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MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Autoria: Prof. Vanessa Aparecida Beletti de Lima Indaial - 2020 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Xxxxxx Xxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx XXX p.; il. ISBN XXXXXXXXXXXXX 1.Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx CDD XXXX.XXX Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA ..................... 7 CAPÍTULO 2 Material Pedagógico Adaptado .............................................. 45 CAPÍTULO 3 Barreiras e Facilitadores no Ambiente Escolar .................... 73 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico, nos próximos capítulos faremos uma introdução aos conceitos do transtorno do espectro autista (TEA), entendendo o seu construto histórico. Abordaremos a conceituação de esquizofrenia, partindo para o autismo, estudado por Leo Kanner, concordâncias e discordâncias acerca da patologia, abordadas por Johann Hans Friedrich Karl Asperger, e o mais recente acordo científico de anexar os diversos tipos e níveis de autismo em um espectro maior. Veremos o processo de inserção do aluno público-alvo da educação especial, focando nos alunos com TEA, na educação básica regular (anos iniciais e finais), e a análise histórica dos direitos garantidos por meio da legislação brasileira. Posteriormente, trataremos das técnicas desenvolvidas para a auxiliar na aprendizagem do aluno com espectro autista em sala de aula, permitindo que não apenas esteja inserido no contexto escolar, mas aprendendo de forma efetiva. Para isso, veremos as necessidades e atenções especiais, as quais servirão de suporte para o processo de aprendizagem dentro da lógica de inclusão escolar. Teremos abordagens sobre a análise do comportamento aplicada, bem como técnicas derivadas dessas e demais temáticas. Ademais, vamos discutir os materiais pedagógicos adaptados para alunos com TEA, com apontamentos para as características do currículo, provas e avaliações na educação especial, e foco nas propostas pedagógicas para a sala de aula, ou seja, materiais pedagógicos adaptados, planejamento de aquisição de um comportamento, técnicas de linguagens objetiva e sensorial, e uma análise do cotidiano em sala na lógica da inclusão. Bons estudos! CAPÍTULO 1 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA o TEA A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Apontar metodologias de aprendizagem para o transtorno do espectro autista. Defi nir caminhos teóricos que possibilitarão a aprendizagem para este transtorno. Analisar o processo ensino-aprendizagem. Contextualizar os métodos TEACCH, ABA, Denver, Son-Rise e Floortime. 8 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA 9 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste primeiro capítulo, faremos uma revisão sobre o conceito de transtorno do espectro autista (TEA), bem como a inserção, garantida em legislação, de alunos de educação especial na escola regular, seja pública ou privada. Veremos as metodologias aplicadas no processo de aprendizagem de alunos com TEA: tratamento e educação para autistas e crianças com limitações relacionadas à comunicação (TEACCH), análise do comportamento aplicada, Denver, Son-Rise, Floortime. Abordaremos também o conceito e as bases legais da inserção do aluno com este transtorno na educação regular. Assim, vamos discorrer sobre os primórdios da educação especial, os efeitos implicados atualmente no aluno com TEA, bem como a educação inclusiva como uma prática e, sobretudo, uma lógica de atuação escolar. 2 PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM PARA O TEA Para melhor compreendermos o conceito de TEA, veremos a sua construção histórica, por meio dos principais marcos históricos do entendimento da tal psicopatologia. O termo “autismo” foi criado na década de 1910, por Eugen Bleuler, psiquiatra suíço que trouxe diversas contribuições para o estudo de psicopatologias. Bleuler defi niu o autismo como parte dos sintomas presentes na esquizofrenia, caracterizando-o a fuga da realidade exterior e foco em um mundo interior. São sintomas fundamentais [da esquizofrenia] o autismo, a ambivalência afetiva, as alterações da afetividade e os próprios distúrbios das associações. Já os sintomas acessórios podem não estar presentes em todos os casos e/ ou em todos os momentos e são representados pelos delírios, pelas alucinações e pelos quadros catatônicos, entre outros (PEREIRA, 2000). 10 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 1 – EUGEN BLEULER FONTE: <amenteemaravilhosa.com.br/biografi a-de- eugen-bleuler>. Acesso em: 2 ago. 2020. Esquizofrenia: a defi nição de esquizofrenia indica uma psicose crônica idiopática, aparentando ser conjunto de diferentes doenças com sintomas que se assemelham e se sobrepõem. É, assim, de origem multifatorial, em que os fatores genéticos e ambientais parecem estar associados a um aumento no risco de desenvolver a doença (SILVA, 2006). Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner, austríaco radicado nos Estados Unidos, lançou o artigo Distúrbios autísticos do contato afetivo, que, por meio de estudos de caso de crianças com uma gama de sintomas, relata: 11 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 Essas características formam uma única “síndrome”, nunca mencionada, que parece ser bastante rara e provavelmente mais frequente do que o indicado na exiguidade dos casos observados. É bem possível que algumas dessas crianças tenham sido vistas como oligofrênicas ou esquizofrênicas. Na verdade, diversas crianças de nosso grupo nos eram apresentadas como idiotas ou imbecis, sendo que uma delas ainda reside numa escola estadual para oligofrênicos e duas outras foram previamente consideradas esquizofrênicas (KANNER, 1943, s.p.). Kanner inovou ao conceituar o autismo como uma patologia de características próprias, diferenciando-a de outras, como a esquizofrenia e a psicose infantil. Os sintomas, ainda utilizados referencialmente, eram divididos em três pilares: defi ciência no desenvolvimento da linguagem, interação social pobre e interesses e movimentos repetitivos (NOGUEIRA, 2007). Ou seja, em um grupo de crianças estudadas, o psiquiatra austríaco identifi cou características sufi cientes para criar uma psicopatologia, listando sintomas e possibilidades de diagnóstico. O novo conceito englobou prejuízos na interação social, difi culdades signifi cativas de comunicação e a presença de comportamentos repetitivos, como o de se balançar freneticamente na cadeira durante horas. FIGURA 2 – LEO KANNER FONTE: <bit.ly/3fsh9gr>. Acesso em: 2 ago. 2020. 12 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA Já o médico austríaco Johann Hans Friedrich Karl Asperger, em 1944, publicou o artigo Psicopatologia autística da infância, no qual descreve crianças que apresentam sintomas parecidos com os citados por Kanner. Asperger focou,porém, seu estudo em sintomas direcionados à grande capacidade de rendimento educacional, ou seja, facilidade para assimilar, decorar e até aprender temas específi cos, conforme identifi cação do paciente estudado. Seu trabalho teve tamanho impacto que uma das nomenclaturas psicopatológicas para o autismo esteve, durante longo período, denominada como Asperger para aqueles que, em detrimento de uma interação social sadia, possuíam altas habilidades. FIGURA 3 – HANS ASPERGER FONTE: <bit.ly/3fl JLbi>. Acesso em: 2 ago. 2020. Segundo Frith (1991), há maior difusão das observações de Kanner, pois seus estudos, publicados originalmente em inglês, possibilitaram uma disseminação na ciência internacional. Quanto aos estudos de Asperger, podemos observar que sofreram pela barreira linguística, restringindo seus leitores a alemães e holandeses, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. É possível atribuir a conceituação inicial do autismo à Kanner e à Asperger. Embora seus