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20202-dis-lgsneto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC 
CAMPUS DE SOBRAL 
FACULDADE DE MEDICINA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
 
 
 
LUIZ GOMES DA SILVA NETO 
 
 
 
 
ASSALTO À MÃO LETRADA: ATAQUE POÉTICO DO SLAM DA 
QUENTURA E A PROMOÇÃO DE SAÚDE MARGINAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL 
2020 
 
 
LUIZ GOMES DA SILVA NETO 
 
 
 
ASSALTO À MÃO LETRADA: ATAQUE POÉTICO DO SLAM DA QUENTURA E 
A PROMOÇÃO DE SAÚDE MARGINAL 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Saúde da Família, 
nível Mestrado, como critério para a 
obtenção do título de Mestre em Saúde da 
Família. 
 
Orientado pela Prof.ª Drª. Francisca 
Denise Silva Vasconcelos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL 
2020
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos, todas e todes que fazem da poesia 
marginal um ato de amor, lazer e resistência. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Existe uma poesia que corre em minhas veias 
Que explode de amor, respeito e luta 
Luta esta que aprendi desde cedo com minha mãe 
Minha companheira, desde cedo, me ensinando a labuta 
 
Sem amaciante para a vida cresci em meio a desigualdades 
Conheci realidades tão diferentes da minha 
Chapa, como a vida é dura já aos seis anos de idade 
Tendo que ir aos fins de semana para a casa de mãezinha 
Pois uma voz sempre dizia: “não tem comida em casa 
Vai logo, já tá ficando tarde”! 
 
Aqui deixo meus lamentos, quero enaltecer os agradecimentos 
Pois cinco anos de Psicologia e dois anos de mestrado 
É doce, mas num é mole não, viu?! 
Deixo para chorar mais tarde, pois a hora é de celebrar 
 
Agradeço, primeiro, a meu Deus, meus orixás, à linda Iemanjá 
Sem essa de Deus branco e de olhos azuis, oh, os meus deuses 
Deusas, são pretinhos, pretinhas e de cabelo enroladinho, se liga 
Vai com essa branquitude pra lá, tome aqui meu: “ai dentro”! 
 
Pois bem, agradeço ao meu pai, “Manel”, cabra da peste, agricultor 
Não medindo esforços para fortalecer os corre aqui do jovem 
E minha mãe? São tantas coisas para falar 
Uns versos de poesia num dão conta não 
Mas ela sabe da referência de vida que ela é para mim 
Obrigado, viu?! Oh jovem Valda pra eu amar 
 
Olha, nessas caminhadas da vida foram tantas pessoas que fortaleceram 
Minha irmã, que, mesmo com 12 anos de diferença, já me ensinou, 
Dialogou tantas vivências e coisas que quase nenhum professor doutor 
Conseguiu fazer, pois fazer doutorado em Foucault não é atestado 
Hum...de bom professor, neh?! 
 
 
Aos meus amigos e amigas de mestrado, mestrandos das tapioca 
Nas disciplinas biomédicas e embranquecidas demais 
Me auxiliaram nas vivências acadêmicas, nas caronas da vida 
Nas mangações...ah, com certeza 
O mestrado seria tão mais doloroso sem vocês, 
Foi bom demais rir, reclamar... 
Ê ê, meu povo, oh nois pra não prestar hahaha 
 
A minha companheira, Deidimel, tanto que me viu chorar 
Fortalecendo meus corres na vida e no amor, tendo a paciência 
Esta que tanto me faltou, pois aprendi que tudo é correria 
Mas a jovem ensinou que em mim existe essa tal calmaria 
Ela é sim o meu amor! 
 
Aos amigos, amigas de LAEDDES, nossa eterna Ralé Brasileira 
Nas idas e vindas da vida, que nossos (re)encontros sejam sempre 
Essa bela amizade, admiração e torcida por dias melhores 
Olha, essa Ralé vai longe e quando chegarmos lapidados e lapidadas 
Os tais biscoitos estarão todos molhados, pelo amor de, neh 
 
Aos amigos, amigas de Sarau Resistência JV, 
Tanto que aquecem meu coração 
Obrigado por estarem comigo, lutando, se desesperando 
Mas nunca desanimando 
Do lazer, amor e resistência Ibiapina explode 
Juventudes devem sempre mover essa cidade 
A poesia é arte sim, pode crê... 
E nossa Resistência é JV 
 
E minha querida e amada Denise, que desde 2013 permanece comigo 
Tantos ensinamentos, tantas vivências... 
 As palavras não dão conta para me expressar 
Amiga e segunda mãe, ensinando a me defender dos venenos acadêmicos 
A não deixar o habitus precário me matar 
Olha, esta jovem é força, amor e compreensão 
Imprialzim minha mãe, ressurgindo das cinzas e dizendo: “Não é não!” 
 
Feminista até o talo, botando machista no ralo, orra diabo! 
 
Aos meus amigos e amigas de terceirão, que oh, desde 2007, estão comigo 
Mesmo não nos encontrando com frequência, os sentimentos são 
Fortes, intensos, muitos e muitas me acompanhando nesta trajetória 
E eles e elas sabem: é tenso! 
 
Gratidão a banca maravilhosa: Paulo Quinderé, Ritinha e Ivaldinete 
Tantas experiências compartilhadas 
Se não fossem tão valiosas e precisas 
Essa pesquisa não estaria tão vivencial, tão íntima, tão marginal 
 
Por fim, aos companheiros, companheiras de resistência, de revolução 
Que tanto me ensinaram...acolheram um jovem tímido, cabisbaixo, 
Adoentado pela vida acadêmica, cara, eu tava no chão! 
 
Fran abriu as portas para a celebração, 
Esta pessoa é mesmo pura exaltação! 
Obrigado Bicha Poética por me mostrar outros lados da vida 
Neto por me ensinar a recitar Racionais Mc´s 
Layze, Marcella, Dedita por mostrarem a resistência feminina 
E Lucas, troando nas batalhas de mc´s 
 
Saymon, exemplo de pessoa e slam master 
Diego com sua doçura e acolhimento 
Josh por ser um vida loka sem medos 
Rogers por sua disponibilidade e vivências 
Reh, que driblou um pouco a timidez e trocou ideias massa 
E Vicente por me orientar nas vidas acadêmicas 
Estar comigo na luta contra o embranquecimento acadêmico. 
A Poesia, de fato, é nua e crua no Slam da Quentura! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eu encaro o Slam...tem muita coisa, assim, pra 
eu falar...são muitas...é muita viagem. O Slam 
é muita viagem. Define assim no teu trabalho: 
o Slam como uma viagem. Eu não sei bem 
como explicar, mas deve ser uma questão do 
Slam ser uma viagem por cada um que tá ali 
recitando, e isso...perpassa pelas questões de 
onde as pessoas vem, o local de fala delas. Uma 
viagem pelas inquietações de cada pessoa que 
tá ali recitando ou participando da Batalha. Eu 
acho que é nesse sentido que eu quero dizer: do 
Slam ser uma viagem. Você consegue se 
teletransportar, sim, de certa forma, com cada 
rima, com cada poesia, por esses locais de fala 
e por cada pessoa, assim. (FRAN 
NASCIMENTO) 
 
RESUMO 
O objetivo desta pesquisa é compreender de que forma o Slam da Quentura produz saúde e 
identificar a percepção que as juventudes participantes do movimento têm em relação à saúde 
e às suas necessidades, levando em consideração a Estratégia Saúde da Família. Trata-se de 
relacionar Juventudes e Promoção de Saúde Marginal, evidenciando os aspectos historicamente 
construídos nas relações culturais, políticas, econômicas e sociais na vida de quem compõe o 
Slam da Quentura. A pesquisa configurou-se como um estudo descritivo, exploratório e de 
abordagem qualitativa, caracterizado por uma investigação dos possíveis impactos de 
movimentos culturais na saúde dos e das jovens envolvidos(as). Nesse sentido, além de técnicas 
de entrevistas semiestruturadas, houve a Observação Participante e a Etnografia como 
ferramentas metodológicas de auxílio no aprofundamento da pesquisa. Além disso, houve a 
utilização de diários de campo. Já as análises dos dados foram feitas por meio da análise 
discursiva, ancorada, principalmente, na visão de Orlandi, Foucault e Bakhtin, usufruindo-se 
deste mecanismo para esmiuçar as potências nas falas das pessoas informantes em entrevistas 
e também em suas poesias. Foram realizadas 13 entrevistas com slammers, poetas, poetisas, 
poetes, MCs e membros(as) da organização do Slam da Quentura e a pesquisa se pautou em 
suas falas, pois cada sujeito(a) concreto(a) possui vivências singulares relacionadas a cada pauta 
abordada nas entrevistas e diálogos empreendidos. Dessa forma, as respostas obtidas 
compuseramum tecido único e desbravador, ampliando a compreensão da saúde e pondo em 
pauta a importância de promover espaços de escuta e manifestações das mais diversas artes, 
incluindo a arte marginal e periférica. Essas ações devem partir das pessoas que as desejam, 
isto é, devem ser construídas com eles e elas e não traçadas por uma hierarquia bio-
necropolítica, que manda e desmanda nos corpos das minorias, minando cada passo e cada 
escolha, cerceando a liberdade de escolha, matando os direitos de cada sujeito(a). O estudo 
indica a necessidade de mais pesquisas sobre as periferias, as juventudes negras e 
empobrecidas, mas não em uma perspectiva de assujeitamento e passividade, apontando 
unicamente desigualdades, restrições e carências, e sim no sentido de traçar evidências de 
periféricos(as) como protagonistas, ativos(as) socialmente, artistas e produtores(as) culturais, 
apontando linguagens poéticas de letramentos de reexistências, que territorializam 
determinados espaços, produzindo saúde. Enfim, para produzir uma práxis transformadora há 
de se ter uma visão desconstruída sobre saúde, periferia e poesia marginal e os 
pesquisadores(as) de saúde devem traçar aspectos históricos, culturais, dinâmicos, 
revolucionários e dialéticos. 
 
