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Aula1
Direito Penal Aplicado I / Aula 1 - Introdução, conceito e princípios do Direito Penal
Introdução
Nesta aula, iniciaremos os estudos sobre a disciplina de Direito Penal, compreendendo a sua importância para a sociedade. O direito penal é uma valiosa ferramenta da qual o Estado se vale para coibir comportamentos inaceitáveis para a sociedade como, por exemplo, matar, roubar, estuprar, agredir a integridade física de outro etc. Nessa linha de raciocínio, apresentaremos o conceito de direito penal, bem como a definição de infração penal, crime e contravenção. Como se trata de um sistema, o Direito Penal, tal como outros ramos do Direito, possui princípios que servem para norteá-lo. Eles serão abordados de forma exauriente a fim de esclarecer quando e como devem ser aplicados.
Introdução e conceito de Direito Penal A vida em sociedade impõe ao ser humano uma série de relações com seus semelhantes. Nem sempre essas relações serão pacíficas. Os conflitos podem surgir e, dessa forma, a vida em sociedade depende de uma regulamentação. No que tange à disciplina em estudo, cumpre destacar que o Estado, criado para proteger os seres humanos e lhes garantir um bem-estar, protege os bens mais importantes da sociedade erigindo a condução de bens tutelados pelo direito penal. Assim, quando os bens do homem (vida, patrimônio liberdade, dignidade sexual etc.) recebem essa proteção de uma norma elaborada pelo Estado, criam-se os bens jurídicos.
A função do direto penal é proteger os bens jurídicos.
Os bens jurídicos são os bens da vida, tutelados por uma norma penal que incrimina quem os atinge ou coloca em risco. A partir da prática de uma dessa condutas incriminadas pelo direito penal, surge para o Estado o poder-dever de exercer seu ius puniendi (direito de punir). É importante ressaltar que o estado detém o monopólio desse direito de punir. Somente ele pode punir legitimamente uma pessoa que transgrediu uma normal penal.
Infrações Penais
Em decorrência dessa necessidade do Estado de proteger os bens jurídicos mais importantes do ser humano e da sociedade, surge a criação de infrações penais: regras de comportamento que impõem uma sansão penal a quem as transgredir. As normas penais, em sua maioria, estão compiladas em um código denominado Código Penal (Decreto-Lei 2848/40). O legislador criou as infrações penais, que é um gênero do qual o crime e a contravenção são espécies:
 Crime (espécie)
Infração penal (gênero): 
 Contravenção Penal (espécie)
Você sabe a diferença entre crime e contravenção?
A diferença está na espécie de pena aplicada ao crime:
Nas, contravenções penais, a pena é de prisão simples, o que impõe um regime semiaberto ou aberto, sem rigor penitenciário.
Quanto ao crime, a pena pode ocorrer em regime fechado.
A norma penal é composta de duas partes:
Comando Principal ou Preceito Primário (descrição da conduta);
Sanção ou Preceito Secundário (sanção).
Fontes do Direito Penal
Inicialmente, devemos destacar que, quando se fala em “fonte”, trata-se de um lugar de procedência, inspiração, base para formulação do sistema, norteamento das diretrizes, ou seja, refere-se à origem da norma penal.
A produção da norma sempre deve vir por meio de lei penal, pois compete privativamente à União legislar sobre Direito Penal (art. 22, I da Constituição Federal).
A visão interdisciplinar do Direito Penal
O Direito Penal faz parte de um sistema: o ordenamento jurídico. A base desse sistema, que norteia os demais ramos do Direito, é o Direito Constitucional. Veremos, adiante, que o direito penal guarda íntima relação com o direito constitucional, em especial na parte de direito e garantias fundamentais (previstos no Art. 5 da Constituição Federal).
A constituição é a lei maior que irá influenciar e nortear toda a criação dos demais ramos. Devemos, então, ver o direito penal à luz das normas constitucionais. Em decorrência dessa afirmativa, veremos que vários princípios aplicados ao direito penal encontram-se sediados na própria Constituição Federal de 1988.
Princípios constitucionais e infraconstitucionais
Princípio da dignidade humana
Leia o art. 1°, inciso III, da CRFB/1988:
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
A Constituição é a base de todo ordenamento jurídico, irradiando a sua força normativa para todos os setores do Direito, inclusive o Penal. A sua influência na seara penal é muito importante, tendo em vista que cabe ao Direito Penal a proteção de bens e valores essenciais à livre convivência e ao desenvolvimento do indivíduo e da sociedade previstos constitucionalmente.
O bem jurídico-penal tem na Constituição as suas raízes materiais, sendo fundamental para a salvaguarda dos direitos fundamentais que a interpretação e a aplicação da lei penal sejam feitas sempre conforme a Constituição e os ditames do Estado democrático de Direito.
Leitura
Para saber mais sobre esse tema importante, leia o artigo “O princípio da dignidade humana e sua relação com o Direito Penal”. Disponível em: //migre.me/u6j9J
Princípio da Legalidade
Atenção para o art. 5°, inciso XXXIX, da CRFB/1988 e o art. 1° do Código Penal:
Art. 5º, XXXIX Constituição Federal 1988 – Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
Art. 1º do Código Penal - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Podemos perceber que o Código Penal apenas repetiu o que a Constituição estabeleceu. Agora, vamos entender o referido princípio.
O princípio da Legalidade (contendo os subprincípios reserva legal e anterioridade) trata da garantia constitucional fundamental, garantidora da liberdade. Assim, só é possível a existência de crime quando existir uma perfeita correspondência entre o ato praticado e a previsão legal, e que esta seja anterior àquela.
Esse princípio contém outros subprincípios:
Princípio da Reserva da Lei
Só a lei pode definir crimes e cominar penalidades. Nenhuma outra fonte inferior à lei pode gerar uma norma penal. Dessa forma, não há possibilidade de uma portaria, uma resolução ou medidas provisórias (que são outras espécies de normas) criarem um crime. Um bom exemplo dessa afirmação é que o presidente não pode criar crime por meio de um ato legislativo seu, a Medida Provisória (art. 62 da CF/88), que não passa pelo congresso. Assim, as demais normas, que não sejam leis, não podem definir crimes nem impor penas.
Princípio da anterioridade da lei penal
É um princípio relativo ao crime e à pena. Somente se aplicará pena que esteja prevista anteriormente na lei como aplicável ao autor do crime. A estipulação do crime e sua respectiva pena devem ser criadas anteriormente à conduta do autor, pois, do contrário, poder-se-ia criar ou até mesmo alterar a pena (assim como o crime) de acordo com determinados casos. O que, certamente, iria gerar quebra de igualdade e isonomia que todos devem ter perante a lei (a lei deve tratar todos de forma igual na exata medida de sua igualdade e os desiguais na mesma proporção de sua desigualdade – ação denominada Igualdade Material).
“Devemos tratar igualdade os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.”
(Aristóteles)
Princípio da Taxatividade
O conjunto de normas incriminadoras é taxativo. O fato é típico ou atípico. O elenco não admite ampliações. Assim, fica impossibilitado o emprego da analogia. Para tanto, a lei deve especificar ao máximo o fato típico, evitando generalizações.
Princípio da Irretroatividade das Normas Incriminadoras
Este decorre do princípio da anterioridade. A lei incriminadora não pode retroagir para alcançar um fato cometido antes de sua vigência. Por óbvio, não podemos incriminar condutas que, quando praticadas, eram lícitas, permitidas. Quando o advento de uma lei proíbe certaconduta, aí sim podemos cobrar das pessoas que lhe respeitem.
Princípio da Irretroatividade da Lei Penal
Como explicado anteriormente, não podemos aplicar a lei penal a fatos passados, ou seja, quando o indivíduo praticou determinada conduta, esta era permitida. Mas uma nova lei pode afirmar que aquela conduta é crime agora. A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o investigado.
Art. 5º, XL da Constituição Federal/88 – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
Atividade
*A) Não há crime sem lei que o defina; não há pena sem cominação legal.
B) A pena só pode ser imposta a quem, agindo com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um fato típico e antijurídico.
C) A criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico.
D) Nenhuma pena passará da pessoa do condenado.
E) A pena deve estar proporcionada ou adequada à magnitude da lesão ao bem jurídico representada pelo delito e pela medida de segurança à periculosidade criminal do agente.
Princípio da Subsidiariedade
O Direito Penal é apenas um dos ramos do Direito. O Estado, para proteger determinados bens jurídicos, vale-se de outros menos gravosos ao indivíduo como, por exemplo, a estipulação de multa pecuniária para quem avançar o sinal de trânsito vermelho (direito administrativo). Com isso, garante a segurança viária.
Entretanto, quando esses outros ramos do Direito falham, o Estado se utiliza do Direito Penal, por ser mais forte sua incidência na vida das pessoas, justo pelo poder que ele tem de privá-las de um bem muito importante, que é a liberdade.
Princípio da Subsidiariedade
Utilizando o mesmo exemplo do veículo que avança o semáforo vermelho, agora, imaginemos que ele atropelou uma pessoa.
Seu condutor deverá, então, responder pelo crime de lesão (ou até mesmo homicídio, se houver morte) culposa na direção de veículo motor?
GABARITO Sim! Resta evidenciar que o Estado deve se valer de meios menos gravosos para coibir a conduta não admitida em sociedade e, somente em último caso, deve se utilizar do direito penal. Este, no que tange a sua utilização pelo Estado, é subsidiário em relação aos demais ramos do Direito.