discursos conversem sobre o conceito, divergem em método e conclusões. Tal divergência não aponta que seus estudos lidavam com patologias diferentes, mas que atentaram à tipagens extremas entre os sintomas considerados mais severos, como os movimentos repetitivos e inexistente interação social, e os sintomas mais 13 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 Dessa maneira, ao longo dos anos foi possível diferenciar tipos de autismo: clássico (em níveis), síndrome de Asperger, transtorno invasivo do desenvolvimento – sem outra especifi cação (PDD-NOS), transtorno de Rett e transtorno desintegrativo da infância (TDI). Autismo clássico Representado por difi culdades com a comunicação, sociabilidade comprometida e comportamentos repetitivos, o autismo clássico é uma herança dos primeiros estudos de Kanner. Diagnosticada antes dos três anos de idade, esta psicopatologia pode ser identifi cada por linguagem difi cultosa ou atrasada, falta de gestos comunicacionais, falta de resposta a estímulos visuais e sonoros dos adultos, pouca diferenciação do próprio corpo a outros objetos e/ou pessoas, e presença de comportamentos repetitivos. Pode ser dividido em leve, alto, grave ou baixo, dependendo do nível de comprometimento dos sintomas (SOUZA, 2010). Síndrome de Asperger Carregando o sobrenome de um de seus principais pesquisadores, a síndrome de Asperger é um autismo de alto funcionamento, com características próprias. Entre elas, a mais signifi cativa é a conservação da comunicação, uma vez que não apresentam atraso no desenvolvimento dos recursos de linguagem; assim como o alto rendimento para aprendizagem e baixas habilidades sociais e interesses marcados por assuntos, coisas, objetos, personagens específi cos (KLIN, 2006). Transtorno invasivo do desenvolvimento – sem outra especifi cação Podendo também ser denominado como autismo atípico, o PDD-NOS engloba sintomas característicos do autismo clássico, porém não contempla todas as singularidades. Os diagnosticados com este transtorno podem apresentar difi culdades comunicacionais de linguagem, das habilidades de interação social, bem como comportamentos repetitivos, estereotipias. Entretanto, não possuem difi culdades gerais no eixos sintomáticos. Diferencia-se da síndrome de Asperger, pois em alguns pacientes as habilidades de linguagem são comprometidas, apresentando um considerável atraso (MERCADANTE; VAN DER GAAG; SCHWARTZMAN, 2006). Transtorno de Rett leves, como os autistas de alta performance (WING, 1991, p. 110). 14 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 4 – TRANSTORNO DE RETT FONTE: <bit.ly/3fl JLbi>. Acesso em: 2 ago. 2020. Transtorno desintegrativo da infância O transtorno desintegrativo da infância, ou autismo tardio, apresenta as características dos demais tipos de autismo: difi culdades na linguagem, comprometimento da comunicação, habilidade social diminuída, interesse por movimentos contínuos, entre outros. A diferença é o fato de que, ao contrário dos demais tipos de autismo, nos quais os sintomas podem ser percebidos desde o nascimento, no TDI os sintomas são observáveis apenas a partir dos dois anos de idade (MERCADANTE; VAN DER GAAG; SCHWARTZMAN, 2006). Das tipologias de autismo apresentadas, apenas o transtorno de Rett continua sendo uma patologia distinta no novo Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V); o restante fora englobado em um conceito. Esta união de psicopatologias, no entanto, não menospreza as características individuais, apenas facilita o diagnóstico. O distanciamento entre os conceitos de uma psicopatologia auxiliou na atual defi nição, a qual propõe uma conciliação dos sintomas e diagnósticos dentro de um espectro, sendo assim denominado transtorno do espectro autista. Segundo a American Psychological Association (2013), o TEA é caracterizado por um conjunto de transtornos do desenvolvimento neurológico de início precoce, É provocado por uma mutação genética. Embora apresente a maioria dos sintomas autísticos dentro dos três eixos principais, o paciente com Rett pode apresentar deformidades provocadas pela deterioração das habilidades motoras, além de má formação da coluna vertebral (SCHWARTZMAN, 2003). 15 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 e que apresenta comprometimentos das habilidades sociais e de comunicação. Além dos défi cits na comunicação social, o diagnóstico do deste transtorno requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades — a infl exibilidade mental. Ademais, é possível identifi car em pacientes do TEA outras comorbidades, como a defi ciência intelectual, o transtorno do défi cit de atenção com hiperatividade (TDAH), a epilepsia (ZAFEIRIOU; VERVERI; VARGIAMI, 2007). O TEA demonstra o grau de complexidade genética do desenvolvimento neurológico, porque engloba uma gama de aspectos clínicos amplos e fatores genéticos variados de tipos e complexidades, sendo herdados ou não. Os formatos não sindrômicos possuem herança multifatorial coligada aos riscos presentes no meio e genéticos, em um arranjo de característica aditiva (HOANG; CYTRYNBAUM; SCHERER, 2018). FIGURA 5 – MODELO DE COPO FONTE: <bit.ly/30pdYBS>. Acesso em: 2 ago. 2020. A estrutura abordada na fi gura anterior, utilizada para demonstrar o modelo genético do TEA, é denominado “modelo de copo”. Para Hoang, Cytrynbaum e Scherer (2018), trata-se de um modelo de herança e limiar multifatorial, isto é, dos mais variados fatores, sejam genéticos ou ambientais, com maior ou menor risco para o desenvolvimento do transtorno. Os fatores se somam dentro do copo. Ultrapassando a barreira da extremidade do copo, o indivíduo é possuidor do TEA. 16 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 6 – A VARÍAVEL SEXO NO MODELO DE COPO FONTE: <bit.ly/31aFaU4>. Acesso em: 2 ago. 2020. Na estrutura do modelo de copo, os sujeitos do sexo masculino estão ilustrados por copos menores, se comparados aos do sexo feminino. Isso representa uma diferença considerável para alcançar o limiar característico de um diagnóstico. De forma gráfi ca, como ilustrado na Figura 6, estudos revelam que indivíduos do sexo feminino afetado com o TEA possuem número maior de implicações genéticas (JACQUEMONT et al., 2014). Em números, apenas 1% da sociedade é acometida pelo TEA, e quatro vezes mais presente no sexo masculino. Embora o número pareça relativamente pequeno, houve aumento signifi cativo no número de casos confi rmados (CHRISTENSEN et al., 2016). 17 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 FIGURA 7 – PREVALÊNCIA DO AUTISMO ENTRE 2000 E 2016 FONTE: Centers of Disease Control and Prevention (2020, p. 7) O aumento no número de diagnósticos de TEA é uma realidade presente no contexto escolar que se propõe a integrar todos, apesar de suas particularidades. Todavia,é preciso se atentar as características específi cas quanto à aprendizagem, para garantir verdadeira inclusão do aluno acometido com o transtorno. Identifi car as especifi cidades de cada aluno deve proporcionar um caminho para o trabalho do docente, uma vez que um aluno com difi culdade motora necessitará de adaptações físicas de seu ambiente, ou o aluno com difi culdade de comunicação necessitará de recursos que o auxiliem na interação com os colegas e professores. 