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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ANDERSON DIÓGENES SOUZA RICARDO ENGENHARIA SOCIAL: IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DA MANIPUEIRA EM PACAJUS FORTALEZA 2021 ANDERSON DIÓGENES SOUZA RICARDO ENGENHARIA SOCIAL: IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DA MANIPUEIRA EM PACAJUS Trabalho de conclusão do curso de Engenharia Química do Cento de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia Química Orientador: Prof. Dr. João José Hiluy Filho. FORTALEZA 2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) R376e Ricardo, Anderson Diógenes Souza. Engenharia social : implementação de um sistema de tratamento da manipueira em Pacajus / Anderson Diógenes Souza Ricardo. – 2021. 52 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Química, Fortaleza, 2021. Orientação: Prof. Dr. João José Hiluy Filho. 1. Casa de farinha. 2. Empreendedorismo social. 3. Manipueira. I. Título. CDD 660 ENGENHARIA SOCIAL: IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DA MANIPUEIRA EM PACAJUS Trabalho de conclusão do curso de Engenharia Química do Cento de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia Química Aprovada em: ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Dr. João José Hiluy Filho (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Carlos Estevão Rôlim Fernandes Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dra. Rilvia Saraiva de Santiago Aguiar Universidade Federal do Ceará (UFC) A todos e todas aqueles que desejam “melhorar a vida das pessoas, desenvolvendo projetos de impacto social, com um time forte e sonhador”. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à minha mãe, sem a qual não teria tido oportunidades que me trouxeram até aqui no campo da educação da qualidade, me ensinando desde cedo a importância da Educação na vida das pessoas. Agradeço também aos meus irmãos, em especial à minha irmã Janielle por sempre me orientar e me guiar, sempre incentivando meu desenvolvimento pessoal e profissional. Agradeço ao meu namorado e companheiro Henrique, por sempre me apoiar na vida, sendo uma das pessoas que mais me incentivou e orientou na escrita deste trabalho . Não poderia deixar de agradecer também ao Time Enactus UFC também, por ter me proporcionado a melhor experiência dentro da Universidade. Dentre estes, destaco meus amigos Espedito, Marcelo, Tayná, Sophia e Ernandes, que colaboraram de diversas formas para a escrita deste trabalho direta ou indiretamente, com informações muito pertinentes no que tange a um trabalho sobre um projeto Enactus. Além disso, agradeço à equipe do Projeto Maní, com destaque, para a Aline, ex- coordenadora do STM, a qual foi fundamental para o desenvolvimento e implementação do projeto. Ademais, sou muitíssimo grato aos meus amigos da graduação em Engenharia Química Bianca, Lairana, Camila, Cammilla e Carlos, por terem sido importantes no compartilhamento de conhecimento e vivências ao longo da graduação. Agradeço também aos meus amigos de Ensino Médio que me acompanham até hoje na jornada da vida: Jefferson, Fernanda e Vanessa, por terem sido amizades firmes e consistentes ao longo dos anos. Por fim, agradeço aos professores Hiluy, pela orientação inestimável neste trabalho, ao professor Estevão por ter contribuído de forma muito relevante com sugestões para este trabalho e à professora Rilvia pela dedicação e instrução nas aulas da disciplina de Trabalho Final de Curso. “O nordestino é antes de tudo um forte” Euclides da Cunha RESUMO A farinhada, atividade econômica e cultural típica da Região Nordeste, consiste na transformação da mandioca em farinha, goma fresca ou torrada. Nesse contexto, insere-se a Casa de Farinha Curimatã, na zona rural da cidade de Pacajus, Ceará, contando com cerca de 15 colaboradores, os quais estão sujeitos a atividades laborais arriscadas, dentre as quais o descascamento da mandioca sem a utilização adequada de equipamentos de proteção, além de remunerações inferiores a um salário mínimo. No processo de prensagem da mandioca, é produzida a manipueira, líquido tóxico devido à alta concentração de CN- (cianeto), que configura um risco aos corpos hídricos, ao solo e à saúde humana de regiões produtoras de farinha de mandioca. Apesar dos inúmeros riscos da manipueira, esta é uma excelente base química para a produção de subprodutos, dentre os quais biofertilizante, sabão, licor, vinagre e molho de pimenta. Sendo assim, a fim de melhorar a qualidade de vida dos beneficiários, o Time Enactus da Universidade Federal do Ceará (UFC), iniciativa pautada no empreendedorismo social e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), está implementando o Projeto Maní na comunidade Curimatã. Dessa forma, o Projeto Maní está desenvolvendo um Sistema de Tratamento da Manipueira (STM), a fim de tratar e reaproveitar esse resíduo, possibilitando o descarte correto na natureza e a produção de subprodutos, que complementarão a renda dos beneficiários da casa de farinha em cerca de 12,5% ao mês. O STM consiste em 4 etapas: tanque de decantação, tanque de armazenamento, filtro de areia e filtro de coco. Em vista disso, este trabalho tem por objetivo descrever os processos físico-químicos envolvidos no processamento da manipueira até o tratamento pelo STM, juntamente à análise de possibilidades de mitigação do impacto ambiental desse resíduo e alternativas de modelo de negócios no contexto do Projeto Maní. Palavras-chave: Casa de farinha. Empreendedorismo social. Manipueira. ABSTRACT Flour, a typical economic and cultural activity in the Northeast, consists of transforming cassava into flour, fresh or roasted gum. In this context, the flour house Curimatã is inserted in the rural area of the city of Pacajus, Ceará, with about 15 employees, who are subject to risky work activities, among which the peeling of cassava without the proper use of protective equipment, as well as remuneration below the minimum wage. In the process of pressing cassava, cassava waste water is produced, a toxic liquid due to the high concentration of CN- (cyanide), which poses a risk to water bodies, soil and human health in regions producing cassava flour. Despite the innumerable risks of cassava waste water, this is an excellent chemical base for the production of by- products, including biofertilizer, soap, liquor, vinegar and pepper sauce. Therefore, in order to improve the quality of life of the beneficiaries, the Time Enactus of the Federal University of Ceará (UFC), an initiative based on social entrepreneurship and the Sustainable Development Goals (SDGs), is implementing the Maní Project in the Curimatã community. In this way, the Maní Project is developing a Manipueira Treatment System (MTS), in order to treat and reuse this waste, enabling correct disposal in natureand the production of by-products, which will complement the income of the flour mill beneficiaries in about 12.5% per month. The STM consists of 4 stages: decantation tank, homogenization tank, sand filter and coconut filter. In view of this, this work aims to describe the physical-chemical processes involved in the cassava waste water processing until treatment by STM, together with the analysis of possibilities for mitigating the environmental impact of this residue and business model alternatives in the context of the Maní Project. Keywords: Flour house. Social entrepreneurship. Cassava water. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Os 5P's da Sustentabilidade ..................................................................... 18 Figura 2 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável .............................................. 19 Figura 3 - Resultados do Programa Enactus no Brasil 2020 ..................................... 23 Figura 4 - Projetos do Time Enactus UFC ................................................................. 