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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL LUCIANA PAIXÃO MACIEL MACHADO AVALIAÇÃO DA FOCALIZAÇÃO E DO IMPACTO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO BRASIL SOBRE INDICADORES SELECIONADOS FORTALEZA 2020 LUCIANA PAIXÃO MACIEL MACHADO AVALIAÇÃO DA FOCALIZAÇÃO E DO IMPACTO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO BRASIL SOBRE INDICADORES SELECIONADOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Economia Rural. Área de concentração: Políticas Públicas. Orientador: Prof. Vitor Hugo Miro Couto Silva. Coorientadores: Prof. Guilherme Diniz Irffi e Prof. Edward Martins Costa. FORTALEZA 2020 LUCIANA PAIXÃO MACIEL MACHADO AVALIAÇÃO DA FOCALIZAÇÃO E DO IMPACTO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO BRASIL SOBRE INDICADORES SELECIONADOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Economia Rural. Área de concentração: Políticas Públicas. Aprovada em: ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. Vitor Hugo Miro Couto Silva (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Guilherme Diniz Irffi Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Edward Martins Costa Universidade Estadual do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Bladimir Carrillo Bermúdez Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) AGRADECIMENTOS A Deus, por seu cuidado imensurável, por ter estado sempre ao meu lado, fortalecendo-me e guiando-me em todos os momentos de minha vida. À minha família, por ser meu porto seguro. À Capes, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio que foi de grande ajuda para a execução do curso. Ao professor Vitor Miro, por todo apoio, direcionamento, acompanhamento e generosidade como orientador deste trabalho e durante todo o período do curso de mestrado. Ao professor Guilherme Irffi, por todo incentivo e suporte dado para a realização de um curso de pós-graduação, por sua mentoria, empenho, ensinamentos e amizade durante todo o período acadêmico. Ao professor Edward Costa, por seus ensinamentos, dedicação, instruções e toda a assistência concedida. Ao professor Bladimir Carrillo, que aceitou fazer parte da banca, e contribuir de maneira proveitosa e significativa para finalização desta pesquisa. Aos demais professores do curso, por todos os ensinamentos concedidos. Aos meus queridos colegas de turma, por termos compartilhado juntos momentos difíceis e alegres que ficarão guardados na memória e no coração. RESUMO Entre 2013 e 2018, a razão de médicos por mil habitantes no Brasil saiu de aproximadamente 2,0 profissionais por mil habitantes para 2,18. Essa foi, até então, a maior taxa de médicos já registrada no país. O aumento observado foi devido ao Programa Mais Médicos, instituído pelo Governo, em julho de 2013, na tentativa de resolver a questão emergencial do atendimento básico e criar condições para a formação de novos médicos. No entanto, a melhoria dos números não garantiu a melhor distribuição desses profissionais nas regiões do país. Em virtude do que foi mencionado, esta pesquisa tem como objetivo examinar os impactos causados pelo Programa Mais Médicos (PMM) nos seus dois anos iniciais de atuação e realizar um estudo de foco para examinar se o Programa priorizou o envio de médicos a regiões de maior necessidade, em razão de sua finalidade. Os resultados obtidos na análise de focalização indicaram que o PMM acabou priorizando municípios com razões superiores a 1 médico do SUS por mil habitantes e com proporções comparativamente mais baixas de população em extrema pobreza. A análise de indicadores de impacto mostrou que o PMM não exerceu efeito sobre o percentual de internações da atenção básica e nem sobre a quantidade de consultas médicas realizadas no país. Palavras-chave: Programa Mais Médicos. Avaliação de Impacto. Focalização. Políticas Públicas. ABSTRACT Between 2013 and 2018, the ratio of doctors per thousand inhabitants in Brazil went from approximately 2.0 professionals per thousand inhabitants to 2.18. This was the highest rate of doctors so far, ever recorded in the country. The increase observed was due to the More Doctors Program, instituted by the Government in July 2013 in an attempt to resolve the emergency issue of basic care and create conditions for the training of new doctors. However, the improvement in numbers did not guarantee a better distribution of these professionals in the regions of the country. Within this scope, this research aimed to examine the impacts caused by the More Doctors Program in its initial two years of operation and to conduct a focus study to examine whether the Program prioritized the sending of doctors to regions of greatest need, as proposed. The results obtained in the focus analysis indicated that the PMM ended up prioritizing municipalities with ratios greater than 1 doctor from the SUS per thousand inhabitants and with comparatively lower proportions of the population in extreme poverty. The analysis of impact indicators showed that the PMM had no effect on the percentage of primary care admissions or on the number of medical consultations held in the country. Keywords: More Doctors Program. Impact Assessment. Focusing. Public policy LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Quantidade de médicos do PMM de acordo com o estado (2013 – 2016) ............. 33 Gráfico 2 - Distribuição de médicos do PMM por perfil de análise dos municípios ............... 35 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Programas anteriores ao Mais Médicos ................................................................. 17 Quadro 2 - Quantidade de médicos e municípios com PMM por região do país ..................... 34 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Descrição das variáveis................................................................................... 25 Tabela 2 - Perfil dos Municípios para indicação e seleção dos médicos participantes do Programa.......................................................................................................... 29 Tabela 3 - Municípios com piores resultados em percentuais de pobreza do Brasil....... 30 Tabela 4 - Relação dos DSEI que receberam PMM........................................................ 32 Tabela 5 - Efeito do PMM no modelo de efeitos fixos sobre o número de consultas médicas............................................................................................................. 37 Tabela 6 - Efeito do PMM no modelo efeitos fixos sobre o percentual de internações da Atenção Básica............................................................................................ 39 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABS Atenção Básica à Saúde ACS Agentes Comunitários de Saúde CFM Conselho Federal de Medicina CGU Controladoria Geral da União DSEI Distritos Sanitários Especiais IndígenasESF Estratégia de Saúde da Família e-Sic Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão FIES Fundo de Financiamento Estudantil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OPAS Organização Pan-Americana da Saúde PMM Programa Mais Médicos UBS Unidade Básica de Saúde UPA Unidade de Pronto Atendimento PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento PISUS Programa de Interiorização do Sistema Único de Saúde PITS Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde PROVAB Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde ABRASCO Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico SasiSUS Subsistema de Atenção à Saúde Indígena SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E O PROGRAMA MAIS MÉDICOS 16 3 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 21 4 METODOLOGIA................................................................................................... 25 4.1 Descrição da base de dados................................................................................... 25 4.2 Método de Diferenças em Diferenças Generalizado (GDD)............................... 26 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................ 29 5.1 Focalização do Programa...................................................................................... 29 5.2 Resultados Econométricos.................................................................................... 36 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 40 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 42 APÊNDICE A – RELAÇÃO DOS CEM MUNICÍPIOS BRASILEIROS COM OS MAIORES PERCENTUAIS DE POPULAÇÃO EM EXTREMA POBREZA, SEGUNDO MDS............................................................................... 47 APÊNDICE B – RELAÇÃO DOS CEM MUNICÍPIOS BRASILEIROS, CONTEMPLADOS PELO PMM, COM AS RAZÕES MAIS BAIXAS DE MÉDICOS DO SUS / MIL HABITANTES.......................................................... 50 APÊNDICE C – RELAÇÃO DOS CEM MUNICÍPIOS BRASILEIROS, CONTEMPLADOS PELO PMM, COM AS RAZÕES MAIS ALTAS DE MÉDICOS DO SUS / MIL HABITANTES.......................................................... 53 APÊNDICE D – RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE INTEGRAVAM O G100 NO ANO DE 2013 POR PERCENTUAL DE EXTREMA POBREZA.... 56 APÊNDICE E – RESULTADOS DOS TESTES DE TENDÊNCIAS PARALELAS.......................................................................................................... 59 APÊNDICE F – RESULTADOS DAS ESTIMAÇÕES DO MODELO POOLED PARA O BRASIL.................................................................................. 