Palavras-chave: Slam da Quentura. Juventudes. Promoção de Saúde Marginal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The objective of this research is to understand how the “Slam da Quentura” produces health 
and to identify the perception that youth participating in the movement have in relation to health 
and their needs, taking into account the Family Health Strategy. It is about relating youth and 
marginal health promotion, highlighting the aspects historically constructed in cultural, 
political, economic and social relations in the lives of those who compose the “Slam da 
Quentura”. The research was descriptive, exploratory and of a qualitative approach, 
characterized by an investigation of the possible impacts of cultural movements on the health 
of the young people involved. In this sense, in addition to semi-structured interview techniques, 
there was Participant Observation and Ethnography as methodological tools to assist in further 
research. In addition, field diaries were used. Data analysis was done through discursive 
analysis, anchored mainly in the view of Orlandi, Foucault and Bakhtin, using this mechanism 
to ascertain the powers in the speeches of the informants in interviews and also in their poetry. 
Thirteen interviews were conducted with slammers, poets, MCs and members of the “Slam da 
Quentura” organization and the research was based on their speeches, because each subject has 
unique experiences related to each agenda addressed in the interviews and dialogues 
undertaken. Thus, the responses obtained made up a unique and pioneering material, expanding 
the understanding of health and highlighting the importance of promoting spaces for listening 
and manifestations of the most diverse arts, including marginal and peripheral art. These actions 
must start from the people who desire them, that is, they must be built with themselves and not 
drawn by a bio-necropolitical hierarchy, which commands and demands in the bodies of 
minorities, undermining each step and each choice, curtailing the freedom of choice , killing 
the rights of each subject. The study indicates the need to research more about the peripheries, 
the black and impoverished youths, but not in a perspective of subjection and passivity, pointing 
only to inequalities, restrictions and needs, but in the sense of drawing evidence of inhabitants 
of the periphery as protagonists, socially active, artists and cultural producers, pointing out 
poetic languages of literacy and re-existences, which occupy certain spaces, producing health. 
Finally, in order to produce a transformative praxis, it is necessary to have a deconstructed view 
of health, periphery and marginal poetry and health researchers must outline historical, cultural, 
dynamic, revolutionary and dialectical. 
Keywords: Slam da Quentura. Youth. Marginal Health Promotion. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura I: Bicha Poética recitando na 17º edição do Slam da Quentura......................... 41 
Figura II: Fran Nascimento, Bicha Poética e Rogers Saboia na premiação da Disputa Poética 
na edição de número 18 do Slam da Quentura............................................................... 44 
Figura III: Foto com grande parte de slammers e público que compôs a 20º edição do Slam da 
Quentura.................................................................................................................... 46 
Figura IV: Diego Clementino somando as notas de jurados na 20º edição do Slam da 
Quentura......................................................................................................................... 48 
Figura V: Registro feito na 20º edição do Slam da Quentura. Geração pai, filho e camisa em 
homenagem ao artista, poeta e slammer Hans, que contribuiu para as primeiras edições do Slam. 
Hans faleceu em 2017.......................................................................................... 49 
Figura VI: Momento exato em que a polícia, pela segunda vez, revista principalmente os jovens 
que compõem a batalha de rima do Slam da Quentura na 18º edição................ 54 
Figura VII:Terceira abordagem policial na 18º edição do Slam da Quentura............. 55 
Figura VIII: Reh recitando na 21º edição do Slam da Quentura.................................. 69 
Figura IX: Layze recitando na final do Slam da Quentura (23ª edição)....................... 77 
Figura X: Fran e Bicha Poética na final do Slam da Quentura (23ª edição)................. 80 
Figura XI: Lançamento do livro A Poesia Falada invade a cena em Sobral: poetry slam no 
interior do Ceará na final do Slam CE, que teve sua primeira edição sediada na cidade de 
Sobral.............................................................................................................................. 86 
Figura XII: Pessoas se concentrando no anfiteatro da Praça do FB na 20º edição do Slam da 
Quentura.......................................................................................................................... 91 
Figura XIV: Saymon coordenando as apresentações na final do Slam da 
Quentura......................................................................................................................... 101 
Figura XV: Público interagindo na 22º edição do Slam da 
Quentura......................................................................................................................... 107 
Figura XVI: Pichação no anfiteatro da Praça do FB, onde ocorrem as edições do Slam da 
Quentura........................................................................................................................ 108 
 
Figura XVII: Neto Duarte recitando no Palco Aberto na 20º edição do Slam da 
Quentura....................................................................................................................... 110 
Figura XVIII: Neto Duarte e Fran Nascimento na 20º edição do Slam da 
Quentura....................................................................................................................... 111 
Figura XX: Fran, Bicha Poética, Diego e Layze recebendo a dissertação de mestrado em 
Geografia de Vicente Sousa. 18º Edição do Slam da Quentura................................... 119 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 15 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 17 
1. A POÉTICA MARGINAL: PERCURSO METODOLÓGICO NU E CRU ......25 
1.1. Trocando umas ideias e observando o movimento ......................................... 25 
1.2. E o porquê das pessoas informantes? .............................................................. 26 
1.3. Os espaços dos diálogos ..................................................................................... 26 
1.4. Os discursos poéticos e suas análises ................................................................ 28 
2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE JUVENTUDES NO CONTEXTO CIENTÍFICO: 
O QUE O SLAM DA QUENTURA TEM A VER COM ISSO? .............................. 30 
2.1. O processo de coleta científica .......................................................................... 34 
2.1.1. Resultados ..................................................................................................... 36 
2.2. Representações Sociais de juventude: os modos de ver científicos ............... 43 
2.3. O que é ser jovem? Slam da Quentura em cena ............................................. 48 
3. “COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: MAS E O CRIME PERFEITO DA BIO-
NECROPOLÍTICA BRASILEIRA? .......................................................................... 62 
3.1. Estado de Exceção: a realidade paradoxal nacional ....................................... 65 
3.1.1 A analítica de Foucault: algumas explanações ........................................... 67 
3.1.2. A exceção ...................................................................................................... 70 
3.2. Juventudes periféricas e (im)políticas: a perspectiva ideal dos matáveis e a bio-
necropolítica .............................................................................................................. 72 
3.3. A bio-necropolítica e o crime perfeito brasileiro ............................................ 74 
4. POTÊNCIAS DE VIDA E A PRÁXIS DO SLAM DA QUENTURA: “RESISTIR PARA 
EXISTIR” ...................................................................................................................... 81 
4.1. As potências de vida ........................................................................................... 83 
4.2. Se lutas por reconhecimento, logo, haverá de se ter uma cidadania ativa ... 89 
4.2.1. “Não quero tomar teu espaço: só quero meu lugar de fala” ...................... 94 
4.2.2. “O silêncio te frustra? Lugar de escuta assusta” ........................................ 98 
5. “DÁ LICENÇA, QUE VOU PASSAR COM MEU AMOR”: PROMOÇÃO DE SAÚDE 
MARGINAL ............................................................................................................... 102 
5.1. Promoção de Saúde do SUS e Promoção de Saúde Marginal ...................... 105 
5.2. Arte, cultura e poesia: uma relação estrutural ............................................. 113 
 
5.3. “O Slam é muita viagem. Define assim no teu trabalho: o Slam como uma viagem”
 .................................................................................................................................. 116 
5.4. “E o Slam, pra mim, é isso: É você falar o que você sente” ........................... 120 
5.5. Empoderamento e saúde: as artimanhas periféricas na luta contra as opressões
 .................................................................................................................................. 125 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 131 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 134 
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
 ...................................................................................................................................... 144 
APÊNDICE B - TERMO DE ASSENTIMENTO (no caso do menor) .................. 146 
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS 
RESPONSÁVEIS (TCLER) ...................................................................................... 148 
APÊNDICE D - ORÇAMENTO ............................................................................... 150 
APÊNDICE E – DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR ........................................ 151 
APÊNDICE F – ROTEIRO DE ENTREVISTA ..................................................... 153 
APÊNDICE G – ENTREVISTAS ............................................................................. 154 
APÊNDICE H – DIÁRIOS DE CAMPO ................................................................. 256 
ANEXO - A ................................................................................................................. 278 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
APRESENTAÇÃO 
Neste trabalho, falo sobre as juventudes periféricas sobralenses e suas 
manifestações artísticas através do Slam da Quentura e sobre como esta práxis poética 
potencializa uma Promoção de Saúde Marginal. Esse termo, cunhado por nós a partir dos 
discursos de nossas e nossos informantes, se explicará logo à frente. 
Há tempos as juventudes lançam mão de dimensões simbólicas como uma das 
principais ferramentas de comunicação, identificação e luta, representando seus modos de ser, 
agir e pensar. A música, a poesia, o corpo, a dança e seus visuais têm sido os articuladores que 
unem grupos que se agregam para desenvolver sons, conversar, debater, protestar, amar. São 
formas de lazer e são maneiras de se posicionar perante a sociedade. 
 As relações culturais manifestam-se num contexto expoente de atividades, 
representações e rituais nos quais os jovens buscam delimitar o seu pedaço, sua área, 
desenvolvendo identificações. Eles, elas, possuem um papel protagonista, atuando em seus 
pedaços, espaços legitimados, (re)conquistados, (re)ocupados; desenvolvendo olhares sobre si, 
por vezes mais conscientes de sua condição social, e potencializando uma cidadania que passa 
a ser ativa. 
Nesse âmbito, a música, a poesia é a atividade que destaco, pois o Slam da Quentura 
traz em seu arcabouço artístico um leque poético perpassado por manifestações não apenas 
sonoras, mas de efeitos linguísticos. A palavra é a métrica pulsante no instrumental de jovens 
conhecidos como slammers, MCs, poetas, poetisas, poetes. Esse poder, que também é 
performático, é compreendido tanto em suas individualidades, quanto na coletividade. 
Ao contrário das representações socialmente construídas sobre jovens pobres quase 
sempre vinculadas à violência e à marginalidade, como mostrarei no segundo capítulo desta 
pesquisa, essa juventude se coloca como produtora cultural. A batida poética de uma 
improvisação certeira em uma Batalha de MCs, a poesia declamada e aplaudida de pé por um 
público que firmou identificações, são exemplos de práxis marginais1, periféricas que 
estabelecem trocas, vivências e diversão, produzindo sonhos e posicionamentos coletivos no 
Slam da Quentura. 
 