Princípios da Fragmentariedade (Princípio da Intervenção Mínima)
As relações sociais entre indivíduos na sociedade são contínuas, ou seja, consubstanciam-se em verdadeiras relações permanentes. As relações de convívio, de urbanidade, de educação, de vizinhança, familiar etc.
Não são todas as condutas das relações humanas que serão merecedoras da atenção do direito penal. Com efeito, ele atua apenas em determinados fragmentos dessa relação. Este princípio decorre dos princípios da reserva legal e da intervenção necessária (mínima).
O direito penal não protege todos os bens jurídicos de violações: só os mais importantes.
Princípio da Lesividade (alteridade ou transcendentalidade)
O direito penal só deve ser aplicado às condutas que extrapolem a esfera do próprio autor e lesem bem jurídico de terceiros ou, ao menos, coloquem em risco o bem jurídico tutelado.
No Direito Penal, o princípio da lesividade proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente, pois se revela incapaz de lesionar o bem jurídico. Adota-se a ideia - até intuitiva - de que ninguém pode ser punido por fazer mal a si mesmo.
Por isso, aquele que tenta suicídio (e não consegue se matar) não responde por nenhum crime.
Princípio da Culpabilidade
A culpabilidade está relacionada com o juízo de reprovação que se faz acerca da conduta do autor, pois ele poderia, e era-lhe exigido que atuasse de outra forma que não com o cometimento do crime. A culpabilidade deve ser vista como fundamento e como limite da própria pena, em que a sanção imposta ao indivíduo deve guardar adequada proporção à gravidade de sua ação delituosa.
Princípio da Insignificância
O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e na substituição da pena ou na sua não aplicação. Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos:
· A mínima ofensividade da conduta do agente;
· Nenhuma periculosidade social da ação;
· O reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
· A inexpressividade da lesão jurídica provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor).
· Sua aplicação decorre no sentido de que o direito penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
· Para compreender melhor este princípio, assista ao documentário a seguir:
· Atividade
· 
2 - Analise as afirmações sobre o princípio da insignificância e marque a alternativa correta.
· I – O princípio da insignificância está ligado aos chamados “crimes de bagatela”.
· II – Nas hipóteses de lesões mínimas, será reconhecida a atipicidade dos fatos.
III – O princípio da insignificância recomenda que o direito penal apenas intervenha nos casos de lesão jurídica grave.
· 
· *A) Todas as afirmações estão corretas.
· 
· B) Apenas as afirmações I e II estão corretas.
· 
· C) Apenas as afirmações I e III estão corretas.
· 
· D) Apenas as afirmações II e III estão corretas.
· 
· E) Nenhuma das afirmações está correta.
Princípios do Ne bis in idem
Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.
Possui duplo significado:
Penal material
Ninguém pode sofrer duas penas em face do mesmo crime;
Ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pelo mesmo fato.
Atividade
3 - Com relação ao princípio do ne bis in idem, é correto afirmar que:
A) A criminalização de uma conduta só será legítima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico.
B) Nenhuma pena passará da pessoa do condenado.
C) Todos são iguais perante a lei penal.
*D) Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.
E) Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Aula 2
Introdução Nesta aula, você irá dar continuidade aos aspectos principais para uma boa compreensão das regras gerais do Direito penal. Irá analisar qual é o exato conceito de tempo do crime, e estabelecer o seu raio de incidência analisando o Direito penal no espaço. É de suma importância saber exatamente até onde vai o alcance do Direito penal, em relação ao nosso conceito de território, bem como compreender os casos excepcionais em que, mesmo sendo praticado fora do nosso território, ainda assim o crime poderá estar sujeito a nossa lei. Por derradeiro, você irá estabelecer como acontece a contagem do prazo penal e processual penal, o que é muito importante para outros aspectos que você irá identificar mais à frente.
Analogia em Direito penal. Natureza Jurídica e incidência
Trata-se de complementar uma lacuna da lei, que não regula determinada situação jurídica, se utilizando de outra lei que compreenda a mesma razão, ou seja, o Direito penal não regula determinado fato, então o intérprete se utiliza de outra regra, ainda que de outro ramo do Direito, para solucionar o caso.
Consiste em aplicar-se uma hipótese não regulada em lei, disposição relativa a um caso semelhante. Na analogia, o fato não é regido por qualquer norma e, por essa razão, aplica-se uma de caso análogo. É uma forma de autointegração da lei.
Espécies de analogia:
In Bonan Partem: A analogia é empregada em benefício do agente (réu); é admitida no nosso ordenamento jurídico.
In Malan Partem: A analogia é empregada em prejuízo do agente (réu).
Analogia de norma penal incriminadora
Quando se trata de estabelecer crimes, adotamos o princípio da reserva legal, ou seja, a conduta que se deseja incriminar deve estar descrita na norma (lei) penal incriminadora de forma clara e taxativa.
Entretanto, discute-se a possibilidadede aplicar analogia para estabelecer um crime, e o entendimento que predomina largamente é no sentido de que fere o princípio da reserva legal, destacando um fato não definido como crime como tal.
Conflito aparente de normas
Ocorre quando duas ou mais normas aparentemente parecem aplicáveis ao mesmo fato.
Elementos configurativos do conflito:
· Uma só infração penal — unidade de fatos;
· Duas ou mais normas pretende regulá-lo — pluralidade de normas;
· Aparente aplicação de todas as normas à espécie;
· Efetiva aplicação de apenas uma delas.
A solução se dá pela aplicação de alguns princípios, que são:
Lex specialis derogat generalis
Especial é a norma que possui todos os elementos gerais e mais alguns denominados de especializantes que trazem um minus ou um plus de severidade.
A lei especial prevalece sobre a geral a qual deixa de incidir sobre aquela hipótese. Ex.: o art. 123, do CP, trata de infanticídio que prevalece sobre o artigo 121 homicídio, pois além de ter os elementos genéricos deste possui elementos especializantes (próprio filho, durante o parto ou logo após etc.).
Lex primaria derogat subsidiariae
Subsidiária é aquela norma que descreve, em grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual embora definido como delito autônomo, encontra-se também compreendido, em outro tipo, como fase normal de execução de crime mais grave.
A norma primária prevalece sobre a subsidiária. Exemplo: o agente efetua disparos com arma de fogo sem atingir a vítima , aparentemente, três normas são aplicáveis. O artigo 132, do CP, o artigo 10 § 1°, III, da Lei 9437/97, e o art. 121, c/c o art. 14, II do CP.
O tipo definidor da tentativa de homicídio descreve um fato mais amplo e mais grave do qual cabemos dois primeiros.
Lei penal no tempo Neste tópico, você irá reconhecer o aspecto da lei penal que muito se aproxima da manifestação da vida humana em geral, pois assim como os seres humanos a lei pode nascer, viver e morrer, com as devidas peculiaridades dos aspectos essenciais que uma norma pode possuir, é claro. A lei está submetida à corrosão do tempo, e encontra a limitação na sua criação ou na sua morte.
Princípio da Lei Penal no Tempo
A lei penal é regulada pelo princípio do tempus regit actum, ou seja, a lei do tempo irá reger o ato. Traduzindo, significa que a lei penal aplica-se aos fatos da sua época, ou seja, a lei aplicável à repressão da prática do crime é a lei vigente ao tempo de sua execução. Está norma está expressa no artigo 2º do Código Penal.
Conflito de Leis Penais no Tempo
Como as leis podem ser revogadas, então podem ocorrer problemas em decorrência dessa sucessão de leis, pois leis podem ser mais brandas ou mais rígidas e isso refletirá na análise do fato em relação a sua regulação pelo direito. A nova lei sempre traz conteúdo diverso da anterior, pois se assim não fosse não seria necessário criar uma nova lei.
As regras e os princípios que buscam solucionar o conflito de leis penais no tempo constituem o Direito penal intertemporal.
Os casos de conflito estão disciplinados no art. 5º, XL, da Constituição Federal, e nos art. 2º e 3º do código penal. Nestes dispositivos, estão estabelecidas as regras e as exceções. A regra é a aplicação da lei em vigor na época em que o fato (crime) foi praticado em decorrência da aplicação do princípio do tempus regit actum.
Entretanto, algumas exceções e situações podem surgir nessa relação entre a data do fato e a sucessão de leis, merecendo uma análise mais profunda do tema e das formas de solução, como:
A – novatio legis incriminadora
A lei cria uma nova figura penal, ou seja, incrimina uma conduta que até então era permitida (novatio legis incriminadora).
Trata-se da circunstância em que a nova lei cria o crime, ou seja, torna uma determinada conduta que, até então, era permitida (tolerada pela sociedade), em conduta criminosa. A nova lei só pode ser utilizada para fatos que forem praticados após a sua vigência, como preceitua o art. 1º do Código Penal.
B – lex gravior
A lei posterior é mais rígida do que a lei anterior (lex gravior)
Neste caso, já existe uma lei penal regulando a situação (diferente do caso anterior da novatio legis), entretanto surge uma nova lei que, de qualquer forma, torna mais rígida a reprimenda em face do réu. Essa lei mais grave jamais poderá retroagir para alcançar atos anteriores a sua vigência, conforme descreve o art. 5, XL, da FCRB/88 — princípio da irretroatividade da lei mais gravosa.
C – abolitio criminis
A lei posterior extingue o crime (abolitio criminis)
A lei nova deixa de considerar crime a conduta até então prevista como tal. A conduta que antes era crime, com a nova lei, passa a ser permitida. A nova lei pratica a abolição do crime do ordenamento jurídico-penal, transformando em uma conduta irrelevante para o Direito penal.
