscalização 
dos bancos comerciais. 
O Banco do Brasil também desempenhava o papel de Autoridade Monetária. 
Essas operações eram realizadas através da Cared (Carteira de Redesconto), que também tinha 
a função de refinanciar determinadas atividades através do sistema financeiro em nome do 
Governo e da Camob (Caixa de Mobilização Bancária), que socorria os bancos comerciais 
com problemas de liquidez. 
Além dessas atribuições de Banco Central, ficava na responsabilidade do Banco 
do Brasil executar as políticas monetárias que eram traçadas pela Sumoc. A execução da 
política de comércio exterior ficava a encargo da Cacex enquanto que a execução e a 
administração da política cambial e controle das reservas cambiais ficavam sob o controle da 
Carteira de Câmbio do Banco do Brasil. 
Ao Banco do Brasil também cabiam as funções de agente financeiro do Tesouro, 
recolhendotributos e fazendo pagamentos além de realizar operações de crédito ao Tesouro. 
O Tesouro Nacional era o órgão responsável pela emissão de papel moeda, mas não cabia a 
ele a colocar em circulação a moeda emitida e sim à Cared. 
Como se pode perceber, era necessário organizar o sistema financeiro, pois 
existiam dois órgãos que exerciam a função de banco central sem, na verdade, existir um até 
aquele momento. 
Então a Lei 4.595, 31/12/1964 veio regulamentar o sistema financeiro brasileiro. 
As principais mudanças trazidas por esta lei foi a criação do Banco Central e a extinção da 
Sumoc. Também foram extintas a Cared e Camob, a emissão de papel moeda ficou, a partir 
daquele momento, sob responsabilidade do Banco Central. As operações de crédito do 
Tesouro junto ao Banco do Brasil não foram mais permitidas. Outra mudança substancial foi 
em relação ao controle e execução de câmbio. Este deixou de ser prerrogativa do Banco do 
Brasil e passou para o Banco Central. E os depósitos compulsórios, que eram recolhidos pelo 
Banco do Brasil, passaram a ser recolhidos pelo Banco Central. 
Como se pode perceber, a reforma bancária trouxe significativas mudanças em 
relação ao papel do Banco do Brasil. Além das já citadas anteriormente, apesar de ser mantido 
como agente financeiro da União, ele perdeu a prerrogativa de dar crédito ao Tesouro. Foi 
dada ainda a ele a possibilidade de arrecadar os depósitos voluntários dos bancos comerciais e 
também ser o executor dos serviços de compensação de cheques. 
Também foi criado o Conselho Monetário Nacional e foi extinta a Caixa de 
Amortização do Tesouro. A Lei 4.595 reestruturou todo o sistema bancário nacional. Porém, a 
36 
reforma realizada no sistema financeiro não alcançou apenas o sistema bancário. Pode-se 
dizer que ela foi bem mais ampla e trouxe também a correção monetária, assim como a 
Reforma do Mercado de Capitais. 
Em relação à correção monetária, pode-se dizer que ela foi parcial, ou seja, não 
atingiu todos os setores da economia. Isso era uma preocupação do Governo Castello Branco. 
As áreas onde ela foi mais aplicada foram as relativas à produção. Podemos citar algumas 
características da correção monetária instituída pela Lei 4.357, de julho de 1964. Conforme 
Simonsen e Campos (1975, p. 132 – 133) são as seguintes: 
 
(a) Instituíram-se as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN); (b) Foi 
criada a correção monetária dos débitos fiscais em atraso; (c) A correção monetária 
do ativo imobilizado foi tornada compulsória, reduzindo o imposto de 10 para 5%, e 
criada a opção para subscrever o dobro em ORTN de prazo não inferior a cinco 
anos; (d) Permitiu-se que a correção monetária do ativo imobilizado fosse levada em 
conta no cálculo das depreciações; (e) Criou-se o conceito da “manutenção do 
capital de giro”, correspondente ao lucro ilusório na reposição do ativo circulante 
líquido; (f) Institui-se a correção monetária do custo dos imóveis para efeitos da 
apuração do chamado “lucro imobiliário” das pessoas físicas, sujeito ao desconto do 
imposto de renda na fonte. 
 