60 APÊNDICE G – RESULTADOS DAS ESTIMAÇÕES POR REGIÕES DO BRASIL.................................................................................................................... 62 13 1 INTRODUÇÃO A percepção da falta de médicos e a desigual distribuição desses profissionais, no Brasil, vem orientando o diagnóstico dos responsáveis pelas políticas de saúde segundo o qual existe a necessidade de uma política que possa atrair médicos para as regiões menos populosas do país. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), em outubro de 2012, o número de registros de médicos brasileiros em atividade correspondia a um total de 388.015, o que representava quase 2 (dois) profissionais por mil habitantes. Em 2018, o total de médicos em atividade no país chegou a 465.502 e, com isso, a razão de médicos por mil habitantes chegou a 2,18. No entanto, esse aumento não garantiu, necessariamente, uma melhor distribuição desses profissionais entre as regiões do país. Segundo Scheffer et al. (2018), há imensas desigualdades na distribuição dos médicos pelo território nacional. Enquanto em todo o país existem 2,18 médicos por mil habitantes, há capitais com mais de 12 médicos por mil habitantes, por exemplo, Vitória, no Espírito Santo. Em compensação, em regiões no interior do Nordeste os valores são inferiores a um médico por mil habitantes. Na Atenção Básica, o déficit crescente de médicos é reconhecido como o responsável pelo baixo crescimento da cobertura populacional da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e consequentes problemas quanto à sua qualidade e eficiência (BRASIL, 2015). Em função desses diagnósticos, o Governo Federal criou o Programa Mais Médicos (PMM) por meio de Medida Provisória, em julho de 2013, sendo convertida na Lei 12.871/2013, em outubro do mesmo ano. Os objetivos do Programa centram-se na resolução da questão emergencial do atendimento básico a partir da contratação de médicos, na criação de condições para a formação de novos médicos, por meio da abertura de vagas de graduação e residência médica, com o objetivo de atingir a marca 2,7 médicos por mil habitantes até o ano de 2026 (BRASIL, 2015). Adicionalmente, o Programa também tem como meta destinar maiores investimentos para construção, reforma e ampliação de Unidades Básicas de Saúde (UBS). O problema da concentração de médicos em cidades maiores (capitais e cidades mais populosas) se revela com a desassistência às cidades pequenas, áreas rurais, comunidades mais remotas e regiões mais pobres. Em geral, os segmentos mais pobres e desprotegidos das populações são os mais atingidos pela situação de insegurança assistencial em saúde, e muitas vezes, esse problema é somado a outros como insegurança pública, alimentar, econômica e 14 social, o que agrava a situação de privação essencial a que tais populações são submetidas (CAMPOS; MACHADO; GIRARDI, 2009). Para Unglert (1990), o acesso à saúde (usufruto dos serviços de saúde) envolve aspectos que extrapolam a assistência à saúde (conjunto organizado das ações e serviços oferecidos). Com respeito ao acesso à saúde atuam fatores socioeconômicos e culturais que interagem com aspectos intersetoriais ligados à própria estrutura política de cada país. Contudo, não se pode deixar de enfatizar que a acessibilidade dos serviços de saúde é um fator de fundamental importância para que a equidade do acesso aos serviços de saúde seja concretizada. Duarte e Barreto (2012) destacam a importância dos serviços de saúde na redução das taxas de mortalidade infantil, bem como na redução de mortalidade por doenças transmissíveis, infecciosas e parasitárias. Além disso, com o aumento da população idosa e as demandas crescentes de um envelhecimento saudável representam desafios importantes para o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. Bodstein (2002) ressalta que a avaliação de políticas públicas pode ser focada nos processos de mudanças e aferida a partir da mensuração dos resultados e impactos provocados por esses programas e políticas, e que adquire um papel imprescindível de crescente responsabilização do gestor público. Para isto, a análise do contexto de implantação e a execução do Programa se faz necessária para compreender e avaliar as mudanças em curso, bem como os resultados e impactos na saúde da população. Por todos esses aspectos, este estudo tem como objetivo avaliar e mensurar o impacto do PMM em relação ao eixo de Provimento Emergencial e seus potenciais resultados sobre diferentes indicadores de saúde, além de apresentar evidências a respeito da focalização do Programa. A ideia consiste em avaliar a focalização do Programa no atendimento a regiões prioritárias e estimar o impacto das medidas executadas pelo eixo de provisão emergencial sobre indicadores de saúde dos municípios brasileiros. Emsíntese, espera-se examinar se o Programa contribuiu para o fortalecimento da Atenção Básica no país. Para alcançar tais objetivos, adota-se o método de Diferenças em Diferenças que faz uso de dados em painel das unidades tratadas e não tratadas, a saber, os municípios brasileiros, com períodos de observação referentes ao antes e o depois da intervenção do Programa. O método calcula a diferença entre os períodos de tempo para cada unidade observada, e a diferença entre as unidades para cada período de tempo (PEIXOTO et al., 2008). Dessa forma, o presente estudo pretende contribuir com o escopo de pesquisas realizadas relacionadas ao PMM, ao analisar alguns indicadores relacionados ao Programa e se, de fato, houve benefícios para a saúde da população contemplada. 15 Com esse intuito, a pesquisa está organizada em seis seções, incluindo esta introdução. A próxima seção apresenta a contextualização histórica do PMM, ressaltando que em anos anteriores, outros programas já haviam sido implementados com propostas similares ao PMM. Na mesma seção, também sintetiza-se como o Programa é estruturado. A terceira seção contempla a revisão da literatura existente, com alguns trabalhos realizados sobre o assunto e suas principais contribuições. A quarta traz uma explanação da metodologia utilizada no estudo. A quinta seção apresenta os resultados obtidos. E, por fim, são tecidas as considerações finais. 16 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E O PROGRAMA MAIS MÉDICOS Ao final da década de 1970, diversos segmentos da sociedade civil1 iniciaram um movimento que lutou pela atenção à saúde como um direito de todos e um dever do Estado. O movimento ficou conhecido como Reforma Sanitária Brasileira e culminou na instituição do Sistema Único de Saúde, o SUS, por meio da Constituição de 1988 (PEREIRA; LIMA, 2008). Os termos “Atenção Primária” ou “Atenção Básica à Saúde” (ABS) incorporam os princípios da Reforma Sanitária como uma estratégia de organização da atenção à saúde voltada para a forma regionalizada, contínua e sistematizada, integrando ações preventivas e curativas, bem como a atenção a indivíduos e comunidades (PEREIRA; LIMA, 2008). Segundo dados do Relatório de 30 anos do SUS, elaborado pela Organização Pan- Americana da Saúde (OPAS), o principal mecanismo desenvolvido para induzir a expansão da cobertura da atenção primária e reorientar o modelo de atenção adotado para o SUS foi a criação do Programa Estratégia Saúde da Família (ESF). Desse modo, a baixa disponibilidade de profissionais médicos é vista como o principal fator limitante da expansão desse Programa. A ESF é composta por equipes de multiprofissionais. Cada equipe é composta por um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Existem também equipes com membros para cuidar da saúde bucal, como odontólogos, técnicos de higiene bucal e auxiliares de cirurgião-dentista (BRASIL, 2018). Com efeito, o Programa Mais Médicos surgiu com a missão de impulsionar o crescimento da ESF, diminuindo a carência dos médicos nas equipes, sobretudo em regiões mais vulneráveis tais como zonas rurais, populações quilombolas, municípios com elevado percentual da população em situação de pobreza, municípios distantes dos grandes centros e em Distritos Sanitários Especiais Indígenas – DSEI (BRASIL, 2018). Vale ressaltar que esse não é um problema recente e outros programas já foram realizados com o intuito de atrair e/ou fixar profissionais médicos em municípios mais vulneráveis. Podem ser citados o Projeto Rondon, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass), o Programa de Interiorização do Sistema Único de Saúde (Pisus), o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (Pits) e o Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (Provab). 1 Grupos formados por lideranças do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), profissionais da área de saúde incluindo médicos e agentes sanitários, estudantes universitários e pesquisadores da área (PAIVA; TEIXEIRA, 2014). 