1 Quando falo de “práxis marginais” me refiro às diversas atividades que ocorrem no Slam da Quentura. Desde as 
Disputas Poéticas às Batalhas de MCs. São ações de transformação, organizadas por meio dos desejos dos 
participantes deste movimento. São atividades que geram reflexão e ação de jovens sobre o ambiente para mudá-
lo (FREIRE, 1985). “Marginais” aqui compreendido como algo positivo, como arte subversiva, que não está nos 
padrões sociais compreendidos como cultura. No decorrer dos capítulos expressões como “práxis”, “marginal” e 
“periferia” serão explanadas de forma melhor. 
16 
 
Essas constatações nas relações sociais entre essas pessoas promovem saúde, uma 
saúde que, muitas vezes, não é alcançada pelas políticas públicas e é nesse sentido que a 
chamamos Marginal anteriormente, o que significa uma saúde diferente, produzida por 
juventudes que não possuem recursos básicos como cidadãos de direito. O Slam da Quentura 
promove saúde ao promover emancipação e realizaçãode objetivos de modo a fornecer novos 
sentidos de vida e engajamento político. Além de ser um movimento que preza pelo respeito às 
diferenças, que abomina o fascismo, o Slam manifesta lazer como uma forma de (re)existir. 
Enfim, faço um adendo para a palavra “Marginal”, que etimologicamente diz de um 
“relativo à margem”, “localizado nos extremos, nas periferias”, “pessoa perigosa que vive às 
margens da cidade” (HOUAISS; VILLAR, 2001). Para além disso, diz-se de indivíduo ou 
grupo, “que não assimila e incorpora hábitos e valores da nova cultura por serem muito 
divergentes dos de seu local de origem” (HOUAISS; VILLAR, 2001). Pensando nessas 
perspectivas é que acredito que o Slam da Quentura, de fato, não almeja uma cultura dita 
normativa dentro de padrões sociais impostos. Esses jovens desejam suas próprias culturas de 
origem, dando uma nova roupagem para a palavra “marginal”, sendo esta palavra uma 
demarcação de ações coletivas que representam vozes periféricas que, durante bastante tempo, 
foram silenciadas por um sistema capitalista desigual, excludente e perverso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
INTRODUÇÃO 
Essa ânsia de estudar o Slam da Quentura adveio de minha trajetória de vida 
recheada de desigualdades, pobreza e exclusão desde a minha infância, época em que morei em 
Fortaleza - CE com minha mãe trabalhando como empregada doméstica, sem carteira assinada, 
em meados de 1990, configurando-se uma trabalhadora precarizada e invisibilizada. Em muitos 
fins de semana, visitávamos uma prima dela que morava em uma das periferias da capital 
conhecida como Barra do Ceará. Quase sempre no trajeto, antes de chegarmos à casinha de 
taipa de um cômodo de sua prima, visualizávamos inúmeros fatos: brigas entre vizinhos, 
pessoas ligadas ao tráfico de drogas que nos faziam perguntas na tentativa de conferir se nossas 
respostas eram mesmo verdadeiras e, assim, permitir ou não nossa entrada no bairro, pessoas 
alegres se divertindo escutando música, conversando nas calçadas e vendedores ambulantes 
gritando na ânsia de ganhar um trocado. 
Esses percursos ora me causavam medo, ora me deixavam feliz, especialmente as 
músicas que muitos escutavam na época. As batidas diferentes e as rimas, que muitos jovens 
cantavam juntos, tentando acompanhar as músicas, deixavam-me extasiado. Mesmo minha mãe 
afirmando que era “música de bandido”, compreendi, mais à frente, na adolescência, que era 
rap, que era Racionais MCs, que era o grupo mais influente da Cultura Hip-Hop nacional. 
Quando entrei, em 2013, no curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará – 
UFC/Campus Sobral-CE, uni meus desejos de compreensão da Cultura Hip-Hop com os 
estudos de Sociologia, Psicologia Social Crítica e Filosofia e um dos disparadores para essa 
ânsia de saberes foi o livro de Roberto Camargos “Rap e política: Percepções da vida social 
brasileira”. Os escritos desse autor me permitiram navegar em inúmeros contextos do Hip-Hop 
e me fizeram acreditar que era possível estudar música, mais especificamente rap, num curso 
de Psicologia. 
A escolha de tentar compreender o Slam da Quentura de forma mais aprofundada 
se deu por conta de toda essa minha trajetória na graduação em Psicologia, durante a qual 
estudei as minorias sociais, as formas de resistência cultural, as transformações que a cultura 
musical e poética pode trazer para o cotidiano de pessoas em vulnerabilidade, como trouxeram 
para mim. 
O desejo de realizar estudos, principalmente sobre Psicologia Social Crítica, 
Sociologia e Filosofia, me impulsionou a compreender as estratégias de enfrentamento de 
pessoas que vivenciam ou vivenciaram diversos tipos de opressão diariamente e as 
representações sociais de uma classe privilegiada que usurpa os direitos da maioria 
populacional brasileira empobrecida. Esses estudos me fizeram compreender mais sobre 
18 
 
movimentos sociais de cultura musical e de poesia, como eles impactam na vida de seus 
participantes e como as práxis dentro das atividades desses movimentos configuram 
manifestações de luta, de transformação social, de lazer e de (re)existência. 
Essa pesquisa diz muito também sobre a minha compreensão a respeito do que é 
saúde, partindo da ideia de que ela não se limita ao estudo dos órgãos e do bom funcionamento 
do corpo biológico, mas também se manifesta nas relações subjetivas, no respeito às diferenças, 
nas formas de alteridade e empoderamento. A saúde não está unicamente nos estudos de revisão 
integrativa ou sistemática, nas análises de mapeamento de doenças, nos referenciais teóricos 
compreendidos no meio acadêmico como de saúde. Ela está na Sociologia, na Filosofia, na 
Psicologia, nas Artes, na rua, nas periferias e nos lugares onde os sujeitos podem se reinventar, 
pois saúde não se restringe a um jaleco branco ou a uma epidemiologia numérica, mas sim a 
diversos tipos de olhares ampliados que buscam compreender o ser humano holisticamente e 
não apenas a doença. 
A minha participação no Slam da Quentura ocorreu desde o ano de 2018 e me fez 
compreender a relevância das atividades realizadas nesse movimento. A práxis de promoção 
em saúde foi outro fator essencial para a escolha deste público, pois, para além de disputas 
poéticas, no Slam da Quentura há manifestações de relações sociais, de amor, respeito e 
alteridade. São atividades idealizadas por eles e elas, ou seja, que partem dos seus desejos, 
enaltecendo suas origens e posicionando essas pessoas como seres humanos protagonistas com 
modos de agir, pensar e ser que traduzem empoderamento. Essa realidade insere-se, inclusive, 
na proposta de ações educativas que trazem representatividade musical e poética ligada 
diretamente ao discurso antirracista, antifascista e de potencialização da consciência crítica, da 
cidadania ativa, termo usado por Pedro Demo e que será trabalhado posteriormente. 
A palavra slam é de origem inglesa, diz de um "bater com força", ou seja, produzir 
ruído (Cambridge Dictionary Online). Sua história está atrelada à práxis da “poesia das ruas”, 
cujo surgimento ocorreu nos Estados Unidos, onde se passou a denominá-lo como slam ou 
spoken words. Houve uma iniciativa em Chicago no ano de 1985, encabeçada por Marc Smith, 
na qual o slam tinha como marca as competições de poesia no Bar Green Mill (VAZ, 2008). 
Marc Smith nomeou tais competições como Up-town Poetry Slam, que eram campeonatos de 
performances poéticas em que os slammers (poetas, poetisas e poetes2) eram avaliados pelo 
 