Lei penal no tempo
Art. 2º- Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Código Penal)
Para ler mais sobre a Abolitio criminis, clique aqui.
D – lex mitior
A lei posterior extingue o crime (abolitio criminis)
Ocorre quando a nova lei trata de tema (crime), que já existe e está regulado pela lei, de forma mais branda, ou seja, mais benéfica ao réu. Esta situação se aproxima muito com a abolitio criminis, com a diferença que, naquele, o réu é beneficiado com a revogação total do crime, enquanto que, aqui, a lei não deixa de existir e sim, trás algum benefício ao réu.
Nesta hipótese, a lei mais benéfica, por uma questão de opção de política criminal que nosso país adota, retroagirá e alcançará até mesmo fatos anteriores a sua vigência.
Código penal
Art. 2º (…) - Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Constituição Federal de 1988
Art. 5 (…) - XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
E
A lei posterior possui parte mais benéfica ao réu e outra parte mais maléfica.
Algumas normas penais acabam por favorecer o réu, em determinados aspectos, e prejudicá-lo em outros. Neste caso, surge uma controvérsia sobre qual norma aplicar, a lei nova e seu caráter misto (benéfico e maléfico) ou a norma anterior. E ainda, seria possível aplicar apenas a parte que beneficia o réu da lei nova e ignorar a parte ruim (maléfica)?!
Neste caso, aplica-se a lei mais nova, na sua integralidade, ainda que ela não seja totalmente vantajosa ao réu. A doutrina (grandes autores renomados sobre o tema) e a jurisprudência (decisões dos juízes) seguem forte no sentido de que não pode o réu fazer combinações de lei, assim pegando parte da lei nova que lhe interessa e utilizando de parte da lei antiga.
O réu tem que suportar os aspectos ruins da nova lei para poder se beneficiar das vantagens que a nova lei pode lhe proporcionar.
Tempo do crime
Necessário se faz estabelecer o momento em que o crime é praticado, até mesmo para que possamos determinar quando incidirá a lei penal sobre o fato criminoso. Nesse contexto, devemos decidir quando o crime é praticado. Para solucionar esta questão surgem três teorias:
O tema de estudo de hoje será “tempus commissi delicti e locus commissi delicti”, ou seja, tempo e lugar do crime, respectivamente.
A análise do presente ponto é de suma importância, visto que, ao saber o tempo do crime, identificar-se-á a lei em vigor, bem como se o agente era imputável à época dos fatos. De outro lado, conhecido o lugar do crime, mencionada circunstância poderá ser utilizada para fins de fixação de competência penal internacional, posto que, a competência jurisdicional pátria é regida pelo artigo 70 do Código de Processo Penal.
1) Tempo do crime:
Há 03 (três) teorias principais sobre o tempo do crime:
1.1) Atividade: é a adotada pelo Código Penal Brasileiro.
Art. 4º – Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.Assim, se ‘A’, com inequívoco animus necandi, atira contra ‘B’ em data de 10 de janeiro de 2015, vindo este a óbito em data de 27 de abril do citado ano. Ter-se-á praticado o crime de homicídio em 10/01/2015.
1.2) Resultado: ao contrário da teoria da atividade, aqui se considera praticado o crime no momento do resultado.
No Direito Penal, a título de exceção, aplica-se a teoria em questão para determinar o termo inicial da prescrição, nos moldes do artigo 111, inciso I.
Logo, na esteira do exemplo apresentado no tópico anterior, considerar-se-ia o crime como praticado em data de 27/04/2015.
1.3) Ubiquidade ou mista: segundo esta teoria, levar-se-á em conta tanto o momento da ação ou omissão, como do resultado.
2) Lugar do crime:
De igual forma, há 03 (três) teorias principais:
2.1) Atividade: o lugar do crime é o da ação ou omissão.
Exemplo: A, com ânimo inequívoco de matar, golpeou B com várias facadas, fato ocorrido na cidade de Osasco. Horas depois, em um hospital na cidade de São Paulo, B veio a falecer em razão dos ferimentos. Neste caso, o lugar do crime seria Osasco.
2.2) Resultado: o lugar do crime é o da consumação.
Exemplo: nos termos do exemplo de item 2.1, o lugar do crime seria São Paulo.
2.3) Ubiquidade ou mista: é a adotada pelo Código Penal Brasileiro.
Art. 6º – Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Exemplo: considera-se como lugar do crime Osasco (ação) e São Paulo (resultado).
Lei penal no espaço
No que se refere ao Direito penal no espaço, devemos ter em mente que precisamos estabelecer qual o limite espacial (territorial) que será possível aplicar o Direito penal.
Não podemos deixar de assinalar que a possibilidade de aplicar o Direito, seja ele de qual ramo for, é um exercício de soberania do Estado, então só será possível aplicá-lo no local em que o Estado exerce essa soberania, ou seja, no seu território.
Territorialidade
O código penal limita a sua incidência ao território nacional, por conta disso afirma-se que aplicamos como regra o princípio da territorialidade na forma do art. 5º do CP.
Contudo, a lei também prevê exceções a esta regra, que são os casos de extraterritorialidade previstos no art. 7 do CP.
Inicialmente, se faz necessário estabelecer qual o conceito de território, que compreende:
Solo: Ocupado pela corporação política;
Rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos;
Mar territorial (12 milhas marítimas)
Onde o Brasil exerce plena soberania. Navios mercantes e militares estrangeiros podem passar livremente (direito de passagem inocente), embora sujeitos ao poder de polícia do Estado costeiro;
Zona contígua (12 as 24 milhas marítimas)
Zona de fiscalização a fim de evitar ou reprimir infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no território ou mar territorial;
Zona econômica exclusiva (12 as 200 milhas)
Contada a partir do mar territorial, onde o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos vivos ou não vivos, águas sobrejacentes ao leito do mar, deste e seu subsolo, além de outras atividades visando ao aproveitamento da zona para finalidade econômica. Para efeito da aplicação penal, não é considerado território nacional;
Espaço aéreo (dimensão estatal de altitude)
É a camada atmosférica referente ao espaço aéreo acima do território nacional e mar territorial (art. 11 – Lei 7.565/1986), onde o Brasil exerce completa e exclusiva soberania ditada por imperativos de segurança nacional;
Navios e aeronaves
Os navios e as aeronaves públicos são considerados extensão do território nacional, aonde quer que estejam. São classificados como território por extensão. Aplica-se aqui o princípio do Pavilhão ou da Bandeira estabelecendo que irá prevalecer a bandeira da embarcação e/ou da aeronave, independente do lugar que ela esteja, desde que a serviço do país. Quando a aeronave ou a embarcação for particular, desde que esteja em mar territorial ou em espaço aéreo correspondente brasileiro, aplica-se a nossa legislação.
Atenção
Espaço cósmico — pode ser explorado e utilizado por todos os Estados, em condição de igualdade e sem discriminação. Não é objeto de apropriação estatal.
A regra é a aplicação da lei penal no território nacional, ainda que seja um território por extensão (ou também chamado de território por equiparação), contudo é possível a aplicação da lei penal brasileira aos casos praticados fora do território nacional. São os ditos casos de extraterritorialidade.
Extraterritorialidade
O artigo 7º, do Código Penal, cuida do denominado princípio da extraterritorialidade da lei penal brasileira.
As hipóteses são expressamente previstas na lei penal, ante seu caráter excepcional, já que a regra é a territorialidade da lei, prevista no artigo 5º, do mesmo Código.
Entendemos que as espécies de extraterritorialidade são três:
Para melhor compreender o item anteriormente proposto e estabelecer que, para caso de extraterritorialidade, o ordenamento jurídico determina um princípio, vamos analisar os princípios aplicados.
Princípio da personalidade ou nacionalidade
Aplica-se a lei penal brasileira, independentemente onde o crime for praticado no estrangeiro ou independentemente do bem jurídico afetado, quando o autor for brasileiro (Art. 7º , I , alínea a) ou quando a vítima do crime for brasileira (Art. 7º, II alínea b).
Devem-se observar as condições impostas pelo § 2º e § 3º para a incidência dessas hipóteses.
Princípio do domicílio
Aplica-se a lei penal brasileira quando o agente for residente no país. Conforme art. 7º, I, alínea d do CP.
Princípio da defesa, real ou proteção
Qualquer uma das três denominações serve para estabelecer que a lei penal será aplicada nos casos previstos no art. 7º, I, alíneas a, b e c.
Princípio da justiça universal
Também conhecido como justiça cosmopolita. A aplicação da lei penal brasileira, neste caso, se fundamenta pelo dever solidário de repressão de certo delitos, cuja punição interessa a todos. Está prevista no art. 7º, II, alínea a do CP.
Princípio do pavilhão, bandeira, representação
Trata-se da hipótese do que nos referimos aos casos de território por extensão. Está previsto expressamente no art. 7º, II, alínea c do CP.
Lugar do crime
A aplicação da lei penal brasileira, para ser aplicada, precisa estabelecer o local do crime. Para tanto, surgem três teorias para estabelecer qual o local do crime.
Atenção
Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Observação: Não podemos confundir o tempo do crime (que possui também três teorias) em que o código penal adotou a Teoria da Atividade (art. 4 do CP), com o lugar do crime que possui estas mesmas três teorias, contudo, aqui, o código adotou a Teoria Mista ou da ubiquidade (art. 6 do CP).