17 O Projeto Rondon, criado em 1968, possuía uma concepção de integração nacional. O Projeto contemplou, majoritariamente, municípios localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, voltando-se primordialmente para a extensão universitária, a integração nacional, o desenvolvimento e a interiorização (MACIEL; BRANCO, 2008). O Piass foi criado em 1976, com o objetivo de implantar uma estrutura básica de saúde pública em comunidades de até 20 mil habitantes das regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste do país. O Programa expandiu a rede ambulatorial e o trabalho de pessoal auxiliar, não a fixação de médicos e teve dificuldades para prestar serviços de qualidade na atenção à saúde. (MACIEL; BRANCO, 2008). Em 1993, foi a vez do Pisus, cujo objetivo era oferecer uma unidade de saúde e uma equipe mínima para cada município contemplado. As equipes mínimas eram formadas por um médico, um enfermeiro e um agente comunitário de saúde (GONÇALVES JUNIOR; GAVA; SILVA, 2017). O Pits, criado em 2001, tinha como objetivo atrair e fixar médicos e também enfermeiros, por meio de incentivos educacionais e econômicos, por exemplo, ofertando a especialização profissional em Saúde da Família e bolsas de estudos. Grande parte dos municípios atendidos tinha entre 10 e 20 mil habitantes e baixa densidade demográfica (MACIEL; BRANCO, 2008). O Provab, criado em 2011, e ainda vigente, busca estimular e valorizar o profissional de saúde que atua em equipes multiprofissionais no âmbito da ABS e da ESF. O intuito é levar esses profissionais para localidades com maior carência dos serviços de saúde. Conforme consta em Brasil (2015), o Provab inicialmente atraiu 380 médicos, após algumas mudanças, que incluíram a oferta de especialização e o pagamento de bolsa para os profissionais participantes, conseguiu a participação de mais de 3 mil médicos anualmente. O quadro 1 expõe de forma resumida informações importantes sobre os Programas mencionados. Quadro 1: Programas anteriores ao Mais Médicos Programa Ano de criação Objetivo Alguns dos resultados alcançados Legislação regulamentar Projeto Rondon 1968 Levar professores e estudantes universitários para atender comunidades carentes. Envolveu cerca de 350 mil universitários e 13 mil professores em todas as regiões do País. Foram realizados atendimentos médicos, odontológicos, vacinação e combate a endemias. Decreto nº 62.927, de 28 de junho de 1968 (Continua) 18 Quadro 1: Programas anteriores ao Mais Médicos (Conclusão) Programa Ano de criação Objetivo Alguns dos resultados alcançados Legislação regulamentar Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass) 1976 Implantar estrutura básica de saúde pública para atender comunidades de até 20 mil habitantes. Rede de serviços implantada e/ou incorporada com cerca de 60 Centros de Saúde e 200 Postos Decreto n° 78.307, de 24 de agosto de 1976 Programa de Interiorização do Sistema Único de Saúde (Pisus) 1993 Oferecer uma unidade de saúde e uma equipe mínima para cada município contemplado O Programa foi esquecido 11 meses após o seu anúncio de criação por conta da nova eleição presidencial. Criado pelo Departamento de Desenvolvimento, Controle e Avaliação dos Serviços de Saúde, da então Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (Pits) 2001 Estimular a ida de médicos e enfermeiros para os municípios mais carentes e distantes, por meio de incentivos financeiros e de formação profissional Contemploucerca de 300 municípios. Foram aplicados no primeiro ano R$ 36,1 milhões e alocados mais R$ 70 milhões no orçamento 2002/2003. Decreto n° 3.745, de 5 de fevereiro de 2001 Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (Provab) 2011 Programa de incentivo educacional e recrutamento de médicos, enfermeiros e odontólogos para atuarem em áreas vulneráveis. Conseguiu assegurar a participação de mais de 3 mil médicos anualmente. Portaria interministerial nº 2.087, de 1º de setembro de 2011 Fonte: Maciel e Branco (2008) e Escorel (1999). No final de 2011, antes da criação do PMM, o governo federal adotou algumas medidas preliminares. A primeira delas foi a regulamentação da Lei nº 12.202, de 14 de janeiro de 2010, em que o governo concedeu a possibilidade de um médico formado, com o apoio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), pudesse abater sua dívida em função do tempo de atuação nas equipes da Estratégia de Saúde da Família nas áreas com maior necessidade (BRASIL, 2015). A segunda, foi o lançamento do Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (Provab) que buscava incentivar os egressos de medicina a atuarem na Atenção Básica nas áreas com maior necessidade, oferecendo em troca estímulos como especialização e pontuação adicional válida em concursos de residência médica e bolsa de estudos paga pelo governo federal (BRASIL, 2015). 19 Essas ações contribuíram, mas não foram suficientes para solucionar o problema. Assim sendo, prefeitos eleitos nas eleições de 2012 encabeçaram um movimento intitulado “Cadê o médico?”, em que pressionaram o governo federal para que tomasse providências quanto a dificuldade de alocação de médicos enfrentada pelos municípios. Reforçando as tensões, movimentos sociais ganharam as ruas reivindicando, entre outras pautas, melhorias na qualidade dos serviços públicos de saúde. Visando atender às necessidades que orientaram sua criação, o PMM se estruturara em três eixos: i) Provimento emergencial; ii) Educação; e, iii) Infraestrutura. O eixo educação é fundamentado na concepção segundo a qual as escolas médicas do país formam um número bem menor de profissionais do que a quantidade demandada pelo mercado de trabalho. Além disso, as escolas concentram suas vagas de graduação e residência nas maiores e mais ricas cidades, capitais e nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Assim como faz com os cursos de graduação, o Programa aponta para a definição de onde e em qual especialidade serão abertas novas vagas de residência, independentemente se são custeadas pelos Ministérios da Saúde e da Educação ou por qualquer outra instituição. Até o fim de 2018, era meta do PMM estabelecer o mesmo número de vagas de residência médica de acesso direto que o número de egressos dos cursos de graduação em Medicina do ano anterior, e que, Medicina de Família seria a base da formação de todos os especialistas (BRASIL, 2015). As principais ações do PMM podem ser resumidas da seguinte forma: recrutamento de profissionais graduados no Brasil e fora do país, médicos brasileiros e estrangeiros; a abertura de novas vagas de graduação e residência médica, a reorientação da formação de médicos e especialistas conforme as necessidades do SUS; e, a criação de novas Unidades Básicas de Saúde (UBS), bem como a melhoria do funcionamento das UBS’s já existentes. Atualmente, segundo dados do governo federal2, o PMM conta com um total 18.240 médicos em 4.058 municípios de todo o país, cobrindo 73% das cidades brasileiras e 34 DSEIs. O governo assegura que, com esses números, o PMM promove assistência para aproximadamente 63 milhões de pessoas. Diante dessas informações, esta pesquisa busca investigar e analisar se o PMM alcançou resultados significativos em seu principal eixo de atuação (Provimento Emergencial) por meio da análise de importantes indicadores de saúde da população. Dessa maneira, averiguar se, de fato, houve impacto na atenção básica com a inserção desses novos médicos, 2 Dados disponíveis no site do Programa: www.maismedicos.gov.br 20 bem como se estes profissionais foram alocados em municípios de maior vulnerabilidade dos quais o Programa se propôs a priorizar. 21 3 REVISÃO DE LITERATURA Segundo Scheffer et al. (2018), na comparação com países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ainda possui uma das menores taxas de médicos por mil habitantes (2,18). Embora próximo à quantidade de países como Coreia do Sul (2,2), México (2,3) e Japão (2,4), encontra-se abaixo de países como Polônia (2,5), Canadá (2,7), Estados Unidos (2,7) e Reino Unido (2,8). Ao fazer uma análise da distribuição de médicos pelo território brasileiro, o estudo de Scheffer et al. (2018) apontou que entre todas as unidades da Federação, o Distrito Federal tem a razão mais alta, com 4,35 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro (3,55), depois São Paulo (2,81) e Rio Grande do Sul (2,56). Na outra ponta estão estados do Norte e Nordeste: o Maranhão, que mantém a menor razão entre as unidades, 0,87 médico por mil habitantes, em seguida, o Pará, com uma razão de 0,97. Na região Sudeste, onde moram 41,9% dos brasileiros, estão 54,1% dos médicos, ou seja, mais da metade dos profissionais de todo o país. Na região Norte ocorre o oposto, ali moram 8,6% da população brasileira e estão 4,6% dos médicos. No Nordeste, onde vivem 27,6% dos habitantes do país, estão 17,8% do conjunto de médicos (SCHEFFER et al. 2018). Segundo Araújo e Maeda (2013), para lidar com a escassez de profissionais de saúde em áreas de difícil acesso, como áreas rurais e remotas, é necessário que as intervenções sejam implementadas de forma combinada, em pacotes, de acordo com a variedade dos fatores que influenciam a decisão do profissional de saúde para trabalhar nessas áreas. Os autores salientam que o sucesso de qualquer estratégia de recrutamento e retenção da força de trabalho dependem da forma pela qual os postos rurais e remotos possam atrair os profissionais de saúde. Como estratégia de atração desses profissionais, o PMM oferta uma bolsa remunerada3; ajuda de custo para deslocamento para o município de atuação; auxílio moradia e alimentação; apoio clínico e pedagógico, com a presença de médicos tutores e supervisores; concessão de tempo para que se dediquem a atividades educacionais como projetos de extensão e pós-graduação; e a concessão de pontuação4 extra aos interessados em programas de residência médica. 3 De acordo com as informações disponíveis no site do Programa, atualmente o valor da bolsa é de R$11,8 mil. O valor da bolsa é ajustado anualmente. Os médicos recebem uma ajuda de custo inicial entre R$10 e R$30 mil para deslocamento para o município de atuação. 