2.1 INCLUSÃO ESCOLAR COMO UM DIREITO Se os conceitos do TEA são novos, a legislação brasileira, garantindo o acesso na educação regular é ainda mais recente. A importância da existência de leis de inclusão escolar está na garantia que nenhum cidadão fi cará desassistido no processo de aprendizagem, independentemente de sua condição. Para tanto, uma das principais bases para a constituição da garantia para 18 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA a educação especial, e da educação em um todo, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Sobre a educação, ela explana em seu artigo 26, item 1: “Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profi ssional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito” (ONU, 2009). A Constituição Federal de 1988, nesse sentido, discorre acerca da educação. Seu artigo 205 dispõe que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho” (BRASIL, 1988). Em seguida, o artigo 208 da Carta Magna aborda a efetivação das garantias em educação. Entre eles está o “atendimento educacional especializado aos portadores de defi ciência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988). A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, regula o apoio às pessoas com defi ciência quanto à integração social, e dispõe sobre crimes, como a recusa ou difi culdade de inscrição em instituição de ensino: Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua defi ciência (BRASIL, 1989). Nessa linha, em 1990, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) aprovou, em convenção na Tailândia, a Declaração Mundial de Educação para Todos. Outro evento relevante para o direito da criança com defi ciência foi a Declaração de Salamanca, em 1994, a qual dispõe em uma de suas diretrizes: O direito de cada criança a educação é proclamado na Declaração Universal de Direitos Humanos e foi fortemente reconfi rmado pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Qualquer pessoa portadora de defi ciência tem o direito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realizados. Pais possuem o direito inerente de serem consultados sobre a forma de educação mais apropriadas às necessidades, circunstâncias e aspirações de suas crianças (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). Tais eventos, bem como a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, infl uenciaram as políticas brasileiras voltadas à inclusão escolar. Em 1994, diante de infl uência, surge a Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da educação inclusiva. 19 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 Art. 2º São diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista: I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista; II - a participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação; III - a atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofi ssional e o acesso a medicamentos e nutrientes; IV - (VETADO); V - o estímulo à inserção da pessoa com transtorno do espectro autista no mercado de trabalho, observadas as peculiaridades da defi ciência e as disposições da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); VI - a responsabilidade do poder público quanto à informação pública relativa ao transtorno e suas implicações; VII - o incentivo à formação e à capacitação de profi ssionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista, bem como a pais e responsáveis; VIII - o estímulo à pesquisa científi ca, com prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problema relativo ao transtorno do espectro autista no País. Parágrafo único. Para cumprimento das diretrizes de que trata este artigo, o poder público poderá fi rmar contrato de direito público ou convênio com pessoas jurídicas de direito privado. Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não defi nitivo; b) o atendimento multiprofi ssional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; Uma das novidades em política pública voltada à educação inclusiva na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva foi a criação do atendimento educacional especializado (AEE). Um serviço que “identifi ca, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acesso, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específi cas” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL, 2008). Em 2012, a Lei n° 12.764, de 27 de dezembro, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, trazendo maior visibilidade e garantias de direitos: 20 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profi ssionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social. Parágrafo único. Em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, nos termos do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompanhante especializado (BRASIL, 2012). Como sugestão de leitura, apresentamos o livro TEA e inclusão escolar: um sonho mais que possível, de Anita Brito, especialista em autismo, e Nicolas Brito Sales, autista. Na obra, os autores revezam na escrita, explicando aportes teóricos para a inclusão do autista na escola e trechos com experiências na escola regular. Vasques (2011, p. 8), nesse contexto, afi rma que essas garantias retratam “um nascimento simbólico para estas crianças e adolescentes no campo da legislação educacional”. Em pensamento similar, para Certeau (1994) reinventar o espaço educacional é inventar um cotidiano que quebra paradigmas, que inova e não aceita nenhum tipo de discriminação. 2.2 NA ESCOLA De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em 2018, 105.842 alunos com TEA estavam matriculados na educação regular do Brasil. Isso revela aumento de 37,27% no número de matrículas, quando comparado com 2017, com 77.102 alunos (OBSERVATÓRIO DOAUTISTA, 2019). Como visto, a legislação brasileira proíbe a recusa de matrículas de pessoas com defi ciência em instituições de ensino, incluindo o TEA na educação regular, pública ou privada. Podemos, portanto, que a legislação contribuiu com o aumento gradativo de matrículas. 21 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 FONTE: <amzn.to/3fqKTdz>. Acesso em: 2 ago. 2020. Os números revelam a necessidade de pensarmos em práticas pedagógicas para o TEA. Embora esteja cada vez mais presente em sala de aula, há necessidades e expectativas singulares quanto à aprendizagem. Para Santos, Mantoan e Figueiredo (2009, p. 22), “o primeiro passo para se planejar o atendimento não é saber as causas, diagnósticos, prognóstico da suposta defi ciência do aluno. Antes da defi ciência, vem à pessoa, o aluno, com sua história de vida, sua individualidade, seus desejos e diferenças”. Em concordância, Chiote (2015, p. 21) afi rma que: Incluir a criança com autismo vai além de colocá-la em uma escola regular; é preciso proporcionar a essa criança aprendizagens signifi cativas, investindo em suas potencialidades, construindo, assim, o sujeito como um ser que aprende, pensa, sente, participa de um grupo social e se desenvolve com ele e a partir dele. Com toda sua singularidade. A escola, além da fi nalidade acadêmica, proporciona integração social para criar, por meio dos vínculos, aprendizagens de formação social e emocional. Vasques e Baptista (2003, p. 9) complementam: “Mais que um exercício de cidadania, ir à escola, para as crianças com psicose infantil e Autismo poderá ter valor constitutivo, onde, a partir da inserção escolar seja possível uma retomada e reordenação da estruturação psíquica do sujeito”. As infl uências cognitivas, afetivas e do meio familiar dos alunos infl uenciam 22 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA O autismo tem que ter um olhar pedagógico e sabermos como lidar na escola e como abordá-lo, os sintomas variam muito de indivíduo para indivíduo. Em alguns quadros, há o acometimento de convulsões, já que o transtorno pode vir associado a diversos problemas neurológicos e neuroquímicos. Na unidade escolar, o contato técnico primário capaz de atentar à identifi cação de traços de um desenvolvimento atípico é o professor. Por meio da observação, é possível atentar às necessidades específi cas dos alunos, facilitando a interação social no contexto escolar e na sociedade como um todo. O diagnóstico precoce é o primeiro grande instrumento da educação. O que torna o papel docente fundamental, pois é na idade escolar, quando se intensifi ca a interação social das crianças, que é possível perceber com maior clareza singularidades comportamentais. Será sempre pertinente o professor ou a professora observar atentamente seu aluno, quando este apresentar algumas das seguintes características