Outro ponto de grande importância em relação à correção monetária foi sua 
aplicação no Sistema Financeiro de Habitação. Foi criada uma série de leis para regulamentar 
a correção monetária nesse setor. Entre elas estão as Lei 4.380/64 que criou o Banco Nacional 
de Habitação, a Lei 4.494/64 que instituiu a correção monetária dos alugueis e a Lei 5.107/66 
que criou o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) onde os recursos desse fundo 
eram sujeitos à Correção monetária. (SIMONSEN; CAMPOS, 1975, p. 133-134). 
Quanto à Reforma do Mercado de Capitais, esta foi normalizado pela Lei 4.728 de 
14 de abril de 1965. Foi esta lei que disciplinou e procurou desenvolver o Mercado de 
Capitais e trouxe uma série de modificações ao mercado acionário, reformulando a legislação 
sobre a Bolsa de Valores, criando os Bancos de Investimentos e transformando os corretores 
de fundos públicos em Sociedades Corretoras. 
Pode-se observar no Quadro 2 abaixo como ficou o Sistema Financeiro Brasileiro 
após as reformas. Vê-se, que essa reforma modificou toda a estrutura então vigente, sempre 
visando resolver os problemas econômicos pelos quais o país atravessava. 
 
37 
Quadro 2 - O SFN após as Reformas de 1964 - 1967 
Tipo de 
Instituição 
Área de Atuação 
Conselho 
Monetário 
Nacional (CMN) 
Criado em 1964, em substituição à Superintendência da Moeda 
e do Crédito (Sumoc), com função normativa e reguladora do 
sistema financeiro. 
Banco Central do 
Brasil (Bacen) 
Criado em 1964, como executor das políticas monetária e 
financeira do governo. 
Banco do Brasil 
(BB) 
Banco comercial e agente financeiro do governo, especialmente 
em linhas de crédito de médio e longo prazos, para exportações 
e agricultura. 
Banco Nacional 
de 
Desenvolvimento 
Econômico 
(BNDE) 
Criado em 1952 para atuar no financiamento seletivo de longo 
prazo para a indústria e infraestrutura. 
Bancos de 
Desenvolvimento 
(BD) regionais e 
estaduais 
Atuação semelhante à do BNDE, mas em âmbito 
regional/estadual. 
Bancos 
Comerciais 
Crédito de curto e médio prazos (capital de giro). 
Bancos de 
Investimento 
Regulamentados em 1966, para atuarem no segmento de 
crédito de longo prazo e no mercado primário de ações (operações de 
subscrição). 
Sociedades de 
Crédito, 
Financiamento e 
Investimento 
Instituições não bancárias, conhecidas como “Financeiras”, voltadas ao 
financiamento direto ao consumidor (curto e médio 
prazos). 
Sistema 
Financeiro da 
Habitação (SFH) 
Criado em 1964, tendo o Banco Nacional da Habitação (BNH) como 
instituição central, e composto ainda pela Caixa 
Econômica Federal (CEF), caixas econômicas estaduais, sociedades de 
crédito imobiliário e associações de poupança e 
empréstimo (APE). 
Corretoras e 
Distribuidoras de 
Valores 
Mercados primário e secundário de ações. 
Fonte: GIAMBIAGI, Fábio et al. (Org.) Economia brasileira contemporânea: [1945-2010]. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2011. Disponível em: 
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4547406/mod_resource/content/1/GIANBIAGI%20ECONOMIA%2
0BRASILEIRA%20CONTEMPOR%C3%82NEA%2C%202A%20ED.pdf>. Acesso em: 26 maio 2019. 
 
 
 
 
 
38 
3.3 A Política Salarial 
 
A Política Salarial do PAEG estava bem definida e se norteou pelos três 
princípios a seguir: 
 
a) Manter a participação dos assalariados no Produto Nacional; 
b) Impedir que reajustamentos salariais desordenados realimentem 
irreversivelmente o processo inflacionário; 
c) Corrigir as distorções salariais, particularmente no Serviço Público Federal, mas 
Autarquia e nas Sociedade de Economia Mista controladas pela União. 
(BRASIL, 1965, p. 83) 
 
Definido então os princípios da política salarial, foi necessário determinar a forma 
como os ajustes salariais seriam realizados. Então em 1965, essa forma foi definida pelo 
Ministro Extraordinário para Assuntos do Gabinete Civil. Portanto, conforme explicita 
Resende (1982, p. 777) os ajustes ficaram assim definidos: 
 
a) Deveria ser restabelecido o salário médio real dos últimos 24 meses anteriores 
ao mês do reajustamento; 
b) Sobre o salário real médio, deveria incidir a taxa de produtividade; 
c) Cumpria acrescentar a metade da inflação programada pelo Governo para o ano 
seguinte (resíduo inflacionário); e 
d) Ficava estabelecido o princípio da anuidade dos reajustes. 
 