4 O PMM concede 10% de pontuação adicional nos exames de seleção dos Programas de Residência Médica para o médico que concluir o período mínimo exigido de permanência no Programa. 22 Reunindo características do Programa e por meio da coleta de dados de desempenho disponibilizados pelo Ministério da Saúde, Gonçalves Junior, Gava e Silva (2017) produziram uma análise qualitativa do PMM. Segundo os autores, os estudos consultados e os documentos disponibilizados demonstram um significativo sucesso no desempenho do Programa, uma melhora da qualidade no atendimento, aumento no acesso aos serviços de ABS e, ainda, a aprovação popular. Por sua vez, Girardi et al. (2016) analisaram o impacto do PMM na redução da escassez de médicos nos municípios brasileiros por meio do Índice de Escassez de Médicos na Atenção Primária à Saúde, no período de março de 2013 a setembrode 2015, antes e depois portanto da implantação do Programa. Segundo o estudo, ocorreu um substantivo aumento na oferta de médicos, o que contribuiu para redução do número de municípios com escassez desses profissionais de 1.200 para 777. Verificou-se ainda que em alguns municípios ocorreu redução na oferta regular de médicos, possivelmente, por substituição da oferta regular de médicos das prefeituras pelo provimento federal. Miranda et al. (2017) realizaram um estudo ecológico, descritivo, para analisar o PMM com base nas quantidades de ESF implantadas nos municípios do país nos anos de 2012 e 2015. O estudo relata que o número de ESF passou de 33.404, em 2012, para 40.162, em 2015 – representando um aumento de 16,2% de cobertura populacional, com maior cobertura na região Nordeste (80,6%) e menor no Sudeste (52,1%). Ainda observaram que a maior incorporação de equipes do PMM ocorreu nos municípios com menos de 100.000 habitantes, com 10.084 equipes, representando 63,7% do total. No entanto, a expansão de equipes do PMM, que representou a criação de novas equipes de atenção básica no país, foi maior nos municípios com mais de 200.000 habitantes. O estudo aponta que entre 2012 e 2015 as internações foram reduzidas em 9,1%. Santos, Costa e Girardi (2015) elaboraram um estudo documental e de campo com o intuito de verificar se o PMM seria uma ação efetiva para reduzir as iniquidades em saúde. Os pesquisadores entrevistaram 263 usuários do SUS que, conforme o estudo, relataram um alto grau de satisfação em relação ao tempo de espera para agendamentos e realização de consultas. Cerca de 57% dos entrevistados relataram não ter dificuldade de entender a fala do médico intercambista e 32% ter um pouco de dificuldade de compreensão. Os autores acreditam que o PMM é um programa bem fundamentado nas necessidades da população e concernente aos princípios constitucionais do SUS. Lima et al. (2016) analisaram a produção de consultas, encaminhamentos médicos e atendimentos a grupos de educação em saúde, com o enfoque no PMM. Os resultados obtidos 23 revelaram que nos municípios mais pobres, a produção e a produtividade de consultas médicas do PMM foram mais elevadas. E o volume de atividades educativas e procedimentos da equipe com Mais Médicos foi maior nas capitais brasileiras. Segundo os autores, o PMM foi bem- sucedido ao expandir o acesso aos serviços de saúde em regiões com maior vulnerabilidade social, contribuindo para a consolidação da atenção básica. Com o intuito de identificar os impactos causados pela implementação do PMM em um município do sertão central nordestino, Alencar et al. (2016) fizeram a análise de indicadores de saúde registrados no Sistema de Informação da Atenção Básica. Segundo os autores da pesquisa, a partir da implementação do PMM houve um aumento considerável no número de consultas e atendimentos realizados pelos médicos, com destaque para os atendimentos prestados aos pacientes portadores de tuberculose e hanseníase e impacto nas solicitações dos exames complementares que sofreu uma queda bastante considerável. Outro ponto identificado foi o aumento de visitas domiciliares. A fim de comparar o desempenho antes e depois de cidades beneficiárias e não- beneficiárias do PMM, Fontes, Conceição e Saraiva (2016) aplicaram o estimador de diferenças em diferenças conjugado com o pareamento por escore de propensão e observaram que para o primeiro grupo de tratamento houve uma queda relativa de 0,6 internações para cada mil habitantes já no primeiro ano do PMM. Os autores atentam que, do ponto de vista econômico, para um município na média da distribuição dos tratados em 2013, os resultados corroboram para uma diminuição de aproximadamente 14% ao longo de três anos nas internações evitáveis na atenção básica. Carrilho e Feres (2018) elaboram um estudo detalhado acerca do efeito do PMM sobre indicadores de saúde. Dentre os principais resultados, constataram que o PMM ocasionou um aumento médio de 18% na proporção de médicos e um aumento entre 5% e 8% no número de consultas. No entanto, o estudo não identificou uma melhora nos indicadores de saúde infantil como maior peso da criança ao nascer, redução do número de partos prematuros ou queda da mortalidade infantil. Os autores concluíram que o efeito da contratação de um médico é equivalente ao da contratação de um enfermeiro em termos de indicadores de qualidade de saúde de recém-nascidos. Ou seja, o resultado sugere que o PMM alcançou resultados positivos, mas a um custo relativamente elevado. Santos et al. (2019) elaboraram uma avaliação do PMM a partir de um trabalho de campo, realizado por uma equipe de multiprofissionais, em 32 municípios com 20% ou mais da população em extrema pobreza. O trabalho reforça a premissa segundo a qual o Programa teve uma contribuição ímpar em atrair e fixar médicos em áreas de difícil acesso. Em uma 24 avaliação quase-experimental verificou-se que a cobertura da atenção primária nos municípios inscritos aumentou de 77,9%, em 2012, para 86,3%, em 2015; as internações evitáveis nos 1.450 municípios inscritos diminuíram 44,9%, em 2012, para 41,2%, em 2015, permanecendo inalteradas nos 258 municípios controle. Os autores também enaltecem o trabalho realizado pelos médicos cubanos por deixar marcas fortes, resultantes de uma cultura médica distinta e necessária ao povo brasileiro. Amparados no modelo lógico, Moreira et al. (2017) apresentaram uma análise quantitativa de dados do PMM no Distrito Federal. Os pesquisadores não identificaram metas, atividades e produtos na construção do modelo lógico. A análise dos resultados do Programa no Distrito Federal sugere que houve aumento em 32% da cobertura populacional por equipes da atenção básica, aumento do número de médicos e equipes na Estratégia Saúde da Família, melhora da cobertura de pré-natal e de consultas aos maiores de 60 anos, além do aumento de visitas médicas domiciliares Almeida et al. (2016) produziram um estudo para mensurar o impacto do PMM sobre indicadores de saúde das populações localizadas em municípios com dificuldades de atração de médico. Os resultados estimados com a adoção da abordagem de pareamento e de diferenças em diferenças, mostraram que o Programa não teve um impacto estatisticamente significativo na redução da incidência de internações hospitalares por condições sensíveis a atenção básica, bem como sobre as enfermidades analisadas. 25 4 METODOLOGIA Este capítulo está dividido em duas seções. A primeira, discorre sobre a base de dados utilizada no estudo com o intuito de esclarecer como os dados foram obtidos e como foram selecionadas as variáveis para elaboração da análise. Na seção seguinte do capítulo, é explicado o método estatístico aplicado para a execução da avaliação de impacto. 4.1 Descrição da base de dados A relação dos municípios contemplados pelo Programa foi obtida por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-Sic). O documento fornecido pela Controladoria Geral da União (CGU) contém a relação dos municípios, o ano em que ocorreu a adesão ao Programa e a quantidade de médicos autorizada para cada um. O documento traz informações até o ano de 2016, contendo um total de 3.903 municípios contemplados pelo PMM e 34 DSEI, que estão inclusos nesses territórios. A contagem dos médicos resultou num total de 18.240 profissionais atuando no Programa. A análise do impacto do PMM será feita a partir do primeiro ano de sua implantação, 2013, até o ano de 2015. Como forma de identificar o perfil socioeconômico dos municípios e estabelecer controles para as estimações a serem realizadas, emprega-se um conjunto amplo de variáveis de resultados e covariáveis que estão expostas na Tabela 1. Tabela 1 - Descrição das variáveis Variável Descrição Fonte Resultado txmortinf Taxade mortalidade infantil. Tabnet / DataSus internacoes Percentual de internações por condições sensíveis à atenção básica em relação a quantidade total de internações clínicas. Tabnet / DataSus atendiprenatal Número de atendimentos de pré-natal. Tabnet / DataSus consultasmed Número de consultas médicas. Tabnet / DataSus quantvisitmedicas Quantidade de visitas realizadas por médicos em domicílios. Tabnet / DataSus ngestantes20anos Número de gestantes menores de 20 anos de idade. Tabnet / DataSus Controle hospitais Número de hospitais (Geral). Tabnet / DataSus policlínicas Número de policlínicas. Tabnet / DataSus (Continua) 26 Tabela 1 - Descrição das variáveis (Conclusão) Fonte: Elaboração própria. 