comportamentais: retrai-se e isolar-se das outras pessoas; não manter o contato visual; desligar-se do ambiente externo; resistir ao contato físico; inadequação a metodologias de ensino; não demonstrar medo diante de perigos; não responder quando for chamado; birras; não aceitar mudança de rotina; usar as pessoas para pegar objetos; hiperatividade física; agitação desordenada; calma excessiva; apego e manuseio não apropriado de objetos; movimentos circulares no corpo; sensibilidade a barulhos; estereotipias; ecolalias; ter difi culdades para simbolizar ou para compreender a linguagem simbólica; e ser excessivamente literal, com difi culdades para compreender sentimentos e aspectos subjetivos de uma conversa (CUNHA, 2016, p. 24). No caso de crianças que ainda não possuem um diagnóstico, essas características se tornam essenciais para o fornecimento de subsídio de melhor entendimento da suposta psicopatologia. Após a identifi cação, ou ainda no caso de crianças que chegam à escola com tais informações, cabe aos docentes a utilização de práticas pedagógicas adequadas para cada criança, promovendo vínculo, confi ança e humanização do processo de aprendizagem. Outro recurso pedagógico está na utilização do brincar com fi nalidade de ensino-aprendizagem. Para Lee (1977, p. 340), “o brincar é a principal atividade da criança na vida. Através do brincar ela aprende as habilidades para sobreviver e descobre algum padrão do mundo confuso em que nasceu”. a forma de acontecimentos do processo social e a adaptação à metodologia de ensino da unidade escolar, constituindo um dos maiores desafi os na educação. Para Cunha (2016, p. 23): 23 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 Diversas abordagens e técnicas envolvem o brincar no processo educativo, e até terapêutico, como o ABA. Esta técnica utiliza o brincar de forma a ensinar o comportamento, sendo estruturada e progressiva, tendo em vista que as difi culdades relacionadas à comunicação podem afetar o processo do brincar como um recurso terapêutico no desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Dessa forma, Vygotsky e Luria (1996, p. 220) corroboram afi rmando que “o homem é uma criatura social, e as condições socioculturais o modifi cam profundamente, desenvolvendo toda uma série de novas formas e técnicas em seu comportamento”. Paulo Freire, quanto ao processo socializador da escola, aprofunda sobre a relação da aprendizagem, pois “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (1987, p. 79). Tendo em vista que a unidade escolar é um dos primeiros recursos socializadores, vejamos os métodos e pensadores que contribuem com uma escola preparada para o processo de inclusão do aluno com TEA. 3 METODOLOGIAS A seguir, partiremos para as metodologias aplicadas no processo ensino- aprendizagem de alunos com TEA. 3.1 MÉTODO TEACCH Durante a década de 1970, nos Estados Unidos, o psicólogo Eric Schopler e sua equipe de pesquisadores desenvolveram o método Treatment and Education of Autistic and Related Communication-handicapped Children, ou seja, tratamento e educação para autistas e crianças com défi cits relacionados com a comunicação (MARQUES; MELLO, 2005). 24 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA Schopler, seguindo linha distinta de outros cientistas da época, acreditava na base neurológica do autismo, criando uma metodologia que torna os pais coterapeutas, ou seja, auxiliadores nos processos de aprendizagem. Ele verifi cou a efi cácia de ambientes estruturados para adaptação dos alunos com TEA. Assim, em 1972, o método TEACCH obteve aprovação como política pública norte-americana, criando uma organização de saúde e, sobretudo, educativa, com serviços e formação de profi ssionais habilitados para atendimento e pesquisa (MARQUES; MELLO, 2005). Seu método rendeu reconhecimento nacional e internacional no que diz respeito às metodologias de atuação com TEA, recebendo prêmios (HOFFMAN; SANTOS; MOTA, 2008). Esta metodologia possui como “objetivo principal ajudar a criança com TEA a crescer e a melhorar os seus desempenhos e capacidades adaptativas de modo a atingir o máximo de autonomia ao longo da vida” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL, 2008, p. 17), cabendo auxiliar a criança na compreensão de seu ambiente de convívio, por meio de aquisição de habilidades comunicativas, na medida em que se relaciona com os demais indivíduos e cria repertório social ampliado de comportamento. O fundamento do método está na criação de independência, por intermédio da comunicação, e dentro de uma lógica terapêutica e educativa; estabelecendo estratégias individuais progressivas com avaliações constantes. Ademais, é necessário verifi car e excluir variáveis que impedem o sucesso educativo FIGURA 8 – ERIC SCHOPLER FONTE: <bit.ly/3a9pogF>. Acesso em: 2 ago. 2020. 25 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 (MARQUES; MELLO, 2005). Para Kwee, Sampaio,Atherino (2009), estão entre os objetivos principais da TEACCH: ● Promover a adaptação dos indivíduos, melhorando as suas habilidades mediante técnicas educacionais efi cazes e compreendendo e compensando os défi cits por meio do planeamento de estruturas ambientais. ● Colaboração mútua entre profi ssionais e os pais das crianças. ● Favorecer uma avaliação que permita compreender as capacidades atuais e emergentes da criança. ● Conhecer a teoria subjacente à metodologia TEACCH. ● Atuar de acordo com um modelo generalista e transdisciplinar. Sobre a perspectiva educacional desta metodologia, podemos destacar o princípio de atuação por intermédio da priorização dos pontos fortes e de interesses do aluno, realizando uma avaliação constante do trabalho. Dessa forma, auxilia as crianças na compreensão do seu ambiente, cabendo alterações neste, no intuito de facilitar a leitura do seu entorno. Além disso, os comportamentos negativos dos alunos podem ser considerados como uma compreensão precipitada e não como uma falha (MESIBOV; SHEA; SCHOPLER, 2005). Marques e Mello (2005) explanam que é de responsabilidade dos docentes a observação e compreensão dos pontos fortes e fracos, dos interesses individualizados de seus discentes com TEA, para proporcionar os facilitadores de aprendizagem. O ensino estruturado é a soma de princípios e metas que visam a estruturar o meio externo, como espaço, tempo, materiais e atividades que indiretamente organizam o interno do aluno, facilitando o processo de aquisição de aprendizagem dos alunos com TEA e a remissão de comportamentos não esperados (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL, 2008). Concordando, Rossi (2007) afi rma que o ensino estruturado fornecido pela metodologia TEACCH favorece a independência do aluno, uma vez que reduz, com a aprendizagem, a necessidade de correção. O ensino estruturado pode “fornecer uma informação clara e objetiva das rotinas; manter um ambiente calmo e previsível; atender à sensibilidade do aluno aos estímulos sensoriais; propor tarefas diárias que o aluno é capaz de realizar; promover a autonomia” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL, 2008, p. 17). A organização do ensino estruturado deve levar em consideração as questões 26 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA individualizadas do aluno, do seu meio escolar e de seus familiares. Porém, tendo o ensino estruturado realizado sua principal função de aprendizagem, deve-se avaliar as aquisições e, não necessitando correções comportamentais, cabe ao docente diminuir a estrutura, visando à independência do discente (MARQUES; MELLO, 2005). 