25 Figura 5 - Lago de manipueira na comunidade Curimatã ......................................... 26 Figura 6 - Fluxograma da Metodologia ...................................................................... 28 Figura 7 - Distância entre as cidades de Fortaleza e Pacajus................................... 29 Figura 8 - Learning Canvas do Projeto Maní ............................................................. 31 Figura 9 - Análise SWOT do projeto Maní ................................................................. 34 Figura 10 - Projeto do STM ....................................................................................... 37 Figura 11 - Esquema do filtro de coco ....................................................................... 42 Figura 12 - Esquema do filtro de areia ...................................................................... 43 Figura 13 - Rótulo do molho de pimenta da Vó Maria ............................................... 45 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resultados médios da análise de água de poço ...................................... 36 Tabela 2 - Dimensões dos tanques ........................................................................... 38 Tabela 3 - Considerações para os cálculos de tensão mecânica nos tanques ......... 39 Tabela 4 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque de armazenamento ............. 39 Tabela 5 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque de decantação ..................... 40 Tabela 6 - Especificações para o cálculo de tensão mecânica nos tanques de filtro de coco e de areia ..................................................................................................... 40 Tabela 7 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque com filtro de coco ................ 41 Tabela 8 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque com filtro de areia ................ 44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT CONAMA EMBRAPA EPC EPI HCD Associação Brasileira de Normas Técnicas Conselho Nacional do Meio Ambiente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Equipamentos de Proteção Coletiva Equipamentos de Proteção Individual Human Centered Design IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística NBR NUTEC Norma Brasileira Regulamentar Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará ONU Organização das Nações Unidas ODS OSC ProUni Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Organizações da Sociedade Civil Programa Universidade Para Todos STM STD Sistema de Tratamento da Manipueira Sólidos Totais Dissolvidos SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 8 ABSTRACT ................................................................................................................. 9 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 1.1 Objetivos gerais ................................................................................................ 16 1.2 Objetivos específicos........................................................................................ 16 2 FUNDAMETAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 17 2.1 Empreendedorismo social e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ........................................................................................................................ 17 2.2 Negócios de impacto social ............................................................................. 20 2.3 A rede Enactus .................................................................................................. 22 2.4 Engenharia Popular .......................................................................................... 26 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 28 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 31 4.1 Modelo de negócios .......................................................................................... 31 4.1.1 Learning Canvas ............................................................................................ 31 4.1.2 Análise SWOT ................................................................................................. 33 4.2 Análise da água do poço .................................................................................. 35 4.3 Etapas do STM ................................................................................................... 37 4.3.1 Tanque de armazenamento ........................................................................... 38 4.3.2 Tanque de decantação ................................................................................... 39 4.3.3 Filtro de coco .................................................................................................. 40 4.3.4 Filtro de areia .................................................................................................. 42 4.3 Molho de pimenta da Vó Maria ......................................................................... 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48 APÊNDICE A – LEARNING CANVAS – PROJETO MANÍ ...................................... 52 APÊNDICE B – ANÁLISE SWOT – PROJETO MANÍ .............................................. 53 APÊNDICE C – PERSPECTIVAS FUTURAS – PROJETO MANÍ ........................... 54 14 1 INTRODUÇÃO A farinhada, atividade econômica e cultural típica da Região Nordeste, consiste na conversão da mandioca em farinha, goma fresca ou torrada. Celebrada por compositores ícones da cultura regional como Luiz Gonzaga (1912-1989) e muito presente no imaginário popular através da literatura de cordel e da poesia falada, a produção da farinha de mandioca no Ceará remete ao Período Colonial (1530 – 1822) , sendo ainda fonte principal de renda de famílias no interior e na zona rural do estado. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o plantio da mandioca na Região Nordeste teve uma redução de cerca de 20% entre os anos de 1990 e 2017. Além disso, a região, que concentra a maior área plantada do produto, ao longo da história já chegou a 57%, no ano de 2017, atingiu a marca de 37%. No Ceará, a mecanização rural no processo produtivo da mandioca aumenta ainda mais a desvantagem dos pequenos produtores familiares, que têm que competir com grandes indústrias produtoras de farinhas e derivados. Nesse contexto, segundodados do Ministério da Cidadania (2021), no Ceará, vivem mais de 5 milhões de pessoas em situação de pobreza e pobreza extrema, pois as famílias têm renda de até meio salário mínimo por pessoa ou até 3 salários mínimos de renda mensal total. Em vista disso, o Time Enactus UFC, que vem atuando desde 2017 com projetos de impacto social, desenvolveu, em 2018, o Projeto Maní, trabalhando os ODS 8 (Trabalho digno e crescimento econômico), 10 (Redução das Desigualdades) e 11 (Cidades e comunidades sustentáveis) na solução da problemática ambiental da manipueira, resíduo tóxico gerado na prensagem da mandioca, o qual pode ser processado e convertido em subprodutos lucrativos para a comunidade de casa de farinha familiar, tais como molho de pimenta. Atuando desde 2018 na comunidade Curimatã, em Pacajus, o projeto Maní, nesse mesmo ano, foi consagrado Pelo Prêmio ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico) no ENEB (Encontro Nacional Enactus Brasil), pelo mérito de projeto de excelência ao tratar desse Objetivo de Desenvolvimento Sustentável. A Casa de Farinha Curimatã, na zona rural da cidade de Pacajus, Ceará, conta com cerca de 15 colaboradores, todos integrantes da mesma família, a qual está sujeita a atividades laborais arriscadas, dentre os quais o descascamento da 15 mandioca sem a produção adequada de EPI (Equipamentos de Proteção Individual) e EPC (Equipamentos de Proteção Coletiva), e a salários inferiores a um salário mínimo (R$1100,00 na cotação atual). A renda média dos