4.2 Método de Diferenças em Diferenças Generalizado (GDD) Com o intuito de verificar se o Programa está alcançando os objetivos, ou os impactos esperados, ou seja, melhorar a qualidade do atendimento prestado pelo SUS à população, será utilizado o método de Diferenças em Diferenças Generalizado (GDD) que se trata de uma adequação do método de Diferença em Diferença (DD) para quando tratamos de diferenças adicionadas no tempo. Conforme consta em Peixoto et al. (2008), o método de DD é baseado no cálculo de uma dupla subtração: a primeira se refere à diferença das médias da variável de resultado entre os períodos anterior e posterior ao Programa, para cada grupo, o de tratamento e o de controle, e a segunda se refere à diferença da primeira diferença calculada entre esses dois grupos. Denotando por 𝑇 = {1,0} a participação ou não do Programa e por 𝑡 = {1,0} os períodos posterior e anterior à intervenção, respectivamente, o estimador de DD será dado por: 𝛽𝐷𝐷 = {𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 1] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 0]} − {𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 1] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 0]} Ou, de maneira equivalente: 𝛽𝐷𝐷 = {𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 1] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 1]} − {𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 0] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 0]} O método DD possui uma série de vantagens relativamente a outros métodos não- experimentais. Em particular, ele é capaz de lidar com o viés de seleção associado a certo tipo de características não observáveis dos indivíduos, especificamente àquelas que são invariantes no tempo. A principal hipótese do método é que a trajetória temporal da variável de resultado para o grupo de controle represente o que ocorreria com o grupo tratado caso não houvesse a Variável Descrição Fonte Controle postossaude Número de postos de saúde. Tabnet / DataSus nequipessaudefam Número de ESF. e-Gestor Atenção Básica famacomppsf Número de famílias acompanhadas pelo PSF. Siab / DataSus fambenefb Número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Vis Data / MDS pib Produto Interno Bruto. IBGE Pibpc Produto Interno Bruto per capita. IBGE 27 intervenção. A ideia básica é que se as trajetórias se assemelham durante o período antes do Programa, então parece coerente supor que a evolução do grupo de controle após o Programa represente bem o que ocorreria com o grupo de tratados na situação de não tratamento (PEIXOTO et al., 2008). O método de Diferenças em Diferenças Generalizado (DDG)5 é utilizado quando existe, no mínimo, uma diferença de tempo a mais, bem como a existência de um hiato nos resultados nos grupos de tratamento e controle no período de pré-tratamento, sendo que essa diferença ainda possa persistir no período pós-tratamento (LEE, 2016). Nesse caso, a especificação do modelo será feita da seguinte forma: 𝑌𝑖𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1𝑇𝑟𝑎𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑖𝑥𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑡 + 𝛼𝑖 + 𝛿𝑡 + 𝜇𝑖𝑡 (1) Em que o subscrito i representa os municípios e t o tempo (t=2010, 2011, ..., 2015). O coeficiente 𝛼𝑖 é o controle de efeitos fixos dos municípios, enquanto 𝛿𝑡 são os coeficientes que representam os efeitos fixos de tempo e 𝜇𝑖𝑡 é o termo de erro. O coeficiente 𝛽1 o efeito direto do PMM sobre as variáveis de resultado. Além disso, o vetor de características dos municípios 𝑋𝑖𝑡 é incluído na equação (1). Portanto: 𝑌𝑖𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1𝑇𝑟𝑎𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑖𝑥𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑡 + 𝛽2𝑋𝑖𝑡 + 𝛼𝑖 + 𝛿𝑡 + 𝜇𝑖𝑡 (2) Um ponto a destacar é que os efeitos de grupo e as tendências de tempo decorrem de diferenças subjacentes nas covariáveis não medidas entre grupos e períodos. A suposição central no DD generalizado é que quaisquer determinantes não medidos dos resultados são invariantes no tempo ou invariantes no grupo (WING; SIMON; BELLO-GOMEZ, 2018). Tanto o método DD simples quanto o generalizado se baseiam na suposição segundo a qual variações importantes não medidas são atributos de grupo e invariantes no tempo ou fatores variáveis no tempo e invariantes de grupo. Juntas, essas restrições implicam que as séries temporais de resultados em cada grupo devem diferir por um valor fixo em cada período e devem exibir um conjunto comum de alterações específicas do período. Em termos gerais, o gráfico da série temporal de cada grupo (tratamento e controle) deve se parecer com um conjunto de linhas paralelas (WING; SIMON; BELLO-GOMEZ, 2018). Sendo assim, a hipótese de tendências paralelas será testada a partir da análise gráfica do período anterior à implantação do Programa. O objetivo será verificar se ocorrem mudanças na tendência da variável de resultado nos grupos de controle e de tratados. Caso esta variável se mova em tendência paralela nestes grupos, então se pode inferir que estas deverão 5 O Método de Diferenças em Diferenças Generalizado tem sido bastante utilizado na literatura como pode ser visto em Cordeiro Guerra e Lastra-Anadón (2018); Pereira (2019) e Graff e Pirog (2019). 28 continuar a se mover em tendências paralelas após a implementação do Programa. Se as tendências das variáveis de resultado forem diferentes, o efeito estimado do tratamento obtido pelo método DDG será considerado inválido ou enviesado (GERTLER et al., 2018). 29 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Este capítulo visa identificar a eficiência do Programa Mais Médicos quanto a escolha de seus municípios, dado que o Programa elenca algumas características que colocam certos municípios numa determinada linha de prioridade. A análise de focalização tem por objetivo verificar se os municípios que receberam o Programa eram prioridade em vista dos municípios que não receberam. Na seção seguinte do capítulo, são expostos os resultados estatísticos, bem como a análise dos valores resultantes dessas estimações. 5.1 Focalização do Programa O PMM estabelece regiões ditas prioritárias como critério para a seleção dos municípios contemplados, segundo a Portaria Interministerial de n° 1.369, de 8 de julho de 2013, esses critérios são descritos da seguinte forma: a) ter o Município 20% (vinte por cento) ou mais da população vivendo em extrema pobreza, com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Até abril de 2014, a situação de extrema pobreza implicava estar numa faixa de renda per capita menor e/ou igual a 70 reais; b) estar entre os 100 (cem) municípios com mais de 80.000 (oitenta mil) habitantes, com os mais baixos níveis de receita pública per capita e alta vulnerabilidade social de seus habitantes (G100) ; c) estar situado em área de atuação de Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/SESAI/MS), órgão integrante da Estrutura Regimental do Ministério da Saúde; ou, d) estar nas áreas referentes aos 40% (quarenta por cento) dos setores censitários com os maiores percentuais de população em extrema pobreza dos municípios. A partir desses critérios, o Programa constrói uma lista de 6 (seis) perfis, os quais estão descritos na Tabela 2. Tabela 2 - Perfil dos municípios para indicação e seleção dos médicosparticipantes do Programa Perfil Descrição 1 Áreas referentes aos 40% dos setores censitários com os maiores percentuais de população em extrema pobreza das capitais, conforme IBGE; 2 Áreas referentes aos 40% dos setores censitários com os maiores percentuais de população em extrema pobreza dos Municípios situados em região metropolitana, conforme IBGE; (Continua) 30 Tabela 2 - Perfil dos municípios para indicação e seleção dos médicos participantes do Programa (Conclusão) Fonte: Elaboração própria. A análise de focalização do PMM é realizada com base nos dados fornecidos pelo Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-Sic), em que são listados os municípios que receberam o Programa desde o primeiro ano de suas atividades (2013) até o ano de 2016. O Brasil possui atualmente 5.570 municípios. Em 2012, eram 5.565. Segundo dados do e-Sic, o Programa Mais Médicos está presente em 3.903 municípios, o que representa aproximadamente 70% dos municípios do país. De acordo com os dados do Ministério da Cidadania (MDS), em janeiro de 2013, 3.433 municípios brasileiros possuíam 20% ou mais de sua população vivendo em situação de extrema pobreza, ou seja, aproximadamente 62% dos municípios brasileiros se encaixavam no perfil de prioridade para aquisição do PMM. Dentro deste perfil, até 2016, 17% dos municípios brasileiros ainda não haviam sido contemplados pelo Programa. Entre os dez municípios que apresentavam os piores resultados em percentuais de pobreza do país, conforme consta na Tabela 3, quatro deles permaneciam sem PMM até 2016. Todos apresentando índices menores que um médico por mil habitante e todos situados no estado do Maranhão. Tabela 3 - Municípios com piores resultados em percentuais de pobreza do Brasil UF Município Base Perc. Pop. Ext. Pob. Méd/milHab do SUS Presença do PMM MA Brejo de Areia 100* 1,089087 Sim PI Sebastião Barros 100* 0,285796 Sim MA Junco do Maranhão 100* 0,273748 Sim MA Cachoeira Grande 98 0,229938 Não MA Paulino Neves 92 0,328213 Não (Continua) 6 Os municípios que fazem parte do G100 são selecionados pela receita corrente per capita. Perfil Descrição 3 Áreas referentes