2 O “E” representa as diversidades de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Queer, Intersexo, Assexuais+ 
(LGBTQIA+). Mesmo que formalmente seja reconhecido como erro ortográfico, por vezes, usarei dessa variação 
linguística, pois parto do lugar de fala de pessoas que a língua portuguesa heteronormativa não dá conta. Acredito 
19 
 
público presente. Os primeiros campeonatos ocorreram no bar e outras edições nas periferias 
(NEVES, 2017). Essas atividades poéticas, ao longo de suas edições, foram ganhando 
proporção e se espalhando para outras cidades dos Estados Unidos e também mundo afora. 
Roberta Estrela D’Alva (2014), atriz-MC, diretora musical, pesquisadora, slammer 
(poetisa) brasileira foi quem trouxe Poetry Slam para o Brasil, no final de 2008, quando fundou 
o ZAP! - Zona Au-tônoma da Palavra, Slam em São Paulo. A partir desse movimento poético, 
outros slams foram surgindo pelas cidades brasileiras, como o Slam da Quentura, que teve início 
em março de 2017, pioneiro no Estado do Ceará no formato de slam, e reuniu jovens das 
periferias de Sobral numa determinada praça da cidade chamada de Quirino Rodrigues, 
localizada no centro. Os/as poetas, poetisas, poetes que adentram o movimento são jovens da 
periferia, negros/as e LGBTQIA+ (SABINO, 2018). Trata-se de uma manifestação sem 
fomento governamental, ou mesmo municipal, em quejovens se encontram uma vez por mês 
para praticar atividades como Disputa Poética, Batalhas de MCs, exposição artística e 
discussões sobre inúmeros assuntos. Na sessão intitulada ““Dá licença que vou passear com 
meu amor”: Promoção de Saúde Marginal” cada uma destas atividades será melhor detalhada. 
Mediante uma pesquisa de campo sobre movimentos culturais que tem a arte 
musical como foco, referente ao Trabalho de Conclusão de Curso – TCC de Psicologia da 
Universidade Federal do Ceará/Campus de Sobral produzido por mim e intitulado “Música, 
cultura e resistência: a aprendizagem musical como forma de transformação social”, constatou-
se, a partir da história de vida de oito pessoas, que a arte musical promove saúde ao promover 
emancipação de maneira a desenvolver novos sentidos de vida e cidadania ativa (SILVA 
NETO, 2017). 
A partir disso e tendo em vista a Constituição de 1988, em que o Sistema Único de 
Saúde – SUS foi institucionalizado, reagindo ao modelo biomédico e hospitalocêntrico, passa 
a haver uma democratização da saúde pública, na tentativa de minimizar as problemáticas de 
saúde decorrentes da transição epidemiológica e demográfica que se desenvolvia na época 
 
na urgência de se encontrar novas terminologias haja vista a violência e as relações de poder na língua portuguesa, 
reduzida em sua grande maioria ao gênero masculino. Usarei, portanto, essa variação como uma forma de 
integração, ou seja, ao longo do texto adotarei esse uso como modo de assegurar que contemplarei todas as pessoas 
que fazem parte do Slam da Quentura. Por vezes também usarei os termos “sujeita”, “membra” ao invés das formas 
gravadas no masculino como se costuma tecer nas normas formais científicas. Mesmo que em dados momentos 
possa “esquecer” de usá-las, pois estamos impregnados de uma linguística europeia, branca, machista e 
heteronormativa, é essencial esse exercício de desconstrução acadêmica, pois representa formas de resistência e 
manifestação em defesa da pluralidade da língua portuguesa. 
20 
 
(WESTPHAL, 2006). Nesse contexto, a Promoção de Saúde se insere na proposta do SUS no 
esforço de recuperação das promessas da Reforma Sanitária, já que esse Sistema concentrou-se 
nos serviços ligados à atenção à doença (WESTPHAL, 2006). 
A Promoção de Saúde se define como uma proposta para promover a vida, lançar 
mão dos direitos das pessoas, compartilhar e potencializar possibilidades para que todos e todas 
possam viver de forma melhor, buscando apontar as necessidades de novos percursos éticos 
para a sociedade (AKERMAN; BOGUS; MENDES, 2004). Ora, se partirmos dessa premissa, 
a democratização de saúde, de fato, prospera, tendo a Promoção de Saúde como mecanismo 
essencial para alavancar essa proposta de saúde pública para todos, todas e todes. Desse modo, 
movimentos de juventude como o Slam da Quentura devem ter um espaço de diálogo dentro 
do campo das políticas públicas, das formas de tratamento e cuidado das pessoas. 
Ao problematizar esse processo de políticas em saúde, no sentido da necessidade 
de haver um real conhecimento das necessidades diversas de saúde do público jovem das 
periferias sobralenses, é relevante refletir sobre as atividades desenvolvidas pelos jovens 
participantes do Slam da Quentura: as ações do Slam da Quentura promovem saúde? Se 
promovem, como se dá esse processo? Quais as percepções que esses jovens têm em relação à 
saúde? As respostas a esses questionamentos são parte importante da fundamentação deste 
estudo. 
 A saúde deve ser compreendida como um mecanismo mais amplo de assistência, 
em que as manifestações de todas as enfermidades humanas sejam vistas como resultantes da 
interação entre corpo, mente e meio ambiente, e sejam estudadas e tratadas nessa perspectiva 
abrangente, isto é, de uma assistência holística da saúde (CAPRA, 2006). Dessa forma, 
movimentos culturais de periferia devem ter um espaço de diálogo junto à atenção básica, na 
Estratégia Saúde da Família - ESF. Este trabalho, nesse sentido, tem como objetivo 
compreender de que forma o Slam da Quentura produz saúde. Além disso, busca-se entender 
qual a percepção que as juventudes sobralenses participantes do movimento em estudo têm em 
relação à saúde e às suas necessidades, levando em consideração a ESF. 
É importante também mencionar a “práxis”, termo bastante usado nesta pesquisa, a 
partir da visão de Paulo Freire (1987), que diz que, ao mesmo tempo em que o sujeito pratica 
uma ação/reflexão, ele reflete/age. Em outras palavras, a práxis é reflexão e ação das pessoas 
sobre o ambiente para mudá-lo. Sem ela, não há possibilidades de superação da contradição 
opressor-oprimido (FREIRE, 1987). Esse conceito se torna relevante para este trabalho porque 
se entende que o Slam da Quentura, em suas atividades artísticas, gera a prática de ações 
poéticas, produzindo reflexão sobre as condições que os participantes vivenciam. 
21 
 
O delineamento de pesquisa configura-se como um estudo descritivo, exploratório 
e de abordagem qualitativa, caracterizado por uma investigação dos possíveis impactos de 
movimentos culturais na saúde dos jovens imersos nestes percursos. É importante que se 
entenda que o trabalho nos percursos descritivos e exploratórios mantém relação direta com 
aspectos da realidade que não devem se restringir apenas a uma quantificação. Almejo, desta 
forma, a compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais, logo, quando se trabalha 
com a abordagem qualitativa deve haver entendimento do universo de significados, 
circunstâncias, desejos, crenças, valores e ações (MINAYO, 2014). Além disso, pretendo 
alcançar uma visão de espaço mais aprofundada no que tange às relações, aos próprios 
processos de mudanças culturais e aos fenômenos que não devem ser restritos à 
operacionalização de variáveis (MINAYO, 2014). 
Tendo em vista que uma pesquisa científica necessita de metodologias específicas 
para se concretizar e se validar no âmbito da ciência, é essencial compreender que objetos 
diferentes requerem métodos diferentes para sua investigação. Se desejo compreender os 
possíveis efeitos de movimentos culturais na saúde dos jovens das periferias de Sobral 
participantes do Slam da Quentura sei, de antemão, que o objetivo estabelecido é de natureza 
subjetiva. Dessa forma, necessito da ação metodológica qualitativa. 
É relevante salientar que esse trabalho se pautará no desenvolvimento dos meios de 
coleta de dados e na relação entre eles e as orientações metodológicas do arcabouço qualitativo 
de pesquisa. Entendo que a melhor maneira de fazer isso é utilizando questionários 
semiestruturados e a Observação Participante. Por isso, foi pensada a construção de perguntas-
chave para que haja o melhor aproveitamento possível no que tange ao diálogo com o 
informante. Além disso, os registros poéticos produzidos pelos participantes do Slam da 
Quentura também serão relevantes para a pesquisa no que diz respeito à proposta de 
compreensão a partir da análise discursiva. As perguntas e observações a serem empreendidas 
serão pautadas em conceitos relativos à pesquisa provenientes do referencial teórico deste 
trabalho, uma vez que os achados do campo devem ser lidos sob a ótica das teorias ainda que 
estas não deem conta da riqueza que é a vida nos mínimos detalhes do cotidiano. 
No que se refere à Observação Participante, ela se constitui de três etapas que serão 
seguidas fielmente. A primeira é o momento em que ocorre a aproximação do pesquisador com 
o grupo social em estudo. Nessa etapa, é preciso que o pesquisador seja aceito em sua própria 
função, ou seja, como alguém externo, que deseja realizar um estudo junto àquele público 
(RICHARDSON, 1999). Por meio dessa inserção buscarei diminuir a distância que me separa 
do grupo social com o qual pretendo trabalhar. Essa aproximação necessita de paciência e 
22honestidade, condições primordiais para que o trabalho possa ser concretizado dentro do grupo, 
no caso o Slam da Quentura, com a participação de seus membros enquanto protagonistas e 
jamais como simples objetos (RICHARDSON, 1999). 
Já em relação à segunda etapa, deve haver um esforço do pesquisador em ter uma 
visão abrangente do conjunto do seu público informante. Essa etapa pode ser efetivada com o 
suporte de alguns elementos, por exemplo, o estudo de documentos oficiais, visando conhecer 
a história do grupo, além da observação da vida cotidiana do grupo de informantes e do 
levantamento de pessoas-chave (conhecidas pelo grupo), realizando-se entrevistas não diretivas 
com esses indivíduos para que auxiliem na compreensão da realidade do grupo 
(RICHARDSON, 1999). Pretendo desenvolver a segunda etapa por meio de dados colhidos nas 
observações de campo e relatados em diários, com o intuito de não perder informações 
relevantes observadas. Além disso, utilizarei recursos fotográficos objetivando dispor de mais 
um mecanismo para explorar a coleta de dados de forma mais dinâmica e produtiva. Por fim, a 
terceira etapa diz respeito à sistematização e organização dos dados. Essa análise de dados deve 
informar ao pesquisador a condição real do grupo informante e a percepção que esses 
informantes possuem de seu estado (RICHARDSON, 1999). 
Compreendo que a Observação Participante é muito importante para esta pesquisa, 
porém, acredito que ela não abrange de forma satisfatória os percursos deste trabalho. Houve 
uma ânsia maior e participei não só como observador participante, mas também como parceiro 
de movimento cultural, haja vista as relações estreitadas entre Slam da Quentura e Sarau 
Resistência JV (movimento fundado por mim e outras pessoas em Ibiapina-CE com apoio do 
Slam da Quentura). Fiz parte de momentos de integração entre vários slams que ocorrem na 
Região Norte e Fortaleza, capital do Ceará. Representei o Sarau e me aproximei do convívio 
artístico de muitas pessoas dentro do Slam da Quentura. Tendo isso em vista, parto da ideia de 
Magnani (2002) que define etnografia como um olhar de perto e de dentro, em que se 
experimentam as dinâmicas culturais, formas de ser, agir e pensar imersas nos contextos de 
atores, atrizes sociais, neste caso, os poetas, as poetisas e poetes. 
Agora, apresento os capítulos que esta pesquisa irá conter: o primeiro foi 
denominado A poética marginal: percurso metodológico nu e cru. Traçarei aqui as principais 
metodologias utilizadas na pesquisa e as suas relações com o Slam da Quentura. Nesse sentido, 
apliquei técnicas de entrevistas semiestruturadas, além da Observação Participante e a 
Etnografia, e me deterei em explicar o porquê destas escolhas. Já as análises dos dados foram 
feitas por meio da Análise do Discurso, ancorada, principalmente, na visão de Orlandi (2005, 
23 
 