colaboradores devido ao trabalho nessa casa de farinha é de R$800,00 e depende de fatores tais como clima, safra, tempo de operação da casa de farinha e tempo de trabalho do colaborador. O Projeto Maní, por sua vez, coopera para que a renda média da comunidade Curimatã seja complementada, por meio da comercialização dos subprodutos oriundos da manipueira. Desse modo, este trabalho apresenta a fundamentação teórica necessária para interligar conceitos de empreendedorismo social, negócios de impacto, rede Enactus, engenharia popular e subprodutos da manipueira. Em relação à metodologia empregada, o projeto inicialmente prospectou uma comunidade de casa de farinha, localizando a comunidade Curimatã na cidade de Pacajus, desenvolvendo assim diversas pesquisas bibliográficas importantes para entender o manejo sustentável da manipueira e as formas de aproveitamento desta, no contexto da elaboração de um modelo de negócios, que culminou na construção do STM (Sistema de Tratamento da Manipueira). Este trabalho é composto por metodologias próprias do contexto do empreendedorismo social, tais como Análise SWOT e Learning Canvas, realizando, na medida do possível, atividades na comunidade Curimatã, para a inicialização do projeto do STM, além de utilizar recursos de análises laboratoriais necessárias, como foi o caso da análise de qualidade da água de poço da região da casa de farinha. Em vista disso, o trabalho foi dividido em 5 capítulos principais (Capítulo 1: Introdução, Capítulo 2: Fundamentação Teórica, Capítulo 3: Metodologia, Capítulo 4: Resultados e Discussão e Capítulo 5: Considerações finais). O capítulo 2 teve por objetivo trazer conceitos importantes para o entendimento do trabalho, principalmente, atrelado às definições acerca do empreendedorismo social, dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), dos negócios de impacto social, da Rede Enactus e da Engenharia Popular. O capítulo 4, por sua vez, se propôs a discutir os principais resultados do projeto Maní no que tange à análise da qualidade da água da comunidade, ao projeto de construção do STM, ao cálculo das tensões mecânicas dos tanques (caixas d’águas) e à produção do molho de pimenta da “Vó Maria”, ressaltando também o incremento médio de renda esperado a partir da comercialização desse produto. 16 1.1 Objetivos gerais Este trabalho tem por objetivo geral aplicar conceitos das áreas da Engenharia Química, Empreendedorismo Social e Gestão no desenvolvimento de um projeto de impacto social norteado a partir dos ODS da ONU através da implementação de um sistema de tratamento da manipueira visando a produção de molho de pimenta colaborando para o desenvolvimento de uma microeconomia sustentável da comunidade familiar produtora de farinha Curimatã, na cidade de Pacajus. 1.2 Objetivos específicos Este trabalho tem por objetivos específicos: • Inicializar a construção do STM; • Elaborar um modelo de negócios por meio dos métodos Análise SWOT e Learning Canvas; • Apresentar potenciais subprodutos da manipueira passíveis de produção na comunidade de Pacajus; • Analisar a água proveniente do poço da comunidade; • Prospectar futuras aplicações do STM e impacto deste na comunidade 17 2 FUNDAMETAÇÃO TEÓRICA 2.1 Empreendedorismo social e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) O termo “empreendedorismo social” vem sendo utilizado para caracterizar iniciativas que desenvolvem modelos de negócios baseados na resolução de uma problemática na sociedade relacionada à combinação de eixos ambientais, econômicos e sociais, unindo o conhecimento do mundo dos negócios ao trabalho com propósito, tendo uma missão social alvo, por exemplo acesso à educação de qualidade e ao saneamento básico. Unindo termos, à primeira vista, muito distintos como “empreendedorismo” e “social”, o empreendedorismo tem o diferencial de empregar qualidades típicas do meio empreendedor, tais como inovação, criatividade, proatividade, liderança, senso de dono e determinação, a projetos de impacto social, que são cuidadosamente gerenciados levando em conta métricas específicas, como números de impacto direto e indireto. O termo “social”, por sua vez, tem um fator determinante na diferenciação desse tipo de empreendedorismo, visto que que indica o fator de transformação social inato a essas iniciativas, favorecendo parcerias no campo empresarial relativas à responsabilidade socioambiental, no Terceiro Setor com ONGs(Organizações Não- governamentais) com propósito alinhado e no Primeiro Setor por meio de programas governamentais de desenvolvimento socia (Martin, 2007). Nesse contexto, projetos de empreendedorismo social utilizam dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU) para alinhar as iniciativas de impacto à Agenda 2030, conjunto de 169 subdivididas em 17 ODS para promover um planeta mais sustentável até o ano de 2030, da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo as Nações Unidas Brasil (2020). Esses ODS levam em conta fatores cruciais do desenvolvimento humano e são organizados em 5 áreas principais: Pessoas, Prosperidade, Planeta, Paz e Parcerias. A Figura 1 ilustra um esquema acerca dessas 5 áreas, conforme o Movimento Nacional ODS. 18 Figura 1 - Os 5P's da Sustentabilidade Fonte: Movimento Nacional ODS (2020). Os ODS relacionados diretamente à área de “Pessoas” buscam acabar com a pobreza e a fome, em todas as formas e dimensões, garantindo que todos os seres humanos possam realizar o potencial em dignidade e igualdade, em um ambiente saudável. Os ODS 1-Erradicação da Pobreza, 2-Erradicação da Fome, 3- Saúde e bem-estar, 4-Educação de Qualidade e 5-Igualdade de gênero estão diretamente relacionados à subárea de “Pessoas”. Na figura 2, pode-se visualizar os 17 ODS estabelecidos pela ONU. 19 Fonte: ONU (2020). Já os ODS que trabalham com a temática de “Prosperidade” são os 6-Água potável e saneamento, 7-Energia acessível e limpa,8-Trabalho decente e crescimento econômico, 9-Indústria, inovação e infraestrutura e 10-Redução das Desigualdades, focando em assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de uma vida próspera e plena realização pessoal, com progresso econômico, social e tecnológico em harmonia com a natureza. Com a finalidade de proteger o planeta da degradação, sobretudopor meio do consumo e da produção sustentáveis da gestão sustentável e da produção sustentáveis, a subárea “Planeta” trabalha os ODS 11-Cidades e comunidades sustentáveis,12-Consumo e produção sustentáveis,13-Ação contra a mudança global,14-Vida na água e 15-Vida terrestre. Figura 2 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 20 Enfim, as subáreas de “Paz” e “Parcerias” são representadas, respectivamente, pelos ODS 16-Paz, justiça e instituições fortes e 17-Parcerias e meios de implementação, objetivando desenvolver ações que contemplem a promoção de sociedades pacíficas, justas e inclusivas e mobilizar os meios necessários para implementar a Agenda 2030, por meio de uma parceria global para o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, o empreendedorismo social desenvolve projetos de impacto orientados para contemplar metas e objetivos da Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável, trabalhando a combinação desses ODS na construção de modelos de negócios sociais, estruturados a partir de metodologias do mundo dos negócios, tais como Matriz SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças), Learning Canvas, 5W2H e Human Centered Design (HCD), tendo este último foco na criação de soluções nas quais a perspectiva humana é colocada em foco. 2.2 Negócios de impacto social Empreendimentos sociais são explicados por Cruz da seguinte forma: “Os empreendedores sociais podem criar organizações da sociedade civil que se sustentam com doações ou que geram receita com produtos e serviços, como também negócios sociais que distribuem ou reinvestem os lucros" (Herrero,2013). Nesse