aos 40% dos setores censitários com os maiores percentuais de população em extrema pobreza dos Municípios que estão entre os 100 Municípios com mais de 80.000 habitantes, com os mais baixos níveis de receita pública "per capita" e alta vulnerabilidade social de seus habitantes (G100)6; 4 Município com 20% ou mais da população vivendo em extrema pobreza, com base nos dados do MDS; 5 Município que está situado em área de atuação de Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/SESAI/MS) 6 Áreas referentes aos 40% dos setores censitários com os maiores percentuais de população em extrema pobreza dos demais Municípios, conforme IBGE. 31 Tabela 3 - Municípios com piores resultados em percentuais de pobreza do Brasil (Conclusão) UF Município Base Perc. Pop. Ext. Pob. Méd/milHab do SUS Presença do PMM MA Senador La Rocque 91 0,419141 Não MA Porto Rico do Maranhão 91 0,504796 Sim PI Morro Cabeça no Tempo 89 0,734934 Sim PE Terezinha 88 0,429123 Sim MA Belágua 88 0,422238 Não Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo MDS. Nota: Os percentuais foram calculados com base na estimativa da população feita pelo IBGE para o ano de 2013. Com asterisco (*) estão os valores que, no cálculo, ultrapassaram 100%. Ampliando a análise para os cem municípios com os piores resultados em percentuais de extrema pobreza, é possível encontrar 28 deles sem a presença do PMM e todos com índices superiores à 75% de sua população vivendo extrema pobreza e, em sua grande maioria, com menos de um médico por mil habitantes. A tabela contendo essas informações encontra-se no apêndice A desta pesquisa. Dos municípios contemplados pelo Programa, 45% apresentavam 20% ou mais da população em extrema pobreza. São Paulo foi o município que recebeu a maior quantidade de médicos do Programa, que apresentava aproximadamente 7% de sua população em situação de extrema pobreza. Em segundo lugar, Fortaleza, com aproximadamente 22% da população em extrema pobreza, terceiro, o Rio de Janeiro com 10%, quarto, Salvador com 20% e, quinto, Brasília com 9%. É válido ressaltar que, apesar do município de São Paulo ter apresentado menores valores em termos relativos de extrema pobreza, em termos absolutos, o município apresentava o número mais elevado de pessoas que viviam nessa situação. De modo semelhante, o município do Rio de Janeiro. No entanto, também vale destacar que, em 2013, São Paulo apresentava uma proporção de 4,48 médicos para cada mil habitantes e o Rio de Janeiro 6,18, sendo assim, bem acima da média nacional de 2,0 (SCHEFFER et al., 2013). Nesse sentido, levando em consideração a relação existente entre a quantidade de médicos do SUS para cada mil habitantes, é possível perceber que os cem municípios com as razões mais baixas de médicos do SUS / mil habitantes receberam menos de dez médicos do PMM em seus territórios. Por outro lado, dos cem municípios com as razões mais altas do país (todos acima de 2,4 médicos do SUS / mil habitantes), quase metade deles recebeu mais de dez médicos do PMM em seus territórios (tabelas disponíveis nos apêndices B e C). Dos vinte e quatro municípios contemplados que chegaram a receber mais de 50 médicos do Programa, dez tinham o perfil de 20% ou mais da população em extrema pobreza. 32 E dos municípios que receberam apenas um médico do PMM, 86% contavam com uma razão inferior a 1 médico do SUS por mil habitantes. O estado em que mais se observou o envio de apenas um médico foi o de Minas Gerais que, apesar de ser o terceiro da lista dos estados que mais recebeu médicos, em 224 municípios apenas um profissional do PMM foi enviado. No grupo do G100, apenas três municípios não receberam o PMM, São Lourenço da Mata – PE com aproximadamente 42% da população em extrema pobreza, Itabaiana - SE com 39% e Ibirité – MG com 15%. Segundo os dados do MDS, 70% dos municípios do G100 tinham 20% ou mais da população em extrema pobreza e, em sua maioria, contando com menos de 1 médico do SUS / mil habitantes. 80% desses municípios receberam mais de dez médicos do PMM, no topo da lista aparece o município de Salvador, que recebeu 140 profissionais (tabela disponível no apêndice D). Segundo os dados divulgados pelo Programa, os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas do Brasil receberam médicos do PMM. O DSEI é a unidade gestora descentralizada do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) que contempla um conjunto de atividades técnicas para a promoção e reordenação da rede de saúde e das práticas sanitárias (BRASIL, 2019). Até 2016, 372 vagas haviam sido autorizadas para que médicos do Programa atuassem nessas áreas. O DSEI que mais recebeu médicos do Programa foi o de Alto Solimões, situado no município de Tabatinga – AM, com um total de 30 profissionais. Em seguida o DSEI do Maranhão, situado em São Luís – MA, com 21 médicos, e o DSEI da Bahia, situado em Salvador – BA, com 20 médicos. A tabela 4 traz a relação dos DSEI por percentual de população em extrema pobreza, de acordo com o município ao qual pertence. Tabela 4 – Relação dos DSEI que receberam PMM UF Município Perc. Pop. Ext. Pob. Méd/milHab. DSEI Nº médicos PMM RR Mucajaí 64 0,13 DSEI Yanomami 16 AM Lábrea 61 0,26 DSEI Médio Purus 7 AC Cruzeiro do Sul 54 1,03 DSEI Alto Juruá 13 AM Tefé 53 0,51 DSEI Médio Solimões 12 AM São Gabriel da Cachoeira 49 0,60 DSEI Alto Rio Negro 18 PA Itaituba 47 0,23 DSEI Tapajós 11 AM Atalaia do Norte 46 0,35 DSEI Javari 6 AM Parintins 46 0,39 DSEI Parintins 13 AM Tabatinga 33 0,48 DSEI Alto Solimões 30 MA São Luís 30 1,52 DSEI Maranhão 21 RR Boa Vista 27 1,73 DSEI Leste RR19 (Continua) 33 Tabela 4 – Relação dos DSEI que receberam PMM (Conclusão) UF Município Perc. Pop. Ext. Pob. Méd/milHab. DSEI Nº médicos PMM PA Altamira 26 0,91 DSEI Altamira 5 PB João Pessoa 25 2,75 DSEI Potiguara 7 AL Maceió 24 1,97 DSEI Alagoas e Sergipe 7 PE Recife 24 3,4 DSEI Pernambuco 14 AP Macapá 23 1,19 DSEI Amapá/Norte Para 9 CE Fortaleza 22 2,02 DSEI Ceará 6 PA Redenção 22 0,63 DSEI Kaiapó do Para 6 PA Belém 22 1,90 DSEI Guama Tocantins 9 AC Rio Branco 21 1,66 DSEI Alto Rio Purus 10 AM Manaus 21 1,36 DSEI Manaus 13 BA Salvador 20 2,29 DSEI Bahia 20 MT São Félix do Araguaia 20 0,27 DSEI Araguaia 5 RO Porto Velho 19 1,88 DSEI Porto Velho 11 MT Barra do Garças 17 1,49 DSEI Xavante 10 MT Canarana 16 0,66 DSEI Xingu 6 RO Cacoal 14 2,21 DSEI Vilhena 4 MG Governador Valadares 13 1,75 DSEI Minas Gerais e Espirito Santo 6 TO Palmas 10 2,13 DSEI Tocantins 10 MT Cuiabá 7 2,93 DSEI Cuiabá 11 MS Campo Grande 7 2,64 DSEI Mato Grosso do Sul 11 MT Colíder 6 1,55 DSEI Kaiapó Mato Grosso 4 PR Curitiba 4 3,67 DSEI Litoral Sul 7 SC Florianópolis 3 4,46 DSEI Interior Sul 15 Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo e-Sic. Nota: Os percentuais foram calculados com base na estimativa da população feita pelo IBGE para o ano de 2013. O gráfico 1 exibe como ocorreu a distribuição do número de médicos do PMM de acordo com cada estado brasileiro. Gráfico 1- Quantidade de médicos do PMM de acordo com o estado (2013 – 2016) Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo e-Sic. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 S P B A M G C E R S P R P E P A M A R J G O S C A M E S P B P I R O R N M T A L M S S E R R A C T O D F A P 34 Segundo dados do Censo 2010, o estado de São Paulo apresentava uma das menores percentagens de população em extrema pobreza do país (1,16%), perdendo apenas para o estado de Santa Catarina (1,01%). No entanto, como mostra o gráfico 1, São Paulo recebeu a maior quantidade de médicos do PMM. Os estados de Minas Gerais (3,49% de extrema pobreza), Rio Grande do Sul (1,98%) e Paraná (1,96%) apresentavam proporções abaixo da média nacional de população em extrema pobreza (6,62%), entretanto, receberam mais médicos que estados como Maranhão (o pior percentual de extrema pobreza do país, 22,47%), Acre (15,6%), Roraima (15,66%) e Alagoas (16,66%). Do mesmo modo, ao se analisar pela quantidade de médicos do SUS, o estado de São Paulo apresentava a maior quantidade de médicos que atuavam no país, aproximadamente, 28,78%. Minas Gerais se encaixava em terceiro lugar com aproximadamente 11% dos médicos do SUS, Rio Grande do Sul contava com 6,71% e Paraná com 5,4%. No outro extremo, Roraima apresentava o pior percentual com aproximadamente 0,18% da quantidade de médicos que atuavam no SUS. O estado do Amapá que, de acordo com o gráfico 1, foi o que menos recebeu médicos do Programa, contava apenas com 0,20% da quantidade de médicos. O quadro 2 exibe a quantidade de municípios contemplados pelo Programa de acordo com cada região e o número de médicos disponibilizados pelo PMM. Quadro 2 - Quantidade de médicos e municípios com PMM por região do país Região Número de municípios com PMM Número de médicos autorizados Nordeste 1.349 6.333 Sudeste 965 5.220 Sul 895 2.913 Norte 373 2.118 Centro-Oeste 321 1.284 Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo e-Sic. Em termos regionais, como mostra o quadro 2, o Nordeste é a região que apresenta o maior número de municípios contemplados pelo PMM. Segundo os dados divulgados, 1.349 municípios do Nordeste receberam médicos do Programa. Em segundo lugar, a região Sudeste, com 965 municípios aderidos, e, na sequência, Sul (895 municípios), Norte (373 municípios) e Centro-Oeste (321 municípios). Em se tratando da quantidade de médicos, o Nordeste também foi a região que mais recebeu profissionais do PMM. Ao todo, até 2016, foram enviados para essa região 6.333 médicos, seguido pela região Sudeste (5.220 médicos), terceiro, a região Sul (2.913 médicos), quarto, região Norte, (2.118 médicos) e quinto, o Centro-Oeste (1.284 médicos). 