Disposições final acerca da aplicação da lei penal
Contagem de prazo
Importante estabelecer qual forma irá se dar a contagem dos prazos no Direito penal. Esta circunstância afeta de diretamente vários outros institutos que iremos estudar mais à frente, como por exemplo, a prescrição.
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
O art. 10, do CP, nos trás a solução, pois estabelece que para calcular o prazo penal devemos incluir o dia do começo. A contagem do prazo penal inclui feriados e finais de semana sem qualquer interrupção. Desprezam-se as frações de dia. Vamos ver um exemplo para fixar o entendimento.
Observações:
· O calendário comum a que se refere o artigo é o calendário gregoriano, aquele em que se entende por dia o hiato de tempo entre a meia-noite de um dia até a meia-noite do outro dia.
· Diferente do prazo penal (que inclui o dia do começo e despreza o dia do final) o prazo do processo (prazo processualpenal) é o oposto, pois exclui o dia do começo e inclui o dia do final. Art. 798, § 1º, do Código de Processo Penal.
Frações não computáveis da pena
O art. 11, do CP, trás a determinação de que as frações de horas serão desprezadas, o que significa que, se uma pessoa, por exemplo, for condenada a 10 dias de prisão e tiver um acréscimo de 1/3 (por qualquer motivo de causa de aumento previsto na lei), e essa conta resultar em dias + algumas horas (10 dias + 1/3 = 13 dias e 6 horas, aproximadamente) as horas são desprezadas e o indivíduo só precisará cumprir os 13 dias.
O referido dispositivo ainda afirma que as frações de cruzeiro serão desprezadas, por motivos óbvios a expressão cruzeiro deve ser substituída por reais. Nesta regra, o que a lei penal despreza são os centavos, como, por exemplo, imaginemos um pessoa que foi condenada a pagar um multa de R$ 30,25 (trinta reais e vinte e cinco centavos). Nesse caso, desprezam-se os centavos e o condenado só precisará pagar os R$ 30 reais.
Legislação Especial
O código faz menção ao fato de que as regras gerais do CP (do art. 1º até 120º) se aplicam à parte especial do código que trata dos crimes (art. 121 até 359-h) bem como até mesmo às legislações especiais que não estão disciplinadas no código (Estatuto do Desarmamento, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Trânsito etc.) desde que essas legislações especiais não dispunham de forma diversa do CP.
O ordenamento jurídico penal, apesar de estar, em boa parte, codificado, no que conhecemos como Código penal, também possui legislação que disciplina e trata da matéria penal como as já citadas leis.
Dessa forma, o art. 12, do CP, expressamente estabelece essa aplicação subsidiária às demais legislações.
Atividade
Com base nos ensinamentos, leia a seguinte reportagem e reflita se seria possível ou não aplicação da lei.
Dez anos do assassinato de Jean Charles de Menezes na Inglaterra
GABARITO Estamos diante de uma caso de extraterritorialidade, em que, via de regra, é possível a aplicação da lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil contra brasileiro. Entretanto, mesmo sendo possível essa aplicação, devemos preencher determinados requisitos, pois estamos diante de um caso de extraterritorialidade condicionada. Nesse caso, aplica-se a regra contida no art. 7º, § 3, do CP. No episódio específico da vítima Jean Charles, não será possível a aplicação porque não preenche os requisitos exigidos pelo referido dispositivo legal. O crime foi cometido contra brasileiros, mas os autores não entraram no Brasil. Portanto, não podemos aplicar a lei penal na Inglaterra (Londres). Nesse caso específico, não caberá a aplicação da lei penal por falta do estabelecimento da condição exigida pela lei.
Aula 3
Introdução Nesta aula, analisaremos os preceitos inicias da teoria do crime e verificaremos as formas de conceituá-lo, em especial estudaremos o conceito analítico, que também será explorado nas próximas aulas. Além disso, vamos analisar os sujeitos da infração penal e enfrentar a controvérsia acerca da possibilidade da pessoa jurídica ser autora de crime. Ao final, ainda verificaremos a classificação que a doutrina faz dos crimes.
Consolidação da teoria do delito
O conceito de infração penal é o pressuposto do estudo de muitos outros institutos do Direito Penal. Contudo, por mais que pareça uma tarefa simples, conceituá-la é complexo. Muitos estudiosos se debruçaram e até dispensaram energia em estudar o exato conceito de infração penal e sua relação com outros institutos.
Logo, entender essa metodologia científica é crucial para quem pretende compreender o conceito de infração penal, que pode ser estudado sobre os aspectos:
· material ou substancial;
· formal ou legal e;
· analítico.
Conceitos de infração penal
Material ou substancial
A infração penal, neste aspecto, é toda ação ou omissão humana voluntária que lesa ou expõe a perigo de lesão bens penalmente relevantes.
Considerando o mal produzido em relação ao bem jurídico tutelado pela norma penal, o legislador deve incriminar apenas as condutas penalmente relevantes, desprezando condutas que não colocam em risco o bem que a norma visa proteger.
Leitura
Para ler sobre os conceitos de infração penal material ou substancial, clique aqui.
Formal ou legal
Neste aspecto, o conceito de infração penal é aquela conduta em que o legislador estabelece, por meio do devido processo legislativo, como crime. Assim, o conceito será estabelecido pela lei.
O código penal não traz a definição de infração penal, contudo podemos encontrá-la na lei de introdução ao código penal que, em seu art. 1º, estabelece:
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. (Lei de Introdução ao Código Penal – Decreto – Lei nº 3914/41).
Desse comando normativo se extrair a conclusão de que, para ser crime, de acordo com este critério, basta haver a cominação de pena de reclusão ou detenção, isoladamente, alternativamente ou cumulativamente com pena pecuniária (multa).
Dessa forma, se o preceito secundário do crime contiver a expressão “reclusão” ou “detenção”, estaremos diante de um crime. Pouco importa se a norma penal está prevista no código penal ou em legislação especial, se tiver a culminação dessas duas espécies de pena será classificada como crime.
Preceitos de um crime
Preceito primário: Conduta incriminada (como, por exemplo, matar alguém).
Preceito secundário: Pena é a reclusão, de seis a vinte anos.
Exemplo
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém: preceito primário.
Pena: reclusão, de seis a vinte anos: preceito secundário.
No mesmo dispositivo, o art. 1º da LICP estabelece que será contravenção penal quando culminar pena de prisão simples, que, isoladamente, cumulativamente ou alternativamente, tem pena pecuniária (multa).
É importante ressaltar que as contravenções penais são espécies de infração penal de menor gravidade e, portanto, estipulam uma pena pequena.
As contravenções penais estão estabelecidas em uma lei própria (e não no código penal): Decreto-lei nº 3.688,  de 3 de outubro de 1941.
Prisão simples
O art. 6º da Lei de Contravenções Penais (LCP) define o que vem a ser “prisão simples”.
 Crime (espécie)
Infração penal (gênero): 
 Contravenção Penal (espécie)
Analítico
Neste conceito, o fundamento repousa nos elementos que formam a estrutura do crime. Portanto, precisamos antes entender um pouco mais sobre esses elementos.
Fato Típico
É a perfeita adequação da conduta humana voluntária à conduta incriminada pela norma penal, ou seja, conduta se enquadra perfeitamente ao modelo abstrato de lei penal (tipicidade). Nesse elemento se faz a subsunção da conduta à norma penal incriminadora.
Ilícito
É tudo que é contrário à lei, no nosso caso à lei penal. Então, o fato será ilícito quando houver uma norma penal proibindo a prática daquela conduta.
Culpabilidade
A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita.
Punibilidade
O poder/dever que tem o estado de aplicar a pena àquele que tenha praticado uma infração penal é denominado ius puniendi (direito de punir). A punibilidade, então, é consequência do crime. Diz-se punível a conduta que pode receber pena.
Correntes doutrinarias
Como não se trata de uma ciência exata, o direito compreende várias formas de se analisar e concluir sobre uma circunstância.
Aqui não poderia ser diferente, pois existem correntes doutrinarias que defendem ser o conceito de infração penal dividido de várias formas em diversas quantidades de elementos:
	1ª Corrente
Divide o conceito de crime em dois elementos, sendo crime o fato típico lícito e ilícito, sendo a culpabilidade apenas um pressuposto para aplicação da pena.2ª Corrente
Conceitua o crime como fato típico, ilícito e culpável, firmando posicionamento para a punibilidade que é pressuposto de aplicação da pena e não do componente do próprio conceito de crime.
Argumenta que, mesmo um fato que tenha sofrido da prescrição da punibilidade (perda do Estado do direito de punir uma pessoa por decurso de lapso temporal excessivo, conforme previsto na lei), essa é a teoria mais difundida e aceita pela doutrina e jurisprudência.
	
	3ª Corrente
Por derradeiro, existem quem defenda uma divisão quadripartida do conceito de crime. Para estes, o crime é composto em 4 elementos: fato típico, ilícito, culpável e punível.
Um dos grandes adeptos a essa corrente é o doutrinador Basileu Garcia, citado na obra de Nucci. Esse conceito quadripartido, foi superado e não é mais adotado, pois a punibilidade do autor é consequência do crime e não faz parte de seus elementos constitutivos.
Atenção
Essas teorias devem ser estudadas com conjunto com as teorias da ação, em especial as teorias da causalidade e do finalismo. Entretanto, esse tema será abordado profundamente em outra aula.
Sujeitos da infração penal
São pessoas ou entes que se relacionam com a prática delituosa. Dividem-se em sujeitos ativos e passivos.