contexto, segundo Limeira (2015), o campo do empreendedorismo social vem se expandindo mundialmente a partir da década de 1980 e inclui um conjunto diversificado de organizações da sociedade civil (OSC), negócios sociais (social business) ou empresas sociais (social enterprise), que podem ser lucrativas ou não, e cuja intencionalidade e missão organizacional é gerar impacto socioambiental. Negócios sociais têm emergido cada vez mais do âmbito acadêmico a partir de iniciativas jovens que fomentam o empreendedorismo, a liderança e a sustentabilidade no meio universitário, tais como a Enactus e o MEJ (Movimento Empresa Júnior). Alguns exemplos de negócios sociais que têm origem acadêmica são as startups MoraDigna, Amana Katu e Safe Drinking Water for All (SDW), as quais desenvolvem trabalho de impacto social voltado, respectivamente, para o acesso à moradia digna, acesso à água potável na região amazônica e acesso à água potável em regiões do semiárido brasileiro. A ideia para o MoraDigna partiu de Matheus Cardoso, recém-egresso do curso de Engenharia Civil da Mackenzie, onde estudava 21 com bolsa integral do ProUni (Programa Universidade para Todos). A startup Amana Katu, inclusive, surgiu a partir de um projeto, de mesmo nome, egresso da Rede Enactus, desenvolvido por estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA). Já a SDW surgiu a partir da iniciativa de uma estudante da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Anna Luísa Beserra, a qual também desenvolve trabalhos colaborativos com a Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 2019. De acordo com Yunus(2010), um dos patronos do empreendedorismo social no mundo, os negócios sociais são concebidos a partir das seguintes características: a)ter a missão de atender às demandas dos segmentos populacionais de baixa renda e mais vulneráveis; b) desenvolver e comercializar produtos e serviços ajustados a essas demandas sociais; c) gerar receita suficiente para cobrir as próprias despesas; d) reinvestir uma parte do excedente econômico na expansão do negócio, enquanto a outra parte é mantida como reserva para cobrir despesas inesperadas; e) ter investidores que não recebem lucros na forma de dividendos, mas podem receber de volta o investimento após um período. Em 1976, Yunus criou o primeiro negócio social que opera com essas características, o Grameen Bank, que oferece microcrédito para a população da base da pirâmide econômica em Bangladesh. Na concepção do autor, aqueles indivíduos que conduzem negócios sociais são considerados empreendedores sociais, mas nem todos estes empreendem atividades dessa natureza, como é o caso das organizações da sociedade civil que dependem de filantropia. Outra definição, proposta por Prahalad e Hart (2002) propõe que negócios sociais também podem ser caracterizados por fornecer produtos e/ou serviços de custo reduzido e de alta qualidade para as famílias situadas na base da pirâmide econômica. A população da base da pirâmide foi definida pelos autores como "quatro bilhões de pessoas no mundo que tem renda per capita inferior a US$ 1.500 por ano, isto é, um poder aquisitivo (purchasing power parity) inferior a US$ 2 por dia". Yunus (2010), todavia, vai de encontro a essa definição de negócio social, por considerar que estas iniciativas priorizam o lucro em detrimento da geração de impacto socioambiental positivo, de modo a não respeitar o equilíbrio das metas indissociáveis do empreendedorismo social: geração de impacto social e de receita econômica. Comini (2012) define empreendimentos sociais como “organizações que visam solucionar problemas sociais com eficiência e sustentabilidade financeira por 22 meio de mecanismos de mercado", apresentando diferente nomenclaturas e definições para esse tipo de empreendimento: social (social enterprise), negócio social (social business) e negócio inclusivo (inclusive business). Este último, por sua vez, é definido por Comini (2012) como organizações que visam a solucionar problemas sociais com eficiência e sustentabilidade financeira, voltados à geração de oportunidades de emprego e renda para grupos com baixa mobilidade no mercado de trabalho, dentro dos padrões do chamado trabalho decente e de forma autossustentável, estabelecendo relações com organizações empresariais privadas tradicionais na condição de fornecedores ou distribuidores de seus produtos ou serviços. Nesse contexto, negócio inclusivo pode ser compreendido como um modelo de negócio voltado para inclusão socioeconômica de grupos sociais vulneráveis, tais como comunidades indígenas, quilombolas, jovens periféricos sem experiência profissional, mulheres de baixa qualificação profissional e indivíduos que se encontram na base da pirâmide econômica, no geral. Assim, apesar da diversidade e potencial ambiguidade dos termos associados a empreendimentos sociais, Young (2009) pontua a distinção entre negócios sociais e negócios inclusivos em relação ao formato clássica e tradicional de se desenvolver um negócio. 2.3 A rede Enactus Integrando a ação de estudantes, professores e empresários, a rede Enactus é uma organização do Terceiro Setor que tem por objetivo desenvolver projetos de impacto com base nos ODS da ONU em comunidades vulneráveis, implementando ações que proporcionem o progresso de eixos ambientais, econômicos e sociais nessas comunidades por intermédio do empreendedorismo social. Estando presente em 37 países, o programa Enactus é desenvolvido em universidades, engajando jovens com propósito na mudança social. No Brasil, o programa Enactus opera com 200 projetos, 120 times e mais de vidas 77 mil vidas impactadas, tendo parcerias com empresas de renome internacional, dentre as quais Amanco Wavin, Sumitomo Chemical, KPMG e McDonald’s, às quais dão suporte aos projetos dos times por meio de editais de fomento, fornecendo aporte financeiro e 23 mentorias empresariais para os times selecionados. Na figura 3, é possível visualizar alguns resultados obtidos pelo Programa Enactus no Brasil no ciclo 2019-2020. Fonte: Relatório anual Enactus Brasil (2020). O Time Enactus da Universidade Federal do Ceará começou a operar em março de 2017 com a missão de “melhorar a vida das pessoas desenvolvendoprojetos de impacto social com um time forte e sonhador”, contando com cerca de 10 membros à época e com um apenas um projeto, ainda em fase de ideação, que tinha por objetivo criar uma plataforma de ensino e mentorias para alunos do ensino médio: o projeto CADE (Célula de Aprendizagem Disruptiva e Empreendedora). Atualmente, desenvolvem-se 4 projetos na Enactus UFC, trabalhando com comunidades e ODS distintos: Crânio Verde, Gestus, Maní e Ohana, contando com cerca de 45 membros das mais diversas áreas de formação, tais como Engenharia, Comunicação, Computação, Saúde e Ciências Humanas. O projeto Crânio Verde nasceu da necessidade de fornecer um destino adequado ao coco verde descartado de forma incorreta na orla das praias da cidade de Fortaleza, uma vez que esse resíduo sólido, uma vez que o formato esférico e a densa carga de matéria orgânica dificultam a biodegradação deste, gerando impacto Figura 3 - Resultados do Programa Enactus no Brasil 2020 24 ambiental negativo, sendo a casca do coco, que equivale a 80% do peso bruto deste, segundo a EMBRAPA (2004), o principal contribuinte para isso. Dessa forma, o projeto implementou, com o apoio do Instituto Semente das Artes, uma bacia de evapotranspiração (BET), comumente denominada de ecofossa ou fossa verde, que utiliza a casca do coco como material filtrante, substituindo parcialmente a brita nas camadas de preenchimento da fossa sustentável, reduzindo o custo de produção em cerca 70% e possibilitando menor risco de impacto ambiental negativo devido a implantação de fossas irregulares em comunidades para as quais a rede de esgoto integrada não é uma realidade. No momento, o projeto está construindo uma