2009), na medida em que usufruí desse mecanismo para esmiuçar as potências nas falas dos 
informantes que participaram das entrevistas, além de suas poesias. 
No segundo capítulo, por sua vez, pontuarei aspectos relacionados às 
Representações Sociais de juventudes no contexto científico: o que o Slam tem a ver com 
isso?, buscando compreender as representações de jovens na história brasileira recente de 
políticas públicas a partir de uma revisão integrativa. Nos tópicos 2.1 O processo de coleta 
científica e 2.1.1 Resultados serão descritos o processo metodológico utilizado e as evidências 
obtidas com a revisão integrativa. Já no tópico 3 Representações Sociais de juventude: os modos 
de ver científicos a discussão se dará a partir da Teoria das Representações Sociais e de autores 
base, como Moscovici (2010), Jodelet (2001) e Pedrinho Guareschi (2000). Haverá um viés 
dialético de estudos acerca das representações sociais e dos resultados alcançados com a revisão 
integrativa, na tentativa de problematizar as evidências identificadas por meio da Teoria das 
Representações Sociais - TRS. Por fim, no ponto 4 O que é ser jovem? Slam da Quentura em 
cena, confrontarei ideias sobre o que foi apurado a partir da revisão interativa e sobre o que os 
jovens participantes do Slam da Quentura entendem a respeito do que é ser jovem. 
No terceiro, “Combinamos de não morrer”: mas e o crime perfeito da bio-
necropolítica brasileira?, será feita uma reflexão sobre políticas sociais, tendo o Estatuto da 
Criança e do Adolescente – ECA como base. Referenciais teóricos como os autores Michel 
Foucault (1979, 1999a, 1999b, 2004, 2005, 2008a, 2008b) e Giorgio Agamben (2004, 2010) 
serão essenciais para o desenvolvimento deste capítulo. Nos tópicos 3.1 Estado de Exceção: a 
realidade paradoxal nacional e 3.1.1 A analítica de Foucault: algumas explanações, à luz de 
Foucault, haverá discussão sobre como as políticas sociais favorecem processos de governo da 
vida dos sujeitos, isto é, transformam-se em práticas de controle e exercício de poder. Já no 
tópico 3.1.2 A exceção, com suporte de Agamben, a reflexão se concretizará através da análise 
de certas formas de estruturação das políticas sociais e como elas podem gerar a exclusão dos 
jovens, contribuindo para o que o pensador italiano chamou de estado de exceção. 
Por fim, nas seções 3.2 Juventudes periféricas e (im)políticas: a perspectiva ideal 
dos matáveis e a bio-necropolítica e 3.3 A bio-necropolítica e o crime perfeito brasileiro 
abordarei as formas de governo que são formuladas e praticadas como modos de assujeitamento 
de um contingente populacional que é incessantemente marginalizado, além de apontar 
aspectos de uma política que escolhe quem morre ancorada em moldes de crime perfeito 
nacional. 
Já no quarto capítulo, Potências de Vida e a práxis do Slam da Quentura: 
“resistir para existir”, o conceito de uma nova biopolítica será exposto, a partir do qual ela é 
24 
 
compreendida não mais como centrada no controle sobre a vida, mas na potência de vida, 
ancorada, principalmente, na perspectiva de Pelbart (2003), e também, por exemplo, no olhar 
de Deleuze (2010) sobre a arte como potência de viver. Levando em consideração as definições 
de “espírito livre” de Nietzsche (2005), “luta por reconhecimento” de Axel Honneth (2003) e 
“cidadania ativa” de Pedro Demo (1996), analisarei algumas poesias marginais de slammers do 
Slam da Quentura, e me debruçarei sobre seus letramentos de reexistência e as vivências e 
sentimentos perpassados nos potenciais linguísticos da escrita poética dessas pessoas. 
Finalmente, no último capítulo, “Dá licença, que vou passar com meu amor”: 
Promoção de Saúde Marginal, em que serão apresentados os conceitos de saúde de Capra 
(2006) e um breve histórico sobre a saúde pública no Brasil. O tópico 4.1. Promoção de Saúde 
do SUS e Promoção de Saúde Marginal, destacarei o conceito de promoção de acordo com o 
Sistema Único de Saúde e discutirei sobre sua efetividade. Além disso, explanarei o conceito 
de Promoção de Saúde Marginal nesta visão mais ampla sobre saúde, relacionando-a com a arte 
e como essas práxis artísticas podem contribuir para mudanças no cotidiano dos jovens 
participantes do Slam da Quentura, podendo, inclusive, potencializar a promoção da saúde, esta 
definida aqui como marginal. O tópico 4.2. Arte e cultura: uma relação harmônica? conterá 
uma explanação dos conceitos de cultura de Roque Laraia (2001), John B. Thompson (2000) e 
Clifford Geertz (2008) e do porquê as artes praticadas em movimentos de juventudes se 
caracterizam como manifestação cultural dinâmica. Já na seção 4.3. Os sentidos do Slam da 
Quentura: a saúde invisibilizada, torna-se relevante falar do impacto que as artes praticadas 
nesse movimento têm sobre os slamers será analisado, haja vista que, com a participação no 
Slam da Quentura haverá mudanças e a criação de novos sentidos de vida, como a afirmação 
de uma identificação social, de aprendizagem coletiva, espaços de socialização e de atividades 
que auxiliamem seus processos de saúde e reflexão sobre suas condições sociais. No tópico 
4.4. Empoderamento e saúde: as artimanhas periféricas na luta contra as opressões constarão 
as percepções das pessoas entrevistadas sobre as questões da arte periférica e sua importância 
na construção de um empoderamento, diretamente relacionado à saúde, fator que está atrelado 
a um “adeus à pobreza política”. 
Este trabalho, enfim, mostra-se relevante por buscar compreender a relação entre 
as atividades praticadas no Slam da Quentura e a promoção em saúde de pessoas que 
enveredaram nesse movimento, possibilitando também uma cidadania ativa. É um trabalho 
importante para qualquer profissional da saúde, pois demonstra a versatilidade do campo de 
pesquisa, por meio de um estudo dialógico com a sociologia, psicologia e filosofia. Esse diálogo 
25 
 
entre as ciências é essencial para se compreender a saúde de uma forma mais abrangente e para 
a produção de futuras políticas públicas para a juventude. 
 
1. A POÉTICA MARGINAL: PERCURSO METODOLÓGICO NU E CRU 
Esta pesquisa se aprofundou nas metodologias exploratórias, explicativas e 
descritivas de abordagem qualitativa. É preciso salientar que a escolha da pesquisa qualitativa 
tem relação com as formas de compreensão do sujeito, pois esse tipo de pesquisa visa entender 
a lógica de valores culturais e relações entre sujeitos e instituições (MINAYO, 2014), além do 
processo sócio-histórico de políticas públicas. A relevância da perspectiva qualitativa para os 
propósitos deste estudo se configurou devido aos subsídios que ela forneceu para a apreensão 
das relações entre grupos de jovens de periferia e a práxis de promoção em saúde. 
A pesquisa foi exploratória, pois não se limitou a uma quantificação de dados, mas 
se estendeu a uma compreensão das dinâmicas nas relações sociais, descrevendo de forma 
explicativa e detalhada as mais diversas ações, atividades e comportamentos dos jovens nas 
celebrações mensais do Slam da Quentura na praça do FB, como ficou conhecida a praça 
localizada no centro de Sobral. Mais adiante, falarei do porquê do nome “FB” e por qual motivo 
os jovens escolheram esta praça para confraternizarem. 
 