Sujeito ativo
É aquela pessoa ou ente que pratica a infração penal. É a pessoa que realiza, direta ou indiretamente, a conduta criminosa, isoladamente ou em concurso com outra ou outras pessoas.
Os autores e coautores realizam de forma direta a conduta enquanto o partícipe (e o autor indireto ou mediato) realiza de forma indireta.
Os animais não podem ser sujeitos ativos de crime, nem mesmo quando são utilizados por humanos para as práticas delituosas, pois, nesse caso, servirão apenas como uma ferramenta para o crime do humano (por exemplo, ao utilizar um cachorro para lesionar alguém, o dono do cachorro que será responsabilizado pelas lesões causadas pelo animal).
Sujeito passivo
É o titular do bem jurídico protegido pela norma penal que é atingido pela ação criminosa. Pode ser denominado de vítima ou ofendido.
Atenção
Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime?
O entendimento que prevalece é no sentido de que pessoa jurídica pode sim ser sujeito ativo de crime, mas, por óbvio, não serão quaisquer crimes que a PJ poderá praticar.
Os crimes possíveis de serem praticados pela PJ são os crimes ambientais. Nesse sentido, o artigo 225, § 3º, da CF/1988, que prevê essa responsabilidade da PJ, encontra-se regulamentado no artigo 3° e parágrafo único da Lei nº 9.605/1998, que prevê expressamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica, concomitantemente com os agentes físicos integrantes de sua estrutura orgânica.
Classificação das infrações penais
Os crimes são classificados pela doutrina de acordo com suas características, recebendo denominações próprias.
Entre a classificação de crimes, temos crime material, formal, de mera conduta, comissivo ou omissivo, entre outros.
Atividade
1 - Assinale a alternativa correta:
*A) São considerados crimes próprios os delitos que podem ser realizados por qualquer pessoa. Enquanto nos crimes comuns exige-se sujeito ativo especial ou qualificado.
B) São considerados crimes comuns os delitos que podem ser realizados por qualquer pessoa. Enquanto nos crimes próprios exige-se sujeito ativo especial ou qualificado.
C) São considerados crimes comuns aqueles que são habitualmente realizados. Enquanto os crimes próprios são os realizados com menor frequência.
D) São considerados crimes próprios aqueles que são habitualmente realizados. Enquanto os crimes comuns são os realizados com menor frequência.
2 - Quanto aos crimes instantâneos, considere as seguintes afirmações:
I - São aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta;
II - Produzem efeitos prolongados no tempo;
III - Não produzem efeitos prolongados no tempo;
IV - São aqueles cuja consumação exige qualidade especial do agente.
*A) As assertivas I e III estão corretas.
B) As assertivas I, III e IV estão corretas.
C) As assertivas II e IV estão corretas.
D) As assertivas I, II e IV estão corretas.
Atividade
3 - Assinale a alternativa CORRETA, em relação aos crimes de dano:
A) São os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado.
B) Trata da ocorrência de um prejuízo perceptível pelos sentidos humanos.
C) Constituem um dano efetivo ao bem jurídico protegido pela norma penal.
*D) Todas as afirmações estão incorretas.
Atividade
4 - Assinale a alternativa CORRETA:
A) Crime de perigo são os crimes que não se consumam.
B) Crime de perigo está relacionado com a audácia dos bandidos.
*C) Crime de perigo são os que contenham, para a consumação, a mera probabilidade de haver um dano.
D) Crime de perigo são aqueles que definem os crimes contra a vida ou a integridade física.
Aula 4
Introdução Nesta aula analisaremos os preceitos principais do fato típico, levando em conta o conceito analítico de crime. Abordaremos os componentes do fato típico, em especial a conduta. Além disso, estudaremos a conduta e as teorias que explicam a sua existência e conheceremos as teorias de conduta de cunho naturalístico, finalístico e social, as causas de exclusão da conduta e as espécies de condutas.
Fato típico e seus elementos
Dentre os elementos que a compõe, vamos aprofundar nossos estudos no fato típico.
Inicialmente é importante conceituar o que venha a ser fato típico e a melhor definição é a que aponta se tratar de um comportamento humano que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.
A primeira característica do crime é ser um fato típico, descrito, como tal, em uma lei penal. Um acontecimento da vida que corresponde exatamente a um modelo de fato contido em uma norma penal incriminadora, ou seja, a um tipo.
Entretanto, antes de afirmar que estamos diante de um fato típico, devemos analisá-lo e decompô-lo em suas faces mais simples, para verificar, com certeza, se entre o fato e o tipo existe relação de adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e absoluta.
Essa relação é a tipicidade (subsunção do fato à norma penal incriminadora).
Os elementos do fato típico são:
Só haverá fato típico se existir todos os elementos que o compõe. Do contrário, estaremos diante de um fato atípico e, portanto, irrelevante ao direito penal.
Conduta
Considera-se conduta a ação ou omissão humana consciente e voluntária dirigida a uma finalidade.
Teoria causalista, clássica ou naturalística
A teoria causalista ou naturalista da ação, de Beling e Vonliszt, incorpora ao conceito de conduta as leis da natureza. Por isso, o seu nome.
Os adeptos da teoria causalista ou naturalista entendem que a conduta é um puro fator de causalidade.
Para o causalismo, a conduta é um comportamento humano voluntário que se exterioriza e consiste em um movimento ou na abstenção de um movimento corporal, simplesmente. A vontade é a causa da conduta e esta é a causa do resultado.
Essa teoria considera imprescindível que a conduta típica seja um comportamento voluntário, impulsionado pela vontade do homem, que se concretiza, torna-se real, material, por meio de uma ação positiva ou negativa.
Para saber mais sobre a Teoria causalista, clique aqui.
Teoria finalista
O causalismo sofreu fortes críticas, onde se apontava importantes erros, falhas cruciais, pois, como não diferencia o conteúdo da vontade (a intenção do agente), não tem como definir, por exemplo, com exatidão qual crime deveria ser atribuído a três pessoas que esfaqueassem outra no braço, sendo que nas três hipóteses (vamos considerar assim) só resultou em lesão corporal leve.
Nesse caso, como definir quem deveria responder por tentativa de homicídio, ou lesão corporal dolosa, ou até mesmo culposa, se o resultado (em que pese a intenção poder ser diferente) foi o mesmo de lesão leve?
Não teria como o causalismo responder a essa pergunta, pois, seguindo essa teoria, que se utiliza apenas da relação de ação e consequência, todos deveriam responder pelo resultado que causaram, ou seja,lesão leve.
Para saber mais sobre a Teoria finalista, clique aqui.
Qual a diferença entre essas duas teorias?
Não importa, nesse primeiro momento, qual seja a finalidade, mas que ela exista sempre.
Em algumas situações, essa finalidade é dirigida à produção de um dano a algum bem jurídico, em outras o fim pode ser a obtenção de um resultado permitido ou não proibido. Mas, sempre, haverá uma finalidade, sempre a vontade humana terá um conteúdo, não importa com qual natureza.
TEORIA SOCIAL DA AÇÃO
Alguns importantes estudiosos do Direito Penal, como Jeschek e Wessels, entenderam que o finalismo de Welzel seria insuficiente para conceituar a conduta, porque esquecia uma característica essencial de todo comportamento humano, que é seu lado social.
Nem o causalismo, nem o finalismo, segundo eles, conseguem explicar a ação, pelo que acresceram ao conceito de conduta a ideia de relevância social. Assim, ação é um comportamento humano socialmente relevante, questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis naturais.
Segundo essa teoria, para se verificar a tipicidade de uma conduta é indispensável conhecer não apenas seus aspectos causais e finalísticos, mas também sua vertente social.
Seria relevante do ponto de vista social a conduta que fosse capaz de afetar o relacionamento do indivíduo com o meio social. De acordo com essa teoria, para que o agente pratique uma infração penal, é necessário que, além de realizar todos os elementos previstos no tipo penal, tenha também a intenção de produzir um resultado socialmente relevante.
· TEORIA ADOTADA NO BRASIL
A teoria adotada pelo código penal é a finalista. Ela é que melhor atende aos interesses do Direito Penal, até porque é a teoria que consegue explicar a conduta com base no próprio direito positivo.
Em síntese, a conduta é o comportamento voluntário do homem dirigido a um fim, proibido ou não.
Só constituem condutas os comportamentos corporais voluntários externos dos humanos, consistentes em fazer alguma coisa ou em deixar de fazer alguma coisa.
Elementos da conduta
Vontade
A conduta, ademais, deve refletir um ato voluntário, isto é, algo que seja o produto de sua vontade consciente.
Nos chamados “atos reflexos” (como o reflexo rotuliano) e na coação física irresistível (“vis absoluta”), ocorrem atos involuntários e, por isso mesmo, penalmente irrelevantes.
Quando se trata de “atos instintivos”, o agente responde pelo crime, pois são atos conscientes e voluntários — neles há sempre um querer, ainda que primitivo e ímpeto.
Finalidade
Pressupõe um agir destinado a um fim, seja ele de ordem lícita ou ilícita.
Exteriorização
Só haverá conduta se ocorrer a exteriorização do pensamento, mediante um movimento corpóreo ou abstenção indevida de um movimento que era exigível.
Afinal, vale dizer, o Direito Penal não pune o pensamento, por mais imoral, pecaminoso ou “criminoso” que seja. O Direito Penal pune condutas.
Significa que, enquanto a ideia delituosa não ultrapassar a esfera do pensamento, por pior que seja, não se poderá censurar criminalmente o ato.