ecofossa piloto na localidade de Pacajus, Ceará, e trabalha diretamente com os ODS 6(Água potável e saneamento básico),8(Trabalho decente e crescimento econômico), 11(Cidades e comunidades sustentáveis) e 12(Consumo e produção responsáveis). Os projetos Gestus, por sua vez, tem por objetivo de ensinar LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para crianças ouvintes por meio de recursos lúdicos, tais como o jogo digital de mesmo nome e jogos físicos adaptados para a LIBRAS (UNO, jogo da memória e dominó), sendo, assim com o Projeto Crânio Verde, semifinalista do Programa Centelha - CE, o qual visa a fomentar e investir em ideias inovadoras no meio empreendedor cearense, financiando a criação de novas Startups. Por desenvolver ações para o fortalecimento da educação inclusiva e acessível, o projeto emprega a ODS 4 (Educação de Qualidade), além das ODS 10 (Redução das Desigualdades) e 16 (Paz, Justiça e Instituições Fortes). Também trabalhando com o ODS 16, o projeto Ohana foca em fortalecer organizacionalmente ONGs cearenses por intermédio de consultorias voltadas para as áreas de finanças, marketing, planejamento de eventos e planejamento estratégico. Além disso, o projeto está desenvolvendo um aplicativo com a finalidade de mapear ONGs com as respectivas causas sociais, facilitando também o processo de doação e engajamento social em um formato gamificado análogo a redes sociais como instagram e facebook. Por fim, o Projeto Maní atua no reaproveitamento da manipueira, resíduo tóxico oriundo na fase de prensagem da mandioca, visto que esse resíduo tóxico devido ao elevado teor de cianeto é um risco ambiental aos corpos hídricos, solo e vidas humanas da região. Apesar da toxicidade, se manejada da maneira correta, a manipueira pode ser convertida em subprodutos, tais como inseticidas, 25 biofertilizantes, sabão e molho de pimenta (EMBRAPA, 2011). Na figura 4, encontram- se os logos representativas dos 4 projetos em execução do Time Enactus UFC. Fonte: Arquivo pessoal time Enactus UFC. Em vista disso, um Sistema de Tratamento de Manipueira está sendo desenvolvido em fase piloto na comunidade Curimatã, em Pacajus, em parceria com as empresas Amanco Wavin e Sumitomo Chemical. Esse sistema tem por objetivo tratar a manipueira produzida na casa de farinha, para que esta possa ser descartada de forma sustentável na natureza e reaproveitada para a produção de subprodutos para o complemento de renda dos beneficiários do projeto. Constituído de 4 tanques de decantação/sedimentação acoplados, o sistema tem por finalidades reduzir a concentração de cianeto na manipueira, por evaporação, visto que o ácido cianídrico é bastante volátil, e reter a parte sólida do resíduo (goma) por intermédio de processos de decantação e posterior filtração, utilizando coco e da areia como material filtrante. Sendo um projeto de extensão cadastrado na PREX/UFC (Pró-Reitoria de Extensão), a Enactus UFC trabalha com um vasto público comunitário e emprega conhecimentos do mundo acadêmico e empresarial alinhados para construir soluções Figura 4 - Projetos do Time Enactus UFC 26 criativas no contexto do empreendedorismo social e negócios de impacto. A figura 5 refere-se a uma foto do lago de manipueira na comunidade Curimatã, um dos problemas os quais o projeto se propõe a atenuar. Fonte: Arquivo pessoal time Enactus UFC. 2.4 Engenharia Popular O conceito de Engenharia Popular está diretamente relacionado à ressignificação do próprio conceito de Engenharia, ao passo que esta, ao longo da história, foi construída pelas elites e para as elites, sem necessariamente, aliar a inovação ao desenvolvimento social e econômico das populações menos abastadas (Bazzo, 2003; Dagnino e Novaes,2008; Riley, 2008). Em diversas regiões do globo, então, surgem diversas iniciativas voltadas a repensar e modelar o desenvolvimento humano, a partir da análise das realidades sociais de cada localidade, a exemplo dos Engenheiros sem Fronteiras e da Rede Enactus. O papel do Engenheiro, nesse Figura 5 - Lago de manipueira na comunidade Curimatã 27 contexto, é visto, segundo o livro “Engenharia Popular”, como uma aplicação direta do juramento da Engenharia e do código de ética da profissão: Juramento do Engenheiro: Prometo que, no cumprimento do meu dever de Engenheiro não me deixarei cegar pelo brilho excessivo da tecnologia, de forma a não me esquecer de que trabalho para o bem do Homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou poluam, além de colocar todo o meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz Comigo e com Deus. (Bitencourt, 2016). Código de ética do Engenheiro: Do objetivo da profissão: I) A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores. (Código de Ética Profissional da Engenharia, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia, 2014). Dessa forma, apropriando-se de preceitos da Engenharia Popular, é possível desenvolver sustentavelmente projetos de impactos em comunidades de vulnerabilidade, pensando, por exemplo, no escopo do projeto e na abordagem com a comunidade. Sendo assim, indica-se desenvolver um senso de pertencimento dos beneficiários em relação ao projeto, de modo a facilitar a comunicação interna e potencializar resultados positivos. Uma abordagem consagrada, nesse sentido, é o Human Centered Design (Design centrado no ser humano), o qual tem por objetivo a criação de soluções de forma orientada à problemática e ao ponto de vista dos indivíduos envolvidos na situação, neste caso, os beneficiários (Cooley, 1999). 28 3 METODOLOGIA O fluxograma na figura 6 resume as etapas metodológicas deste trabalho: Figura 6 - Fluxograma da Metodologia Fonte: Elaborado pelo autor. 29 A metodologia empregada neste trabalho configurou-se como, inicialmente, prospecção de comunidades produtoras de farinhade mandioca e pesquisa bibliográfica acerca de potenciais soluções sustentáveis para o manejo da manipueira no contexto das casas de farinha, utilizando, dentre outros materiais, o Manual de aproveitamento sustentável da Rama da Mandioca e da Manipueira, idealizado pelo SEBRAE (2020). A comunidade escolhida foi a comunidade Curimatã por motivos de aproximação e laços já estabelecidos entre lideranças da comunidade e membros do projeto, o que facilitaria a comunicação e atividade do projeto, apesar da distância em relação à Fortaleza:53,7 Km, aproximadamente, como consta na figura 7. Figura 7 - Distância entre as cidades de Fortaleza e Pacajus Fonte: Google Maps (2021). Então, encontrou-se dois possíveis caminhos aplicáveis para que a manipueira fosse tratada e reaproveitada ainda dentro da comunidade curimatã: 1. sistema de tratamento da manipueira, que possibilitaria a conversão desse resíduo em subprodutos comercializáveis, tais como o molho de pimenta; 2. biodigestor de manipueira, que converteria esse resíduo em gás de cozinha para atividades nos quais esse insumo é necessário. A partir da análise de viabilidade, junto do time do 30 Projeto Maní com participação direta dos beneficiários da comunidade, e da consagração do projeto pelo Edital da parceria Enactus-Sumitomo Chemical, avaliou- se o sistema de tratamento como estratégia de maior viabilidade, por possibilitar a conversão da manipueira em um maior número de subprodutos, de modo a trazer maior retorno financeiro para a comunidade, o que não seria possível a partir do principal subproduto da manipueira oriundo do biodigestor, o gás de cozinha. A partir desse contexto, construiu-se um modelo de negócios do Projeto, com base em ferramentas como Análise SWOT e Learning Canvas visando à sustentabilidade financeira do projeto. Analisou-se, por conseguinte, a necessidade de iniciar-se a produção de um dos subprodutos da manipueira. Após pesquisas bibliográficas e visitas a outras comunidades produtoras de farinha, encontrou-se, em uma Beijuaria localizada no bairro José Walter, um produtor de molho de pimenta a partir desse resíduo, que serviu como inspiração para a produção do molho de pimenta oriundo da comunidade Curimatã: o molho da Vó Maria, em homenagem à matriarca da comunidade em Pacajus. O projeto foi finalista do Prêmio Sumitomo de Consciência e Ética no Agronegócio, o que possibilitou o início da construção do STM, com a devida autorização da comunidade, em Pacajus. Assim, calcularam-se as tensões mecânicas estimadas para o projeto do STM, financiado pelas empresas Sumitomo Chemical e Amanco Wavin, por meio, respectivamente, dos Editais de Consciência e Ética e de Inovação Social. 