 1.1. Trocando umas ideias e observando o movimento 
As artimanhas utilizadas nesta pesquisa para melhor analisar as propostas 
discursivas, linguísticas, artísticas e de saúde no Slam da Quentura foram as entrevistas 
semiestruturadas e a Observação Participante. É preciso destacar que as técnicas metodológicas 
foram escolhidas após alguns encontros de orientação e de disciplinas no próprio programa de 
pós-graduação em Saúde da Família do qual faço parte. 
As entrevistas semiestruturadas foram pensadas para acessar um campo que não é 
exclusivamente de coleta de dados, haja vista que não me restringi a uma mecânica científica 
fluida que trata superficialmente o público informante (SILVA NETO; ALVES, 2017). 
Acredito numa troca de informações, de saberes, de ajuda. Por isso, as entrevistas nesta pesquisa 
se deram na relação bidirecional, em que há “uma relação de interação verbal entre 
entrevistador e entrevistado, na qual se dá o ato de capacitação” (BENJAMIN, 2008, p.16). 
Essa capacitação se refere a uma dinâmica de qualificação para a vida. Dito de outra maneira, 
como já mencionado, não se tratou apenas de uma coleta de dados, mas de uma troca de 
experiências, vivências e escutas. 
Para além desse momento de troca, foram pensadas também outras ocasiões que 
poderiam ser abarcadas, como os olhares mais aprofundados no campo, mas desta vez com 
26 
 
inserção no próprio movimento Slam da Quentura. As entrevistas foram um passo essencial, 
porém faltava algo para preencher e enriquecer ainda mais as compreensões acerca do Slam em 
questão. Devido a isso, a Observação Participante foi escolhida como técnica para incrementar 
os estudos sobre o Slam da Quentura. 
Dessa forma, a Observação Participante, que se manifesta numa perspectiva de 
observação etnográfica, foi utilizada porque permitiu me aproximar dos slammers, poetas, 
poetisas, poetes, ocasionando, muitas vezes, uma imersão mais aprofundada no campo e nas 
atividades desenvolvidas pelo Slam da Quentura, adaptando-me a uma capacidade investigativa 
e vivencial bastante intensa para a compreensão dos processos de promoção de saúde marginal. 
 
 1.2. E o porquê das pessoas informantes? 
Esta pesquisa foi pensada de forma qualitativa, logo, a quantidade de público não 
foi prioridade, mas sim a qualidade discursiva de cada pessoa entrevistada. Foram escolhidos 
13 participantes do Slam da Quentura. Esse número se adequou a partir da imersão no campo, 
na qual compreendemos as falas e os discursos até se chegar ao ponto de saturação. Em outras 
palavras, na medida em que a pesquisa atingiu os objetivos propostos as entrevistas foram 
diminuindo até cessarem. 
 As pessoas entrevistadas foram 10 slammers (alguns participantes da organização 
e outros que atuavam ora como slammers, ora como expectadores). Além disso, foram 
entrevistados um Slam Master (a pessoa responsável por apresentar a celebração artística), dois 
membros do LABOME (Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas) da Universidade 
Estadual Vale do Acaraú - UVA, que são responsáveis pela cobertura do Slam da Quentura 
através de filmagens e fotografias, além de terem relação com a organização do Slam e, por 
fim, dois participantes das Batalhas de MCs. Essa diversidade de público mostra a não restrição 
da fala apenas a membros da organização, buscando estendê-la aqueles e àquelas que 
contribuem de outra forma para o movimento. 
 
 1.3. Os espaços dos diálogos 
Os locais de pesquisa escolhidos para as entrevistas semiestruturadas consistiram 
em três espaços: a praça do FB (onde acontecem as atividades do Slam da Quentura); a Margem 
Esquerda, local bastante conhecido na cidade de Sobral, no qual muitas pessoas se reúnem para 
confraternizar: bebendo, fumando, namorando, dançando; e um supermercado central. 
É claro que a escolha desses locais partiu de um acordo estabelecido previamente 
entre as partes (pesquisador e público informante). O que se tencionou foi o conforto na troca 
de informações durante as entrevistas e que essas relações de diálogo pudessem manifestar 
27 
 
contribuições interessantes para ambos. Desta forma, as entrevistas se efetivaram sempre em 
acordo e em locais escolhidos e discutidos com as pessoas informantes. O contato com 
slammers, poetas, poetisas, poetes, para as entrevistas foi efetivado por meio de redes sociais 
(Instagram) e de forma presencial no local em que ocorreram as atividade do Slam da Quentura, 
neste caso, a praça do FB. 
A praça Quirino Rodrigues fica localizada no centro da cidade de Sobral, em frente 
a um colégio privado chamado Farias Brito – FB. Desde sua revitalização, a praça ficou 
conhecida popularmente como Praça do FB, tanto pela facilidade do nome como pelo fato de 
essa escola ficar, de certa forma, encarregada da manutenção da praça, por exemplo, no que diz 
respeito aos cuidados com a arborização. 
Mesmo com esta explicação aparente ainda fiquei intrigado pela escolha dessa 
praça em específico por terem continuado a adotar o nome “Praça do FB”. A partir de uma 
exposição artística e roda de conversa na Casa do Capitão Mor3, no dia 23 de setembro de 2019, 
é que pude ter acesso às explicativas referentes a essa história. Fran Nascimento, uma das 
convidadas para falar de suas produções artísticas, além de ser slammer e uma das 
organizadoras do Slam da Quentura, quando perguntada sobre o porquê da escolha dessa praça 
disse que ela foi pensada por, primeiro, ser um local estratégico para os encontros mensais de 
juventudes, pois caso ocorressem na “quebrada” haveria restrições de participação de inúmeros 
jovens por conta dos conflitos de territórios entre facções. Segundo, é um local de fácil acesso 
dos bairros periféricos devidoao VLT – Veículo Leve sobre Trilhos (conhecido como Metrô 
de Sobral), que faz as rotas periferias – centro, centro – periferias. Terceiro, a praça era ocupada 
por alguns jovens periféricos, que sofriam muitas revistas policias, então Fran e demais 
organizadores do Slam da Quentura pensaram em (re)ocupar esse espaço promovendo arte, 
configurando um espaço (re)conquistado através das inúmeras manifestações artísticas 
marginais. O nome “FB”, apesar de ter uma conotação privada, pois faz menção a um colégio 
privado, foi adotado pelo fato de já ter sido compartilhado popularmente, mas, como mencionou 
Fran em sua fala: “ainda gera incômodo”. 
Sobre a Observação Participante e a metodologia etnográfica, elas se deram nos 
momentos em que o Slam da Quentura estava acontecendo normalmente, em cada fim de 
semana do mês, nos quais me atentei às formas de interação, apresentação e organização do 
evento. Além disso, debrucei-me sobre as vivências como parceiro de movimento social em 
 
3É um Centro de Referência Cultural e Histórico de Sobral, inaugurado em 2007, que desenvolve atividades 
voltadas para Educação Patrimonial e História Local. 
28 
 
que, junto com algumas outras pessoas, fundamos o Sarau Resistência JV em Ibiapina-CE, 
tendo o apoio do Slam da Quentura tanto nas estratégias de organização quanto nas de produção 
de oficinas, como a de performance de poesia. 
 Como se trata de uma investigação social, busquei partilhar, na medida em que o 
contexto possibilitou, das atividades e afetos deste movimento de juventudes. Para melhor 
captar as vivências e posteriormente reviver as memórias ali produzidas, adotei duas artimanhas 
técnico-metodológicas: diários de campo, nos quais pude descrever minhas impressões e 
vivências a cada encontro mensal, além de fotografias colhidas a partir de meu contato com o 
LABOME (responsável pela cobertura de filmagens e fotografias do Slam da Quentura) e com 
Ychoices (fotógrafo e videomaker sobralense) que passou a cobrir alguns encontros do Slam 
com fotografias e filmagens. 
Ainda sobre essas vivências no Slam, existiram momentos em que atuei como um 
dos jurados que davam notas para as apresentações dos slammers, outras vezes troquei diversas 
informações com pessoas que se encontravam no anfiteatro após o Slam da Quentura, 
conversando, tomando um vinho barato e, aos poucos, intensificando minha relação com as 
pessoas. Houve episódios de tensão também quando a Polícia Militar abordou de forma 
truculenta alguns jovens no momento em que o Slam estava prestes a começar, inclusive, fui 
revistado por dois policiais que ansiavam encontrar “algo errado” (drogas ilícitas, por exemplo) 
em meus bolsos do short jeans. Momentos outros em que convidei alguns membros do Slam da 
Quentura para potencializarem as atividades da segunda edição do Sarau Resistência JV, em 
Ibiapina-CE, estreitando ainda mais as relações entre movimentos culturais. 
Essas vivências me permitiram compreender, de forma mais visceral, as poesias 
marginais não apenas como atos de resistência a uma cultura embranquecida, colonizada e 
opressora, mas também como forma de arte que produz lazer, manifesta saúde e grita em prol 
de existências que de forma nua e crua se revelam a partir do respeito às diversidades. 
 