3.2 MÉTODO ABA Sabemos que há intervenções e metodologias educacionais com base na psicologia, sobretudo a comportamental, com a apresentação de signifi cativa remissão de comportamentos não esperados e promoção de repertório maior de habilidades socializadoras e adaptativas. Dos processos mencionados, destacaremos agora o Applied Behavior Analysis (ABA), ou seja, a análise do comportamento aplicada (LANDA, 2007; VIRUÉS-ORTEGA, 2010). As características gerais da prática com base em ABA, via de regra, envolvem o processo de identifi cação de comportamentos que necessitam aperfeiçoamento, como a comunicação do aluno com os colegas, professores e pais; prosseguidos de métodos planejados para modifi car estrategicamente, para reforçar comportamentos estudados como efetivos (BAER; WOLF; RISLEY, 1968). Por ter uma abordagem individualizada e estruturada, assim como o TEACCH, sua intervenção pode ser medida e avaliada. Os alunos com TEA se sentem mais seguros com rotinas e regras claras (SCHOEN, 2003). Além do mais, possui diversos estudos comprovando sua efi cácia. Entretanto, vale ressaltar que o método ABA não é utilizado somente com fi ns de intervenção do TEA, mas para as mais diversas situações (GILLIS, BUTLER, 2007). A prática do ABA é baseada nos conceitos de condicionamento operante introduzido por Burrhus Frederic Skinner, psicólogo norte-americano. Isto é, os comportamentos são antecedidos por estímulos ambientais e aprendidos conforme suas consequências, as quais podem estimular a continuidade de um comportamento, na medida em que, ao agir de determinada forma, benefícios para necessidades do indivíduo surgirão (SKINNER, 1978). 27 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 FIGURA 9 – BURRHUS FREDERIC SKINNER FONTE: <bit.ly/31eL4DG>. Acesso em: 2 ago. 2020. Os pressupostos teóricos aparentam rigidez e certa regularidade, que pode ser compreendida como uma técnica não humanizada, porém, os analistas do comportamento entendem que, ao tomar ciência da funcionalidade, o indivíduo toma a liberdade de escolha de manter um repertório comportamental ou não (NEWMAN, REINECKE, KURTZ, 1996). O ABA não pode ser visto como uma medida oposta ao TEACCH; ao contrário, em muitos casos, é possível mesclar as duas técnicas, pois ambas compartilham dos mesmos precedentes teóricos comportamentalistas, somente focando em partes diferentes da teoria behaviorista. 3.3 MÉTODO DENVER Com base nos conceitos de desenvolvimento, o modelo Denver objetiva a estimular precocemente crianças de até cinco anos de idade, por meio de brincadeiras e ações positivas. Para Figueiredo (2014), o método Denver busca utilizar estratégias analíticas aplicadas aos comportamentos naturais, estimulando habilidades cognitivas, sociais e de linguagem. Este modelo, junto aos pressupostos de outros métodos, inclusive o ABA, deu origem ao Early Start Denver Model, isto é, modelo Denver para intervenção precoce. De acordo com o autor, para ter sucesso terapêutico/educacional, é necessário o envolvimento dos pais na terapia de seus fi lhos, em razão de estimular também as trocas interpessoais e o afeto positivo no engajamento com 28 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA as pessoas. O método Denver possui como base um entendimento de desenvolvimento normal e anormal, baseado em diversos apanhados teóricos, entre eles: 1) Modelo Denver, desenvolvido por Rogers e colegas, em 1981. 2) Modelo de Rogers e Pennington’s, em 1991. 3) Modelo de Dawson e colegas, em 2004. 4) Abordagem de ensino baseada na análise comportamental aplicada (ROGERS; DAWSON, 2014). Essa metodologia prioriza a coleta de dados e o acompanhamento de forma minuciosa, por ser preciso estar atento ao enquadramento do paciente aos níveis esperados de desenvolvimento, e avaliar os resultados das intervenções. Nos quatro primeiros estudos citados ocorreu aceleração do desenvolvimento de crianças com autismo. Estudos experimentais ou quase experimentais posteriores para examinar a efi cácia da intervenção comparando a intervenção segundo o modelo Denver com outro tipo de intervenção não apontaram diferença entre as duas abordagens comparadas, ambas tendo efi cácia de 80% no que tange ao incremento de palavras comunicativas durante a intervenção (LÖHR, 2016). Nesse sentido, para Rogers e Dawson (2014), no livro Intervenção precoce em crianças com autismo: modelo Denver para a promoção da linguagem, da aprendizagem e da socialização, os resultados da aplicação do método Denver cumpriram o papel de aceleração no desenvolvimento de crianças com TEA. 3.4 MÉTODO SON-RISE Métodos unicamente comportamentalistas, como o ABA e seus derivados, estão mais presentes na literatura científi ca (HOLDING; BRAY; KEHLE, 2011). Todavia, outras metodologias, desenvolvimentistas, focam a atuação no desenvolvimento (motor, social, comunicação etc.) do indivíduo com TEA; entre eles está o método Son-Rise (KAUFMAN, 1976). O Son-Rise Program, ou programa Son-Rise, foi desenvolvido durante a década de 1970, nos Estados Unidos, no intuito de que facilitadores treinados pelo Autism Treatment Center of America (ATCA), ou redes credenciadas, auxiliem pais e responsáveis na aplicação de técnicas dentro de suas casas ao aluno com TEA. Na residência, além de responsáveis treinados,solicita-se que exista um quarto modifi cado, para que seja o “quarto de brincar”. Este espaço será 29 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 estrategicamente elaborado para ressaltar a organização, previsibilidade e controlar variáveis externas, minimizando o número de distrações e maximalizando a interação com as crianças (DEISINGER et al., 2012). Embora o “quarto do brincar” seja planejado, as atividades exercidas nele buscam levar ao adulto a percepção, por meio de interação, dos genuínos interesses da criança, em vez de proposta de atividade fi xa. Dessa forma, teremos a valorização das iniciativas da criança, por mais que sejam fruto de estereotipias ou socialmente não aceitas, refl etindo ausência de julgamentos (KAUFMAN, 1994). Ao identifi car o aumento do comportamento responsivo da criança, entretanto, caberá ao adulto propor algo a mais sobre a atividade demandada, visando a prover habilidades comunicacionais e saída das estereotipias de repetição (WILLIAMS, 2006). Por mais que as atividades sejam realizadas na própria casa da criança, os efeitos deste programa são sentidos em todos os ambientes, inclusive na escola. Podemos observar os efeitos com o relato de uma professora: Trabalho na área da educação há alguns anos e durante este tempo tenho acompanhado muitos casos de alunos autistas, mas um caso em específi co chamou muito minha atenção. Sabe-se que o autismo não tem cura e que existe tratamento, porém os avanços, na maioria dos casos, podem ocorrer de forma lenta e em casos mais severos os resultados são mínimos. Durante este ano letivo de 2013, fui surpreendida por um novo aluno autista na escola em que trabalho, considerado como: autista clássico. Mas, a grande surpresa é que este aluno apresenta características que não condizem com seu diagnóstico. Faz contato visual, relaciona-se bem com os colegas e professores, participa das atividades em classe e na hora do recreio se relaciona com muita facilidade com os colegas. Ao conversar com os pais deste aluno descobri que realmente ser pai de uma criança especial é para pessoas também muito especiais! Eles relataram que utilizam o programa Son- Rise diariamente com o fi lho. Nunca tinha ouvido falar nesse programa, e começaram a relatar os avanços impressionantes com a adesão (COSTA, 2013). 30 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 10 – MÉTODO SON-RISE FONTE: <bit.ly/39XYrfu>. Acesso em: 2 ago. 2020. O ATCA, associação referência, indica que o método seja realizado acima de 20 horas por semana, iniciando nos primeiros dias com apenas 30 minutos diários, e um aumento gradativo, conforme a aceitação da criança (TOLENZANI, 2011). O ATCA possui plataforma on-line, na qual apresenta seu programa Son-Rise, além de treinamentos para os pais. Está disponível em: autismtreatmentcenter.org. Embora seja um método difundido por muitos pais de crianças com TEA, podemos verifi car a falta de trabalhos que investiguem a sua forma de realização e avaliações de resultados. Por efeito, pode ser considerada uma técnica de validade limitada, com pouca evidência científi ca de sua aplicação como principal meio de atuação no TEA, mas em regra acompanhada de outras intervenções (SIMPSON, 2005). 