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Modelo de negócios Elaborou-se, colaborativamente, utilizando-se as metodologias Análise SWOT e Learning Canvas, um modelo de negócio para o projeto Maní, como descrito nas figuras 7 e 8. 4.1.1 Learning Canvas O Business Model Canvas é uma ferramenta utilizada por empreendedores no auxílio à criação e à manutenção de um modelo de negócios. Dessa forma, essa ferramenta também pode ser adaptada a projetos ou negócios sociais, de modo a permitir uma melhor correlação entre recursos, atividades e impactos. O modelo construído pelo projeto maní encontra-se na Figura 8(Para melhor visualização, ver o Apêndice A). Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Figura 8 - Learning Canvas do Projeto Maní 32 Nesse sentido, o businees model canvas usualmente empregado no mundo dos negócios, pode ser adaptado para negócios de impacto social, seguindo a seguinte estruturação: a) Propostas de valor: Que tipo de valor o negócio social pretender criar? Como o empreendedor pensa melhorar a vida das pessoas? b) Stakeholders (partes interessadas no projeto): Beneficiários e clientes: Para quem está criando valor? Influenciadores: Quem está apoiando o seu negócio? Fornecedores/Contribuintes: Para quem está atraindo recursos? Competidores: Quem está em competição com sua empresa? c) Relacionamentos: Que tipo de relação cada stakeholders queria ter com a empresa? De que tipo de informação eles precisam? Qual seria a frequência das interações com cada tipo de stakeholders? d) Canais: Como os bens e serviços da empresa social devem ser distribuídos? Através de quais canais seus clientes, beneficiários, parceiros e fornecedores podem ser atingidos? e) Fontes de recursos: Como os recursos podem ser adquiridos pela empresa? Qual é o valor que os clientes são dispostos a pagar? Eles vão pagar com capital, informação, trabalho ou outros itens? De que outras fontes vem os recursos? f) Recursos principais: De quais recursos financeiro, trabalhista, intelectual, natural, social ou físico o empreendedor precisa? g) Atividades principais: Quais principais atividades são requeridas pelas propostas de valor da empresa? Pelos canais de distribuição e de comunicação? Pelas fontes de recursos? A metodologia Learning Canvas é usualmente empregada por microempreendedores que estão buscando entender melhor o funcionamento sistêmico do empreendimento (SEBRAE, 2020). No que tange ao contexto do 33 empreendedorismo social, essa técnica pode ser adaptada, como exposto neste trabalho, para obter respostas e promover a reflexão acerca do projeto/negócio social. Dessa forma, o Learning Canvas auxilia na construção de modelo de negócios inovadores, possibilitando ao projetista/empreendedor repensar sobre ideias de negócios outrora consideras sólidas e imutáveis. Em relação ao projeto Maní, esse método permitiu que o time de projeto estabelecesse atividades fundamentais para o sucesso do projeto, pensando na proposta de valor, ou seja, aquilo que torna o projeto único e inovador. Além disso, foi possível visualizar que o projeto necessita investir em uma fonte de receita, tal como venda direta, para não depender unicamente do fomento por editais de empresas parceiras, com o intuito de atingir a sustentabilidade financeira. Outro ponto interessante obtido a partir do Learning Canvas foi a análise dos possíveis segmentos de clientes, os quais, além dos consumidores diretos e indiretos do molho de pimenta, foram considerados os possíveis interessados na compra e implementação do STM nas respectivas comunidades: pequenos e médios produtores de farinha, em esquemas de doação para os primeiros e de compra direta ou indireta para os segundos, seguindo critérios qualitativos de renda, índice de produção e área do terreno. Em vista disso, além de permitir visualizar parcerias estratégicas do projeto como a Universidade e as associações de produtores de farinha, foi possível fazer o levantamento qualitativo da estrutura de custos geral do projeto, que envolve, por exemplo, embalagens e ingredientes para a produção do molho de pimenta e materiais de construção para o projeto do STM. 4.1.2 Análise SWOT Assim como o Learning Canvas, outras metodologias comuns ao mundo dos negócios, tais como a matriz SWOT ou análise SWOT, podem ser aplicáveis no contexto de projetos de impacto social. Segundo a Enactus Brasil(2020), no manual de submissão da Trilha Empreendedora, a análise SWOT consiste na construção de um diagrama compartilhado pelo grupo para compreender de forma mais otimizada 4 principais pontos no que tange à organização do projeto: Strength (Força), Weakness (Fraqueza), que dizem respeito a características de cunho interno, Threat (Ameaça) e Opportunities (Oportunidades), que dizem respeito a características de cunho externo. 34 Sendo assim, a análise SWOT se propõe a diagnosticar forças e fraquezas internas, ao mesmo tempo que analisa ameaças e oportunidades externas de um projeto ou negócio social. As forças internas de um projeto referem-se a tudo aquilo que potencializa as ações desenvolvidaspor este, tais como pessoas, habilidades e conhecimento. Além disso, fraquezas internas relacionam-se a pontos negativos internos que dificultam a realização das atividades propostas pelo time. Entende-se por fraqueza: falta de conhecimentos necessários, rotatividade dos membros, conflitos internos entre outras dificuldades internas. Enquanto isso, oportunidades externas são aquelas inseridas no âmbito do projeto que facilitam e otimizam a execução das atividades deste, como facilidade de acesso a algum recurso, mentores, conexões, leis de incentivo, organizações que possam apoiar o projeto, entre outras. Enfim, ameaças externas se relacionam àquelas que podem dificultar a atuação do projeto, dentre as quais taxas e custos que possam aumentar os gastos, distância geográfica e falta de mercado para o produto ou serviço. Uma proposta de análise SWOT feita para o projeto encontra-se na Figura 9. Para melhor visualização, veja o Apêndice B. Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). Assim como a metodologia Learning Canvas, a Análise SWOT permite ao empreendedor ressignificar a construção do modelo de negócios, ao encarar pontos Figura 9 - Análise SWOT do projeto Maní 35 como forças e fraquezas (internas) e ameaças e oportunidades(externas). Dessa forma, o manual de submissão da Trilha Empreendedora (Enactus Brasil, 2020), fomenta a importância da aplicação da Análise SWOT na construção dos próprios projetos Enactus, em todos os níveis (Insights, Implementação, Impacto, Ignição), sendo, inclusive, um item de preenchimento obrigatório, na Trilha Empreendedora, para projetos no terceiro nível de maturidade (impacto). No que tange aos resultados da Análise SWOT, vale ressaltar os principais pontos fortes do projeto, como time engajado e BAB (Business Advisory Board) ativos, e as principais fraquezas, tais como logística de visita dificultosa, visto que a comunidade se encontra a aproximadamente 55 Km de Fortaleza, e sustentabilidade financeira deficitário, uma vez que grande parcela do projeto depende financeiramente de editais de fomento, o que destaca ainda mais a necessidade de consolidar a produção e o sistema de vendas dos subprodutos da manipueira, dentre os quais o molho de pimenta, a fim de gerar receita para o projeto. 