 1.4. Os discursos poéticos e suas análises 
A análise discursiva remete ao processo de compreensão de um fenômeno a partir 
da sua importância como linguagem, palavra em movimento, ou seja, uma compreensão do 
discurso observando o sujeito que fala (ORLANDI, 2009). Dito de outro modo, desejo verificar 
não apenas os contextos, as representações ou mesmo os possíveis significados latentes e 
manifestados nas falas e nas poesias dos entrevistados e entrevistadas, mas me propus 
problematizar também possíveis sentidos do discurso: a palavra, o texto e a escrita poética, 
29 
 
atentando-me ao modo como esses letramentos de reexistência empenham-se em influenciar as 
pessoas. 
Os letramentos a respeito dos quais falo aqui estão para além das habilidades de ler 
e escrever, eles podem ser entendidos como “um conjunto de práticas sociais, cujos modos 
específicos de funcionamento têm implicações importantes para as formas pelas quais os 
sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações de identidade e de poder” (KLEIMAN, 
1995, p. 11). Em outras palavras, seguindo a linha de raciocínio de Sousa (2011), essa 
compreensão faz com que se leve em consideração diferentes valores, funcionalidades e 
configurações sociais, culturais e políticas que o fenômeno “letramento de reexistência” assume 
para os mais diversos grupos. 
Dessa forma, esses letramentos de reexistência declamam sobre sexualidade, 
gênero, representatividade negra, tipos de repressão e sofrimentos cotidianos, como 
desigualdades, pobreza e as inúmeras formas de exclusão, mas também há uma exaltação da 
própria cultura periférica, de resistência cultural. Com diversos temas dialogados em forma de 
poesia, os slammers promovem em seus letramentos de reexistência uma práxis de juventudes 
periféricas com fome de existência. 
Destaco ainda que os discursos de letramentos de reexistência proliferados pelos 
slammers não se restringem apenas às poesias, mas se estendem aos diálogos proporcionados 
durante as entrevistas, que prezaram pela diversidade não hierarquizada, pelo respeito às 
atividades do Slam da Quentura e pelas formas de aprendizagem e de saúde que essa celebração 
artística promove. 
Como pesquisador, busquei elementos que pudessem ampliar os olhares em relação 
à maneira de analisar esses letramentos, no plural. Em específico, levei em consideração as 
variáveis, infelizmente ainda escassas, de estudos no âmbito de políticas públicas e no contexto 
de pós-graduações em saúde – juventudes e promoção de saúde – no intuito de passar a olhar 
para essas pessoas com uma visão ampliada não pela ausência, como muitas pesquisas fazem 
(isso vai ser constatado na seção 2), mas pela presença de conhecimentos não valorizados 
socialmente, porém essenciais para suas vidas, como as experiências vivenciais sublimadas em 
letramentos (poesias). 
Nesse sentido, compreendo que a Análise do Discurso – AD é imprescindível para 
analisar essas formas de letramentos de reexistência, pois objetiva o entendimento sobre a 
produção de sentidos, ou seja, o que faz a palavra ser palavra é nada mais do que sua 
significação (BAKHTIN, 2010b). Assim como os textos, as letras poéticas e as falas dos 
entrevistados são formadas por um leque de enunciados para o desenvolvimento de sentidos 
30 
 
com a finalidade de que o ouvinte os interprete e até mesmo identifique o dito e o não-dito 
(KOCH, 1993). Entendo, então, que não existe sentido sem interpretação. 
 No entanto, a AD não desvenda a universalidade dos sentidos; ela escancara o jogo 
de rarefação determinada, isto é, traz à luz o poder essencial de afirmação contido no jogo de 
enunciados, por exemplo, em letras musicais, em poesias e nas falas de entrevistados. Rarefação 
da afirmação e não de generosidade de sentido, bem como da não monarquia do significante 
(FOUCAULT, 2008). Em outras palavras, descrever enunciados é entender como as coisas ditas 
acontecem, levando em consideração os contornos específicos no interior de construções 
discursivas: essa teia complexa de relações faz com que determinadas coisas possam ser ditas 
(e compreendidas como verdadeiras) em um momento e contexto específico (FISCHER, 2003). 
Atentar-se para as práticas discursivas e não discursivas nada mais é que pesquisar 
e tornar visíveis os impactos dessas práticas que ora se exercem a partir daquilo que é 
discursivo, como a própria linguagem, discurso e enunciado, ora se manifestam em práticas 
institucionais como definição de lugares e posições de poder de sujeitos, que jamais são 
vivenciadas de forma isolada (FISCHER, 2003).É relevante, portanto, problematizar essas práticas desenvolvidas nas relações de 
saber/poder de determinada época, descrevendo seus enunciados compreendidos como 
verdadeiros e imersos no dia a dia das pessoas, que produzem formas de viver (FOUCAULT, 
2004). Dito isso, almejo trabalhar com a práxis da dúvida, que é um efeito de atentar para as 
primeiras ações metodológicas aqui mencionadas e que não visam guiar uma ratificação do que 
já se sabe, e sim direcionar a pesquisa através de um percurso fértil, no qual haja diversas 
perspectivas de interpretação, retirando-a do ambiente das certezas. 
 
2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE JUVENTUDES NO CONTEXTO 
CIENTÍFICO: O QUE O SLAM DA QUENTURA TEM A VER COM ISSO? 
Neste capítulo, iniciarei uma discussão acerca da temática de juventudes e as 
políticas públicas de forma sucinta, mas que abordará formas de compreensão acerca da 
distância entre o que se compreende como juventudes e as menos favorecidas, e como as 
políticas públicas feitas para estes públicos não visam produções de amparo, cidadania ou 
mesmo de promoção de saúde, e sim de exclusão, vigilância e prevenção. 
O entendimento que se tem sobre juventudes foi influenciado pela formação de 
políticas públicas voltadas para essas pessoas e, por isso, torna-se necessário contextualizar o 
desenvolvimento dessas políticas em âmbito nacional. No ambiente latino-americano, surgiram 
em 1950 as primeiras iniciativas de desenvolvimento de políticas direcionadas para as 
31 
 
juventudes relacionadas à educação (BANGO, 2003). Anos antes, em 1927, fora desenvolvido 
o 1º Código de Menores, com o objetivo de controle social, devido à práxis que considerava 
crianças e adolescentes pobres como um risco à sociedade (TEJADAS, 2007). 
Em 1964, no âmbito da Ditadura Militar, foi criada a Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (FUNABEM) com o objetivo de promover a Política Nacional do Bem-Estar 
do Menor (PNBEM), porém perpetuando a mesma lógica do extinto 1º Código de Menores, 
com práticas que tinham como preocupações imediatas a captura e a prisão ao invés da 
recuperação do menor de idade por meio de atividades educativas, de saúde e assistências 
básicas, conforme instituído por lei. Em 1979, o 2º Código é criado, com foco no contingente 
populacional de crianças e adolescentes pobres em situação de irregularidade, e propondo um 
viés preconceituoso e moralista, no qual apenas famílias empobrecidas estariam sujeitas a 
necessitar de apoio legal (BANGO, 2003). 
Mesmo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, criado no processo de 
redemocratização nacional a partir da Constituição de 1988, há impedimentos no que diz 
respeito à política de juventudes, pois diversas temáticas e problemáticas juvenis não são 
efetivadas, além da pouca participação de jovens no processo de construção das políticas das 
quais são beneficiários (SCHEINVAR, 2009). Ao traçar um panorama das políticas públicas 
sociais destinadas aos jovens no contexto brasileiro é possível evidenciar uma gama de 
programas específicos para esses públicos, mas que são, muitas vezes, desconectados da 
Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU, de 1959, pois focam especificamente 
nos jovens de classe pobre, potencializando os estereótipos de que são vítimas. Desse modo, o 
que se percebe é uma legitimação das desigualdades transvestidas em políticas públicas de 
vigilância e opressão. 
Já no que tange à constituição da nova prática de saúde no Brasil, efetivada com o 
Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, os seus princípios de universalidade, equidade e 
integralidade de assistência são um marco para as políticas públicas de saúde e práticas voltadas 
para a tentativa de reconfigurar o processo de fazer saúde pública. Embora tenha havido grande 
avanço com esse novo sistema, ainda há inúmeros desafios a serem enfrentados, por exemplo, 
em relação à implementação de ações em saúde sistematizadas para os jovens e adolescentes, 
o que, muitas vezes, envolve o atendimento por simples demanda sem levar em consideração 
as suas individualidades (HIGARASHI et al., 2011). 
O que se pode constatar no que foi traçado até aqui são políticas públicas sociais 
voltadas para objetivos específicos: controle de jovens empobrecidos, na tentativa de prevenir 
possíveis atos violentos contra a sociedade. Dito de outra forma, esses jovens são potenciais 
32 
 
riscos à sociedade e há uma necessidade de traçar estratégias que contenham esse público para 
que não cause danos aos demais. 
Um importante adendo é que quando falo sobre juventudes me refiro às inúmeras 
formas de ser, agir e pensar sobre esse público, compreendendo-o não como uniforme, e sim 
no âmbito das diversidades culturais e das histórias de vida singulares. Por isso, proponho a 
ideia de juventudes, no plural, assim traçada por Bourdieu no texto “Questões de Sociologia” 
de 1983. 
 É com base nesse entendimento que será elencada, agora, outra visão acerca do 
conceito juventudes. Trata-se da compreensão a partir de um “conjunto social cujo principal 
atributo é o de ser constituído por indivíduos pertencentes a uma dada fase (fase da vida) (PAIS, 
1990, p. 140). Assim, juventude seria entendida como um “ciclo de vida” que vai dos 15 aos 
21 anos (UNESCO, 2014), ou, como proposto pelo próprio ECA, entre 15 e 29 anos de idade 
(ECA, 2013). É preciso deixar claro que, a partir de agora, este conceito será utilizado no 
singular de acordo com o viés de “ciclo de vida”, mas as terminologias “juventude” e 
“juventudes” serão problematizada mais à frente, na parte O que é ser jovem? Slam da Quentura 
em cena. 
O que se percebe é que, mesmo com a implantação do ECA em 1990, ainda existem 
lacunas a serem preenchidas, exemplo disso é que, segundo o Comitê Cearense pela Prevenção 
de Homicídios da Assembleia Legislativa do Ceará (2016), em 2015, 816 meninos e meninas 
de 10 a 19 anos foram mortos no território cearense. Essa situação perpetua-se por inúmeros 
motivos, como negligência na garantia de direitos de cidadania e questões regionais, tais como 
tráfico de drogas crescente, preconceito e profundas desigualdades sociais. Esses fatores 
contribuem para o processo de sofrimento e adoecimento dos indivíduos atingidos. 
Levando em consideração a prática do cuidado em saúde para com este público, a 
proposta Estratégia Saúde da Família – ESF, vinculada à redemocratização da saúde e tendo 
como base o Sistema Único de Saúde – SUS, age no cuidado da comunidade, além de promover 
a identificação e aproximação com essa população. Ela deve compreender, inclusive, as 
possíveis relações de violência familiar, simbólica e física que atingem os jovens, bem como a 
exclusão social, mediando e tentando diminuir suas consequências. 
No contexto do município de Sobral – CE, as políticas públicas de saúde voltadas 
para a juventude giram em torno do controle e prevenção, sendo a política municipal Estratégia 
Trevo de Quatro Folhas a única específica para esse público. Ela foi desenvolvida em 2001 e 
atua juntamente com as Unidades Básicas de Saúde – UBS da sede e dos distritos sobralenses, 
atingindo de forma mais eficaz as famílias que precisam do apoio dessa estratégia 
33 
 