31 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 3.5 MÉTODO FLOORTIME Este método é técnica integrante da metodologia ampliada Developmental, Individual Difference, Relationship-based Model, ou seja, desenvolvimento funcional emocional, ou diferenças individuais e de relacionamento (DIR). A metodologia Floortime é o ato do terapeuta ou docente seguir as vontades emocionais da criança com TEA, desafi ando-a na ampliação de suas competências sociais, comunicativas, intelectuais e emocionais (GREENSPAN; WIEDER, 2006). No YouTube, o canal Mundo autista aborda algumas temáticas deste capítulo. Em um de seus vídeos, Autismo - psicoterapia no Floortime, na presença de um especialista, há explicações de como funciona a técnica. O material pode ser acessado em: bit.ly/2Xw8h3n. FIGURA 11 – MÉTODO FLOORTIME FONTE: <bit.ly/39Y465k>. Acesso em: 2 ago. 2020. 32 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA Assim como no método Son-Rise, o treinamento dos responsáveis pela criança é imprescindível, pois a criança promove a interação e o facilitador segue os caminhos, estabelecendo forte comunicação, ainda que não oral. Dessa forma, as intervenções podem partir de música, dança, jogos, ou até mesmo por um bate-papo despretensioso (MAIA, 2009). Nessa linha, Maciel e Filho (2009, p. 232) alegam que: Ainda há muitas pessoas que acreditam e insistem em afi rmar que uma criança autista não sabe brincar, ou que não brinca “de maneira adequada”. Ao contrário, os métodos mais efi cazes são justamente aqueles que sabem tirar proveito da ludicidade característica da pessoa autista: Floortime, [...] Son-Rise [...], apresentam resultados positivos ao estimular familiares e educadores a buscar o contato com a criança autista, respeitando suas idiossincrasias e tirando delas o máximo proveito. Dessa forma, os métodos Son-Rise e Floortime apostam na brincadeira e na interação mediada, sobretudo, pela própria criança com TEA como recurso terapêutico facilitador de desenvolvimento gradual de funções comprometidas. Para complementar o conteúdo, leia uma publicação sobre duas técnicas de trabalho terapêutico e educacional em que envolvem diretamente a implicação dos pais dos alunos com TEA: é a história da mãe que auxiliou não somente seus fi lhos, mas toda a comunidade. Está disponível em: glo.bo/3kfJTN9. 4 A EXCLUSÃO COMO EFEITO DA INCLUSÃO NÃO EFICAZ Acadêmico, vimos até aqui o conceito e as bases legais da inserção do aluno com TEA na educação regular, discorremos sobre os primórdios da educação especial, e os efeitos atualmente implicados no aluno com TEA. Conceituaremos, assim, a educação inclusiva como uma prática e, principalmente, lógica de atuação escolar, além de seus efeitos, os quais, se não praticada efetivamente, pode causar efeito contrário: a exclusão. Vamos também abordar as possibilidades práticas de adequação de currículo, o uso das tecnologias da informação (TICs) e jogos, entre outras possibilidades. Durante a história, a educação foi pensada para repassar de uma geração 33 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 para outra os ideais socioculturais que formam as maneiras da existência e comportamento dos indivíduos em agrupamentos, nos seus mais diversos tipos, e a sua interação com o meio. Confeccionando métodos e técnicas de aprendizagem que esperam determinado tipo de aluno, possuidor de capacidades cognitivas, físicas, sociais, culturais, econômicas e psíquicas “normais”, conforme defi nição de normalidade característico de cada período histórico (BOURDIEU, 1975). Assim sendo, as difi culdades escolares provocadas por quaisquer desordens eram encaradas como um problema de aprendizagem e/ou comportamento. As crianças que se distinguiam dos demais eram rechaçadas não somente pela escola, mas pela sociedade como um todo, permanecendo, em muitos casos, presas em suas próprias casas durante grande parte de suas vidas, pois não havia lugar para o diferente. Podemos dizer, então, que a educação não aceitou, durante anos, as diferenças subjetivas signifi cativas dos alunos (DEWEY, 1959). Durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu uma eclosão de testes classifi catórios, os quais se propuseram diferenciar pessoas “aptas” e “não aptas”, as “mais inteligentes” das “menos inteligentes”, difundindo, inclusive, termos pejorativos presentes na atualidade, como rótulos identitários, entre eles “retardado” e “idiota”. Inicialmente, utilizados para selecionar pessoas para a guerra, aproveitando o tipo de habilidade presente para funções mais direcionadas, as categorias de “excepcionais” acabam difundindo tambémem outros meios, como na indústria, para diferenciar funcionários mais produtivos dos menos produtivos, e até mesmo na escola, para segregar as classes menos aptas à aprendizagem em locais específi cos, fomentado a criação de escolas e classes especiais, separada dos “normais” (JANNUZZI, 2004; ROMANELLI, 2003). Para Silva (2002), dentre os principais marcos da testagem psicológica no contexto escolar, o francês Alfred Binet, pedagogo e psicólogo, possui grande contribuição. Entre suas contribuições dentro da psicometria está o desenvolvimento do primeiro teste bem-sucedido de inteligência, Binet- Simon, lançado em 1905. Embora esteja obsoleto, o teste produzido por Binet infl uenciou diretamente os testes atuais de inteligência, nos quais alguns ainda utilizam nomenclaturas e conceitos desenvolvidos à época (FLORES-MENDOZA; NASCIMENTO; CASTILHO, 2002). 34 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 12 – BINET TESTANDO CRIANÇAS FONTE: <bit.ly/30vPSFG>. Acesso em: 2 ago. 2020. Dessa maneira, medicina, psicologia e pedagogia contribuíram de forma signifi cativa para a diferenciação e exclusão dos considerados diferentes das curvas da normalidade. Essa prática avaliativa, porém, não teve como objetivo principal a exclusão como forma punitiva; ao contrário, acreditavam que separando os “melhores” dos “piores” facilitaria o processo de aprendizagem, por ser uma prática nitidamente científi ca, e sua pretensão, assim como qualquer pesquisa e avaliação em ciência, era de ser uma prática “neutra”. Entretanto, revisitando as bases epistemológicas dessas práticas avaliativas, é possível identifi car que, por mais que propusesse a neutralidade, estava aliada a uma narrativa social da época, a qual predizia, independentemente da subjetividade dos avaliados, o signifi cado da normalidade e anormalidade. Ou seja, uma prática de saber pelo outro, o seu bem no potencial, e o seu mal, no défi cit. Atualmente, ao limitarmos a explicar as difi culdades escolares por meio dessa lógica, estamos enquadrando os alunos em categorias (psico)patológicas que visam ao aspecto curativo e de enfrentamento. Já para Andreola (1993), cabe ao profi ssional da escola entender o dever socializador no desenvolvimento dos alunos, os quais não são apenas uma patologia, nem mesmo um número, mas sujeito que possui facilidades e difi culdades, gostos e desgostos pessoais, e dentro de uma relação empática e atenta ao sujeito além do aluno em si, fornece subsídios para uma educação efi caz e humanizada. 