35 Como esperado, a região Nordeste recebeu prioridade por parte do PMM. Os dados divulgados pelo MDS revelam que a região Nordeste possuía a pior proporção de pessoas que viviam em situação de extrema pobreza, comparativamente às outras regiões do país. Aproximadamente, 42% da população nordestina estava em situação de extrema pobreza. A região Norte possuía o segundo pior percentual, com aproximadamente 35%. Em seguida, estava o Centro-Oeste (14%), depois o Sudeste (12%) e, por último, o Sul (10%). Contudo, o PMM não atendeu as expectativas em promover prioridade na escolha das regiões Norte e Centro-Oeste. Como se pode observar, as regiões Sudeste e Sul acabaram sendo prioridades para o Programa. De um modo geral, o PMM alcançou um total de 70% dos municípios brasileiros. 45% destes municípios dentro do perfil de possuir mais de 20% da população em situação de extrema pobreza, 97% dos municípios que participam do G100 e 100% dos DSEI. É notória a presença do Programa nos municípios que concentram os maiores números em termos absolutos de pessoas vivendo em extrema pobreza como São Paulo - SP, Rio de Janeiro - RJ, Brasília - DF, Belo Horizonte - MG e São Gonçalo – RJ. Contanto, é válido ressaltar que a proposta do PMM versa sobre termos relativos de extrema pobreza, e que o objetivo principal do Programa é levar médicos para regiões mais carentes desses profissionais, de difícil acesso, o que não foi observado quando examinados os municípios que mais receberam médicos. O gráfico 2 ilustra como estão distribuídos os médicos do PMM de acordo com os perfis analisados. Gráfico 2 - Distribuição de médicos do PMM por perfil de análise dos municípios Fonte: Elaboração própria com base nos dados fornecidos pelo e-Sic. 48% 2% 11% 39% 20% Pop. Ext. Pob DSEI G100 Demais mun. 36 Como observado no gráfico, 2,39% dos médicos disponibilizados pelo Programa foram alocados em municípios que não possuíam 20% ou mais de sua população em situação de extrema pobreza, de acordo com os dados do MDS. Esses municípios também não faziam parte do grupo do G100 ou dos DSEI. Se a análise for realizada com base nos dados do IBGE para o Censo de 2010, é possível observar que os municípios com percentuais de 20% ou mais da população em extrema pobreza receberam, aproximadamente, 21% dos médicos que foram disponibilizados pelo PMM, ou seja, apenas 21% dos médicos do Programa foram enviados para as áreas que possuíam os maiores percentuais de extrema pobreza do país e, certamente, as maiores necessidades. A proposta de levar médicos para regiões mais vulneráveis e mais carentes desses profissionais acabou não correspondendo com as expectativas esperadas. O PMM priorizou o envio de médicos para grandes municípios, que já possuíam razões superiores a 1 médico do SUS por mil habitantes, e com proporções comparativamente mais baixas de população em extrema pobreza. Os resultados encontrados estão em consonância com os achados no estudo de Santos (2018), que identificou que municípios com perfil de extrema pobreza, apesar de serem prioridade, tinham menos chances de participar do PMM. No entanto, conclusões diferentes foram encontradas em Ribas (2016) e Gonçalves Junior, Gava e Silva (2017), que enquadram o Programa como uma política bem-sucedida em áreas prioritárias. 5.2 Resultados Econométricos Conforme descrito na metodologia, foi aplicado o método DDG para as estimações de impacto do eixo de Provimento Emergencial do PMM sobre um conjunto de indicadores selecionados. A análise considerou apenas os resultados relativos às variáveis que passaram no teste de tendências paralelas, nesse caso, apenas os efeitos sobrea quantidade de consultas médicas e internações. As demais variáveis de impacto foram desconsideradas por violarem as exigências requeridas pelo método DD, como explicado anteriormente. Os resultados dos testes de tendências paralelas podem ser consultados no Apêndice E. Aproveitando a estrutura longitudinal dos dados, o modelo foi estimado sob diferentes versões entre modelos de efeitos fixos, efeitos aleatórios e pooled7. Os resultados do 7 Considerando as estimações realizadas para diferentes especificações foram realizados os tradicionais testes: teste de Hausman, teste de multiplicador de Lagrange de Breusch e Pagan, e o teste de Chow. Os resultados indicam 37 modelo pooled poderão ser consultados no Apêndice F desta dissertação. Como critério para inferência dos resultados, foi adotado o nível de significância de 5%. O modelo pooled foi estimado com uma versão incluindo uma variável de exposição ao tratamento. O objetivo foi verificar se o tempo de vigência do Programa em cada município exerce efeitos significativos sobre as variáveis de resultado consideradas no presente estudo. Também foram realizadas estimações a níveis regionais com o intuito de capturar um efeito mais específico do Programa sobre as diferentes regiões do Brasil. Os resultados das estimações por regiões poderão ser consultados nas tabelas do Apêndice G. Definido o tipo de modelo, foram estimadas diferentes especificações diferenciadas pelo conjunto de variáveis de controle. O objetivo foi de analisar como cada grupo de variáveis de controle se adequava e impactava na estimativa do efeito do PMM sobre os indicadores de resultado. A primeira versão utilizada foi a de captar o efeito do PMM sobre os indicadores de resultado sem o uso de variáveis de controle. Em seguida, as estimações foram realizadas inserindo os grupos de variáveis de controle que foram organizados da seguinte maneira: a) oferta de infraestrutura e serviços de saúde (quantidade de hospitais, policlínicas, postos de saúde, equipes de saúde da família e famílias acompanhadas pelo PSF); e b) indicadores socioeconômicos dos municípios (famílias beneficiadas pelo bolsa família, PIB e PIB per capita). O uso das variáveis de controle mencionadas acima tem o intuito de adequar o modelo, incorporando informações de variáveis que podem exercer influência sobre os resultados analisados. Ao incluí-las no modelo podemos estimar um efeito mais fidedigno do PMM sobre os indicadores de resultado em questão. As estimações referentes ao número de consultas médicas no modelo de efeitos fixos indicaram que o PMM não obteve efeito estatisticamente significante sobre o indicador, conforme pode ser visto na Tabela 5. Tabela 5 - Efeito do PMM no modelo de efeitos fixos sobre o número de consultas médicas CONSULTAS Covariáveis Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. tratamxdepois 2057.510*** 5088.555 5321.062 1626.360* 5057.121 4272.206 (728.902) (3397.104) (3493.402) (901.637) (7598.542) (7807.713) (Continua) que o modelo de efeitos fixos é adequado para quase todos os indicadores de resultados, a exceção é o número de internações. 38 Tabela 5 - Efeito do PMM no modelo de efeitos fixos sobre o número de consultas médicas (Conclusão) CONSULTAS Covariáveis Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. hospitais -10605.312 -269.092 -10486.571 -162.236 (9438.718) (7715.847) (9347.406) (7686.951) policlinicas -156.927 -201.577 -172.243 -205.191 (642.370) (494.694) (643.386) (493.737) postossaude -1090.349 -1024.509 -1169.793 -1129.444 (853.716) (962.756) (845.962) (975.424) nequipessaudefam 1210.145*** -30.411 1203.539*** -36.033 (400.272) (331.908) (401.846) (332.381) famacomppsf 1.527*** 1.407*** 1.526*** 1.406*** (0.516) (0.527) (0.514) (0.524) fambenefb -0.555 -0.555 (1.113) (1.116) pib 0.000 0.000 (0.000) (0.000) pibpc -0.316 -0.304 (0.378) (0.396) Intercepto 23188.552*** 54441.783* 32559.311 23184.643*** 58337.841* 37023.486 (85.648) (30893.029) (23705.244) (487.713) (31459.610) (24561.651) Número de obs. 31327 2842 2842 31327 2842 2842 Modelos Ef. Fixo 1 Ef. Fixo 2 Ef. Fixo 3 Ef. Fixo Tempo 1 Ef. Fixo Tempo 2 Ef. Fixo Tempo 3 Fonte: elaboração própria de acordo com os dados obtidos via estimação. Erros padrão entre parênteses. * p < 0.1, ** p < 0.05, *** p < 0.01 Esperava-se um efeito positivo do PMM sobre o número de consultas realizadas, em função do aumento na quantidade de médicos atuando pelo Programa. No entanto, o resultado não mostra um efeito estatisticamente significante, diferente dos resultados obtidos por Alencar et al. (2016) e Carrilho e Feres (2018), que constataram um aumento no número de consultas em decorrência do PMM. A nível regional, as estimações mostraram um aumento de aproximadamente 24.465,74 no número de consultas médicas realizadas na região Sudeste. O efeito deixou de mostrar significância estatística quando inserido o grupo de variáveis relacionadas aos fatores socioeconômicos. Na região Norte o efeito estimado foi contrário ao esperado, de forma que o PMM teria o efeito de reduzir a quantidade média de consultas. Nas regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste o PMM não exibiu efeito sobre o indicador. Os resultados podem ser verificados no Apêndice G. Considerando o resultado referente às internações do SUS e a estimação do modelo de efeitos fixos, o coeficiente estimado não indica um efeito do Programa. O resultado corrobora com os encontrados em Almeida et al. (2016), que também não constatou efeito do Programa sobre o indicador. Os resultados da estimativa estão expostos na Tabela 6. 