Pode-se perceber que a inflação entraria no cálculo dos reajustes salariais, o que 
levaria a crer que esses ajustes poderiam recompor as perdas salariais devido ao aumento dos 
níveis de preços. No entanto, como a previsão da inflação era a que o Governo estimava, esses 
reajustes sempre levavam em consideração uma inflação bem menor a que realmente era. Isso 
fez com que o salário real de 1965, após o reajuste, fosse reduzido em 11% com relação ao 
valor de março de 1964. 
Nos anos que seseguiram ao uso da fórmula para o reajuste salarial, o salário real 
médio foi sempre reduzido. As quedas em termos percentuais nos anos que se seguiram foram 
as seguintes: em 1965, o índice de salário real médio, medidos pela Fundação Getúlio Vargas, 
foi de 7%; em 1966, sofreu novamente uma nova queda de 7%; em 1967, a queda foi bem 
menor, na ordem de 3,4%. Nos anos que se seguiram, os índices continuaram a cair. 
A razão dessas perdas salariais deve ter sido por conta que a atividade sindical 
estava bastante restrita nesse período, assim como as greves estavam proibidas devido ao 
Regime Militar pelo qual o País atravessou. Dessa maneira, os trabalhadores perderam a sua 
força de negociação e tiveram que aceitar o que era imposto pelo Governo. 
39 
3.4 Programa de Ação Econômica do Governo - PAEG: resultados 
 
O Programa de Aceleração Econômica do Governo logrou grandes resultados no 
período da gestão Castello Branco. A situação existente em 1964 era de completa desordem 
fiscal, cambial, monetária e salarial (SIMONSEN, 1975, p. 9). 
Entre os êxitos do PAEG pode-se elencar: 
i) Redução da Inflação. Mesmo não tendo alcançado o índice que o 
programa propunha, pode-se verificar a redução da inflação medida pelo 
deflator implícito do PIB que era de 89,9% a.a. em 1964 foi reduzida para 
26,7% ao ano em 1968; 
ii) Reforma Monetária. Em 1964 100% dos dispêndios eram financiados com 
a emissão de papel moeda e em 1966 esse financiamento já era 100% 
financiado com a venda de títulos públicos; 
iii) Redução no déficit fiscal, que em 1963, em proporção do PIB, era da 
ordem de 4,2% a.a. e em 1966 passou a ser de apenas 1,1% a.a.; 
iv) Criação do FGTS. Este veio substituir o sistema de indenizações e 
estabilidade do trabalhador; 
v) Reforma do Sistema Financeiro Nacional. 
 
Além dos pontos anteriores destacados, pode-se atribuir ao PAEG, é que as bases 
do plano criaram condições para o crescimento do PIB brasileiro entre 1968 a 1973 em taxas 
nunca mais alcançadas até o presente momento. Essa época ficou conhecida na literatura 
econômica brasileira como “Milagre Econômico Brasileiro”. Durante o “milagre”, a 
economia cresceu a taxas médias anuais em torno de 11% ao ano e o investimento que, 
durante a gestão Castello Branco, ficou em torno de 15% do PIB, apresentou crescimento 
elevado durante essa fase. Em 1968 o investimento subiu para 19% encerrando, em 1973, em 
torno de 20% a.a. (Hermann, 2011). 
Algumas medidas adotadas durante o PAEG não sofreram grandes alterações 
quando o general Costa e Silva assumiu a presidência da República. O Ministro escolhido por 
ele, Antônio Delfim Netto, conciliou o combate à inflação com políticas que fizeram a 
economia crescer. Nos anos que se seguiram, o PIB apresentou um elevado crescimento. Em 
1968 o crescimento ficou em torno de 9,8% a.a. e em 1973 o índice ficou em 14% ao ano. 
 