35 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 Para Skrtic (1994), “a inclusão é mais que um modelo para a prestação de serviços de educação especial. É um novo paradigma de pensamento e de ação, no sentido de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se tornando mais norma do que exceção”. É preciso, pois, ter cautela na aplicação de técnicas voltadas para a educação especial, como os materiais didáticos adaptados e demais modelos, para não provocar uma diferenciação considerável na atuação escolar. De forma que, ao afastar o aluno do restante da sala de aula, focando-o em apenas atividades individuais, poderá repetir erros, causando exclusão. Uma discussão atual é a utilização de professores auxiliares focados em alunos da educação especial. Por um lado, se a maioria dos pais fazem questão de que seus fi lhos tenham assistência, para alguns estudiosos a presença contínua de um professor ao lado de um aluno, dedicando-se em período integral, difi culta a integração do aluno com os demais, sendo um empecilho para uma inclusão efetiva (STAINBACK; STAINBACK, 1999). Já abordamos os impactos de um professor auxiliar para o aluno na educação especial. Refl etindo sobre os argumentos utilizados, qual é sua opinião sobre a temática? Para complementar seus conhecimentos, assista ao vídeo Autismo - mediação escolar. Está disponível em: bit.ly/3gAd7Uy. O ideal é adaptar as formas de aprendizagem específi cas do TEA à rotina da sala como um todo, em que as mudanças no currículo e a utilização de modelos educacionais facilitadores de aprendizagem contemplem todos os alunos. Para auxiliar em seus estudos, leio o artigo Autismo: como estabelecer uma boa relação entre escola e famílias de alunos. Nairim Bernando aborda sobre o sentimento de insegurança dos pais, bem como as medidas da escola que podem criar laços de confi ança e colaboração. O material pode ser acessado em: bit.ly/3kh95Tx. 36 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA 1 Qual é o conceito de autismo na visão de Kanner? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Quais são as características do TEA apontadas pela American Psychological Association? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3 Quais os primeiros passos apontados como referência para integração dos alunos com TEA na escola? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4 Qual é o principal fundamento do método TEACCH? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5 Qual é o embasamento teórico do método ABA? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 37 MÉTODOS E PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM PARA O TEA Capítulo 1 6 Quais são as cinco metodologias abordadas como auxiliares no desenvolvimento da criança com TEA na escola? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Estudar o autismo requer a construção do diagnóstico, além de suas facetas históricas, judiciais, médicas e sociais. Com isso, podemos ver que não apenas para a educação, mas para a sociedade a inclusão de pessoas com TEA é recente, e que carece de maior atenção. Apesar da recente introdução da criança com TEA na escola, contudo, há considerável conteúdo científi co interdisciplinar que auxilia no processo, como as teorias e metodologias neste capítulo apresentadas e discutidas. Em seguida, veremos situações práticas e aplicáveis. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 5. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013. ANDREOLA, B. A. O processo do conhecimento em Paulo Freire. Revista Educaçãoe Realidade. Porto Alegre: UFRGS, 1993. BAER, D. M.; WOLF, M. M.; RISLEY, T. R. Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1968. BOURDIEU, P. 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CAPÍTULO 2 MATERIAL PEDAGÓGICO ADAPTADO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Defi nir os materiais pedagógicos adaptados para alunos com TEA. Apontar as características do currículo, provas e avaliações na educação especial. Descrever as propostas pedagógicas para manter a atenção do aluno autista em sala de aula. Examinar os materiais pedagógicos adaptados. Organizar atividades com linguagem objetiva e sensorial. 46 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA 47 MATERIAL PEDAGÓGICO ADAPTADO Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A educação deve abrir espaço e dar condições de transformar a forma de passar conhecimento, capacitando o aluno a recebê-lo. Para tanto, neste capítulo, vamos abordar a realidade dos materiais pedagógicos na inclusão do aluno com TEA, refl etindo sobre o acesso a estes conteúdos na escola do ensino regular. Além de defi nir os materiais pedagógicos adaptados para alunos com o transtorno, apontaremos as características do currículo, provas e avaliações na educação especial, descrevendo as propostas pedagógicas, para que facilitem a inserção destes alunos em sala de aula, bem como os modelos de aprendizagem e a linguagem objetiva e abordagem sensorial. 2 LIVRO DIDÁTICO E AUTISMO Um dos recursos pedagógicos mais utilizados são os livros didáticos. A educação pública brasileira disponibiliza o acesso a livros didáticos gratuitos para alunos da rede básica, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o qual: Tem como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos professores [...]. O programa é executado em ciclos trienais alternados. À exceção dos livros consumíveis, os livros distribuídos deverão ser conservados e devolvidos para utilização por outros alunos por um período de três anos (BRASIL, 2020). Refl etindo acerca das funções do livro escolar para o PNLD, podemos identifi car que cria condições propícias para aquisição de saberes sociais; facilita, consolida e aprofunda os conhecimentos; aumentam a autonomia dos alunos, tendo em vista que auxilia no desenvolvimento de habilidades (BRASIL, 2015, p. 19). 48 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 1 – LIVROS DIDÁTICOS FONTE: <bit.ly/3gIgaKD>. Acesso em: 6 ago. 2020. Portanto, o livro escolar representa mais do que um compilado de conteúdos educacionais reunidos de forma organizada. Possui função signifi cativa no processo de aprendizagem quanto à transmissão de informações e formação integral do estudante. O processo de escolha dos livros é realizado, preferencialmente, pelos próprios professores. De forma muito cautelosa, o ato de escolher o material deve levar em consideração características específi cas para o público-alvo. Apesar do direito à escolha dos livros, a organização para a solicitação dos livros pode ser distinta por município. Em muitos, utiliza-se apenas professores representantes, os quais, de modo individual, decidem sobre os livros que serão utilizados. Já em outras cidades, equipes administrativas das secretarias de educação é que realizam as escolhas. Para Salla (2012), “erros conceituais, preconceitos, inconsistências metodológicas, problemas em aspectos gráfi cos e falta de adequação aos Parâmetros Curriculares Nacionais são alguns dos critérios já avaliados pelo MEC”. O autor também aconselha que, na escolha de um livro didático, vale “olhar os manuais dos professores, que acompanham o material didático e trazem diversas orientações”. De forma estrutural, livros didáticos são a síntese de conteúdos que serão manejados por um profi ssional capacitado. Assim, é possível que os conteúdos selecionados para a composição deste material estejam defasados, seja por conhecimentos científi cos recentes ou pela utilização de termos e especifi cações superados, resultando em uma inadequação da técnica para a aprendizagem. 