4.2 Análise da água do poço Com o apoio da NUTEC (Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará), realizou-se a análise química da água proveniente dos poços da comunidade, com o objetivo de analisar se eventuais contaminantes provenientes da manipueira presente no “lago de manipueira” no centro da comunidade não havia atingido o abastecimento aquífero dos beneficiários da casa de farinha. A seguir, consta os resultados obtidos a partir da análise na Tabela 1: 36 Tabela 1 - Resultados médios da análise de água de poço PARÂMETROS UNIDADES AMOSTRA CONAMA N° 396/08 Alcalinidade total mg L-1 [CaCO3-] 170 * Bicarbonatos mg L-1 [CaCO3-] 170 * Carbonatos mg L-1 [CaCO3-] ≤ LQ * Hidróxidos mg L-1 [OH-] ≤ LQ * Dureza total mg L-1 [CaCO3] 661,6 ≤ 500,0 Cálcio mg L-1 [Ca2+] 152,56 * Cloretos mg L-1 [Cl-] 105,2 ≤ 250,0 pH a 25ºC - 6,79 6,0 a 9,5 Condutividade mS.cm-1 2.005 * Cloro Residual - ≤ LQ ≤ 0,01 Turbidez NTU 0,10 ≤100 CO2 mg L-1 [CaCO3] 156,0 * Fluoreto mg L-1 0,207 ≤ 1,4 Fósforo - ≤ LQ ≤ 0,05 OD mg L-1 15,2 * STD mg L-1 1.303.250 ≤ 1000 Cor Pt-Co 1,9 * Nitrogênio Amoniacal mg L-1 ≤ LQ * * Valor não definido LQ – Limite de Quantificação Fonte: Nutec (2019). Segundo os limites de quantificação do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), a amostra de água proveniente do poço da comunidade pode ser classificada como “água dura” por conter valor de concentração mgCaCO3L-1 superior ao máximo permitido. Ademais, a água tem valor de STD (Sólidos Totais Dissolvidos) muito além do especificado pela norma CONAMA Nº 396/08 e pela Portaria Nº2.914 de 2011 do Ministério da Saúde (STD<1000 mg/L), o que classifica a água como não própria para o consumo humano (não potável). Os STD correspondem ao peso total de minerais constituintes na água, por unidade de volume (Mestrinho, 2013). Outro parâmetro relevante na análise qualitativa de águas é a condutividade, que pode ser definida como a capacidade de transmitir corrente elétrica através de substâncias dissolvidas. Nesse sentido, a condutividade da água também está além do ideal para águas potáveis (>1000 μS/cm), segundo Mendes e Oliveira (2004). 37 4.3 Etapas do STM O STM, desenvolvido pelo projeto Maní, a partir do suporte financeiro das empresas Amanco Wavin e Sumitomo Chemical, consiste em 4 etapas principais: tanque de armazenamento, tanque de decantação, filtro de areia e filtro de coco. Para a construção do STM, elaborou-se cálculos relacionados à tensão mecânica e construiu-se um modelo 3D (figura 10). O modelo 3D foi elaborado com o objetivo de ter uma perspectiva de como seria construído o STM, de modo a compartilhar com a comunidade e com investidores no projeto. Nesse âmbito, o modelo 3D, ainda, visa a facilitar o entendimento da comunidade acerca do funcionamento do sistema, uma vez que esta é a responsável pelo autogerenciamento do STM. Os cálculos de tensão mecânica foram executados com o intuito de obter valores médios sobre o quanto o fundo das caixas d´água utilizadas como tanques suportariam em relação às tensões geradas totais sobre o piso a ser construído sob o reservatório. Esses cálculos, então, foram necessários porque uma base deve ser construída, de cimento, concreto ou materiais similares, a fim de apoiar os tanques, que não devem ser enterrados diretamente sob à terra, por recomendação do Manual de Normas Técnica Fortlev (2021), seguindo procedimentos de instalação conforme Norma NBR 14800 e NBR 5626 da ABNT. Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2021). Figura 10 - Projeto do STM 38 4.3.1 Tanque de armazenamento Nesta etapa, a manipueira será armazenada, para posterior tratamento em descanso por decantação, de modo que a partir sólida se depositará ao fundo do tanque, e para o processo de evaporação de HCN. Esta etapa se faz necessária, visto que nem sempre o tempo climático estará ensolarado, facilitando o processo de evaporação desse ácido. Assim, quando o tempo estiver favorável, ou seja, ensolarado e quente, a manipueira seguirá para a etapa seguinte: tanque de decantação. As equações 1, 2 e 3 empregadas no cálculo de tensão para o tanque de armazenamento estão dispostas a seguir: 𝑀𝑚 = 𝑉 𝜌𝑚 (1) 𝑃𝑡 = (𝑀𝑚 + 𝑀𝑐)𝑔 (2) 𝑇𝐴 = 𝑃𝑡𝐴𝑖 (3) As dimensões dos 4 tanques (caixas d´águas) estão na Tabela 2: Tabela 2 - Dimensões dos tanques Volume (V) 1000 L Altura (h) 0,90 m Diâmetro inferior (Di) 1,30 m Diâmetro superior (Ds) 1,49 m Massa (M) 18,00 kg Área inferior (Ai) 1,33 m² Área superior (As) 1,73 m² Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). Para os cálculos das tensões mecânicas foram feitas as seguintes considerações na Tabelas 3, para os cálculos de tensão nos tanques: 39 Tabela 3 - Considerações para os cálculos de tensão mecânica nos tanques Densidade estimada da manipueira* (ρm) 0,99 g/cm³ Aceleração da gravidade (g) 9,81 m/s² Densidade estimada da casca do coco (ρc) 0,13 g/cm³ Densidade estimada da areia (ρa) 1,80 g/cm³ Densidade estimada da brita (ρb) 1,70 g/cm³ Densidade estimada dotijolo (ρt) 1,40 g/cm³ Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). As considerações em relação à densidade da manipueira foram feitas com base na análise de Cardoso Pinho et al (2015). Já as considerações acerca das densidades de casca de coco, areia, brita e tijolo (necessárias para os cálculos de tensão dos tanques contendo filtro de areia e de coco) foram feitas por Cardoso e Gonçalez (2016), com o auxílio de informações da empresa Operaction (2021). Para Na Tabela 4, encontram-se os resultados dos cálculos de tensão mecânica para esta etapa do STM. Tabela 4 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque de armazenamento Massa da manipueira (Mm) = V*ρm 990,00 kg Massa da caixa 18,00 kg Peso total (Pt) = (Mm+Mc)*g 9888,48 N Tensão = Pt/Ai 7459,46 Pa Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). 4.3.2 Tanque de decantação Nesta etapa a manipueira será posta em descanso, a fim de separar as fases da mistura. Dessa forma, a fase sólida da manipueira (goma) se depositará ao fundo do tanque, enquanto, a condições climáticas favoráveis (clima quente), o HCN sairá da mistura por evaporação. As equações 4, 5 e 6 empregadas no cálculo de tensão para o tanque de armazenamento estão dispostas a seguir: 𝑀𝑚 = 𝑉 𝜌𝑚 (4) 40 𝑃𝑡 = (𝑀𝑚 + 𝑀𝑐)𝑔 (5) 𝑇𝐷 = 𝑃𝑡𝐴𝑖 (6) Na Tabela 5, encontram-se os resultados dos cálculos de tensão mecânica para esta etapa do STM. Tabela 5 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque de decantação Massa da manipueira (Mm) = V*ρm 990,00 kg Massa da caixa 18,00 kg Peso total (Pt) = (Mm+Mc)*g 9888,48 N Tensão = Pt/Ai 7459,46 Pa Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). 4.3.3 Filtro de coco Por ter propriedades filtrantes muito favoráveis, além de ser biodegradável e de fácil manuseio, o filtro anaeróbio utilizando casca de coco verde tem por objetivo purificação e retenção de potenciais contaminantes no resíduo oriundo do tanque de decantação, ou seja, restos de sólidos e/ou partículas menores. Para os cálculos das tensões mecânicas foram feitas as seguintes especificações em relação aos cálculos de tensão nos tanques com filtro de coco e de areia na Tabela 6: Tabela 6 - Especificações para o cálculo de tensão mecânica nos tanques de filtro de coco e de areia Altura da camada de brita 0,30 m Altura da camada de areia 0,50 m Altura da camada de coco 0,20 m Altura da camada de tijolo 0,11 m Altura da manipueira aplicada ao filtro de areia 0,15 m Altura da manipueira aplicada ao filtro de coco 0,31 m Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). 