(LOURENÇO; QUINTILIANO; GOLÇALVES JÚNIOR, 2009). Sua ação no que tange à 
juventude se dá por meio da prevenção da gravidez em adolescentes, atuando em escolas 
públicas com palestras, rodas de conversa com estudantes, ou mesmo assistência às mães 
adolescentes (LOURENÇO; QUINTILIANO; GOLÇALVES JÚNIOR, 2009). 
Pensando na perspectiva da ESF, legitimada pela Lei 8.080 que regulamenta as 
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2017), é importante 
que haja políticas de saúde que desenvolvam estratégias para a atenção integral à juventude, 
por exemplo, um cuidado que alcance também o contexto familiar do jovem, uma vez que 
famílias disruptivas podem criar vulnerabilidades ainda mais graves,que potencializam o uso 
abusivo de substâncias psicoativas, além de problemas de saúde mental como depressão, 
ansiedade e tentativas de suicídio (BRASIL, 2017). É relevante também a construção de 
parcerias com movimentos culturais e grupos de jovens, visando um engajamento ainda maior 
de participação ativa da juventude nos dispositivos de saúde, dialogando e empoderando os 
jovens enquanto detentores de direitos de cidadania, comunicação e saúde. 
Quando falo de parcerias não pretendo afirmar que a ESF deva se apossar das ideias 
que os movimentos de jovens em Sobral produzem, mas se espelhar nas atividades que eles e 
elas manifestam, compreendendo tais ações através das suas demandas e dos seus desejos e 
jamais partindo de construções de políticas públicas hierarquizadas que não permitem 
manifestações de desejos de seus públicos e que os compreendem de forma uniforme, sem levar 
em conta suas singularidades e diversidades. 
Após esse sucinto panorama de políticas para a juventude, destaco esta temática, 
levando em consideração o contexto recente, que tem adquirido crescente destaque em 
diferentes ambientes, como acadêmico, político, cultural. Nesse caso, darei destaque ao meio 
acadêmico. O que contribui para isso é o fortalecimento social da expectativa de que a juventude 
é a fase da vida na qual se constitui o processo de socialização que prepara a pessoa para a 
produção e reprodução da vida em sociedade (ABRAMO, 2005). Essa visão tem relação direta 
com a perspectiva capitalista, em que a imersão no mundo do trabalho/emprego é essencial nos 
projetos de vida e propõe uma relação circular mútua com contexto de desenvolvimento de 
políticas públicas, especialmente as de educação, trabalho e renda (TRANCOSO; OLIVEIRA, 
2016). 
Os levantamentos de informações sobre adolescência e juventude que circularam 
em período recente nas políticas de juventude, no meio acadêmico, nas propagandas e mídias 
sociais podem influenciar no entendimento de como esses processos de vida são entendidos e 
representados pelas pessoas que desenvolvem e disponibilizam tais informações em diversos 
34 
 
contextos já mencionados aqui. Para uma melhor compreensão a esse respeito, parto da Teoria 
das Representações Sociais (TRS), pois a temática da juventude dispõe de condições propícias 
para ser analisada de maneira conceitual e metodológica a partir dessa teoria, uma vez que ela 
é indispensável nos processos cotidianos de entendimentos vivenciais em sociedade 
(MOSCOVICI, 2010). 
As representações sociais são conteúdos de conhecimento social que emprestam 
modos de interpretar os acontecimentos do dia a dia (MOSCOVICI, 2010). Elas desenvolvem 
um leque de conhecimentos de senso comum que são socialmente produzidos e compartilhados, 
atribuídos por meio de vivências cotidianas, de informações facilmente acessíveis e de modos 
de pensar transmitidos socialmente (JODELET, 1986). Assim, a TRS resgata e promove a 
relevância dos conhecimentos comuns das pessoas e de seus modos de conhecer (TRINDADE, 
1996). 
Portanto, juventude perpassa a construção cultural e econômica da sociedade e, 
claro, sofre transformações ao longo da história, variando de acordo com cada contexto social. 
O conhecimento a seu respeito é importante para o entendimento de características, 
funcionamento e transformações ocorridas em diferentes aspectos das relações cotidianas em 
sociedade (MENANDRO; TRINDADE; MEIDA, 2003). Dessa forma, o presente capítulo visa 
compreender as representações sociais de juventude na história brasileira recente de políticas 
públicas a partir de uma revisão integrativa. 
 
 
 2.1. O processo de coleta científica 
Em meio a tantas representações sobre juventude é importante que se discuta tal 
conceito, sem perder de vista a complexidade da sua definição. Este capítulo trata de um estudo 
com abordagem qualitativa para identificação de produções sobre o tema juventude e 
representação social, entre os anos 2008 e 2017. Para guiar a revisão levantou-se a seguinte 
pergunta norteadora: Quais são as representações sociais de juventude na história brasileira 
recente, levando em consideração a literatura científica? 
A revisão integrativa foi adotada porque que é um método de sintetização de 
resultados apurados a partir de pesquisas envolvendo temas específicos, de maneira sistemática, 
ordenada e abrangente (GANONG, 1987). Integrativa, porque se configura por meio de um 
conjunto de informações sobre determinada problemática e, desse modo, produz um 
contingente de conhecimentos (BEYEA; NICOLL, 1998). 
A revisão integrativa dispõe de critérios bem delimitados no que tange à coleta de 
dados, análise e apresentação de resultados, desde o seu processo inicial de estudo, com 
35 
 
procedimentos iniciais de pesquisa bem elaborados, que se desenvolvem em seis etapas, a saber: 
1) Elaboração de problema de pesquisa – hipótese; 2) Busca na literatura – definição e 
estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; 3) Categorização de estudos – coleta de 
dados; 4) Análise crítica dos achados, destacando diferenças e divergências; 5) Interpretação 
dos resultados – discussão 6) Abrandamento das evidências encontradas (GANONG, 1987). 
A busca das produções científicas se deu na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na 
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e no Portal CAPES, no período entre os meses de 
setembro e outubro de 2018. Foram selecionados três descritores, “política pública”, “política 
social” e “juventude”, extraídos do Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), e uma palavra-
chave: “representação social”. É importante ressaltar que a escolha desta palavra-chave se deu 
pelo fato de não haver descritores cadastrados no DeCS com significados semelhantes, além de 
ter o objetivo de ampliar a busca nos bancos de dados. Foram efetivados os cruzamentos 
possíveis para ampliar a busca utilizando os descritores e palavras-chave associados pelos 
operadores boleanos or e and. 
A busca se deu em ambas as bases de dados, levando em consideração os seguintes 
cruzamentos: (1) “política social” or “política pública”; (2) “política social” or “política 
pública” and “juventude”; (3) “juventude” and “representação social; (4) “política social” or 
“política pública” and (“juventude” and “representação social”). Os artigos foram selecionados 
preliminarmente a partir da análise de títulos e resumos de acordo com os critérios de inclusão 
e exclusão propostos. Em seguida, as publicações que restaram foram lidas de forma integral e 
analisadas por meio dos critérios estabelecidos, com o objetivo de criar a amostra que comporia 
a revisão. 
Os critérios de inclusão determinados foram: a publicação ter relação temática 
pertinente ao contexto das representações sociais de juventude nas políticas públicas e sociais; 
ter como país de afiliação o Brasil e idioma português; possuir disponibilidade eletrônica de 
acesso gratuito na íntegra em português e ser artigo original; por fim, apenas publicações que 
se situam no período de 2008 a 2017. Esse recorte temporal foi usado porque entendo que 10 
anos representam uma ampla amostra, dada a conjuntura múltipla de propostas desenvolvidas, 
gerando, assim, um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias e 
problemáticas de pesquisa em diversos tipos de publicações. 
Já os critérios de exclusão consistiram em: publicações duplicadas e publicações de 
revisão sistemática e/ou integrativa. Aderimos ao estabelecimento de estudos sobre a relação 
entre representações sociais de juventude e políticas públicas e sociais. Dessa forma, todas as 
publicações que versavam sobre representações sociais, mas não mantinham relação com 
36 
 
políticas voltadas para a juventude, de forma direta ou indireta, foram excluídos para evitar fuga 
do objetivo de pesquisa. 
Foi utilizado um instrumento previamente elaborado, com o intuito de minimizar 
os riscos

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