39 Tabela 6 - Efeito do PMM no modelo de efeitos fixos sobre o percentual de internações da Atenção Básica INTERNAÇÕES Covariáveis Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. Coef. tratamxdepois -1.145*** -1.420*** -1.061*** -0.231 -0.111 -0.132 (0.109) (0.244) (0.245) (0.195) (0.464) (0.467) hospitais 0.394 0.503** 0.197 0.311 (0.252) (0.225) (0.225) (0.213) policlinicas -0.033* -0.023 0.017 0.015 (0.018) (0.015) (0.015) (0.013) postossaude 0.141** 0.119** 0.045 0.050 (0.059) (0.057) (0.059) (0.058) nequipessaudefam -0.020** -0.038*** -0.003 -0.020** (0.009) (0.013) (0.010) (0.008) famacomppsf 0.000 0.000 0.000 0.000 (0.000) (0.000) (0.000) (0.000) fambenefb -0.000** -0.000 (0.000) (0.000) pib 0.000*** 0.000** (0.000) (0.000) pibpc -0.000*** -0.000 (0.000) (0.000) Intercepto 34.231*** 31.720*** 34.387*** 36.745*** 34.570*** 34.615*** (0.013) (0.834) (0.992) (0.089) (0.828) (0.830) Numero de obs. 33402 2851 2851 33402 2851 2851 Modelos Ef. Fixo 1 Ef. Fixo 2 Ef. Fixo 3 Ef. Fixo Tempo 1 Ef. Fixo Tempo 2 Ef. Fixo Tempo 3 Fonte: elaboração própria de acordo com os dados obtidos via estimação. Erros padrão entre parênteses. * p < 0.1, ** p < 0.05, *** p < 0.01 Em termos regionais, a região Nordeste exibiu efeito do Programa em reduzir o percentual de internações apenas quando a estimação foi realizada sem os grupos de variáveis de controle (redução de, em média, 1,01). Não foi observado efeito do PMM sobre o percentual de internações nas demais regiões do país. Os resultados podem ser verificados no Apêndice G. Os resultados encontrados em relação às internações não corroboraram com os achados em Miranda et al. (2017) e Fontes, Conceição e Saraiva (2016), que apontaram efeito do PMM na redução da quantidade de internações da atenção básica. A nível regional, também não foi identificado impacto do Programa sobre este indicador. Uma única exceção foi o efeito estimado para a região Nordeste, mas na especificação sem as variáveis de controle. 40 6 CONSIDERAÇÕESFINAIS Esta Dissertação teve como objetivo examinar os impactos causados pelo Programa Mais Médicos na Atenção Primária, a partir do eixo de Provimento Emergencial. O Programa teve como foco principal aumentar a quantidade de médicos atuando nos municípios brasileiros, em especial, em municípios que possuíam maior necessidade desses profissionais. A partir dos dados obtidos por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-Sic), foi possível ter acesso à lista de municípios contemplados pelo Programa e, dessa maneira, realizar uma análise de focalização com o intuito de averiguar se o PMM, de fato, priorizou regiões mais necessitadas, conforme critérios estabelecidos pelo próprio Programa. O estudo concluiu que, aproximadamente, 39% dos médicos disponibilizados pelo Programa foram alocados para municípios considerados de baixa prioridade. O perfil desses municípios havia sido estabelecido com base nos dados do Ministério da Cidadania (MDS). Levando em consideração os mesmos perfis embasados pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi possível concluir que apenas 21% dos médicos do Programa foram enviados para as áreas que possuíam os maiores percentuais de extrema pobreza do país e, certamente, as maiores necessidades desses profissionais. A análise de impacto do PMM foi realizada a partir da mensuração do efeito do Programa sobre algumas variáveis relacionadas com a saúde da população. Desse modo, a análise econométrica baseou-se no método de Diferenças em Diferenças Generalizado que captou o efeito da intervenção utilizando dados dos municípios tratados (que receberam o Programa) e não tratados (que não receberam) de antes e depois da inserção do PMM. Os resultados obtidos indicaram que o PMM não exerceu efeito sobre os indicadores de impacto analisados. Não foi constatado impacto do Programa sobre a quantidade de consultas médicas realizadas e nem sobre o percentual de internações hospitalares da Atenção Básica. Outros trabalhos presentes na literatura encontraram efeitos estatisticamente significantes do PMM sobre estes indicadores. Esta divergência pode ser explicada por diferenças metodológicas, seja na estimação ou no conjunto de variáveis empregadas. Uma contribuição que pode ser destacada da presente análise foi a estimação dos efeitos em nível regional. Para estas estimações, destaca-se o resultado que indica uma redução na quantidade de consultas médicas na região Norte. A interpretação deste resultado deve ser cautelosa e exige novas análises no futuro. Este resultado, porventura, pode não representar um 41 impacto negativo do Programa, mas que possa ser explicado em decorrência de um possível aumento da quantidade de visitas domiciliares feitas por médicos que atuam nas ESF. Os resultados reportados no presente estudo colaboram com outras pesquisas elaboradas sobre o Programa Mais Médicos que tiveram a preocupação de esclarecer aos formadores de políticas públicas, pesquisadores e à sociedade em geral, sobre os reais impactos de intervenções e investimentos voltados para a área da saúde. Faz-se plenamente necessário que autoridades políticas tenham ciência e responsabilidade sobre o bom planejamento, elaboração, execução e acompanhamento dos programas e projetos para que menos erros sejam cometidos com o gasto público e mais exitosos sejam os resultados. 42 REFERÊNCIAS ALENCAR, A. P. A; XAVIER, S.P.L.; LAURENTINO, P.A.S; LIRA, P.F; NASCIMENTO, V.B.; CARNEIRO, N.; FONSECA, A.; FONSECA, F.L.A. Impacto do programa mais médicos na atenção básica de um município do sertão central nordestino. Revista Eletrônica Gestão & Sociedade, Belo Horizonte, v. 10, n. 26, p. 1290-1301, 2016. ALMEIDA, A. T. C.; ANNEGUES, A. C.; DOS ANJOS, O. R.; CARVALHO, P. S. A. Atratividade e Escassez de Médicos Fora dos Grandes Centros: o Impacto do Programa Mais Médicos. Portal Regional da BVS: Informação e Conhecimento para a Saúde. Mossoró, [s.n], 2016. ARAÚJO, E.; MAEDA, A. How to Recruit and Retain Health Workers in Rural and Remote Areas in Developing Countries: A Guidance Note. The World Bank, Jun. 2013. BODSTEIN, R. Atenção básica na agenda da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 401-412, 2002. BRASIL. Decreto nº 3.745, de 5 de fevereiro de 2001. Institui o Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 5 de fevereiro de 2001. Seção 1, p. 2. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2001/decreto-3745-5-fevereiro- 2001-356163-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 27 nov. 2019. BRASIL. Decreto nº 62.927, de 28 de Junho de 1968. Institui, em caráter permanente, o Grupo de Trabalho "Projeto Rondon", e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 28 de junho de 1968. Seção 1, p. 5387. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-62927-28-junho-1968- 404732-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 27 nov. 2019. BRASIL. Decreto nº 78.307, de 24 de Agosto de 1976. Aprova o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento no Nordeste e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 24 de agosto de 1976. Seção 1, p. 11241. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-78307-24-agosto-1976- 427254-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 27 nov. 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estratégia Saúde da Família (ESF). Sobre o programa. Disponível em: < http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o- programa>. Acesso em 12 dez. 2018. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria Interministerial nº 2.087, de 1º de setembro de 2011. Institui o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica. Diário Oficial da União, Brasília, 1 de setembro de 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/pri2087_01_09_2011.html. Acesso em: 27 nov. 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da Família. Disponível em: < http://www.saude.gov.br/noticias/772-acoes-e-programas/saude-da-familia/41285-saude-da- familia>. Acesso em 22 jan. 2020. 43 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde Indígena: Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Disponível em: <http://www.saude.gov.br/saude-indigena/saneamento-e- edificacoes/dseis>. Acesso em 20 set. 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Programa Mais Médicos – dois anos: mais saúde para os brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. BRASIL. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE NO BRASIL. Relatório 30 anos de SUS: Que SUS para 2030? Brasília-DF, 2018. BRASIL. Programa Mais Médicos: Governo Federal. Conheça o Programa. Disponível em: <http://maismedicos.gov.br/conheca-programa>. Acesso em dez. 2018. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Lei nº 12.202, de 14 de janeiro de 2010. Altera a Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES (permite abatimento de saldo devedor do FIES aos profissionais do magistério público e médicos dos programas de saúde da família; utilização de débitos com o INSS como crédito do FIES pelas instituições de ensino; e dá outras providências). Diário Oficial da União, Brasília, 14 de janeiro de 2010. Seção 1, p. 3. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2010/lei-12202-14-janeiro-2010-600572- normaatualizada-pl.html. Acesso em: 27 nov. 2019. CAMPOS, F. E.; MACHADO, M. H.; GIRARDI, S. N. A fixação de profissionais de saúde em regiões de necessidades. Divulgação em Saúde para Debate, Rio de Janeiro, n. 44, p. 13-24, maio 2009. CARRILHO, B.; FERES, J. Provider Supply, Utilization, and Infant Health: Evidence from