49 MATERIAL PEDAGÓGICO ADAPTADO Capítulo 2 As recomendações para uma boa escolha de materiais didáticos focam o assunto no professor, o que não é um erro. Entretanto, é preciso lembrar que “os alunos têm direito a receber um bom livro didático. Eles devem encontrar, nesse recurso, apoio para a sua aprendizagem, para a superação de suas difi culdades e para avançar com autonomia na busca pelo conhecimento” (BRASIL, 2012, p. 9). A cobrança quanto às capacitações dos professores, demonstrada em facetas dentro do contexto escolar, alimenta apenas uma crítica ao papel do professor. Precisamos, porém, prestar atenção não somente à crítica, mas ao construto de uma técnica dialógica, em que o principal objetivo é a aprendizagem. O livro escolar norteia o trabalho do docente, auxiliando o profi ssional quanto aos conteúdos programáticos, além de ajudar o aluno no desenvolvimento de aquisição da aprendizagem. ParaCosta e Allevato (2010, p. 72): O livro didático é um dos instrumentos mais utilizados pelos professores para organização e desenvolvimento das atividades em sala de aula e, até mesmo, para aprimorar seu próprio conhecimento sobre o conteúdo e, para os alunos, trata-se de uma fonte muito valiosa de informação, que deveria despertar o interesse e o gosto pela leitura, além de ajudar no avanço dos estudos. Sendo assim, um ótimo instrumento para utilização na sala de aula. “Cabe à escola, em particular ao professor, a condução do processo de ensino e o acompanhamento da aprendizagem dos alunos. Nessa tarefa complexa, a grande maioria dos educadores atribui ao livro um papel destacado entre os recursos didáticos que podem ser utilizados” (BRASIL, 2015, p. 18). Embora seja um recurso difundido e efi caz, o uso restrito de somente um método de aprendizagem não é recomendado. Cabe ao docente procurar diversas estratégias envolvendo métodos de aquisição de conhecimentos, adequando-os às necessidades e interesses de cada aluno/classe. Quanto às questões correlatas aos alunos com TEA e de educação especial como um todo, o PNLD relata que “entre os desafi os a serem enfrentados pelo nosso país, está o de garantir, a todos, o direito à educação com qualidade social” (BRASIL, 2015, p. 9). Dessa forma, considerando as bases legais que visam não somente à presença de alunos da educação especial nas escolas, mas efetiva inclusão, o ideal é que os livros didáticos apresentem conteúdos, atividades e orientações para os professores para estas especifi cidades. A partir dos seguintes elementos: [...] sabermos que a educação básica é direito de todos - sem discriminações e considerando todos os fatos e documentos discutidos nas 50 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA seções anteriores, por que os livros didáticos não trazem nada para alunos autistas e/ou alunos com algum tipo de necessidade específi ca? Podemos intuir que, os estudos sobre educação inclusiva, mesmo que aparecendo em livros não didáticos (como artigos, dissertações e teses) de forma signifi cativa e também na formação inicial e continuada, ainda precisam ser disseminados, principalmente nos livros didáticos, que são os principais orientadores dos professores nas escolas (FINKLER; MERLI, 2007). Podemos verifi car, assim, que a presença de adequações em livros didáticos normais não é comum, cabendo a artigos e materiais didáticos alternativos, muitas vezes não gratuitos, e que abordam o assunto. Em sala, ao ter acesso ao material e conhecendo os desafi os e especifi cidades de cada aluno com TEA, o professor poderá adaptar o conteúdo. Por exemplo, um aluno com TEA que apresente defi ciência intelectual, mas com preservação da comunicação e habilidades sociais: sua atividade pode ser adaptada com o auxílio do professor, com captação de respostas orais, para que sejam consideradas aprendizagens oralmente demonstradas. Este exemplo ilustra como poderá acontecer a adaptação: primeiramente, sejam identifi cadas as especifi cidades do aluno; em seguida, o professor tenha objetivo pedagógico claro quanto à atividade para a turma, para que, então, consiga transmiti-lo ao aluno com TEA, com adaptações, ou criando uma nova atividade que cumpra a fi nalidade. Em última instância, é possível trabalhar objetivos pedagógicos distintos, de forma que reconheça as características de cada aluno e seu nível em relação à turma, uma vez que é possível identifi car estudantes com casos severos de TEA, e que difi cultem o processo de aquisição de conhecimento da linguagem escrita. Contudo, há outros instrumentos facilitadores do processo de aprendizagem em educação especial, com enfoque no TEA, os quais benefi ciam a atuação do profi ssional, impactando positivamente. As difi culdades funcionais dos alunos da educação especial podem ser amenizadas ou dribladas com a introdução de material pedagógico adaptado ou material criado para fi nalidade específi ca do TEA (PELOSI, 2008). 2.1 CARTÕES DE COMUNICAÇÃO Os cartões de comunicação, ou cartões de comunicação alternativa, podem ser um recurso simples e assertivo, e que utiliza símbolos gráfi cos e/ou fotografi as, e expressam comportamentos por meio de símbolos seguidos do nome da ação. 51 MATERIAL PEDAGÓGICO ADAPTADO Capítulo 2 Sua utilidade é revelada na construção de uma rotina com o aluno e a turma, na adaptação de atividades pedagógicas, lúdicas e avaliativas, pois facilitam a comunicação e entendimento da proposta do professor. As formas de utilização da carta de comunicação são diversas, e seus efeitos positivos impactam diretamente na inclusão do aluno com TEA à rotina escolar, melhorando o engajamento em sala de aula (SCHIRMER; BERSCH, 2007). FIGURA 2 – CARTÃO DE COMUNICAÇÃO FONTE: <bit.ly/2XFC8X6>. Acesso em: 6 ago. 2020. 2.2 JOGOS Utilizar jogos como metodologia pedagógica é uma possibilidade que engaja os alunos, pois proporciona a aprendizagem na utilização de atividades lúdicas e de interação social. A utilização de jogos estimula o desenvolvimento cognitivo, moral e social (FONTES; FREIXO, 2004). Os jogos podem ser os convencionais, parcial ou totalmente adaptados, ou criados para fi nalidades específi cas. O TEA possui como característica a questão da difi culdade ou inabilidade na interação social, logo, os jogos podem ser grande barreira para o autista, se não estruturados e planejados. A utilização dos jogos, contudo, pode ser aprendida. No ABA, por exemplo, há diversos jogos estruturados, como o TEAMAT, utilizado para ensinar matemática. Este jogo utiliza reforçadores e instruções planejadas, as quais aumentam o interesse e o aprendizagem do aluno. A técnica de jogos, nesse sentido, pode ser aliada a outras, como o cartão de comunicação: 52 Métodos e Práticas de Aprendizagem para o TEA FIGURA 3 – JOGO FONTE: Schirmer, Pinto e Rached (2017, p. 238) 2.3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO As tecnologias da informação e comunicação (TICs) podem ser caracterizadas como uma junção de recursos tecnológicos que, utilizados de maneira integral, visam ao alcance de objetivos em comum. Elas podem ser empregadas de diversas maneiras e em diferentes áreas do mercado: na indústria; no comércio; no setor econômico; na educação. Para ampliar sua visão quanto ao conteúdo estudado, realize a leitura do artigo TEAMAT: Um Jogo Educacional no Auxílio da Aprendizagem de Crianças com Autismo Baseado no Método ABA. Os autores abordam o uso do TEAMAT, bem como apresentam a efi cácia de sua utilização. Está disponível em: revistas.unifacs.br/index.php/rsc/article/view/4955/3180. 53 MATERIAL PEDAGÓGICO ADAPTADO Capítulo 2 O surgimento das tecnologias favoreceu a ocorrência de mudanças na sociedade, pois são produtos resultantes de processos sociais, produzidos por seres humanos em suas relações. Utilizar a tecnologia gera debates acerca de mudanças na sociedade. Na contemporaneidade, o termo tecnologia é utilizado em variadas áreas do conhecimento. A tecnologia está presente nas sociedades, nas instituições e na vida de cada indivíduo. Estudada sob diversas perspectivas, suscita refl exões e discussões que envolvem a fi losofi a, a educação, a indústria, a informação, a técnica, a arte. Fazendo contraponto entre o conjunto de conhecimentos considerados tecnológicos ou científi cos, temos as TICs, com surgimento em meados da década de 1970, em um cenário da Terceira Revolução Industrial e a Revolução da Informação. Após a segunda metade do século XX, o mundo foi marcado pela robótica. Surge nesse período fase de intensa evolução no campo tecnológico, incentivada pela união entre o conhecimento científi co e a produção industrial. Como efeito, tivemos o desenvolvimento das atividades industriais, e a aplicação de tecnologias modernas em todas as etapas produtivas. O ápice do avanço das novas TICs ocorreu a partir da década de 1990,
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