Se uma pessoa, em momento de ira, deseja conscientemente matar seu desafeto, mas nada faz nesse sentido, acalmando-se após, para o direito penal a idealização será considerada irrelevante.
Pode-se falar, obviamente, em reprovar o ato do ponto de vista moral ou religioso, nunca porém à luz do Direito Penal.
Consciência
Só entram no campo da ilicitude penal os atos conscientes. Se alguém pratica uma conduta sem ter consciência do que faz, o ato é penalmente irrelevante.
Exemplo: fato praticado em estado de sonambulismo ou sob efeito de hipnose.
Exclusão da conduta
Só existe conduta quando houver vontade do agente.
A experiência da vida mostra algumas situações em que o homem, sem vontade, movimenta-se ou abstém-se de movimento, dando causa, com uma dessas atitudes, a alguma lesão a um bem jurídico penalmente protegido.
São hipóteses em que se pode até ter movimento humano, mas não se tem fato típico.
São elas:
• Caso fortuito ou força maior
• Coação física irresistível
• Movimentos reflexos
• Estado de inconsciência
Caso fortuito ou força maior
São acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que fogem da vontade do ser humano.
Se não há vontade, não há dolo nem culpa.
Pode ocorrer por fato de terceiros, como greve de ônibus, ou por fato da natureza, como inundação.
Exemplo:
Imaginemos que um pai visualize seu filho brincando próximo a um precipício. Entretanto, em decorrência de um terremoto, a ponte que permitiria que esse pai chegasse ao filho se rompeu.
Nesse caso, a criança se desequilibra, cai e morre. Jamais poderíamos atribuir responsabilidade penal ao pai, uma vez que sua abstenção no seu dever objetivo de cuidar do seu filho provém de força da natureza.
Coação física irresistível
Igualmente ocorre a ausência de vontade quando incide sobre alguém uma força física externa irresistível, a qual, atuando materialmente sobre a pessoa, não pode ser vencida, de modo a não lhe deixar qualquer opção de movimento corporal. Trata-se de uma força absoluta, a que não se pode resistir.
Essa tem que ser tão forte a ponto de eliminar totalmente a possibilidade de resistência da pessoa.
A força deve ser física e absoluta. Deve atuar materialmente, concretamente, sobre o corpo do homem e não apenas sobre sua mente, e deve ser de tal intensidade, que seja impossível a ele contrapor-se, de modo a, pelo menos, neutralizá-la ou diminuí-la, tornando-a resistível.
A doutrina chama essa circunstância de vis absoluta, pois não há vontade, não há conduta e, consequentemente, não há fato típico, e, por isso, o fato não é crime.
Exemplo: Imagine que um criminoso coloque o dedo de uma vítima no gatilho de uma arma de fogo e, usando força física (amarrando o dedo com um fio), faça com que a vítima aperte o gatilho, disparando contra outra pessoa, indo a matá-la. Nesse caso, a vítima que foi obrigada por meio de força física irresistível não responderá pelo crime de homicídio. Apenas o criminoso que se utilizou da coação física irresistível. A coação física irresistível ocorre, em síntese, quando o coagido não tem liberdade para agir.
Observação
Não podemos confundir isso com a coação moral irresistível (vis compulsiva), em que o coagido pode escolher o caminho a ser seguido: obedecer ou não a ordem do coautor.
Como a sua vontade existe, embora de forma viciada, podemos excluir a sua culpabilidade, em face da inexigibilidade de conduta diversa.
Movimentos reflexos
Movimento reflexo é uma reação motora em consequência da excitação dos sentidos.
O movimento corpóreo não se deve ao elemento volitivo, mas ao fisiológico.
Em movimentos do corpo ditados pelos reflexos naturais, também não se pode falar na existência de vontade.
Conforme já foi analisado ao abordarmos o conceito de “vontade”.
Estado de inconsciência
Dois exemplos de ausência de consciência são sonambulismo e a hipnose, onde também não há conduta, por falta de vontade nos comportamentos praticados em completo estado de inconsciência.
O agente encontra-se absolutamente privado da possibilidade de saber qualquer coisa. É como se ele estivesse cego, surdo, mudo e em sono profundo. Logo, não pode querer nada.
Durante o sono, no sonambulismo não se pode afirmar que o agente tenha agido, porque, em qualquer dessas hipóteses, não se pode concluir pela existência de mínima vontade.
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Ausente, pois, a consciência, ausente a vontade e, de consequência, a conduta, ainda que dessa situação decorra qualquer lesão a qualquer bem jurídico. Não havendo conduta, não há fato típico, e sem este não há o crime.
Espécies de condutas
Existem duas espécies de condutas: ação e omissão.
Ação
Ação é a conduta positiva, que se manifesta por um movimento corpóreo, ou seja, traduz uma norma de “não fazer”. A maioria dos tipos penais descreve condutas positivas (“matar”, “subtrair”, “constranger”, “falsificar”, “apropriar-se” etc.). Entretanto, nesses crimes, chamados comissivos, a norma é de cunho proibitiva.
Exemplo: “não matarás”, “não furtarás”etc.
Omissão
Omissão é a conduta negativa, que consiste na indevida abstenção de um movimento. Nos crimes omissivos, a norma penal é mandamental ou imperativa: em vez de proibir alguma conduta, ela determina uma ação, punindo aquele que se omite, ou seja, exige um “fazer”.
Omissão penalmente relevante
Teorias da omissão
Para explicar a relação da omissão com o resultado surgem duas teorias:
· NATURALÍSTICA OU CAUSAL
A teoria naturalística afirma que se deverá imputar um resultado a um omitente sempre que sua inação lhe der causa.
Aqui, a omissão é um fenômeno causal que pode ser constatado no mundo fático.
Esse nexo de causalidade entre a omissão e o resultado verificar-se-ia quando o sujeito pudesse agir para evitá-lo, deixando de fazê-lo.
· NORMATIVA OU JURÍDICA
A segunda teoria denominada normativa estabelece que a omissão é um nada e do nada, nada vem (exemplo, nihilo, nihil).
Contudo, essa teoria aceita a responsabilização pelo resultado do omitente em decorrência da existência de uma norma que lhe atribua o dever jurídico de agir.
Por isso, essa teoria recebe o nome de normativa, pois há a exigência de uma norma que obrigue o omitente a agir. Entretanto, ele voluntariamente opta por não fazer o que a lei determine que ele faça.
Dessa forma, a omissão é não fazer o que a lei determina que se fizesse, sendo essa a teoria adotada pelo Código Penal.
VOCÊ SABIA?
Uma questão interessante repousa no caso da omissão imprópria (ou comissivo por omissão), pois o tipo penal descreve uma ação, mas a omissão do agente acarreta a sua responsabilidade penal pela produção do resultado. Essa regra está contida no art. 13, § 2º, do CP.
Para que alguém responda por um crime comissivo por omissão, é necessário que, nos termos do art. 13, § 2º, do CP, tenha o dever jurídico de evitar o resultado.
As hipóteses em que há o citado dever jurídico são as seguintes:
Dever legal ou imposição legal
Quando o agente tiver, por lei, obrigação de proteção, cuidado e vigilância.
Exemplo: Pai com relação aos filhos; diretor do presídio no tocante aos presos etc.
Dever de garantidor ou “garante”
Quando o agente, de qualquer forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (não apenas contratualmente).
É o caso do médico plantonista; do guia de alpinistas; do salva-vidas, com relação aos banhistas; da babá, para com a criança.
Ingerência na norma
Quando o agente criou, com seu comportamento anterior, o risco da ocorrência do resultado.
Exemplo: O nadador exímio que convida para a travessia de um rio uma pessoa que não sabe nadar torna-se obrigado a evitar seu afogamento. A pessoa que joga um cigarro aceso em matagal obriga-se a evitar eventual incêndio.
Aula 5
Introdução Nesta aula, analisaremos as espécies de condutas, aprofundando cada particularidade da conduta dolosa e culposa. Vamos verificar também quais as suas espécies e teorias existentes. Além disso, analisaremos o resultado do crime, bem como o nexo causal entre a conduta e o resultado.
Condutas dolosas e culposas
No plano dos estudos das condutas, devemos observar que ela pode ser praticada de fora dolosa ou culposa.
O código penal, em seu art. 18, estabeleceu que o crime pode ser doloso ou culposo.
A regra é que todos os crimes sejam dolosos (em sua maioria os crimes são de fato dolosos), salvo os que a lei expressamente afirmar serem culposos.
Dessa regra contida no art. 18 do CP se extrai a conclusão de que, se a lei for silente em relação à conduta do crime, aplica-se a regra e o crime será doloso, do contrário a responsabilidade por crime culposo apenas ocorrerá se estiver expressa na lei.
Para melhor compreensão do tema, vamos ver as diferenças entre essas duas condutas e analisar o conceito de dolo e culpa a partir de agora.
Conduta culposa
O conceito de culpa não é pacífico. Então, utilizaremos como parâmetro para formar um conceito aceitável o que está disposto no próprio artigo 18, II, do Código Penal: “diz-se crime culposo quando o agente deu causa ao resultado, por imprudência, negligência ou imperícia”.
Dessa forma, é culposa a conduta voluntária que produz resultado ilícito, não desejado, mas previsível, e excepcionalmente previsto (porque para haver responsabilidade por culpa tem que estar expresso), que podia, com a devida atenção, ser evitado (não foi evitado porque o agente agiu com imprudência, negligência ou imperícia).