41 As equações 7,8,9,10 e 11 empregadas no cálculo de tensão para o tanque com filtro de coco estão dispostas a seguir: 𝑀𝑚 = 𝑉 𝜌𝑚 (7) 𝑀𝑡 = 𝑉𝑡 𝜌𝑡 (8) 𝑀𝑐𝑜 = 𝑉𝑐𝑜 𝜌𝑐𝑜 (9) 𝑃𝑡 = (𝑀𝑚 + 𝑀𝑐𝑜 + 𝑀𝑐 + 𝑀𝑡)𝑔 (10) 𝑇𝐹𝐶 = 𝑃𝑡𝐴𝑖 (11) Na Tabela 7, encontram-se os resultados dos cálculos de tensão mecânica para esta etapa do STM. Tabela 7 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque com filtro de coco Volume ocupado pelo coco (Vc) 307,72 dm³ Volume ocupado pelos tijolos (Vt) 166,63 dm³ Volume ocupado pela manipueira 474,35 dm³ Massa do coco = ρc*Vc 40,00 kg Massa dos tijolos = ρt*Vt 233,28 kg Massa da manipueira = Vm*ρm 469,61 kg Massa da caixa 18,00 kg Peso total (Pt) = (M+Mm+Mc+Mt)*g 7464,35 N Tensão = Pt/Ai 5744,02 Pa Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). Para a manutenção do filtro em questão, faz-se necessário a remoção periódica do lodo, a cada 2 ou 3 anos, o qual deverá ser enviado para uma estação de tratamento própria ou gerenciado pela própria comunidade passando por um leito de secagem e depois compostagem, com o objetivo de aproveitamento do lodo no solo. Na figura 11, encontra-se um esquema do filtro. 42 Figura 11 - Esquema do filtro de coco Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). 4.3.4 Filtro de areia O filtro de areia foi construído, a fim de se reduzir a quantidade de resíduos sólidos (goma) provenientes de outras etapas do tratamento da manipueira. A montagem do filtro aeróbio de areia será feita conforme a figura 12: 43 Figura 12 - Esquema do filtro de areia Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). O filtro deve seguir as seguintes etapas de construção: A) O tubo de aeração será posicionado no fundo com furos de 8 cm de distância de 0,4 cm de tamanho; B) A brita será adicionada com profundidade de 8 cm, partindo do fundo do tanque; C) Será adicionada uma camada suporte com brita 1 com profundidade de 4 cm; D) Será coberta a primeira camada com uma tela sombrite; E) Será adicionada a camada de areia com profundidades de 39 cm; F) Será colocada uma placa de madeira ou concreto para distribuição de 20cm de comprimento no centro do tanque; 44 G) Será tampada a caixa (tanque). As equações 12,13,14 e 15 empregadas no cálculo de tensão para o tanque com filtro de areia estão dispostas a seguir: 𝑀𝑚 = 𝑉 𝜌𝑚 (12) 𝑀𝑏 = 𝑉𝑏 𝜌𝑏 (13) 𝑀𝑎 = 𝑉𝑎 𝜌𝑎 (14) 𝑃𝑡 = (𝑀𝑚 + 𝑀𝑐 + 𝑀𝑎 + 𝑀𝑏)𝑔 (15) Na Tabela 8, encontram-se os resultados dos cálculos de tensão mecânica para esta etapa do STM. Tabela 8 - Cálculo da tensão mecânica para o tanque com filtro de areia Filtro de areia Volume ocupado pela brita (Vb) [dm³] 461,58 Volume ocupado pela areia (Va) [dm³] 769,30 Volume ocupado pela manipueira (Vm) [dm³] 230,79 Massa da manipueira (Mm) = Vm*ρm [kg] 990,00 Massa da caixa [kg] 18,00 Massa da brita = ρb*Vb [kg] 784,69 Massa da areia = ρa*Va [kg] 1384,74 Peso total (Pt) = (Mm+Mc+Ma+Mb)*g [N] 31170,59 Tensão = Pt/Ai [Pa] 23986,60 Fonte: Arquivo pessoal da Enactus UFC (2020). 45 4.3 Molho de pimenta da Vó Maria A partir do resíduo tratado pelo STM, é possível continuar a produção do molho de pimenta da Vó Maria, nomeado em homenagem à matriarca da comunidade Curimatã (a Dona Maria). O molho é produzido a partir da manipueira, que é fervida e posta para descanso, a fim de eliminar possíveis agentes infecciosos ou contaminantes, além de favorecer a evaporação do HCN. Além disso, utiliza-se ingredientes tais como pimenta (a gosto), vinagre, alho, óleo e cebola, que colaboram como sabor do produto final. Anteriormente à pandemia, o custo para a produção de um molho de pimenta desses era cerca de R$5,00/375 ml, chegando a ser vendido por até R$10,00. Nesse sentindo, estimando uma renda média dos beneficiários da casa de farinho sendo de R$800,00/mês, espera-se complementar a renda destes em cerca de 12,5% após a estruturação de um sistema sólido de vendas para o molho de pimenta e outros subprodutos da manipueira. Um dos rótulos desenvolvidos para o molho, encontra-se na figura 13. Fonte: Arquivo pessoal do Time Enactus UFC (2020). Figura 13 - Rótulo do molho de pimenta da Vó Maria 46 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando os objetivos propostos para o trabalho, conseguiu-se atingir grande parte destes. Alguns sendo inviabilizados por conta da pandemia de Covid-19, que dificultou ainda mais o acesso físico à comunidade e aos laboratórios de testes. Nesse sentido, a inicialização do processo de construção do STM foi possível, apesar das restrições, seguindo as medidas sanitárias cabíveis. Para trabalhos futuros, após a construção da planta piloto do projeto do STM, avaliar a eficiência deste por meio de análises laboratoriais utilizando-se métodos analíticos que mostrem a variação do cianeto na amostra, assim como a redução no grau de sólidos suspensos na mistura do resíduo. Além disso, espera-se a consolidação de um sistema de vendas de pelo menos um subproduto da manipueira, tal como o molho de pimenta, e avaliar o impacto ambiental positivo no solo e nos corpos hídricos da região de Curimatã ao impedir que a manipueira seja incorretamente despejada ao ar livre. Dessa forma, a expectativa inicial é que o projeto consiga elevar em cerca de 12,5% a renda mensal dos beneficiários da casa de farinha, ao comercializar os subprodutos convertidos a partir da manipueira tratada pelo STM. O Apêndice C detalha informações acerca de atividades-chave e perspectivas futuras da implementação do STM na comunidade Curimatã, relacionando aspectos tais como gestão de escopo e partes interessadas (stakeholders), gestão de riscos, cronograma, orçamento e construção. Em suma, este trabalho teve conclusões bastantes relevantes no que se refere a dados como os de amostragem da água de poço, tendo em vista que esta, em decorrência de níveis inadequados de STD, dureza e condutividade, foi classificada como inadequada para consumo humano (não-potável). Dessa forma, faz-se necessário realizar outra coleta de água na comunidade, para comparar os resultados em duplicata ou triplicata. Considerando os objetivos gerais, este trabalho conseguiu unir conceitos das áreas de Engenharia Popular e Empreendedorismo Social, para desenvolver análises pertinentes do impacto positivo, nos eixos ambiental, econômico e social, do Projeto Maní na comunidade Curimatã, em Pacajus. Dessa forma, aplicando diretamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na resolução de uma problemática ambiental (resíduo da manipueira), favorecendo, simultaneamente, o 47 trabalho digno e crescimento econômico na comunidade, a fim de desenvolver uma microeconomia sustentável. Para trabalhos futuros, sugere-se investigar, por meio de análises laboratoriais, o nível de qualidade da água do poço da comunidade, inclusive para o índice de concentração de cianeto (para avaliar possível envenenamento por infiltração da manipueira no solo), comparando também a amostras de comunidades vizinhas, na cidade de Pacajus. Além disso, para completude de dados sobre o devido funcionamento do STM, faz-se necessário, a avaliação da eficiência do STM, por meio da análise de sólidos totais dissolvidos e não-dissolvidos na amostra tratada, além da concentração de ácido cianídrico. 48 REFERÊNCIAS AGRONOMIA, C. F. D. E. E. J. G. D. C. D. C., BRASÍLIA/DF. Código de Ética Profissional da Engenharia, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia. 2014. BAZZO, W. A. Ciência, tecnologia e sociedade e o contexto da educação tecnológica. 2003. BETIM, F. O engenheiro que quer transformar a periferia onde cresceu. 2017. Disponívelem:<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/economia/1503370922_01 3669.html >. Acesso em: 26/03/2021. BITENCOURT, S. M. Existe o outro lado do rio? um debate sobre educação, gênero e engenharia. Appris Editora e Livraria Eireli-ME, 2016. ISBN 8547300627. BRASIL, E. E. Manual da Trilha Empreendedora Enactus 2020. Disponível em: < http://www.enactus.org.br/our-program/enactus-training-center/colabora-enactus- 2/enactus-brasil/pre-auditoria/ >. Acesso em: 07/02/2021. BRASIL, E. E. Relatório Anual - Ciclo 2019-2020. 2020. Disponível em: <http://www.enactus.org.br/about-us/relatorios-anuais/>. Acesso em: 28/02/2021. BRASIL, N. U. 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