 
40 
4 CONCLUSÕES 
 
O Marechal Castello Branco assumiu a presidência do país através de um golpe 
militar que modificou a história econômica e política do Brasil. Sua missão à frente do país 
não seria das mais simples. O controle inflacionário era premente, assim como fazer com que 
o país voltasse a apresentar taxas de crescimento satisfatórias. 
A inflação chegou próxima de 100% no primeiro trimestre de 1964 e o 
crescimento do produto foi de apenas 0,6% em 1963. (ABREU et al., 2014). Foi nesse 
contexto que o Governo lançou um Programa de Ação Econômica, norteado por diversas 
diretrizes que se pautavam na resolução dos problemas econômicos vividos. 
A Reforma Tributária serviu para melhorar a arrecadação Federal, elevando assim 
suas receitas, permitiu o controle do déficit da União e aumentou a capacidade de poupança. 
Foram extintos alguns impostos e criados outros. A reforma teve um caráter centralizador, 
tendo em vista que alguns impostos que eram da competência de Estados e municípios 
deixaram de existir. 
A Política Monetária adotada foi expansiva, devido ao influxo de capitais 
recebidos do exterior, o que gerou uma expansão dos meios de pagamentos. Outro ponto que 
também prejudicou, em um primeiro momento a política monetária, foram os empréstimos 
dos bancos ao setor privado. Todavia, em 1966 a política monetária voltou a ser restritiva e a 
expansão dos meios de pagamento chegou aos 16,8%. 
Quanto à expansão dos meios de pagamentos, o Governo, através da emissão dos 
títulos públicos, conseguiu que no ano de 1966 100% das suas despesas fossem financiadas 
através da venda desses títulos. Em 1964 o Governo arcava com toda a sua dívida emitindo 
papel moeda. Outro ponto importante foi que em 1966 a proporção do déficit da União em 
relação ao PIB foi de apenas 1,1%. 
Na política bancária houve a reestruturação do sistema financeiro. A reforma 
promovida criou o Banco Central, criou o Conselho Monetário Nacional, limitou algumas 
atividades do Banco do Brasil, que na época, junto com a Sumoc, que foi extinta na reforma, 
tinha atribuições de banco central. Também trouxe a correção monetária e com a ela a ORTN. 
Normalizou o mercado de capitais através da 4.728 de 14 de abril de 1965. 
O PAEG logrou reduzir as taxas de inflação sem prejudicar o crescimento da 
economia. Muito embora os índices alcançados pelo Programa não tenha sido o proposto 
pelos seus idealizadores, não se pode negar que ele preparou a economia do país para altas 
taxas de crescimento que se pode verificar no período denominado como “milagre” brasileiro. 
41 
REFERÊNCIAS 
ABREU, Marcelo de Paiva et al. A ordem do progresso: dois séculos de política econômica 
no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 
BRASIL. Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica. Programa de ação 
econômica do Governo: 1964-1966. 2. ed. Brasília, 1965. 823 p. Disponível em: 
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abr. 2019. 
GIAMBIAGI, Fábio et al. (Org.) Economia brasileira contemporânea: [1945-2010]. 2. ed. 
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<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4547406/mod_resource/content/1/GIANBIAGI%2
0ECONOMIA%20BRASILEIRA%20CONTEMPOR%C3%82NEA%2C%202A%20ED.pdf
>. Acesso em: 26 maio 2019. 
HERMANN, Jennifer. Reformas, Endividamento Externo e o “Milagre” Econômico: (1964-
1973). In: GIAMBIAGI, Fábio et al (Org.). Economia brasileira contemporânea: [1945-
2010]. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. Cap. 3. p. 49-72. Disponível em: 
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0ECONOMIA%20BRASILEIRA%20CONTEMPOR%C3%82NEA%2C%202A%20ED_.pd
f>. Acesso em: 26 maio 2019. 
RESENDE, André Lara. A política brasileira de estabilização: 1963/68. Pesquisa e 
Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p.757-806, dez. 1982. Quadrimestral. 
Disponível em: <http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/395/336>. Acesso em: 
17 abr. 2019. 
SANTOS, Lucas Siqueira dos. Reforma tributária no Brasil: histórico, necessidades e 
propostas. Dissertação (Mestrado Profissional em Direito dos Negócios Aplicado e Direito 
Tributário Aplicado) - FGV - Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2015.Disponível em: 
<http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/13965>. Acesso em: 10 maio 2019. 
SIMONSEN, Mário Henrique; CAMPOS, Roberto de Oliveira. A nova economia 
brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. 257 p. 
VARSANO, Ricardo. Evolução do Sistema Tributário Brasileiro ao Longo do Século: 
Anotações e Reflexões para Futuras Reformas. Ipea, Rio de Janeiro, n. 405, jan. 1996. 
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0405.pdf>. 
Acesso em: 17 maio 2019. 
VIANA, Sérgio Besserman. A política econômica no segundo Governo Vargas: (1951-
1954). 1987. 183 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Economia do Setor Público, 
Departamento de Economia, PUC/RJ, Rio de Janeiro, 1987. Disponível em: 
<https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/8154/1/A%20Pol%C3%ADtica%20Econ

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