Elementos da conduta culposa
A culpa é falta de cuidado do agente, em uma situação em que ele poderia prever um resultado danoso, que ele não deseja, nem aceita, e, às vezes, nem prevê, mas que, com seu comportamento, produz e que poderia ter sido evitado.
Da análise do art. 18 do CP podemos extrair os seguintes elementos da conduta culposa:
Conduta voluntária: A voluntariedade está relacionada à ação, e não ao resultado.
Inobservância do dever de cuidado objetivo: O agente atua em desacordo com o que é esperado pela lei e pela sociedade. São formas de violação do dever de cuidado, ou mais conhecidas como modalidades de culpa, a imprudência, a negligência e a imperícia.
Resultado lesivo indesejado: Não haverá crime culposo se, mesmo havendo falta de cuidado por parte do agente, não ocorrer o resultado lesivo a um bem jurídico tutelado. Assim, em regra, todo crime culposo é um crime material.
Previsibilidade objetiva: É a possibilidade de conhecer o perigo. Na culpa consciente (que estudaremos a seguir), mais do que a previsibilidade, o agente tem a previsão (efetivo conhecimento do perigo). É o chamado homem médio (homo medius).
Tipicidade: O Art. 18 do CP dispõe da seguinte forma:
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Logo deve haver previsão em lei para a responsabilização de uma conduta culposa, do contrário será típica a conduta.
Podemos citar como exemplo a conduta de dano causado por meio de uma conduta culposa.
Imaginemos que uma pessoa durante a visita em uma loja de cristais esbarre em uma taça que venha a cair no solo e se quebrar. Trata-se de conduta totalmente atípica porque não há previsão legal para o dano causado de forma culposa, em que pese restar o ilícito civil e o dever de indenizar, mas certo que crime não tem.
Modalidades da culpa
Veja as formas de violação do dever de cuidado objetivo:
Imprudência
É a ação descuidada (afoiteza). Sempre por ação.
Se constitui em um “fazer” de forma exagerada ou equivocada.
Exemplo: Atravessar pela placa “Pare” sem parar e atropelar alguém; passar sinal vermelho etc.
Negligência
É a falta de precaução, falta de cautela. Sempre por omissão.
Exemplo: Omissão de cautela e deixar arma ao alcance de crianças.
Imperícia
É a falta de aptidão técnica para o exercício de profissão, arte ou ofício.
Tem diploma, mas o caso concreto demonstra que não possui perícia para tanto.
Exemplo: Atirador de elite que mata; médico que amputa a perna equivocadamente etc.
Observação
A diferença prática entre as modalidades é muito tênue. Na verdade, tudo parte de uma negligência inicial, de modo que quem é imprudente agiu sem precaução; e quem é imperito também agiu sem precaução.
Espécies de culpa
Baseia-se na previsão do agente acerca do resultado naturalístico, provocado por sua conduta.
Culpa inconsciente
Sem previsão.
É aquela em que o agente não prevê o resultado objetivamente previsível.
Culpa consciente
Com previsão.
É a que ocorre quando o agente, após prever o resultado, objetivamente previsível, realiza a conduta acreditando em sua habilidade, crendo que não ocorrerá.
Essa espécie de culpa representa o estágio mais avançado da culpa, aproximando-se do dolo eventual.
Na culpa consciente o sujeito não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Ele espera, sinceramente, que não ocorra, apesar de saber que é possível.
Já no dolo eventual o agente não somente prevê o resultado, mas, apesar de não querer, o aceita como uma das alternativas possíveis. A diferença, portanto, reside no subjetivo do agente.
Conduta dolosa
Conceito de dolo
Toda ação consciente é conduzidapela decisão da ação, quer dizer, pela consciência de que se quer ― o momento intelectual ─ e pela decisão a respeito de querer realizá-lo — o momento volitivo. Ambos os momentos, conjuntamente como fatores configuradores de uma ação típica real, formam o dolo (=dolo do tipo).
Outro especialista afirma que o dolo é a vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado. Dito de outra forma, o dolo é a vontade e consciência dirigida a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador.
Outras teorias
Com intenção de explicar o dolo e seus elementos surgiram algumas teorias:
Teoria do dolo
	
Teoria da vontade
Dolo é tão somente a vontade livre e consciente de querer praticar a infração penal, isto é, de querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador.
	
	
Teoria do assentimento
Atua com dolo aquele que, antevendo como possível o resultado lesivo como a prática de sua conduta, mesmo não o querendo de forma direta, não se importa com a sua ocorrência, assumindo o risco de vir a produzi-lo.
	
	
Teoria da representação
Fala-se em dolo toda vez que o agente tiver tão somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decidir pela continuidade de sua conduta.
Para essa teoria, não há distinção entre dolo eventual e culpa consciente, é tudo dolo.
Observação
Percebe-se que o código, pela simples leitura do art. 18 do CP, adotou duas teorias: a da vontade (dolo direto) e do assentimento (dolo indireto – dolo eventual).
Espécies de dolo
DOLO DIRETO
Ocorre quando o autor, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo querendo alcançar o resultado.
Essa espécie está descrita na 1ª parte do inciso I, art. 18 do CP.
O dolo direto ainda se divide em:
	
1. Dolo direto de primeiro grau
O agente direciona sua ação única e exclusivamente para alcançar o seu fim. Então, ele estabelece os meios para consumar o delito atingindo o bem jurídico que visava atingir.
Exemplo: Fulano desfere tiros e mata beltrano.
	
	 
	
	
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2. Dolo direto de segundo grau
Nessa espécie ocorrem efeitos colaterais, representados como necessários.
É a consequência necessária para se atingir um fim.
Exemplo: Homem-bomba que visando matar determinada pessoa não se importa em matar todos que estão ao seu redor. Sendo esses danos colaterais aceitáveis para ele.
DOLO INDIRETO 
O agente não quer diretamente o resultado, mas aceita os danos que pode advir de sua conduta. Logo, ele assume o risco de sua produção e, mesmo assim, (diante desse risco) é indiferente. Se subdivide em:
	1. Dolo indireto alternativo
Quando a vontade do agente se encontra direcionada de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa.
Exemplo 1: O autor joga um martelo na cabeça de sua vítima, tanto querendo matá-la quanto querendo lesioná-la (alternativo quando o resultado pode ser tanto a morte quanto uma lesão corporal) (em relação ao resultado).
Exemplo 2: Fulano dispara contra uma multidão, pouco importando que acerte um ou outro indivíduo, o que ele quer é acertar uma pessoa. Acontece também quando um motorista impaciente que pega manifestação de ciclistas e sai atropelando (em relação à pessoa).
	
	 
	
	
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2. Dolo eventual
Significa que o autor considera seriamente como possível a realização do tipo legal e se conforma com ela, ou seja, aceita a real possibilidade de produzir o resultado sendo indiferente a essa produção.
O autor sabe, mesmo não desejando diretamente, que o resultado poderá ocorrer. Contudo, ele não se importa, ou seja, ele é indiferente à produção do resultado.
DOLO GERAL (HIPÓTESE DE ERRO SUCESSIVO) 
Conhecido como dolus generalis: Ocorre quando o autor pratica uma ação dolosa visando alcançar determinado fim. Contudo, sem que saiba que o resultado não se concretizou (o crime não se consumou).
Entretanto, no mesmo contexto, o autor pratica uma segunda ação como complemento da primeira (como, por exemplo, encobrir provas) e apenas a segunda ação leva de fato à consumação.
Nessa circunstância, temos duas ações. Sendo que, como o resultado por ele inicialmente pretendido foi alcançado, as ações que antecedem são abrangidas pelo dolo inicial dele.
Exemplo:
O autor FULANO, com o objetivo de matar BELTRANO, desfere 5 facadas nas costas, vindo a vítima a cair no solo desmaiada.
O autor, acreditando que teria alcançado o seu resultado com essa primeira ação (morte de BELTRANO), pratica outra ação, jogando o corpo do alto de um precipício.
Apenas no segundo evento é que a vítima vem a falecer.
Nesse caso, o dolo do agente, como é geral, compreende todas as ações que ele praticou contra o bem jurídico, no caso aqui a vida.
Neste exemplo, o autor deve ser responsabilizado por um único fato, ou seja, um único dolo (ainda que geral), respondendo pelo delito de homicídio (se fosse dividir o dolo do agente, nesse caso, ele deveria responder por homicídio tentado e homicídio culposo consumado. Entretanto, esse não é o entendimento que prevalece.
OLO GENÉRICO E DOLO ESPECÍFICO 
Neste ponto, diferenciaremos duas espécies de dolo, sendo que esta classificação fazia mais sentido quando ainda se adotava a teoria causalista.
1. Dolo  genérico
Era aquele em que no tipo penal não havia indicativo algum do elemento subjetivo do agente ou, melhor dizendo, não havia indicação alguma da finalidade da conduta do agente.
Exemplo: matar alguém - artigo 121 do CP.
2. Dolo específico
Era aquele que, no tipo penal, podia ser identificado, o que denominamos de especial fim de agir.
Exemplo: extorsão mediante sequestro em que o agente priva a vítima de sua liberdade para obter a vantagem indevida. Artigo 159 do CP.
Observação: Com a adoção da teoria finalista, a distinção perdeu sua força. Toda conduta é finalisticamente dirigida à produção de um resultado qualquer, não importando se a intenção do agente é mais ou menos evidenciada no tipo penal.
AUSÊNCIA DE DOLO EM VIRTUDE DE ERRO DE TIPO 
Em algumas situações, uma pessoa pode ter uma percepção equivocada da realidade e isso pode lhe induzir ao erro, que, por sua vez, vai lhe retirar a consciência da ilicitude de sua conduta e, assim, o próprio dolo. O dolo, portanto, é a conjugação da vontade com a consciência do agente, isto é, vontade de querer praticar a conduta descrita no tipo penal com a consciência efetiva daquilo que realiza. Erro é a falsa percepção da realidade, ou seja, é quem incorre em erro imaginando uma situação diversa daquela realmente existente. Não há dolo, pois há falta de tipicidade objetiva. Dessa forma, a consequência é o afastamento do dolo ou desclassificação para um delito culposo.
Preterdolo
Trata-se na verdade de crime preterdolo ou preterintencional quando a conduta dolosa acarreta a produção de um resultado mais grave do que o pretendido, de forma culposa.
Nessa espécie de crime, o autor pratica dolo no antecedente e culpa no consequente.
Também é denominado de crime qualificado pelo resultado, porque esse resultado (ainda que a título de culpa) qualifica o crime e aumenta a sua pena.
Exemplo:
1. O autor, com dolo de lesionar a vítima, atira-lhe uma pedra (conduta livre e consciente voltada para a prática de lesão corporal). No entanto, ele atinge a vítima na cabeça, que se desequilibra e cai de cabeça no chão e morre.
2. O dolo do autor era causar lesão corporal. Contudo, por imprudência (jogou a pedra forte demais e perto da cabeça da vítima), veio a acertá-la e, por via de consequência, causou-lhe a morte a título de culpa.
Todo crime qualificado pelo resultado representa crime único e complexo, ou seja, reúne dois tipos penais que por si só já podem configurar crime autônomo.
Resultado
A expressão resultado significa a consequência provocada pela conduta do agente.
Possui dois significados distintos em matéria penal:
Resultado naturalístico ou material
Consiste na modificação no mundo exterior provocada pela conduta.
Trata-se de um evento que só acontece em crimes materiais, ou seja, naqueles cujo o tipo penal descreve a condutae a modificação no mundo externo, exigindo ambas para efeito de consumação. É perceptível pelos sentidos humanos.
Resultado jurídico ou normativo
Reside na lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.
Todas as infrações devem conter, expressa ou implicitamente, algum resultado, pois não há delito sem que ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem penalmente protegido.
Dessa forma, podemos afirmar que nem todos os crimes terão resultado naturalístico (apenas os crimes materiais). Entretanto, todos os crimes possuem um resultado jurídico. Tanto os crimes materiais, que além da modificação no mundo exterior apresentam a violação de bens jurídicos, quanto os crimes formais, que possuem resultado jurídico.
Classificação quanto ao resultado
Podemos estabelecer uma classificação dos crimes quanto a esse resultado:
Crime formal: Também chamando de crime de consumação antecipada. O resultado se dá no momento exato da conduta.
Exemplo: Ameaça, artigo 157. Causa resultado imaterial (= jurídico).
Crime material: Aquele em que se verifica a modificação no mundo exterior (resultado naturalístico, ou seja, mudança visível). Sinônimo de concreto.
Crime de mera conduta: Quando o crime exige produção de resultado, é material. Se não exige, mas tem consumação, é formal.
Contudo, se não exige nem resultado nem consumação imediata, é crime de mera conduta.
De dano ou de lesão: Quando a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado.
Exemplos: homicídio (CP, art. 121); lesão corporal (CP, art. 129); furto (CP, art. 155).
De perigo ou de ameaça: Caso a consumação se dê apenas com a exposição do bem jurídico a uma situação de risco.
Exemplos:
Perigo de contágio venéreo (CP, art. 130); perigo à vida ou saúde de outrem (CP, art. 132).
Se subdividem em:
• Crimes de perigo concreto ou real (o risco figura como elementar do tipo e, em face disso, exige efetiva demonstração);
• Crimes de perigo abstrato ou presumido (o perigo não está previsto como elementar, porque o legislador presume que a conduta descrita é, em si, perigosa, tornando desnecessária a demonstração concreta do risco).
Nexo Causal
O nexo causal, relação de causalidade ou nexo de causalidade, no art.13 do CP, é tratado como relação de causalidade e se consubstancia na relação entre a conduta e o resultado.
É por meio dessa relação que se conclui que o resultado foi praticado pela conduta e daí se pode estabelecer, presente os demais requisitos, que estamos diante de um crime.
Esse vínculo, porém, não se fará necessário em todos os crimes, mas somente naqueles em que a conduta se exigir à produção de um resultado, isto é, de uma modificação no mundo exterior. Ou seja, cuida-se de um exame que se fará necessário no âmbito dos crimes materiais ou de resultado.
Teoria da conditio sine qua non
Para a teoria da conditio sine qua non ou da equivalência dos antecedentes, todo o fator que exercer influência em determinado resultado, ainda que minimamente, será considerado sua causa. Dessa forma, causa é todo fato humano voluntário sem o qual o resultado não teria ocorrido quando ocorreu e como ocorreu.
Sob o enfoque da conditio sine qua non, que foi adotada expressamente pelo nosso Código Penal (art. 13, caput, parte final), haverá relação de causalidade entre todo e qualquer fator que anteceder o resultado e nele tiver alguma interferência.
O método utilizado para se aferir o nexo de causalidade é o juízo de eliminação hipotética. Quando se pretende examinar a relação causal entre uma conduta e um resultado, basta eliminá-la hipoteticamente e verificar, após, se o resultado teria ou não ocorrido exatamente como se dera.
Essa teoria já sofreu várias objeções, dentre as quais se podem apontar:
• A de confundir a parte com o todo;
• A de gerar soluções aberrantes, mediante um regresso ao infinito ou produzindo um ciclo causal interminável.
Teoria da causalidade adequada
Segundo a teoria da causalidade adequada, somente se reputa causa o antecedente adequado à produção do resultado.
Para que se possa considerar um resultado como causado por um homem, faz-se imprescindível que este, além de realizar um antecedente indispensável, desenvolva uma atividade adequada à concretização do evento.
Aula 6
Introdução Nesta aula, estudaremos a Relação de Causalidade, também denominada Nexo Causal, elemento integrante do fato típico, conforme o conceito analítico de crime e que pode ser compreendido como o vínculo entre a conduta praticada pelo agente e o resultado naturalístico produzido, aqui visto como fato.
Identificando conceitos utilizados pelo Código Penal
Inicialmente é necessário identificar alguns conceitos utilizados pelo Código Penal, tais como conceitos de causa e Teorias da Causalidade para que possamos analisar as consequências, para efeitos penais, da existência, ou não, do referido liame.
É comum ouvirmos, quando da instauração de um inquérito policial o questionamento sobre quais indivíduos serão indiciados pelo delito quando, na verdade, o que estamos questionando é:
Qual a relevância do Nexo Causal?
Quais condutas concorreram de alguma forma para a produção de um resultado lesivo?
Dessa forma, através da aplicação das teorias sobre Nexo Causal é possível, diante do caso concreto, identificar-se à qual conduta se imputa determinado resultado lesivo. Em outras palavras, se estivermos diante de um resultado lesivo, devem ser analisadas quais as possíveis condutas responsáveis pela sua produção, bem como de que forma serão imputadas as respectivas responsabilidades, no caso, sanções penais.
Conceitos de causa
Nosso Código Penal, no art. 13, caput, adotou a Teoria da Equivalência das Condições, segundo a qual toda conduta que tenha concorrido para a produção do resultado é considerada causa, sendo irrelevante se a causa teve origem na conduta do agente (causa) ou se teve origem distinta da conduta do agente (concausa).
Suponhamos para fins de exemplificação as seguintes situações hipotéticas:
· SITUAÇÃO HIPOTÉTICA 1
Indivíduo com dolo de matar outro durante uma discussão desfere uma facada na barriga da vítima que vem a falecer em decorrência de hemorragia interna provocada pela lesão sofrida. O resultado naturalístico morte está na normal linha de desdobramento da conduta do autor das facadas.
Podemos afirmar que a causa mortis, hemorragia interna, decorre da conduta do agente e encontra-se da normal linha de desdobramento da conduta do agente.
· SITUAÇÃO HIPOTÉTICA 2
Indivíduo com dolo de lesionar outro durante uma discussão desfere uma facada na perna. Não há dolo de matar, todavia, se a vítima da lesão dolosa for diabética e vier a falecer em decorrência de complicações na lesão corporal provocadas pela diabetes, ainda que esta seja uma concausa, pois tem origem distinta da conduta do agente, é correto afirmar que concorreu de alguma forma para a produção do resultado lesivo.
Agora que identificamos a relevância do estudo de Nexo Causal, identificaremos os principais conceitos sobre o tema.
Teorias sobre a Relação de Causalidade
Teoria da Equivalência das Condições – art.13, caput, CP
Relação de causalidade
Art. 13, CP - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Teorias sobre a Relação de Causalidade
Como dito anteriormente, para o nosso Código Penal, considera-se causa toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido, ou seja, toda conduta comissiva ou omissiva que, de qualquer forma, concorra para a produção do resultado.
Nesse caso, adota-se a Teoria da Equivalência das Condições ou conditio sine qua non, desenvolvida por Stuart Mill, segundo a qual causa é a totalidade das condições sem as quais o resultado não teria ocorrido.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. v.1. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, cap.15. p.179.
Para que possamos compreender as teorias sobre a Relação de Causalidade é imprescindível que identifiquemos inicialmente o denominado procedimento

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